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Nessa nossa primeira aula, veremos qual a razão de ser deste tal de Direito Penal, sua
definição, as fontes que o originam, sua relação com outros ramos do direito, e suas formas
de interpretação. Essa primeira etapa é importante para que possamos responder algumas
questões básicas, tais como:
Sendo assim: o fato social que for de encontro aos limites estabelecidos pelo ordenamento
jurídico dará origem ao “ilícito jurídico”, cuja modalidade mais grave é o ilícito penal. E isso
se diz pois o ilícito penal atenta contra os bens mais importantes da vida social, tais como: a
vida, a integridade física, a incolumidade pública, etc...
Preste atenção: esta conceituação nos serve para estabelecermos uma ideia inicial, e
generalizada, do Direito Penal, contudo, temos que admitir que não esgota todo o Universo
do Direito Penal. E por isso, achamos por bem completar nossa conceituação de Direito Penal
através do Ilustre penalista José Frederico Marques, que assim lecciona:
“Direito Penal é o conjunto de normas que ligam, ao crime como fato, a pena como
consequência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a
aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder
de punir do Estado.”
É importante que se tenha em mente que o Direito Penal não atua isolado. Como qualquer
disciplina jurídica, ele interage com outros ramos de maneira mais íntima do que se possa
imaginar. Em outras palavras: a aplicação do Direito Penal está directamente relacionada com
conceitos e regras inseridos em outras disciplinas.
Isto porque: em face do princípio da supremacia da constituição, o Direito Penal deve nela
se espelhar. Deve-se também levar em consideração que, segundo o Profº Mirabete, como o
crime é um conflito entre os direitos do indivíduo e da sociedade, é na Constituição que se
encontram as normas específicas para resolvê-lo.
Sendo assim: é inegável que a Constituição exerce grande influência nas normas punitivas,
sendo que, temos por bem que se atente, agora, à alguns dos incisos do artigo 5º que se
relacionam mais intimamente com o Direito Penal. Vamos aos dispositivos:
: Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
: A Lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
: Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do património transferido.
Direito Administrativo: se levarmos em consideração que a função de punir não é apenas
jurisdicional, mas também “administrativa”1, evidente ficará a relação do Direito Penal com
este ramo do ordenamento jurídico. Não podemos, também, nos esquecer que a lei penal é
aplicada através de agentes administrativos.
Direito Processual Penal: É através deste ramo do direito, também conhecido como Direito
Penal Adjectivo, que irá se efectivar a aplicação da lei penal. O processo penal é o
instrumento hábil para que se realizem, na prática, os preceitos contidos no estatuto
repressivo.
Direito Civil: também não há que se duvidar da relação do Direito Penal com este ramo do
Direito. Em princípio porque um mesmo fato pode constituir um ilícito penal, e obrigar, ao
mesmo tempo, à uma reparação civil, que será arbitrada de acordo com critérios inseridos no
Lei Civil.
Por exemplo: O atropelamento doloso constitui uma infracção à lei civil, no tocante aos
danos pessoais sofridos pela vítima, e poderá acarretar, assim uma obrigação de indemnizar,
por parte do agente. Mas ao mesmo tempo será um ilícito penal, que por sua vez poderá
originar uma sanção mais grave. Isso sem contar que muitos conceitos inseridos em tipos
penais são fornecidos pelo Direito Civil, como por exemplo:
1. Casamento
2. Ascendente
3. Descendente
4. Cônjuge
Direito Comercial: por mais incrível que possa parecer, o Direito Penal também se relaciona
com este ramo, uma vez que o Código Penal tutela institutos como o cheque e a duplicata, os
quais, como bem se sabe, são institutos regulados pelo Direito Comercial.
Direito do Trabalho: o Direito Penal com este se relaciona em dois aspectos: em primeiro
lugar porque tipifica os crimes contra a organização do trabalho.
3. Fontes do Direito Penal
Fontes Materiais (ou de Produção): estas dizem respeito ao órgão encarregado da elaboração
do Direito Penal. Para sabermos quem é o órgão competente para a elaboração das leis
penais, devemos fazer uma leitura aos artigos da CRM mas concretamente as competências
da Assembleia da Republica de Moçambique:
Preste atenção: é importante que se tenha em mente que a lei é a única fonte imediata de
conhecimento. Como bem salientava Mezger,“só a lei abre as portas da prisão”.
Saiba que: o Direito Penal, ao contrário do que comumente se imagina não proíbe condutas,
e sim, as descreve. Peguemos como exemplo o artigo 159, “caput”2 do Código Penal, que
assim preceitua:
2 Furto
3 Art. 270. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
Pena – reclusão que varia entre 6 meses ( seis ) a 12 ( dose ) anos, e multa.
Note que: esta técnica legislativa é oriunda do princípio da reserva legal, que determina não
haver crime sem lei que o defina.
Sendo assim: uma vez compreendidos os pontos principais da técnica legislativa do Direito
Penal, não nos parecerá absurda a ideia de que o criminoso age “de acordo com a lei”. Ou
seja: o criminoso age de acordo com a lei, e contra o mandamento proibitivo implícito no tipo
penal.
Saiba, no entanto, que: esta técnica legislativa é empregada apenas com respeito às normas
penais incriminadoras, que são aquelas que definem crimes e cominam sanções. Em relação
as demais normas penais, também denominadas de não-incriminadoras, a técnica legislativa
é diferente. Isso porque o preceito imperativo, a regra primária, aparece de forma expressa, e
não implícita.
Tenha em mente, portanto, que: no que se refere à técnica legislativa empregada no Direito
Penal, se destacam duas ideias principais, a saber:
Preste muita atenção: no tocante à técnica legislativa do Direito Penal, convém que
exponha, ainda, que os tipos penais, com excepção dos delitos culposos4, são tipos fechados.
Ou seja: a ilicitude da conduta é auferida de maneira objectiva. Não há que se falar em crime
por extensão. Ou uma conduta está tipificada ou não está. Acerca deste aspecto, cumpre
atentarmos para as elucidativas lições do Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que podem
assim serem transcritas
“Não existem delitos senão aqueles definidos: os delitos são cunhados em tipos e não há
atitude humana que não seja, ou ato ilícito ou delito.”
Além da fonte formal mediata, que como se viu, é a lei, existem as denominadas fontes
formais mediatas, que compreendem:
1. O costume
2. Jurisprudências
3. Doutrina
O Costume
Este, enquanto fonte indirecta ou subsidiária do Direito Penal, deve ser entendido com
uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de
sua obrigatoriedade. Tem, a doutrina, sustentado que o costume possui os seguintes
elementos ou requisitos:
a – Elemento Objectivo: este se traduz em sendo a constância e uniformidade da prática de
determinados actos.
Saiba ainda que: o costume pode ser classificado de três maneiras, a saber:
1 – Costume Contra Legem: está ligado ao aspecto do desuso, e tende a tornar inaplicáveis
normas vigentes ou criar preceitos que ampliem o rol das justificativas e descriminantes