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TEORIA GERAL
DA NORMA PENAL
Sumário 1. Fontes do direito penal: 1.1. Conceito e distinção; 1.2. Fonte material
ou de produção; 1.3. Fontes formais ou de cognição ou de conhecimento: 1.3.1.
Fonte formal imediata; 1 .3.2. Fontes formais mediatas: 1.3.2.1. Costume;
1.3.2.2. Princípios gerais de direito; 1.3.2.3. Ato administrativo — 2. Norma penal
e lei penal: 2.1. Introdução; 2.2. Classificação das Leis Penais; 2.3. Leis Penais
em Branco: 2.3.1. Classificação: 2.3.1.1. Leis penais em branco homogêneas ou
em sentido lato; 2.3.1.2. Leis penais em branco heterogéneas ou em sentido
estrito: 2.3.1.2.1. Lei penal em branco na nova Lei de Drogas; 2.4. Tipos Penais
Abertos; 2.5. Destinatários da Lei Penal — 3. Analogia: 3.1. Conceito, Natureza
Jurídica e Fundamento; 3.2. Requisitos; 3.3. Analogia in matam partem e in
bonam partem: 3.3,1. Analogia in malam partem; 3.32 Analogia in bonam
partem; 3,4, Analogia e processo penal - 4. Princípios; 4.1 , Princípio da reserva
legal; 4.2, Princípio da dignidade da pessoa humana; 4.3. Princípio da intervenção
mínima; 4.4. Princípio da fragmentariedade; 4.5. Princípio da subsidiariedade;
4.6. Princípio da insignificância ou bagatela; 4.7. Princípio da ofensividade ou
lesividade; 4.8. Princípio da responsabilidade_pessoal; 4.9. Princípio da
responsabilidade subjetiva; 4,10. Princípio da proporcionalidade; 4.1 1. Princípio.
da adequação social - 5. Eficácia da lei penal: 5.1. Lei penal no tempo: 5.1 .1.
Nascimento da lei penal; 5.1.2. Revogação da lei penal; 5.1.3. Conflitos de leis
penais no tempo: 5.1 .3.1. Lex mitior; 5.1.4. Competência para aplicação da tei
mais benéfica; 5.1.5. Dúvida quanto à lei mais benéfica; 5.1.6. Combinação de
leis (lex tertia); 5.1 .7. Lei Intermediária; 5.1 .8, Lei Processual; 5.19. Ultra-
atividade das leis penais temporárias e excepcionais; 5.1.10, Tempo do crime;
5.2. Lei penal no espaço: 5.2.1. Introdução; 522. Territorialidade; 5.23. Lugar do
crime; 5.2.4. Extraterritorialidade; 525. Princípios norteadores da
extraterritorialidade 6. Conflito aparente de normas: 6.1 Introdução; 6.2. Princípio
da especialidade (lex specialis derogat legi general'); 6.3. Princípio da
subsidiariedade (lex primaria derogot legi subsidiariae); 6.4. Princípio da
consunção ou absorção (lex consumens derogat legi consumptae); 6.5, Princípio
da Alternatividade - 7. Disposições finais acerca da aplicação da lei penal: 7.1.
Eficácia da sentença estrangeira; 7.2. Contagem de prazo (art. 10 do CP); 7.3.
Fraçöes não computáveis de pena; 7.4. Aplicação das normas gerais do Código
Penal 8. Questões dissertativas e estudos de caso: 8.1. Súmulas e Orientações
Jurisprudenciais do STF e do STJ 9. Legislação relacionada ao capítulo
Por fonte do Direito deve ser entendida a sua origem primária, relacionada própria
gênese da lei, significando tudo aquilo que impulsiona o surgimento da norma
jurídica. Distinguem-se as Direito Penal em materiais (ou de produção) e formais
(ou de cognição ou conhecimento). As últimas podem, ainda, ser imediata (lei) ou
mediatas (costumes, princípios gerais de direito, ato administrativo, tratados e
convenções, equidade, doutrina, jurisprudência).
1.2. Fonte material ou de produção
Relaciona-se à produção da norma penal, com respeito ao órgão encarregado de
sua elaboração. Fonte de produção é o Estado (não os Estados que compõem a
Federação brasileira, mas sim esta última). Conforme preceitua o art. 22, l, da CF,
compete privativamente à União legislar sobre direito penal. Assim, cabe tão-
somente à União, como única fonte de produção, ditar normas gerais de Direito
Penal, bem como proibir ou impor determinadas condutas (comissivas ou
omissivas), sob a ameaça de sanção. A Constituição Federal, ao referir-se à
competência privativa da União, quer dizer que somente a conjugação da vontade
do povo, representado pelos seus deputados, com a vontade dos Estados,
representados pelos seus senadores, e, ainda, com a sanção do Presidente da
República, é que pode inovar em matéria penal.
Excepcionalmente, porém, prevê o parágrafo único do artigo 22 da CF que "lei
complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas
das matérias relacionadas neste artigo". Objetivando a regionalização de
determinadas questões penais, mostra-se, em tese, admissível que a União
autorize os Estados-membros a criminalizar determinada conduta, prevendo delito
peculiar a certa parte do País. Não obstante não se tenha notícia de tal prática, o
certo é que a norma penal deve possuir alcance nacional, a fim de manter a
integridade do sistema, sendo impensável a possibilidade de legislação, em
matéria penal, por parte dos Estados-membros.
1.3. Fontes formais ou de cognição ou de conhecimento
Dizem respeito ao modo de exteriorização do Direito Penal e podem ser imediata
(ou direta) e mediatas (ou indiretas ou secundárias).
1.3.1. Fonte formal imediata
A única fonte formal imediata é a lei, à qual se recorre para saber se determinada
conduta praticada por alguém é proibida pelo Direito Penal. Observe-se que
somente a lei, em sentido estrito, pode criar crimes e cominar penas. Outras
espécies legislativas:
a) lei complementar: pode legislar sobre matéria penal, uma vez que possui
processo legislativo mais complexo do que a lei ordinária (ex.: art. 10 da Lei
Complementar no 105/2001, que instituiu o crime de quebra de sigilo fora das
hipóteses autorizadas na mesma Lei). Há, no entanto, posição em contrário (como
Cernicchiaro e Paulo José da Costa Jr., por exemplo) sustentando que o rol da lei
complementar é exaustivo na Constituição, não incluindo nenhuma hipótese de
criação de lei penal, além do que é exigido quorum qualificado para elaborar uma
lei complementar, o que iria engessar o Congresso Nacional se houvesse
necessidade de modificar lei penal que fosse criada pelo processo qualificado.
I
b) lei delegada: é aquela elaborada pelo Presidente da República, não podendo
0
criar lei penal, pois o art. 68, § 1 II, da CF veda a delegação em matéria de
direitos individuais, entre os quais está o princípio da reserva legal (art. 50,
XXXIX, da CF). Além disso, o procedimento legislativo, que exige intenso debate
dos congressistas sobre as propostas de alteração da legislação penal, restaria
enfraquecido, sem trâmite pelas duas Casas Legislativas e sern apresentação de
emendas.
c) medida provisória: não pode legislar sobre matéria penal em face de
expressa previsão constitucional (art. 62, § 1 0, l, b, da CF), conforme alteração
o
advinda pela Emenda Constitucional n 32/2001. Antes de tal EC, no entanto, a
matéria gerava certa controvérsia, tendo ocorrido casos de leis penais criadas por
MPs, como a Lei no 7-960/89 (Lei da Prisão Temporária), acrescendo tipo penal à
Lei no 4.898/65, que trata do abuso de autoridade.
d) emenda à constituição: pode, em tese, criar lei penal, já que é fruto do
Poder Constituinte Derivado ou Reformador, mesmo porque não há vedação
expressa a respeito. No entanto, a teor do art. 60, § 40, da CF, a EC não poderá
restringir direitos e garantias individuais.
1.3.2. Fontes formais mediatas
São fontes formais mediatas o costume, os princípios gerais de direito e o ato
administrativo. embora já tenham sido também elencados os tratados e
convenções, a equidade, a doutrina e a jurisprudência.
1.3.2.1. Costume
É a repetição da conduta, de maneira constante e uniforme, em razão da
convicção da sua obrigatoriedade jurídica. Em virtude do princípio da reserva
legal, o costume não pode criar crimes e nem cominar penas, embora continue
eficaz em outros ramos do Direito, principalmente naqueles pautados pela
common law.
Importante:
O costume não revoga a lei, em face do que dispõe o art. 2º da LINDB,
segundo o qual uma lei só pode ser revogada por outra lei.
ATENÇÃO:
O penalista espanhol Mir Puig cita, ainda, uma terceira classificação: leis penais
em branco ao avesso (também chamadas de normas penais em branco ao revés
ou invertidas), que existem quando, embora completo o preceito primário, o
preceito secundário fica a cargo de norma complementar, Observe-se a Lei de
Genocídio (Lei no 2.889/56), que não traz pena específica para o genocídio, mas
sim remete Às sanções penais de outras infrações. Exemplo: quem, com a
intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional étnico, racial ou
religioso, matar membros desse grupo, será punido com as penas do homicídio
qualificado.
3. ANALOGIA
3.1. Conceito, Natureza Jurídica e Fundamento
A analogia é a aplicação, a uma hipótese não prevista em lei, de lei reguladora de
caso semelhante. É, pois, uma forma de autointegração da norma, e não de mera
interpretação, que atende ao brocardö ubi eadem legis ratio, ubi eadem legis
dispositio. Apesar de citada no art. 40 da LINDB, a analogia não é fonte do
Direito, pois o juiz, ao utilizá-la para a solução de determinada questão, está
apenas aplicando determinada disposição legal que irá resolver, por semelhança,
casos não expressamente contemplados na lei. A analogia não se confunde com a
interpretação extensiva. Com o emprego daquela, o exegeta parte da própria tei
para elaborar a regra relativa ao caso não previsto pela legislação. Ou seja: ao
contrário do que: ocorre na interpretação extensiva, não há ampliação do texto
legal, pois a mesma disposição será aplicada a casos semelhantes (não
contempiados expressamente), 0 fundamento da analogia é o argumento pari
ratione, da lógica dedutiva, que utiliza, para a solução do caso omisso, o mesmo
raciocínio do caso semelhante.
3.2. Requisitos
O recurso à analogia, para que possa ser utilizado, exige a concorrência de três
requisitos:
4. PRINCÍPIOS
4.1.Legalidade
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Lei delegada não pode tratar de princípios fundamentais, portanto, não pode
tratar de matéria penal.
MP não pode legislar sobre matéria penal de acordo com a CF. O STF admitiu que
se falasse de matéria penal em MP desde que fosse matéria benéfica (questão da
MP da posse de arma).
Pode uma conduta criminosa ser prevista pelo STF: questão da homofobia.
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mínimo. O próprio pacto de São José exclui o trabalho do preso como o trabalho
forçado.
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Condições subjetivas (reincidência, maus antecedentes, periculosidade
do agente): conforme prevalece, a habitualidade delitiva revela reprovabilidade
suficiente a afastar a aplicação do princípio da insignificância “O criminoso
contumaz, mesmo que pratique crimes de pequena monta, não pode ser tratado
pelo sistema penal como se tivesse praticado condutas irrelevantes, ois crimes
considerados ínfimos, quando analisados isoladamente, mas relevantes quando
em conjunto, seriam transformados pelo infrator em verdadeiro meio de vida”
(STF, 2ª T., HC127888 AgR, j. 23/06/2015. Idem: SEF, a T., HC133956 AgR, j.
21/06/2016. O mesmo sentido: “(...)2. É entendimento consolidado neste tribunal
que, apesar de não configurar reincidência, a existência e outras ações penais,
inquéritos policiais em curso ou procedimentos administrativos fiscais é suficiente
para caracterizar a habitualidade delitiva e, consequentemente, afastar a
incidência do princípio da insignificância” (STJ, 5ª T., AgRg no REsp 1598417, j.
01/09/2016).
Não cabe em crimes praticados com violência ou grave ameaça contra pessoa,
como o roubo. Nesse sentido: “a jurisprudência do STF e do STJ é pacífica, no
sentido de não ser possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes
praticados com grave ameaça, incluindo o roubo” (STF, RHC 106.360/DF(...)”
(STJ, 5ª T., HC 339999, j. 23/02/2016).
Não cabe no crime de moeda falsa, pois o bem jurídico tutelado é a fé pública, e
não o patrimônio. Nesse sentido: ‘Conforme reiterada jurisprudência desta Corte
Superior, o princípio da insignificância é inaplicável ao delito de moeda falsa uma
vez que o bem jurídico tutelado é a fé pública, sendo, independentemente do
valor falsificado ou da quantidade de moeda expedida malferida a credibilidade da
moeda e a segurança da sua tramitação. Não há, portanto, que falar em mínima
ofensividade da conduta”(STJ, 5ª T., HC 336795, j. 15/09/2016).
Posse de droga para consumo pessoal: “Esta Corte Superior firmou o
entendimento de que não se aplica o princípio da insignificância ao crime de posse
de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei no 11.343/2006), porquanto se
trata de delito de perigo abstrato, e a pequena quantidade de entorpecente é no
inerente à própria essência do tipo penal em questão”(STJ, 5ª T., AgRg no REsp
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1581713, j. 3/08/2016). Em sentido contrário: STF, 1ª T., HC 110475, j.
14/02/2012.
Tipicidade penal = tipicidade formal + material: tipicidade é a adequação de um
comportamento ao modelo legal incriminador. Para que a subtração seja
considerada furto, é necessário que eu subtraia coisa alheia móvel, essa mera
adequação entre a conduta e o tipo penal é a tipicidade formal. A tipicidade formal
será afastada por a)ausência de lesividade; b)insignificância; c)adequação
social. Para entender se a conduta é insignificante, é preciso identificar o bem
jurídico tutelado pelo tipo. Ex: O valor da moeda falsificada não admite a
aplicação do princípio da insignificância, mas eu posso usar o princípio da
insignificância quando a falsificação de moeda for grosseira, pois o bem tutelado é
a fé pública, assim a falsificação grosseira não tem potencialidade lesiva (STJ).
Com relação a ADM Pública: Muito cuidado com a sum 599 do STJ deve ser
entendida da forma mais estrita possível, no caso de servidor público a serviço da
adm. Mas quando for praticado por particulares, não admite.
Lei Maria da Penha: não se aplica a insignificância na lei maria da penha.
Crimes Ambientais: É possível com aquilo que temos em abundância na
natureza: peixes, crustáceos, plantas. STF: não posso aplicar o PI quando lanço a
rede mesmo que não consiga peixe, porque o método é muito danoso para a
natureza.
Bagatela imprópria: desnecessidade da pena.
Adequação social: princípio segundo o qual condutas que aquele núcleo social
tem como adequadas não devem ser consideradas criminosas.
Funções da adequação social: 1) nortear o legislador para evitar a criação de
tipos penais sobre condutas socialmente adequadas; 2) limitar âmbito de
incidência da norma penal incriminadora. Jamais revoga normas penais
incriminadoras, apenas limita o âmbito de sua incidência.
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4-7. Princípio da ofensividade ou lesividade
Segundo tal princípio, não se pode conceber a existência de qualquer crime sem
ofensa ao bem jurídico (nullum crimen sine iniuria). 0 princípio da ofensividade do
fato decorre de outro princípio geral de direito, que é o neminem laedere, e
constitui a base de sustentação de um novo sistema penal, irradiando
consequências tanto no sentido político-criminal (legislativo) como no dogmático-
interpretativo e de aplicação da lei penal.
4.8. princípio da responsabilidade pessoal
Como o indivíduo só pode- ser responsabilizado penalmente petos próprios atos,
descabe a aplicação de pena criminal por fato alheio.
4-9. Princípio da responsabilidade subjetiva
Para que o agente seja punido penalmente, não basta:a mera prática material do
fato, já que se requer, também, a presença do dolo ou da culpa. Isso significa que
não há mais lugar, hodiernamente, para a chamada responsabilidade penal
objetiva, Observe-se, a propósito, o art. 19 do CP: "Pelo resultado que agrava
especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos
culposamente".
Importante:
O bem jurídico atingido deve pertencer a terceira pessoa, ou seja, a prática
criminosa pressupõe conduta que transcenda a esfera individual do agente. Por
isso o princípio da ofensividade deve ser complementado pelo princípio da
alteridade (altero: o outro)
Princípio da alteridade (vertente da lesividade):
Não há crime quando realiza uma conduta contra si mesmo sem atingir bens
jurídicos de terceiros.
Ex: Tenho meu carro roubado e depois compro ele de volta. Cometi receptação?
Não, o bem jurídico tutelado é o patrimônio do sujeito passivo do crime anterior,
se eu comprei o meu carro roubado, eu atingi o meu próprio patrimônio portanto
não é crime.
Ex2: Cláudia está sem dinheiro, pediu dinheiro à Carlos, Carlos dá o dinheiro e
Cláudia entrega a ele em garantia um colar de pedras preciosas. Carlos é credor
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pignoratício. Antônio é ladrão, subtraiu o cordão de Cláudia, que está sendo
vendido a preço módico por Antônio em uma feira. Cláudia compra o cordão de
Antônio. Ela adquiriu coisa própria, produto de crime, e praticou o crime porque
lesou o patrimônio de Carlos, uma vez que era o credor.
Masson diz que ambos os casos são atípicos, mas a posição é minoritária.
Observação:
Crimes de Perigo: O crime de perigo concreto exige que depois que a conduta é
realizada você verifique se houve situação de perigo gerada pelo comportamento.
Já no crime de perigo abstrato, o legislador já determina que tal conduta é
perigosa.
Ex: Lei de Trânsito: 306 (abstrato); 308 (concreto); 309 (concreto); 310
(abstrato) sum 575 STJ; 311 (concreto).
1)Crimes de perigo abstrato são inconstitucionais porque ferem o princípio da
lesividade(min); 2)Crimes de perigo abstrato não são inconstitucionais. O Estado
antecipa a barreira penal para evitar danos maiores (STF e STJ).
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quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada", conforme preceitua o art.
0
1 da LINDB. Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei penal, quando
admitida, inicia•se três meses depois de oficialmente publicada. O prazo existente
entre a data da publicação da lei e a data da sua efetiva produção de efeitos é
denominado vacatio legis, e possui dupla finalidade: possibilita o conhecimento da
norma antes de ela tornar-se obrigatória e, às autoridades incumbidas de fazê-la
executar, bem como às pessoas a que se endereça, a oportunidade de
prepararem-se para a sua aplicação. A vacatio legis não é um princípio
constitucional, tanto que as leis podem entrar em vigor na data: da sua
publicação, desde que haja cláusula expressa nesse sentido. Da mesma forma, o
prazo de 45 dias pode ser reduzido ou ampliado, sempre com a já citada cláusula
expressa.
5.1.2. Revogação da Lei Penal
Pelo princípio da continuidade das leis, a lei permanece em vigor até que outra lei
a revogue. Revogação é a expressão genérica que traduz a ideia de cessação da
existência da regra obrigatória, em virtude de manifestação, nesse sentido, do
poder competente. É, portanto, a perda de vigência da lei. Toda e qualquer lei
pode ser revogada, pois é vedada a edição de leis irrevogáveis. A revogação
compreende a derrogação e a ab-rogação, sendo a primeira uma espécie de
revogação parcial e a última uma espécie de revogação integral da lei. A
revogação pode, ainda, ser expressa, tácita e global (v. art. 2 0, § 10, da LINDB).
Na primeira, a nova lei, em seu próprio texto, já aponta os dispositivos legais
revogados. A revogação tácita, também conhecida como implícita ou indireta,
ocorre quando o novo texto, embora de forma não-expressa, é incompatível com o
anterior (revogação tácita propriamente dita) ou regula inteiramente a matéria
precedente (revogação global).
A lei, no entanto, pode trazer no seu respectivo texto o término de sua vigência. É
a chamada lei de vigência temporária a que se refere a ressalva do art. 20, caput,
da LINDB. Essas leis são denominadas temporárias e excepcionais.
Lei temporária é aquela que traz, de forma preordenada, a data de expiração de
sua vigência.
Lei excepcional é aquela que, não mencionando expressamente o seu prazo de
vigência, condiciona a: sua eficácia à duração das condições que a determinam
(epidemia, guerra, estado de sítio etc.).
Nesse caso foge-se à regra geral, pois o término de vigência dessas leis não
depende de revogação por lei posterior. Assim, consumado o lapso da lei
temporária ou cessadas as circunstâncias determinadoras da lei excepcional, finda
a sua respectiva vigência, falando-se, aqui, em autorrevogação.
5.1.3. Conflitos de leis penais no tempo
A eficácia da lei penal está situada, em regra, desde a sua entrada em vigor até a
sua revogação, não alcançando fatos ocorridos antes ou depois desses limites
extremos. É a consagração do princípio tempus regit actum, ou seja, a regra é a
lei penal não retroagir e nem possuir ultra-atividade, O princípio da
irretroatividade vige, no entanto, apenas em relação à lei penal mais severa (lex
gravior). Se a nova lei de qualquer forma beneficiar o réu (lex mitior) impõe-se a
sua retroatividade. A irretroatividade da lex grav(or constitui direito subjetivo de
liberdade, encontrando fundamento no art. 50, incs. XXXVI ("a lei não prejudicará
o direito adquirido") e XL ("a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu"), da Constituição Federal. Assim, se a lei nova define determinada conduta,
antes lícita, como criminosa, os fatos cometidos antes da sua: vigência não podem
ser objeto de punição, vez que a retroprojeção encontra óbice no direito adquirido
pelo cidadão.
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Há, portanto, dois princípios que regem os conflitos de leis penais no tempo: o da
não-extra-atividade da lei mais severa (lex gravior); e o da extra-atividade da tei
(mais benigna (lex mitior).
A lex mitior possui extra-atividade, que se constitui dos princípios da
retroatividade e da ultra-atividade. Retroatividade significa a aplicação da lei a
fatos ocorridos antes da sua vigência, Ultra-atividade é a qualidade da lei de
manter a sua eficácia mesmo depois de cessada a sua vigência.
5.1.3.1L Lex mitior
m
Dá-se a extra atividade da lei penat mais benéfica em duas hipóteses: abolitio
crimin!s e • novatio legis in mellius.
a) Abolitio criminis
0Àera-se quando a lei nova torna atípico fato antes incriminado, Como a conduta
deixa de constituir infração penal, o Estado perde a pretensão de impor ao agente
qualqlþer pena. A abolição do delito constitui fato jurídico extintivo da
punibilidade, nos termos do art. 107, III, do CP. Além disso, segundo o caput do
art. 20 do CP cessam, em consequência da abolitio criminis, a "execução e os
efeitos penais da sentença condenatória". A nova lei descriminante, atuando
n
retroativamente, exclui todos jos efeitos jurídico penais da conduta antes
considerada delituosa.
Cqnsequências: a) ainda não houve oferecimento de denúncia: o processo não
pbde ser iniciado; b) a ação penal está em andamento: deverá ser trancada
medialnte decretação de extinção da punibilidade; c) após a prolação de sentença
condenatória com trânsito em julgado: a pretensão executória não pode ser
efetivada, tou seja, a pena não poderá ser executada; d) o condenado está
cumprindo a pena: deverá ser solto, mediante decretação da extinção da
punibilidade. No entanto, deve-se atentar para os efeitos extrapenais da
condenação.
Cdnforme o aludido art, 2 0, caput* do CP, cessam os "efeitos penais da sentença
condenatória*' , perdurando, evidentemente, os de natureza civil. Assim, a
sentença condenatória transitada em julgado continua valendo corno título
executivo na esfera cível e o- condenado continua obrigado a reparar o dano
causado pelo delito (art. 91, l, do CP). Confrontando-se com a abolitio criminis, o
juiz do processo deve, de ofício, declarar extinta a punibilidade, depois de ouvido o
Ministério Público.
Sq os autos, em virtude de recurso, estiverem em segundo grau, o próprio
tribunal competente para apreciar a inconformidade deverá declarar extinta a
punibilidade. Caso já- exista sentença condenatória transitada em julgado, a
declaraçãolde extinção da punibilidade competirá ao juízo da execução, conforme
arte 66, I e II, da LEP e Súmula 611 do STF.
Súrnÿla, 6ii:: do; 'TrqhSitädä; em julgadoa: Sentença -
Condenatória; exé fuçõësca- np'licåCã0édè:GlèižiñäžS benigna;;
O"s.: Princípio da continuidade normativo-típica
Caso haja mera revogação formal d* determinado tipo penal, que sofre uma
readequação típica e consequente modificação do respectivo nomen iuris, não se
falará em abolitio criminis, já que o fato continua previsto dentro do ordenamento
jurídico-penal como delituoso. Exemplos:
o
O rapto violento (art. 219 do CP) foi revogado pela Lei n 11.106/05, mesma
legislação que criou a figura do sequestro ou cárcere privado qualificado porque
praticado com fins libidinosos (art. 148, § 1 0, V, do CP). Portanto, não há abolitio
criminis de rapto violento, já que a conduta ainda é prevista como delituosa dentro
do código Penal. Nesse sentido: STE HC 101035, j. 26/10/2010, noticiado no
Informativo 606.
Também em respeito ao princípio da continuidade normativo-tí¾, não há que se
o
falar em abolitio criminis do atentado violento ao pudor, já que a Lei n 12.015/09
apenas revogou formalmente o art. 214 do CP, passando a modalidade delituosa
ali prevista para dentro do art. 213. 0 crime, portanto, continua existindo, hoje
com o nome de estupro.
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resultado, igualmente conhecida como teoria do evento ou do efeito, refere que o
crime é praticado no momento da produção do resultado;
c) para a teoria mista ou da ubiquidade, tempus delicti é, indiferentemente, o
momento da conduta ou o da produção do resultado.
-IMPORTANTE;
-O Código Penati btäSiléiiiöÌ -ädOtou .teötiiæ daatividãdeg•
n
Crimes c:óntlllüados e„permanentes aplica•se: .æinteligência: da; Súmula;
711 do STF: "Mei penal maisžgrav,e aplica-se: ou. ao. crime permanente; sua
cessâçãd Cbñtiñuidådë da permanência".
I
, /exr,ndre Sofirn e André de
5.2. Lei penal no espaço
5.2.1. Introdução
Existem cinco princípios que procuram solucionar os conflitos de leis penais no
espaço, a saber: territorialidade, nacionalidade, defesa, justiça penal universal e
representação. 0 Código Penal brasileiro adotou, como regra, o princípio da
territorialidade, sendo os demais acolhidos como exceção.
5.2.2. Territorialidade
a) Princípio da territorialidade
Aplica-se a lei penal somente no Estado que a determinou, desimportando a
nacionalidade do sujeito ativo do crime ou a titularidade do bem jurídico
ofendiclo. Divide-se em territorialidade absoluta e territorialidade temperada.
Para o primeiro, só a lei penal brasileira é aplicável aos crimes cometidos ro
território nacional. Segundo a territorialidade temperada, a lei brasileira é
aplicada, como regra, ao crime cometido no território nacional. No entanto,
excepcionalmente, a lei estrangeira poderá ser aplicada a delitos cometidos no
território nacional, total ou parcialmente, quando houver determinação em
tratado ou convenção internacional. Está-se diante do instituto conhecido como
intraterritorialidade, vez que a lei estrangeira estaria sendo aplicada dentro do
território nacional.
ilMPõatANTE
OkÞt;iitCíþib? ådótädðr BtåSitlr SèiöbSéÑå
-CãÞt1t$,ž -dds
60
b) Conceito de território nacional
Sentido jurídico: espaço sujeito à soberania do Estado,
Sentido material, efetivo ou real: o território abrange a superfície terrestre (solo
e subsolo), as águas interiores, o mar territorial (12 milhas marítimas a partir da
baixa-mar do litoral continental e insular Lei no 8.617/93, art. 1 0) e o espaço
aéreo correspondente (teoria da soberania sobre a coluna atmosférica). No caso
de território neutro, aplica-se a lei do país do agente.
Território por extensão ou flutuante: para os efeitos penais, consideram-se como
extensão do território nacional:
as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem (CP, art. 50, § 10, 1a parte).
as aeronaves e as embarcações brasileiras (matriculadas no Brasil), mercantes
ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no
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cap.l TEORIA GERAL DA NORMA PENAL
espaço aéreo correspondente ao alto-mar ou em alto-mar (CP, art. 50, § 1 0, 2a
parte). 0 dispositivo está de acordo com a "lei da bandeira" ou o "princípio do
pavilhão, da representação, da substituição ou subsidiário".
5.2.3. Lugar do crime
A exata determinação do lugar em que o crime se considera praticado (locus
commissi delicti) é decisiva em relação à competência penal internacional.
Para a solução do problema a doutrina distingue três teorias: a) teoria da
atividade (da ação ou da conduta): considera-se cometido o crime onde tiver sido
executada a conduta; b) teoria do resultado (do evento ou do efeito): locus
delicti é o lugar da produção do resultado; c) teoria da ubiquidade (ou mista ou
unitária): o crime se considera qualquer dos momentos do, iter, seja no lugar da
prática dos atos executórios, seja no lugar da consumação.
5.2.4. Extraterritorialidade
É a aplicação da lei penal brasileira aos crimes praticados no exterior (art. 70 do
CP). A extraterritorialidade pode ser incondicionada ou condicionada.
IMPORTANTE
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a) Extraterritorialidade Incondicionada
Está prevista nas hipóteses do inciso I do artigo p do Código Penal, que tratam:
dos crimes cometidos no estrangeiro contra a vida ou a liberdade do Presidente
da República; contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,
de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação estatuída pelo Poder Público; contra a
administração pública, por quem está a seu serviço; e de genocídio, quando o
agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Diz-se incondicionada a
extraterritorialidade excepcional da lei penal brasileira, em tais casos, porque a
sua aplicação não depende de qualquer requisito, em face da importância dos
bens jurídicos tutelados.
b) Extraterritorialidade Condicionada
Aplica-se a lei nacional a determinados crimes cometidos fora do território, desde
que haja o concurso de algumas condições (art. p, II, e 2 0 e 30, do CP). São os