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TEORIA DO CRIME

1 – CONCEITO DE DIREITO PENAL

1.1 DENOMINAÇÃO E FINALIDADE

- Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado,
tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a quem os pratica
(E. Magalhães Noronha)

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1.2 CARACTERÍSTICAS

O DIREITO PENAL É:

a) uma CIÊNCIA

b) uma ciência CULTURAL

c) NORMATIVO

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d) FINALISTA

e) VALORATIVO

f) SANCIONADOR

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MATERIAL DE APOIO – LEITURA OBRIGATÓRIA

1.3 – CLÁSSICA DIVISÃO DO DIREITO E O DIREITO PENAL


- O Direito, para fins didáticos, costuma ser analisado como se fosse um tronco de uma
árvore bem grossa. Nesse tronco grosso encontra-se longos galhos menores que são
denominados de RAMOS. O Direito como um todo é dividido em RAMOS.
- O direito é dividido em 2 ramos principais: o PÚBLICO e o PRIVADO
- DIREITO PÚBLICO = é o ramo do Direito formado pelas normas de interesse do Estado
e que regulam as relações entre o Estado e os particulares. Exemplo de normas de direito
público: as que tratam de segurança pública, saúde etc.
- DIREITO PRIVADO = ramo do Direito formado pelas normas que tratam de matérias
que disciplinam as relações entre os particulares. Exemplo de normas de direito privado:
as que tratam sobre casamento, cobrança de dívidas, família, empresas etc.
- Por sua vez o DIREITO PÚBLICO é dividido em:
1 – Direito Constitucional – ramo do Direito que trata da principal lei de um país que é a
Constituição.
2 – Direito Processual – ramo do Direito que trata das normas que regulam a
Organização da Justiça e do processo.
3 – Direito Administrativo – ramo do Direito que trata das relações entre a Administração
Pública e os cidadãos.
4 – Direito Tributário - ramo do Direito que trata das normas que regulam o pagamento e o
recebimento de tributos.
5 – DIREITO PENAL – O DIREITO PENAL FAZ PARTE DO DIREITO PÚBLICO
- Por sua vez o DIREITO PRIVADO é dividido em:
1 – Direito Civil – ramo do Direito que trata do conjunto de normas que regulam as
relações decorrentes entre os particulares. Exemplos: contratos, família, herança,
casamento etc.
2 – Direito Empresarial - ramo do Direito que trata do conjunto de normas que regulam as
atividades comerciais (empresas)
- Os estudiosos falam ainda em um RAMO MISTO DO DIREITO que inclui o:
1 – Direito do Trabalho
2 – Direito Ambiental
3 – Direito do Consumidor
4 – Direito Previdenciário

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O DIREITO PENAL MANTÉM RELAÇÕES TODOS OS OUTROS RAMOS DO DIREITO

1.4 – CLASSIFICAÇÃO DO DIREITO PENAL

1 – DIREITO PENAL FUNDAMENTAL;

2 – DIREITO PENAL COMPLEMENTAR;

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3 – DIREITO PENAL COMUM;

4 – DIREITO PENAL ESPECIAL;

5 – DIREITO PENAL OBJETIVO;

6 – DIREITO PENAL SUBJETIVO.

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1.6 – DIREITO PENAL E OUTRAS CIÊNCIAS

MATERIAL DE APOIO – LEITURA OBRIGATÓRIA


O Direito Penal também mantém relação com outras CIÊNCIAS PENAIS a saber:

A) com a CRIMINOLOGIA: A Criminologia é ciência que estuda o crime, a pessoa do


criminoso, da vítima e o comportamento da sociedade. Não se trata de uma ciência
teleológica, que analisa as raízes do crime para discipliná-lo, mas de uma ciência causal-
explicativa, que retrata o delito enquanto fato, perquirindo as suas origens, razões da sua
existência, os seus contornos e forma de exteriorização. Ocupa-se das circunstâncias
humanas e sociais relacionadas com o surgimento, a prática e a maneira de evitar o
crime, assim como do tratamento dos criminosos. Para a maioria dos autores, Lombroso
foi o fundador da criminologia moderna.

B) com a POLÍTICA CRIMINAL: Cuida-se de ciência independente, que tem por objeto a
apresentação de críticas e propostas para a reforma do Direito Penal em vigor. Tem como
específica finalidade de trabalhar as estratégias e meios de controle social da
criminalidade (caráter teleológico). É característica da Política Criminal a posição de
vanguarda em relação ao direito vigente, vez que, enquanto ciência de fins e meios,
sugere e orienta reformas à legislação positivada.

C) com a MEDICINA LEGAL: A Medicina Legal no Direito, sobretudo no Direito Penal, é


de suma importância, já que em muitos casos, há a necessidade de se interpretar laudos,
exames referentes ao crime de homicídio.

2 – BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL


MATERIAL DE APOIO – LEITURA OBRIGATÓRIA
O Direito Penal tenha sua origem vinculada à própria organização do homem e m
sociedade, não se pode considerar a existência de normas penais sistematizadas em
tempos primitivos. Nesse período, o castigo não estava relacionado à promoção de
justiça, mas vingança, revide contra comportamento de alguém, abundando penas cruéis
e desumanas. Era a fase da Vingança Penal, dividida em: vingança divina, vingança
privada e vingança pública.

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2.1 – VINGANÇA DIVINA


O homem primitivo não regulava sua conduta pelos princípios da causalidade e da
consciência em torno de sua essência e circunstância, mas sim no “temor religioso ou
mágico, sobretudo em relação com o culto dos antepassados, cumpridores das normas, e
com certas instituições de fundo mágico ou religioso”.
Não se tinha conhecimento de que chuvas, trovões, raios, secas etc. decorriam de
leis da natureza, levando pessoas a acreditarem que esses fenômenos eram provocados
por divindades que os premiavam ou castigavam pelos seus comportamentos. Essas
divindades com poderes infinitos e capazes de influenciar diretamente na vida das
pessoas eram os Totens, sendo essas sociedades chamadas Totêmicas.
Os Deuses eram os responsáveis pela punição e castigos das pessoas.
O castigo consistia no sacrifício de sua vida. Castigava-se com rigor, com notória
crueldade, eis que o castigo deveria estar em consonância com a grandeza do deus
ofendido, a fim de amenizar sua cólera e reconquistar sua benevolência para com o seu
povo. Destacava-se a pena de perda da paz: como a paz está sob a proteção dos deuses,
a vingança tem o seu fundamento no preceito divino. Uma vez perdida a paz, o
delinquente perdia a proteção do clã, ficando exposto à sua própria sorte.

2.2 – VINGANÇA PRIVADA


Com o crescimento dos povos e das comunidades surgiu a chamada fase da
vingança privada. O próprio ofendido ou outra pessoa do grupo exercia o direito de atacar
o agressor fazendo JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS. Época de excessos, ódio,
brutalidade e vinganças. Clãs atacando clãs.
Tamanha era a desproporção da vingança que um crime praticado por um
indivíduo não raras vezes atingia como retribuição crianças e pessoas doentes,
integrantes do grupo do infrator. Recaía, inclusive, sobre animais ou coisas.
Com o propósito de evitar a dizimação dos grupos, surge a Lei do Talião, do latim talis =
tal qual: “Pagará a vida com a vida; mão com mão, pé por pé, olho por olho, queimadura
por queimadura” (Êxodo, XXI, versículos 23 a 25).
Por mais impressionante que essa afirmação possa se revelar, cuida-se da pioneira
manifestação do princípio da proporcionalidade, por representar tratamento igualitário
entre autor e vítima. Foi a primeira tentativa de humanização da sanção penal, apesar de
nos dias atuais revelar-se como brutal e cruel, e restou acolhida pelo Código de Hamurabi
(Babilônia), pelo Êxodo (hebreus) e na Lei das XII Tábuas (romanos).

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2.3 – VINGANÇA PÚBLICA


Com a evolução política da sociedade e organização o Estado chamou para si o
poder de manter a ordem e a segurança social. Surge nesse período a fase da Vingança
Pública. O direito de punir passa a ser exercido pelo Estado.

2.4 – IDADE ANTIGA


Nesta fase destacou-se o Direito Penal Romano:
Roma viveu também as fases da vingança (privada, divina até chegar na vingança
pública). Dividiu os delitos em públicos (crimina publica), violadores dos interesses
coletivos (ex: crimes funcionais, homicídio), punidos pelo jus publicum com penas
públicas, e privados (delicta privata), lesando somente interesses particulares (ex:
patrimônio), punidos pelo jus civile com penas privadas.
O Império Romano durou 22 séculos – 753 A.C a 1453 D.C – e o Direito foi muito
evoluído e influencio o Direito de vários países.
Marco: elaboração das XII Tábuas – na Tábua VIII (trata dos crimes e condutas
ilícitas no direito romano.) Ex: “Se alguém matou o pai ou a mãe, que se lhe envolva a
cabeça e seja colocado em um saco costurado e lançado ao rio.”

2.5 – IDADE MÉDIA


Nesta fase destacou-se o Direito Penal Canônico. Ordenamento jurídico da Igreja
Católica Apostólica Romana. A primeira consolidação de leis foi feita em 1140.
A pena se dirigia à cura do delinquente e sua recuperação.
Época da inquisição com castigos desproporcionais e cruéis.

2.6 – IDADE MODERNA


Com o Iluminismo (movimento intelectual europeu do século XVIII) a noção de
Direito Penal evolui bastante.
Marco desta época: publicação do livro Dos Delitos e das Penas – 1764 de
Cesare Bonesana (Marques de Beccaria ou Cesare Beccaria - italiano)

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O estudo contribui para abolição / diminuição das penas cruéis e da tortura.


Começaram a surgir as denominadas ESCOLAS PENAIS

Material de apoio – Leitura obrigatória


AS ESCOLAS PENAIS
Para analisar a evolução do Direito Penal é de suma importância o estudo
das Escolas Penais, as quais formaram correntes de pensamento filosófico-jurídico na
matéria penal que surgiriam nos tempos modernos.
As Escolas Penais são “corpos de doutrina mais ou menos coerentes
sobre os problemas em relação com o fenômeno do crime e, em particular, sobre os
fundamentos e objetivos do sistema penal”.1
O ser humano sempre viveu em permanente estado de associação, e as
regras dessa convivência, desde os primórdios são violadas, ferindo-se os semelhantes e
a própria comunidade, tornando inexorável a aplicação de uma punição.
Já foram aplicados diversos tipos de sanções ao indivíduo que quebrava
essas regras, como a expulsão do grupo ou comunidade, punições em sentimento de
culpa de totens e tabus (temor a Deus), vingança privada (justiça pelas próprias mãos),
entre muitas outras, conforme visto em sala de aula.
O destino dessa pena era, até então intimidatório e de excessivo rigor e
cruéis, o que propiciou a mudança de pensamento após a obra de Cesare Bonesana,
“Dos delitos e das penas”, ocorrendo o nascimento da Escola Clássica.
Pregou o Marquês de Beccaria o caráter humanitário e a proporcionalidade
da pena, se opondo ao arbítrio e com a missão de regenerar o criminoso, iniciando o
processo de modernização do Direito Penal.
As escolas se distinguem uma das outras em seus distintos métodos e
objetos de abordagem, dentre elas, duas se destacam, representando posições lógica e

1
BRUNO, Aníbal. Direito penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967. p. xx.
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filosoficamente bem definidas, são a escola clássica e a escola positiva. As outras, em


geral, participam com maior ou menor coerência das duas principais.
Há um problema considerável e recorrente no Direito punitivo, que é
quanto ao seu fundamento jurídico e ao fim da pena.
Não sendo um problema metafísico ou filosófico, mas de caráter prático, pois
da pena depende da sua configuração na lei penal.
Essa problemática inspirou diversas posições dos penalistas, formuladas
dentro das escolas e diversamente resolvida, formando algumas teorias:

a) Teorias da retribuição ou absolutas: Há uma exigência de justiça,


fazem da pena um instrumento de expiação do crime 2 (punitur quia peccatum est3).
Autores como Rossi, Carrara e Pessina, na Itália eram seguidores, encontrando a clara
expressão a escola clássica, entre outros na Alemanha, como Kant, Hegel e Binding.
Seria então, a pena do mal justo em que a ordem jurídica responde ao injusto
praticado pelo criminoso, malum passionais quod infligitur ob malum actionis 4, seja
como retribuição de caráter divino, de caráter moral, ou de caráter jurídico, não
podendo essa função ser anulada ou enfraquecida por nenhum outro fim atribuído a pena

b) Teorias da prevenção, relativas ou finalistas: A pena tem um caráter


preventivo (punitur ne peccetur5), tendo representantes de grandes figuras da época
iluminista: Beccaria, Filangieri, Carmignani, Feuerbach, Romagnosi. Mas vieram a se
encontrar nas correntes de fundo sociológico-naturalista, acentuando na pena sua
finalidade prática, apresentando-a como instrumento de defesa social ou prisão do
delinquente os positivistas, com exceção de Ferri, que defendia a pena como medida de
segurança.

2
Expiação é uma palavra que vem do Latim: expiatione. A palavra expiação encontra-se poucas vezes na
Bíblia, mas o conceito da expiação constitui o assunto principal do Antigo e do Novo Testamento. Palavras
mais conhecidas como reconciliação, propiciatório, sangue, remissão de pecados e perdão estão
diretamente relacionadas com esse tema. Disponível em: <
https://pt.wikipedia.org/wiki/Expia%C3%A7%C3%A3o> Acesso em: 10 mar. 2017.
Expiação: Purificação de crimes ou faltas cometidas. Meio usado para expiar(-se); penitência, castigo,
cumprimento de pena; sofrimento compensatório de culpa. Palavra derivada do latim: É a satisfação
oferecida à justiça divina por meio da morte de Cristo pelos nossos pecados, em virtude do qual todos os
que creem em Cristo são pessoalmente reconciliados com Deus, livrados de toda a pena dos seus pecados
e feitos merecedores da vida eterna;
3
Punitur quia peccatum est: Puni-se porque é pecado. Disponível em: <http://www.enciclopedia-
juridica.biz14.com/pt/d/punitur-quia-peccatum-est/punitur-quia-peccatum-est.htm> Acesso em: 10 mar.
2017.
4
Malum passionais quod infligitur ob malum actionis: um mal que se sofre [mal de retribuição] em razão de
um mal que se fez [mal de ação].
5
Punitur ne peccetur: Pune-se para que não se peque.
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A mescla entre as duas correntes resultou na posição das teorias mistas,


que sustentam o caráter retributivo6 da pena, juntando a de reeducação e prisão do
criminoso, embora, em geral, a prioridade seja a retribuição, é a posição que tomam as
escolas ecléticas.

1) ESCOLA CLÁSSICA

Foi o livro de Cesare Beccaria, Dei delitti e delle pene ou Dos delitos e das
penas (de 1764) que abriu caminho para a escola clássica.
Ela nasceu entre o final do século XVIII e metade do século XIX como
reação ao totalitarismo do Estado Absolutista, filiando-se ao movimento revolucionário e
libertário do Iluminismo.
Havia-se na Idade Média, uma situação de violência, opressão e
iniquidade7, nos séculos seguintes se fez, portanto, a consciência comum na época de
ansiar por um regime de ordem e segurança, cruel e arbitrário do direito punitivo.
Essa exigência prática desse período e sua filosofia resultaram duas
importantes filosofias da escola clássica: O jusnaturalismo, de Grócio e o Contratualismo
de Rousseau, para o qual a ordem jurídica resulta do livre acordo entre os homens,
acatando a uma parte de seus direitos no interesse da ordem e segurança comum.
Personagens marcantes dessa Escola Penal:

a) BECCARIA (1738-1794):

6
Pena Retributiva: Com essa teoria se tinha a ideia de que a pena seria apenas um castigo que o
indivíduo teria que pagar pelo seu ato infracional, ou seja, a pena seria a retribuição do Estado pelo
crime cometido contra a ordem coletiva.
7
Iniquidade: caráter daquilo ou daquele que é iníquo, que é contrário à equidade. Ação ou coisa contrária à
moral e à religião.
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Sua obra marcou o início de uma nova época, sendo considerada a base
do Direito Penal moderno, não só no pensamento cientifico especializado, mas também
na atuação da Justiça e nas ideias comuns sobre o crime e a pena.
Reclamou que o Direito Penal deve ser certo, com a igualdade perante a
lei; defendeu a abolição da pena de morte;, leis claras e precisas; o juiz exercendo
somente sua função de aplicar a lei nos estritos termos; erradicação de torturas como
meios de provas, ou seja, pregando uma proporcionalidade da pena à infração praticada,
dando relevo ao dano que o crime causou à sociedade.
A pena, segundo defendeu, além do caráter intimidativo, deveria
sustentar na missão de regenerar o criminoso, sendo a pena a mínima necessária para
se conseguir esse fim.
A sua doutrina tratava sobre esses diversos temas que reagiam contra a
arbitrária Justiça Penal vigente.
Sua intenção não era científica, mas de humanidade e justiça, em um gesto
de eloquente revolta contra a iniquidade que se pairava na época, defendendo o homem
contra a tirania, encerrando assim um período de nefanda8 memória na história do Direito
Penal.
Criou uma nova consciência e novos rumos nos estudos da matéria,
iniciando o movimento da escola clássica, embora pelas suas ideias mais avançadas
pelos juristas que lhe iriam seguir, carregados de jusnaturalismo e tradição romano-
medieval, tenha ficado fora e acima desse movimento.
Na Escola Clássica, desenvolvida na Itália, pode se distinguir duas
correntes, uma influenciada pelo Iluminismo, tendo o Direito punitivo baseado na
necessidade social, e que compreende, Beccaria, Filangieri, Romagnosi e Carmignani.
E a sua fase definitiva, em que a metafísica9 jusnaturalista10 invade a
doutrina do Direito Penal e acentua a pena como caráter retributivo, com Rossi, e
posteriormente com Carrara, para encerrar-se com Pessina.

8
Nefanda: Indigno de se nomear; abominável, execrável, execrando, aborrecível, infando.
9
A metafísica é um ramo da filosofia que estuda os problemas centrais do pensamento filosófico, ou seja, o
ser como tal, absoluto, Deus, o mundo, a alma.
10
Jusnaturalismo é uma teoria que procura fundamentar o direito no bom senso, na equidade e no
pragmatismo. Ela não se propõe a uma descrição de assuntos humanos por meio de uma teoria; tampouco
procura alcançar o patamar de ciência social descritiva. A teoria do direito natural tem, como projeto, avaliar
as opções humanas com o propósito de agir de modo razoável e bom. Isso é alcançado através da
fundamentação de determinados princípios do direito natural que são considerados bens humanos
evidentes em si mesmos.
A teoria do direito natural abrange uma grande parte da filosofia de Tomás de Aquino, Francisco Suárez,
Richard Hooker, Thomas Hobbes, Hugo Grócio, Samuel von Pufendorf, John Locke, Jean-Jacques
Burlamaqui e Jean-Jacques Rousseau, e exerceu uma influência profunda no movimento do racionalismo
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b) FILANGIERI (1752-1788):

Teve pensamentos próximos ao de Beccaria.


Foi jus naturalista11 e reconheceu a existência de um Direito divino, com
normas absolutas, permanentes e imóveis, porém o direito punitivo teria origem e
fundamento no pacto social, semelhante aos pensamentos de Beccaria já mencionados.
Entretanto teve apenas a função de pressuposto lógico, de garantir a
segurança e tranquilidade que o contrato social (Rousseau) estabelecera.
Teve também influência no Direito Penal italiano, em particular o Direito
Romano, em que havia uma busca de ajustar as novas ideias trazidas por Beccaria aos
juristas de Roma.
Sua obra teve um tom de direito positivo e buscava um sistema rígido.
A pena, em seu entender, era somente um instrumento de prevenção de
novos crimes.

jurídico do século XVIII, quando surge a noção dos direitos fundamentais, no conservadorismo, e no
desenvolvimento da common law inglesa.
11
Jusnaturalista: A Corrente do Jusnaturalismo defende que o direito é independente da vontade humana,
ele existe antes mesmo do homem e acima das leis do homem, para os jusnaturalistas o direito é algo
natural e tem como pressupostos os valores do ser humano, e busca sempre um ideal de justiça.
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c) ROSSI (1768-1847):

Pellegrino Rossi teve rumos diferentes.


O Italiano naturalizado francês publicou a obra “O utilitarismo” que marcou
os primeiros passos do classicismo italiano.
Construiu seu sistema sobre a exigência da justiça moral, retornando a uma
posição anterior ao trabalho de Beccaria – Direito e a Moral.
O jusnaturalismo, que foi apenas um detalhe no trabalho de Beccaria e
Filangieri, passou a primeiro plano em seus estudos.
Para ele a Justiça Social participa da moral e divina e a pena seria nada
mais que a retribuição feita pelo juiz após a sua ponderação e medida do mal pelo
mal. Admitia a pena ser limitada pela utilidade social, pondo a inicio o cumprimento da
missão histórica de Beccaria da humanização do Direito punitivo. A obra de Rossi (É o
autor de um Traité de Droit Penal (1829), concebido segundo um rigoroso sistema no qual
examina os fundamentos do Direito Penal, da lei, do delito e da pena) é conhecida como a
primeira construção sistemática do Direito Penal.

d) GIOVANNI CARMIGNANI (1768-1847):

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Apresentou um passo para a posição realista.


Reafirmou a distinção entre moral e direito, direito natural e político.
Ele acreditava que “o objeto da política é a felicidade pública”, ou seja, a
politica não aplicará necessariamente o justo, mas o que convier a sociedade, com a
“esperança do bem e temor do mal”. Não confundiu moral com direito, ou direito político
com direito natural.
A pena para ele era vista como “meros obstáculos políticos” à praticas dos
crimes e busca à prevenção do crime.

e) ROMAGNOSI (1761-1835):

A pena como defesa defendida por Carmignani foi precedida por Gian
Domenico Romagnosi, assim como Rossi, porém mais preocupado com os problemas
penais.
Sua posição filosófica era jusnaturalista, contestando a ideia do contrato
social, a qual chama de “ficção postiça e heterogênea”.
Teve como conceito inicial de Direito punitivo o direito de defesa, com o fim
exclusivo da pena na defesa da sociedade contra o crime, valendo como um contra-
estímulo ao criminoso sendo injusta quando não configurado esse elemento. Devendo ela
ser proporcional, não à gravidade do crime ou ao dano a sociedade mas ao impulso
criminoso, deve-se aplicar a pena como último recurso, utilizando de todos os meios
eficazes para prevenir antes de punir.
Foi a posição mais avançada do Direito Penal italiano, no período do
classicismo. Aproximando de Bentham (1748-1832), utilitarista inglês, que trouxe a teoria
ético-jurídica de base utilitária, sendo ele mais claro e preciso. Os dois são considerados,
juntamente com Feuerbach, na Alemanha, precursores da doutrina penal moderna.

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f) CARRARA (1805-1888):

Francesco Carrara foi a expressão da corrente clássica na Itália.


O que o distinguiu dos outros foi a sua lógica jurídica, seu poder de dialética
e sua admirável capacidade de sistematização, o que o fez o expositor máximo e
consolidador da escola clássica e um dos maiores penalistas de todos os tempos.
Para construir seu sistema, partiu de premissas jusnaturalistas, nessa ordem
social provem direitos e deveres, cujo equilíbrio cabe ao Estado tutelar: “A pena não é
mais do que a sanção do preceito ditado pela lei eterna: a qual sempre visa à
conservação da humanidade e à tutela dos seus direitos, sempre procede da norma do
justo: sempre corresponde aos sentimentos da consciência universal”.
Mas superou essas premissas, tomando um caminho lógico-jurídico,
seguindo uma fórmula a qual se ajustasse e guiasse a matéria: “o crime não é um ente de
fato, é um ente jurídico; não é uma ação, é uma infração”, sendo um ente jurídico pois sua
essência deve consistir na violação de um direito. Foi a partir dessa fórmula criada por
ele, que a escola clássica gerou o sistema jurídico-penal completo mais perfeito e onde os
problemas fundamentais foram conduzidos até sua última consequência.
Com esse sistema, havia uma exigência para que a violação desse direito e
sua punição deveria ser fruto de uma vontade inteligente e livre.
Carrara acreditava ser evidente e indispensável, assim como a finalidade de
correção e ressocialização do delinquente, porém não concordava com o abrandamento
de pena o qual seria um incitamento a delinquir.

g) PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E FUNÇÃO HISTÓRICA DA ESCOLA CLÁSSICA:


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A sua vasta produção jurídica se estendeu por mais de um século;


apresentou várias opiniões e pontos de vista do Direito Penal e punitivo, assim como seus
representantes.
Os seus princípios dominaram por mais de um século, inspirando a doutrina
e as legislações penais da sua época propriamente até os projetos suíços e alemães ou
até os Códigos mais recentes, a partir do italiano.
Atingidos seus fins, esgotara seus motivos e sua capacidade de criação. Já
não correspondia a exigência prática dos novos tempos, a sociedade caminha a frente do
direito, que continua à uma luta contra a criminalidade, outras correntes iriam lhe suceder,
com outras imposições e cumprindo o destino dessa evolução contínua das construções
jurídicas.
O que não quer dizer que alguns de seus princípios ainda não persistam, ou
renasçam, em novas correntes do Direito Penal de hoje.

h) ESCOLA CLÁSSICA ALEMÃ:

Na Alemanha se formou uma corrente em busca da solução dos problemas


penais nas mesmas razões práticas e filosóficas da escola clássica italiana, porém
desenvolvendo independente desta e com uma originalidade destacável.
O seu fundador foi Feuerbach (1775-1883); filiou-se a Kant; porém libertou-
se do absolutismo kantiano e viu na sanção punitiva um instrumento de ordem e
segurança social, um modo de deter o criminoso potencial no limiar do delito, sendo uma
medida preventiva.

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Segundo ele o Direito Penal agiria por uma prevenção geral por meio de
uma coação psicológica exercida pela ameaça da pena recebida ao cometer o delito,
sendo seu fundamento a necessidade de segurança do Direito.
Acreditava na liberdade do livre arbítrio, admitiu o princípio da absoluta
legalidade dos crimes e das penas, consagrado pela fórmula latina nullum crimen, nulla
poena sine lege, previsto como cláusula pétrea na nossa Constituição Federal de 1988 no
artigo 5º inciso XXXIX: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;”.
Depois de Feuerbach a doutrina jurídico-penal alemã se divide em três
direções, uma no sentido de Kant, outra no de Hegel e a terceira sofre influência da
escola histórica do Direito e toma orientação histórica, buscando referir o Direito Penal às
suas raízes no passado.
As duas primeiras estão presentes na primeira metade do século XIX
correspondentes à filosofia jurídico-penal especulativa.

KANT (1724- 1804) transportou ao Direito Penal o sentido ético do seu


sistema. Foi contra ao Iluminismo e ao utilitarismo e alguns de seus predecessores como
Beccaria.

Pregou a liberdade de querer do homem e a pena com um caráter


retributivo, seria dever absoluto do Estado a punição, sendo ela a justiça absoluta,
negação do crime, devendo ser igual e contrária, de modo a reintegrar a ordem violada.

HEGEL (1770-1831), retomou a teoria da retribuição e da proporcionalidade


entre pena e crime e submeteu-a a nova elaboração. Para ele a pena é desenvolvida do
crime, sendo que a análise deste deve ser pelo seu injusto não pelo dano causado pelo
criminoso.
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A promulgação do Código Penal alemão de 1871 estimulou a tendência a


exegese* e à dogmática*, sobretudo à dogmática.
Nessa corrente, está Binding, um dos mais profundos, originais e eruditos*
criminalistas alemães.

Escreveu uma obra em 4 volumes chamada As normas e a sua infração (Die


Normen und ihre Übertretung), em que discutia problemas fundamentais do Direito Penal.
Para ele a pena é direito e dever do Estado, é um castigo do delinquente por
ter violado o dever fundamental de obediência, é retribuição e satisfação. Deve ser
considerado o fato, não o delinquente, segundo a culpabilidade contida no fato.
Apesar de tão diversas orientações filosóficas e critérios jurídicos, como
Wach, Oetker, Finger, Allfeld, Von Liszt e muitos outros, na Escola Alemã houve uma
linha de princípios que unificou todas essas correntes e deu o sentido de uma atitude
uniforme perante os problemas fundamentais do Direito Penal, sobretudo se as pusermos

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em confronto com as correntes mais ou menos filiadas ao positivismo sociológico-


naturalista, que vieram a constituir na Alemanha a chamada escola moderna.

2) ESCOLA POSITIVA
A Escola clássica conseguiu enfrentar com êxito com o arbítrio, violência e
injustiça penal do Absolutismo.
Entretanto, os ambientes político e filosófico, em meados do século XIX,
revelavam grande preocupação com a luta eficiente com a criminalidade. Manifestava-se
a necessidade de defesa da sociedade e os estudos biológicos e sociológicos assumiam
relevante importância, principalmente com as doutrinas evolucionistas de Darwin e
Lamarck e sociológicas de Comte e Spencer.
Com essa preocupação nasceu a Escola Positiva, também denominada
Positivismo Criminológico, chefiada pelos “três mosqueteiros”: CESARE LOMBROSO,
ENRICO FERRI e RAFAEL GAROFALO
O crime passou a ser objeto de investigação científica, naturalista e logo
sociológica. O problema da criminalidade foi posto sob outro ângulo, se estudou o
fenômeno do crime, o seu agente, o criminoso, se tornou o centro da investigação, o que
iria conduzir a formação das ciências criminológicas.

a) CESARE LOMBROSO (1836-1909):

Foi um médico italiano e deu início ao movimento (Escola Positiva) fixando


sua posição essencial.
Lombroso desenvolveu suas pesquisas até onde a ciência o permitiu,
oferecendo hipóteses de trabalho para explicar a delinquência, atraindo a atenção dos

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penalistas para aspectos naturalistas da criminalidade determinando radical mudança de


atitude diante dos problemas penais, concluindo suas observações em sua doutrina.
Suas obras “O cretinismo na Lombardia” (1859) e “O homem delinquente”
(1876) versaam sobre o criminoso nato, o homem não é livre em sua vontade, para ele o
criminoso verdadeiro tem um tipo definido, tem anomalias anatômicas que o definem.
Sua concepção trouxe à escola positiva a aplicação do método experimental
no estudo da criminalidade e ofereceu à comunidade a teoria do criminoso nato, sendo
que este além das suas características inerentes a ele terá uma disposição natural à
prática do delito e inclinará imperiosamente para o crime. São homens que nascem dessa
maneira, desajustados com a sociedade em que o crime é um episódio que a provocação
mínima irá desencadear, “não uma predestinação, mas uma predisposição” (Nagler).

b) FERRI (1856-1929):

Enrico Ferri, empunhava a bandeira da fase sociológica da escola positiva,


com as obras “Sociologia criminal” (1892) e “Princípios de direito criminal” (1926).
Tornou-se um grande orientador da escola; contribuiu para a defesa da tese
negativa do livre arbítrio (determinismo biológico-social), substituindo a responsabilidade
moral pela social, em que o homem é sempre responsável por toda ação antijurídica que
pratica, unicamente porque vive em sociedade.
A função punitiva do Estado é a defesa social, que se promove mais
eficazmente pela prevenção do que pela repressão dos fatos criminosos, não punindo
mas reajustando às condições sociais. Ferri buscou dar forma legislativa às suas ideias
em 1921 no Código Penal Italiano, ajustando às ao nosso tempo.

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c) GAROFALO (1851-1934):

Foi o jurista que se juntou a escola positiva, empregando a expressão


“Criminologia”, título de sua principal obra, publicada em 1885.
Atribui-se a ele o conceito de delito natural, compreendido como “ação
prejudicial e que fere ao mesmo tempo alguns desses sentimentos que se convencionou
chamar o senso moral de uma agregação humana”.
Ele divide seu livro em três partes – o delito, o delinquente e a repressão
penal, sendo a última apresentando a visão jurídica. Para ele, o delinquente não é um ser
normal, mas portador de anomalia do sentimento moral, embora aceite influência limitada
do ambiente na criação do criminoso.
No tocante a sanção penal se afasta da escola adotando o fim da medida
penal seja a eliminação, seja pela pena de morte, pela deportação ou relegação (exílio,
banimento).

d) PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E FUNÇÃO HISTÓRICA DA ESCOLA POSITIVA:

Na escola positiva, antes da construção do sistema jurídico, houve um


método experimental, no qual o crime e o criminoso foram estudados individualmente,
inclusive com auxílio de outras ciências.
Houveram mais fundadores criminologistas que juristas.
Nessa concepção, criou-se a Antropologia e a Psicologia Criminal de
Lombroso, juntamente com a Sociologia Criminal de Ferri e a Criminologia de Garofalo.

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Ganhou relevo o determinismo, negando-se o livre-arbítrio, haja vista que a


responsabilidade penal fundamentava-se responsabilidade social, no papel que cada ser
humano desempenhava na sociedade.

3) CORRECIONALISMO PENAL

Também chamado de Escola Correcionalista; surgiu na Alemanha, em 1839,


com a publicação da obra “Comentatio na poema malum esse debeat”, de Karl David
August Röeder, professor da Universidade de Heidelberg.
As suas ideias foram revolucionárias e inovadoras para a época, analisando
as teorias fundamentais sobre o delito e a pena, sendo esta, para ele, com o fim de
corrigir a injusta e perversa vontade do criminoso e, dessa forma, não pode ser fixa e
12
determinada, como na visão da Escola Clássica. A contrario sensu *, a pena deve ser
indeterminada e passível de cessação de sua execução quando se tornar prescindível,
lançando assim a sentença indeterminada.
Portanto, o fim da pena jamais seria repressão ou punição, afastando as
teorias absolutistas, também não seria a prevenção geral, mas a específica. Destaca-se a
célebre frase de Concépcion Arenal: “não há criminosos incorrigíveis, e sim incorrigidos”.
Busca-se, assim, a emenda de todos os delinquentes. A teoria do penalista alemão não
ficou conhecida no seu país porém se disseminou por toda a Europa.
Dorado Montero pugnou pela implementação de métodos corretivos e
tutelares que, sem a índole de castigo, redimissem o criminoso, tido como um ser
incapaz para o Direito e a pena como um meio para a realização do bem social. Tendo o
criminoso o direito de exigir a execução de sua pena não um dever de seu cumprimento.
A escola correcionalista sustentava que a pena deveria ser utilizada pela
sociedade como fim terapêutico, reprimir curando, sem a pretensão de castigar ou punir.
Versa Basileu Garcia que “O Direito Penal visa converter o criminoso em
homem de bem. É preciso subtraí-lo à esfera das causas perversoras que o rodeiam e o
conduzem à prática do mal. Devem ser-lhe aplicados os meios ressocializadores
adequados às suas tendências, às falhas da sua personalidade. Ao Estado cabe ampará-
lo, tal qual faz com outros deficientes, porquanto dá curador ao louco e tutor ao menor a
que falta a assistência dos pais.”

12
de forma contrária
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A ideia de Röeder foi transfundida e divulgada nas obras de Dorado Montero


e Concépcion Arenal, teve em Luis Jiménez de Asúa seu maior entusiasta e o mais
eficiente dos expositores.

4) ESCOLAS ECLÉTICAS

Formaram-se outras correntes da doutrina penal fora das posições extremas


da escola clássica e da escola positiva, buscando conciliação entre aquelas ou
continuando o classicismo, combatendo o positivismo criminológico.

a) A “TERZA SCUOLA” ITALIANA E A ESCOLA SOCIOLÓGICA FRANCESA:

Foi a primeira das reações ecléticas, de Carnevale, Alimena e Impallomeni.


Sem muita repercussão, se tratava do princípio da responsabilidade moral, tratado na
escola clássica, porém na distinção entre imputáveis e não imputáveis, não incluindo o
fundamento do livre-arbítrio. A imputabilidade resulta da coação, da ameaça da pena,
intimidação. O crime é um fenômeno individual e social, a pena tem por fim a defesa
social

b) A ESCOLA MODERNA ALEMÃ:

Conhecida como a escola de Von Liszt (1851-1919), o penalista alemão foi


responsável pela iniciativa da corrente eclética mais notável, que determinou nesse país
movimento semelhante ao do positivismo penal na Itália.
A finalidade principal dessa escola foi a adoção de medidas e providências
de ordem prática no interesse da repressão e prevenção do delito, o que conseguiu,
introduzindo na legislação de diversos institutos.
Considerava o crime um fato jurídico, mas que também apresenta os
aspectos humano e social. Não aceitava o criminoso nato de Lombroso ou a existência de
um tipo antropológico de delinquente, porém, considera real a influência de causas
individuais e externas – físicas e sociais – com predominância das econômicas.
Distinguia o imputável do inimputável, sem se fundar no livre-arbítrio e sim
na determinação normal do indivíduo.

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c) TECNICISMO JURÍDICO-PENAL

Surgiu na Itália em uma aula histórica sobre Il problema e il metodo della


scienza del diritto penalle, proferida na Universidade de Sassari, em 15 de janeiro de
1910, Arturo Rocco delimitou o método de estudo do Direito Penal como o positivo,
restrito às leis vigentes, dele abstraindo o conteúdo causal-explicativo inerente à
antropologia, sociologia e filosofia.
O objetivo desse movimento foi excluir do Direito Penal toda sua carga de
investigação filosófica, limitando aos ditames legais. O jurista deve se valer da exegese
para se concentrar no conteúdo do direito positivo, sendo que os outros campos, como
filosóficos e sociológicos, se valem pelos métodos experimentais.
O Direito Penal tem conteúdo dogmático, o seu intérprete deve utilizar
apenas do método técnico-jurídico, cujo objeto é o estudo da norma jurídica em vigor.
Em sua origem, liderado por Arturo Rocco, Vicenzo Manzini, Massari e
Delitala, entre outros, o tecnicismo negava o livre-arbítrio, bem como a existência do
direito natural, sustentando ser a sanção penal mero meio de defesa do Estado contra a
periculosidade do agente. Ao contrário da segunda etapa, composta por Maggiore,
Giuseppe Bettiol, Petrocelli e Giulio Battaglini, acolhendo o direito natural e o livre-arbítrio,
assim como a pena em caráter retributivo.
Cleber Masson em sua doutrina diz que o tecnicismo jurídico representou
um movimento de restauração metodológica sobre o estudo do Direito Penal. Sendo hoje
a corrente dominante na Itália, inspirando o Código Penal Italiano e a doutrina em
diversos países.

5) DEFESA SOCIAL

A ideia de defesa social surgiu no início do século XX, em decorrência dos


pensamentos da Escola Positiva do Direito Penal.
Em outras palavras, não é possível conceber uma teoria da defesa social
sem considerar a revolta positivista. Todavia, a defesa social não se confunde com a
doutrina positivista e, como teoria autônoma, não se inclui nos ensinamentos do
Positivismo.
Sua função deveria ser garantida da forma mais eficaz e integral possível,
repudiando a imposição de penas insuficientes, rotineiramente abrandadas pela

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indulgência dos tribunais. O combate à periculosidade tornara-se a principal finalidade do


Direito Penal.
Deveras, surgiu apenas no século XX, com a União Internacional de Direito
Penal, fundada por Von Liszt, Van Hamel e Adolphe Prins, este último seu maior
estudioso, tendo seus ideais, posteriormente, sido consolidados por Fillipo Gramatica e
Marc Ancel.
O fim único da justiça penal é garantir, da melhor maneira possível, a
proteção da pessoa, da vida, do patrimônio e da honra dos cidadãos. Para tanto, fazia-se
imprescindível a substituição da noção da responsabilidade moral pelo critério da
periculosidade do delinquente.
A teoria de defesa social de Gramatica diz: “o Estado não deve punir, pois
sua função é melhorar o indivíduo. A causa da antissocialidade está na organização
social. Contra ela o Estado deve operar preventivamente e não somente pela repressão.
Os cárceres são inúteis e prejudiciais, devendo ser abolidos. As penas
devem ser substituídas por medidas educativas e curativas.
O violador da lei não perigoso pode ser perdoado, não necessitando sanção.
A pena, como medida de defesa social, deve ser fixa ou dosada, não na base do dano,
mas segundo personalidade do agente.”

3 – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO

- Fases:

1ª - Período colonial:

2ª - Com o descobrimento do Brasil:

Portugal trouxe a legislação que vigorava na época para sua colônia.

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4 - FONTES DO DIREITO PENAL


- Todo ramo do Direito tem as suas fontes. A expressão fonte significa analisar de onde
a norma penal emana, qual sua origem, de onde ela provém e como se revela.

- As fontes são classificadas pela doutrina em:

1 – FONTES MATERIAIS
- é a fonte de produção da norma, é o órgão encarregado da criação do Direito Penal
- Por previsão constitucional, a fonte material do Direito Penal é a União. É este o ente
que, em regra, pode produzir normais penais (veja art. 22, I, CF/88).
- A própria Constituição Federal prevê uma exceção, disciplinando a possibilidade dos
Estados-membros legislarem sobre questões específicas de direito penal, desde que
autorizados por lei complementar (um tipo de lei que exige um maior grau de exigência
para sua aprovação) ( Veja art. 22, parágrafo único, CF/88)

2 – FONTES FORMAIS
- Trata-se do instrumento de exteriorização do Direito Penal, ou seja, do modo como as
regras são reveladas.
- São classificadas em:

A) IMEDIATA

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Material de apoio – Leitura obrigatória


B) MEDIATAS / SECUNDÁRIAS

1 – COSTUMES: Os costumes são comportamentos uniformes e constantes (elemento


objetivo) pela convicção de sua obrigatoriedade (elemento subjetivo). Aparecem como
fonte mediatas do Direito Penal.
- Os Costumes criam infrações penais? A resposta só pode ser negativa. É
absolutamente vedado o costume incriminador. A lei é a única forma de revelar o crime
(ou contravenção penal).
- Os costumes podem influenciar o Direito Penal. Ex: os costumes sexuais evoluíram
com o passar dos anos e o crime de ato obsceno previsto no o art. 233 do CP só se
caracteriza em determinadas situações (Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto
ou exposto ao público: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.) Ex: a
situação de desfilar no carnaval de hoje sem roupas seria considerada crime na década
de 50. Mas os costumes evoluíram e hoje ninguém é punido pelo art. 233 por sair no
carnaval sem roupas.

2 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL: a principal Lei de um país NÃO CRIA e NEM MODIFICA


CRIMES. Contudo, influencia o Direito Penal em diversos dispositivos. Favor ler os
dispositivos abaixo:
- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei;

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático;

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:


a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;

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c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

XLVII - não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e
o sexo do apenado;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período de amamentação;

3 – PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO: são enunciados que possuem valores


fundamentais que desenvolvem o Direito Penal e, ao mesmo tempo, limitam o poder
punitivo (jus puniendi) do Estado. Exemplos:
a) Não há crime sem lei anterior que o defina.
b) O Direito Penal não pode punir o pensamento
c) O Direito Penal não pode punir atitudes meramente subjetivas da pessoa.
d) Falar e não provar é o mesmo que não falar.
e) entre outros.

OBSERVAÇÃO:
1 – DOUTRINA: para muitos autores não é fonte do Direito, mas tem grande importância
na interpretação da lei penal porque são os estudos, pesquisas dos especialistas em
Direito Penal

2 – JURISPRUDÊNCIA: é a REITERAÇÃO DE DECISÕES judiciais pelos Tribunais de


casos semelhantes que se TRANSFORMAM EM POSIÇÕES e INFLUENCIAM o Direito
Penal.
OBS: Súmula Vinculante = decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal que tem
força de lei. Logo pode ser considerada como fonte imediata do Direito Penal.

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5 – PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL

1 – PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL


- Art. 5º, XXXIX da CF e Art. 1º do CP
- Nullum crimem, nulla poena sine praevia lege

2 – PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
- Decorre também do Art. 5º, XXXIX da CF e do Art. 1º do CP

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3 – PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA


- Previsto no art. 5º, XLVI da CF.
- Cada criminoso deve receber uma pena adequada e calculada, conforme prevê a lei
penal, de acordo com a gravidade do seu ato, circunstâncias do crime e a previsão no tipo
penal.

4 – PRINCÍPIO DA ALTERIDADE / TRASNCENDENTALIDADE


- Proíbe a incriminação / punição de atitude meramente subjetiva do indivíduo e que não
ofenda bem jurídico de terceiros.

5 – PRINCÍPIO DA CONFIANÇA
- Estabelece que as pessoas devem esperar das demais comportamentos responsáveis –
evitar prejuízos

6 – PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL


- O Dir. Penal não deve punir comportamentos que, embora previstos em lei como crime,
são aceitos e há tolerância por parte comum da sociedade.

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7 – PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA


O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo que a sua
intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caráter
.subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem
juridicamente tutelado (caráter fragmentário)

- PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE:

- PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE:

8 – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

9 – PRINCÍPIO DA HUMANIDADE

10 – PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE

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11 – PRINCÍPIO DA IMPUTAÇÃO PESSOAL

12 – PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PELO FATO

13 – PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE OU DA INTRANSCENDÊNCIA


- Art. 5º, XLV da CF.

14 – PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PENAL SUBJETIVA

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15 – PRINCÍPIO DO NO BIS IN IDEM

- Este princípio não está previsto expressamente na Constituição, mas sim no Estatuto de
Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional:

Art. 20. Ne bis in idem. I. Salvo disposição em contrário do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser
julgada pelo Tribunal por actos constitutivos de crimes pelos quais este já a tenha condenado ou absolvido.
2 - Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunal por um crime mencionado no artigo 5°,
relativamente ao qual já tenha sido condenada ou absolvida pelo Tribunal.

- Também tem previsão no art. 8º, item 4, do Pacto de São José da Costa Rica -
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS - (Assinada na Conferência
Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de
novembro de 1969)

16 – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU DA BAGATELA

- O Direito Penal não deve se ater a condutas que afetam de forma ÍNFIMA o bem jurídico
tutelado.

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17 – PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA - (OU DA NÃO CULPABILIDADE)

MATERIAL DE LEITURA OBRIGATÓRIO

No ordenamento pátrio, até a entrada em vigor da Constituição de 1988, esse princípio


somente existia de forma implícita, como decorrência da cláusula do devido processo legal.
Com a Constituição Federal de 1988, o princípio da presunção de não culpabilidade passou a
constar expressamente do inciso LVII do art. 5º: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória”.
Em síntese, pode ser definido como o direito de não ser declarado culpado senão após o
término do devido processo legal, durante o qual o acusado tenha se utilizado de todos os meios de
prova pertinentes para a sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas
apresentadas pela acusação (contraditório).
A Constituição Federal, no artigo 5°, inciso LVII, determina que "ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". Percebam que a nossa Bíblia
Política, diferente de alguns documentos internacionais 11 4, não presume, expressamente, o
cidadão inocente, mas impede considerá-lo culpado até a decisão condenatória definitiva.
Na verdade, o princípio insculpido na referida norma garantia é o da presunção de não culpa
(ou de não culpabilidade). Uma situação é a de presumir alguém inocente; outra, sensivelmente
distinta, é a de impedir a incidência dos efeitos da condenação (execução da pena) até o trânsito em
julgado da sentença, que é justamente o que a Constituição brasileira garante a todos.
Por outro lado, parece aceitável a decretação (excepcional) de uma prisão temporária ou
preventiva sobre alguém não presumido inocente, sobre o qual pairam indícios sufi cientes de
autoria, mas que ainda não pode ser considerado culpado.
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6 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL

1 – COMENTÁRIOS INICIAIS

- Ver tópicos do livro do Cleber Masson


7. LEI PENAL
7.1. Introdução
7.2. Classificação
7.3. Características da lei penal
7.4. Lei penal em branco

- INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL E USO DA ANALOGIA

Conceito: é a atividade que consiste em extrair da norma penal seu exato alcance e
real significado.
Natureza: Deve-se buscar a vontade da lei (mens legis), isto é, o seu sentido
normativo, e não de quem a fez (mens legislatoris), importando somente seus preceitos.
Verbo: Interpretar: “Interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo,
atitude ou gesto; reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o
sentido verdadeiro de uma expressão; extrair, de frase, sentença ou norma, tudo o que na
mesma se contém.”
A ciência que disciplina este estudo é a hermenêutica jurídica. A atividade prática
de interpretação da lei é chamada de exegese.
A interpretação sempre será necessária, ainda que a lei se mostre, inicialmente,
inteiramente clara, pois podem surgir dúvidas quanto ao seu efetivo alcance. O que ela
abrange de modo imediato eventualmente não é tudo quanto pode incidir no seu campo
de atuação.
A interpretação pode ser classificada levando-se em conta o sujeito responsável
pela sua realização, os meios de que se serve o intérprete e, por último, os resultados
obtidos.

1) QUANTO AO SUJEITO: AUTÊNTICA, JUDICIAL OU DOUTRINÁRIA:


a) Autêntica ou legislativa: é a realizada pelo próprio legislador ao editar a lei. É
chamada de interpretativa e tem natureza cogente , obrigatória, dela não podendo se
afastar o intérprete.
É o exemplo do artigo 327 do Código Penal que define quem pode ser considerado
funcionário público para fins penais.

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b) Doutrinária ou científica: é a interpretação exercida pelos doutrinadores, escritores e


articulistas, enfim, comentadores do texto legal. Não tem força obrigatória e vinculante,
em hipótese alguma.
A Exposição de Motivos do Código Penal deve ser encarada como interpretação
doutrinária, e não autêntica, por não fazer parte da estrutura da lei.
c) Judicial ou jurisprudencial: é interpretação executada pelos membros do Poder
Judiciário, na decisão dos litígios que lhes são submetidos.
Sua reiteração constitui a jurisprudência. Em regra, não tem força obrigatória, salvo em
dois casos: na situação concreta (em virtude da formação da coisa julgada material) e
quando constituir súmula vinculante (CF, art. 103-A, e Lei 11.417/2006).

2) QUANTO AOS MEIOS OU MÉTODOS EMPREGADOS:


a) gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das palavras
contidas na lei, os demais elementos que não visíveis na figura do texto legal. É o mais
precário dos métodos pela sua ausência de técnica cientifica.
b) Lógica ou teleológica: é aquela realizada com a finalidade de desvendar a genuína
vontade manifestada na lei, nos moldes do art. 5.º da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro.
O intérprete utiliza dos variados elementos à sua disposição, quais sejam ratio legis
(finalidade da norma, identificando qual bem jurídico que visa proteger como vida, honra,
etc.), históricos (evolução histórica da lei e o objeto nela tratado), sistemático (análise da
lei com em compasso com o sistema inserido), comparação de direitos (tratamento do
assunto em outros países) e, inclusive, elementos extrajurídicos, quando o significado de
determinados institutos se encontra fora do âmbito do Direito (exemplo: conceito de
veneno, relacionado à química).
Portanto, o real componente da interpretação lógica será conferir direitos ou
determinar proibições conforme a interpretação da lei.

3) QUANTO AO RESULTADO: DECLARATÓRIA, EXTENSIVA E RESTRITIVA:


a) Declaratória, declarativa ou estrita: ocorre quando o legislador disse exatamente o
que está escrito, ou seja, o operador do direito ao interpretar a norma obterá um sentido
idêntico ao pretendido pelo legislador, há uma equivalência entre as palavras da norma e
seu espírito, não permitindo qualquer extensão interpretativa, ou seja, nada há de ser
retirado ou acrescentado.

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Como por exemplo o artigo 141, III, do Código Penal diz que nos crimes contra a
honra (calúnia, difamação e injúria) as penas são aumentadas de um terço se o fato é
cometido "na presença de várias pessoas", porém não diz quantas são. Segundo a
interpretação doutrinária deve pelo menos a presença de três pessoas, fora o ofendido, o
ofensor e eventual coparticipe.
b) Extensiva: há a necessidade da ampliação do alcance da lei pois a sua letra ficou
aquém da sua vontade, ela disse menos do que desejava. É possível sua utilização
mesmo com as leis incriminadoras.
Exemplo disso é o artigo 159 do Código Penal, legalmente definido como extorsão
mediante sequestro*, que também abrange a extorsão mediante cárcere privado.
c) Restritiva: consiste na diminuição do alcance da lei, concluindo-se que a letra da lei
disse mais do que desejava.
Portanto, quando a lei disser mais do que deveria haverá uma diminuição e talvez
até uma não aplicação da mesma.
Como exemplo, pode-se citar o art. 28 do Código Penal que dispõe que a
embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos, não
excluiu a imputabilidade penal. Porém, a lei não atentou para o fato de que uma das
espécies de embriaguez (patológica) pode vir a excluir a imputabilidade penal, quando
interferir totalmente na capacidade do indivíduo.

4) INTERPRETAÇÃO PROGRESSIVA, ADAPTATIVA OU EVOLUTIVA:


É a que busca amoldar a lei à realidade atual. Evita a constante reforma legislativa
e se destina a acompanhar as mudanças da sociedade.
É o caso do conceito de ato obsceno (art. 233 do CP), diferente atualmente do que
era há algumas décadas ou mesmo a concepção de “doença mental” no artigo 26 do
Código Penal, em faces das novas descobertas da Psiquiatria.

5) INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA OU “INTRA LEGEM”:


É a que se verifica quando a lei contém em seu bojo uma fórmula casuística
seguida de uma fórmula genérica, aberta.
É necessária para possibilitar a aplicação da lei aos inúmeros e imprevisíveis casos
que as situações práticas podem apresentar.
Como por exemplo, o artigo 121, §2º, inciso I do Código Penal, que descreve a
forma qualificada do homicídio da seguinte forma:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
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Outro motivo torpe seria qualquer outro com a característica de repugnante da primeira
hipótese que é a paga ou promessa de recompensa. Exemplos de motivo torpe: homicídio
por preconceito sexual, por herança, disputa de terras etc.

ANALOGIA

Conceito: Analogia significa proporção. Não se trata de interpretação da lei penal.


De fato, sequer há lei a ser interpretada.
Cuida-se, portanto, de integração do ordenamento jurídico.
A analogia é aplicada ao direito quando surge uma situação ainda não prevista
juridicamente, provavelmente por ser uma situação esporádica, rara ou até mesmo
improvável, mas que naquele momento ocorreu e consequentemente passou a precisar
de uma tutela jurídica.
A lei pode ter lacunas, mas não o ordenamento jurídico.
Dessa forma, a analogia também é conhecida como integração analógica ou
suplemento analógico, ao se deparar com um caso que não possui previsão legal, o juiz
atuará de forma a adaptar uma norma já existente, referente a um caso semelhante, à
nova realidade que surge, sem esperar que haja a necessidade de se esperar uma nova
regulamentação para o fato.
Seu fundamento repousa na exigência de igual tratamento aos casos semelhantes.
Por razões de justiça, fatos similares devem ser tratados da mesma maneira.
Distinção entre analogia e interpretação analógica: A interpretação analógica por
muitas vezes é confundida com o método da analogia, que busca o preenchimento de
lacunas legais para dar resposta aos casos concretos não previstos em lei. Contudo, a
interpretação analógica possui um campo de aplicação diferente, buscando o sentido da
norma jurídica, valendo-se de elementos fornecidos pela própria lei através do método da
semelhança. Enquanto na analogia há uma criação de uma nova hipótese legal, a fim de
dar solução ao caso concreto e não deixar o ordenamento jurídico com lacunas.

ESPÉCIES DE ANALOGIA:
a) Analogia in malam partem: é aquela pela qual se aplica ao caso omisso uma lei
maléfica ao réu, disciplinadora de caso semelhante.
Não é admitida, como já dito, em homenagem ao princípio da reserva legal.

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41

Um exemplo seria aplicar a punição da calúnia aos mortos, que é prevista no CP,
no art. 138, §2º, para os casos de difamação e injúria aos mortos que nem é disciplinada
no CP. Não é possível porque já vimos que somente a lei penal pode criar crimes.

b) Analogia in bonam partem: é aquela pela qual se aplica ao caso omisso uma lei
favorável ao réu, reguladora de caso semelhante.
É possível no Direito Penal, exceto no que diz respeito às leis excepcionais, que
não admitem analogia, justamente por seu caráter extraordinário.
O exemplo clássico da doutrina é o estupro de vulnerável (art. 217-A, Código
Penal), que resulta na gravidez da jovem.
A lei nesse caso admite a manobra abortiva, mas o legislador impôs requisitos,
quais sejam: que a gravidez RESULTE DE ESTUPRO (ART. 213 DO CP), que haja
consentimento da gestante e seja realizado por médico (artigo 128, inciso II, Código
Penal).
Como o estupro de vulnerável foi criado em 2009 fica a pergunta: é possível o
aborto legal previsto no art. 128, II do CP, já que tal dispositivo fala apenas em gravidez
resultante de estupro com base no art. 213 do CP?
A resposta é afirmativa. Utilizando a analogia in bonam partem a menor de 14 anos
poderá utilizar o aborto legal para interromper a gravidez.

2 – LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

A) NO TEMPO

- Já vimos que a lei penal:

a) Tem eficácia no momento que ela entra em vigor;

b) Irretroatividade da lei penal mais grave;

c) Retroatividade da lei penal mais benéfica.

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- A ENTRADA EM VIGOR ou a REVOGAÇÃO de uma lei penal pode gerar conflitos


da lei penal no tempo

- Solução do conflito:

- SITUAÇÕES:

1ª - A LEI PENAL CRIA UMA NOVA FIGURA PENAL

Solução:?

2ª - A LEI PENAL POSTERIOR SE MOSTRA MAIS GRAVE QUE A ANTERIOR

Solução:?

3ª - ABOLITIO CRIMINIS E LEI POSTERIOR MAIS BENÉFICA

Conceito de abolitio criminis?

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43

Solução:?

Conceito de lei penal mais benéfica (novatio legis in mellius)

Solução:?

- Pode ocorrer a chamada ultratividade da lei mais benéfica.

- lei penal posterior e vacatio legis?

4ª - LEI PENAL TEMPORÁRIA E LEI PENAL EXCEPCIONAL

A) LEI PENAL TEMPORÁRIA:

É aquela que tem a sua vigência predeterminada no tempo – seu termo final é
previsto de forma explícita

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44

B) LEI PENAL EXCEPCIONAL:


A duração da lei está relacionada a situações de anormalidade.

Características:

B) TEMPO DO CRIME

- É necessária a identificação do momento em que se considera praticado o crime,


para que se entenda qual lei penal será aplicada.

Teorias que explicam:

Teoria adotada pelo CP:

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45

C) LEI PENAL NO ESPAÇO

- O CP limita a validade da lei penal com base em 2 aspectos:

a) TERRITORIALIDADE – ART. 5º

b) EXTRATERRITORIALIDADE – ART. 7º

ART. 5º CP – PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

- Regra

- Brasil: princípio da territorialidade temperada ou mitigada

- CONCEITO DE TERRITÓRIO?

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46

- Extensão: art. 5º, §§ 1º e 2º

LUGAR DO CRIME – ART. 6º CP

- Artigo que só tem importância aos chamados crimes à distância

ART. 7º CP – EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL

- É a aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos no exterior.

- Pode ser:

A) INCONDICIONADA,

B) CONDICIONADA.

1 – EXT. INCONDICIONADA

- Conceito?

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47

- Hipóteses:

ART. 7º, I, “a”, “b”, “c” e “d”

- Como o sujeito é punido?

ART. 7º, §1º do CP

Obs: ver art. 8º

2 – EXT. CONDICIONADA

- Hipóteses:
ART. 7º, II, “a”, “b”, “c”

- Condições para aplicação da lei penal brasileira:

ART. 7º, § 2º, “a”, “b”, “c”, “d” e “e”

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48

- No caso de crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, FORA DO BRASIL,


exigem-se outras 2 condições além das anteriores:

ART. 7º, §3º, “a” e “b”

Material de apoio – Leitura obrigatória

PRINCÍPIOS ADOTADOS PELO CP NA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO NO


CASO DE EXTRATERRITORIALIDADE

Existem princípios OCULTOS NO ART. 7º DO CP. Tais princípios receberam


denominações específicas pela doutrina penal.
Os princípios OCULTOS são:

1 – PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE (personalidade)

Conceito: A lei brasileira é aplicada a todos os brasileiros no extrangeiro.


Esse princípio é dividido em:
A) Princípio da nacionalidade ou personalidade ATIVA: aplica-se a lei do país a ce o
agente, pouco importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico
violado.
Previsão oculta: art. 7º, I, “d” (1ª parte – antes do ou) e art. 7, II, “b”

B) Princípio da nacionalidade ou personalidade PASSIVA: aplica-se a lei penal da


nacionalidade do ofendido.
Previsão oculta: art. 7º, §3º

2 – PRINCÍPIO DO DOMICÍLIO

Conceito: Tal princípio prevê que o autor do crime deve ser julgado de acordo com a lei
do país em que for domiciliado.
Previsão oculta: art. 7º, I, “d” (2ª parte – depois do ou)

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49

3 – PRINCÍPIO DA DEFESA, REAL

Conceito: Prevê que a lei penal brasileira será aplicada aos crimes praticados no
estrangeiro que OFENDAM BENS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS DO BRASIL.
Previsão oculta: art. 7º, I, “a”, “b” e “c”

4 – PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL

Conceito: o agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado, não importando a sua
nacionalidade, do bem jurídico lesado ou do local do crime. Esse princípio está
normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação de repressão.
Previsão oculta: art. 7º, II, “a”

5 – PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO, PAVILHÃO, BANDEIRA

Conceito: Prevê que a lei penal nacional aplica-se aos crimes cometidos em aeronaves e
embarcações privadas que estiverem no estrangeiro e aí não forem julgados. (por
exemplo: porque o navio zarpou antes das autoridades estrangeiras investigarem o fato
no pais)
Previsão oculta: art. 7º, II, “c”

PRINCÍPIO NÃO PREVISTO NO ART. 7º MAS RELACIONADO AO TEMA DA


APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TERRITÓRIO BRASILEIRO

PRINCÍPIO DA PASSAGEM INOCENTE

Conceito: Prevê a NÃO APLICAÇÃO DA LEI PENAL BRASILEIROS aos crimes


cometidos dentro de NAVIOS, AVIÕES ESTRANGEIROS, que estejam apenas de
passagem pelo território brasileiro, quando tais fatos não afetarem em nada os interesses
do país.

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D) DISPOSIÇÕES FINAIS: APLICAÇÃO DA LEI PENAL

- ART. 9º CP
- Eficácia da sentença estrangeira

- ART. 10 CP
- Contagem do prazo

- Prazo penal

- ART. 11 CP
- Frações não computáveis da pena

- ART. 12 CP
- Legislação Especial.

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C) CONFLITO APARENTE DE LEIS PENAIS

- Conceito de conflito?

- Solução:

1º - PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

2º - PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE

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3º - PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO

A) CRIME PROGRESSIVO;

B) PROGRESSÃO CRIMINOSA;

C) CRIME COMPLEXO

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D) FATOS IMPUNÍVEIS

- ANTERIORES;

- POSTERIORES;

4º - PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE

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7 – DO CRIME – ASPECTOS GERAIS

7.1 – CONCEITO DE CRIME

- 3 critérios:

1º - Critério MATERIAL / SUBSTANCIAL


- Crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou ofende um bem jurídico protegido
pela lei penal

2º - Critério LEGAL

- Art. 1º da Lei de Introdução ao CP

3 º - Crítério ANALÍTICO

- Leva em conta os elementos que formam a estrutura do crime.

- Muitos autores:

CRIME = FATO TÍPICO E ILÍCITO

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- Outros autores:
CRIME = FATO TÍPICO, ILÍCITO E CULPÁVEL

- Culpável: expressão que decorre da chamada CULPABILIDADE que significa que o


agente deve ter pleno conhecimento e entendimento que agiu de forma errada.

- É a possibilidade de se considerar alguém culpado (pena) pela prática de uma infração


penal. É um juízo de reprovação (ANÁLISE FEITA PELO JUIZ PARA SE VERIFICAR SE
O SUJEITO PODE RECEBER UMA PENA) exercido sobre o autor de um fato típico e
ilícito.

- Existem situações que excluem a culpabilidade. Ex: menoridade, doença mental etc.

O CP indica a teoria bipartida. Sendo que a culpabilidade é requisito para aplicação da


pena no Direito Penal brasileiro.

Para se afirmar que alguém cometeu um crime e receberá uma pena, o que será
necessário comprovar?

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7.2 – O TIPO PENAL

7.2.1 – CONCEITO DE TIPO PENAL

7.2.2 – ELEMENTOS:

1 – OBJETIVIDADE JURÍDICA

2 – SUJEITOS

a) ATIVO

b) PASSIVO

3 – ELEMENTO OBJETIVO

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3.1 – Objeto material

4 – ELEMENTO SUBJETIVO

5 – OUTROS QUE SERÃO MOSTRADOS EM MOMENTO ADEQUADO

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7.3 – CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

Material de apoio – Leitura obrigatória

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

1 – LEGAL
- é a qualificação, ou seja, o nome atribuído ao delito pela lei penal. Ex: art. 121 – no CP
está denominado de homicídio

2 – DOUTRINÁRIA
- é o nome dado pelos estudiosos do Direito Penal às infrações penais.
- É a classificação apresentada abaixo:

1 – CRIMES COMUNS, PRÓPRIOS E DE MÃO PRÓPRIA


- já explicada em sala de aula

- Crimes comuns ou gerais: são aqueles que podem ser praticados por qualquer
pessoa. O tipo penal não exige, em relação ao sujeito ativo, nenhuma condição especial.
Exemplos: homicídio, furto,

- Crimes próprios ou especiais: são aqueles em que o tipo penal exige uma situação
fática ou jurídica diferenciada por parte do sujeito ativo. Exemplos: peculato (só pode ser
praticado por funcionário público) e infanticídio.

- Crimes de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível: são aqueles


que somente podem ser praticados pela pessoa expressamente indicada no tipo penal. É
o caso do falso testemunho (CP, art. 342).

2 – CRIMES SIMPLES E COMPLEXOS

- Crime simples: é aquele que se amolda em um único tipo penal. É o caso do furto (CP,
art. 155).

- Crime complexo: é aquele que resulta da união de dois ou mais tipos penais. Ex:
latrocínio que surge da fusão do roubo + homicídio.

3 – CRIMES INSTANTÂNEOS, PERMANENTES E INSTANTÂNEOS DE EFEITOS


PERMANENTES

- Crimes instantâneos ou de estado: são aqueles cuja consumação se verifica em um


momento determinado, sem continuidade no tempo. É o caso do furto (CP, art. 155).

- Crimes permanentes: são aqueles cuja consumação se prolonga no tempo, por


vontade do agente. Ex: art. 148 e 159 do CP

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- Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são aqueles cujos efeitos subsistem


após a consumação, independentemente da vontade do agente. Ex: homicídio – a vítima
não retorna ao estado que se encontrava por vontade do agente.

- Crimes a prazo: são aqueles cuja consumação exige a fluência de determinado


período. É o caso da lesão corporal de natureza grave em decorrência da incapacidade
para as ocupações habituais por mais de 30 dias (CP, art. 129, § 1.º, I) e do art. 169,
parágrafo único II do CP.

4 – CRIMES UNISSUBJETIVOS OU DE CONCURSO EVENTUAL


- são praticados por um único agente. Admitem, entretanto, o concurso de pessoas. É o
caso do homicídio (CP, art. 121).

5 – CRIMES PLURISSUBJETIVOS OU DE CONCURSO NECESSÁRIO


- são aqueles em que o tipo penal reclama a pluralidade de agentes, que podem ser
coautores ou partícipes, imputáveis ou não, conhecidos ou desconhecidos, e inclusive
pessoas em relação às quais já foi extinta a punibilidade.
Subdividem-se em:

a) crimes bilaterais ou de encontro: o tipo penal exige dois agentes, cujas condutas
tendem a se encontrar. É o caso da bigamia (CP, art. 235);

b) crimes coletivos ou de convergência: o tipo penal reclama a existência de três ou


mais agentes. Podem ser:

b.1) de condutas contrapostas: os agentes devem atuar uns contra os outros. É o caso
da rixa (CP, art. 137);

b.2) de condutas paralelas: os agentes se auxiliam, mutuamente, com o objetivo de


produzirem o mesmo resultado. É o caso da associação criminosa (CP, art. 288).

6 – CRIMES DE SUBJETIVIDADE PASSIVA ÚNICA E DE DUPLA SUBJETIVIDADE


PASSIVA

- Crimes de subjetividade passiva única: são aqueles em que consta no tipo penal uma
única vítima. É o caso da lesão corporal (CP, art. 129).

- Crimes de dupla subjetividade passiva: são aqueles em que o tipo penal prevê a
existência de duas ou mais vítimas, tal como se dá no aborto sem o consentimento da
gestante, em que se ofendem a gestante e o feto (CP, art. 125), e na violação de
correspondência, na qual são vítimas o remetente e o destinatário (CP, art. 151).

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7 – CRIMES DE DANO OU DE LESÃO


- são aqueles cuja consumação somente se produz com a efetiva lesão do bem jurídico.
Como exemplos podem ser lembrados os crimes de homicídio (CP, art. 121), lesões
corporais (CP, art. 129) e dano (CP, art. 163).

8 – CRIMES DE PERIGO
- são aqueles que se consumam com a mera exposição do bem jurídico penalmente
tutelado a uma situação de perigo, ou seja, basta a probabilidade de dano. Subdividem-se
em:

a) crimes de perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência: consumam-se


com a prática da conduta, automaticamente. Não se exige a comprovação da produção
da situação de perigo. Ao contrário, há presunção absoluta (iuris et de iure) de que
determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos. É o caso do tráfico de drogas
(Lei 11.343/2006, art. 33, caput). Esses crimes estão em sintonia com a Constituição
Federal, mas devem ser instituídos pelo legislador com parcimônia, evitando-se a
desnecessária inflação legislativa;

b) crimes de perigo concreto: consumam-se com a efetiva comprovação, no caso


concreto, da ocorrência da situação de perigo. É o caso do crime de perigo para a vida ou
saúde de outrem (CP, art. 132);

c) crimes de perigo individual: atingem uma pessoa ou um número determinado de


pessoas, tal como no perigo de contágio venéreo (CP, art. 130);

d) crimes de perigo comum ou coletivo: atingem um número indeterminado de


pessoas, como no caso da explosão criminosa (CP, art. 251);

9 – CRIMES UNISSUBSISTENTE
- já explicado em sala de aula
- são aqueles cuja conduta se revela mediante um único ato de execução, capaz de por si
só produzir a consumação, tal como nos crimes contra a honra praticados com o emprego
da palavra. Não admitem a tentativa, pois a conduta não pode ser fracionada, e, uma vez
realizada, acarreta automaticamente na consumação.

10 – CRIMES PLURISSUBSISITENTES
- são aqueles cuja conduta se exterioriza por meio de dois ou mais atos, os quais devem
somar-se para produzir a consumação. É o caso do crime de homicídio praticado por
diversos golpes de faca. É possível a tentativa justamente em virtude da pluralidade de
atos executórios.

11 – CRIMES COMISSIVOS E OMISSIVOS


- já explicado em sala de aula

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- Crimes comissivos ou de ação: são os praticados mediante uma conduta positiva, um


fazer, tal como se dá no roubo (CP, art. 157). Nessa categoria se enquadra a ampla
maioria dos crimes.

- Crimes omissivos ou de omissão: são os cometidos por meio de uma conduta


negativa, de uma inação, de um não fazer. Subdividem-se em:

a) Crimes omissivos próprios ou puros: a omissão está contida no tipo penal, ou seja,
a descrição da conduta prevê a realização do crime por meio de uma conduta negativa.
Não há previsão legal do dever jurídico de agir, de forma que o crime pode ser praticado
por qualquer pessoa que se encontre na posição indicada pelo tipo penal. Nesses casos,
o omitente não responde pelo resultado naturalístico eventualmente produzido, mas
somente pela sua omissão. Ex: art. 135 do Código Penal:

b) Crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão: o tipo penal


aloja em sua descrição uma ação, uma conduta positiva, mas a omissão do agente, que
descumpre seu dever jurídico de agir, acarreta a produção do resultado naturalístico e a
sua consequente responsabilização penal.
As hipóteses de dever jurídico de agir8 foram previstas no art. 13, § 2.º, do Código Penal:
(a) dever legal; (b) posição de garantidor; e (c) ingerência.

13 – CRIMES DE FORMA LIVRE E DE CRIMES DE CONDUTA VINCULADA

- Crimes de forma livre: são aqueles que admitem qualquer meio de execução. É o caso
da ameaça (CP, art. 147), que pode ser cometida com emprego de gestos, palavras,
escritos, símbolos etc.

- Crimes de forma vinculada: são aqueles que apenas podem ser executados pelos
meios indicados no tipo penal. É o caso do crime de perigo de contágio venéreo (CP, art.
130), que somente admite a prática mediante relações sexuais ou atos libidinosos.

14 – CRIMES MONO OFENSIVOS E CRIMES PLURIOFENSIVOS

- Crimes mono-ofensivos: são aqueles que ofendem um único bem jurídico. É o caso do
furto (CP, art. 155), que viola o patrimônio.

- Crimes pluriofensivos: são aqueles que atingem dois ou mais bens jurídicos, tal como
no latrocínio (CP, art. 157, § 3.º, parte final), que afronta a vida e o patrimônio.

15 – CRIMES PRINCIPAIS E CRIMES ACESSÓRIOS

- Crimes principais: são os que possuem existência autônoma, isto é, independem da


prática de um crime anterior. É o caso do estupro (CP, art. 213).

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- Crimes acessórios, de fusão ou parasitários: dependem da prática de um crime


anterior, tal como na receptação (CP, art. 180),

16 – CRIMES TRANSEUNTES E CRIMES NÃO TRANSEUNTES


- Essa divisão se relaciona à necessidade ou não da elaboração de exame de corpo de
delito para atuar como prova da existência do crime.

- Crimes transeuntes ou de fato transitório: são aqueles que não deixam vestígios
materiais, como no caso dos crimes praticados verbalmente (ameaça, desacato, injúria,
calúnia, difamação etc.).

- Crimes não transeuntes ou de fato permanente: são aqueles que deixam vestígios
materiais, tais como o homicídio (CP, art. 121) e as lesões corporais (CP, art. 129).

17 - CRIMES À DISTÂNCIA, PLURILOCAIS E EM TRÂNSITO


- Referem-se com o local em que se produz o resultado.
- já explicado em sala de aula

- Crimes à distância: também conhecidos como “crimes de espaço máximo”, são


aqueles cuja conduta e resultado ocorrem em países diversos. Como analisado na parte
relativa ao lugar do crime, o art. 6.º do Código Penal acolheu a teoria mista ou da
ubiquidade.

- Crimes plurilocais: são aqueles cuja conduta e resultado se desenvolvem em


comarcas diversas, sediadas no mesmo país. No tocante às regras de competência, o art.
70 do Código de Processo Penal dispõe que, nesse caso, será competente para o
processo e julgamento do crime o juízo do local em que se operou a consumação. Há,
contudo, exceções.

- Crimes em trânsito: são aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre em um
país, sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele
vivem. Exemplo: “A”, da Argentina, envia para os Estados Unidos uma missiva com
ofensas a “B”, e essa carta passa pelo território brasileiro.

18 - CRIME GRATUITO
- É o praticado sem motivo conhecido, porque todo crime tem uma motivação.

19 - CRIME EXAURIDO
- já explicado em sala de aula
É aquele em que o agente, depois de já alcançada a consumação, insiste na agressão ao
bem jurídico. Não caracteriza novo crime, constituindo-se em desdobramento de uma
conduta perfeita e acabada.

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20 - CRIME MULTITUDINÁRIO
- É aquele praticado pela multidão em tumulto. A lei não diz o que se entende por
“multidão”, razão pela qual sua configuração deve ser examinada no caso concreto.
Exemplo: agressões praticadas em um estádio por torcedores de um time de futebol.

21 - CRIME VAGO
- É aquele em que figura como sujeito passivo uma entidade destituída de personalidade
jurídica, como a família ou a sociedade. Exemplo: tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art.
33, caput), no qual o sujeito passivo é a coletividade. Crimes contra os mortos etc.

22 - CRIME HABITUAL
- É o que somente se consuma com a prática reiterada e uniforme de vários atos que
revelam um criminoso estilo de vida do agente. Cada ato, isoladamente considerado, é
atípico.. Exemplos: exercício ilegal da medicina e curandeirismo (CP, arts. 282 e 284,
respectivamente).

23 - CRIME SUBSIDIÁRIO
- já explicado em sala de aula
-É o que somente se verifica se o fato não constitui crime mais grave. É o caso do dano
(CP, art. 163), subsidiário em relação ao crime de incêndio (CP, art. 250)

24 - CRIME PUTATIVO, IMAGINÁRIO OU ERRONEAMENTE SUPOSTO


- É aquele em que o agente acredita realmente ter praticado um crime, quando na
verdade cometeu um indiferente penal. Exemplo: “A” vende um pó branco, acreditando
tratar-se de cocaína. Na verdade, era talco.
- Trata-se de um “não crime”, que se divide em três espécies: a) crime putativo por erro de
tipo; b) crime putativo por erro de proibição, também conhecido como “delito de
alucinação”; e c) crime putativo por obra do agente provocador.

25 - CRIMES MATERIAIS, FORMAIS E DE MERA CONDUTA


- já explicado em sala de aula
- A divisão diz respeito à relação entre a conduta e o resultado naturalístico,
compreendido como a modificação do mundo exterior, provocada pela conduta do agente.
- Tem relevância com a exigência da ocorrência do resultado para a consumação do
crime.

- Crimes materiais ou causais: são aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior
uma conduta e um resultado naturalístico, sendo a ocorrência deste último necessária
para a consumação. É o caso do homicídio (CP, art. 121).

- Crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado: são aqueles


nos quais o tipo penal contém em seu bojo uma conduta e um resultado naturalístico, mas
este último é desnecessário para a consumação. Em síntese, malgrado possa se produzir
o resultado naturalístico, o crime estará consumado com a mera prática da conduta.
Exemplos:
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a) Na extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), basta a privação da liberdade da vítima
com o escopo de obter futura vantagem patrimonial indevida como condição ou preço do
resgate. Ainda que a vantagem não seja obtida pelo agente, o crime estará consumado
com a realização da conduta.
b) No caso da ameaça (CP, art. 147), a vítima pode até sentir-se amedrontada com a
promessa de mal injusto e grave, mas isso não é necessário para a consumação do
crime.

- Crimes de mera conduta ou de simples atividade: são aqueles em que o tipo penal
se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, razão pela
qual ele jamais poderá ser verificado. É o caso do ato obsceno (CP, art. 233).

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