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(Mat.06. Proc. Constitucional – 8º/9º Per. Dir. Turmas M/G – Prof. Léo Bifano – 2023)
6. MANDADO DE INJUNÇÃO
Lei a lei: Lei nº 13.300/2016

O mandado de injunção é uma ferramenta utilizada para fazer com que as normas
previstas na Constituição Federal sejam válidas e aplicadas na prática. Ou seja, é uma forma de
assegurar os direitos apresentados no estatuto, sem qualquer interferência ou ilegalidade.
Como mencionado, ele é um dos remédios constitucionais, e atua diretamente na
asseguração de direitos garantidos pela constituição que foram e/ou estão sendo violados.
Por meio dele, o Poder Judiciário é “convocado” a interferir na omissão do Legislativo e até
mesmo do Poder Público.

6.1. Histórico

Quanto à sua origem, questiona-se que seus primórdios advieram do direito anglo-
americano, no qual se emprega o writ of injunction e o writ of mandamus.
Contudo, o mestre Hely Lopes Meireles (2008, p. 258- 259) discorre sobre o tema,
que assim prescreve: “O nosso mandado de injunção não é o mesmo writ dos ingleses e norte-
americanos, assemelhando-se apenas na denominação”
O Mandado de Injunção foi instituído no direito pátrio pela Assembleia Nacional
Constituinte, assentando na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5°, inciso LXXI, na
seguinte forma:
“LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades consti-
tucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à ci-
dadania;”

Esta previsão deixou claro que se trata de um remédio constitucional, colocado à


disposição de qualquer pessoa que se sinta prejudicada pela falta de norma regulamentadora,
sem a qual resulte inviabilizado o exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionais
consagradas no transcrito inciso.
Assim como a ação de habeas data e o mandado de segurança coletivo, o mandado
de injunção surgiu no ordenamento jurídico brasileiro com a Constituição Federal de 1988.

6.2. O mandado de injunção e a ação de inconstitucionalidade por omissão

A Constituição Federal de 1988 criou dois institutos para a garantia da eficácia dos
preceitos constitucionais, quais sejam, a ação de inconstitucionalidade por omissão e o man-
dado de injunção. Mesmo que ambos se dirijam à falta de regulamentação de normas consti-
tucionais, são dois mecanismos diferentes, com procedimentos e efeitos próprios.
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É importante salientar, em que pese a confusão habitual entre o mandado de in-


junção e a ação de inconstitucionalidade por omissão, a semelhança entre as duas ações cons-
titucionais termina na omissão inconstitucional.
Enquanto no mandado de injunção a vítima da omissão busca a realização concreta
de um direito subjetivo, com a supressão do vácuo pelo magistrado, na ADIn por omissão há o
controle concentrado das normas constitucionais. Ou seja, busca-se a proteção do direito ob-
jetivo e da integridade do ordenamento jurídico.
No primeiro instituto, declara-se o direito, no segundo, declara-se a omissão jurídi-
ca.
A decisão de mérito da ação direta de inconstitucionalidade por omissão possui
efeito erga omnes, enquanto que o mandado de injunção possui efeito inter partes.

6.3. Legislação pertinente

Sua identificação constitucional está consagrada no art. 5º, LXXI. Já no que se refe-
re à previsão em nível infraconstitucional, hoje existe a Lei nº 13.300, de 23.06.2016 (LMI),
disciplinando o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo.

6.4. Cabimento

Fazer injunção significa completar lacunas, preencher vazios.


Segundo a previsão do inciso LXXI do art. 5º do Texto Maior, terá cabimento o
mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exer-
cício dos direitos e liberdades constitucionais, e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania.
Assim, à luz dessa previsão, é possível sintetizar o cabimento do mandado de in-
junção a partir, também, de um binômio.
a) Existência de uma norma constitucional de eficácia limitada consagradora de di-
reitos e liberdades constitucionais e de prerrogativas inerentes à nacionalidade, soberania e
cidadania.
b) Inexistência da norma regulamentadora inviabilizando o exercício dos direitos, li-
berdades e prerrogativas supracitados, caracterizando, assim, a omissão do poder público.
Norma de eficácia limitada, conforme já foi sinalizado quando do estudo da temáti-
ca envolvendo a aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais, é aquela que desde a sua
promulgação não está apta a produzir todos os seus efeitos, necessitando de regulamenta-
ção infraconstitucional.
Nesse sentido, assim como a ação direta de inconstitucionalidade por omissão
(ADO), o mandado de injunção também se presta a sanar a chamada síndrome da inefetividade
das normas constitucionais.
Como já sinalizado, uma das diferenças entre o mandado de injunção e a ação dire-
ta de inconstitucionalidade por omissão é que o primeiro é uma ação constitucional de garan-
tia individual, enquanto a segunda, numa perspectiva mais abrangente, é uma ação constituci-
onal de garantia constitucional.
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Lembrando que com o art. 2º parágrafo único, da LMI, admite-se a omissão total ou
parcial, e define-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas editadas
pelo órgão legislador competente.
Exemplo: Para entender melhor como se dá a aplicação desse remédio
constitucional, confira um exemplo do mandado de injunção, que versa
sobre o direito fundamental de greve dos servidores públicos, editando a
norma regulamentadora para o exercício.
“MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL (CF, ART. 5º, INCISO
LXXI). DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (CF, ART. 37,
INCISO VII). EVOLUÇÃO DO TEMA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRI-
BUNAL FEDERAL (STF). DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA
CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E
DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTI-
NENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DI-
TAMES DA SEGURANÇA JURÍDICA E À EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL NA IN-
TERPRETAÇÃO DA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE DOS
SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS
PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDA-
DO DE INJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS
NOS 7.701/1988 E 7.783/1989. 1. SINAIS DE EVOLUÇÃO DA GARANTIA
FUNDAMENTAL DO MANDADO DE INJUNÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA DO SU-
PREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).” Fonte: MI nº 708/DF – Rel: Min. Gilmar
Mendes, DJU 25/10/2007.

6.5. Legitimidade

 ATIVA
A legitimidade ativa para a impetração do mandado de injunção é ampla, assim
como no mandado de segurança.
Com o art. 3º da LMI, são legitimados como impetrantes as pessoas naturais ou ju-
rídicas que se afirmam titulares dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Lembrando que com a jurisprudência do STF, pessoas jurídicas de direito público
também podem impetrar mandado de injunção.
Vale ressaltar, inclusive, que o próprio Supremo Tribunal Federal já admitia a im-
petração de mandado de injunção coletivo, pelos mesmos legitimados à propositura do
mandado de segurança coletivo, por analogia.
Agora, o art. 12 da LMI o prevê expressamente e diz que ele pode ser promovido
pelo:
 Ministério Público: quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defe-
sa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais indisponíveis;
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 Partido político com representação no Congresso Nacional: para assegurar o exercício


de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finali-
dade partidária;
 Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 ano: para assegurar o exercício de direitos, liberdades, e
prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na
forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para
tanto, autorização especial;
 Defensoria Pública: quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos ne-
cessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal.

Percebe-se, neste caso, uma ampliação da legitimidade anteriormente idealizada,


para inclusão do Ministério Público e da Defensoria Pública.
Não esqueça, ainda, que a impetração do mandado injunção exige a capacidade
postulatória do advogado.
Os efeitos inter partes, ultra partes ou erga omnes não podem se confundir com a
qualidade individual ou coletiva do mandado de injunção. A diferenciação entre esses dois
tipos se dá em razão da natureza do direito, não dos efeitos produzidos.
Portanto, quando a injunção almejar o exercício de direito individual, o meio ade-
quado será a ação individual. Se tratando de direitos transindividuais, será caso de demanda
coletiva.
Veja que o mandado de injunção coletivo não reflete a ampliação dos efeitos
da decisão. Tanto é assim que o art. 13 da legislação citada determina que a sentença fará
coisa julgada limitadamente às pessoas integrantes da coletividade substituída pelo impetran-
te, salvo a exceção já mencionada (§§ 1º e 2º do art. 9º).

 PASSIVA
Já no que se refere ao polo passivo desta ação, ao contrário de todas as outras que
antecederam, apenas será possível a existência de pessoas estatais.
Atenção: Não poderá, portanto, o particular aparecer como réu de uma
ação de mandado de injunção pelo simples fato do mesmo não possuir o
dever de regulamentar a constituição.

Nesse sentido, deverá o mandado ser impetrado contra o Poder, o órgão ou a auto-
ridade com atribuição pera editar a norma regulamentadora.
Com o art. 4º da LMI, a petição inicial deverá preencher os requisitos estabelecidos
pela lei processual e indicará, além do órgão impetrado, a pessoa jurídica que ele integra ou
aquela a que está vinculado.
Caso a iniciativa seja reservada ou exclusiva, deve o MI ser impetrado também em
face do titular da referida iniciativa reservada, pois é ele que deve dar início ao processo legis-
lativo.
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6.6. Procedimento

O procedimento do mandado de injunção está previsto na LMI. Cuida-se de proce-


dimento sumário, em que se aplicam, subsidiariamente, as regras que disciplinam o mandado
de segurança e o CPC.
O que diz a lei: Art. 14. Aplicam-se subsidiariamente ao mandado de injun-
ção as normas do mandado de segurança, disciplinado pela Lei nº 12.016,
de 7 de agosto de 2009, e do Código de Processo Civil, instituído pela Lei nº
5.869, de 11 de janeiro de 1973, e pela Lei nº 13.105, de 16 de março de
2015, observado o disposto em seus arts. 1.045 e 1.046.

A petição inicial deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual


e indicará, além do órgão impetrado, a pessoa jurídica que ele integra ou aquela a que está
vinculado.
Caso a prova daquilo que está sendo alegado pelo impetrante encontrar-se em re-
partição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade ou de terceiro, e esteja ha-
vendo recusa em fornecê-lo por certidão, no original, ou em cópia autêntica, será ordenada, a
pedido do impetrante, a exibição do documento no prazo de 10 dias, devendo nesse caso, ser
juntada cópia à segunda via da petição.
Recebida a petição inicial, será ordenada:
a) a notificação do impetrado sobre o conteúdo da petição inicial, devendo-lhe ser envi-
ada a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10
(dez) dias, preste informações;
b) a ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da pessoa ju-
rídica interessada, devendo-lhe ser enviada cópia da petição inicial, para que, querendo, in-
gresse no feito.
A petição inicial será desde logo indeferida quando a impetração for manifesta-
mente incabível ou manifestamente improcedente. Dessa decisão do relator, cabe agravo,
no prazo de cinco dias, para o órgão colegiado.
Findo o prazo de dez dias para apresentação das informações, será ouvido o Minis-
tério Público, que opinará em 10 dias, após o que, com ou sem parecer, os autos serão con-
clusos para decisão.
O que diz a lei: Art. 4º A petição inicial deverá preencher os requisitos estabele-
cidos pela lei processual e indicará, além do órgão impetrado, a pessoa jurídica
que ele integra ou aquela a que está vinculado.
§ 1º Quando não for transmitida por meio eletrônico, a petição inicial e os
documentos que a instruem serão acompanhados de tantas vias quantos
forem os impetrados.
§ 2º Quando o documento necessário à prova do alegado encontrar-se em
repartição ou estabelecimento público, em poder de autoridade ou de ter-
ceiro, havendo recusa em fornecê-lo por certidão, no original, ou em cópia
autêntica, será ordenada, a pedido do impetrante, a exibição do documen-
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to no prazo de 10 (dez) dias, devendo, nesse caso, ser juntada cópia à se-
gunda via da petição.
§ 3º Se a recusa em fornecer o documento for do impetrado, a ordem será
feita no próprio instrumento da notificação.
Art. 5º Recebida a petição inicial, será ordenada:
I - a notificação do impetrado sobre o conteúdo da petição inicial, deven-
do-lhe ser enviada a segunda via apresentada com as cópias dos documen-
tos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste informações;
II - a ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da
pessoa jurídica interessada, devendo-lhe ser enviada cópia da petição inici-
al, para que, querendo, ingresse no feito.
Art. 6º A petição inicial será desde logo indeferida quando a impetração for
manifestamente incabível ou manifestamente improcedente.
Parágrafo único. Da decisão de relator que indeferir a petição inicial, cabe-
rá agravo, em 5 (cinco) dias, para o órgão colegiado competente para o jul-
gamento da impetração.
Art. 7º Findo o prazo para apresentação das informações, será ouvido o
Ministério Público, que opinará em 10 (dez) dias, após o que, com ou sem
parecer, os autos serão conclusos para decisão.

6.7. Cabimento de tutela preventiva

Malgrado seja cabível a concessão de medida liminar em sede de ação direta de in-
constitucionalidade por omissão, conforme visto quando do estudo da temática atinente ao
controle de constitucionalidade, em sede de mandado de injunção, por sua vez, não se admite
a concessão de tutela preventiva.
Ressalte-se que alguns doutrinadores até pensam ser cabível a concessão da medi-
da initio littis no bojo desta ação, entretanto, a jurisprudência dominante no Supremo Tribu-
nal Federal é no sentido do não cabimento.
Por último, finalizando o estudo deste remédio, dada a importância do julgamento
bem como dos efeitos da decisão, cabe registrar aqui a posição do Supremo Tribunal Fede-
ral no que se refere ao direito de greve dos servidores públicos.
Tal direito está previsto na Constituição Federal no art. 37, VII. Com esse disposi-
tivo, o direito de greve será exercido nos termos e limites definidos em lei específica. Ocorre
que a referida lei (ordinária) específica ainda não foi editada, o que deu ensejo à impetração
de várias ações no âmbito do Supremo Tribunal Federal visando combater a inertia deliberan-
di.
Posição do STF: Nos mandados de injunção de n. 670,708 e 712, o STF, por
unanimidade, declarou a omissão legislativa de regulamentação do direito
de greve dos servidores públicos, e, por maioria, determinou a aplicação,
no que coube, da lei de greve vigente no setor privado (Lei n. 7.783/89).
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Desta forma, consagrou o Pretório Excelso a teoria concretista geral, implemen-


tando o direito no caso concreto, e proferindo decisão com efeitos erga omnes até que sobre-
venha norma integrativa do Poder Legislativo.
Vale lembrar que a decisão do STF irradiando eficácia para todos vem subverter as
próprias regras do controle de constitucionalidade, afinal, sendo o mandado de injunção uma
ação do controle concreto e incidental, os efeitos da decisão, a rigor, deveriam se restringir
apenas e tão-só às partes do caso.
Resta saber como a Corte Suprema se comportará em outras ocasiões.
De mais a mais, no art. 8º da LMI ficou estabelecido que reconhecido o estado de
mora legislativa, será deferida a injunção para: a) determinas prazo razoável para que o impe-
trado promova a edição da norma regulamentadora; b) estabelecer as condições em que se
dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso,
as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso
não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado.
Será dispensado o prazo quando comprovado que o impetrado deixou de atender,
em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma.
Percebe-se, assim, a opção do legislador pela posição concretista intermediária.

6.8. Decisão e coisa julgada

Existem três posições teóricas a respeito dos efeitos da decisão proferida em um


mandado de injunção:
a) Posição não concretista: a decisão tem o condão apenas de decretar a mora do Po-
der, órgão ou autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora, com declara-
ção da inconstitucionalidade da omissão e notificação do órgão competente para a adoção das
providências cabíveis. O fundamento é o princípio da separação dos poderes (artigo 2º da CF),
que impediria o Poder Judiciário de editar uma norma regulamentadora.
b) Posição concretista intermediária: concedida a ordem, o Poder Judiciário deve,
primeiro, comunicar o Poder, órgão ou autoridade omisso, concedendo prazo para que a nor-
ma regulamentadora seja editada. Transcorrido o prazo sem que a omissão seja sanada, o Po-
der Judiciário asseguraria o exercício direito, criando a norma regulamentadora para o caso
concreto.
c) Posição concretista direta: reconhecendo o Poder Judiciário que há mora na edição
da norma regulamentadora, deve garantir de plano o imediato exercício do direito, da liber-
dade ou da prerrogativa que está sendo obstaculizado por ausência de regulamentação, crian-
do a norma regulamentadora para o caso concreto.
Para aqueles que adotam a posição concretista, há ainda divergência sobre os limi-
tes subjetivos da decisão que regulamenta o direito, liberdade ou prerrogativa.
a) Posição concretista individual: a decisão teria efeito inter partes, assegurando,
portanto, o exercício do direito apenas para o impetrante do mandado de injunção.
b) Posição concretista geral: os efeitos da decisão seriam erga omnes, ou seja, o direi-
to passaria a ser assegurado a todos, e não somente ao impetrante.
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6.8.1. Evolução jurisprudencial

Na Jurisprudência do STF, a adoção das posições passou por uma evolução crono-
lógica que pode ser assim resumida:
a) Primeiro momento: o STF tradicionalmente adotava a posição não concretista
(Tribunal Pleno, MI 107-3, Rel. Min. Moreira Alves, julgado em 31/10/1990.
Tal solução, no entanto, foi alvo de duras críticas por parte da doutrina, que apontava que a
adoção da posição não concretista, embora tecnicamente parecesse perfeita, esvaziaria por
completo o novo remédio constitucional, tanto que as decisões em mandado de injunção aca-
baram não tendo nenhuma eficácia prática.
b) Segundo momento: aumento do grau de concretude, com o STF permitindo solu-
ções outras, embora continuasse a adotar a posição não concretista.
No julgamento do MI 283, ficou decidido que, em caso de persistência da mora do Congresso
Nacional, a parte prejudicada pela não edição do ato normativo poderia ajuizar uma ação
uma ação de reparação por perdas e danos.
No caso do MI 232-1/RJ, o STF adotou, excepcionalmente, a posição concretista intermediária
individual.

Como entendia o Supremo Tribunal Federal: Mandado de injunção. - Legi-


timidade ativa da requerente para impetrar mandado de injunção por fal-
ta de regulamentação do disposto no par. 7. do artigo 195 da Constitui-
ção Federal. - Ocorrência, no caso, em face do disposto no artigo 59 do
ADCT, de mora, por parte do Congresso, na regulamentação daquele pre-
ceito constitucional. Mandado de injunção conhecido, em parte, e, nessa
parte, deferido para declarar-se o estado de mora em que se encontra o
Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses, adote ele as
providencias legislativas que se impõem para o cumprimento da obriga-
ção de legislar decorrente do artigo 195, par.7., da Constituição, sob pena
de, vencido esse prazo sem que essa obrigação se cumpra, passar o re-
querente a gozar da imunidade requerida. (MI 232, Relator (a): Min.
Moreira Alves, Tribunal Pleno, Julgado em 02/08/1991).

c) Terceiro momento: adoção da posição concretista direta individual, deferindo à


impetrante, servidora pública, a aposentadoria especial, mesmo não tendo sido editada lei
complementar que regulamentasse o disposto no artigo 40, § 4º da CF/88.
Como entende o Supremo Tribunal Federal: Conforme disposto no inciso
LXXI do artigo 5º da Constituição Federal, conceder-se-á mandado de in-
junção quando necessário ao exercício dos direitos e liberdades constitu-
cionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à ci-
dadania. Há ação mandamental e não simplesmente declaratória de
omissão. A carga de declaração não é objeto da impetração, mas pre-
missa da ordem a ser formalizada. (...) Tratando-se de processo subjeti-
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vo, a decisão possui eficácia considerada a relação jurídica nele revela-


da. (...) Inexistente a disciplina específica da aposentadoria especial do
servidor, impõe-se a adoção, via pronunciamento judicial, daquela pró-
pria aos trabalhadores em geral - artigo 57, § 1º, da Lei nº 8.213/91. (MI
721, Relator (a): Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, Julgado em
30/08/2007).

d) Quarto Momento: adoção da posição concretista direta geral, menos de dois me-
ses após, no julgamento conjunto dos Mis 670, 708 e 712, concedendo a ordem para reiterar
a declaração do estado de mora do Congresso Nacional por não editar norma que regula-
mentasse o direito de greve dos servidores públicos e, em razão da omissão sistemática e
recorrente, o Supremo determinou a aplicação genérica, no que coubesse, da Lei nº
7.783/89, que regulamenta o direito de greve para os trabalhadores particulares.
Posição do Supremo Tribunal Federal: No julgamento do MI no 107/DF,
Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21.9.1990, o Plenário do STF consolidou en-
tendimento que conferiu ao mandado de injunção os elementos operaci-
onais: seguintes i) os direitos constitucionalmente garantidos por meio de
mandado de injunção apresentam-se como direitos à expedição de um
ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente sa-
tisfeitos por meio de provimento jurisdicional do STF; ii) a decisão judicial
que declara a existência de uma omissão inconstitucional constata,
igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a nor-
ma requerida; iii) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma
omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; iv) a decisão
proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência,
ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não apresenta di-
ferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no contexto
de mandado de injunção; iv) o STF possui competência constitucional pa-
ra, na ação de mandado de injunção, determinar a suspensão de proces-
sos administrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar ao interessa-
do a possibilidade de ser contemplado por norma mais benéfica, ou que
lhe assegure o direito constitucional invocado; v) por fim, esse plexo de
poderes institucionais legitima que o STF determine a edição de outras
medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna expedição
de normas pelo legislador. (...) Apesar dos avanços proporcionados por
essa construção jurisprudencial inicial, o STF flexibilizou a interpretação
constitucional primeiramente fixada para conferir uma compreensão
mais abrangente à garantia fundamental do mandado de injunção. A par-
tir de uma série de precedentes, o Tribunal passou a admitir soluções
"normativas" para a decisão judicial como alternativa legítima de tornar a
proteção judicial efetiva (CF, art. 5o, XXXV). Precedentes: MI no 283, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14.11.1991; MI no 232/RJ, Rel. Min. Moreira
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Alves, DJ 27. 3.1992; MI nº 284, Rel. Min. Março Aurélio, Red. para o
acórdão Min. Celso de Mello, DJ 26.6.1992; MI no 543/DF, Rel. Min. Octa-
vio Gallotti, DJ 24.5.2002; MI no 679/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
17.12.2002; e MI no 562/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.6.2003. Em ra-
zão da evolução jurisprudencial sobre o tema da interpretação da omis-
são legislativa do direito de greve dos servidores públicos civis e em
respeito aos ditames de segurança jurídica, fixa-se o prazo de 60 (ses-
senta) dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a matéria. (...)
Mandado de injunção conhecido e, no mérito, deferido para, nos ter-
mos acima especificados, determinar a aplicação das Leis nos
7.701/1988 e 7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam
a interpretação do direito de greve dos servidores públicos civis. (MI:
670, Relator: Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, Julgado em
25/10/2007).

6.8.2. Previsão Legal

Com a edição da Lei do Mandado de Injunção (Lei nº 13.300/16), a questão dos


efeitos da decisão que concede a ordem em mandado de injunção foi, finalmente, positivada
em nosso ordenamento jurídico.
O que diz a lei: Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será de-
ferida a injunção para:
I - Determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da
norma regulamentadora;
II - Estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das li-
berdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições
em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los,
caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I
do caput quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em
mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da
norma.
Art. 9º A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efei-
tos até o advento da norma regulamentadora.
§ 1º Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão,
quando isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liber-
dade ou da prerrogativa objeto da impetração.
§ 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos
aos casos análogos por decisão monocrática do relator.
§ 3º O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a
renovação da impetração fundada em outros elementos probatórios.
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A lei consigna que, reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injun-
ção para:
a) determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regu-
lamentadora; e
b) estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades
ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado
promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no
prazo determinado.
Assim, o legislador pátrio adotou, como regra, a posição concretista intermediá-
ria, pois o Poder Judiciário, após reconhecida a mora, deverá fixar o prazo para que o impe-
trado regulamente o direito, liberdade ou prerrogativa e, somente após findo o prazo, poderá
estabelecer as condições para o seu exercício efetivo.
No entanto, o comando prevê uma exceção, em que o judiciário deverá imediata-
mente regulamentar ele próprio o direito, quando ficar comprovado que o impetrado deixou
de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da
norma. Aqui, será adotada a posição concretista imediata.
No tocante aos efeitos subjetivos, a LMI dispõe que a decisão terá eficácia subjeti-
va limitada às partes e produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora (posição
concretista individual).
Contudo, poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão,
quando isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerro-
gativa objeto da impetração (posição concretista geral).
A lei também prevê que, transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser
estendidos aos casos análogos por decisão monocrática do relator, em interessante preocu-
pação com a isonomia extraprocessual.
No mandado de injunção coletivo, com a edição da legislação própria, optou-se
por adotar, como regra, a posição concretista intermediária coletiva.
Mesmo na impetração individual, como visto, após o transito em julgado, poderá
haver extensão dos efeitos aos casos análogos, ampliando a extensão subjetiva em prol da iso-
nomia.
O que diz a LMI: Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará
coisa julgada limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do
grupo, da classe ou da categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo
do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º.
Art. 9º § 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser es-
tendidos aos casos análogos por decisão monocrática do relator.

Quanto aos efeitos temporais da decisão, a LMI trouxe uma interessante novida-
de: a possibilidade de ação revisional da decisão proferida em mandado de injunção.
Sobrevindo relevantes modificações das circunstâncias de fato ou de direito, a de-
cisão poderá ser revista, a pedido de qualquer interessado, não havendo prejuízo dos efeitos
já produzidos anteriormente. Essa ação observará, no que couber, o procedimento estabeleci-
do na própria Lei nº 13.300/16.
12

O que diz a LMI: Art. 10. Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão
poderá ser revista, a pedido de qualquer interessado, quando sobrevierem
relevantes modificações das circunstâncias de fato ou de direito.
Parágrafo único. A ação de revisão observará, no que couber, o procedi-
mento estabelecido nesta Lei.

Outro aspecto importante é o da norma regulamentadora legislativa superve-


niente. Nessa sucessão temporal entre a norma criada pelo judiciário e a superveniente nor-
ma legislativa, a nova norma produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por deci-
são transitada em julgado – apenas para o futuro, portanto.
A exceção fica por conta de a aplicação da norma editada lhes ser mais favorável,
hipótese em que será imediatamente aplicada, retroagindo.
Por outro lado, caso a norma regulamentadora seja editada antes da decisão, o
processo deverá ser extinto sem resolução do mérito, em virtude da perda do interesse de
agir superveniente.
O que diz a LMI: Art. 11. A norma regulamentadora superveniente produ-
zirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada em
julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for mais favorável.
Parágrafo único. Estará prejudicada a impetração se a norma regulamen-
tadora for editada antes da decisão, caso em que o processo será extinto
sem resolução de mérito.

No mandado de injunção, existe a possibilidade de repropositura da demanda jul-


gada improcedente por insuficiência de provas, no caso de direitos difusos ou coletivos – coi-
sa julgada secundum eventum probationes, ou seja, condicionada ao grau de prova obtido
no processo. Essa nova ação, quando na modalidade coletiva, pode ser intentada por qualquer
dos legitimados, inclusive por aquele que moveu a primeira demanda. Aplica-se aqui o já dito
sobre a ação civil pública.
O que diz a LMI: Art. 9º § 3º O indeferimento do pedido por insuficiência
de prova não impede a renovação da impetração fundada em outros ele-
mentos probatórios.

Recursos 6.9

O recurso é um instrumento processual para impugnação ou revisão de decisões


judiciais. É um ato voluntário, ou seja, recorre se quiser. Para que possa ser analisado, deve
preencher os pressupostos exigidos pela legislação, chamados de requisitos de admissibilida-
de.

6.9.1. Meios de impugnação


13

Caberá recurso ordinário constitucional nos processos de mandado de injunção,


a ser julgado pelo STF, quando interposto contra decisão denegatória de MI de competência
originária de tribunal superior.
Por outro lado, se a decisão final for concessiva, nada impede o cabimento do re-
curso extraordinário para o STF, quando, obviamente, não tiver sido julgado pelo próprio
tribunal o mandado de injunção.
Ao longo de todo o procedimento e em todas as instâncias, quando o relator profe-
rir decisão monocrática, caberá o agravo interno.

ANEXO

LEI Nº 13.300, DE 23 DE JUNHO DE 2016.


Disciplina o processo e o julgamento dos man-
dados de injunção individual e coletivo e dá
outras providências.
O VICE - PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLI-
CA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Esta Lei disciplina o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e
coletivo, nos termos do inciso LXXI do art. 5º da Constituição Federa l.
Art. 2º Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma re-
gulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerroga-
tivas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as nor-
mas editadas pelo órgão legislador competente.
Art. 3º São legitimados para o mandado de injunção, como impetrantes, as pessoas naturais
ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas referidos no
art. 2º e, como impetrado, o Poder, o órgão ou a autoridade com atribuição para editar a norma
regulamentadora.
Art. 4º A petição inicial deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual e in-
dicará, além do órgão impetrado, a pessoa jurídica que ele integra ou aquela a que está vinculado.
§ 1º Quando não for transmitida por meio eletrônico, a petição inicial e os documentos que a
instruem serão acompanhados de tantas vias quantos forem os impetrados.
§ 2º Quando o documento necessário à prova do alegado encontrar-se em repartição ou es-
tabelecimento público, em poder de autoridade ou de terceiro, havendo recusa em fornecê-lo por
certidão, no original, ou em cópia autêntica, será ordenada, a pedido do impetrante, a exibição do
documento no prazo de 10 (dez) dias, devendo, nesse caso, ser juntada cópia à segunda via da
petição.
§ 3º Se a recusa em fornecer o documento for do impetrado, a ordem será feita no próprio
instrumento da notificação.
Art. 5º Recebida a petição inicial, será ordenada:
14

I - a notificação do impetrado sobre o conteúdo da petição inicial, devendo-lhe ser enviada a


segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias,
preste informações;
II - a ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica in-
teressada, devendo-lhe ser enviada cópia da petição inicial, para que, querendo, ingresse no feito.
Art. 6º A petição inicial será desde logo indeferida quando a impetração for manifestamente
incabível ou manifestamente improcedente.
Parágrafo único. Da decisão de relator que indeferir a petição inicial, caberá agravo, em 5
(cinco) dias, para o órgão colegiado competente para o julgamento da impetração.
Art. 7º Findo o prazo para apresentação das informações, será ouvido o Ministério Público,
que opinará em 10 (dez) dias, após o que, com ou sem parecer, os autos serão conclusos para de-
cisão.
Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para:
I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamen-
tadora;
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das
prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover
ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput quando
comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo es-
tabelecido para a edição da norma.
Art. 9º A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efeitos até o advento
da norma regulamentadora.
§ 1º Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso for ine-
rente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da impetra-
ção.
§ 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos casos análogos
por decisão monocrática do relator.
§ 3º O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a renovação da impe-
tração fundada em outros elementos probatórios.
Art. 10. Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão poderá ser revista, a pedido de
qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes modificações das circunstâncias de fato ou
de direito.
Parágrafo único. A ação de revisão observará, no que couber, o procedimento estabelecido
nesta Lei.
Art. 11. A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos
beneficiados por decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for
mais favorável.
Parágrafo único. Estará prejudicada a impetração se a norma regulamentadora for editada
antes da decisão, caso em que o processo será extinto sem resolução de mérito.
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:
15

I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a de-
fesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponí-
veis;
II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício
de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade parti-
dária;
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e
prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de
seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização
especial;
IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados,
na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal .
Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por mandado de in-
junção coletivo são os pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pes-
soas ou determinada por grupo, classe ou categoria.
Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente às
pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da categoria substituídos pelo impe-
trante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º.
Parágrafo único. O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos in-
dividuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a desis-
tência da demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impe-
tração coletiva.
Art. 14. Aplicam-se subsidiariamente ao mandado de injunção as normas do mandado de se-
gurança, disciplinado pela Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009 , e do Código de Processo Civil,
instituído pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 , e pela Lei nº 13.105, de 16 de março de
2015 , observado o disposto em seus arts. 1.045 e 1.046 .
Art. 15. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 23 de junho de 2016; 195º da Independência e 128º da República.

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