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Direito Penal I – Prof.

ª Fabiana Ribeiro

Aula 3 – PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

1. Conceito

Princípios são a base para a criação de todo o sistema jurídico, ou seja, são
fontes interpretativas e de integração das normas constitucionais. Nas exatas
palavras do professor Cleber Masson:

Os princípios têm a função de orientar o legislador


ordinário, e também o aplicador do Direito Penal, no intuito
de limitar o poder punitivo estatal mediante a imposição de
garantias aos cidadãos. (MASSON, 2019 pg. 97)

Portanto, os princípios têm como finalidade impor limites ao poder estatal em se


tratando de intervenção na vida privada de cada indivíduo, garantindo tratamento
humano e igualitário entre todos. Vale lembrar que os princípios encontram
garantia constitucional, ou seja, estão dispostos na Constituição Federal.

2. Princípio da dignidade da pessoa humana

Como mencionado acima os princípios são assegurados pela Constituição


Federal, ou seja, são garantias para todos os cidadãos. O artigo 1º da
Constituição Federal traz princípios fundamentais norteadores de nosso Estado
Democrático de Direito e, entre eles se encontra o princípio da dignidade da
pessoa humana, expresso no inciso III.

De acordo com o escólio (explicação) do professor Cesar Roberto Bitencout, o


sobredito princípio:

[...] representa o inequívoco reconhecimento de todo


indivíduo pelo nosso ordenamento jurídico, como sujeito
autônomo, capaz de autodeterminação e passível de ser
responsabilizado pelos seus próprios atos. Trazendo
consigo a consagração de que toda pessoa tem a legítima
pretensão de ser respeitada pelos demais membros da
sociedade e pelo próprio Estado, que não poderá interferir
no âmbito da vida privada de seus súditos, exceto quando
esteja expressamente autorizado a fazê-lo. (BITENCOUT,
2020 pg.118)

Assim, a Constituição Federal assegura, por meio do princípio da dignidade da


pessoa humana, que todos os cidadãos devem ser respeitados, inclusive pelo
Estado.

Cumpre esclarecer que este é o princípio mais importante do nosso ordenamento


jurídico, uma vez que visa proteger a vida, a liberdade, a dignidade, a integridade
física e moral e a segurança.

Note-se, o dever de respeito garantido constitucionalmente engloba todos os


bens jurídicos mencionados acima.

Nessa linha, no que toca ao direito penal, tendo em vista sua função de
descrever condutas tidas como reprováveis perante a sociedade e impor penas,
necessário estabelecer limites ao Estado quanto ao seu dever de punir,
principalmente, em se tratando de crimes de grande comoção social (Ex. caso
Isabella Nardoni).

Veja-se, é extremamente importante que seja observado o princípio da dignidade


da pessoa humana, haja vista a Constituição Federal, também, assegura a
humanização da pena em seu artigo 5º, inciso III: ninguém será submetido a
tortura nem a tratamento desumano ou degradante, de forma que é inadmissível
que a sociedade retroaja aos tempos dos bárbaros (Lei de Talião – olho por olho,
dente por dente).

3. Princípio da legalidade e princípio da reserva legal

O princípio da legalidade, bem como o da reserva legal se encontram previstos


no artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal: não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
Do mesmo modo o artigo 1º do Código Penal:

Anterioridade da Lei

Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.

Como já mencionado nos parágrafos anteriores, o sobredito princípio traz limites


à atuação estatal, controle punitivo, ante a gravidade dos meios empregados na
repressão de condutas tidas como criminosas, ou seja, a intervenção nos direitos
básicos dos cidadãos, como, por exemplo, a liberdade.

O professor Cesar Roberto Bitencout aduz em sua obra Tratado de Direito Penal
que:

Em termos bem esquemáticos, pode-se dizer que, pelo


princípio da legalidade, a elaboração de normas
incriminadoras é função exclusiva da lei, isto é, nenhum
fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal
pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato
exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a
sanção correspondente. A lei deve definir com precisão e
de forma cristalina a conduta proibida. Assim, seguindo a
orientação moderna, a Constituição brasileira de 1988, ao
proteger os direitos e garantias fundamentais, em seu art.
5º, inc. XXXIX, determina que “não haverá crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal”. (BITENCOUT, 2020 pg. 120)

No que toca ao princípio da reserva legal, o professor expressa que:

Quanto ao princípio de reserva legal, este significa que a


regulação de determinadas matérias deve ser feita,
necessariamente, por meio de lei formal, de acordo com as
previsões constitucionais a respeito. Nesse sentido, o art.
22, I, da Constituição brasileira estabelece que compete
privativamente à União legislar sobre Direito Penal.
(BITENCOUT, 2020 pg. 120)

Nesse sentido, podemos afirmar que somente a lei tem exclusividade para criar
crimes/contravenções penais e cominação (imposição) de pena.

A propósito o professor Cleber Masson, também, ensina sobre o princípio,


confira-se:
Preceitua, basicamente, a exclusividade da lei para a
criação de delitos (e contravenções penais) e cominação
de penas, possuindo indiscutível dimensão democrática,
pois revela a aceitação pelo povo, representado pelo
Congresso Nacional, da opção legislativa no âmbito
criminal. De fato, não há crime sem lei que o defina, nem
pena sem cominação legal (nullum crimen nulla poena sine
lege).

Atenção: Nos termos do artigo 62, §1, inciso I, alínea ‘b’ da Constituição Federal,
é vedada a criação de medida provisória (MP) sobre matéria de direito penal.

4. Princípio da intervenção mínima

Como já mencionado acima, o princípio da legalidade impõe limites na atuação


do Estado, todavia, esses limites não impedem a criação de
crimes/contravenções penais com consequentes sansões.

Esta limitação visa tão somente impedir a cominação de sanções cruéis e


degradante, obrigando o Estado a respeitar o conteúdo das normas penais
incriminadoras.

Nessa linha, o professor Cesar Roberto Bitencout aduz em sua obra Tratado de
Direito Penal que:

O princípio da intervenção mínima, também conhecido


como ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do
Estado, preconizando que a criminalização de uma
conduta só se legitima se constituir meio necessário para a
prevenção de ataques contra bens jurídicos importantes.
Ademais, se outras formas de sanção ou outros meios de
controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse
bem, a sua criminalização é inadequada e não
recomendável.
Portanto, o Direito Penal somente poderá intervir se outras
medidas cíveis ou administrativas não forem suficientes para resguardar o bem
jurídico, de forma que deve-se esgotar todos os meios extrapenais.

5. Do Princípio da Fragmentariedade

Seguido do princípio da intervenção mínima temos o princípio da


fragmentariedade, ou seja, não se pode usar o Direito Penal para tutelar
(proteger) qualquer bem jurídico, de forma que, também, por este, é estabelecido
limites.

Nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são


proibidas pelo Direito Penal, como nem todos os bens
jurídicos são por ele protegidos. O Direito Penal limitasse a
castigar as ações mais graves praticadas contra os bens
jurídicos mais importantes, decorrendo daí o seu caráter
fragmentário, uma vez que se ocupa somente de uma parte
dos bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica
(BITENCOUT, 2020 pg. 130)

Assim, o princípio da fragmentariedade seleciona a


proteção do bem jurídico, limitando-se a importância e gravidade, de forma que
exclui da punibilidade, por exemplo, ações consideradas imorais como a
infidelidade ou a mentira.

6. Princípio da Insignificância

Conforme leciona o professor Cleber Massaon pelo princípio da insignificância


os Tribunais e Juízes não devem se ocupar de assuntos irrelevantes, ou seja,
quando a conduta não foi capaz de causar o mínimo de lesão (colocar em perigo
o bem jurídico).
É certo que a ofensa ao bem jurídico deve ser de gravidade, de forma que há
descriminalização de condutas que, embora consideradas crimes, não atinge de
forma relevante o bem jurídico tutelado pelo Direito Penal.

Veja-se, não se pode confundir condutas insignificantes com contravenções


penais, haja vista estas, embora de menor potencial ofensivo, já sofreram
valoração pela lei, ou seja, são social e penalmente relevantes.

Assim, a insignificância ou irrelevância não é sinônimo de pequenos crimes ou


pequenas infrações, mas se refere à gravidade, extensão ou intensidade da
ofensa produzida a determinado bem jurídico penalmente tutelado,
independentemente de sua importância. A insignificância reside na
desproporcional lesão ou ofensa produzida ao bem jurídico tutelado, com a
gravidade da sanção cominada. (BITENCOUT).

Exemplificativamente, a redação do art. 155, caput, do Código Penal – subtrair,


para si ou para outrem, coisa alheia móvel” – abarca qualquer objeto material,
independentemente do seu valor e da importância para seu titular. Mas, é
evidente, o Direito Penal não presta a tutelar a subtração de um grampo de
cabelo ou de uma folha de papel. Não há falar em crime de furto em tais
situações. – exemplo do professor Cleber Masson, 2019, pg. 102.

Ainda, o STF listou requisitos subjetivos para que os magistrados possam se


basear quando da aplicação do princípio da insignificância, veja-se:

• Mínima ofensividade da conduta (furto de um grampo)

• Ausência de periculosidade social da ação (furto de uma cueca furada no


varal)

• Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento (subtrair guarda-


chuva que estava em um carro destrancado)

• Inexpressividade da lesão jurídica (subtrair uma caneta bic)


Vale lembrar ainda, que, também, poderá ser observado requisitos objetivos,
como por exemplo a reincidência, a vida pregressa do autor do fato típico.

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