Você está na página 1de 56

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 56

03/04/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.914 ESPÍRITO SANTO

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS - COBRAPOL
ADV.(A/S) : RAFAEL BARBOSA DE CASTILHO
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS EM
PAPILOSCOPIA - FENAPPI
ADV.(A/S) : FABRÍCIO CORREIA DE AQUINO E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS PERITOS PAPILOSCÓPICOS DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO - APPES
ADV.(A/S) : JENIFFER PATRICIA MACHADO PRADO E
OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO ESPIRITO-SANTENSE DE PERITOS EM
CRIMINALÍSTICA - AEPC
ADV.(A/S) : RUDI MEIRA CASSEL E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : SINDICATO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAL
FEDERAIS - APCF
ADV.(A/S) : ALBERTO EMANUEL ALBERTIN MALTA
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIMINALÍSTICA -
ABC
ADV.(A/S) : MARCELO ANTONIO RODRIGUES VIEGAS
ADV.(A/S) : GUILHERME ROCHA DE ALMEIDA ABREU

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


VÍCIOS DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E MATERIAL: ART.
2º DA LEI N. 4.997/1994, ART. 2º DA LEI N. 56/1994 E ART. 2º DA LEI N.
4.888/1994, COM A ALTERAÇÃO DA LEI N. 7.419/2002, DO ESPÍRITO
SANTO. AFRONTA À AL. C DO INC. II DO § 1º DO ART. 61 E AO INC. II
DO 37 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
1. Preliminar de prejuízo da ação direta de inconstitucionalidade quanto ao

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 15F0-D4D4-89E5-D545 e senha F500-E9B4-1E9B-BCA4
Supremo Tribunal Federal
Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 56

ADI 2914 / ES

art. 2º da Lei n. 4.997/1994: mudança da denominação para Lei Complementar


n. 57/1994. Modificação do título sem alteração do conteúdo da norma.
Prejudicialidade afastada.
2. Causa de pedir aberta da ação direta de inconstitucionalidade.
Possibilidade do confronto da legislação impugnada com dispositivo
constitucional não suscitado na inicial. Precedentes.
3. Inconstitucionalidade formal: al. c do inc. II do § 1º do art. 61 da
Constituição da República. Competência privativa do chefe do Poder Executivo
para a iniciativa de leis sobre servidores públicos, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria.
4. Inconstitucionalidade material: inc. II do art. 37 da Constituição da
República. Afronta à norma constitucional da prévia aprovação em concurso
público. Forma de provimento derivado de cargo público abolida pela
Constituição da República.
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual do Plenário, na
conformidade da ata de julgamento, por unanimidade, em julgar
procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a
inconstitucionalidade das normas impugnadas, nos termos do voto da
Relatora. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica,
o Ministro Celso de Mello. Sessão de 27.3.2020 a 2.4.2020.

Brasília, 3 de abril de 2020.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 15F0-D4D4-89E5-D545 e senha F500-E9B4-1E9B-BCA4
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 56

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.914 ESPÍRITO SANTO

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS - COBRAPOL
ADV.(A/S) : RAFAEL ROLDI DE FREITAS RIBEIRO
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS EM
PAPILOSCOPIA - FENAPPI
ADV.(A/S) : FABRÍCIO CORREIA DE AQUINO E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS PERITOS PAPILOSCÓPICOS DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO - APPES
ADV.(A/S) : JENIFFER PATRICIA MACHADO PRADO E
OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO ESPIRITO-SANTENSE DE PERITOS EM
CRIMINALÍSTICA - AEPC
ADV.(A/S) : RUDI MEIRA CASSEL E OUTRO(A/S)

RE LAT Ó RI O

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - (Relatora):

1. Ação Direta de Inconstitucionalidade, com requerimento de


medida cautelar, ajuizada pelo Procurador-Geral da República, em
7.7.2003, na qual se questiona a constitucionalidade do art. 2º da Lei n.
4.997, de 19.12.1994, art. 2º da Lei Complementar n. 56, de 29.12.1994, e
art. 2º da Lei 4.888, de 31.1.1994, alterado pela Lei 7.419, de 9.12.2002,
todas do Estado do Espírito Santo, cujos termos estabelecem:

“Lei nº 4.997/1994
Art. 2º. Os cargos de Papiloscopista e de Identificador
Datiloscopista ficam transformados em Peritos Papiloscópicos”.

Lei Complementar nº 56/1994

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11614839.
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 56

ADI 2914 / ES

“Art. 2º. Os cargos de Técnico em Radiocomunicação ficam


transformados em Peritos em Telecomunicação”.

Lei nº 4.888/1994
“Art. 1º. O cargo efetivo, integrante do Quadro de Pessoal da
Polícia Civil, classificado como Agente de Presídio - Código PC-
AP, passa a denominar-se como Agente de Polícia Civil - Código
PC-APC.
Art. 2º. Para o provimento do cargo de Agente de Polícia Civil
Código PC-APC será exigido o Certificado de conclusão do
Curso Superior” (fl. 3).

2. O Autor sustenta que os dispositivos questionados contrariariam o


inc. II do art. 37 da Constituição da República, pois teriam transformado
cargos efetivos de primeiro e segundo graus em cargos de nível superior,
possibilitando, assim, a investidura de servidores sem a prestação de
concurso público.

Requer a suspensão de efeitos das normas impugnadas, e, no mérito,


a declaração de inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 4.997/1994, do
art. 2º da Lei Complementar n. 56/1994 e do art. 2º da Lei n. 4.888/1994,
alterado pela Lei n. 7.419/2002, todas do Estado do Espírito Santo.

3. Em 7.7.2003, o Ministro Maurício Corrêa, então Presidente deste


Supremo Tribunal, adotou o rito previsto no art. 12 da Lei n. 9.868/99 (fl.
69).

4. Em suas informações, o Governador do Espírito Santo defendeu a


constitucionalidade dos dispositivos impugnados.

Preliminarmente, suscitou o prejuízo da ação na parte em que se


impugna a Lei n. 4.997/1994, por ter sido publicada errata, em 11.1.1995,
que esclareceu ser Lei Complementar n. 57. Afirmou também que “a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11614839.
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 56

ADI 2914 / ES

opção pela impugnação restrita ao art. 2º da Lei 4.997/1994 e ao art. 2º da Lei


Complementar n. 56/1994, que cuidam da mera mudança de nomenclatura,
[teria acabado] por provocar a carência da presente ação, por inadequação
processual (falta de interesse), na medida em que os dispositivos não impugnados
possuem, por si só a eficácia de provocar as alterações alegadas como
inconstitucionais” (fls. 82, grifos no original).

No mérito, argumentou não haver afronta ao art. 37, inc. II, da


Constituição da República, pois os dispositivos impugnados teriam
introduzido apenas modificação na nomenclatura dos cargos sem
alteração nas atribuições, exigindo-se requisito extra para o seu
provimento, a saber, ter o candidato curso superior.

5. A Assembleia Legislativa do Espírito Santo sustentou a


inconstitucionalidade das normas impugnadas, ponderando terem sido
elas de iniciativa do Governador do Estado, pelo que afrontariam os arts.
2º, 61, § 1º, inc. II, alíneas a e b e 84, inc. VI, alínea a, da Constituição da
República. Aduziu, ainda, ter havido desrespeito ao art. 37, inc. II, da
Constituição da República.

6. O Advogado-Geral da União manifestou-se pela


constitucionalidade dos diplomas legais questionados, salientando que “o
princípio do concurso para o acesso aos cargos públicos não deve ser entendido de
modo a estratificar o serviço do Estado, a tal ponto que uma reorganização
administrativa, do gênero da ora cogitada, tenha passado a impor a extinção de
todos os antigos cargos e a colocação em disponibilidade de seus ocupantes,
seguida da abertura de inscrições para a disputa dos novos, ou então, do
aproveitamento dos disponíveis” (fls. 121-122).

7. O Procurador-Geral da República opinou pela procedência da


ação, reiterando os fundamentos da inicial (fls. 140-146).

8. Em 17.6.2008, a Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11614839.
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 56

ADI 2914 / ES

Civis – COBRAPOL ajuizou a Ação Cautelar n. 2.068/DF, argumentando


que teria havido “PERDA DO OBJETO DA ADI 2914, em face da revogação
da Lei do Estado do Espírito Santo n. 4.997/94 (Lei Complementar n. 57/94) pela
Lei Complementar n. 118/98 e pela Lei Complementar n. 422/07 (ambas do
Estado do Espírito Santo)”, requerendo “seu arquivamento definitivo” (fl. 8,
da Ação Cautelar n. 2.068/DF, grifos no original).

9. Em 10.10.2008, deferi o requerimento formulado pela


Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis – COBRAPOL
(Petições Avulsas STF ns. 135.535/2008 e 136.754/2008), admitindo-a como
amicus curiae, desde que “junta[sse] os documentos indispensáveis ao
cumprimento dos requisitos exigidos para a sua admissão nessa qualidade,
especialmente a Procuração do advogado, no prazo de 24 horas”.

É o relatório, do qual deverão ser encaminhadas cópias aos


eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 9º da Lei n.
9.868/1999 c/c o art. 87, inc. I, do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal).

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 11614839.
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 56

27/09/2019 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.914 ESPÍRITO SANTO

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (Relatora):

1. Ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador-


Geral da República para questionar a validade constitucional do art. 2º da
Lei n. 4.997/1994, do art. 2º da Lei Complementar n. 56/1994 e do art. 2º da
Lei n. 4.888/1994, alterado pela Lei n. 7.419/2002, do Espírito Santo, sob a
alegação de afronta ao inc. II do art. 37 da Constituição da República.

Nas normas impugnadas se estabelece:

“Lei n. 4.997/1994
Art. 2º. Os cargos de Papiloscopista e de Identificador
Datiloscopista ficam transformados em Peritos Papiloscópicos”.

“Lei Complementar n. 56/1994


Art. 2º. Os cargos de Técnico em Radiocomunicação ficam
transformados em Peritos em Telecomunicação”.

“Lei n. 4.888/1994
Art. 1º. O cargo efetivo, integrante do Quadro de Pessoal da
Polícia Civil, classificado como Agente de Presídio - Código PC-AP,
passa a denominar-se como Agente de Polícia Civil - Código PC-APC.
Art. 2º. Para o provimento do cargo de Agente de Polícia Civil
Código PC-APC será exigido o Certificado de conclusão do Curso
Superior”.

2. O autor argumenta que a “inconstitucionalidade a macular os


dispositivos acima transcritos decorre do fato de mencionada transformação de
cargos efetivos – cargos de primeiro e segundo graus em cargos de nível superior
–, possibilitar a investidura de servidores, sem a prestação do devido concurso
público, em cargos diversos daqueles nos quais foram legitimamente nomeados”

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 56

ADI 2914 / ES

(fl. 3).

Preliminar de prejuízo da ação direta de inconstitucionalidade quanto ao art. 2º


da Lei n. 4.997/1994

3. Em informações, o Governador do Espírito Santo asseverou que


“a Lei 4.997/94 não tem o conteúdo ora impugnado uma vez que por força da
errata publicada em 11/01/95 ela foi redenominada como Lei Complementar 57.
Sendo assim, diante da especificidade que deve acompanhar o pedido de
declaração da constitucionalidade, é possível concluir, desde já, pela sua
prejudicialidade em relação ao dispositivo em comento” (fl. 82).

O Procurador-Geral da República ressaltou que esse argumento,


“data venia, não possui qualquer plausibilidade jurídica, haja vista a errata ter
somente retificado a denominação da norma, e não, como quer fazer entender o
Governador, revogado a norma ora objeto desta ação. Assim, não há que se falar
em prejudicialidade da presente ação direta, uma vez que a norma sub judice
permanece no cenário jurídico, em que pese sua denominação ter sido retificada
por uma errata. Melhor sorte não assiste à alegação de que o pedido de declaração
de inconstitucionalidade versa, unicamente, sobre a mudança de nomenclatura
de tais cargos. Permissa venia, e conforme se depreende da inicial, sustenta o
requerente que o vício de inconstitucionalidade a macular os dispositivos
transcritos decorre do fato de mencionada transformação de cargos efetivos –
cargos de primeiro e segundo graus em cargos de nível superior –, possibilitar a
investidura de servidores, sem a prestação do devido concurso público, em cargos
diversos daqueles nos quais foram legitimamente nomeados. Dessa forma, fica
evidente que o pedido de inconstitucionalidade se dá em face da ausência de
realização do devido concurso público, e não, pelo simples fato de a nomenclatura
ter sido alterada (fls. 142-143).

Quanto à prejudicialidade da ação direta de inconstitucionalidade,


este Supremo Tribunal firmou o entendimento de que apenas a alteração
substancial do conteúdo material da lei impugnada pode caracterizar o

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 56

ADI 2914 / ES

prejuízo da ação.

Na espécie vertente, em 10.1.1995, foi publicado o seguinte ato


assinado pelo Governador do Espírito Santo:

“E R R A T A
Na Lei nº 4.997, de 16.12.94, publicada no Diário Oficial de
19.12.94.
ONDE SE LÊ:
LEI Nº 4.997
LEIA-SE:
LEI COMPLEMENTAR Nº 57” (fl. 100).

O texto impugnado não foi alterado nem substituído por norma


superveniente, apenas teve a denominação modificada, mantido o
conteúdo, pelo que afasto a preliminar de prejuízo da ação direta nessa
parte.

Alegação de prejuízo apresentada por COBRAPOL – Petições avulsas ns.


135.535/2008 e 136.754/2008 e Ação Cautelar n. 2.068/DF

4. Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis –


COBRAPOL, pelas Petições avulsas ns. 135.535/2008 e 136.754/2008,
requereu admissão no feito como amicus curiae, argumentando ter
ocorrido a revogação da questionada Lei n. 4.997/1994, pois, “no ano de
1998, [teria sido] promulgada e publicada a Lei Complementar nº 118, de
autoria do Exmo. Sr. Governador do Estado do Espírito Santo, não somente
ratificando a nomenclatura do cargo de papiloscopista como perito papiloscópico,
como também mantendo a escolaridade dos cargos de perito papiloscópico e de
investigador como de terceiro grau”.

Noticiou ter ajuizado a Ação Cautelar n. 2.608/DF, de minha


relatoria, na qual pleiteia seja “declarada a PERDA DO OBJETO DA ADI
2914, em face da revogação da Lei do Estado do Espírito Santo n. 4.997 (Lei

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 56

ADI 2914 / ES

Complementar n. 57/94) pela Lei Complementar n. 118/98 e pela Lei


Complementar n. 422/07 (ambas do Estado do Espírito Santo), determinando-se
seu arquivamento” (fl. 8 da Ação Cautelar n. 2.068/DF).

Na ação cautelar, Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais


Civis – COBRAPOL alega que a “defesa dos interesses das categorias
envolvidas na ADI n. 2914 foi feita oportunamente; (...) Entretanto, esses
benefícios não advieram da Lei 4997/94, que apenas alterou a escolaridade para
ingresso nos quadros de investigador e perito papiloscópico, mas sim advieram de
Leis subsequentes (Lei Complementar n. 118/98 e Lei Complementar n.
422/2007), TODAS DE INICIATIVA DO PODER EXECUTIVO
(GOVERNADOR DO ESTADO)" (fl. 3).

Assinala que, “se havia vício de iniciativa na Lei n. 4997/94, conforme


alega o autor da ADI N. 2914, esse vício foi plenamente sanado com a edição
dessas Leis Complementares” (fl. 4).

Ressalta que “as Leis Complementares [ns. 118/1998 e 422/2007] em


comento não somente teriam sanado o vício da Lei n. 4997/94 (para aqueles que
admitem seu vício de iniciativa), como também a REVOGARAM, tornando letra
morta suas disposições. Essas Leis Complementares 118/98 e 422/07, de
iniciativa do Governo do Estado do Espírito Santo, mantiveram o nível de
escolaridade para ingresso nos cargos de investigador e perito papiloscópico,
permanecendo a escolaridade de terceiro grau, bem como mantiveram as
nomenclaturas desses cargos, colocando-os no nível salarial referente aos cargos
de nível superior da Polícia capixaba” (fl. 6 da Ação Cautelar n. 2.068/DF).

Pelo exame da legislação estadual e do alegado por COBRAPOL se


revela que a legislação posterior à Lei capixaba n. 4.997/1994 não
prejudicou o pedido formulado na petição inicial desta ação direta.

Apesar de as Leis Complementares ns. 118/1998 e 422/2007 terem


sido iniciadas pelo governador do Espírito Santo, nos termos da al. c do

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 56

ADI 2914 / ES

inc. II do § 1º do art. 61 da Constituição da República, a matéria veiculada


na Lei n. 4.997/1994 se manteve no ordenamento jurídico capixaba.

Na inicial da Ação Cautelar n. 2.068/DF, COBRAPOL assevera que


“a Lei 4997/94 encontra-se em vigor desde 1994, portanto há 14 anos,
desfrutando essas categorias de todos os benefícios e responsabilidades dela
advindos. Isso porque os integrantes dos cargos policiais em apreço (perito
papiloscópico e investigador) há 14 (catorze) anos têm suas vidas guiadas por
essa alteração da escolaridade que se iniciou com a Lei n. 4997/94 e que foi
posteriormente mantidas nas Leis que a ela sucederam” (fl. 3 da Ação Cautelar
n. 2.068/DF).

Apesar da conclusão de COBRAPOL de que a Lei n. 4.997/1994 teria


sido revogada, pela reiteração do conteúdo nas Leis Complementares ns.
118/1998 e 422/2007 que a sucederam (fl. 6 da Ação Cautelar n. 2.068),
impossível reconhecer a constitucionalidade das transformações de
cargos de nível primário e médio em cargos de nível superior.

O que não poderia ter sido determinado em lei, ordinária ou


complementar, de iniciativa do Poder Legislativo, não pode igualmente
ser objeto de lei, complementar ou ordinária, de iniciativa do Poder
Executivo.

A Lei n. 4.997/1994 é apenas parte do objeto desta ação, logo, se


prejuízo houvesse, e não há, seria somente dessa parte, devendo este
Supremo Tribunal se manifestar sobre as outras normas impugnadas: art.
2º da Lei Complementar capixaba n. 56/1994 e arts. 1º e 2º da Lei n.
4.888/1994.

Da inconstitucionalidade formal

5. No mérito, é de se anotar que na ação direta de


inconstitucionalidade a causa de pedir é aberta, o julgamento não está

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 56

ADI 2914 / ES

vinculado aos fundamentos jurídicos deduzidos na inicial, podendo este


Supremo Tribunal apreciar a ação direta por afronta a dispositivo
constitucional não suscitado pelo autor. Assim, por exemplo:

“Na realidade, há que se ter em perspectiva o caráter aberto do


elemento causal (“causa petendi”) inerente à ação direta de
inconstitucionalidade, que - por ensejar ampla indagação
jurisdicional, por parte desta Suprema Corte, em torno dos possíveis
fundamentos (invocados ou não) justificadores de eventual invalidade
constitucional do ato normativo - permite, bem por isso, que o
“amicus curiae” apoie a sua pretensão de inconstitucionalidade em
fundamento jurídico diverso daquele invocado pelo autor do processo
de fiscalização normativa abstrata, não se achando vinculado,
portanto, aos argumentos utilizados pela parte principal.
Não se pode desconhecer, Senhora Presidente, a propósito da
questão ora em exame, que a jurisprudência desta Suprema Corte (RTJ
175/857-858, Rel. Min. MOREIRA ALVES - RTJ 179/35-37, Rel.
Min. CELSO DE MELLO) reconhece que o Supremo Tribunal
Federal não está vinculado, na formulação do juízo de
inconstitucionalidade, aos fundamentos que tenham sido deduzidos
pelo autor da ação direta:
‘Ação direta de inconstitucionalidade (...).
- Relevância de fundamento - ainda que não invocado
diretamente pelo requerente -, que pode ser levado em consideração
pela Corte, dado que a 'causa petendi', nessa ação, é aberta, relativo à
infringência, no caso, do princípio da independência dos Poderes
(artigo 2º da Constituição Federal). (...).’(ADI 1.606-MC/SC, Rel.
Min. MOREIRA ALVES)” (ADI n. 3.045, Relator o Ministro
Celso de Mello, DJ 1º.6.2007).

6. Na espécie vertente, o Procurador-Geral da República alega


afronta ao inc. II do art. 37 da Constituição da República, mas o exame da
legislação capixaba impõe o exame do cumprimento ou não da al. c do
inc. II do § 1º do art. 61 da Constituição da República.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 56

ADI 2914 / ES

Pelo art. 1º da Constituição da República se acolhe o princípio


federativo, para o cumprimento do qual se assegura aos entes federados
competência privativa, no espaço constitucional de autonomia de cada
qual. No art. 25 se estabelece que os Estados-membros se organizam
conforme as Constituições respectivas e leis que adotarem, observados os
princípios da Constituição da República.

Como posto no sistema constitucional, o modelo federativo no Brasil


adota a simetria dos modelos federal e estaduais nas matérias afirmadas
nos princípios acolhidos pela Constituição da República.

Pela al. c do inc. II do § 1º do art. 61 da Constituição da República se


estabelece ser da competência privativa do chefe do Poder Executivo a
iniciativa de leis sobre servidores públicos, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria, no plano federal, nos
Estados-membros e nos Municípios.

Essa norma de competência constitui-se em expressão do princípio


da separação de Poderes, pelo que a simetria impõe o acolhimento e o
respeito pelo ente federado.

Em 14.2.1996, no julgamento da Ação Direta de


Inconstitucionalidade n. 507/AM, Relator o Ministro Celso de Mello, o
Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu:

“O PODER CONSTITUINTE OUTORGADO AOS


ESTADOS-MEMBROS SOFRE AS LIMITAÇÕES JURÍDICAS
IMPOSTAS PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
- Os Estados-membros organizam-se e regem-se pelas
Constituições e leis que adotarem (CF, art. 25), submetendo-se, no
entanto, quanto ao exercício dessa prerrogativa institucional
(essencialmente limitada em sua extensão), aos condicionamentos
normativos impostos pela Constituição Federal, pois é nesta que reside
o núcleo de emanação (e de restrição) que informa e dá substância ao

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 56

ADI 2914 / ES

poder constituinte decorrente que a Lei Fundamental da República


confere a essas unidades regionais da Federação. Doutrina.
Precedentes” (DJ 8.8.2003).

Por esse entendimento, os estados devem obedecer ao disposto na al.


c do inc. II do § 1º do art. 61 da Constituição da República. Confiram-se os
seguintes julgados:

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE - PROMOÇÃO DE PRAÇAS DA
POLÍCIA MILITAR E DO CORPO DE BOMBEIROS - REGIME
JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS - PROCESSO
LEGISLATIVO - INSTAURAÇÃO DEPENDENTE DE
INICIATIVA CONSTITUCIONALMENTE RESERVADA AO
CHEFE DO PODER EXECUTIVO - DIPLOMA LEGISLATIVO
ESTADUAL QUE RESULTOU DE INICIATIVA PARLAMENTAR.
(...)
OS PRINCÍPIOS QUE REGEM O PROCESSO
LEGISLATIVO IMPÕEM-SE À OBSERVÂNCIA DOS ESTADOS-
MEMBROS.
- O modelo estruturador do processo legislativo, tal como
delineado em seus aspectos fundamentais pela Constituição da
República, impõe-se, enquanto padrão normativo de compulsório
atendimento, à observância incondicional dos Estados-membros.
Precedentes.- A usurpação do poder de instauração do processo
legislativo em matéria constitucionalmente reservada à iniciativa de
outros órgãos e agentes estatais configura transgressão ao texto da
Constituição da República e gera, em consequência, a
inconstitucionalidade formal da lei assim editada. Precedentes. (...)
SIGNIFICAÇÃO CONSTITUCIONAL DO REGIME
JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS (CIVIS E
MILITARES).
- A locução constitucional ‘regime jurídico dos servidores
públicos’ corresponde ao conjunto de normas que disciplinam os
diversos aspectos das relações, estatutárias ou contratuais, mantidas
pelo Estado com os seus agentes. Precedentes” (ADI n. 2.867/ES,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 56

ADI 2914 / ES

Relator o Ministro Celso de Mello, Plenário, DJ 9.2.2007).

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSO


LEGISLATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CRIAÇÃO DE ÓRGÃOS
PÚBLICOS. INICIATIVA LEGISLATIVA RESERVADA. C.F., art.
61, § 1º, II, a, c e e, art. 63, I; Lei 13.145/2001, do Ceará, art. 4º; Lei
13.155/2001, do Ceará, artigos 6º, 8º e 9º, Anexo V, referido no art. 1º.
I. - As regras do processo legislativo, especialmente as que dizem
respeito à iniciativa reservada, são normas de observância obrigatória
pelos Estados-membros. Precedentes do STF. II. - Leis relativas à
remuneração do servidor público, que digam respeito ao regime
jurídico destes, que criam ou extingam órgãos da administração
pública, são de iniciativa privativa do Chefe do Executivo. C.F., art.
61, § 1º, II, a, c e e. III. - Matéria de iniciativa reservada: as restrições
ao poder de emenda - C.F., art. 63, I - ficam reduzidas à proibição de
aumento de despesa e à hipótese de impertinência de emenda ao tema
do projeto. Precedentes do STF. IV - ADI julgada procedente”(ADI n.
2.569-4-CE, Relator o Ministro Carlos Velloso, Plenário, DJ
2.5.2003).

As leis impugnadas na espécie resultaram de processo legislativo


iniciado por proposta do Poder Legislativo:

a) Lei n. 4.997/1994: Projeto de Lei n. 76/1994, proposto pelo


Deputado Gilson Gomes;

b) Lei Complementar n. 56/1994: Projeto de Lei Complementar n.


13/1994, proposto pelo Deputado Umberto Messias;

c) Lei n. 4.888/1994: Projeto de Lei n. 247/1992, proposto pelo


Deputado Gilson Gomes, e Projeto de Lei n. 394/2002, proposto pelo
Deputado Gilsinho Lopes (apenso n. 1).

O Projeto de Lei n. 394/2002, que deu origem à Lei n. 7.419/2002, pela


qual alterada a Lei n. 4.888/1994, foi vetado pelo governador do Espírito

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 56

ADI 2914 / ES

Santo, tendo a Assembleia Legislativa mantido o texto e promulgado


aquela lei.

Diferente do alegado por COBRAPOL, pela legislação posterior, Leis


Complementares ns. 118/1998 e 422/2007, de iniciativa do Poder
Executivo, não se sanou o vício de inconstitucionalidade formal das
normas originalmente atacadas.

7. Descabe cogitar-se da possibilidade de convalidação das leis


capixabas pela sanção do governador do estado, pois é pacífica a
jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que a sanção não
afasta o vício de iniciativa. Confira-se o seguinte julgado:

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.º 1.007/96, DO DISTRITO
FEDERAL. VINCULAÇÃO DO REAJUSTE DOS
VENCIMENTOS DOS SERVIDORES DISTRITAIS AOS
PERCENTUAIS CONCEDIDOS PELA UNIÃO. ALEGADA
VIOLAÇÃO AO INCISO XIII DO ART. 37 E À ALÍNEA A DO
INCISO II DO § 1.º DO ART. 61, TODOS DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. SÚMULA 5 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Diploma legal que, tendo resultado de projeto de lei de autoria de
parlamentar, viola a iniciativa privativa do Chefe do Executivo para
leis que disponham sobre aumento de remuneração de servidores, em
vício de inconstitucionalidade formal não convalidado pela sanção,
não mais sendo aplicável a Súmula 5 desta Corte. Precedentes.Ação
julgada procedente” (ADI n. 1.438, Relator o Ministro Ilmar
Galvão, DJ 8.11.2002).

Assim também a ADI n. 700, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ


24.8.2001, e a ADI n. 2.867, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ 9.2.2007.

8. Formalmente inconstitucionais, portanto, o art. 2º da Lei n.


4.997/1994, o art. 2º da Lei Complementar n. 56/1994, o art. 2º da Lei n.
4.888/1994, alterado pela Lei n. 7.419/2002, pela afronta à al. c do inc. II do

10

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 56

ADI 2914 / ES

§ 1º do art. 61 da Constituição da República, por disporem sobre matéria


de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo.

Da impossibilidade de transformação de cargos de nível primário e médio em


cargos de nível superior sem concurso público

9. COBRAPOL argumenta que as “Leis Complementares 118/98 e


422/07, de iniciativa do Governo do Estado do Espírito Santo, mantiveram o
nível de escolaridade para ingresso nos cargos de investigador e perito
papiloscópico, permanecendo a escolaridade de terceiro grau, bem como
mantiveram as nomenclaturas desses cargos, colocando-os no nível salarial
referente aos cargos de nível superior da Polícia Civil capixaba (fl. 6 da Ação
Cautelar n. 2.068/DF).

Nos arts. 18 e 19 da Lei Complementar n. 4, de 15.1.1990, tem-se:

“Art. 18 – São os agentes da autoridade policial:


I – os Investigadores. (...)
Art. 19 – São auxiliares da autoridade policial:
VIII – os Técnicos em Rádio Comunicação;
IX – os Papiloscopistas; (...)
XI – os Agentes de Presídio;
XII – os Identificadores Datiloscopistas. (...)
Art. 22 – O ingresso de pessoas de ambos os sexos nas carreiras
policiais dar-se-á, exclusiva e obrigatoriamente pela aprovação dos
habilitados nas seguintes etapas, todas de caráter eliminatório:
Parágrafo único – É requisito essencial para a inscrição em
concurso público, a apresentação pelo interessado de diploma,
registrado nos órgãos competentes, obedecidas as seguintes condições:
(...)
a) de conclusão de Curso de Direito, para o concurso de
Delegados de Polícia Substituto;
b) de conclusão do Curso de Medicina, para o concurso de
Médico Legista de 1ª categoria;
c) de conclusão do Curso de Bioquímica, Farmácia ou Fármaco-

11

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 56

ADI 2914 / ES

Química e comprovação de experiência mínima de um ano em


laboratório de análise químico-toxicológico, para o concurso de Perito
Bioquímico Toxicologista de 1ª categoria;
d) de conclusão do Curso de Psicologia e comprovação de
experiência profissional mínima de dois anos, para concurso de
Psicólogo de 1ª categoria;
e) de conclusão do Curso de Assistente Social e comprovação de
experiência profissional mínima de dois anos, para concurso de
Assistente Social de 1ª categoria;
f) de conclusão dos cursos de Química, Física, Engenharia,
Ciências Contábeis, Biologia, Odontologia, Mineralogia ou Geologia,
Matemática, Direito e Farmácia, para o concurso de Perito Criminal
Especial de 1ª Categoria;
g) de conclusão do curso de 2º Grau e habilitação como
motorista para as demais carreiras, exceto a de Agente de Presídio que
será de 1º Grau;
h) de conclusão do curso de Direito, para o Concurso de
Escrivão de Polícia” (DO 17.1.1990).

Da leitura do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n.


4/1990, vê-se que não há menção expressa de exigência de curso superior
para os cargos de Técnico em Rádio Comunicação, transformado em
Perito em Telecomunicação pelo art. 2º da Lei Complementar n. 56/1994,
de Agente de Presídio, transformado em Agente de Polícia Civil pela Lei
n. 4.888/1994, alterado pela Lei n. 7.419/2002, de Papiloscopista e
Identificador Datiloscopista, transformados em Peritos Papiloscópicos.

A interpretação, por exclusão, sobre qual seria a exigência quanto


aos ocupantes desses cargos é no sentido de que, até a edição das normas
impugnadas, bastava conclusão de curso de segundo grau para o
provimento daqueles cargos.

Nas normas impugnadas, com as alterações, dispõe-se:

“Lei 4.997/1994

12

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 19 de 56

ADI 2914 / ES

Art. 1º - Acrescente-se alínea ao parágrafo único do artigo 22,


da Lei Complementar n. 04/90, com a seguinte redação:
‘art. 22 – (...)
Parágrafo único – (...)
I – de conclusão de curso de nível superior para o Concurso de
Investigador de polícia, de Papiloscopista e de Identificador
Datiloscopista’.
Art. 2º - Os cargos de Papiloscopista e de Identificador
Datiloscopista ficam transformados em Peritos Papiloscópicos”.

“Lei Complementar n. 118/1998


Art. 1º A alínea ‘i’ do parágrafo único do artigo 22 da lei
Complementar n. 04/90, alterado pelo art. 1º da lei Complementar n.
57, de 19/12/94, passa a vigorar coma a seguinte redação:
‘i) de conclusão de Curso de Nível Superior para o concurso aos
cargos de Investigador de Polícia e de Perito Papiloscópico’
Art. 2º Os cargos de Investigador de Polícia e de Perito
Papiloscópico passam a integrar o grupo de cargos de Nível Superior
do Quadro de Carreira da Polícia Civil, a partir de 1º.1.1999”.

“Lei Complementar n. 56/1994


Art. 1º Fica acrescido de mais uma alínea o parágrafo único do
artigo 22 da Lei Complementar n. 4/90, com a seguinte redação:
‘art.22 – (...)
Parágrafo único – (...)
h) da conclusão dos Cursos de Nível Superior de Engenharia,
em Telecomunicações, Elétrica ou Eletrônica, para o Concurso de
Técnico em Rádio Comunicação.’
Art. 2º Os Cargos de Técnico em Rádio Comunicação, ficam
transformados em Peritos em Telecomunicações”.

“Lei 4.888/1994
Art. 1º O cargo efetivo, integrante do Quadro de Pessoal da
Polícia Civil, classificado como Agente de Presídio – Código PC-AP,
passa a denominar-se como Agente de Polícia Civil – Código PC-
APC.

13

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 20 de 56

ADI 2914 / ES

Art. 2º Para o provimento do cargo de Agente de Polícia Civil,


Código PC-APC, será exigido o Certificado de Conclusão de 2º Grau”.

“Lei 7.419/2002
Art. 1º O art. 2º da Lei n. 4.888, de 26/01/1994, passa a terá a
seguinte redação:
‘Art. 2º Para o provimento do cargo de Agente de Polícia Civil,
Código PC-APC, será exigido o Certificado de Conclusão do Curso
Superior’”.

Das normas impugnadas é possível extrair duas situações:

a) a condução automática dos então ocupantes dos cargos de Técnico


em Rádio Comunicação, transformado em Perito em Telecomunicação
pelo art. 2º da Lei Complementar n. 56/1994, de Agente de Presídio,
transformado em Agente de Polícia Civil pela Lei n. 4.888/1994, alterada
pela Lei n. 7.419/2002, de Papiloscopista e Identificador Datiloscopista,
transformados em Peritos Papiloscópicos, para cargos de nível diferente
do inicialmente exigido para o ingresso na carreira;

b) a exigência de nível superior como condição a ser cumprida pelos


interessados em ingressar por concurso público nas carreiras da Polícia
Civil capixaba.

Na espécie vertente se combate a condução automática, denominada


“transformação” (Lei n. 4.997/1994, Lei Complementar n. 56/1994 e Lei n.
4.888/1994), dos servidores que naquela data da edição dessas leis
ocupavam os cargos para os quais se exigia nível de escolaridade
primário ou médio e passaram a ocupar, sem concurso público, cargos
para os quais se exige a conclusão de curso de nível superior, sujeitando-
se, por força da legislação subsequente, às responsabilidades e aos
benefícios dela decorrentes.

Na petição inicial, o Procurador-Geral da República assim resumiu a

14

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 21 de 56

ADI 2914 / ES

inconstitucionalidade das normas impugnadas: “O vício de


inconstitucionalidade a macular os dispositivos acima transcritos decorre[ria] do
fato de mencionada transformação de cargos efetivos – cargos de primeiro grau
[Agente de Presídio] e segundo graus [Papiloscopista, Identificador
Datiloscopista e Técnico em Rádio Comunicação] em cargos de nível
superior –, possibilitar a investidura de servidores, sem a prestação do devido
concurso público, em cargos diversos daqueles nos quais foram legitimamente
nomeados, em total dissonância com o disposto no inciso II do art. 37 da Carta
Magna” (fl. 3).

No inc. II do art. 37 da Constituição da República se dispõe:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração”.

A matéria posta à apreciação não é nova no Supremo Tribunal


Federal, que tem reconhecido a inconstitucionalidade de normas como as
examinadas por entender que as formas de provimento derivado de
cargos públicos foram abolidas pela Constituição da República de 1988.

Em 18.11.2004, ao julgar a admissibilidade de provimento derivado


de cargos públicos, o Plenário deste Supremo Tribunal decidiu:

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. DISPOSITIVOS DAS LEIS
COMPLEMENTARES 78/1993 E 90/1993 DO ESTADO DE
SANTA CATARINA E DA RESOLUÇÃO 40/1992 DA
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SANTA

15

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 22 de 56

ADI 2914 / ES

CATARINA. Inadmissibilidade, à luz da Constituição de 1988, de


formas derivadas de investidura em cargos públicos.
Inconstitucionalidade de normas estaduais que prevêem hipóteses de
progressão funcional por acesso, transposição (em modalidade
individual, diversa das exceções admitidas pela jurisprudência do
STF), enquadramento a partir de estabilidade não decorrente de
investidura por concurso público, acesso por seleção interna,
transferência entre quadros e enquadramento por correção de
disfunção relativamente ao nível de escolaridade do servidor. Ação
prejudicada em parte, em decorrência da revogação de dispositivos
atacados. Ação procedente na parte restante” (ADI n. 951/SC,
Relator o Ministro Joaquim Barbosa, Plenário, DJ 29.4.2005).

Confiram-se também os seguintes precedentes:

“EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO


ADMINISTRATIVO. PROGRESSÃO FUNCIONAL DE
CARREIRA DE NÍVEL MÉDIO PARA OUTRA DE NÍVEL
SUPERIOR. PROVIMENTO DERIVADO BANIDO DO
ORDENAMENTO JURÍDICO. NECESSIDADE DE CONCURSO
PÚBLICO. 1. Jurisprudência pacificada no STF acerca da
impossibilidade de provimento de cargo público efetivo mediante
ascensão ou progressão. Formas de provimento derivado banidas pela
Carta de 1988 do ordenamento jurídico. 2. A investidura de servidor
efetivo em outro cargo depende de concurso público (CF, artigo 37, II)
ressalvadas as hipóteses de promoção na mesma carreira e de cargos
em comissão. 3. Eventuais atos praticados em desobediência à Carta
da República não podem ser invocados com base no princípio
isonômico, dado que direito algum nasce de ato inconstitucional.
Segurança denegada” (MS n. 23.670/DF, Relator o Ministro
Maurício Corrêa, Plenário, DJ 8.2.2002).

“EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Medida


cautelar. Inciso II, do art. 14 e a expressão ‘e Agente Tributário
Estadual’ inscrita no art. 15, ambos da Lei nº 2.081, de 14.01.2000, do
Estado do Mato Grosso do Sul, que dispõe ‘sobre a estrutura,

16

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 56

ADI 2914 / ES

organização e remuneração do Grupo Tributação, Arrecadação e


Fiscalização, e dá outras providências’. 2. Alegação de afronta ao
disposto no art. 37, II, da Constituição Federal, uma vez que dita lei
autoriza, sem prévio concurso público, o ‘enquadramento’ de
servidores públicos de nível médio para exercerem cargos públicos
efetivos de nível superior. 3. Não é possível acolher como em
correspondência ao art. 37, II, da Constituição, o pretendido
enquadramento dos Agentes Tributários Estaduais no mesmo cargo
dos Fiscais de Renda. Configurada a passagem de um cargo a outro de
nível diverso, sem concurso público, o que tem a jurisprudência da
Corte como inviável. 4. Relevantes os fundamentos da inicial. 5. Ação
direta de inconstitucionalidade conhecida. Medida cautelar deferida
para suspender ex tunc e até o julgamento final da ação a eficácia dos
arts. 14, II e da expressão ‘e Agente Tributário Estadual’ constante do
art. 15, ambos da Lei nº 2.081, de 14.01.2000, do Estado do Mato
Grosso do Sul” (ADI n. 2.145-MC/MS, Relator o Ministro Néri da
Silveira, Plenário, DJ 31.10.2003).

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO.


ESCRIVÃO DE EXATORIA E FISCAL DE MERCADORIAS EM
TRÂNSITO: ESTADO DE SANTA CATARINA. Lei Complementar
nº 81, de 10.03.93, do Estado de Santa Catarina. I. - Transformação,
com os seus ocupantes, de cargos de nível médio em cargos de nível
superior. Espécie de aproveitamento. Inconstitucionalidade, porque
ofensivo ao disposto no art. 37, II, da Constituição Federal. II. - Ação
direta de inconstitucionalidade julgada procedente, declarada a
inconstitucionalidade dos Anexos I e II-55 e II-56 da Lei
Complementar 81, de 10.03.93, do Estado de Santa Catarina” (ADI n.
1.030/SC, Relator o Ministro Carlos Velloso, Plenário, DJ
13.12.1996).

Sobre o provimento de cargos públicos, assinalei:

“Provimento inicial é aquele que se dá quando, vago o cargo (ou


porque vem de ser criado ou porque o seu titular anterior dele se
afastou definitivamente), vem a ser suprido por ato administrativo

17

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 56

ADI 2914 / ES

unilateral e auto-executório, pelo qual se confere a alguém a condição


de titular do cargo indicado, sendo que tal cometimento independente
e não deriva de qualquer relação jurídico-funcional havida antes pelo
agente como membro da carreira correspondente ou de qualquer cargo
isolado.... O provimento derivado é aquele que ocorre quando, vago o
cargo por qualquer causa, vem a ser suprido por agente que o
titulariza por agente que lhe advém de relação havida anteriormente
com a entidade estatal de cujos quadros faz parte” (Princípios
constitucionais dos servidores públicos. São Paulo: Saraiva, 2000, p.
192).

10. A pretexto de “modificação da nomenclatura dos cargos públicos”


pelas normas impugnadas foi criada forma derivada de provimento de
cargo público, em flagrante desrespeito ao disposto no inc. II do art. 37 da
Constituição da República.

Pelo exposto, voto no sentido de julgar procedente a ação direta de


inconstitucionalidade para declarar a inconstitucionalidade das normas
impugnadas.

18

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B267-F861-5BB2-85B0 e senha CEDB-A980-E083-8F06
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 27/09/2019

Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 56

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.914


PROCED. : ESPÍRITO SANTO
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TRABALHADORES POLICIAIS
CIVIS - COBRAPOL
ADV.(A/S) : RAFAEL BARBOSA DE CASTILHO (19979/DF)
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS EM PAPILOSCOPIA
- FENAPPI
ADV.(A/S) : FABRÍCIO CORREIA DE AQUINO (18486/DF) E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS PERITOS PAPILOSCÓPICOS DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO - APPES
ADV.(A/S) : JENIFFER PATRICIA MACHADO PRADO (18590/ES) E
OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO ESPIRITO-SANTENSE DE PERITOS EM
CRIMINALÍSTICA - AEPC
ADV.(A/S) : RUDI MEIRA CASSEL (165498/MG, 170271/RJ, 49862A/RS) E
OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : SINDICATO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAL FEDERAIS -
APCF
ADV.(A/S) : ALBERTO EMANUEL ALBERTIN MALTA (46056/DF)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIMINALÍSTICA - ABC
ADV.(A/S) : LUCIANO PEREIRA DE FREITAS GOMES (45507/DF, 34445/GO)

Decisão: Após os votos dos Ministros Cármen Lúcia (Relatora),


Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, que
julgavam procedente o pedido formulado na ação direta para
declarar a inconstitucionalidade das normas impugnadas, pediu
vista dos autos o Ministro Luiz Fux. Plenário, Sessão Virtual de
20.9.2019 a 26.9.2019.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código C974-30C9-0A94-4DB3 e senha E032-3164-6427-BEF1
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 26 de 56

03/04/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.914 ESPÍRITO SANTO

VOTO - VISTA

AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO
2º DA LEI ESTADUAL 4.997/1994,
ARTIGO 2º DA LEI COMPLEMENTAR
ESTADUAL 56/1994 E ARTIGO 2º DA LEI
ESTADUAL 4.888/1994, TODAS DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
TRANSFORMAÇÃO DOS CARGOS
DE PAPILOSCOPISTA E DE
IDENTIFICADOR DATILOSCOPISTA
EM PERITOS PAPILOSCÓPICOS, DOS
CARGOS DE TÉCNICO EM
RADIOCOMUNICAÇÃO EM PERITOS
EM TELECOMUNICAÇÃO E DOS
CARGOS DE AGENTE DE PRESÍDIO -
CÓDIGO PC-AP EM AGENTE DE
POLÍCIA CIVIL - CÓDIGO PC-APC. LEIS
DE ORIGEM PARLEMENTAR.
USURPAÇÃO DA INICIATIVA
LEGISLATIVA DO CHEFE DO PODER
EXECUTIVO EM MATÉRIA DE
SERVIDORES PÚBLICOS DA
ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DO
ESTADO (ARTIGO 61, § 1º, II, A E C,
CRFB). A MERA MODIFICAÇÃO DO
NÍVEL DE ESCOLARIDADE EXIGIDO
PARA CARGO PREEXISTENTE NÃO
VIOLA A REGRA DO CONCURSO
PÚBLICO. AÇÃO CONHECIDA E

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 27 de 56

ADI 2914 / ES

JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO.


1. A mera alteração da nomenclatura da Lei
estadual 4.997/1994 para Lei Complementar
estadual 57/1994, por meio de errata, não
causa prejuízo ao julgamento da ação, vez
que não se demonstrou a revogação ou
alteração da norma impugnada.
2. A Lei estadual 4997/1994 possui conteúdo
diverso da Lei Complementar estadual
57/1994, de forma que inviável a suposta
conversão daquela nesta por meio de
simples errata publicada pelo Poder
Executivo, sob pena de burla ao processo
legislativo.
3. O Supremo Tribunal Federal não se
vincula aos fundamentos jurídicos trazidos
pelo requerente em seu pedido, em razão da
prevalência do princípio da causa pretendi
aberta na análise das ações de controle
abstrato.
4. Compete aos Governadores dos Estados-
membros a iniciativa das leis que
disponham sobre a criação e provimento de
cargos, remuneração e regime jurídico dos
servidores públicos pertencentes à estrutura
administrativa da respectiva unidade
federativa (artigo 61, § 1º, II, a e c, CRFB).
5. Os dispositivos de lei impugnados, de
origem parlamentar, versaram
transformação de cargos da Polícia Civil
capixaba, órgão do Poder Executivo
estadual, incorrendo em vício de iniciativa.
6. A sanção do projeto de lei não convalida o

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 28 de 56

ADI 2914 / ES

vício resultante da usurpação do poder de


iniciativa do chefe do Poder Executivo.
7. A regra do concurso como condição de
acesso a cargos e empregos públicos não se
limita à primeira investidura, proibindo
também o aproveitamento de servidores em
cargos de natureza e grau de complexidade
diversos daqueles no quais se deu o
ingresso no serviço público.
8. In casu, não há burla à regra do concurso
público, uma vez que os papiloscopistas,
identificadores datiloscopistas e técnicos em
radiocomunicação são peritos que
ingressaram nos respectivos cargos por
meio de concurso público, ainda que,
anteriormente, possuíssem outra
nomenclatura. O mesmo se dá em relação
aos agentes de presídio - código PC-AP,
admitidos por concurso público, que não
tiveram suas atribuições alteradas com a
mudança da nomenclatura do cargo para
Agente de Polícia Civil - Código PC-APC.
9. O aproveitamento dos ocupantes de
cargos extintos em cargos recém-criados é
condicionado apenas à similitude de
atribuições entre eles, ainda que haja
mudança de padrão remuneratório.
10. Ação direta de inconstitucionalidade
CONHECIDA e julgado PROCEDENTE o
pedido, para declarar a
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL do artigo
2º da Lei estadual 4.997/1994, do artigo 2º da
Lei Complementar estadual 56/1994 e do

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 56

ADI 2914 / ES

artigo 2º da Lei estadual 4.888/1994,


alterado pela Lei estadual 7.419/2002, todas
do Estado do Espírito Santo.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX: Senhor Presidente, eminentes pares,


ilustre representante do Ministério Público, senhores advogados aqui
presentes.

Cuida-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de


medida cautelar, ajuizada pelo Procurador-Geral da República, tendo por
objeto o artigo 2º da Lei estadual 4.997/1994, o artigo 2º da Lei
Complementar estadual 56/1994 e o artigo 2º da Lei estadual 4.888/1994,
com a redação da Lei estadual 7.419/2002, todas do Estado do Espírito
Santo, de seguinte teor:

“Lei estadual 4.997/1994


Art. 2º. Os cargos de Papiloscopista e de Identificador
Datiloscopista ficam transformados em Peritos Papiloscópicos.

Lei Complementar estadual 56/1994


Art. 2º. Os cargos de Técnico em Radiocomunicação ficam
transformados em Peritos em Telecomunicação.

Lei estadual 4.888/1994


Art. 1º. O cargo efetivo, integrante do Quadro de Pessoal da
Polícia Civil, classificado como Agente de Presídio - Código PC-AP,
passa a denominar-se como Agente de Polícia Civil - Código PC-APC.
Art. 2º. Para o provimento do cargo de Agente de Polícia
Civil Código PC-APC será exigido o Certificado de conclusão
do Curso Superior.”

Como parâmetro de controle, foi indicado o artigo 37, II, da


Constituição Federal.

Em síntese, o requerente alegou que os dispositivos legais

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 30 de 56

ADI 2914 / ES

impugnados transformaram cargos públicos efetivos de primeiro e


segundo graus de escolaridade em cargos de nível superior,
possibilitando a investidura de servidores, sem a prestação do devido
concurso público, em cargos diversos daqueles para os quais foram
legitimamente nomeados (doc. 3).

O saudoso Ministro Maurício Corrêa, então Presidente da Corte,


atuando no feito por força do disposto no artigo 13, VIII, do RISTF,
determinou a aplicação do rito veiculado pelo artigo 12 da Lei federal
9.868/1999 (doc. 5).

O Governador do Estado do Espírito Santo, em sede preliminar,


pleiteou a extinção do feito sem julgamento do mérito, pois “a lei 4.997/94
não tem o conteúdo ora impugnado uma vez que por força da errata publicada em
11/01/95 ela foi redenominada como Lei Complementar 57” e “em relação às Leis
4.997/94 e LC nº 56/94 não houve qualquer questionamento quanto à exigência
de nível superior como requisito essencial para o provimento dos cargos acima
mencionados”. No mérito, argumentou que a simples mudança de
nomenclatura dos cargos não acarretaria ofensa à exigência constitucional
do concurso público, pois não teria havido mudança de atribuições.
Aduziu que as medidas previstas nos artigos ora atacados fazem parte de
uma política governamental tendente a uma melhor qualificação da classe
policial (doc. 10).

A seu turno, a Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo


apontou a inconstitucionalidade formal das leis objurgadas, uma vez que
originárias de projetos de lei propostos por parlamentares, versando
matéria cuja iniciativa legislativa seria do Chefe do Poder Executivo
estadual. No mais, aderiu aos argumentos apresentados na exordial
(docs. 18 e 23).

O Advogado-Geral da União exarou parecer pela improcedência do


pedido de mérito, aderindo aos argumentos apresentados pelo

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 31 de 56

ADI 2914 / ES

Governador. Aduziu que “[o] princípio do concurso para o acesso aos cargos
públicos não deve ser entendido de modo a estratificar o serviço do Estado, a tal
ponto que uma reorganização administrativa, do gênero da ora cogitada, tenha
passado a impor a extinção de todos os antigos cargos e a colocação em
disponibilidade de seus ocupantes, seguida da abertura de inscrições para a
disputa dos novos, ou então, do aproveitamento dos disponíveis (Constituição,
art. 41, § 3º), que redundaria, precisamente, na situação verberada pelo
Requerente ” (doc. 16).

O Procurador-Geral da República, por sua vez, manifestou-se no


sentido da procedência do pedido de mérito, reiterando os argumentos
apresentados na exordial (doc. 20).

A Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis -


COBRAPOL, a Federação Nacional dos Profissionais em Papiloscopia -
FENAPPI, a Associação dos Peritos Papiloscópicos do Estado do Espírito
Santo - APPES, a Associação Espírito-Santense de Peritos em
Criminalística - AEPC, o Sindicato Nacional dos Peritos Criminal Federais
- APCF e a Associação Brasileira de Criminalística - ABC foram admitidas
a se manifestar no feito, na qualidade de amici curiae (docs. 34, 59, 70, 87,
136).

Após o voto da eminente Ministra Cármen Lúcia, Relatora, no


sentido da inconstitucionalidade formal e material dos dispositivos legais
impugnados, por vício de iniciativa legislativa e provimento derivado de
cargos públicos, no que foi acompanhada pelos eminentes Ministros
Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, pedi vista
dos autos para melhor exame da matéria (doc. 138).

Depois de detida análise da controvérsia, forçoso acompanhar as


conclusões da Ministra Relatora no que se refere à inconstitucionalidade
formal dos dispositivos impugnados, por vício de iniciativa, ressalvado
meu entendimento quanto à constitucionalidade material das normas

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 32 de 56

ADI 2914 / ES

objurgadas.

PRELIMINAR

O CONHECIMENTO DA AÇÃO

Como bem salientado pela Ministra Relatora, a mera alteração da


nomenclatura da Lei estadual 4.997/1994 para Lei Complementar
estadual 57/1994, por meio de errata, não causa prejuízo ao julgamento da
ação, vez que não se demonstrou a revogação ou alteração da norma
impugnada. Ademais, em consulta ao sítio eletrônico da Assembleia
Legislativa do Estado do Espírito Santo, verifica-se que a Lei estadual
4997/1994 possui conteúdo diverso da Lei Complementar estadual
57/1994, de forma que inviável a suposta conversão daquela nesta por
meio de simples errata publicada pelo Poder Executivo, sob pena de burla
ao processo legislativo.

Outrossim, a Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais


Civis - COBRAPOL alegou o prejuízo da ação em razão do advento das
Leis Complementares estaduais 118/1998 e 422/2007, de iniciativa do
Governador do Estado do Espírito Santo, que portam o seguinte teor:

“Lei Complementar estadual 118/1998

Art. 1º A alínea ‘i’ do parágrafo único, do art. 22 da Lei


Complementar nº 04/90, alterado pelo art. 1º da Lei Complementar nº
57, de 19/12/94, passa a vigorar com a seguinte redação:

‘i) de conclusão de Curso de Nível Superior para o


concurso aos cargos de Investigador de Polícia e de Perito
Papiloscópico’.

Art. 2º Os cargos de Investigador de Polícia e de Perito


Papiloscópico passam a integrar o grupo de cargos de Nível Superior

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 33 de 56

ADI 2914 / ES

do Quadro de Carreira da Polícia Civil, a partir de 1º de janeiro de


1999.
Parágrafo único. Vetado.

Art. 3º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua


publicação.

Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário.

Lei Complementar estadual 422/2007

Art. 1º Fica instituída, nos termos desta Lei Complementar, a


modalidade de remuneração por subsídio para os cargos de Perito
Bioquímico-toxicologista, Perito Papiloscópico, Perito de
Telecomunicações e Médico Legista, da carreira de policial civil, em
observância ao disposto no § 9º do artigo 144 da Constituição da
República Federativa do Brasil.
§ 1º O subsídio dos policiais civis, de que trata esta Lei
Complementar, será fixado por lei, em parcela única, vedado o
acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio e verba de
representação ou outra espécie remuneratória, nos termos do § 4º do
artigo 39 da Constituição da República Federativa do Brasil.
§ 2º Excetuam-se do § 1º deste artigo as parcelas de caráter
eventual, relativas a serviço extraordinário e à função gratificada de
chefia.

Art. 2º O serviço extraordinário a que se refere o § 2º do artigo


1º desta Lei Complementar dependerá da efetiva prestação de serviço
em atividade fim de polícia, condicionado à escala prévia de serviço
extra, não podendo exceder a 24 (vinte e quatro) horas mensais.
§ 1º A escala de serviço extra a que se refere o ‘caput’ deste
artigo será organizada e fixada pela chefia da polícia civil, em jornadas
mínimas de 6 (seis) horas, observando a necessidade efetiva de serviço
extra, na forma do regulamento.
§ 2º O cálculo do valor do serviço extraordinário será o
resultado da divisão do valor do subsídio individual por 176 (cento e

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 34 de 56

ADI 2914 / ES

setenta e seis), multiplicado pelas horas da escala efetivamente


prestada, acrescido de 50% (cinqüenta por cento), nos termos do
inciso XVI do artigo 7º da Constituição da República Federativa do
Brasil.
§ 3º A escala de serviço extra, de que trata este artigo, não se
incorpora aos proventos de inatividade e não incide previdência.

Art. 3º Os cargos de Perito Bioquímico-toxicologista, Perito


Papiloscópico, Perito de Telecomunicações e Médico Legista, da
carreira de policial civil, remunerados por subsídio, serão estruturados
em 4 (quatro) categorias e 17 (dezessete) referências.
Parágrafo único. O ingresso na carreira de policial civil, de que
trata esta Lei Complementar, dar-se-á na Categoria Acesso e na 1ª
(primeira) referência da Tabela de Subsídio correspondente.

Art. 4º A promoção do policial civil, de que trata esta Lei


Complementar, em sentido vertical, de uma categoria para outra
imediatamente superior, observará as normas contidas no Estatuto dos
Policiais Civis do Estado do Espírito Santo.

Art. 5º A progressão é a passagem de uma referência para outra


imediatamente superior, dentro do mesmo cargo e categoria, e dar-se-á
no interstício de 2 (dois) anos.

Art. 6º A progressão não poderá ocorrer durante o período de


estágio probatório. Parágrafo único. O policial civil, de que trata esta
Lei Complementar, que for aprovado no estágio probatório terá direito
a progredir 1 (uma) referência, observadas as normas contidas no
artigo 7º desta Lei Complementar.

Art. 7º Será interrompida a contagem do interstício previsto no


artigo 5º desta Lei Complementar, em virtude de:
I - penalidade disciplinar, prevista no Estatuto dos Policiais
Civis do Estado do Espírito Santo;
II - falta injustificada;
III - faltas ou ausências justificadas ou abonadas, superiores a 3

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 35 de 56

ADI 2914 / ES

(três), ininterruptas ou não, no período de avaliação;


IV - licença para trato de interesse particular;
V - licença por motivo de deslocamento do cônjuge ou
companheiro, quando superior a 30 (trinta) dias, ininterruptos ou
não, no período de avaliação;
VI - licença para tratamento de saúde, superior a 60 (sessenta)
dias, ininterruptos ou não, no período de avaliação;
VII - licença para atividade político-eleitoral;
VIII - afastamento para exercício de mandato eletivo, nos termos
do artigo 38 da Constituição da República Federativa do Brasil;
IX - afastamento do exercício do cargo;
X - prisão, mediante sentença transitada em julgado.
§ 1º A interrupção de que trata o inciso VI deste artigo não se
aplica ao policial civil, de que trata esta Lei Complementar, afastado
em decorrência de acidente ou doença que tenha efeito e causa com o
serviço.
§ 2º A interrupção de que trata o inciso IX deste artigo não se
aplica ao policial civil, de que trata esta Lei Complementar, afastado
para o exercício de mandato em entidade sindical ou para exercício de
cargo em comissão de direção e chefia.
§ 3º A interrupção da contagem do interstício determinará o seu
reinício.

Art. 8º A progressão será publicada no Diário Oficial do Estado,


com vigência a partir do 1º (primeiro) dia do mês seguinte ao da
ocorrência do direito.

Art. 9º Os subsídios dos policiais civis, de que trata esta Lei


Complementar, fixados nas tabelas constantes deste artigo, serão
alterados por lei ordinária.
§ 1º A Tabela de Subsídio dos policiais civis, de que trata o
‘caput’ deste artigo, será a constante do Anexo I desta Lei
Complementar, para vigorar de 1º.01.2008 a 31.12.2008.
§ 2º A Tabela de Subsídio dos policiais civis, de que trata o
‘caput’ deste artigo, será a constante do Anexo II desta Lei
Complementar, para vigorar de 1º.01.2009 a 31.12.2009.

10

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 36 de 56

ADI 2914 / ES

§ 3º A Tabela de Subsídio dos policiais civis, de que trata o


‘caput’ deste artigo, será a constante do Anexo III desta Lei
Complementar, para vigorar a partir de 1º.01.2010.

Art. 10. Fica assegurado ao policial civil ativo, nomeado até a


dada de publicação desta Lei Complementar, o direito de optar, a
qualquer momento e de forma irretratável, pela modalidade de
remuneração por subsídio.
§ 1º Os efeitos financeiros da opção de que trata o ‘caput’ deste
artigo ocorrerão a partir do 1º (primeiro) dia do mês seguinte ao de
opção.
§ 2º Se a opção de que trata o ‘caput’ deste artigo ocorrer em até
6 (seis) meses da data de vigência das Tabelas de Subsídios, previstas
no artigo 9º, os efeitos financeiros retroagirão à data de vigência da
Tabela de Subsídio que motivar a opção.
§ 3º A opção de que trata o ‘caput’ deste artigo implica na
renúncia ao modelo de remuneração por vencimentos, inclusive às
vantagens pessoais, adicionais, gratificações, indenizações, abonos,
prêmios, verbas de representação, acréscimos, estabilidade financeira,
guarda de preso, auxílios alimentação e transporte ou outra espécie
remuneratória, ficando absorvidas pelo subsídio.

Art. 11. O policial civil ativo, de que trata esta Lei


Complementar, que exercer a opção na forma do artigo 10, será
enquadrado na referência da Tabela de Subsídio, observando o tempo
de serviço prestado, na condição de policial civil do Estado do Espírito
Santo, mantendo-se a categoria em que se encontra na data de opção,
na forma do Anexo IV.
§ 1º O tempo de serviço de que trata o ‘caput’ deste artigo será o
apurado até o último dia do mês anterior ao da respectiva opção.
§ 2º Excetua-se, na apuração da contagem do tempo de serviço
de que trata o ‘caput’ deste artigo, o período concedido a título de
licença não remunerada.
§ 3º A 1ª (primeira) progressão do policial civil ativo, de que
trata o ‘caput’ deste artigo, ocorrerá ao completar tempo de serviço que
faltava, na data de opção, para enquadramento na referência

11

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 37 de 56

ADI 2914 / ES

imediatamente superior.

Art. 12. Aplicam-se as normas desta Lei Complementar, no que


couber, aos policiais civis aposentados, assim como aos pensionistas
dependentes de ex-policiais civis em idêntica condição, desde que
abrangidos pelo disposto no artigo 7º da Emenda Constitucional nº
41, de 19.12.2003, ocorrendo o enquadramento na Tabela de Subsídio,
nas referências conforme o Anexo IV, mantendo-se as categorias em
que se encontram na data da opção.
Parágrafo único. O tempo de serviço dos policiais civis
aposentados ou de ex-policiais civis, instituidores de pensões, de que
trata o ‘caput’ deste artigo, será o apurado até a data da aposentadoria
ou do fato gerador do benefício de pensão.

Art. 13. O policial civil, de que trata esta Lei Complementar,


que não exercer o direito de opção, que lhe é assegurado no artigo 10,
permanece remunerado pela modalidade de vencimentos, com os
direitos e as vantagens vigentes na data da publicação desta Lei
Complementar.

Art. 14. Fica fixado o quadro de vagas dos cargos de policiais


civis, de que trata esta Lei Complementar, e suas respectivas
categorias, na forma do Anexo V.

Art. 15. O § 3º do artigo 11 da Lei Complementar nº 412, de


27.9.2007, passa a vigorar com a seguinte redação:

‘Art. 11. (…)


§ 3º A 1ª (primeira) progressão do delegado de polícia
ativo, de que trata o ‘caput’ deste artigo, ocorrerá ao completar
tempo de serviço que faltava, na data de opção, para
enquadramento na referência imediatamente superior.’

Art. 16. O artigo 32 da Lei Complementar nº 4, de 15.01.1990,


alterado pela Lei Complementar nº 412/07, passa a vigorar com a
seguinte redação:

12

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 38 de 56

ADI 2914 / ES

‘Art. 32. Inclui-se dentre as atribuições inerentes aos


cargos de policiais civis a responsabilidade pela coordenação e
chefia das subdivisões hierárquicas da estrutura da polícia civil,
além das atividades de assessoria, capacitação, treinamento e os
serviços que dão suporte às funções de polícia judiciária e às
apurações de infrações penais.
§ 1º Excluem-se do disposto no ‘caput’ deste artigo as
atribuições inerentes às funções de Delegado Chefe da Polícia
Civil, de Corregedor Geral de Polícia Civil, de Superintendente,
de Chefe do Departamento de Administração Geral, de Diretor
da Academia de Polícia Civil, de Chefe de Departamento, de
Chefe de Divisão e de Chefe de Gabinete da Chefia de Polícia,
que serão remuneradas por meio de Funções Gratificadas de
Chefia, nos seguintes valores:
I - de Delegado Chefe de Polícia Civil R$ 3.000,00 (três
mil reais);
II - de Corregedor Geral de Polícia Civil R$ 2.000,00 (dois
mil reais);
III - de Superintendente, de Chefe do Departamento de
Administração Geral e de Diretor da Academia de Polícia Civil
R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais);
IV - de Chefe de Departamento R$ 1.300,00 (mil e
trezentos reais);
V - de Chefe de Divisão e de Chefe de Gabinete do
Delegado Chefe de Polícia R$ 1.000,00 (mil reais).
§ 2º As Funções Gratificadas de Chefia, de que trata este
artigo, não se incorporam aos proventos de inatividade e sobre
elas não incidem descontos previdenciários.
§ 3º Os valores das Funções Gratificadas de Chefias, de
que trata o § 1º deste artigo, serão alterados por lei ordinária.’

Art. 17. Os efeitos financeiros das alterações produzidas pelo


artigo 16 desta Lei Complementar passam a vigorar no 1º (primeiro)
dia do mês seguinte ao de sua publicação.
Parágrafo único. O disposto no ‘caput’ deste artigo não se aplica

13

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 39 de 56

ADI 2914 / ES

aos Delegados de Polícia Ativos que optarem pela modalidade de


remuneração por subsídio, de que trata a Lei Complementar nº
412/07, produzindo os efeitos a partir de 1º.7.2007.

Art. 18. As despesas decorrentes da aplicação desta Lei


Complementar correrão por conta das dotações orçamentárias contidas
na Lei nº 8.458, de 18.01.2007, destinadas a esse fim.

Art. 19. Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a


regulamentar a aplicação desta Lei Complementar.

Art. 20. Esta Lei Complementar entra em vigor em 1º.01.2008.”

Sem razão a COBRAPOL, pois a legislação estadual superveniente


trazida à colação não revogou os dispositivos de lei ora impugnados, nem
tampouco dispôs sobre a matéria controvertida, consubstanciada na
transformação dos cargos de Papiloscopista e de Identificador
Datiloscopista em Peritos Papiloscópicos; de Técnico em
Radiocomunicação em Peritos em Telecomunicação; e de Agente de
Presídio - Código PC-AP em Agente de Polícia Civil - Código PC-APC.

Destarte, impõe-se o conhecimento da presente ação direta de


inconstitucionalidade.

MÉRITO

INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL

A INICIATIVA LEGISLATIVA DO GOVERNADOR DO ESTADO EM MATÉRIA


RELATIVA A SERVIDORES PÚBLICOS PERTENCENTES À ESTRUTURA
ADMINISTRATIVA ESTADUAL (ARTIGOS 61, § 1º, II, A E C, CRFB)

Ab initio, saliento que esta Suprema Corte não se vincula aos


fundamentos jurídicos trazidos pelo requerente em seu pedido, em razão

14

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 40 de 56

ADI 2914 / ES

da prevalência do princípio da causa pretendi aberta na análise das ações


de controle abstrato (ADI 2.728, Rel. Min Maurício Corrêa, Plenário, DJ de
20/2/2004).

Apesar do lapso da exordial, verifica-se que as leis objurgadas


tiveram seu processo legislativo deflagrado por parlamentares, conforme
informado pela própria Assembleia Legislativa do Estado do Espírito
Santo.

Deveras, a Lei estadual 4.997/1994 é fruto do Projeto de Lei 76/1994,


proposto pelo Deputado Gilson Gomes. Por sua vez, a Lei Complementar
estadual 56/1994 teve origem no Projeto de Lei Complementar 13/1994,
proposto pelo Deputado Umberto Messias. Já as Leis estaduais 4.888/1994
e 7.419/2002 – que modificou a redação da anterior –, são decorrentes,
respectivamente, dos Projetos de Lei 247/1992, proposto pelo Deputado
Gilson Gomes, e 394/2002, proposto pelo Deputado Gilsinho Lopes
(informações do sítio eletrônico da Assembleia Legislativa do Estado do
Espírito Santo).

Embora a regra no processo legislativo seja a iniciativa comum ou


concorrente, há hipóteses em que a Constituição Federal reserva a
iniciativa das leis a determinados órgãos ou autoridades, subordinando o
início do processo legislativo ao seu juízo de conveniência e
oportunidade. É o caso da iniciativa privativa dos órgãos de quaisquer
dos Poderes e do Ministério Público.

As regras básicas do processo legislativo federal são de observância


compulsória pelos demais entes federativos, pois implicam a
concretização do princípio da separação e independência dos poderes.
Entre essas regras, assumem especial relevo aquelas atinentes à reserva
de iniciativa das leis. No mesmo sentido, colaciono os seguintes julgados
desta Corte:

“1. Concurso público: não mais restrita a sua exigência ao

15

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 41 de 56

ADI 2914 / ES

primeiro provimento de cargo público, reputa-se ofensiva do art. 37,


II, CF, toda modalidade de ascensão de cargo de uma carreira ao de
outra, a exemplo do aproveitamento e acesso de que cogitam as normas
impugnadas (§§ 1º e 2º do art. 7º do ADCT do Estado do Maranhão,
acrescentado pela EC 3/90). 2. Processo legislativo dos Estados-
membros: absorção compulsória das linhas básicas do modelo
constitucional federal – entre elas, as decorrentes das normas de
reserva de iniciativa das leis –, dada a implicação com o princípio
fundamental da separação e independência dos Poderes:
jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal. 3. Processo
legislativo: reserva de iniciativa do Poder Executivo para legislar
sobre matéria concernente a servidores públicos da administração
direta, autarquias e fundações públicas.” (ADI 637, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 1º/10/2004)

“Processo legislativo estadual: observância compulsória das


regras de reserva de iniciativa da Constituição Federal: separação dos
Poderes. As normas de reserva da iniciativa legislativa compõem as
linhas básicas do modelo positivo da separação dos poderes da
Constituição Federal e, como tal, integram princípio de observância
compulsória pelos Estados-membros: precedentes. É inconstitucional
lei de iniciativa parlamentar que dispõe sobre o regime jurídico e a
remuneração de servidores do Poder Executivo.” (ADI 766, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 11/12/1998)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART.


54, VI DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PIAUÍ.
VEDAÇÃO DA FIXAÇÃO DE LIMITE MÁXIMO DE IDADE
PARA PRESTAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO. OFENSA AOS
ARTIGOS 37, I E 61, § 1º, II, C E F, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL.
Dentre as regras básicas do processo legislativo federal, de
observância compulsória pelos Estados, por sua implicação com o
princípio fundamental da separação e independência dos Poderes,
encontram-se as previstas nas alíneas a e c do art. 61, § 1º, II da CF,
que determinam a iniciativa reservada do Chefe do Poder Executivo

16

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 42 de 56

ADI 2914 / ES

na elaboração de leis que disponham sobre o regime jurídico e o


provimento de cargos dos servidores públicos civis e militares.
Precedentes: ADI 774, rel. Min. Sepúlveda Pertence, D.J. 26.02.99,
ADI 2.115, rel. Min. Ilmar Galvão e ADI 700, rel. Min. Maurício
Corrêa.
Esta Corte fixou o entendimento de que a norma prevista em
Constituição Estadual vedando a estipulação de limite de idade para o
ingresso no serviço público traz em si requisito referente ao
provimento de cargos e ao regime jurídico de servidor público, matéria
cuja regulamentação reclama a edição de legislação ordinária, de
iniciativa do Chefe do Poder Executivo. Precedentes: ADI 1.165, rel.
Min. Nelson Jobim, DJ 14.06.2002 e ADI 243, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, DJ 29.11.2002.
Ação direta cujo pedido se julga procedente.” (ADI 2.873, Rel.
Min. Ellen Gracie, Plenário, DJ de 9/11/2007)

Nesse contexto, as normas que versam atribuições do chefe do Poder


Executivo são de observância obrigatória pelos demais entes federados,
em respeito ao princípio da simetria. Assim, compete aos Governadores
dos Estados-membros a iniciativa das leis que disponham sobre a criação
e provimento de cargos, remuneração e regime jurídico dos servidores
públicos pertencentes à estrutura administrativa da respectiva unidade
federativa (artigo 61, § 1º, II, a e c, CRFB).

Na linha da reiterada jurisprudência desta Corte, “a locução


constitucional 'regime jurídico dos servidores públicos' corresponde ao conjunto
de normas que disciplinam os diversos aspectos das relações, estatutárias ou
contratuais, mantidas pelo Estado com os seus agentes” (ADI 766-MC, Rel.
Min. Celso de Mello, Plenário, DJ de 27/5/1994).

Assim, em virtude de extensão de sua abrangência conceitual, a


disciplina acerca do Regime Jurídico dos Servidores Públicos
compreende, verbi gratia, regras pertinentes a matérias como: (i) formas de
provimento dos cargos, (ii) formas de nomeação e posse, (iii) contagem de
tempo de serviço, (iv) promoção e respectivos critérios, (v) férias, licenças,

17

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 43 de 56

ADI 2914 / ES

estabilidade, disponibilidade e aposentadoria, (vi) salários e vencimentos,


(vii) horário de trabalho, e (viii) deveres e proibições.

In casu, os dispositivos de lei impugnados, de origem parlamentar,


versaram transformação de cargos da Polícia Civil capixaba, órgão do
Poder Executivo estadual, incorrendo em vício de iniciativa. Outrossim, a
sanção do projeto de lei não convalida o vício resultante da usurpação do
poder de iniciativa do chefe do Poder Executivo. Nesse sentido, colaciono
os seguintes julgados desta Corte:

“Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei Estadual n.


7.341/2002 do Espírito Santo que exige nível superior de ensino como
requisito para inscrição em concurso público para o cargo de Agente
de Polícia. 3. Lei de iniciativa parlamentar. 4. Inconstitucionalidade
formal: matéria de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo. 5.
Precedentes. 6. Ação julgada procedente.” (ADI 2.856, Rel. Min.
Gilmar Mendes, Plenário, DJe de 1º/3/2011)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


COMPLEMENTAR Nº 191/00, DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. DOCUMENTOS DE APRESENTAÇÃO OBRIGATÓRIA
NA POSSE DE NOVOS SERVIDORES. MATÉRIA RELATIVA AO
PROVIMENTO DE CARGO PÚBLICO. LEI DE INICIATIVA
PARLAMENTAR. OFENSA AO ART. 61, § 1º, II, C DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. O art. 61, § 1º, II, c da Constituição Federal prevê a iniciativa
privativa do Chefe do Executivo na elaboração de leis que disponham
sobre servidores públicos, regime jurídico, provimento de cargos,
estabilidade e aposentadoria. Por outro lado, é pacífico o entendimento
de que as regras básicas do processo legislativo da União são de
observância obrigatória pelos Estados, por sua implicação com o
princípio fundamental da separação e independência dos
Poderes. Precedente: ADI 774, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
26.02.99.
2. A posse, matéria de que tratou o Diploma impugnado,

18

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 44 de 56

ADI 2914 / ES

complementa e completa, juntamente com a entrada no exercício, o


provimento de cargo público iniciado com a nomeação do candidato
aprovado em concurso. É, portanto, matéria claramente prevista no
art. 61, § 1º, II, c da Carta Magna, cuja reserva legislativa foi
inegavelmente desrespeitada.
3. Ação direta cujo pedido se julga procedente.” (ADI 2.420,
Rel. Min. Ellen Gracie, Plenário, DJ de 25/4/2005)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -


PROMOÇÃO DE PRAÇAS DA POLÍCIA MILITAR E DO
CORPO DE BOMBEIROS - REGIME JURÍDICO DOS
SERVIDORES PÚBLICOS - PROCESSO LEGISLATIVO -
INSTAURAÇÃO DEPENDENTE DE INICIATIVA
CONSTITUCIONALMENTE RESERVADA AO CHEFE DO
PODER EXECUTIVO - DIPLOMA LEGISLATIVO ESTADUAL
QUE RESULTOU DE INICIATIVA PARLAMENTAR -
USURPAÇÃO DO PODER DE INICIATIVA - SANÇÃO TÁCITA
DO PROJETO DE LEI - IRRELEVÂNCIA - INSUBSISTÊNCIA
DA SÚMULA Nº 5/STF - INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL - EFICÁCIA REPRISTINATÓRIA DA DECLARAÇÃO
DE INCONSTITUCIONALIDADE PROFERIDA PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE CONTROLE
NORMATIVO ABSTRATO - AÇÃO DIRETA JULGADA
PROCEDENTE.
OS PRINCÍPIOS QUE REGEM O PROCESSO
LEGISLATIVO IMPÕEM-SE À OBSERVÂNCIA DOS ESTADOS-
MEMBROS.
- O modelo estruturador do processo legislativo, tal como
delineado em seus aspectos fundamentais pela Constituição da
República, impõe-se, enquanto padrão normativo de compulsório
atendimento, à observância incondicional dos Estados-membros.
Precedentes.
- A usurpação do poder de instauração do processo legislativo
em matéria constitucionalmente reservada à iniciativa de outros
órgãos e agentes estatais configura transgressão ao texto da
Constituição da República e gera, em conseqüência, a

19

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 45 de 56

ADI 2914 / ES

inconstitucionalidade formal da lei assim editada. Precedentes.


A SANÇÃO DO PROJETO DE LEI NÃO CONVALIDA O
VÍCIO DE INCONSTITUCIONALIDADE RESULTANTE DA
USURPAÇÃO DO PODER DE INICIATIVA.
- A ulterior aquiescência do Chefe do Poder Executivo, mediante
sanção do projeto de lei, ainda quando dele seja a prerrogativa
usurpada, não tem o condão de sanar o vício radical da
inconstitucionalidade. Insubsistência da Súmula nº 5/STF. Doutrina.
Precedentes.
SIGNIFICAÇÃO CONSTITUCIONAL DO REGIME
JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS (CIVIS E
MILITARES).
- A locução constitucional regime jurídico dos servidores
públicos corresponde ao conjunto de normas que disciplinam os
diversos aspectos das relações, estatutárias ou contratuais, mantidas
pelo Estado com os seus agentes. Precedentes.
A QUESTÃO DA EFICÁCIA REPRISTINATÓRIA DA
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE IN
ABSTRACTO.
- A declaração final de inconstitucionalidade, quando proferida
pelo Supremo Tribunal Federal em sede de fiscalização normativa
abstrata, importa – considerado o efeito repristinatório que lhe é
inerente – em restauração das normas estatais anteriormente
revogadas pelo diploma normativo objeto do juízo de
inconstitucionalidade, eis que o ato inconstitucional, por ser
juridicamente inválido (RTJ 146/461-462), sequer possui eficácia
derrogatória. Doutrina. Precedentes (STF).” (ADI 2.867, Rel. Min.
Celso de Mello, Plenário, DJ de 9/2/2007)

“INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Arts. 22 e 25


da Lei Complementar nº 176/2000, do Estado do Espírito Santo.
Competência legislativa. Administração pública.
Procuradoria-Geral do Estado. Organização. Designação de
procuradores para atuar noutra Secretaria. Disciplina de
processos administrativos. Criação de cargos na Secretaria da
Educação. Inadmissibilidade. Matérias de iniciativa exclusiva

20

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 46 de 56

ADI 2914 / ES

do Governador do Estado, Chefe do Poder Executivo. Normas


oriundas de emenda parlamentar. Irrelevância. Temas sem
pertinência com o objeto da proposta do Governador. Aumento
de despesas, ademais. Ofensa aos arts. 61, § 1º, inc. II, a, b e e, e
63, inc. I, da CF. Ação julgada procedente. Precedentes. São
inconstitucionais as normas que, oriundas de emenda parlamentar,
não guardem pertinência com o objeto da proposta do Governador do
Estado e disponham, ademais, sobre organização administrativa do
Executivo e criem cargos públicos.” (ADI 2.305, Rel. Min Cezar
Peluso, Plenário, DJe de 5/8/2011)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


6.065, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1999, DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO, QUE DÁ NOVA REDAÇÃO À LEI 4.861, DE
31 DE DEZEMBRO DE 1993. ART. 4º E TABELA X QUE
ALTERAM OS VALORES DOS VENCIMENTOS DE CARGOS
DO QUADRO PERMANENTE DO PESSOAL DA POLÍCIA
CIVIL. INADMISSIBILIDADE. INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL RECONHECIDA. OFENSA AO ART. 61, § 1º, II, A e C,
da CF. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SIMETRIA. ADI
JULGADA PROCEDENTE.
I - É da iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo lei de
criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua remuneração, bem como que
disponha sobre regime jurídico e provimento de cargos dos servidores
públicos.
II - Afronta, na espécie, ao disposto no art. 61, § 1º, II, a e c, da
Constituição de 1988, o qual se aplica aos Estados-membros, em razão
do princípio simetria.
III - Ação julgada procedente.” (ADI 2.192, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, Plenário, DJe de 20/6/2008)

No mesmo sentido: ADI 3.980, Rel. Min. Rosa Weber, Plenário, DJe
de 18/12/2019; ADI 4.827, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, DJe de
15/10/2019; ADI 5.786, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, DJe de
26/9/2019; ADI 5.520, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, DJe de

21

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 47 de 56

ADI 2914 / ES

20/9/2019; ADI 4.759, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, DJe de


29/10/2018; ADI 5.213, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, DJe de
21/6/2018; ADI 5.004, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, DJe de
25/4/2018; ADI 2.300, Rel. Min. Teori Zavascki, Plenário, DJe de 17/9/2014;
ADI 290, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, DJe de 12/6/2014; ADI 1.521, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, Plenário, DJe de 13/8/2013; ADI 3.791, Rel.
Min. Ayres Britto, Plenário, DJe de 27/8/2010; ADI 341, Rel. Min. Eros
Grau, Plenário, DJe de 11/6/2010; ADI 3.555, Rel. Min. Cezar Peluso,
Plenário, DJe de 8/5/2009; ADI 2.029, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Plenário, DJ de 24/8/2007; ADI 1.895, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
Plenário, DJ de 6/9/2007; ADI 3.403, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Plenário,
DJ de 24/8/2007; ADI 104, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de
24/8/2007; ADI 3.061, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJ de 9/6/2006; e
ADI 700, Rel. Min. Maurício Corrêa, Plenário, DJ de 24/8/2001.

Destarte, forçoso concluir pela inconstitucionalidade formal do


artigo 2º da Lei estadual 4.997/1994, do artigo 2º da Lei Complementar
estadual 56/1994 e do artigo 2º da Lei estadual 4.888/1994, com a redação
da Lei estadual 7.419/2002, todas do Estado do Espírito Santo, por
usurpação da iniciativa legislativa do chefe do Poder Executivo estadual
para dispor sobre criação e provimento de cargos, remuneração e regime
jurídico dos servidores públicos pertencentes à estrutura administrativa
do Estado (artigo 61, § 1º, II, a e c, da Constituição Federal).

CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL

A MERA MODIFICAÇÃO DA NOMENCLATURA, MANTIDAS AS ATRIBUIÇÕES


DO CARGO, NÃO VIOLA A REGRA DO CONCURSO PÚBLICO

Apesar de os dispositivos ora impugnados serem formalmente


inconstitucionais, o que basta para a procedência da ação, julgo
importante afastar os argumentos relativos à alegada

22

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 48 de 56

ADI 2914 / ES

inconstitucionalidade material das normas objurgadas, na linha do que


recentemente decidido pelo Plenário desta Corte na ADI 5.182, Rel. Min.
Luiz Fux, julgada em 19/12/2019 e da ADI 4.303, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgada em 28/8/2014.

Como bem salientado pela Ministra Relatora, o que se discute na


presente ação direta de inconstitucionalidade, em sede material, não é a
criação dos cargos de Perito Papiloscópico, de Perito em Telecomunicação
e de Agente de Polícia Civil - Código PC-APC nos quadros da Polícia
Civil capixaba, nem tampouco a exigência de nível superior como
condição a ser cumprida pelos interessados em ingressar por concurso
público nos referidos cargos, mas a condução automática dos então
ocupantes dos cargos de Papiloscopista e Identificador Datiloscopista, de
Técnico em Rádiocomunicação e de Agente de Presídio - Código PC-AP
para cargos de nível de escolaridade diferente do inicialmente exigido
para o ingresso na carreira.

O requerente sustenta a inconstitucionalidade das normas


impugnadas, pois a transformação dos cargos de Papiloscopista e de
Identificador Datiloscopista em Peritos Papiloscópicos, de Técnico em
Radiocomunicação em Peritos em Telecomunicação e de Agente de
Presídio - Código PC-AP em Agente de Polícia Civil - Código PC-APC,
acompanhada da modificação dos níveis de escolaridade exigidos para os
cargos anteriores, teria importado em provimento derivado de cargo
público, contrariando o disposto no artigo 37, II, da Constituição Federal.

De fato, a regra do concurso como condição de acesso a cargos e


empregos públicos não se limita à primeira investidura, proibindo
também o aproveitamento de servidores em cargos de natureza e grau de
complexidade diversos daqueles no quais se deu o ingresso no serviço
público.

No entanto, in casu, verifica-se que não há burla à regra do concurso

23

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 49 de 56

ADI 2914 / ES

público, uma vez que os papiloscopistas, identificadores datiloscopistas e


técnicos em radiocomunicação são peritos que ingressaram nos
respectivos cargos por meio de concurso público, ainda que,
anteriormente, possuíssem outra nomenclatura, não tendo ocorrido
provimento derivado de cargo público diverso. O mesmo se dá em
relação aos agentes de presídio - código PC-AP, admitidos por concurso
público, que não tiveram suas atribuições alteradas com a mudança da
nomenclatura do cargo para Agente de Polícia Civil - Código PC-APC.

Consigno que o aproveitamento dos ocupantes de cargos extintos


em cargos recém-criados é condicionado apenas à similitude de
atribuições entre eles, ainda que haja mudança de padrão remuneratório.
É como entendeu a Corte nos seguintes precedentes:

“SERVIDORES - CARGOS - ESCOLARIDADE. Surge


constitucional ato normativo que, sem versar ascensão funcional,
estabelece exigência de escolaridade para transposição de classes,
prevendo transformação, ante similitude entre a função extinta
e aquela que a substituiu.
INCONSTITUCIONALIDADE - INTERPRETRAÇÃO -
DISTINÇÃO. A inconstitucionalidade é definida considerada a
norma em si mesma, sendo impróprio, a partir da capacidade intuitiva
no campo da interpretação, concluir no sentido da pecha, presumindo
não o normal, mas o extraordinário.” (ADI 2.333, Rel. Min. Marco
Aurélio, Plenário, DJe de 25/10/2019 - grifei)

“Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei Complementar nº


189, de 17 de janeiro de 2000, do Estado de Santa Catarina, que
extinguiu os cargos e as carreiras de Fiscal de Tributos Estaduais,
Fiscal de Mercadorias em Trânsito, Exator e Escrivão de Exatoria, e
criou, em substituição, a de Auditor Fiscal da Receita Estadual. 3.
Aproveitamento dos ocupantes dos cargos extintos nos recém
criados. 4. Ausência de violação ao princípio constitucional da
exigência de concurso público, haja vista a similitude das
atribuições desempenhadas pelos ocupantes dos cargos

24

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 50 de 56

ADI 2914 / ES

extintos. 5. Precedentes: ADI 1.591, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ


de 16.6.2000; ADI 2.713, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 7.3.2003. 6.
Ação julgada improcedente.” (ADI 2.335, Redator do acórdão Min.
Gilmar Mendes, Plenário, DJ de 19/12/2003 – grifei)

“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ART. 1º,


CAPUT E § 1º DA LEI COMPLEMENTAR N. 372/2008 DO RIO
GRANDE DO NORTE.
1. A reestruturação convergente de carreiras análogas não
contraria o art. 37, inc. II, da Constituição da República. Logo,
a Lei Complementar potiguar n. 372/2008, ao manter exatamente a
mesma estrutura de cargos e atribuições, é constitucional.
2. A norma questionada autoriza a possibilidade de serem
equiparadas as remunerações dos servidores auxiliares técnicos
e assistentes em administração judiciária, aprovados em
concurso público para o qual se exigiu diploma de nível médio,
ao sistema remuneratório dos servidores aprovados em
concurso para cargo de nível superior.
3. A alegação de que existiriam diferenças entre as atribuições
não pode ser objeto de ação de controle concentrado, porque exigiria a
avaliação, de fato, de quais assistentes ou auxiliares técnicos foram
redistribuídos para funções diferenciadas. Precedentes.
4. Servidores que ocupam os mesmos cargos, com a
mesma denominação e na mesma estrutura de carreira, devem
ganhar igualmente (princípio da isonomia).
5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente.”
(ADI 4.303, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, DJe de 28/8/2014 -
grifei)

Esse último precedente, a ADI 4.303, de relatoria da Ministra


Cármen Lúcia, tratava exatamente da constitucionalidade de dispositivos
de lei complementar estadual que teria promovido a equiparação salarial
entre os auxiliares técnicos e assistentes em administração judiciária – até
então com grau de escolaridade de nível médio – e os ocupantes de
cargos de nível superior.

25

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 51 de 56

ADI 2914 / ES

O Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação nos termos do


voto da Ministra Relatora, que afastou a ofensa às normas constitucionais
de acessibilidade a cargos públicos e de sujeição ao concurso público, a
despeito de os requisitos de investidura terem sido alterados pela norma
impugnada, em razão da similitude de atribuições, que configurariam a
mesma estrutura de cargos e atribuições. Cito o excerto pertinente à
alteração do nível de escolaridade exigido, in litteris:

“4. Até a edição da Lei Complementar em exame, os cargos de


‘auxiliar técnico’ e de ‘assistente em administração judiciária’
tinham suas atribuições definidas no Anexo III da Lei Complementar
potiguar n. 242/2002 (fls. 43-44).
Com a edição da lei complementar ora questionada, ‘pass[ou]-se
a exigir, entre os requisitos estabelecidos nas instruções
especiais que regerão os novos concursos de ingresso para os
cargos de Auxiliares Técnicos e Assistentes em Administração
Judiciária, diploma de nível superior, obtido em curso
reconhecido pelo Ministério da Educação’ (art. 1º, § 2º, da Lei
Complementar potiguar n. 372/2008).
O Anexo I da lei complementar impugnada veiculou novo
‘quadro de cargos de provimento efetivo’, no qual foram
mantidas, sem qualquer alteração, as atribuições dos cargos de
auxiliar técnico e assistente em administração judiciária. Apenas
foram alterados, portanto, o “grupo ocupacional” dos cargos
mencionados – agora de nível superior – e, por óbvio, o grau de
escolaridade, por exigir ‘diploma ou certificado de curso superior
em qualquer área, reconhecido pelo Ministério da Educação’
(fls. 43- 44).
(...)
5. Mantidas as atribuições e a denominação dos cargos de
auxiliar técnico e assistente em administração judiciária, a lei
complementar potiguar não contrariou o art. 37, inc. II, da
Constituição da República, pois sua edição não provocou novo
enquadramento, transposição ou transformação dos cargos em
questão, tampouco neles houve nova investidura.
Isso porque, antes da edição da Lei Complementar potiguar

26

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 52 de 56

ADI 2914 / ES

n. 372/2008, os servidores que ocupavam os cargos de auxiliar


técnico e assistente em administração judiciária foram
aprovados em concurso público exatamente para os cargos que
vieram a ocupar. E, após a edição dessa lei complementar,
esses servidores continuaram ocupando os mesmos cargos,
definidos por idênticas atribuições. Logo, não se poderia cogitar da
possibilidade de investidura derivada ou contrariedade ao princípio da
acessibilidade ao cargo público.
(...)
11. No caso vertente, entretanto, não se há falar em equiparação
porque foram mantidos os cargos de assistente e de auxiliar técnico,
estes com nível de exigência diferenciado, a partir de agora,
para os novos concursos, mas são os mesmos cargos. (…)
12. Declarada a inconstitucionalidade pela suposta equiparação,
terse-ia duas pessoas ocupando os mesmos cargos, com a
mesma denominação e na mesma estrutura de carreira,
ganhando desigualmente, porque, quando um fez o concurso,
não se exigia o nível superior. Tanto significaria inobservância
do princípio da isonomia, vedada no ordenamento jurídico
pátrio.” (grifei)

Note-se, portanto, que o Plenário já sedimentou, em outra


oportunidade, que a caracterização da violação a regra do concurso
público pressupõe a alteração das atribuições do cargo, sendo
insuficientes para a inconstitucionalidade das normas organizacionais da
Administração Pública, com base no artigo 37, II, da Constituição, que se
altere a nomenclatura, o nível de escolaridade ou mesmo o padrão
remuneratório do cargo.

Quanto à similitude das atribuições desempenhadas pelos ocupantes


dos cargos no presente caso, cumpre delimitar algumas especificidades
conceituais sobre a perícia oficial e, particularmente, a respeito da
expertise dos papiloscopistas.

O tema relativo a provas configura eixo central do processo penal,

27

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 53 de 56

ADI 2914 / ES

máxime por ser sinônimo de instrumento recognitivo e persuasivo. Com


efeito, a prova serve, a um só tempo, para (i) buscar a reconstituição de
um fato passado, possibilitando a atividade recognitiva do juiz em
relação ao fato histórico narrado pela acusação (story of the case); e (ii)
permitir a correta construção do convencimento do Juízo, servindo para
amparar e dar suporte à decisão final do julgador.

É sabido que, pelo princípio da livre apreciação das provas, em que


não existe hierarquia entre as provas materiais, técnicas e pessoais, o
magistrado não está obrigado a se basear no que consta do laudo pericial,
podendo firmar sua convicção a partir da devida ponderação das provas,
segundo seu livre convencimento. Como bem lembrado pelo Ministro
Ricardo Lewandowski, ao julgar o RHC 120.052, Segunda Turma, DJe de
4/2/2014, “o juiz é considerado o perito dos peritos, ou seja, o peritus
peritorum”.

A despeito disso, a convicção do juiz ao julgar a lide penal será


tanto mais precisa quanto maior forem a especialização e a garantia da
isenção dos peritos no desempenho de sua função. No ordenamento
jurídico brasileiro, o perito oficial é servidor público, admitido em
concurso público de nível superior, que realiza, através de sua expertise
técnica, exames periciais nos crimes que deixam vestígios, devendo os
resultados serem materializados em parecer técnico, especificamente o
laudo pericial ou auto circunstanciado.

Independentemente da nomenclatura, os profissionais


papiloscopistas exercem atividade específica condizente com o cargo de
perito oficial, dado que se dedicam a colher e analisar impressões
deixadas pelas papilas dérmicas de quem haja tido contato com objetos
importantes para apuração de fatos de relevo criminal. Segundo
conceituam Álvaro Codeço e Flávio Amaral (Identificação humana pela
datiloscopia, 3. ed. Rio de Janeiro: Lelu, 1992, p. 244), “a Perícia
Papiloscópica em local de crime é feita através do estudo detalhado e minucioso

28

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Voto Vista

Inteiro Teor do Acórdão - Página 54 de 56

ADI 2914 / ES

do local, das peças encontradas, das impressões ou fragmentos papilares visando


à elucidação do delito”.

In casu, não se demonstrou alteração nas atribuições dos


papiloscopistas e identificadores datiloscopistas, técnicos em
radiocomunicação e agentes de presídio - código PC-AP decorrentes dos
dispositivos impugnados, de forma que não há se falar em provimento
derivado de cargos públicos.

Ex positis, diante das premissas e fundamentos expostos,


CONHEÇO a ação direta de inconstitucionalidade e JULGO
PROCEDENTE o pedido, para declarar a INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL do artigo 2º da Lei estadual 4.997/1994, do artigo 2º da Lei
Complementar estadual 56/1994 e do artigo 2º da Lei estadual 4.888/1994,
alterado pela Lei estadual 7.419/2002, todas do Estado do Espírito Santo.

É como voto.

29

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 82AC-AA3B-BF18-C730 e senha 40AB-A857-4CAE-1880
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 03/04/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 55 de 56

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.914


PROCED. : ESPÍRITO SANTO
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TRABALHADORES POLICIAIS
CIVIS - COBRAPOL
ADV.(A/S) : RAFAEL BARBOSA DE CASTILHO (19979/DF)
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS EM PAPILOSCOPIA
- FENAPPI
ADV.(A/S) : FABRÍCIO CORREIA DE AQUINO (18486/DF) E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS PERITOS PAPILOSCÓPICOS DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO - APPES
ADV.(A/S) : JENIFFER PATRICIA MACHADO PRADO (18590/ES) E
OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO ESPIRITO-SANTENSE DE PERITOS EM
CRIMINALÍSTICA - AEPC
ADV.(A/S) : RUDI MEIRA CASSEL (165498/MG, 170271/RJ, 49862A/RS) E
OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : SINDICATO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAL FEDERAIS -
APCF
ADV.(A/S) : ALBERTO EMANUEL ALBERTIN MALTA (46056/DF)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIMINALÍSTICA - ABC
ADV.(A/S) : MARCELO ANTONIO RODRIGUES VIEGAS (18503/DF)
ADV.(A/S) : GUILHERME ROCHA DE ALMEIDA ABREU (61140/DF)

Decisão: Após os votos dos Ministros Cármen Lúcia (Relatora),


Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, que
julgavam procedente o pedido formulado na ação direta para
declarar a inconstitucionalidade das normas impugnadas, pediu
vista dos autos o Ministro Luiz Fux. Plenário, Sessão Virtual de
20.9.2019 a 26.9.2019.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o


pedido formulado na ação direta para declarar a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 4.997/1994, do art. 2º
da Lei Complementar n. 56/1994 e do art. 2º da Lei n. 4.888/1994,
alterado pela Lei n. 7.419/2002, do Espírito Santo, nos termos do
voto da Relatora. Não participou deste julgamento, por motivo de
licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão
Virtual de 27.3.2020 a 2.4.2020.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6DB1-3DE8-B92D-C663 e senha BF9F-410F-B42D-FB96
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 03/04/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 56 de 56

Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e


Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6DB1-3DE8-B92D-C663 e senha BF9F-410F-B42D-FB96

Você também pode gostar