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Profa. Marina C.

Servo

Profa. Marina Calanca Servo

Prezad@s alun@s:

1 - O presente conteúdo foi elaborado com a finalidade de auxiliá-los a revisar


a disciplina ministrada bem como avançar no tema. A parte da revisão não
substitui as anotações feitas em sala de aula e a complementação que deve
estar sendo realizada pelo aluno, desde o início do semestre, com doutrinas.

2 – Considerando que o material é correspondente aos tópicos da disciplina,


o conteúdo terá continuidade conforme as aulas avançam.

3 – Eventuais dúvidas, nesse período, podem ser encaminhadas pelo sistema


do aluno.

Direito Penal – questão HISTÓRICA:

A história da pena e do Direito Penal se confundem com a própria humanidade, até


porque surge com o homem e o acompanha através dos tempos. Entretanto, em cada
fase o Direito Penal apresentava forma diversa, mas o início e o fim das fases não se
mostram claras, uma vez que os momentos se misturam, conforme veremos:

1. Vingança Divina: o homem primitivo regulava sua conduta pelo temor religioso
ou mágico. A Lei tinha origem divina e a sua violação consistia ofensa aos
Deuses, sendo punido o infrator para desagravar ira divina, além de purgar o
grupo das impurezas trazidas pela conduta. Entre as penas destacavam-se a
expulsão do grupo, perda da paz e até mesmo o sacrifício da vida.

2. Vingança Privada: tratava-se de uma vingança entre os grupos, já que


encaravam a infração como uma ofensa relacionada não só a vítima, mas a todo
o grupo. Imperava a Lei do mais forte, que levavam a excessos, com
consequentes guerras entre os grupos – inexistindo qualquer proporção entre o
delito praticado e a pena. Visando evitar dizimação de grupos, surgiu a Lei do
Talião – com a primeira manifestação do princípio da proporcionalidade. Com o
passar do tempo, com cada vez maior número de infratores, evoluiu para o
sistema da composição.

3. Vingança Pública: com a evolução política e organização social, o Estado


avocou o poder-dever de manter a ordem e a segurança. Cabe ao Estado,
representante da coletividade decidir impessoalmente a questão.

História do Direito Penal Brasileiro:

1. Período Colonial: antes do descobrimento do Brasil, os silvícolas aplicavam as


penas de expulsão e composição, nas tribos, sendo as regras transmitidas de

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maneira verbal e dominadas pelo misticismo. Com o descobrimento do Brasil,


em 1.500, passou a vigorar o Direito Lusitano, aplicando:

1.1. Ordenações Afonsinas (1446 – 1514, por D. Afonso V), fazia disposição
sobre quase todas as matérias da administração de um Estado. A característica
marcante era crueldade das penas e arbitrariedade dos juízes; além disso, a
prisão tinha caráter preventivo.

1.2. Ordenações Manuelinas (1514 – Dom Manuel): penas cruéis, que


correspondiam a vingança pública.

1.3. Ordenações Filipinas (1603 – 1830 – Rei Felipe II): havia desigualdade
de classes em relação ao tratamento punitivo, bem como a finalidade de infundir
o temor pela punição.

2. Código Criminal do Império (1830 – Dom Pedro I): o art. 179, XVIII, da CF de
1824 determinou a elaboração de um Criminal, fundando nas bases da justiça e
equidade, sendo sancionado em 1830 o primeiro código autônomo da América
Latina.

Foram os primeiros sinais de evolução em prol da humanização, abolindo a


tortura e penas cruéis, bem como estabelecendo o principio da personalidade da
pena.

3. Período Republicano (1890): código elaborado às pressas e por isso conhecido


como colcha de retalhos.

Em 1937 (Estado Novo), Alcântra Machado apresentou um projeto de CP, que


foi sancionado em 1940, passando a vigorar desde 1942 até os dias atuais,
alterado por diversas Leis, como a reforma da parte geral (Lei 7.209 de 1984)
que humanizou as sanções penais e adotou penas alternativas à prisão.

Ordenações: *Afonsinas
* Manuelinas
* Filipinas -> Constituição de 1824
Código Criminal de 1830
Código Penal 1890
Consolidação das Leis Penais – Dec. 22.213-1932
Código Penal – Dec.-lei 2.848 de 1940.

DIREITO PENAL

Denominação: A expressão Direito Penal induz à ideia de pena, de um direito inerente


exclusivamente à pena. Diferente de Direito Criminal, que traz a ideia o direito relativo

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ao Crime. Alega-se na doutrina a insuficiência da denominação DP, uma vez que não
abrangeria a medida de segurança, razão pela qual seria mais adequado falar em D.
Criminal, considerando a abrangência, como fez o Código Criminal do Império em 1830.
Ainda assim, atualmente devemos utilizar de forma apropriada, conforme foi
determinado pelo Decreto Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940, considerando que foi
recepcionado pela CF de 1988 como lei ordinária, que instituiu o Código Penal em vigor.
Sendo tal expressão adotada também pela CF, art. 22, I.

Conceito: O Direito Penal é o conjunto de princípios e leis, de normas jurídicas, que


regulam a atuação estatal neste combate contra o crime, através de medidas aplicadas
aos criminosos.

Alocação na Teoria Geral do Direito: Trata-se de um ramo do Direito Público –


composto de regras indisponíveis e obrigatoriamente impostas a todas as pessoas,
sendo o Estado o titular exclusivo do dever de punir.

Direito Penal: conceito e finalidade:

Três aspectos, sendo o formal, sociológico e o que diferencia dos outros ramos do
direito.

Sob o aspecto formal, Direito Penal é um conjunto de normas que qualifica


comportamentos humanos, como infrações penais, define os seus agentes e fixa as
sanções a serem aplicadas.

Já sob o enfoque sociológico, o Direito Penal é mais um instrumento de controle social,


de comportamentos desviados, visando assegurar a necessária disciplina social.

Relações com Outros Ramos do Direito:


O Direito é uno, sendo o ordenamento jurídico composto pelo conjunto de normas e
princípios. A divisão em blocos, se dá unicamente com fins didáticos.

- Direito Processual Penal: através do Processo Penal as leis se concretizam, de modo


que a finalidade deste ramo é garantir a efetiva e justa aplicação das leis penais ao caso
concreto.

- Direito Constitucional: as regras e princípios constitucionais delimitam o âmbito de


aplicação do Direito Penal, que deve se harmonizar com as garantias e direitos
estabelecidos na Constituição.

- Direito Civil: durante muito tempo eles se confundiam entre si, somente são separados
em razão da necessidade de especialização. O ato ilícito que merecer maior
reprimenda, por ofender direitos indispensáveis de um indivíduo ou da sociedade, será
cabível a atuação do Direito Penal, aos atos de menor gravidade, reserva-se o Direito
Civil.

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Direito Penal: Missão

O DP trata-se de um importante instrumento para a convivência dos homens em


sociedade, possuindo várias funções, que a doutrina divide em duas:

1. Função Mediata –

a. Controle Social ou preservação da paz pública: sendo a ordem que deve existir em
determinada sociedade.

b. Limite ao Poder Punitivo Estatal: Se de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo


limites para a vida em sociedade, de outro lado, é necessário também limitar seu próprio
poder de controle.

2. Função Imediata –

*! A doutrina diverge no que se refere missão imediata do Direito Penal:

1ª Corrente: Proteger Bens Jurídicos (prevalece): que tratam-se de valores ou


interesses reconhecidos pelo Direito e imprescindíveis à satisfação do indivíduo ou
sociedade.

2ª Corrente: Assegurar o Ordenamento, ou seja, a vigência da norma.

Classificação:

Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais, em vigor no país. Ou seja, todas as
produzidas e não revogadas.

Direito Penal Subjetivo: é o Dever de punir do Estado, que nasce no momento em que
é violado o conteúdo da lei penal incriminadora.

Pergunta: Existe exceção, tolerando aplicação de sanção penal por ente não estatal?

Sim, art. 57, do Estatuto de Índio (L. 6.001 de 1973).

Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as
instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus
membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em
qualquer caso a pena de morte.

Direito Penal Substantivo (ou Material): é sinônimo de DPObjetivo, sendo a totalidade


de leis penais em vigor. É o Direito Penal propriamente dito.

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Direito Penal Adjetivo (ou Formal): corresponde ao Direito Processual Penal


(classificação ultrapassada, já que somente era usada quando o Processo Penal era
um acessório do DP e não um ramo autônomo).

Fontes do Direito Penal:

É o lugar de criação (FONTE MATERIAL) e a forma de revelação (FONTE FORMAL)


do DP.

A Fonte Material (substanciais ou de produção) é a fonte de produção – órgão


encarregado da produção de Direito Penal – art. 22, CF: UNIÃO tem competência
Privativa.

*! Art. 22, p. ú., CF: podendo entretanto, por meio de Lei complementar a União autorizar
os Estados-membros a legislar sobre questões específicas, de interesse local.

Fontes Formais (cognitivas ou de conhecimento):

- Imediata: Lei – regra escrita concretizada pelo poder Legislativo em concordância com
forma determinada pela CF. trata-se da única fonte imediata - Lei pode criar crimes e
cominar penas.

- Mediata: Costumes e Princípios Gerais do Direito

Costumes: comportamentos uniformes e constantes (reiterados), pela convicção de


sua obrigatoriedade (e necessidade jurídica).

*NÃO Admite-se costume abolicionista, que revogue crime.

*Para os que não admitem o costume abolicionista, o costume no direito Penal tem
finalidade interpretativa. Trata-se de costume interpretativo, que auxilia a esclarecer o
conteúdo dos elementos ou circunstancias do tipo penal. Ex. art. 155, p. 1º, CP: qual
horário consiste no “repouso noturno”?

Princípios Gerais do Direito: são valores fundamentais que inspiram a elaboração e a


preservação do ordenamento jurídico.

Fontes Formais do Direito Penal:

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Doutrina Tradicional Doutrina Moderna


Imediata: Lei ImediataS:
a. Lei;
b. CF;
c. Tratados Internac. Dtos
Humanos
d. Jurisprudência;
e. Princípios Gerais do Dto;
f. Complementos da Norma
Penal em Branco (ato
administrativo)

Mediata: Mediata:
a. Costumes; Doutrina
b. Princípios Gerais do Dto
*! Costumes configuram fontes informais
do Direito Penal.

Fontes Formais Imediatas – para doutrina moderna

a. Lei, a única capaz de criar crime e cominar pena;


b. CF. não pode criar crime e cominar pena (em razão do limite rígido de alteração),
mas pode fixar alguns patamares abaixo dos quais a intervenção penal não se
pode reduzir, o que é denominado de mandados constitucionais de
criminalização. Ex. art. 5º, XLI, CF – patamar mínimo abaixo do qual o legislador
não pode trabalhar. Ex. art. 5º, XLII, CF.

c. Tratados Internacionais de Dtos Humanos, Entendimento do STF

Os Tratados Internacionais de Dtos Humanos não podem criar crime ou cominar pena
para o Direito Interno, só no âmbito do Direito Penal Internacional. Serão mais um Direito
Penal de Garantia do que Direito Penal Punição.

d. Jurisprudência. revela Direito Penal, através do entendimento dos tribunais,


servindo como vetor de aplicação do direito material. Somente terá natureza
cogente quando tratar-se de Súmula Vinculante, oriunda do STF, nos termos do
art. 103-A, CF.

e. Princípios. Vários são os julgados dos Tribunais Superiores, absolvendo ou


reduzindo pena com base em princípios. Ex. principio da insignificância.

f. Complementos da Norma Penal em Branco, são atos da administração pública.

Função Mediata Moderna -> Doutrina: trata-se de um estudo cientifico, que não se
reveste de obrigatoriedade.

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PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL:

Princípios do Direito Penal: tratam-se de valores fundamentais que inspiram a criação


e a manutenção do sistema jurídico. Tem a função de orientar o legislador e também o
aplicador do direito, visando limitar o poder punitivo estatal mediante a imposição de
garantias aos cidadãos.

1. Princípio da Reserva Legal ou da Estrita Legalidade:

Art. 5º, XXXIX, CF e art. 1º, CP. Determina a exclusividade da lei para a criação de
delitos e cominação de penas:

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina.
Não há pena sem prévia cominação legal.

2. Princípio da Anterioridade

Decorre também do Art. 5º, XXXIX, CF e art. 1º, CP, quando estabelecem que o crime
e a pena devem estar definidos em lei prévia ao fato.

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina.
Não há pena sem prévia cominação legal.

3. Princípio da intervenção Mínima ou Necessidade

A intervenção penal será legitima apenas quando a criminalização de um fato mostrar-


se meio indispensável para a proteção de determinado bem ou interesse, não podendo
ser tutelado por outros ramos do ordenamento jurídico.

Deste princípio decorrem os princípios da Fragmentariedade e Subsidiariedade:

4. Princípio da Fragmentariedade:

Somente configuram ilícitos penais as condutas que atentam contra valores


fundamentais para a manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade. Em

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razão do caráter fragmentário, o DP é a última etapa de proteção ao Bem Jurídico e


somente deve intervir quando efetividade necessário.

5. Princípio da Subsidiariedade

A atuação do DP somente é cabível quando os demais ramos do Direito e os demais


meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para o controle da
ordem pública. O DP deve ser a ultima ratio, o último recurso a utilizar à falta de outros
meios menos lesivos.

6. Princípio da Insignificância ou da Bagatela

O direito penal não deve se preocupar com assuntos insignificantes ou irrelevantes.

Requisitos: a. mínima ofensividade;

b. ausência de periculosidade social na ação;

c. reduzido grau de reprovabilidade da conduta;

d. inexpressividade da lesão jurídica

7. Princípio da Individualização da Pena

Art. 5º, XLVI, CF – a cada indivíduo deve ser aplicada a pena que lhe cabe, de acordo
com as circunstancias especificas do seu comportamento, que leve em conta os
aspectos subjetivo e objetivo do crime.

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as


seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

8. Princípio do ne bis in idem

Não se admite, em qualquer hipótese, a dupla punição pelo mesmo fato.

LEI PENAL NO TEMPO

A lei penal ingressa no ordenamento jurídico e, em regra, vigora até ser revogada por
outra lei, conforme determina o princípio da continuidade das leis.

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A revogação é a retirada da vigência de uma Lei, que ocorrerá, em regra, por outra Lei.
Havendo exceções no Direito Penal que são as Leis Excepcionais e Temporárias, que
são autorrevogáveis.

No que diz respeito ao modo, a revogação pode ser:

a. Expressa: quando uma lei indica em seu corpo os dispositivos legais revogados,
ex. o art. 75 da Lei de Drogas, que revogou as demais leis que tratavam do tema;
b. Tácita: a lei nova se mostra incompatível com a anterior, apesar de não haver
menção de maneira expressa no artigo. Ex. antigo crime de estupro.

CONFLITO DE LEIS NO TEMPO

Considerando que a lei pode ser revogada, estabelecem situações de conflito no tempo
quando um lei nova entra em vigor, revogando a anterior.

Art. 5º, XL, CF: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu;

Art. 2º, CP: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa
de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o


agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença condenatória transitada em julgado.

A regra geral é a prevalência da lei que se encontra em vigor para a aplicação no caso
concreto, resguardando a reserva legal, bem como o princípio da legalidade.

Exceções:

a. Novatio legis Incriminadora

É a lei que tipifica como infração penal comportamento que até então eram considerados
irrelevantes, conforme determina o art. 5º, CF, em hipótese alguma poderá retroagir.

b. Lei Penal mais Grave ou Lex gravior

Implica tratamento mais rigoroso às condutas já classificadas como infrações penais,


determinado aumento de pena, qualificadora, agravante genérica ou causa de aumento
da pena, imposição de regime prisional mais rígido, aumento do prazo da prescrição
etc.

Se mais grave, a lei terá aplicação apenas a fatos posteriores à sua entrada em vigor,
jamais retroagirá, conforme determinação constitucional.

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c. Abolitio Criminis e Lei Posterior mais Benéfica

Abolitio Criminis é a nova Lei que exclui do âmbito do Direito Penal um fato até então
considerado criminoso (art.2º, CP), tendo natureza jurídica de causa de exclusão da
punibilidade (art. 107, III, CP).

Lei Penal mais Benéfica: a nova lei passa a ser mais vantajosa ao agente,
favorecendo-o de algum modo. A retroatividade será automática, alcançando casos que
já tenham sido julgados inclusive.

Haverá retroatividade quando a lei posterior for mais benéfica ao agente, em


comparação com a lei que estava vigente na data em que o crime foi praticado.

Da combinação de Leis Penais.

Em havendo conflito de leis penais sucessivas no tempo, cada qual com parte favorável
e desfavorável ao réu. Existe a discussão se o juiz pode acolher os preceitos favoráveis
de cada lei para que aplique ao caso, uma parte de cada lei, combinando-os no caso
concreto, com a formação de uma lei Hibrida.

Supremo Tribunal Federal entende atualmente pela impossibilidade, uma vez que ao
combinar leis penais, o magistrado estaria criando uma terceira lei e, assim, avançando
a função legislativa.

Súmula 501: é cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06,


desde que o resultado da incidência das suas disposições, na
íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da
aplicação da Lei 6.368/76, sendo vedada a combinação de leis.

LEI PENAL TEMPORÁRIA E LEI PENAL EXCEPCIONAL

Lei penal temporária é aquela que tem a sua vigência predeterminada no tempo,
isto é, o seu termo final é explicitamente previsto em data certa do calendário.

Lei penal excepcional, é a que se verifica quando a sua duração está relacionada a
situações de anormalidade.

São autorrevogáveis, bastando a superveniência do dia nela previsto (lei temporária)


ou o fim da situação de anormalidade (lei excepcional) para que deixem,
automaticamente, de produzir efeitos jurídicos (leis intermitentes).

Possuem ultratividade, pois se aplicam ao fato praticado durante sua vigência,


embora decorrido o período de sua duração (temporária) ou cessadas as circunstâncias
que a determinaram (excepcional), conforme art. 3.º do Código Penal.

Lei excepcional ou temporária

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Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o


período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

CONFLITO APARENTE DE LEIS PENAIS

A um único fato se revela possível, em tese, a aplicação de dois ou mais tipos legais: O
conflito é aparente, pois desaparece com a correta interpretação da lei penal, com a
utilização de princípios adequados.

A solução do conflito aparente de leis penais dedica-se a preservar a inaceitabilidade


do bis in idem.

Princípios para solução do conflito:

1. Princípio da Especialidade:
A lei especial, também chamada de específica, possui sentido diferenciado,
particularizado.

A Lei especial é a que contém todos os dados típicos de uma lei geral, e também
elementos denominados de especializantes. Ex: o crime de infanticídio, previsto no
art. 123 CP, tem núcleo idêntico ao do crime de homicídio, tipificado pelo art. 121, caput,
CP.

2. Princípio da subsidiariedade

Estabelece que a lei primária tem prevalência sobre a lei subsidiária. A ofensa mais
ampla e dotada de maior gravidade, descrita pela lei primária, engloba a menos
ampla, contida na subsidiária, ficando a aplicabilidade desta condicionada à não
incidência da outra. Ex: roubo que contem furto, com os delitos lesão ou ameaça.

3. Princípio da consunção ou da absorção

De acordo com o princípio da consunção, ou da absorção,o fato mais amplo e grave


consome, absorve os demais fatos menos amplos e graves, os quais atuam como
meio normal de preparação ou execução daquele, ou ainda como seu mero
exaurimento.

Comparam-se os fatos concretos, de modo que o mais completo, o inteiro,


prevalece sobre a fração.

3.1. Crime progressivo

O agente, almejando desde o início alcançar o resultado mais grave, pratica,


mediante a reiteração de atos, crescentes violações ao bem jurídico.

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As lesões corporais, necessárias para a execução do homicídio, ficam por este


absorvidas.

3.2. Progressão criminosa

O agente pretende inicialmente produzir um resultado e, depois de alcançá-lo,


opta por prosseguir na prática ilícita e reinicia outra conduta, produzindo um
evento mais grave -
a resposta penal se dará somente para o fato final, mais grave, ficando absorvidos
os demais.

4. Princípio da alternatividade

O tipo penal contém em seu corpo vários fatos, alternativamente, como modalidades de
uma mesma infração penal. Assim, praticados pelo mesmo sujeito um ou mais núcleos,
sucessivamente, restará configurado crime único.

São os chamados tipos mistos alternativos, de ação múltipla ou de conteúdo variado


(ex.: Lei 11.343/2006, art. 33, caput):

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:

EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO:

Um fato punível pode atingir os interesses de dois ou mais Estados soberanos.


Por isso, o estudo da lei penal no espaço visa descobrir qual é o âmbito territorial de
aplicação da lei penal brasileira.

Quando um fato punível desperta o interesse de punir de mais de um país


soberano, alguns princípios são utilizados para resolver possível conflito.

A) Princípio da territorialidade: Regra

Art. 5º:Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de


direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

Trata-se da territorialidade temperada, pois convenções, tratados e regras


internacionais podem impedir a aplicação da lei brasileira ao crime cometido no território
nacional.

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É importante então entender no que consiste o território nacional:

Trata-se do Espaço físico (geográfico) + espaço jurídico (por


ficção/equiparação/extensão) previsto no art. 5º, §§ 1º e 2º.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as


embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em
porto ou mar territorial do Brasil.

Se o Estado se utiliza de um avião privado, mas que está a serviço público, será
considerado como um avião público.

Dessa forma:

1) Quando os navios ou aeronaves forem públicos ou estiverem a serviço do governo


brasileiro, são considerados partes do território nacional, onde quer que se encontrem;

2) Se privados, quando em alto-mar ou espaço aéreo correspondente, seguem a lei da


bandeira que ostentam;

OBS.: O conceito de liberdade em alto-mar está no art. 87 da Convenção das


Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1982).

É lembrar ainda a teoria adotada a respeito do lugar do crime. Existem três teorias:

1ª) Teoria da atividade: considera-se lugar do crime aquele em que se desenvolveu


uma conduta.

2ª) Teoria do resultado: considera-se lugar do crime aquele em que ocorreu o resultado
(evento);

3ª) Teoria da ubiquidade (mista): considera-se praticado o crime no lugar em que


ocorreu a conduta, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou


omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado.

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O CP adotou a terceira teoria (art. 6º, CP). Assim, Se a conduta ocorrer no Brasil e o
resultado no exterior, aplica-se a lei brasileira. Se a conduta ocorreu no exterior e o
resultado no Brasil também aplica-se a lei brasileira.

Já, no que diz respeito ao princípio da Extraterritorialidade, em alguns casos (exceções),


o crime é praticado fora do território brasileiro, mas ainda assim a lei brasileira será
aplicada:

Extraterritorialidade (art. 7º, CP)

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:


I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,
de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
(EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA)

II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
(EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA)

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro. (INCONDICIONADA)

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições: (CONDICIONADA)
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a
pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

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§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra


brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo
anterior: (HIPER CONDICIONADA §2º E §3º)
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

OBS.: Art. 7º, I: extraterritorialidade incondicionada pois a lei brasileira alcança esses
fatos, pouco importando se condenado ou absolvido no estrangeiro (§ 1º);

Art. 7º, II: extraterritorialidade condicionada: para a nossa lei alcançar esses fatos
depende de algumas condições (§ 2º);

§ 3º: extraterritorialidade hipercondicionada (para a nossa lei alcançar esses fatos,


além das condições do § 2º, depende de mais duas: a) não foi pedida ou foi negada a
extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça).

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

O art. 8º, CP, era compreendido como uma exceção a vedação do bis in idem e, com
finalidade para reforçar a soberania do nosso país.

Entretanto, em decisão recente – 12 de novembro de 2019, o STF entendeu o art. 8º e


5º , ambos do CP devem ser interpretados em conformidade com os direitos
assegurados pela Constituição brasileira, pela Convenção Americana de Direitos
Humanos e pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos:

Terça-feira, 12 de novembro de 2019

2ª TURMA ENCERRA AÇÃO PENAL CONTRA BRASILEIRO JÁ CONDENADO NA


SUÍÇA.

Por unanimidade de votos, os ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal


Federal (STF) trancaram a ação penal instaurada no Brasil contra um cidadão
brasileiro processado e condenado na Suíça por lavagem de dinheiro. A decisão foi
tomada no Habeas Corpus (HC) 171118, com base no entendimento de que uma
pessoa não pode ser processada e punida duas vezes pelo mesmo fato (proibição de
dupla persecução penal).

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o acusado, em


conjunto com outros envolvidos, organizou a transferência de dinheiro oriundo do
tráfico de drogas na Suíça para o Brasil e, por meio de contrato de fachada, buscou
dar aparência de licitude dos ativos inseridos em território nacional. A defesa, por
meio de habeas corpus sucessivos impetrados no Tribunal Regional Federal da 2ª
Região (TRF-2) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), buscou o trancamento da

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Profa. Marina C. Servo

ação, com o argumento de que seu cliente já havia sido processado e julgado na
Suíça pelo mesmo fato. Sem sucesso nas duas instâncias, impetrou HC no Supremo.

Fatos coincidentes

Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes (relator) destacou que não restam dúvidas de
que os fatos são coincidentes. Segundo ele, é compreensível que essa prática
delituosa provoque o interesse de agir dos dois Estados afetados, mas o indivíduo
não pode ser punido duplamente. Para o relator, os artigos 5º e 8º do Código Penal
(CP), que tratam da territorialidade e da pena cumprida no estrangeiro, devem ser
interpretados em conformidade com os direitos assegurados pela Constituição
brasileira, pela Convenção Americana de Direitos Humanos e pelo Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos.

O artigo 5º do CP prevê que se aplica a lei brasileira a crimes praticados no território


nacional, mas ressalta que isso deve se dar “sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional”. O artigo 8º, por sua vez, dispõe que a pena cumprida
no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas,
ou nela é computada, quando idênticas. O ministro lembrou ainda que, de acordo com
a Lei de Migração (Lei 13.445/2017), o Brasil não concederá a extradição de quem
estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil
pelo mesmo fato em que se fundar o pedido. “Revela-se evidente garantia contra nova
persecução penal pelos mesmos fatos”, explicou.

O ministro Gilmar Mendes observou, no entanto, que, caso o julgamento no


estrangeiro seja considerado ilegítimo ou violar direitos humanos, as investigações
podem ser reabertas em outro país em que não haja tal comprometimento. No caso,
porém, não há qualquer elemento que indique dúvida sobre a legitimidade do
julgamento e da punição imposta na Suíça. “Portanto, a proibição de dupla
persecução deve ser respeitada de modo integral, nos termos constitucionais e
convencionais”, concluiu.

O voto do relator pela concessão do habeas corpus foi seguido por unanimidade:

Decisão: A Turma, por votação unânime, concedeu a ordem de habeas corpus


para trancar o Processo Penal 0003112-82.2013.403.6181 em relação ao
paciente, porque reconhecida a ocorrência de dupla persecução penal, nos termos
do voto do Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Ricardo Lewandowski.
Falaram, pelo paciente, a Dra. Maria Elizabeth Queijo e, pelo Ministério Público
Federal, o Dr. Juliano Baiocchi Villa-Verde de Carvalho, Subprocurador-Geral da
República. Presidência da Ministra Cármen Lúcia. 2ª Turma, 12.11.2019.

Fonte:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=429707>.

Eficácia de sentença estrangeira


Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na
espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:

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Profa. Marina C. Servo

I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;

II - sujeitá-lo a medida de segurança.

Parágrafo único - A homologação depende:

a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;

b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja


autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do
Ministro da Justiça.

O art. 9º do CP determina as hipóteses nas quais a sentença penal estrangeira precisa


ser homologada (pelo STJ, nos termos do art. 105, I, i, da CF) para que produza efeitos
no Brasil. São as seguintes:

Inciso I: para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e outros efeitos


civis: nesse caso deve haver requerimento do interessado e que a lei brasileira preveja
os mesmos efeitos na situação pela sentença estrangeira;

Inciso II: para sujeitá-lo a uma medida de segurança, desde que, nesse caso, a lei
brasileira preveja os mesmos efeitos para a hipótese tratada e exista tratado de
extradição com o país de origem ou requisição do Ministro da Justiça.

A sentença estrangeira não depende de homologação para produzir reincidência,


impedir a obtenção de sursis ou para aumentar o período para concessão de livramento
condicional.

Contagem de prazo

Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os


meses e os anos pelo calendário comum.

No prazo de direito material (também chamado de prazo penal), o dia do início é incluído
(diferente do prazo processual).no qual somente começa a contar do dia seguinte (e
será estudado na disciplina de processo).

Então, imagine que o réu terá que ficar 5 dias preso (diante da prisão temporária). Aqui
o importante é entender prazo e não tema prisão, que será visto na disciplina específica.
Assim, será ele sendo preso no dia 1 de março, o primeiro dia da prisão (seja às 10h ou
às 23h, do mesmo dia, o momento que foi recolhido), esta data já contará como primeiro
dia (independente do horário), sendo que terá que ficar preso, por essa contagem até o
dia 05 de março (que será o quinto dia).

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Profa. Marina C. Servo

Frações não computáveis da pena

Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos,


as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.

Para efeitos penais, desprezam-se as frações de dia (isto é, as horas e os minutos).


Dessa forma, independente se o agente nasceu às 20h, do dia 10 de março. Ao virar o
dia (do dia 09 para o dia 10), é considerando que o indivíduo atingiu a maioridade, tendo
em vista que o horário é indiferente.

Legislação especial

Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso.

As regras gerais do Código Penal, isto é, todas aquelas contidas na Parte Geral, além
de outras de conteúdo genérico previstas na Parte Especial (p. ex., arts. 121, § 5º, e
327), aplicam-se a todas as leis penais especiais (ou extravagantes), salvo quando
estas dispuserem em sentido diferente – afirmando, por exemplo, que não se aplicam
as regras.

TEORIA GERAL DO CRIME

Trata-se da parte responsável por explicar o que é delito, quais as características que
devem existir para que seja caracterizada uma conduta criminosa.

Atualmente não temos no CP um conceito que defina, de forma completa, o que é crime,
sendo este apresentado pela doutrina, que o divide em seu aspecto Material, Legal e
Formal:

1. Conceito de Crime:

Com relação ao aspecto Material:


Crime é toda ação ou omissão que lesa ou expõe bens jurídicos penalmente tutelados
a perigo.

Com relação ao aspecto Legal: art. 1º, Lei de Introdução ao Código Penal:

“Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de


reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal
a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
ou ambas. alternativa ou cumulativamente”.

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Profa. Marina C. Servo

Então, toda vez que constar do preceito secundário a cominação de pena de reclusão
ou detenção, existirá o crime ou delito seja isolada, cumulativa ou alternada com a pena
de multa.

Se o preceito secundário não apresentar as palavras “reclusão” ou “detenção”, e sim


“prisão simples” ou “multa”, será contravenção penal.

Com relação ao critério Analítico:

Também conhecido como Dogmático, se funda nos elementos que compõe a estrutura
do crime, analisa as características ou elementos que compõe a infração:

Três posições:

a. Crime na teoria Quadripartida: Crime = Fato Típico + Ilícito + Culpável + Punível


(quatro elementos)

b. Crime na teoria Tripartida: Crime = Fato Típico + Ilícito + Culpável


(três elementos)

c. Crime na teoria Bipartida: Crime = FatoTípico + Ilícito


(dois elementos)

O Código Penal não apontou de forma expressa qual teoria adotada, entre a Bipartida
e Tripartida, havendo correntes doutrinárias que defendem cada uma das teses como
sendo acatadas pela nossa Legislação brasileira. Entretanto, como não há indicação
legal, iremos analisar todos elementos e enfoques, sendo relevante pontuar que a
punibilidade e os elementos que .a extinguem serão estudados somente no próximo
semestre.

No mais, estudaremos todos os elementos das demais – Fato típico, ilícito e culpável.

CRIME =

FATO TÍPICO
É o Fato material que se amolda aos elementos previstos no tipo penal – a conduta
humana que se encaixa na norma penal incriminadora. O fato típico é composto por
outros 4 elementos (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade – cada um será
analisado – de forma individualizada no momento oportuno):

- Conduta: -> dolosa – culposa


-> omissiva – comissiva

- Resultado:

- Nexo de Causalidade:

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Profa. Marina C. Servo

- Tipicidade:

ANTIJURÍDICO OU ILÍCITO

Trata-se da relação de contrariedade entre o Fato praticado e o ordenamento jurídico


vigente. Existem ilícitos de natureza cível, ambiental etc. Entretanto, quando falamos
de um ilícito penal, teremos uma conduta mais gravosa, com a ofensa de bem jurídico
penalmente protegido como patrimônio, vida, honra etc.

Quando o agente pratica um fato típico, presume-se (de início) que seja também ilícito.
Ex: se “A” mata um desafeto (praticou fato típico – a conduta de matar está prevista no
CP como homicídio, art. 121, CP).

Entretanto, existem algumas situações em que a prática de um fato típico (conduta


prevista como crime na legislação) é permitida e não será considerada como ilícita ou
proibida, nesses casos, são os fatos praticados em uma das seguintes hipóteses (de
acordo com o art. 23, CP):

1- Estado de Necessidade;
2- Legitima Defesa
3- Estrito Cumprimento do Dever Legal
4- Exercício Regular de Direito

CULPÁVEL
Já a Culpabilidade é o Juízo de reprovação pessoal sobre uma conduta ilícita do agente.
São seus elementos:
1.- Imputabilidade
2.- Potencial Consciência da Ilicitude
3.- Exigibilidade de Conduta Diversa

QUESTÕES PARA ESTUDO E ASSIMILAÇÃO DE CONTEÚDO

O gabarito segue ao final das questões. Ainda assim, sugiro que, ao responderem
as questões, vocês justifiquem a resposta por escrito, seja com apresentação do
fundamento legal (o artigo de lei) ou mesmo sem o fundamento. Tal atividade é
facultativa mas é importante para o estudo.

01. JOSÉ foi vítima de um crime de extorsão mediante sequestro (art.159, do C.Penal),
de autoria de CLÓVIS. O Código Penal, em seu art. 4.º, com vistas à aplicação da lei
penal, considera praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado. No curso do crime em questão, antes da liberação
involuntária do ofendido, foi promulgada e entrou em vigor lei nova, agravando as penas.
Assinale a opção correta:

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Profa. Marina C. Servo

a. A lei nova, mais severa, não se aplica ao fato, frente ao princípio geral da
irretroatividade da lei.

b. A lei nova, mais severa, não se aplica ao fato, em obediência à teoria da atividade.

c. A lei nova, mais severa, é aplicável ao fato, porque sua vigência é anterior à cessação
da permanência.

d. A lei nova, mais severa, aplica-se ao fato, considerando que o Direito Penal buscará
sempre a maior punição ao réu e maior defesa à vítima, por essa razão será sempre
aplicada a lei mais rigorosa.

e. A lei nova, mais severa, não se aplica ao fato, porque o nosso ordenamento penal
considera como tempo do crime, com vistas à aplicação da lei penal, o momento da
ação ou omissão e o momento do resultado, aplicando-se a sanção da lei anterior, por
ser mais branda.

Analise as assertivas abaixo e assinale “V” caso seja verdadeira ou “F”, se for falsa:

02. Sobre a Lei excepcional ou temporária, é correto afirmar que se cessar sua duração
no curso da ação penal, o réu deverá ser absolvido porquanto o fato será atípico, visto
que a lei penal incriminadora foi banida pela abolitio criminis. ( ) Verdadeira ( ) Falsa

03. Analise as assertivas de acordo com a legislação penal brasileira:

I. O território nacional estende-se a embarcações e aeronaves brasileiras de natureza


pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem.

II. O direito penal brasileiro adotou expressamente a teoria absoluta da territorialidade


quanto à aplicação da lei penal, adotando a exclusividade da lei brasileira e não
reconhecendo a validade da lei penal de outro Estado.

III. O território nacional estende-se a aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes


ou de natureza privada, onde quer que se encontrem.

IV. Na contagem dos prazos, adotada pelo Código Penal, não se desprezam nas penas
privativas de direito as frações de dia.

a. Somente as assertivas I, e IV são corretas.

b. Somente as assertivas II e III são incorretas.

c. Somente a assertiva I é correta.

d. Todas as assertivas são incorretas.

e. Todas as assertivas são corretas.

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Profa. Marina C. Servo

04. Considerando os princípios que regem a aplicação da lei penal, analise as


afirmativas:

I. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia imposição legal.

II. A lei penal não pode retroagir para prejudicar o réu.

III. A pena será individualizada de acordo com cada crime, independente das condições
pessoais de quem o cometeu (réu/condenado).

IV. Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.

São corretas apenas as afirmativas:

a) II e III.

b) I e II.

c) II, III e IV.

d) I, II e IV.

05. No que tange ao tempo do crime, assinale a única alternativa CORRETA.

a. Considera-se praticado o ato criminoso no momento em que ocorre o seu resultado.

b. Considera-se praticado o ato criminoso quando o agente da início ao planejamento


de sua execução.

c. Considera-se praticado o ato criminoso no exato momento da ação ou omissão, desde


que o resultado almejado ocorra concomitantemente.

d. Considera-se praticado o ato criminoso no exato momento da ação ou omissão, ainda


que o resultado lesivo ocorra em momento diverso.

e. Considera-se praticado o crime se o indivíduo efetuou o disparo de arma de fogo com


17 (dezessete) anos, caso o resultado morte tenha ocorrido somente após o aniversário
de 18 (dezoito) anos.

Analise as assertivas abaixo e assinale “V” caso seja verdadeira ou “F”, se for falsa:

06. O direito penal brasileiro adotou expressamente a teoria absoluta da territorialidade


quanto à aplicação da lei penal, adotando a exclusividade da lei brasileira e não
reconhecendo a validade da lei penal de outro Estado. ( ) Verdadeira ( ) Falsa

07. O território nacional estende-se a aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes


ou de natureza privada, onde quer que se encontrem. ( ) Verdadeira ( ) Falsa

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GABARITOS: 1. C; 2. F; 3. C; 4. D; 5. D; 6. F; 7. F;

PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES:

(1) CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1 o ao
120) I Rogério Sanches Cunha - 4. ed. rev., ampl. e atual.- Salvador: JusPODIVM.

(2) ESTEFAM, André. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva.

(3) JESUS, Damásio de. Direito Penal. São Paulo: Saraiva.

(4) MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de direito penal. São Paulo: Atlas.

(5) PINHO, RUY RABELLO, 1922. História do Direito Penal Brasileiro: período
colonial. São Paulo, Bushatsky, Ed. da Universidade de São Paulo, 1973.

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