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>PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL

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Warley Belo

Advogado Criminalista em Belo Horizonte/MG,Mestre em Ciências Penais/UFMG,Membro da


Comissão para Assuntos Penitenciários da OAB/MG,Professor de Graduação e Pós-
Graduação.

O princípio da reserva legal não é sinônimo do princípio da legalidade, senão espécie. “A


doutrina não raro confunde ou não distingue suficientemente o princípio da legalidade e o da
reserva de lei. O primeiro significa a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da
esfera estabelecida pelo legislador. O segundo consiste em estatuir que a regulamentação de
determinadas matérias há de se fazer necessariamente por lei formal”11 1. SILVA, José
Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 422. Sobre
a exigência de lei formal em direito penal, cf. PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal
brasileiro: parte geral. São Paulo: RT, 1999. p. 90; BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de
direito penal. 5. ed. São Paulo: RT, 1999. p. 40.

Ao princípio da reserva legal, a Constituição exige conteúdo específico. Ao princípio da


legalidade, a Constituição outorga poder amplo e geral sobre qualquer espécie de relação.
“Tem-se, pois, reserva de lei, quando uma norma constitucional atribui determinada matéria
exclusivamente à lei formal (ou a atos equiparados, na interpretação firmada na praxe),
subtraindo-a, com isso, à disciplina de outras fontes, àquela subordinadas”22 2. STARCK,
Christian. Lezioni di diritto constituzionale, v. II, t. I, p.52, citado por SILVA, José Afonso da.
Op. cit., p. 422.

O art. 5º, II, CF prevê que: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei”. Trata-se de lei em sentido amplo, ou seja, qualquer ato normativo
editado pelo Poder Legislativo (Constituição, leis complementares, leis ordinárias e
resoluções) ou, excepcionalmente, pelo Poder Executivo (medidas provisórias e leis
delegadas). Aqui temos a salva-guarda do amplo princípio da legalidade.
Já o princípio da reserva ( lex populi) é mais restrito. Refere-se especificamente à emenda, à
lei complementar, etc. para regular determinado assunto. “Se todos os comportamentos
humanos estão sujeitos ao princípio da legalidade, somente alguns estão submetidos ao da
reserva da lei. Este é, portanto, de menor abrangência, mas de maior densidade ou conteúdo,
visto exigir o tratamento de matéria exclusivamente pelo Legislativo, sem participação
normativa do Executivo” 33 3. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria
geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil,
doutrina e jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003 (Coleção temas jurídicos; 3).
.
Até bem pouco tempo atrás a Parte Especial do nosso atual Código Penal e a Lei de
Contravenções Penais alcançavam vigência como decreto-lei. Seria comparativamente, hoje,
aceitar a modificação maléfica ou criação de crimes por medida provisória 44 4. Ver art. 62, §
1º, I, b, CF/1988 ou lei delegada.

Quando a Carta, em seu art. 5º, XXXIX, estabelece que não haverá crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal, estamos diante de uma matéria reservada à
lei formal. Somente a União, privativamente, por meio de seu Poder Legislativo, poderá
discipliná-la (art. 22, I, CF). “A garantia da lex populi exige que, em matéria penal
incriminadora, a lei respectiva siga estritamente o procedimento legislativo constitucional da
lei ordinária”55 5. GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos de. Direito penal:
parte geral. São Paulo: RT, v. 2, 2007. p. 59.

Fica vedada a interferência dos Estados-membros ou Municípios, assim como a ingerência do


Executivo ou Judiciário, na criação de crimes e penas 66 6. “Crime de responsabilidade.
Definição. Reserva de lei. Entenda-se que a definição de crimes de responsabilidade,
imputáveis embora às autoridades estaduais, é matéria de Direito Penal, da competência
privativa da União – como tem prevalecido no Tribunal – ou, ao contrário, que sendo matéria
de responsabilidade política de mandatários locais, sobre ela possa legislar o Estado-membro
– como sustentam autores de tomo -, o certo é que estão todos acordes em tratar-se de
questão submetida à reserva de lei formal, não podendo ser versada em decreto-legislativo da
Assembléia Legislativa.” (STF, ADIn 834-0, Plenário, Rel. Sepúlveda Pertence, J. 18.02.1999,
DJU 09.04.1999, p. 2)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – LEI Nº 6.570/2003 DO ESTADO DO PARÁ –


SERVIÇOS DE LOTERIAS – REGRAS DE EXPLORAÇÃO – SISTEMAS DE CONSÓRCIOS E SORTEIOS E
DIREITO PENAL – COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE A MATÉRIA –
INCONSTITUCIONALIDADE – 1. Ao mencionar ‘sorteios’ o texto da Constituição do Brasil está
aludir ao conceito de loteria. Precedente. 2. Lei estadual que disponha sobre espécies de
sorteios usurpa competência exclusiva da União. 3. Flagrante incompatibilidade entre a lei
paraense e o preceito veiculado pelo art. 22, inciso X, da CB/1988. 4. A exploração de
loterias constitui ilícito penal. A isenção à regra que define a ilicitude penal da exploração da
atividade vinculada às loterias também consubstancia matéria de Direito Penal. Compete
privativamente à União legislar sobre Direito Penal – art. 22, inciso I, CB/1988. 5. Pedido de
declaração de inconstitucionalidade procedente.” (ADIn 3259/PA, TP, Rel. Min. Eros Grau, J.
16.11.2005, DJ 24.02.2006, p. 00005, v. 02222-01, p. 00157)

Referência eletrônica desta doutrina:


Autor: Warley Belo Título: PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. Disponível
em:http://www.iobonlinejuridico.com.br. Acesso em: 25.6.2008

Renato Gomes de Oliveira

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