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Direito Penal
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Terminologia direito penal x criminal: conforme Nucci
(2017) são sinônimas e observa sua utilização: Código
Criminal (1830); Código Penal (1890 e 1940). Demais países,
direito criminal (Grã-Bretanha), ora de direito penal
(Itália).

Código Penal Brasileiro: Decreto-Lei nº 2.848 de 07 de


Dezembro de 1940.

O Direito Penal é formado pela parte geral e pela parte


especial.

Geral: compreende do artigo 1º ao 120. Alterada pela Lei n.


7.209/1984. É responsável por traçar princípios comuns e
orientações gerais que incidirão sobre todas as normas.

Especial: trata dos crimes em espécie (tipos penais), como


o homicídio, o estupro, o furto, estelionato etc.

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL

Doutrinadores como Fernando Capez defendem que do


princípio da dignidade nasce os demais princípios
orientadores e limitadores do Direito Penal.
Para André Estefam e Victor Gonçalves, “a dignidade da pessoa
humana é o mais importante dos princípios constitucionais.
Muito embora não constitua princípio exclusivamente penal, sua
elevada hierarquia e privilegiada posição no ordenamento
jurídico reclamam lhe seja dada a máxima atenção.

A seguir, destaca-se os princípios mais estudados do Direito


Penal:

Insignificância ou bagatela: o Direito Penal não deve se ocupar


de condutas insignificantes, bagatelas, do mesmo modo que
não podem ser admitidos tipos incriminadores que
descrevam condutas incapazes de lesar o bem jurídico.

Entendimento STF:
“(...) - O princípio da insignificância – que deve ser
analisado em conexão com os postulados da
fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em
matéria penal – tem o sentido de excluir ou de afastar a
própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu
caráter material. Doutrina.
Tal postulado – que considera necessária, na aferição do relevo
material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais
como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a
nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo
grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a
inexpressividade da lesão jurídica provocada – apoiou-se, em
seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que
o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe,em
função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção
mínima do Poder Público em matéria penal.

O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam


resultado cujo desvalor – por não importar em lesão
significativa a bens jurídicos relevantes – não represente, por
isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem
jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.”
(RTJ 192/963-964, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

Jurisprudência:

“(...) a receptação de um walk man, avaliado em R$ 94,00, e


o posterior comparecimento do paciente perante à
autoridade policial para devolver o bem ao seu dono,
preenchem todos os requisitos do crime de bagatela, razão
pela qual a conduta deve ser considerada materialmente
atípica.” (HC 91.920, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
julgamento em 9-2-2010, Segunda Turma, DJE de 12-3-
2010.)
“No caso, com bem observou o Superior Tribunal de Justiça,
o paciente ‘(...) invadiu, em plena luz do dia, o
estabelecimento comercial da vítima, escalando uma cerca
de aproximadamente 2,5 metros de altura, para subtrair
uma janela de ferro colocada para venda (...), revelando o
elevado grau de reprovabilidade social de seu
comportamento (...)’, o que torna inaplicável ao caso o
princípio da insignificância.” (HC 97.012, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, julgamento em 9-2-2010, Segunda Turma, DJE de
12-3-2010)

Não se pode, por exemplo, afirmar que todas as


contravenções penais são insignificantes, pois, dependendo
do caso concreto, isto não se pode revelar verdadeiro
Vamos pensar sobre as duas condutas descritas na Lei das
Contravenções Penais (DECRETO- LEI Nº 3.688, DE 3 DE
OUTUBRO DE 1941):

Art. 47. Exercer profissão ou atividade


econômica ou anunciar que a exerce, sem
preencher as condições a que por lei está
subordinado o seu exercício.”

Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:


Pena – prisão simples, de quinze dias a três
meses, ou multa, de cem mil réis a um conto
de réis, se o fato não constitua crime
Alteridade ou transcendentalidade: proíbe a
incriminação de ato subjetivo do agente e que, por essa
razão, que não lesiona bem jurídico alheio.

Segundo Fernando Capez (2011, p. 32-33), “não há lógica


em punir o suicida frustrado ou a pessoa que se açoita, na
lúgubre solidão de seu quarto”

O doutrinador ainda esclarece: “ A Lei n. 11.343/2006 não


tipifica a ação de “usar a droga”, mas apenas o porte, pois o
que a lei visa é coibir o perigo social representado pela
detenção, evitando facilitar a circulação da substância
entorpecente pela sociedade, ainda que a finalidade do
sujeito seja apenas a de uso próprio. Assim, existe
transcendentalidade na conduta e perigo para a saúde da
coletividade”

Ofensividade: a lei penal será aplicada apenas quando


houver a ofensa a bem jurídico protegido, sendo
indiferente se a situação pode ser considerada imoral,
por exemplo.
Igualdade: todos são iguais e deverão ser tratados sem
qualquer distinção.

Presunção de inocência: decorre de que a pena só será


cumprida após o transito em julgado da ação.

Culpabilidade: somente há sanção se houver a
culpabilidade do sujeito ativo.

“Ne bis in idem”: não pode um indivíduo ser punido


mais de uma vez pelo mesmo fato.

Intervenção mínima: a lei só deve intervir somente


quando houver real necessidade.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE:

Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o


defina. Não há pena sem prévia cominação
legal - Código Penal.

Art. 5º, XXXIX não há crime sem lei anterior


que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal - Constituição Federal –
cláusula pétrea, imutável.
A Lei Penal deve ser precisa, detalhada, não sendo admitido
termos genéricos.

Proteção contra arbitrariedade do Estado contra o direito de


liberdade.

No Brasil, este princípio apareceu nas Constituições Federais


de 1824, art. 179, §11; 1891, art. 72, § 15; 1934, art. 113, § 26; 1937,
art. 122; 1946, art. 141,§ 27; 1967, art. 153, § 16; e 1988, art. 5º,
XXXIX.
Anterioridade da lei penal: efeito da anterioridade da
lei penal é a irretroatividade, normas de execução
penal que tornem mais gravoso o cumprimento da
pena, impeçam ou acrescentem requisitos para a
progressão de regime não podem retroagir para
prejudicar o condenado.

Proporcionalidade: a sanção penal deve considerar a


extensão do dano, em cada caso, por exemplo, penas
idênticas para crimes com lesividade diferente.

Humanidade: reflete na norma constitucional que


veda a tortura e de tratamento desumano ou
degradante a qualquer pessoa, proibição da pena de
morte, prisão perpétua, trabalhos forçados.
.

Responsabilidade pelo fato: não há punição de


pensamentos, mas sim fatos devidamente exteriorizados
no mundo concreto e que sejam tipificados.

Proibição da analogia “in malam partem”: decorrente do


princípio da legalidade, proíbe adequação típica por
semelhança eventualmente existente pelos fatos.

 Irretroatividade da lei penal mais servera:

CP: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de
qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado.

CF: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o


réu;

OBJETO
seleciona os comportamentos humanos prejudiciais aos
bens jurídicos: vida, saúde, liberdade, propriedade, etc;
descreve esses comportamentos como infrações
penais;

impõe sanções;

estabelece as regras complementares e gerais


necessárias à sua correta e justa aplicação.

normatividade jurídico-penal limita-se às atividades


finais humanas com a sociedade, razão pela qual situa-
se no âmbito do Direito Público.

Fonte é a origem da norma jurídica. No Direito Penal, pode


ser material ou formal.

Fonte de produção, material ou substancial: o responsável


pela criação da norma, que no Brasil corresponde à União,
a qual tem competência privativa para legislar sobre
direito penal e processual penal (art. 22, I CF).
 Irretroatividade da lei penal mais servera:

CP: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único -
A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,
aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença condenatória transitada em julgado.

CF: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o


réu;

OBJETO

seleciona os comportamentos humanos


prejudiciais aos bens jurídicos: vida, saúde,
liberdade, propriedade, etc;

descreve esses comportamentos como infrações


penais;

impõe sanções;

estabelece as regras complementares e gerais


necessárias à sua correta e justa aplicação.

normatividade jurídico-penal limita-se às


atividades finais humanas com a sociedade, razão
pela qual situa-se no âmbito do Direito Público.
 Fonte é a origem da norma jurídica. No Direito Penal,
pode ser material ou formal.

Fonte de produção, material ou substancial: o responsável


pela criação da norma, que no Brasil corresponde à União,
a qual tem competência privativa para legislar sobre
direito penal e processual penal (art. 22, I CF).

Obs: o parágrafo único do art. 22 autoriza Estados e


Municípios a legislar sobre questões específicas, de forma
que não abrange a possibilidade de criando crimes, causas
extintivas da punibilidade

Obs: Nenhuma matéria de direito penal ou processual


penal poderá ser editada por Medida Provisória (art. 62, §
1º, b CF).

4) FONTE

Fonte é a origem da norma jurídica. No Direito Penal, pode


ser material ou formal.

Fonte de produção, material ou substancial: o responsável


pela criação da norma, que no Brasil corresponde à União,
a qual tem competência privativa para legislar sobre
direito penal e processual penal (art. 22, I CF).

Obs: o parágrafo único do art. 22 autoriza Estados e


Municípios a legislar sobre questões específicas, de forma
que não abrange a possibilidade de criando crimes, causas
extintivas da punibilidade

Obs: Nenhuma matéria de direito penal ou processual


penal poderá ser editada por Medida Provisória (art. 62, §
1º, b CF).

Formal, de cognição ou de conhecimento: como é


exteriorizado o Direito Penal, podendo ser dividida entre
imediata e mediata.

Fonte Formal Imediata: é a lei que descreve a conduta e
prevê sanção. Caracteriza-se por ser descritiva. Exemplo: o
tipo do crime de furto encontra-se no art. 155, do CP
“subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”.

A Lei (fonte formal imediata) pode ser classificada como


incriminadora e não incriminadora, esta, é classificada em
permissivas e final/ complementar/ explicativa.

Lei incriminadora: descreve o crime e atribui pena.

Lei não incriminadora: não descreve o crime, não atribui pena.
Lei não incriminadora permissiva: valida determinada
conduta tipificada na lei incriminadora, por exemplo,
legítima defesa.

Lei não incriminadora final/ complementar ou
explicativa: esclarece o conteúdo de outra norma e
delimita o âmbito de sua aplicação. Exemplo: artigos
1º, 2º do CP.

Normas penais em branco: são normas em que a


cominação da penas está completa, no entanto, o seu
conteúdo é indeterminado, necessitando de
complementação por outra disposição legal ou
regulamentar. Estas são classificadas em:

Normas penais em branco em sentido lato ou


homogêneas: quando o complemento provém da
mesma fonte formal, ou seja, a lei é completada por
outra lei.

Exemplos: CP Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a


existência de impedimento que lhe cause a nulidade
absoluta (impedimentos descritos no Código Civil). P Art.
184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos (lei de
direitos autorais).
Normas penais em branco em sentido estrito ou
heterogêneas: quando o complemento provém de
fonte formal diversa tal qual uma portaria ou um
decreto.

Exemplo: Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à


autoridade pública doença cuja notificação é compulsória
(a doença é definida por regulamento ou portaria do
Ministério da Saúde).

Fontes formais mediatas: costumes, princípios gerais do


direito e formas de interpretação.

Costume: regra não escrita, seguidas de modo
contínua pela coletividade. Não cria delitos, nem
comina penas (princípio da reserva legal/ legalidade).

Princípios gerais do direito: “quando a lei for omissa, o


juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito” (LICC, art.
4º)

Formas de procedimento interpretativo: equidade,
doutrina e jurisprudência
-Equidade: soma de postulados que visa obter a decisão
justa tanto quanto possível.

-Doutrina: atividade dos estudiosos que analisam e


interpretam o Direito e servem como guia na aplicação da
lei.

-Jurisprudência: decisões reiteradas que visam uniformizar


o entendimento em casos que se repetem.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL


 A interpretação da lei penal deve buscar a intenção da lei e
quanto aos sujeitos pode ser autêntica, doutrinária ou
judicial:

 Autêntica ou legislativa: ocorre pelo legislador.


Exemplo: Art. 327 CP - Considera-se funcionário
público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.

 Doutrinária ou científica: ocorrida pelos


pesquisadores.

 Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais.


 Quanto aos meios empregados

Gramatical, literal ou sintática: considera sentido
literal das palavras.

 Histórico: compreensão contextualizada no espaço


e tempo.

Lógica ou teleológica: persegue a vontade da lei.

 Quanto ao resultado

Declarativa: há plena correspondência entre a letra


da lei e a sua vontade.

Restritiva: quando a lei foi além da sua vontade.

Extensiva: a lei não correspondeu a sua vontade


(aqui não significa analogia).

Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva.

ANALOGIA
Consiste em aplicar-se a uma hipótese não regulada por lei
disposição relativa a um caso semelhante (CAPEZ, 2011, p.
53). Mecanismo utilizado em situações de lacuna.

Analogia in bonam partem e in malam partem:
somente aplica-se analogia in bonam partem ao
Direito Penal, isto é, a que é usada em benefício do
sujeito ativo da infração penal, restringindo o direito
de punir do Estado. A analogia in malam partem, não
será aplicada pois traria prejuízo ao sujeito ativo da
infração penal, pois criaria de delitos não tipificados
poderiam agravar a punição, por exemplo.

Espécies:

 Jurídica - a hipótese é regulada por princípio extraído do


ordenamento jurídico em seu conjunto.
 Legal - o caso é regido por norma reguladora de hipótese
semelhante.

Distinção: analogia x interpretação extensiva x


interpretação analógica
Analogia: inexiste norma reguladora para a hipótese.

Interpretação extensiva: existe norma regulando o
caso, e o intérprete amplia seu significado além do que
estiver consignado expressamente.

Interpretação analógica: situação para qual existe
norma tipificadora (o que não ocorre na analogia) de
forma expressa e completa (não é o caso da
interpretação extensiva), contudo com algum ponto
genérico, demandando, pois, a interpretação.

Exemplo: CP - Art. 121 § 2º Se o homicídio é cometido:


IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação
ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido. No caso, outro
recurso, só pode ser interpretado com base nas demais
hipóteses (emboscada/ dissimulação).

CP - Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o


período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA

 Lei temporária: é a feita para vigorar em um período de


tempo pré-determinado pelo legislador.

Lei excepcional: vigora em períodos anormais, como


guerra, calamidades, pandemia etc. Sua duração coincide
com a do período (dura enquanto durar a guerra, a
calamidade etc.).

 Características:

Autorrevogáveis: constitui exceção, pois em regra,


uma lei somente pode ser revogada por outra lei,
posterior.

Ultrativas: possibilidade de uma lei se aplicar a um fato


cometido durante a sua vigência, mesmo após a sua
revogação.

Análise de caso da pandemia atual: Alteração do


complemento da norma penal em branco com
característica ultrativa.

CP Art. 268- Infringir determinação do poder público,


destinada a impedir introdução ou propagação de doença
contagiosa.
Lei 13.979/20 - Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei,
considera-se:
II - quarentena: restrição de atividades ou separação de
pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não
estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais,
meios de transporte ou mercadorias suspeitos de
contaminação, de maneira a evitar a possível
contaminação ou a propagação do coronavírus) .

Portaria 356/2020 - Art. 3º A medida de isolamento


objetiva a separação de pessoas sintomáticas ou
assintomáticas, em investigação clínica e laboratorial,
de maneira a evitar a propagação da infecção e
transmissão local.

§ 1º A medida de isolamento somente poderá ser


determinada por prescrição médica ou por
recomendação do agente de vigilância epidemiológica,
por um prazo máximo de 14 (quatorze) dias, podendo se
estender por até igual período, conforme resultado
laboratorial que comprove o risco de transmissão.

Trata-se de norma penal em branco que necessita


de dois complementos:
O primeiro ocorreu pela Lei 13.979/2020, prevendo a
viabilidade de se decretar o isolamento, a quarentena
e outras medidas restritivas da liberdade individual e
empresarial, e o segundo, correu por meio da edição
da Portaria n. 356/2020 pelo Ministério da Saúde
(NUCCI, 2020).

O complemento deste tipo incriminador é


ultrativo, nos termos do art. 3º do Código Penal,
porque, superada a crise e afastada a medida
restritiva imposta pelo poder público, quem a
tiver infringido, quando a determinação estava
em vigor, continuará a responder criminalmente
pelo que fez. Afinal, gerou perigo à saúde pública,
lesionando o bem jurídico tutelado (NUCCI,2020).

Alteração do complemento da norma penal em branco:


“Quando se vislumbrar no complemento a
característica da temporariedade, típica das normas de
vigência temporária, também se operará a sua
ultratividade. Nessa hipótese, o comando legal era para
que a norma não fosse desobedecida naquela época, de
maneira que quaisquer modificações ulteriores serão
impassíveis de alterar a estrutura do tipo. Finalmente,
ante o exposto, não interessa se o complemento advém
de lei ou de ato infralegal, pois a retroatividade
depende exclusivamente do caráter temporário ou
definitivo da norma” (CAPEZ, 2011, p.87)
OBJETIVO
Nesta segunda aula do curso de Introdução ao Direito
Penal, o(a) aluno(a) aprenderá:

Como se dá a eficácia temporal e espacial da lei penal, a


sua aplicação em relação a pessoas que exercem
determinadas funções, a eficácia da sentença
estrangeira, contagem de prazo e noções breves sobre a
caracterização do fato típico. Por fim, serão
analisados alguns casos e exemplos práticos em paralelo
ao objeto de estudo.

TEMPO DO CRIME
CP - Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado.

Exemplo: um menor com 17 anos e 11 meses esfaqueia


uma senhora, que vem a falecer, em consequência desses
golpes, 3 meses depois. Não responde pelo crime, pois era
inimputável à época da infração (art. 27 do CP). No caso de
crime permanente, como a conduta se prolonga no
tempo, o agente responderia pelo delito. Assim, se o
menor, com a mesma idade da hipótese anterior,
sequestrasse a senhora, em vez de matá-la, e fosse preso
em flagrante 3 meses depois, responderia pelo crime, pois
o estaria cometendo na maioridade.
Entretanto, em matéria de prescrição, o Código Penal
adotou a teoria do resultado. O lapso prescricional
começa a correr a partir da consumação, e não do dia em
que se deu a ação delituosa (CP, art. 111, I). Entretanto, em
se tratando de redução de prazo prescricional, no caso de
criminoso menor de 21, aplica-se a teoria da atividade (v.
CP, art. 115, primeira parte) (CAPEZ, 2011, p. 88-89).

TERRITORIALIDADE
Regra geral: independe a nacionalidade do sujeito ativo ou
passivo
CP - Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de
convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional.

Extensão do território nacional:


§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do
território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde
quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar.
§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a
bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de
propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território
nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em
porto ou mar territorial do Brasil.

Princípio da territorialidade temperada: aplicável ao Brasil,
ordenamento penal brasileiro é aplicável aos crimes cometidos
no território nacional, de modo que todos ficarão sujeitos à lei
penal brasileira por fatos criminosos aqui praticados, salvo
quando normas de direito internacional dispuserem em sentido
contrário.

Território nacional: considerando o aspecto material,


corresponde a todo o espaço delimitado pelas fronteiras
geográficas; pelo aspecto jurídico, abrange todo o espaço
em que o Estado exerce a sua soberania tais como:

a) Solo ocupado pela corporação política.


b) Rios, lagos, mares interiores, golfos, baías e portos.
c) Mar territorial: é a faixa de mar exterior ao longo da
costa, que se estende por 12 milhas marítimas de largura,
medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e
insular brasileiro (art. 1º da Lei n. 8.617 de 4 de janeiro de
1993 - ).
Lei 8.617 - Art. 2º: A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial,
ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo.

Zona contígua: faixa que se estende das 12 às 24 milhas marítimas, na


qual o Brasil poderá tomarvmedidas de fiscalização, a fim de evitar
ou reprimir infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais,
de imigração ou sanitários, no seu território ou mar territorial (arts.
4º e 5º da Lei n. 8.617).

Situações de não incidência da lei a fatos cometidos no Brasil

Imunidades diplomáticas: o diplomata é dotado de


inviolabilidade pessoal, não pode ser preso, nem
submetido a qualquer procedimento ou processo, sem
autorização de seu país. As sedes diplomáticas, não são
extensão do território do país em que se encontram, mas
são dotadas de inviolabilidade, como garantia dos
representantes estrangeiros. Não haverá inviolabilidade,
contudo, se o crime for cometido no interior de um
desses locais por pessoa estranha à diplomação.

Entes abrangidos pela imunidade diplomática: agentes


diplomáticos (embaixador, secretários da embaixada,
pessoal técnico e administrativo das representações);

Componentes da família dos agentes diplomáticos;
funcionários
das organizações internacionais (ONU, OEA etc.) quando
em serviço; chefe de Estado estrangeiro que visita o
País, inclusive
os membros de sua comitiva.

Empregados particulares dos agentes diplomáticos:
não gozam de imunidade, ainda que sejam da mesma
nacionalidade deles. (CAPEZ, 2011, p. 105).

Nota: o crime e suas consequências não são excluídos, apenas


coloca os titulares fora da jurisdição criminal do Estado onde
estão creditados, submetendo-os às de seus países. (Jesus, D.,
2008, p. 139)

RHC – Recurso em Habeas Corpus 34029


Ementa:

IMUNIDADE DIPLOMATICAS; ISENÇÃO DA JURISDIÇÃO


CRIMINAL. RESTRINGEM-SE AS IMUNIDADES E ISENÇÕES
AOS ASSUNTOS DIPLOMATICOS, AO PESSOAL "OFICIAL"
DA MISSAO E AOS MEMBROS DAS RESPECTIVAS
FAMILIAS; EXCLUIDOS SÃO ASSIM, DOS BENEFÍCIOS, OS
SECRETARIOS PARTICULARES, DATILOGRAFOS,
MORDOMOS, CRIADOS OU MOTORISTAS, QUE
CONSTITUEM O PESSOAL "NÃO OFICIAL".
QUANDO EXTENSIVOS LHES FOSSEM, PRIVILEGIO QUE
E COMBATIVO POR AUTORIDADES NA MATÉRIA,
NECESSARIO FORA QUE PERTENCESSEM A MESMA
NACIONALIDADE DO CHEFE DA MISSAO.
COMPETÊNCIA DAS JUSTIÇAS LOCAIS PARA CONHECER
E DECIDIR SOBRE IMUNIDADES INVOCADAS.
INTELIGENCIA DO ARTIGO 101, I, C, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. (RHC 34029, Relator(a): EDGARD COSTA,
Tribunal Pleno, julgado em 04/04/1956, DJ 19-07-1956 PP-
08420 EMENT VOL-00262-01 PP-00137 ADJ 11-03-1957 PP-
00764)

LUGAR DO CRIME
CP - Art. 6.º Considera-se praticado o crime no lugar em que
ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Teorias sobre o lugar do crime:

atividade: considera-se local do delito aquele onde foi


praticada a conduta (atos executórios);

resultado: o lugar do crime é aquele onde ocorreu o


resultado (consumação);

mista ou da ubiquidade: é lugar do crime tanto onde houve


a conduta, quanto o local onde se deu o resultado
(compatível com o art. 6.º - CP).
 Crimes contra a honra cometidos na internet:

Crime contra a honra. Calúnia. Ofensas publicadas em


blog na internet. Competência do local onde está sediado
o servidor que hospeda o blog. 1. O art. 6.º do Código Penal
dispõe que o local do crime é aquele em que se realizou
qualquer dos atos que compõem o iter criminis. Nos
delitos virtuais, tais atos podem ser praticados em vários
locais. 2. Nesse aspecto, esta Corte Superior de Justiça já
se pronunciou no sentido de que a competência
territorial se firma pelo local em que se localize o
provedor do site onde se hospeda o blog, no qual foi
publicado o texto calunioso. 3. Na hipótese, tratando-se
de queixa-crime que imputa prática do crime de calúnia,
decorrente de divulgação de carta em blog, na internet, o
foro para processamento e julgamento da ação é o do
lugar do ato delituoso, ou seja, de onde partiu a
publicação do texto tido por calunioso. Como o blog
denominado Tribuna Livre do Juca está hospedado na
empresa NetRevenda (netrevenda.com), sediada em São
Paulo, é do Juízo Paulista, ora suscitante, a competência
para o feito em questão. 4. Conflito conhecido para
declara competente o Juízo de Direito da Vara do Juizado
Especial Criminal do Foro Central da Barra Funda – São
Paulo-SP, o suscitante” CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº
125.125 - SP (2012/0214861-1) – STJ.
Crime permanente ou crime continuado: segue-se a
regra do art. 71 do Código de Processo Penal, isto é,
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção. (Ex: CP - Art.
148 – Privar alguém de sua liberdade, mediante
sequestro ou cárcere privado)

Quando incerto o limite entre duas comarcas, se a


infração for praticada na divisa, a competência será
firmada pela prevenção (CPP, art. 70, § 3º).

EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL


BRASILEIRA
Conceito de extraterritorialidade: é a aplicação das leis
brasileiras aos crimes cometidos fora do território
nacional, pode ser incondicionada ou condicionada:

¤ Incondicionada: ou seja, que não depende de quaisquer


condições (7.º, I, do CP):

os crimes cometidos contra a vida ou a liberdade do


Presidente da República;
contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista , mautarquia ou fundação instituída pelo Poder
Público;

contra a administração pública, por quem está a seu


serviço;

de genocídio, quando o agente for brasileiro ou


domiciliado no Brasil.

Note que na forma do 1º do art. 7º CP, para os crimes retro


mencionados, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda
que absolvido ou condenado no estrangeiro.

(Art. 8º -CP)- A pena cumprida no estrangeiro atenua a


pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Condicionada: será aplicada a lei brasileira aos seguintes


crimes cometidos no estrangeiro:

- os previstos em tratado ou convenção e que o Brasil se


obrigou a reprimir;
- os crimes cometidos por brasileiro;

- crimes praticados em aeronaves ou embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados;

 Porém, para a aplicação da lei brasileira, os seguintes


requisitos devem ocorrer:

- o agente deve entrar no território nacional;


- o fato praticado tem que ser punível também no país
em que foi praticado;
- o crime deve figurar dentre aqueles que a lei brasileira
autoriza a extradição;
- o agente não pode ter sido absolvido no estrangeiro ou
não ter aí cumprido a pena;
- que o agente não tenha perdoado no estrangeiro ou, por
outro motivo, a punibilidade não esteja extinta, seguindo
a lei mais favorável.

EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA


Fundamento da homologação de sentença estrangeira:
nenhuma sentença de caráter criminal emanada de jurisdição
estrangeira pode ter eficácia num Estado sem o seu
consentimento, uma vez que o Direito Penal é essencialmente
territorial, razão pela qual, é necessária a homologação.
Competência para a homologação: de sentenças estrangeiras e a
concessão do exequatur às cartas rogatórias é do Superior
Tribunal de Justiça.

Conteúdo da homologação: a homologação não diz


respeito ao conteúdo, no entanto, deve preencher os
requisitos do Art. 788 do CPP:

estar revestida das formalidades externas necessárias,
segundo a legislação do país de origem;

haver sido proferida por juiz competente, mediante
citação regular, segundo a mesma legislação;

ter passado em julgado;

estar devidamente autenticada por cônsul brasileiro;



estar acompanhada de tradução, feita por tradutor
público.
 Execução civil da sentença penal estrangeira: a
homologação é obrigatória não apenas para a execução
da pena imposta na sentença criminal condenatória
estrangeira, mas também para obrigar o condenado à
reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis.

Homologação pendente de provocação do interessado:
no caso de homologação para execução civil da sentença
condenatória, ou seja, em face dos efeitos civis
decorrentes da condenação criminal estrangeira, é
necessário pedido da parte interessada.

Medida de segurança: sua execução também depende de


prévia homologação pelo STJ, desde que existente
tratado de extradição com o país de cuja autoridade
judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de
requisição do Ministro da Justiça.

Procedimento da homologação: homologada a sentença


estrangeira, esta será remetida ao presidente do
Tribunal de Justiça do Estado de domicílio do
condenado, esse remeterá ao juízo/ comarca para
aplicação da pena ou da medida de segurança.
CONTAGEM DO PRAZO
 Prescrição e decadência: CP - Art. 10. O dia do
começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se
os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.

Aplicação: Todos os prazos de natureza penal, de
direito material, ou seja, todos aqueles relativos à
liberdade do indivíduo (por exemplo, prescrição,
decadência, prisão processual etc.) serão contados
de acordo com o disposto neste artigo.

Inclusão do dia do começo: independe da hora,
independe se é dia útil ou não. Diferente dos prazos
processuais, em cuja contagem não se computa o
dia do começo (art. 798, § Io, do CPP).

Contagem de mês e ano: são contados como


períodos que compreendem um número
determinado de dias, pouco importando quantos
sejam os dias de cada mês; os anos são contados da
mesma forma, sendo irrelevante se bissextos ou
com 365 dias. Cinco anos depois de janeiro de 2012
será janeiro de 2017.
FATO TÍPICO

Fato típico nos delitos dolosos deve conter os seguintes


elementos:

 conduta dolosa;
 tipicidade.

Sendo crimes dolosos materiais, contém, ainda:

 resultado;
 nexo causal;
 relação de imputação objetiva.

Fato típico nos delitos culposos, por outro lado:

conduta voluntária;
resultado involuntário;
nexo causal;
tipicidade;
relação de imputação objetiva;
quebra do dever de cuidado objetivo (imprudência,
negligência ou imperícia);
previsibilidade objetiva do resultado.

(Estefam; Gonçalves, 2012)


 Na falta de um dos elementos do fato típico, a conduta
passa a constituir um indiferente penal, fato atípico.

 Classificação dos crimes quanto ao resultado


naturalístico:

■ Materiais ou de resultado: o tipo penal descreve a


conduta e um resultado material, exigindo-o para fins
de consumação. Exemplos: homicídio (CP, art. 121),
furto (CP, art. 155), roubo (CP, art. 157), estelionato (CP,
art. 171).

■ Formais ou de consumação antecipada: o tipo penal


descreve a conduta e o resultado material, porém não o
exige para fins de consumação. Exemplos: extorsão (CP,
art. 158), extorsão mediante sequestro (CP, art. 159),
sequestro qualificado pelo fim libidinoso (CP, art. 148, §
1º,V).

■ De mera conduta ou simples atividade: o tipo penal


não faz nenhuma alusão a resultado naturalístico,
limitando-se a descrever a conduta punível
independentemente de qualquer modificação no
mundo exterior. Exemplos: omissão de socorro (CP, art.
135), violação de domicílio (CP, art. 150).
CRIME DOLOSO

Conceito : vontade, consciência de realizar os elementos


descritos como tipo legal.

Elementos:
 Consciência
 Vontade

Fases na conduta

Fase interna: pensamento/ preparação.


Fase externa: exteriorização da conduta numa atividade/
ação.

Teorias do dolo:

Da vontade: dolo é a vontade de realizar a conduta e


produzir o resultado.

Da representação: dolo é a vontade de realizar a conduta,


prevendo a possibilidade de o resultado ocorrer, sem,
contudo, desejá-lo.
Do assentimento ou consentimento: dolo é o assentimento
do resultado, isto é, a previsão do resultado com a aceitação
dos riscos de produzi-lo. Não basta, portanto, representar; é
preciso aceitar como indiferente a produção do resultado.

Teorias adotadas pelo Código Penal: foram adotadas as


teorias da vontade e do assentimento, portanto, dolo é a
vontade de realizar o resultado ou a aceitação dos riscos de
produzi-lo.

CP - Art. 18 - Diz-se o crime:


Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado
ou assumiu o risco de produzi-lo.

Espécies de dolo:

Dolo natural: “concebido como um elemento puramente


psicológico, desprovido de qualquer juízo de valor. Trata-
se de um simples querer, independentemente de o objeto
da vontade ser lícito ou ilícito, certo ou errado. Dessa
forma, qualquer vontade é considerada dolo, tanto a de
beber água, andar, estudar, quanto a de praticar um crime.
Foi concebido pela doutrina finalista, integra a conduta e,
por conseguinte, o fato típico. Não é elemento da
culpabilidade, nem tem a consciência da ilicitude como seu
componente”.

Dolo normativo: “(da teoria clássica/ teoria naturalista ou


causal). Possui três elementos: a consciência, a vontade e
a consciência da ilicitude. Por essa razão, para que haja
dolo, não basta que o agente queira realizar a conduta,
sendo também necessário que tenha a consciência de que
ela é ilícita, injusta e errada, não se trata de um simples
querer, mas um querer algo errado, ilícito (dolus malus).
Para alguns doutrinadores, esta ideia está ultrapassada.”

Dolo direto/ determinado: “é a vontade de realizar a
conduta e produzir o resultado (teoria da vontade).
Ocorre quando o agente quer diretamente o resultado”.

Dolo indireto /indeterminado: o agente não quer


diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade de
produzi-lo (dolo eventual), ou não se importa em
produzir este ou aquele resultado (dolo alternativo).

Dolo de dano: vontade de produzir uma lesão efetiva a
um bem jurídico (CP, arts. 121, 155 etc.).

Dolo de perigo: mera vontade de expor o bem a um perigo
de lesão (CP, art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a
perigo direto e iminente).
Dolo genérico: vontade de realizar conduta sem um fim
especial, ou seja, a mera vontade de praticar o núcleo da ação
típica (o verbo do tipo), sem qualquer finalidade específica.
Exemplo: no tipo do homicídio, basta a simples vontade de
matar alguém para que a ação
seja típica, pois não é exigida nenhuma finalidade especial do
agente (o tipo não tem elemento subjetivo).

Dolo específico: vontade de realizar conduta visando a um
fim especial previsto no tipo. Exemplo: no crime de extorsão
mediante sequestro, não basta a simples vontade de
sequestrar a vítima, sendo também necessária a sua
finalidade especial de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate, porque esse
fim específico é exigido pelo tipo do art. 159 do CP, de
maneira que, ausente, não se torna possível proceder à
adequação típica:

CP Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si


ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou
preço do resgate.
Dolo geral/ erro sucessivo: “quando o agente, após
realizar a conduta, supondo já ter produzido o resultado,
pratica o que entende ser um exaurimento e nesse
momento atinge a consumação”.

Dolo de primeiro grau e de segundo grau: “o de primeiro


grau consiste na vontade de produzir as consequências
primárias do delito, ou seja, o resultado típico
inicialmente visado, ao passo que o de segundo grau
abrange os efeitos colaterais da prática delituosa, ou seja,
as suas consequências secundárias, que não são desejadas
originalmente, mas acabam sendo provocadas porque
indestacáveis do primeiro evento”.

CRIME CULPOSO
Culpa: elemento normativo da conduta; necessita de um
prévio juízo de valor para sua identificação.

Para adequação típica será necessário além da


correspondência entre conduta e descrição típica,
também a comparação com o homem médio.


Art. 18 CP Crime culposo II - culposo, quando o agente
deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em
lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como
crime, senão quando o pratica dolosamente.

(Excepcionalidade do crime culposo) - No silêncio da lei, o


crime só é punido como doloso.

Elementos do fato típico culposo:

conduta (sempre voluntária);


 resultado involuntário;
 nexo causal;
 tipicidade;
 previsibilidade objetiva (do homem médio) ;
 ausência de previsão (cuidado: na culpa consciente
inexiste esse elemento);
quebra do dever objetivo de cuidado (por meio da
imprudência, imperícia ou negligência), imposta a toda
a sociedade, manifestando-se na modalidade
imprudência, negligência e imperícia.

Não existe crime culposo de mera conduta, sendo


imprescindível a produção do resultado naturalístico
involuntário para seu aperfeiçoamento típico.
 Diferença entre imperícia e erro médico: este ocorre
quando, empregados os conhecimentos normais da
medicina, por exemplo, chega o médico a conclusão
errada quanto ao diagnóstico, à intervenção cirúrgica
etc., não sendo o fato típico. O erro médico pode derivar
não apenas de imperícia, mas também de imprudência
ou negligência. Somente a falta grosseira desses
profissionais consubstancia a culpa penal, pois exigência
maior provocaria a paralisação da ciência, impedindo os
pesquisadores de tentar métodos novos de cura, de
edificações etc. (CAPEZ, 2011, p. 234).

Espécies de culpa

Culpa inconsciente: é a culpa sem previsão, em que o agente


não prevê o que era previsível.

Culpa consciente ou com previsão: é aquela em que o agente


prevê o resultado, embora não o aceite. Há no agente a
representação da possibilidade do resultado, mas ele a afasta,
de pronto, por entender que a evitará e que sua habilidade
impedirá o evento lesivo previsto.
Culpa imprópria: é aquela em que o agente, por erro de
tipo inescusável, supõe estar diante de uma causa de
justificação que lhe permita praticar, licitamente, um
fato típico. Há uma má apreciação da realidade fática,
fazendo o autor supor que está acobertado por uma
causa de exclusão da ilicitude, mas como esse erro
poderia ter sido evitado pelo emprego de diligência
mediana, subsiste o comportamento culposo.

Exemplo: “A” está assistindo a um programa de televisão,


quando seu primo entra na casa pela porta dos fundos.
Pensando tratar-se de um assalto, “A” efetua disparos de
arma de fogo contra o infortunado parente, certo de que
está praticando uma ação perfeitamente lícita, amparada
pela legítima defesa. (CAPEZ, 2011).

Culpa mediata ou indireta: ocorre quando o agente produz


indiretamente um resultado a título de culpa. Exemplo: um
motorista se encontra parado no acostamento de uma
rodovia movimentada, quando é abordado por um
assaltante.
Assustado, foge para o meio da pista e acaba sendo
atropelado e morto. O agente responde não apenas pelo
roubo, que diretamente realizou com dolo, mas também
pela morte da vítima, provocada indiretamente por sua
atuação culposa (era previsível a fuga em direção à estrada).
Importante notar que, para a configuração dessa
modalidade de culpa, será imprescindível que o resultado
esteja na linha de desdobramento causal da conduta, ou seja,
no âmbito do risco provocado, e, além disso, que possa ser
atribuído ao autor mediante culpa. (CAPEZ, 2011, p. 237).

Fique atento! Inexiste diferença de tratamento penal


entre a culpa com previsão e a inconsciente, entretanto,
no momento da dosagem da pena, o grau de
culpabilidade (circunstância judicial - art. 59, caput, do
CP), a sanção de quem age com a culpa consciente deve
ser mais elevada, dada a maior censurabilidade desse
comportamento.

Obervação: a culpa consciente difere do dolo eventual!


No dolo eventual o agente prevê o resultado, mas não se
importa que ele ocorra. Na culpa consciente, embora
prevendo o que possa vir a acontecer, o agente repudia
essa possibilidade.
CRIME PRETERDOLOSO

 Os componentes do crime preterdoloso são:

 Comportamento anterior doloso (fato antecedente);


Resultado agravador culposo (fato consequente). Há, portanto,
dolo
no antecedente e culpa no consequente.

Quando o agente realiza uma conduta dolosa, cuja pena é


agravada em razão de um resultado que não desejou, mas o
produziu por imprudência, negligência ou imperícia.

Exemplo: o crime de lesão corporal seguida de morte (CP,


art. 129, § 3º).

CP - Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de


outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3° Se
resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente
não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Exemplo prático: sujeito desfere um soco contra o rosto da


vítima com intenção de lesioná-la, no entanto, ela perde o
equilíbrio, bate a cabeça e morre. Há um só crime: lesão
corporal dolosa, qualificada pelo resultado morte culposa,
que é a lesão corporal seguida de morte.
Atenção! Latrocínio: não é necessariamente preterdoloso,
já que a morte pode resultar de dolo (ladrão, depois de
roubar, atira para matar), havendo este tanto no
antecedente como no consequente. Quando a morte for
acidental (culposa), porém, o latrocínio será preterdoloso,
caso em que a tentativa não será possível.

Tentativa no crime preterdoloso: não é possível, já que o


resultado agravador não era desejado, e não se pode tentar
produzir um evento que não era querido.

ERRO DE TIPO

Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de


crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei.

De acordo com a conceituação do art. 20 do CP: “é o erro


sobre elemento constitutivo do tipo legal”. Ou seja, “é o erro
que incide sobre elementos objetivos do tipo penal,
abrangendo qualificadoras, causas de aumento e
agravantes” (Nucci, 2017). E pode ocorrer, dentre outras
situações como:

Erro incidente sobre situação de fato descrita como
elementar ou circunstância de tipo incriminador:

Exemplo: um sujeito pega uma mala alheia, supondo-a de


sua propriedade, por ser idêntica. O erro não incidiu sobre
nenhuma regra legal, mas sobre a situação concreta,
equivocadamente apreciada. Apesar disso, a conduta
praticada está descrita no tipo que prevê o crime de furto
como sua elementar (coisa alheia móvel).

O desconhecimento eliminou a consciência e vontade de


realizar o fato típico pelo sujeito, pois, se não sabia que
estava subtraindo coisa alheia, e portanto não desejava
subtraí-la.

Implicação prática: exclusão do dolo.


Jurisprudência:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA A


DIGNIDADE SEXUAL - ESTUPRO DE VULNERÁVEL
(ART. 217-A C/C ART. 226, II DO CÓDIGO PENAL) -
INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO DEFENSIVO -
NÃO
1 - PRELIMINARES DEFENSIVAS - CERCEAMENTO
DE DEFESA - REJEIÇÃO - ABSOLVIÇÃO POR ERRO
DE TIPO - INVIABILIDADE - PENA-BASE -
REANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS -
zPOSSIBILIDADE - DECOTE DA CAUSA DE
AUMENTO PREVISTA NO ART. 226, II DO CP -
IMPOSSIBILIDADE - REGIME PRISIONAL MANTIDO.
(...)

Erro é a falsa compreensão da realidade, podendo ser


dividido em dois aspectos diferentes: o erro de tipo, que
a pessoa não sabe o que está fazendo; e o erro de
proibição, que a pessoa sabe o que está fazendo, mas
acha que não tem problema.
Havendo nos autos prova de que o acusado tinha ciência
do retardo mental da vítima, não há que se falar em
absolvição por erro de tipo. -Quando há incorreções na
pena-base no tocante as circunstâncias judiciais, é
possível a majoração da pena nessa etapa da dosimetria.
-Nos termos do art. 226, II do
Código Penal, havendo prova da autoridade do acusado sobre a
vítima, deve ser mantida a causa de aumento. -(...) (TJMG -
Apelação Criminal 1.0680.18.002717-8/001, Relator(a): Des.(a)
Wanderley
Paiva , 1ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
13/07/2021, publicação da súmula em 23/07/2021).

A prova produzida no curso da instrução revela que o


denunciado não possuía consciência da ilicitude de seu
comportamento, pois foi induzido a acreditar – tanto pelo
discurso como pela aparência física – que a ofendida
(adolescente com 13 anos) tinha idade biológica que
tornaria legítima a conduta de com ela manter relações
sexuais. Falsa percepção sobre a vulnerabilidade da vítima
– elemento constitutivo do tipo penal previsto no art. 217-
A do Código Penal – que determina a ocorrência de erro
de tipo, excluindo o dolo da conduta. Absolvição mantida.
Apelação desprovida” (TJRS - Ap. Crim. 70067388926, 8.a C.
Crim., rel. Naele Ochoa Piazzeta, j. 10.08.2016).

Art. 20 – CP Descriminantes putativas:

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado


pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse,
tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
São, portanto, as excludentes de ilicitude que aparentam
estar presentes em uma determinada situação, quando,
na realidade, não estão, só existe, portanto, na mente, na
imaginação do agente, assim compreendem:

Legítima defesa putativa (ou imaginária), quando o


agente supõe, por equívoco, estar em legítima defesa.
Exemplo: o sujeito está assistindo à televisão quando
um primo brincalhão surge à sua frente disfarçado de
assaltante, imaginando uma situação de fato, na qual
se apresenta uma agressão iminente a direito próprio,
o agente dispara contra o colateral, pensando estar
em legítima defesa. A situação justificante só existe
em sua cabeça, por isso diz-se legítima defesa
imaginária ou putativa (imaginada por erro).

Estado de necessidade putativo (ou imaginário):


quando imagina estar em estado de necessidade.
Exemplo: náufragos que lutam selvagemente pela
boia de salvação e, após exaustiva e sangrenta
batalha pela vida, o sobrevivente se dá conta de que
brigavam no raso. Situação imaginária em virtude de uma
distorção da realidade.;
Exercício regular do direito putativo (ou imaginário):
Exemplo: o sujeito corta os galhos da árvore do
vizinho, imaginando falsamente que eles invadiram
sua propriedade;

Estrito cumprimento do dever legal putativo (ou


imaginário): Exemplo: um policial algema um cidadão
honesto, sósia de um fugitivo.

Jurisprudência

PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO


ESTRITO. RECORRENTE PRONUNCIADO PELA PRÁTICA
DO DELITO PREVISTO NO ART. 121, CAPUT, DO CÓDIGO
PENAL BRASILEIRO. (...) III - PEDIDO ABSOLUTÓRIO:
TESE DE TER O RÉU AGIDO EM ESTRITO CUMPRIMENTO
DO DEVER LEGAL. NÃO ACOLHIMENTO. CONDUTA
ATRIBUÍDA AO ACUSADO NA DENÚNCIA QUE NÃO SE
ENCONTRA DENTRE AS ATRIBUIÇÕES DE POLICIAIS
MILITARES DEFINIDAS PELAS NORMAS VIGENTES NO
ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO. DEVER LEGAL
ABARCADO PELA DIRETRIZ DESCRITA NO ART. 23 DO CP
QUE DEVE PROVIR DE DISPOSIÇÃO JURÍDICO-
NORMATIVA,
E NÃO DE ORDEM MERAMENTE MORAL, RELIGIOSA
OU SOCIAL ALEGAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE LEGÍTIMA
DEFESA. PROCEDÊNCIA. EXISTÊNCIA DE PROVA DA
DESCRIMINANTE, AINDA QUE PUTATIVA. EVIDÊNCIAS
QUE DEMONSTRAM TER O RECORRENTE ATUADO COM
ANIMUS DEFENDENDI. EXCLUSÃO DO DOLO. ART. 25,
C/C O ART. 20, § 1º, DO CPB. (...). 5 - Acusado que se
utilizou, moderadamente, dos meios necessários ao
deflagrar os dois primeiros tiros em direção da vítima,
tendo um lhe atingido e outro alvejado o retrovisor
interno no veículo, e mais outros três posteriores que
acertaram somente o veículo. 6 - Legítima defesa que
emerge dos autos de forma cristalina e manifesta, apta a
conduzir à absolvição sumária do acusado, com fulcro no
art. 415, inciso IV, parte final, do Código de Processo
Penal, posto que a licitude da conduta exclui
característica imprescindível para a configuração do fato
criminoso. (....). (TJ-BA - Classe: Recurso em Sentido
Estrito, Número do Processo: 0001495 52.2008.8.05.0174,
Relator(a): CARLOS ROBERTO SANTOS ARAUJO,
Publicado em: 19/07/
2017 ).
Art. 20 CP: Erro determinado por terceiro

§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

APELAÇÃO CRIMINAL - ESTELIONATO - USO DE


DOCUMENTO FALSO PARA OBTENÇÃO DE VANTAGEM
ILÍCITA - ABSOLVIÇÃO - ALEGAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA
DE PROVAS - DESCABIMENTO - MATERIALIDADE E
AUTORIA DEVIDAMENTE COMPROVADAS - ERRO DE
TIPO DETERMINADO POR TERCEIRO INOCORRÊNCIA -
CONDENAÇÃO MANTIDA - RECURSOS DESPROVIDOS.
(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 293154-6 - Maringá - Rel.:
DESEMBARGADOR ARQUELAU ARAUJO RIBAS - J.
26.04.2006)

APELAÇÃO CRIMINAL ¿ PENAL E PROCESSUAL PENAL ¿


RECEPTAÇÃO SIMPLES ¿ EPISÓDIO OCORRIDO NA
ESTRADA DOS BANDEIRANTES, COMARCA DA CAPITAL ¿
IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA DESENLACE CONDENATÓRIO,
PLEITEANDO A ABSOLVIÇÃO DIANTE DO ERRO
DETERMINADO POR TERCEIRO OU SUBSIDIARIAMENTE A
DESCLASSIFICAÇÃO PARA A MODALIDADE CULPOSA DA
RECEPTAÇÃO ¿ PROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO RECURSAL
DEFENSIVA ¿ INSUSTENTÁVEL SE APRESENTOU A
MANUTENÇÃO DO JUÍZO DE CENSURA ALCANÇADO
MERCÊ DA INSUFICIENTE COMPROVAÇÃO DA
REALIZAÇÃO PELO RECORRENTE DA IMPUTAÇÃO
LIVREMENTE CONSOLIDADA NO RELATO DENUNCIAL A
PARTIR DA PERPETRAÇÃO DOS
NÚCLEOS DIRETIVOS DA CORRESPONDENTE CONDUTA
PUNÍVEL DE ¿ADQUIRIR, RECEBER E OCULTAR¿ O
VEÍCULO DA MARCA VOLKSWAGEN, MODELO GOL,
PLACA KWE 8351, MUITO EMBORA EM FACE DO MESMO
TENHA RESTADO ESTABELECIDA A PRETÉRITA
PRÁTICA DE UM CRIME PATRIMONIAL QUE
EMPRESTOU EXISTÊNCIA À PRETENDIDA
RECEPTAÇÃO, MERCÊ DO TEOR DO RO Nº 035-
14604/2015 ¿ E ISTO SE DÁ PORQUANTO OS POLICIAIS
MILITARES, VINICIUS E GUSTAVO, LIMITARAM-SE A
HISTORIAR, EM SEUS DEPOIMENTOS JUDICIAIS, QUE A
PRISÃO EM FLAGRANTE DO IMPLICADO RESULTOU DO
FATO DO MESMO ENTÃO SE ENCONTRAR GOCIANDO A
VENDA DAQUELE AUTOMÓVEL, INOBSTANTE ESTE
DELIMITADO COMPORTAMENTO NÃO SE AJUSTE NEM
AOS TERMOS DAQUELA IMPUTAÇÃO, NEM,
OUTROSSIM, MATERIALIZEM A REALIZAÇÃO DESTA, DE
CONFORMIDADE COM A ESTRUTURA DE ATUAÇÃO
ANTES INDIVIDUALIZADA ¿ REGISTRE-SE, POR
OPORTUNO, QUE O ÚNICO A MENCIONAR A PRÉVIA
AQUISIÇÃO DAQUELE CARRO, PELO SITE OLX E CERCA
DE TRÊS MESES ANTES DO EPISÓDIO EM QUESTÃO, FOI
O PRÓPRIO APELANTE, EM SEDE DE AUTODEFESA, MAS
O QUE NÃO SÓ SE PERFILOU COMO MANIFESTAMENTE
INCONSISTENTE À COMPROVAÇÃO DO FATO ILÍCITO,
DE CONFORMIDADE COM O PRIMADO CONSTANTE DO
ART. 158 DO DIPLOMA DOSRITOS, COMO TAMBÉM
CRISTALIZOU FLAGRANTE CONDUTA ATÍPICA,
SEGUNDO A REGULARIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
ALI RETRATADO: PAGAMENTO, EM ESPÉCIE, DE R$
13.000,00 (TREZE MIL REAIS), REMANESCENDO UM
SALDO DEVEDOR DE R$ 2.000,00 (DOIS MIL REAIS),
QUE SERIA INTEGRALIZADO AO VENDEDOR, QUEM,
ALÉM DE SE IDENTIFICAR PELO NOME DE
ALEXANDRE, FEZ-LHE A ENTREGA, NA OCASIÃO,
TANTO DO RECIBO DE COMPRA E VENDA, EM ABERTO,
COMO TAMBÉM DO DUT ¿ DOCUMENTO ÚNICO DE
TRÂNSITO, CULMINANDO COM A REALIZAÇÃO DE
UMA PESQUISA ACERCA DO CHASSI E DA PLACA
DAQUELE, JUNTO AOS SITES DO DETRAN E DO SINESP,
E A PARTIR DO QUE NÃO FOI CONSTATADA NENHUMA
IRREGULARIDADE OU DÉBITO, DE MODO A EMERGIR
COMO ÚNICO DESFECHO SATISFATÓRIO A TAL
CONTEXTO AQUELE DE CONTEÚDO ABSOLUTÓRIO,
QUE ORA SE ADOTA, COM FULCRO NO DISPOSTO PELO
ART. 386, INC. Nº IV, DO C.P.P. ¿ PROVIMENTO DO
APELO DEFENSIVO. (TJRJ 0106400-74.2016.8.19.0001 -
APELAÇÃO. Des(a). LUIZ NORONHA DANTAS -
Julgamento: 14/03/2019 - SEXTA CÂMARA CRIMINAL)
Art. 20 – CP - Erro sobre a pessoa

§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é


praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Exemplo: “Xis”mata“Xis2”, acreditando tratar-se de


“Xis1”. O erro implica que o autor seja punido pelo crime
que efetivamente cometeu contra o terceiro inocente
(vítima efetiva, no exemplo, Xis2), como se tivesse
atingido a pessoa pretendida (vítima virtual, no exemplo
Xis1).

CRIME CONSUMADO

CP Art. 14. Diz-se o crime:

Crime consumado
I – consumado, quando nele se reúnem todos os
elementos de sua definição legal;
Conceito: “é o tipo penal (descrição abstrata de uma
conduta) integralmente realizado, ou seja, quando o tipo
concreto se enquadra no tipo abstrato. Exemplo: quando A
subtrai um veículo pertencente a B, com o ânimo de
assenhoreamento, produz um crime consumado, pois sua
conduta e o resultado materializado encaixam-se, com
perfeição, no modelo legal de conduta proibida descrito no
art. 155 do Código Penal.”

A consumação nas várias espécies de crimes:

 materiais: com a produção do resultado


naturalístico;
 culposos: com a produção do resultado
naturalístico;
 de mera conduta: com a ação ou omissão delituosa;
 formais: com a simples atividade, independente do
resultado;
 permanentes: o momento consumativo se protrai
no tempo
 omissivos próprios: com a abstenção do
comportamento devido;
 omissivos impróprios: com a produção do
resultado naturalístico;
 qualificados pelo resultado: com a produção do
resultado agravador;
complexos: quando os crimes componentes estejam
integralmente
 realizados;
habituais: com a reiteração de atos, pois cada um
deles, isoladamente, é indiferente à lei penal. O
momento consumativo é incerto, pois não se sabe
quando a conduta se tornou um hábito, por essa
razão, não cabe prisão em flagrante nesses crimes.

Diferença entre crime consumado e exaurido: crime


exaurido é aquele no qual o agente, após atingir o resultado
consumativo, continua a agredir o bem jurídico, procura
dar-lhe uma nova destinação ou tenta tirar novo proveito.

Exemplo: Funcionário público que, após atingir a


consumação mediante a solicitação de vantagem indevida,
vem a efetivamente recebê-la (CP, art. 317). Para o
aperfeiçoamento típico, o efetivo recebimento dessa
vantagem é irrelevante, pois atinge-se a consumação com a
mera solicitação; no entanto, o recebimento é um proveito
ulterior obtido pelo sujeito ativo.
TENTATIVA
CP – Art. 14 - Diz-se o crime:

Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.

Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a
tentativa com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços.

Elementos que constituem a tentativa:

 início de execução;
 a não consumação;
 a interferência de circunstâncias alheias à vontade do
agente.

Infrações penais que não admitem tentativa:



culposas (salvo a culpa imprópria, para parte da doutrina);
preterdolosas (no latrocínio tentado, o resultado morte era
querido pelo agente, logo, embora
qualificado pelo resultado, esse delito só poderá ser preterdoloso
quando consumado);

contravenções penais (a tentativa não é punida — v. art.


4º da LCP);
crimes omissivos próprios (de mera conduta);
habituais (ou há a habitualidade e o delito se consuma,
ou não há e inexiste crime);
crimes que a lei só pune se ocorrer o resultado (CP, art.
122);
crimes em que a lei pune a tentativa como delito
consumado (CP, art. 352).

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

CP - Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de


prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticado.

Tentativa abandonada e crimes culposos: é incompatível


com os crimes culposos, pois, como se trata de uma
tentativa que foi abandonada, pressupõe um resultado
que o agente pretendia produzir (dolo), mas,
posteriormente, desistiu ou se arrependeu, evitando-o
(CAPEZ, 2011, p. 271).
CRIME IMPOSSÍVEL
CP - Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto,
é impossível consumar-se o crime.

A conduta é que é relevante, objetivamente, não pode ter


representado nenhum risco à coletividade, pouco
importando a postura subjetiva do agente.
 Natureza jurídica: trata-se de causa geradora de atipicidade.

Exemplos:

 Ineficácia absoluta do meio: Arma de fogo inoperante ou uma


arma de brinquedo configuram homicídio impossível, mas são
perfeitamente aptas à prática de um roubo, desde que o engenho
ou sua imitação sejam passíveis de intimidar a vítima, fazendo-a
sentir-se ameaçada. Outro exemplo: uma porção de açúcar é
ineficaz para matar uma pessoa normal, mas apta a eliminar um
diabético.

Impropriedade absoluta do objeto material: a pessoa ou a coisa
sobre que recai a conduta é absolutamente inidônea para a
produção de algum resultado lesivo. Exemplo: ingerir substância
abortiva imaginando-se grávida ou furtar alguém que não tem um
único centavo no bolso.

Flagrante preparado nos delitos previstos na Lei de Drogas:


observe-se que nos crimes da Lei de drogas algumas ações
descritas no tipo do art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 constituem
infrações permanentes — em que o atuar delituoso se protrai no
tempo —, como, por exemplo, as previstas nos núcleos exposição à
venda, depósito, transporte, trazer consigo e guarda. Esses atos por
si sós já realizariam o tipo, independentemente da posterior venda.
.

Exemplo: traficante que já vinha praticando a conduta de


guardar e vender substância entorpecente quando um policial
se insinuou como pretendente à aquisição de Cannabis sativa.
Nesse caso, afasta- se a hipótese do flagrante preparado ou
provocado, já que o agente incidiu no crime do art. 33, caput, na
modalidade “guardar”, muito antes da abordagem do suposto
comprador; portanto, a consumação preexistiu ao flagrante
preparado.

Jurisprudências

Penal. Recurso de apelação. Furto. Monitoramento de


toda a ação por circuito interno de TV. Crime impossível.
Absolvição mantida. Estando o agente sendo observado e
seus passos, desde o início, monitorados pelo circuito
interno de TV e pelos seguranças da loja, os quais,
inclusive, aguardaram o momento apropriado para detê-
lo e acionar a polícia, forçoso concluir que este jamais
conseguiria chegar à consumação de subtração, tornando
a tentativa em crime impossível, já que o meio empregado
revelou-se absolutamente incapaz de produzir o
resultado almejado” (TJMG - 3ª C. - AP 1.0317.07.072058-
4/001(1) - Rel. Paulo Cezar Dias - j. 27.01.2009 - DOE
12.03.2009).
APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO MINISTERIAL.
FURTO NA FORMA TENTADA. REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA. PEDIDO DE PROSSEGUIMENTO DO FEITO.
CRIME IMPOSSÍVEL Tentativa de furto que é frustrada
em razão de vigilância exercida desde o início da ação,
através de monitoramento dos passos do agente pelos
funcionários do estabelecimento comercial. Hipótese de
crime impossível caracterizada. Decisão mantida por
seus próprios fundamentos RECURSO DESPROVIDO.
(Apelação Crime Nº 70049796022 , Sexta Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Batista
Marques Tovo, Julgado em 25/10/2012.

APELAÇÃO CRIME. FURTO QUALIFICADO PELA


CONFIANÇA. ABSOLVIÇÃO. IRRESIGNAÇÃO
MINISTERIAL. ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE PROVAS
AUTORIZATIVAS DE UMA CONDENAÇÃO.
IMPROCEDÊNCIA. INEFICIÊNCIA DO MEIO
ADEQUADO. CRIME IMPOSSÍVEL RECONHECIDO.
DESPROVIMENTO DO APELO. - a ação delituosa com
meio ineficaz ou sobre objeto impróprio para produzir o
resultado configura uma tentativa inidônea ou um crime
impossível, sendo, consequentemente, impossível a sua
materialização no mundo e impotente para causar dano,
não existindo um mínimo de periculosidade para o bem
jurídico protegido. (TJPB-ACÓRDÃO/DECISÃO do
Processo Nº 00119557920158150011, Câmara
Especializada Criminal, Relator DES. JOÁS DE BRITO
PEREIRA FILHO , j. em 19-03-2019)
ESTADO DE NECESSIDADE
CP - Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade
quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha
o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do
direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a
dois terços.

Natureza jurídica: é sempre causa de exclusão da


ilicitude.

Requisitos
Situação de perigo atual
O perigo deve ameaçar direito próprio ou alhei O
perigo não pode ter sido causado voluntariamente
pelo agenteInexistência do dever legal de arrostar o
perigo
Inevitabilidade do comportamento
Razoabilidade do sacrifício: princípio da
razoabilidade pelo sujeito: o homem médio sempre
irá ponderar que a vida humana vale mais do que
um veículo, etc.

Conhecimento da situação justificante: Exemplo: o


sujeito mata o cachorro do vizinho, por ter latido a
noite inteira e impedido seu sono. Por coincidência, o
cão amanheceu hidrófobo e estava prestes a morder o
filhinho daquele vizinho (perigo atual). Como o agente
quis produzir um dano e não proteger o pequenino,
pouco importam os pressupostos fáticos da causa
justificadora: o fato será ilícito.

Causa de diminuição de pena: se a destruição do bem


jurídico não era razoável, falta um dos requisitos do
estado de necessidade, e a ilicitude não é excluída.
Embora afastada a excludente, em face da desproporção
entre o que foi salvo e o que foi sacrificado, a lei,
contudo, permite que a pena seja diminuída de 1/3 a 2/3.

Assim, ante a falta de razoabilidade, não se excluem a


ilicitude e muito menos a culpabilidade. O agente
responde pelo crime, com pena diminuída. Cabe ao juiz
aferir se é caso ou não de redução, não podendo,
contudo, contrariar o senso comum (Capez, 2011, p.
304).

Crimes habituais, permanentes e reiteração criminosa:
não se admite o estado de necessidade nesses delitos,
ante a falta de atualidade na situação de perigo, salvo em
casos extremos, como o de um particular que exerce
ilegalmente a medicina em uma ilha onde não há
profissional habilitado, nem tampouco qualquer ligação
com o mundo externo (Capez, 2011, p. 304).

Estado de necessidade e dificuldades econômicas: a


maioria da jurisprudência inadmite a mera alegação de
miserabilidade do agente como causa excludente da
criminalidade. O mesmo vale para o porte de arma e
estado de necessidade, para a alegação de portar arma de
fogo ilegalmente alegando que transita por locais
perigosos.
Jurisprudência

APELAÇÃO CRIMINAL - USO COMPARTILHADO DE


DROGAS - NÃO CARACTERIZAÇÃO - CONDUTA QUE SE
AMOLDA AO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS -
ESTADO DE NECESSIDADE - INOCORRÊNCIA-
APLICAÇÃO DOS ARTIGOS 45 OU 46 DA LEI DE
TÓXICOS - REQUISITOS NÃO COMPROVADOS -
AFASTAMENTO DA HEDIONDEZ DO CRIME PELA
INCIDÊNCIA DA MINORANTE DO PARÁGRAFO 4º DO
ARTIGO 33 DA LEI 11.343/2006 - NÃO CABIMENTO -
SENTENÇA REFORMADA- RECURSO MINISTERIAL
PROVIDO E DEFENSIVO NÃO PROVIDO.
1. Evidenciado nos autos que a droga apreendida era destinada
ao consumo de terceiros, resta configurado o crime de tráfico de
drogas, pelo que é inviável a desclassificação da conduta para a
prevista no art. 28 da Lei 11.343/2006 ou para aquela disposta no
art. 33, § 3°, da mesma Lei. 2. A aplicação da causa de diminuição
de pena prevista no art. 33
§ 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de
tráfico de drogas (inteligência da Súmula 512 do Superior
Tribunal de Justiça). 3. A condição de dependente químico
não caracteriza a excludente de ilicitude do estado de
necessidade. 4. Recurso ministerial provido e defensivo não
provido. (TJMG - Apelação Criminal 1.0529.13.000062-1/001,
Relator(a): Des.(a) Flávio Leite , 1ª CÂMARA CRIMINAL,
julgamento em 10/05/2016, publicação da súmula em
20/05/2016).

LEGÍTIMA DEFESA
CP - Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no
caput deste artigo, considera -se também em legítima defesa
o agente de segurança pública que repele agressão ou risco
de agressão a vítima mantida refém durante a prática de
crimes.
Causa de exclusão da ilicitude, diferente do estado de
necessidade, inexiste situação de perigo colocando em
conflito dois ou mais bens jurídicos tutelados, em que um
deles deverá ser sacrificado.

Requisitos:

a) agressão injusta;
b) atual ou iminente;
c) a direito próprio ou de terceiro;
d) repulsa com meios necessários;
e) uso moderado de tais meios;
f) conhecimento da situação justificante.

Algumas hipóteses de cabimento:

Legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa:


no caso concreto, quando derivada de erro de tipo, exclui o
dolo e, às vezes, também a culpa. Exemplo: é o que ocorre
quando dois neuróticos inimigos se encontram, um
pensando que o outro vai matá-lo. Ambos acabam partindo
para o ataque, supondo-o como justa defesa.

Legítima defesa real contra legítima defesa subjetiva: a
legítima defesa subjetiva é o excesso por erro de tipo
escusável. Exemplo: após se defender de agressão
inicial, o agente começa a se exceder, pensando ainda
estar sob o influxo do ataque. Na sua mente, ele ainda
está defendendo-se, porque a agressão ainda não
cessou, mas, objetivamente, já deixou a posição de
defesa e passou ao ataque, legitimando daí a repulsa
por parte de seu agressor.

Legítima defesa putativa contra legítima defesa real:


como se trata de causa putativa, nada impede tal
situação. O fato será ilícito, pois objetivamente injusto,
mas, dependendo do erro que levou à equivocada
suposição, poderá haver exclusão de dolo e culpa
(quando houver erro de tipo escusável).. Exemplo: “A”
presencia seu amigo brigando e, para defendê-lo,
agride seu oponente.

Ledo engano: o amigo era o agressor, e o terceiro


agredido apenas se defendia.

Legítima defesa real contra legítima defesa culposa: não


importa a postura subjetiva do agente em relação ao fato, mas
tão somente a injustiça objetiva da agressão. É o caso, por
exemplo, da legítima defesa real contra a legítima defesa
putativa por erro de tipo evitável. Exemplo: “A”, confundindo
“B” com um seu desafeto e sem qualquer cuidado em
certificar-se disso, efetua diversos disparos em sua direção. Há
uma agressão injusta decorrente de culpa na apreciação da
situação de fato. Contra esse ataque culposo cabe legítima
defesa real. (Capez, 2011, p. 308).

Legítima defesa de animais: Admite-se a possibilidade de


defesa dos animais, muitos dos quais são maltratados e
até torturados por pessoas. Cabe legítima defesa, pois o
bem jurídico tanto pode ser a ética social ou a
honestidade pública (quando se trata de maltrato de
animal doméstico), como pode ser a fauna (cuidando-se
de animal selvagem, tutelado pela Lei 9.605/98).

Desnecessidade do meio:

Doloso ou consciente: ocorre quando o agente, ao se


defender de uma injusta agressão, emprega meio que
sabe ser desnecessário, como consequência, responderá
pelo resultado dolosamente. Exemplo: aquele que mata
quando bastava tão somente a lesão.

Culposo ou inconsciente: ocorre quando o agente, diante do


temor, aturdimento ou emoção provocada pela agressão
injusta, acaba por deixar a posição de defesa e partir para um
verdadeiro ataque, após ter dominado o seu agressor. Não
houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se
ainda sofrendo o ataque, tendo seu excesso decorrido de
umaequivocada apreciação da realidade. Consequência: o
agente responderá pelo resultado produzido, a título de culpa.

 Exculpante: não deriva nem de dolo, nem de culpa, mas de


um erro plenamente justificado pelas circunstâncias (legítima
defesa subjetiva). O excesso na reação defensiva decorre de
uma atitude emocional do agredido, cujo estado interfere na
sua reação defensiva, impedindo que tenha condições de
balancear adequadamente a repulsa em função do ataque, não
se podendo exigir que o seu comportamento seja conforme à
norma.

ADPF 779. Órgão julgador: Tribunal Pleno . Relator(a): Min.


DIAS TOFFOLI. Julgamento: 15/03/2021 Publicação:
20/05/2021. EMENTA Referendo de medida cautelar.
Arguição de descumprimento de preceito fundamental.
Interpretação conforme à Constituição. Artigos 23, inciso
II, e 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e art. 65
do Código de Processo Penal
. “Legítima defesa da honra”. Não incidência de causa
excludente de ilicitude. Recurso argumentativo
dissonante da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III,
da CF), da proteção à vida e da igualdade de gênero (art.
5º, caput, da CF). Medida cautelar parcialmente deferida
referendada. 1. “Legítima defesa da honra” não é,
tecnicamente, legítima defesa. A traição se encontra
inserida no contexto das relações amorosas. Seu
desvalor reside no âmbito ético e moral, não havendo
direito subjetivo de contra ela agir com violência. Quem
pratica feminicídio ou usa de violência com a
justificativa de reprimir um adultério não está a se
defender, mas a atacar uma mulher de forma
desproporcional, covarde e criminosa. O adultério não
configura uma agressão injusta apta a excluir a
antijuridicidade de um fato típico, pelo que qualquer
ato violento perpetrado nesse contexto deve estar
sujeito à repressão do direito penal. 2. A “legítima defesa
da honra” é recurso argumentativo/retórico odioso,
desumano e cruel utilizado pelas defesas de acusados de
feminicídio ou agressões contra a mulher para imputar
às vítimas a causa de suas próprias mortes ou lesões.
Constitui-se em ranço, na retórica de alguns operadores
do direito, de institucionalização da desigualdade entre
homens e mulheres e de tolerância e naturalização da
violência doméstica, as quais não têm guarida na
Constituição de 1988. 3.
Tese violadora da dignidade da pessoa humana, dos
direitos à vida e à igualdade entre homens e mulheres
(art. 1º, inciso III , e art. 5º, caput e inciso I, da CF/88),
pilares da ordem constitucional brasileira. A ofensa a
esses direitos concretiza-se, sobretudo, no estímulo à
perpetuação da violência contra a mulher e do
feminicídio. O acolhimento da tese tem a potencialidade
de estimular práticas violentas contra as mulheres ao
exonerar seus perpetradores da devida sanção. 4. A
“legítima defesa da honra” não pode ser invocada como
argumento inerente à plenitude de defesa própria do
tribunal do júri, a qual não pode constituir instrumento
de salvaguarda de práticas ilícitas. Assim, devem
prevalecer a dignidade da pessoa humana.
ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
Fundamento: não há crime quando o agente pratica o fato
no “estrito cumprimento de dever legal” (CP, art. 23, III, 1ª
parte). Trata-se de uma excludente de ilicitude.

Dever legal: compreende toda e qualquer obrigação direta


ou indiretamente derivada de lei.

Excesso: poderá constituir crime de abuso de autoridade
(Lei n. 4.898, de 9-12-65, arts. 3º e 4º) ou outros delitos.

Alcance da excludente: dirige-se aos funcionários ou
agentes públicos, que agem por ordem da lei. Não fica
excluído, contudo, o particular que exerce função pública
(jurado, perito, mesário da Justiça Eleitoral)

Crime culposo: não admite. A lei não obriga à imprudência,
negligência ou imperícia.

Exceção: possibilidade de estado de necessidade na hipótese


de motorista de uma ambulância, ou de um carro de
bombeiros, que dirige velozmente e causa lesão a bem
jurídico alheio para apagar um incêndio ou conduzir um
paciente em risco de vida para o hospital.
Conhecimento da situação justificante: essa excludente, como as
demais, também exige o elemento subjetivo, ou seja, o sujeito deve
ter conhecimento de que está praticando um fato em face de um
dever imposto pela lei, do contrário, estaremos diante de um ilícito
(Capez, 2011, p. 216)

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

Conceito: causa de exclusão da ilicitude que consiste no exercício


de uma prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico a
qualquer pessoa, caracterizada como fato típico.

Exemplo: prisão em flagrante por particular; a imunidade
judiciária (CP, art. 142, I); coação para evitar suicídio ou para a
prática de intervenção cirúrgica (art. 146, § 3º)

Conhecimento da situação justificante: É necessário o
conhecimento de toda a situação fáticaautorizadora da
excludente.

CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR


Força maior: deriva de uma força externa ao agente, que o obriga,
por exemplo, consumir droga. É o caso do sujeito obrigado a
ingerir álcool por coação física ou moral irresistível, perdendo, em
seguida, o controle sobre suas ações.

Fortuito: é aquilo que se mostra imprevisível, é o que chega sem
ser esperado e por força estranha à vontade do homem, que não o
pode impedir.

Consequência da exclusão da conduta: sem conduta, não
há fato típico, uma vez que ela é seu elemento. A
consequência será a atipicidade do fato.

Conhecimento da situação justificante: essa excludente, como


as demais, também exige o elemento subjetivo, ou seja, o
sujeito deve ter conhecimento de que está praticando um fato
em face de um dever imposto pela lei, do contrário, estaremos
diante de um ilícito (Capez, 2011, p. 216)

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO


Conceito: causa de exclusão da ilicitude que consiste no
exercício de uma prerrogativa conferida pelo
ordenamento jurídico a qualquer pessoa, caracterizada
como fato típico.

Exemplo: prisão em flagrante por particular; a
imunidade judiciária (CP, art. 142, I); coação para evitar
suicídio ou para a prática de intervenção cirúrgica (art.
146, § 3º)

Conhecimento da situação justificante: É necessário o
conhecimento de toda a situação fáticaautorizadora da
excludente.
CONCURSO DE PESSOAS

P - Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o


crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade.

 Formas de concurso de pessoas:



Coautores: são aqueles que praticam o mesmo
comportamento típico. Não obstante não precisem
desempenhar a mesma atividade para a consecução do
delito, todo cooperam para a realização do injusto
(Costa Machado, 2017, p. 57).

Partícipe: é quem concorre para que o autor ou


coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele
que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de
algum modo para a produção do resultado. (Capez,
2011, p. 365).

 Espécies de crimes quanto ao concurso de pessoas

Monossubjetivos ou de concurso eventual: são aqueles


que podem ser cometidos por um ou mais agentes.
Constituem a maioria dos crimes previstos na
legislação penal, tais como homicídio, furto etc.
(concurso eventual).
Plurissubjetivos ou de concurso necessário: são os que
só podem ser praticados por uma pluralidade de
agentes em concurso. É o caso da quadrilha ou bando,
da rixa etc. (concurso necessário).

Requisitos do concurso de pessoas

Pluralidade de condutas: para que haja concurso de


agentes, exigem- se, no mínimo, duas condutas, quais
sejam, duas principais, realizadas pelos autores
(coautoria), ou uma principal e outra cessória,
praticadas, respectivamente, por autor e partícipe.

Relevância causal de todas elas: se a conduta não tem


relevância causal, isto é, se não contribuiu em nada para a
eclosão do resultado, não pode ser considerada como
integrante do concurso de pessoas.

Liame subjetivo ou concurso de vontades: é
imprescindível a unidade de desígnios, ou seja, a vontade
de todos de contribuir para a produção do resultado,
sendo o crime produto de uma cooperação desejada e
recíproca.
Identidade de infração para todos: em regra, todos,
coautores e partícipes, devem responder pelo mesmo crime.

Formas de participação

Moral: instigação e induzimento. Instigar é reforçar uma


ideia já existente. O agente já a tem em mente, sendo apenas
reforçada pelo partícipe. Induzir é fazer brotar a ideia no
agente. O agente não tinha ideia de cometer o crime, mas ela
é colocada em sua mente.

Material: Considera-se, assim, partícipe aquele que presta
ajuda efetiva na preparação ou execução do delito, seja
fornecendo armas ou outros objetos úteis ou necessários à
realização do projeto criminoso; seja na execução, fazendo
vigilância exercida durante a execução de um crime;
emprestar arma; segurar a vítima para impedi-la de reagir,
facilitando a tarefa criminosa do executor; conduzir ladrões,
em qualquer veículo, ao local do crime.

OBRIGADA
E-book oferecido pelo
Centro Educacional Sete de Setembro
em parceria com o Professora Klaique Andreia
Araújo. para o curso de "Introdução ao Direito
Penal".
E-book oferecido pelo
Centro Educacional Sete de Setembro
em parceria com a professora Klaique Andreia
Araújo.

cessetembro

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