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Atualizado em 22.01.2020
SUMÁRIO
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ...................................................................................................... 2
1.1. Missão ................................................................................................................................. 2
1.2 Classificação doutrinária ...................................................................................................... 3
1.3 Velocidades do Direito Penal................................................................................................ 5
2. FONTES DO DIREITO PENAL ................................................................................................... 7
3. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL (3 ENFOQUES: SUJEITO, MODO E RESULTADO) ......... 10
4. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL ............................................................................. 12
5. LEI PENAL................................................................................................................................ 20
5.1 Classificação ...................................................................................................................... 20
6. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO ..................................................................................... 22
6.1 Teorias do tempo do crime ................................................................................................. 22
6.2 Lei penal no tempo ............................................................................................................. 23
7. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO................................................................................... 29
7.1 Princípios aplicados............................................................................................................ 29
7.2 Teorias do lugar do crime ................................................................................................... 31
7.3 Extraterritorialidade (art. 7º CP) .......................................................................................... 32
7.3.1 Extraterritorialidade incondicionada (art. 7º I CP) ................................................................. 32
7.3.2 Extraterritorialidade condicionada (art. 7º II CP) ................................................................... 33
7.3.3 Extraterritorialidade hipercondicionada (art. 7º §3º CP) ........................................................ 34
Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
1.1. Missão
• Missão mediata
◦ Controle Social
◦ Limitação ao poder de punir do Estado (limita abusos ou excessos)
Obs.: Se de um lado o Estado controla o cidadão (controle social), de outro lado é
necessário também limitar seu próprio poder de controle (limitação ao poder de punir), evitando
hipertrofia da punição.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
• Missão imediata
A doutrina diverge:
1ª Corrente: é proteger bens jurídicos relevantes (Roxin), chamada de funcionalismo
teleológico. Tem prevalecido com algumas adaptações.
2ª Corrente: é assegurar o ordenamento jurídico, assegurar a vigência da norma (Jakobs),
funcionalismo sistêmico.
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1.2 Classificação doutrinária
Ius puniendi positivo: Poder que o Estado tem para criar normas e punir quem a transgrida.
Ius puniendi negativo: Possibilidade de revogar ou de restringir o alcance das figuras
delitivas.
O direito de punir não é absoluto, ele encontra vários limites. Ex. prescrição (limite temporal
ao direito de punir), princípio da dignidade da pessoa humana, princípio da territorialidade.
Em regra, o direito de perseguir a pena cabe ao Estado, e, supletivamente, à vítima (ação
privada). Já o direito de punir é monopólio do Estado.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
Exceção ao monopólio do direito punitivo do Estado: Estatuto do índio (Lei 6.001/73, art. 57):
autoriza uma sanção penal a ser aplicada pelos próprios indígenas, paralelamente à sanção estatal1.
Direito Penal promocional, político ou demagogo: Criticado pela doutrina, o Direito Penal
promocional (político ou demagogo) surge quando o Estado, visando concretizar seus objetivos
políticos, emprega as leis penais como instrumento de promoção de seus interesses, estratégia que
se afasta do mandamento da intervenção mínima, podendo (e devendo) valer-se, para tanto, dos
outros ramos do Direito. É equivocada a utilização do Direito Penal como ferramenta de
transformação social. Até 2009, a mendicância era infração penal!
1
Estatuto do Índio, Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de
sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em
qualquer caso a pena de morte.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
O direito penal dito promocional é utilizado como instrumento de políticas públicas para atingir
o objetivo de transformação social, quando a verdadeira finalidade do direito penal é a de controle
social. Desconsidera-se, pois, o princípio da intervenção mínima.
Direito Penal Simbólico: Tem-se como simbólica uma lei penal que não produz efeitos
concretos, mas simplesmente exerce uma carga moral, infundindo na sociedade uma falsa sensação
de segurança.
Sobre o tema, pontua Cleber Masson que o direito penal simbólico “manifesta-se,
comumente, no direito penal do terror, que se verifica com a inflação legislativa, criando-se
exageradamente figuras penais desnecessárias, ou então com o aumento desproporcional e
injustificado das penas para os casos pontuais (hipertrofia do Direito Penal)” 2.
Pode-se, assim, afirmar que o direito penal simbólico geralmente se apresenta por meio de
propostas que visam se aproveitar do medo e da sensação de insegurança. Nesse sentido, o
propósito do legislador não é a real proteção dos bens jurídicos atingidos pelo delito, mas uma forma
de adular a população, dizendo o que ela quer ouvir, fazendo o que ela deseja que se faça, mesmo 5
que isso não surta qualquer efeito na diminuição da criminalidade e da violência.
Nessa esteira, quando um fato ganha repercussão, nascem propostas de aumento de pena,
de supressão de direitos individuais, de criação de novos tipos penais, mesmo que não seja a
alternativa adequada para realmente solucionar os conflitos. Assim, o que o Estado deseja, na
verdade, é agir de forma que satisfaça o sentimento emocional de um povo atemorizado.
A chamada teoria das velocidades do direito penal foi desenvolvida por Jesús-María Silva
Sánchez e visa à sistematização do sistema penal a partir do critério do ritmo de responsabilização
penal. Eis as categorias cunhadas pelo professor espanhol:
a) Direito penal de primeira velocidade: Trata-se do modelo de Direito Penal liberal-
clássico, que se utiliza preferencialmente da pena privativa de liberdade, mas se funda em garantias
individuais inarredáveis. É o “direito penal da prisão”, aplicável às infrações penais mais graves e
regido por procedimentos e regras mais rígidos.
2
MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral. 2ª ed. São Paulo: MÉTODO, 2009, p. 9.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
3
MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral. 2ª ed. São Paulo: MÉTODO, 2009, p. 83.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
A) A teoria da primeira velocidade do direito penal é ligada à ideia do direito penal do inimigo, ou
seja, tem como proposição a aplicação de um direito penal máximo, com penas privativas de
liberdades e de caráter perpétuo.
B) A teoria da segunda velocidade do direito penal é ligada à ideia do direito penal do inimigo,
ou seja, tem como proposição a aplicação de um direito penal máximo, com penas privativas
de liberdades e de caráter perpétuo.
C) A teoria da terceira velocidade do direito penal tem como fundamento a aplicação de penas
alternativas ou de multa, ou seja, está ligada à ideia de um direito penal de mínima interven-
ção.
D) A teoria da quarta velocidade do direito penal está ligada à ideia do neopunitivismo.
E) A terceira velocidade do direito penal, idealizada por Jesus María Silva Sánchez, está ligada
à ideia do Tribunal Penal Internacional, ou seja, à proposição de um direito penal para julgar
crimes de guerra, de agressão, genocídio e de lesa humanidade.
RESPOSTA: D 7
Doutrina clássica:
• Fonte material (de onde emana o direito): É a fonte de produção da norma penal, é
órgão encarregado de criar o direito penal. De acordo com o art. 22, I, da CF, compete privativamente
à União legislar sobre direito penal. Excepcionalmente, lei complementar da União pode autorizar os
Estados-membros a legislar sobre questões específicas de interesse local (art. 22, parágrafo único,
da CF).
• Fonte formal (onde o direito se revela): É a fonte de revelação. Pode ser imediata (a
lei) ou mediata (costumes, princípios gerais do direito e atos administrativos, os quais eventualmente
complementam normas penais em branco).
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
A lei é o único instrumento normativo capaz de criar infrações penais e cominar sanções
(fonte incriminadora).
Muito embora não possa criar infrações penais ou cominar sanções em razão de seu pro-
cesso moroso de alteração, a Constituição Federal nos revela o Direito Penal estabelecendo pa-
tamares mínimos (mandado constitucional de criminalização) abaixo dos quais a intervenção penal
não se pode reduzir. Ex.: a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível su-
jeito à penal de reclusão (os termos destacados são patamares mínimos que o legislador deve
observar quando for editar a lei incriminadora).O art. 5º, XLIV, da CF estabelece constituir crime
inafiançável e imprescritível (patamares mínimos) a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
Em resumo, a Constituição Federal estabelece o patamar mínimo enquanto a lei cria o crime
e obedece o patamar mínimo imposto pela Constituição Federal.
Obs.: O TIDH não é fonte incriminadora, somente a lei é fonte incriminadora. Assim, é não
incriminador para o direito interno.
Atenção: Antes da LEI Nº 12.694/12 (que definiu organização criminosa), o STF, no jul-
gamento do HC 96.007/SP, decidiu pela proibição da utilização da definição de organização
criminosa dada pela Convenção de Palermo, reafirmando que os Tratados Internacionais não
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
podem criar infrações penais ou cominar sanções para o Direito interno, mas apenas para o
Direito Internacional Penal.
Os princípios gerais do direito representam os valores de natureza ética ou moral que fun-
damentam a elaboração do ordenamento jurídico. No âmbito do direito penal, os princípios gerais do
direito não podem ser utilizados para tipificação de condutas, mas sim para inspirar normas penais
não incriminadoras.
Os atos administrativos constituem fonte formal imediata quando complementam norma penal
em branco. A título de exemplo, cita-se a Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006), que é complementada pela
Portaria 344/98 do Ministério da Saúde. Assim, quem está revelando o conceito de drogas é a referida 9
portaria, que é um ato administrativo.
A doutrina, ainda que prestigiada, constitui um estudo científico e não tem caráter obrigatório no
âmbito da aplicação do Direito Penal.
Entende-se por costume “a regra de conduta criada espontaneamente pela consciência comum
do povo, que a observa por modo constante e uniforme [elemento objetivo] e sob a convicção de corres-
ponder a uma necessidade jurídica [elemento subjetivo]”4. Didaticamente, pode-se falar em três categorias
de costumes:
1) Secundum legem ou interpretativo: Auxilia o intérprete a esclarecer o conteúdo da lei
penal. Como exemplo histórico, podem ser remorados os tipos que traziam a elementar “mulher honesta”.
2) Praeter legem ou integrativo: Ajuda a suprimir lacunas legislativas e, por isso, só pode ser
utilizado no âmbito de normas penais não incriminadoras.
3) Contra legem ou negativo: Também denominado desuso, é aquele que contraria a lei.
Acerca da possibilidade de costume revogar lei, existem três correntes: (3.1) admite-se o costume abolici-
onista, aplicado nos casos em que a infração penal não mais contraria os interesses da sociedade; (3.2)
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SOUZA, Artur de Brito Gueiros; JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. Direito Penal: volume único. São Paulo: Atlas, 2018.
p. 63.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
não existe costume abolicionista, mas quando o fato não mais contraria o interesse social, a lei não deve
ser aplicada; (3.3) não existe costume abolicionista, enquanto não revogada por outra lei, a norma possui
plena validade. Prevalece a terceira corrente, embora a doutrina moderna acene favoravelmente à se-
gunda. O STJ já rejeitou a tese de revogação da contravenção penal do jogo do bicho em razão de costume
(REsp 30.705/SP).
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
Restritiva: A interpretação reduz o alcance das palavras da lei para corresponder à vontade
do texto.
Extensiva: É a interpretação que amplia o alcance das palavras da lei para que corresponda
à vontade do texto.
3ª Corrente (Zaffaroni)- Em regra, não cabe interpretação contra o réu, salvo quando
interpretação diversa resultar num escândalo por sua notória irracionalidade.
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Corrente majoritária se posiciona pela possibilidade. Ex: arma, num sentido extensivo, pode
ser até uma faca de cozinha.
Pressupostos de aplicação da analogia no direito penal: (a) certeza de que sua aplicação será
favorável ao réu (in bona partem); (b) existência de uma efetiva lacuna a ser preenchida (omissão
involuntária do legislador).
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
Princípio da intervenção mínima: O direito penal só deve ser aplicado quando estritamente
necessário, de modo que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de
controle (caráter subsidiário), incidindo somente sobre casos de relevante lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado (caráter fragmentário). Esse princípio norteia o Direito Penal positiva e
negativamente. Adultério deixou de ser crime por causa deste princípio, sendo errado dizer que o
costume revogou o crime de adultério.
O princípio da intervenção mínima desdobra-se em dois subprincípios:
Subsidiariedade: O direito penal deve ser a “ultima ratio”. Somente deve ser utilizado para
regular as situações quando os outros ramos do direito não forem efetivos, funcionando como um
“soldado de reserva”. Orienta a intervenção do direito penal no plano concreto, guiando a aplicação
da lei penal em seu viés prático.
Fragmentariedade: O direito penal tutela algumas das condutas em que há violação a um
bem jurídico e não todas elas, devendo ser aplicado apenas em caso de relevante e intolerável lesão
ao bem jurídico tutelado. Em outras palavras, por força de seu caráter fragmentário, o Direito Penal
funciona como a última etapa de proteção de um bem jurídico. Esse subprincípio orienta a 13
intervenção do direito penal no plano abstrato, orientando a atividade legislativa.
O princípio da insignificância decorre da fragmentariedade e preconiza que o Direito Penal
não deve se ocupar de condutas pouco relevantes. É um princípio limitador do Direito Penal e
funciona como uma causa de exclusão da tipicidade material. De acordo com os tribunais
superiores, são quatro os vetores para a aplicação do princípio da insignificância: mínima
ofensividade da conduta do agente; ausência de periculosidade social da ação; reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento; inexpressividade da lesão jurídica provocada.
A princípio, por atingir o fato típico retirando a tipicidade material e, consequentemente,
afastando a configuração do crime, não deveria aceitar a figura da reincidência quando o primeiro
crime foi insignificante. Entretanto, há julgados no STF (HC 107674/MG) e STJ (AgRg no REsp
1277340/SP) negando a aplicação do princípio da insignificância para o reincidente, portador de
maus antecedentes, ou o criminoso habitual.
Prevalece no STF e STJ o entendimento acerca da impossibilidade de aplicação do princípio
da insignificância no furto qualificado, em razão da falta de requisito do reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento. Do mesmo modo, STF e STJ não admitem o princípio da
insignificância nos crimes contra a fé pública, mais precisamente moeda falsa. (vide STF – HC
105.829/MG).
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
STF e STJ não admitem o princípio da insignificância no porte de drogas para uso próprio,
tampouco em nenhuma forma de tráfico de entorpecentes.
STF e STJ têm decisões admitindo o princípio da insignificância nos crimes ambientais (há
importante divergência sobre o assunto), desde que a lesão seja irrelevante a ponto de não afetar de
maneira expressiva o equilíbrio ecológico.
STF STJ
Permite o uso do princípio nos crimes contra Não utiliza nos crimes contra a administração
a administração pública PRATICADOS POR pública QUANDO PRATICADOS POR
FUNCIONÁRIO PÚBLICO. FUNCIONÁRIO PÚBLICO.
Admite o princípio nos crimes contra a Adm. Admite o princípio nos crimes contra a Adm. 14
Pública praticados por particulares. Pública praticados por particulares.
Bagatela Própria: Os fatos já nascem irrelevantes para o direito penal. Causa de atipicidade
material (exclui do resultado jurídico – irrelevância da lesão). Ex: subtração de uma caneta Bic já
nasce irrelevante para o direito penal.
Bagatela Imprópria: Embora relevante a infração penal praticada, a pena diante do caso
concreto é desnecessária. Falta de interesse de punir – exclui a punibilidade (consequência
jurídica do crime). Atenção!! O fato é típico, ilícito e culpável (só não é punível). Ex: morte culposa
do filho causada pelo pai.
Princípio da Adequação Social: Apesar de uma conduta se ajustar a um tipo penal, não
será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida pela sociedade, não afrontando
o sentimento social de justiça.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
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Art. 2 do CP. Ninguém pode ser punido por FATO que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos da sentença condenatória.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
Princípio da responsabilidade pessoal: Proíbe o castigo por fato de outrem, ou seja, que
pessoa diversa da que cometeu o crime seja castigada. Veda a responsabilidade coletiva.
Desdobramentos :obrigatoriedade da individualização da acusação (proibição de denúncia genérica,
relativizada em casos de crimes societários) e obrigatoriedade da individualização da pena.
Princípio da responsabilidade subjetiva: Não basta que o fato seja materialmente causado
pelo agente, ficando a sua responsabilização penal condicionada à existência de voluntariedade.
Proíbe que o agente seja castigado sem que tenha expressado dolo ou culpa na sua conduta. Ou
seja, para cometer um crime, o agente deve ter cometido um fato desejado, aceito ou previsível.
Veda a responsabilidade objetiva.
No concurso de delgado do DF – 2ª FASE, foi perguntado quais as exceções na doutrina
que aplica a responsabilidade objetiva (autorizadas por lei): Para parte minoritária da doutrina,
há duas exceções:1 – Embriaguez voluntária (Rebater a tese: A teoria da ‘actio libera in causa’ exige
não somente uma análise pretérita da imputabilidade, mas também da vontade do agente) e 2 - Rixa
qualificada por lesão corporal grave (Rebater a tese: Só responde pelo resultado agravador quem
atuou frente a ele com dolo ou culpa). Frise-se que doutrina moderna defende que não há
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exceção.
Princípio da culpabilidade: Limita o poder de punir do Estado aos que são imputáveis,
possuem potencial consciência da ilicitude do fato e quando há exigibilidade de conduta diversa.
Princípio da isonomia (art. 24 da CADH): Trata-se de isonomia material e não formal. Em
consequência disso, são constitucionais diplomas como Lei Maria da Penha (ADC N. 19) e Estatuto
Racial (ações afirmativas). Deve-se tratar de forma igual o que é igual e desigualmente o que é
desigual.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
em três frentes: quando o legislador vai criar a pena; quando o juiz vai fixar a pena na condenação;
e quando o juiz da execução vai executar a pena.
Princípio da pessoalidade (ou personalidade, ou ainda, da intransmissibilidade – art. 5º XLV,
CF) da pena: Nenhuma pena passará da pessoa que cometeu o crime. Para doutrina minoritária, o
dispositivo constitucional acima prevê que o confisco passará para seu sucessor, até o limite da
herança. Para doutrina moderna, não há exceções, uma vez que o confisco e o perdimento de bens
do dispositivo constitucional não são espécies de pena, mas sim obrigações decorrentes da pena.
Princípio da vedação do bis in idem (art. 20 Estatuto de Roma – não há previsão expressa
na CF): Proíbe que o agente seja castigado mais de uma vez pelo mesmo crime. Possui três
significados: processual (ninguém poderá ser processado mais de uma vez pelo mesmo crime);
material (ninguém pode ser condenado mais de uma vez pelo mesmo crime) e execucional (ninguém
pode ser executado mais de uma vez por um mesmo crime). Em suma, ninguém pode ser processado,
condenado ou executado mais de uma vez pelo cometimento do mesmo crime. Significa que para
cada fato será aplicada apenas uma norma penal que excluirá as demais e só autorizará a punição
do autor em um único delito.
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Alguns defendem que a reincidência seria bis in idem, pelo fato do primeiro crime ser levado
em consideração duas vezes (uma vez na condenação dele próprio e uma segunda vez no aumento
da pena do segundo crime – tese a ser adotada em concursos para defensoria). Para a maioria (STJ),
reincidência não é bis in idem, já que há dois fatos diferentes, podendo até ensejar crimes diferentes.
O fato de o reincidente ser punido mais severamente do que o primário não viola a garantia do bis in
idem, pois busca somente reconhecer maior reprovabilidade naquele que é contumaz na violação da
lei penal (individualização da pena – STJ).
Princípio da legalidade (art. 5º, II e XXXIX CF, art. 1º CP, art. 9º CADH e art. 22 Estatuto de
Roma): Pilar do garantismo, trata-se de real limitação ao poder estatal de interferir na esfera das
liberdades individuais.
Legalidade = reserva legal + anterioridade
Há divergência doutrinária sobre o art. 1º CP, se este seria expressão da legalidade ou da
reserva legal. Três correntes: 1ª: legalidade e reserva legal são sinônimos; 2ª: legalidade
compreende a lei em sentido amplo, abarcando também as demais espécies legislativas contidas
no art. 59 CF, enquanto que reserva legal é apenas lei em sentido estrito; portanto, a segunda
corrente defende que o art. 1º CP alberga o princípio da legalidade. 3ª: defende que o art. 1º CP
consagra a legalidade, pois esta nada mais é do que reserva legal + anterioridade (é a corrente
mais aceita). Portanto, não há crime sem lei anterior que o defina. Com a inclusão da palavra
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
anterior, fica vedada a retroatividade maléfica. Ao mesmo tempo em que a retroatividade maléfica
é proibida, a retroatividade benéfica é um direito do acusado.
O princípio da legalidade constitui uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera
de liberdades individuais. Fundamentos: 1º: Político: exigência de vinculação do executivo e do
judiciário às leis formuladas de forma abstrata, impedindo o poder de punir com base no livre arbítrio;
2º Democrático: respeito ao princípio da divisão dos poderes, ou seja, o parlamento, representante
do povo, deve ser o responsável pela criação dos crimes por lei. Por este motivo, para haver crime,
deve haver lei em sentido estrito; 3º jurídico: uma lei prévia e clara produz importante efeito
intimidativo.
Princípio da legalidade e contravenções penais: De acordo com o art. 1º CP, “não há crime
sem lei que o defina”. Na Lei de Contravenções Penais, não há previsão do princípio da legalidade,
Mas a doutrina é unânime em interpretar a palavra “crime” como sinônimo de infração penal, o que
passa a incluir as contravenções penais. A leitura que se deve ter é a seguinte: Não há infração penal
(crime + contravenção) ou sanção penal (pena + medida de segurança) sem lei anterior.
Medidas de segurança e princípio da legalidade: “Não há pena sem cominação legal”. Não 18
há previsão da necessidade de lei para medidas de segurança. Doutrina aponta duas correntes: 1ª
corrente (majoritária): a palavra “pena”, prevista no art. 1º do CP, deve ser tomada no seu sentido
amplo, abrangendo todas as espécies de sanção penal;2ª corrente: considerando a função
meramente terapêutica das medidas de segurança, não se aplica a esta espécie de sanção o
princípio da legalidade.
Art. 3º do Código Penal Militar e Constituição Federal: Não foi recepcionado no ponto em que
ele desconsidera a anterioridade. No mais, está em vigor.
Desdobramentos do princípio da legalidade:
a) Não há crime ou pena sem lei: princípio da reserva legal - lei ordinária e complementar.
Medida provisória e princípio da legalidade: Art. 62, §1º, I, b, da CF proíbe medida provisória
em matéria de direito penal. Interpreta-se no sentido de ser vedada a medida provisória incriminadora.
Há divergência doutrinária quanto às medidas provisórias não incriminadoras: 1ª corrente (STF): O
princípio da legalidade não admite medida provisória incriminadora, sendo compatível com a não
incriminadora (ex. extintiva de punibilidade). STF: RE 254.818 PR: O STF, discutindo os efeitos
benéficos trazidos pela MP 1.571/97, norma que permitiu o parcelamento de débitos tributários e
previdenciários com efeitos extintivos da punibilidade, proclamou sua admissibilidade em favor do
réu. Mesmo após a edição da EC32, o STF ainda admite medida provisória não incriminadora no
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
direito penal.; 2ª corrente: A CF, art. 62, §1º, I, b, da CF (incluído pela EC 32/2001) proíbe medida
provisória versando sobre direito penal, não importando se incriminadora ou não incriminadora.
Lei delegada e princípio da legalidade: Não é possível a aplicação de lei delegada no direito
penal. O art. 68 da CF veda a aplicação de lei delegada para regular direitos individuais, bem como
regular matéria de competência do Congresso Nacional.
b) Não há crime ou pena sem lei anterior: princípio da anterioridade
Com a inclusão da palavra “anterior”, fica vedada a retroatividade maléfica. Ao mesmo tempo
em que a retroatividade maléfica é proibida, a retroatividade benéfica é um direito do agente.
OBS.: PEGADINHA! É falsa a afirmação de que o princípio da legalidade impede a
retroatividade da lei penal. Na verdade, impede a retroatividade da lei penal maléfica.
c) Não há crime ou pena sem lei escrita: Proíbe-se o costume incriminador.
OBS.: Para que serve o costume no Direito Penal? R= Para interpretação (costume interpre-
tativo), chamado de costume secudum legem.
d) Não há crime ou pena sem lei estrita: Proíbe-se a utilização da analogia para criar tipo
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incriminador (a analogia não incriminadora é permitida)
A 2ª Turma do STF, no julgamento do HC 97.261 declarou a atipicidade da conduta do agente
que subtrai sinal de TV à cabo asseverando ser impossível a analogia incriminadora com crime de
furto de energia elétrica.
e) Não há crime ou pena sem lei certa: princípio da taxatividade (ou da determinação).
Exige-se clareza na redação dos tipos penais (fundamento jurídico do princípio da legalidade
– efeito intimidativo)
f) Não há crime ou pena sem lei necessária: desdobramento lógico do princípio da
intervenção mínima. Neste sentido, o legislador revogou o princípio do adultério (e não pelo costume).
Em suma: Princípio da legalidade e os seus desdobramentos >> A lei deve ser anterior
(veda a retroatividade maléfica), escrita (veda o costume incriminador), estrita (veda a analogia
incriminadora), necessária (desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima), certa
(exige-se clareza na edição da lei penal incriminadora – princípio da taxatividade. Ex. doutrina
majoritária diz que art. 20 da Lei 7.170/83 não prevê o crime de terrorismo porque a redação do
artigo não é clara, taxativa.
Legalidade formal: Obediência ao devido processo legislativo (lei vigente).
Legalidade material: Conteúdo da norma vigente respeita os direitos e garantias
constitucionais.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
5. LEI PENAL
5.1 Classificação
1. Lei penal completa: é aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz no
caso concreto) ou normativo (por outra norma). Ex.: art. 121, caput, do CP.
2. Lei penal incompleta: é a norma que depende de complemento valorativo (tipo aberto) ou
normativo (caracterizando a norma penal em branco).
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
autoridade administrativa. O que a autoridade administrativa pode fazer é expli citar um dos
requisitos típicos dados pelo legislador. Portanto, a norma penal em branco em sentido estrito
(heterogênea) é constitucional (corrente majoritária).
Tipo aberto: Espécie de lei penal incompleta. Depende de complemento valorativo dado pelo
juiz na análise do caso concreto, ou seja, complemento definido pelo juiz. Ex: crimes culposos, já
que o tipo não descreve a negligência, ficando a cargo do juiz.
OBS: Há um crime culposo em que o legislador descreve o comportamento tido como
negligência, subtraindo do juiz, de forma legítima, a sua valoração no caso concreto: receptação
culposa (art. 180, §3º7). No entanto, esse crime não deixa de ser de tipo aberto.
Para não ofender o princípio da legalidade, a redação típica do tipo aberto deve trazer o
mínimo de determinação
Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo
da realização do fato criminoso. Cuida-se do brocardo tempus regict atum, aplicável tanto ao direito
penal como ao processual penal. Excepcionalmente, admite-se a retroatividade da lei penal, desde
que benéfica ao réu. Por outro lado, tem-se o fenômeno da ultratividade da lei penal quando a
norma revogada por outra mais gravosa continua sendo aplicável aos fatos ocorridos sob sua
vigência, por ser mais benéfica ao réu.
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§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
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Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
OBS: Em matéria de prescrição, o Código Penal adotou a teoria do resultado, pois o art. 111,
I dispõe que a causa de extinção de punibilidade tem por termo inicial a data de consumação do
crime.
Em matéria de direito penal intertemporal, existem cinco fenômenos dignos de nota: sucessão
de lei incriminadora (novatio legis incriminadora), lei penal mais grave (novatio legis in pejus), abolitio
criminis, lei penal mais benéfica (novatio legis in mellius), combinação de leis penais (lex tertia).
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
Ex.: Antes da Lei nº 12.550/2011, a cola eletrônica era figura atípica; após, tornou-se fato
típico com o acréscimo do art. 311-A do Código Penal10.
3) Abolitio criminis
Consiste na supressão da figura criminosa. É a revogação de um tipo penal pela
superveniência da lei descriminalizadora. Tem previsão no art. 2º do CP (“ Ninguém pode ser punido
por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória”). É causa de extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, III,
do CP.
Consequências da abolitio criminis:
a) Faz cessar a execução penal: Lei abolicionista não deve respeito à coisa julgada, pois é
uma garantia do indivíduo. O art. 2º do CP não infringe o art. 5º, XXXVI, da CF (coisa julgada), pois
10
Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a
credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: (...)
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
o mandamento constitucional tutela a garantia individual e não o direito de punir do Estado. Ou seja,
a coisa julgada é usada como garantia do indivíduo e não como garantia do Estado.
b) Faz cessar os efeitos penais da condenação: Afastam-se a reincidência e os maus
antecedentes. Entretanto, os efeitos extrapenais da sentença permanecem hígidos, de modo que a
obrigação de reparar o dano provocado pela conduta permanece exigível.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
migrou o crime de rapto violento do art. 219 CP para o art. 148, § 1º, IV, CP. O fato continua sendo
crime, não sendo caso de abolitio criminis.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
confronto de cada uma das disposições de cada lei, podendo, portanto, acabar por se aplicar ao caso
sub judice disposições de ambas as leis11.
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MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral. 2ª ed. São Paulo: MÉTODO, 2009, p. 106-107.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
2ª corrente (majoritária): A lei nova não revoga a anterior, não há uma verdadeira sucessão
de leis penais, porque não trata exatamente da mesma matéria. É a lei anterior que deixa de ter vi-
gência, em razão de sua excepcionalidade. O art. 3º foi recepcionado.
4ª corrente (STF tem decisão de acordo com esta corrente): A alteração de um complemento
de uma norma penal em branco homogênea (complemento é uma lei) SEMPRE TERÁ EFEITOS
RETROATIVOS, se mais benéficos. Quando se tratar de norma penal em branco heterogênea
(norma complementar não é lei), SE BENÉFICA E A NORMA NÃO SE REVESTE DE CARATER DE
EXCEPCIONALIDADE.
Duas soluções devem ser aplicadas nas normas penais em branco heterogêneas: 1)
Tratando-se de legislação complementar que não se reveste de excepcionalidade, como é o caso
das portarias sanitárias, a legislação complementar mais benéfica será retroativa; NÃO É
EXCEPCIONAL – RETROAGE!; 2) Revestindo-se do caráter de excepcionalidade, serão ultrativas
(Alberto Silva Afrânio). É EXCEPCIONAL, NÃO RETROAGE.
SUCESSÃO DE JURISPRUDÊNCIAS
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
fundamento na exclusão da culpabilidade por erro de proibição. Para Paulo Queiroz deve ser proibida a
retroatividade maléfica da jurisprudência e aplicada a retroatividade benéfica.
Caso a jurisprudência modifique-se no sentido de beneficiar o réu, deverá retroagir. Note-se que
essa jurisprudência deve ser pacífica. STJ: Não cabe revisão criminal com amparo em questão
jurisprudencial controvertida. Ex. Hoje o STF diz que o crime de emprego de arma não demanda a
apreensão da arma nem a sua perícia. Mas já está começando a haver posições contrárias. Caso esta
última se tornasse majoritária, caberia revisão criminal? Segundo o STJ, não cabe revisão criminal
para requerer a diminuição da pena com base em sucessão de jurisprudência.
OBS.: Cada vez mais prevalece na doutrina o entendimento de ser possível a retroatividade
benéfica de jurisprudência vinculante (súmula vinculante e decisões nas ações de controle abstrato
de constitucionalidade).
Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os interesses de dois ou mais 29
países igualmente soberanos, o estudo da lei penal no espaço visa a descobrir qual é o âmbito
territorial da lei penal brasileira bem como, de que forma o Brasil se relaciona com os outros países
em matéria penal (conflito internacional de jurisdição). Objetiva, em outras palavras, apurar as
fronteiras da lei penal nacional.
O Brasil utiliza todos esses princípios, mas a regra geral é o princípio da territorialidade
relativa, já que a territorialidade é relativizada pelos tratados e convenções internacionais, ou seja, é
temperada em razão da intraterritorialidade (art. 5º CP).
Princípio da Territorialidade: Aplica-se a lei do lugar do crime. Não importa a nacionalidade
dos envolvidos ou do bem jurídico tutelado. Pode ser absoluta (não há exceção nenhuma) ou relativa
(há exceções). No Brasil, a territorialidade é relativa, pois comporta exceções (territorialidade
temperada). Em geral, considera-se território o espaço geográfico onde um Estado exerce sua
soberania (espaço físico + espaço jurídico). De acordo com o art. 5º, §1º do CP, para os efeitos
penais, consideram-se como extensão do território nacional (território por equiparação, extensão ou
ficção) as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado.”
Se em território brasileiro ocorre somente planejamento ou preparação do crime, o fato não
interessa ao direito brasileiro, salvo quando a preparação, por si só, caracterizar crime (ex:
associação para o tráfico). Há interesse brasileiro quando se inicia a execução do crime no Brasil,
mesmo que o resultado aconteça em outro país.
Crimes à distância ou de espaço máximo: Fato punível percorre diferentes territórios de
países soberanos, gerando um conflito internacional de jurisdição (resolvido pelo art. 6º, aplicando a
lei brasileira). O mesmo se aplica ao crime de trânsito, que é aquele em que percorre território de
mais dois países soberanos (começou na Argentina, passou a executar no Brasil e teve resultado no
Uruguai); nesse caso, também se aplica o art. 6º, resultando na aplicação da lei brasileira.
Não se confundem com os crimes plurilocais. Nestes, o crime ocorre em diversos territórios
dentro do mesmo país. Gera conflito interno de competência (neste caso, aplica-se a teoria do
resultado – art. 70 do CPP).
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7.3 Extraterritorialidade (CP, art. 7º)
Crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República: Não pode ser contra outro
bem jurídico, como o patrimônio. Trata-se do princípio da defesa real (nacionalidade do bem
jurídico brasileiro).
Crime contra patrimônio ou fé pública da União, Estado, DF, Município, autarquia, empresa
pública e sociedade de economia mista: Princípio da defesa real (nacionalidade do bem jurídico
brasileiro)
Crime contra a administração pública por quem está a seu serviço: Princípio da defesa
real (nacionalidade do bem jurídico brasileiro)
Crime de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil, mesmo ocorrido
fora do Brasil: Princípio da justiça universal. 1ª corrente: nacionalidade ativa; 2ª corrente: defesa
ou real; 3ª corrente (majoritária): justiça universal ou cosmopolita PREVALECE!!!
Nessas hipóteses, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
7.3.2.1 Condições
Ter o agente entrado no território nacional: Esse território pode ser o físico ou o jurídico.
Basta entrar, não significa que o agente deva permanecer.
Ser o fato punível também no país em que foi praticado (dupla tipicidade).
Estar o crime incluído nos casos em que lei brasileira tem que autorizar extradição: Os
crimes que o Brasil autoriza a extradição são os todos os crimes com pena de reclusão maior que
dois anos, conforme a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017).
Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena.
Não ter sido perdoado ou não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
Hipóteses de extraterritorialidade condicionada (art. 7º, § 2º): todas as condições devem estar
presentes, caso contrário, a lei brasileira não será aplicável.
Quando o crime é cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil: 1ª corrente-
nacionalidade passiva (LFG e FMB); 2ª corrente (maioria)- princípio da defesa ou real.
7.3.3.1 Condições
A lei penal se aplica a todos, nacionais ou estrangeiros, por igual, não existindo privilégios
pessoais. Há, no entanto, pessoas que, em virtude de suas funções ou em razão de regras
internacionais, desfrutam de imunidades. Longe de ser um privilégio ou garantia pessoal, trata-se de
necessária prerrogativa funcional. O Brasil abomina os privilégios e trabalha com as prerrogativas.
As prerrogativas servem para proteger o cargo e não o seu titular.
Privilégio Prerrogativa
Exceção da lei comum, deduzida da situação Conjunto de precauções que rodeiam a função
de superioridade das pessoas que a e servem para o seu exercício
desfrutam. Quem tem privilégio não se
submete à lei
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Direito Penal - Introdução, fontes e aplicação da lei penal
Próprio das aristocracias das ordens sociais Aristocracias das instituições governamentais
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