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@dicas.exconcurseira 1
MÓDULO I
Introdução ao Direito Penal (Aula 01).................................................................................................................................................3
Princípios do Direito Penal (Aulas 02 e 03) .........................................................................................................................................9
Lei Penal (Aulas 04 e 05) ...................................................................................................................................................................19
Infração Penal: Crime e Contravenção (Aulas 06 a 08) ....................................................................................................................28
Erro de Tipo (Aula 09) .......................................................................................................................................................................40
Crime Comissivo e Crime Omissivo + Elementos do Fato Típico (resultado e nexo causal) – Aulas 10 a 12.....................................45
Iter Criminis, Crime Consumado, Tentativa, Desistência Voluntária e Arrependimento Posterior, Crime Impossível (Aula 13)......61
Concurso de Pessoas + Autoria (Aula 14). ........................................................................................................................................69
Prescrição (Aula 15)...........................................................................................................................................................................76
Culpabilidade (Aula 16) ....................................................................................................................................................................84
MÓDULO II
Pena (Aulas 01 a 03) ........................................................................................................................................................................93
Penas Restritivas de Direito (Aula 04) ............................................................................................................................................114
Suspensão Condicional do Processo (Aula 05) ...............................................................................................................................121
Medida de Segurança (Aula 06) ......................................................................................................................................................126
Efeitos da Condenação (Aula 07) ....................................................................................................................................................128
Concurso de Crimes (Aula 08) ........................................................................................................................................................133
MÓDULO III
Crimes contra a vida........................................................................................................................................................................137
Crimes contra a honra.....................................................................................................................................................................144
Crimes contra a liberdade individual..............................................................................................................................................147
Crimes contra o patrimônio............................................................................................................................................................149
Crimes contra a propriedade intelectual.........................................................................................................................................164
Crimes contra a dignidade sexual....................................................................................................................................................165
Crimes contra a saúde pública........................................................................................................................................................173
Crimes contra a paz pública............................................................................................................................................................174
Crimes contra a fé pública...............................................................................................................................................................174
Crimes contra a Administração Pública...........................................................................................................................................179
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MÓDULO I
Aula 01
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
a) Aspecto formal/estático: direito penal é o conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como
infrações penais, define os seus agentes e fixa sanções a serem-lhe aplicadas.
b) Aspectos material: direito penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo
social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade.
c) Aspecto sociológico/dinâmico: direito penal é mais um instrumento de controle social, visando assegurar a necessária
disciplina para a harmônica convivência em sociedade.
~ Aprofundando o enfoque sociológico:
* a manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes
* quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções (civis ou penais);
ATENÇÃO!
- Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa por parte do
Estado, valendo do Direito Penal.
IMPORTANTE!
O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica, qual seja: pena privativa de liberdade
(é o princípio da intervenção mínima).
1 – Missão MEDIATA:
a) Controle Social
b) Limitação ao poder punitivo do Estado
OBS: Se de um lado o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites; de outro lado, é necessário também limitar o seu
poder de controle, evitando a hipertrofia da punição
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Direito Penal: classificação doutrinária
1 – Quanto ao MODO:
Como bem explica Canotilho, mesmo nos casos em que o legislador se encontre constitucionalmente autorizado a
editar normas restritivas, permanecerá vinculado à salvaguarda do núcleo essencial dos direitos, liberdades e garantias do
homem e do cidadão.
2 – Quanto ao ESPAÇO:
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional. à Princípio da Territorialidade mitigada.
3 – Quanto ao TEMPO:
Por mais grave que seja o crime, ele prescreve, extinguindo o poder punitivo estatal.
OBS: o direito de punir é monopólio estatal, ficando proibida a justiça privada.
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
CUIDADO! Há um caso que o Estado tolera a punição privada paralela à punição estatal:
Estatuto do Índio, art.57, Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções
penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a
pena de morte.
O TPI é exceção ao monopólio do direito de punir do Estado? Não! O TPI só intervirá quando ajustiça repressiva interna
falhar, for omissa ou ineficiente.
Estatuto de Roma, Artigo 1o - O Tribunal - É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O
Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com
alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e
o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto. à princípio da complementariedade
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DIREITO PENAL SIMBÓLICO? É a lei penal que nasce sem qualquer eficácia jurídica ou social (ex: lei das palmadas).
Trabalha com o tempo que o Estado leva para punir o autor de uma infração penal mais ou menos severa.
1ª VELOCIDADE: enfatiza infrações penais mais graves, punidas com penas privativas de liberdade, exigindo procedimento mais
demorado, observando todas as garantias penais e processuais.
2ª VELOCIDADE: flexibiliza direitos e garantias fundamentais, possibilitando punição mais célere, mas, em contrapartida, prevê
penas alternativas.
Hoje, temos doutrina anunciado a 4ª VELOCIDADE do Direito Penal, ligada ao Direito Penal Internacional, mirando suas
normas proibitivas contra aqueles que exercem (ou exerceram) chefia de Estados e, nessa condição, violam (ou violaram) de
forma grave tratados internacionais de tutela de direitos humanos. Para tanto, foi criado, pelo Estatuto de Roma, o Tribunal
Penal Internacional. Trata-se da primeira instituição global permanente de justiça penal internacional, com competência para
processar e julgar crimes que violam as obrigações essenciais para a manutenção da paz e da segurança da sociedade
internacional em seu conjunto.
IMPORTANTE! Lei complementar pode autorizar o Estado a legislar sobre Direito Penal incriminador no seu âmbito.
Art.22, Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias
relacionadas neste artigo.
ATENÇÃO!
Se a CF é superior à lei, por que ela não pode criar infrações penais ou cominar sanções? Em razão do seu processo
rígido/moroso de alteração. Muito embora não possa criar infrações penais ou cominar sanções, a CF nos revela o Direito Penal
estabelecendo patamares mínimos (mandado constitucional de criminalização) abaixo dos quais a intervenção penal não se
pode reduzir. Exemplos de mandados constitucionais de criminalização:
Art.5º, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
Art.5º, XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
Existem mandados constitucionais de criminalização implícitos? Sim! Com a finalidade de evitar a intervenção
deficiente do Estado: são os imperativos de tutela. Ex: o legislador não poderia retirar o crime de homicídio do ordenamento
jurídico, porque a CF garante o direito à vida.
OBS: Com base neste mandado constitucional de criminalização implícito (direito à vida), questiona-se a legalidade dos
movimentos pró-aborto.
ATENÇÃO! Respeitável corrente doutrinária se posiciona no sentido de que os tratados, versando sobre direitos humanos (e
somente eles), uma vez subscritos pelo Brasil, se incorporam automaticamente e possuem (sempre) caráter constitucional, a
teoria do disposto nos §§1º e 2º, do art.5º, da CF (Flávia Piovesan).
CUIDADO! Importante esclarecer que os tratados e convenções não são instrumentos hábeis à criação de crimes ou cominação
de penas para o direito interno. Assim, antes do advento das Leis 12.694/12 e 12.850/12 (que definiram, sucessivamente,
organização criminosa), o STF manifestou-se pela inadmissibilidade da utilização do conceito de organização criminosa dada pela
Convenção de Palermo, trancando a ação penal que deu origem à impetração, em face da atipicidade da conduta (HC nº 96007).
a.4) Jurisprudência
Ex: CP, Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e,
pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços. à “crime continuado” à STF: intervalo máximo entre um crime e outro é de 30 dias
(entendimento que se aplica aos crimes patrimoniais).
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a.5) Princípios
Não raras as vezes, os tribunais absolvem ou reduzem penas com fundamento em princípios.
b) MEDIATA
b.1) Doutrina
O ato de interpretar é necessariamente feito por um sujeito que, empregando determinado modo, chega a um
resultado.
Interpretação:
1 – Quanto ao sujeito
2 – Quanto ao modo
3 – Quanto ao resultado
a) Interpretação AUTÊNTICA/LEGISLATIVA
CP, Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego ou função pública.
§1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.
i) Contextual: editada conjuntamente com a norma penal que conceitua. Ex: lei das organizações criminosas.
ii) Posterior: lei distinta e posterior conceitua o objeto de interpretação. Muito comum em norma penal em branco.
b) Interpretação DOUTRINÁRIA/CIENTÍFICA
c) Interpretação JURISPRUDENCIAL
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ATENÇÃO! A doutrina ainda cita 2 espécies de interpretação:
a) EXOFÓRICA: o significado da norma interpretada não está no ordenamento normativo. Ex: art.20, CP (“tipo”). Quem define o
que é “tipo legal” é a doutrina, e não a lei.
b) ENDOFÓRICA: o texto normativo interpretado empresta o sentido de outros textos do próprio ordenamento normativo
(interpretação mais utilizada nas normas penais em branco). Ex: art.237, CP – a expressão “impedimento para casamento” é
interpretada de acordo com o Código Civil.
CP, Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
1ª Corrente (Nucci e Luiz Regis Prado): é indiferente se a interpretação extensiva beneficia ou prejudica o réu (a tarefa do
intérprete é evitar injustiças).
OBS: a CF não proíbe interpretação extensiva contra o réu.
2ª Corrente (LFG/Defensoria Pública): socorrendo-se do princípio do in dubio pro reo, não se admite interpretação extensiva
contra o réu (na dúvida, o juiz deve interpretar em seu benefício). Art.22, §2º, Estatuto de Roma: em caso de ambiguidade, a lei
será interpretada a favor do acusado/condenado.
3ª Corrente (Zaffaroni): em regra, não cabe interpretação extensiva contra o réu, salvo quando interpretação diversa resultar
num escândalo por sua notória irracionalidade.
OBS: presente nos julgados dos tribunais superiores. Ex: art.157, §2º, I à emprego de “arma”.
O Código, atento ao princípio da legalidade, detalha todas as situações que quer regular e, posteriormente, permite
que aquilo que a elas seja semelhante, passe também a ser abrangido no dispositivo. São exemplos seguidos de fórmula
genérica de encerramento.
Ex 1: art.121, §2º, I, II e V, CP:
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
Ex 2: art.306, CTB:
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência:
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ATENÇÃO! A INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA não se confunde com ANALOGIA
ANALOGIA à lacuna + integração. Analogia não é forma de interpretação, mas sim de integração.
Na analogia, parte-se do pressuposto de que não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo pelo qual é
preciso socorrer-se de previsão legal empregada à outra situação similar.
CP, Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; à possível abranger a união estável.
Ex 2: art.155, §2º, CP – Furto privilegiado não é aplicável ao roubo, uma vez que a intenção voluntária do legislador é
não privilegiar este tipo de crime.
Aula 02
Princípios relacionados com Princípios relacionado com o Princípios relacionados com Princípios relacionados com
a MISSÃO FUNDAMENTAL FATO DO AGENTE o AGENTE DO FATO a PENA
do direito penal
1.1. Princípio da exclusiva 2.1. Princípio da 3.1. Princípio da 4.1. Princípio da dignidade
proteção de bens jurídicos exteriorização ou responsabilidade pessoal da pessoa humana
materialização do fato
1.2. Princípio da Intervenção 2.2. Princípio da legalidade 3.2. Princípio da 4.2. Princípio da
Mínima responsabilidade subjetiva individualização da pena
2.3. Princípio da ofensividade 3.3. Princípio da 4.3. Princípio da
ou lesividade culpabilidade proporcionalidade
3.4. Princípio da isonomia 4.4. Princípio da
pessoalidade
3.5. Princípio da presunção 4.5. Princípio da vedação ao
de inocência bis in idem
Conceito de bem jurídico: é um ente material (patrimônio) ou imaterial (honra), haurido do contexto social, de
titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento do homem em
sociedade.
O direito penal deve servir apenas para proteger bens jurídicos relevantes, indisponíveis ao convívio em sociedade.
O que é a espiritualização/desmaterialização/dinamização/liquefação do direito penal? É a tendência do direito penal
de proteger bens metaindividuais, direitos difusos e coletivos, como o meio ambiente.
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1.2. Princípio da INTERVENÇÃO MÍNIMA à SUBSIDIARIEDADE + FRAGMENTARIEDADE
O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo que sua intervenção fica condicionada
ao fracasso das demais esferas de controle (caráter SUBSIDIÁRIO), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo
de lesão ao bem jurídico tutelado (caráter FRAGMENTÁRIO).
No entanto, STF + STJ admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a Administração Pública praticados por
particulares.
à STF + STJ: prevalece não ser possível o princípio da insignificância no porte de drogas para uso pessoal.
à STF + STJ: não admitem o princípio da insignificância em nenhuma forma de tráfico.
à STF + STJ: possuem decisões admitindo o princípio da insignificância em crimes ambientais (mas há divergência sobre o
assunto).
IMPORTANTE DIFERENCIAR!
CUIDADO! Não podemos confundir o princípio da insignificância com o princípio da adequação social. Ambos objetivam limitar o
direito penal, mas...
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JURISPRUDÊNCIAS SOBRE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA! à Especialmente relevante para provas de Defensoria Pública!
Possibilidade de aplicar o regime inicial aberto ao condenado por furto, mesmo ele sendo reincidente, desde que seja
insignificante o bem subtraído
A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do
caso concreto. No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é penal
ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem furtado ser
insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância para
criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma.
HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).
STF reconheceu que o valor econômico do bem furtado era muito pequeno, mas, como o réu era reincidente, em vez de absolvê-
lo aplicando o princípio da insignificância, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a pena restritiva de direitos
Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do réu pela atipicidade material. Em outras
palavras, o agente não responde por nada. Em um caso concreto, contudo, o STF reconheceu a insignificância do bem subtraído,
mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para
conceder a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em razão da reincidência, o STF entendeu que
não era o caso de absolver o condenado, mas, em compensação, determinou que a pena privativa de liberdade fosse substituída
por restritiva de direitos. STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 28/8/2018 (Info 913).
É possível a aplicação do princípio da insignificância para o furto de um galo, quatro galinhas caipiras, uma galinha garnizé e
três quilos de feijão
Em regra, a habitualidade delitiva específica (ou seja, o fato de o réu já responder a outra ação penal pelo mesmo delito) é um
parâmetro (critério) que afasta o princípio da insignificância mesmo em se tratando de bem de reduzido valor.
Excepcionalmente, no entanto, as peculiaridades do caso concreto podem justificar o afastamento dessa regra e a aplicação do
princípio, com base na ideia da proporcionalidade. É o caso, por exemplo, do furto de um galo, quatro galinhas caipiras, uma
galinha garnizé e três quilos de feijão, bens avaliados em pouco mais de cem reais. O valor dos bens é inexpressivo e não houve
emprego de violência. Enfim, é caso de mínima ofensividade, ausência de periculosidade social, reduzido grau de
reprovabilidade e inexpressividade da lesão jurídica. Mesmo que conste em desfavor do réu outra ação penal instaurada por
igual conduta, ainda em trâmite, a hipótese é de típico crime famélico. A excepcionalidade também se justifica por se tratar de
hipossuficiente. Não é razoável que o Direito Penal e todo o aparelho do Estado-polícia e do Estado-juiz movimente-se no
sentido de atribuir relevância a estas situações. STF. 2ª Turma. HC 141440 AgR/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/8/2018
(Info 911).
Furto simples
Se o valor do bem é acima de 10% do salário mínimo vigente na época, o STJ tem negado a aplicação do princípio da insignificância.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1558547/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/11/2015.
Furto qualificado
Como regra, a aplicação do princípio da insignificância tem sido rechaçada nas hipóteses de furto qualificado, tendo em vista
que tal circunstância denota, em tese, maior ofensividade e reprovabilidade da conduta. Deve-se, todavia, considerar as
circunstâncias peculiares de cada caso concreto, de maneira a verificar se, diante do quadro completo do delito, a conduta do
agente representa maior reprovabilidade a desautorizar a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp
785755/MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/11/2016. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 746011/MT, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/11/2015.
Se o juiz negou o princípio da insignificância ao furto, mas cogitou conceder o benefício, neste caso, deverá aplicar o regime
inicial aberto
Na hipótese de o juiz da causa considerar penal ou socialmente indesejável a aplicação do princípio da insignificância por furto,
em situações em que tal enquadramento seja cogitável, eventual sanção privativa de liberdade deverá ser fixada, como regra
geral, em regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33, § 2º, c, do CP no caso concreto, com base no princípio da
proporcionalidade. STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
3/8/2015 (Info 793).
Roubo
Não se aplica ao crime de roubo porque se trata de delito complexo que envolve patrimônio, grave ameaça e a integridade física
e psicológica da vítima, havendo, portanto, interesse estatal na sua repressão. Assim, tal conduta não pode ser considerada
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como de mínima ofensividade, desprovido de periculosidade social, de reduzido grau de reprovabilidade e de inexpressividade.
STJ. 6ª Turma. RHC 56431/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 18/06/2015.
(In) aplicabilidade do princípio da bagatela no caso do crime previsto no art. 34 da Lei 9.605/98
O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98: Art. 34. Pescar
em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três
anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: II - pesca quantidades
superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;
Caso concreto: realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método não permitido. STF. 1ª
Turma. HC 122560/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).
Obs: apesar de a redação utilizada no informativo original ter sido bem incisiva (“O princípio da bagatela não se aplica ao crime
previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98”), existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando,
excepcionalmente, o princípio da insignificância para o delito de pesca ilegal. Deve-se ficar atenta(o) para como isso será
cobrado no enunciado da prova.
Crimes ambientais
É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as circunstâncias específicas
do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame. STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp 654.321/SC, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2015. É possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais.
STF. 2ª Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info 816).
Súmula 606-STJ
Súmula 606-STJ: Não se aplica o princípio da insignificância a casos de transmissão clandestina de sinal de internet via
radiofrequência, que caracteriza o fato típico previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/1997. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 11/04/2018,
DJe 17/04/2018.
@dicas.exconcurseira 12
In(aplicabilidade) do princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública
Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. STJ. Corte Especial.
Aprovada em 20/11/2017, DJe 27/11/2017.
Apropriação indébita previdenciária (pode ser aplicado o princípio da insignificância. Posição do STJ)
O STJ já firmou o entendimento de que é possível a aplicação do princípio da insignificância ao delito de apropriação indébita
previdenciária, desde que o total dos valores retidos não ultrapasse o valor utilizado pela Fazenda Público como limite mínimo
para que sejam ajuizadas as execuções fiscais (20 mil reais). STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1241697/PR, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 06/08/2013. STJ. 6ª Turma. RHC 59839/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 07/04/2016.
@dicas.exconcurseira 13
entendimento de que o crime de posse de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/06) é de perigo presumido ou
abstrato e a pequena quantidade de droga faz parte da própria essência do delito em questão, não lhe sendo aplicável o
princípio da insignificância (STJ. 6ª Turma. RHC 35920 -DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/5/2014. Info 541). STF:
possui um precedente isolado, da 1ª Turma, aplicando o princípio: HC 110475 , Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2012.
@dicas.exconcurseira 14
2º - Princípios relacionados com o FATO DO AGENTE
CP, Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução
e os efeitos penais da sentença condenatória.
O nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito Penal do fato, mas considera circunstâncias
relacionadas ao autor, especificamente quando da análise da pena (para garantir a individualização da pena).
OBS: vadiagem é contravenção penal. Agora, só a vadiagem do pobre (kkkkk).
Exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional. Presumir prévia e abstratamente o
perigo significa, em última análise, que o perigo não existe.
Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a criação de crimes de perigo
abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas proteção eficiente do Estado.
Ex: embriaguez ao voltante à STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para configurar o crime,
bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).
Ex: arma desmuniciada à para o STF, é crime de perigo abstrato. Visa proteger a segurança e a paz pública.
Convenção Americana de Direitos Humanos/Pacto São José da Costa Rica, art.8º, 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a
que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
CF, art.5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
Aula 03
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
CF, art.5º, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
CF, art.5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
CP, Art. 1º - Não há crime (+ contravenção) sem lei anterior que o defina. Não há pena (+ medida de segurança) sem prévia
cominação legal.
a) Convênio para a proteção dos direitos humanos e liberdade fundamentais (Roma, 1950)
b) Convenção Americana de Direitos Humanos (1969)
c) Estatuto de Roma (1982)
1. Conceito: real limitação ao poder estatal de interferir na esfera das liberdades individuais.
OBS: daí a sua inclusão na CF (art.5º) e nos tratados internacionais de direitos humanos.
LEGALIDADE = RESERVA LEGAL (“não há crime sem lei”) + ANTERIORIDADE (“lei anterior”)
2.3. Fundamento Jurídico: lei prévia e clara produz importante efeito intimidador.
Medida provisória pode criar crime? Claro que não! Não sendo lei, mas ato executivo com força normativa, a MP não
cria crime, nem comina penal.
É possível MP versando sobre direito penal não incriminador? Medida provisória pode extinguir a punibilidade?
Lembrando: o art.62, §1º, I, “b”, CF proíbe MP versando sobre direito penal.
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
b) direito penal, processual penal e processual civil;
A doutrina diverge:
1ª Corrente (prevalece entre os constitucionalistas): com o advento da EC 32/01, ficou claro que MP não pode versar
sobre direito penal (incriminador ou não incriminador).
2ª Corrente (STF): a EC 32/02 reforça a proibição de MP sobre direito penal incriminador, permitindo matéria de Direito
Penal não incriminador. Ex: o STF admitiu a MP não-incriminadora nº 417/2008, que impedia a tipificação de determinados
comportamentos relacionados com a posse de arma de fogo.
@dicas.exconcurseira 16
Resoluções de quaisquer espécies podem criar infrações penais e cominar penas? Ex: Resoluções do TSE, CNJ, CNMP,
etc. Não sendo leis em sentido estrito, não podem criar crimes nem cominar penas.
CUIDADO! As menções a condutas criminosas indicadas nas Resoluções do TSE são meras consolidações de tipos penais
previamente tipificados em lei.
1ª Corrente (Defensoria Pública): admite-se o costume abolicionista ou revogador da lei nos casos em que a infração penal não
mais contraria o interesse social, deixando de repercutir negativamente na sociedade.
CONCLUSÃO: jogo do bicho não deve mais ser punido, pois a contravenção foi formal e materialmente revogada pelo costume.
2ª Corrente: não é possível o costume abolicionista. Entretanto, quando o fato já não é mais indesejado pelo meio social, a lei
não deve ser aplicada pelo magistrado.
CONCLUSÃO: jogo do bicho, apesar de formalmente ser uma contravenção, não serve para punir o autor da conduta, pois
materialmente revogada.
3ª Corrente (prevalece): somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume abolicionista.
CONCLUSÃO: jogo do bicho permanece infração penal, servindo a lei para punir o contraventor enquanto não revogada por
outra lei.
ATENÇÃO! O STF indeferiu HC em que a Defensoria Pública requeria, com base no princípio da adequação social, a declaração da
atipicidade da conduta imputada a condenado como incurso nas penas do art.184, §2º, CP. Sustentava-se que a referida
conduta seria socialmente adequada, haja vista que a coletividade não recriminaria o vendedor de CDs e DVDs reproduzidos
sem autorização do titular do direito autoral, mas, ao contrário, estimularia a sua prática em virtude dos altos preços desses
produtos, insuscetíveis de serem adquiridos por grande parte da população. De acordo com o STF, o fato de a sociedade tolerar
a prática do delito em questão não implicaria dizer que o comportamento do paciente poderia ser considerado lícito. Salientou-
se, ademais, que a violação de direito autoral e a comercialização de produtos “piratas” sempre fora objeto de fiscalização e
repressão.
Proíbe-se a utilização da analogia para criar tipo incriminador (a analogia in bonam partem é admitida).
Ex: art.155, §3º, CP abrange sinal de tv à cabo (§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que
tenha valor econômico)?
1ª Corrente (Bittencourt): sinal de TV não é energia, pois não se gasta, não se consome.
2ª Corrente (Nucci): sinal de TV é espécie de energia, caracterizando crime.
3ª Corrente (STF): a 2ª Turma do STF, no julgamento do HC 97.261, declarou a atipicidade da conduta do agente que
subtrai sinal de TV à cabo, asseverando ser impossível analogia incriminadora com o crime de furto de energia elétrica.
@dicas.exconcurseira 17
f) Não há crime ou pena sem lei NECESSÁRIA
Desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima.
Orienta onde e como o Estado deve proibir, e onde o Estado deve deixar de proibir.
O princípio da legalidade é o vetor basilar do garantismo.
Garantismo é o mínimo poder punitivo do Estado em face das máximas garantias do cidadão.
Ex: regime integral fechado para crimes hediondos à STF: esta obrigatoriedade viola o princípio da dignidade da pessoa
humana, da individualização da pena, dentre outros. Trata-se, portanto, de lei vigente, mas não válida.
DE OLHO NA JURIS! O regime inicial de pena nos crimes hediondos não precisa ser obrigatoriamente o fechado
A hediondez ou a gravidade abstrata do delito não obriga, por si só, o regime prisional mais gravoso, pois o juízo, em atenção
aos princípios constitucionais da individualização da pena e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais, deve
motivar o regime imposto observando a singularidade do caso concreto. Assim, é inconstitucional a fixação de regime inicial
fechado com base unicamente na hediondez do delito. STF. 1ª Turma. ARE 935967 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
15/03/2016. STF. 2ª Turma. HC 133617, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/05/2016. É inconstitucional a fixação ex lege,
com base no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990, do regime inicial fechado, devendo o julgador, quando da condenação, ater-se aos
parâmetros previstos no artigo 33 do Código Penal. STF. Plenário. ARE 1052700 RG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
02/11/2017.
@dicas.exconcurseira 18
Aula 04
LEI PENAL
1. Classificação
a) Lei penal COMPLETA: é aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo (dado por outra norma).
Ex: art.121, CP.
b) Lei penal INCOMPLETA: é a norma que depende de complemento valorativo (tipo aberto) ou complemento normativo
(norma penal em branco).
TIPO ABERTO
Conceito: espécie de lei penal incompleta, que depende de complemento dado pelo juiz, na análise do caso concreto.
Ex: crimes culposos (são descritos em tipos abertos, pois o legislador não enuncia as formas de negligência, ficando a cargo do
juiz na análise do caso cocreto).
ATENÇÃO! Para não ofender o princípio da legalidade, a redação típica deve trazer o mínimo de determinação.
Excepcionalmente, como na receptação culposa (art.180, §3º, CP), o legislador descreveu a negligência (em sentido
amplo), subtraindo do juiz, de forma legítima, a sua valoração no caso concreto.
Conceito: é espécie de lei penal incompleta que depende de complemento normativo, isto é, dado por outra norma.
a) Norma penal em branco própria/em sentido estrito/heterogênea: o complemento normativo não emana do legislador, mas
sim de outra fonte normativa diversa. Ex: Portaria 344/98 da ANVISA, que define o que é “droga”.
b) Norma penal em branco imprópria/em sentido amplo/homogênea: o complemento normativo emana do próprio legislador.
O que é norma penal em branco ao revés? O complemento da norma penal em branco ao revés refere-se à sanção
penal/preceito secundário (e não ao conteúdo proibitivo/preceito primário). Ex: art.1º da lei de genocídio.
1ª Corrente: a norma penal em branco heterogênea impossibilita a discussão amadurecida da sociedade a respeito do
complemento no Congresso Nacional, violando o fundamento democrático do princípio da legalidade e da separação das
funções.
2ª Corrente (STF): a norma penal em branco heterogênea é constitucional. O legislador cria o tipo penal com todos os
requisitos básicos. A remissão ao Executivo é absolutamente excepcional e necessária por razões de técnica legislativa. O
Executivo só esclarece um requisito do tipo.
INTRODUÇÃO
Como decorrência do princípio da legalidade – que tem como um dos desdobramentos a anterioridade -, aplica-se, em
regra, a lei penal vigente ao tempo da realização do fato criminoso (tempus regit actum). Excepcionalmente, no entanto, será
permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados, desde que benéfica ao réu. É possível, pois, que a lei
penal se movimente no tempo; fenômeno ao qual se dá o nome de extra-atividade da lei penal.
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Extra-atividade da lei penal é gênero que possui duas espécies:
a) ultra-atividade: a lei revogada continua sendo aplicada para os fatos praticados durante a sua vigência, pois a lei
posterior revogadora é mais gravosa.
b) retroatividade: a lei posterior revogadora alcança os fatos passados, pois mais benéfica do que a lei revogada.
TEMPO DO CRIME
CP, art.4º. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
Observações:
OBS1: Princípio da coincidência/congruência/simultaneidade: todos os elementos do crime (fato típico + ilicitude +
culpabilidade) devem estar presentes no momento da conduta.
OBS2: O tempo do crime, em regra, marca a lei que vai reger o caso concreto.
A regra é a irretroatividade da lei penal, excetuada somente quando lei posterior for mais benéfica (retroatividade).
CP, ART.1º. Não há crime (INFRAÇÃO PENAL) sem lei anterior que o defina. Não há pena (SANÇÃO PENAL) sem prévia cominação
legal.
Ex: Lei 12.550/2011 (cola eletrônica). Antes, segundo STF e STJ, a cola eletrônica era fato atípico. Depois, passou a estar prevista
no art.311-A, CP à neocriminalização (a lei é irretroativa).
CONCLUSÃO: Aplica-se a lei vigente no momento em que cessar a continuidade ou a permanência, ainda que mais gravosa.
CUIDADO! Na prova para DP, pode-se sustentar que esta súmula só se aplica ao crime permanente, mas não ao continuado.
3 – ABOLITIO CRIMINIS
CP, art.2º. Ninguém pode ser punido por fato* que a lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Ex: Antes, a posse de droga para consumo pessoal era punida com detenção de 6 meses a 2 anos. Depois, com a Lei 11.343/06,
não é mais punida com pena privativa de liberdade, mas sim restritivas de direitos.
Depois do trânsito em julgado, qual o juiz competente para aplicar a lei mais benéfica?
Prova objetiva à Súmula 611, STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação
da lei mais benigna.
@dicas.exconcurseira 21
É possível aplicação da lei mais benéfica durante o seu período de vacati legis?
1ª Corrente (Alberto Silva Franco, Rogério Greco): Sim. O tempo de vacatio tem como finalidade promover o
conhecimento da ei promulgada. Não faz sentido, portanto, que aqueles que já enteiraram do teor da lei nova fiquem
impedidos de lhe prestar obediência.
2ª Corrente (Damásio, Nucci, Frederico Marques): Não. No período de vacatio legis, a lei penal não possui eficácia
jurídica ou social.
1ª Corrente (Hungria): não. O juiz, ao combinar leis, deixa de julgar e passa a legislar.
2ª Corrente (Rogério Greco): sim. Se o juiz pode aplicar o todo de uma lei ou de outra para favorecer o sujeito, pode
escolher parte de uma ou de outra para o mesmo fim.
O STJ sumulou entendimento vedando a combinação de leis!
Súmula 501, STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na
íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
Como proceder em caso de dúvida sobre qual a lei mais benéfica? Nelson Hungria sugere que a defesa seja consultada.
Aliás, o STJ tem precedentes neste sentido.
Este princípio também observa a irretroatividade da lei prejudicial e a retroatividade da lei mais benéfica.
Ex: antes da Lei 12.015/09, o estupro era previsto no art.213 e o atentado violento ao pudor era previsto no art.214.
Depois desta lei, o art.214 foi revogado e seu conteúdo migrou para o art.213, CP.
@dicas.exconcurseira 22
LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA à são ultra-ativas
CP, Art.3º. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstancias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.
* Lei temporária/lei temporária em sentido estrito: é aquela instituída por um prazo determinado. Tem prefixado no seu texto
o tempo de duração.
* Lei excepcional/lei temporária em sentido amplo: editada em função de algum evento transitório. Perdura enquanto
existir/persistir o estado de emergência que justificou a sua criação.
1 – Autorrevogabilidade (lei intermitente): consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo pré-fixado (lei temporária)
ou cessada a situação de emergência (lei excepcional).
2 – Ultra-atividade: pois são leis que alcançam os fatos praticados durante a sua vigência, ainda que revogadas. ATENÇÃO!
Trata-se de hipótese excepcional de ultra-atividade maléfica. Ex: Lei da Copa. OBS: a doutrina observa que, por serem de curta
duração, se não tivessem a característica da ultra-atividade, perderiam sua força intimidativa.
CUIDADO! As leis temporária/excepcional não se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis, salvo se houver lei expressa
com esse fim.
1ª Corrente (Paulo José da Costa Jr.): a alteração do complemento da N.P.B deve sempre retroagir, desde que mais
benéfica ao réu.
2ª Corrente (Frederico Marques): a alteração do complemento da N.P.B, mesmo que benéfica, é irretroativa. A norma
principal não é revogada com a simples alteração de complementos.
3ª Corrente (Mirabete): só tem importância a variação do complemento da N.P.B quando esta provoca uma real
modificação da figura abstrata do direito penal, e não quando importe a mera modificação de circunstancia que, na realidade,
deixa subsistente a norma penal.
4ª Corrente (Zafaroni, STF): a alteração do complemento da N.P.B homogênea terá efeitos retroativos, se benéfica.
Agora, quando se tratar de N.P.B heterogênea, a alteração mais benéfica só ocorre quando a legislação complementar não se
reveste de excepcionalidade/situação emergencial (se excepcional, não retroage).
LEI INTERMEDIÁRIA
Lei A à pena: 1 a 4 anos Lei B à pena 6 meses a 2 anos Lei C à pena: 2 a 5 anos
ATENÇÃO! Concurso DP: Paulo Queiroz defende que deve ser proibida a retroatividade desfavorável da jurisprudência e
aplicada a retroatividade benéfica, autorizando revisão criminal.
CUIDADO! Não se pode negar a retroatividade da jurisprudência quando dotada de efeitos vinculantes (Súmula
vinculante, ADI, ADC, ADPF).
@dicas.exconcurseira 23
Aula 05
Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir interesses de dois ou mais Estados igualmente soberanos,
gerando, nesses casos, um conflito internacional de jurisdição, o estudo da lei penal no espaço visa apurar as fronteiras de
atuação da lei penal nacional.
5 - Princípio da JUSTIÇA PENAL UNIVERSAL: o agente fica sujeito a lei penal do PAÍS EM QUE FOR ENCONTRADO. Este princípio
está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação na repressão a determinados delitos de alcance
transnacional.
CUIDADO! O Brasil adotou como princípio regra a TERRITORIALIDADE. Porém, ela é mitigada/temperada pela
intraterritorialidade à TERRITORIALIDADE TEMPERADA.
CP, art.5º. Aplica-se à lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território internacional.
É possível, por conta de regras internacionais, que um crime cometido no Brasil não sofra as consequências da lei
brasileira.
CP, art.5º, § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar (= em espaço aéreo brasileiro ou mar territorial brasileiro).
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de
propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas
em porto ou mar territorial do Brasil.
CONCLUSÕES:
a) Quando os navios ou aeronaves brasileiros forem públicos ou estiverem a serviço do governo brasileiro, quer se encontrem
em território nacional ou estrangeiro, são considerados parte do nosso território.
b) Se os navios ou aeronaves forem privados, quando em alto-mar ou espaço aéreo correspondente (“terra de ninguém”),
seguem a lei da bandeira que ostentam.
@dicas.exconcurseira 24
c) Quando estrangeiros, em território brasileiro, desde que privados, são considerados parte do nosso território.
DIREITO DE PASSAGEM INOCENTE (= não vou aplicar a lei brasileira)
Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido a bordo de embarcação privada estrangeira de passagem pelo mar
territorial brasileiro? Ex: navio sai de Portugal com destino ao Uruguai. Quando está passando pelo mar territorial brasileiro, um
holandês mata um chinês. NÃO, devido ao direito de passagem inocente (Lei 8.617/93). Apesar de tal lei se referir apenas à
embarcação, a doutrina, com base no Código de Aeronáutica, ensina que também deve ser aplicada às aeronaves que estiverem
de passagem.
LUGAR DO CRIME
CP, Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde
se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
EXTRATERRITORIALIDADE
Em casos excepcionais, a nossa lei poderá extrapolar os limites do território, alcançando crimes cometidos
exclusivamente no estrangeiro.
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I – os crimes: à Extraterritorialidade INCONDICIONADA
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; à Princípio da DEFESA/REAL
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; à Princípio da DEFESA/REAL
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; à Princípio da DEFESA/REAL
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; à Princípio da JUSTIÇA PENAL UNIVERSAL
@dicas.exconcurseira 25
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais
favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as
condições previstas no parágrafo anterior: à Extraterritorialidade HIPERCONDICIONADA à Princípio da NACIONALIDADE
PASSIVA
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
O autor do crime será processado pela justiça estadual ou federal? Em regra, pela justiça estadual (será julgado pela justiça
federal nos casos do art.109, CF).
CPP, art.88. No processo por crimes praticados fora do território nacional, será competente o juízo da Capital do Estado onde
houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO
CP, Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é
computada, quando idênticas. à EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO BIS IN IDEM.
É possível que suceda a hipótese de ser o agente processado, julgado e condenado tanto pela lei brasileira como pela
estrangeira, em especial nos casos de extraterritorialidade incondicionada à bis in idem autorizado por lei!
A lei penal se aplica a todos, por igual, não existindo privilégios pessoais. Há, no entanto, pessoas que, em virtude das
suas funções ou em razão de regras internacionais, desfrutam de imunidades. Longe de ser uma garantia pessoal, trata-se de
necessária prerrogativa funcional.
PRIVILÉGIO PRERROGATIVA
Exceção da lei comum deduzida em situação de Conjunto de precauções que rodeiam a função.
superioridade das pessoas que a desfrutam.
Subjetivo e anterior à lei. Objetiva e derivada da lei.
Tem essência pessoal. Anexo à qualidade do órgão.
Poder frente à lei. Conduto para que a lei se cumpra.
Aristocracias das ordens sociais. Aristocracias das instituições governamentais.
IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS
@dicas.exconcurseira 26
O diplomata deve obediência à nossa lei? Por força da característica da generalidade da lei penal, os agentes diplomáticos
devem obediência ao preceito primário do país em que se encontram. Escapam, no entanto, da sua consequência jurídica
(sanção/preceito secundário), permanecendo sob a eficácia da lei penal do Estado a que pertencem (intraterritorialidade).
Ex: art.121 “matar alguém” (diplomata deve obedecer); Pena: 6 a 20 anos (o diplomata é punido de acordo com a lei do seu
Estado).
Os agentes consulares tem imunidade diplomática? Eles possuem imunidade formal relativa: são imunes nos crimes cometidos
no exercício da função (enquanto que um embaixador, por ex, tem imunidade quanto aos crimes praticados no exercício da
função ou fora dela).
@dicas.exconcurseira 27
Aula 06
Obs2: Essas espécies não guardam entre si distinções de natureza ontológica (do ser), mas apenas axiológica (de valor).
Obs3: o rótulo de crime ou contravenção para determinado comportamento humano depende do valor que lhe é conferido pelo
legislador (opção politica). Ex: a posse e o porte de arma ilegal, até 1997, eram considerados contravenção penal. Com a Lei de
Armas de 1997, passaram a ser considerados crime. Houve mudança na opinião política do legislador.
Apesar de ontologicamente idênticos (aplicando-se às contravenções as regras gerais do CP), crime e contravenção
possuem algumas diferenças trazidas pela própria lei:
Lei de Introdução ao CP, Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas alternativa ou cumulativamente.
Crime à reclusão ou detenção + multa
Contravenção à prisão simples + multa
Lei das Contravenções Penais, Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.
Crime à ação penal pública (incondicionada ou condicionada à representação do ofendido/requisição do Ministro da
Justiça) ou ação penal privada.
Contravenção à ação penal pública incondicionada. Exceção: o crime de lesão corporal leve (art.129, caput, CP) é de
ação penal pública condicionada à representação (art.18, Lei 9.099) e mais grave do que a contravenção de “vias de fato”, a
qual, segundo a lei, é de ação penal pública incondicionada. A doutrina alega que falta proporcionalidade, devendo, portanto,
ser procedida também por ação penal pública condicionada à representação do ofendido. Porém, não é este o entendimento
dos tribunais superiores, que adotam o art.17, LCP normalmente à contravenção das vias de fato.
@dicas.exconcurseira 28
e) Quanto à competência para processar e julgar
LCP, Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a 5 anos, nem a importância das multas
ultrapassar cinquenta contos.
Crime à a duração da pena não pode ultrapassar 30 anos.
Contravenção à a prisão simples não pode ultrapassar 5 anos.
DE OLHO NA JURIS! Crime não pode ser absorvido por uma contravenção penal
O princípio da consunção é aplicável quando um delito de alcance menos abrangente praticado pelo agente for meio necessário
ou fase preparatória ou executória para a prática de um delito de alcance mais abrangente. Com base nesse conceito, em regra
geral, a consunção acaba por determinar que a conduta mais grave praticada pelo agente (crime-fim) absorve a conduta menos
grave (crime-meio). O STF decidiu que o agente que faz uso de carteira falsa da OAB pratica o crime de uso de documento falso,
não se podendo admitir que esse crime seja absorvido (princípio da consunção) pela contravenção penal de exercício ilegal da
profissão (art. 47 do DL nº 3.688/41). Não é possível que um crime tipificado no Código Penal seja absorvido por uma infração
tipificada na Lei de Contravenções Penais. STF. 1ª Turma. HC 121652/SC, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/4/2014 (Info 743).
Pessoa jurídica de direito público pode ser responsabilizada por delito ambiental?
1ª Corrente (PREVALECE): NÃO. Pessoa jurídica de direito público e de direito privado são entes cuja natureza e propósitos não
se confundem e, por isso, não podem receber o mesmo tratamento, especialmente na esfera penal. Pessoa jurídica de direito
público não age no interesse ou benefício da entidade, mas sim da coletividade, inviabilizando, assim, que seja punida na esfera
penal. A responsabilização da pessoa jurídica de direito público seria o Estado punindo a si mesmo.
2ª Corrente: as normas que disciplinam a responsabilidade penal da pessoa jurídica não excepcionam os entes públicos,
devendo ter o mesmo tratamento dos entes privados.
a) Crime COMUM: o tipo não exige qualidade ou condição especial do agente. Admite coautoria e participação. Ex:
homicídio.
b) Crime PRÓPRIO: o tipo exige qualidade ou condição especial do agente. Admite coautoria e participação. Ex: peculato.
c) Crime DE MÃO PRÓPRIA: o tipo exige qualidade ou condição especial do agente. Só admite participação. É o chamado
delito de conduta infungível. Ex: falso testemunho.
ATENÇÃO! O STF tem admitido coautoria entre quem testemunha e seu advogado que lhe auxilia.
@dicas.exconcurseira 29
Sujeito passivo: é a pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal. Pode ser pessoa física ou pessoa
jurídica, ou até mesmo um ente indeterminado, destituído de personalidade jurídica (ex: coletividade, família) – é o chamado
“crime vago”.
CUIDADO! Embora o Estado seja o sujeito passivo formal, pode também figurar como sujeito passivo imediato, quando
titular do interesse protegido (ex: crime contra a Administração Pública).
a) Crime COMUM: o tipo não exige qualidade ou condição especial do ofendido. É a regra. Ex: homicídio.
b) Crime PRÓPRIO: o tipo exige qualidade ou condição especial do ofendido. Ex: infanticídio.
c) Crime BI-PRÓPRIO: o tipo exige qualidade ou condição especial tanto do sujeito ativo, quanto do sujeito passivo. Ex: o
estupro era bi-próprio.
O que é o crime de dupla subjetividade passiva? É o crime que obrigatoriamente deve ter pluralidade de vítimas. Ex:
violação de correspondência, onde as vítimas são o destinatário e o remetente.
Morto pode ser vítima de crime? Não sendo titular de direitos, não é sujeito passivo de crime. Nos crimes de violação ao
respeito dos mortos, a vítima é a coletividade. No crime de calúnia contra os mortos, a vítima é a família do morto.
Os animais podem ser vítimas de crime? Os animais não são vítimas de crime, embora possam ser objeto material do delito,
figurando como sujeito passivo o proprietário do animal ou a coletividade (no caso de infrações ambientais).
Pode o homem ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do crime? Não, pois, conforme o princípio da alteridade,
ninguém poderá ser responsabilizado pela conduta que não exceda sua esfera individual. Daí não ser punível a auto-lesão, salvo
se a auto-lesão for meio para fraude contra seguro.
b) Crime FORMAL: pode ou não ter objeto material (ex: falso testemunho; não tem objeto material).
Objeto material x crime impossível: a ausência ou impropriedade do objeto material faz surgir a figura do crime impossível
(art.17, CP). Ex: atirar contra morto.
Objeto JURÍDICO: revela o interesse tutelado pela norma, o bem jurídico protegido pelo tipo penal.
Obs1: alguns tipos penais protegem mais de um interesse jurídico. São os chamados crimes pluriofensivos. Ex: roubo
(patrimônio + liberdade individual).
Obs2: se de um lado é possível que uma norma proteja mais de um bem jurídico, não é possível crime sem objeto jurídico (não
se pode esquecer a missão do direito penal!).
@dicas.exconcurseira 30
SUBSTRATOS DO CRIME
Prevalece, hoje, que, sob o enfoque analítico, o crime é composto de 3 substratos: fato típico + ilicitude/antijuridicidade
+ culpabilidade. Presentes os 3 substratos, o direito de punir do Estado se concretiza, surgindo a punibilidade.
FATO TÍPICO
Conceito: é um fato humano indesejado que, norteado pelo princípio da intervenção mínima, consiste numa conduta
causadora de um resultado, ajustando-se a um tipo penal.
Fato típico – requisitos:
a) Conduta
b) Resultado
c) Nexo causal
d) Tipicidade penal
ATENÇÃO! Tipicidade penal (operação de ajuste fato/norma) ≠ Tipo penal (modelo de conduta proibida).
Tipo Penal: descreve a conduta proibida pela norma, composto de elementos objetivos e, eventualmente, elementos
subjetivos.
Aula 07
Conduta = movimento corporal voluntário, que produz uma modificação no mundo exterior, perceptível pelos
sentidos.
De acordo com a teoria causalista, a conduta é composta de vontade, movimento corporal e resultado; porém, a
vontade não está relacionada com a finalidade do agente, elemento este analisado somente na culpabilidade.
Conduta = comportamento humano voluntário causador de um resultado. à não fala mais em “movimento”, nem em
“percebida pelos sentidos”. Ao conceituar “conduta”, prefere “comportamento” a “movimento”, para poder abarcar também os
cirmes omissivos.
DICA: a teoria neokantista não se prende aos métodos das ciências exatas; não depende somente dos sentidos; admite
elementos subjetivos.
@dicas.exconcurseira 32
c) Teoria FINALISTA à colocou dolo e culpa no “fato típico”!!
FATO TÍPICO
DIMENSÃO OBJETIVA DIMENSÃO SUBJETIVA
- Conduta - Dolo
- Resultado - Culpa
- Nexo causal
- Tipicidade penal
Conduta = comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim (toda conduta é orientada por um
querer).
DICA: supera a “cegueira” do causalismo com um finalismo “vidente”.
OBS: A culpabilidade não integra o crime, sendo tratada como juízo de censura, pressuposto de aplicação da pena.
ATENÇÃO! Dolo e culpa integram o fato típico (agradando o finalismo), mas são novamente analisados no juízo da culpabilidade
(agradando o causalismo).
Crítica à teoria social da ação: a principal crítica reside na vagueza do conceito “socialmente reprovável”. Trata-se de
noção muito ampla, sendo arriscado incorporá-la ao Direito Penal, limitando sua intervenção.
CONCLUSÃO: A conduta deve ser compreendida de acordo com a missão conferida ao direito penal.
@dicas.exconcurseira 33
Funcionalismo TELEOLÓGICO/DUALISTA/MODERADO/DA POLÍTICA CRIMINAL à ROXIN
Conduta = comportamento humano voluntário causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado.
Características do Funcionalismo Moderado de Roxin:
* orientações político-criminais;
* acolhe valores e princípios garantistas;
* a pena possui finalidade preventiva (geral e especial);
* a pena não possui finalidade retributiva
* culpabilidade e necessidade da pena como aspectos da responsabilidade.
As premissas sobre as quais se funda o Funcionalismo Sistêmico deram ensejo à exumação da TEORIA DO DIREITO
PENAL DO INIMIGO, representando a construção de um sistema próprio para o tratamento do indivíduo infiel ao sistema.
Fundamento: o delinquente, autor de determinados crimes, não é ou não deve ser considerado cidadão, mas, sim, um
cancro societário, que deve ser extirpado (Muñoz Conde).
Pensadores: Protágoras, São Tomás de Aquino, Kant, Locke, Hobbes.
Jakobs exumou o Direito Penal do Inimigo (e não o inventou), inspirando-se nestes pensadores.
Jakobs fomenta o Direito Penal do Inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e de seres humanos e para
membros de organizações criminosas transnacionais.
Características:
1) Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios (buscando evitar o início da execução de
determinados crimes);
2) Condutas descritas em tipos de mera conduta e de perigo abstrato (flexibilização do princípio da lesividade);
3) Descrição vaga dos crimes e das penas (flexibilização do princípio da legalidade);
4) Preponderância do Direito Penal do Autor (flexibilização do princípio da exteriorização do fato);
5) Surgimento das chamadas “leis de luta e de combate” (leis de ocasião – direito penal de emergência);
6) Endurecimento da execução penal;
7) Restrição de garantias penais e processuais – direito penal de 3ª velocidade.
@dicas.exconcurseira 34
1º REQUISITO DO FATO TÍPICO – CONDUTA – CARACTERÍSTICAS
2) Exteriorização da vontade
ii) Involuntariedade: ausência de capacidade de dirigir a conduta de acordo com uma finalidade.
a) Estado de inconsciência completa: ex – sonambulismo, hipnose.
b) Movimento reflexo: reação automática do organismo a um estímulo externo.
iii) Coação física irresistível: o coagido é impossibilitado de determinar seus movimentos de acordo com a sua vontade.
Aula 08
CRIME DOLOSO
Dolo: é a vontade consciente dirigida a realizar (ou aceitar realizar) a conduta descrita no tipo penal.
ATENÇÃO! A noção de dolo não se esgota na realização da conduta, abrangendo o resultado e demais circunstâncias da
infração.
Elementos do dolo:
1) Elemento VOLITIVO: VONTADE de praticar a conduta descrita na norma;
2) Elemento INTELECTIVO: CONSCIÊNCIA da CONDUTA e do RESULTADO.
CUIDADO! Tem doutrina conceituando dolo como sendo a “vontade livre e consciente” à mas isto está errado! A liberdade da
vontade não é elemento do dolo, mas circunstância a ser analisada na culpabilidade (mais especificamente na “exigibilidade de
conduta diversa”).
Teorias do Dolo
1) Teoria da Vontade: dolo é a vontade consciente de querer praticar a infração penal = consciência + querer.
2) Teoria da Representação: o agente tem a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decide prosseguir com a
conduta = consciência + prosseguir com a conduta.
ATENÇÃO! Esta teoria acaba abrangendo no conceito de dolo a culpa consciente.
@dicas.exconcurseira 35
3) Teoria do Consentimento/Assentimento: o agente tem a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decide
prosseguir com a conduta, assumindo o risco de produzir o evento = consciência + prosseguir com a conduta assumindo o risco
do evento.
ATENÇÃO! Esta teoria não mais abrange no conceito de colo a culpa consciente.
1) Dolo NORMATIVO/HÍBRIDO: adotado pelas teorias causal e neokantista, essa espécie de dolo integra a culpabilidade,
trazendo, a par dos elementos consciência e vontade, também a consciência atual da ilicitude, elemento normativo que o
diferencia do dolo natural.
2) Dolo NATURAL/NEUTRO: adotado pela teoria finalista, essa espécie de dolo integra conduta (fato típico). Seus elementos são
apenas consciência e vontade.
4.1. Dolo ALTERNATIVO: o agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo a sua conduta para realizar QUALQUER DELES.
- Tem a MESMA intensidade de vontade de realizar os resultados previstos.
ATENÇÃO! A doutrina divide o dolo alternativo em duas espécies:
a) Dolo Alternativo OBJETIVO: quando a vontade indeterminada estiver relacionada com o resultado em face da mesma vítima.
Ex: disparo contra a vítima “A” para lesioná-la ou mata-la.
b) Dolo Alternativo SUBJETIVO: quando a vontade indeterminada envolve vítimas de um mesmo resultado. Ex: atiro contra um
grupo de pessoas para matar qualquer delas.
4.2. Dolo EVENTUAL: o agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo a sua conduta para realizar UM DELES, assumindo o
risco de realizar o outro.
- A intensidade da vontade em relação aos resultados previstos É DIFERENTE.
5) Dolo CUMULATIVO: o agente pretende alcançar 2 resultados em sequência. É hipótese de progressão criminosa. Ex: o
agente, depois de ferir, resolve matar a vítima.
6) Dolo de DANO: a vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
7) Dolo de PERIGO: o agente atua com a intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado.
@dicas.exconcurseira 36
8) Dolo GENÉRICO: o agente atua com vontade de realizar a conduta descrita no tipo, sem um fim específico.
9) Dolo ESPECÍFICO: o agente atua com vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal com um fim específico.
ATENÇÃO! Hoje, não se fala mais em dolo genérico ou dolo específico. O dolo genérico é o dolo; e o dolo específico é o dolo +
elemento subjetivo do tipo.
10) Dolo geral/erro sucessivo à é o erro sobre o nexo causal em sentido amplo/aberratio causae (assunto a ser analisado na
aula sobre erro de tipo)
12) Dolo de 2º grau/Dolo direito de consequências necessárias/Dolo necessário: é espécie de dolo direto. Mas, no dolo de 2º
grau, a vontade do agente se dirige aos meios utilizados para alcançar determinado resultado. Abrange os efeitos colaterais do
crime, de verificação praticamente certa.
Obs: o agente não persegue imediatamente os efeitos colaterais, mas tem por certa a sua ocorrência, caso se concretize o
resultado pretendido.
13) Dolo ANTECEDENTE, CONCOMITANTE e SUBSEQUENTE à classificação ultrapassada, pois o que importa é o dolo no
momento da conduta.
14) Dolo de PROPÓSITO: a vontade é refletida, pensada. É a premeditação, que não necessariamente agrava ou qualifica o
delito.
15) Dolo de ÍMPETO: caracterizado por ser repentido, sem intervalo entre a fase da cogitação e da execução. Presente nas ações
de curto-circutio. Pode configurar atenuante de pena – art.65, III, “c”, CP.
CRIME CULPOSO
Conceito: o crime culposo consiste numa conduta voluntária que realiza evento ilícito não querido ou aceito pelo
agente, mas que lhe era previsível (culpa inconsciente) ou excepcionalmente previsto (culpa consciente) e que poderia ser
evitado se empregasse a cautela necessária.
No Código Penal Militar, há um conceito rico de crime culposo, em seu art.33, veja: Diz-se o crime culposo, quando o
agente, deixando de empregar a cautela, atenção ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das
circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia
evitá-lo.
@dicas.exconcurseira 37
Elementos do crime culposo:
1 – Conduta humana voluntária
2 – Violação de um dever de cuidado objetivo
3 – Resultado naturalístico involuntário
4 – Nexo causal entre conduta e resultado
5 – Resultado involuntário previsível (ou excepcionalmente previsto à culpa consciente)
6 - Tipicidade
1) Conduta humana voluntária: ação ou omissão dirigida ou orientada pelo querer, causando um resultado involuntário.
DOLO CULPA
Vontade dirigida à realização de um resultado ilícito Vontade dirigida à realização de um resultado lícito, diverso
daquele que efetivamente se produz
2) Violação de um dever de cuidado objetivo: o agente, na culpa, viola o seu dever de diligência (regra básica para o convívio
social); o comportamento do agente não atende o que é esperado pela lei e pela sociedade.
Como apurar se houve ou não infração do dever de diligência? De acordo com a maioria, o operador deve analisar as
circunstâncias do caso concreto, pesquisando se uma pessoa de inteligência média evitaria o perigo.
ATENÇÃO! Na denúncia, o MP deve apontar a forma de violação do dever de diligência, descrevendo no que consiste.
Ex1: “Fulano matou culposamente Beltrano” à inepta
Ex2: “Fulano, com manifesta imprudência, matou Beltrano” à inepta
Ex3: “Fulano, dirigindo em alta velocidade em dia de chuva, nisso, aliás, consistiu sua imprudência, matou Beltrano à correta
PROBLEMA: MP denuncia Fulano por crime culposo, indicando ter havido imprudência. Durante a instrução, comprova-se a
culpa, porém decorrente de negligência. O juiz pode condenar Fulano ou deve enviar os autos para o MP aditar a denúncia?
Para não violar o princípio da ampla defesa, o MP deve aditar a inicial – art.384, CPP (mutatio libeli).
3) Resultado naturalístico involuntário: em REGRA, o crime culposo é MATERIAL (exige modificação no mundo exterior).
ATENÇÃO! Há casos excepcionais de crimes culposos não naturalísticos (formal ou de mera conduta). Ex: art.38, Lei de Drogas.
5) Resultado involuntário previsível: deve haver a POSSIBILIDADE DE PREVER o perigo advindo da conduta.
E a previsibilidade subjetiva? Esta é a possibilidade de conhecimento do perigo, analisada sob o prisma subjetivo do
autor, levando em consideração seus dotes intelectuais, sociais e culturais. É a exigibilidade de conduta diversa, analisada na
culpabilidade.
6) Tipicidade (art.18, p.u., CP): se o tipo penal quer punir a forma culposa, deve prever expressamente tal possibilidade. No
silêncio, só se pune a título de dolo. É o princípio da excepcionalidade do crime culposo.
CP, Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o
pratica dolosamente.
@dicas.exconcurseira 38
ESPÉCIES DE CULPA
1) Culpa CONSCIENTE/COM PREVISÃO/EX LASCIVIA: o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, supondo
poder evitá-lo com suas habilidades ou com a sorte. O agente tem PREVISÃO.
2) Culpa INCONSCIENTE/SEM PREVISÃO/EX IGNORANTIA: o agente não prevê o resultado que, entretanto, era PREVISÍVEL.
Qualquer pessoa de diligência média teria condições de prever o risco.
3) Culpa PRÓPRIA/PROPRIAMENTE DITA: o agente não quer e não assume o risco de produzir o resultado, mas acaba lhe
dando causa por imprudência, negligencia ou imperícia. É gênero, que tem como espécies a culpa consciente e inconsciente.
4) Culpa IMPRÓPRIA/POR EQUIPARAÇÃO/ASSIMILAÇÃO/EXTENSÃO: é aquela em que o agente, por ERRO EVITÁVEL, imagina
certa situação de fato que, se presente, excluiria a ilicitude (descriminante putativa). O agente provoca intencionalmente o
resultado, mas responde por culpa por razões de política criminal. Art.20, §1º, 2ª parte, CP.
* A estrutura do crime é dolosa, mas o agente é punido a título de culpa.
* Este É O ÚNICO TIPO DE CULPA QUE ADMITE A TENTATIVA. Afinal, sua estrutura é de crime doloso.
CP, art.20, §1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se
existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
5) Culpa PRESUMIDA/IN RE IPSA: modalidade de culpa admitida pela legislação penal anterior ao Código de 1940, consistente
na simples inobservância de uma disposição regulamentar.
VOLUNTARIEDADE - RESUMO
CONSCIÊNCIA VONTADE
DOLO DIRETO PREVISÃO QUERER
DOLO EVENTUAL PREVISÃO ACEITAR O RESULTADO
CULPA CONSCIENTE PREVISÃO NÃO TEM VONTADE DE REALIZAR O
RESULTADO
CULPA INCONSCIENTE PREVISIBILIDADE RESULTADO INVOLUNTÁRIO
(sem previsão)
CRIME PRETERDOLOSO
CP, Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos
culposamente.
No crime preterdoloso, o agente pratica delito distinto do que havia projetado cometer, advindo da conduta dolosa
resultado culposo mais grave do que o projetado. Cuida-se de figura híbrida, havendo concurso de dolo no antecedente e culpa
no consequente.
Elementos:
a) Conduta dolosa visando determinado resultado
b) Provocação de resultado culposo mais grave que o desejado
c) Nexo causal entre conduta e resultado
d) Tipicidade (não se pune crime preterdoloso sem previsão legal)
@dicas.exconcurseira 39
Aula 09
ERRO DE TIPO
Conceito: falsa percepção da realidade. Cuida-se da ignorância ou erro que recai sobre as elementares, circunstâncias ou
qualquer dado agregado ao tipo penal.
Ex: Fulano se apodera de material na rua, imaginando tratar-se de coisa abandonada. Na verdade, o material era de
Beltrano, que reformava a sua casa.
CP, Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se
previsto em lei.
2) ERRO DE TIPO ACIDENTAL: erro sobre o objeto; erro sobre a pessoa; erro na execução; resultado diverso do pretendido;
erro sobre o nexo causal.
@dicas.exconcurseira 40
2.1. Erro sobre o OBJETO à teoria da concretização
ATENÇÃO! Somente haverá esta espécie de erro se a confusão de objetos materiais não interferir na essência do crime. Caso
contrário, deve ser tratado como erro de tipo essencial.
Ex: Senhora que cultiva pé de maconha no quintal de sua casa, imaginando ser planta ornamental à o objeto material
“droga” é a essência do tipo à este caso se configura erro de tipo essencial.
Consequências:
• Não exclui o dolo
• Não exclui culpa
• Não isenta o agente de pena
• O agente responde pelo crime considerando-se o objeto material efetivamente atingido à teoria da concretização.
CP, Art.20, § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. NÃO se consideram, neste caso,
as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
Conceito: equivocada representação do objeto material (pessoa visada) pelo agente. Em decorrência do erro, o agente
acaba atingindo pessoa diversa.
Ex: Fulano quer matar seu pai (vítima virtual); porém, representando equivocadamente a pessoa que entra na casa,
acaba matando o seu tio (vítima real).
ATENÇÃO! Reparem que não houve erro na execução, mas sim confusão mental.
Consequências:
• Não exclui dolo
• Não exclui culpa
• Não isenta o agente de pena
• Responde pelo crime, mas deve ser punido considerando as qualidades da vítima virtual à teoria da equivalência.
CP, Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela (pessoa pretendida à TEORIA DA
EQUIVALÊNCIA), atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o
agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código (concurso formal próprio).
@dicas.exconcurseira 41
Conceito: por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente acaba atingindo pessoa diversa da
pretendida.
Ex: Fulano mira seu pai, mas por falta de habilidade no manuseio da arma, acaba atingindo seu vizinho que passava do
outro lado da rua à não existe confusão mental, mas sim erro na execução.
Consequências:
a) Aberratio ictus com resultado único: o agente atinge somente a pessoa diversa da pretendida.
• Será punido considerando-se as qualidades da vítima pretendida à teoria da equivalência
b) Aberratio ictus com resultado duplo (unidade complexa): o agente atinge a vítima real e a vítima virtual.
• Responderá pelos dois crimes em concurso formal.
Obs1: Se o erro na execução envolver “coisa” (e não “pessoa”), deve ser tratado como “erro sobre o objeto.
Obs2: Também no erro na execução temos 2 personagens: vítima virtual e vítima real.
Obs3: A vítima foi corretamente representada, mas o crime foi mal executado.
ABERRATIO ICTUS POR ACIDENTE ABERRATIO ICTUS POR ERRO NO USO DOS MEIOS DE
EXECUÇÃO
Não há erro no golpe, mas desvio na execução Existe erro no golpe
- Desvio na execução em razão da inabilidade do agente no
uso do instrumento
A vítima visada pode ou não estar no local A vítima visada está no local
Ex: “A” coloca uma bomba no carro de “B”, para explodir Ex: “A” atira para matar “B”, mas, por inabilidade, acaba
quando acioná-lo. Naquele dia, quem ligou o carro foi a atingindo a esposa de “B”
esposa de “B”
PROBLEMA: Fulano, querendo matar seu pai, atira, mas, por erro, apesar de ferir a vítima visada, acaba matando o vizinho.
1ª Corrente (Damásio): o atirador responde por homicídio doloso consumado, considerando as qualidades do pai +
lesão corporal culposa do vizinho, em concurso formal.
2ª Corrente (Fragoso): o atirador deve responder por tentativa de homicídio do pai + homicídio culposo do vizinho, em
concurso formal. Para o professor, esta corrente é mais coerente.
CP, Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior*, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso
do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
* a aberratio criminis não deixa de ser um erro na execução.
Conceito: por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente atinge bem jurídico distinto daquele que
pretendia atingir.
@dicas.exconcurseira 42
Ex: Fulano que danificar o carro de Beltrano. Atira uma pedra contra o veículo, mas acaba atingindo o motorista, que
vem a falecer. à queria atingir “coisa”, mas atingiu “pessoa” (bens jurídicos distintos).
Consequências:
• O agente responde pelo resultado produzido (diverso do pretendido), a título de culpa;
• Em caso de resultado duplo, haverá concurso formal;
• Em nosso exemplo, o agente que atirou a pedra responde por homicídio a título culposo (a tentativa de dano fica
absorvida).
CUIDADO! A regra do art.74, CP deve ser afastada quando o resultado pretendido é mais grave do que o resultado pretendido
à hipótese em que o agente responde pelo resultado pretendido na forma tentada. Ex: Fulano quer matar Beltrano. Atira uma
pedra contra a cabeça de Beltrano, mas acaba atingindo o veículo da vítima.
Obs: Se o art.74 fosse aplicado nesse caso, o atirar teria que responder por dano culposo (fato atípico).
2 – Erro sobre o nexo causal em sentido amplo/DOLO GERAL/ERRO SUCESSIVO/ABERRATIO CAUSAE: o agente, mediante
conduta desenvolvida em pluralidade de atos, provoca o resultado pretendido, porém com outro nexo.
Ex: “A” dispara (nexo visado) contra “B” (1º ato). Imaginando que “B” está morto, joga seu corpo no mar (2º ato). “B”
morre afogado (nexo real). à princípio unitário = o agente responde por um só crime
Consequência: o agente responde pelo crime produzido, prevalecendo considerar-se o nexo real, que efetivamente
aconteceu.
* PROBLEMA: Fulano quer matar um agente federal em serviço. Por acidente, acaba matando outra pessoa que passava pelo
local. O crime de homicídio será processado e julgado por qual justiça: federal ou estadual?
CP CPP
Art.73: vítima virtual à fins penais Competência: vítima real à Justiça Estadual
OBS: o CPP não trabalha com erro de tipo.
* Erro de subsunção
Exs:
- Documento público por equiparação (art.297, §2º, CP);
- Conceito de funcionário público para fins penais (art.327, CP).
Consequência:
• Não exclui o dolo;
• Não exclui a culpa;
• Não isenta o agente de pena;
• Responde pelo crime, mas pode ter sua pena atenuada (art.65, 66, CP).
Conceito: no erro determinado por terceiro, temos um erro induzido (≠erro de tipo, em que o agente erra por contra
própria).
Ex: médico, com a intenção de matar o paciente, induz a enfermeira a ministrar dose letal do medicamento ao
paciente.
Consequência: responde pelo crime o terceiro que determina o erro (no nosso exemplo, o médico responde por
homicídio doloso na condição de autor mediato).
E o agente provocado? Em regra, não pratica crime, pois é um instrumento nas mãos do agente provocador. Se a
enfermeira agiu com dolo ou culpa, será então responsabilizada pelo evento.
@dicas.exconcurseira 44
Aula 10
CRIME COMISSIVO
O Direito Penal protege determinados bens jurídicos proibindo condutas consideradas desvaliosas. CONCLUSÃO: O
crime comissivo nada mais é do que uma conduta desvaliosa proibida pelo tipo incriminador (ação que viola um tipo proibitivo).
Ex: art.121, CP.
CRIME OMISSIVO
O Direito Penal também protege bens jurídicos proibindo a inação de condutas valiosas.
CONCLUSÃO: O crime omissivo é a não realização, isto é, omissão de uma conduta valiosa a que o agente estava juridicamente
obrigando e que lhe era possível. Viola-se um tipo mandamental.
A omissão viola um tipo mandamental. A norma mandamental que determina a ação valiosa pode decorrer:
E se o agente desconhece que tem o dever de agir? Incorrerá em erro mandamental, que, para a 1ª corrente, é espécie
de erro de tipo; e que, para a 2ª corrente (maioria), considera-se erro de proibição.
O dever de agir – previsto em cláusula geral – está acrescido do dever de evitar o resultado.
Art.13, §2º, CP: hipóteses de dever jurídico à garantidores.
a) Tenha, por lei, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
Ex1: pais em relação aos filhos à mãe que omite o dever de alimentar filho de tenra idade, que vem a falecer à responde pelo
art.121, CP
Ex2: bombeiro que omite socorro, ocasionando a morte da vítima em perigo à responde pelo art.121, CP.
@dicas.exconcurseira 45
OMISSÃO PRÓPRIA OMISSÃO IMPRÓPRIA
(simples omitente) (garantidor)
Dever de agir (dever genérico) Dever de agir para evitar o resultado (dever jurídico)
O dever de agir decorre do tipo O dever de agir decorre de cláusula geral (e não do próprio tipo
incriminador)
O agente responde por crim omissivo O omitente responde por crime comissivo por omissão
O tipo penal incriminador é composto de ação seguida de omissão. Ex: apropriação de coisa achada (art.169, p.u., II,
CP).
CP, II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.
1) Resultado NATURALÍSTICO/MATERIAL: modificação do mundo exterior (perceptível pelos sentidos), provocada pelo
comportamento do agente.
CUIDADO! Não são todos os crimes que possuem ou exigem resultado naturalístico.
a) Crime MATERIAL: tem resultado naturalístico descrito no tipo, sendo indispensável sua ocorrência para a consumação.
Ex: homicídio.
b) Crime FORMAL/DE CONSUMAÇÃO ANTECIPADA: tem resultado naturalístico descrito no tipo, sendo dispensável sua
ocorrência para a consumação. Ex: extorsão.
c) Crime de MERA CONDUTA: não tem resultado naturalístico descrito no tipo. Ex: violação de domicílio.
2) Resultado JURÍDICO/NORMATIVO: lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (princípio da lesividade).
1 – Crime DE DANO: quando a consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: art.121, CP.
CUIDADO! O crime de dano não é necessariamente um crime material.
@dicas.exconcurseira 46
2 – Crime DE PERIGO: a consumação se contenta com a exposição do bem jurídico a uma situação de perigo. O crime de perigo
pode ser:
O simples fato do condutor do veículo estar embriagado não gera a presunção de que tenha havido dolo eventual
A embriaguez do agente condutor do automóvel, por si só, não pode servir de premissa bastante para a afirmação do dolo
eventual em acidente de trânsito com resultado morte. A embriaguez do agente condutor do automóvel, sem o acréscimo de
outras peculiaridades, não pode servir como presunção de que houve dolo eventual. STJ. 6ª Turma. REsp 1689173-SC, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, julgado em 21/11/2017 (Info 623).
Crime de lesão corporal na direção de veículo não permite absorção do delito de embriaguez ao volante
Não é possível reconhecer a consunção do delito previsto no art. 306, do CTB(embriaguez ao volante) pelo crime do art. 303
(lesão corporal culposa na direção de veículo automotor). Isso porque um não é meio para a execução do outro, sendo infrações
penais autônomas que tutelam bens jurídicos distintos. Caso concreto: motorista conduzia seu veículo em estado
de embriaguez quando atropelou um pedestre. Após a colisão, policiais militares submeteram o condutor ao teste de
bafômetro, que atestou a ingestão de álcool. STJ. 5ª Turma. REsp 1629107/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/03/2018.
STJ.6ª Turma. AgRg no HC 442.850/MS, Rel. Laurita Vaz, julgado em 25/09/2018.
Juiz da 1ª fase do Júri deve examinar se o agente que conduzia o veículo embriagado praticou homicídio doloso ou culposo
Na primeira fase do Tribunal do Júri ao juiz togado cabe apreciar a existência de dolo eventual ou culpa consciente do condutor
do veículo que, após a ingestão de bebida alcoólica, ocasiona acidente de trânsito com resultado morte. STJ. 6ª Turma. REsp
1689173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 21/11/2017 (Info 623).
@dicas.exconcurseira 47
3º REQUISITO DO FATO TÍPICO (Art.13, caput, CP) à CAUSALIDADE
Relação de causalidade: é o vínculo entre conduta e resultado. É a relação de produção entre a causa eficiente e o
efeito ocasionado. Busca aferir se o resultado pode ser atribuído objetivamente ao sujeito ativo como obra do seu
comportamento típico.
CP, Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa
a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
O art.13, caput, adotou, ao definir “causa”, a teoria da equivalência dos antecedentes causais/teoria da equivalência
das condições/teoria da causalidade simples/teoria da condição generalizada/teoria da conditio sine qua non. Para o art.13,
todo fato sem o qual o resultado não teria ocorrido é considerado causa.
Mas, como saber se o fato foi determinante para o resultado?
Método empregado no campo mental da suposição ou da cogitação, através do qual causa é todo fato que, suprimido
mentalmente, o resultado não teria ocorrido como ocorreu ou no momento em que ocorreu.
FÓRMULA:
1ª Pergunta: causa da morte? De acordo com o art.13, CP, causa é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.
2ª Pergunta: como saber qual ação ou omissão foi determinante para o resultado? Através do método da eliminação hipotética.
CAUSA OBJETIVA = teoria da equivalência dos antecedentes causais + teoria da eliminação hipotética.
A imputação do crime, no entanto, não regressa ao infinito, pois é indispensável a CAUSALIDADE PSÍQUICA (se o agente
agiu com dolo ou culpa), evitando responsabilidade penal objetiva.
FÓRMULAS:
CAUSA OBJETIVA = teoria da equivalência dos antecedentes causais + teoria da eliminação hipotética.
IMPUTAÇÃO DO CRIME = causa objetiva + causalidade psíquica (dolo ou culpa)
CONCAUSAS
O resultado, não raras as vezes, é feito de pluralidade de comportamentos, associação de fatores, entre os quais a
conduta do agente aparece como seu principal (mas não único) elemento desencadeante. Ex: Fulano dá veneno para Beltrano.
Horas depois, Beltrano é atropelado e morre.
Espécies de concausas:
Ex: Fulano, às 20h, insidiosamente, serve veneno para Beltrano. Uma hora depois, quando o veneno começa a fazer
efeito, Sicrano, inimigo de Beltrano, aparece e dá um tiro no desafeto. Beltrano morre no dia seguinte em razão do veneno.
• Causa efetiva: veneno (Fulano);
• Causa concorrente: disparo de arma de fogo (Sicrano).
Obs1: o veneno (causa efetiva) não se origina do disparo (é causa absolutamente independente do disparo).
@dicas.exconcurseira 48
Obs2: o veneno preexiste ao disparo.
Obs3: Fulano, que serviu o veneno, responde por crime de homicídio consumado.
Obs4: E Sicrano, autor do disparo? Responde pelo quê? De acordo com a causalidade simples, o resultado morte não pode ser
imputado a Sicrano, pois, eliminando o disparo, Beltrano morreria de todo jeito. Sicrano responde por tentativa de homicídio.
Ex: Enquanto Fulano envenenava Beltrano, supreendentemente surge Sicrano, que atira contra Beltrano, causando a
sua morte.
• Causa efetiva: disparo (Sicrano);
• Causa concorrente: veneno (Fulano)
Obs4: E Fulano, que envenenou a vítima? De acordo com a causalidade simples, o resultado não pode ser imputado a Fulano,
pois sua conduta não foi determinante para o resultado. Fulano responde por homicídio tentado.
Ex: Fulano ministra veneno em Beltrano. Antes do psicotrópico “fazer efeito”, Beltrano, enquanto descansava, viu o
lustre cair na sua cabeça. Beltrano morre em razão de traumatismo craniano.
• Causa efetiva: queda do lustre (traumatismo craniano);
• Causa concorrente: veneno (Fulano).
Obs4: E Fulano, que envenenou a vítima? De acordo com a causalidade adequada, o resultado morte não pode ser imputado à
Fulano, pois seu comportamento não foi determinante. Fulano responde por tentativa de homicídio.
Ex: Fulano, portador de hemofilia, é vítima de um golpe de faca, executado por Beltrano. O ataque para matar produziu
lesão leve, mas em razão da doença preexistente acabou sendo suficiente para matar a vítima.
• Causa efetiva: a doença
• Causa concorrente: o golpe de faca
Obs4: E Fulano, autor do golpe de faca? De acordo com a causalidade simples, o resultado deve ser imputado à Fulano, pois seu
comportamento foi determinante. Fulano responde por homicídio consumado.
@dicas.exconcurseira 49
ATENÇÃO! Para evitar responsabilidade penal objetiva, o Direito Penal moderno, em casos como a morte do hemofílico, corrige
essa conclusão, de maneira que somente seria possível imputar homicídio consumado ao agente caso ele soubesse da condição
de saúde da vítima. Do contrário, haveria tentativa de homicídio.
Obs4: e a conduta de Fulano? De acordo com a causalidade simples, o resultado deve ser imputado à Fulano, pois seu
comportamento foi determinante para a morte. Fulano responde por homicídio consumado.
CP, art.13, §1º - A superveniência de causa relativamente independente EXCLUI a imputação quando, por si só, produziu o
resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Neste caso do §1º, aplica-se a teoria da causalidade adequada/teoria da condição qualificada/teoria da condição
individualizadora. Considera-se causa a pessoa, fato ou circunstância que, além de praticar um antecedente indispensável à
produção do resultado (que para a causalidade simples é o que basta), realize uma atividade adequada à sua concretização.
O problema da causalidade superveniente se resume em assentar, conforme demonstra a experiência da vida, se o fato
conduz normalmente a um resultado dessa índole (resultado como consequência normal, provável, previsível do
comportamento humano).
@dicas.exconcurseira 50
Aula 11
Busca delimitar a imputação, sob o aspecto objetivo, evitando regresso ao infinito gerado pela teoria da causalidade
simples.
A solução para evitar o regresso ao infinito da causalidade simples foi acrescentar ao estudo da causalidade o nexo
normativo.
a) Criação ou incremento de um risco proibido: entende-se por risco proibido aquele não tolerado pela sociedade. Ex: Fulano,
percebendo que seu amigo vai ser atropelado por um veículo desgovernado, empurra Beltrano ao chão para evitar o
atropelamento, fraturando o braço do amigo. Posso imputar à Fulano a fratura do braço do amigo?
b) Realização do risco no resultado: o resultado deve estar na linha de desdobramento causal normal da conduta. Ex: Fulano
dispara contra Beltrano visando matá-lo. Beltrano, gravemente ferido, é levado até o hospital. Beltrano morre em razão do erro
médico.
@dicas.exconcurseira 51
c) Resultado dentro do alcance do tipo: o perigo pelo comportamento do agente deve ser alcançado pelo tipo, modelo de
conduta que não se destina a impedir todas as contingências do cotidiano. Ex: Fulano atira em Beltrano para matar. A vítima é
socorrida e transportada numa ambulância para cirurgia de emergência. No trajeto, a ambulância, em alta velocidade, colide
contra um poste, matando o paciente.
A prognose póstuma objetiva se resume a um juízo de apreciação do aumento do risco, em que o magistrado no transcurso do
processo, isto é, ulteriormente à ocorrência do fato, coloca-se, hipoteticamente, como um observador na cena do ato, em
momento anterior à sua prática, considerando os conhecimentos de uma pessoa prudente do círculo social do agente. Somado
a isso, acrescente-se os conhecimentos especiais deste naquela ocasião. Pronto, esta é a fórmula de análise da prognose
póstuma objetiva.
“Prognose, porque é um juízo formulado de uma perspectiva ex ante, levando-se em conta apenas dados conhecidos no
momento da prática da ação; Objetiva, porque a prognose parte dos dados conhecidos por um observador objetivo, por um
homem prudente, cuidadoso – e não apenas por um homem médio – pertencente ao círculo social em que se encontra o autor.
Póstuma, porque, apesar de tomar em consideração apenas os fatos conhecidos pelo homem prudente no momento da prática
da ação, a prognose não deixa de ser realizada pelo juiz, ou seja, depois da prática do fato” (GRECO, 2007, p.25-26)
CONCLUSÃO: basta o agente não agir sem risco pessoal. Não se questiona o nexo de causalidade. É delito de mera
conduta (sem resultado naturalístico).
ATENÇÃO! Em determinados crimes omissivos próprios, é possível ligá-los a resultados naturalísticos que funcionam
como qualificadoras ou causa de aumento. Nessas hipóteses, é indispensável comprovar a relação de causalidade (de não
impedimento) entre a omissão e o resultado ocorrido.
CP, Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se
resulta a morte.
@dicas.exconcurseira 52
4º REQUISITO DO FATO TÍPICO: TIPICIDADE PENAL
DOUTRINA TRADICIONAL
Fato típico:
a) Conduta
b) Resultado
c) Nexo causal
d) Tipicidade penal = tipicidade formal (ajuste perfeito do fato à norma)
Ex: subtrair caneta bic é fato típico.
DOUTRINA MODERNA
Fato típico:
a) Conduta
b) Resultado
c) Nexo causal
d) Tipicidade penal = tipicidade formal + tipicidade material (relevância da lesão ou do perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado)
1ª Corrente: o segundo substrato do crime é a ILICITUDE (não se podendo falar em antijuridicidade). É sabido que, na teoria
geral do Direito, “crime” constitui fato jurídico.
CONCLUSÃO: a expressão “antijurídico” como elementar do crime causa contradição.
2ª Corrente: o segundo substrato do crime é a ILICITUDE ou ANTIJURIDICIDADE. A contradição apontada pela 1ª corrente é
aparente, pois o termo antijuridicidade é usado exclusivamente na teoria geral do crime, não se confundindo com a teoria geral
do Direito.
ILICITUDE: CONCEITO
Conduta típica NÃO JUSTIFICADA, espelhando a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico
como um todo.
@dicas.exconcurseira 53
Ex: Fulano mata Beltrano à temos um fato típico. Comprovado que Fulano agiu em legítima defesa, exclui a ilicitude, mas
permanece o fato típico.
Comprovada a causa de exclusão da Comprovado que o fato não ocorreu Ficou a dúvida se o fato típico é ou não
ilicitude sob o manto de descriminante ilícito
ABSOLVE CONDENA CONDENA, pois o ônus da prova é da
defesa, não se aplicando o in dubio pro
reu
Mas...
CPP, Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do
Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência;
Comprovada a causa de Comprovada a ilicitude Ficou a DÚVIDA se presente Ficou a FUNDADA DÚVIDA
exclusão da ilicitude a descriminante se presente a descriminante
ABSOLVE CONDENA CONDENA ABSOLVE
Regra: art.23, CP
Descriminantes na parte especial do CP – ex: aborto permitido (art.128)
Exclusão de ilicitude
CP, Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
@dicas.exconcurseira 54
ESTADO DE NECESSIDADE
CP, Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-
se.
§1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3.
A noção de estado de necessidade remete à ideia de sopesamento de bens diante de uma situação adversa. Se há 2
bens em perigo, permite-se que seja sacrificado um deles, pois a tutela penal não consegue proteger ambos.
Fundamento jurídico: reside no conflito de interesses diante de situação adversa. O agente atua movido pelo espírito
de conservação, de preservação, de proteção do bem jurídico em risco.
2 – Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pelo agente: se o agente é o causador voluntário do
perigo, não pode alegar estado de necessidade.
2ª Corrente (Mirabete): ser causador voluntário é ser causador doloso ou culposo do perigo.
CONCLUSÃO: mesmo o agente que negligentemente provoca incêndio no cinema, não pode alegar estado de necessidade do
mesmo modo que o causador doloso. O causador se torna um “garantidor” (art.13, §2º, “c”, CP).
2ª Corrente: na salvaguarda do interesse de terceiro, só é dispensável a autorização do titular do direito ameaçado quando se
tratar de bem indisponível; se disponível, é necessária a autorização.
@dicas.exconcurseira 55
2ª Corrente (prevalece; Exposição de Motivos do CP): por dever legal entende-se o dever jurídico de agir, abrangendo todas as
hipóteses do art.13, §2º, CP (“a”, “b” e “c”).
CONCLUSÃO: bombeiro e salva-vidas de um clube tem o dever legal de enfrentar o perigo.
Quanto ao terceiro que sofre a ofensa, a doutrina classifica o estado de necessidade em:
a) Estado de necessidade DEFENSIVO: sacrifica-se bem jurídico do próprio causador do perigo.
b) Estado de necessidade OFENSIVO: sacrifica-se bem jurídico de pessoa alheia ao perigo. Neste caso, há obrigação de reparar o
dano.
Requisito subjetivo: exige do agente conhecimento da situação justificante (consciência e vontade de salvar de perigo
atual direito próprio ou de terceiro).
Aula 12
LEGÍTIMA DEFESA
CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual
ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Requisitos objetivos:
1 – Agressão injusta: conduta humana contrária ao direito que ataca ou coloca em perigo bens jurídicos de alguém.
2ª Corrente: para caracterizar legítima defesa, a agressão deve ser dirigida a destinatário certo, pressupondo dolo. A agressão
culposa é, na verdade, um perigo atual, autorizando estado de necessidade.
ATENÇÃO! Uma vez constatada a injusta agressão, o agredido pode rebatê-la, NÃO se lhe exigindo fuga do local. Fuga do local =
commodus discessus.
Commodus Discessus
Não é requisito da legítima defesa. É requisito do estado de necessidade.
Para Roxin, não se deve conceder a ninguém um direito ilimitado de legítima defesa face à agressão de um inimputável,
de modo que a excludente de ilicitude não se aplica a todas as situações, mas apenas naquelas em que a reação/combate se
mostra inevitável.
CONCLUSÃO: dessa forma, para Roxin, o commdus discessus seria requisito também da legítima defesa, quando a agressão fosse
praticada por inimputável.
ATAQUE DE ANIMAL
ATAQUE NÃO PROVOCADO ATAQUE PROVOCADO PELO DONO
Configura perigo atual Configura agressão injusta
Estado de necessidade Legítima defesa
Sendo possível a fuga, a pessoa não deve abater o animal Mesmo sendo possível a fuga, a pessoa atacada pode reagir
OBS: uma conduta culposa coloca em perigo pessoas indeterminadas; e a legítima defesa exige destinatário certo.
@dicas.exconcurseira 57
Legítima defesa x Erro na execução
“A”, querendo agredir “B”, o ameaça com um revólver. “B”, na reação, acaba atingindo “C”. “B” pode alegar legítima defesa?
1ª Corrente (prevalece): o art.73, CP manda considerar a vítima pretendida (teoria da equivalência). Assim, “B” pode alegar a
legítima defesa.
2ª Corrente (Aníbal Bruno): não havendo reação contra o agressor, atingindo um inocente, “B” pode alegar estado de
necessidade (e não legítima defesa).
ATENÇÃO!
Legítima defesa simultânea: pressupondo agressão injusta, NÃO É POSSÍVEL duas pessoas, simultaneamente, uma contra a
outra, agindo em legítima defesa.
Legítima defesa sucessiva: nada impede legítima defesa sucessiva, que é a reação contra o excesso do agressor.
Legítima defesa putativa (ato injusto) x legítima defesa putativa (ato injusto): nenhum dos dois pode alegar excludente de
ilicitude.
Legítima defesa x Estado de necessidade à a legítima defesa pressupõe agressão injusta, isto é, contrária ao Direito. O estado
de necessidade é comportamento permitido por lei. CONCLUSÃO: não é possível legítima defesa x estado de necessidade.
Temos, neste caso, estado necessidade x estado de necessidade.
ATENÇÃO! A Lei 13.964/2019 (Lei do Pacote Anticrime) acrescentou um parágrafo único ao art.25 do CP. Vejamos:
CP, Art.25, Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo (MODERAÇÃO + NECESSIDADE), considera-
se também em legítima defesa o AGENTE DE SEGURANÇA PÚBLICA que REPELE agressão ou risco de agressão a VÍTIMA
MANTIDA REFÉM durante a prática de crimes.
Comentários do prof. Fábio Roque: esta não é uma alteração substancial, pois tal situação narrada já era abarcada pela
legítima defesa. O legislador veio explicitar esta hipótese. A situação é: um sujeito vai praticar um roubo em uma casa, chega a
polícia e o sujeito decide manter o morador refém. Neste caso, um atirador de elite (sniper) pode atirar no sujeito para
salvaguardar a vida do morador. CUIDADO! Não se tratava, como muitos pensam, de “estrito cumprimento do dever legal”, pois
não existe o dever legal de matar. Então, o atirador, na verdade, se enquadra na situação de “legítima defesa de terceiro”.
O agente público, no desempenho de suas atividades, não raras as vezes é obrigado, por lei (em sentido amplo), a violar um
bem jurídico. Essa intervenção lesiva, dentro de limites aceitáveis, é justificada pelo estrito cumprimento de um dever legal.
Ex1: Policial que emprega violência necessária para executar prisão em flagrante de perigoso bandido (art.301, CPP).
Ex2: Juiz, na sentença, emite conceito desfavorável quando se reporta ao sentenciado (art.142, III, CP).
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
Obs1: estrito cumprimento do dever legal à por “dever legal”, entenda-se todas as espécies normativas.
Obs2: Francisco de Assis Toledo ensinava que a expressão “dever legal” abrange também os costumes.
Obs3: estrito cumprimento do dever legal é norma penal em branco, que deve ser complementada por outra norma jurídica. Ex:
policial que prendeu em flagrante delito preciso do art.301, CPP.
Obs4: o agente deve ter conhecimento de que está praticando a conduta em face de dever imposto por lei (aspecto subjetivo da
descriminante).
Obs5: para os adeptos da tipicidade conglobante, o estrito cumprimento do dever legal não serve como excludente da ilicitude,
mas sim da própria tipicidade.
@dicas.exconcurseira 58
O particular pode alegar estrito cumprimento do dever legal?
1ª Corrente (Mirabeti): essa descriminante é exclusiva dos agentes públicos. Abrange os particulares apenas quando no
exercício da função pública (ex: mesário).
2ª Corrente (Flávio Monteiro de Barros e maioria da doutrina): particular também pode invocar essa descriminante. Ex:
advogado que se recusa a depor em juízo em razão do dever de sigilo profissional.
Compreende condutas do cidadão comum, autorizadas pela existência de um direito definido em lei e condicionadas à
regularidade do exercício desse direito. DICA:
Ex1: qualquer do povo prendendo perigoso assaltante em flagrante delito à exercício regular de direito previsto no art.301,
CPP. É exercício regular de direito pro magistratu: o Estado, não podendo estar presente para impedir a ofensa a um bem
jurídico ou recompor a ordem pública, incentiva o cidadão a atuar no seu lugar.
Ex2: luta de boxe (a violência empregada nesse esporte também caracteriza exercício regular de direito).
Ex3: possuidor de boa-fé que retém coisa alheia para ressarcir-se das benfeitorias necessárias e úteis não pagas (art.1219, CC).
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
Obs1: Essa descriminante também deve ser complementada por outra norma, que anuncia o direito do cidadão à é mais uma
espécie de descriminante penal em branco
Obs2: Para configurar o exercício regular de direito, é indispensável proporcionalidade + indispensabilidade + conhecimento da
situação do fato justificante (aspecto subjetivo).
Obs3: Para os adeptos da tipicidade conglobante, o exercício regular do direito não exclui a ilicitude, mas a própria tipicidade
penal.
OFENDÍCULOS
Aparato preordenado para a defesa do patrimônio. Exs: cerca elétrica, cacos de vidro, animal.
Natureza jurídica:
1ª Corrente: legítima defesa.
3ª Corrente (prevalece)
- Enquanto não acionado: exercício regular do direito.
- Quando acionado: legítima defesa preordenada.
4ª Corrente:
OBS: independentemente da corrente que se adota, o ofendículo traduz direito do cidadão de defender seu patrimônio,
devendo ser utilizado com prudência e consciência, evitando excessos.
@dicas.exconcurseira 59
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO: Requisitos à CAUSA SUPRALEGAL EXCLUDENTE DA ILICITUDE
1 – O dissentimento (não consentimento) não pode integrar o tipo penal, não pode ser elementar do tipo.
ATENÇÃO! Se o não consentimento é elementar do tipo, o consentimento do ofendido exclui a própria tipicidade.
4 – Bem disponível
5 – Bem próprio
6 – Consentimento prévio ou simultâneo à lesão ao bem jurídico à o consentimento posterior não exclui a ilicitude, mas pode
refletir na punibilidade (pode configurar renúncia ou perdão, nos crimes de ação penal privada)
OBS: a doutrina moderna postula rotula a integridade física como bem disponível, desde que a lesão seja leve e não contrarie à
moral e aos bons costumes.
1 – O agente supõe agir sob o manto de uma justificante em razão do ERRO quanto à sua EXISTÊNCIA ou seus LIMITES.
Apesar de conhecer a situação de fato, ignora a ilicitude do comportamento.
Ex: Fulano, depois de ser agredido com um tapa no rosto, acredita estar autorizado a revidar com um disparo de arma de fogo
à Fulano erra quanto aos LIMITES da legítima defesa.
CONCLUSÃO: este erro deve ser equiparado a ERRO DE PROIBIÇÃO (é o chamado ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO ou ERRO DE
PERMISSÃO).
2 – O agente engana-se quanto aos pressupostos fáticos do evento. Supõe estar diante de uma situação de fato que, na
realidade, não existe. Prevista no art.20, §1º, CP.
Ex: Fulano, acreditando que seu inimigo Beltrano vai agredi-lo, adianta-se e atira contra o desafeto, percebendo, depois, que
Beltrano jamais queria ataca-lo. à Fulano equivocou-se quanto aos pressupostos fáticos da legítima defesa, imaginando uma
injusta agressão que nunca existiu.
O erro sobre os pressupostos fáticos deve ser tratado como erro de tipo ou erro de proibição?
1 – Teoria LIMITADA da Culpabilidade (BRASIL): o erro sobre os pressupostos fáticos deve equiparar-se a ERRO DE TIPO. Se
inevitável, exclui dolo e culpa; se evitável, pune a culpa, desde que prevista em lei.
2 – Teoria EXTREMADA da Culpabilidade: entende que esse erro equipara-se a erro de proibição. Quando inevitável, isenta o
agente de pena; se evitável, diminui a pena.
3 – Teoria EXTREMADA “SUI GENERIS” da Culpabilidade: o art.20, §1º, CP adotou as duas teorias anteriores, seguindo a
extremada quando o erro for inevitável; e a limitada quando o erro é evitável.
LEMBRANDO:
ERRO DE TIPO ERRO DE PROIBIÇÃO
Inevitável: exclui dolo e culpa Inevitável: isenta de pena
Evitável: pune a culpa, se prevista em lei Evitável: diminui a pena (de 1/6 a 1/3)
@dicas.exconcurseira 60
Aula 13
ITER CRIMINIS
Caminho percorrido pelo crime, conjunto de fases que se sucedem cronologicamente no desenvolvimento do delito
(doloso).
Fases:
1) Cogitação;
2) Preparação/Conatus Remotus
3) Execução
4) Consumação (quando, no crime, se reúnem todos os elementos de sua definição legal)
1 – Cogitação: ideação do crime. Esta fase é impunível (desdobramento lógico do princípio da materialização do fato); querer
punir a cogitação é direito penal do autor.
CUIDADO! Cogitação não implica, necessariamente, em premeditação.
2 – Atos Preparatórios/Conatus Remotus: o agente procura criar condições para a realização da conduta idealizada.
ATENÇÃO! Os atos preparatórios são, em regra, impuníveis. Exemplo de exceção: art.288, CP.
3 – Atos Executórios: traduzem a maneira pela qual o agente atua exteriormente para realizar o crime idealizado. Em regra,
somente os atos executórios são puníveis.
Atos preparatórios x Atos executórios – Ex: Fulano quer subtrair objetos do interior de um imóvel. Aguarda, na
esquina, o dono do imóvel deixar a residência. Depois que o dono sai, Fulano pula o muro e toma a intimidade da casa. Fulano
apodera-se do aparelho visado.
a) Teoria da hostilidade ao bem jurídico (critério material): para essa teoria, consideram-se atos executórios aqueles que
atacam o bem jurídico, criando-lhe concreta situação de perigo.
No exemplo anterior, essa teoria corresponde ao momento 1 (aguardar na esquina).
b) Teoria objetivo-formal: entende-se como ato executório aquele inicia a realização do núcleo do tipo.
No exemplo anterior, essa teoria corresponde ao momento 3 (apoderamento do bem),
c) Teoria objetivo-individual (STF e Zaffaroni): consideram-se atos executórios aqueles que, de acordo com o plano do agente,
ocorrem no período imediatamente anterior ao começo da realização do núcleo do tipo.
No exemplo anterior, essa teoria corresponde ao momento 2 (pula o muro e toma a intimidade do imóvel).
Também chamado de CRIME EXAURIDO ou CRIME ESGOTADO, é o delito em que, posteriormente à consumação, subsistem
efeitos lesivos derivados da conduta do autor. É o caso do recebimento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro,
desnecessário para fins de tipicidade, eis que se consuma com a privação da liberdade destinada a ser trocada por indevida
vantagem econômica.
@dicas.exconcurseira 61
Por guardar estreita relação com os CRIMES FORMAIS, o exaurimento é chamado por Zaffaroni e Pierangelli de CONSUMAÇÃO
MATERIAL.
No terreno da tipicidade, o exaurimento NÃO compõe o iter criminis, que se encerra com a consumação.
Influi, contudo, na dosimetria da pena.
Em alguns casos, o exaurimento pode funcionar como QUALIFICADORA (como se dá na resistência - art.329, §1º, CP) ou como
CAUSA DE AUMENTO DE PENA (como se dá na corrupção passiva - art.317, §1º, CP).
CRIME CONSUMADO
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
a) Crime MATERIAL: o tipo penal descreve conduta + resultado naturalístico e este é indispensável para a consumação. Ex:
homicídio.
b) Crime FORMAL/DE CONSUMAÇÃO ANTECIPADA: o tipo penal também descreve conduta + resultado naturalístico, mas este
é dispensável para a consumação. Ex: extorsão.
c) Crime de MERA CONDUTA: o tipo penal só descreve a conduta, não exigindo qualquer resultado naturalístico. Ex: violação de
domicílio.
d) Crime PERMANENTE: a consumação se protrai no tempo (até que o agente encerre a conduta delituosa). Exs: sequestro,
cárcere privado, extorsão mediante sequestro.
e) Crime HABITUAL: a consumação exige reiteração da conduta típica. Ex: exercer curandeirismo.
Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência.
CUIDADO! Crime consumado não se confunde com crime exaurido (esgotado plenamente). O exaurimento:
a) Pode servir como circunstância judicial desfavorável (utilizada na fixação da pena base);
b) Pode atuar como qualificadora – ex: art.329, §1º, CP (crime de resistência; se, em razão da resistência o ato não se executa,
qualifica-se o crime);
c) Pode caracterizar causa de aumento de pena – ex: art.317, §1º, CP (corrupção passiva).
d) Pode configurar crime autônomo – ex: art.148, §1º, V, CP (se houver atos libidonosos, o exaurimento pode configurar o crime
de estupro).
TENTATIVA
O art.14, II, CP atua como norma de extensão temporal, ampliando a proibição para alcançar fatos humanos
realizados de forma incompleta. É uma adequação típica indireta/mediata.
@dicas.exconcurseira 62
TEORIAS/SISTEMAS DE PUNIÇÃO DA TENTATIVA
1 – Teoria OBJETIVA/REALÍSTICA: observa o aspecto objetivo do delito (sob a perspectiva dos atos praticados pelo agente).
CONCLUSÃO: por ser objetivamente incompleta, a tentativa merece pena reduzida.
Em regra, o CP adota a TEORIA OBJETIVA à pune a tentativa com a pena reduzida de 1/3 a 2/3.
Excepcionalmente, o CP adota a TEORIA SUBJETIVA à pune a tentativa com a mesma pena do crime consumado. Ex:
art.352, CP (evasão mediante violência contra a pessoa), art.309, Código Eleitoral (votar ou tentar votar mais de uma vez).
CURIOSIDADE! Exemplos de crimes que são punidos apenas na forma tentada (só pune a tentativa; a consumação é fato
atípico): arts.11 e 17 da Lei 7170/83 – crimes de lesa pátria (tentar desmembrar parte do território nacional para constituir pais
independente + tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito).
ESPÉCIES DE TENTATIVA
b) Tentativa PERFEITA/ACABADA/CRIME FALHO: apesar de o agente praticar todos os atos executórios à sua disposição, não
consuma o crime por circunstâncias alheias à sua vontade.
DE OLHO NA JURIS! Na punição da tentativa, quanto maior o iter criminis percorrido pelo agente, menor será a fração da causa
de diminuição
Como regra, o Código Penal, em seu art. 14, II, adotou a teoria objetiva quanto à punibilidade da tentativa, pois, malgrado
semelhança subjetiva com o crime consumado, diferencia a pena aplicável ao agente doloso de acordo com o perigo de lesão ao
bem jurídico tutelado. Nessa perspectiva, jurisprudência do STJ adota critério de diminuição do crime tentado de forma
inversamente proporcional à aproximação do resultado representado: quanto maior o iter criminis percorrido pelo agente,
menor será a fração da causa de diminuição. STJ. 5ª Turma. HC 226359/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 02/08/2016.
b) Tentativa INIDÔNEA: o resultado era absolutamente impossível de ser alcançado. É o chamado crime impossível do art.17,
CP.
2 - Crime preterdoloso: o resultado que agrava ou qualifica o crime não é alcançado pelo dolo do agente (e sim a título de
culpa).
@dicas.exconcurseira 63
ATENÇÃO! É possível a tentativa quando a parte frustrada do crime é a dolosa.
3 – Crimes unissubsistentes: consideram-se consumados com a prática de um único ato; não admitem fracionamento da
execução.
3.1. Crime de mera conduta (obs: a “violação de domicílio” é uma exceção, pois admite a tentativa na modalidade “entrar”);
3.2. Crime omissivo próprio.
4 – Contravenção penal (até é possível tentativa de contravenção, mas ela não é punível).
5 – Crime de atentado ou de empreendimento: crime cuja forma tentada é punida com a mesma pena da consumação.
Ex: art.352, CP. Na realidade, o crime de atentado admite tentativa; o que não se admite é a redução da pena em razão da
tentativa.
7 – Crime condicionado ao implemento de um resultado: só serão puníveis se o evento descrito na norma efetivamente
ocorrer. Ex: induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
“A” induz “B” a se suicidar.
Se “B” morre à “A” responde pelo art.121 consumado;
Se “B” sofre lesão corporal grave à “A” responde pelo art.122;
Se “B” não more, nem sofre lesão corporal grave à fato atípico para “A”.
CP, art. 15 - O agente que, voluntariamente, DESISTE DE PROSSEGUIR na execução ou IMPEDE QUE O RESULTADO SE PRODUZA,
só responde pelos atos já praticados.
ATENÇÃO! A tentativa simples atua como norma de extensão temporal, em regra reduzindo a pena.
Já o art.15, CP, de acordo com a maioria, é causa de extinção da punibilidade da tentativa, respondendo o agente
pelos atos já praticados.
Ex1: Fulano quer subtrair o veículo de Beltrano. Pula o muro da casa, rompe o vidro do carro e, no momento em que ia
ligar o motor, desiste e abandona o local.
@dicas.exconcurseira 64
CONSEQUÊNCIA: a desistência extingue a punibilidade da tentativa de furto, respondendo o agente por violação de
domicílio e dano.
Ex2: Fulano quer matar Beltrano. Dispara contra a vítima e, ao vê-la pedindo socorro, se arrepende e a conduz até um
hospital onde é salva, mas sofre lesões graves.
CONSEQUÊNCIA: o arrependimento eficaz de Fulano extingue a punibilidade da tentativa de homicídio, respondendo
por lesão corporal de natureza grave.
DE OLHO NA JURIS! Arrependimento eficaz e desistência voluntária devem acontecer ANTES do crime se consumar
O instituto do arrependimento eficaz e da desistência voluntária somente são aplicáveis a delito que não tenha sido consumado.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1549809/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 02/02/2016.
CP, art. 15 - O agente que, voluntariamente, DESISTE DE PROSSEGUIR NA EXECUÇÃO (...), só responde pelos atos já praticados.
Conceito: o agente, por manifestação exclusiva do seu querer, desiste de prosseguir na execução do crime.
CUIDADO! O agente abandona o intento, quando ainda tinha atos executórios para serem praticados.
ATENÇÃO! A desistência tem que ser voluntária, ainda que não espontânea (admite-se interferência subjetiva externa). Não
configura desistência voluntária a influência objetiva externa, ex: alarmes, sirenes.
CP, art. 15 - O agente que, voluntariamente (...) IMPEDE QUE O RESULTA SE PRODUZA, só responde pelos atos já praticados.
Conceito: ocorre quando os atos executórios já foram todos praticados, porém, o agente, abandonando o intento,
desenvolve nova conduta para impedir o resultado.
LEMBRANDO: Nos crimes formais e nos crimes de mera conduta, o esgotamento dos atos executórios já consuma o crime.
@dicas.exconcurseira 65
ARREPENDIMENTO POSTERIOR (art.16, CP)
CP, Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o
recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de 1/3 a 2/3.
Requisitos:
a) Crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa +
Obs1: a violência contra a “coisa” não obsta o reconhecimento do arrependimento posterior.
Obs2: De acordo com a maioria, crimes culposos, mesmo que violentos, admites o benefício do arrependimento posterior.
Obs3: De acordo com a maioria, a violência imprópria (sem emprego de força física ou grave ameaça, o agente consegue
impedir a resistência da vítima) não impede o benefício. Ex: roubo com emprego do “boa noite cinderela”.
CONSEQUÊNCIA: uma vez atendidos todos os requisitos legais, a pena deverá ser reduzida de 1/3 a 2/3. A diminuição se
opera na terceira fase de aplicação da sanção penal e terá como parâmetro a maior ou menor presteza (celeridade e
voluntariedade) na reparação ou restituição.
2ª Corrente: o benefício exige voluntariedade, pressupondo ato pessoal, inviabilizando a comunicabilidade do arrependimento.
DE OLHO NA JURS! O arrependimento posterior (art. 16 do CP), por possuir natureza OBJETIVA, deve ser estendido aos corréus
O benefício do arrependimento posterior comunica-se aos coautores e partícipes que não tenham participado da restituição da
coisa ou da reparação do dano. Assim, uma vez reparado o dano integralmente por um dos autores do delito, a causa de
diminuição de pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP, estende-se aos demais coautores. STJ. 6ª Turma.
REsp 1187976-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/11/2013 (Info 531).
A recusa da vítima à reparação do dano ou restituição da coisa impede o arrependimento posterior? O art.16, CP não
elencou como requisito para o arrependimento posterior a aceitação da vítima. Entende-se que, se houver voluntariedade na
reparação, deverá ser reconhecido o benefício. Neste caso, o infrator deve socorrer-se da autoridade competente.
@dicas.exconcurseira 66
Situações especiais de reparação do dano ou restituição da coisa:
i) Peculato culposo (art.312, §3º, CP);
ii) Estelionato mediante emissão de cheque sem fundos (art.171, §2º, VI, CP + Súmula 554, STF);
iii) Crimes contra a ordem tributária (pagamento integral do débito);
iv) Crimes de menor potencial ofensivo.
CP, Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é
impossível consumar-se o crime.
Existem várias teorias buscando o melhor tratamento jurídico para esse fenômeno.
a) Teoria SINTOMÁTICA: com a sua conduta, o agente demonstra ser perigoso, razão pela qual deve ser punido, ainda que o
crime se mostre impossível de ser consumado. Por ter como fundamento a periculosidade do agente, esta teoria se relaciona
diretamente com o direito penal do autor.
b) Teoria SUBJETIVA: sendo a conduta subjetivamente perfeita (vontade consciente de praticar o delito), deve o agente sofrer a
mesma pena cominada à tentativa, sendo indiferente os dados (objetivos) relativos à impropriedade do objeto ou ineficácia do
meio, ainda quando absolutas.
c) Teoria OBJETIVA: crime é conduta e resultado. Este configura dano ou perigo de dano ao bem jurídico tutelado. A execução
deve ser idônea, ou seja, trazer a potencialidade do evento. Caso inidônea, temos configurado o crime impossível. A teoria
subjetiva se subdivide em:
c.1. Teoria OBJETIVA PURA: não há tentativa, mesmo que a inidoneidade seja relativa,
considerando-se, neste caso, que não houve conduta capaz de causar lesão.
c.2. Teoria OBJETIVA TEMPERADA/INTERMEDIÁRIA (CP): a ineficácia do meio e a impropriedade do objeto devem ser absolutas
para que não haja punição. Sendo relativas, pune-se a tentativa.
2) Crime impossível por impropriedade absoluta do objeto: quando a pessoa ou a coisa que representa o ponto de
incidência da ação delituosa (objeto material) não serve à consumação do delito. A inidoneidade do objeto se verifica
tanto em razão das circunstâncias em que se encontra (objeto impróprio), quanto em razão da inexistência (objeto
inexistente). Ex: “A” realiza manobras abortivas em mulher que não está grávida (gravidez psicológica).
@dicas.exconcurseira 67
Para tipificar o crime do art. 291 do CP, basta que o agente detenha a posse de petrechos destinados à falsificação de moeda,
sendo prescindível que o maquinário seja de uso exclusivo para esse fim
O art. 291 do Código Penal tipifica, entre outras condutas, a posse ou guarda de maquinismo, aparelho, instrumento ou
qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda. A expressão “especialmente destinado” não diz respeito a
uma característica intrínseca ou inerente do objeto. Se assim fosse, só o maquinário exclusivamente voltado para a fabricação
ou falsificação de moedas consubstanciaria o crime, o que implicaria a absoluta inviabilidade de sua consumação (crime
impossível), pois nem mesmo o maquinário e insumos utilizados pela Casa de Moeda são direcionados exclusivamente para a
fabricação de moeda. A dicção legal está relacionada ao uso que o agente pretende dar ao objeto, ou seja, a consumação
depende da análise do elemento subjetivo do tipo (dolo), de modo que, se o agente detém a posse de impressora, ainda que
manufaturada visando ao uso doméstico, mas com o propósito de a utilizar precipuamente para contrafação de moeda, incorre
no referido crime. STJ. 6ª Turma. REsp 1758958-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info 633).
@dicas.exconcurseira 68
Aula 14
CONCURSO DE PESSOAS
a) Monossubjetivo
- Crime de concurso eventual: o delito pode ser praticado por uma ou várias pessoas associadas.
- É a regra no CP.
b) Plurissubjetivo
- Crime de concurso necessário: o concurso de agentes é elementar do tipo.
- É exceção no CP.
ATENÇÃO! A teoria geral do concurso de pessoas só interessa para os crimes MONOSSUBJETIVOS (nos crimes plurissubjetivos, o
concurso de pessoas é elementar do tipo).
Conceito: reunião de vários agentes concorrendo, de forma relevante, para a realização do mesmo evento, agindo
todos com identidade de propósitos.
ATENÇÃO! O concurso de pessoas demanda adesão de vontade de concorrente até a consumação (depois da consumação, a
adesão pode configurar crime autônomo).
Ex: “A” e “B” combinam um furto. Durante a execução, “C” propõe ajudar os furtadores. Depois de subtraída a coisa,
“D” admite ocultar o bem em benefício dos agentes. à “D” aderiu após a consumação do furto. “D” responde por outro crime,
qual seja: favorecimento real (art.349, CP).
Requisitos:
1 – Pluralidade de agentes e de conduta;
2 – Relevância causal das condutas;
3 – Liame subjetivo entre os agentes;
Obs: agentes atuam conscientes de que estão reunidos para a prática do mesmo evento.
ATENÇÃO! Faltando liame subjetivo, desaparece o concurso de pessoas, podendo configurar AUTORIA COLATERAL ou INCERTA.
4 – Identidade de infração penal: todos os concorrentes devem contribuir para o mesmo evento.
Obs: temos doutrina ensinando que a identidade de infração, mas consequência/regra do concurso de agentes.
@dicas.exconcurseira 69
Distribuição da responsabilidade penal pelo fato comum: busca definir a contribuição individual de cada agente na divisão
objetiva (execução do crime) e subjetiva (cogitação do crime), para que se possa estabelecer a respectiva responsabilidade
penal.
2 – Teoria PLURALISTA
- A cada um dos agentes se atribui conduta, razão pela qual cada um responde por delito autônomo (haverá tantos crimes
quantos sejam os agentes que concorrerem para o fato);
- Cada um responde pelo seu crime.
3 – Teoria DUALISTA
- Tem-se um crime para os executores do núcleo do tipo, e outro crime para os que não realizaram o núcleo do tipo, mas
concorreram de qualquer forma;
- Divide a responsabilidade dos autores e dos partícipes.
Excepcionalmente, no que tange à infração penal, o CP adotou ora o DUALISMO, ora o PLURALISMO.
Dualismo à §§1º e 2º do art.29, CP.
Pluralismo à aborto, corrupção.
AUTORIA
Para se compreender o assunto “concurso de pessoas”, é imprescindível definir “autoria”. O conceito de autor depende
da teoria adotada.
1 – Teoria SUBJETIVA/UNITÁRIA: não existe distinção entre autor e partícipe. Todo aquele que de alguma forma contribui para
a produção do resultado é considerado autor.
2 – Teoria EXTENSIVA: não distingue autor do partícipe, mas permite o estabelecimento de graus diversos de autoria.
Esta teoria reconhece a figura do cúmplice: aquele autor que concorre de modo menos importante para o resultado.
3 – Teoria OBJETIVA/DUALISTA: estabelece clara distinção entre autor e partícipe. Subdivide-se em:
ATENÇÃO! A Exposição de Motivos do CP adotou a teoria objetivo formal. Porém, a doutrina moderna (STF, no caso “mensalão”)
trabalha com a teoria do domínio do fato.
Para a teoria do domínio do fato, autor é quem controla finalisticamente o fato, ou seja, quem decide a sua forma de
execução, seu início, cessação e demais condições. Ex: mensação à José Dirceu era quem controlava finalisticamente os
eventos, apesar de não realizar os núcleos.
E partícipe é aquele que, embora colabore dolosamente para o alcance do resultado, não exerce o domínio sobre a
ação.
@dicas.exconcurseira 70
CUIDADO! Podemos afirmar que tem o controle final do fato:
a) Aquele que, por sua vontade, EXECUTA o núcleo do tipo à Autor propriamente dito
b) Aquele que planeja o crime para ser executado por outras pessoas à Autor intelectual
c) Aquele que se vale de um não culpável ou de pessoa que age sem dolo ou culpa para executar o tipo à Autor mediato
2 - Domínio da VONTADE: autor é aquele que domina a vontade de um terceiro, que é utilizado como seu instrumento. O
domínio da vontade se dá mediante erro, coação ou por aparatos organizados de poder. Trata-se do autor MEDIATO.
3 - Domínio FUNCIONAL DO FATO: em uma atuação conjunta para a realização de um fato, é autor aquele que pratica um ato
relevante na execução do plano delitivo global. Trata-se do autor FUNCIONAL.
OBS: a teoria do domínio do fato tem aplicação apenas nos crimes DOLOSOS, única forma em que se admite o controle
finalístico sobre o fato criminoso.
O CP, sem definir “autoria mediata”, anuncia as hipóteses em que o instituo é aplicável:
É possível autoria mediata nos crimes culposos? Lembrando: a teoria do domínio do fato só tem aplicação nos crimes
dolosos. A autoria mediata é forma de domínio do fato. Assim, o instituto da autoria mediata é incompatível com os crimes
culposos.
@dicas.exconcurseira 71
Doutrina atual entende que a Teoria do Domínio do Fato NÃO se aplica:
1 - Aos crimes CULPOSOS, porque, nestes delitos, o agente não almeja o resultado e, assim, a necessária vontade, que qualifica a
teoria sob exame, não é atingida;
2 - Aos crimes OMISSIVOS próprios ou impróprios, porque, em ambos, o dever de agir do autor é pessoal e instransferível e,
assim, somente o autor pode praticar o delito devendo atuar para evitar o resultado jurídico.
O crime próprio admite a autoria mediata desde que o autor mediato reúna as condições exigidas no tipo. Ex: Fulano,
particular, hipnotiza servidor público, fazendo com que este pratique peculato à Fulano não é autor mediato do crime de
peculato, pois não é funcionário público.
O crime de mão própria exige atuação pessoal (direta), não sendo possível, segundo maioria da doutrina, a autoria
mediata. Ex: Fulano, réu, hipnotiza a testemunha para mentir em juízo à Sendo o crime do art.342, CP, da espécie “mão
própria”, de atuação direta e pessoal, é inviável a autoria mediata.
Como responsabilizar Fulano nos dois exemplos? Para Zaffaroni, Fulano é autor por determinação. Se, nos termos do
art.29, CP, pune-se quem, de qualquer modo concorre para o crime, não há razão para deixar impune o autor de determinação
que, dotado de plena eficácia causal, é levado a efeito por quem atua, por exemplo, sem conduta (sob efeito de hipnose). O
agente não é autor do crime, mas responde pela determinação para o crime por exercer, sobre o fato, domínio equiparado à
autoria. Para facilitar: o autor por determinação é um “autor mediato” nos casos em que não se admite autoria mediata.
Quem é o autor de escritório? É o caso do agente que emite a ordem para que outro indivíduo, igualmente culpável,
pratique o fato criminoso. Trata-se de espécie particular de autoria mediata, comumente identificada no âmbito das
organizações criminosas, em que certo indivíduo, exercendo funções de comando, determina o cometimento de crimes por
agentes que se encontram em posições subalternas.
Os “subalternos” não podem ser considerados meros instrumentos nas mãos de quem exerce funções de comando
(não há obediência hierárquica no ramo privado).
AUTORIA COLATERAL
Verifica-se quando dois ou mais agentes, sem liame subjetivo (um ignorando a contribuição do outro), concentram suas
condutas para o cometimento da mesma infração penal.
Ex: Fulano e Beltrano, um ignorando a presença do outro, escondem-se esperando Sicrano para matá-lo. Surgindo a
vítima, os dois disparam, atingindo Sicrano. Sicrano morre em razão do disparo de Fulano.
SOLUÇÃO: cada um responde de acordo com sua conduta à Fulano por homicídio; Beltrano por tentativa de homicídio.
E se não for possível determinar quem é o responsável pela morte? Trata-se de caso de AUTORIA INCERTA, quando
dois ou mais agentes, sem liame subjetivo, concorrem para o mesmo resultado, porém não há como identificar o real causador.
SOLUÇÃO: a melhor solução é condenar Fulano e Beltrano por tentativa de homicídio, abstraindo-se o resultado, cuja
autoria é incerta, em razão do in dubio pro reo.
Um tiro atingiu a vítima com vida; outro tiro atingiu a vítima já sem vida. Não é possível saber de qual arma veio o tiro
quando a vítima estava morta. Qual a solução? Crime impossível (in dubio pro reo).
COAUTORIA
É a própria autoria delineada por vários indivíduos. Seu conceito também irá variar de acordo com a teoria adotada.
Admite-se coautoria nos crimes próprios? Sim. Ex: peculato à o coautor pode ser servidor ou não.
@dicas.exconcurseira 72
Admite-se coautoria nos crimes de mão própria? Não, pois é crime de conduta infungível e atuação pessoal. Crime de
mão própria só admite participação. CUIDADO! O crime de falsa perícia (crime de mão própria), excepcionalmente, admite
coautoria. Ex: dois peritos resolvem falsear um laudo. ATENÇÃO! O STF entende haver coautoria no crime de falso testemunho
entre advogado que orienta a testemunha a mentir e a testemunha que mente, ao fazer uso da teoria do domínio do fato.
PARTICIPAÇÃO
Formas de participação:
1) Moral:
- Induzimento: o participe faz nascer a ideia criminosa no autor.
- Instigação: o partícipe reforça a ideia criminosa que já existe na mente do autor.
2) Material:
- Auxílio: assistência material (ex: emprestar a arma).
Obs1: a participação só é possível até a consumação; depois desta, a participação pode configurar crime autônomo.
Obs2: a participação é conduta acessória, pois depende, para ter relevância, da conduta principal. Temos 4 teorias:
1 – Teoria da acessoriedade MÍNIMA: para punir o partícipe, basta que o fato principal seja típico.
Crítica: é uma teoria injusta, pois se o partícipe induzir alguém a matar em legítima defesa, só o partícipe será punido.
2 – Teoria da acessoriedade MÉDIA/LIMITADA (PREVALECE): para punir o partícipe, basta que o fato principal seja típico e
ilícito. Ex: Fulano participa de fato praticado por menor.
3 – Teoria da acessoriedade MÁXIMA: para punir o partícipe, o fato principal tem que ser típico, ilícito e culpável. Ex: fato
praticado por menor com auxílio de um maior imputável à este fato não será punido.
4 – Teoria da HIPERACESSORIEDADE: para punir o partícipe, o fato principal tem que ser típico, ilícito, culpável e punível.
àPARTICIPAÇÃO EM CADEIA: ocorre quando alguém induz outra a instigar terceira pessoa a praticar um crime. Ex: “A”
convence “B” a convencer “C” a matar “D”.
à PARTICIPAÇÃO SUCESSIVA: o mesmo agente é instigado/induzido/auxiliado por duas ou mais pessoas, sem que estas tomem
conhecimento uma das outras.
à PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO: é possível, desde que o omitente, além de poder agir no caso concreto, tivesse ainda o dever
de agir para evitar o resultado, por se enquadrar em alguma das hipóteses delineadas pelo art.13, §2º, CP. Ex: é partícipe de
furto o policial militar que presencia subtração de bens de uma pessoa e nada faz porque estava fumando um cigarro e não
queria apagá-lo.
@dicas.exconcurseira 73
CONCURSO DE PESSOAS NOS CRIMES CULPOSOS
De acordo com a maioria, os crimes culposos apenas admitem coautoria; não admite participação. Fundamento: a
inobservância do dever de cuidado é o substrato da coautoria (qualquer ato de que possa derivar o resultado involuntário é
considerado ato de autor).
CONCLUSÃO: toda forma de negligência caracteriza autoria.
NÃO É POSSÍVEL FALAR EM PARTICIPAÇÃO NOS CRIMES CULPOSOS, por 2 principais argumentos:
1 - Sendo tipos penais abertos, os crimes culposos não descrevem sequer a conduta principal, razão pela qual não conseguiria
chegar a uma conduta acessória;
2 - Todos aqueles que não observam o dever de cuidado necessário é autor ou coautor do crime.
Nos CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS, é possível a PARTICIPAÇÃO MORAL (induzimento e instigação). Ex: “A” instiga “B” a
não socorrer pessoa ferida. O partícipe irá responder por omissão de socorro (art.135, CP). Quanto à COAUTORIA, há duas
posições:
1 - Não é possível, já que, em havendo o dever de agir, cada indivíduo cometerá o crime isoladamente (Damásio, LFG)
2 - É possível, desde que aqueles que possuem o dever de agir deixem, de comum acordo, de praticar a conduta devida (Rogério
Greco, Bitencourt).
Nos CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS, PREVALECE NÃO SER POSSÍVEL A COAUTORIA, pois se os agentes tiverem dever
de agir, cometerão isoladamente o delito. Há posição minoritária em sentido contrário. Por outro lado, SERÁ POSSÍVEL A
PARTICIPAÇÃO MEDIANTE AÇÃO EM CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO, conforme maioria da doutrina. Ex: “A” induz “B” a matar o
próprio filho por inação.
§1º - Se a participação (SÓ SE APLICA AO PARTÍCIPE) for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 1/6 a 1/3.
Participação de menor importância é aquela de pouca relevância causal. O magistrado deve analisar o caso concreto.
§2º - Se algum dos concorrentes (AUTOR OU PARTÍCIPE) quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste;
essa pena será aumentada até 1/2, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
à Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste crime menos grave;
à Se o crime ocorrido (diverso do combinado) era previsível (≠previsto), a pena do crime combinado será aumentada até a ½;
à Se o crime ocorrido (diverso do combinado) foi previsto e aceito, o concorrente responde por este crime.
A compreensão da previsibilidade passa pelo juízo do homo medius (representante hipotético do homem comum).
Para definir a previsibilidade do resultado mais grave, Juarez Cirino faz a distinção entre:
i) Excesso QUANTITATIVO, que é PREVISÍVEL e determina o aumento da pena aos coautores e partícipes;
@dicas.exconcurseira 74
Ex: Fulano e Beltrano combinam um roubo. Fulano fica do lado de fora, enquanto Beltrano entra na casa. Beltrano,
durante o assalto, resolve estuprar a moradora.
BELTRANO FULANO
Roubo majorado pelo concurso de pessoas + estupro Se o estupro não era previsível, Fulano responderá por roubo
majorado pelo concurso de pessoas.
@dicas.exconcurseira 75
Aula 15
Prescrição
PRESCRIÇÃO
Conceito: é a perda, em face do decurso do tempo, do direito de o Estado punir (P.P.P) ou executar a punição já
imposta (P.P.E). Trata-se de um limite temporal do poder punitivo estatal.
Os casos de imprescritibilidade são excepcionais e devem estar expressos na CF/88. São eles:
i) racismo – art.5º, XLII, CF;
ii) ação de grupos armadas, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático – art.5º, XLIV, CF.
CUIDADO! A tortura é crime prescritível. O crime de tortura aparece como crime imprescritível em tratados internacionais
ratificados pelo Brasil (ex: Estatuto de Roma). A doutrina começa a discutir se, em razão desse tratado, a tortura deve ou não ser
imprescritível. Não há decisões nos tribunais superiores reconhecendo a imprescritibilidade da tortura na seara penal. O STJ já
decidiu, na seara civil, que as torturas do regime militar são imprescritíveis.
Fundamentos da prescrição
1 – O decurso do tempo leva ao esquecimento do fato;
2 – O decurso do tempo recupera naturalmente o criminoso;
3 – O decurso do tempo enfraquece o suporto probatório.
Em resumo, o tempo faz desaparecer o interesse social de punir.
Espécies de prescrição
Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do delinquente, deve anunciar até quando essa punição lhe interessa.
Sendo incerto o “quantum” da pena que será fixada na sentença, o prazo prescricional é resultado da combinação da pena
máxima prevista abstratamente no tipo (teoria da pior das hipóteses) e a escala do art.109, CP.
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Prescrição das penas restritivas de direito
Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.
CUIDADO! A lei 12.234/10 alterou a tabela do art.109, mais especificamente o inc.VI que, antes, previa um prazo de prescrição
de 2 anos. Como a alteração foi em prejuízo ao réu, é irretroativa.
Consequências da P.P.P.A:
ii) Eventual sentença condenatória provisória é rescindida (não permite operar qualquer efeito penal ou extrapenal);
II – No caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa (último ato executório)
V – Nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes previstos no CP ou em legislação especial, da data em
que a vítima completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta ação penal.
CUIDADO! Esse inc.V foi introduzido pela Lei 12.650/12, não alcançando os fatos pretéritos.
Qual o termo inicial de um crime habitual? Crime habitual (ex:curandeirismo, exercício legal da medicina) é aquele que
exige reiteração de atos para a sua tipificação. O STF decidiu que deve obedecer o termo inicial previsto no art.111, III, CP (no
dia em que cessar a habitualidade), equiparando-se ao crime permanente.
* São causas impeditivas da prescrição, ou seja, causas que não permitem que a prescrição sequer comece a correr. Mas, se
porventura o prazo da prescrição já tenha começado a correr, aí chamaremos essas causas de “suspensivas”.
ATENÇÃO! A Lei 13.964/2019 (Lei do Pacote Anticrime) acrescentou ao art.116 dois novos incisos (III e IV), trazendo duas novas
causas suspensivas da prescrição: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ou RECURSOS PENDENTES NOS TRIBUNAIS SUPERIORES
(QUANDO INADMISSÍVEIS) e DURANTE O PERÍODO EM QUE SE CUMPRE (OU NÃO É RESCINDIDO) O ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL.
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição NÃO CORRE:
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; à questões
prejudiciais (arts.92 e 94, CPP – ex: bigamia e anulação do casamento)
III - na pendência de embargos de declaração (PERANTE QULAQUER JUÍZO) ou de recursos aos Tribunais Superiores (RExt ou
REsp), quando inadmissíveis*; e
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo. à SUSPENSÃO DA P.P.E. NO CASO DE CONDENADO PRESO POR OUTRO MOTIVO.
* É o caso em que o sujeito já foi condenado e decide opor embargos de declaração, que não são admitidos; depois, ele opõe
novos embargos de declaração contra a decisão que negou os embargos de declaração, os quais não são novamente admitidos;
e assim sucessivamente. Ou seja, o sujeito tenta procrastinar ao máximo, para tentar obter a prescrição. O legislador quis,
portanto, com essa mudança, impedir que essas manobras procrastinatórias levassem à prescrição e o sujeito ficasse impune.
** O Pacote Anticrime institucionalizou o acordo de não persecução penal (proposta do MP que resulta no não oferecimento da
denúncia pelo MP em troca da adoção de algumas medidas pelo réu), o qual, agora, está previsto em lei. Obs: a grande crítica
que pesava sobre o acordo de não persecução penal era porque ele não era previsto em lei, mas apenas em um ato do CNMP.
O que o inc.IV do art.116 diz é que enquanto o sujeito não cumprir o acordo de não persecução penal ou quando ele rescinde o
acordo de não persecução penal, o prazo penal ficará suspenso.
@dicas.exconcurseira 78
Causas interruptivas da prescrição (art.117, CP)
Obs2: o simples aditamento da inicial para correção de meras irregularidades não interrompe a prescrição. Para interromper,
deve incluir novo crime.
Obs3: Súmula 709 STF: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da
denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.
Obs4: anulado o despacho de recebimento da inicial, o novo recebimento será o marco interruptivo.
II - pela pronúncia;
Reconhecendo haver prova da materialidade e indícios de autoria de crime doloso contra a vida, submete-se o caso a
julgamento popular.
Súmula 191 STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.
Obs1: acórdão meramente confirmatório (confirma a sentença de 1º grau) não interrompe a prescrição.
Obs2: é crescente na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que o acórdão confirmatório da condenação que agrava a
pena substancialmente é causa de interrupção da prescrição.
Obs3: INFO 776, STF à considera-se publicado o “acórdão condenatório recorrível” na data da sessão pública de julgamento, e
não na data de sua veiculação no diário de justiça.
DE OLHO NA JURIS! PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA – Cartório que não certificou o dia do recebimento da sentença: Havendo
dúvida resultante da omissão cartorária em certificar a data de recebimento da sentença conforme o art.389 do CPP, não se
pode presumir a data da publicação com o mero lançamento de movimentação dos autos na internet, a fim de se verificar a
ocorrência de prescrição da pretensão punitiva. STJ, 06/02/2018 (Informativo 619).
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V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência.
§1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os
autores do crime (COMUNICABILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS). Nos crimes conexos (COMUNICABILIDADE NOS CRIMES
CONEXOS QUE SEJAM OBJETO DE UM MESMO PROCESSO), que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a
interrupção relativa a qualquer deles.
§2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da
interrupção.
Caso prático: Maria abandonou recém-nascido para ocultar desonra própria (art.134, CP – pena: de 2 meses a 2 anos)
• Qual o prazo da P.P.P.A? Combinando a pena máxima (2 anos) com o art.109, CP à 4 anos
• Quanto tempo tem o Estado para investigar o crime? 4 anos, entre a data do fato e o recebimento da inicial.
• Quanto tempo tem o Estado para processar Maria? Mais 4 anos, do recebimento da inicial até a prolação da
sentença condenatória, pois, ao receber a inicial, zera o cronômetro.
• Havendo recurso, quanto tempo tem o Estado para julgá-lo? Mais 4 anos.
Antes da sentença recorrível, não se sabe a quantidade da pena a ser fixada pelo juiz, razão pela qual o lapso
prescricional regula-se pela pena máxima prevista em lei (teoria da pior das hipóteses). Contudo, fixada a pena em sentença,
ainda que provisoriamente, transitando em julgado para a acusação (ou sendo seu recurso improvido), não mais existe razão
para se levar em conta a pena máxima em abstrato, já que, mesmo diante do recurso da defesa, é proibida a reforma para
prejudicar o réu. A pena aplicada na sentença passa a ser o novo norte, parâmetro para o art.109.
CP, art.110, §1o A prescrição, DEPOIS da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de
improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à
da denúncia ou queixa. à “data anterior à data da denúncia ou queixa” = data anterior ao recebimento da denúncia ou da
queixa. O termo inicial conta-se da publicação da condenação até o recebimento da inicial (contagem retroativa).
Características da P.P.P.R
a) Pressupõe sentença ou acórdão penal condenatórios;
b) Pressupõe trânsito em julgado da pena para a acusação, no que se relaciona com a pena;
e) O termo inicial conta-se da publicação da condenação até o recebimento da inicial à contagem retroativa.
Obs1: com o advento da lei nº 12.234/10, não mais se considera a P.P.P.R entre o recebimento da inicial e a data do fato.
Obs2: A lei nº 12.234/10 é prejudicial para o réu, portanto, irretroativa (fatos praticados antes admitem a P.P.P.R entre o
recebimento da inicial e a data do crime).
Obs3: O recurso da acusação só impede a P.P.P.R se buscar o aumento da pena. Se o MP recorre contra o tipo de pena (e não
sua quantidade) não impede a P.P.P.R.
Obs4: Discute-se se esta espécie de prescrição pode ser reconhecida em 1º grau ou só pelo Tribunal. Temos duas correntes:
1ª Corrente: com a sentença, o juiz de 1º grau esgotou a sua jurisdição, não podendo reconhecer a P.P.P.R.
2ª Corrente (PREVALECE): tratando-se de matéria de ordem pública, o juiz de 1º grau pode reconhecer a P.P.P.R de ofício ou por
provocação.
P.P.P.R P.P.P.S
Conta-se da publicação da condenação para trás Conta-se da publicação da condenação para frente (tempo
que leva para julgar o recuso da defesa)
Caso prático: Maria pratica crime de abandono de recém-nascido para ocultar desonra própria
• P.P.P.A: 4 anos
• Sentença: pena de 6 meses
• Se o MP não recorre, o juiz pode refazer o cálculo (P.P.P.R), com base nos 6 meses
• Mas se não ocorreu a P.P.P.R, terei a P.P.PS orientando o tempo de julgamento do recurso da defesa.
• O Estado terá 3 anos para julgar o recurso da defesa.
Finalidade: reconhecer antecipadamente a P.P.P.R (reconhecer a falta de interesse em prosseguir com a ação penal,
que certamente será alcançada pela P.P.P.R).
ATENÇÃO! Os tribunais superiores não tem admitido a P.P.P.V (Súmula 438, STJ).
Súmula 438 STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena
hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
CP, Art. 110 - A prescrição DEPOIS de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela PENA APLICADA e verifica-se
nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de 1/3, se o condenado é reincidente.
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Trata-se de prescrição da pena efetivamente imposta, que tem como pressuposto sentença condenatória com trânsito
em julgado para ambas as partes.
Verifica-se dentro dos prazos do art.109, CP, os quais são aumentados de 1/3 se o condenado é reincidente.
ATENÇÃO! Não é a pena que é aumentada em 1/3, mas sim o prazo prescricional.
DE OLHO NA JURIS! Somente ocorrerá prescrição executória se tiver havido trânsito em julgado
O prazo da prescrição executória inicia-se com o trânsito em julgado para a acusação (art. 112, I, do CP), mas a efetiva prescrição
executória só irá acontecer se quando esgotar o prazo já tiver ocorrido o trânsito em julgado para ambas as partes. STJ. 5ª
Turma. REsp 1255240-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013 (Info 532).
Consequências da P.P.E: extingue-se a pena aplicada sem rescindir a sentença condenatória (produz os demais
efeitos penais e todos os extrapenais).
P.P.P P.P.E
Ocorre antes do trânsito em julgado para ambas as partes Pressupõe condenação para ambas as partes
Rescinde eventual sentença condenatória Não rescinde eventual sentença condenatória
Impede qualquer efeito (penal ou extrapenal) Extingue a pena, mas permanecem os demais efeitos (penais
e extrapenais). Ex: o condenado ainda será considerado
reincidente (a reincidência efeito penal secundário).
O prazo da P.P.E pode ser suspenso (art.116, p.u., CP) ou interrompido (art.117, incs.V e VI, CP).
CP, Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo
que resta da pena.
CP, Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 anos,
ou, na data da sentença (DE 1º GRAU), maior de 70 anos. à O ART.115 APLICA-SE A TODOS OS TIPOS DE PRESCRIÇÃO
Obs1: o art.115 se aplica a todos os prazos prescricionais, inclusive aqueles previstos na legislação especial e incide sobre todas
as modalidades de prescrição (punitiva e executória).
Obs2: Prevalecendo-se o agente das mesmas circunstâncias de tempo, local e modo de execução (art.71, CP), praticando vários
crimes da mesma espécie, sendo alguns antes dos 21 anos do criminoso e outros depois, a redução só incidirá nos crimes
cometidos antes da maioridade (art.119, CP). Já no caso de crime permanente, iniciado na menoridade e terminado na
maioridade, não se reduz o prazo prescricional.
Obs3: Súmula 338, STJ: A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas.
DE OLHO NA JURIS! O termo "sentença", mencionado no art. 115 do CP, deve ser entendido como "primeira decisão
condenatória, seja sentença ou acórdão proferido em apelação
É possível aplicar a redução do art. 115 do CP no momento do acórdão (ou seja, após a sentença), se a sentença foi absolutória e
o primeiro decreto condenatório foi a apelação. Ex: João tinha 68 anos quando foi prolatada a sentença; a sentença foi
absolutória; o MP apelou e o TJ reformou a sentença, condenando o réu; ocorre que, no momento do acórdão condenatório,
João já tinha mais de 70 anos; neste caso, será possível aplicar a redução pela metade do prazo prescricional, conforme previsto
no art. 115 do CP. Assim, a redução do prazo prescricional à metade, com base no art. 115 do Código Penal, aplica-se aos réus
que atingirem a idade de 70 anos até a primeva condenação, tenha ela se dado na sentença ou no acórdão. STJ. 6ª Turma. AgRg
nos EDcl no AREsp 491258/TO, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 07/02/2019. STJ. 6ª Turma. HC 316110/SP, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/06/2019.
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Aula 16
CULPABILIDADE
1. Culpabilidade
Para uma boa parcela da doutrina brasileira, a culpabilidade não é elemento do crime (Finalismo Dissidente/Bipartido),
tendo o crime apenas os elementos fato típico e ilicitude.
A primeira noção de culpabilidade que se tem é a da teoria psicológica. Para esta teoria, defendida por Franz Von Liszt
e Beling, a culpabilidade seria constituída pelo elemento psicológico – dolo e culpa. Para esta teoria, a imputabilidade não é
elemento da culpabilidade. A imputabilidade é considerada um pressuposto da análise da culpabilidade, e não como elemento
constitutivo dela.
Já para a teoria psicológico-normativa, defendida entre outros por Edmund Mezger, Bertold Freudenthal, Goldschimitd
e Frank, a culpabilidade seria constituída pelos elementos psicológicos/subjetivos (dolo e culpa), além dos elementos
normativos (imputabilidade e exigibilidade de conduta diversa). Para esta teoria, a consciência da ilicitude estava embutida no
dolo.
Atualmente, dolo é binômio consciência + vontade, sendo que a consciência não é da ilicitude, mas sim a consciência de
saber o que se está fazendo.
Adota-se, atualmente, a teoria normativa/teoria normativa pura que tem como grande defensor Hans Welzel, criador
do finalismo. Toda conduta humana é destinada a um fim e, portanto, toda conduta humana é dolosa ou culposa,
necessariamente. Welzel retirou o dolo e a culpa da culpabilidade e os colocou na conduta humana, elemento do fato típico. Ao
fazer isso, ele retira a consciência da ilicitude do dolo, para entender que culpabilidade é imputabilidade, exigibilidade de
conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude. Este é o atual estágio da culpabilidade à culpabilidade normativa (dolo e
culpa fazem parte da conduta humana penalmente relevante, ao passo que a culpabilidade é constituída de elementos
normativos.
CULPABILIDADE
TEORIA PSICOLÓGICA TEORIA PSICOLÓGICA-NORMATIVA TEORIA NORMATIVA ou TEORIA
(Causalismo/Mecanicismo/Naturalismo) (Neokantismo) NORMATIVA PURA
(Finalismo)
Franz Von Liszt/Beling Mezger Welzel
James Goldschimitd
Bertold Freudenthal
• Dolo/culpa • Dolo/culpa • Imputabilidade
(no dolo, estava a consciência da ilicitude) (no dolo, estava a consciência da • Exigibilidade de
ilicitude) conduta diversa
• Imputabilidade • Potencial consciência
• Exigibilidade de conduta da ilicitude
diversa OBS: dolo e culpa integram o fato
típico.
A culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal que recai sobre o autor do fato típico e ilícito, que, podendo se
comportar conforme o direito, opta livremente (livre arbítrio) por se comportar de forma contrária a ele.
Culpabilidade é reprovabilidade. Dizer que há culpabilidade é dizer que a conduta é reprovável. A conduta do doente
mental não é reprovável, porque o agente não sabe o que faz. No caso do menor de idade, há uma presunção legal.
Tipicidade e ilicitude são juízos de valor em relação ao fato; já a culpabilidade é um juízo de valor em relação ao autor
do fato.
Tipicidade + ilicitude à juízo de valor quanto ao fato;
Culpabilidade à juízo de valor quanto ao autor do fato.
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2.2. Autor do injusto penal
A análise dos elementos é feita nesta ordem: fato típico, ilicitude e culpabilidade. Logo, ao se analisar a culpabilidade, já
se tem em mente que o fato é típico e ilícito (injusto penal).
Só é reprovável a conduta do agente que tem livre-arbítrio, daquele que podia optar entre fazer e não fazer.
O direito penal atual foi gestado no séc.XVIII. Nesta época, surgem nomes como os de Beccaria, Carrara e Feuerbach,
que começam a desenvolver o direito penal.
No séc.XIX, surge a escola positivista do direito penal: Lombroso (antropologia criminal), Ferri (sociologia criminal) e
Garofalo (criminologia). Estes autores negam o livre-arbítrio, trabalhando com a ideia de determinismo.
Para os positivistas, os estudiosos que pregavam o livre-arbítrio compunham a chamada escola clássica.
Atualmente, na Europa, tem-se discutido que a neurociência pode determinar algumas condutas. Mas, para os
concursos, é importante ter em mente que culpabilidade, hoje, é livre-arbítrio, estando ultrapassado o determinismo da escola
positiva do direito penal.
3. Elementos da culpabilidade
3.1. Imputabilidade
Imputar é atribuir responsabilidade penal a alguém. Para Francisco de Assis Toledo, a imputabilidade é atribuibilidade.
Imputável é aquele a quem se pode atribuir responsabilidade penal.
A regra é que o agente seja imputável. A imputabilidade, no entanto, pode ser AFASTADA pela:
i) Menoridade;
ii) Doença mental;
iii) Embriaguez fortuita, desde que completa.
É possível falar em inimputabilidade do índio? A princípio, não é possível. O estatuto do índio se refere ao índio integrado,
índio não integrado e ao índio em vias de integração, sendo que a integração é em relação ao restante da comunidade
brasileira. Diante desta classificação, antigamente entendia-se que índio integrado era imputável; o índio não integrado era
inimputável; ao passo que o índio em vias de integração era submetido ao um laudo antropológico. Esta situação não mais
subsiste. Atualmente, entende-se que ao índio aplicam-se as mesmas hipóteses de inimputabilidade que são aplicáveis aos
demais cidadãos, não tendo tratamento diferenciado em relação ao índio, independentemente do nível de integração.
A emoção e a paixão não excluem a culpabilidade. Podem até atenuar a pena, mas não excluem a culpabilidade. Porém, se
a emoção e a paixão chegam a um grau elevado que se tornem doença mental, poderão ensejar exclusão da culpabilidade.
CP, Art. 27 - Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação
especial.
CF, Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
É possível reduzir a maioridade penal por emenda constitucional? A maioridade penal a partir dos 18 anos está no rol
dos direitos e garantias individuais (vale lembrar que estes não estão apenas no art.5º, CF, mas espraiados pelo texto
constitucional e o STF é pacífico neste sentido). Não há controvérsia, portanto, se se trata de cláusula pétrea (é sim cláusula
pétrea). O que é discutido pela doutrina é a possibilidade de redução. Há autores como René Ariel Dotti que defende que a
redução da maioridade penal não é possível por se tratar de cláusula pétrea, cuja redução importaria em abolir o direito
individual. Assim, para este autor, uma eventual redução da menoridade penal somente seria possível numa nova constituição.
Para outros autores, como Pedro Lenza, o direito individual pode ser restringido, desde que não seja atingido o núcleo desse
direito, não implicando na abolição de tal direito.
@dicas.exconcurseira 85
Lembrar que a emancipação civil não surte efeitos na esfera penal. Em todas as hipóteses de emancipação, o agente
mantém a condição de inimputável penalmente.
Também não importa se o agente menor de idade entende o caráter ilícito do fato, uma vez que a lei presume
absolutamente a sua inimputabilidade.
Na dúvida quanto à idade do agente, o STJ entende que é necessário provar a menoridade por documento hábil
(documento civil de identificação à no processo penal, questão de estado se prova de forma documental, da mesma forma que
se prova na legislação civil). Se não tiver documento, deve ser feita a identificação criminal.
CP, Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (CRITÉRIO
BIOLÓGICO), era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento (CRITÉRIO PSICOLÓGICO).
É necessária a doença mental, mas, além desta, o agente deve não entender o caráter ilícito do fato ou, mesmo
entendendo, em razão da doença, não consegue determinar-se de acordo com essa compreensão.
A inimputabilidade por doença mental somente pode ser aferida no caso concreto para saber se em razão desta
doença mental o agente não compreendia o caráter ilícito, ou mesmo que entendesse, não conseguia determinar-se conforme
este entendimento em decorrência da doença.
Para o doente mental, não se aplica pena, mas sim medida de segurança. O inimputável não é condenado, mas sim
absolvido (sentença absolutória imprópria, onde é absolvido, mas lhe é aplicada uma medida de segurança).
O semi-imputável ou fronteiriço (parágrafo único do art.26, CP) é aquele que, por perturbação mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo come sse entendimento.
CP, Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado NÃO ERA INTEIRAMENTE CAPAZ de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
O semi-imputável é condenado, por ser parcial a sua imputabilidade e, portanto, parcial sua culpabilidade. A
condenação do semi-imputável a uma pena (diminuída, pois semi-imputabilidade é causa de diminuição de pena) poderá ser
convertida em medida de segurança.
A semi-imputabilidade tem natureza jurídica de causa de diminuição de pena, razão pela qual o juiz condena, mas
aplica a redução da pena. O juiz pode também converter essa condenação em medida de segurança, se entender que é mais
adequado ao tratamento da doença. Essa conversão pode ocorrer no momento da sentença, como também posteriormente, na
fase da execução.
Antes da reforma de 1984, aplicava-se no Brasil o sistema do duplo binário, o qual permitia aplicar ao semi-imputável a
pena + a medida de segurança. Esse sistema foi substituído, de modo que, hoje, vige o sistema vicariante, no qual se aplica a
pena OU a medida de segurança, não se admitindo mais a aplicação cumulativa de pena e medida de segurança.
No Brasil, só existe medida de segurança para o doente mental. Há dois tipos de medida de segurança: internação e
tratamento ambulatorial. Na internação, o doente mental fica no hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Já o
tratamento ambulatorial não exige internação.
De acordo com o art.97, CP, se o fato praticado for apenado com detenção, o juiz pode aplicar o tratamento
ambulatorial. A contrario sensu, se o fato for punido com reclusão, o juiz aplicaria a internação.
CP, Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for
punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
@dicas.exconcurseira 86
Este dispositivo tem recebido severas críticas, porque leva em consideração a gravidade do fato. A crítica doutrinária é
no sentido de que a aplicação de medida de segurança deve levar em conta o grau de periculosidade do doente, pouco
importando se se trata de crime punido com reclusão ou detenção. Neste sentido, Guilherme Nucci.
A medida de segurança tem um prazo mínimo estabelecido pelo CP.
CP, Art.97, § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for
averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 a 3 anos.
Este prazo mínimo é o marco a partir do qual se torna obrigatória a realização de perícias periódicas para avaliar se
ocorreu a cessação da periculosidade. Se subsiste a periculosidade, a medida de segurança é mantida; do contrário, cessará a
medida de segurança.
Segundo a lei, a medida de segurança não tem prazo máximo, sendo estabelecida por prazo indeterminado. A
jurisprudência do STF orienta-se no sentido de que quando a CF proibiu a pena de caráter perpétuo, disse menos do que queria.
O que a CF quis dizer foi que são proibidas as sanções penais de caráter perpétuo. Sanção penal é gênero do qual são espécies a
pena e a medida de segurança, de modo que a medida de segurança também não pode ter caráter perpétuo. Para o STF, o
limite máximo da medida de segurança, por analogia, segue o estabelecido no art.75, CP.
Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos.
ATENÇÃO! A Lei 13.964/2019 (Lei do Pacote Anticrime) alterou o limite máximo da pena, que passou a ser de 40 ANOS. Veja a
nova redação do caput e §1º do art.75 do CP.
CP, Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 anos.
§1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 anos, devem elas ser
unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
Comentários do prof. Fábio Roque: perceba que a alteração foi maléfica, portanto, NÃO retroage para prejudicar o réu,
sendo aplicada apenas aos casos posteriores à entrada da Lei 13.964/2019 em vigor (23 de janeiro de 2020). FIQUE LIGADO!
Todo o entendimento dos Tribunais segue igual, porém, agora, com o novo patamar máximo da pena, qual seja, o de 40 anos.
Por outro lado, o STJ tem entendimento no sentido de que o tempo máximo de duração da medida de segurança não
deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado, à luz dos princípios da isonomia e da
proporcionalidade. Entendimento este que virou súmula: Súmula 527 - O tempo de duração da medida de segurança não deve
ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.
Importante lembrar que se o inimputável for perigoso, violento e após o prazo máximo de internação ainda não tiver
cessada a sua periculosidade, o STF entende que cessa a intervenção penal. No entanto, isto não significa dizer que não vai
haver internação; esta ocorrerá, mas não terá natureza penal. É possível a internação compulsória, nos moldes da Lei 12.216/01
(lei de reforma psiquiátrica).
c) Embriaguez:
@dicas.exconcurseira 87
§2º - A pena pode ser REDUZIDA de 1/3 a 2/3, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, NÃO
possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a PLENA CAPACIDADE de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
Há 5 modalidades de embriaguez:
i) Preordenada;
ii) Doloso/voluntária;
iii) Culposa/involuntária;
iv) Fortuita;
v) Patológica.
Culpabilidade é livre-arbítrio. Entende-se que a pessoa completamente embriagada não tem esse livre-arbítrio. Mas,
em regra, o embriagado é culpável.
Quando se fala em embriaguez, trabalha-se com a teoria da ação livre na causa (“actio libera in causa”). Significa dizer
que, na embriaguez, o livre-arbítrio não é aferido no momento da prática da conduta, mas sim se a ação foi livre no momento
da ingestão da substância.
Embriaguez É aquela em que o sujeito quer ingerir, quer embriagar-se e Ingerir (ação livre)
preordenada quer praticar o crime. Neste caso, não há exclusão da Embriagar
culpabilidade do agente. Além disso, constitui circunstância Praticar o crime
agravante (art.61, II, “l”, CP). Não exclui a culpabilidade
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
quando não constituem ou qualificam o crime:
II - ter o agente cometido o crime:
l) em estado de embriaguez preordenada.
Embriaguez É aquela em que o sujeito quer ingerir a substância e Ingerir (ação livre)
dolosa/ embriagar-se, mas não para praticar o crime. Ex: o sujeito Embriagar
voluntária quer fazer uma farra e ajusta com a namorada que vai beber Não quer praticar o crime
e ela retorna dirigindo o veículo. Após embriagar-se, o sujeito Não exclui a culpabilidade
não entrega a chave, resolve dirigir e comete crime na
condução de veículo. Não exclui a culpabilidade do agente.
Embriaguez É aquela em que o sujeito quer ingerir a substância apenas Ingerir (ação livre)
culposa/ socialmente, mas acaba se embriagando e vem a praticar o Não quer se embriagar
involuntária crime. Neste caso, também não se exclui a culpabilidade. Não quer, muito menos, praticar o
crime
Não exclui a culpabilidade
Embriaguez É aquela em que o agente não quer ingerir a substância, seja Não quer ingerir (não há ação livre na
fortuita porque não sabia o que estava ingerindo, seja porque foi causa)
obrigado a ingeri-la. Ex: trote de calouros. Este tipo de Não quer se embriagar
embriaguez, sendo completa, exclui a culpabilidade. Se for Não quer cometer o crime
incompleta, o agente responde pelo crime com pena Exclui a culpabilidade
diminuída de 1/3 a 2/3.
Embriaguez É o vício. O viciado pode ser considerado inimputável, uma
patológica vez que o vício é considerado doença mental, sendo a
Organização Mundial de Saúde. Deste modo, a embriaguez
patológica não exclui a culpabilidade, mas a doença mental
poderá excluí-la.
É o segundo elemento da culpabilidade. Somente há reprovabilidade da conduta do agente que poderia agir de outro
modo.
O CP não tem as expressões “inexigibilidade de conduta diversa”, tampouco “exigibilidade de conduta diversa”. Há,
contudo, institutos previstos no CP que materializam esta inexigibilidade: coação moral irresistível e obediência hierárquica.
CP, Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de
superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
@dicas.exconcurseira 88
A coação moral irresistível e a obediência hierárquica são hipóteses de inexigibilidade de conduta diversa. É
extremamente controverso, mas prevalece que existem causas supralegais de inexigibilidade de conduta diversa. Segundo este
entendimento, sempre que se possa dizer que não se poderia exigir outra conduta do agente, estar-se-ia diante de hipótese de
inexigibilidade de conduta diversa. Ex: a mãe que trabalha como diarista, que precisa trabalhar para sustentar as filhas, que, ao
sair, trancava as crianças. Houve um incêndio na casa do vizinho, o fogo se alastrou e as crianças morreram queimadas. A mãe
foi indiciada pelo homicídio, mas o promotor entendeu que era hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, pois não dava
para exigir da mãe outra conduta.
A coação física irresistível é uma hipótese de exclusão da conduta penalmente relevante, tornando o fato atípico; já a
coação moral irresistível é hipótese de inexigibilidade de conduta diversa que exclui a culpabilidade.
A particularidade da coação física é que a pessoa coagida não tem vontade, pois não lhe é dado direito de opção. Na
coação moral irresistível, existe sim vontade por parte do agente, embora esta vontade esteja viciada.
O melhor exemplo é o de sequestro da família do gerente do banco, para que este vá até a agência e abra o cofre e
entregue o dinheiro para os criminosos. Veja-se que o gerente tem opção; no entanto, não é possível exigir do gerente do banco
o sacrifício da própria família para proteger o patrimônio do banco. É um direito de opção cruel, não se podendo exigir dele uma
conduta diversa da que ele adotar.
O coator responde pelo crime praticado pelo coagido. Assim, os sequestradores vão responder pelo sequestro, pelas
eventuais violências praticadas contra a família do gerente, bem como pela subtração dos valores praticada pelo gerente.
Apenas o coagido terá excluída a sua culpabilidade.
Hierarquia em direito penal é vínculo de direito público, entre funcionários públicos (não abrangendo as relações
privadas existentes entre empregado e empregador, regidas pela CLT), em que o superior hierárquico dá uma ordem não
manifestamente ilegal a um subordinado.
Se a ordem é manifestamente ilegal, ambos respondem pela prática do crime. Ex: no filme tropa de elite, quando o
Capitão Nascimento manda “colocar no saco”, determinando a tortura, tanto o capitão quanto o subordinado respondem pela
tortura.
No caso de ordem não manifestamente ilegal, exclui-se a culpabilidade do subordinado, pois não se poderia lhe exigir
conduta diversa (só responde o coator/superior). Ex: no caso do Eldorado de Carajá, a ordem dos policiais foi a de desocupar, de
modo que não tratava de ordem manifestamente ilegal, o que deu azo à defesa alegar inexigibilidade de conduta diversa, por
ser hipótese de obediência hierárquica.
Pergunta-se: e se a ordem não manifestamente ilegal emanar de empregador, é possível excluir a culpabilidade do
empregado? Neste caso, é possível excluir a culpabilidade, mas não pela obediência hierárquica (que só se refere à vínculo de
direito público), e sim como causa supralegal de exclusão da culpabilidade.
AUSÊNCIA DE
CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE
CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE ERRO DE PROIBIÇÃO INEVITÁVEL
O agente não sabe que a conduta é ilícita/crime, mas tinha (EXCLUI A CULPABILIDADE)
condições de saber que era. O agente não sabia que era ilícito, nem tinha condições de
saber. Ex: índios não integrados.
@dicas.exconcurseira 89
QUESTÃO DE CONCURSO: Disserte sobre a valoração paralela na esfera do profano. Tem a ver com a potencial consciência da
ilicitude. É um dos critérios para se saber se o sujeito tinha ou não a potencial consciência da ilicitude. É um critério utilizado por
Mezger. Para ele, “profano” é o “não jurídico” (religião, moral, costumes, ideologias, etc). Para Mezger, para saber se há erro de
proibição, não se faz um juízo jurídico, e sim uma valoração paralela.
Quando o CP se refere ao desconhecimento da lei, trata, na verdade, de desconhecer a ilicitude de fato. Ex: sujeito vai
caçar, mas aquele animal identificado na caça era um animal cuja caça era proibida e o sujeito desconhecia esta ilicitude. Isto é
uma hipótese de ausência de consciência da ilicitude.
Qualquer de nós, ainda que não tenha a consciência da ilicitude, tem a potencial consciência da ilicitude. Esta significa a
aptidão para adquirir esta consciência. Quando a pessoa não tem a potencial consciência da ilicitude, isto significa que a pessoa,
naquelas circunstâncias, não tinha potencial para adquirir aquela consciência.
O prof. Claudio Brandão dá um exemplo bastante elucidativo: um trabalhador rural, analfabeto, que vivia em cidade no
interior de Pernambuco, que sequer era abastecida de energia elétrica. Este trabalhador nasceu naquela região, nunca saiu dali
e cresceu caçando um determinado animal, quando, mais tarde, foi preso pelo crime ambiental pela caça deste mesmo animal.
Para esse trabalhador rural, não é mera é mera atenuante o desconhecimento, mas sim erro de proibição inevitável, o que
exclui a culpabilidade.
Outro exemplo interessante é o de um morador de uma cidade satélite em Brasília que, diante do estado de saúde de
sua esposa, que estava doente, recebe o conselho de que deveria dar à sua esposa um chá de determinada plante que seria
curativa. Ele procurou a planta, encontrando-a numa área de preservação ambiental. Cortou um pedaço da casca do tronco da
árvore, o que fez com que acabasse sendo preso por crime ambiental.
Mais um exemplo merece atenção. Um indígena não integrado provavelmente incide numa hipótese de erro de
proibição, pois ele não tem aptidão para adquirir a consciência de uma ilicitude numa sociedade que não é a dele. Ex: os
membros da tribo que matam um infante, pois acreditam que ele traz o mal. Zaffaroni denomina este caso de erro de proibição
culturalmente condicionado ou erro culturalmente condicionado, isto é, um erro sobre a ilicitude do fato produzido pela
cultura em que se vive.
Na doutrina estrangeira, sobretudo Roxin, são citadas causas supralegais de exclusão da culpabilidade, além das causas
legais excludentes (coação moral irresistível e obediência hierárquica):
• Fato da consciência (Miguel Reale)
• Colisão de deveres
• Desobediência civil
• Provocação de legítima defesa
Causas supralegais de exclusão da culpabilidade são aquelas que não encontram fundamento legal. Não há unanimidade
sobre a sua aplicação, existindo duas posições:
1 - A primeira sustenta a impossibilidade de utilização de causas supralegais, alegando que isso abriria portas à insegurança
jurídica e enfraqueceria a eficácia da prevenção geral do Direito Penal.
2 - A segunda, mais moderna e majoritária, defende que se estaria diante de princípio geral de Direito Penal, admitindo-se a sua
aplicação, inclusive, porque o legislador não poderia prever todas as hipóteses de exculpação supralegal, por mais previdente
que fosse. O STJ possui decisões de acordo com o segundo entendimento.
Como o ordenamento jurídico pátrio, em tese, não proíbe a aplicação de causas supralegais de inexigibilidade de conduta
diversa, em doutrina, sustenta-se a existência das seguintes hipóteses:
i) CLÁUSULA DE CONSCIÊNCIA: tem como fundamento o art.5º, VI, da CF, o qual garante a liberdade de crença e de consciência.
Exemplo disso é o art.438, CPP: “A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no
dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto”.
ii) DESOBEDIÊNCIA CIVIL: trata-se do direito de qualquer cidadão de protestar, de forma pública e não violenta, movido por
ideais ético-políticos, contra graves injustiças. Ex: invasões, ocupações, bloqueios de rodovias.
iii) CONFLITO DE DEVERES: trata-se de escolha do mal menor. Ex: diante de graves dificuldades econômicas enfrentadas por seu
estabelecimento comercial, o empresário sonega impostos para conseguir pagar os empregados.
@dicas.exconcurseira 90
iv) ESTADO DE NECESSIDADE EXCULPANTE: o bem sacrificado é de maior valor que o preservado. Há duas possibilidades: a)
punir o agente pelo crime praticado, reduzindo-se a sua pena na forma do art.24, §2º, CP; ou b) excluir a culpabilidade do autor,
com base em causa supralegal de exculpação;
v) PROVOCAÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA: consiste no comportamento do agente que provoca a agressão e, em seguida, reage a
ela. Prevalece, na maioria das vezes, o entendimento de que esta provocação não exclui a legítima defesa.
Menoridade
POTENCIAL CONSCIÊNCIA
Pode ser afastada pela Erro de proibição inevitável
DA ILICITUDE
CO-CULPABILIDADE
Trata-se de ideia muito trabalhada por Zaffaroni, segundo a qual se deve repartir a culpabilidade entre a sociedade e o
criminoso. É reconhecer que, a depender do caso concreto, pelo histórico de vida do agente, a coletividade teve uma parcela de
responsabilidade na conduta criminosa.
Não se trata de um criminoso encarado como uma vítima da sociedade. A ideia não é eximi-lo de responsabilidade, mas
sim de repartir esta responsabilidade, reconhecendo-se que, de alguma forma, a coletividade também contribuiu para a
empreitada criminosa.
A coletividade não será punida, mas a pena do criminoso será atenuada. O CP, embora não expressamente, adotou a
co-culpabilidade em seu art.66.
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não
prevista expressamente em lei. à CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES INOMINADAS.
Registre-se que não se admite uma agravante inominada (sem expressa previsão legal), mas é possível atenuar sem
expressa previsão. Assim, é possível que o juiz leve em conta as circunstâncias externas para atenuar a pena (agente criado em
ambiente criminógeno, vítima de abuso em tenra idade).
@dicas.exconcurseira 91
CULPABILIDADE DO VULNERÁVEL
Zaffaroni.
Seletividade do direito penal: o direito penal seleciona determinados grupos para fazer incidir sua violência
(geralmente, grupos pobres). Esses grupos são chamados de “vulneráveis” por Zaffaroni.
O objetivo da culpabilidade do vulnerável é o de limitar a violência da pena.
@dicas.exconcurseira 92
MÓDULO II
Aula 01
PENA
Conceito: Pena é uma resposta estatal ao infrator da norma incriminadora (crime ou contravenção penal), consistente
na privação ou restrição de determinados bens jurídicos do agente (liberdade e patrimônio). A imposição da pena depende
sempre do devido processo legal.
ATENÇÃO! Nunca devemos rotular transação penal (Lei 9.099/95) como sendo pena, pois ela é feita antes de iniciado o
processo, para evitar a pena. Ou seja, a transação penal é medida despenalizadora.
2 – FUNDAMENTOS DA PENA
3 – FINALIDADES DA PENA
3.1. Escola clássica (Carrara): é uma necessidade ética, permitindo o reequilíbrio do sistema.
3.4. Escola Penal Humanista (Lanza): a pena tem como objetivo educar o culpado (ressocialização).
3.5. Escola técnico-jurídica (Manzini): a pena surge como meio de defesa contra a perigosidade do agente. O objetivo da pena é
castigar (retribuição) o delinquente.
3.6. Escola moderna alemã (Von Liszt): a pena é instrumento de ordem e segurança social. A pena exerce uma função
PREVENTIVA GERAL (visa a sociedade) e PREVENTIVA NEGATIVA (intimidação).
3.8. Escola da nova defesa social (Gramática): a pena é uma reação da sociedade com o objetivo de proteção do cidadão.
CP, Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para REPROVAÇÃO e PREVENÇÃO do crime (TEORIA MISTA/UNIFICADORA):
@dicas.exconcurseira 93
PREVENÇÃO
GERAL ESPECIAL
Visa a SOCIEDADE Visa o DELIQUENTE
Positiva Negativa Positiva Negativa
A pena tem como objetivo A pena atua como coação Busca a ressocialização Busca inibir a reincidência
demonstrar a vigência da lei psicológica na sociedade,
como instrumento
intimidador
LEP, Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado.
No momento da aplicação da pena, a prevenção geral deve ser observada? Na fase da sentença, não se tem a
pretensão de fazer da decisão um exemplo para outros possíveis infratores, em nome da prevenção geral, sob pena de violação
do princípio da individualização da sanção penal. O juiz deve se preocupar com o delinquente, inibindo a sua reincidência e só.
JUSTIÇA RESTAURATIVA
Tem adquirido cada vez mais importância no cenário jurídico-penal, pois baseada num procedimento de consenso
envolvendo os personagens da infração penal (autor, vítima e comunidade). Quebra a dualidade da função da pena (retribuição
e prevenção), incluindo a reparação do dano à vítima como nova possibilidade.
Para Claus Roxin, esta é a terceira via do Direito Penal (reparação de danos), legitimada pelo princípio da
subsidiariedade do direito penal. Isto porque, para além da pena e da medida de segurança, ela é uma medida penal
independente, que alia elementos do direito civil e cumpre com os fins da pena. Para Roxin, a reparação substituiria ou
atenuaria a pena naqueles casos nos quais convenha, tão bem ou melhor aos fins da pena e às necessidades da vítima. A
inclusão no sistema penal sancionador da indenização material e imaterial da vítima significa que o Direito Penal passa a se
aproximar mais da realidade social.
CF, art.5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;
1ª Corrente: relativo. Admite exceção prevista na própria CF, qual seja: a pena de perda de bens, confisco.
2ª Corrente (PREVALECE): absoluto. Não admite exceções. A perda de bens referida na CF não é pena, mas efeito da sentença
condenatória, razão pela qual pode passar da pessoa do condenado.
@dicas.exconcurseira 94
4.3. Princípio da individualização da pena
CF, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
1 – Fase LEGISLATIVA: observada pelo legislador no momento da definição do crime e da cominação de sua pena.
3 – Fase DA EXECUÇÃO: garantindo-se a individualização da execução penal (art.5º, LEP: Os condenados serão classificados,
segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal).
DE OLHO NA JURIS: o STF declarou o regime inicial obrigatoriamente fechado como sendo inconstitucional.
ATENÇÃO! Esse princípio deve ser analisado em conjunto com o princípio da necessidade da pena. A pena, desde que presentes
os seus pressupostos, deve ser aplicada e fielmente cumprida.
Há casos em que o Estado não tem interesse em aplicar a pena (perdão judicial/princípio da bagatela imprópria) ou
mesmo de executá-la (sursis) à são exceções ao princípio da inevitabilidade da pena.
@dicas.exconcurseira 95
5 – PENAS PROIBIDAS NO BRASIL
CF, Art.5º, XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
Obs1: Para Zaffaroni, a morte jamais pode ser rotulada como pena, faltando-lhe cumprir as finalidades de prevenção e
ressocialização. Trata-se, na verdade, de fenômeno que escapa ao direito, hipótese de inexigibilidade de conduta divesa diante
do fracasso do direito.
Obs2: Para autorizar a pena de morte no Brasil, é imprescindível guerra externa evidente e legalmente declarada, por ato
presidencial, mediante autorização ou referendo do congresso.
Obs3: Conflito armado, guerrilha ou qualquer perturbação – que não configure guerra nos termos constitucionalmente
estabelecidos – não admitem a pena de morte.
Obs4: Discute-se se é possível a pena de morte na guerra preemptiva, isto é, guerra decidida diante de provas de ameaça
iminente à soberania de um Estado.
Obs5: Apesar de a CF só admitir 1 exceção à proibição da pena de morte, a doutrina lembra outras 2:
2 – Lei 9.605/98, art.24 à pena de morte para a pessoa jurídica autora de crimes ambientais.
Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de
crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.
Qual o principal argumento contra a pena de caráter perpétuo? Não incentiva a ressocialização.
Obs1: Deve ser lembrado que o Estatuto de Roma não admite ressalvas feitas pelos países signatários;
Obs2: Entende a maioria que o conflito entre a CF e o Estatuto de Roma é apenas aparente. A CF, quando prevê a vedação da
pena de caráter perpétuo, está direcionando o seu comando somente para o legislador interno, não alcançando os legisladores
estrangeiros ou internacionais.
@dicas.exconcurseira 96
O prazo indeterminado da medida de segurança não estaria violando a CF?
1ª Corrente (doutrina e TJ/SP): o prazo indeterminado da medida de segurança não viola a CF, pois esta sanção tem caráter
curativo, e não punitivo.
2ª Corrente (STF): o prazo indeterminado da medida de segurança viola a CF. Deve ter como prazo máximo o tempo de 30 anos
– 40 ANOS (art.75, CP, aplicado por analogia).
3ª Corrente (STJ): o prazo indeterminado da medida de segurança viola a CF. O prazo máximo deve coincidir com a pena máxima
em abstrato prevista para o crime (Súmula 527, STJ).
Prestação de serviços à comunidade? Não é pena de trabalho forçado, mas sanção penal alternativa (pena restritiva de
direitos), evitando a pena privativa de liberdade.
Trabalho penitenciário? É um misto de dever (art.39, LEP) e direito (art.41, LEP).
É a expulsão do nacional – nato ou naturalizado – do nosso território. É possível expulsão apenas de estrangeiro.
@dicas.exconcurseira 97
RECLUSÃO DETENÇÃO PRISÃO SIMPLES
NOTA Crimes mais graves Crimes menos graves Contravenções penais
Regime inicial de - Fechado ------------------ ------------------
cumprimento da pena - Semiaberto - Semi-aberto - Semi-aberto
- Aberto - Aberto - Aberto
Obs: pode ir para o regime Obs: jamais vai para o regime
fechado por meio da fechado
regressão da pena.
Efeitos extrapenais da Pode gerar incapacidade para Não pode gerar incapacidade Não admite qualquer efeito
condenação o exercício do poder familiar para o exercício do poder extrapenal previsto no CP.
(art.92, II, CP) familiar.
Interceptação telefônica Admite Não admite. Não admite.
STF: admite quando conexo
com crime punido com
reclusão.
Penas não previstas no CP, mas que, se previstas, NÃO VIOLAM a CF (Zaffaroni e Pierangelli):
1 – Advertência: a Lei 11.343/06, art.28, I, previu a pena de advertência para o usuário de droga.
2 – Degredo: designar, durante algum tempo, lugar fixo de residência ao condenado.
3 – Desterro: proibição de habitar o lugar de sua residência ou de residência da vítima.
Aula 02
APLICAÇÃO DA PENA
ATENÇÃO! Transação penal e suspensão condicional da pena não são penas, mas sim medidas despenalizadoras.
CP, Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código (CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS); em seguida
serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.
1ª FASE: o juiz fixa a PENA BASE (circunstâncias judiciais do art.59, CP) sobre a pena simples ou qualificada.
Obs: a qualificadora não entra no critério trifásico, pois já é seu ponto de partida.
2ª FASE: PENA INTERMEDIÁRIA/PROVISÓRIA – o juiz considera agravantes (arts.61 e 62, CP) e atenuantes (arts.65 e 66, CP).
3ª FASE: PENA DEFINITIVA – causas de aumento e de diminuição da pena (majorantes e minorantes).
DEPOIS: É possível substituir a pena privativa de liberdade por PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO?
Se não for possível, seria possível a concessão de SURSIS?
Se ainda não for possível, seria possível a concessão de LIVRAMENTO CONDICIONAL?
O método trifásico de cálculo da pena privativa de liberdade tem por objetivo viabilizar o exercício do direito de ampla
defesa, explicando para o réu os parâmetros que conduziram o juiz na determinação da reprimenda.
Culpabilidade + Antecedentes + Conduta social + Personalidade + Motivos = circunstâncias judiciais subjetivas à direito
penal do autor? Adotando a CF um direito penal garantista compatível unicamente com o direito penal do fato, temos doutrina
criticando as circunstâncias judiciais subjetivas, campo fértil para o direito penal do autor (concurso para DP, mas não é a
posição que prevalece).
CUIDADO! A pena base não pode extrapolar os limites mínimos e máximos previstos no preceito secundário.
CP, Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias
preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e
da reincidência.
Culpabilidade do agente: é o maior ou menor grau de reprovabilidade da conduta do agente. (≠ culpabilidade como 3º
substrato do crime). Ex: crimes contra a Administração Pública – desvio de verbas públicas – os Tribunais estão analisando o
índice de desenvolvimento humano (IDH) das cidades (IDH baixo à maior reprovabilidade da conduta).
Antecedentes do agente: representa a vida pregresso do agente, a vida “anteacta” (anterior ao crime).
O que configura maus antecedentes? IP arquivado ou em andamento configura? Ação penal com absolvição ou em
curso configura? Não, devido ao princípio da presunção de inocência. E atos infracionais? Não caracterizam maus antecedentes;
podem servir no estudo da personalidade do agente. Maus antecedentes são apenas as condenações definitivas que não
caracterizam mais reincidência.
Obs: de acordo com a maioria, não existe mais limite temporal para a condenação passa servir como maus antecedentes em
crime futuro. Bittencourt discorda, lecionando ser possível aplicar o art.64, I, CP, por analogia.
@dicas.exconcurseira 99
JURISPRUDÊNCIAS SOBRE REINCIDÊNCIA
#DIZERODIREITO – DIREITO PENAL AO ESQUECIMENTO - Após o prazo de 5 anos, não poderá mais ser considerado reincidente.
Contudo, essa condenação anterior poderá ser valorada como maus antecedentes?
STJ. 6ª Turma. HC 240.022/SP, Rel. Min. Maria Thereza STF. 2ª Turma. HC 110191, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
de Assis Moura, j. em 11/03/2014. 23/04/2013.
Obs: há precedentes mais antigos do STF reconhecendo a 1ª corrente. Nesse sentido: RHC 106814, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Primeira Turma, julgado em 08/02/2011.
Obs2: o tema será definido pelo STF no RE 593818 RG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, que foi afetado para julgamento pelo Plenário
sob a sistemática da repercussão geral.
Obs3: cuidado. A maioria dos livros de Direito Penal fornece uma explicação em sentido contrário ao que vem sendo decidido pelo
STF.
DE OLHO NA JURIS! Possibilidade de, no caso concreto, desconsiderar condenações anteriores datadas há mais de 5 anos para
fins de maus antecedentes
Os efeitos deletérios da reincidência perduram pelo prazo máximo de cinco anos, contados da data do cumprimento ou da
extinção da pena. Após esse período, ocorre a caducidade da condenação anterior para fins de reincidência. É o que afirma o
art. 64, I, do CP. Para o entendimento pacificado no STJ, mesmo ultrapassado o lapso temporal de cinco anos, a condenação
anterior transitada em julgado é considerada como maus antecedentes. Apesar disso, em um caso concreto, o STJ decidiu
relativizar esse entendimento e afirmou que era possível a aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº
11.343/2006 em relação a réu que, apesar de ser tecnicamente primário ao praticar o crime de tráfico, ostentava duas
condenações (a primeira por receptação culposa e a segunda em razão de furto qualificado pelo concurso de pessoas) cujas
penas foram aplicadas no mínimo legal para ambos os delitos anteriores (respectivamente, 1 mês em regime fechado e 2 anos
em regime aberto, havendo sido concedido sursis por 2 anos), os quais foram perpetrados sem violência ou grave ameaça
contra pessoa, considerando-se ainda, para afastar os maus antecedentes, o fato de que, até a data da prática do crime de
tráfico de drogas, passaram mais de 8 anos da extinção da punibilidade do primeiro crime e da baixa dos autos do segundo
crime, sem que tenha havido a notícia de condenação do réu por qualquer outro delito, de que ele se dedicava a atividades
delituosas ou de que integrava organização criminosa. Vale ressaltar que o STJ não mudou seu entendimento acima explicado. A
decisão foi tomada com base nas circunstâncias do caso concreto. STJ. 6ª Turma. REsp 1160440-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 17/3/2016 (Info 580).
@dicas.exconcurseira 100
JURISPRUDÊNCIAS SOBRE A 1ª FASE DE APLICAÇÃO DA PENA
Folha de antecedentes criminais é um documento válido para comprovar maus antecedentes ou reincidência
Súmula 636-STJ: A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência.
Aprovada em 26/06/2019, DJe 27/06/2019. Importante.
A existência de condenações definitivas anteriores não se presta a fundamentar o aumento da pena-base como personalidade
voltada para o crime
A existência de condenações definitivas anteriores não se presta a fundamentar a exasperação da pena-base como
personalidade voltada para o crime. Condenações transitadas em julgado não constituem fundamento idôneo para análise
desfavorável da personalidade do agente. STJ. 5ª Turma. HC 466746/PE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 11/12/2018. STJ. 6ª
Turma. HC 472654-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/02/2019 (Info 643).
Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à personalidade do agente?
Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à personalidade do agente? Existe
certa polêmica no STJ sobre o tema:
1ª corrente: NÃO. Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco
podem ser utilizados para caracterizar personalidade voltada para a pratica de crimes ou má conduta social. Há impropriedade
na majoração da pena-base pela consideração negativa da personalidade do agente em razão da prévia prática de atos
infracionais, pois é incompossível exacerbar a reprimenda criminal com base em passagens pela Vara da Infância. STJ. 5ª Turma.
HC 499987/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 30/05/2019. STJ. 6ª Turma. REsp 1702051/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 06/03/2018.
2ª corrente: SIM A prática de ato infracional, embora não possa ser utilizada para fins de reincidência ou maus antecedentes,
por não ser considerada crime, pode ser sopesada na análise da personalidade do paciente, reforçando os elementos já
suficientes dos autos que o apontam como pessoa perigosa e cuja segregação é necessária. STJ. 5ª Turma. HC 510354/SP, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/06/2019.
Elevados custos da investigação e enriquecimento do réu não são argumentos para aumentar a pena-base
Os elevados custos da atuação estatal para apuração da conduta criminosa e o enriquecimento ilícito obtido pelo agente não
constituem motivação idônea para a valoração negativa do vetor "consequências do crime" na 1ª fase da dosimetria da pena.
Em outras palavras, o fato de o Estado ter gasto muitos recursos para investigar os crimes (no caso, era uma grande operação
policial) e de o réu ter obtido enriquecimento ilícito com as práticas delituosas não servem como motivo para aumentar a pena-
base. STF. 2ª Turma. HC 134193/GO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/10/2016 (Info 845).
Conduta social
O fato de o réu ser usuário de drogas não pode ser considerado, por si só, como má-conduta social para o aumento da pena-
base. A dependência toxicológica é, na verdade, um infortúnio. STJ. 6ª Turma. HC 201453-DF, julgado em 2/2/2012.
@dicas.exconcurseira 101
Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas como personalidade ou conduta social desfavorável
Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a reincidência somente podem
ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização também para
desvalorar a personalidade ou a conduta social do agente. A conduta social e a personalidade do agente não se confundem com
os antecedentes criminais, porquanto gozam de contornos próprios - referem-se ao modo de ser e agir do autor do delito -, os
quais não podem ser deduzidos, de forma automática, da folha de antecedentes criminais do réu. Trata-se da atuação do réu na
comunidade, no contexto familiar, no trabalho, na vizinhança (conduta social), do seu temperamento e das características do
seu caráter, aos quais se agregam fatores hereditários e socioambientais, moldados pelas experiências vividas pelo agente
(personalidade social). Já a circunstância judicial dos antecedentes se presta eminentemente à análise da folha criminal do réu,
momento em que eventual histórico de múltiplas condenações definitivas pode, a critério do julgador, ser valorado de forma
mais enfática, o que, por si só, já demonstra a desnecessidade de se valorar negativamente outras condenações definitivas nos
vetores personalidade e conduta social. STJ. 3ª Seção. EAREsp 1311636-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
10/04/2019 (Info 647).
Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas como conduta social desfavorável
A circunstância judicial “conduta social”, prevista no art. 59 do Código Penal, representa o comportamento do agente no meio
familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com outros indivíduos. Os antecedentes sociais do réu não se
confundem com os seus antecedentes criminais. São circunstâncias distintas, com regramentos próprios. Assim, não se mostra
correto o magistrado utilizar as condenações anteriores transitadas em julgado como “conduta social desfavorável”. Não é
possível a utilização de condenações anteriores com trânsito em julgado como fundamento para negativar a conduta social. STF.
2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016 (Info 825). STJ. 5ª Turma. HC 475436/PE, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 13/12/2018. STJ. 6ª Turma. REsp 1760972-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
08/11/2018 (Info 639).
Existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes
A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena. STF. Plenário. RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014
(repercussão geral) (Info 772). STF. Plenário. HC 94620/MS e HC 94680/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgados em
24/6/2015 (Info 791).
Maus antecedentes
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.
Condenação por fato anterior ao crime em julgamento, mas com trânsito em julgado posterior: antecedente criminal
A condenação por fato anterior ao delito que se julga, mas com trânsito em julgado posterior, pode ser utilizada como
circunstância judicial negativa, a título de antecedente criminal. STJ. 5ª Turma. HC 210787/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 10/09/2013.
As atenuantes e agravantes podem ser definidas como circunstâncias objetivas ou subjetivas que não integram a
estrutura do tipo penal, mas se vinculam ao crime, devendo ser consideradas pelo juiz no momento de aplicação da pena.
ATENÇÃO! Legislação extravagante pode criar outras atenuantes e agravantes. Ex: Lei 9605/98, art.15, II, h à agrava a pena do
crime ambiental cometido em domingos e feriados.
CUIDADO! O legislador não estipulou o quantum para as atenuantes e agravantes, ficando a critério do juiz, que deve sempre
fundamentar a decisão.
2ª situação: apenas atenuantes à a pena intermediária deve ser fixada próxima ao mínimo.
@dicas.exconcurseira 102
3ª situação: ausentes agravantes e atenuantes à a pena intermediária deve repetir a pena-base.
CP, Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias
preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e
da reincidência.
3º - Atenuantes/Agravantes SUBJETIVAS
4º - Atenuantes/Agravantes OBJETIVAS
Juiz pode reconhecer a atenuante da confissão espontânea mesmo que não tenha sido debatida no Júri
O juiz-presidente do Tribunal do Júri, ao elaborar a sentença, pode reconhecer a atenuante da confissão, ainda que esta não
tenha sido debatida no Plenário (o réu confessou, mas nem a defesa nem a acusação pediram que fosse reconhecida esta
circunstância)? SIM. O STJ possui o entendimento de que a Lei 11.689/2008, alterando a redação do art. 492 do CPP, conferiu ao
juiz presidente do Tribunal do Júri a atribuição de aplicar as atenuantes e agravantes alegadas nos debates. O juiz presidente
deve considerar como "alegada nos debates" ou "debatidas em Plenário" tanto a defesa técnica quanto a autodefesa realizada
pelo acusado no momento do interrogatório, de forma que ambas são legítimas para ensejar o reconhecimento de atenuantes e
agravantes. STJ. 5ª Turma. HC 161602/PB, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/11/2014.
É possível a compensação de atenuantes e agravantes? Sim, desde que estejam no mesmo patamar. Ex: atenuantes e
agravantes subjetivas podem ser compensadas.
As agravantes incidem em todos os tipos de crimes? Em regra, só incidem em crimes dolosos (consciência e vontade de
agravar). Exceção: a agravante da reincidência é cabível também nos crimes culposos.
ATENÇÃO! Temos antiga decisão no STF admitindo, além da reincidência, outras agravantes incidindo em crimes culposos,
como, por exemplo, o motivo torpe (ganância) à ex: caso Bateau Mouche. Mas este não é o entendimento que prevalece,
hoje, no STF.
DE OLHO NA JURIS! As agravantes (tirante a reincidência) não se aplicam aos crimes culposos
As circunstâncias agravantes genéricas não se aplicam aos crimes culposos, com exceção da reincidência. STF. 1ª Turma. HC
120165/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2014 (Info 735).
A agravante não articulada na denúncia pode ser reconhecida pelo juiz? Sim (art.385, CPP).
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado
pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
OBS: a DP não admite isso, pois entende que tal dispositivo não foi recepcionado pela CF/88, uma vez que viola a ampla defesa.
O juiz não pode agir, ele apenas julga.
CP, Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I - a reincidência;
CP, Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no
País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.
Pressupostos da reincidência:
i) Trânsito em julgado da sentença condenatória por crime anterior;
ii) Cometimento de novo crime.
LCP, Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o
tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.
Obs1: Nos termos do art.9º, CP, não há necessidade de homologação, pelo STJ, da sentença condenatória estrangeira para
caracterizar reincidência.
Obs2: Se o crime praticado no estrangeiro é fato atípico no Brasil, pode gerar reincidência no futuro? Não. Ex: Americano é
condenado por perjúrio no seu país (atípico no nosso ordenamento). Mudou-se para o Brasil e, aqui, pratico furto. É
reincidente? Não.
@dicas.exconcurseira 104
PERGUNTA DE CONCURSO: A espécie de pena imposta ao crime antecedente interfere na reincidência?
CONCLUSÃO: Não importa a espécie de pena imposta no crime antecedente. O que importa é a condenação definitiva anterior.
CP, Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 anos, poderá ser suspensa, por 2 a 4 anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
§1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício. à se a multa não gerasse reincidência, não
haveria necessidade de existir esse §1º.
A extinção da punibilidade do crime anterior gera reincidência? Depende do momento da extinção da punibilidade (se
antes ou depois da sentença condenatória transitada em julgado).
Causa extintiva da punibilidade ANTERIOR à nova condenação definitiva à não gera reincidência
Ex: prescrição da pretensão punitiva em abstrato.
CP, Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência.
Obs1: Para caracterizar a reincidência, o novo crime deve ser praticado depois do trânsito em julgado da condenação por crime
anterior. Se o novo crime for cometido no mesmo dia do trânsito em julgado do crime anterior, não há reincidência.
Obs2: No prazo depurador da reincidência (5 anos), computa-se o período de prova do sursis e do livramento condicional, se
não houver revogação.
Crimes militares próprios à tipificados no CPM e só podem ser praticados por militares. Ex: deserção.
Obs2: Como se comprova a reincidência? Através da certidão cartorária. O STJ flexibilizou essa exigência, admitindo como prova
a folha de antecedentes.
@dicas.exconcurseira 105
Condenação passada pode servir como maus antecedentes e reincidência, ao mesmo tempo?
Súmula 241, STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como
circunstância judicial.
2ª Corrente (STF e STJ): a conduta do reincidente merece maior reprovabilidade. Não há falar em dupla valoração pelo mesmo
fato, preponderando o princípio da individualização da pena.
Aula 03
APLICAÇÃO DA PENA
Atenuantes
As atenuantes sempre atenuam a pena?
Em regra, sim (art.65, CP).
Exceções:
i) Não incide a atenuante quando essa circunstância já constitui ou privilegia o crime.
Crítica: sem previsão legal, esta exceção viola o princípio da legalidade (não há bis in idem, porque é benéfico ao
réu);
ii) Não incide a atenuante quando a pena-base foi fixada no mínimo. O juiz, nesta fase, está atrelado aos limites
mínimos e máximos previstos no preceito secundário. Súmula 231, STJ (A incidência da circunstância atenuante
não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal).
Crítica: a Súmula 231 do STJ viola o princípio da legalidade, pois esta limitação só está prevista em lei para a 1ª fase
(art.59, II, CP). Esta súmula também viola o princípio da individualização da pena. Por consequência, viola o
princípio da igualdade/isonomia, no caso, por exemplo, de concurso de pessoas.
iii) Não incide a atenuante quando a agravante for preponderante (art.67, CP).
ATENÇÃO! As atenuantes incidem em TODOS os crimes: dolosos, preterdolosos e culposos. Diferentemente das agravantes
que, em regra, só se aplicam aos crimes dolosos, salvo a reincidência.
DE OLHO NA JURIS! As agravantes genéricas podem ser aplicadas aos crimes preterdolosos
É possível a aplicação das agravantes genéricas do art. 61 do CP aos crimes preterdolosos. Ex.: pode ser aplicada agravante
genérica do art. 61, II, “c”, do CP no delito de lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, do CP). STJ. 6ª Turma. REsp
1254749-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6/5/2014 (Info 541).
Atenuante de menoridade relativa (art.65, 1ª parte, CP): ser o agente menos de 21 anos na data do fato.
Atenuante da senilidade (art.65, 2ª parte, CP): ser o agente maior de 70 anos na data da sentença.
Fundamento: alterações físicas e psíquicas que influem no ânimo do criminoso idoso. Menor capacidade de suportar
integralmente a pena.
Qual seria a data considerada “data da sentença”? Prevalece que seria a decisão de 1º grau, salvo se absolutória,
hipótese em que abrange o acórdão condenatório.
1ª situação 2ª situação
João com 69 anos é condenado João com 69 anos é absolvido
Recorre e Tribunal, 2 anos depois, confirma a condenação MP recorre e Tribunal, 2 anos depois, condena
Não incide a atenuante Incide a atenuante
@dicas.exconcurseira 106
Atenuante da confissão espontânea: ter o agente confessado, espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime.
Fundamento: tranquiliza o espírito do julgador, pois o agente demonstra colaboração.
Requisitos:
i) A confissão deve ser espontânea (livre de interferência subjetiva externa);
ii) A confissão deve ser feita perante a autoridade.
Se a confissão for utilizada pelo juiz para condenar, deve ser utilizada como atenuante
Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante
prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.
Súmula 630-STJ
Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o
reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio. •
Importante. • Aprovada em 24/04/2019.
DE OLHO NA JURIS!
1) A confissão espontânea pode servir de fundamento para a redução da pena-base abaixo do grau mínimo previsto em lei (Juiz
Federal TRF2 2013)?
NÃO. A confissão é uma atenuante (art. 65, III, “d”, do CP) e, segundo entendimento sumulado do STJ, as atenuantes não podem
reduzir a pena do réu abaixo do mínimo legal:
Súmula 231-STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal.
2) O que é a confissão qualificada? Ela pode ser utilizada como atenuante genérica?
A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no entanto, alega, em sua defesa, um motivo que excluiria
o crime ou o isentaria de pena (ex: eu matei sim, mas foi em legítima defesa).
Ela pode ser utilizada como atenuante genérica?
3) Se a confissão foi parcial e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante
na fase da dosimetria da pena?
SIM. Se a confissão, ainda que parcial, serviu de suporte para a condenação, ela deverá ser utilizada como atenuante (art. 65, III,
“d”, do CP) no momento de dosimetria da pena (HC 217.683/SP, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 25/06/2013).
4) O agente confessa na fase do inquérito policial e, em juízo se retrata, negando a autoria. O juiz condena o réu fundamentando
sua sentença, dentre outros argumentos, na confissão extrajudicial. Deverá incidir a atenuante?
SIM. Se a confissão do agente é utilizada pelo magistrado como fundamento para embasar a condenação, a atenuante prevista
no art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP deve ser aplicada em favor do réu, não importando que, em juízo, ele tenha se retratado
(voltado atrás) e negado o crime (HC 176.405/RO, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 23/04/2013, DJe 03/05/2013).
5) A confissão atenua a pena mesmo que já existissem nos autos outras provas contra o réu?
SIM. O STJ decidiu neste sentido recentemente.
Exemplo: João, em seu interrogatório judicial, confessou a prática do crime. Na sentença, o juiz condenou o réu, mencionando a
sua confissão e aplicando a atenuante. Ocorre que o Ministério Público apelou, pedindo que fosse reformada a sentença para
retirar a redução da atenuante, sob o argumento de que as demais provas colhidas já eram suficientes para uma condenação e
que a atitude do réu de confessar não tinha o propósito de colaborar para a apuração da verdade. Essa tese do MP não é acolhida
pela jurisprudência.
A afirmação de que as demais provas seriam suficientes para condenar o recorrente, a despeito da confissão espontânea, não
autoriza a exclusão da atenuante se esta efetivamente ocorreu e foi utilizada na formação do convencimento do julgador (STJ. 6ª
Turma. REsp 1.183.157-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/10/2012).
@dicas.exconcurseira 107
6) Se a pessoa é acusada de tráfico de drogas e, durante seu interrogatório, nega que seja traficante, mas admite que é usuário,
isto poderá ser utilizado como confissão (atenuante) caso ela seja condenada por tráfico?
NÃO. Segundo a jurisprudência do STJ, não deve incidir a circunstância atenuante da confissão espontânea caso o acusado por
tráfico de drogas confesse ser apenas usuário (Juiz TJPB 2011).
Veja como este tema foi cobrado no concurso da Defensoria Pública de Roraima em 2013:
O recente pronunciamento dos tribunais superiores consolidou-se no sentido da impossibilidade de o julgador, na aplicação da
pena, compensar a agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea (alternativa ERRADA).
A assertiva acima está incorreta porque afirma que o entendimento dos tribunais superiores consolidou-se em um dos sentidos.
Ocorre que, como vimos, existe ainda divergência entre o STJ e o STF. Logo, não há posição consolidada.
9) Quando a infração deixar vestígios o fato do réu ter confessado servirá para suprir a falta do exame de corpo de delito (Juiz
TJPR 2012)?
NÃO. Segundo texto expresso do CPP, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado (art. 158).
10) De acordo com o STF, o juiz-presidente do Tribunal do Júri, ao elaborar a sentença, pode reconhecer a atenuante da confissão
ainda que esta não tenha sido debatida no Plenário (o réu confessou, mas nem a defesa nem a acusação pediram que fosse
reconhecida esta circunstância)?
SIM.
Apesar do texto da lei, o STF e o STJ possuem julgados aceitando que o juiz-presidente reconheça e aplique a confissão espontânea
mesmo sem que a defesa ou o MP tenha pedido isso expressamente no Plenário:
(...) Pode o Juiz Presidente do Tribunal do Júri reconhecer a atenuante genérica atinente à confissão espontânea, ainda que não
tenha sido debatida no plenário, quer em razão da sua natureza objetiva, quer em homenagem ao predicado da amplitude de
defesa, consagrado no art. 5º, XXXVIII, “a”, da CF.
2. É direito público subjetivo do réu ter a pena reduzida, quando confessa espontaneamente o envolvimento no crime.
3. A regra contida no art. 492, I, do Código de Processo Penal, deve ser interpretada em harmonia aos princípios constitucionais
da individualização da pena e da proporcionalidade. (...)
(HC 106376, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em 01/03/2011)
@dicas.exconcurseira 108
(...) Esta Corte possui o entendimento de que a Lei 11.689/2008, alterando a redação do art. 492 do CPP, conferiu ao juiz
presidente do Tribunal do Júri a atribuição de aplicar as atenuantes e agravantes alegadas nos debates.
3. O juiz presidente deve considerar como "alegada nos debates" ou "debatidas em Plenário" tanto a defesa técnica quanto a
autodefesa realizada pelo acusado no momento do interrogatório, de forma que ambas são legítimas para ensejar o
reconhecimento de atenuantes e agravantes. (...)
(STJ. 5ª Turma. HC 161.602/PB, Rel. Min. Gurgel De Faria, julgado em 18/11/2014).
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não
prevista expressamente em lei.
É neste ponto que a doutrina apresenta a coculpabilidade, que parte da premissa de que a sociedade, muitas vezes, é
desorganizada, discriminatória, excludente, marginalizadora, criando condições sociais que reduzem o âmbito de determinação e
liberdade do agente, contribuindo, portanto, para o delito.
Críticas:
i) Parte da falsa ideia de que a pobreza é causa do delito;
ii) Pode conduzir a redução de garantias quando se trata de processar o rico;
iii) Continua ignorando a seletividade do poder punitivo.
Obs1: O quantum das causas de diminuição e aumento de pena está identificado na lei, podendo ser em quantidade variável ou
fixo.
Obs2: Na 3ª fase do cálculo da pena, o juiz não está atrelado aos limites máximo e mínimo previstos no preceito secundário.
CUIDADO! Não podemos confundir as causas de aumento e de diminuição com as agravantes e atenuantes.
@dicas.exconcurseira 109
CUIDADO! Também não podemos confundir as causas de aumento com a qualificadora.
HAVENDO UMA SÓ CAUSA DE DIMINUIÇÃO OU AUMENTO à o juiz, com base no quantum previsto em lei, deve diminuir ou
aumentar.
É possível – aliás, muito comum – o concurso de causas de aumento e/ou diminuição.
CONCURSO HOMOGÊNEO à 2 ou mais causas de aumento, ou 2 ou mais causas de diminuição.
CONCURSO HETEROGÊNEO à uma causa de aumento concorrendo com uma causa de diminuição.
a) DUAS CAUSAS DE AUMENTO PREVISTAS NA PARTE GERAL DO CP: o juiz, sem escolha, aplica as 2 causas de aumento. Neste
caso, deve-se observar o princípio da incidência isolada: o segundo aumento recai sobre a pena originária, e não sobre a pena já
aumentada (beneficia o réu).
b) DUAS CAUSAS DE AUMENTO PREVISTAS NA PARTE ESPECIAL DO CP: aplica-se o art.68, p.u., CP, ou seja, o juiz escolhe:
i) aplica as 2 causas de aumento (princípio da incidência isolada)
ii) aplica somente a causa de aumento que mais aumenta a pena.
Obs: a decisão do juiz deve considerar o princípio da suficiência da pena.
CP, art.68, Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-
se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
c) CAUSA DE AUMENTO PREVISTA NA PARTE GERAL + CAUSA DE AUMENTO PREVISTA NA PARTE ESPECIAL DO CP: não vai se
aplicar o p.u. do art.68, CP, pois este dispositivo exige que as duas causas de aumento estejam previstas na parte especial.
Solução: o juiz deve aplicar as duas causas de aumento, seguindo o princípio da incidência isolada.
a) DUAS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO PREVISTAS NA PARTE GERAL DO CP: o juiz deve aplicar as 2 causas de diminuição. Neste caso,
aplica-se o princípio da incidência cumulativa: a segunda diminuição recai sobre a pena já diminuída.
b) DUAS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO PREVISTAS NA PARTE ESPECIAL DO CP: aplica-se o p.u. do art.68, CP, ou seja, o juiz escolhe:
i) aplica as 2 causas de diminuição (princ. da incidência cumulativa);
ii) aplica somente a causa de diminuição que mais diminua a pena.
c) CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NA PARTE GERAL DO CP + CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NA PARTE ESPECIAL DO CP:
não vai se aplicar o p.u. do art.68, CP, pois este dispositivo exige que as duas causas de diminuição estejam previstas na parte
especial. Solução: o juiz deve aplicar as duas causas de diminuição, conforme o princípio da incidência cumulativa.
ATENÇÃO! O juiz primeiro AUMENTA a pena; depois, sob a pena majorada, aplica a casa de DIMINUIÇÃO.
@dicas.exconcurseira 110
JURISPRUDÊNCIA SOBRE DOSIMETRIA DA PENA
A revisão da dosimetria da pena em recurso especial é admissível apenas diante de ilegalidade flagrante
Em regra, não cabe, no recurso especial, a revisão da dosimetria da pena estabelecida pelas instâncias ordinárias. Exceção: o STJ
admite a mudança da pena no recurso especial em casos excepcionais quando ficar constatada ilegalidade flagrante, ou seja,
quando houver manifesta violação dos critérios dos arts. 59 e 68, do Código Penal. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 711.268/CE,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/12/2016. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 301.889/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
13/12/2016.
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-
aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
§1º - Considera-se:
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
§2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado,
observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8, poderá, desde o princípio, cumpri-la em
regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
§3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste
Código.
Obs: Súmula 269, STJ: se o condenado for reincidente e condenado a pena igual ou inferior a 4 anos, mas as circunstâncias
judiciais lhe forem favoráveis, poderá cumprir a pena em regime inicial semi-aberto.
Súmula 269, STJ: É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a
quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
DE OLHO NA JURIS! Imposição do regime semiaberto para réu reincidente, condenado a 1 ano e 4 meses de reclusão pelo furto
de uma garrafa de licor
João, reincidente, foi condenado a uma pena de 1 ano e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do crime
de furto simples (art. 155, caput, do CP). A defesa postulou a aplicação do regime aberto com base no princípio da
insignificância, considerado o objeto furtado ter sido apenas uma garrafa de licor. O STF decidiu impor o regime semiaberto.
Entendeu-se que, de um lado, o regime fechado deve ser afastado. Por outro, não se pode conferir o regime aberto para um
condenado reincidente, uma vez que isso poderia se tornar um incentivo à criminalidade, ainda mais em cidades menores, onde
o furto é, via de regra, perpetrado no mesmo estabelecimento. A reincidência delitiva do paciente, que praticou o quinto furto
em pequeno município, eleva a gravidade subjetiva de sua conduta. STF. 1ª Turma. HC 136385/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, red.
p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/8/2018 (Info 910).
@dicas.exconcurseira 111
Súmula 718, STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a
imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.
Súmula 719, STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.
O que é considerado motivação idônea para impor ao condenado regime mais gravoso?
Exige-se que o juiz aponte circunstâncias que demonstrem que o fato criminoso, concretamente, foi grave. Se as circunstâncias
judiciais do art. 59 forem desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses dados para impor ao condenado regime
inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena aplicada. Se as penas-base de ambos os crimes são fixadas acima
do mínimo legal em face da valoração negativa das circunstâncias do art. 59 do Código Penal, não há ilegalidade na imposição de
regime inicial mais gravoso do que o abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada. STJ. 5ª Turma. AgRg
no REsp 1471969/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 20/11/2014.
PERGUNTA DE CONCURSO: Se o juiz fixou a pena base no mínimo legal, pode, com fundamento no art.59, CP, determinar regime
prisional mais severo do que o permitido pelo art.33, CP? De acordo com a maioria da doutrina, nada impede que o juiz fixe a
pena-base no mínimo e, depois, imponha regime prisional mais severo, não seguindo rigorosamente o art.33, CP. O art.59, CP é
utilizado sob perspectivas diferentes na pena-base e no regime prisional.
Súmula 440, STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o
cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
Fixada a pena-base no mínimo legal, não é possível a imposição de regime inicial mais severo do que aquele abstratamente
imposto
Se todas as circunstâncias judiciais são favoráveis, de forma que a pena-base foi fixada no mínimo legal, então, neste caso, não
cabe a imposição de regime inicial mais gravoso. STF. 2ª Turma. RHC 131133/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/10/2017
(Info 881). Obs: o STJ possui um enunciado nesse sentido: Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o
estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade
abstrata do delito.
DETENÇÃO
PEGADINHA DE CONCURSO! Não admitir regime inicial fechado não significa que o cumprimento da pena de detenção não
possa ocorrer no regime mais severo (sendo perfeitamente possível por meio da regressão). Assim, a detenção não pode
começar no regime fechado, mas pode ser cumprida no regime fechado, se ocorrer a regressão.
ATENÇÃO!
Estatuto do Índio, Art. 56. No caso de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o
Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola.
Parágrafo único. As penas de reclusão e de detenção serão cumpridas, se possível, em regime especial de semiliberdade, no local
de funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais próximos da habitação do condenado.
PERGUNTA DE CONCURSO: A detração (art.42, CP) influencia na fixação do regime inicial do cumprimento de pena?
Lei 12.736/12
ANTES DEPOIS
A detração não influenciava na fixação do regime inicial de A detração influencia na fixação do regime inicial de
cumprimento da pena, tratando-se de instituto considerado cumprimento de pena (art.387, §2º, CPP)
pelo juiz da execução penal.
@dicas.exconcurseira 112
CP, Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou
no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior
ATENÇÃO! Apesar de existir corrente em sentido contrário, o tempo de prisão provisória só autoriza imposição de regime menos
severo quando coincidente com o tempo de progressão.
Fixada a pena privativa de liberdade e determinado o regime prisional para o seu cumprimento, deve o juiz verificar a
possibilidade substituição da prisão por penas restritivas de direito ou modificar a sua execução (sursis ou livramento
condicional).
@dicas.exconcurseira 113
Aula 04
As penas restritivas de direito, espécies de pena alternativa, seguindo a tendência do Direito Penal moderno, buscam
eliminar a pena privativa de liberdade de curta duração, por não atender satisfatoriamente as finalidades da sanção penal
(ênfase de política criminal).
A substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos é faculdade do juiz ou direito subjetivo do réu?
De acordo com a maioria, a sanção alternativa deve ser compreendida como direito público subjetivo do réu (presentes as
exigências legais, impõe-se a substituição).
REAIS PESSOAIS
Atingem o patrimônio do condenado Atingem a pessoa do condenado
a) Prestação pecuniária (art.45, §1º, CP) a) Prestação de serviços à comunidade (art.46, CP)
b) Perda de bens e valores (art.45, §3º, CP) b) Interdição temporária de direitos (art.47, CP)
≠ confisco
c) Limitação de fim de semana (art.48, CP)
Juiz não deve decretar o arresto dos bens do condenado como forma de cumprimento forçado da prestação pecuniária (pena
restritiva de direitos)
Em caso de descumprimento injustificado da pena restritiva de direitos (ex: prestação pecuniária), o CP prevê, como
consequência, a reconversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade. Logo, o juiz não deve decretar o arresto
dos bens do condenado como forma de cumprimento forçado da pena substitutiva. A possibilidade de reconversão da pena já é
a medida que, por força normativa, atribui coercividade à pena restritiva de direitos. Ex: João foi condenado a pena de 3 anos de
reclusão, tendo o juiz substituída a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos. Uma delas foi o pagamento de
prestação pecuniária no valor total de R$ 100 mil, parceladamente em 36 prestações mensais. O Ministério Público afirmou que
o prazo para cumprimento da prestação pecuniária é muito longo e que haveria o risco de o condenado não pagar. Diante disso,
pediu ao juiz que decretasse o arresto dos bens do sentenciado. Este requerimento deverá ser indeferido. STJ. 6ª Turma. REsp
1699665-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2018 (Info 631).
Obs: Nada impede que leis extravagantes criem penas restritivas especiais.
a) Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/03, art.41-B, §2º): §2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de
reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize
evento esportivo, pelo prazo de 3 meses a 3 anos, de acordo com a gravidade da conduta, na hipótese de o agente ser primário,
ter bons antecedentes e não ter sido punido anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo.
@dicas.exconcurseira 114
c) Lei de Drogas – Lei 11.343/06
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
CP, Art. 44. As penas restritivas de direitos são AUTÔNOMAS e SUBSTITUEM as privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 anos E o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
a) Autonomia: as PRD’s não podem ser cumuladas com penas privativas de liberdade.
ATENÇÃO! Há exceções a esta regra (CAI EM PROVA!!):
i) CDC, art.78;
ii) CTB, art.292.
CDC, Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, observado
odisposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:
I - a interdição temporária de direitos;
II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os
fatos e a condenação;
III - a prestação de serviços à comunidade.
CTB, Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser
imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades.
b) Substitutividade: o juiz, primeiro, fixa a pena privativa de liberdade, anunciando, em seguida, o regime inicial de
cumprimento da pena. Depois, na mesma sentença, substitui a pena privativa de liberdade por restritivas de direito.
Exceção: para o usuário de droga, a PRD (art.28) é sanção principal, e não substitutiva de pena privativa de liberdade (PPL).
CP, Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa
de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46.
CP, Art.46, § 4o Se a pena substituída for superior a 1 ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor
tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.
Estatuto do Torcedor, Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores em
eventos esportivos:
Pena - reclusão de 1 a 2 anos e multa.
@dicas.exconcurseira 115
§2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de reclusão em pena impeditiva de comparecimento às
proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3 meses a 3 anos, de
acordo com a gravidade da conduta, na hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido
anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo.
ATENÇÃO! O art.44, §3º, CP admite a substituição da pena para o reincidente, desde que:
a) Seja socialmente recomendável;
b) Não seja reincidente específico.
§3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida
seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
O autor de crime preterdoloso deve preencher os requisitos do crime doloso ou culposo? Prevalece que deve
preencher os requisitos do crime culposo. Crítica da minoria: antes da culpa, o agente já agia com dolo; a culpa é somente um
resultado agravador.
Cabe PRD’s nos delitos de lesão corporal leve, ameaça e constrangimento ilegal? Sim.
• São todos crimes dolosos;
• Cometidos com violência ou grave ameaça;
• No entanto, são também infrações de menor potencial ofensivo;
• No conflito aparente entre o art.44, I, CP e o art.62, Lei 9.099/95, deve prevalecer a lei especial.
Lei 9.099, Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia
processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não
privativa de liberdade.
ATENÇÃO! Lei 11.340/06, Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Cabe restritivas de direitos nos delitos militares? O CPM não prevê penas restritivas de direitos. Trata-se de omissão
intencional, não podendo ser suprida pela analogia (STF, HC 91.155/SP).
CP, Art.44, §2o Na condenação igual ou inferior a 1 ano, a substituição pode ser feita por multa OU por uma pena restritiva de
direitos; se superior a 1 ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos E multa ou por
duas restritivas de direitos.
@dicas.exconcurseira 116
Conversão das penas restritivas de direitos (art.44, §4º, CP)
§4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da
restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de
direitos, respeitado o saldo mínimo de 30 dias de detenção ou reclusão. à DETRAÇÃO
§5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão,
podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior.
Hipóteses de conversão:
i) Descumprimento injustificado da restrição imposta. Ex: a pena definitiva é de 1 ano de detenção. Há a substituição
por pena restritiva de direito. No 8º mês, ocorre o descumprimento injustificado da PRD. Haverá a conversão da
PRD em PPL. Faz-se a detração. O condenado terá que cumprir 4 meses de detenção.
ii) Condenação a pena PPL por outro crime.
iii) O art.181, LEP, anuncia outras hipóteses de conversão!
É possível a conversão da restritiva de direitos (prestação pecuniária ou perda de bens e valores) em privativa de
liberdade? Apesar de existir minoria não admitindo, pois de natureza diversa, prevalece ser possível a conversão de restritivas
de natureza real em privativa de liberdade, não se aplicando este raciocínio quanto à pena de multa.
DE OLHO NA JURIS! Para que haja conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade exige-se prévia intimação
do condenado
Exige-se contraditório e ampla defesa para a (re)conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade? SIM. É
imprescindível a prévia intimação pessoal do reeducando que descumpre pena restritiva de direitos para que se proceda à
conversão da pena alternativa em privativa de liberdade. Isso porque se deve dar oportunidade para que o reeducando
esclareça as razões do descumprimento, em homenagem aos princípios do contraditório e da ampla defesa. STJ. 5ª Turma. HC
251312-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/2/2014 (Info 536).
Pena de multa
Lei 8666/93, Art. 99. A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98 desta Lei consiste no pagamento de quantia fixada na
sentença e calculada em índices percentuais, cuja base corresponderá ao valor da vantagem efetivamente obtida ou
potencialmente auferível pelo agente.
§1o Os índices a que se refere este artigo não poderão ser inferiores a 2%, nem superiores a 5% do valor do contrato licitado ou
celebrado com dispensa ou inexigibilidade de licitação.
§2o O produto da arrecadação da multa reverterá, conforme o caso, à Fazenda Federal, Distrital, Estadual ou Municipal.
@dicas.exconcurseira 117
Lei 8245/91, Art. 43. Constitui contravenção penal, punível com prisão simples de 5 dias a 6 meses ou multa de 3 a 12 meses do
valor do último aluguel atualizado, revertida em favor do locatário:
I - exigir, por motivo de locação ou sublocação, quantia ou valor além do aluguel e encargos permitidos;
II - exigir, por motivo de locação ou sublocação, mais de uma modalidade de garantia num mesmo contrato de locação;
III - cobrar antecipadamente o aluguel, salvo a hipótese do art. 42 e da locação para temporada.
2º Momento: depois de calculada a quantidade de dias-multa, o juiz decide O VALOR DE CADA DIA-MULTA (art.60, CP)
Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu.
§1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz,
embora aplicada no máximo.
CÁLCULO DA MULTA
ETAPAS MÍNIMO MÁXIMO
Quantidade de dias-multa 10 360
(critério trifásico do art.59, CP)
Valor do dia-multa 1/30 5 salários mínimos
(situação econômica do réu) (até 3x)
1ª Corrente: não deve ser executada, já que o Poder Público arcará com a sua cobrança, gastando valor superior ao que
será arrecadado.
2ª Corrente (PREVALECE): a cobrança em juízo é obrigatória, não importando seu valor. Pena de multa é pena, incidindo
sobre ela os princípios da imperatividade e inderrogabilidade.
Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 dias depois de transitada em julgado a sentença. A requerimento do condenado e
conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais.
Não pagamento da multa (art.51, CP) à ATENÇÃO! A redação do caput do art.51 do CP foi recentemente alterada pela Lei
13.964/2019 (Lei do Pacote Anticrime).
Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas
da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da
prescrição.
@dicas.exconcurseira 118
CP, Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, A MULTA SERÁ EXECUTADA perante o JUIZ DA EXECUÇÃO PENAL e
será considerada DÍVIDA DE VALOR, aplicáveis as normas relativas à DÍVIDA ATIVA DA FAZENDA PÚBLICA, inclusive no que
concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
Comentários do prof. Fábio Roque: vamos lembrar que, até 1996, a multa inadimplida era convertida em pena
privativa de liberdade. Em 1996, o inadimplemento da multa passou a gerar a conversão da multa em DÍVIDA DE VALOR. A partir
de então, surgiu a grande polêmica: essa dívida deveria ser cobrada no juízo da Execução Penal (porque deriva de uma sanção
penal) ou no juízo da Fazenda Pública? Durante muitos anos, consolidou-se o entendimento de que a execução deveria se dar na
Vara da Fazenda Pública. Este entendimento foi alterado em 2018, quando o STF julgou a ADI 3150 e, em interpretação
conforme a Constituição, afirmou que a execução da pena de multa inadimplida deveria ser feita prioritariamente pelo
Ministério Público perante a Vara de Execução Penal. E, se o MP não promovesse a execução da multa no prazo de 90 dias, aí
sim, subsidiariamente, a cobrança poderia ser feita pela Procuradoria da Fazenda perante a Vara da Fazenda Pública. Portanto, a
alteração que a Lei 13.964/2019 promoveu no art.51 do CP vai de encontro ao entendimento do STF. Perceba, no entanto, que a
atual redação do art.51 não prevê a possibilidade subsidiária de se executar perante a Vara da Fazenda Pública
MP é quem deve executar a pena de multa e, apenas se ficar inerte por mais de 90 dias, essa legitimidade é transferida para a
Fazenda Pública
O Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória
transitada em julgado, com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública. Quem executa a pena de multa?
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado: a Fazenda Pública irá executar, na vara de
execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº 6.830/80. STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 12 e 13/12/2018 (Info 927). STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).
Obs: a Súmula 521-STJ fica superada e deverá ser cancelada. Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa
pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.
@dicas.exconcurseira 119
Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927). STF. Plenário. AP
470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).
Cominadas cumulativamente penas privativas de liberdade e pecuniária, pode o juiz substituir a prisão por pena de
multa?
Súmula 171, STJ: Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativas de liberdade e pecuniária, é defeso a
substituição da prisão por multa.
Lei 11.343/06, Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.
@dicas.exconcurseira 120
Aula 05
Se não for possível substituir a pena privativa de Liberdade por pena restritiva de direito, ainda será possível a
suspensão condicional da pena (sursis).
O sursis é instituto de política criminal que suspende, por um certo tempo (período de prova) a execução da pena
privativa de liberdade, ficando o sentenciado em liberdade sob determinadas condições. Trata-se de exceção ao princípio da
inevitabilidade da pena.
CP, Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 anos, poderá ser suspensa, por 2 a 4 anos, desde que:
à prevalece que a expressão “poderá” indica, na verdade, um poder-dever do juiz – é, pois, direito subjetivo do réu.
SISTEMAS DO SURSIS
FRANCO BELGA ANGLO-AMERICANO PROBATION OF FIRST OFFENDERS ACT
O réu é processado O réu é processado O réu é processado
É reconhecdio culpado É reconhecido culpado -----------------------
Existe condenação ------------------------ -----------------------
Suspende-se a execução da pena Suspende-se o processo, evitando a Suspende-se o processo, sem o
imposição da pena reconhecimento da culpa.
Adotado pelo Brasil para disciplinar a Não foi adotado pelo Brasil. Adotado pelo Brasil para disciplinar a
suspensão condicional da pena. suspensão condicional do processo.
CP, Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 anos, poderá ser suspensa, por 2 a 4 anos, desde
que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias
autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
§2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 4 anos, poderá ser suspensa, por 4 a 6 anos, desde que o
condenado seja maior de 70 anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.
Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições estabelecidas
pelo juiz.
§1º - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim
de semana (art. 48).
§2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe
forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes condições, aplicadas
cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
@dicas.exconcurseira 121
SURSIS SIMPLES SURSIS ESPECIAL
Art.77 c/c art.78, §1º Art.77 c/c art.78, §2º
Pena imposta: não superior a 2 anos
Período de prova: de 2 a 4 anos
Reparação do dano
ou comprovada impossibilidade
Durante o 1º ano do período de prova: Durante o 1º ano do período de prova:
- Prestação de serviços à comunidade - Proibição de frequentar determinados lugares
ou +
- Limitação de fim de semana - Proibição de ausentar-se da comarca, sem autorização do
juiz
+
- Comparecimento mensal em juízo
Requisitos:
1 – Condenado não reincidente em crime doloso
2 – Circunstâncias judiciais favoráveis (suficiência da medida)
3 – Não indicada ou cabível a substituição da pena por restritivas de direito (sursis é subsidiário)
CUIDADO! Condenado reincidente em crime doloso não tem direito ao benefício do sursis, salvo pena de multa.
Revogação obrigatória
Obs2: Rogério Greco, apesar do silêncio da lei, ensina que condenação por crime doloso à pena de multa não tem força para
revogar obrigatoriamente o sursis.
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano;
Obs1: a primeira parte está revogada tacitamente epela Lei 9.268/96, que não mais permite a conversão da multa em pena
privativa de liberdade.
Sentença
Reparação do dano antes Reparação do dano depois
Sursis especial É condição obrigatória para as demais espécies (condição
legal indireta)
@dicas.exconcurseira 122
Revogação facultativa
Art.81, §1º - A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é
irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.
PERÍODO DE PROVA
CONDENAÇÃO CONSEQUÊNCIA
Crime doloso + PPL/PRD Revogação obrigatória (art.81, I, CP)
Crime doloso + multa Lei: revogação obrigatória
Rogério Greco: não revoga
Crime culposo + PPL/PRD Revogação facultativa (art.81, §1º, CP)
Crime culposo + multa Não revoga
Contravenção penal + PPL/PRD Revogação facultativa (art.81, §1º, CP)
Contravenção penal + multa Não revoga
Obs: art.81, §3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de prova até o
máximo, se este não foi o fixado.
PERGUNTAS DE CONCURSO:
1 – É possível sursis incondicionado? Não. Todas as espécies de sursis obrigam ao cumprimento de condições no 1º ano do
benefício.
2 – E se o magistrado não impõe condição? Cabe embargos de declaração para suprir a omissão ou recurso de apelação,
3 – E se ninguém recorre, pode o juiz da execução suprir a omissão? No STJ, prevalece que, se o juiz da condenação não supre a
omissão, nada impede que, provocado ou de ofício, o juiz da execução especifique as condições. Não se pode falar em ofensa à
coisa julgada, pois esta diz respeito à concessão do sursis, e não às condições.
ATENÇÃO! A Lei 13.965/2019 (Lei do Pacote Anticrime) alterou a redação do inc.III do art.83 do CP, para acrescentar um
requisito à concessão do livramento condicional: O NÃO COMETIMENTO DE FALTA GRAVE NOS ÚLTIMOS 12 MESES. Este novo
requisito é interessante, porque o que consta na Súmula 441 do STJ é o entendimento de que a prática de falta grave NÃO
interrompe o prazo para a concessão do livramento condicional, deixando a entender que “falta grave” é uma coisa e
“livramento condicional” é outra coisa. Mas, agora, com a alteração promovida pela Lei Anticrime, aquele que cometer falta
grave nos últimos 12 meses não poderá obter o livramento condicional.
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade IGUAL OU SUPERIOR A 2
ANOS, desde que:
I - cumprida MAIS DE 1/3 DA PENA se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;
III - comprovado:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) NÃO COMETIMENTO DE FALTA GRAVE nos últimos 12 MESES; à ESTE É O NOVO REQUISITO!
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;
V - cumpridos MAIS DE 2/3 DA PENA, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado NÃO for REINCIDENTE ESPECÍFICO em crimes
dessa natureza.
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido COM violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do
livramento ficará também subordinada à constatação de CONDIÇÕES PESSOAIS que façam presumir que o liberado não voltará
a delinqüir.
@dicas.exconcurseira 124
Efeitos da revogação
Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por
outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado.
Extinção
Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a sentença em processo a que responde o
liberado, por crime cometido na vigência do livramento.
Art. 90 - Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de liberdade.
@dicas.exconcurseira 125
Aula 06
MEDIDA DE SEGURANÇA
É mais um instrumento, ao lado da pena, utilizado pelo Estado, na resposta à violação da norma penal, pressupondo
agente não imputável.
Obs1: Princípio da legalidade à existe corrente ensinando que, em razão de seu caráter curativo, a medida de segurança não se
sujeitaria à reserva legal e à anterioridade. Não é o que prevalece.
ATENÇÃO! Nota-se que o CP leva em consideração apenas a gravidade da infração e não a periculosidade do agente. Ignora o
princípio da proporcionalidade.
CUIDADO! Tem prevalecido o caráter excepcional da internação (políticas antimanicomiais). Nesse sentido, art.17 da Resolução
113, CNJ.
CP, Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
@dicas.exconcurseira 126
INIMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL
Art.26, caput, CP Art.26, parágrafo único, CP
Doença mental Perturbação mental
Periculosidade presumida Periculosidade comprovada
Absolvição imprópria Condenação
(absolvição + medida de segurança) (o juiz, na imposição da sanção penal, escolhe: pena
diminuída ou substituição da pena por medida de segurança
– sistema vicariante)
CP, art.97, §1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for
averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 a 3 anos.
Medida de segurança tem prazo mínimo, mas não tem prazo máximo, segundo a lei.
É possível detração (art.42, CP).
A indeterminação do prazo máximo é constitucional? Hoje, nos tribunais superiores, prevalece a tese da
inconstitucionalidade da indeterminação do prazo máximo, vez que viola a proibição da prisão perpétua.
1ª Corrente (STF): sugere o prazo máximo de 30 anos (o máximo previsto para as penas privativas de liberdade)
2ª Corrente (STJ): sugere que a medida de segurança não pode ser aplicada por tempo superior à pena máxima cominada ao
crime.
§ 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer
tempo, se o determinar o juiz da execução.
Obs: a expressão “ou a qualquer tempo” significa que a perícia pode ser antecipada (jamais postergada).
LEP, Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do internado ou do submetido a tratamento
ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento.
Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo Juiz da execução.
§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes
do decurso de 1 ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade.
Obs2: se dentro de 1 ano, o agente pratica fato indicativo da persistência da periculosidade, a medida de segurança é
restabelecida.
Desinternação progressiva
A jurisprudência dos tribunais superiores tem admitido a desinternação progressiva, consistente na passagem da
internação para o tratamento ambulatorial antes da definitiva liberação do agente.
@dicas.exconcurseira 127
Reinternação do agente (art.97, §4º, CP)
§ 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do agente, se essa providência for
necessária para fins curativos.
LEP, Art. 108. O condenado a quem sobrevier doença mental será internado em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
LEP, Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde
mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, poderá
determinar a substituição da pena por medida de segurança.
Escoado o limite de cumprimento da medida de segurança, mas persistindo a periculosidade do agente, o que deve ser
feito? Deve-se buscar, perante o juízo cível, a interdição do agente, demonstrando a necessidade da internação extrapenal
como forma de proteger o paciente e a sociedade.
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Aula 07
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
Efeito PENAL:
i) Principal: execução forçada da sanção imposta
ii) Secundários: reincidência, interrupção da prescrição, revogação de benefícios como o sursis, etc.
Efeito EXTRAPENAL:
a) Genérico: art.91, CP
b) Específico: art.92, CP
c) *Art.91-A, CP
*ATENÇÃO! A Lei 13.964/2019 (Lei do Pacote Anticrime) acrescentou o art.91-A, trazendo novos EFEITOS EXTRAPENAIS
ESPECÍFICOS: a possibilidade da perda de bens que não necessariamente estão relacionados ao crime. Vamos estudar este
artigo mais abaixo.
O indulto extingue somente a pena ou medida de segurança, não interferindo nos efeitos secundários da condenação (Súmula
631-STJ)
Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos
secundários, penais ou extrapenais. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019.
CP, Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine PENA MÁXIMA SUPERIOR A 6 ANOS DE RECLUSÃO,
poderá ser decretada a PERDA, como produto ou proveito do crime, DOS BENS CORRESPONDENTES À DIFERENÇA ENTRE O VALOR
DO PATRIMÔNIO DO CONDENADO E AQUELE QUE SEJA COMPATÍVEL COM O SEU RENDIMENTO LÍCITO.
Comentários do prof. Fábio Roque: é a perda dos bens que não estão comprovadamente vinculados aos crimes pelos
quais o sujeito foi condenado. São bens incompatíveis com o rendimento lícito do sujeito. Ex: sujeito, servidor público há 5 anos,
ganha 100 mil reais ao ano. Antes, ele não havia trabalhado em lugar algum. Vamos supor que este sujeito é condenado pelo
crime de corrupção, que tem pena máxima de 12 anos, pois ficou comprovado que ele recebeu, ilicitamente, 50 mil reais. Uma
vez condenado, ele irá perder esses 50 mil reais, em razão do art.91, II, b, do CP. Mas imaginemos que, durante o processo, se
constata que este funcionário tem um patrimônio de 20 milhões. Perceba que este patrimônio é totalmente incompatível com a
renda anual dele. Isso dá a entender que o sujeito praticou outros diversos crimes, mas estes não foram comprovados durante o
processo. Antes da Lei Anticrime entrar em vigor, o sujeito não teria como perder esse patrimônio, já que ele não é produto ou
proveito direto do crime pelo qual foi condenado. Mas, agora, é possível a perda deste patrimônio incompatível com sua renda,
mesmo que não se comprove a origem criminosa dele. Obs: existe a possibilidade de o sujeito comprovar a sua origem lícita,
conforme §2º do art.91-A.
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§1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens:
I - de sua TITULARIDADE, ou em relação aos quais ele tenha o DOMÍNIO e o BENEFÍCIO DIRETO OU INDIRETO (EX: PATRIMÔNIO
DO SUJEITO QUE ESTÁ EM NOME DE LARANJAS), na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
II - transferidos a terceiros a TÍTULO GRATUITO ou mediante CONTRAPRESTAÇÃO IRRISÓRIA, a partir do início da atividade
criminal. à TENTATIVA DO SUJEITO DE ESCONDER O SEU PATRIMÔNIO, PARA QUE ESTE NÃO SEJA APREENDIDO.
§2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. à Ex: o sujeito
comprova que recebeu aquele bem por herança, ou que exercia outra profissão que lhe gerou aquele rendimento. FIQUE LIGADO!
Perceba que este parágrafo contraria o princípio da presunção de inocência, pois inverte o ônus da prova: é o sujeito que tem que
comprovar a origem lícita dos bens (o MP deverá comprovar a incompatibilidade do patrimônio do sujeito com a sua renda, sem
precisar comprovar que tal patrimônio é declaradamente ilícito; e o sujeito deverá provar a origem lícita do patrimônio).
§3º A perda prevista neste artigo deverá ser REQUERIDA EXPRESSAMENTE pelo Ministério Público (A FIM DE RESGUARDAR O
CONTRADITÓRIO*), por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
* O juiz não pode declarar a perda dos valores incompatíveis com a renda do sujeito de ofício. O MP deve requerer expressamente,
a fim de resguardar o contraditório.
§4º Na sentença condenatória, o juiz deve DECLARAR O VALOR DA DIFERENÇA apurada e ESPECIFICAR OS BENS cuja perda for
decretada.
§5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS e MILÍCIAS deverão ser declarados
PERDIDOS em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo
a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos
crimes.
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos
registros sobre o seu processo e condenação.
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92 deste Código, vedada
reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
Reabilitação é medida jurídica de política criminal que garante ao condenado o sigilo sobre o seu processo e condenação,
podendo também suspender determinados efeitos extrapenais específicos ordenados na sentença. Possui, em suma, duas
finalidades:
i) Assegurar o sigilo da condenação;
ii) Suspender condicionalmente efeitos específicos da condenação previstos no art.92, CP (perda do
cargo/função/mandato eletivo; incapacidade para o poder familiar/tutela/curatela e inabilitação para dirigir
veículo).
De acordo com o art.202, LEP, cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões
fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir
processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei.
Ora, se a LEP já assegura o sigilo, bastando o cumprimento ou extinção da pena, qual é a utilidade da reabilitação nesse
ponto?
1ª Corrente (Rogério Greco): nenhuma utilidade.
2ª Corrente: enxerga graus diversos de sigilo. O sigilo assegurado pela reabilitação é mais amplo, onde as informações só podem
ser obtidas por requisição judicial. Já o sigilo assegurado pela LEP é menos amplo (não precisa de autorização judicial para ser
excepcionado).
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Art.93, parágrafo único, CP
Inc. I – perda do cargo/função II – incapacidade para o exercício do Inc.III – inabilitação para dirigir veículo
poder familiar/tutela/curatela
Vedada a reintegração ao mesmo cargo Vedada a reintegração do poder Possibilidade de reintegração total
ou função familiar em relação ao filho vítima
A reabilitação impede a reincidência de crime futuro? A medida de reabilitação não rescinde a condenação. Logo,
permanecem todos os efeitos penais e extrapenais, dentre eles a reincidência. Só se suspende determinados efeitos (art.92, CP).
Na hipótese de indeferimento do pleito de reabilitação, o mesmo poderá ser renovado? Sim, conforme art.94, p.u., CP.
Revogação da reabilitação
Uma vez concedida, a reabilitação pode ser revogada, de ofício ou a requerimento do MP, se o reabilitado for condenado,
como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa (art.95, CP).
Competência e recurso
Quando indeferido o pedido, o pretenso reabilitado pode interpor recurso? Qual? Sim, apelação (art.593, II, CPP).
Da decisão que concede a reabilitação, cabe recurso? Sim, cabe apelação ou recurso de ofício (art.746, CPP).
Havendo pluralidade de condenações, a reabilitação só pode ser requerida após o transcurso do período de 2 anos a
partir do cumprimento da última sanção penal.
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Aula 08
CONCURSO DE CRIMES
Dá-se o concurso de crimes quando o agente com uma ou várias condutas realiza pluralidade de crimes.
ATENÇÃO! Pode ocorrer entre infrações penais de quaisquer espécies: crime comissivo + omissivo; crime doloso + crime
culposo; crime consumado + crime tentado; crime simples + crime qualificado
CP, Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica 2 ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão
e de detenção, executa-se primeiro aquela.
§1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos
crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código.
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis
entre si e sucessivamente as demais.
Regra de fixação da pena: sistema do cúmulo material à o juiz, primeiro, individualiza as penas de cada um dos crimes (critério
trifásico), somando todas ao final.
CP, Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a
mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de 1/6 até 1/2. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. à cúmulo material
benéfico.
Requisitos: uma única conduta (que, no entanto, pode ser divida em vários atos) + pluralidade de crimes.
Espécies:
a) Concurso formal homogêneo: os crimes decorrentes da conduta única são da mesma espécie.
c) Concurso formal próprio/perfeito/normal: o agente, apesar de provocar 2 ou mais resultados, não tem intenção
independente em relação a cada crime (não há desígnios autônomos). Ex: atropelamento.
d) Concurso formal impróprio/imperfeito/anormal: o agente age com desígnios autônomos em relação a cada crime. Ex: roubo
em ônibus.
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na nuca da mãe), resultaram de desígnios autônomos. Em consequência disso, as penas devem ser aplicadas cumulativamente,
conforme a regra do concurso material. STJ. 6ª Turma. HC 191490-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/9/2012.
O juiz aplica a pena mais grave dentre as cominadas para os vários crimes cometidos pelo agente. Em seguida, majora
essa pena em um quantum anunciado em lei, que é de 1/6 até ½ (sistema da exasperação).
3 – Crime continuado
CP, Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas
condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação
do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso,
de um 1/6 a 2/3.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o
juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as
regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. à cúmulo material benéfico e pena máxima de até 30 anos.
É instituto de baseado em razões de política criminal. O juiz, ao invés de aplicar as penas correspondentes aos vários
crimes praticados em continuidade, por ficção jurídica, para fins de pena, considera como se um só crime tivesse sido praticado
pelo agente, majorando a sua pena. É instituto que nasceu para beneficiar o réu.
@dicas.exconcurseira 134
Requisitos do crime continuado genérico/comum (art.71, caput, CP)
i) Pluralidade de condutas;
ii) Pluralidade de crimes da mesma espécie: crimes previstos no mesmo tipo penal, protegendo o mesmo bem
jurídico.
iii) Elo de continuidade (diferencia o concurso material da continuidade delitiva)
a) Mesmas condições de tempo à entre as várias infrações deve-se obedecer um espaço temporal máximo de
30 dias (construção jurisprudencial);
b) Mesmas condições de lugar à os vários crimes tem que ser praticados na mesma comarca ou comarcas
contíguas (jurisprudência).
c) Mesma maneira de execução;
d) Outras circunstâncias semelhantes.
A continuidade delitiva demanda HOMOGENEIDADE SUBJETIVA? Os vários crimes devem resultar de um plano
previamente elaborado pelo agente?
1ª Corrente (STF, PREVALECE): para caracterizar o crime continuado, deve existir um dolo unitário ou global, que torne coesas
todas as infrações cometidas, executando-se um plano preconcebido. Esse elemento subjetivo é o que diferencia o art.71, CPP
do crime habitual.
2ª Corrente (concurso para DP): a unidade de desígnios ou dolo único não é requisito do crime continuado.
Regra de fixação da pena para o crime continuado genérico/comum: aplica-se o sistema da exasperação à pena de um só dos
crimes (ou a mais grave) + aumento de 1/6 a 2/3.
Regra de fixação da pena para o crime continuado específico: aplica-se o sistema da exasperação, mas, CUIDADO: a pena
cominada não pode ser superior àquela que seria obtida se fosse aplicado o sistema do cúmulo material (é o chamado cúmulo
material benéfico).
Cabe continuidade delitiva em crimes contra a vida? A Súmula 605 do STF diz que não. Porém, esta súmula é anterior à
reforma que trouxe o art.71, p.u., CP. CUIDADO! Alguns concursos públicos ainda cobram o entendimento literal desta súmula.
Como se resolve a sucessão de leis penais durante a continuidade delitiva? Aplica-se a Súmula 711, STF: a lei penal mais
grave aplica-se ao crime continuado, se a sua vigência é anterior à cessão da continuidade.
1ª Corrente (LFG): deve-se desprezar o concurso formal, aplicando-se somente a continuidade delitiva, evitando o bis in idem.
2ª Corrente (STF): os dois concursos podem ser aplicados, não havendo bis in idem.
CP, Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente.
Súmula 723, STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da
infração mais grave com o aumento mínimo de 1/6 for superior a 1 ano.
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MÓDULO III
PARTE ESPECIAL
TÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de 6 a 20 anos.
* DE OLHO NA JURIS! Incidência da qualificadora do motivo torpe em relação ao mandante de homicídio mercenário
O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" (inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor
do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em relação ao mandante, nada obstante este possa
incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe. STJ. 6ª Turma. REsp
1209852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/12/2015 (Info 575). Obs: existem julgados em sentido contrário.
**DE OLHO NA JURIS! A qualificadora do motivo fútil é compatível com o homicídio praticado com dolo eventual
A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com dolo eventual? SIM. O fato
de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte (dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido
praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a
conduta. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/03/2012. STJ. 6ª Turma. REsp 1601276/RJ, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017.
Homicídio qualificado por motivo fútil e fato que surgiu como uma bobagem, mas virou uma briga
Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto desta, houve o homicídio, tal
circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil. Vale ressaltar, no entanto, que a discussão anterior entre vítima e autor
do homicídio, por si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil. Assim, é preciso verificar a situação no caso concreto. STJ. 5ª
Turma. AgRg no REsp 1113364-PE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/08/2013 (Info 525).
*** DE OLHO NA JURIS! Homicídio qualificado pelo meio cruel e reiteração de golpes na vítima
O juiz, na decisão de pronúncia, só pode fazer o decote (retirada) da qualificadora imputada se ela for manifestamente
improcedente, ou seja, se estiver completamente destituída de amparo nos elementos cognitivos dos autos. Isso porque o
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verdadeiro julgador dos crimes dolosos contra a vida são os jurados. O juiz togado somente deve atuar em casos excepcionais
em que a pretensão estatal estiver claramente destituída de base empírica idônea. O fato de o agente ter praticado o crime com
reiteração de golpes na vítima, ao menos em princípio e para fins de pronúncia, é circunstância indiciária do “meio cruel”,
previsto no art. 121, § 2º, III, do CP. STJ. 6ª Turma. REsp 1241987-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
6/2/2014 (Info 537).
**** DE OLHO NA JURIS! Dolo eventual não é compatível com qualificadora de traição, emboscada, dissimulação
O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV (traição, emboscada, dissimulação). STF. 2ª Turma.
HC 111442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2012 (Info 677).
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição:
§2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Homicídio culposo
§3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
Aumento de pena
§4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor de
14 ou maior de 60 anos.
DE OLHO NA JURIS! Morte instantânea da vítima nem sempre irá afastar a majorante do § 4º do art. 121 do CP
No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir
as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante (§ 4º do art. 121 do CP). Se a vítima tiver morte
instantânea, tal circunstância, por si só, é suficiente para afastar a causa de aumento de pena prevista no § 4º do art. 121? NÃO.
No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP, a
não ser que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa. STJ. 5ª Turma. HC 269038-RS, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 2/12/2014 (Info 554).
§5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena (PERDÃO JUDICIAL), se as conseqüências da
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
§6o A pena é aumentada de 1/3 até a 1/2 se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
§7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a 1/2 se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
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II - contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de
7 de agosto de 2006 (LEI MARIA DA PENHA).
Homicídio culposo na condução de veículo automotor e excesso de velocidade porque o réu queria levar drogas para festa:
pode ser utilizado na 1ª fase
O réu foi denunciado por homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB). Ficou provado que ele estava em
alta velocidade e que dirigia o carro imprudentemente porque estava com pressa para levar drogas a uma festa. O juiz pode
aumentar a pena-base com fundamento no fato de que o réu estava transportando droga no carro para levá-la a uma festa?
SIM. O juiz, na análise dos motivos do crime (art. 59 do CP), pode fixar a pena-base acima do mínimo legal em razão de o autor
ter praticado delito de homicídio e de lesões corporais culposos na direção de veículo automotor, conduzindo-o com
imprudência a fim de levar droga a uma festa. Isso porque o fim de levar droga a uma festa representa finalidade que desborda
das razoavelmente utilizadas para esses crimes, configurando justificativa válida para o desvalor. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC
153549-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/6/2015 (Info 563).
O simples fato do condutor do veículo estar embriagado não gera a presunção de que tenha havido dolo eventual
A embriaguez do agente condutor do automóvel, por si só, não pode servir de premissa bastante para a afirmação do dolo
eventual em acidente de trânsito com resultado morte. A embriaguez do agente condutor do automóvel, sem o acréscimo de
outras peculiaridades, não pode servir como presunção de que houve dolo eventual. STJ. 6ª Turma. REsp 1689173-SC, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, julgado em 21/11/2017 (Info 623).
Juiz da 1ª fase do Júri deve examinar se o agente que conduzia o veículo embriagado praticou homicídio doloso ou culposo
Na primeira fase do Tribunal do Júri, ao juiz togado cabe apreciar a existência de dolo eventual ou culpa consciente do condutor
do veículo que, após a ingestão de bebida alcoólica, ocasiona acidente de trânsito com resultado morte. STJ. 6ª Turma. REsp
1689173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 21/11/2017 (Info 623).
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veículo, tendo havido acidente por conta do excesso de velocidade e da embriaguez, resultando na morte da mulher
(condutora). STF. 2ª Turma. HC 113598/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2015 (Info 812).
* Este alguém deve ser capaz; se for incapaz, será caso de homicídio.
Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de 2 a 6 anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos, ou é alienada ou debil mental, ou se
o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um 1/3, se, em conseqüência do aborto ou dos
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas
causas, lhe sobrevém a morte.
@dicas.exconcurseira 140
DE OLHO NA JURIS! Ceifar a vida do feto após iniciado o trabalho de parto
Iniciado o trabalho de parto, não há falar mais em aborto, mas em homicídio ou infanticídio, conforme o caso, pois não se
mostra necessário que o nascituro tenha respirado para configurar o crime de homicídio, notadamente quando existem nos
autos outros elementos para demonstrar a vida do ser nascente. STJ. 5ª Turma. HC 228998-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 23/10/2012.
Art. 128 – NÃO SE PUNE O ABORTO* praticado por MÉDICO: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário à ou ABORTO TERAPÊUTICO
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
* Para maioria da doutrina, trata-se de causas especiais de ausência da ilicitude, embora a redação pareça indicar serem causas
de ausência de culpabilidade ou punibilidade.
CAPÍTULO II
DAS LESÕES CORPORAIS
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano. à LESÃO CORPORAL LEVE à AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO
DE OLHO NA JURIS! Perda de dois dentes configura lesão grave (e não gravíssima)
A lesão corporal que provoca na vítima a perda de dois dentes tem natureza grave (art. 129, § 1º, III, do CP), e não gravíssima
(art. 129, § 2º, IV, do CP). A perda de dois dentes pode até gerar uma debilidade permanente (§ 1º, III), ou seja, uma dificuldade
maior da mastigação, mas não configura deformidade permanente (§ 2º, IV). § 1º Se resulta: III - debilidade permanente de
membro, sentido ou função; § 2º Se resulta: IV - deformidade permanente; STJ. 6ª Turma. REsp 1620158-RJ, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 13/9/2016 (Info 590).
Reconhecimento da gravidade da lesão corporal pode ser feito por outros meios além da perícia
A ausência do laudo pericial não impede que a materialidade do delito de lesão corporal de natureza grave seja reconhecida por
outros meios, como testemunhas e relatórios de atendimento hospitalar. STF. 2ª Turma. HC 114567/ES, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 16/10/2012 (Info 684).
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DE OLHO NA JURIS! Qualificadora da deformidade permanente e posterior cirurgia plástica reparadora
A qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão corporal (art. 129, § 2º, IV, do CP) não é afastada por posterior
cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. Isso porque, o fato criminoso é valorado no
momento de sua consumação, não o afetando providências posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo
custo, como cirurgia plástica ou de tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida) e promovidas a critério
exclusivo da vítima. STJ. 6ª Turma. HC 306677-RJ, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para
acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/5/2015 (Info 562).
Lesão corporal seguida de morte à CRIME PRETERDOLOSO = DOLO EM LESIONAR + CULPA NO RESULTADO MORTE.
§3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo (OU
SEJA, NÃO HOUVE DOLO DIRETO OU EVENTUAL, DE FORMA QUE A MORTE FOI CULPOSA):
Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.
DE OLHO NA JURIS! Lesão corporal qualificada pelo resultado morte e nexo de causalidade
De acordo com o art. 13 do CP, o resultado do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Este art. 13, contudo, deve ser interpretado em conjunto com o art. 18,
segundo o qual a responsabilidade somente pode ser imputada ao agente quando o resultado puder ser atribuível a ele ao
menos culposamente. “A” desfere chutes e joelhadas contra a região abdominal de “B”, fazendo com que este caia, bata a
cabeça e morra. O laudo prova que a causa mortis foi a ruptura de um aneurisma cerebral e não o choque da cabeça no meio-
fio. Neste caso, “A” não responderá pelo resultado morte porque este não lhe pode ser atribuído nem mesmo culposamente.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1094758-RS, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Vasco Della Giustina
(Desembargador convocado do TJ-RS), julgado em 1º/3/2012.
Substituição da pena
§5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos
de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior (SE FOR HIPÓTESE DE LESÃO PRIVILEGIADA);
II - se as lesões são recíprocas.
Aumento de pena
§7o Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código.
DE OLHO NA JURIS! Qualificadora do § 9º do art. 129 do CP aplica-se também quando a vítima for homem
A qualificadora prevista no § 9º do art. 129 do CP aplica-se também às lesões corporais cometidas contra HOMEM no âmbito
das relações domésticas. STJ. 5ª Turma. RHC 27622-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/8/2012.
Lesão corporal contra irmão configura o § 9º do art. 129 do CP não importando onde a agressão tenha ocorrido
Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP – lesão corporal leve –, qualificada pela violência doméstica,
tão somente em razão de o crime não ter ocorrido no ambiente familiar. Ex: João agrediu fisicamente seu irmão na sede da
empresa onde trabalham, causando-lhe lesão corporal leve. O agente deverá responder pelo art. 129, § 9º do CP. Sendo a lesão
corporal praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, deverá incidir a qualificadora do § 9º não
@dicas.exconcurseira 142
importando onde a agressão tenha ocorrido. STJ. 5ª Turma. RHC 50026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
3/8/2017 (Info 609).
§10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo (LESÃO GRAVE, GRAVÍSSIMA E SEGUIDA DE MORTE), se as circunstâncias são
as indicadas no §9o deste artigo (VIOLÊNCIA DOMÉSTICA), aumenta-se a pena em 1/3.
§11. Na hipótese do §9o deste artigo, a pena será aumentada de 1/3 se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência.
§12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3.
@dicas.exconcurseira 143
CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA A HONRA
Exceção da verdade
§3º - Admite-se a prova da verdade (PROVAR QUE O FATO IMPUTADO A ALGUÉM É VERÍDICO), salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141 (PRESIDENTE OU CHEFE DE GOVERNO
ESTRANGEIRO);
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público E a ofensa é relativa ao exercício
de suas funções.
DE OLHO NA JURIS! Difamação pode ser praticada mediante a publicação de vídeo no qual o discurso da vítima seja editado
Configura, em tese, difamação a conduta do agente que publica vídeo de um discurso no qual a frase completa do orador é
editada, transmitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres. A edição de um vídeo ou áudio tem como
objetivo guiar o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de uma pessoa, configura dolo da prática
criminosa. Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que praticada por Deputado Federal, não estará protegida pela
imunidade parlamentar. STF. 1ª Turma. Pet 5705/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/9/2017 (Info 876).
Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: à ATINGE A HONRA SUBJETIVA DO SUJEITO
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
§2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
à INJÚRIA REAL*
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
* Na injúria real:
i. A contravenção de vias de fato fica absorvida pela injúria real;
ii. Haverá concurso entre a injúria real e a violência.
OBS: Quando da violência resultar lesão corporal, a ação penal será pública incondicionada.
§3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa
ou portadora de deficiência: à INJÚRIA RACIAL/QUALIFICADA PELO PRECONCEITO/RACISMO IMPRÓPRIO
Pena - reclusão de 1 a 3 anos* e multa.
Na injúria racial:
i. Prevalece que não é possível o perdão judicial;
ii. A ação penal é pública condicionada à representação do ofendido.
@dicas.exconcurseira 144
* Pena da injúria qualificada não é desproporcional
A pena prevista para o crime de injúria qualificada (art. 140, § 3º do CP) NÃO é desproporcional, sendo compatível com a CF/88,
considerando que tem por objetivo proteger a dignidade da pessoa humana. STF. 1ª Turma. HC 109676/RJ, rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 11/6/2013 (Info 710).
JURISPRUDÊNCIAS SOBRE INJÚRIA! Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere
relação extraconjugal do marido
A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação
extraconjugal com outro homem. Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconjugal com
outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é
ofendida. Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homossexual extraconjugal com outro
homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria. STF.
1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).
Não deve ser punido Deputado Federal que profere palavras injuriosas contra adversário político que também o ofendeu
imediatamente antes
Determinado Governador afirmou, em rede social, que certo Deputado Federal estava financiando, com a utilização de
“dinheiro sujo”, a produção de injúrias contra ele e que o parlamentar estava sendo processado pelos crimes de tortura,
corrupção e estupro. No dia seguinte, o Deputado, em resposta, afirmou, também em uma rede social, que o Governador era
acusado de corrupção eleitoral, que tinha como costume fazer acusações falsas para tentar incriminar seus desafetos políticos,
que costumava espancar seu pai e que era desequilibrado mental. O STF entendeu que o Deputado Federal praticou fato típico,
antijurídico e culpável, mas que não deveria ser punido, com base no art. 140, § 1º, II, do CP. O Deputado postou as mensagens
ofensivas menos de 24 horas depois de o Governador publicar a manifestação também injuriosa. Dessa forma, as mensagens do
parlamentar foram imediatamente posteriores às veiculadas pelo ofendido e elaboradas em resposta a elas. Ao publicá-las, o
acusado citou parte do conteúdo da mensagem postada pelo ofendido, comprovando o nexo de pertinência entre as condutas.
Dessa maneira, o ofendido não só, de forma reprovável, provocou a injúria, como também, em tese, praticou o mesmo delito, o
que gerou a retorsão imediata do acusado. Logo, o STF entendeu que não havia razão moral para o Estado punir o Deputado.
STF. 1ª Turma. AP 926/AC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/9/2016 (Info 838).
Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada "não merece ser estuprada" pratica, em tese,
injúria (art. 140 do CP)
O Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que a também Deputada Federal Maria do Rosário (PT-RS), “não merece ser
estuprada por ser muito ruim, muito feia, não faz meu gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria estuprá-la
porque ela não merece". O STF entendeu que a conduta do parlamentar configura, em tese, para fins de recebimento de
denúncia, o crime de injúria: "Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis
meses, ou multa." As declarações do Deputado atingiram a honra subjetiva da Deputada porque rebaixaram sua dignidade
moral, expondo sua imagem à humilhação pública, além de associar as características da mulher à possibilidade de ser vítima de
estupro. STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 21/6/2016 (Info 831).
Diferença entre a injúria comum (art. 140 do CP) e a injúria prevista no art. 326 do CE
Compete à Justiça Comum Estadual, e não à Eleitoral, processar e julgar injúria cometida no âmbito doméstico e desvinculada,
direta ou indiretamente, de propaganda eleitoral, embora motivada por divergência política às vésperas da eleição. STJ. 3ª
Seção. CC 134005-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/6/2014 (Infos 543 e 545).
Disposições comuns
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de 1/3, se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
ATENÇÃO! Com a Lei 13.964/2019 (Lei do Pacote Anticrime), o parágrafo único foi transformado em §1º (mas o seu conteúdo
permanece o mesmo) e o §2º, que se tentava acrescentar, acabou sendo vetado.
@dicas.exconcurseira 145
DE OLHO NA JURIS! Prática de calúnia, difamação e injúria por meio de uma única carta
É possível que se impute, de forma concomitante, a prática dos crimes de calúnia, de difamação e de injúria ao agente que
divulga, em uma única carta, dizeres aptos a configurar os referidos delitos, sobretudo no caso em que os trechos utilizados para
caracterizar o crime de calúnia forem diversos dos empregados para demonstrar a prática do crime de difamação. Ex: João,
síndico do prédio, brigou com Pedro em virtude de desavenças quanto à prestação de contas. Pedro escreveu, então, uma carta,
distribuída a todos os demais condôminos, na qual dizia que João, no mês de 09/2014, desviou R$ 10 mil da conta do
condomínio em proveito próprio (calúnia); que, no dia da assembleia ocorrida em 22/10/2014, estava tão bêbado que não
conseguia parar em pé (difamação) e que ele era um gordo, feioso e burro (injúria). STJ. 5ª Turma. RHC 41527-RJ, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
Exclusão do crime à CAUSA ESPECIAL DA EXCLUSÃO DA ILICITUDE à HIPÓTESES ESPECIAIS DE ESTRITO CUMPRIMENTO DO
DEVER LEGAL E EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador*; à IMUNIDADE JUDICIÁRIA
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; à
IMUNIDADE LITERÁRIA, ARTÍSTICA OU CIENTÍFICA
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever
do ofício. à IMUNIDADE FUNCIONAL
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
* Advogado não comete calúnia se não ficar provada sua intenção de ofender a honra
A manifestação do advogado em juízo para defender seu cliente não configura crime de calúnia se emitida sem a intenção de
ofender a honra. STJ. 3ª Seção. Rcl 15574-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 9/4/2014 (Info 539).
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir
explicações em juízo*. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da
violência resulta lesão corporal (INJÚRIA REAL DA QUAL RESULTE LESÃO CORPORAL).
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código
(CRIME CONTRA A HONRA DE PRESIDENTE E CHEFE DE GOVERNO ESTRANGEIRO), e mediante representação do ofendido, no
caso do inciso II do mesmo artigo (CRIME CONTRA A HONRA DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO EM RAZÃO DE SUAS FUNÇÕES), bem
como no caso do § 3o do art. 140 deste Código (INJÚRIA RACIAL).
@dicas.exconcurseira 146
CAPÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
SEÇÃO I
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
Aumento de pena
§1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de 3 pessoas, ou há
emprego de armas.
§2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. à CONCURSO MATERIAL
§3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente
perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
Redução a condição análoga à de escravo à TAMBÉM CHAMADO DE “PLÁGIO”; COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
@dicas.exconcurseira 147
DE OLHO NA JURIS! Redução a condição análoga à de escravo (art. 149 do CP)
Para configurar o delito do art. 149 do Código Penal (redução a condição análoga à de escravo) NÃO É imprescindível a restrição
à liberdade de locomoção dos trabalhadores. O delito pode ser praticado por meio de outras condutas como no caso em que os
trabalhadores são sujeitados a condições degradantes, subumanas. STJ. 3ª Seção. CC 127937-GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 28/5/2014 (Info 543).
Tráfico de Pessoas
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça,
violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 a 8 anos, e multa.
§2o A pena é reduzida de 1/3 a 2/3 se o agente for primário E não integrar organização criminosa.
SEÇÃO II
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO
§1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por 2 ou mais
pessoas:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente à violência.
§2º - Aumenta-se a pena de um 1/3, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância
das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.
§3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
@dicas.exconcurseira 148
DE OLHO NA JURIS! Invasão de domicílio (art. 150 do CP)
Configura o crime de violação de domicílio (art. 150 do CP) o ingresso e a permanência, sem autorização, em gabinete de Delegado
de Polícia, embora faça parte de um prédio ou de uma repartição públicos. No caso concreto, dezenas de manifestantes foram
até a Delegacia de Polícia Federal cobrar agilidade na conclusão de um inquérito policial. Como não foram recebidos, decidiram
invadir o gabinete do Delegado. STJ. 5ª Turma. HC 298763-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/10/2014 (Info 549).
TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I
DO FURTO
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§1º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno. à ESTANDO OU NÃO A CASA HABITADA
§2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada (ATÉ 1 SALÁRIO-MÍNIMO), o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa. à FURTO PRIVILEGIADO
§3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. à NÃO SE PODE EQUIPARAR
LIGAÇÃO CLANDESTINA DE TV A CABO À “ENERGIA”, SOB PENA DE ANALOGIA IN MALAM PARTEM (STF, 2011).
DE OLHO NA JURIS! Adulterar o sistema de medição da energia elétrica para pagar menos que o devido: estelionato (não é
furto mediante fraude)
A alteração do sistema de medição, mediante fraude, para que aponte resultado menor do que o real consumo de energia
elétrica configura estelionato. Ex: as fases “A” e “B” do medidor foram isoladas por um material transparente, que permitia a
alteração do relógio fazendo com que fosse registrada menos energia do que a consumida. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.418.119-DF,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 07/05/2019 (Info 650).
Cuidado para não confundir:
• agente desvia a energia elétrica por meio de ligação clandestina (“gato”): crime de FURTO (há subtração e inversão da posse
do bem).
• agente altera o sistema de medição para que aponte resultado menor do que o real consumo: crime de ESTELIONATO.
O pagamento do débito oriundo de furto de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não é causa de extinção da
punibilidade
No caso de furto de energia elétrica mediante fraude, o adimplemento do débito antes do recebimento da denúncia não
extingue a punibilidade. O furto de energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento dado ao inadimplemento tributário,
de modo que o pagamento do débito antes do recebimento da denúncia não configura causa extintiva de punibilidade, mas
causa de redução de pena relativa ao arrependimento posterior (art. 16 do CP). Isso porque nos crimes contra a ordem
tributária, o legislador (Leis nº 9.249/1995 e nº 10.684/2003), ao consagrar a possibilidade da extinção da punibilidade pelo
pagamento do débito, adota política que visa a garantir a higidez do patrimônio público, somente. A sanção penal é invocada
pela norma tributária como forma de fortalecer a ideia de cumprimento da obrigação fiscal. Já nos crimes patrimoniais, como o
furto de energia elétrica, existe previsão legal específica de causa de diminuição da pena para os casos de pagamento da
“dívida” antes do recebimento da denúncia. Em tais hipóteses, o Código Penal, em seu art. 16, prevê o instituto do
arrependimento posterior, que em nada afeta a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição da pena. Outrossim, a
jurisprudência se consolidou no sentido de que a natureza jurídica da remuneração pela prestação de serviço público, no caso
de fornecimento de energia elétrica, prestado por concessionária, é de tarifa ou preço público, não possuindo caráter tributário.
Não há como se atribuir o efeito pretendido aos diversos institutos legais, considerando que o disposto no art. 34 da Lei nº
9.249/1995 e no art. 9º da Lei nº 10.684/2003 fazem referência expressa e, por isso, taxativa, aos tributos e contribuições
sociais, não dizendo respeito às tarifas ou preços públicos. STJ. 3ª Seção. RHC 101299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 13/03/2019 (Info 645).
@dicas.exconcurseira 149
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de 2 ou mais pessoas.
DE OLHO NA JURIS! Causa de aumento do § 1º pode ser aplicada tanto para furto simples como qualificado
É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido durante o repouso noturno (art. 155, § 1º) no caso de
furto praticado na forma qualificada (art. 155, § 4º). Não existe nenhuma incompatibilidade entre a majorante prevista no § 1º e
as qualificadoras do § 4º. São circunstâncias diversas, que incidem em momentos diferentes da aplicação da pena. Assim, é
possível que o agente seja condenado por furto qualificado (§ 4º) e, na terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a pena em
1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso noturno. A posição topográfica do § 1º (vem antes do § 4º) não é fator que
impede a sua aplicação para as situações de furto qualificado (§ 4º). STF. 2ª Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 13/12/2016 (Info 851). STJ. 6ª Turma. HC 306450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014
(Info 554).
Furto qualificado mediante escalada pode ser provado por outras provas além da perícia
Para que seja configurado o furto qualificado mediante escalada é dispensável a realização de perícia, desde que existam outras
provas que demonstrem a ocorrência da escalada (exs: filmagem, fotos, testemunhos etc.). STJ. 5ª Turma. REsp 1392386-RS, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/9/2013 (Info 529).
§4º-A A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.
§5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior.
§6o A pena é de reclusão de 2 a 5 anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido
em partes no local da subtração.
§7º A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
@dicas.exconcurseira 150
Sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a consumação do furto
A existência de sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a tipificação do crime de furto. STF.
1ª Turma.HC 111278/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Roberto Barroso, julgado em 10/4/2018 (Info
897).
Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de
estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.
Furto de “cofrinho” contendo R$ 4,80 de uma instituição de combate ao câncer, mediante induzimento de filho de 9 anos
Não se aplica o princípio da insignificância ao furto de bem de inexpressivo valor pecuniário de associação sem fins lucrativos
com o induzimento de filho menor a participar do ato. STJ. 6ª Turma. RHC 93472-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 15/03/2018 (Info 622).
CAPÍTULO II
DO ROUBO E DA EXTORSÃO
§1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. à ROUBO IMPRÓPRIO/ POR
APROXIMAÇÃO à É CRIME FORMAL
§2º A pena aumenta-se de 1/3 até 1/2: à CAUSAS DE AUMENTO DE PENA à ROUBO CIRCUNSTANCIADO/MAJORADO
I – (revogado);
II - se há o concurso de 2 ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores E o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. à ESSA RESTRIÇÃO DEVE SE DAR POR, NO MÍNIMO,
20 MIN, E SERVE PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO DO ROUBO OU PARA SERVIR CONTRA A AÇÃO POLICIAL.
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego.
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com EMPREGO DE ARMA BRANCA*; à ACRESCENTADO PELA LEI ANTICRIME
§2º-A A pena aumenta-se de 2/3:
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.
§2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO, aplica-se
EM DOBRO** a pena prevista no caput deste artigo. à ACRESCENTADO PELA LEI ANTICRIME
@dicas.exconcurseira 151
* Comentários do prof. Fábio Roque: até 2018, havia uma causa de aumento de pena que era relativa ao emprego de arma
durante o roubo (era o inciso I do §2º do art.157 do CP). À época, o entendimento totalmente consolidado na jurisprudência era
no sentido de que, como a lei falava apenas em emprego de “ARMA”, sem especificar qual tipo, isso valeria tanto para a arma
de fogo, quanto para a arma branca. A causa de aumento, no entanto, não era aplicada às hipóteses de arma de brinque ou
simulacro de arma. Em 2018, foi promovida uma mudança pela Lei 13.654, quando se revogou o inc.I e se acrescentou o §2º-A,
dizendo que a pena do crime de roubo seria aumentada em até 2/3 se o crime fosse cometido com emprego de arma de fogo.
Antes, nesta hipótese, o aumento era de 1/3 até 1/2; portanto, a nova lei foi prejudicial. E a arma branca ficou sem qualquer
aumento de pena, ou seja, o uso de arma branca não se enquadrava mais em nenhuma hipótese de aumento de pena (a nova
lei, neste ponto, foi benéfica ao réu). Com o Pacote Anticrime, acrescentou-se o inciso VII ao §2º do art.157, prevendo que o uso
de arma branca configura aumento de pena (de 1/3 até 1/2). Assim, a Lei Anticrime supre a lacuna deixada pela Lei
13.654/2018.
** Vamos a um resuminho:
EMPREGO DE ARMA BRANCA EMPREGO DE ARMA DE FOGO EMPREGO DE ARMA DE FOGO DE USO
RESTRITO ou PROIBIDO
Causa de aumento: Causa de aumento: Causa de aumento:
de 1/3 a 1/2 2/3 PENA EM DOBRO
Se, após o roubo, foi constatado que a arma estava desmuniciada no momento do crime, incide mesmo assim a majorante?
STJ: NÃO. O emprego de arma de fogo desmuniciada tem o condão de configurar a grave ameaça e tipificar o crime de roubo, no
entanto NÃO É suficiente para caracterizar a majorante do emprego de arma, pela ausência de potencialidade lesiva no
momento da prática do crime (STJ. 5ª Turma. HC 449.697/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 21/06/2018; STJ. 6ª Turma.
AgRg no REsp 1536939/SC , Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/10/2015).
STF: SIM. É irrelevante o fato de estar ou não municiada para que se configure a majorante do roubo (STF. 2ª Turma. RHC
115077 , Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 06/08/2013).
Se a arma é apreendida e periciada, sendo constatada a sua inaptidão, não se aplica a majorante do art. 157, § 2º-A, I, do CP
Se a arma é apreendia e periciada, sendo constatada a sua inaptidão para a produção de disparos, neste caso, não se aplica a
majorante do art. 157, § 2º-A, I, do CP, sendo considerado roubo simples (art. 157, caput, do CP). O legislador, ao prever a
majorante descrita no referido dispositivo, buscou punir com maior rigor o indivíduo que empregou artefato apto a lesar a
integridade física do ofendido, representando perigo real, o que não ocorre na hipótese de instrumento notadamente sem
potencialidade lesiva. Assim, a utilização de arma de fogo que não tenha potencial lesivo afasta a mencionada majorante, mas
não a grave ameaça, que constitui elemento do tipo “roubo” na sua forma simples. STJ. 6ª Turma. HC 247669-SP, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/12/2012.
@dicas.exconcurseira 152
Roubo: o fato de ter sido usado arma, por si só, não impõe o regime inicial fechado
No crime de roubo, o emprego de arma de fogo não autoriza, por si só, a imposição do regime inicial fechado se, primário o réu,
a pena-base foi fixada no mínimo legal. STJ. 5ª Turma. HC 309939-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do
TJ-SC), julgado em 28/4/2015 (Info 562).
Além do roubo circunstanciado, o agente responderá também pelo porte ilegal de arma de fogo (art. 14 ou 16, da Lei nº
10.826/2003)?
Em regra, não. Geralmente, o crime de porte ilegal de arma de fogo é absorvido pelo crime de roubo circunstanciado. Aplica-se
o princípio da consunção, considerando que o porte ilegal de arma de fogo funciona como crime meio para a prática do roubo
(crime fim), sendo por este absorvido. A conduta de portar arma ilegalmente é absorvida pelo crime de roubo, quando, ao longo
da instrução criminal, restar evidenciado o nexo de dependência ou de subordinação entre as duas condutas e que os delitos
foram praticados em um mesmo contexto fático, incidindo, assim, o princípio da consunção (STJ HC 178.561/DF). No entanto,
poderá haver condenação pelo crime de porte em concurso material com o roubo se ficar provado nos autos que o agente
portava ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou depois do crime de roubo e que ele não se utilizou da
arma tão somente para cometer o crime patrimonial. Ex: “Tício”, às 13h, mediante emprego de um revólver, praticou roubo
contra “Caio”, que estava na parada de ônibus (art. 157, § 2º-A, I, CP). No mesmo dia, por volta das 14h 30min, em uma blitz de
rotina da polícia (sem que os policiais soubessem do roubo ocorrido), “Ticio” foi preso com os pertences da vítima e com o
revólver empregado no assalto. Em um caso semelhante a esse, a 5ª Turma do STJ reconheceu o concurso material entre o
roubo e o delito do art. 14, da Lei nº 10.826/2003, afastando o princípio da consunção. STJ. 5ª Turma. HC 199031/RJ, Rel.
Ministro Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 21/06/2011. STF. 1ª Turma. RHC 106067, Rel. Min. Rosa Weber, 1ª Turma, julgado
em 26/06/2012.
DE OLHO NA JURIS! As causas de aumento de pena do § 2º do art. 157 não se aplicam para o § 3º
As causas de aumento de pena do § 2º do art. 157 do CP não se aplicam para o roubo qualificado pela lesão corporal grave nem
para o latrocínio, previstos no § 3º do art. 157. STJ. 6ª Turma. HC 330831/RO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 03/09/2015.
Consumação do latrocínio
Súmula 610-STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da
vítima.
O que fazer se foi atingido um único patrimônio, mas houve pluralidade de mortes?
Carlos e Luiza estão entrando no carro quando são rendidos por João, assaltante armado, que deseja subtrair o veículo. Carlos
acaba reagindo e João atira contra ele e Luiza, matando o casal. João foge levando o carro. Haverá dois crimes de latrocínio em
concurso formal de ou um único crime de latrocínio?
STJ: concurso formal impróprio.
@dicas.exconcurseira 153
STF e doutrina majoritária: um único crime de latrocínio. STJ. 5ª Turma. HC 336680/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
17/11/2015. STF. 1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/2/2017 (Info 855).
Agente que participou do roubo pode responder por latrocínio ainda que o disparo que matou a vítima tenha sido efetuado
pelo corréu
Aquele que se associa a comparsa para a prática de roubo, sobrevindo a morte da vítima, responde pelo crime de latrocínio,
ainda que não tenha sido o autor do disparo fatal ou que sua participação se revele de menor importância. Ex: João e Pedro
combinaram de roubar um carro utilizando arma de fogo. Eles abordaram, então, Ricardo e Maria quando o casal entrava no
veículo que estava estacionado. Os assaltantes levaram as vítimas para um barraco no morro. Pedro ficou responsável por vigiar
o casal no cativeiro enquanto João realizaria outros crimes utilizando o carro subtraído. Depois de João ter saído, Ricardo e
Maria tentaram fugir e Pedro atirou nas vítimas, que acabaram morrendo. João pretendia responder apenas por roubo
majorado (art. 157, § 2º, I e II) alegando que não participou nem queria a morte das vítimas, devendo, portanto, ser aplicado o
art. 29, § 2º do CP. O STF, contudo, não acatou a tese. Isso porque João assumiu o risco de produzir resultado mais grave, ciente
de que atuava em crime de roubo, no qual as vítimas foram mantidas em cárcere sob a mira de arma de fogo. STF. 1ª Turma.
RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/2/2017 (Info 855). Atenção: vide STF. 1ª Turma. HC 109151/RJ, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2012 (Info 670).
Roubo praticado no interior de ônibus sendo que o sujeito rouba apenas o dinheiro que estava com o cobrador
O sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, subtrai apenas os bens que estavam na posse do cobrador de ônibus: R$
30,00 e um aparelho celular, pertencentes ao funcionário, e R$ 70,00 que eram da empresa de transporte coletivo. Quantos
crimes ele terá praticado? Um único crime (art. 157, § 2º, I, do CP). Em caso de roubo praticado no interior de ônibus, o fato de
a conduta ter ocasionado violação de patrimônios distintos (o da empresa de transporte coletivo e o do cobrador) não
descaracteriza a ocorrência de crime único se todos os bens subtraídos estavam na posse do cobrador. No voto, o Ministro
relembrou que a jurisprudência do STJ e do STF entende que o roubo perpetrado com violação de patrimônios de diferentes
vítimas, ainda que em um único evento, configura concurso formal de crimes, e não crime único (vimos isso acima). Todavia,
para ele, esse mesmo entendimento não pode ser aplicado ao caso em que os bens subtraídos, embora pertençam a pessoas
distintas, estavam sob os cuidados de uma única pessoa, que sofreu a grave ameaça ou violência. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1396144-DF, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em 23/10/2014 (Info 551).
@dicas.exconcurseira 154
Roubo praticado no interior de ônibus atingindo patrimônios distintos
Imagine a seguinte situação: o sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, subtrai os pertences de oito passageiros. Quantos
crimes ele terá praticado? O agente irá responder por oito roubos majorados (art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso formal (art.
70). Atenção: não se trata, portanto, de crime único. Confira: (...) É entendimento desta Corte Superior que o roubo perpetrado
contra diversas vítimas, ainda que ocorra num único evento, configura o concurso formal e não o crime único, ante a pluralidade
de bens jurídicos tutelados ofendidos. (...) (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 389.861/MG , Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 18/06/2014) Nesse caso, o concurso formal é próprio ou impróprio? Segundo a jurisprudência majoritária, consiste em
concurso formal PRÓPRIO. Veja: (...) Praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas distintas, no mesmo
contexto fático, resta configurado o concurso formal próprio, e não a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios
distintos. (...) STJ. 6ª Turma. HC 197684/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 18/06/2012. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1189138/MG , Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 11/06/2013. STJ. 5ª Turma. HC 455.975/SP, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 02/08/2018.
Prostituta que arranca cordão de cliente que não quis pagar o programa responde por exercício arbitrário das próprias razões
A prostituta maior de idade e não vulnerável que, considerando estar exercendo pretensão legítima, arranca cordão do pescoço
de seu cliente pelo fato de ele não ter pago pelo serviço sexual combinado e praticado consensualmente, pratica o crime de
exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP) e não roubo (art. 157 do CP). STJ. 6ª Turma. HC 211888-TO, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/5/2016 (Info 584).
Extorsão à CRIME FORMAL; PARA A SUA CONSUMAÇÃO, É DE SUMA IMPORTÂNCIA A PARTICIPAÇÃO DO CONSTRANGIDO
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.
§1º - Se o crime é cometido por 2 ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um 1/3 até 1/2.
§2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no §3º do artigo anterior. à EXTORSÃO QUALIFICADA, NOS
CASOS DE HAVER O RESULTADO LESÃO CORPORAL GRAVE OU MORTE.
§3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, E essa condição é necessária para a obtenção da
vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 a 12 anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se
as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. à É O CHAMADO “SEQUESTRO RELÂMPAGO”, QUE É
TECNICAMENTE UMA HIPÓTESE DE ROUBO QUALIFICADO. SE, DO SEQUESTRO RELÂMPAGO RESULTAR LESÃO CORPORAL GRAVE
OU MORTE, A PENA É AUMENTADA AINDA MAIS.
Incide a majorante do § 1º do art. 158 do CP no caso da extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (§ 3º)
O § 1º do art. 158 do CP prevê que se a extorsão é cometida por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, a pena deverá
ser aumentada de um terço até metade. Essa causa de aumento prevista no § 1º do art. 158 do CP pode ser aplicada tanto para
a extorsão simples (caput do art. 158) como também para o caso de extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (§
3º). Assim, é possível que o agente seja condenado por extorsão pela restrição da liberdade da vítima (§ 3º) e, na terceira fase
da dosimetria, o juiz aumente a pena de 1/3 até 1/2 se o crime foi cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de
arma (§ 1º). STJ. 5ª Turma. REsp 1353693-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/9/2016 (Info 590).
A extorsão pode ser praticada mediante a ameaça feita pelo agente de causar um "mal espiritual" na vítima
O crime de extorsão consiste em "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa" A ameaça de causar um
"mal espiritual" contra a vítima pode ser considerada como "grave ameaça" para fins de configuração do crime de extorsão?
SIM. Configura o delito de extorsão (art. 158 do CP) a conduta do agente que submete vítima à grave ameaça espiritual que se
@dicas.exconcurseira 155
revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o pagamento de vantagem econômica indevida. STJ. 6ª Turma. REsp
1299021-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/2/2017 (Info 598).
§1o Se o seqüestro dura mais de 24 horas, se o seqüestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos, ou se o crime é cometido por
bando ou quadrilha (ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA).
Pena - reclusão, de 12 a 20 anos.
§4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado,
terá sua pena reduzida de 1/3 a 2/3. à DELAÇÃO PREMIADA.
CAPÍTULO IV
DO DANO
Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
DE OLHO NA JURIS! Destruição de acessões feitas em terras indígenas pode configurar dano qualificado
Se um indivíduo que tinha uma fazenda em uma terra indígena, ao receber ordem para desocupar o local, destrói as acessões
(construções e plantações) que havia feito no local, ele pratica, em tese, o delito de dano qualificado (art. 163, parágrafo único,
III, do CP). Isso porque essas terras pertencem à União (art. 20, XI, da CF/88), de forma que, consequentemente, as acessões
@dicas.exconcurseira 156
também são patrimônio público federal. STF. 2ª Turma. Inq 3670/RR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/9/2014 (Info
760).
CAPÍTULO V
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Aumento de pena
§1º - A pena é aumentada de 1/3, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
DE OLHO NA JURIS! O síndico mencionado no inciso II do § 1º, do art. 168, do CP não é o síndico de condomínio edilício
O "síndico" mencionado no inciso II do § 1º, do art. 168, do Código Penal é o síndico da massa falida (atualmente denominado
"administrador judicial" da falência ou recuperação judicial - Lei nº 11.101/2005), e não o síndico de condomínio edilício. Por
essa razão, não se aplica esta causa de aumento para o caso de um síndico de condomínio edilício que se apropriou de valores
pertencentes ao condomínio para efetuar pagamento de contas pessoais. STJ. 5ª Turma. REsp 1552919-SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 24/5/2016 (Info 584).
@dicas.exconcurseira 157
contratado para patrocinar os interesses de determinada pessoa em juízo, não cumpriu o pactuado, apesar do recebimento de
parcela do valor dos honorários contratuais. STJ. 6ª Turma. HC 174013-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/6/2013 (Info
527).
§3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena (PERDÃO JUDICIAL) ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de
bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social
previdenciária, inclusive acessórios; ou
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscal (20 MIL REAIS).
§4o A faculdade prevista no §3o deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos
acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções
fiscais.
CAPÍTULO VI
DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
Estelionato à CRIME MATERIAL DE DUPLO RESULTADO = EFETIVA OBTENÇÃO DA VANTAGEM INDEVIDA + LESÃO PATRIMONIAL
DE OUTREM
@dicas.exconcurseira 158
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, §2º
(FURTO PRIVILEGIADO). à ESTELIONATO PRIVILEGIADO
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse
do objeto empenhado;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro à ÚNICA MODALIDADE DE ESTELIONATO FORMAL, QUE SE
CONSUMA COM O EMPREGO DA FRAUDE, INDEPENDENTEMENTE DO RECEBIMENTO DA INDENIZAÇÃO
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da
lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
DE OLHO NA JURIS! A Súmula 554 do STF não se aplica ao estelionato no seu tipo fundamental (art. 171, caput)
A jurisprudência afirma que a Súmula 554 do STF aplica-se unicamente para o crime de estelionato na modalidade de emissão
de cheque sem fundos (art. 171, § 2º, VI). Assim, a referida súmula não se aplica ao estelionato no seu tipo fundamental (art.
171, caput). Dessa forma, não configura óbice ao prosseguimento da ação penal — mas sim causa de diminuição de pena (art.
16 do CP) — o ressarcimento integral e voluntário, antes do recebimento da denúncia, do dano decorrente de estelionato
praticado mediante a emissão de cheque furtado sem provisão de fundos. STJ. 5ª Turma. HC 280089-SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 18/2/2014 (Info 537).
§3º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia
popular, assistência social ou beneficência.
DE OLHO NA JURIS! Estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP): crime permanente ou instantâneo?
O estelionato previdenciário é crime “permanente” ou “instantâneo de efeitos permanentes”?
• Quando praticado pelo próprio beneficiário: é PERMANENTE.
• Quando praticado por terceiro diferente do beneficiário: é INSTANTÂNEO de efeitos permanentes.
STF. 1ª Turma. HC 102049, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/11/2011. STJ. 6ª Turma. HC 190071/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, julgado em 02/05/2013.
@dicas.exconcurseira 159
ATENÇÃO! A Lei 13.964/2019 (Lei do Pacote Anticrime) acrescentou o §5º ao art.171 do CP. Vejamos.
CP, Art.171, §5º Somente se procede mediante REPRESENTAÇÃO, salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 anos de idade ou incapaz.
Comentários do prof. Fábio Roque: a Lei 13.964/2019 alterou, como regra, a modalidade de ação penal. Antes, o crime de
estelionato, em regra, era crime de ação penal pública incondicionada. Como exceções, o art.182 do CP previa (e ainda prevê!!)
situações em que o estelionato seria crime de ação penal pública condicionada à representação (estelionato cometido contra
irmãos, cônjuge desquitado e judicialmente separado, tio, sobrinho ou com quem o sujeito coabita à hoje, tais hipóteses fazem
parte da regra geral).
Agora, em regra, como já foi dito, o estelionato é crime de ação penal pública condicionada à representação. Porém, em 4
situações, o estelionato será crime de ação penal pública incondicionada, quais sejam:
i. Estelionato pratico contra a Administração Pública, direta ou indireta;
ii. Criança ou adolescente;
iii. Pessoa com deficiência MENTAL;
iv. Maior de 70 anos;
v. Incapaz. à para o prof. Fábio Roque, esta expressão engloba os absolutamente e relativamente incapazes.
Lembre-se que, com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a única hipótese de incapacidade absoluta é a do menor
de 16 anos. Ocorre que os menores de 16 anos já estão abrangidos pelo inc.II do §5º do art.171 do CP. Então, para
esse inciso IV do §5º do art.171 do CP – que fala em “incapaz” - não ser totalmente inócuo, ele deve abranger,
também, os relativamente incapazes, de acordo com o CC: maiores de 16 e menores de 18 anos; ébrios habituais e
viciados em tóxicos; aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; e os
pródigos.
FIQUE LIGADO! O tema “ação penal” é norma de natureza mista, pois abrange tanto matérias de natureza penal (de direito
material), como processual penal (de direito processual). Quando temos uma lei de natureza mista, é aplicada a regra de
NATUREZA PENAL, ou seja, é uma lei que retroage para beneficiar o réu. Assim, antes, o MP poderia oferecer denúncia contra
o réu, independentemente de qualquer condição de procedibilidade. Hoje, em regra, o MP só vai poder oferecer denúncia, se
tiver presente a representação do ofendido (condição de procedibilidade). Então, esta norma beneficia o réu, já que dificulta o
trabalho da acusação. E, como beneficia o réu, retroage e alcança todos os fatos pretéritos. Então, em relação às ações penais já
em andamento (quando a ação penal era pública incondicionada), faz-se necessário analisar se já havia ocorrido a manifestação
de vontade do ofendido na persecução penal (o que pode se dar tanto na fase investigativa, como na processual). Nas hipóteses
em que não tiver havido a manifestação de vontade, a Lei Anticrime foi omissa em dizer qual seria o prazo para o ofendido
apresentar essa manifestação. Devemos, então, esperar o posicionamento da jurisprudência a respeito (por ex., se a solução vai
ser a intimação da parte durante o processo para que ela apresente a sua manifestação; se será considerado o prazo de 6
meses, contados a partir da intimação da parte ou da entrada em vigor da lei, etc).
@dicas.exconcurseira 160
com a imputação de estelionato judicial. STJ. 5ª Turma. HC 435.818/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/05/2018. STJ. 6ª
Turma. RHC 88.623/PB, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018.
Estelionato e competência no caso em que o prejuízo ocorreu em local diferente da obtenção da vantagem
Nos termos do art. 70 do CPP, a competência é, em regra, determinada pelo lugar em que se consuma a infração penal ou, no
caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. O delito de estelionato consuma-se no local em
que ocorre o efetivo prejuízo à vítima, ou seja, na localidade da agência onde a vítima possuía a conta bancária. Assim, a
competência para o processo e julgamento do estelionato deve ser o local em que a vítima mantém a conta bancária. Ex: João,
famoso estelionatário que mora em Belo Horizonte (MG), ligou para a casa de Maria, uma senhora que reside em Campo
Grande (MS). Na conversa, João afirmou que trabalhava no Governo e que Maria tinha direito de receber de volta R$ 10 mil de
impostos pagos a mais. Para isso, no entanto, ela precisaria apenas depositar previamente R$ 1 mil a título de honorários
advocatícios em uma conta bancária cujo número ele forneceu. Maria, toda contente, depositou o valor na conta bancária,
pertencente a João, que no dia seguinte, foi até a sua agência, em Belo Horizonte (MG) e sacou a quantia. João praticou o crime
de estelionato (art. 171 do CP). A competência para processar e julgar o crime será da vara criminal de Campo Grande (lugar
onde ocorreu o dano efetivo). STJ. 3ª Seção. CC 147811/CE, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/09/2016. STJ. 3ª Seção. AgRg
no CC 146524/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 22/03/2017.
Pessoa que, após a morte do beneficiário, passa a receber mensalmente o benefício em seu lugar: estelionato em continuidade
delitiva
Se a pessoa, após a morte do beneficiário, passa a receber mensalmente o benefício em seu lugar, mediante a utilização do
cartão magnético do falecido, pratica o crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do CP) em continuidade delitiva.
Segundo o STJ, nessa situação, não se verifica a ocorrência de crime único, pois a fraude é praticada reiteradamente, todos os
meses, a cada utilização do cartão magnético do beneficiário já falecido. Assim, configurada a reiteração criminosa nas mesmas
condições de tempo, lugar e maneira de execução, tem incidência a regra da continuidade delitiva prevista no art. 71 do CP. A
@dicas.exconcurseira 161
hipótese, ressalte-se, difere dos casos em que o estelionato é praticado pelo próprio beneficiário e daqueles em que o não
beneficiário insere dados falsos no sistema do INSS visando beneficiar outrem; pois, segundo a jurisprudência do STJ e do STF,
nessas situações, o crime deve ser considerado único, de modo a impedir o reconhecimento da continuidade delitiva. STJ. 6ª
Turma. REsp 1282118-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/2/2013 (Info 516).
Cola eletrônica
A “cola eletrônica”, antes do advento da Lei nº 12.550/2011, era uma conduta atípica, não configurando o crime de estelionato.
STJ. 5ª Turma. HC 245039-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/10/2012.
Advogado que cobra honorários de cliente beneficiado pela justiça gratuita não pratica crime
Advogado pode cobrar honorários contratuais de seu cliente no caso de êxito da ação, ainda que este seja beneficiário da justiça
gratuita. Não há qualquer ilegalidade ou crime nessa conduta. STF. 1ª Turma. HC 95058/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
4/9/2012.
à Informativo 571 do STJ: Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar tentativa de estelionato
consistente em tentar receber, mediante fraude, em agência do Banco do Brasil, valores relativos a precatório federal creditado
em favor de particular.
CAPÍTULO VII
DA RECEPTAÇÃO
Receptação
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar (RECEPTAÇÃO PRÓPRIA à CRIME MATERIAL), em proveito próprio
ou alheio, coisa que sabe (DOLO DIRETO) ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte (RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA à CRIME FORMAL):
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Receptação qualificada
§1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber
(“DEVE SABER” OU “SABE”à INCLUI DOLO DIRETO E O EVENTUAL) ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.
§2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino,
inclusive o exercício em residência.
§3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: à RECEPTAÇÃO CULPOSA
Pena - detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa, ou ambas as penas.
§4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
§5º - Na hipótese do §3º (RECEPTAÇÃO CULPOSA), se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena (PERDÃO JUDICIAL). Na receptação dolosa aplica-se o disposto no §2º do art. 155
(FURTO PRIVILEGIADO) à RECEPTAÇÃO PRIVILEGIADA.
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§6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública,
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena
prevista no caput deste artigo.
Receptação de animal
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de
comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de
crime:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título (CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO), em
prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: à ESCUSAS
RELATIVAS
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
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TÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL
§1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo,
de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou
executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.
§2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga,
introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação
do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os
represente.
§3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que
permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por
quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do
artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.
§4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são
conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou
fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.
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TÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 a 10 anos.
à STF E STJ: É DISPENSÁVEL A OCORRÊNCIA DE LESÕES CORPORAIS PARA A CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA REAL NOS CRIMES
DE ESTUPRO.
§1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 ou maior de 14 anos (A VÍTIMA É
MENOR DE 18 ANOS, PORÉM TEM MAIS DE 14 ANOS)
Pena - reclusão, de 8 a 12 anos.
DE OLHO NA JURIS! Legitimidade ativa do Ministério Público e crime de estupro sem lesão corporal
A Súmula 608 do STF prevê que “no crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada.”
O entendimento dessa súmula pode ser aplicado independentemente da existência da ocorrência de lesões corporais nas
vítimas de estupro. A violência real se caracteriza não apenas nas situações em que se verificam lesões corporais, mas sempre
que é empregada força física contra a vítima, cerceando-lhe a liberdade de agir segundo a sua vontade. Assim, se os atos foram
praticados sob grave ameaça, com imobilização de vítimas, uso de força física e, em alguns casos, com mulheres sedadas, trata-
se de crime de estupro que se enquadra na Súmula 608 do STF e que, portanto, a ação é pública incondicionada. STF. 2ª Turma.
RHC 117978, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 05/06/2018 (Info 905). A Súmula 608 do STF permaneceu válida mesmo após o
advento da Lei nº 12.015/2009. Assim, em caso de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública
incondicionada mesmo após a Lei nº 12.015/2009. STF. 1ª Turma. HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 27/2/2018 (Info 892).
Em caso de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada
A Súmula 608 do STF continou válida mesmo após o advento da Lei nº 12.015/2009. Assim, em caso de estupro praticado
mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada mesmo após a Lei nº 12.015/2009. STF. 1ª Turma. HC 125360/RJ,
rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/2/2018 (Info 892).
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Turma. AgRg no REsp 1262650/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 05/08/2014. STJ. 6ª Turma. HC 212305/DF, Rel.
Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), julgado em 24/04/2014 (Info 543).
Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de
terceiro:
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, se o ato não constitui crime mais grave.
CAPÍTULO I-A
DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL
Registro não autorizado da intimidade sexual
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o
fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
CAPÍTULO II
DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL
Sedução
Art. 217 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
§1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência.
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§2o (VETADO)
§5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima
ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
Não é possível desclassificar crime de estupro de vulnerável para o delito de importunação sexual
Não é possível a desclassificação da figura do estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) para o crime do art. 215-A do CP
(importunação sexual). Isso porque o tipo penal do art. 215-A é praticado sem violência ou grave ameaça e o delito do art. 217-A
inclui a presunção absoluta de violência ou grave ameaça, por se tratar de menor de 14 anos. STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr
4.969/DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/06/2019.
Em caso de estupro de vulnerável com violência presumida praticado contra vítimas diferentes, a continuidade delitiva é
simples (e não específica)
Em caso de estupro de vulnerável praticado contra duas ou mais vítimas, mediante violência presumida, não há continuidade
delitiva específica (art. 71, parágrafo único, do CP). Isso porque a violência de que trata a continuidade delitiva especial é a real,
não abarcando a violência presumida. STJ. 5ª Turma. HC 232709/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/10/2016. Poderá
ser aplicada a regra do concurso material, então? Aplica-se o concurso material em caso de estupro de vulnerável com violência
presumida praticado contra vítimas diferentes? Também não. A jurisprudência do STJ entende que, nas hipóteses de estupro
praticado com violência presumida, não incide a regra do concurso material nem da continuidade delitiva específica. Neste caso,
deverá ser aplicada a continuidade delitiva simples (art. 71, caput, do CP), desde que estejam preenchidos, cumulativamente, os
requisitos de ordem objetiva (pluralidade de ações, mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução) e o de ordem
subjetiva, assim entendido como a unidade de desígnios ou o vínculo subjetivo havido entre os eventos delituosos. STJ. 6ª
Turma. REsp 1602771/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/10/2017.
Contato físico entre autor e vítima não é indispensável para configurar o delito
A conduta de contemplar lascivamente, sem contato físico, mediante pagamento, menor de 14 anos desnuda em motel pode
permitir a deflagração da ação penal para a apuração do delito de estupro de vulnerável. Segundo a posição majoritária na
doutrina, a simples contemplação lasciva já configura o “ato libidinoso” descrito nos arts. 213 e 217-A do Código Penal, sendo
irrelevante, para a consumação dos delitos, que haja contato físico entre ofensor e ofendido. STJ. 5ª Turma. RHC 70976-MS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 2/8/2016 (Info 587).
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Passar as mãos no corpo da vítima: consumado
O agente levou a vítima (menina de 12 anos de idade) para o quarto, despiu-se e, enquanto retirava as roupas da adolescente,
passou as mãos em seu corpo. Ato contínuo, deitou-se na cama, momento em que a garota vestiu-se rapidamente e fugiu do
local. O crime se consumou. Assim, se o réu praticou esse fato antes da Lei 12.015/2009, responderá por atentado violento ao
pudor com violência presumida (art. 214 c/c art. 224, “a”do CP) ou, se depois da Lei, por estupro de vulnerável (art. 217-A),
ambos na modalidade CONSUMADO. Para que o crime seja considerado consumado, não é indispensável que o ato libidinoso
praticado seja invasivo (introdução do membro viril nas cavidades da vítima). Logo, toques íntimos podem servir para consumar
o delito. STJ. 6ª Turma. REsp 1309394-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/02/2015 (Info 555).
Corrupção de menores
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos.
Parágrafo único. (VETADO).
* TEM QUE SER ALGÚEM MENOR DE 18 ANOS, MAS COM IDADE SUPERIOR A 14 ANOS. SE A CRIANÇA TIVER MENOS DE 14
ANOS, A PESSOA QUE INDUZIR REPONDERÁ POR ESTUPRO DE VULNERÁVEL NA CONDIÇÃO DE PARTÍCIPE.
§1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
§3o Na hipótese do inciso II do §2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de
funcionamento do estabelecimento.
DE OLHO NA JURIS! Cliente pode ser punido sozinho pelo art. 218-B do CP; a vulnerabilidade é relativa; o tipo penal não exige
habitualidade, comportando a aplicação da continuidade delitiva
O “cliente” pode ser punido sozinho, ou seja, mesmo que não haja um proxeneta. Assim, ainda que o próprio cliente tenha
negociado o programa sem intermediários, haverá o crime Nos termos do art. 218-B do Código Penal, são punidos tanto aquele
que capta a vítima, inserindo-a na prostituição ou outra forma de exploração sexual (caput), como também o cliente do menor
prostituído ou sexualmente explorado (§ 1º). STJ. 5ª Turma. HC 371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019 (Info
645). A vulnerabilidade no caso do art. 218-B do CP é relativa No art. 218-B do Código Penal não basta aferir a idade da vítima,
devendo-se averiguar se o menor de 18 (dezoito) anos ou a pessoa enferma ou doente mental, não tem o necessário
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discernimento para a prática do ato, ou por outra causa não pode oferecer resistência. STJ. 5ª Turma. HC 371633/SP, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019 (Info 645). O tipo penal não exige habitualidade. Basta um único contato consciente com a
adolescente submetida à prostituição para que se configure o crime O crime previsto no inciso I do § 2º do art. 218 do Código
Penal se consuma independentemente da manutenção de relacionamento sexual habitual entre o ofendido e o agente. Em
outras palavras, é possível que haja o referido delito ainda que tenha sido um único ato sexual. Logo, como não se exige a
habitualidade para a sua consumação, é possível a incidência da continuidade delitiva, com a aplicação da causa de aumento
prevista no art. 71 do Código Penal. STJ. 5ª Turma. HC 371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019 (Info 645).
Configura o crime do art. 218-B do CP ainda que a vítima seja prostituta e que a relação tenha sido eventual
O cliente que conscientemente se serve da prostituição de adolescente, com ele praticando conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, incorre no tipo previsto no inciso I do § 2º do art. 218-B do CP (favorecimento da prostituição ou de outra forma de
exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável), ainda que a vítima seja atuante na prostituição e que a relação
sexual tenha sido eventual, sem habitualidade. STJ. 6ª Turma. HC 288374-AM, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 5/6/2014
(Info 543).
Aumento de pena
§1º A pena é aumentada de 1/3 a 2/3 se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto
com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
Exclusão de ilicitude
§2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística,
científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia
autorização, caso seja maior de 18 anos.
CAPÍTULO III
DO RAPTO
Rapto violento ou mediante fraude
Art. 219 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Rapto consensual
Art. 220 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Diminuição de pena
Art. 221 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Concurso de rapto e outro crime
Art. 222 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 223 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 224 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Ação penal
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. (Revogado).
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2) Se a vítima é pessoa vulnerável: INCONDICIONADA. A interpretação que deve ser dada a esse parágrafo único é a de que, em
relação à vítima possuidora de incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos, a ação penal
seria sempre incondicionada. Mas, em se tratando de pessoa incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência
dos atos libidinosos, a ação penal permanece condicionada à representação da vítima. Assim, procede-se mediante ação penal
condicionada à representação no crime de estupro praticado contra vítima que, por estar desacordada em razão de ter sido
anteriormente agredida, era incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos. STJ. 6ª Turma.
HC 276510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/11/2014 (Info 553).
ATENÇÃO: A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018. Atualmente não interessa mais, salvo para definir
situações pretéritas. Isso porque a Lei 13.718/2018 alterou a redação do art. 225 do CP e passou a prever que TODOS os
crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada (sempre). Não há exceções!
Aumento de pena
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 ou mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela;
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IV - de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado:
Estupro coletivo
a) mediante concurso de 2 ou mais agentes;
Estupro corretivo
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
DE OLHO NA JURIS! Bisavô é considerado ascendente para os fins da causa de aumento do art. 226, II, do CP
No caso de crimes contra a liberdade sexual (arts. 213 a 216-A) e crimes sexuais contra vulnerável (arts. 217-A a 218-B), se o
autor do delito for ascendente da vítima, a pena deverá ser aumentada de metade (art. 226, II, do CP). O bisavô está incluído
dentro dessa expressão “ascendente”. O bisavô está no terceiro grau da linha reta e não há nenhuma regra de limitação quanto
ao número de gerações. Assim, se o bisavô pratica estupro de vulnerável contra sua bisneta, deverá incidir a causa de aumento
de pena prevista no art. 226, II, do CP. STF. 2ª Turma. RHC 138717/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/5/2017
(Info 866).
CAPÍTULO V
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE
PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL
§1o Se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro,
irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: à LENOCÍDIO
FAMILIAR
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos.
§3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. à LENOCÍDIO QUESTUÁRIO/MERCENÁRIO
@dicas.exconcurseira 170
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que
alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
§1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos.
Casa de prostituição à CRIME HABITUAL; NÃO ADMITE TENTATIVA; NÃO EXIGE INTUITO DE LUCRO
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de
lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
DE OLHO NA JURIS! Somente ocorre o delito do art. 229 do CP se houver exploração sexual, ou seja, violação à dignidade sexual
Não se tratando de estabelecimento voltado exclusivamente para a prática de mercancia sexual, tampouco havendo notícia de
envolvimento de menores de idade, nem comprovação de que o réu tirava proveito, auferindo lucros da atividade sexual alheia
mediante ameaça, coerção, violência ou qualquer outra forma de violação ou tolhimento à liberdade das pessoas, não há falar
em fato típico a ser punido na seara penal. Não se trata do crime do art. 229 do CP. Mesmo após as alterações legislativas
introduzidas pela Lei nº 12.015/2009, a conduta consistente em manter “Casa de Prostituição” segue sendo crime tipificado no
art. 229 do Código Penal. Todavia, com a novel legislação, passou-se a exigir a “exploração sexual” como elemento normativo do
tipo, de modo que a conduta consistente em manter casa para fins libidinosos, por si só, não mais caracteriza crime, sendo
necessário, para a configuração do delito, que haja exploração sexual, assim entendida como a violação à liberdade das pessoas
que ali exercem a mercancia carnal. STJ. 6ª Turma. REsp 1683375-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
14/08/2018 (Info 631).
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em
parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§1o Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
§2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
da vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.
@dicas.exconcurseira 171
§1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a saída de
estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro.
§2º A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se:
I - o crime é cometido com violência; ou
II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante.
§3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações conexas.
CAPÍTULO VI
DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR
Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
CAPÍTULO VII
DISPOSIÇÕES GERAIS
Aumento de pena
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
I – (VETADO);
II – (VETADO);
III - de metade a 2/3, se do crime resulta gravidez;
IV - de 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou
se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.
Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.
@dicas.exconcurseira 172
CAPÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais à INVESTIGAÇÃO
PELA PF
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: à CRIME FORMAL
Pena - reclusão, de 10 a 15 anos, e multa.
§1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma,
distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.
§1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos
farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico.
§1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no §1º em relação a produtos em qualquer das
seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.
Modalidade culposa
§2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 a 3 anos, e multa.
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Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.
TÍTULO IX
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
Associação Criminosa à IMPORTANTE SABER A DIFERENÇA ENTRE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Art. 288. Associarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimeS:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a 1/2 se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou
adolescente.
TÍTULO X
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
CAPÍTULO I
DA MOEDA FALSA
§1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta,
guarda ou introduz na circulação moeda falsa. à SOMENTE TEM SUA CONDUTA SUBSUMIDA AO DISPOSTO NO §1º DO ART.282
O AGENTE QUE NÃO CONCORREU, DE QUALQUER MODO, PARA A FALSIFICAÇÃO. TENDO CONCORRIDO PARA A FALSIFICAÇÃO,
AS CONDUTAS NO §1º CARACTERIZAM POST FACTUM IMPUNÍVEL.
§2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a
falsidade, é punido com detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.
§3º - É punido com reclusão, de 3 a 15 anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que
fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
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impossibilidade material de haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída. STJ. 6ª Turma. REsp 1242294-
PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014 (Info 554).
Moeda falsa e aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP
Nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289, § 1º, do CP), se a nota falsificada é
repassada para “ascendente, descendente, irmão ou cônjuge” ou para “criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou
mulher grávida”, incidirão as agravantes previstas nas alíneas "e" e "h" do inciso II do art. 61 do CP. Isso o sujeito passivo desse
delito não é apenas o Estado, mas também a pessoa lesada com a introdução da moeda falsa. STJ. 6ª Turma. HC 211052-RO, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/6/2014 (Info 546).
à Súmula 73 STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da
competência da Justiça Estadual. à A FALSIFICAÇÃO, NO CRIME DE MOEDA FALSA, DEVE SER CAPAZ DE ILUDIR DESTINATÁRIOS.
PARA ISSO, É NECESSÁRIA A PERÍCIA.
DE OLHO NA JURIS! Para tipificar o crime do art. 291 do CP, basta que o agente detenha a posse de petrechos destinados à
falsificação de moeda, sendo prescindível que o maquinário seja de uso exclusivo para esse fim
O art. 291 do Código Penal tipifica, entre outras condutas, a posse ou guarda de maquinismo, aparelho, instrumento ou
qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda. A expressão “especialmente destinado” não diz respeito a
uma característica intrínseca ou inerente do objeto. Se assim fosse, só o maquinário exclusivamente voltado para a fabricação
ou falsificação de moedas consubstanciaria o crime, o que implicaria a absoluta inviabilidade de sua consumação (crime
impossível), pois nem mesmo o maquinário e insumos utilizados pela Casa de Moeda são direcionados exclusivamente para a
fabricação de moeda. A dicção legal está relacionada ao uso que o agente pretende dar ao objeto, ou seja, a consumação
depende da análise do elemento subjetivo do tipo (dolo), de modo que, se o agente detém a posse de impressora, ainda que
manufaturada visando ao uso doméstico, mas com o propósito de a utilizar precipuamente para contrafação de moeda, incorre
no referido crime. STJ. 6ª Turma. REsp 1758958-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info 633).
§1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
DE OLHO NA JURIS! Prefeito que insere artigo em projeto de lei aprovado pelo Parlamento
Prefeito que, ao sancionar lei aprovada pela Câmara dos Vereadores, inclui artigo que não constava originalmente no projeto
votado pratica o crime de falsificação de documento público (art. 297, § 1º do CP). No momento da dosimetria, o fato de o réu
ser Prefeito não pode ser utilizado como circunstância desfavorável para aumentar a pena-base na primeira fase e, em seguida,
ser empregado como causa de aumento do § 1º do art. 297 do CP. Se ele for utilizado duas vezes, haverá bis in idem. Assim, essa
circunstância (condição de Prefeito) deve ser considerada apenas uma vez, na terceira fase da pena, como majorante (causa de
aumento). STF. 1ª Turma. AP 971/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/6/2016 (Info 832).
§2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público (CAI EM PROVA!) o emanado de entidade paraestatal, o título
ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
§3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social,
pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência
social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência
social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
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§4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no §3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a
remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. à QUANDO O PATRÃO OMITE OS DADOS DE QUE
TRATA O §4º, ELE ESTÁ LESANDO, EM PRIMEIRO LUGAR, A ARRECADAÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, ADMINISTRADA PELO INSS,
QUE É UMA AUTARQUIA FEDERAL. O EMPREGADO É PREJUDICADO DE FORMA APENAS INDIRETA, REFLEXA.
Falsificação de cartão
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. à AINDA
QUE SEJA O CARTÃO DE CRÉDITO/DÉBITO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.
DE OLHO NA JURIS! Clonagem de cartão de crédito ou débito antes da entrada em vigor da Lei nº 12.737/2012
A Lei nº 12.737/2012 acrescentou o parágrafo único ao art. 298 do CP prevendo o seguinte: Art. 298. Falsificar, no todo ou em
parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: (...) Parágrafo único. Para fins do disposto no caput,
equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. Ocorre que mesmo antes da edição da Lei nº 12.737/2012 a
jurisprudência do STJ já considerava que cartão bancário poderia se amoldar ao conceito de "documento". Assim, a inserção do
parágrafo único no art. 298 do Código Penal apenas confirmou que cartão de crédito/débito é considerado documento, sendo a
Lei nº 12.737/2012 considerada como lei interpretativa exemplificativa. Logo, ainda que praticada antes da Lei nº 12.737/2012,
a conduta de falsificar, no todo ou em parte, cartão de crédito ou débito é considerada como crime de falsificação de
documento particular (art. 298 do CP). STJ. 6ª Turma. REsp 1578479-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para
acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/8/2016 (Info 591).
Falsidade ideológica
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de 1 a 3 anos, e multa, se o documento é
particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração
é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
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DE OLHO NA JURIS! Inserir informação falsa em currículo Lattes não configura crime de falsidade ideológica
Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não condiz com a realidade. Isso não configura falsidade
ideológica (art. 299 do CP) porque: 1) currículo Lattes não é considerado documento por ser eletrônico e não ter assinatura
digital; 2) currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é objeto material de falsidade ideológica. Quando o
documento é passível de averiguação, o STJ entende que não há crime de falsidade ideológica mesmo que o agente tenha nele
inserido informações falsas. STJ. 6ª Turma. RHC 81451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 22/8/2017 (Info
610).
Necessidade de prova de que o Prefeito que assinou documentos do Município tinha ciência inequívoca de que a declaração
era falsa
Prefeito que assina documentos previdenciários com conteúdo parcialmente falso não deve ser condenado por falsidade
ideológica se não foram produzidas provas de que ele tinha ciência inequívoca do conteúdo inverídico da declaração. Neste
caso, ele deverá ser absolvido, nos termos do art. 386, III, do CPP, por ausência de dolo, o que exclui o crime. STF. 1ª Turma. AP
931/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/6/2017 (Info 868).
à EM REGRA, A FALSIDADE IDEOLÓGICA DISPENSA EXAME PERICIAL. DEMANDA PROVA TESTEMUNHAL OU DOCUMENTAL.
à NÃO COMETERÁ O CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA O INDIVÍDUO QUE DEIXAR DE DECLARAR A VERDADE PARA A
FORMAÇÃO DE DOCUMENTO, SE O SERVIDOR PÚBLICO QUE RECEBER A DECLARAÇÃO ESTIVER ADSTRITO A AVERIGUAR, PROPIIS
SENSIBUS, A VERDADE DESTA.
DE OLHO NA JURIS! Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso (art. 304)
É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com fundamento em documentos e
testemunhos constantes do processo, acompanhados da confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a
comprovação da materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a realização do
referido exame. O crime de uso de documento falso se consuma com a simples utilização de documento comprovadamente
falso, dada a sua natureza de delito formal. STJ. 5ª Turma. HC 307586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).
@dicas.exconcurseira 177
SÚMULA 546 DO STJ
COMPETÊNCIA PARA JULGAR A FALSIFICAÇÃO DO COMPETÊNCIA PARA JULGAR O USO DO DOCUMENTO FALSO
DOCUMENTO
Definida em razão do órgão expedidos Definida em razão do órgão a quem é apresentado o documento
Falsa identidade
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar
dano a outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
DE OLHO NA JURIS! Falsa identidade (art. 307 do CP) é crime mesmo em situação de autodefesa
Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada
autodefesa. Aprovada em 25/03/2015, DJe 06/04/2015. Importante.
@dicas.exconcurseira 178
TÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES PRATICADOS
POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
§1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou
concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de
funcionário. à PECULATO FURTO OU PECULATO IMPRÓPRIO
Peculato culposo
§2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem (PREVALECE QUE ESSE “CRIME DE OUTREM” É O
PECULATO PRÓPRIO OU IMPRÓPRIO):
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano.
§3º - No caso do parágrafo anterior (PECULATO CULPOSO), a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
@dicas.exconcurseira 179
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018 (Info 623). Obs: vale ressaltar que o STJ decidiu apenas que a
conduta do depositário judicial que vende os bens sob sua guarda não comete o crime de peculato, pois não é funcionário
público e não ocupa cargo público. No entanto, a depender das peculiaridades do caso concreto, a conduta pode configurar, em
tese, os tipos penais dos arts. 168, § 1º, II, 171 ou 179 do Código Penal.
Os valores apropriados possuem natureza semelhante a de tributos, devendo ser suspensa a ação penal enquanto perdurar o
parcelamento da dívida
A ação penal que apura a prática de crime de peculato de quantia de natureza sui generis com estreita derivação tributária, por
suposta apropriação, por Tabelião, de valores públicos pertencentes a Fundo de Desenvolvimento do Judiciário deve ser
suspensa enquanto o débito estiver pendente de deliberação na esfera administrativa em razão de parcelamento perante a
Procuradoria do Estado. STJ. 6ª Turma. RHC 75768-RN, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 15/8/2017 (Info 611).
STF recebeu denúncia contra o Senador Renan Calheiros em razão de ter desviado recursos públicos da verba parlamentar para
pagamento de pensão alimentícia à filha
O Ministério Público ofereceu denúncia contra o Senador Renan Calheiros pelas seguintes condutas:
• o denunciado teria desviado recursos públicos da chamada verba indenizatória (destinada a despesas relacionadas ao
exercício do mandato parlamentar) para pagar pensão alimentícia à filha. Com isso, teria praticado peculato (art. 312 do CP).
• além disso, ele teria inserido e feito inserir, em documentos públicos e particulares, informações diversas das que deveriam
ser escritas, com o propósito de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante (sua capacidade financeira para custear
despesas da referida pensão). Isso porque o parlamentar, ao prestar contas dos valores recebidos a título de verba
indenizatória, teria apresentado notas fiscais fictícias, ou seja, de serviços que não teriam sido prestados. Ademais, ele teria
apresentado livros-caixa de suas atividades como pecuarista com informações supostamente falsas. Por conta desses fatos, foi
denunciado pelos crimes de falsidade ideológica (art. 299) e de uso de documento falso (art. 304). Quanto ao art. 312 do CP, a
denúncia foi recebida porque o STF entendeu estarem presentes indícios de autoria e materialidade minimamente suficientes.
No que tange aos arts. 299 e 304 do CP, a denúncia foi rejeitada em virtude de os delitos imputados estarem prescritos. STF.
Plenário. Inq 2593/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 1º/12/2016 (Info 849).
Deputado Federal que utiliza do trabalho de assessor parlamentar para serviços particulares pratica crime de peculato?
O servidor público (ex: um Deputado Federal) que se utiliza do trabalho de outro servidor público (ex: assessor parlamentar)
para lhe prestar serviços particulares pratica crime de peculato (art. 312 do CP)?
Situação 1. Servidor público que se utiliza da mão-de-obra de outro servidor público (normalmente seu subordinado) para, em
determinados momentos, fazer com que este preste serviços particulares a ele. Esta conduta não configura peculato nem
qualquer outro crime. Atenção: se o indivíduo que se utilizou do servidor público for Prefeito, ele cometerá o delito do art. 1º, II,
do DL 201/67.
Situação 2. Servidor público que utiliza a Administração Pública para pagar o salário de empregado particular. Aqui o chefe
contrata um indivíduo supostamente para ser servidor público (cargo comissionado), mas, na verdade, ele manda que a pessoa
contratada preste exclusivamente serviços particulares ao seu superior. Esta conduta, em tese, configura peculato. Isso porque
o dinheiro público está sendo desviado para o pagamento de um "servidor" que, formalmente está vinculado à Administração
Pública, mas que, na prática, apenas executa serviços para outro servidor público no interesse particular deste último. Caso
concreto: o Deputado Federal Celso Russomanno (PRB-SP) contratou para o cargo de secretária parlamentar, com remuneração
paga pela Câmara dos Deputados, a senhora "SJ". Ocorre que, de acordo com a acusação, "SJ" trabalhava, na verdade, não na
Câmara, mas sim na produtora de vídeo do Deputado, em São Paulo. Assim, para o MP, o Deputado utilizou a assessora para o
exercício de atividade privada, embora recebendo pelos cofres públicos. A 2ª Turma do STF absolveu o réu. Segundo ficou
decidido, "SJ", ainda que tenha exercido algumas atividades de interesse particular do Deputado na produtora, dedicou-se
preponderantemente ao cargo de secretária parlamentar no escritório político de Celso Russomano em São Paulo, atendendo
cidadãos que se sentiam lesados em suas relações de consumo. Assim, a prova dos autos demonstrou que “SJ” exercia as
atribuições inerentes ao cargo de assessora parlamentar, ainda que também, algumas vezes, desempenhasse outras atividades
no estrito interesse particular do parlamentar. Dessa forma, pela prova colhida, a conduta do Deputado foi penalmente atípica,
uma vez que consistiu no uso de funcionário público que, de fato, exercia as atribuições inerentes ao seu cargo para, também,
prestar outros serviços de natureza privada. Em outras palavras, o caso de Russomano se enquadrou na situação 1 acima
explicada. STF. 2ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 9/8/2016 (Info
834).
Empréstimos consignados retidos pelo Município e dinheiro utilizado para pagamento de despesas da Administração, sem
repasse ao banco mutuante
Diversos servidores municipais tinham empréstimos consignados cujos valores eram descontados da folha de pagamento. O
Prefeito ordenou que fosse feita a retenção, mas que tais valores não fossem repassados à instituição e sim gastos com o
pagamento de despesas do Município. Isso foi feito no último ano do mandato do Prefeito, quando não havia mais recursos para
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pagar o banco, o que só foi feito no mandato seguinte. O STF entendeu que, nesta situação, restou configurada a prática de dois
delitos: arts. 312 e 359-C do Código Penal. STF. 1ª Turma. AP 916/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/5/2016 (Info
826).
Comentários do prof. Fábio Roque: esta lei veio corrigir uma distorção da legislação que era extremamente afrontosa ao
princípio da proporcionalidade. Até 2003, os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e concussão possuíam a mesma pena
(2 a 8 anos). No dia 12 de novembro de 2003, é publicada a Lei 10.763, que exaspera a pena máxima da corrupção ativa e da
corrupção passiva, mas não mexeu na pena do crime de concussão. Aí passamos a ter os crimes de corrupção ativa e passiva
com pena de 2 a 12 anos, e o crime de concussão com pena de 2 a 8 anos – o que era desproporcional. Isso porque o crime de
concussão é mais grave que a corrupção passiva, já que enquanto na concussão o funcionário público exige, na corrupção
passiva o funcionário público solicita.
Excesso de exação
§1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na
cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.
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§2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres
públicos:
Pena - reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
SUJEITO ATIVO DOS §§1º E 2º à FUNCIONÁRIO PÚBLICO, AINDA QUE NÃO ENCARREGADO DA ARRECADAÇÃO.
NO §1º, O TRIBUTO, DEPOIS DE EXIGIDO, É ENCAMINHADO AOS COFRES PÚBLICOS (DIVERSAMENTE DO QUE OCORRE NO §2º).
Aumento da pena-base pelo fato de a concussão ter sido praticada por policial
Em caso de condenação do réu por concussão, na dosimetria da pena o juiz pode (e deve) aumentar a pena-base pelo fato de o
réu ser policial. Para cometer o crime, basta ser funcionário público, mas o grau de reprovabilidade do réu é maior, tendo em
vista que se trata de policial, agente público responsável pelo combate à criminalidade. Assim, não é possível nivelar a
concussão de um funcionário público comum com a de um policial, de um parlamentar, de um juiz etc. Aquele que está
investido de parcela de autoridade pública — como é o caso de um juiz, um membro do Ministério Público ou uma autoridade
policial — deve ser avaliado, no desempenho da sua função, com maior rigor do que as demais pessoas não ocupantes de tais
cargos. STF. 2ª Turma. RHC 117488 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1º/10/2013 (Info 722). STF. 1ª Turma. HC
132990/PE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 16/8/2016 (Info 835).
Corrupção passiva
Art. 317 – Solicitar (CRIME FORMAL) ou receber (CRIME MATERIAL), para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
§1º - A pena é aumentada de 1/3, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. à CORRUPÇÃO EXAURIDA
DE OLHO NA JURIS! Receber propina sob o disfarce de doações eleitorais oficiais e tipificação penal
Determinado Senador solicitou e recebeu de uma construtora R$ 500 mil, valor destinado à sua campanha política. A quantia foi
repassada pela construtora não diretamente ao Senador, mas sim ao partido político, como se fossem doações eleitorais oficiais.
Ao pedir o valor, o Senador teria se comprometido com a construtora a manter João como Diretor da Petrobrás. Isso era de
interesse da construtora porque João, em nome da estatal, celebrava contratos fraudulentos com a empresa. O Senador foi
reeleito e, com sua influência decorrente do cargo, conseguiu manter João na Diretoria. Em um juízo preliminar, para fins de
recebimento da denúncia, o STF entendeu que a conduta do Senador, em tese, configura a prática dos seguintes crimes:
• Corrupção passiva (art. 317, caput e § 1º, do CP);
• Lavagem de dinheiro (art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/98).
STF. 2ª Turma. Inq 3982/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 7/3/2017 (Info 856).
§2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem: à CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA: O AGENTE, SEM VISAR SATISFAZER INTERESSE PRÓPRIO, CEDE A
PEDIDO, PRESSÃO OU INFLUÊNCIA DE OUTREM; SÃO OS “FAVORES ADMINISTRATIVOS”.
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
DE OLHO NA JURIS! O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a vantagem indevida esteja relacionada com atos que
formalmente não se inserem nas atribuições do funcionário público
O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida, ou a aceitação da
promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente não se inserem nas atribuições do funcionário público,
mas que, em razão da função pública, materialmente implicam alguma forma de facilitação da prática da conduta almejada. Ao
contrário do que ocorre no crime de corrupção ativa, o tipo penal de corrupção passiva não exige a comprovação de que a
@dicas.exconcurseira 182
vantagem indevida solicitada, recebida ou aceita pelo funcionário público esteja causalmente vinculada à prática, omissão ou
retardamento de “ato de ofício”. A expressão “ato de ofício” aparece apenas no caput do art. 333 do CP, como um elemento
normativo do tipo de corrupção ativa, e não no caput do art. 317 do CP, como um elemento normativo do tipo de corrupção
passiva. Ao contrário, no que se refere a este último delito, a expressão “ato de ofício” figura apenas na majorante do art. 317, §
1.º, do CP e na modalidade privilegiada do § 2.º do mesmo dispositivo. STJ. 6ª Turma. REsp 1745410-SP, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, julgado em 02/10/2018 (Info 635).
Pratica corrupção passiva o Deputado que concede apoio político à permanência de Diretor da Petrobrás em troca do
recebimento de propina
Determinado Deputado Federal integrava a cúpula de um partido de sustentação do governo federal. Como importante figura
partidária, ele exercia pressão política junto à Presidência da República a fim de que Paulo Roberto Costa fosse mantido como
Diretor de Abastecimento da Petrobrás. Como “contraprestação” por esse apoio, o Deputado recebia dinheiro do referido
Diretor, quantia essa oriunda de contratos ilegais celebrados pela Petrobrás. O STF entendeu que esta conduta se enquadra no
crime de corrupção passiva (art. 317 do CP). Obs: foi a primeira condenação do STF envolvendo a chamada “operação Lava
Jato”. STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).
"Lucro fácil" e “cobiça” não podem ser usados como argumentos para aumentar a pena da concussão e da corrupção passiva
A obtenção de lucro fácil e a cobiça constituem elementares dos tipos de concussão e corrupção passiva (arts. 316 e 317 do CP),
sendo indevido utilizá-las para aumentar a pena-basealegando que os “motivos do crime” (circunstância judicial do art. 59 do
CP) seriam desfavoráveis. STJ. 3ª Seção.EDv nos EREsp 1196136-RO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
24/5/2017 (Info 608).
Aumento da pena pelo fato de a corrupção ter sido praticada por Promotor ou policial
O fato de o crime de corrupção passiva ter sido praticado por Promotor de Justiça no exercício de suas atribuições institucionais
pode configurar circunstância judicial desfavorável na dosimetria da pena. Isso porque esse fato revela maior grau de
reprovabilidade da conduta, a justificar o reconhecimento da acentuada culpabilidade, dadas as específicas atribuições do
promotor de justiça, as quais são distintas e incomuns se equiparadas aos demais servidores públicos “latu sensu”. STJ. 5ª
Turma. REsp 1251621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info 552).
à O SUJEITO ATIVO É O FUNCIONÁRIO INCUMBIDO DE IMPEDIR A PRÁTICA DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO. CASO NÃO
OSTENTE ESSA ATRIBUIÇÃO FUNCIONAL, RESPONDERÁ PELO DELITO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO NA CONDIÇÃO DE
PARTÍCIPE.
Prevaricação
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
- É ESPÉCIE DE AUTOCORRUPÇÃO;
- ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: SATISFAZER INTERESSE OU SENTIMENTO PESSOAL;
- NÃO HÁ PEDIDO DE OUTREM.
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: à PREVARICAÇÃO
IMPRÓPRIA
Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano.
- É CRIME OMISSIVO PURO;
- CRIME DE MERA CONDUTA;
- NÃO ADMITE TENTATIVA.
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Condescendência criminosa
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou,
quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa.
Advocacia administrativa
Art. 321 – Patrocinar (REFERE-SE A INTERESSE DE TERCEIRO), direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração
pública, valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena - detenção, de 1 a 3 meses, ou multa.
Violência arbitrária
Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:
Pena - detenção, de 6 meses a 3 anos, além da pena correspondente à violência.
Abandono de função
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa.
à HÁ CRIME, AINDA QUE EXISTA ALGUÉM PARA SUBSTITUIR AQUELE QUE ABANDONOU O CARGO, POIS O TIPO PENLA NÃO
EXIGE QUE HAJA DANO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
@dicas.exconcurseira 184
Funcionário público
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce
cargo, emprego ou função pública.
§1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.
§2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista,
empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.
DE OLHO NA JURIS! O simples fato de o réu exercer mandato eletivo não é suficiente para a causa de aumento do art. 327, §
2º, do CP
O simples fato de o réu exercer um mandato popular não é suficiente para fazer incidir a causa de aumento do art. 327, § 2º, do
CP. É necessário que ele ocupe uma posição de superior hierárquico (o STF chamou de "imposição hierárquica"). STF. Plenário.
Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).
Diretor de organização social é considerado funcionário público por equiparação para fins penais
O diretor de organização social pode ser considerado funcionário público por equiparação para fins penais (art. 327, § 1º do CP).
Isso porque as organizações sociais que celebram contratos de gestão com o Poder Público devem ser consideradas “entidades
paraestatais”, nos termos do art. 327, § 1º do CP. STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018
(Info 915).
Advogado que atua como advogado dativo, por força de convênio com o Poder Público, é funcionário público para fins penais
O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em defesa dos
hipossuficientes agraciados com o benefício da assistência judiciária gratuita, enquadra-se no conceito de funcionário público
para fins penais. Sendo equiparado a funcionário público, é possível que responda por corrupção passiva (art. 317 do CP). STJ. 5ª
Turma. HC 264459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
@dicas.exconcurseira 185
CAPÍTULO II
DOS CRIMES PRATICADOS POR
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
§2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
DE OLHO NA JURIS! Não configuração do crime de desobediência na hipótese de não atendimento por Defensor Público-Geral
de requisição judicial de nomeação de defensor
Não configura o crime de desobediência (art. 330 do CP) a conduta de Defensor Público Geral que deixa de atender à requisição
judicial de nomeação de defensor público para atuar em determinada ação penal. A Constituição Federal assegura às
Defensorias Públicas autonomia funcional e administrativa (art. 134, § 2º). A autonomia administrativa e a independência
funcional asseguradas constitucionalmente às Defensorias Públicas não permitem que o Poder Judiciário interfira nas escolhas e
nos critérios de atuação dos Defensores Públicos que foram definidos pelo Defensor Público-Geral. STJ. 6ª Turma. HC 310901-
SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 16/6/2016 (Info 586).
Desacato
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.
@dicas.exconcurseira 186
Tráfico de Influência
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar (CRIME FORMAL) ou obter (CRIME MATERIAL), para si ou para outrem, vantagem ou promessa
de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2a 5 anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao
funcionário.
Corrupção ativa
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato
de ofício:
Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de 1/3, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de
ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
DE OLHO NA JURIS! Inépcia da denúncia de corrupção ativa e o que acontece com a corrupção passiva
O reconhecimento da inépcia da denúncia em relação ao acusado de corrupção ativa (art. 333 do CP) não induz, por si só, ao
trancamento da ação penal em relação ao denunciado, no mesmo processo, por corrupção passiva (art. 317 do CP). Prevalece o
entendimento de que, via de regra, os crimes de corrupção passiva e ativa, por estarem previstos em tipos penais distintos e
autônomos, são independentes, de modo que a comprovação de um deles não pressupõe a do outro. STJ. 5ª Turma. RHC 52465-
PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/10/2014 (Info 551).
Descaminho à É CRIME FORMAL CUJA COMPETÊNCIA É DA JUSTIÇA FEDERAL DO LOCAL DA APREENSÃO DOS BENS
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
§2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de
mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
@dicas.exconcurseira 187
com a posterior constituição do crédito tributário para a configuração do crime de descaminho (art. 334 do CP), tendo em conta
sua natureza formal. STF. 1ª Turma. HC 121798/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/5/2018 (Info 904).
§2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de
mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
DE OLHO NA JURIS! A importação de arma de pressão por ação de gás comprimido, ainda que de calibre inferior a 6 mm,
configura o crime de contrabando, sendo inaplicável o princípio da insignificância
Configura CONTRABANDO (e não descaminho) a conduta de importar, à margem da disciplina legal, arma de pressão por ação
de gás comprimido ou por ação de mola. A importação de arma de pressão está sujeita à autorização prévia da Diretoria de
Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro e só pode ser feita por colecionadores, atiradores e caçadores
registrados no Exército. Além disso, deve se submeter às normas de desembaraço alfandegário previstas no Regulamento para a
Fiscalização de Produtos Controlados. Logo, trata-se de mercadoria de proibição relativa, sendo a sua importação fiscalizada não
apenas por questões de ordem tributária, mas outros interesses ligados à segurança pública. Não é possível aplicar o princípio
da insignificância mesmo que a arma de ar comprimido importada seja de calibre inferior a 6 mm, já que este postulado é
incabível para contrabando. STJ. 5ª Turma. REsp 1428628/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 28/04/2015. STJ. 6ª Turma.
REsp 1.427.796-RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 14/10/2014 (Info 551). STF. 2ª Turma. HC 131943/RS,
Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 7/5/2019 (Info 939).
@dicas.exconcurseira 188
Importação de colete à prova de balas configura contrabando
Configura crime de contrabando a importação de colete à prova de balas sem prévia autorização do Comando do Exército. A
importação de colete à prova de balas não se enquadra em nenhum tipo penal previsto no Estatuto do Desarmamento. Aquele
que poderia gerar algum tipo de dúvida seria justamente o art. 18. Ocorre que colete à prova de balas não pode ser considerado
acessório. Isso porque a palavra "acessório" mencionada no art. 18 é acessório de arma de fogo, ou seja, algo que complementa,
que se agrega à arma de fogo para melhorar o seu funcionamento ou desempenho. Exs: silenciador, mira telescópica etc. O
colete à prova de balas é uma proteção contra armas de fogo e não um acessório desta. STJ. 6ª Turma. RHC 62851-PR, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/2/2016 (Info 577).
CAPÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
à É CRIME PROGRESSIVO: O AGENTE, PARA ALCANÇAR O CRIME DESEJADO, NECESSARIAMENTE VIOLA OUTRA NORMA PENAL
MENOS GRAVE (A CALÚNIA), QUE FICA ABSORVIDA
§1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
§2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
O fato de não ter havido indiciamento não é motivo para desclassificar o crime para o art. 340
Se, em razão da comunicação falsa de crime, houve a instauração de inquérito policial, sendo a falsidade descoberta durante os
atos investigatórios nele realizados, o delito cometido é o de denunciação caluniosa, previsto no art. 339 do CP. O fato de o
indivíduo apontado falsamente como autor do delito inexistente não ter sido indiciado no curso da investigação não é motivo
suficiente para desclassificar a conduta para o crime do art. 340. STJ. 6ª Turma. REsp 1482925-MG, Rel. Min. Sebastião Reis,
julgado em 6/10/2016 (Info 592).
@dicas.exconcurseira 189
Comunicação falsa de crime ou de contravenção
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter
verificado:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Auto-acusação falsa
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos, ou multa.
§1o As penas aumentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova
destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta
ou indireta.
§2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença (DE 1º GRAU) no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade.
Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete,
para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
Pena - reclusão, de 3 a 4 anos, e multa. à CORRUPÇÃO ATIVA DE TESTEMUNHA, PERITO, CONTADOR, TRADUTOR OU
INTÉRPRETE
Parágrafo único. As penas aumentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.
@dicas.exconcurseira 190
Exercício arbitrário das próprias razões à DOUTRINA MAJORITÁRIA: É CRIME MATERIAL
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Favorecimento real
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do
crime:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, e multa.
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de
rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano.
§1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é de reclusão, de 2
a 6 anos.
§2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à violência.
§3º - A pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou o
internado.
§4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou
multa.
@dicas.exconcurseira 191
Arrebatamento de preso à CRIME FORMAL
Art. 353 – Arrebatar (ARRANCAR COM VIOLÊNCIA) preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou
guarda:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, além da pena correspondente à violência.
Motim de presos
Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente à violência.
à INDIFERENTE, PARA O APERFEIÇOAMENTO DESTE TIPO, QUE O PATROCÍNIO SEJA EXERCIDO REMUNERADA OU
GRATUITAMENTE, OU QUE O ADVOGADO TENHA SIDO CONTRATADO PELA PARTE OU NOMEADO PELO JUIZ, PODENDO,
INCLUISVE, FIGURAR COMO SUJEITO ATIVO O DEFENSOR PÚBLICO.
@dicas.exconcurseira 192