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Coleção Resumos

Direito Penal
Parte 1

Janaina Mascarenhas

2023
Sumá rio
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL...........................................................................3
LEI PENAL NO TEMPO................................................................................................11
LEI PENAL NO ESPAÇO..............................................................................................14
LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS (IMUNIDADES).....................................19
TEORIA DO DELITO....................................................................................................20
ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE)............................................................................50
CULPABILIDADE.........................................................................................................57
CONCURSO DE PESSOAS...........................................................................................65
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL
1. Conceito de Juarez Cirino dos Santos
O setor do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e prevê medidas de
segurança aplicáveis aos autores das condutas incriminadas.
2. Características do Direito Penal
 Finalidade preventiva geral (impacto na sociedade) e especial (impacto no
individuo que delinque)
 Subsidiariedade (non omne quod licet honestum est) – é a ultima ratio, só deve
ser usado para lesões graves na sociedade.
 Fragmentariedade – a proteção a bens jurídicos pelo direito penal não é
uniforme, pois somente protege as lesões graves, e não todas as lesões.
3. Direito penal objetivo x direito penal subjetivo
Objetivo: são as normas penais.
Subjetivo: é o ius puniendi do Estado. Ius puniendi positivo: poder-dever de criar
normas punitivas e executar as condenações. Ius puniendi negativo: é o poder de
derrogar preceitos ou restringir o alcance das normas.
Limites do ius puniendi:
a) Temporal – prescrição
b) Territorial – territorialidade
c) Modal – principio da dignidade da pessoa humana.
4. Modelo garantista de Ferrajoli
“O garantismo representa o único remédio para os poderes selvagens”. O garantismo
estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, dando aos direitos
fundamentais um status de intangibilidade, de esfera do “não decidível”, nem mesmo
em nome do “bem comum”.
Principio da presunção de inocência:
a) Regra probatória, invertendo-se o seu ônus, como presunção legal relativa de
não-culpabilidade; Cabe à acusação provar a culpa, não ao acusado provar sua
inocência. Daí decorre o principio da não autoincriminação.
Provas ilícitas não superam a presunção de inocência.
b) Valoração da prova (regra de julgamento), confundido-se neste aspecto, com o
princípio do in dubio pro reo; Na insuficiência de provas absolve-se, resolvendo
o mérito.
c) Regra tratamento do acusado durante todo o transcorrer do processo penal –
não ser tratado como acusado, com antecipações de condenação. Exemplo:
excepcionalidade do uso de algemas;
d) No atinente à imposição de qualquer espécie de prisão cautelar ao acusado.
5. Função do Direito Penal
Proteger bens jurídicos. Essa ideia limita a ação do direito penal a esse conceito de bens
jurídicos. (princípio da lesividade/ofensividade). Funcionalismo teleológico.
OBS: Bittencourt diferencia lesividade de ofensividade, esta seria a lesão significativa.
Divergência doutrinária:
JAKOBS – A finalidade do direito penal é a garantia de vigência da norma.
Não acredita no conceito material de bens jurídicos (quando o direito penal age, o bem
jurídico já foi lesionado), nem que o Direito Penal seja um muro protetor de bens
jurídicos. Afirma que a função é a prevenção geral positiva (reforço na confiança acerca
da validade da norma). Prevenção geral negativa = medo de sofrer as sanções. A
doutrina de Jakobs não discute o conteúdo da norma penal, pois há uma menor
limitação destas, já que ela não segue o conceito de bens jurídicos. Assim, a lei penal
pode ter qualquer conteúdo, desde que tenha como finalidade o reforço de confiança
acerca da validade da norma.
6. Bem jurídico
Está dentro do contexto de Iluminismo, surgimento dos Estados e tentativa de
normatizar, objetivar a aplicação das penas, de modo racional e laico.
Beccaria: bem jurídico como aquele fundamental para o contrato social, portanto
crime é a violação desse contrato social.
Positivismo e sistema clássico: Binding – o bem jurídico é um bem criado pelo
legislador. X Von Liszt – o bem jurídico é um bem da vida escolhido pelo legislador.
Mezger – se afasta do sistema clássico, neokantismo, bem jurídico é a ratio da norma,
não há parâmetros materiais, mas apenas valorativos do legislador.
São realidades ou finalidades que permitem a realização pessoal dos indivíduos (vida,
patrimônio, honra) ou a proteção do sistema jurídico constitucional, que é instrumental
para a realização pessoal dos indivíduos (ex: fé publica, administração)
Luis Greco: são dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para a
subsistência do sistema social, compatíveis com a ordem constitucional.
Roxin: realidades ou fins que são necessários para uma vida social livre e segura, que
garanta os direitos fundamentais dos indivíduos, ou para o funcionamento do sistema
estatal erigido para a consecução de tal fim.
OBS: Bem jurídico vs. Objeto material do crime
Bem jurídico é ideia abstrata, objeto material é aquele físico sobre o qual recai a
conduta criminosa.
OBS2: Bem jurídico liquefeito ou desmaterializado ou espiritualizado: antes os bens
jurídicos eram tangíveis, relacionados diretamente a proteção do individuo: a vida, o
patrimônio, a dignidade sexual etc. Com a evolução das relações sociais o D. Penal
passou a antecipar como criminosas condutas mais abstratas, com o fim de combater
condutas difusas (ex: proteção do meio ambiente, segurança digital etc). Se relaciona
também com a ideia de panpenalismo. No direito penal do inimigo também há uma
antecipação de condutas. – terceira velocidade do direito penal.
4.1. Funções do conceito de bem jurídico
 Garantia - limita o conteúdo das normas penais ao conceito.
 Teleológica – a interpretação da norma se baseia no bem jurídico tutelado (ex:
extorsão mediante sequestro requer vantagem patrimonial, porque o bem
jurídico tutelado é o patrimônio).
 Individualizadora – a intensidade da lesão ao bem jurídico é critério
individualizador da pena.
 Sistemática – a classificação dos crimes no código é feita com base no bem
jurídico.
4.2. Consequências do conceito de bem jurídico
 Impossibilidade de punir condutas meramente imorais.
 Impossibilidade de punir simples violação de um dever
 Impossibilidade de proibições meramente ideológicas
 Impossibilidade de punir um modo de ser.
 Direito penal do fato: direito penal pune condutas lesivas a bem
jurídicos.
 Direito penal de autor (do inimigo): direito penal pune pessoas ou
personalidades.
 O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a não-recepção do
artigo 25 da Lei de Contravenções Penais, que considera
infração penal o fato de alguém, depois de condenado por crime
patrimonial, ou em estado de mendicância, portar gazuas, chaves
falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na
prática de crime de furto. Entendeu o STF que o caso constitui
hipótese manifesta de direito penal do autor, criminalizando a
condição pessoal e econômica do agente, em detrimento do fato
capaz de causar lesão relevante a bem jurídico tutelado.
 Coculpabilidade às avessas - quando o Estado, detentor da
persecução penal, tipifica condutas que são direcionadas aos mais
desfavorecidos da sociedade (por exemplo, o artigo 176 do
Código Penal tipifica a conduta de consumir em restaurantes sem
dispor de dinheiro para pagamento) ou, por outro lado, prevê
penas mais brandas para os agentes detentores de grande poderio
econômico (por exemplo, o artigo 9º, §2º, da Lei 10.684/2003,
dispõe que o pagamento integral do débito tributário, ainda que
após o trânsito em julgado da condenação, é causa de extinção da
punibilidade).
 O STF definiu que a utilização da reincidência não configura
direito penal do autor. Ao revés, concretiza o mandamento
constitucional da pessoalidade da pena (artigo 5º, XLV, da Carta
Magna). Isonomia.
 Impossibilidade de punir bens não fundamentais.
4.3 Bem jurídico e a Constituição
O conceito de delito é influenciado pelo tipo de Estado em que se insere o legislador
penal e pela Constituição.
Proibição de penalização: (i) de direitos constitucionalmente tutelados (ii) de condutas
que não sejam lesivas de bem jurídicos (princípio da lesividade).
Lesividade não está explicita na constituição mas alguns autores defendem que o
princípio da dignidade da pessoa humana abarca a lesividade (o individuo não pode
ser usado como instrumento para outro fim que não ele mesmo ou a convivência social,
portanto a privação da liberdade deve ser excepcional, apenas nos casos de grave lesão
aos bens jurídicos).
O bem jurídico precisa estar previsto na Constituição?
1ª Corrente (Figueiredo Dias): Sim, pelo menos implicitamente.
2ª Corrente (Luiz Greco): Não, basta que não seja incompatível com a Constituição.
A previsão do bem jurídico na Constituição vincula o legislador a punir
penalmente a lesão? Há mandados de criminalização na constituição? Há obrigações
constitucionais de tutela penal?
1ª Corrente (Luciano Feldens): Sim, há mandados de criminalização na constituição.
Se baseia na ideia de proibição de proteção deficiente, do princípio da
proporcionalidade, porque como a constituição prevê atuação penal no caso de retenção
dolosa do salário (art. 7°, X), afirma ele que implicitamente se quer a proteção do
próprio trabalhador e seus direitos fundamentais em geral.
2ª Corrente (Dolcini e Marinucci): Não, a constituição tutela os bens mas não
necessariamente com o direito penal, que é subsidiário, devendo o modo de tutela ser
definido pelo Legislativo.
ADO 26 – CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA – O STF entendeu que há
mandado de criminalização da LGBTfobia no art. 5º XLI e XLII, que tratam do crime
de racismo e da obrigação de punir condutas discriminatórias e lesivas aos direitos
fundamentais. (decisão normativa aditiva, de Ricardo guastini)
4.4 Bens jurídicos individuais e coletivos
Os bens jurídicos coletivos são os transindividuais (ex: meio ambiente). Os individuais
são os que cada indivíduo usufrui em sua esfera própria (ex: vida, liberdade,
propriedade).
Falsos bens jurídicos coletivos – são a soma de vários bens individuais (ex: saúde
pública é apenas a soma do bem da saúde individualizado). É o caso do trafico e drogas,
que falsamente se diz lesionar o bem jurídico coletivo, mas na verdade lesiona apenas
bem jurídico individual, a saúde do usuário. Essa falsa coletividade é utilizada, portanto,
como pretexto para majorar penas em crimes que poderiam ser menos graves ou até
abolidos.
4.4.1 Delitos de Acumulação
Se relacionam com os bens jurídicos transindividuais.
São os delitos que se impõem pela preocupação com a multiplicação das condutas
que, isoladamente, não afetam gravemente o bem jurídico, mas em conjunto podem
trazer grandes lesões (ex: pesca no período de defeso; crimes ambientais etc).
Pode haver aplicação da insignificância mas de modo mitigado (ex: pescar o peixe no
defeso e depois devolver vivo).
7. Princípio da lesividade e crimes de perigo abstrato
Os crimes podem ser (i) de lesão (ii) de perigo concreto (iii) de perigo abstrato.
Doutrina tradicional: O perigo concreto exige a efetiva prova do perigo no caso
concreto (ex: crime de incêndio, crime de dirigir sem CNH – único de perigo concreto).
O perigo abstrato presume absolutamente o perigo (ex: art. 253 transporte de
substancia tóxica sem licença; crime CTB entregar carro para alguém sem CNH. Dirigir
embriagado.). Nessa ótica da doutrina tradicional, os crimes de perigo abstrato não
seguem o princípio da lesividade e, consequentemente, a dignidade da pessoa humana.
Inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato: Alice Bianchini, Damásio.
A doutrina moderna vê o perigo abstrato como constatação ex ante do perigo
(enquanto a conduta é realizada), uma constatação menos exigente [como se fosse uma
tutela antecipada]. Não há presunção de perigo, mas a constatação de perigo, porém
durante a realização da conduta. (ex: art. 253 sob essa ótica não seria crime se
transportador estivesse seguindo as normas, mas não tivesse a licença). Aqui o princípio
da lesividade é respeitado, porque há um perigo constatado. (Luis Greco)
O perigo concreto exige uma constatação ex post do perigo, ou seja, ao fim da
conduta deve ter havido um perigo ao bem jurídico, que só se salva por uma obra do
acaso.
STJ Informativo 563 - o crime de entrega de
OBS: Como identificar crimes de
direção de veículo automotor a pessoa não
perigo concreto e abstrato? Se no tipo
habilitada (art. 310 do CTB) é de perigo
há alusão ao perigo, é de perigo
abstrato.
concreto. Se só descreve a conduta
STJ utiliza a doutrina moderna. Aponta sem aludir a perigo, é de perigo
como de perigo abstrato os crimes previstos abstrato.
nos arts. 306 e 310 do CTB, e o de porte e
posse ilegal de arma de fogo. Porte de arma
desmuniciada não é atípico, mas de arma INAPTA é.
No STF Informativo 82, de maio de 2016 se aproximou da doutrina moderna - portar
munição como pingente não configura crime, porque neste caso o paciente não oferece
perigo concreto ou abstrato. Ou seja, precisava provar algum perigo, não há presunção
absoluta.
STJ EREsp 1005300/RS, julgado em 14/08/2013 – Utilizou a doutrina moderna.
8. Princípio da Legalidade (nullum crimen, nulla poena sine lege)
Não há crime sem lei anterior que o defina.
OBS: Teoria de Binding:
previa escrita A norma penal tem caráter proibitivo e
costumes nao está implícita na lei, que é apenas o
criminalizam
instrumento. A lei é descritiva de uma
LEI conduta proibida ou imposta, enquanto
a norma é proibitiva.
estrita certa
nao cabe analogia taxatividade Medida provisória: não é cabível para
criminalizar, mas pode para beneficiar
o cidadão.
Lei de interpretação autêntica: por ser puramente interpretativa ela pode ser aplicada
para fatos anteriores a ela. Mas se são inseridas novas informações, que é o mais
comum, não pode retroagir.
Normas penais em branco: norma que compreende um termo que é definido em um
complemento. É uma técnica legislativa que tem vantagens politico-criminais, pois a
legislação ordinária não tem a velocidade para acompanhar as mudanças fáticas e
econômicas.
Não viola a legalidade porque o núcleo essencial da conduta e as penas vem descritas
na lei. (ex: art. 12 da Lei drogas remete à portaria do MS sobre substancias
entorpecentes e psicotrópicas)
 Classificação das normas penais em branco:
o Própria x imprópria – se o complemento advém de lei é impropria ou
homogênea. Se advém de ato administrativo é própria ou
heterogênea.
o Homovitelina x heterovitelina – homovitelina é se vem na mesma
estrutura legislativa (ex: código penal e código penal).
o Ao revés: o complemento é uma lei que impõe sanção (lei penal
incompleta ou secundariamente remetida) ex: art. 304 uso de
documento falso
o Ao quadrado: quando o complemento faz referência a outro
complemento.Ex: art. 38 Lei 9605 remete a preservação permanente
que é definido no Cod. Florestal, que remete a ato do poder executivo
que define.

6.1 Exigência de taxatividade (norma certa)


Muito embora haja a exigência de precisão, esta nunca será absoluta, seja nos conceitos
descritivos do tipo, seja nos conceitos normativos, porque o tipo penal é definido por
palavras, que sempre podem ser interpretadas.
Para Roxin: um preceito será claro e determinado na medida em que do mesmo se possa
deduzir o fim de proteção do legislador e sejam marcados limites a uma extensão
arbitrária da interpretação.
A norma deve ser capaz de oferecer um limite, uma moldura à arbitrariedade do
intérprete.
6.2 Legalidade e analogia (norma estrita)
Analogia é método de preencher lacunas não previstas pela legislação. Não é técnica de
interpretação, mas de integração do direito (ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio).
 Interpretação extensiva x analogia
A interpretação pode ser in mala partem, porque só é um esclarecimento do que já
está na lei. Já a analogia nunca pode ser in mala partem, pois cria uma norma nova,
que não pode violar a anterioridade.
STJ RHC 57.544-SP 2015, Informativo 567 – Não é dano qualificado aquele cometido
contra a CEF, porque não há previsão de empresas publicas no art. 163, e a extensão é
analogia in mala partem.

OBS: quando a lacuna é INTENCIONALMENTE criada pelo legislador, a


analogia não deve ser feita, ainda que em benefício do réu. Ex: extinção de
punibilidade pelo pagamento do tributo não abrange o crime de descaminho e
isso foi intencional, porque o descaminho busca proteger a arrecadação fiscal e a
indústria nacional. Portanto, não cabe analogia em benefício do réu, por ser
ilegal.

STF INFORMATIVO 883 - A oferta de serviço de internet, concebido como serviço de


valor adicionado, não pode ser considerada atividade clandestina de telecomunicações.
Critério de diferenciação entre analogia e interpretação extensiva: sentido
literal possível segundo a linguagem corrente
 Interpretação analógica x analogia
A interpretação analógica é uma técnica legislativa na qual se usa um conceito para
indicar que o rol de hipóteses é exemplificativo (ex: ou outro meio, por outras formas,
de outros modos etc). Não é admitida a utilização desses termos sem serem precedidos
por hipóteses homogêneas que se identificam como um gênero (taxatividade).
Extensão analógica das causas de exclusão de ilicitude: doutrina majoritária defende
ser possível. (ex: era o caso de aborto legal em hipótese de atentado violento ao pudor).
9. Princípio da lesividade (ver ponto 5)
10. Princípio da personalidade das penas/pessoalidade/intranscedência (art. 5°
XLV)
Art. 5º, XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação
de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido;
Perdimento de bens:
1ª Corrente: O perdimento de bens é aquele do art. 91 do CP, referente ao confisco dos
bens que são produto ou instrumento do crime. (Sérgio Salomão Shecaira)
2ª Corrente: O perdimento de bens abrange o confisco e também a pena restritiva de
direitos de perda de bens, porque na CF o sentido da expressão “perda de bens” está
atrelado à pena.
11. Princípio do dolo ou culpa/ responsabilidade subjetiva/culpabidade
O nome “culpabilidade” remete à antiga teoria na qual o elemento subjetivo estava
contido na culpabilidade. Não pode haver responsabilidade objetiva (exceção: crimes
ambientais e a pessoa jurídica responsabilizada), para haver responsabilização deve
haver dolo ou culpa.
Como se explica a responsabilidade de PJ? Trata-se de objetivização da
responsabilidade penal?
Não. Entende-se que há um vínculo psicológico mas que não é do ente próprio, mas da
pessoa física ou do órgão interno que expressa no mundo exterior essa vontade pelos
próprios estatutos da empresa (responsabilidade penal em cascata). Assim, a vontade
deve ser emanada de seus representantes ou diretores. Além disso, o dano deve advir de
conduta que buscava benefícios à própria PJ e não às pessoas que a compõem.
A doutrina indica três exemplos de resquícios de responsabilidade objetiva:
a) Actio libera in causam – diz respeito à responsabilização por crimes culposos em
que o agente em momento anterior agiu de forma livre na causa, ou seja,
dolosamente na causa anterior da conduta que, posteriormente, levou ao dano.
Caso dos crimes de transito, em que a embriaguez anterior é voluntária e gera
um dano posterior, que será imputado, não havendo que se falar em
inimputabilidade ou em culpa.
b) Rixa qualificada – todos respondem pelos crimes resultantes da rixa.
12. Princípio da proporcionalidade
Dirigido ao legislador (vertente abstrata) e ao juiz (vertente concreta).
A primazia na condução da política criminal é do legislador, que tem maior
discricionariedade para determinar as sanções, cabendo ao judiciário um papel
subsidiário.
AgRg no Resp 1558108/PR, 2015 – inconstitucionalidade da sanção de 10 a 15 anos
cominada ao crime do art. 273 CP pois é flagrantemente desproporcional, devendo ser
utilizada a sanção do tráfico de drogas. [5 a 15]
AgRg no Resp 1084458/RS, 2015 – não cabe à Corte analisar em abstrato a
proporcionalidade, pois está dentro dos limites da discricionariedade do legislador.
13. Princípio da insignificância
14. Princípio da humanidade (art. 5° XLVIII e XLIX)
Inconstitucionalidade das penas de morte e penas cruéis e trabalhos forçados.
LEI PENAL NO TEMPO
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado.
Teoria da atividade: O crime resta praticado no momento da ação e, portanto, a lei a
ser aplicada ao fato deve ser a vigente no momento da ação/omissão, ainda que se
CONSUME após.
 Crimes permanentes, habituais e continuados.
Crime permanente: o crime se prolonga no tempo, sendo uma conduta que não cessa.
Aplica-se a ultima lei vigente enquanto a conduta durou.
Crime habitual: aquele que PRECISA da repetição da conduta para ser verificado (ex:
exercício ilegal da medicina). Também aplica a última lei vigente.
OBS: há doutrina que fala em crime habitual improprio. É o caso do crime de GESTÃO
FRAUDULENTA Lei 8137. Seriam crimes cuja a repetição não seria necessária para a
habitualidade. No entanto, tal classificação é criticada porque na verdade seriam crimes
instantâneos de resultado permanente, pois a ausência de reiteração desvirtua a
habitualidade.
Crime continuado: é uma espécie de concurso de crimes, aumentando a pena (art. 71
CP). Não é uma conduta só, mas uma ficção jurídica.
Súmula 711 STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.
 Tempo do crime na participação e autoria mediata.
Se o partícipe ou o autor mediato agem em momento diferente do autor, a doutrina
afirma que o tempo do crime deve ser o tempo do participe ou do autor mediato, e
não da conduta do autor. A lei mais gravosa do tempo do autor, posterior, não vale para
o participe/autor mediato.
(ex: Janaina empresta arma sob a vigência de lei x e Ana Luisa mata uma pessoa sob a
vigência de lei y, mais gravosa. Para Janaina deve incidir lei x, ainda que o crime só
tenha ocorrido na vigência de lei y)
1. Conflito de leis no tempo
Só retroagem as leis mais benéficas (lex mitior). [no processo penal, a norma se aplica
imediatamente independentemente do fato ser anterior ou posterior]
OBS: teoricamente é possível que uma lei em abstrato mais gravosa no caso concreto
seja mais benéfica, sendo retroativa ao caso concreto.
Lei intermediária: se aplica se for mais benéfica, ainda que já tenha sido revogada e
seja posterior ao crime (durante o processo).
Leis mistas: leis processuais com reflexos importantes no direito penal. Essas leis são
aplicadas como se fossem leis penais, ou sejam, não se aplica o princípio processual do
tempus regit actum, mas sim retroagem e ultra-agem as leis mais benéficas.
(ex: lei que aumenta o prazo para a representação de 6 meses para 10 meses. Implica na
decadência, que é causa da extinção de punibilidade. Nesse caso, como a nova é lei mais
gravosa, não vai se aplicar ao processo, ultra-agindo a lei anterior, mais benéfica).
Critério para identificar as leis mistas: (i) normas processuais que
tenham direta influência no direito de punir; (ii) normas processuais que
restrinjam conteúdo de direitos e garantias do cidadão.
HC 126.973/SP STJ, 2014 – a Lei 12.403/2011 que previu novas medidas cautelares é
lei processual, e não lei mista, por isso pode ser aplicada imediatamente aos processos
em curso.
OBS: Lei mais benéfica em vacatio legis pode ser aplicada desde logo, segundo a
jurisprudência.
STF E STJ, 3 SEÇÃO, 2021 - A exigência de representação da vítima no crime de
estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já foi OFERECIDA. Condição de
procedibilidade.
A 2ª Turma do STF possui entendimento diferente: CONCORDO
A alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art. 171 do
Código Penal, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à
representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto
as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado.
STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/6/2021
(Info 1023).
Combinação de leis:
RE 600817 2013 STF – Não é possível a conjugação de partes mais benéficas das
referidas normas, para criar-se uma terceira norma, sob pena de violação aos princípios
da legalidade e da separação de Poderes. O juiz, contudo, deverá, no caso concreto,
avaliar qual das mencionadas leis é mais favorável ao réu e aplicá-la em sua
integralidade. Teoria da ponderação unitária. X Teoria da Ponderação Diferenciada
STJ Sumula 501 – É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o
resultado da incidência das suas disposições na íntegra, seja mais favorável ao réu do
que o advindo da aplicação da Lei 6368/76, sendo vedada a combinação de leis.
Abolitio criminis (art. 2° e 107, III CP)
Se o fato ocorreu depois da abolitio criminis, não há TIPICIDADE, não há qualquer
efeito penal ou extrapenal.
Se o fato ocorreu antes da abolitio criminis, há tipicidade, mas não é PUNÍVEL. Afasta
os efeitos penais principais e secundários de eventual condenação. Continuam, no
entanto, os efeitos cíveis (reparação de danos) e extrapenais.
OBS: continuidade normativo-típica: quando o crime é revogado mas a conduta se
mantém crime, como outro crime. Não há abolitio. (ex: caso do beijo roubado que
deixou de ser estupro pra ser importunação sexual; atentado ao pudor que virou estupro)
Lei excepcional ou temporária
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração
ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante
sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Lei temporária: possui um tempo de vigência determinado e preciso, uma data.
Lei excepcional: possui um tempo de vigência determinado e impreciso, um evento.
Essas leis ultra-agem para os eventos praticados em sua vigência, ainda que sobrevenha
lei posterior mais benéfica.
Constitucionalidade das leis temporárias e excepcionais: o art. 5°, XL da CF não é
violado pela ultra-atividade, porque ele diz respeito a lei posterior mais benéfica
revogadora. A lei posterior no caso não é revogadora porque trata de matéria diversa da
lei temporária, por conta da ausência do elemento temporal. Assim, não há revogação.
Retroatividade do complemento da norma penal em branco
O complemento mais benéfico pode ou não retroagir?
Critérios:
Assis Toledo: perda do caráter ilícito do fato.
Pierangelli: natureza do complemento. Se for uma lei (norma penal em branco
impropria), sempre vai retroagir.
Se não for uma lei (norma penal em branco própria) deve-se analisar a natureza do ato
jurídico: se tiver a pretensão de vigência indeterminada, se aproximando de uma lei
normal, vai retroagir (ex: portaria do MS sobre drogas, decreto que libera armas de uso
restrito). Se tiver a pretensão de mudar sempre, vigência determinada, se aproximando
de uma lei temporária, não vai retroagir, a exemplo dessas normas temporárias (ex:
portaria sobre preços de alimentos).
Interpretação jurisprudencial: não há ultra-atividade de jurisprudência mais
benéfica, deve ser aplicado sempre a jurisprudência da época da sentença.
Juarez Tavares afirma, minoritariamente, que se há uma construção ativa da
jurisprudência, que vai além da interpretação, há a possibilidade de ultraatividade do
entendimento mais benéfico.
LEI PENAL NO ESPAÇO
Regra da territorialidade: aplica-se a lei penal aos crimes praticados no Brasil. Pode
ser mitigada pelas imunidades diplomáticas.
Excepcionalmente cabe a extraterritorialidade, baseando-se em certos princípios.
 Princípio da nacionalidade
o Criminoso ou vítima são brasileiros.
 Princípio da defesa real/proteção
o Importância do bem jurídico tutelado ou nacionalidade do bem
jurídico tutelado.
 Princípio da justiça universal
o Alguns crimes que o Brasil se comprometeu internacionalmente em
combater (ex: sequestro de aeronaves)
 Princípio da representação
o Brasil atua subsidiariamente quando outro país não atua.
1. Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de
direito internacional, ao crime cometido no território nacional
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no
espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil.
Aplica a territorialidade temperada.
É território brasileiro:
 Aeronaves e embarcações de natureza pública ou a serviço do governo em
território estrangeiro.
 Aeronaves e embarcações privadas em território brasileiro.
 Aeronaves e embarcações privadas brasileiras em alto-mar ou no espaço aéreo
internacional.
Crimes à distância – lugar do crime (direito penal internacional)
O Brasil adota a teoria da ubiquidade, na qual o lugar do crime é tanto o lugar da ação
como do resultado. Assim, nos crimes à distância (resultado e ação em países
diferentes) o Brasil sempre terá jurisdição para esse crime.
STJ CC 118.503, julgado em 22/04/2015 - A competência da Justiça Federal para
julgamento de crimes cometidos a bordo de navio somente se justifica para
embarcações de grande porte ancoradas em porto brasileiro e em situação de
deslocamento internacional ou apta a fazê-lo.
Não há essa limitação para aeronaves, e haverá a competência federal mesmo para
crimes cometidos em terra.
Convenção de Tóquio (Decreto 479/69)
Aeronaves privadas em voo pelo espaço aéreo estrangeiro seguem o princípio da
bandeira, portanto não se aplica a lei brasileira. Crítica de Nucci: esta regra conflita com
o art. 5º. §2º do CP. Por se tratar de lei federal mais recente do que o CP, teria
prevalência.
Lei 8.617/93 – direito de passagem inocente para os navios. Aplica-se o princípio da
bandeira desde que o navio não tenha a intenção de atracar no território brasileiro.
2. Extraterritorialidade – quando tudo ocorre fora!
2.1 Incondicionada (art. 7°, I)
Há a aplicação da lei brasileira ainda que já absolvido ou condenado no estrangeiro.
Parte da doutrina entende que esse artigo (art. 7°§1°) viola o pacto de São José da Costa
Rica – Convenção Americana de DH e o PIDCP.
Hipóteses
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (princípio da proteção)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (princípio da proteção)
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço . (princípio da
proteção)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. (princípio
da justiça universal)
Pena cumprida no estrangeiro (art. 8°)
Cabe detração. Atenua a pena no Brasil se forem penas diferentes (multa e privativa de
liberdade, por exemplo) e é computada, quando idênticas.

2.2 Condicionada (art. 7°, II)

 Hipóteses:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (princípio da
justiça universal)
b) praticados por brasileiro (princípio da nacionalidade)
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
(princípio da representação)
 Condições:
 De procedibilidade: a ausência da condição de caráter processual gera extinção
sem formação de coisa julgada material, permitindo uma nova ação com o
saneamento do vício.
 De punibilidade (objetivas): as condições de punibilidade afetam o direito de
punir do Estado, portanto sua ausência gera coisa julgada material, impedindo
novas ações sobre o fato.

a) entrar o agente no território nacional; (de procedibilidade)


o Não precisa ficar no território durante o processo.
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição; - não ser crime politico por ex.
o Art. 82 Lei 13.445/17 – impedimento de extradição também impede
extraterritorialidade. (pena menor que 2 anos, já for processado etc)
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
[pelo texto do CP, sendo condenação não cumprida ou cumprida parcialmente,
seria possível a extraterritorialidade, visão mais restritiva do bis in idem.]
o [outra visão, mais garantista, vê bis in idem mesmo no caso de
condenação sem cumprimento de pena, impedindo processo no Brasil.
Uma saída seria a transferência de execução da pena].
o Art. 82, V Lei 13.445/17 ampliou essa hipótese. Agora basta o agente
estar sendo processado para impedir a extraterritorialidade.
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
STF, HC 105461/SP (2016) - O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no
estrangeiro, por si só, não atrai a competência da justiça federal, porquanto não teria
ofendido bens, serviços ou interesses da União.
STF, RE 1175638 AgR, 2019 – Homicídio cometido por brasileiro no exterior, cuja
extradição foi negada (brasileiro nato que foge para brasil). Condições de
extraterritorialidade presentes. A competência é da Justiça Estadual, não ofende
interesse da União. [qual comarca? Art. 88 do CPP, capital do estado onde ultimo tiver
residido OU na Capital da republica]
X
STJ, CC 154656/MG, 2018 – É competência da Justiça Federal o julgamento de
brasileiro com extradição negada, por conta do Acordo de Extradição existente entre
Estados do mercosul, que prevê que se a extradição não for feita deve haver o
julgamento no Estado que negou. Há interesse da União, art. 109, IV.
STF, HC 171118/SP, 2019 – Decidiu que não pode processar no Brasil se já foi
processado no estrangeiro pelo mesmo fato, ainda que seja crime à distancia, ou seja,
ainda que seja NO TERRITÓRIO uma parte da conduta. Seguiu a interpretação menos
restritiva do bis in idem, não levando apenas a literalidade do CP (que permitiria o
processamento nacional por ser crime a distancia, com detração de pena). Usou a
CADH e o PIDCP, controle de convencionalidade do CP. Ressalvou que, se houver
comprovação de que o julgamento no estrangeiro foi ilegítimo, não seguiu o devido
processo e as garantias fundamentais, pode ser feito outro julgamento no Brasil.
STJ, RHC 104.123-SP, 2019 – Não há litispendência internacional, pode ser
processado no Brasil e no estrangeiro pelo mesmo fato. ATENÇÃO, difere do
STF, porque naquele caso já tinha ocorrido condenação, nesse do STJ é em
andamento.
OBS: Homologação de sentença estrangeira: tem como efeitos apenas a aplicação de
Medida de Segurança e reparação de danos. Não pode ser punido novamente no Brasil
(só se fosse caso de extraterritorialidade incondicionada, com detração da pena já
cumprida, mas esta não depende de homologação, a própria justiça brasileira condena).
Atenção! Então se o brasileiro comete crime e foge pro brasil, a sentença estrangeira
não opera seus efeitos plenos, ainda que homologada. Isso ocorre porque há uma
tradição (public law taboo) pela qual não se aplica direito penal estrangeiro. Assim, um
meio possível de não permitir a impunidade, especialmente para crimes graves como
tortura, desaparecimento forçado, racismo, genocídio etc, seria a persecução penal no
país da nacionalidade, com base no princípio da justiça universal, extraterritorialidade.
Transferência de apenados (artigo 103 Lei 13.445/2017): Transferência de presos
consiste em ato bilateral internacional por meio do qual se transporta à fase de
cumprimento de pena, em regra privativa de liberdade, do país onde se encontre o
estrangeiro para o de sua nacionalidade, em caso de concordância do indivíduo
envolvido.
Ativa  de fora vem pro Brasil (execução pela JF)
Passiva  do Brasil vai pra fora (pode ser concedida junto com medida
de proibição de reingresso)
Tal instituto tem cunho humanitário, pois permite que o cumprimento de pena privativa
de liberdade ocorra no meio familiar e social do condenado. Pressupõe, no Brasil,
tratado de transferência com o país requerente. A regra no Brasil é a aplicação indireta
da sentença estrangeira (homologação), não podendo alterar quantum. Alguns países
adotam o sistema de nacionalização, pelo qual a decisão é homologada e pode ser
revista pelo juízo nacional.
Precisa da manifestação de vontade do condenado e não precisa homologar a sentença
estrangeira no STJ.
Com relação à execução da pena após a transferência, cabe esclarecer que o Estado que
condenou o preso mantém a competência exclusiva para as sentenças proferidas pelos
seus tribunais, as condenações por ele impostas, e quaisquer processos destinados a
rever, modificar ou revogar essas sentenças.
Por outro lado, os benefícios decorrentes da execução da pena, tais como a progressão
de regime e o livramento condicional deverão ser apreciados pelo Estado recebedor, de
acordo com sua legislação interna.
Transferência de execução da pena (artigo 100 Lei 13.445/2017): Difere da anterior
porque nesse caso se transfere a execução da pena imposta no estrangeiro, porque o
apenado fugiu ou se encontra em seu país de nacionalidade. Assim, o apenado não é
transferido, apenas a pena. Nesse caso há homologação da sentença estrangeira pelo
STJ. A execução é feita pela JF.
Os requisitos são: haver tratado ou acordo mútuo, condenado ter domicílio ou vinculo
com o Brasil, condenação a cumprir maior que 1 ano.
Transferência de procedimentos penais: Não existe legislação específica no Brasil,
apesar de prevista em alguns tratados assinados e ratificados. Um Estado envia processo
relativo a infração prevista na sua legislação e instaurado em sua jurisdição a Estado
estrangeiro, nos casos em que essa transferência seja considerada necessária à boa
administração da justiça e, em especial, quando estejam envolvidas mais de uma
jurisdição, a fim de centralizar a instrução dos processos. Essa forma de cooperação já
existia em alguns tratados internacionais multilaterais como a Convenção de Viena
sobre Tráfico de Entorpecentes (1988), Convenção de Palermo sobre o Crime
Organizado Transnacional (2000) e Convenção de Mérida contra a Corrupção (2003).
Equipes Conjuntas de cooperação/investigação: Lei 13.344/2016 artigo 5º, III prevê
as equipes conjuntas de cooperação como instrumentos de repressão do tráfico de
pessoas. Essa é previsão inédita na legislação interna brasileira, antes as equipes
conjuntas só haviam sido citadas no artigo 9º §1º, c da Convenção de Viena sobre
Tráfico de Entorpecentes (1988), art.19 da Convenção de Palermo sobre o Crime
Organizado Transnacional (2000) e art. 49 da Convenção de Mérida contra a Corrupção
(2003).
Previsto na Resol 181 do CNMP sobre o PIC
Também está prevista no Acordo Quadro de Cooperação entre os Estados Partes do
Mercosul e Estados Associados para a criação de Equipes Conjuntas de Investigação
(Acordo de San Juan, de 2010)[incorporado internamente em 2020]
Para a atuação dessas equipes é necessário um crime transnacional. Ex: Investigação
Condor sobre justiça de transição, equipe de investigação da queda do Malasyan
Airlines.
Pode ser composta por órgãos de MP e polícia dos Estados envolvidos.
2.3 Hipercondicionada (art. 7°, §3°)
Quando a vítima for brasileira (princípio da nacionalidade)
 Condições:
As mesmas anteriores e ainda:
a) Não ter sido pedida ou ter sido negada a extradição
b) Houver requisição do Ministro da Justiça
LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS (IMUNIDADES)
1. Imunidade diplomática
Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, promulgada no Brasil pelo Decreto
56.435/65.
Natureza jurídica: causas pessoais de extinção de punibilidade.
Sujeitos com imunidade: agentes diplomáticos e funcionários das organizações
internacionais (ex.: ONU), quando em serviço, e ainda familiares. Estão excluídos os
empregados particulares. Cônsules tem imunidade processual penal apenas para atos de
ofício.
Objetivo: permitir maior autonomia dos agentes diplomáticos. Teoria do interesse da
função.
São renunciáveis pelo Estado acreditante (de origem do diplomata).
STJ Informativo 618, de fevereiro de 2018 - É possível que a renúncia se dirija apenas à
jurisdição cognitiva, mas mantenha o cumprimento no país de origem, para eventual
pena criminal imposta.
2. Imunidade parlamentar material
Impossibilidade de ser processado em razão daquilo que fala no Congresso ou fora dele
em função de seu exercício (nexo funcional).
STF Informativo 831 CASO BOLSONARO e maria do rosário - para que as afirmações
feitas pelo parlamentar possam se relacionar ao exercício do mandato, devem revelar
teor minimamente político. Ademais, o simples fato de estar no gabinete na Câmara no
momento da entrevista é meramente acidental, porque a ofensa foi conhecida através de
publicação na imprensa.
Natureza jurídica: STF Informativo 859, 2017: a imunidade parlamentar material é
excludente da tipicidade da conduta.
[crítica: essa posição não explica porque a imunidade gera repercussão na esfera civil.
No entanto, entendendo a imunidade como excludente de ilicitude, explica porque o
parlamentar não responde civilmente]
Sumula 245 do STF: a imunidade parlamentar não se estende a corréu sem essa
prerrogativa.
[Pela Teoria da Acessoriedade limitada, as causas excludentes de tipicidade ou ilicitude
se comunicam com o partícipe, enquanto as de exclusão de punibilidade não. Portanto, a
imunidade seria extintiva de punibilidade]
TEORIA DO DELITO

Análise do agente

Desvalor da ação
Injusto
Desvalor do resultado

1. Sistemas de Teoria do Delito


1.1 Sistema Clássico de Liszt e Beling
Influenciado pelo naturalismo no século XIX e primazia das ciências naturais. Os
elementos objetivos (conduta, relação de causalidade, resultado) eram classificados
dentro do injusto e os elementos subjetivos de dolo e culpa eram classificados na
culpabilidade.
 Evitava juízos de valor.
 Tipo penal era a mera contradição entre a conduta e a norma
 Culpabilidade baseava na concepção psicológica, da intenção do agente. Integra
a REAL consciência da ilicitude – dolus mallus. Imputabilidade é pressuposto.
 Dolo normativo – dolo é consciência da ilicitude.
 Críticas ao sistema: culpa não é intenção, é juízo de valor; não explicava os tipos
penais com especiais fins de agir, continentes de elemento subjetivo.

1.2 Sistema Neoclássico


Resgata a importância dos elementos normativos e juízos de valor. Ruptura com o
sistema clássico.
 Insere na culpabilidade um elemento normativo, exigibilidade de conduta
diversa (Frank), inaugurando a concepção psicológico-normativa (juízo de
reprovação).
 Causas supralegais de exclusão da licitude, com análise valorativa da
ofensividade social.
 Fim do mero formalismo e da letra fria da lei.
 Base filosófica: neokantismo de Baden.
 Crítica: ausência de diretrizes para os juízos valorativos.
OBS: já traz alguma mudança no sentido do finalismo, que é a valoração e a ideia de
que a conduta de alguns crimes ter analisados aspectos subjetivos, que seria o fim
especial de agir de alguns tipos penais (chamado de dolo específico). Mas culpa e dolo
continuavam na culpabilidade!
1.3 Sistema Finalista (WELZEL)
A valoração está limitada à logica interna de certas estruturas lógicas da natureza
(estruturas lógico-reais). As estruturas mais importantes são o conceito de ação e o
livre-arbítrio, que serve de parâmetro no juízo de reprovação da culpabilidade.
 Ação é toda ação humana dirigida a uma finalidade. Não é mais um critério
causalista.
 O dolo sai da culpabilidade e vai para a tipicidade, porque o dolo é a finalidade
típica, e a finalidade faz parte da ação. Perder a relação entre dolo e consciência
da ilicitude, porque esta fica na culpabilidade, falando-se assim em dolo natural
ou dolo acromático ou valorativamente neutro. (consciência da ação)
 A culpa também passa a ser relacionada à ação, e não mais ao agente.
 Culpabilidade portanto perde todos os elementos relacionados à intenção
(concepção normativa pura). Contém apenas a exigibilidade de conduta diversa,
imputabilidade e POTENCIAL consciência da ilicitude - dolus supositus
o Por isso a inimputabilidade não se refere à consciência do que estava
fazendo (desvalor da ação), mas sim à consciência da ilicitude, por isso
se insere na culpabilidade, não no dolo.
 Sistema com base filosófica realista (estruturas da natureza)
Crítica ao finalismo: a extração de soluções do mundo do ser para o mundo do dever ser
é uma falácia naturalista. A principal crítica, portanto, dizia respeito à sua base
filosófica realista de extração de soluções prontas a partir de dados ontológicos.
OBS: Finalismo dissidente: a única diferença é que parte de concepção bipatirte do
crime, ou seja, a culpabilidade não é elemento do crime mas apenas um juízo de
reprovabilidade externo.
1.4 Sistema funcionalista
Para o funcionalismo, a construção do sistema penal não pode vincular-se a dados
ontológicos (ação, causalidade, estruturas lógico-reais), mas sim orientar-se
exclusivamente pelos fins do direito penal (lesividade e função preventiva geral).
Retorna aos juízos de valor, mas com novos parâmetros, que saem do campo da
natureza e dizem respeito à finalidade do direito penal. A divergência entre os autores
do funcionalismo é quanto a essa finalidade.
Roxin (funcionalismo teleológico)– Missão do direito penal é a proteção de bens
jurídicos, portanto essa é a baliza que direciona a valoração no direito penal. A
valoração de Roxin não exclui conceitos ontológicos (um cachorro na natureza é um
cachorro no direito penal) mas as soluções penais não são encontradas na natureza.
Dados da natureza são relevantes, apenas não esgotam a problemática jurídica. A partir
deles, constroem-se soluções jurídicas, não encontradas dentro dos dados da natureza,
como queria o finalismo.
Jakobs (funcionalismo sistêmico)– A missão do direito penal é a prevenção geral
positiva, portanto a valoração é balizada por essa ideia.
Tem uma visão mais normativista, renuncia por completo a conceitos pré-jurídicos,
acredita que o operador do direito não está delimitado por conceitos que existam antes
do direito penal.
Crítica a Jakobs – sua teoria não permite um controle do conteúdo da norma penal.
Zaffaroni – Teoria do funcionalismo redutor, a função do direito penal não é proteger o
bem jurídico nem a prevenção geral positiva, mas sim a contenção do poder punitivo,
que é um poder político. Assim, para ele há uma função penal de redução do poder
punitivo.
O que mudou entre o finalismo e o funcionalismo?
Além da base filosófica ter se afastado do naturalismo, houve mudança no conteúdo dos
institutos da culpabilidade (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e
exigibilidade de conduta diversa), que passa a contar com a ideia de responsabilidade e
necessidade da pena. O funcionalismo inaugurou a Teoria da Imputação na análise do
nexo entre conduta e resultado. Também mudou na ilicitude, para o funcionalismo basta
a consciência de agir pela excludente, não precisa voluntariedade.
2. Teorias da Conduta (ou da ação)
2.1 Função do conceito de conduta
 UNIFICAR o que é conduta, seja ela comissiva ou omissiva. A ação
efetivamente existe no mundo da vida, as pessoas agem de forma que pode
ser detectada. As omissões não existem no mundo da natureza, as omissões
pressupõem sempre que se analise um dever de agir. A omissão é sempre
normativa.
o Teoria da existência normativa x teoria da existência física x
teoria eclética (PARA NUCCI o CP adota a ecletica)
 FUNDAMENTAR as qualidades de tipicidade, ilicitude e culpabilidade.
 DELIMITAR o que é conduta e o que não é.
A discussão sobre o conceito de ação perdeu importância prática depois do
funcionalismo porque independentemente do conceito a ser usado, a delimitação é
sempre a mesma, baseada na VOLUNTARIEDADE.
2.2 Teoria causal da ação
Foi baseado nos sistemas clássico e neoclássico, que ainda não consideravam a
finalidade da ação.
Ação é o mero processo mecânico, objetivo, que causa resultado, não leva em conta a
intenção do sujeito.
Leva em conta a ideia de voluntariedade, o domínio dos movimentos, mas não a
finalidade.
Crítica: não explica a omissão; a simples conduta não determina qual o tipo penal
aplicável (ex: atirar em alguem pode ser lesão ou tentativa de homicídio), porque
depende da intenção do agente.
Teoria normativa da omissão: a omissão só ocorre quando há uma norma que diz o
dever de agir, não é causa na natureza.
Teoria naturalística (física) da omissão: a omissão efetivamente existe na natureza e
causa resultados.
2.3 Teoria finalista de ação
Ação é o exercício de uma atividade final, um ato de vontade dirigido a uma finalidade
e manifestado no mundo exterior.
Obs: motivo está sempre por trás da finalidade (ex: por motivo de ganância um irmão
atira no outro com a finalidade de matar). A finalidade está relacionada ao dolo
(finalidade proibida), o motivo está relacionado à culpabilidade (juízo de reprovação).
Crítica: não explica os crimes culposos (os finalistas respondem que a culpa é ação com
finalidade lícita); não explica a omissão, que não existe no mundo da natureza (aliud
agere, fazer algo diferente do que deveria ser feito, isso só existe no sistema penal).
2.4 Teoria social da ação (Jescheck e Wessels)
Ação é todo comportamento dirigido a uma finalidade que repercute no outro, que faz
parte do interacionar humano, tem relevância social.
Aproveita a ideia finalista, trocando atividade pela ideia de comportamento, o que
abarca as omissões, adicionando à conduta a relevância social, que tem natureza
normativa.
Crítica: não seriam ações aquelas que não tem repercussão no outro. Os críticos
afirmam que a relevância social é qualidade da ação, e não elemento. Além disso, o
conceito de relevância social muitas vezes não é claro, sendo dado pelo tipo penal, o
que acaba por misturar a conduta com a tipicidade.
2.5 Conceito negativo de ação (Jakobs, Herzberg, Behrendt)
Esses autores são normativistas, portanto não tem interesse em determinar ação fora do
direito penal. A ação está sempre dentro do tipo penal.
Ação é a não evitabilidade do resultado evitável.
A ação é tudo aquilo que poderia ser evitado e não foi.
Críticas: ideia vaga; a evitabilidade é analisada em outras estruturas do delito
(culpabilidade, ilicitude); não abrange ações fora do direito penal, neutras, não típicas.
2.6 Conceito pessoal de ação (Roxin)
Não é normativista puro, de modo que busca explicar conduta em aspecto amplo,
inclusive fora do direito penal.
Ação é a manifestação da personalidade, entendida como centro anímico espiritual de
ação.
O autor reconhece que na omissão será sempre necessário atentar para as expectativas
de ação, com isso seu conceito não será neutro frente às valorações jurídicas.
Críticas: imprecisão do conceito de personalidade; na omissão o conceito adentra do
tipo penal, por observar expectativas normativamente estabelecidas.
2.7 Causas de exclusão da ação
A discussão das teorias da ação caiu de moda porque todas tinham em comum que ação
é VOLUNTÁRIA portanto a exclusão da ação é sempre relacionada à ausência de
voluntariedade.
 Atos reflexos (movimentos do corpo não dominados pela vontade)
o Não inclui ações em curto circuito (explosões e impulsos) nem
automatismo.
 Força física irresistível (sinônimo de coação física irresistível)
 Estados de inconsciência (sonambulismo, movimentos praticados durante o
sono).
 Caso fortuito ou força maior
 Curto circuito – há discussão, pq seriam atos impulsivos mas não
involuntários.
Consequências da ausência de conduta
 O coagido, mera massa mecânica, não é autor. O coator é o autor direto do
crime.
 Cabe estado de necessidade contra quem age em ausência de conduta. NÃO
CABE legítima defesa, pois esta pressupõe uma agressão, que sempre é conduta.
(ex: para se proteger de alguém sonâmbulo pode se proteger sob estado de
necessidade)
 Nos crimes de concurso necessário não se conta a pessoa em ausência de
conduta.
 Não cabe participação em relação à pessoa em ausência de conduta.

 Responsabilidade penal da pessoa jurídica


Até a CF/88, a posição prevalente era da impossibilidade da responsabilidade penal da
pessoa jurídica, por conta de obstáculos dogmáticos, como o conceito de ação.
Quando a CF previu a responsabilidade penal da pessoa jurídica (art. 225 §3°), a
doutrina continuou negando a responsabilidade penal, porque a PJ não realiza condutas
(Zaffaroni, Pierangelli). No entanto, vimos que existem muitos conceitos normativistas
de ação, como o de Jakobs, o conceito negativo. Se for adotado um conceito
normativista destes, não há nenhum problema para a pessoa jurídica cometer crimes.
STJ buscou adequar o conceito finalista para responsabilizar as pessoas jurídicas, sem
adotar a teoria negativa, o que seria mais simples.
Assim, o STJ afirmou que a conduta da pessoa jurídica existe e é realizada através de
seus administradores. Quanto à culpabilidade, afirmou que para a pessoa jurídica é a
vontade do administrador ao agir no nome e proveito da PJ.
Teoria da Dupla imputação – Pessoa jurídica só poderia ser denunciada em conjunto
com o representante. Esse entendimento mudou com o RE-628582, de 2015
(Informativo 639) e RE 548181/PR (Informativo 714) que permitiu a condenação da PJ
com absolvição do administrador.
3. Tipicidade
Qual a diferença entre TIPO e TIPICIDADE? O tipo, como o próprio nome diz, é um
arquétipo da norma, é o conjunto de elementos elencados na norma como constituintes
do delito, é a fórmula. A tipicidade é a adequação da conduta concreta a essa norma. A
tipicidade portanto é uma qualidade da conduta típica.
Conduta típica/fato típico = ação voluntária + nexo + resultado + tipicidade.
A tipicidade está dividida em tipicidade objetiva e tipicidade subjetiva (a partir do
finalismo).
A tipicidade objetiva analisa o resultado e o nexo entre a conduta e este resultado,
verificando se há adequação do fato à norma (tipicidade formal) e ainda se há lesão
significativa ao bem jurídico tutelado (tipicidade material).
Resultado não é um problema pré-típico, como pensava Welzel, porque só o tipo vai
dizer qual resultado é relevante.
A tipicidade subjetiva analisa a consciência e vontade de cometer o crime e seus
elementos são o dolo e por vezes, haverá também um especial fim de agir, elemento
subjetivo especial, dentro da tipicidade objetiva.
3.1 Funções do tipo penal
 Função sistemática – o tipo permite individualizar a ação típica.
 Função dogmática – o tipo objetivo estabelece os elementos que o agente deve
saber parar agir com dolo (limites do erro de tipo)
 Função político-criminal – tipo concretiza o princípio da legalidade.

3.2 Elementos do tipo


a) Gerais
a. Subjetivos – elemento anímico previsto na lei.
b. Objetivos descritivos – são elementos do tipo que demandam uma
mera verificação sensorial (ex: “coisa” em subtrair coisa alheia).
c. Objetivos normativos – são elementos que dependem de um exame
valorativo do intérprete. A valoração pode ser jurídica (ex:
documento, casamento, são conceitos jurídicos) ou extra-jurídica (ex:
ato obsceno, ato libidinoso).
b) Específicos: núcleo do tipo (ex: matar), sujeitos ativo e passivo (como ou
próprio ou de mão propria), objeto do crime (ex: pessoa) e bem jurídico
tutelado (ex: integridade física).
OBS: elementos de valoração global do fato – são elementos normativos muito abertos,
mais do que os elementos valorativos comuns, que exigem uma análise da licitude da
conduta como por exemplo “indevidamente”, “sem justa causa”. Alguns autores, como
Nilo Batista, entendem serem elementos normativos do tipo, como qualquer outro, e
portanto o erro sobre eles seria erro de tipo. Já outros, como Luis Regis Prado e Roxin
entendem que são causas de excludente de ilicitude, e o erro sobre eles seria erro de
proibição, pq exigem uma análise da própria norma. Ex: pesca no defeso. Se esta em
erro quanto ao dia que é (acha que é dia 11 mas é dia 10 e ainda está vigente o defenso)
é erro de tipo. Se está em erro quanto ao limite da norma, é proibição.
3.3 Evolução da tipicidade como categoria autônoma em relação à ilicitude
Inicialmente tipicidade era a mera descrição da conduta, sem qualquer valoração sobre
ilicitude. Beling separou a tipicidade e a ilicitude, sendo feito vários estudos sobre a
relação entre elas, se totalmente independentes ou não. Para Liszt-Beling, o tipo é
totalmente avalorado, separado dos elementos axiológicos da ilicitude, contendo apenas
elementos descritivos, nada diz sobre a ilicitude. (teoria do tipo avalorado)
Mayer e Welzel afirmavam que a tipicidade era ratio cognocendi da ilicitude, ou seja,
um indício de ilicitude. Essa é a teoria que prevalece hoje!
Já Mezger afirmava que a tipicidade é ratio essendi da ilicitude, ou seja, a conduta
típica é automaticamente ilícita, condicionada a ausência de excludentes de ilicitude.
Adota o tipo total. (teoria da identidade)
Merkel propôs a teoria dos elementos negativos do tipo, na qual voltaria a fundir tipo
e ilicitude, com a inclusão das causas excludentes de ilicitude dentro do tipo “matar
alguém, exceto em legitima defesa, etc”. É o tipo total, que abarca tipicidade e ilicitude.
3.4 Tipicidade objetiva formal, material e conglobante. Solução da Teoria da
Imputação.
A tipicidade formal diz respeito apenas à conformação entre conduta e norma. No
entanto, com a evolução das teorias do delito percebeu-se que era necessário um exame
do conteúdo material do tipo. (ex: matar alguém em legitima defesa tem tipicidade
formal.)
A tipicidade material diz respeito aos princípios da nocividade social e da
insignificância. (ex: pequeno arranhão em alguém, sem querer, não há tipicidade
material, apesar de ser formal)
Por fim, a tipicidade conglobante (Zaffaroni) diz respeito a condutas antinormativas
que ferem de forma grave o bem jurídico. Zaffaroni adota a teoria da ratio essendi,
portanto para ele a tipicidade conglobante é aquela que já possui em si a
antinormatividade porque a ilicitude está contida automaticamente na tipicidade. A
tipicidade conglobante é mais sofisticada, engloba a tipicidade material e a
antinormatividade.
Para Zaffaroni o exercício regular do direito e o estrito cumprimento de dever legal são
excludentes de tipicidade conglobante, porque se relacionam à ausência de
antinormatividade, são condutas permitidas pelo direito, mas essa parte da sua doutrina
não é usada no Brasil.
A teoria da imputação coloca elementos normativos no tipo objetivo que permitem
analisar conteúdo material do tipo, sendo uma solução mais avançada, no ponto de vista
doutrinário (criação de um risco proibido e realização do risco no resultado e resultado
abrangido pelo âmbito de proteção da norma).
3.4.1 Princípio da insignificância (bagatela própria)
Uma conduta será atípica, ainda que se adeque ao tipo formal, se a lesão for
irrelevante ao bem jurídico protegido (ausência de tipicidade material). Bagatela
própria é ausência de tipicidade material, bagatela imprópria é a desnecessidade da
pena, e é afastada pela jurisprudência nacional.
A jurisprudência, diante de diversos casos em que os agentes faziam das pequenas
lesões seu meio de vida, passou a exigir requisitos não apenas objetivos (lesão de
pequena monta) como também subjetivos para considerar a insignificância. São
requisitos, pelo STF: MARI
 Mínima ofensividade da conduta
 Ausência de periculosidade social da ação
 Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento
 Inexpressividade da lesão jurídica provocada
A análise deve ser feita com base no comportamento como um todo, observada não
só o desvalor da lesão (resultado) como também os antecedentes, as condições em
que se encontra o agente, a forma de cometimento do crime etc. (ação/conduta)
A circunstância de se tratar de réu reincidente ou existir uma qualificadora não deve
afastar automaticamente o princípio da insignificância. É necessária motivação
específica à luz do caso concreto. Caso se opte pela não aplicação do princípio, o
regime deve ser aberto (Info 813 STF HC N. 123.108-MG)
Pode ser aplicado até após o trânsito em julgado, por revisão criminal!
Casos em que a jurisprudência predominante não admite, em regra, a
insignificância:
a) Moeda falsa (art. 289 CP) – porque o bem jurídico protegido é a confiança, a fé
pública
b) Entorpecentes – porque o bem jurídico protegido é a saúde pública.
[questionamento crítico: saúde publica como falso bem jurídico coletivo; além
disso, não há perigo para a sociedade no uso pessoal de drogas]. STF tem
alguns julgados aplicando insginificancia, 1g de maconha.
c) Atividade clandestina de telecomunicações (art. 183 da L. 9472/97) – porque
são crimes que, em conjunto, criam graves problemas à segurança das
telecomunicações.
o Súmula 606 STJ - Não se aplica o princípio da insignificância a casos de
transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que
caracteriza o fato típico previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/1997.
[atenção o STF entende que é atípico!]
d) Peculato – o bem protegido é probidade da administração. [aqui também faz-se
questionamento crítico].
o Súmula 599 STJ - O princípio da insignificância é inaplicável aos
crimes contra a administração pública
e) Contrabando [DESCAMINHO CABE! Menos de 20 mil e não ser reiterado]
o o STJ possui alguns precedentes admitindo, de forma excepcional, a
aplicação deste princípio para o caso de contrabando de pequena
quantidade de medicamento para uso próprio STJ. 5ª Turma. EDcl no
AgRg no REsp 1708371/PR,
f) Violência doméstica – para não perpetuar as violências de gênero.
o Súmula 589 STJ - É inaplicável o princípio da insignificância nos
crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito
das relações domésticas.
g) Porte de arma de fogo – o argumento é que por ser crime de perigo abstrato não
cabe a análise de insignificância. No entanto, o próprio STF já aplicou a
insignificância para porte ilegal de munição como pingente. É consequência de
uma visão tradicional de crime de perigo abstrato como sendo um perigo
presumido, quando na verdade há um perigo concreto observado ex ante.
h) Pesca ilegal – argumento do perigo abstrato. No entanto, o STF também já
aplicou insignificância em casos que devolve o peixe vivo.
i) Apropriação indébita previdenciária – o STF tem entendido que não cabe,
porque o bem jurídico tutelado é a arrecadação para previdência. No STJ tem-se
admitido em alguns casos.
j) Crimes contra a ordem tributária – o parâmetro do valor é muito controverso.
Para STJ o valor é R$ 20 mil reais (REsp 1688878/SP, 2018). Para STF há
controvérsia entre as turmas, a 1º entende o parâmetro de 10 mil reais, para a 2°
o parâmetro é de 20 mil reais (Info 897)
k) Crimes militares - afronta à autoridade, hierarquia e disciplina
l) Crimes contra a fé pública
m) Crimes contra o direito autoral
n) Crimes de responsabilidade de prefeitos – STF possui julgados antigos
aplicando, STJ entende que não cabe.
:
2 CCR APLICA INSGNIFICANCIA AO CONTRABANDO DE
vape 5 unidade
cigarro 1000 maços
gasolina 250 litros
Sementes maconha 25 unidades
Outros crimes com insignificância
Atividade clandestina telecomunicações 25 watts e ate 30 m
Descaminho e lei 8137 20k

3.3.2. Princípio da adequação social da conduta (nocividade social)


É uma ideia já ultrapassada. A norma penal por ser genérica e abstrata acaba por
atingir condutas que são adequadas socialmente, que não eram almejadas pelo
legislador (ex: furar a orelha não foi almejado pelo legislador como lesão corporal).
Não se confunde com a descriminalização pelos costumes, que não existe no direito
penal.
A jusrisprudência não tem aceitado esse principio para afastar a escolha legislativa.
3.5 Resultado
Resultado é a modificação do mundo externo que se segue à conduta, selecionada como
relevante pelo legislador (resultado naturalístico). Resultado jurídico é o mero
descumprimento da lei, que sempre está presente.
(ex: homicídio há resultado naturalístico e jurídico. Extorsão, crime formal, pode ter só
resultado jurídico. Invasão de domicílio, crime de mera conduta, não tem resultado
naturalístico).
3.6 Nexo de causalidade
Relação de causalidade é um tema que se restringe aos crimes materiais.
Esse estudo se insere no tema de responsabilidade jurídico-penal pelo resultado. Para
saber se existe responsabilidade pelo resultado é preciso antes analisar se há relação de
causalidade (naturalística + normativa/imputação) entre conduta e resultado.
No sistema finalista, o nexo de causalidade era analisado apenas com base no resultado
naturalístico. Com a teoria funcionalista, tem-se a teoria da imputação, que é a segunda
fase da análise da causalidade.
3.6.1 Causalidade física ou naturalística
Analisa se a conduta deu causa o resultado no mundo dos fatos. Nos crimes formais ou
de mera conduta não há causalidade física ou, se há, não é necessária. Na omissão
também não há causalidade física. Algumas teorias são usadas para definir se há
causalidade.
Teoria da conditio sine qua non (Von Buri) ou da equivalência dos antecedentes
– há causalidade se, retirando a conduta (antecedente), o resultado não ocorre. Usa o
critério da eliminação hipotética de Thyrén. Esse método analisa o resultado EM
CONCRETO.
(ex: caso do homem pendurado no penhasco que o inimigo pisa na mão dele)
A conduta deve, portanto, ser voluntária e ser necessária para o resultado ocorrer da
forma que ocorreu. É uma análise EM CONCRETO.
Condições/antecedentes absolutamente independentes – Não estão relacionadas entre
si. Sempre um vai ser causa e o outro não, um responde pelo crime consumado e o outro
por tentativa. Basta ver qual, EM CONCRETO, deu causa ao resultado. (ex: homem dá
um tiro em outro e prédio desabada. Se morrer do tiro, responde por consumação, se
morrer do soterramento, responde pela tentativa).
Condições/antecedentes relativamente independentes – quando os antecedentes,
juntos, causam o resultado, porque um se relaciona com o outro. Assim, há a
causalidade física, do art. 13 caput, porque retirando cada um o resultado não ocorre,
precisam estar juntos para ocorrer o resultado.
 Causa preexistente (ex: atirar em pessoa hemofílica, que morre em razão do
sangramento.) (consumado)
 Causa concomitante (ex: atirar em pessoa que no momento tem um infarto)
(consumado)
 Causa superveniente (ex: atirar em pessoa que vai para ambulância e essa
capota, levando à morte) (tentado)
Na condição superveniente relativamente independente, exclui a imputação se essa
condição “por si só” produziu o resultado. (ex: no caso da ambulância, pessoa responde
apenas pela tentativa. No caso de infecção no hospital, responde pelo consumado,
porque a infecção está na linha natural de desdobramento físico, ou anatomopatológico)
Art. 13 (...)
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a
quem os praticou.
Crítica à teoria dos equivalentes:
 Não consegue apurar a causalidade se ainda não se tem mecanismos para saber a
potencialidade causal de uma condição.(ex: remédio das grávidas)
 Considera como causa condutas muitos distantes na linha do tempo (regresso ad
infinitum).
o A teoria finalista resolve esse problema com base no dolo e culpa, ou
seja, só é crime se, além de ter dado causa naturalística, houver
finalidade de atingir aquele resultado (proibição de regresso,
Regressverbot)
 Não explica a causalidade alternativa/ cumulativa na qual cada uma das
condições é suficiente, isoladamente, para produzir resultado (ex: A e B dão
veneno a C, cada um em dose letal, e causam a morte de C).
o Welzel: “se existem várias condições das que cabe fazer abstração de
modo alternativo, mas não conjuntamente, sem que deixe de produzir-se
o resultado, cada uma delas é causal para a produção do resultado”.
o Jescheck soluciona com a ideia de causalidade segundo uma lei: estará
presente a causalidade quando se acrescentarem a uma ação,
modificações no mundo exterior temporalmente posteriores que, segundo
as leis da natureza por nós conhecidas, estavam a ela ligadas de modo
necessário, e que se apresentem como um resultado típico.
OBS: AUTORIA INCERTA – não sabe quem foi, in dubio pro reo, ambos por
tentativa.
Teoria da causalidade adequada (von Kries) – Tentou suprir os problemas na
teoria da conditio, especialmente situações em que havia causa física – com a retirada
não aconteceria o resultado – mas não havia razoabilidade ou probabilidade. A causa é
aquela adequada para realizar o resultado, não apenas aquilo suficiente para o resultado.
Razoabilidade + idoneidade. Observa-se se a condição eleva a possibilidade do
resultado. Julgamento by mathematics nos EUA foi reformado pela Suprema Corte.
Questão da prova estatística – teoria da prova, não so no penal como no âmbito civil.
Críticas: é muito vaga a ideia de “adequado” e probabilidade. Além disso mistura a
ideia de causa física com a questão da valoração.
Ex: cocheiro dorme, a carruagem vai pra outro caminho e nesse caminho cai um raio e o
passageiro morre. Tem causa física, conditio sine qua non, mas não tem razoabilidade.
3.2.2. Causalidade jurídica/normativa
Verifica se a conduta que é causa física é também uma conduta ofensiva à norma
jurídica, relevante juridicamente, observando os fins do direito penal.
Teoria da imputação objetiva (Roxin) – Baseada na ideia de risco. Surge para
limitar o alcance da teoria dos equivalentes sem abrir mão desta. Deixa-se de lado a
ideia de uma relação de causalidade puramente material e passa a valorar a relação de
causalidade jurídica, com elementos normativos anteriores à análise subjetiva do tipo
(dolo).
Somente as condutas que criem risco aos bens jurídicos tem relevância para o direito
penal. Coloca elementos normativos no tipo objetivo, que só possuía os elementos
conduta, resultado e nexo.
O problema maior da teoria dos antecedentes necessários era que o regresso ao infinito
só é cortado pela analise da finalidade da conduta, pela análise subjetiva, de intenção,
dolo e culpa. A teoria da imputação já corta o nexo no viés objetivo, sem precisar
adentrar na análise do tipo subjetivo.
Assim, a ação típica não é só a que tem causalidade física com o resultado, mas
também aquela que cria um risco desaprovado pelo ordenamento e o risco se
realiza com o resultado, e que este está no âmbito de proteção da norma penal
(bem jurídico tutelado) = ROXIN
AÇÃO + CAUSALIDADE FÁTICA +
RESULTADO +
CRIAÇÃO DE RISCO
DESAPROVADO
Tipo objetivo
+
REALIZAÇÃO DO RISCO NO
RESULTADO (nexo de risco, linha
natural de desdobramento do risco)
Tipo subjetivo DOLO
Ex: Caso das ambulância: o tiro cria um risco desaprovado pelo ordenamento, mas o
resultado não foi realização desse risco, mas sim de outro risco, do motorista da
ambulância, que bateu o carro. (“por si só” originou o resultado).
Ex2: a pessoa que fabrica a faca não tem conduta típica porque esse é um risco
APROVADO pelo ordenamento.
a) Criação de risco desaprovado pelo ordenamento
Análise da conduta enquanto ela é realizada (ex ante) por um terceiro, homem
médio, desinteressado. Essa análise considera os conhecimentos especiais do
agente naquele papel.
 A diminuição do risco é conduta atípica (ex: uma pessoa empurra a mão
do atirador para salvar a vítima de um tiro, que acaba só lesionando o pé
da vítima). OBS: diferente do estado de necessidade, que cria uma nova
linha de risco (linha de desdobramento natural), menos gravosa, não atua
na mesma (ex: empurra a própria vítima para salvar do tiro). No estado
de necessidade a conduta é típica porém lícita. Essa solução do Estado de
necessidade será a usada pelos Finalistas, que entenderiam que a conduta
foi típica.
 O risco desaprovado deve ser relevante. (ex: aquele que compra
passagem pro desafeto esperando que o avião caia. Se o avião cair, ainda
que tivesse a intenção (dolo) analisando previamente o tipo objetivo pela
teoria da imputação conclui-se que não criou risco desaprovado)
 Não cria risco desaprovado a conduta em ações coletivas (ex: trânsito,
cirurgias) de confiar na boa conduta do próximo. A pessoa não tem o
dever de ficar vigiando constantemente o outro. É o princípio da
confiança (Jakobs). OBS: apenas em casos especiais há esse dever de
desconfiar, como quando for intrínseco da função (médico deve
fiscalizar o aluno de medicina) ou quando for evidente o risco (ex:
médico não pode confiar no enfermeiro que chega bêbado)

Jakobs dá relevância à ideia de papéis sociais. Se cada um se comporta conforme


seu papel social, os danos advindos do riscos inerentes não lhes são imputados. ex:
para a teoria da imputação, ainda que o fabricante de armas soubesse da intenção
do comprador de matar não seria imputado a morte, porque seu papel foi
desempenhado nos limites permitidos socialmente, a conduta seria atípica (análise
anterior ao tipo subjetivo, do dolo).
Para Jakobs os conhecimentos especiais só serão relevantes se fizerem parte
daquele determinado papel. Ex: um biólogo que também é garçom, enquanto
exerce o papel de garçom não responde por servir um cogumelo venenoso, porque
o papel de garçom não exige esse conhecimento.
Jakobs diferencia competências de organização e por vínculo institucional.
Competências de organização são aquelas dos papéis comuns da sociedade
(motorista, padre, professor, agricultor etc). Competências por vínculo
institucional são decorrentes de especiais relações entre as pessoas (mãe e filho).
A competência por vínculo institucional inclui todos os conhecimentos
especiais do agente, ainda que não sejam afetas àquele papel.

b) Realização do risco no resultado (é a consumação no crime material)


Analisa se a conduta, que produziu risco teve aquele risco materializado no
resultado (ex post). Nos crimes dolosos, se não se realizou o risco no resultado,
há tipicidade mas responde pela tentativa. Nos crimes culposos não há tentativa,
assim, se o risco não se realiza a conduta é atípica.
 Se o resultado advém de outra linha de risco não há realização pelo
resultado (nexo de risco), só responde pela tentativa. (ex da ambulância).
 Há nexo de risco quando o resultado está dentro da classe de prováveis
resultados advindos do risco (ex: infecção advinda do ferimento de bala)
 Se o resultado puder ser evitado com o comportamento sem risco
(comportamento alternativo conforme o direito), há tipicidade, porque
o resultado não ocorreria se o agente tivesse agido de acordo com a
prática correta.
 O aumento do risco é quando o comportamento alternativo conforme o
direito apenas diminui a chance de ocorrer o resultado, mas ainda haveria
a chance de ocorrer. Nesse caso duas correntes discutem a solução:
o Teoria da evitabilidade – in dubio pro reu, não se imputa o
resultado porque havia a chance de ocorrer de qualquer forma.
o Teoria do aumento do rico – há a certeza que a conduta aumentou
o risco, portanto deve ser imputado o resultado.
OBS: QUESTAO DA INTERRUPÇÃO DE CURSOS CAUSAIS SALVADORES:
Quando existe um fato causador de dano [podendo ser ele natural ou humano] e há um
curso salvador (natural ou humano), aquele que interrompe esse curso salvador
responde pelo resultado, uma vez que a causa primaria foi o outro fator? Ex:
ALEMANHA pessoa doente – causa natural – tem prognostico de morte se não houver
um transplante. Um medico frauda a fila do transplante e coloca outro no lugar, que
recebe o órgão, e a pessoa inicial acaba morrendo. O Médico responde pela
interrupção do curso causal salvador? Trata-se de hipótese de aumento do risco. Jesus
Maria Sanchez propõe visão menos dualista e mais proporcional. Na Alemanha esse
médico foi absolvido, aproximando-se do in dubio pro reo.
O grande diferencial desses casos é que a conduta é um hibrido de ação e omissão. Ao
mesmo tempo que atua, de modo voluntario, havendo um movimento mecânico,
aumentando o risco, se omite no dever de diminuir o risco. Como as teorias
solucionam? Roxin vai pelo aumento do risco e portanto responde. No BR uma
possibilidade é colocar o agente como PARTICIPE, de modo que responde junto com o
inicial, pois a participação não exige essa causalidade direta. Mas se o primeiro for
causa natural aí precisa usar Roxin.

c) Alguns grupos de casos que podem ser analisados


 Autocolocação em perigo – alguém que contribui para uma pessoa maior
e capaz se colocar em perigo por livre e espontânea vontade não há a
criação de um risco desaprovado, porque a própria pessoa aprovou. (ex:
esporte wingsuit; vendedor de drogas não responde por homicídio em
caso de overdose, mesmo que saiba que o outro pode usar de modo
imoderado). O mesmo raciocínio se aplica para a heterocolocação em
perigo (ex: passageiro que morre em acidente porque pediu pro taxista
dirigir em alta velocidade, não há criação de risco desaprovado).
o Não se confunde com o consentimento do ofendido – nesse o
ofendido quer o DANO, na autocolocação em perigo o agente só
quer o PERIGO e as vantagens advindas dele.
 Erro médico – aqui se analisa em relação à conduta prévia do agente que
levou a vítima ao hospital.
o Se a conduta do médico apenas não impede a linha de risco
anterior, o agente anterior responde por crime consumado, porque
o resultado se materializou dentro da linha de risco que ele criou
[o médico também responde pela consumação, mas culposa].
o Se a conduta do médico SUBSTITUI a linha e risco por outra, o
agente anterior responde apenas pela tentativa, porque o risco
desaprovado não foi materializado no resultado. (ex: médico que
dá remédio que a vítima é alérgica responde por crime
consumado e aquele que deu o tiro responde pelo crime tentado.
É igual à causa relativamente independente superveniente, que
cria oura linha de risco, o resultado advém da condição
superveniente por si só.)
 Salvamento por terceiros – a quem criou o risco é imputado o dano
causado a terceiros que fazem salvamentos na situação?
o Se for profissional (bombeiro, policial etc) – não é imputado o
resultado danoso porque o risco é inerente à profissão da pessoa.
o Se for não profissional – é imputado o resultado, a não ser que
seja um salvamento totalmente irracional (ex: pessoa entra na
hora que o prédio já está caindo)
 Resultados tardios – não são imputados porque estão fora da linha de
desdobramento natural do risco criado, o resultado não é materializado
pelo risco. (ex: 10 anos depois de levar um tiro e perder a perna a pessoa
tropeça e é atropelada. O resultado não é imputado a quem atirou)
 Resultados decorrentes de choques – não são imputados porque estão
fora da linha de desdobramento natural do risco criado. (ex: mãe sabe
que filho morreu e infarta e morre também)

OBS: TEORIA DA CONDIÇÃO INUS (John Mackie)


Teoria filosófica que foi usada por penalistas para solucionar questões sobre o nexo
causal. A Teoria da Condição INUS surge da inquietação filosófica de entender o que é,
em si, uma causa, o que consideramos quando dizemos que uma ação causa um certo
resultado. Parte de uma analise da causa como aquilo que gerou o resultado naquele
contexto, naquelas circunstancias. Busca analisar duas variáveis: necessidade e
suficiência.
Suficiência: Dadas as circunstancias, se X ocorre Y ocorre. (ex: super dose de veneno)
Necessidade: Dadas as circunstancias, X é necessário para Y. (ex: meia dose de veneno)
Várias condições capazes de gerar um evento fazem que essa condição seja suficiente,
mas não necessária, já que há várias capazes de produzir o evento. Dentro de cada
condição suficiente mas não necessária há elementos necessários que se somam a
outros, também necessários, mas que sozinhos não são suficientes. Daí o nome INUS
(insuficiente e necessário – não necessário e suficiente)
A causa então é a componente necessária (e não suficiente) de uma condição suficiente
(e não necessária).
Ex: ABC causa X. DEF causa X. GHI causa X. ABC é suficiente, mas não necessário
para X. A, quanto elemento de ABC é necessário, mas não suficiente para ABC e
consequentemente para X.
Críticas: é sem efeito tratar das outras condições suficientes e portanto alegar ser aquela,
do caso concreto, suficiente mas não necessária (ex: uma casa pode pegar fogo por
incêndio criminoso, ou com raio, com vela acessa, com curto circuito etc). Não faz
sentido olhar para fora do caso concreto então so seria útil a primeira parte do
anacronimo: IN – necessária mas insuficiente. Essa parte, segundo os críticos, se
confunde com a teoria da conditio, dos antecedentes necessários. Sem eles, não ocorre o
resultado.
3.7 Classificação de crimes
a) Crimes materiais x formais x mera conduta
b) Congruentes x incongruentes – congruente é o crime que o resultado para a
consumação é o mesmo que precisa ser almejado pelo agente. Os especiais fins
de agir e os crimes preterdolosos sempre geram crimes incongruentes. (ex:
homicídio é congruente; extorsão mediante sequestro é incongruente, porque o
sujeito precisa desejar não só a privação de liberdade, mas também receber o
resgate)
c) Básico x derivado – derivados são as qualificadoras ou modalidades
privilegiadas.
d) Simples x mistos – simples são os tipos com apenas um verbo; mistos tem vários
verbos, que podem ser alternativos (os núcleos são fungíveis, mais de uma é so
uma incriminação) ou cumulativos (os núcleos afetam bens jurídicos diversos,
não são fungíveis, mais de uma é concurso) (ex: abandono material é misto
cumulativo)
e) Normais x anormais – normais são os tipos sem elementos valorativos.
Classificação vetusta.
f) Fechados x abertos – abertos são os tipos com descrição mais vaga.
g) Instantâneos x permanentes
h) Habituais – demandam uma repetição de condutas instantâneas (ex: exercício
ilegal da medicina). Precisa haver uma intenção de repetir.
i) De lesão x de perigo.
a. Art. 89 d Lei 8666 STJ e 2T STF acham que é de dano, precisa provar o
prejuízo. 1T STF acha que é perigo, não precisa provar o prejuízo. Art.
90 é pacifico que não precisa provar prejuízo.
j) Comuns x próprios x de mão própria – Os de mão própria precisam de uma
qualidade especial do agente e SÓ ele pode realizar, não admite coautoria ou
participação (ex: auto aborto; falso testemunho); O crime próprio pode ter
coautoria; o comum pode ser qualquer pessoa.
k) Simples x complexos – crime complexo é formado por duas condutas que
separadas configuram crimes simples (ex: latrocínio).
l) Plurissubsistente x unissubsistente – unissubsistente pode ser feito apenas com 1
ato. Plurissubsistente precisa de vários atos para se consumar
m) De execução livre x de execução vinculada (ex: crime de contagio venerio é só
por meio sexual)
n) Crime a prazo – legislador dá um prazo para a consumação (ex: apropriação de
coisa achada)
o) Crime vago – sujeito passivo é a coletividade (ex: moeda falsa)
p) Transeunte x não transeunte
q) Crime de tipo remetido – remete expressamente a outro crime. Não é norma
penal em branco ao réves! Ex: uso de documento falso, art. 304.
r) Crime obstáculo – crime que é ato preparatório para outro crime. Ex: petrechos
para falsificação de moeda. Relacionados com a expansão do direito penal para
concudtas preparatórias, como na 3 velocidade do direito penal ou direito penal
do inimigo.
s) Crime de intenção (tendência interna transcendente) x crime de tendência
(de atitude pessoal)
a. Crime de intenção é o que tem o especial fim de agir, que não precisa
ocorrer para ter consumado. Ex: extorsão mediante sequestro;
rufianismo. 89 da Lei de licitações, precisa de dolo especifico de ter
vantagem ou causar prejuízo.
b. Crime de tendência é o que para ser típico precisa que o agente
internamente queira algo que está implícito no tipo. Ex: injúria precisa
que o agente queira ofender.

3.8 Tipo subjetivo - DOLO


Art. 18 (...)
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Diz respeito ao dolo, à consciência e vontade de agir ilicitamente. É dolo natural, não
se relaciona com o conhecimento da ilicitude da conduta, mas a vontade de atingir o
resultado. Consciência diz respeito ao conhecimento da presença dos elementos do
tipo objetivo, e sua ausência implica em erro de tipo, excluindo o dolo.
(ex: subtrair coisa alheia, se o agente não sabe que é alheia pensando ser sua a coisa,
não há consciência, conhecimento, elemento cognitivo, portanto exclui o dolo).
O dolo deve ser no momento da realização da conduta.
STF, AP 975, 2018 - Deve ser refutada imputação centrada, unicamente, na posição de
um dado agente na escala hierárquica governamental, por inegável afinidade com o
Direito Penal Objetivo. Não se admite a invocação da teoria do domínio do fato com
vistas a solucionar problemas de debilidade probatória ou a fim de arrefecer os rigores
para a caracterização do dolo delitivo, pois tais propósitos estão dissociados da
finalidade precípua do instituto.
OBS: Luis Greco defende a teoria do dolo sem vontade, ou seja, baseando-se na
Teoria do Dominio do Fato defende que a consciência, o conhecimento dos elementos
do tipo é o que demarca propriamente o dolo. O que importa para a conduta dolosa, no
ponto de vista dessa teoria, é o domínio sobre o fato, o conhecimento da existência dos
elementos típicos na sua conduta voluntária. Se a conduta é voluntária e o agente tem
conhecimento dos elementos, ainda que não a queira, estará agindo em dolo.
Visa afastar a dificuldade de auferir a intenção do agente, a “vontade psicologica”, pela
própria ambiguidade do termo vontade que ora se aproxima de um sentido psicológico e
ora de um sentido normativo (nesse sentido, para greco o CP não é nada claro, porque
assumir o risco pode ser num sentido psicológico, de intenção, volitivo, ou num sentido
cognitivo, normativo, de conhecer da possibilidade de gerar o resultado ilícito)
OBS2: Cegueira deliberada e conhecimento: entende-se dolosa a conduta do agente
que deliberadamente não quer ter consciência da ilicitude, quando ela é patente. Luis
Greco critica fortemente.
A origem aparente é do direito americano (US vs Jewell), em que uma pessoa estava
transportando uma mala que continha maconha mas não sabia de seu conteúdo, sendo
que o tribunal considerou que quem não sabe algo sem querer saber deve ser tratado
como se soubesse.
 Não tem conhecimento mas esse é disponível
 Ciência da elevada probabilidade de ocorrência do resultado
 Conduta intencional em não saber
 Objetivo de se escusar de imputação

3.8.1 Classificações do DOLO


Dolo direto: de 1º e 2º grau
Dolo indireto: dolo eventual e alternativo.
a) Dolo direto de 1º grau – o agente deseja diretamente o resultado que ocorre.
b) Dolo de consequências necessárias ou direto de 2º grau – o agente deseja um
resultado mas para alcança-lo é OBRIGATÓRIO passar por outro resultado
inafastável.
c) Dolo eventual (dolo indireto) – o resultado não era desejado diretamente pelo
agente mas era provável e ele aceitou como possível.
o Diferente da culpa consciente – na culpa consciente há a previsibilidade
em abstrato do resultado e o agente previu no caso concreto, mas
acreditava que poderia evitar. No dolo eventual também há a
previsibilidade pelo homem médio (em abstrato) e o agente prevê a
possibilidade mas ele age ACEITANDO o resultado (elemento volitivo),
e não esperando evitá-lo.
o Teorias volitivas que diferenciam dolo eventual da culpa consciente –
teoria do consentimento [mais favorável ao réu]; teoria da indiferença
(maior parte da jurisprudência segue); teoria da não comprovada vontade
de evitação do resultado; teoria eclética (Ernstnahmetheorie) [esta última
diz que o dolo eventual basta que o agente não leve a sério, se conforme
com a possibilidade. É mais favorável à acusação. Adotada por Juarez
Cirino.]
o Teorias cognitivas que diferenciam [teorias da representação] – são
pouco usadas na doutrina e jurisprudência – teoria da possibilidade
[acaba igualando com a culpa consciente] basta prever como possivel;
teoria da probabilidade, o auto precisa prever que há grande
probabilidade para que haja dolo; teoria do risco; teoria do perigo
desprotegido;
o Informativo 623 do STJ, de maio de 2018: A embriaguez do agente
condutor do automóvel, por si só, não pode servir de premissa bastante
para a afirmação de dolo eventual em acidente de trânsito com resultado
morte - Resp 1689173/SC.
o Na primeira fase do Tribunal do Júri, ao juiz togado cabe apreciar a
existência de dolo eventual ou culpa consciente do condutor do veículo
que, após ingestão de bebida alcoólica, ocasiona acidente de trânsito com
resultado morte – Resp 1689173-SC.
OBS: DOLO GERAL (dolos generallis) ou erro sucessivo – o agente atua com dolo
num primeiro momento (ex: atira para matar) mas o resultado decorre de uma segunda
conduta, na qual não há dolo (ex: joga o corpo no rio, mas ainda estava vivo). É na
verdade uma aberratio causae. Nesse caso, o dolo geral é aquele que ocorre no momento
da conduta, ainda que não estivesse presente na conduta toda. Considera-se crime
doloso, porque há um dolo geral de um mesmo planejamento delitivo.
OBS: o dolo eventual não exclui qualificadoras de motivo torpe/fútil, assim como a
culpa também não. [caso do Bateau Mouche]
OBS: Nucci diz que para ele não deveria haver essa distinção entre culpa consciente e
inconsciente: se o agente previu em abstrato, é dolo eventual, podendo reduzir a pena se
acreditava que podia evitar
3.9. Elementos subjetivos especiais do tipo
a) Delitos de intenção ou de tendência interna transcendente
São tipos que possuem especial fim de agir, tem uma intenção fora do tipo objetivo,
que pode nem ocorrer, mas que deve ser desejada pelo agente. Especial fim de agir.
b) Delitos de tendência/ de atitude pessoal
São tipos no qual há um tendência durante toda a conduta de realização elemento
subjetivo. O elemento subjetivo não está fora do tipo objetivo, mas imbricado dentro da
conduta, por isso está IMPLÍCITO no tipo. (ex: nos delitos contra a honra há
implicitamente o elemento subjetivo de humilhar a pessoa; no delito de estupro de
vulnerável deve haver o elemento subjetivo de satisfazer o desejo sexual.) Ex: 89 da Lei
de licitação, exige a intenção de causar prejuízo ou obter vantagem. Segundo STJ e 1T
STF precisa para se consumar ter prejuízo -crime de dano-, para 2T STF não precisa –
crime de perigo-.
3.10. Erro de tipo incriminador (art. 20, caput CP)
É a falta de conhecimento sobre a presença de um elemento do tipo objetivo no caso
concreto. Sempre exclui o dolo.
Para elementos normativos do tipo, basta que o sujeito compreenda o significado social
do conceito, não precisa atingir o conceito jurídico propriamente dito.
Efeitos do erro de tipo:
 Se for escusável/invencível – exclui o dolo e a culpa.
 Se for inescusável/vencível – exclui apenas o dolo e responde por culpa, se for
admitida. A culpa é própria, porque não tem conhecimento, elemento do dolo,
diferente do erro por excludentes putativas de ilicitude [ex: acha que está em
legitima defesa e não está, nesse caso a culpa é imprópria, porque ele quis o
resultado (consciência e vontade), mas pensando estar acobertado por
excludente]
4. Crime culposo
Boa parte da teoria do crime culposo é explicada na teoria da imputação como criação
de um risco desaprovado. O crime culposo é o cerne da conduta típica na teoria da
imputação objetiva.
Nos crimes culposos não há elemento volitivo de atingir o resultado. A culpa é elemento
objetivo dos tipos penais [DIVERGÊNCIA] (tipo objetivo), porque quem determina o
que é o comportamento culposo, o que é risco desaprovado, com violação de dever de
cuidado, é a norma. Não há tipo culposo sem previsão legal (princípio da
excepcionalidade).
 Exceção: na CULPA CONSCIENTE há um elemento subjetivo, que é a previsão
do resultado (em concreto), mas com confiança de que não ocorrerá, com a
intenção de evitá-lo.
O crime culposo na teoria finalista é visto como uma conduta com finalidade
extratípica, em regra lícita.
Crime culposo como tipo aberto – no tipo culposo o núcleo é a forma descuidada de
realização da conduta, o que caracteriza um tipo aberto, há infinitas formas de agir
culposamente. Diferente do crime doloso, no qual o núcleo é bem delimitado, é uma
conduta que atinge uma finalidade específica descrita no tipo.
Assim no crime culposo o tipo é aberto, devendo o juiz recorrer a uma norma de caráter
geral que trata de dever objetivo de cuidado no caso estudado. Essa norma geral
completa o tipo aberto, é uma determinação em duas fases = a lei + analise do interprete
quanto a violação do dever de cuidado.
O resultado é o delimitador da tipicidade culposa. Se não houver resultado, não há tipo
culposo, como regra a culpa não admite tentativa. [exceto na culpa impropria
[divergencia] Erro de tipo indireto inescusável, responde por culpa impropria, queria
realizar a ação mas achava que estava acobertado pela excludente. Parte da doutrina
entende não ser possível a tentativa por culpa impropria, devendo responder apenas
pelos danos causados a titulo de culpa, ex: lesão culposa impropria].
CONDUTA VOLUNTÁRIA [finalidade lícita] + NEXO + RESULTADO [não
almejado] + INOBSERVÂNCIA DO DEVER DE CUIDADO + PREVISIBILIDADE
OBJETIVA + TIPICIDADE
Para a maioria da doutrina, os crimes culposos seriam tipos em que somente
haveria parte objetiva, não tendo motivo para se inserir como elementar qualquer
circunstância relativa ao elemento subjetivo do agente, diferentemente dos crimes
dolosos, que são compostos de parte objetiva e subjetiva. No entanto, isso não significa
responsabilização objetiva.
 Elementos do tipo culposo
a) Violação ao dever objetivo de cuidado
o Se aproxima do conceito da Teoria da imputação de criação
de um risco desaprovado.
o Culpa por empreendimento – realização de uma atividade
nova sem preparação/informação gera culpa.
o A violação deve ser o motivo preponderante para o resultado,
ela isoladamente não leva a responsabilidade. Na Teoria da
Imputação essa mesma solução é dada ao analisar o
comportamento alternativo conforme ao direito.
o Normas profissionais, de experiência ou jurídicas.
o Negligência: não agir quando o comportamento é esperado;
Imprudência: agir de forma descuidada; Imperícia: agir sem a
técnica necessária.
b) Previsibilidade objetiva
o É a previsibilidade OBJETIVA em abstrato pelo homem
médio. A previsibilidade subjetiva (em abstrato pelo
indivíduo do caso) é analisada tradicionalmente na
culpabilidade [doutrina brasileira] na exigibilidade de conduta
diversa.
o Se for previsível em abstrato mas não previu no caso concreto
é culpa INCONSCIENTE. Se previu no caso concreto mas
achava que podia evitar, é culpa CONSCIENTE.
Se não era previsível nem em abstrato, não responde. É o caso já
julgado pelo STJ de um homem que desfere golpes em outro com
dolo de lesão, mas esse morre de um aneurisma que estoura.
Entende que essa causa preexistente é que deu causa, e portanto
não há previsibilidade nem nexo na conduta do agente e o
resultado. Só responde pela lesão, não por lesão qualificada pela
morte.
o Essa análise da previsibilidade subjetiva apenas na
culpabilidade traz problemas nos casos em que o sujeito tem
capacidade de prever mais do que o homem médio, porque a
conduta seria atípica.
o Roxin propõe solução de, APENAS nesses casos, analisar a
previsibilidade subjetiva no tipo junto com a previsibilidade
objetiva. Críticas: a análise de características do sujeito é feita
na culpabilidade. Solução ad hoc, subverte o sistema.
o Roxin rebate as críticas dizendo que a Teoria da Imputação,
que ele segue, considera os conhecimentos especiais do
agente dentro da criação de risco desaprovado, que é elemento
do tipo objetivo. Assim, se o sujeito tem conhecimentos
especiais e pode prever subjetivamente o risco, há a criação
de um risco desaprovado.

 Ilicitude nos crimes culposos


A maioria da doutrina sustenta que as causas excludentes de ilicitude tem elementos
subjetivos (conhecimento da situação excludente e agir por causa da situação) e que
esses elementos também devem ser exigidos nos crimes culposos. [ex: atropelo sem
querer uma pessoa que estava prestes a matar outra. O crime é culposo e não está
acobertado pela excludente porque essa requer a consciência e vontade de agir em
legitima defesa, e nesse caso nem sabia que havia lesão injusta a outrem.]
Doutrina minoritária (Juarez Tavares) alega que pela simetria, como não existem
elementos subjetivos no tipo do crime culposo também não podem haver elementos
subjetivos na ilicitude dos crimes culposos. Assim, para ser legitima defesa num
atropelamento culposo basta que não tenha agido deliberadamente, com dolo.
 Culpabilidade nos crimes culposos
Doutrina majoritária entende que a previsibilidade subjetiva é analisada na
culpabilidade.
 Erro de proibição nos crimes culposos:
Em geral o erro de proibição é erro em conduta dolosa [a pessoa quer agir mas não sabe
que a conduta é típica por não ter conhecimento da proibição no caso concreto]. No
entanto, pode haver erro de proibição nos crimes culposos no caso de desconhecimento
das normas jurídicas das quais deriva o caráter não permitido do perigo [ex: mudança
brusca de velocidade em certos trechos].
 Classificação
 Culpa consciente x inconsciente – consciente é a que o agente prevê mas crê que
vai evitar. Inconsciente é a que não prevê, mas podia ser prevista em abstrato.
 Culpa própria x impropria – a imprópria deriva de um erro de tipo indireto
vencível.
5. Crimes omissivos
O crime omissivo é aquele no qual o agente não age conforme a lei demanda, se
mantém inerte. Pode haver ou não resultado naturalístico.
Se o dever de proteção é geral e o tipo é descrito objetivamente com uma conduta
negativa, o crime é Omissivo Proprio (ex: omissão de socorro).

Se for erro sobre a posição de garantidor é erro de tipo. –


ex: não sabia que aquele era o meu filho
Se for erro sobre os limites da atuação como garantidor é
erro de proibição. – ex: não sabia que eu precisava socorrer

Se há um dever especial de proteção (garantidor) é crime Omissivo Improprio, ou


crime de olvido (ex: homicídio culposo no caso de mãe que não vê o filho se afogar). A
posição de garantidor é elemento objetivo do tipo que estende o resultado para as
omissões impróprias. O erro sobre a posição de garantidor, portanto, é erro de tipo.
Art. 13
(...)
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Nos crimes omissivos impróprios não há relação de causalidade fática entre a omissão e
o resultado (ex: criança afogada morre pelo afogamento, não pela omissão). Há a
imputação do resultado porque a omissão aumenta consideravelmente a chance do
resultado. A omissão é normativa. (teoria da existência normativa)
Para haver omissão é necessário que seja possível a ação.
Poder agir + evitabilidade do resultado + dever de impedir (garantidor)
6. Crime tentado.
Art. 14, II - tentado, quando, iniciada a execução, não se Iter criminis
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Cogitação
O art. 14, II estende o tipo objetivo para ações dolosas que
não tem resultado consumado. O Tipo subjetivo é completo Atos preparatórios
(dolo), há consciência e voluntariedade, mas o resultado não
Execução
ocorre. Há uma adequação típica indireta, através de uma
norma de extensão, porque a conduta não se adequa Consumação (nos crimes
diretamente ao tipo objetivo, por falta de resultado, materiais ocorre com o
necessitando dessa norma para a adequação típica. resultado)
Exaurimento (nos crimes
formais ocorre com o
resultado)
Tentativa perfeita: faz todos os atos, mas resultado não se realiza por motivos alheios.
Tentativa imperfeita: não realiza todos os atos.
Tentativa incruenta (branca): autor não atinge o objeto.
Tentativa cruenta (vermelha): autor atinge o objeto.
Tentativa inidônea = crime impossível (natureza jurídica de causa de exclusão da
tipicidade do crime tentado).
Tentativa abandonada = desistência voluntária e arrependimento eficaz
6.1 Elementos da tentativa
a) Inicio de execução
 Os atos preparatórios não implicam em tentativa, são atos atípicos. (ex:
comprar arma é atípico)
o STJ, 2021 – o simples ato de forçar cadeado da casa não é
tentativa de roubo ou furto, porque não é ato de execução. É
indiferente penal. A execução começa com o núcleo, como
sequer subtraiu a coisa (inversão da posse, teoria da amotio), não
responde. No máximo pelo dano, se houver.
 Quando começa o ato de execução?
o Teoria formal objetiva: apenas nos atos que realizam o núcleo do
tipo (ex: ficar em emboscada não é tentativa, apenas o ato de
puxar o gatilho). É melhor para a defesa.
o Teoria material objetiva: pouco utilizada porque é vago,
considera os atos que produzem perigo para o bem jurídico. (ex:
roubo ao banco, preso quando já tinham cavado tunel)
 STJ, 6 T, REsp 1252770 / RS, 2015 -Quando o agente
penetra no verbo nuclear, sem dúvida, pratica atos
executórios. No entanto, comportamentos periféricos que,
conforme o plano do autor, uma vez externados,
evidenciam o risco relevante ao bem jurídico tutelado
também caracterizam início da execução do crime.
o Teoria subjetivo-objetiva (ou objetivo individual): os atos que
realizam o núcleo e o imediatamente anterior.
OBS: essa diferenciação entre atos preparatórios e executórios
ainda é um terreno cinzento.
o Teoria subjetiva – desde a intenção do autor já há tentativa.
Muito criticada.
Teorias funcionalistas – buscam elencar critérios negativos que eliminam a tentativa
como: conforme a representação do agente sobre o fato, não houver proximidade da
consumação; comportamentos socialmente habituais.
Critérios positivos: proximidade temporal com a ação típica; se introduz na esfera de
proteção da vítima; atua sobre o objeto de proteção penal
b) Não consumação por circunstâncias alheias a vontade do agente.
OBS: A lei pode prever como crimes atos preparatórios, como no caso de atos
preparatórios de terrorismo, mas a regra é que apenas é crime se entrar na execução.

6.2 Fundamentos da punibilidade da tentativa

a) Teorias objetivas:
Mais aceitas na doutrina brasileira. A tentativa é punida porque oferece risco
considerável ao bem jurídico tutelado (análise ex post do perigo).
Crítica: despreza a intenção do agente que pode vir antes do perigo.
b) Teorias subjetivas:
A tentativa é punida porque já é exteriorização da intenção do agente de realizar o
crime. Crítica: engloba atos que não oferecem perigo, mesmo que haja intenção.
c) Teorias da impressão:
A tentativa é punida porque é ato potencialmente perigoso (análise ex ante) que abala a
confiança nas pessoas. O perigo é analisado durante a realização da conduta.
6.3 Tentativa nas contravenções
É atípica a tentativa de contravenção.
6.4 Tentativa e crime qualificado
Existem três casos possíveis: conduta base dolosa e qualificadora dolosa; conduta base
dolosa e qualificadora culposa (preterdolo); conduta base e qualificadora culposas. A
tentativa só cabe no dolo.
 DOLO + DOLO – crime qualificado pelo resultado
É possível que o agente inicie a conduta base e a ação para o resultado qualificador, mas
não é sequer necessário que haja o inicio do resultado qualificador, bastando que seja
claro que era desejado.
CONDUTA BASE RESULTADO
QUALIFICADOR
Ex: latrocínio tentado.
Roubou mas n morreu.
CONDUTA CONDUTA BASE
QUALIFICADORA
Ex: furto pela escalada

ATENÇÃO! STJ NÃO ENTENDEU ASSIM:


STJ 5 TURMA, AREsp 974.254, 2021 – apenas quebrar cadeado ou fechadura, apesar
de ser qualificadora, não configura ato executório, mas apenas preparação para o crime
de furto, porque para ser execução precisar PRATICAR O VERBO (teoria objetiva
formal).Assim, não é tentativa, é impunível.
 DOLO + CULPA (crimes preterdolosos)
Ocorre a tentativa quando o resultado culposo ocorre sem a consumação da conduta
base dolosa. Em alguns casos é possível, em outros não.
Ex: aborto com lesão grave. Pode haver a lesão grave culposa durante o aborto feito
pelo médico e este então pare o aborto para não matar a gestante. É aborto qualificado
tentado.
Ex2: estupro qualificado pelo resultado morte: a morte pode ocorrer antes da conjunção
carnal.
Explicam Luiz Flávio Gomes e Antonio Molina: “Não é possível falar em tentativa no
crime preterdoloso em relação ao resultado posterior (que é culposo). Culpa não admite
a tentativa. Mas é perfeitamente possível a ocorrência de crime preterdoloso tentado
quando o primeiro delito (doloso) não se consuma, dando-se, entretanto, o resultado
subsequente” ex: estupro com morte, se não morre, não é qualificado tentado, é so
normal. Mas se não estupra, mas morre, pode ser tentado qualificado.
6.5 Tentativa e crimes de mera conduta
É possível quando a conduta for fracionável
6.6 Tentativa e crimes habituais
Para a doutrina tradicional não é admitida a tentativa (Fragoso), porque ou a
habitualidade está configurada, sendo consumado, ou não, sendo atípica.
A doutrina moderna, no entanto (Zaffaroni) sustenta que a habitualidade não diz
respeito a um elemento objetivo, de repetição de condutas, mas sim um elemento
subjetivo especial, diz respeito a intenção do agente, podendo haver o crime habitual
com uma única conduta sequer, desde que esteja claro a intenção de repetir. Por essa
doutrina o crime habitual é passível de tentativa.
6.7 Tentativa e crimes unissubsistentes só um ato
Para crimes materiais é possível.
Para os crimes formais ou de mera conduta tem-se um problema, porque como o
resultado não precisa ocorrer, apenas um ato já consuma o crime, sendo difícil falar em
tentativa. Pode ser possível em caso raríssimos adotando-se a teoria subjetivo-objetiva,
mas não é comum.
Ex: agente profere a injúria mas na hora passa uma ambulância e a vítima não ouve.
6.8 Tentativa e crime de atentado
Não tem tentativa pois a própria tentativa já é o crime consumado.
6.9 Tentativa e crime omissivo
A omissão não é fracionável. Assim, os crimes omissivos próprios não admitem
tentativa.
Já os crimes omissivos impróprios, que são descritos por ações, admitem tentativa. A
partir de quando o garantidor está em tentativa na sua omissão?
Há tentativa quando há perigo próximo e o agente deixa de oferecer salvamento na
primeira oportunidade. Quando o perigo for distante há tentativa quando o agente tira de
suas mãos a chance da ação salvadora.
6.10 Tentativa e autoria mediata
A posição prevalente enxerga que há tentativa quando o autor atua sobre o instrumento.
Uma posição intermediária entende que somente existiria a tentativa com a mera
atuação do autor mediato sobre o instrumento, se este estiver de boa-fé.
6.11 Pena da tentativa
Redução de 1 a 2 terços da pena do crime consumado.
STJ entende que a variação é conforme mais longe o autor foi no iter criminis.
7. Desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15 CP)
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede
que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
O legislador dá um benefício para o agente, que deixará de responder pela tentativa do
crime fim e somente responderá pelos resultados obtidos até a desistência.
Desistência voluntária: tem um aspecto negativo, pois o agente deixa de realizar,
voluntariamente, os atos que havia planejado.
Arrependimento eficaz: tem um aspecto positivo pois o agente realiza todos os atos que
havia planejado e posteriormente se arrepende, agindo positivamente para impedir que o
resultado se produza.
Requisitos para o arrependimento eficaz:
 Tem que ser eficaz
 O resultado tem que ser evitado em decorrência da atuação do agente e não obra
do acaso

7.1 Natureza jurídica


Primeira corrente (Damásio, Frederico Marques): conduta atípica.
Para essa corrente, não há tentativa porque a consumação não ocorreu por vontade do
agente, e não por circunstâncias ALHEIAS. Assim, não pode ser usado o art. 14, que é
uma extensão da tipicidade objetiva (não há adequação típica direta nem indireta).
Segunda Corrente (Hungria e Zaffaroni): extinção de punibilidade.
Para essa corrente a vontade posterior aos atos já executados não apaga a tipicidade
desses atos. Por isso, seria apenas uma forma de extinguir a punibilidade dessa tentativa.
Essa corrente permite imputar ao partícipe a tentativa, ainda que o autor desista ou
se arrependa, porque se pune a conduta do partícipe se a conduta do autor for típica e
ilícita (teoria da acessoriedade limitada). Para a primeira corrente o partícipe também só
responde pelos atos já consumados, ainda que não se arrependa.
(ex: pistoleiro pratica o arrependimento eficaz, so responde pela lesão, mas o mandante
que não se arrependeu deve responder pela tentativa de homicidio. Na 1 corrente os dois
responderiam apenas pela lesão.)
OBS: O partícipe não pratica atos de execução, portanto, para ele fala-se genericamente
em desistência. É possível ele desistir e o autor não (ex: empresta a arma mas depois
liga pra polícia).
Para a doutrina majoritária, o partícipe só se beneficia do art. 15 se, com seu
arrependimento, ou com a sua desistência, consegue impedir que o autor realize o
delito. Há quem diga que isso ocorre porque como o partícipe cria a ideia, ele cria ou
incrementa um risco já existente, passando a figurar na condição de agente garantidor
7.2 Critérios para identificar a voluntariedade
Formula de Frank:
Não posso prosseguir, ainda que quisesse → tentativa;
Não quero prosseguir, ainda que possa → desistência voluntária.
Para Zaffaroni:
Afasta-se a voluntariedade quando:
 Suposição de ação de persecução. Essa suposição pode ser algo que só exista na
cabeça do agente, mesmo que não seja verdadeira.
 Coação.
Não precisa ser espontânea a desistência para que seja voluntária. Ex: desiste de matar
porque percebe que tem pessoas olhando. É desistência voluntária.
8. Crime impossível
É uma tentativa que não é punível por inidoneidade do meio ou do objeto.
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Ineficácia do meio: é a conduta utilizada para o crime. Ex: é impossível o crime de
homicídio com um boneco de vodu.
Impropriedade do objeto: é a ausência de elemento do tipo objetivo. Ex: é impossível
o homicídio em face de um morto.
Outra forma de crime impossível por obra do agente provocador (flagrante
provocado), hipótese excepcional, extralegal, inadmitida pelo STF:
Súmula 145 do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação.
O flagrante esperado é diferente do flagrante provocado, é admitido pela jurisprudência.
OBS: cuidado com os crimes de tipo misto alternativo, porque o flagrante pode ser
provocado em relação a uma das condutas, mas em relação a outra há crime consumado.
OBS 2: No caso de consumar o crime, o agente provocador só responde a título de
culpa, e não de dolo, porque o partícipe precisa ter duplo dolo: de participar e de
consumar o crime. O agente provocador do flagrante não deseja a consumação do
crime, por isso responde a título de culpa.
8.1 Critério para análise da idoneidade do meio ou objeto
Teoria objetiva (MAJORITÁRIA): há uma análise ex post da idoneidade para oferecer
perigo.
Ex: é crime impossível se tenta matar com arma descarregada ou de brinquedo, ainda
que no momento todas as pessoas se assustem.
Teoria da impressão: há uma análise ex ante da idoneidade para oferecer perigo. No
exemplo anterior, o agente responderia pela tentativa.
No Brasil prevalece a teoria objetiva temperada. Afirma que o exame realizado será
ex post, porém quando a incapacidade de consumação decorre de um dado acidental que
neutraliza a capacidade, teríamos tentativa. (ex: carro blindado. Responde pela
tentativa).
Por isso é que não comete crime, é atípico, porte de arma de brinquedo, ainda que
pareça muito de verdade, porque a análise é ex post, objetiva. Pra afastar precisa perícia.
A ofensividade pode ser provada, na ausência de pericia, por testemunhas.
Também não configura crime se é totalmente inidônea para atirar, verificado por
perícia. Quanto à arma desmuniciada, há crime de porte, mas o crime de ROUBO
há divergência do STF, que entende que serve para majorar o roubo, porque o aumento
seria pela arma em si; e o STJ que entende que não serve para majorar o roubo.
Há, portanto, uma inidoneidade relativa que gera crime impossível: em abstrato é
idôneo, mas no caso concreto, por motivos acidentais, se torna inidôneo relativamente.
No caso da arma inapta é inidoneidade absoluta para porte/posse de arma. Mas se for
desmuniciada não impede o crime de porte/posse de arma.
Súmula 567 STJ CAMERA NÃO TORNA CRIME IMPOSSIVEL - Sistema de
vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto.
Teoria subjetiva: é tentativa sempre que houver a intenção de cometer o crime. Essa
teoria não é usada porque esvazia o crime impossível.
Teoria sintomática: é tentativa quando o agente for perigoso. Essa teoria vai contra a
ideia do princípio da lesividade, pois se debruça sobre a pessoa e não sobre a conduta.
9. Arrependimento posterior
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
 Reparação integral (STF já mitigou, restrigindo o grau de diminuição conforme
a reparação)
 Até o recebimento da denúncia
Violência - a violência que afasta o arrependimento posterior é apenas a violência real à
pessoa. Se for violência ficta (ex: boa noite cinderela para roubar os pertences de
alguém) ou contra coisa pode haver arrependimento posterior.
Reparação do dano - em alguns crimes, como os crimes tributários, o peculato
culposo, a reparação do dano gera a extinção da punibilidade até a sentença.
Subsidiariamente, a reparação do dano pode ser apenas uma atenuante, do art. 65, III, b.
A reparação deve ser integral e o critério de aferição do quantum de diminuição é a
rapidez do ressarcimento. Alberto Silva Franco tem uma posição minoritária mais
favorável ao réu, defendendo que a reparação não precisa ser integral, devendo o
quantum ser calculado conforme o nível de reparação. (STF já teve decisão assim)
O crime deve ser patrimonial, e pode ser culposo ou doloso, desde que não haja
violência ou grave ameaça.
STJ, 2013 - Estende-se aos demais coautores, por constituir circunstância de natureza
objetiva, cabendo ao julgador avaliar a fração de redução que deve ser aplicada, dentro
dos parâmetros mínimo e máximo previstos no dispositivo, conforme a atuação de cada
agente em relação à reparação efetivada.
No crime de emissão de cheque sem fundo, o pagamento até o recebimento da denúncia
ou queixa extingue a punibilidade (Súmula 554, STF).
No peculato culposo, se a reparação do dano precede à sentença irrecorrível, extingue
a punibilidade; se lhe é posterior, reduz em metade a pena imposta.
Crimes tributários – extingue punibilidade.
STF. 1ª Turma. HC 165312/SP 2020 - Aplica-se o arrependimento posterior para o
agente que fez o ressarcimento da dívida principal antes do recebimento da denúncia,
mas somente pagou depois os juros e a correção monetária
ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE)

10. Introdução – relação entre tipicidade e ilicitude


Inicialmente tipicidade e ilicitude estavam unidas. Beling separou a tipicidade e a
ilicitude, passando a serem feitos vários estudos sobre a relação entre elas, se totalmente
independentes ou não.
O detalhamento conceitual da moderna teoria do crime constitui garantia individual, na
medida em que define as exigências para o reconhecimento do fato-crime. Manter
nítida a distinção entre o juízo de tipicidade e ilicitude é objetivo político criminal
compatível com o Estado de Direito, que visa à proteção do indivíduo contra
eventuais abusos na intervenção repressiva estatal.
1.1. Ratio cognocendi (teoria indiciária)
Mayer afirmava que a tipicidade era ratio cognocendi da ilicitude, ou seja, um indício
de ilicitude. Essa é a teoria que prevalece.
Uma consequência da ratio cognocendi é a inversão do ônus da prova no caso de
alegação de fato modificativo, extintivo ou impeditivo do direito do autor, porque
pressupõe-se que o autor, ao provar tipicidade e indícios de autoria, indiciariamente já
prova a ilicitude. Assim, cabe ao réu provar a excludente.
Nesse sentido, pela teoria indiciária, se há dúvida quanto à causa de exclusão de
ilicitude, deve o magistrado condenar, pois não se aplica o in dubio pro reo quando o
fato duvidoso for ônus da defesa. No entanto, o Código de Processo Penal mitigou essa
consequência da teoria, no art. 386, VI, que determina que deve ser absolvido no caso
de haver FUNDADA dúvida sobre a existência de causa excludente de ilicitude.
1.2. Ratio essendi
Mezger afirmava que a tipicidade é ratio essendi da ilicitude, ou seja, a conduta típica é
automaticamente ilícita, condicionada a ausência de excludentes de ilicitude. A
tipicidade é a ilicitude tipificada e a ilicitude é a razão de ser da tipicidade. A ilicitude
contém a tipicidade.
Zaffaroni segue essa teoria em sua doutrina da tipicidade conglobante, afirmando que
esta engloba a antinormatividade. Essa visão esvazia em parte o conceito de ilicitude
porque as excludentes do exercício regular do direito e o estrito cumprimento de dever
legal são vistas como excludentes de tipicidade, porque se relacionam à ausência de
antinormatividade.
1.3. Teoria dos elementos negativos do tipo:
Merkel propôs a teoria dos elementos negativos do tipo, na qual o tipo contém a
ilicitude, com a inclusão das causas excludentes de ilicitude dentro do tipo (ex: matar
alguém salvo em caso de legitima defesa etc). As causas de justificação são elementos
negativos do tipo que possuem a mesma hierarquia dos elementos proibitivos. Nesse
caso, o ônus da prova cabe à acusação de demonstrar além da tipicidade a inexistência
de elementos negativos do tipo, que são as causas de justificação.
11. Conceito unitário de ilicitude:
A ilicitude possui um aspecto formal, a mera desobediência à norma, e um aspecto
material, que é a efetiva lesão ao bem jurídico protegido. É o juízo de valor negativo
que recai sob a conduta humana que caracteriza um fato típico, pela desobediência à
norma E pela lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico. Essa parte material é que
explica as causas supralegais de excludente de ilicitude, como o consentimento do
ofendido, a coculpabilidade (para alguns é excludente de culpabilidade), a escusa de
consciência (caso do pai que tira a transfusão do filho)
2.1. Evolução de ilicitude nos sistemas de teoria do delito:
Sistema clássico (Beling): a ilicitude era auferida apenas em seu aspecto objetivo,
formal, a análise era limitada ao enquadramento da norma à conduta. Se a conduta não
se encaixa em alguma hipótese de exclusão de ilicitude então é ilícito,
independentemente da vontade do agente. Não se analisava o animus do agente.
Sistema Neoclássico (neokantismo de Baden): agrega carga valorativa à análise da
ilicitude, com elementos axiológicos. Causas supralegais de exclusão da licitude, com
análise valorativa da ofensividade social.
A soma da tipicidade com a ilicitude dá ensejo ao injusto. No neokantismo, o injusto
continua sendo objetivo, mas é objetivo normativo, pois além de congregar a parte
objetiva do crime, ele deixa que valores possam ser objeto de exame no juízo de
tipicidade penal e juízo de ilicitude.
Sistema Finalista (Welzel): A análise da ilicitude continua sendo formal e material,
agora com análise da vontade e consciência de agir dentro de causas de justificação
(elemento subjetivo).
12. Causas de exclusão da ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito
Esse é um rol exemplificativo, porque na parte especial existem outras causas de
exclusão, como o aborto humanitário, o aborto legal, a intervenção médica para salvar a
vida do paciente, que exclui o constrangimento ilegal, etc.
 Erro de tipo permissivo/ erro de tipo indireto
É quando o agente tem uma percepção errada sobre os fatos, pensando que estão
presentes os elementos objetivos da causa de exclusão de ilicitude. O elemento
subjetivo da voluntariedade e consciência está presente, mas o elemento objetivo não.
Não responde por crime doloso. Se for vencível (deriva de culpa) responde por crime
culposo (culpa impropria).
3.1. Estado de necessidade
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-
se.
“que não provocou por sua vontade” há discussão se haveria estado de necessidade
quando o agente provoca culposamente o estado de perigo. Para alguns autores sim,
porque o requisito apenas afasta a provocação dolosa, para outro não poderia, de modo
que vontade seria a conduta voluntaria, ainda que culposa. A maioria da doutrina
entende possível no caso de culpa.
Teoria unitária:
 É a teoria adotada no Código Penal.
 Prevê apenas um tipo de estado de necessidade, o estado de necessidade
JUSTIFICANTE.
 No estado de necessidade justificante o bem sacrificado tem valor menor ou
igual ao que é salvo.
Teoria diferenciadora:
 É a teoria do Código Penal MILITAR.
 Prevê dois tipos e estado de necessidade: justificante e exculpante.
 O exculpante é quando o bem sacrificado possui maior valor e não era possível
exigir que a pessoa agisse de outra forma.
 Exculpante, nessa teoria, equivale à excludente de culpabilidade (inexigibilidade
de conduta diversa).
 Quanto ao justificante há duas correntes:
o Fragoso e Zaffaroni: no estado de necessidade justificante o valor do
bem sacrificado só pode ser inferior ao salvo. É a adotada pelo CPM.
o Masson e Assis Toledo: no estado de necessidade justificante o valor do
bem sacrificado pode ser inferior ou igual ao salvo.
O código Penal Militar é mais benéfico ao réu porque prevê a excludente de
culpabilidade no caso de sacrifício de bem de maior valor, desde que não fosse possível
exigir conduta diversa. No Código Penal apenas reduz a pena de 1/3 a 2/3 (art. 24 §2°),
porque não há estado de necessidade exculpante.
3.1.1. Requisitos
 Ameaça a direito próprio ou alheio
o Se for direito alheio só pode intervir sem consentimento se for direito
indisponível.
 Perigo atual inevitável
o Não pode haver commodus discesus (uma saída cômoda) como
alternativa.
 Inexigibilidade do sacrífico do bem ameaçado
o Teoria unitária/objetiva monista: bem salvo tem valor igual ou superior.
 Situação não provocada pelo agente
o Aquele que cria o risco se torna garantidor, não podendo sacrificar o bem
que colocou em risco.
 Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo
o Não pode alegar estado de necessidade próprio.
 Conhecimento da situação de fato – animus salvandi.
3.1.2 Tipos de estado de necessidade
a) Estado de necessidade defensivo – sacrifica um bem que está relacionado com a
origem do perigo
b) Estado de necessidade agressivo – sacrifica um bem que não se relaciona com a
origem do perigo. Aqui cabe indenização nos termos do art. 929 CC. Dif. Legitima
defesa, que é só contra o injusto.
c) Estado de necessidade putativo – quando o agente erra sobre os fatos, achando que
está em contexto de estado de necessidade mas não está. É o erro de tipo
permissivo/indireto, que isenta o agente de pena se o erro for invencível. Se for vencível
(deriva de culpa) responde por crime culposo (culpa imprópria.)
3.2. Legítima defesa
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
A legítima defesa é autorizada pelo ordenamento porque o Estado possui o interesse de
tutelar os bens jurídicos injustamente agredidos, mas não pode estar em todos os lugares
para fazê-lo.
No estado de necessidade há uma colisão entre bens; na legítima defesa há uma
INJUSTA AGRESSÃO, que pode ser atual ou iminente. Por isso, não impede a legítima
defesa o fato de haver um commodus discesus. Mesmo que haja outras formas, o
individuo é autorizado a se proteger, desde que moderadamente.
OBS: CRIMES VAGOS e legítima defesa: em tese seria possível legítima defesa em
face de agressões contra a Administração Pública, o Estado etc. Mas há uma
dificuldade de se determinar concretamente quem é o lesado pela agressão, se o
particular ou o Estado. De qualquer modo, destaca-se que é possível fazer a prisão em
flagrante (art. 301 CPP) do criminoso, é exercício regular de um direito.
ATENÇÃO! Luis Greco traz a reflexão sobre os limites da legitima defesa e defende
que o cerne da defesa é a liberdade do individuo, que não pode ter sua esfera de atuação
atingida por outro. Por isso entende que a injusta agressão pode ser não só contra a vida
ou integridade física mas também contra o direito a autodeterminação, à liberdade
sexual, as liberdades em geral. O estado de necessidade sim, exige essa balança entre
bens jurídicos, mas a legitima defesa, para o autor, não, porque na verdade se trata do
embate liberdade x liberdade. Crítica a visão utilitarista.
3.2.1 Requisitos
 Injusta agressão
o É um comportamento contrário ao direito, não o precisa ser um crime
o Pode ser praticada por um inimputável.
 Perigo atual ou iminente – risco futuro e agressões já passadas/consumadas não
geram direito a legitima defesa.
 Defesa de direito próprio ou alheio.
o Se for direito alheio só pode intervir sem consentimento se for direito
indisponível.
 Uso moderado dos meios necessários – necessidade e adequação.
 Elemento subjetivo – animus defendendi.
3.2.2. Legítima defesa recíproca
Não se admite, porque se a defesa é legítima não configura injusta agressão.
Também não é possível legítima defesa contra outras causas de exclusão de ilicitude,
que são legais.
É possível a legítima defesa em face de legítima defesa putativa.
3.2.3. Legítima defesa sucessiva/pendular
Ocorre quando a legítima defesa que a principio era real passa a ser uma injusta
agressão por conta do excesso, de modo que agressor passa a ter o direito à legítima
defesa sucessiva.
Nesse caso as agressões NÃO se compensam. Cada um responde pelo seu excesso e
ofensa.
OBS: OFENDÍCULOS – Parte da doutrina entende que são casos de legítima defesa
preordenada, porque só agem a partir do momento da agressão. Outra parte da doutrina
entende que é um exercício regular do direito, porque são colocados para um evento
futuro, sem que haja no momento qualquer agressão.
O efeito do ofendículo é dissuadir, portanto não deve haver excessos, devem ser
visíveis.
3.3 Estrito cumprimento do dever legal
É o ato praticado em cumprimento a uma norma jurídica ampla e abstrata. Pode ser um
dever de servidores públicos ou de particulares, apesar de haver divergência a maioria
da doutrina entende que particulares estão abrangidos (ex: deveres do poder familiar,
deveres do médico etc)
3.3.1. Características
 Não se confunde com a obediência hierárquica que, caso não seja ordem
manifestamente ilegal, isenta de culpabilidade o agente.
 Não abrange o dever moral, social ou religioso.
 O cumprimento deve ser estrito, sem excessos.
 Precisa do elemento subjetivo – consciência e vontade de agir conforme a
norma.
3.4 Exercício regular do direito
O direito é algo que pode ou não ser exercido pelo seu titular. É diferente do
cumprimento de dever legal, que é obrigatório.
O direito regular é todo o direito subjetivo penal ou não, podendo ainda tratar-se de
norma consuetudinária (doutrina minoritária), que se contém nos limites impostos pelo
fim econômico ou social.
3.5 Consentimento do ofendido
É entendido como causa supralegal de exclusão da ilicitude. Em alguns crimes o
consentimento exclui a própria tipicidade, como no caso do estupro, do constrangimento
ilegal.
É o consentimento justificante. Requisitos:
 Ofendido deve ter capacidade para consentir, ser imputável. (o CP faz
referência aos 14 anos)
 A vontade deve ser livre
 O consentimento recai sobre bem disponível [não admite licitude eutanasia]
 Consentimento anterior ou simultâneo ao fato.
 Pode haver revogação do consentimento, e a partir desse momento o ato é ilícito.
3.6. Colisão de deveres

Ocorre quando a pessoa possui deveres colidentes, de mesma hierarquia e grau, e


portanto escolher um deles em detrimento do outro, ainda que essa escolha gere
reasultado penalmente relevante, não haverá ilicitude. Ex: médico tem que atender duas
pessoas igualmente feridas, se atende uma e a outra morre não responde pela morte.
A doutrina coloca essa discussão dentro do estado de necessidade, ou seja, conflitam
dois bens jurídicos de mesma hierarquia (duas vidas), e o salvamento de um levará ao
abandono de outro.
Para a maior parte da doutrina trata-se de uma inexigibilidade objetiva de agir, não se
pode fazer uma escolha hierárquica, e por isso seria excludente de ILICITUDE.

Para outra parte da doutrina, porém, há a possibilidade de fazer uma escolha com bate
em critérios subjetivos do agente o que se aproxima de uma inexigibilidade
SUBJETIVA, que se assemelha à excludente de CULPABILIDADE. Ex: o médico
percebe que uma das vitimas é seu filho. Aqui, além da questão subjetiva, há também a
posição de garante, que reforça o dever de agir do médico para com o filho.

3.6. Excesso punível


Se houver excesso em qualquer das causas de justificação o agente responde pelo
excesso culposo ou doloso.
OBS Excesso extensivo vs. Excesso intensivo -Extensivo é aquele que se prolonga no
tempo, a principio ele neutraliza a agressão mas continua. Intensivo é aquele que já
começa imoderado, usa força muito intensa.
 Excesso doloso
a) Em sentido estrito - agente com consciência e voluntariedade excede sem que
haja qualquer incidência em erro. Responde pelo excesso de modo doloso sem
qualquer benefício.
b) Decorrente de erro de proibição indireto – agente com consciência e
voluntariedade excede, mas achando que havia uma causa de justificação válida.
Não há erro sobre os fatos, mas sobre os limites da causa de justificação, por
isso é erro de proibição, não erro de tipo. Responde pelo excesso doloso nos
termos do art. 21: se invencível/escusável não responde por nada, se
vencível/inescusável, diminui de 1/6 a 1/3.
 Excesso culposo
a) Em sentido estrito – agente excede em função de negligência. (ex: vai se
defender e dá um chute que acaba fazendo o agressor cair no asfalto e ser
atropelado)
b) Decorrente de erro de tipo permissivo/de tipo indireto – o agente excede
pensando que está acobertado pela causa de justificação. Há erro sobre os fatos,
responde pelo art. 20 §1°: se invencível/escusável não responde por nada, se
vencível/inescusável, responde pela culpa. (ex: sem ver o autor, a vitima se
defende com 6 tiros, descarregando a arma e acertando todas no peito, mas na
primeira já acerta. Não precisava das outras 5 mas na situação não sabia. Erro de
tipo sobre o excesso, responde por culpa impropria ou isenta)
OBS: Excesso exculpante – o código penal não prevê, mas a doutrina entende ser causa
supralegal de exclusão da CULPABILIDADE, por inexigibilidade de conduta diversa.
Pode ser intensivo ou extensivo. É aquele que ocorre por medo, susto, adrenalina
durante a agressão/perigo. Alerto Silva Branco: Não se confunde com excesso
culposo, porque este é falta de dever objetivo de cuidado, enquanto o excesso
exculpante é derivado de medo, susto.
CULPABILIDADE

13. Introdução – evolução nos sistemas de teoria do delito


Para os que adotam a teoria tripartite é o terceiro elemento do crime. Para a teoria
bipartite, é critério para punibilidade.
Na teoria clássica a culpabilidade tinha um caráter meramente descritivo, com adoção
da teoria psicológica da culpabilidade. Por isso dolo e culpa estavam na culpabilidade.
A imputabilidade era pressuposto para culpabilidade.
Na teoria neoclássica são agregados elementos valorativos/normativos na
culpabilidade. Adota-se a teoria psicológico-normativa (teoria complexa) da
culpabilidade. Passa ser um juízo de censura sobre o autor, tendo como elementos a
imputabilidade e a exigibilidade de conduta diversa. Dolo era real consciência da
ilicitude, Culpa era vontade defeituosa.
Na teoria finalista o dolo e culpa passam a ser elementos da ação, e a culpabilidade
passa a seguir a teoria normativa pura e analisa a reprovabilidade do fato.
Na teoria funcionalista, a culpabilidade é chamada de responsabilidade e segue a
função do direito penal (se proteção dos bens jurídicos, de Roxin, ou de prevenção
geral, de Jakobs). Nessa teoria à culpabilidade é adicionada a necessidade de sanção,
sendo então um critério para a punibilidade.
Reflexão crítica Silva Sanchez: afirma que primordialmente a culpabilidade tem
objetivo limitador da punição, não fundamentador. Aponta que cada vez mais isso tem
sido subvertido, a análise passa a ser do “dever social” de ter consciência da ilicitude e
menos do ônus da acusação de provar a consciência da ilicitude. “O inculpável é
responsável pela sua inculpabilidade”. A inimputabilidade também vem perdendo força,
para o autor, como pela teoria da actio libera in causam. Então a culpabilidade vem se
diluindo na teoria do crime.
14. Conceito
É o juízo de reprovabilidade pela prática de um ato típico e antijurídico.
A culpabilidade é pessoal, devendo ser apurado se o agente, nas suas condições, podia
agir em conformidade com o Direito.
Culpabilidade é um termo usado em diversas acepções: culpabilidade subjetiva, em
relação à responsabilidade penal subjetiva; culpabilidade enquanto elemento do crime,
juízo de reprovabilidade da conduta; culpabilidade em relação ao art. 59, que diz
respeito ao grau e dosimetria da pena; em relação ao art. 29, que diz respeito à
individualização da pena.
15. Elementos da culpabilidade
 Imputabilidade
 Potencial consciência da ilicitude
 Exigibilidade de conduta diversa.
15.1 Imputabilidade
É a capacidade de responder pelos seus atos. É a aptidão psíquica para compreender o
ilícito e determinar o seu comportamento. Não se confunde com o dolo (que é natural),
que é conhecimento do tipo e vontade de atingí-lo. Na culpabilidade há o conhecimento
da ilicitude do fato.
Aníbal Bruno: É o conjunto das condições de maturidade e sanidade mental que
permitem ao agente conhecer o caráter ilícito de seu ato e determinar-se de acordo
com este entendimento.
Aspectos da imputabilidade:
 Cognitivo/cognoscitivo/intelectivo – É a compreensão acerca das consequências
do comportamento num contexto ético-social. Não é o mero conhecimento da
norma.
 Volitivo – É a capacidade de se determinar conforme o entendimento (avalia o
valor do motivo e o valor inibitório da sanção penal e atua conforme essa
avaliação).
15.1.1 Causas de exclusão (dirimentes)
a) Inimputabilidade por alienação mental
Código Penal usa o critério biopsicológico porque não basta a doença, precisa também
da incapacidade de entender.
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
A pessoa com deficiência mental que não é capaz de entender o caráter ilícito ou
determinar-se de acordo com esse entendimento não é punida com pena porque a pena é
inócua em relação a ela, já que ela não consegue entender o efeito retributivo (ausência
dos aspectos cognitivo e/ou volitivo).
O Brasil adota o sistema vicariante (desde 1984), que aplica obrigatoriamente medida
de segurança ao inimputável (antigamente era o duplo binário, cumpria pena e depois
medida e segurança).
O art. 144 do CPP trata do incidente de insanidade mental, que pode ser instaurado em
qualquer fase do processo. Apesar do juiz não ficar adstrito ao laudo (art. 182 do CPP),
para ir contra deve ser fundamentado.
OBS: Embriaguez patológica e dependência de drogas (art. 45 Lei 11.343/06) são
casos de inimputabilidade.
STJ. 6ª Turma. REsp 1802845-RS 2020 – Para o reconhecimento da incapacidade exige
o exame medico com o incidente de insanidade. Não se trata de regra tarifada! É apenas
a melhor forma de convencimento e fundamentação. O juiz não esta adstrito ao laudo,
pq é livre convencimento motivado.
 Semi-imputabilidade
Quando o agente era parcialmente capaz de entender ou determinar-se de acordo com o
entendimento a pena é reduzida de 1/3 a 2/3.
O Juiz condena (absolvição imprópria), reduz a pena e SE FOR O CASO, substitui a
pena por medida de segurança.
Art. 26 (...)
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto
ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
A mesma coisa ocorre no caso de dependência de drogas ou efeito involuntário de
drogas, que torne o usuário parcialmente capaz de entender o caráter ilícito ou de
determinar-se de acordo com ele.
L. 11.343/06 Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por
força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo
da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
b) Inimputabilidade por imaturidade natural
O CP adota o critério biológico puro.
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando
sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial
CR/88 - Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às
normas da legislação especial.
Há presunção absoluta de inimputabilidade (iure et iure) dos menores de 18 anos. O
menor emancipado continua sendo inimputável para efeitos penais.
Redução da maioridade penal - Parte da doutrina afirma que o art. 228 é cláusula
pétrea, sendo inconstitucional qualquer redução (Rene Ariel Dotti). Para outra parte
seria possível a alteração por meio de emenda constitucional.
 Prova da menoridade
Para comprovar o estado de pessoa é necessário respeitar as restrições da legislação
civil (art. 155 §único CPP). É um resquício do sistema tarifado das provas.
Súmula 74, STJ. Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu
requer prova por documento hábil.
 Menoridade relativa
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta)
anos, na data da sentença;
Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao
tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70
(setenta) anos
Por questões de política criminal, o legislador entendeu que, ainda que imputável, o
menor de 21 anos possui uma maturidade incipiente, podendo ser uma atenuante e
prevendo prescrição na metade do tempo.
c) Inimputabilidade por embriaguez involuntária completa ou por efeito
involuntário de drogas
É uma causa psicológica causada involuntariamente por intoxicação.
Art. 28 (...)
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso
fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
A embriaguez não pode ser culposa, dolosa ou preordenada.
Caso fortuito – uma situação imprevisível, força do acaso (ex: mistura de
medicamentos). Força maior – ação humana ou da natureza (ex: perdido na floresta
come uma planta alucinógena).
Se a embriaguez era incompleta apenas reduz a pena de 1/3 a 2/3 (art. 28 §2°)
15.1.2 Não excluem a imputabilidade:
 Emoção – é sentimento pontual
o Pode ser atenuante (art. 65, II, c)
 Paixão – é sentimento crônico
 Embriaguez voluntária ou culposa (Teoria da Teoria da Ação Livre da Causa originalmente
Actio Libera in Causa ad Libertatem Relata foi pensada para explicar a embriaguez
ou Teoria da Ação Livre na Causa) preordenada, na qual há o dolo de praticar o
o O momento da verificação da crime desde o momento da embriaguez. No
imputabilidade não é o da ação ou entanto, ela foi estendida para as outras
omissão, e sim o da embriaguez. Se no modalidades de embriaguez. Essa expansão
momento da embriaguez era imputável, gera críticas: (i) configura situação de
a ação posterior é livre na causa. responsabilidade objetiva (ii) viola o
o É uma decorrência lógica da conditio principio da legalidade porque não é
expressamente prevista.
sine qua non do art. 13 do CP, porque a
embriaguez é causa.
o Bittencourt defende que a teoria deve ser analisada caso a caso,
verificando a imputabilidade em cada caso.
 Embriaguez preordenada – Se o agente bebe com a intenção de praticar o crime.
É agravante (art. 61, II, l CP).
3.2. Potencial consciência da ilicitude
Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
É o conhecimento acerca das circunstâncias que tornam a conduta ilícita. No
finalismo houve a reelaboração do conceito, introduzindo o elemento de “dever de
informar-se”. Para excluir a culpabilidade não basta a ausência de consciência da
ilicitude, precisa também que seja possível nas condições adquirir o conhecimento.
Por isso passa a ser POTENCIAL consciência da ilicitude.
Se era impossível adquirir o conhecimento da ilicitude  o erro de proibição é
escusável/inevitável, e exclui a culpabilidade.

No sistema neoclássico a ideia era de REAL consciência da ilicitude.


OBS: CPM ainda adota os conceitos de erro de direito e erro de
fato, já superados no sistema finalista. No CPM o erro de direito não
exclui a culpabilidade e o erro de fato exclui a culpabilidade.

Se era possível adquirir o conhecimento da ilicitude  o erro de proibição é


inescusável/evitável (falta de um dever cívico de informar-se ou decorre de desatenção),
não exclui a culpabilidade, apenas pode reduzir a reprovabilidade.
Não se trata de consciência formal, técnica, mas sim profana do injusto, adquirida na
vida em sociedade. Valoração paralela na esfera do profano.
Questão polemica: e se no caso era, em abstrato, possível adquirir a
consciência da ilicitude mas por situações excepcionais de urgência, sob
pena de um dano grave ao agente, ele não tem como adquirir essa
consciência, se pratica o ato, sera culpável? Uma parte da doutrina, como
ROXIN, entende que se ficar provado que a situação era excepcional, não
haverá criação de risco proibido, porque ao homem médio não era contra o
dever de cuidado. Assim não haverá imputação, pela teoria de roxin.
Erro de proibição NÃO É ignorância legis. Esta não exclui o crime, mas pode ser
atenuante (art. 65, II).
O erro de proibição também não se confunde com erro de tipo, que é erro sobre as
circunstâncias do tipo penal.
Erro de tipo Erro de proibição
Recai sobre o TIPO Recai sobre a CULPABILIDADE
Se invencível/escusável, exclui o dolo e a Se invencível/escusável, exclui a
tipicidade. consciência da ilicitude e a culpabilidade.
Se vencível/inescusável, responde por Se vencível/inescusável, diminui a
culpa (culpa imprópria ou própria) culpabilidade (art. 21) – 1/6 a 1/3.
3.2.1. Tipos de erro de proibição

a) Erro de proibição direto – erra quanto à existência ou limites da ilicitude.


b) Erro mandamental – é o erro sobre o mandamento contido nos crimes omissivos
(próprios e impróprios). O autor não entende que aquela situação se encaixa no
mandamento de agir. Ex: banhista deixa de prestar socorro supondo não ter o
dever. Se for erro quanto a existência de elemento do tipo, é erro de tipo. Se for
quanto ao limite da posição de garantidor, erro de proibição.
c) Erro de proibição indireto – é o erro sobre os limites das causas de justificação.
No ordenamento brasileiro adota-se a teoria limitada da culpabilidade, que divide os
erros sobre causa de justificação (discriminantes putativas) em: (i) erro de TIPO
permissivo, do art. 20 §1° (ii) erro de PROIBIÇÃO indireto/de permissão, do art.
21.
(i) O erro de tipo permissivo recai erro sobre os fatos. Se escusável exclui o
dolo, se inescusável responde por culpa imprópria.
(ii) Erro de proibição indireto é aquele sobre a existência ou sobre os limites
da causa de justificação. Se escusável isenta de pena, se inescusável diminui
de 1/6 a 1/3.
A teoria extremada da culpabilidade considera que toda descriminante putativa, todo
erro sobre causa de justificação é erro de proibição indireto.
Uma terceira teoria considera que o art. 20 §1° é um erro sui generis, não sendo nem
erro de tipo, nem erro de proibição. Isso porque ele mistura as consequências do erro de
tipo com as do erro de proibição: se escusável, isenta de pena (como erro de proibição,
essa teoria entende que o CP ao falar em “isenta de pena” esta falando de
CULPABILIDADE), se inescusável responde por culpa. Essa é chamada de Teoria
que se Remete às Consequências do Erro.
ORAL MPMG: O erro de tipo permissivo inevitável sempre exclui o elemento
subjetivo? R: Pela Teoria limitada da culpabilidade sim, exclui dolo e culpa, mas pela
teoria que se remete as consequencias do erro, que entende que se trata de um erro sui
generis, a exclusão seria da culpabilidade, pois o CP fala em isenta de pena, e não do
elemento subjetivo.
OBS: ZAFFARONI e o erro de compreensão:
Zaffaroni entende que além do erro de sobre a ilicitude, há o erro sobre a compreensão
da ilicitude. Assim, o erro de compreensão é uma espécie do erro de proibição,
porque apesar de o agente saber que é ilícito, ou seja, ter conhecimento, consciência da
ilicitude, não a compreende, ou seja, não a internaliza, por conta de sua cultura.
O erro de compreensão culturalmente condicionado , portanto, é aquele pelo qual o
agente apesar de saber da ilicitude não a compreende, de modo que não lhe é exigível
que se comporte segundo a norma, sendo erro invencível. Exemplo: esquimó oferece
sua mulher perfumada de urina como um agrado, e a recusa do estrangeiro é uma
injúria, mas pelo erro de compreensão se torna um erro escusável, invencível. Questão:
países em que os relacionamentos homoafetivos são crimes: o estrangeiro que viola está
em erro de compreensão? Ou pode se falar em crime?
15.3 Exigibilidade de conduta diversa
Na inexigibilidade há a impossibilidade de determinar-se conforme o direito, apesar de
presente a imputabilidade e a potencial consciência da ilicitude.
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem,
não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou
da ordem.
3.3.1. Coação (não é temor reverencial)
 Coação física (vis absoluta) exclui a tipicidade, porque afasta a conduta
voluntária.
 Coação moral irresistível (vis compulsiva) exclui a culpabilidade.
 Se a coação moral é resistível, é atenuante para o coagido (art. 65, III, c) e
agravante para o coator (art. 62 CP), e os agentes respondem em concurso, como
coautores.
 A resistibilidade é medida por meio da gravidade do mal ameaçado e pelo poder
do coator em produzí-lo.

3.3.2. Obediência hierárquica


A obediência hierárquica nasce de um mandato vinculante. O subordinado age de
acordo com o seu dever. Requisitos:
 Haver ordem hierárquica. Não há intermediários.
o 1ª corrente (majoritária): somente há hierarquia na esfera pública .
(diferente do estrito cumprimento de dever, maioria abrange particulares)
o 2ª corrente: nas relações privadas também há hierarquia. É uma mera
atenuante.
 Ordem não manifestamente ilegal.
o Se houver dúvida quanto à legalidade não exclui a culpabilidade. É dever
do subordinado de ESCLERECER.
 Subordinado se manter estritamente ao conteúdo da ordem.
A diferença para o estrito cumprimento do dever legal é que esta excludente de ilicitude
diz respeito à regras amplas e gerais por meio de leis, enquanto a ordem superior é
direta e pessoal. Além disso, o estrito cumprimento é de agentes públicos e particulares.
3.3.3. Hipóteses supralegais de inexigibilidade de conduta diversa
 Passaporte falso
STJ, AgRg no REsp 1459899/RJ, 2016 - Pela necessidade de encontrar emprego digno,
para garantir melhores condições de vida.
 Apropriação indébita previdenciária
STJ, AgRg no REsp 1394125/RN, 2014 - Inexigibilidade de conduta diversa no caso de
empresa em grave crise financeira.
 Excesso exculpante
É aquele que ocorre por medo, susto, adrenalina durante a agressão/perigo. No
CPM é uma causa legal de exclusão da culpabilidade. No CP não é previsto mas a
doutrina afirma ser causa supralegal de exclusão de culpabilidade.
 Estado de necessidade exculpante
É expressa apenas do Direito Penal Militar, que adota a teoria diferenciadora do estado
de necessidade. É quando se sacrifica um bem de valor maior que o ameaçado.
No Código Penal é causa SUPRALEGAL.
 Teoria da coculpabilidade
Considerando que o Estado e a sociedade não contemplam a todos com as mesmas
oportunidades, há uma coculpabilidade com o qual a sociedade deve arcar, se
responsabilizar.
Em uma abordagem mais radical, considerando a existência de pessoas cujo âmbito de
autodeterminação está tão restrito pela miséria e realidade de exclusão social que delas
não se pode exigir outra conduta, levaria à exclusão da culpabilidade, sendo causa
supralegal de exclusão por inexigibilidade de conduta diversa,
Doutrina mais comedida afirma que a solução é aplicação do art. 66 do CP, de atenuante
genérica:
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante,
anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei
STJ, 5ª Turma. HC 411.243/PE, 2017 – Admitiu a teoria da coculpabilidade como
atenuante genérica.
Coculpabilidade as avessas – o Estado criminaliza mais fortemente certas condutas do
que outras.
CONCURSO DE PESSOAS

Fala-se em concurso eventual de pessoas quando há crime unissubjetivo, que pode ser
praticado por uma única pessoa. O Concurso necessário de pessoas diz respeito ao crime
plurissubjetivo, cuja configuração típica exige mais de uma pessoa. Nesse caso, o
inimputável é contado para fins de concurso.
Crimes eventualmente plurissubjetivos são aqueles que originariamente são
unissubjetivos mas no caso de concurso há aumento de pena ou forma qualificada (ex:
furto qualificado e roubo majorado). Aqui o inimputável é contado para fins de
concurso.
No caso da existência do concurso de pessoas nos crimes eventualmente
plurissubjetivos haverá incidência da majorante/qualificadora em decorrência do
concurso mesmo que algum ou alguns dos concorrentes não sejam imputáveis.
16. Teorias do concurso de pessoas
O Brasil adota teoria monista temperada.
Teoria monista pura
 Dá tratamento igualitário a todos os concorrentes do crime
 Tem seu fundamento na teoria da equivalência dos antecedentes (conditio sine
qua non).
 Não há diferenciação entre autor e partícipe, todos são autores.
 O crime é uno e indivisível.
 Há convergência objetiva e subjetiva das ações dos participantes.
Teoria monista temperada
 É a adotada pelo CP.
 Dá tratamento diferenciado para cada concorrente “na medida da sua
culpabilidade”
 Reforça o principio da individualização da pena.
 Considera a individualidade da intenção de cada agente. Se um deles queria
crime menos grave a ele é imputado crime menos grave, que pode ter pena
aumentada se o resultado mais grave era previsível.
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um
sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave
As circunstâncias de caráter pessoal só se comunicam se elementares do crime, tendo
em vista o principio da individualização da pena. (art. 30 CP) Ex: peculato e fun. Pub.
Teoria pluralista
 Dá tratamento diferenciado, com crimes diferentes, penas diferentes para
sujeitos que concorrem para o mesmo fato. Ex: corrupção ativa/passiva;
facilitação e contrabando/contrabando; aborto consentido da mulher e do
medico.
 Também chamada de cumplicidade do crime distinto ou de autonomia da
cumplicidade.
 O CP possui exceções pluralistas.
Teoria dualista (Manzini)
Separação total entre o crime do autor e o crime do partícipe. Não há concurso eventual
de pessoas em um crime, já que cada um comete um crime diferente.
Teoria mista (Carnelutti)
Os agentes são partes de um crime concursal. Há diversos delitos que juntos formam o
delito final complexo.
17. Requisitos para o concurso de pessoas
 Convergência objetiva
 Convergência subjetiva
 Identidade do ilícito (o CP possui algumas exceções)
Convergência objetiva - pluralidade de pessoas culpáveis + pluralidade de condutas com
relevância causal para o crime (nexo causal). A relevância causal não precisa ser muito
grande, podendo ser de pouca importância. Mas não pode ser inócua.
Convergência subjetiva – concurso de vontades dos agentes. Não precisa haver prévio
ajuste, basta que ambos tenham a mesma vontade de atingir o resultado (exemplo da
empregada que deixa a aporta aberta).
Coautoria sucessiva – é concurso de pessoas. Ocorre quando há conduta com
relevância causal ANTES da consumação, sem prévio ajuste. (exemplo: homem
que vê uma agressão e vai ajudar a agredir). Se a conduta ocorre depois da
consumação, não é concurso de pessoas, mas sim outro crime, como
favorecimento real, favorecimento pessoal ou receptação.
Autoria colateral – não há liame subjetivo. São causas independentes e cada um
responde pelo resultado causado.
Autoria incerta – Não é possível a identificação do autor do resultado, fica em
duvida. A solução é dada pelo principio do in dubio pro reo, ambos respondem
pela tentativa.
Autoria indeterminada – não sabe quem é, não condena ninguém.
18. Teorias sobre autoria
NÃO CONFUNDIR
Teoria subjetiva/unitária é
quanto à autoria e NÃO foi
adotada pelo CP.
Teoria monista temperada é
sobre o concurso de pessoas e
Teoria subjetiva (unitária) – Todos que concorrem com o crime são autores e não há
distinção de tratamento.
Teoria extensiva - Todos que concorrem com o crime são autores e há distinção de
tratamento quanto ao grau de participação.
Teoria objetiva (dualista ou restritiva) – Diferencia autores de partícipes. É adotada pelo
CP.
OBS: o CP apenas definiu a teoria de concurso de pessoas, ou seja, monista temperada.
Mas não definiu se os concorrentes respondem todos como autores, como autores e
partícipes, nem qual a diferença entre autores e partícipes. Essa definição ficou a cargo
da doutrina, que adotou a teoria objetivo-formal. Para Gueiros na verdade isso
demonstra que não diferenciou e portanto adotou a Teoria Subjetiva/unitária, mas que
tem sido mitigada com a jurisprudência e as reformas do CP.
3.1. Desdobramentos da Teoria objetiva/dualista

É a teoria adotada pelo CP. Segundo essa teoria, autor é aquele


Teoria que realiza o núcleo do tipo. Há uma subordinação direta do
objetivo- autor ao tipo.
formal Partícipe é aquele que realiza condutas fora do núcleo do tipo
penal mas que contribuem para o resultado. O art. 29 é norma
de extensão que possibilita a tipificação da conduta do
partícipe.

Críticas: (I) não pune o mandante como autor do crime, pois ele
não realiza o núcleo (ii) não explica satisfatoriamente a questão
da autoria mediata.
objetiva/dualista

É uma análise mais qualitativa, que amplia o conceito de autor.


Teoria
objetivo-
Autor é quem presta contribuição objetiva mais importante
Teoria

material para o resultado.

Críticas: é um conceito vago, analisado caso a caso que gera


insegurança.

Teoria do Autor é aquele que possui o domínio sobre a ocorrência do


fato. É aquele que pode determinar "se" e "como" ocorre o
Domínio resultado.
do Fato
(TDF) Críticas: não resolve o crime culposo nem omissivo.

3.2. Autoria na Teoria do Domínio do fato (também chamada teoria objetivo-


subjetiva)
a) Autor executor – aquele tem domínio do fato e que pratica o núcleo do tipo. É
autoria imediata.
b) Autor intelectual – aquele que planeja e tem domínio do fato mas não pratica o
núcleo do tipo. É autoria imediata.
c) Autor mediato – aquele que possui domínio do fato e se utiliza de um
instrumento (pessoa inimputável) para realizar o crime.
i. Inimputabilidade do instrumento
ii. Coação física irresistível
iii. Coação moral irresistível
iv. Estrita obediência hierárquica não manifestamente ilegal
v. Erro inevitável (de tipo ou de proibição)
Para a TDF o partícipe é aquele que não possui domínio de fato e contribui com o
resultado.
O domínio do fato, no entanto, é apenas ELEMENTO GERAL da autoria, não
sendo suficiente em alguns casos. Em alguns tipos penais o autor precisa também
preencher elementos especiais do tipo subjetivo e do tipo objetivo (ex: especial fim de
agir no crime de estelionato ou a característica de ser funcionário publico no crime de
peculato).
É possível coautoria de crimes próprios desde que os autores possuam as características
exigidas pelo tipo. [visão majoritária] Se for elemento do crime, como no caso do
peculato, o coautor não precisa ter a característica porque se comunica a elementar.
 Coautoria e TDF
Para a TDF a coautoria se dá com cada um dos autores possuindo o domínio de uma
função específica com o fim de alcançar o resultado final. Não precisa que todos tenham
o domínio total de tudo, mas que tenham domínio sobre a parte que lhes cabe da
execução.
 Crime de mão própria e coautoria
A doutrina majoritária não aceita coautoria em crime de mão-própria. STF admite
exceção, que é o advogado que instrui testemunha a dar falso testemunho, agindo como
COAUTOR. Doutrina critica, afirmando que deveria ser so participe OU responder por
crime próprio de corrupção de testemunha, que seria uma exceção pluralista.
Falsa pericia – é mao própria mas pode coautoria porque podem ser vários peritos.
Para a TDF é possível a coautoria se o coautor tem domínio do fato. Zaffaroni discorda
desse ponto de vista, e adota a teoria do Autor por determinação. (exemplo: advogado
que instrui a testemunha a dar falso depoimento)
Autoria por determinação – Zaffaroni tenta solucionar o problema da coautoria
em crimes próprios e de mão própria com o conceito de autoria por determinação.
Tendo em vista que não cabe a ideia de autoria mediata em crimes de mão de
própria, porque falta ao agente a característica essencial do tipo, ele propõe a ideia
de Autor por determinação. Esse conceito torna possível a punibilidade daquele que
se utiliza de outro como instrumento para um crime de mão própria (exemplo da
enfermeira que induz a mãe em erro no estado puerperal a matar o filho). O mesmo
raciocínio é usado para os crimes próprios em que o agente não possui os elementos
essenciais do tipo. O agente não é autor DO DELITO, mas autor POR
DETERMINAR O DELITO. Importante entender que essa classificação dele
parte do CODIGO ARGENTINO, que prevê que é autor quem força ou
determina a conduta. Diferente do código Penal, que prevê “quem concorre
para o crime”.
“todo participe é um determinante para o delito mas nem todo que é
determinante para o delito é participe”
 Autoria mediata
É admitida tanto pela TDF como pela teoria objetivo-formal.
i. Inimputabilidade do instrumento
Nilo Batista afirma que no caso dos menores com certo grau de discernimento (pelo
critério do ECA os maiores de 12 anos, pelo critério do CP os maiores de 14 anos) há
um pseudoconcurso ou concurso impropriamente dito. O menor seria colaborador do
crime, mas não responderia por ele, e sim pelo ato infracional. Não haveria, na opinião
do autor, autoria mediata, mas imediata do maior.
ii. Coação física irresistível
Exclui a tipicidade por ausência de conduta do instrumento.
iii. Coação moral irresistível
Exclui a culpabilidade do instrumento por inexigibilidade de conduta diversa.
iv. Estrita obediência hierárquica não manifestamente ilegal
Exclui a culpabilidade do instrumento por inexigibilidade de conduta diversa.
v. Indução a erro inevitável ou aproveitamento dele (de tipo ou de
proibição)
No caso do erro de tipo inevitável, exclui o dolo e culpa. No erro de proibição
inevitável, exclui a culpabilidade.
OBS: Autoria mediata e conduta culposa do imediato
O autor mediato sempre age dolosamente, se utilizando do instrumento, que não possui
dolo nem culpa e não responde por nada. Se o autor mediato dolosamente age
aproveitando o erro de outrem só é autoria mediata se o erro for INVENCÍVEL.
Se o erro é vencível, não exclui tipicidade nem culpabilidade. Assim, o autor responde
pelo crime doloso e aquele que estava em erro VENCÍVEL responde a titulo de culpa
ou com redução da pena (erro de proibição). É o que Nilo Batista chama de Autoria
colateral heteróloga. Colateral porque não há liame subjetivo e heteróloga porque são
imputações diferentes ao mesmo resultado.
 Autor de escritório – MPF!
É um conceito moderno utilizado para organizações criminosas e terroristas. É
desdobramento da Teoria do Domínio da Organização, de Roxin, que estende o
conceito de autoria mediata. A Lei 12.850/13 tem influência dessa teoria.
Roxin, analisando a TDF de Welzel, propõe sua teoria, na qual estabelece três tipos de
domínio: domínio da ação (executor, autor imediato); domínio funcional – funkiotionale
tatherrschaft (o exemplo tradicional de divisão de tarefas, coautores imediatos) e
domínio da vontade (autor mediato).
O domínio da vontade se expressa de três formas: (i) coação exercida sobre o homem da
frente (ii) indução do homem da frente em erro (iii) domínio exercido por meio de um
aparato organizado de poder. Esse último é o da TDO.
A autoria de escritório é vista pela Teoria do Domínio da Organização como uma
autoria mediata na qual o instrumento possui consciência e voluntariedade de suas
condutas mas age como longa manus do mandante. O executor é substituível, fungível e
o mandante não delega autonomia ao executor, apesar de esse ser livre.
O executor é imputável, tem domínio do fato sobre a execução. O mandante possui
domínio de toda a organização.
Segundo Roxin, constituem requisitos/premissas para a caraterização da autoria mediata
no âmbito de uma organização: 1º) um poder efetivo de mando (dentro da organização
criminosa); 2º) a fungibilidade do autor imediato (o executor é mero instrumento,
podendo ser trocado por outro, isto é, o executor pode ser facilmente substituído por
outro integrante da organização criminosa); 3º) a desvinculação do aparato
organizado do ordenamento jurídico (a organização deve se desenvolver às margens
da lei, ainda que não totalmente); e 4) a disponibilidade consideravelmente elevada
por parte do executor (o executor da ordem está sujeito a inúmeras influências que o
tornam mais disposto ao fato do que outros delinqüentes, razão pela qual, contribuem
com o domínio do fato por outro agente).
Diferença para a TDF: nela, o mandante é autor imediato e o executor também. Na TDO
o mandante é autor mediato, mesmo que o executor tenha consciência e voluntariedade,
não seja mero instrumento impunível, porque tem domínio da organização e da função
do instrumento mandado.
3.3. Partícipe
Para a Teoria objetivo-formal, é aquele que não pratica o núcleo do tipo, apenas induz,
instiga, auxilia o autor na consecução do resultado.
Para a TDF é aquele que não possui o domínio do fato mas contribui para o resultado de
forma dolosa.
Não existe participação culposa!
Elemento objetivo: comportamento no sentido de auxiliar, contribuir.
Elemento subjetivo: é o ajuste (art. 31 CP), acordo de vontades, vontade livre e
consciente de aderir à conduta de outra pessoa.
3.3.1 Espécies de participação
a) Participação moral – é a indução ou instigação intencional de outrem no cometimento
do delito contra destinatário CERTO. O partícipe dá a ideia, provoca o pensamento.
Quando uma pessoa instiga de modo GENÉRICO e INCERTO não é partícipe, é crime
autônomo de incitação ao crime (art. 286 CP).
Não pode ser por omissão.
b) Cumplicidade ou auxílio – É a colaboração, sem a realização do núcleo do tipo. Pode
ser material/real ou intelectual. (ex: ensina uma técnica de tiro ou empresta uma arma)
OBS: parte da doutrina, como Nilo Batista, não aceita a cumplicidade
psicológica/intelectual, entendendo que seria participação moral.
Pode ser por omissão desde que a pessoa não seja garantidora. Se for garantidor é
coautor por omissão imprópria. (exemplo: não tranco o cofre com dinheiro para que um
funcionário possa roubar, sou partícipe por omissão. Mas se sou o gerente, respondo
como coautor pelo furto, omissão imprópria).
c) Cumplicidade necessária/auxílio escasso – É quando a colaboração é necessária
porque o bem fornecido ou o serviço prestado pelo auxiliador é escasso. Exemplo:
traficantes fazem curso e mergulho para esconder drogas no fundo de um navio. Os que
dão o curso de mergulho são cumplices necessários, prestam auxílio escasso.
d) Cumplicidade desnecessária/participação de somenos – É a participação de menor
importância, que possibilita diminuição da pena (art. 29 §1°). É chamada também de
auxílio secundário.
OBS: A causa de diminuição pela menor importância só cabe na participação,
nunca na coautoria.
OBS2: Estelionato previdenciário tanto o beneficiário quando o fraudador são
autores, não se aplica a causa de diminuição.
3.3.2 Acessoriedade do partícipe
a) Teoria da acessoriedade mínima – Basta que o autor pratique fato típico para que o
partícipe seja condenado.
b) Teoria da acessoriedade limitada (majoritária) – Basta que o autor pratique fato
típico e ilicíto.
Welzel: A responsabilidade do partícipe se justifica, no âmbito interno, porque
ele favorece o crime, contribui para a ação delituosa, ação intolerável alheia
(ação típica e antijurídica). É necessário que o autor inicie a execução (princípio
da executividade). No âmbito externo, quando há execução, exteriorização do
comportamento, passa a ser punível o comportamento do partícipe.
c) Teoria da acessoriedade máxima – O autor precisa praticar fato típico, ilícito e
culpável.
d) Teoria da hiperacessoriedade – O autor precisa praticar fato típico, ilícito, culpável e
punível.
3.3.3 Fundamentos da punibilidade do partícipe
a) Teoria da participação da culpabilidade – A punição vem da influência negativa dele
sobre o autor. Não é mais utilizada porque o partícipe não torna o autor criminoso, cada
conduta é individualizada, além disso, adotando-se a teoria da acessoriedade limitada
não se analisa a culpabilidade para responsabilizar o participe.
b) Teoria da promoção ou favorecimento – O partícipe é responsabilizado não porque
o corrompe o autor, mas porque PROMOVE/FAVORECE um ato típico e antijurídico.
Fundamenta no âmbito interno a responsabilização.
3.3.4 Principio da executividade
É necessário que o autor inicie os atos executórios (“pelo menos tentado”), para que
ocorra punição do partícipe.
A ausência de execução torna a conduta do partícipe ATÍPICA.
 Desistência e arrependimento do partícipe
O partícipe pode desistir ou se arrepender eficazmente, respondendo apenas pelos danos
causados. (ex: participe não empresta a arma ou avisa a policia que chega antes da
morte). Se não for eficaz, responde mesmo assim pelo resultado.
 Desistência e arrependimento do autor
1º corrente (Nilo Batista): O partícipe responde pelos danos que o autor causou. O
acessório segue o principal.
2º corrente (Greco): o partícipe responde pelo crime que quis concorrer. A desistência
ou arrependimento seria uma circunstancia pessoal que não se comunica. Nesse caso o
participe responde por crime mais grave que o autor.
3ª corrente: o partícipe não é punido, porque o crime não se consumou.
3.3.5 Teoria da cumplicidade por uma ação neutra
É teoria que decorre da teoria da imputação objetiva de Jakobs, que afirma que cada
pessoa possui um papel social e que na realização de condutas condizentes com esses
papeis não há criação de riscos proibidos e portanto não há tipicidade das condutas.
19. Temas no concurso de pessoas
19.1 Concurso de pessoas e crimes culposos
Majoritariamente a doutrina aceita o concurso de pessoas em crimes culposos. O liame
subjetivo se dá na vontade voluntária e consciente que os agentes tem de praticar a
conduta, ainda que sem a intenção de obter o resultado criminoso. Exemplos: dois
operários juntos jogam uma viga de cima de um prédio e ela cai numa pessoa, que
morre; um gari junta folhas secas no parque e as esquece lá, quando uma pessoa passa e
sem perceber deixa cair uma bituca de cigarro e cria um incêndio.
Para a teoria majoritária o concurso de pessoas nos crimes culposos é sempre de
coautoria, ou seja, não há participação nos crimes culposos, apenas coautoria.
A doutrina minoritária entende inadmissível o concurso de pessoas nos crimes culposos,
porque faltaria um liame subjetivo de atingir o resultado ilícito. Cada um responde, para
essa teoria minoritária, por um crime autônomo e independente do outro. Pode haver
autoria colateral culposa quando os agentes sequer sabem da existência do outro.
Para essa teoria é possível a autoria heteróloga, quando um responde por culpa e outro
por dolo no mesmo crime. É o caso do autor que induz a erro VENCÍCVEL o outro.
Este responde por culpa imprópria, pois está em erro de tipo vencível, enquanto o
mediato responde por dolo. (Nilo Batista). Não há concurso dos dois no mesmo crime,
mas respondem cada um autonomamente.
19.2 Concurso de pessoas e crimes omissivos
Para doutrina majoritária (Bitencourt) é admissível. A coautoria nos crimes
omissivos ocorre desde que haja (i) domínio potencial do fato (ii) dever de atuar (ex:
dois salva vidas não socorrem o afogado). A participação é possível desde que
comissiva (ex: instiga alguém a não socorrer a vítima). Deve seguir os requisitos de
convergência objetiva e subjetiva;
Para doutrina minoritária não é admissível (Nilo Batista, Regis Prado). Cada um
responderia pela sua omissão de modo autônomo.
19.3 Concurso de pessoas e foro
STF SUMULA 704 - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao
foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

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