Você está na página 1de 19

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 19

29/06/2018 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 953.446 MINAS


GERAIS

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


AGTE.(S) : ANTÔNIO MARTINS DE TRINDADE
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

EMENTA

Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Matéria


criminal. Crime contra o Sistema Financeiro Nacional. Alegação de
inconstitucionalidade do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86
(gestão temerária). Inexistência. Precedentes. Agravo regimental não
provido.
1. A indeterminação do tipo penal previsto no art. 4º, parágrafo
único, da Lei nº 7.492/86 não se mostra em grau suficiente para configurar
ofensa ao princípio constitucional da legalidade, porquanto perfeitamente
apreensível no contexto das condutas de natureza formal tipificadas no
âmbito do direito penal econômico, visando a coibição de fraudes e
descumprimentos de regras legais e regulamentares que regem o
mercado financeiro.
2. Diante da impossibilidade de previsão e descrição de todos os atos
temerários que poderiam ser praticados em uma instituição financeira, o
legislador se valeu do elemento normativo do tipo traduzido no adjetivo
“temerária”, absolutamente válido no direito penal.
3. Agravo regimental ao qual se nega provimento.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, em sessão virtual de 22 a
28/6/2018, na conformidade da ata do julgamento, por unanimidade de
votos, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994012.
Supremo Tribunal Federal
Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 19

ARE 953446 AGR / MG

Relator.

Brasília, 29 de junho de 2018.

MINISTRO DIAS TOFFOLI


Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994012.
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 19

29/06/2018 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 953.446 MINAS


GERAIS

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


AGTE.(S) : ANTÔNIO MARTINS DE TRINDADE
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Trata-se de agravo contra a decisão em que conheci do agravo para
negar seguimento ao recurso extraordinário, com a seguinte
fundamentação:

“Vistos.
Antônio Martins de Trindade interpõe agravo contra
decisão que não admitiu recurso extraordinário assentado em
contrariedade ao art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal.
Insurge-se, no apelo extremo, contra acórdão proferido
pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região, assim
ementado:

‘PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA O


SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. LEI N. 7.492/86,
ART. 4º, PARÁGRAFO ÚNICO.
INCONSTITUCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA.
DOSIMETRIA DA PENA. CULPABILIDADE E
CONSEQÜÊNCIAS DO CRIME.
DESFAVORABILIDADE. SANÇÃO PECUNIÁRIA. RÉU
POBRE NA FORMA DA LEI. APELAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PARCIALMENTE
PROVIDA E DESPROVIDA A DO RÉU.
1. Inexiste inconstitucionalidade no crime tipificado

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994009.
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 19

ARE 953446 AGR / MG

no art. 4º da Lei nº 7.492/86, considerando ser o referido


ilícito de mera conduta, isto é, aquele que descreve apenas
o comportamento do agente sem levar em consideração o
resultado da ação. Precedentes.
2. A prova oral colhida em juízo e a documental
(Relatório Sucinto de Ocorrências/Banco Central do Brasil
e Laudo de Exame Contábil/Departamento de Polícia
Federal) apontam para a responsabilidade do Réu nos
fatos descritos na denúncia, restando demonstrada
materialidade e autoria delitivas.
3. Havendo suficiente fundamentação quanto às
conseqüências do crime para a instituição-vítima, que
sofreu elevado prejuízo patrimonial em razão do crime
praticado pelo acusado, de rigor a consideração negativa
na fixação da pena-base em razão da desfavorabilidade
dessa circunstância judicial.
4. Culpabilidade elevada no caso em que o Réu
destinou 90% do capital da cooperativa para conceder
empréstimos a pessoas físicas e jurídicas ligadas a si por
grau de parentesco ou da participação direta na
administração das empresas tomadoras dos créditos, além
da concessão de empréstimo em seu próprio nome, a juros
abaixo dos parâmetros estipulados pelo Conselho de
Administração da Cooperativa e também pelo mercado,
cujo imóvel dado em garantia possuía baixa liquidez, além
de que a hipoteca desse terreno já havia sido lavrada
anteriormente em cartório para garantir operações de
componentes do grupo vinculado ao Diretor-Presidente,
ora Apelado.
5. Réu que não se desincumbiu de comprovar suas
reais condições financeiras, não ficando demonstrado nos
autos que sua situação econômica o impossibilita de
cumprir a sanção, o que impede a aferição da pertinência
do pedido de redução do valor da prestação pecuniária
imposta na sentença, cabendo ao Juízo da Execução a
eventual reapreciação do pedido, notadamente quanto ao

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994009.
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 19

ARE 953446 AGR / MG

eventual parcelamento dos valores fixados em sentença


(art. 50 do CP c/c art. 169 da Lei 7.210/84)
6. Recurso do Ministério Público Federal
parcialmente provido e desprovido o do Réu.’ (fls. 894-
895)

Examinados os autos, decido.


A irresignação não merece prosperar, haja vista que o
dispositivo constitucional, indicado como violado no recurso
extraordinário, carece do necessário prequestionamento, sendo
certo que não foram opostos embargos de declaração para sanar
eventual omissão no acórdão recorrido. Incidem na espécie as
Súmulas nºs 282 e 356 desta Corte. Nesse sentido, anota-se:

‘Agravo regimental no recurso extraordinário com


agravo. Matéria criminal. Ausência de prequestionamento.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356. Ofensa reflexa ao
texto constitucional. Agravo não provido. 1. O inciso IX do
art. 109 da Constituição Federal carece do efetivo
prequestionamento, sendo certo que não foi objeto de
embargos declaratórios para sanar eventual omissão no
julgado recorrido, o que atrai o enunciado das Súmulas
nºs 282 e 356 da Corte. 2. O Tribunal de origem decidiu a
questão com base na legislação infraconstitucional, qual
seja, o art. 9º, inciso III, alínea d, do Código Penal Militar.
Logo, a violação da Constituição Federal, se ocorresse,
seria indireta ou reflexa, o que não enseja recurso
extraordinário. 3. Regimental a que se nega provimento.’
(RE nº 843,3.724/SE-AgR, Segunda Turma, de minha
relatoria, DJe de 10/02/16)

‘AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. MATÉRIA
CRIMINAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
INOVAÇÃO DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL NO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 1. É inadmissível o

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994009.
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 19

ARE 953446 AGR / MG

recurso extraordinário quando a matéria constitucional


suscitada não tiver sido apreciada pelo acórdão recorrido.
Súmulas 282 e 356 do STF. 2. A alegada violação
constitucional, ventilada apenas no recurso extraordinário,
constitui incabível inovação de fundamentos. 3. Agravo
regimental a que se nega provimento.’ (ARE nº 926.484/RJ-
AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Edson Fachin,
DJe de 8/4/16)

Ante o exposto, nos termos do artigo 21, § 1º, do


Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, conheço do
agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário.”

Nas razões do regimental, sustenta o agravante que a


inconstitucionalidade do art. 4º da Lei n° 7.492/86 fora objeto de
prequestionamento.
Aduz que

“[d]o voto do relator da apelação também é possível


conferir que a matéria abordada no extraordinário foi
exaustivamente debatida pela Corte de origem, vide fls.
882/884.
Nesse sentido, não havia omissão a ser suprida pela via
dos embargos de declaração, posto que a questão constitucional
ora submetida a essa e. Corte Constitucional –
inconstitucionalidade do art. 4º da Lei n° 7.492/86, restou
expressamente apreciada e refutada pelo Tribunal a quo. ”.

Intimado, nos termos do art. 1.021, § 2º, da Lei nº 13.105/15 (Código


de Processo Civil), o agravado se manifestou pelo não provimento do
agravo regimental.
É o relatório.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994009.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 19

29/06/2018 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 953.446 MINAS


GERAIS

VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


A irresignação não merece prosperar.
Não obstante verificado que o art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição
Federal, encontra-se devidamente prequestionado, não assiste razão ao
recorrente.
O Tribunal de origem condenou o agravante, pela prática do delito
tipificado no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86, à reprimenda de
3 (três) anos de reclusão e 15 (quinze) dias-multa.
Sustenta o agravante a inconstitucionalidade do referido dispositivo,
haja vista que o “o tipo penal em apreço (‘se a gestão é temerária’) não
descreve qual vem a ser o comportamento proibido, deixando
inteiramente a critério da doutrina e da jurisprudência a definição e a
abrangência do delito de gestão temerária”, ferindo assim o princípio da
legalidade ou da reserva legal.
Afirma, outrossim, que “na descrição típica do delito de gestão
temerária, o legislador não conseguiu delimitar minimamente a conduta
proibida, o que atenta claramente contra o princípio da legalidade,
especialmente ao seu subprincipio, a da taxatividade (lex certa), gerando
grande insegurança jurídica”.
Especificamente quanto à alegada inconstitucionalidade do crime de
gestão temerária, descrito no art. 4º, parágrafo único da Lei 7.492/86, o
Tribunal de origem assentou o seguinte:

“Inicialmente, em relação à preliminar de


inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 4º da Lei
7.492/86, tenho que não merece prosperar o apelo da defesa,
uma vez que referido dispositivo descreve perfeitamente a
conduta incriminada se valendo de elemento normativo
traduzido no adjetivo temerária.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 19

ARE 953446 AGR / MG

Impossível seria a descrição de todos os atos temerários


que poderiam ser praticados em uma instituição financeira,
motivo pelo qual o legislador se valeu desse elemento
normativo do tipo.
(...)
De consignar, ainda, que, ao lado de outros elementos
culturais utilizados pelo legislador penal, a expressão gestão
temerária, é perfeitamente possível de delimitação conceitual
concreta, ainda que de valoração mais permeável ao contexto
histórico em que se dá sua leitura e reconhecimento (Rodolfo
Tigre Maia, ‘Dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional’, S.P.
Malheiros, 1996, p. 60).
Destarte, não há falar em inconstitucionalidade do
referido tipo por suposta ofensa ao princípio da reserva legal,
uma vez que não se trata de descrição vaga, mas sim de
utilização de elemento normativo, técnica legislativa
plenamente aceita pela doutrina e jurisprudência pátrias.
(…)
Assim sendo, rejeito a preliminar de
inconstitucionalidade do art. 4º da Lei n.º 7.492/86.”

Consta da redação do art. 4º da referida Lei nº 7.492/86:

“Art. 4º. Gerir fraudulentamente instituição financeira:


Pena – reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único. Se a gestão é temerária:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”

No julgamento do HC nº 104.410/RS (Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe


de 27/3/12), a Segunda Turma desta Corte deixou assentado, em exaustiva
fundamentação, lineamentos teóricos do controle de constitucionalidade
das leis em matéria penal, conforme sintetizado na ementa a seguir
transcrita, os quais são aplicáveis ao caso em análise como razão
suficiente ao reconhecimento da constitucionalidade do tipo penal
impugnado:

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 19

ARE 953446 AGR / MG

“HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE


FOGO DESMUNICIADA. (A)TIPICIDADE DA CONDUTA.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS
PENAIS. MANDATOS CONSTITUCIONAIS DE
CRIMINALIZAÇÃO E MODELO EXIGENTE DE CONTROLE
DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS EM MATÉRIA
PENAL. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO EM FACE DO
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. LEGITIMIDADE
DA CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA
DESMUNICIADA. ORDEM DENEGADA. 1. CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. 1.1. Mandatos
Constitucionais de Criminalização: A Constituição de 1988
contém um significativo elenco de normas que, em princípio,
não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a
criminalização de condutas (CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV;
art. 7º, X; art. 227, § 4º). Em todas essas normas é possível
identificar um mandato de criminalização expresso, tendo em
vista os bens e valores envolvidos. Os direitos fundamentais
não podem ser considerados apenas como proibições de
intervenção (Eingriffsverbote), expressando também um
postulado de proteção (Schutzgebote). Pode-se dizer que os
direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição do
excesso (Übermassverbote), como também podem ser traduzidos
como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de
tutela (Untermassverbote). Os mandatos constitucionais de
criminalização, portanto, impõem ao legislador, para o seu
devido cumprimento, o dever de observância do princípio da
proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição
de proteção insuficiente. 1.2. Modelo exigente de controle de
constitucionalidade das leis em matéria penal, baseado em
níveis de intensidade: Podem ser distinguidos 3 (três) níveis ou
graus de intensidade do controle de constitucionalidade de leis
penais, consoante as diretrizes elaboradas pela doutrina e
jurisprudência constitucional alemã: a) controle de evidência
(Evidenzkontrolle); b) controle de sustentabilidade ou

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 19

ARE 953446 AGR / MG

justificabilidade (Vertretbarkeitskontrolle); c) controle material de


intensidade (intensivierten inhaltlichen Kontrolle). O Tribunal
deve sempre levar em conta que a Constituição confere ao
legislador amplas margens de ação para eleger os bens jurídicos
penais e avaliar as medidas adequadas e necessárias para a
efetiva proteção desses bens. Porém, uma vez que se ateste que
as medidas legislativas adotadas transbordam os limites
impostos pela Constituição – o que poderá ser verificado com
base no princípio da proporcionalidade como proibição de
excesso (Übermassverbot) e como proibição de proteção
deficiente (Untermassverbot) –, deverá o Tribunal exercer um
rígido controle sobre a atividade legislativa, declarando a
inconstitucionalidade de leis penais transgressoras de
princípios constitucionais. 2. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO.
PORTE DE ARMA. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALDIADE.
A Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) tipifica o porte
de arma como crime de perigo abstrato. De acordo com a lei,
constituem crimes as meras condutas de possuir, deter, portar,
adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou
ocultar arma de fogo. Nessa espécie de delito, o legislador penal
não toma como pressuposto da criminalização a lesão ou o
perigo de lesão concreta a determinado bem jurídico. Baseado
em dados empíricos, o legislador seleciona grupos ou classes de
ações que geralmente levam consigo o indesejado perigo ao
bem jurídico. A criação de crimes de perigo abstrato não
representa, por si só, comportamento inconstitucional por parte
do legislador penal. A tipificação de condutas que geram perigo
em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor alternativa ou
a medida mais eficaz para a proteção de bens jurídico-penais
supraindividuais ou de caráter coletivo, como, por exemplo, o
meio ambiente, a saúde etc. Portanto, pode o legislador, dentro
de suas amplas margens de avaliação e de decisão, definir quais
as medidas mais adequadas e necessárias para a efetiva
proteção de determinado bem jurídico, o que lhe permite
escolher espécies de tipificação próprias de um direito penal

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 19

ARE 953446 AGR / MG

preventivo. Apenas a atividade legislativa que, nessa hipótese,


transborde os limites da proporcionalidade, poderá ser tachada
de inconstitucional. 3. LEGITIMIDADE DA
CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA. Há, no contexto
empírico legitimador da veiculação da norma, aparente
lesividade da conduta, porquanto se tutela a segurança pública
(art. 6º e 144, CF) e indiretamente a vida, a liberdade, a
integridade física e psíquica do indivíduo etc. Há inequívoco
interesse público e social na proscrição da conduta. É que a
arma de fogo, diferentemente de outros objetos e artefatos (faca,
vidro etc.) tem, inerente à sua natureza, a característica da
lesividade. A danosidade é intrínseca ao objeto. A questão,
portanto, de possíveis injustiças pontuais, de absoluta ausência
de significado lesivo deve ser aferida concretamente e não em
linha diretiva de ilegitimidade normativa. 4. ORDEM
DENEGADA.”

Por outro lado, quanto à alegada indeterminação do tipo penal em


destaque, não se desconhece que, conforme sustentado na doutrina:

“(...) a reserva legal penal contempla, igualmente, o


princípio da determinabilidade ou da precisão do tipo penal
(lex stricta). O indivíduo há de ter condições de saber o que é
proibido ou permitido. Embora não se possa impedir a
utilização de conceitos jurídicos indeterminados ou cláusulas
gerais, é certo que o seu uso não deve acarretar a não
determinabilidade objetiva das condutas proibidas” (MENDES,
Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 9. edição, 2014, p.
494).

Em relação, contudo, à conduta tipificada no art. 4º, parágrafo único,


da Lei nº 7.492/86, essa indeterminação não se mostra em grau suficiente
para configurar ofensa ao princípio constitucional da legalidade,
porquanto perfeitamente apreensível no contexto das condutas de
natureza formal tipificadas no âmbito do direito penal econômico,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 19

ARE 953446 AGR / MG

visando à coibição de fraudes e descumprimentos de regras legais e


regulamentares que regem o mercado financeiro.
Observadas, assim, as normas aplicáveis ao mercado financeiro,
afastado o cometimento de qualquer situação irregular, não há falar em
fraude a ensejar a imputação da infração ao art. 4º da Lei nº 7.492/86.
Ademais, conforme bem consignado no acórdão recorrido, diante da
impossibilidade de o legislador prever a descrição de todos os atos
temerários que poderiam ser praticados em uma instituição financeira,
valeu-se desse elemento normativo do tipo - “temerária” -, o que é
absolutamente válido no direito penal, especialmente nos tipos penais
abertos (como exemplo clássico, temos grande parte dos delitos
culposos).
Corroborando o entendimento da constitucionalidade do art. 4º, da
Lei nº 7.492/86, anotem-se os seguintes julgados desta Corte:

“AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO NO


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INSUFICIÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO QUANTO A ALEGAÇÃO DE
EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. OFENSA
CONSTITUCIONAL MERAMENTE REFLEXA.
REAPRECIAÇÃO DE PROVAS. INADMISSIBILIDADE.
SÚMULA 279 DO STF. 1. A obrigação do recorrente em
apresentar formal e motivadamente a preliminar de
repercussão geral, que demonstre sob o ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico, a relevância da questão
constitucional debatida que ultrapasse os interesses subjetivos
da causa, conforme exigência constitucional e legal (art. 102, §
3º, da CF/88, c/c art. 1.035, § 2º, do CPC/2015), não se confunde
com meras invocações desacompanhadas de sólidos
fundamentos no sentido de que o tema controvertido é
portador de ampla repercussão e de suma importância para o
cenário econômico, político, social ou jurídico, ou que não
interessa única e simplesmente às partes envolvidas na lide,
muito menos ainda divagações de que a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal é incontroversa no tocante à causa

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 19

ARE 953446 AGR / MG

debatida, entre outras de igual patamar argumentativo. 2.


Apelação parcialmente provida apenas para reduzir a pena
fixada na instância de origem, mantida a condenação da
recorrente pela prática do delito descrito no artigo 4º da Lei
7.492/86. A necessidade de revolvimento do conjunto fático-
probatório impede o acolhimento do recurso extraordinário,
uma vez que incide o óbice da Súmula 279 desta CORTE. 3.
Agravo interno a que se nega provimento” (ARE nº 907.638/SP-
AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Alexandre de Moraes,
DJe de 9/3/18).

“RECURSO ORDINÁRIO EM “HABEAS CORPUS” –


CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL –
CONCEITO NORMATIVO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA,
PARA FINS PENAIS, DEFINIDO PELA PRÓPRIA LEI Nº
7.492/86 (ART. 1º E PARÁGRAFO ÚNICO), QUE ABRANGE,
ATÉ MESMO, PARA ESSE EFEITO, PESSOAS NATURAIS OU
ENTIDADES QUE OPEREM SEM AUTORIZAÇÃO DO
BANCO CENTRAL DO BRASIL – PRETENDIDO
RECONHECIMENTO DA ATIPICIDADE PENAL DO
DELITO DE GESTÃO FRAUDULENTA, QUE,
ALEGADAMENTE, SÓ PODERIA SER PRATICADO POR
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA REGULARMENTE
CONSTITUÍDA E AUTORIZADA PELO BANCO CENTRAL
DO BRASIL – FUNDAMENTO INADMISSÍVEL –
AUTONOMIA JURÍDICA DOS CRIMES DE GESTÃO
FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA (LEI Nº
7.492/86, ART. 4º) E DE OPERAÇÃO DE INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA NÃO AUTORIZADA (LEI Nº 7.492/86, ART. 16)
– CONSEQUENTE POSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE AMBOS
OS DELITOS, QUE PODEM SER COMETIDOS EM
CONCURSO – TIPICIDADE PENAL DO CRIME DE EVASÃO
DE DIVISAS (LEI Nº 7.492/86, ART. 22) – POSTULAÇÃO
RECURSAL QUE IMPLICA EXAME APROFUNDADO DE
FATOS E CONFRONTO ANALÍTICO DE MATÉRIA
PROBATÓRIA – INVIABILIDADE NA VIA SUMARÍSSIMA DO

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 19

ARE 953446 AGR / MG

PROCESSO DE ‘HABEAS CORPUS’ – RECURSO DE AGRAVO


IMPROVIDO. O AMPLO CONCEITO NORMATIVO DE
‘INSTITUIÇÃO FINANCEIRA’ PARA EFEITOS PENAIS:
INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA CONFERIDA PELO
PRÓPRIO LEGISLADOR (LEI Nº 7.492/86, ART. 1º E
PARÁGRAFO ÚNICO). – A norma inscrita no art. 1º e
respectivo parágrafo único da Lei nº 7.492/86 traduz verdadeira
interpretação autêntica dada pelo próprio legislador quando
edita diplomas legislativos de caráter geral, inclusive aqueles de
conteúdo eminentemente penal. Essa cláusula normativa, em
realidade, objetiva explicitar, mediante autêntica interpretação
emanada do próprio legislador, o âmbito de incidência material
da Lei nº 7.492/86, vinculando a compreensão e a incidência dos
tipos penais nela definidos ao sentido claramente abrangente da
expressão ’instituição financeira’, inclusive para efeito de
adequação de condutas aos elementos que compõem as
estruturas típicas constantes do art. 4º e do art. 16 de referido
diploma legislativo. – Consequente legitimidade do
enquadramento, na figura típica do art. 4º da Lei nº 7.492/86
(crime de gestão fraudulenta), da conduta de pessoas físicas ou
de pessoas jurídicas que operem sem autorização do Banco
Central do Brasil (hipótese em que também haverá concurso
formal com o delito tipificado no art. 16 de referido diploma
legislativo), em razão da equiparação legal de tais pessoas, para
fins penais, à instituição financeira (Lei nº 7.492/86, art. 1º,
parágrafo único). AUTONOMIA JURÍDICA DOS CRIMES DE
GESTÃO FRAUDULENTA E DE OPERAÇÃO DE
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA NÃO AUTORIZADA:
CONDUTAS PUNÍVEIS QUE, POR NÃO SE REVELAREM
INCOMPATÍVEIS ENTRE SI, PODEM SER COMETIDAS EM
CONCURSO. – Revestem-se de caráter autônomo as condutas
tipificadas no art. 4º e no art. 16, ambos da Lei nº 7.492/86, que
define os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, de tal
modo que o comportamento do agente que comete o delito de
gestão fraudulenta de instituição financeira (art. 4º) mostra-se
também compatível com a prática do crime de operação de

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 19

ARE 953446 AGR / MG

instituição financeira não autorizada (art. 16). – É que o delito


de gestão fraudulenta tanto pode ser cometido em instituição
financeira autorizada quanto em instituição financeira não
autorizada pelo Branco Central do Brasil (BACEN), sob pena de
atribuir-se inadmissível tratamento privilegiado àquele – não
importando se pessoa física ou jurídica – que atua, ilegalmente,
sem a necessária e prévia autorização do BACEN, nos diversos
segmentos abrangidos pelo sistema financeiro nacional: (a)
mercado monetário, (b) mercado de crédito, (c) mercado de
câmbio e (d) mercado de capitais. Doutrina” (RHC nº
117.270/DF-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Celso de
Mello, DJe de 20/10/15).

“DIREITO PROCESSUAL PENAL E DIREITO PENAL.


HABEAS CORPUS. INÉPCIA DA DENÚNCIA E FALTA DE
JUSTA CAUSA. CONCLUSÕES DA CVM E DA SECRETARIA
DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR. CRIMES CONTRA O
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. DENEGAÇÃO. 1. A
questão controvertida nestes autos consiste na possível
nulidade da decisão que recebeu a denúncia oferecida contra o
paciente, por ausência de justa causa para a deflagração da ação
penal, bem como em razão da inépcia da exordial (alegação de
atipicidade das condutas narradas). 2. A principal tese do
impetrante diz respeito às conclusões da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) e da Secretaria de Previdência
Complementar que, segundo a inicial, seriam favoráveis ao
reconhecimento da licitude das operações consistentes na
aquisição de títulos e valores mobiliários da INEPAR pela
PREVI - Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do
Brasil. 3. Observo que a questão foi bastante debatida por
ocasião do julgamento dos embargos de declaração no âmbito
do Superior Tribunal de Justiça, ocasião em que saiu vencedora
a tese da necessidade de se aprofundar a produção dos meios
de prova no bojo da ação penal para que seja possível a
avaliação da ocorrência (ou não) de crime contra o sistema
financeiro nacional. 4. Em se tratando de habeas corpus,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 19

ARE 953446 AGR / MG

remédio constitucional que se notabiliza pela celeridade e,


consequentemente, pela insuscetibilidade de exame
aprofundado de provas, é imperioso o reconhecimento da
necessidade do desenvolvimento do processo penal para
melhor esclarecimento dos pontos controvertidos, inclusive do
contexto em que se deu a alegada aprovação das operações
realizadas pela PREVI, por parte dos órgãos públicos
competentes (Secretaria de Previdência Complementar e
Comissão de Valores Mobiliários). 5. Vários dos aspectos fáticos
foram expressamente narrados na denúncia, o que faz presumir
a existência de elementos mínimos de prova colhidos durante o
inquérito judicial referente à ocorrência dos fatos narrados, para
autorizar o órgão do Ministério Público a deduzir a pretensão
punitiva através do oferecimento da denúncia. As dúvidas e
eventuais perplexidades relacionadas à aprovação das
operações pela CVM e pela Secretaria de Previdência
Complementar poderão - e deverão - ser objeto de aprofundado
exame no curso da ação penal, mas não cabe a esta Corte
reconhecer a existência de constrangimento ilegal quando há
duas versões perfeitamente possíveis relacionadas aos fatos
narrados na exordial. 6. O tipo penal contido no art. 4 , da Lei
n 7.492/86, consiste em crime de perigo, não sendo necessária
a produção de resultado naturalístico em razão da gestão
fraudulenta. É relevante, para a verificação da adequação
típica, que haja conduta fraudulenta do gestor da instituição
financeira (ou a ela equiparada), eis que a objetividade
jurídica do tipo se relaciona à proteção da transparência, da
lisura, da honradez, da licitude na atividade de gestão das
instituições financeiras. 7. Exige-se que o administrador cuide
da higidez financeira da instituição financeira que, por sua
vez, se encontra inserida no Sistema Financeiro Nacional, daí
a preocupação em coibir e proibir a gestão fraudulenta, pois
do contrário há sério risco de funcionamento de todo o
sistema financeiro. Assim, o bem jurídico protegido pela
norma contida no art. 4 , da Lei n 7.492/86, é também a saúde
financeira da instituição financeira. A repercussão da ruína de

10

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 19

ARE 953446 AGR / MG

uma instituição financeira, de maneira negativa em relação às


outras instituições, caracteriza o crime de perigo. 8. Em não se
tratando de crime de dano, a figura típica da gestão
fraudulenta de instituição financeira não exige a efetiva lesão
ao Sistema Financeiro Nacional, sendo irrelevante se houve
(ou não) repercussão concreta das operações realizadas na
estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. 9. A fraude, no
âmbito da compreensão do tipo penal previsto no art. 4, da Lei
n 7.492/86, compreende a ação realizada de má-fé, com intuito
de enganar, iludir, produzindo resultado não amparado pelo
ordenamento jurídico através de expedientes ardilosos. A
gestão fraudulenta se configura pela ação do agente de
praticar atos de direção, administração ou gerência, mediante
o emprego de ardis e artifícios, com o intuito de obter
vantagem indevida. 10. Não há que se cogitar que a denúncia
atribui ao paciente apenas a prática de um ato isolado. A
denúncia descreve toda a operação que redundou na
aprovação dos empréstimos supostamente dissimulados à
empresa INEPAR. Houve vários atos consistentes na gestão
fraudulenta. 11. A tese da atipicidade das condutas não
merece acolhimento. A questão consistente na aferição acerca
dos atos do paciente terem sido integrantes dos tipos penais
previstos nos arts. 4º, 6º e 16, todos da Lei nº 7.492/86, ou
consistirem meramente atos de exaurimento, com efeito,
depende de instrução probatória, não cabendo ser avaliada em
sede de habeas corpus que, como se sabe, apresenta restrição
quanto ao alcance da matéria cogniscível. 12. Há clara narração
de atos concretos relacionados à prática das condutas previstas
nos tipos penais acima referidos. Foram atendidos os requisitos
exigidos do art. 41, do Código de Processo Penal. Os fatos e
suas circunstâncias foram descritos na denúncia, com expressa
indicação da suposta ilicitude na conduta do paciente,
proporcionando-lhe o exercício do direito de defesa, em
atendimento às exigências do CPP. 13. Os fundos de pensão,
como é o exemplo da PREVI, podem ser considerados
instituições financeiras por equiparação, por exercerem

11

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 19

ARE 953446 AGR / MG

atividades de captação e administração de recursos de terceiros,


conforme previsão contida no art. 1º, parágrafo único, I, da Lei
nº 7.492/86. Deve-se focar na espécie de atividade realizada pelo
fundo de pensão, daí a equiparação que é apresentada na
própria lei. 14. Habeas corpus denegado” (HC nº 95.515, Rel.
Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de 23/10/08)

Diante desse quadro, nego provimento ao regimental.


É como voto.

12

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 747994010.
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 29/06/2018

Inteiro Teor do Acórdão - Página 19 de 19

SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 953.446


PROCED. : MINAS GERAIS
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
AGTE.(S) : ANTÔNIO MARTINS DE TRINDADE
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


regimental, nos termos do voto do Relator. Segunda Turma, Sessão
Virtual de 22.6.2018 a 28.6.2018.

Composição: Ministros Ricardo Lewandowski (Presidente), Celso


de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Edson Fachin.

Disponibilizou processo para esta sessão o Ministro Alexandre


de Moraes, não tendo participado do julgamento desse feito o
Ministro Edson Fachin, por suceder, na Segunda Turma, o Ministro
Teori Zavascki.

Ravena Siqueira
Secretária

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o número 747803159

Você também pode gostar