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Direito Penal
Parte 1
Janaina Mascarenhas
2023
Sumá rio
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL...........................................................................3
LEI PENAL NO TEMPO................................................................................................11
LEI PENAL NO ESPAÇO..............................................................................................14
LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS (IMUNIDADES).....................................19
TEORIA DO DELITO....................................................................................................20
ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE)............................................................................50
CULPABILIDADE.........................................................................................................57
CONCURSO DE PESSOAS...........................................................................................65
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL
1. Conceito de Juarez Cirino dos Santos
O setor do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e prevê medidas de
segurança aplicáveis aos autores das condutas incriminadas.
2. Características do Direito Penal
Finalidade preventiva geral (impacto na sociedade) e especial (impacto no
individuo que delinque)
Subsidiariedade (non omne quod licet honestum est) – é a ultima ratio, só deve
ser usado para lesões graves na sociedade.
Fragmentariedade – a proteção a bens jurídicos pelo direito penal não é
uniforme, pois somente protege as lesões graves, e não todas as lesões.
3. Direito penal objetivo x direito penal subjetivo
Objetivo: são as normas penais.
Subjetivo: é o ius puniendi do Estado. Ius puniendi positivo: poder-dever de criar
normas punitivas e executar as condenações. Ius puniendi negativo: é o poder de
derrogar preceitos ou restringir o alcance das normas.
Limites do ius puniendi:
a) Temporal – prescrição
b) Territorial – territorialidade
c) Modal – principio da dignidade da pessoa humana.
4. Modelo garantista de Ferrajoli
“O garantismo representa o único remédio para os poderes selvagens”. O garantismo
estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, dando aos direitos
fundamentais um status de intangibilidade, de esfera do “não decidível”, nem mesmo
em nome do “bem comum”.
Principio da presunção de inocência:
a) Regra probatória, invertendo-se o seu ônus, como presunção legal relativa de
não-culpabilidade; Cabe à acusação provar a culpa, não ao acusado provar sua
inocência. Daí decorre o principio da não autoincriminação.
Provas ilícitas não superam a presunção de inocência.
b) Valoração da prova (regra de julgamento), confundido-se neste aspecto, com o
princípio do in dubio pro reo; Na insuficiência de provas absolve-se, resolvendo
o mérito.
c) Regra tratamento do acusado durante todo o transcorrer do processo penal –
não ser tratado como acusado, com antecipações de condenação. Exemplo:
excepcionalidade do uso de algemas;
d) No atinente à imposição de qualquer espécie de prisão cautelar ao acusado.
5. Função do Direito Penal
Proteger bens jurídicos. Essa ideia limita a ação do direito penal a esse conceito de bens
jurídicos. (princípio da lesividade/ofensividade). Funcionalismo teleológico.
OBS: Bittencourt diferencia lesividade de ofensividade, esta seria a lesão significativa.
Divergência doutrinária:
JAKOBS – A finalidade do direito penal é a garantia de vigência da norma.
Não acredita no conceito material de bens jurídicos (quando o direito penal age, o bem
jurídico já foi lesionado), nem que o Direito Penal seja um muro protetor de bens
jurídicos. Afirma que a função é a prevenção geral positiva (reforço na confiança acerca
da validade da norma). Prevenção geral negativa = medo de sofrer as sanções. A
doutrina de Jakobs não discute o conteúdo da norma penal, pois há uma menor
limitação destas, já que ela não segue o conceito de bens jurídicos. Assim, a lei penal
pode ter qualquer conteúdo, desde que tenha como finalidade o reforço de confiança
acerca da validade da norma.
6. Bem jurídico
Está dentro do contexto de Iluminismo, surgimento dos Estados e tentativa de
normatizar, objetivar a aplicação das penas, de modo racional e laico.
Beccaria: bem jurídico como aquele fundamental para o contrato social, portanto
crime é a violação desse contrato social.
Positivismo e sistema clássico: Binding – o bem jurídico é um bem criado pelo
legislador. X Von Liszt – o bem jurídico é um bem da vida escolhido pelo legislador.
Mezger – se afasta do sistema clássico, neokantismo, bem jurídico é a ratio da norma,
não há parâmetros materiais, mas apenas valorativos do legislador.
São realidades ou finalidades que permitem a realização pessoal dos indivíduos (vida,
patrimônio, honra) ou a proteção do sistema jurídico constitucional, que é instrumental
para a realização pessoal dos indivíduos (ex: fé publica, administração)
Luis Greco: são dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para a
subsistência do sistema social, compatíveis com a ordem constitucional.
Roxin: realidades ou fins que são necessários para uma vida social livre e segura, que
garanta os direitos fundamentais dos indivíduos, ou para o funcionamento do sistema
estatal erigido para a consecução de tal fim.
OBS: Bem jurídico vs. Objeto material do crime
Bem jurídico é ideia abstrata, objeto material é aquele físico sobre o qual recai a
conduta criminosa.
OBS2: Bem jurídico liquefeito ou desmaterializado ou espiritualizado: antes os bens
jurídicos eram tangíveis, relacionados diretamente a proteção do individuo: a vida, o
patrimônio, a dignidade sexual etc. Com a evolução das relações sociais o D. Penal
passou a antecipar como criminosas condutas mais abstratas, com o fim de combater
condutas difusas (ex: proteção do meio ambiente, segurança digital etc). Se relaciona
também com a ideia de panpenalismo. No direito penal do inimigo também há uma
antecipação de condutas. – terceira velocidade do direito penal.
4.1. Funções do conceito de bem jurídico
Garantia - limita o conteúdo das normas penais ao conceito.
Teleológica – a interpretação da norma se baseia no bem jurídico tutelado (ex:
extorsão mediante sequestro requer vantagem patrimonial, porque o bem
jurídico tutelado é o patrimônio).
Individualizadora – a intensidade da lesão ao bem jurídico é critério
individualizador da pena.
Sistemática – a classificação dos crimes no código é feita com base no bem
jurídico.
4.2. Consequências do conceito de bem jurídico
Impossibilidade de punir condutas meramente imorais.
Impossibilidade de punir simples violação de um dever
Impossibilidade de proibições meramente ideológicas
Impossibilidade de punir um modo de ser.
Direito penal do fato: direito penal pune condutas lesivas a bem
jurídicos.
Direito penal de autor (do inimigo): direito penal pune pessoas ou
personalidades.
O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a não-recepção do
artigo 25 da Lei de Contravenções Penais, que considera
infração penal o fato de alguém, depois de condenado por crime
patrimonial, ou em estado de mendicância, portar gazuas, chaves
falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na
prática de crime de furto. Entendeu o STF que o caso constitui
hipótese manifesta de direito penal do autor, criminalizando a
condição pessoal e econômica do agente, em detrimento do fato
capaz de causar lesão relevante a bem jurídico tutelado.
Coculpabilidade às avessas - quando o Estado, detentor da
persecução penal, tipifica condutas que são direcionadas aos mais
desfavorecidos da sociedade (por exemplo, o artigo 176 do
Código Penal tipifica a conduta de consumir em restaurantes sem
dispor de dinheiro para pagamento) ou, por outro lado, prevê
penas mais brandas para os agentes detentores de grande poderio
econômico (por exemplo, o artigo 9º, §2º, da Lei 10.684/2003,
dispõe que o pagamento integral do débito tributário, ainda que
após o trânsito em julgado da condenação, é causa de extinção da
punibilidade).
O STF definiu que a utilização da reincidência não configura
direito penal do autor. Ao revés, concretiza o mandamento
constitucional da pessoalidade da pena (artigo 5º, XLV, da Carta
Magna). Isonomia.
Impossibilidade de punir bens não fundamentais.
4.3 Bem jurídico e a Constituição
O conceito de delito é influenciado pelo tipo de Estado em que se insere o legislador
penal e pela Constituição.
Proibição de penalização: (i) de direitos constitucionalmente tutelados (ii) de condutas
que não sejam lesivas de bem jurídicos (princípio da lesividade).
Lesividade não está explicita na constituição mas alguns autores defendem que o
princípio da dignidade da pessoa humana abarca a lesividade (o individuo não pode
ser usado como instrumento para outro fim que não ele mesmo ou a convivência social,
portanto a privação da liberdade deve ser excepcional, apenas nos casos de grave lesão
aos bens jurídicos).
O bem jurídico precisa estar previsto na Constituição?
1ª Corrente (Figueiredo Dias): Sim, pelo menos implicitamente.
2ª Corrente (Luiz Greco): Não, basta que não seja incompatível com a Constituição.
A previsão do bem jurídico na Constituição vincula o legislador a punir
penalmente a lesão? Há mandados de criminalização na constituição? Há obrigações
constitucionais de tutela penal?
1ª Corrente (Luciano Feldens): Sim, há mandados de criminalização na constituição.
Se baseia na ideia de proibição de proteção deficiente, do princípio da
proporcionalidade, porque como a constituição prevê atuação penal no caso de retenção
dolosa do salário (art. 7°, X), afirma ele que implicitamente se quer a proteção do
próprio trabalhador e seus direitos fundamentais em geral.
2ª Corrente (Dolcini e Marinucci): Não, a constituição tutela os bens mas não
necessariamente com o direito penal, que é subsidiário, devendo o modo de tutela ser
definido pelo Legislativo.
ADO 26 – CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA – O STF entendeu que há
mandado de criminalização da LGBTfobia no art. 5º XLI e XLII, que tratam do crime
de racismo e da obrigação de punir condutas discriminatórias e lesivas aos direitos
fundamentais. (decisão normativa aditiva, de Ricardo guastini)
4.4 Bens jurídicos individuais e coletivos
Os bens jurídicos coletivos são os transindividuais (ex: meio ambiente). Os individuais
são os que cada indivíduo usufrui em sua esfera própria (ex: vida, liberdade,
propriedade).
Falsos bens jurídicos coletivos – são a soma de vários bens individuais (ex: saúde
pública é apenas a soma do bem da saúde individualizado). É o caso do trafico e drogas,
que falsamente se diz lesionar o bem jurídico coletivo, mas na verdade lesiona apenas
bem jurídico individual, a saúde do usuário. Essa falsa coletividade é utilizada, portanto,
como pretexto para majorar penas em crimes que poderiam ser menos graves ou até
abolidos.
4.4.1 Delitos de Acumulação
Se relacionam com os bens jurídicos transindividuais.
São os delitos que se impõem pela preocupação com a multiplicação das condutas
que, isoladamente, não afetam gravemente o bem jurídico, mas em conjunto podem
trazer grandes lesões (ex: pesca no período de defeso; crimes ambientais etc).
Pode haver aplicação da insignificância mas de modo mitigado (ex: pescar o peixe no
defeso e depois devolver vivo).
7. Princípio da lesividade e crimes de perigo abstrato
Os crimes podem ser (i) de lesão (ii) de perigo concreto (iii) de perigo abstrato.
Doutrina tradicional: O perigo concreto exige a efetiva prova do perigo no caso
concreto (ex: crime de incêndio, crime de dirigir sem CNH – único de perigo concreto).
O perigo abstrato presume absolutamente o perigo (ex: art. 253 transporte de
substancia tóxica sem licença; crime CTB entregar carro para alguém sem CNH. Dirigir
embriagado.). Nessa ótica da doutrina tradicional, os crimes de perigo abstrato não
seguem o princípio da lesividade e, consequentemente, a dignidade da pessoa humana.
Inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato: Alice Bianchini, Damásio.
A doutrina moderna vê o perigo abstrato como constatação ex ante do perigo
(enquanto a conduta é realizada), uma constatação menos exigente [como se fosse uma
tutela antecipada]. Não há presunção de perigo, mas a constatação de perigo, porém
durante a realização da conduta. (ex: art. 253 sob essa ótica não seria crime se
transportador estivesse seguindo as normas, mas não tivesse a licença). Aqui o princípio
da lesividade é respeitado, porque há um perigo constatado. (Luis Greco)
O perigo concreto exige uma constatação ex post do perigo, ou seja, ao fim da
conduta deve ter havido um perigo ao bem jurídico, que só se salva por uma obra do
acaso.
STJ Informativo 563 - o crime de entrega de
OBS: Como identificar crimes de
direção de veículo automotor a pessoa não
perigo concreto e abstrato? Se no tipo
habilitada (art. 310 do CTB) é de perigo
há alusão ao perigo, é de perigo
abstrato.
concreto. Se só descreve a conduta
STJ utiliza a doutrina moderna. Aponta sem aludir a perigo, é de perigo
como de perigo abstrato os crimes previstos abstrato.
nos arts. 306 e 310 do CTB, e o de porte e
posse ilegal de arma de fogo. Porte de arma
desmuniciada não é atípico, mas de arma INAPTA é.
No STF Informativo 82, de maio de 2016 se aproximou da doutrina moderna - portar
munição como pingente não configura crime, porque neste caso o paciente não oferece
perigo concreto ou abstrato. Ou seja, precisava provar algum perigo, não há presunção
absoluta.
STJ EREsp 1005300/RS, julgado em 14/08/2013 – Utilizou a doutrina moderna.
8. Princípio da Legalidade (nullum crimen, nulla poena sine lege)
Não há crime sem lei anterior que o defina.
OBS: Teoria de Binding:
previa escrita A norma penal tem caráter proibitivo e
costumes nao está implícita na lei, que é apenas o
criminalizam
instrumento. A lei é descritiva de uma
LEI conduta proibida ou imposta, enquanto
a norma é proibitiva.
estrita certa
nao cabe analogia taxatividade Medida provisória: não é cabível para
criminalizar, mas pode para beneficiar
o cidadão.
Lei de interpretação autêntica: por ser puramente interpretativa ela pode ser aplicada
para fatos anteriores a ela. Mas se são inseridas novas informações, que é o mais
comum, não pode retroagir.
Normas penais em branco: norma que compreende um termo que é definido em um
complemento. É uma técnica legislativa que tem vantagens politico-criminais, pois a
legislação ordinária não tem a velocidade para acompanhar as mudanças fáticas e
econômicas.
Não viola a legalidade porque o núcleo essencial da conduta e as penas vem descritas
na lei. (ex: art. 12 da Lei drogas remete à portaria do MS sobre substancias
entorpecentes e psicotrópicas)
Classificação das normas penais em branco:
o Própria x imprópria – se o complemento advém de lei é impropria ou
homogênea. Se advém de ato administrativo é própria ou
heterogênea.
o Homovitelina x heterovitelina – homovitelina é se vem na mesma
estrutura legislativa (ex: código penal e código penal).
o Ao revés: o complemento é uma lei que impõe sanção (lei penal
incompleta ou secundariamente remetida) ex: art. 304 uso de
documento falso
o Ao quadrado: quando o complemento faz referência a outro
complemento.Ex: art. 38 Lei 9605 remete a preservação permanente
que é definido no Cod. Florestal, que remete a ato do poder executivo
que define.
Hipóteses:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (princípio da
justiça universal)
b) praticados por brasileiro (princípio da nacionalidade)
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
(princípio da representação)
Condições:
De procedibilidade: a ausência da condição de caráter processual gera extinção
sem formação de coisa julgada material, permitindo uma nova ação com o
saneamento do vício.
De punibilidade (objetivas): as condições de punibilidade afetam o direito de
punir do Estado, portanto sua ausência gera coisa julgada material, impedindo
novas ações sobre o fato.
Análise do agente
Desvalor da ação
Injusto
Desvalor do resultado
a) Teorias objetivas:
Mais aceitas na doutrina brasileira. A tentativa é punida porque oferece risco
considerável ao bem jurídico tutelado (análise ex post do perigo).
Crítica: despreza a intenção do agente que pode vir antes do perigo.
b) Teorias subjetivas:
A tentativa é punida porque já é exteriorização da intenção do agente de realizar o
crime. Crítica: engloba atos que não oferecem perigo, mesmo que haja intenção.
c) Teorias da impressão:
A tentativa é punida porque é ato potencialmente perigoso (análise ex ante) que abala a
confiança nas pessoas. O perigo é analisado durante a realização da conduta.
6.3 Tentativa nas contravenções
É atípica a tentativa de contravenção.
6.4 Tentativa e crime qualificado
Existem três casos possíveis: conduta base dolosa e qualificadora dolosa; conduta base
dolosa e qualificadora culposa (preterdolo); conduta base e qualificadora culposas. A
tentativa só cabe no dolo.
DOLO + DOLO – crime qualificado pelo resultado
É possível que o agente inicie a conduta base e a ação para o resultado qualificador, mas
não é sequer necessário que haja o inicio do resultado qualificador, bastando que seja
claro que era desejado.
CONDUTA BASE RESULTADO
QUALIFICADOR
Ex: latrocínio tentado.
Roubou mas n morreu.
CONDUTA CONDUTA BASE
QUALIFICADORA
Ex: furto pela escalada
Para outra parte da doutrina, porém, há a possibilidade de fazer uma escolha com bate
em critérios subjetivos do agente o que se aproxima de uma inexigibilidade
SUBJETIVA, que se assemelha à excludente de CULPABILIDADE. Ex: o médico
percebe que uma das vitimas é seu filho. Aqui, além da questão subjetiva, há também a
posição de garante, que reforça o dever de agir do médico para com o filho.
Fala-se em concurso eventual de pessoas quando há crime unissubjetivo, que pode ser
praticado por uma única pessoa. O Concurso necessário de pessoas diz respeito ao crime
plurissubjetivo, cuja configuração típica exige mais de uma pessoa. Nesse caso, o
inimputável é contado para fins de concurso.
Crimes eventualmente plurissubjetivos são aqueles que originariamente são
unissubjetivos mas no caso de concurso há aumento de pena ou forma qualificada (ex:
furto qualificado e roubo majorado). Aqui o inimputável é contado para fins de
concurso.
No caso da existência do concurso de pessoas nos crimes eventualmente
plurissubjetivos haverá incidência da majorante/qualificadora em decorrência do
concurso mesmo que algum ou alguns dos concorrentes não sejam imputáveis.
16. Teorias do concurso de pessoas
O Brasil adota teoria monista temperada.
Teoria monista pura
Dá tratamento igualitário a todos os concorrentes do crime
Tem seu fundamento na teoria da equivalência dos antecedentes (conditio sine
qua non).
Não há diferenciação entre autor e partícipe, todos são autores.
O crime é uno e indivisível.
Há convergência objetiva e subjetiva das ações dos participantes.
Teoria monista temperada
É a adotada pelo CP.
Dá tratamento diferenciado para cada concorrente “na medida da sua
culpabilidade”
Reforça o principio da individualização da pena.
Considera a individualidade da intenção de cada agente. Se um deles queria
crime menos grave a ele é imputado crime menos grave, que pode ter pena
aumentada se o resultado mais grave era previsível.
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um
sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave
As circunstâncias de caráter pessoal só se comunicam se elementares do crime, tendo
em vista o principio da individualização da pena. (art. 30 CP) Ex: peculato e fun. Pub.
Teoria pluralista
Dá tratamento diferenciado, com crimes diferentes, penas diferentes para
sujeitos que concorrem para o mesmo fato. Ex: corrupção ativa/passiva;
facilitação e contrabando/contrabando; aborto consentido da mulher e do
medico.
Também chamada de cumplicidade do crime distinto ou de autonomia da
cumplicidade.
O CP possui exceções pluralistas.
Teoria dualista (Manzini)
Separação total entre o crime do autor e o crime do partícipe. Não há concurso eventual
de pessoas em um crime, já que cada um comete um crime diferente.
Teoria mista (Carnelutti)
Os agentes são partes de um crime concursal. Há diversos delitos que juntos formam o
delito final complexo.
17. Requisitos para o concurso de pessoas
Convergência objetiva
Convergência subjetiva
Identidade do ilícito (o CP possui algumas exceções)
Convergência objetiva - pluralidade de pessoas culpáveis + pluralidade de condutas com
relevância causal para o crime (nexo causal). A relevância causal não precisa ser muito
grande, podendo ser de pouca importância. Mas não pode ser inócua.
Convergência subjetiva – concurso de vontades dos agentes. Não precisa haver prévio
ajuste, basta que ambos tenham a mesma vontade de atingir o resultado (exemplo da
empregada que deixa a aporta aberta).
Coautoria sucessiva – é concurso de pessoas. Ocorre quando há conduta com
relevância causal ANTES da consumação, sem prévio ajuste. (exemplo: homem
que vê uma agressão e vai ajudar a agredir). Se a conduta ocorre depois da
consumação, não é concurso de pessoas, mas sim outro crime, como
favorecimento real, favorecimento pessoal ou receptação.
Autoria colateral – não há liame subjetivo. São causas independentes e cada um
responde pelo resultado causado.
Autoria incerta – Não é possível a identificação do autor do resultado, fica em
duvida. A solução é dada pelo principio do in dubio pro reo, ambos respondem
pela tentativa.
Autoria indeterminada – não sabe quem é, não condena ninguém.
18. Teorias sobre autoria
NÃO CONFUNDIR
Teoria subjetiva/unitária é
quanto à autoria e NÃO foi
adotada pelo CP.
Teoria monista temperada é
sobre o concurso de pessoas e
Teoria subjetiva (unitária) – Todos que concorrem com o crime são autores e não há
distinção de tratamento.
Teoria extensiva - Todos que concorrem com o crime são autores e há distinção de
tratamento quanto ao grau de participação.
Teoria objetiva (dualista ou restritiva) – Diferencia autores de partícipes. É adotada pelo
CP.
OBS: o CP apenas definiu a teoria de concurso de pessoas, ou seja, monista temperada.
Mas não definiu se os concorrentes respondem todos como autores, como autores e
partícipes, nem qual a diferença entre autores e partícipes. Essa definição ficou a cargo
da doutrina, que adotou a teoria objetivo-formal. Para Gueiros na verdade isso
demonstra que não diferenciou e portanto adotou a Teoria Subjetiva/unitária, mas que
tem sido mitigada com a jurisprudência e as reformas do CP.
3.1. Desdobramentos da Teoria objetiva/dualista
Críticas: (I) não pune o mandante como autor do crime, pois ele
não realiza o núcleo (ii) não explica satisfatoriamente a questão
da autoria mediata.
objetiva/dualista