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FACULDADE ANHANGUERA

PABLO PASCOAL DAVIDOVICH – 401823942148

CLAUDIO HELENO DOS SANTOS LACERDA JUNIOR – 402425842148

JOÃO VITOR OLIVEIRA DE ANDRADE – 402210242148

ESCOLAS PENAIS / PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PENAL

SÃO JOÃO DE MERITI

2023.
ÍNDICES

1. As Escolas Penais (Pablo Pascoal Davidovich)


1.1 Escola clássica
1.2 Escola positiva
1.3 Escolas ecléticas ou intermediárias
1.4 Escolas técnico-jurídica
1.5 Escola da nova defesa social
2. Princípios Fundamentais do Direito Penal
2.1 Princípio da Legalidade
2.1.2 Funções decorrentes da legalidade ou reserva legal (Claudio Junior)
2.2 Princípio da Intervenção mínima
2.2.1 Princípio decorrentes da intervenção mínima
2.2.2 Princípio da Fragmentariedade
2.2.3 Princípio da Subsidiariedade
2.3 Princípio da humanidade ou da dignidade da pessoa humana
2.3.1 Pena de morte
2.3.2 Tortura, penas cruéis e castigos corporais
2.4 Princípio da Culpabilidade (Vitor)
2.4.1 Dolo
2.4.2 Culpa
2.5 Princípio da Pessoalidade ou princípio da intranscendência da Pena
2.5.1 Princípio da individualização da pena
2.6 Princípio da Lesividade ou da Ofensividade
2.7 Princípio da insignificância
2.7.1 Critérios determinantes do princípio da insignificância
2.8 Princípio da adequação social da conduta
1. As escolas penais

As várias tendências filosóficas e jurídicas em problemas criminais que surgem na


atualidade são conhecidas por “escolas penais.”

Sendo assim, podemos dizer que a escola penal é uma estrutura que possui uma doutrina, algo de
forma consistente sobre questões relacionadas aos fenômenos criminais, especialmente as bases e
os alvos do sistema penal.

Eles se formam e se distinguem, abordando questões relacionadas com fenómenos criminais e os


fundamentos e objetivos dos sistemas criminais.

Case

Sobre o autor

Juiz Federal, Professor-Doutor de Direito Penal

Artigo

Escolas Penais

Importância do Tema

São chamadas “escolas penais” as diversas correntes filosófico-jurídicas em matéria penal que
surgiram nos tempos modernos.

Desta forma, pode-se dizer que as escolas penais são corpos de doutrinas mais ou
menos coerentes sobre os problemas em relação com o fenômeno do crime e, em particular, sobre
os fundamentos e objetos do sistema penal.

Elas se formaram e se distinguiram umas das outras. Lidam com problemas que
abordam o fenômeno do crime e os fundamentos e objetivos do sistema penal.

Escola Clássica

Também chamada de Idealista, Filosófico-jurídica ou Crítico Forense, essa escola


nasceu sob os ideais iluministas.

Para a Escola Clássica a pena é um mal imposto ao indivíduo merecedor de um castigo


por motivo de uma falta considerado crime, cometida voluntária e conscientemente.

A finalidade da pena é o restabelecimento da ordem externa na sociedade.

Esta doutrina possui princípios básicos e comuns, de linha filosófica, de cunho


humanitário e liberal (defende os direitos individuais e o principio da reserva legal, sendo contra o
absolutismo, a tortura e o processo inquisitório). Foi uma escola importantíssima para a evolução do
Direito Penal na medida em que defendeu o individuo contra o arbítrio do Estado.

A Escola Clássica dividiu-se em dois grandes períodos:

1) Filosófico ou teórico: no qual a figura de maior destaque foi Beccaria (“Dos delitos e das penas”).
Ele desenvolveu sua tese com base na idéias de Rousseau e de Montesquieu, construindo um
sistema baseado na legalidade, onde o Estado deveria punir os delinqüentes mas tinha de se
submeter às limitações da lei. Para Beccaria, o pacto social define que o individuo se comprometa a
viver conforme as leis estipuladas pela sociedade e deverá ser punido pelo Estado quando
transgredi-las, para que a ordem social seja restabelecida.

2) Jurídico ou prático: em que o grande nome foi Franchesco Carrara, sumo mestre de Pisa (Itália).
Ele estudou o crime em si mesmo, sem se preocupar com a figura do criminoso. Defendia que o
crime era uma infração da lei do Estado (promulgada para proteger os cidadãos). Para Carrara, o
agente é impelido por duas forças: a) a física, movimento corpóreo que produzirá o resultado, e b) a
moral, a vontade consciente e livre de praticar um delito. Para Carrara, a pena é um conteúdo
necessário do direito. É o mal que a autoridade pública inflige a um culpado por causa de seu delito.
Em uma de suas famosas passagens, Carrara leciona que a pena não é simples necessidade de
justiça que exija a expiação do mal moral (pois só Deus tem a medida e a potestade de exigir a
expiação devida); não é uma mera defesa que procura o interesse dos homens as expensas dos
demais; e nem é fruto de um sentimento dos homens, que procuram tranqüilizar seus ânimos frente
ao perigo de ofensas futuras. Segundo suas palavras, a pena é uma resposta visando a conservação
da humanidade e a proteção de seus direitos, com observância às normas de Justiça.

A pena é, pois, meio de tutela jurídica. Desta forma, se o crime é uma violação do direito, a defesa
contra este crime deverá se encontrar no seu próprio seio. A pena não pode ser arbitrária,
desproporcional; deverá ser do tamanho exato do dano sofrido. Deve ser também retributiva, porém
a figura do delinqüente não é importante. Este é talvez um dos pontos fracos desta escola.

Outros representantes do classicismo italiano são:


1) Filangieri (1752/1788): jusnaturalista que via o direito de punir como uma necessidade política do
Estado para se preservar a ordem. Autor do livro Scienza della legis lazione.

2) Carmignani (1768/1847): autor dos livros Juris criminalis elementa e Teoria delle leggi della
sicurezza sociale.

3) Gian Romagnosi (1761-1835): foi um dos maiores pensadores italianos. Considerava a pena como
uma arma de defesa social. Autor do livro Scienza delle costituzioni, Che cosa é l´eguaglianza?.

4) Pellegrino Rossi (1768-1847): com base numa justiça moral deu ênfase ao jusnaturalismo. Autor
dos livros Trouté du droit penal e Cours d´économie politique.

No classicismo alemão temos a figura de Paulo Anselm Ritter Von Feuerbach (1775-1833), que se
dedicou a filosofia e não aceitava a pena como um imperativo categórico, limitada pelo talião. A pena
deveria ser preventiva a fim de deter o delinqüente em potencial, antes dele iniciar o iter criminis.

Feuerbach defendeu o princípio da legalidade sendo dele a fórmula nullum crimen sine lege, nulla
poena sine lege (não há crime e não há pena se não houver expressa previsão em lei).

Com a promulgação do Código Penal da Alemanha de 1871 surgiu através de Karl Binding uma
visão que considerava a pena como uma retribuição e satisfação, um direito e dever do Estado.

Dessa forma, as principais caracterísitcas da Escola Clássica são as seguintes:

1. Considera que o crime é um ente jurídico, ou seja, é a infração do direito;

2. Reconhece o “livre arbítrio”, ou seja, que o homem nasce livre e pode tomar qualquer caminho
(escolhendo pelo caminho do crime, responderá pela sua opção);
3. Considera que a pena é uma retribuição ao crime (pena retributiva); e

4. Aplica o método dedutivo, uma vez que o Direito é ciência (jurídica).

Escola Positivista

Esta nova corrente filosófica teve como precursor Augusto Comte, que representou a ascensão da
burguesia emergente após a Revolução de 1789. Foi a fase em que as ciências fundamentais
adquiriram posição de maior relevo, como a biologia e a sociologia. O crime começou a ser
examinado sob o ângulo sociológico, e o criminoso passou também a ser estudado, se tornando o
centro das investigações biopsicológicas.

Este movimento foi iniciado pelo médico Cesare Lombroso (1835-1909) com sua obra
L‟Uomo delinquent (1875). Na concepção deste médico existia a idéia de um criminoso nato, que
seria aquele que já nascia com esta predisposição orgânica. Era um ser atávico, uma regressão ao
homem primitivo.

Lombroso estudou o cadáver de diversos criminosos procurando encontrar elementos


que os distinguissem dos homens normais. Após anos de pesquisa declarou que os criminosos já
nasciam delinqüentes e que apresentam deformações e anomalias anatômicas. Ele listou uma série
de características que, segundo defendia, eram próprias de criminosos.

1) Aspectos físicos: assimetria craniada, orelhas de abano, zigomas salientes, arcada superior
predominante, face ampla e larga, cabelos abundantes, além de aspectos como a estatura, peso,
braçada, insensibilidade física, mancinismo e distúrbio dos sentidos.

2) Aspectos psicológicos: insensibilidade moral, impulsividade, vaidade, preguiça e imprevidência.

Contudo esta concepção ainda não explicava a etiologia do delito, então Lombroso
tentou achar a causa desta degeneração na epilepsia. As idéias deste médico não se sustentaram:
eram inconsistentes perante qualquer análise científica.
Outra corrente dessa linha foi a chamada Sociologia Criminal. Sua fundação é atribuída
a Enrico Ferri (1856-1929), um brilhante advogado criminalista. Nesta nova concepção o crime era
determinado por fatores antropológicos, físicos e sociais. Ficou bastante conhecida uma proposta de
classificação dos criminosos em:

1) Natos: são aqueles indivíduos com atrofia do senso moral;

2) Loucos: também se incluíam os matóides, que são aqueles indivíduos que estão na linha entre a
sanidade e a insanidade (atualmente a psicologia utiliza o termo “border line” para classificar esse
tipo de disfunção);

3) Habitual: é aquele indivíduo que sofreu a influência de aspectos externos, de um meio social
inadequado, e com isso acabou corrompido.

4) Ocasional: é aquele ser fraco de espírito, sem nenhuma firmeza de caráter.

5) Passional (sob o efeito da paixão): ser de bom caráter mas de temperamento nervoso e com
sensibilidade exagerada. Normalmente o crime acontece na juventude, vindo o indivíduo a confessar
e arrepender-se depois. Freqüentemente ocorrem suicídios.

Outro expoente foi Rafael Garafalo (1851-1934). Em sua obra Criminologia (1891)
insiste que o crime está no indivíduo, pois é um ser temível, um degenerado. O delinqüente é um ser
anormal portador de anomalia de sentido moral.

O termo temiblididade gerou alguns conceitos utilizados nos estatutos penais, como a
periculosidade.

Garafalo defendeu a pena capital.


Verifica-se então que esta escola nega o livre-arbítrio, abomina a idéia da Escola
Clássica que afirmava que o crime era o resultado da vontade livre do homem. Defende que a
responsabilidade criminal é social por fatores endógenos e a pena não poderia ser retributiva, uma
vez que o indivíduo age sem liberdade, o que leva ao desaparecimento da culpa voluntária.
Propõem-se então a medida de segurança, uma sanção criminal que defende o grupo e ao mesmo
tempo recupera o delinqüente, e que viria em substituição à pena criminal. Esta medida deveria ser
indeterminada até a periculosidade de o indivíduo desaparecer por completo.

Podemos então dizer que as principais características da Escola Positivista são as


seguintes:

1. Considera que o crime é um fenômeno social e natural oriundo de causas biológicas físicas e
sociais;

2. Defende a responsabilidade social em decorrência do determinismo e da periculosidade;

3. Considera que a pena tem como fim a defesa social e a tutela jurídica; e

4. Aplica o método indutivo.

Escola Técnico-Jurídica

Esta escola inicia-se em 1905 e é uma reação à corrente positivista. Procura restaurar o
critério propriamente jurídico da ciência do Direito Penal.

O seu primeiro expoente é Arturo Rocco, com sua famosa aula magna na Universidade
de Sassari.

O maior objetivo é desenvolver a idéia que a ciência penal é autônoma, com objeto e
métodos próprios, ou seja, que ela é única, não se misturando com outras ciências (antropologia,
sociologia, filosofia, estatística, psicologia e política) numa verdadeira desorganização. Diz-se que o
Direito Penal continha de tudo, menos Direito. Rocco propõe uma reorganização onde o estudo do
Direito Criminal se restringiria apenas ao Direito Positivo vigente.

O Direito penal seria aquele expresso na lei, e o jurista deve-se ater apenas a ela. O
Direito Penal é o que está na lei. O seu estudo compõe-se de três partes:

1) Exegese: dá sentido as disposições do ordenamento jurídico;

2) Dogmática: investigação dos princípios que irão nortear o direito penal fixando assim os seus
elementos; e

3) Crítica: que irá orientar na consideração do direito vigente demonstrando assim o seu acerto ou a
sua conveniência de reforma.

Outros importantes expoentes dessa escola são: Manzini, Massari, Delitala, Cicala,
Vannini e Conti.

Podemos dizer que as principais características da Escola Técnico-Jurídica são as


seguintes:

1. Considera que o delito é pura relação jurídica, de conteúdo individual e social;

2. Defende que a pena constitui uma reação e uma conseqüência do crime (tutela jurídica), com
função preventiva geral e especial, aplicável aos imputáveis. Por outro lado, a medida de segurança
– preventiva – é aplicável aos inimputáveis;

3. Entende que a responsabilidade é moral (vontade livre);


4. Utiliza o método técnico-jurídico; e

5. Refuta o emprego da filosofia no campo penal.

Atenção: A Escola Clássica, de inspiração Iluminista, visa propiciar ao homem um


defesa contra o arbítrio do Estado. A Escola Positivista encara o crime sob a ótica sociológica e o
criminoso torna-se o alvo de investigações biopsicológicas com fundamentos que não resistem a
uma análise mais minuciosa e negam o livre-arbítrio, base da responsabilidade inalienável que cabe
ao homem por seus atos. A Escola Técnico-Jurídica iniciada em 1905 reage contra a positivista e
objetiva a restauração do critério propriamente jurídico do Direito Penal como ciência.

A observação dessa abordagem cronológica propicia o entendimento da evolução do


pensamento humano sobre o conceito e o significado de crime e sobre as penas que ao infrator
devem ser imputadas. A construção da ciência do Direito Penal foi um processo lento, cheio de
ensaios e erros, que passou por todas as gradações do profundo desrespeito à pessoa até à
moderna proposta da valorização dos direitos humanos. Graças ao árduo trabalho de juristas
competentes, cuja visão muitas vezes foi deturpada pelo chamado “espírito da época”, mas cujo
intento sempre foi melhorar a vida dos homens, foram sendo elaborados os parâmetros do
legalmente certo e errado e das punições permitidas ao Estado. É pertinente ressaltar que nenhum
Estado pode se sobrepor à justiça e que todos os atos de genocídios e expurgos são imorais, mesmo
quando previstos por leis ditatoriais como ocorreu no nazismo e no fascismo.

1.1. Escola Clássica

Defendia que a punição deve ser proporcional ao delito cometido. A pena aplicada deve ter
concordância com a gravidade do delito e não com as características pessoais de quem comete o
delito.

Para a escola clássica, a pena é um mal imposto ao indivíduo que merece o castigo por motivo de
uma má atitude considerada crime, cometida voluntária e conscientemente. A finalidade da pena é
restabelecer a ordem externa na sociedade.

1.2. Escola positiva

Teve como precursor August Conter, representando a ascensão burguesa após a Revolução
de 1789.

Foi a fase na qual as ciências básicas como a biologia e a sociologia passaram a ter
destaque. O crime passou a
ser estudado sob uma perspectiva sociológica, e os criminosos também passaram a
ser estudados, tornando-se o centro da investigação biopsicológica.

Podemos dizer que, sobre a escola positivista, suas características são : Considerar o crime
como um fenômeno social e natural em acordo com características físicas e sociais do indivíduo;
defender a responsabilidade social por decorrência do determinismo e da periculosidade; considerar
que a pena tem como finalidade principal a defesa social; e utiliza a indução como método.

Localizado em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/escolas-penais/333110363

1.2. Escolas ecléticas ou intermediárias

Nascida da junção entre as escolas clássica e positiva, também é conhecida como terceira
escola ou escola crítica. Essa escola foi criada com o intuito de superar o extremismo. A criação
desta escola foi orientada por novas ideias, porém, que evitaram se desconectar completamente das
escolas anteriores.

1.3. Escola técnico-jurídica

Tendo início no ano de 1905, é uma reação contrária a escola positiva com a intenção de
restaurar o critério propriamente jurídico do direito penal como ciência.

Seu estudo compõe-se em três partes: exegese, dogmática e crítica.

1.4. Escola da nova defesa social

Surgiu no início do século XX como uma reação anticlássica por influência da escola positiva,
trazendo como escopo principal a preocupação com a proteção da sociedade e o enrijecimento das
penas. Enfoca em uma política penal pela garantia do respeito aos direitos humanos. Foi uma forte
reação humanizada contra o nazismo e o fascismo, devido aos abusos cometidos por estes regimes
totalitários.

2. Princípios Fundamentais do Direito Penal

Os princípios fundamentais do Direito Penal compõem a base do estudo e são utilizados


como amparo e sustentação para a construção legal do exercício e elaboração de novas normas.
São estes: Princípio da legalidade, princípio da intervenção mínima, princípio da humanidade ou da
dignidade humana, princípio da culpabilidade, princípio da pessoalidade ou princípio da
intranscendência da pena, princípio da lesividade ou da ofensividade, princípio da insignificância,
princípio da adequação social da conduta.

2.1. Princípio da legalidade


Este princípio impõe que uma ação ou omissão só poderá ser considerada crime, se houver
uma lei definindo aquela conduta como crime antes dela ser praticada. Prevista no inciso II, do art.
5°da Constituição Federal de 1988, determina que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”, e também presente no art. 1º do código penal - Não há crime
sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.

Este princípio também é um meio para limitar o direito penal para atuar apenas conforme a
lei, adjunto com as normas positivadas. Por conseguinte, deste entendimento, está o princípio da
anterioridade da lei. A lei penal só pode retroagir em benefício do réu, caso contrário, não será
aplicada a fatos anteriores.

Jurisprudência

1ª Ementa
Des(a). ELIZABETE ALVES DE AGUIAR - Julgamento: 13/09/2023 - OITAVA CÂMARA CRIMINAL

HABEAS CORPUS. ARTIGOS 33, CAPUT, E 35, AMBOS DA LEI Nº 11.343/2006 E


ARTIGO 244-B, DA LEI Nº 8.069/1990, NA FORMA DO ARTIGO 69, DO CÓD.
PENAL. PLEITO DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA SOB A ALEGAÇÃO
DE HAVER CONSTRANGIMENTO ILEGAL, ARGUMENTANDO-SE: 1)
INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS ENSEJADORES DA DECRETAÇÃO DA
PRISÃO PREVENTIVA; 2) AFRONTA AO DISPOSTO NO ARTIGO 316,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, DIANTE DA NÃO
REAVALIAÇÃO DA CUSTÓDIA ERGASTULAR, ADUZINDO A AUSÊNCIA DE
CONTEMPORANEIDADE DA PRISÃO; 3) QUE A DECISÃO DE DECRETAÇÃO
DA CONSTRIÇÃO PREVENTIVA CARECERIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA E;
4) QUE O PACIENTE APRESENTA CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS,
MOTIVOS PELOS QUAIS PODERIA RESPONDER A AÇÃO PENAL EM
LIBERDADE. WRIT CONHECIDO. ORDEM DENEGADA. Ação constitucional de
habeas corpus, impetrada em favor do paciente Alex Oliveira dos Santos, preso no
Estado da Bahia, somente em 20.07.2023 (eis que foragido), o qual foi denunciado
em 12.07.2019, pela prática, em tese, dos crimes capitulados nos artigos 33, caput, e
35, ambos da Lei nº 11.343/06 e artigo 244-B, da Lei nº 8.069/1990, na forma do
artigo 69, do Código Penal, figurando também como acusados os corréus, Fernando
Silva Santos e Daniel Rodrigues Duarte, tendo este sido detido em flagrante delito,
cabendo esclarecer que a ação delituosa ocorreu em 30.06.2019. De acordo com as
informações prestadas pela autoridade apontada coatora, por decisão proferida em
19.07.2019 foi a exordial acusatória recepcionada e decretada a constrição
preventiva do paciente Alex e do corréu Fernando. O corréu Daniel (preso em
flagrante) foi condenado por sentença prolatada em 28.02.2020 como incurso nas
sanções dos artigos 33, caput, e 35, ambos com a majorante do art. 40, inciso VI,
todos da Lei n° 11.343/2006 às penas de 09 (nove) anos e 04 (quatro) meses de
reclusão e pagamento de 1.399 (mil trezentos e noventa e nove) dias-multa, em
regime inicial fechado. Na ocasião foi determinado o desmembramento do feito em
relação ao paciente Alex e ao corréu Fernando, originando o processo nº 0350888-
28.2019.8.19.0001, decidindo-se, ainda, pela citação editalícia dos mesmos. Em
14.04.2021, foi proferida decisão suspendendo o processo e o curso do prazo
prescricional nos termos do artigo 366, do C.P.P. O corréu Fernando teve a prisão
efetuada em 19.03.2023 sendo, então, procedida a sua citação. O feito foi
novamente desmembrado em relação ao paciente Alex, que ainda se encontrava
foragido, sendo formado os autos nº 0351349-97.2019.8.19.0001. Ocorre que o
paciente nominado foi preso em 20.07.2023, no Estado da Bahia, após ter sido
reconhecido no sistema de reconhecimento facial, pela câmera da Praça Eliel
Martins, conforme comunicado no ofício da Delegacia Territorial de Nova Fátima/Ba.,
acostado aos autos em 21.07.2023. Informou a Magistrada a quo, que fora formulado
pedido de revogação da prisão preventiva do paciente, contudo, sem a juntada de
instrumento procuratório e tampouco a apresentação de resposta preliminar,
referenciando ainda, que houve a expedição de Carta Precatória para a citação do
paciente nominado. Assim, vê-se que, o paciente permaneceu foragido por 04
(quatro) anos, ou seja, no período compreendido entre 19.07.2019 e 20.07.2023.
Destarte, alega a impetrante, a desnecessidade da constrição cautelar do paciente,
uma vez que, aduz, ausente a devida contemporaneidade da prisão, acrescentando
não haver quaisquer elementos indicativos de que a liberdade do paciente colocaria
em risco a instrução do processo. Visto isto, no que tange especificamente ao pleito
de revogação da prisão preventiva do paciente, sob as alegações de ausência dos
requisitos ensejadores da respectiva custódia ergastular, e de falta de
fundamentação idônea na decretação da mesma, cabe dizer que, ao reverso, vê-se
da análise dos documentos, que instruem a presente ação constitucional os
pressupostos indicados no artigo 312, do C.P.P., com fins de justificar a decretação e
mantença da constrição cautelar. Com efeito, na hipótese, observa-se que, a decisão
que decretou a prisão preventiva do ora paciente, expressamente ressaltou as
circunstâncias em que o suposto delito teria sido praticado, com os indícios de
autoria delitiva contra o mesmo, o que torna a prisão cautelar necessária à garantia
da ordem pública e à conveniência da instrução criminal, estando, assim, o decisum,
embora conciso, devidamente fundamentado e em total consonância com a lei,
jurisprudência e doutrina pátrias, depreendendo-se que a Magistrada de base,
elencou os motivos concretos, de forma justificada, em consonância com a norma do
artigo 93, IX da C.R.F.B/1988, ressaltando a presença, in casu, do fumus comissi
delicti e periculum libertatis, bem como a imprescindibilidade da referida cautela
ergastular, para a garantia da ordem pública, a conveniência da instrução criminal,
além do asseguramento de eventual aplicação da lei penal, aplicação da lei penal.
Cediço que, em matéria de decretação e mantença de custódia segregacional
provisória, vige o ¿princípio da confiança¿, nos Juízes próximos das provas e
pessoas, em causa, com melhor aferição sobre a necessidade ou não da mesma.
Precedentes do S.T.F.¬¬¬¬¬ Por outro lado, cabe lembrar, no que tange ao
embasamento da decisão que decretar a prisão provisória preventiva, exige o artigo
315 do C.P.P., que seja a mesma fundamentada, (¿A decisão que decretar, substituir
ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada¿), devendo, portanto, observar
o inciso IX do artigo 93 da C.R.F.B/1988. Ademais, inobstante isto, há que se
distinguir a ausência de fundamentação da decisão judicial que decreta/mantém a
cautela prisional, da fundamentação insuficiente/inadequada e da fundamentação
concisa. No que concerne à ausência de fundamentação, à fundamentação
insuficiente/inadequada da decisão decretatória da custódia preventiva, por certo,
aludido decreto será passível de anulação. Ao reverso, em se tratando de decisão
concisa/sucinta, porém fundamentada suficientemente em elementos concretos
evidenciados nos autos, estará atendida a norma do inciso IX do artigo 93, da
Constituição da República. Registre-se que, as jurisprudências do S.T.F. e do S.T.J.,
orientam-se no sentido de que a fundamentação exigida pela norma constitucional,
para a validade das decisões judiciais não precisa ser extensa, podendo ser
concisa\sucinta, bastando que exponha os motivos concretos necessários, para a
formação do convencimento do julgador. Precedentes dos Tribunais Superiores.
Assim, constata-se que, a Magistrada de base, como visto alhures, em conformidade
com a norma contida no artigo 93, inciso IX, da C.R.F.B/1988, fundamentou os
motivos concretos e singulares, pelos quais entendeu necessária a decretação e a
manutenção da custódia preventiva do paciente nomeado. Em relação a não
observância do prazo nonagesimal previsto no artigo 316, parágrafo único do C.P.P.,
para a reavaliação do decreto de prisão preventiva, impende consignar, a título
argumentativo, que tanto o Supremo Tribunal Federal (Informativo 995, de 12 a 16 de
outubro de 2020), como o Superior Tribunal de Justiça, orientaram-se na
interpretação da mens legis de aludida norma legal, de que o termo na mesma
previsto não é peremptório, nem tampouco importa em automática revogação ou
ilegalidade da custódia cautelar, devendo ser instado o Juiz a reapreciar
a legalidade e atualidade de seus fundamentos, observadas as peculiaridades do
caso concreto. Precedentes do S.T.F. e do S.T.J. Nesta conjuntura, ao contrário do
expendido pela impetrante, encontra-se evidenciada, in casu, a plena
contemporaneidade na constrição cautelar do paciente, eis que esta se faz
imprescindível não só com o intuito de impedir a reiteração de atos criminosos da
mesma estirpe, mas, sobretudo, para acautelar o meio social da ação delituosa em
questão, garantindo, outrossim, a credibilidade do Poder Judiciário, pelo afastamento
da sensação concreta de inação e impunidade. Portanto, a prisão preventiva mostra-
se necessária não só com o intuito de impedir a reiteração de atos criminosos da
mesma estirpe, mas, sobretudo, para acautelar o meio social da ação delituosa em
questão, garantindo, assim, a credibilidade do Poder Judiciário, pelo afastamento da
sensação concreta de inação e impunidade. Precedente do S.T.F. Assim, não há
dúvidas no sentido de que a constrição cautelar se faz necessária com vias à
conveniência da instrução criminal e, também, assegurar a possível aplicação da lei
penal, considerando-se que conforme já reportado, o paciente esteve por longo
tempo vivendo na condição de foragido da justiça, cabendo reafirmar-se que o
mesmo foi preso no Estado da Bahia, a indiciar que este, intencionalmente se evadiu
do distrito da culpa. Outrossim, vê-se que, o paciente encontra-se respondendo pela
prática, em tese, dos crimes previstos nos artigo 33, caput, e 35, ambos da Lei nº
11.343/2006, sendo o crime de tráfico de drogas equiparado a hediondo, aos quais
se cominam penas privativas de liberdade máximas, em abstrato, superiores a 04
(quatro) anos de reclusão, o que autoriza a decretação e mantença da custódia
cautelar, conforme preceitua o inciso I, do artigo 313, do Código de Processo Penal,
com a redação dada pela Lei nº 12.403/2011. Infere-se, pois, dos elementos dos
autos que, presentes estão os requisitos genéricos consubstanciados no binômio
necessidade-adequação, estabelecidos nos incisos I e II do artigo 282 do C.P.P.,
assim como alguns dos específicos elencados pelo artigo 312, do mesmo diploma
legal (qual seja, garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e
asseguramento de possível aplicação da lei penal), não se mostrando, diante do
contexto descortinado, recomendada a soltura do paciente, configurando-se
insuficientes e ineficazes à espécie, a imposição de medidas cautelares diversas da
prisão, previstas no artigo 319, do C.P.P. No tocante às alegadas condições pessoais
favoráveis ao paciente, tais não se apresentam em garantias extremes da concessão
de sua liberdade, haja vista que devem as mesmas ser sopesadas com os demais
elementos constantes dos autos, e na presente hipótese, tal não se mostra
recomendável, considerando a existência de indícios suficientes da existência do
crime e de sua autoria, cumprindo esclarecer que, conforme a orientação dos
Tribunais Superiores, a alegação, isolada, sobre a presença de algumas das
referidas condições benéficas não representa, de per si, salvo conduto necessário e
suficiente para a supressão da cautela restritiva, devendo a mesma ser analisada
junto ao contexto fático carreado à ação originária. Precedentes do S.T.F. e desta
Oitava Câmara. Dessarte reputam-se presentes, na hipótese dos autos, o fumus
comissi delicti e o periculum libertatis, sendo certo que, a mantença da custódia
preventiva se faz necessária no caso concreto, eis que observados os termos da
legislação vigente, evidenciando-se a imprescindibilidade da medida constritiva,
inexistindo, assim, qualquer ilegalidade no decisum vergastado, a ensejar ofensa
aos princípios da dignidade da pessoa humana e da presunção de não culpabilidade,
não se confundido a referida cautela prisional com antecipação de pena, consoante
pacífico entendimento de nossos Tribunais Superiores. Precedente.
CONHECIMENTO DO WRIT, COM DENEGAÇÃO DA ORDEM.

INTEIRO TEOR
Íntegra do Acórdão - Data de Julgamento: 13/09/2023 - Data de Publicação: 15/09/2023 (*)

http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=0004238A73F8513F398DCAD6C197F7139
600C51525165F2F

Caso Concreto
Ex-prefeito é condenado a devolver dinheiro após usar verba pública para autopromoção em
MT. Conforme o processo, o ex-prefeito feriu os princípios da impessoalidade, legalidade e
moralidade administrativa ao publicar material publicitário enaltecendo sua atuação.

O ex-prefeito de Cáceres, a 280 km de Cuiabá, Ricardo Henry, foi condenado a devolver R$


32 mil aos cofres públicos, além de ter os direitos políticos suspensos por três anos, por divulgar
material publicitário para autopromoção quando comandou o município, entre 2005 e 2008. O G1 não
conseguiu entrar em contato com a defesa de Ricardo Henry.

Conforme o processo, o ex-prefeito feriu os princípios da impessoalidade, legalidade e


moralidade administrativa ao publicar material publicitário enaltecendo sua atuação.

O desembargador e relator do caso, José Zuquim Nogueira, esclareceu que o representante


da administração pública precisa respeitar os princípios da impessoalidade e da moralidade, bem
como a norma contida no art. 37, § 1º, da Constituição Federal, que trata da promoção pessoal, por
ato voluntário, desvirtuando da finalidade estrita da propaganda pública.

De acordo com o processo, o ex-prefeito teve configurada a promoção pessoal ao publicar no


boletim informativo intitulado de „Cáceres Melhor‟ e na reportagem „A Força da Parceria‟. O Henry se
referiu as 30 obras em execução e ao final assinou a reportagem, ainda trouxe foto sua estampada
no boletim. “Estamos atualmente com mais de 30 obras em execução. Isso resultou em mais asfalto,
mais conservação de estradas, mais e melhores escolas”, dizia parte da publicação assinada pelo
ex-prefeito.

Por conta dessas informações, o magistrado ponderou que a propaganda governamental


deve obrigatoriamente harmonizar-se com o princípio da impessoalidade, ou seja, “jamais poderá ser
utilizada para a promoção pessoal do administrador. E não apenas isso: as ações deverão ter caráter
educativo, informativo ou de orientação social. Assim, a veiculação de publicidade institucional com
objetivo de promoção particular configura desvio de finalidade e desrespeito aos princípios da
legalidade, moralidade e impessoalidade. É possível observar que o conteúdo do informativo não se
presta a simples publicidade governamental; na verdade, noticiam sobre as atuações do requerido
como Prefeito, trazendo sua imagem e, ressaltando a sua identificação em vários tópicos noticiados.
De fato, a comunicação empreendida pelo apelante, em realidade, limita-se a exaltar a sua gestão
para sua promoção pessoal”, pontou Zuquim em seu voto.

https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2018/10/16/ex-prefeito-e-condenado-a-devolver-dinheiro-
apos-usar-verba-publica-para-autopromocao-em-mt.ghtml

2.1.2 - FUNÇÕES E PRINCÍPIOS DECORRENTES DA LEGALIDADE OU RESERVA LEGAL

São conceitos jurídicos que limitam o poder do Estado e garantem os direitos dos indivíduos.
De forma simplificada, podemos dizer que:

O princípio da legalidade significa que ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer
algo se não for em virtude de lei. A lei aqui é entendida em sentido amplo, incluindo todas as normas
jurídicas válidas.

O princípio da reserva legal significa que certas matérias só podem ser reguladas por lei
formal, ela é elaborada pelo Poder Legislativo. Exemplo: matéria penal, só a lei pode definir crimes e
penas.

Jurisprudência

1. Núm.:50034517820188210026 Inteiro teor: html Tipo de processo: Apelação Criminal


Tribunal: Tribunal de Justiça do RS Classe CNJ: Apelação Relator: Rosaura Marques Borba

Órgão Julgador: Segunda Câmara Criminal Comarca de Origem: SANTA CRUZ DO SUL Seção:
CRIME Assunto CNJ: Colaboração com Grupo, Organização ou Associação Destinado à Produção
ou Tráfico de Drogas.
Decisão: Acórdão

Ementa: APELAÇÃO. TRÁFICO DE DROGAS. RECURSO DEFENSIVO.


PRELIMINAR REFUTADA. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS.
DEPOIMENTO POLICIAL. MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO. APENAMENTO
REDIMENSIONADO. PRELIMINAR: Não assiste razão o réu ao aduzir ilegalidade
das provas produzidas a partir de prisão em flagrante operada pela polícia militar,
sem investigação prévia. Consolidada a jurisprudência do STJ no sentido de que a
tese de usurpação da competência da Polícia Civil pela Polícia Militar, no caso, não
encontra respaldo jurídico, pois, diversamente das funções de polícia judiciária –
exclusivas das polícias federal e civil –, as funções de polícia investigativa podem ser
realizadas pela Polícia Militar. MÉRITO: A prova contida no feito autoriza a
manutenção da condenação do réu por tráfico de drogas. A materialidade do delito
restou comprovada através da própria situação de flagrância, em que foram
apreendidos 14,75g de maconha, disposta em 07 (sete) porções; e 32,93g de
cocaína, disposta em 70 (setenta) buchas, além da quantia de R$ 1.262,00 em notas
diversas (auto de apreensão, Evento 3, PROCJUDIC1, pg.17), bem como na prova
oral colhida em juízo. No mesmo sentido, a autoria é certa apesar da negativa do
apelante. Segundo os depoimentos prestados unissonamente pelos policiais
militares, estes estavam em patrulhamentos ostensivo em região já conhecida por
eles como ponto de tráfico de drogas, abordaram o indivíduo Thales em razão deste
apresentar atitude suspeita, qual seja, tentativa de se evadir da guarnição assim que
a avistou. Thales restou abordado na porta da sua residência na qual também estava
o apelante JONATHAN, que também restou abordado ao passo que já era indivíduo
conhecido e que já teria sido preso anteriormente pela guarnição, sendo encontradas
as drogas ainda em busca pessoal aos flagrados. O e. STJ já consolidou o
entendimento no sentido de que os depoimentos dos agentes policiais, colhidos sob
o crivo do contraditório, merecem credibilidade como elementos de convicção,
máxime quando em harmonia com os elementos constantes dos autos. Outrossim,
refiro que o artigo 33 da Lei 11.343/06 possui diversos verbos nucleares, razão pela
qual o fato de a apelante “transportar” ou “guardar” a droga, já caracterizaria o delito
de tráfico, sendo desnecessário o flagrante do ato de mercancia para configuração
do ilícito. Quanto ao apenamento, na primeira fase da dosimetria, considerou a
magistrada sentenciante que a conduta social do acusado deveria ser sopesada
negativamente "diante dos efeitos nocivos à sociedade, decorrentes dos
entorpecentes, sendo que os delitos relacionados ao tráfico de drogas são
propulsores de criminalidade intensa e crescente", elevando a basilar em 6 meses
para além do mínimo legal. Contudo, em que pese a veracidade de seus argumentos
e a gravidade do crime, termos os quais me coaduno, referida fundamentação se
trata de repetição de circunstâncias inerentes ao tipo penal em questão, ou seja, já
sopesados pelo legislador no momento da definição da reprimenda aplicável ao
delito. Assim, em respeito ao princípio da vedação ao bis in idem, afasto a
negativação da conduta social do acusado e fixo a pena-base no mínimo legal, 5
anos de reclusão. Na terceira fase, no momento de selecionar a fração da
privilegiadora a ser aplicada, deve-se levar em conta todo os contexto fático do delito,
e, no caso em tela, o flagrante ocorreu em conhecido ponto de tráfico de drogas,
houve apreensão de quantidade relevante de cocaína, já fracionada para venda em
70 porções, sendo ainda uma droga de maior lesividade, sem descartar o fato de que
o codenunciado ainda transportava outra variedade de droga, maconha, também
fracionada para venda, tudo a denotar uma maior agressão ao bem jurídico tutelado.
Vai mantida a fração de 1/3 aplicada em razão da minorante do § 4º do art. 33 da Lei
11.343/06, mas que, em razão da readequação da pena-base para o mínimo legal
anteriormente operada, a pena definitiva do apelante vai corrigida para 3 anos e 4
meses de reclusão. Assim, considerado que a pena restritiva de liberdade do
acusado restou reduzida nos termos recém expostos, a sua pena de multa vai
reajustada para 340 dias-multa, na mesma fração anterior, a fim de guardar
proporcionalidade com o apenamento corporal. Apelante assistido pela Defensoria
Pública, presumível a sua hipossuficiência econômica, acolhido o pedido defensivo e
concedida a assistência judiciária gratuita e a isenção do pagamento das custas
processuais ao apelante. Houve prequestionamento da matéria. À UNANIMIDADE,
REFUTARAM A PRELIMINAR E, NO MÉRITO, DERAM PARCIAL PROVIMENTO
AO APELO DEFENSIVO.(Apelação Criminal, Nº 50034517820188210026, Segunda
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rosaura Marques Borba,
Julgado em: 26-06-2023)

Data de Julgamento: 26-06-2023Publicação: 03-07-2023

Caso Concreto

Três pessoas são presas por tráfico de drogas em operação realizada em Farroupilha e
Caxias

A investigação mira um grupo criminoso responsável por distribuir drogas na Serra Gaúcha

Três pessoas foram presas em uma ação contra o tráfico de drogas. A operação prendeu em
flagrante, duas mulheres em Farroupilha e um homem em Caxias do Sul, na manhã desta terça-feira,
19/09.

Conforme a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a


investigação mira um grupo criminoso responsável por distribuir drogas na Serra Gaúcha.

Além das prisões, foram cumpridos 12 mandados de busca, um carro e uma arma foram
apreendidos. Cerca de dez quilos de drogas foram apreendidos, entre cocaína, maconha e crack.

https://www.serranossa.com.br/tres-pessoas-sao-presas-por-trafico-de-drogas-em-operacao-
realizada-em-farroupilha-e-caxias/

2.2. - Princípio da intervenção mínima (ultima ratio)

É um princípio que orienta a utilização do direito penal como o último recurso para proteger
os bens jurídicos mais importantes da sociedade. Ele se ampara na ideia de que o direito penal deve
ser fragmentário, subsidiário e proporcional.

Jurisprudência

1. Núm.:50013527420228210098Inteiro teor: html Tipo de processo: Apelação Criminal Tribunal:


Tribunal de Justiça do RS Classe CNJ: Apelação Relator: Vanessa Gastal de Magalhaes

Órgão Julgador: Oitava Câmara Criminal Comarca de Origem: GAURAMA Seção: CRIME Assunto
CNJ: Extorsão

Decisão: Acórdão

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.


EXTORSÃO. PRELIMINAR. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA. A peça
acusatória só inepta, por ofensa ao art. 41 do CPP, quando os elementos nela
narrados inviabilizem por completo a ampla defesa e o contraditório, decorrência,
também, do consagrado princípio do prejuízo - pas de nullité sans grief (art. 563 do
CPP). No caso, a falta de menção à data exata em que ocorreu o crime narrado na
denúncia não ensejou sua inépcia, porque os demais elementos nela contidos
possibilitaram o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa pelo réu, tendo a
vítima, ouvida em juízo, precisado temporalmente o fato delituoso. Jurisprudência
desta Câmara, do STJ e do STF. MÉRITO. CONDENAÇÃO. MANUTENÇÃO. Prova
amplamente incriminatória, baseada na convincente palavra da vítima, que narrou
como o acusado, seu filho, dependente químico, o ameaçava de morte para que,
diariamente, lhe entregasse dinheiro para compra de drogas ilícitas. Grave ameaça
efetiva e apta a causar temor no ofendido, que, inclusive, requereu em juízo medidas
protetivas em face do filho, preso preventivamente pelo descumprimento reiterado. O
réu praticou comportamento que comprometeu não apenas o patrimônio, mas
também a integridade física e a liberdade de autodeterminação da vítima, como se
exige para a prática da extorsão, crime pluriofensivo, não se havendo falar em
atipicidade. Condenação mantida. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA.
INAPLICABILIDADE. De acordo com o preceito da intervenção mínima, a atuação
estatal no campo penal, dado seu caráter de ultima ratio, deve restringir-se às
condutas que envolvem bens jurídicos não suficientemente tutelados por outros
domínios do Direito. No caso, a intervenção penal está justificada e é necessária,
diante da gravidade da conduta praticada pelo réu, que, consoante descreveu a
vítima, é viciado em entorpecentes há 18 anos e já foi internado mais de 10 vezes,
sem sucesso no tratamento para o vício de que é acometido. Evidenciado que outros
ramos do direito não foram e não são suficientes para tutelar os bens jurídicos em
discussão. PENA. DOSIMETRIA. A dependência química do acusado e o fato de não
ter "ocupação relevante" não servem, por si sós, para exasperar a pena-base, a título
de conduta social, porque dizem com graves problemas de saúde pública,
desemprego e inserção no mercado de trabalho e com o próprio autocuidado do
autor do fato. A afirmação de personalidade "corrompida e violenta" é genérica e
desamparada de elementos concretos. Mantida a pena-base como fixada na
sentença, ante os maus antecedentes do acusado, que, além de duas condenações
definitivas caracterizadoras da reincidência, ostenta outras seis atingidas pelo
quinquênio depurador, situação que justifica o desprendimento da basilar do mínimo
legal. Tema 150 de Repercussão Geral. Em sede de recurso exclusivo da defesa, o
Tribunal não está adstrito aos fundamentos lançados pelo juízo singular, podendo
ponderar livremente os fatos e circunstâncias que circundam a acusação, desde que
observados os limites da imputação e que não seja agravada a situação final do
acusado, vale dizer, que não seja aumentada a pena - sob o viés quantitativo,
exclusivamente - ou imposto regime inicial de cumprimento mais rigoroso. Art. 617 do
CPP. Jurisprudência do STJ e do Quarto Grupo de Câmaras Criminais desta Corte.
SEMI-IMPUTABILIDADE. CAUSA DE DIMINUIÇÃO OBRIGATÓRIA. Adotado o
sistema biopsicológico, a causa de diminuição prevista no art. 46 da Lei nº 11.343/06
é de aplicação cogente, desde que comprovada a semi-imputabilidade do agente, em
razão da dependência de droga, por meio de perícia médica no competente
incidente. A discricionariedade do julgador está adstrita à eleição do índice de
diminuição (1/3 a 2/3), levando-se em conta a maior ou menor capacidade de
autodeterminação do condenado. No caso, instaurado incidente de insanidade
mental, os peritos concluíram que o réu é acometido da síndrome de dependência
(CID-10: F19.2) e, por isso, parcialmente capaz de entender o caráter ilícito da
conduta e de determinar-se conforme esse entendimento, não apontando, entretanto,
o grau de comprometimento. Aplicada a fração de diminuição de 1/3. Pena definitiva
redimensionada para 4 anos de reclusão. REGIME INICIAL. ALTERAÇÃO. Perante o
novo quantitativo punitivo, regime inicial alterado para o semiaberto, nos moldes do
art. 33, § 2º, alíneas "b" e "c", e § 3º, do Código Penal, haja vista a reincidência e os
maus antecedentes do acusado. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE. IMPOSSIBILIDADE. Obstada a substituição em face da previsão do
art. 44, incisos I, II e III, do CP (crime cometido com grave ameaça à pessoa,
reincidência e maus antecedentes do réu). Não há falar em bis in idem, porque, se
condenado uma primeira vez, o agente volta a praticar crime, sua situação fático-
jurídica não é a mesma daquele que não ostenta condenação ou antecedente
anteriores. O reincidente ou portador de maus antecedentes não se intimidou com a
autoridade estatal, razão pela qual tratá-lo como se primário fosse violaria os
princípios da individualização da pena e da proporcionalidade, sob o viés da
proibição de proteção deficiente. PENA DE MULTA. ISENÇÃO OU REDUÇÃO.
INVIABILIDADE. A sanção pecuniária tem previsão constitucional e está legalmente
cominada no preceito secundário da norma incriminadora, de aplicação cogente. A
precariedade de condições econômicas do condenado deve ser ventilada no juízo da
execução, para fins de eventual parcelamento. Segundo o método bifásico, a sanção
pecuniária deve guardar proporção com a análise das circunstâncias judicias do art.
59 do CP (1ª fase: fixação da quantidade de dias-multa) e com a situação econômica
do acusado (2ª fase: fixação do valor do dias-multa), o que foi observado no caso.
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. INDEFERIMENTO. O réu respondeu à
ação penal segregado, de modo que, esgotada a análise probatória, com a
confirmação da condenação por esta instância, e inalterado o fundamento da prisão -
garantia da execução das medidas protetivas de urgência -, revelar-se-ia
contraditória a concessão da liberdade ou a substituição da segregação por medidas
menos gravosas. Jurisprudência do STJ. Prisão mantida, com determinação de
expedição de ofício à VEC competente para eventual adequação do regime.
PRELIMINAR REJEITADA. NO MÉRITO, APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
RECONHECIDA E APLICADA A CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO ART. 46
DA LEI Nº 11.343/2006. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE IMPOSTA AO RÉU
REDIMENSIONADA. REGIME INICIAL ALTERADO. DETERMINADA A EXPEDIÇÃO
DE OFÍCIO À VEC COMPETENTE.(Apelação Criminal, Nº 50013527420228210098,
Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vanessa Gastal de
Magalhaes, Julgado em: 30-08-2023)

Data de Julgamento: 30-08-2023Publicação: 31-08-2023

Caso Concreto

Homens são presos suspeitos de extorsão e ameaça em Varginha, MG

De acordo com a Guarda Civil Municipal, comerciante informou ter sofrido tentativa de
assalto, além de ameaça por dois homens.

Dois homens foram presos por suspeita de extorsão e ameaça em Varginha (MG), nesta
segunda-feira (18). Conforme a Guarda Civil Municipal, um comerciante informou ter sido ameaçado
em tentativa de assalto na região central da cidade.

De acordo com a GCM, o comerciante relatou que há algum tempo os suspeitos estavam
extorquindo outros trabalhadores. O comerciante disse, ainda, que os suspeitos entraram no
estabelecimento comercial e exigiram a quantia de R$ 100 e roupas.

Com o pedido negado, o comerciante disse que os suspeitos começaram a ameaçar e


depois fugiram do local.

Os suspeitos foram localizados nas proximidades da praça Santa Cruz e levados ao pronto
atendimento do Hospital Bom Pastor para realização de exame de corpo e delito. Posteriormente,
eles foram conduzidos para a Delegacia da Polícia Civil.

https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2023/09/18/homens-sao-presos-suspeitos-de-extorsao-
e-ameaca-em-varginha-mg.ghtml

2.2.1 - Princípios decorrentes da intervenção mínima

É um princípio que conduz o uso do direito penal como o último recurso do Estado para
precaver ou penalizar condutas indesejadas. Esse princípio implica que o direito penal deve ser
fragmentário, subsidiário e proporcional.

Jurisprudência

1. Núm.:50043397020208210028Inteiro teor: htmlTipo de processo: Apelação CriminalTribunal:


Tribunal de Justiça do RSClasse CNJ: ApelaçãoRelator: Luiz Mello Guimarães

Órgão Julgador: Sétima Câmara CriminalComarca de Origem: SANTA ROSASeção: CRIMEAssunto


CNJ: Vias de fato

Decisão: Acórdão

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. VIAS DE FATO. SUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.


MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. PALAVRA DA VÍTIMA. Restou
devidamente demonstrada nos autos a prática das vias fatos, considerando que o
depoimento da vítima está em consonância com o registro de ocorrência por ela feito
na fase persecutória, bem como com o seu depoimento judicial e com o fato narrado
na denúncia. Em se tratando de fatos relativos à Lei Maria da Penha, a palavra da
ofendida – até por ser a principal interessada na responsabilização do seu ofensor –
assume especial relevância probatória, sendo suficiente, se coerente, para ensejar
condenação, a menos que haja algum indicativo de que possui interesses escusos
em eventual condenação do acusado, o que, no caso, não ocorreu. PRINCÍPIO DA
INTERVENÇÃO MÍNIMA DO DIREITO PENAL. INAPLICABILIDADE. A Lei Maria da
Penha surgiu da imprescindibilidade de se oferecer efetiva proteção às mulheres
vítimas de violência doméstica diante do crescimento e agravamento dos crimes de
gênero contra elas praticados, em especial na intimidade de seus lares. Portanto,
tendo a condenação um caráter não apenas retributivo, mas também preventivo, que
visa a coibir futuras e mais graves ações do agressor, a resposta estatal é justa e
necessária. Incidência da súmula nº 589 do STJ: "É inaplicável o princípio da
insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no
âmbito das relações domésticas". ATUAL ESTADO DE HARMONIA CONJUGAL.
IRRELEVÂNCIA. O fato de o casal ter retomado o relacionamento não impede a
condenação, uma vez que não é o relacionamento do casal que vai a julgamento,
mas sim um fato expressamente tipificado em lei, cuja responsabilização não
depende de eterna desarmonia conjugal. USO VOLUNTÁRIO DE ÁLCOOL NÃO
ISENTA A RESPONSABILIDADE PENAL. DOLO DEMONSTRADO. O uso de drogas
ou álcool não pode ser usado como subterfúgio para justificar atitudes ameaçadoras
e/ou agressivas por parte do réu. Ausência de prova da incapacidade mental a
isentar a pena. Dolo comprovado, sendo reprovável a conduta do réu. A embriaguez
voluntária ou drogadição voluntária não exime o réu de responsabilidade por sua
conduta, de modo que, não havendo mínima demonstração de que fosse ébrio
habitual e não tivesse, ao tempo do fato, consciência da ilicitude do seu ato ou
condições de comportar-se de acordo a tal entendimento, inviável o reconhecimento
da inimputabilidade, nem se cogita de redução de pena pela semi imputabilidade.
AGRESSÕES RECÍPROCAS. Ainda que tenha ocorrido prévia briga de casal, os
meios utilizados pelo réu não foram razoáveis e ocorreram de forma excessiva. Não
é razoável pensar que prévia briga de casal, seja pelo motivo que for, justifique
conduta agressiva e desproporcional por parte do réu, mormente quando se trata de
violência contra mulher, esta seguramente parte mais frágil da relação. Mantida a
condenação. PENA-BASE MANTIDA. Ao contrário do que consta nas razões
recursais, foram consideradas desfavoráveis duas vetoriais do art. 59 do CP (e não
apenas uma), justificando o aumento levado à efeito quanto à pena basilar.
AUMENTO DECORRENTE DA AGRAVANTE DO ART. 61, II, “f”, DO CP.
REDIMENSIONAMENTO. VENCIDO O RELATO NO PONTO. APELAÇÃO
DESPROVIDA. (Apelação Criminal, Nº 50043397020208210028, Sétima Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Mello Guimarães, Julgado em: 31-
08-2023)

Data de Julgamento: 31-08-2023Publicação: 31-08-2023

Caso Concreto

Vereador acusa colega de agressão em São João de Meriti

Apesar do recesso, o fim de semana pegou fogo na Câmara de São João de Meriti. As redes
sociais de quem acompanha a vida política do município na Baixada estavam em polvorosa com a
notícia de que, na sexta-feira (26), a Casa Legislativa mais parecia um octógono de MMA.

Em um vídeo e áudio divulgados para seus seguidores, o vereador Rony Ferraz (PHS) acusa
o colega Dudu Soares (PSD) de recebê-lo com xingamentos em uma reunião convocada pelo
presidente da Câmara, Davi Perini Vermelho, o Didê (DEM).

A coisa teria esquentado rapidinho, e, das palavras, o vereador destemperado logo partiu
para a ação: depois que outros colegas tentaram apartar a briga, Ferraz recebeu vários socos e saiu
de lá para direto para um posto de atendimento médico.

O vereador conta que só chegou em casa às 2h da madrugada, depois de passar por uma
delegacia, para registrar a ocorrência, e realizar o exame de corpo de delito.

Usando uma tipoia, o edil assegura que vai abrir um processo contra o colega na Comissão
de Ética, que ainda por cima, circularia armado pela Câmara: "Eu quero dizer que eu vou até a última
instância, porque o lugar desse vereador é na cadeia".
Em resposta, Dudu Soares foi às redes sociais no domingo (28), dizendo que vai responder
às acusações mostrando trabalho.

"Quanto mais tacarem pedras, mais eu vou lutar para catar o lixo dos nossos
bairros", diz ele, ao lado de seu advogado. Em nenhum momento ele cita o nome de
Ferraz, mas diz que vai processar uma internauta que compartilhou a história.

E, mantendo o mesmo tom de político que bota a mão na massa, hoje de manhã o edil fez
uma transmissão ao vivo, na qual aparece com duas brochas de pintor nas mãos: "Não vou atacar
ninguém, porque o homem tem que ter uma postura, e a minha é de trabalhar".

Resposta

Em resposta ao questionamento sobre o ocorrido, Dudu Soares concordou que houve uma
"divergência de ideias" que chegou "a ficar acalorada", porém se defende dizendo ser vítima de
denunciação caluniosa por parte de Rony Ferraz.

Leia abaixo parte do texto enviado à coluna:

"Hoje estou tomando as medidas cabíveis legais, com o objetivo de fazer com que o
vereador Rony Ferraz prove SUAS ACUSAÇÕES LEVIANAS. Estou fazendo um
Registro de Ocorrência na 64ª DP contra este vereador por me acusar de andar
armado e com "CAPANGAS", o que é um grande absurdo!!! Quem anda comigo
diariamente é o meu irmão policial militar, que é pastor evangélico e um assessor de
gabinete, que é presbítero da Assembleia de Deus, pessoas idôneas que se sentem
ameaçadas e caluniadas. Os mesmos estão entrando com uma representação
judicial contra estas acusações".

https://extra.globo.com/noticias/extra-extra/vereador-acusa-colega-de-agressao-em-sao-joao-de-
meriti-21407767.html

2.2.2 - Princípio da Fragmentariedade

É um dos princípios fundamentais do Direito Penal. Ele determina que o Direito Penal deve
se limitar a punir as ações mais graves contra os bens jurídicos mais importantes, isso quer dizer que
apenas ofensas realmente graves aos bens jurídicos protegidos podem ser objeto de intervenção
penal.

A fragmentariedade significa que uma vez que forem escolhidos aqueles bens fundamentais,
comprovada a fatalidade e a inadaptação das condutas que os ofendem, esses bens irão passar a
fazer parte de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal, dando origem a sua natureza
fragmentária.

Jurisprudência

4. Núm.:50004895120198210122Inteiro Tipo de processo: Apelação CriminalTribunal: Tribunal de


Justiça do RSClasse CNJ: ApelaçãoRelator: Manuel José Martinez Lucas

Órgão Julgador: Primeira Câmara CriminalComarca de Origem: SANTO ANTÔNIO DAS


MISSÕESSeção: CRIMEAssunto CNJ: Ameaça

Decisão: Acórdão

Ementa: APELAÇÃO CRIME. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AMEAÇA. ABSOLVIÇÃO


COM BASE NA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FRAGMENTARIEDADE E
SUBSIDIARIEDADE DO DIREITO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. LESÃO A BEM
JURÍDICO PENALMENTE TUTELADO. AFASTAMENTO DAS AGRAVANTES DO
ART. 61, INCISO I E II, ALÍNEA "F" DO CÓDIGO PENAL. IMPOSSIBILIDADE.
AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. CONSTITUCIONALIDADE AFERIDA PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INCISO
II, ALÍNEA "F" DO CÓDIGO PENAL. RITO MARIA DE PENHA. AUSÊNCIA DE BIS
IN IDEM. PRECEITOS COM FUNDAMENTOS DISTINTOS. Apelo
desprovido.(Apelação Criminal, Nº 50004895120198210122, Primeira Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Manuel José Martinez Lucas, Julgado
em: 11-05-2023)

Data de Julgamento: 11-05-2023Publicação: 15-05-2023

Caso Concreto

PARENTES MILITARES

Homem preso por violência doméstica ameaça e xinga policiais em VG

Homem de 32 anos foi preso na madrugada desta quarta-feira (13), por violência doméstica
no município de Várzea Grande (5 km ao norte de Cuiabá). Ele ameaçou matar a esposa. No
momento da prisão, resistiu e ainda proferiu novas ameaças aos policiais.

Equipe policial foi acionada via 190 pela vítima, de 25 anos, que relatou ter sido ameaçada
de morte pelo companheiro e que estava com medo de entrar com o filho menor em sua residência.

Ela ficou do lado de fora, esperando a viatura. Os policiais solicitaram que o suspeito saísse
da casa para que os fatos fossem esclarecidos. Porém, o homem ofereceu resistência.

Foi solicitado o apoio de outras viaturas, sendo necessário a imobilização do suspeito, que foi
algemado em sequência. O homem não queria ser conduzido à delegacia, alegando ser filho de uma
militar e proferia ameaças contra os policiais.

“Vocês vão pagar pelo que estão fazendo comigo”, dizia o suspeito. Segundo
informações, vítima convive com suspeito há 7 anos e vinha sofrendo agressões
verbais, que se intensificaram na quarta-feira quando o homem ameaçou matá-la.

Durante o registro do boletim de ocorrências, suspeito proferiu palavras de baixo calão aos
envolvidos em outras ocorrências. Posteriormente, o homem foi encaminhado à Central de
Flagrantes sob a acusação de lesão corporal.

https://www.gazetadigital.com.br/editorias/policia/homem-preso-por-violncia-domstica-ameaa-e-xinga-
policiais-em-vg/747214

2.2.3 - Princípio da subsidiariedade

É um conceito importante na organização social e política. Ele requer que as questões


devem ser tratadas pela menor e mais competente autoridade. As decisões devem ser tomadas o
mais próximo possível do nível no qual elas terão efeito.

O princípio da subsidiariedade serve para garantir a eficiência e a responsabilidade no


exercício do poder. Ele visa assegurar que as decisões sejam tomadas o mais próximo possível dos
cidadãos, permitindo uma melhor adaptação às suas necessidades e realidades locais. Esse
princípio preserva a autonomia dos entes menores, evitando a centralização excessiva do poder e
incentivando a descentralização administrativa. Ele também estimula a participação cidadã,
favorecendo a tomada de decisões em níveis de governo mais próximos da população.

O princípio da subsidiariedade é um instrumento importante para garantir a eficiência, a


descentralização e a participação democrática no governo. Ele reconhece que as decisões são
melhores quando são tomadas em níveis mais baixos de governo, mais próximos dos cidadãos e das
realidades locais.

Jurisprudência

1. Núm.:50008553220218210054Inteiro Tipo de processo: Apelação CriminalTribunal: Tribunal de


Justiça do RSClasse CNJ: ApelaçãoRelator: Marcia Kern
Órgão Julgador: Segunda Câmara CriminalComarca de Origem: ITAQUISeção: CRIMEAssunto CNJ:
Decorrente de Violência Doméstica

Decisão: Acórdão

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI Nº 11.340/06.


AMEAÇA E LESÃO CORPORAL. PALAVRA DA VÍTIMA. ESPECIAL RELEVO.
PRINCÍPIOS DA SUBSIDIARIEDADE E DA FRAGMENTARIEDADE.
INAPLICABILIDADE. MUDANÇA DE VERSÃO ENTRE AS ESFERAS POLICIAL E
JUDICIAL. PARTES QUE RETOMARAM O RELACIONAMENTO. LESÃO
COMPROVADA POR ATESTADO MÉDICO. POSSIBILIDADE. ART. 12, § 3º, DA
LEI 11340/06. ALTERAÇÃO DO SURSIS, DE OFÍCIO. PENA INFERIOR A SEIS
MESES. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.(Apelação Criminal, Nº
50008553220218210054, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Marcia Kern, Julgado em: 21-08-2023)

Data de Julgamento: 21-08-2023Publicação: 25-08-2023

Caso Concreto

Homem acusado de violência doméstica em SP é preso após tornozeleira apontar


aproximação dele da casa da vítima

Monitoramento começou a ser feito no estado em projeto piloto que prioriza casos de
violência doméstica. Agressor, de 53 anos, já tinha sido preso por agressão, ameaça e desrespeito à
medida protetiva. Ele tinha sido solto em audiência de custódia e passou a usar a tornozeleira.

Um homem de 53 anos, acusado de violência doméstica, foi preso em São Paulo após a
tornozeleira eletrônica apontar a aproximação dele da residência da vítima.

A tornozeleira foi colocada no agressor depois que ele foi solto em audiência de custódia.

A medida faz parte de um acordo firmado entre a Secretaria da Segurança Pública do governo de SP
e o Tribunal de Justiça.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SS), o agressor já tinha recebido


determinação da Justiça para não se aproximar da ex-companheira. Na quarta (13), ele foi até a casa
da mulher, de 69 anos, a agrediu física e verbalmente, e fez ameaças.

A Polícia Militar foi acionada e prendeu o autor em flagrante. No dia seguinte (14), ele passou
por audiência e a Justiça condicionou a liberdade ao uso da tornozeleira eletrônica.

O sistema de monitoramento, no entanto, apontou que o homem descumpriu novamente a


medida protetiva, e se aproximou da casa da vítima na noite do mesmo dia em que foi solto e ainda
na sexta-feira (15) pela manhã.

Ele foi levado ao 91ºDP, onde o delegado confirmou a prisão em flagrante por
descumprimento de medida protetiva.

Projeto piloto

O projeto que prevê o uso de tornozeleiras eletrônicas foi assinado em abril pelo governador,
mas só saiu do papel no início deste mês. Ele começou com 200 equipamentos e é feito, por
enquanto, apenas na capital paulista.

A prioridade é para que o equipamento seja destinado aos casos de violência doméstica.

Segundo a SSP, desde segunda-feira (11), os criminosos soltos em audiências de custódia


passaram a receber tornozeleiras eletrônicas.

A Polícia Militar consegue monitorá-los e prendê-los em caso de violação das medidas protetivas
determinadas pela Justiça.
Até agora, nove presos receberam a tornozeleira eletrônica, sendo cinco deles por violência
doméstica.

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/09/16/homem-acusado-de-violencia-domestica-em-
sp-e-preso-apos-tornozeleira-apontar-aproximacao-dele-da-casa-da-vitima.ghtml

2.3 - Princípio da humanidade ou da dignidade da pessoa humana

É um conceito que afirma o valor moral, espiritual e de honra de todo ser humano, independe
da sua condição social, econômica, política ou religiosa. É um dos fundamentos do Estado
Democrático de Direito e está previsto na Constituição Federal do Brasil. Ele indica a proteção dos
direitos humanos e busca uma sociedade justa e inclusiva. Também limita as ações do Estado e cria
novos direitos por meio da jurisprudência.

Jurisprudência

1. Núm.:51045374920238217000Inteiro teor: htmlTipo de processo: Agravo de Execução


PenalTribunal: Tribunal de Justiça do RSClasse CNJ: Agravo de Execução PenalRelator: Bernadete
Coutinho Friedrich

Órgão Julgador: Sexta Câmara CriminalComarca de Origem: OUTRASeção: CRIMEAssunto CNJ:


Roubo Majorado

Decisão: Acórdão

Ementa: AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. APENADO CUMPRINDO PENA NO


REGIME FECHADO. DEFERIDA PROGRESSÃO AO REGIME SEMIABERTO,
COM OPÇÃO, EM CASO DE INEXISTÊNCIA DE VAGA, DE INCLUSÃO EM
PRISÃO DOMICILIAR MONITORADA ELETRONICAMENTE. INSURGÊNCIA
MINISTERIAL. A nova redação dada ao art. 112 da LEP, através da Lei n. 10.792/03,
afastou a imprescindibilidade do exame criminológico para a concessão da
progressão de regime, mantendo ao julgador a prerrogativa e discricionariedade para
avaliar as condições de cumprimento da pena pelo apenado, podendo, para tanto,
valer-se do auxílio de laudos interdisciplinares, atestados de conduta provenientes do
administrador carcerário, bem como quaisquer outros dados e informações
pertinentes e necessários à formação de sua convicção. No caso concreto, a
magistrada a quo entendeu suficientes as informações constantes nos autos para a
formação de sua convicção com relação ao preenchimento do requisito subjetivo
para o deferimento do benefício. O agravante não trouxe ao caderno processual,
qualquer elemento concreto de convicção com o condão de demonstrar que o
agravado não tem condições de retomar o convívio social, especialmente porquanto
ausentes intercorrências recentes no cumprimento de sua pena. Assim, inexistentes
indícios incontestes da necessidade de realização de exame criminológico para
respaldo da decisão recorrida, que deve ser mantida. Diante da realidade caótica
instalada nos estabelecimentos prisionais do Estado, calcada pela ineficiência estatal
em prover adequadamente a tríplice função da pena, mostra-se necessária a tomada
de medidas eficazes para a solução da questão, não podendo o Poder Judiciário
apenas silenciar e chancelar a aplicação da letra da lei, em detrimento ao princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana. Como forma de mediar a questão de
falta de vagas em estabelecimento prisional, foi editada a Súmula Vinculante n. 56 do
STF. Contudo, sua aplicação remete à observância dos parâmetros fixados no
Recurso Extraordinário n. 641.320. No caso concreto, a decisão que deferiu a prisão
domiciliar mediante monitoramento eletrônico foi devida e satisfatoriamente
fundamentada, inclusive esclarecendo acerca da carência de vagas no sistema
prisional no âmbito da Vara de Execuções Penais de Porto Alegre, bem como o
reiterado descumprimento, pela SUSEPE, das remoções de presos para o regime
semiaberto. E, desde que proferida a decisão recorrida, não há registro de
envolvimento do apenado em nenhuma prática delitiva, o que demonstra sua aptidão
em permanecer sob menor vigilância estatal. AGRAVO EM EXECUÇÃO NÃO
PROVIDO. (Agravo de Execução Penal, Nº 51045374920238217000, Sexta Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Bernadete Coutinho Friedrich, Julgado
em: 24-08-2023)

Data de Julgamento: 24-08-2023Publicação: 25-08-2023

Caso Concreto

Polícia Civil prende suspeito de roubo majorado de moto em Luzilândia.

O homem foi preso preventivamente acusado de cometer crime de roubo majorado de uma
moto em Luzilândia.

A Polícia Civil do Piauí cumpriu um mandado de prisão contra um homem identificado pelas
iniciais C.R.S.A, de 20 anos de idade, na manhã desta segunda-feira (18), no centro da cidade de
Luzilândia.

Natural do município piauiense de Caraúbas, o suspeito teve a prisão preventiva decretada


em razão do crime de roubo majorado de uma motocicleta, na cidade de Joaquim Pires. Na ocasião
do crime, o indivíduo utilizou uma arma de fogo.

Segundo o delegado titular de Luzilândia, Antônio Alves, a motocicleta roubada já havia sido
recuperada pelo Grupamento da Polícia Militar (GPM) do município de Joaquim Pires e foi
devidamente restituída à vítima.

O preso foi levado à Delegacia de Luzilândia e segue à disposição do Poder Judiciário.

https://www.gp1.com.br/pi/piaui/noticia/2023/9/18/policia-civil-prende-suspeito-de-roubo-majorado-de-
moto-em-luzilandia-556029.html

2.3.1 - Pena de morte

É a condenação à morte de alguém que cometeu um crime. Alguns países ainda aplicam
essa sentença. No Brasil, a pena de morte é proibida pela Constituição Federal, menos em caso de
guerra declarada.

Jurisprudência

2.3.2 - Tortura, penas cruéis e castigos corporais

São violações dos direitos humanos que atentam contra a dignidade do ser humano. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 condena essas práticas. No Brasil, a Lei nº
9.455/97 define e pune o crime de tortura.

Jurisprudência

1. Núm.:70083657320Inteiro teor: doc html Tipo de processo: Apelação Criminal Tribunal:


Tribunal de Justiça do RS Classe CNJ: Apelação Relator: Rosaura Marques Borba

Órgão Julgador: Segunda Câmara Criminal Comarca de Origem: SANTA BÁRBARA DO SUL Seção:
CRIME Assunto CNJ: Decorrente de Violência Doméstica

Decisão: Acórdão

Ementa: APELAÇÃO CRIME. CRIME DE TORTURA. ART. 1º, INCISO II C/C §4º,
INCISO II, DA LEI 9.455/97. INSURGÊNCIAS DEFENSIVAS. CONFIGURAÇÃO DO
CRIME DE TORTURA. REDIMENSIONAMENTO DA PENA. FIXAÇÃO DO REGIME
SEMIABERTO PARA INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA REPRIMENDA.
SUBSTITUIÇÃO POR PENA RESTRITIVA DE DIREITO. Mérito. A materialidade e
autoria delitivas restaram demonstradas pela ocorrência policial, relatórios do
conselho tutelar, auto de exame de corpo de delito, prova técnica e oral colhida ao
longo da instrução. Caso em que o réu agredia, constantemente, seu enteado de 05
anos, com tortura psicológica e castigos físicos desmedidos, chegando a quase
afogar o infante, que terminou com diversos e severos traumas e, ainda, causando-
lhe lesões corporais com hematomas graves. As agressões eram constantes, cruéis
e desumanas, sendo completamente desproporcional. Do mesmo modo, o fato da
genitora, que soubera das queixas e das reiteradas suspeitas do Conselho Tutelar,
foi omissa no seu dever legal de proteger pessoa sob sua guarda e autoridade,
incorrendo nas mesmas sanções do corréu. Afastada tese de insuficiência probatória,
mantida a condenação. Redimensionamento da pena. No caso em tela, na primeira
fase dosimétrica, a pena foi aplicada corretamente para ambos os delitos e para
ambos os réus. Na segunda etapa do delito de lesão corporal, devidamente aplicada
a agravante do art. 61, inciso II, alínea “h”, tendo em vista que a vítima é infante. Na
terceira fase, certeira a aplicação da majorante prevista no §4º, inciso II, visto que a
vítima é criança. Quanto ao pedido subsidiário, relativo à concurso formal, não
merece prosperar a insurgência defensiva. Regime de cumprimento de pena. O
regime inicial de cumprimento deve ser o semiaberto, nos termos do art. 33, §2º, “b”,
do CP, tendo em vista a matéria de julgamento no STF que declarou inconstitucional
a obrigatoriedade de fixação de regime fechado para condenações por crime
hediondo. RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS.(Apelação Criminal, Nº
70083657320, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Rosaura Marques Borba, Julgado em: 16-12-2020)

Data de Julgamento: 16-12-2020Publicação: 20-01-2021

Caso Concreto

Em 2022, 437 trabalhadores foram encontrados em condição análoga à escravidão no


Nordeste 2.575 casos foram registrados em todo o país; somente Amapá, Amazonas e Alagoas não
possuem dados neste período.

Mesmo após 135 anos da abolição da escravatura no Brasil, ainda são encontrados casos de
trabalho em condição análoga à escravidão. Um exemplo foi registrado essa semana, envolvendo
mais de 200 trabalhadores de uma empresa que oferecia a mão de obra para vinícolas do Rio
Grande do Sul. Em 2022, foram encontrados 437 trabalhadores no Nordeste nessa situação.

Os dados, coletados pela Agência Tatu, são do Radar SIT (Secretaria de Inspeção de
Trabalho), o Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil, e apontam que
os casos correspondem a quase 17% de todos os registrados no país.

É tipificado como trabalho análogo à escravidão situações que submetem um trabalhador ou


um grupo a uma condição degradante, trabalhos forçados, jornada exaustiva, restrição de locomoção
– seja por dívida contraída ou qualquer outro motivo que tenha a finalidade de retê-lo no local de
trabalho, retenção de documentos e objetos pessoais e vigilância ostensiva.

De acordo com o auditor-chefe do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Alagoas,


César dos Santos Fontoura Marques, os casos podem ocorrer tanto no meio rural quanto urbano.

“Existem agora versões de trabalho análogo ao de escravo na cidade, o que era


difícil acontecer e tem acontecido frequentemente” – César Fontoura, auditor chefe
do MPE em Alagoas.

Ao receber a denúncia, os fiscais do MTE possuem a competência para resgatar e libertar os


trabalhadores da condição de escravidão. No resgate, também podem participar da operação o
Ministério Público do Trabalho, Polícia Federal, Polícia Ambiental, entre outros, já que é comum
haver denúncias de outros crimes além do trabalho escravo.

“A gente leva [o trabalhador] para um local seguro, um abrigo, e o empregador tem


que pagar todas as verbas, por exemplo, FGTS atrasado, INSS, férias, essas
jornadas exaustivas e outras multas, como férias vencidas há mais de dois anos.
Essa é a primeira punição, que é a administrativa”, diz o auditor-chefe César
Fontoura.

A segunda punição é a de caráter penal. “O Artigo 149 do Código Penal diz que o
empregador pode pegar de 2 a 8 anos de prisão. Ele também é investigado pela Polícia Federal,
porque é um crime contra a organização do trabalho e essa pena pode aumentar, dependendo das
circunstâncias que estiverem [os trabalhadores] ali naquele ambiente”, afirma César.

Segundo a plataforma Radar SIT, em 2022 houve o registro de 2.575 trabalhadores


encontrados em situação análoga à de escravo. No entanto, esse número pode ser ainda maior, já
que a plataforma não apresenta registros do Amapá, Amazonas e Alagoas neste período.

O que pode explicar a falta de dados nos três estados é o trâmite do processo de Autos de
Infração, relatório técnico e outros documentos que demoram para serem concluídos, devido ao fato
de que é necessário dar ampla defesa aos envolvidos, conforme explicação do auditor-chefe do MTE
em Alagoas. César Fontoura também afirmou que é possível que os dados sejam atualizados em
breve.

https://www.agenciatatu.com.br/noticia/condicao-analoga-a-escravidao-no-nordeste/

2.4 - Princípio da Culpabilidade

A Culpabilidade é um elemento de supra importância para o direito Penal Brasileiro bem


como para a dogmática jurídica penal. Contudo foi e será sempre discutida pelas jurisprudências e
doutrinas uma vez que se encontram divergências de entendimento através de correntes e teorias,
não sendo completamente sedimentado seu conceito e funções, passando por diversas
transformações ao longo do tempo.

Atualmente a culpabilidade é vista como um princípio limitador do poder punitivo do Estado,


momento em que será aplicada a pena ao indivíduo pelo juiz e este deverá analisar os elementos.
Imputabilidade, Consciência da ilicitude e Exigibilidade de Conduta Diversa. Inexistindo um destes
elementos, não há o que se falar em culpabilidade.

Elementos da Culpabilidade

A partir da Teoria da Normativa Pura ou Finalista da Culpabilidade 3 elementos essenciais


lhe são atribuídos: Imputabilidade, Potencial Consciência da Ilicitude e Exigibilidade de Conduta
Diversa.

IMPUTABILIDADE

Consiste na capacidade psíquica do indivíduo, relacionado à maturidade e sanidade mental


que confere ao agente, de compreender se uma determinada conduta é lícita ou não segundo o
ordenamento jurídico. Porém a imputabilidade não pode ser confundida com a responsabilidade
penal, que é o princípio no qual o imputável deve responder por suas ações.

POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE

Para que haja uma reprovação ao autor, devido um ato praticado contra o direito, é
necessário que o mesmo tenha consciência da ilicitude praticada.
Sob este aspecto, conforme a orientação finalista, a ausência de conhecimento da proibição
não afasta o dolo natural mas exclui a culpabilidade.

Nesta seara existe uma possibilidade de exclusão da culpabilidade sobre o conhecimento da


ilicitude no ato praticado, o chamado erro de proibição, o qual ao contrário do conhecido erro de tipo,
que ocorre sobre um elementar do tipo penal, está relacionado com o conhecimento da ilicitude.

Existem duas espécies de erro de proibição em que se exclui a potencial consciência da


ilicitude: o erro inevitável (invencível) em que o indivíduo prudente atua sem ter consciência da
ilicitude de sua conduta e o erro evitável (vencível) em que o agente age com descuido, ferindo o
dever de cuidado.
EXIGIBILIDADE DE CONDUTA ADVERSA

Trata-se da possibilidade do indivíduo agir conforme a lei, ou seja, exige - se que o autor
tenha uma conduta diversa da praticada.

Para que seja possível a punição do indivíduo pelo Estado é necessária que seja tomada
outra decisão, qual seja, não cometer o crime. Contudo há excludentes legais para este elemento
que são: a coerção moral irresistível e obediência hierárquica.

CASO CONCRETO:

PROCESSO AgRg no AREsp 2189754/PA AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL 2022/0256511-5 RELATOR Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJDFT) (8420) ÓRGÃO JULGADOR T6 - SEXTA TURMA - DATA DO
JULGAMENTO 20/06/2023 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 23/06/2023.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO


MAJORADO E FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA À MEDIDA DE
SEGURANÇA QUALIFICADA. PENAS-BASES. DESPROPORCIONALIDADE. NÃO
OCORRÊNCIA. I - "A jurisprudência deste Tribunal Superior é firme em garantir a
discricionariedade do julgador, sem a fixação de critério aritmético, na escolha da sanção
a ser estabelecida na primeira etapa da dosimetria. Assim, o magistrado, dentro do seu
livre convencimento motivado e de acordo com as peculiaridades do caso concreto,
decidirá o índice de exasperação da pena-base, em observância aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade." (AgRg no HC n. 812.314/SP, relator Ministro
Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 15/5/2023, DJe de 18/5/2023.) II - No
caso, há fundamentação idônea para majorar a basilar dos delitos em 1/2, haja vista a
gravidade da conduta (circunstâncias do crime), motivação essa utilizada para ambos os
ilícitos, "pois a ação criminosa foi cometida no interior de uma unidade de saúde, onde se
encontravam outras pessoas, sendo de se deduzir que se tratavam em sua maioria de
pessoas enfermas, buscando assistência médica, o que certamente é mais reprovável do
que se a fuga tivesse sido propiciada em circunstâncias diversas, sem expor pessoas
inocentes a maior perigo ou perturbação psicológica". III - No que se refere ao delito de
roubo, além das circunstâncias do crime, negativou-se também a vetorial da
culpabilidade, não havendo falar-se em desproporcionalidade, de acordo com a
jurisprudência desta Corte. Precedentes. IV - Agravo regimental desprovido. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra. Ministra Laurita Vaz e os Srs. Ministros
Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz e Antonio Saldanha Palheiro votaram com
o Sr. Ministro Relator. JURISPRUDÊNCIA CITADA (DOSIMETRIA DA PENA -
DISCRICIONARIEDADE DO JULGADOR) STJ - AgRg no HC 812314-SP

2.4.1 Dolo

A característica principal do dolo é a conduta intencional, voluntária e com o objetivo de


atingir um resultado, diferentemente da culpa.

2.4.2 Culpa

Como já dito acima, esta diferentemente do dolo, não requer intenção, guardando mais
relação com a negligência, imprudência ou imperícia.

2.5 Princípio da Pessoalidade ou princípio da intranscendência da Pena

O princípio da personalidade da pena representa uma conquista do direito penal e é uma das
bases de um Estado Democrático de Direito. Impede, em caráter absoluto, que a pena dirija-se
abstratamente a quem não concorreu para o crime. Neste sentido, o princípio destina-se
principalmente ao legislador.

Uma vez aplicada, a sanção penal quase sempre trará efeitos reflexos, que são inevitáveis e
não maculam a licitude da sanção. Não fosse assim, a própria aplicação de penas ficaria
impossibilitada. É preciso, portanto, aquiescer com a existência de tais efeitos, mas fazer o possível
para atenuá-los, de modo a compatibilizar os interesses da sociedade com os do condenado e das
pessoas ligadas a ele.

A simples existência de um processo criminal já pode afetar terceiros, fazendo com que sofram
preconceitos e estigmatização. Todavia, os efeitos colaterais da pena manifestam-se sobretudo
durante a execução da pena. E, dentre as sanções previstas, a prisão é a que mais duramente

afeta terceiros.
No Brasil, há vários institutos visando atenuar o problema. Nesta esteira, a visita íntima, embora
voltada principalmente ao preso, têm relevância ímpar para mitigar os efeitos que a condenação
projeta sobre os cônjuges e companheiros dos detentos.

O auxílio-reclusão, em tese, tem grande importância para diminuir os efeitos econômicos da


condenação em relação aos dependentes do preso. Todavia, em nossa pesquisa de campo,
comprovamos que muitas famílias ficam desamparadas financeiramente após a prisão. Isto ocorre,
provavelmente, porque o valor do benefício é inferior aos rendimentos auferidos pelo condenado,
quando em liberdade.

As penas restritivas de direitos e a multa permitem especial obediência ao princípio ora em


análise, pois mesmo efeitos reflexos da condenação são consideravelmente mitigados. A exceção
são as interdições de direitos previstas no art. 47, I e II, do CP, que castigam duramente os
dependentes do condenado e vulneram o princípio da personalidade da pena. Por esta razão, e
também pelo fato de serem inaptas a promover a ressocialização do infrator, deveriam ser extintas.

2.5.1 Princípio da individualização da pena

Se materializa em 3 planos:

1 – Legislativo;

2 - Judicial ;

3 - Executivo .

O Estado responde ao crime para que o particular assim não o faça, pois hodiernamente tem
o monopólio da violência. Ademais, com a punição, o Estado também objetiva dissuadir outras
práticas ilícitas.

De fato, a referida individualização começa no processo de elaboração das leis. Afinal, segundo o
princípio da legalidade "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal". (Art. 5°, Inciso XXXIX, da Constituição Federal).

CASO CONCRETO:

PROCESSO; HC 291774 / SP HABEAS CORPUS 2014/0072133-5 RELATOR: Ministro ROGERIO


SCHIETTI CRUZ (1158) ÓRGÃO JULGADOR T6 - SEXTA TURMA DATA DO JULGAMENTO
10/06/2014 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 18/11/2014

EMENTA; HABEAS CORPUS. CABIMENTO. SUBSTITUIÇÃO DE RECURSO


PRÓPRIO. INVIABILIDADE. EXECUÇÃO PENAL. ENVIO, VIA SEDEX, DE
ACESSÓRIO PARA APARELHO CELULAR. ESTABELECIMENTO PRISIONAL.
REVISTA PRÉVIA. DESCOBERTA. FALTA DISCIPLINAR. INOCORRÊNCIA. 1. Esta
Corte, na esteira do que vem decidindo o Supremo Tribunal Federal, não tem
admitido que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso
próprio, tampouco à revisão criminal, o que não impede em situações de flagrante
ilegalidade do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade individual, seja
concedida, de ofício, da ordem de habeas corpus. 2. Não se descura que o art. 49,
parágrafo único, da LEP, prevê que a tentativa da prática de ato que corresponda a
falta disciplinar deverá ter idêntico tratamento ao da prática de falta disciplinar
consumada. Entretanto, não se dispensa a existência de um suporte probatório do
qual permita concluir, induvidosamente, que o fato considerado faltoso teria se dado
por provocação ou com a participação do condenado. 3. A execução penal, tal como
ocorre com outros ramos, rege-se não só por regras, mas, também por princípios,
que se imbricam, direta ou reflexamente, com princípios constitucionais ou inerentes
ao processo penal de conhecimento. 4. Corolário do princípio da culpabilidade, o
princípio da personalidade, de matiz constitucional (art. 5o, XLV, da CF) e que
também é conhecido, entre outros nomes, como princípio da intranscendência penal,
assume relevo tanto para o processo de conhecimento, quanto para o processo de
execução penal. 5. Por esse princípio, fruto de conquista histórica que remonta ao
iluminismo, compreende-se que a pena não pode passar da pessoa do autor ou
partícipe do crime. 6. O raciocínio que se desenvolveu com o princípio da
pessoalidade, no que tange ao cometimento de um delito, deve ser estendido,
também, para os casos em que se apura a prática de falta disciplinar no âmbito da
execução penal, a despeito da conduta do condenado não se constituir,
necessariamente, em um injusto penal. Isso em decorrência das implicações - que
podem ser graves - que sofrerá o condenado com a constatação de que determinado
fato, que lhe é eventualmente imputado, constitui falta disciplinar. 7. Ainda que sejam
fortes as suspeitas de que algum condenado tenha solicitado a terceiros que se lhe
enviasse, via correios, aparelho celular ou algum de seus acessórios, tal ilação, por
si, desamparada de qualquer outro elemento concreto que indique essa solicitação,
não se mostra suficiente para que seja imputada falta disciplinar ao paciente, em
razão, sobretudo, da intranscendência penal, cuja aplicação é perfeitamente
aceitável em sede de execução penal. 8. Habeas corpus não conhecido. Ordem
concedida, de ofício, para restabelecer a decisão do Juiz das Execuções Criminais e
Corregedoria da Comarca de Marília/SP JURISPRUDÊNCIA CITADA (TELEFONE
CELULAR - ENVIO DE ACESSÓRIOS - VIA POSTAL - RESPONSABILIZAÇÃO DO
SENTENCIADO) STJHC 272783-SP, HC 241228-SP

2.6 - Princípio da Lesividade ou da Ofensividade

O princípio da ofensividade ou lesividade (nullum crimen sine iniuria) exige que do fato
praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
O princípio da ofensividade está atrelado à concepção dualista da forma penal, isto é, a
norma pode ser primária (delimita o âmbito do proibido) ou secundária (cuida do castigo, do âmbito
da sancionabilidade).

A norma primária, por seu turno, possui 2 aspectos: ela é valorativa e também imperativa. O
aspecto valorativo da norma fundamenta o injusto penal, isto é, só existe crime quando há ofensa
concreta a esse bem jurídico. Daí se conclui que o crime exige, sempre, desvalor da ação (a reação
de uma conduta) assim como desvalor do resultado.

CASO CONCRETO:

PROCESSO: ProAfR no REsp 1806016 / PA PROPOSTA DE AFETAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL 2017/0322560-0 DECISÃO DE ADMISSÃO DE IAC Pesquisa de tema: Tema IAC 7
RELATOR Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141) ÓRGÃO JULGADOR S1 - PRIMEIRA
SEÇÃO DATA DO JULGAMENTO 15/09/2020 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 22/09/2020 .

EMENTA. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.


PROCESSO COLETIVO. AÇÕES POPULARES. PRIVATIZAÇÃO DA COMPANHIA
VALE DO RIO DOCE. LESIVIDADE AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. PRINCÍPIO DA
SEGURANÇA JURÍDICA. EXISTÊNCIA DE DECISÕES DIVERGENTES SOBRE A
MESMA QUESTÃO JURÍDICA. RECONHECIMENTO DOS REQUISITOS PREVISTOS
NO ART. 947 E PARÁGRAFOS DO CPC/2015 E NOS ARTS. 271-B AO 271-G DO
RISTJ. INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA ADMITIDO. 1. A controvérsia
relacionada ao caso dos autos envolve diversas ações populares ajuizadas em vários
Estados e no Distrito Federal no contexto da privatização da Companhia Vale do Rio
Doce, com o objetivo de discutir múltiplos aspectos do processo fundado no Programa
Nacional de Desestatização instituído pela Lei no 8.031/90. 2. Em algumas das referidas
ações populares, houve sentença de extinção do processo sem julgamento do mérito, o
que foi reformado pelo Tribunal de origem para determinar o prosseguimento em
primeiro grau de jurisdição e, essencialmente, iniciar a fase instrutória dos processos
com a determinação de realização de perícia. Por outro lado, há notícia nos autos de
outras ações populares e ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal
sobre o mesmo caso que foram julgadas improcedentes, inclusive com trânsito em
julgado. Inegável, portanto, a existência de decisões judiciais, aparentemente
incompatíveis, em relação à mesma questão jurídica. 3. O tema, conforme visto no
tópico "histórico do demanda" na presente decisão, tramita no âmbito do Poder Judiciário
há mais de vinte (20) anos e, apesar de diversas tentativas de viabilizar o julgamento
conjunto das diversas ações ou outra alternativa processual que fosse capaz de evitar
decisões judiciais incompatíveis, ainda não há perspectiva de finalização do julgamento.
O caso examinado também envolve discussões sobre a eventual lesão ao erário
decorrente de subavaliação da companhia privatizada e, em outro extremo, configura
verdadeiro paradigma relacionado ao princípio da segurança jurídica do sistema judicial
brasileiro. Em razão de tais considerações é necessário definir a questão jurídica de uma
maneira que permita ampla participação dos envolvidos e, ao mesmo tempo, seja efetiva
no sentido de eliminar a divergência jurídica sobre a apontada controvérsia jurídica. 4. O
Código de Processo Civil de 2015 previu no art. 947 e parágrafos, o incidente de
assunção de competência (IAC). Preliminarmente, deve ser consignado que a
controvérsia contida nos autos é específica e, embora envolva determinado número de
processos (além dos 37 processos listados na presente decisão que tramitam no STJ,
existe a informação nos autos sobre a existência de quantidade similar de processos em
tramitação na instância ordinária originária e recursal), não se enquadra nas hipóteses
típicas de multiplicidade que recomendam o julgamento sob a sistemática dos recursos
repetitivos. 5. O incidente de assunção de competência previsto no CPC/2015 é dotado
de importante função no sistema brasileiro de precedentes, pois além de evitar ou
compatibilizar dissídios jurisprudenciais, papel também desempenhado pelos embargos
de divergência nas Cortes Superiores, é técnica de julgamento que gera precedente de
efeito vinculante, prevista no inciso Ill do art. 927 do CPC/2015, o que impõe a sua
observância por Tribunais e juízes na ótica do novo ordenamento processual. 6. A
referida técnica de julgamento confere eficiência ao princípio da isonomia, pois a
admissão da proposta de incidente de assunção de competência no caso concreto dará
efetividade ao presente recurso especial, a fim de que o decidido por esta Corte Superior
seja aplicado a todos os processos relacionados à presente controvérsia jurídica, o que
afasta a possibilidade de decisões divergentes sobre o mesmo tema. 7. Entre as
hipóteses de cabimento do incidente de assunção de competência é possível identificar
requisitos de existência do instituto: a) recurso, remessa necessária ou ação de
competência originária; b) relevante questão de direito. 8. Em tal contexto, é manifesto
que existem no recurso especial examinado relevantes questões de direito com ampla
repercussão social. Esses fatores exigem a interpretação desta Corte Superior para
conferir unidade ao direito federal, sobretudo com vistas à tutela da segurança jurídica e
em razão da competência originária do STJ na promoção da uniformidade decisória
sobre a questão federal controvertida. 9. Outrossim, o § 2o do art. 947 do CPC/2015
dispõe que o "órgão colegiado julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de
competência originária se reconhecer interesse público na assunção de competência".
Embora o conceito de interesse público permita múltiplas interpretações, para efeito de
admissão do incidente de assunção de competência, está relacionado à definição da
interpretação da próprias questões jurídicas contidas no presente recurso especial. 10.
Portanto, no caso dos autos, estão atendidos os requisitos legais do cabimento do
incidente de assunção de competência no presente recurso especial, pois a matéria
discutida envolve relevante questão de direito, bem como é inegável o reconhecimento
de grande repercussão social do tema. Ademais, a competência para analisar o presente
incidente deve ser da Primeira Seção deste Tribunal Superior, responsável pela
uniformização da interpretação de temas de direito público, conforme estabelecido no
RISTJ. 11. Por fim, considerando a tramitação no Tribunal Regional Federal da 1a
Região de processos idênticos aos indicados na presente decisão, em observância ao
princípio da economia processual e em razão de racionalidade na gestão processual, é
possível admitir a devolução dos processos para o Tribunal de origem para aplicação
dos arts. 1.040 e 1.041 do CPC/2015, ainda que por analogia. 12. Incidente de Assunção
de Competência admitido. JURISPRUDÊNCIA CITADA: (DEVOLUÇÃO DOS
PROCESSOS PARA O TRIBUNAL DE ORIGEM - PRINCÍPIO DA ECONOMIA
PROCESSUAL - RACIONALIDADE NA GESTÃO PROCESSUAL) STJ - EDcl no Agint
no AREsp 1577867-SP, RCD no AREsp 958012-MG

2.7 - Princípio da Insignificância

Um dos princípios que vem ganhando força na Doutrina e, sobretudo, na nossa


jurisprudência. O Direito Penal não deve se preocupar com condutas incapazes de lesar o bem
jurídico.

Este princípio, certamente, encontra - se fundamento jurídico no conceito de tipicidade, a


qual, por certo, deve ser analisada sob 2 aspectos: a tipicidade formal e a tipicidade material.

A tipicidade formal é a correspondência exata entre o fato e os elementos constantes de um


tipo penal.

A tipicidade material é a real lesividade social da conduta. E é justamente, na tipicidade


material, que se revela o verdadeiro sentido do princípio da insignificância.

2.7.1 - CRITÉRIOS DETERMINANTES DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O presente trabalho aborda o princípio da insignificância sob o aspecto de sua aplicabilidade,


que vem se tornando constante, depois de um longo rompimento de valores criminais, por parte dos
juristas e doutrinadores no cenário jurídico-penal. Para desenvolver o assunto, necessário se faz
uma explanação minuciosa sobre o conceito de crime, uma vez que não tem definição legal no nosso
meio jurídico. Inúmeras teorias têm tentado definir o que seja crime, porém as transformações sociais
têm desencadeado diversas situações que confundem a explicação sobre o que é o crime.

Considerando a teoria finalista, adotada pela maioria dos doutrinadores modernos, crime é
uma ação típica e antijurídica, e ainda, sob o aspecto material pode ser definido como todo fato
humano que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos tidos como fundamentais para sociedade, e que
tem uma resposta sancionadora do Estado.

Do conceito de crime dado pela teoria finalista, toda ação típica e antijurídica, surgiram os
delitos de bagatela ou crimes de lesão mínima, onde o comportamento lesivo de tão ínfimo, sequer
atinge o bem jurídico protegido, não guardando qualquer reprovabilidade social. E é sobre os crimes
de bagatela que o principio da insignificância incide, retirando-os da esfera de atuação do Direito
Penal, passando a ser considerados atípicos, não constituindo, assim, delitos. Apesar do Principio da
insignificância não ter previsão legal, há que ser considerado um principio implícito, haja vista, que é
norteado por princípios do Direito Penal, tais como o principio da intervenção mínima, da lesividade,
da subsidiariedade, entre outros. Embasado nesta e outras justificativas, os operadores do Direito
têm aplicado reiteradamente o principio como forma de resguardar a dignidade e tornar ativo o
Estado Democrático de Direito, e assim, assegurar os Direitos Humanos.

O trabalho apresenta num primeiro momento, a evolução histórica do conceito de crime,


definindo os delitos de bagatela. Em seguida aborda a definição do princípio da insignificância, além
de trazer de forma clara e explicativa, os princípios penais que norteiam. Por fim, foram analisados
os momentos de aplicação do principio pelos operadores do direito, aos casos concretos, as
objeções trazidas por doutrinadores, sendo também tratada a necessidade do principio da
insignificância como forma de assegurar os direitos humanos.

Para obtermos melhor compreensão sobre o assunto, utilizaremos o método


indutivo/dedutivo, com suporte na pesquisa de obras dos principais autores que se posicionam sobre
o tema dentre eles: Maurício Antônio Ribeiro Lopes, Ivan Luiz da Silva, Carlos Vico Mañas, Luiz
Luisi, Francisco de Assis Toledo, Ney Mouro Teles, Cezar Roberto Bittencourt, José Henrique
Guaracy Rebelo, Júlio Fabrini Mirabete, Damásio de Jesus, dentre outros.

Como fonte complementar, utilizaremos julgados de alguns tribunais, artigos jurídicos


extraídos da internet, periódicos, com destaque para o autor Luiz Flávio Gomes, bem como, consulta
a legislação, principalmente o Código Penal e à Constituição Federal.

1 - PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL BRASILEIRO

O Direito Penal Brasileiro assim como os vários ramos do nosso ordenamento jurídico admite
determinados princípios que, traz na sua etimologia diversos significados, podendo ser
compreendido como lei, preceito ou regra, e é algo que pode ser aplicado nas várias fases do
processo judicial.

Em nosso ordenamento jurídico, precisamente no Artigo 50, §20, da Constituição Federal


encontramos a fundamentação para sua aplicação no sistema judicial.

As transformações e a transitoriedade sofrida pela sociedade fazem com que a lei, muitas
vezes, torne-se inadequada e ultrapassada para as situações e ascensão, trazidas pela miséria
social. Essa situação leva o homem à prática de condutas imorais, ou seja, dos delitos
insignificantes, daí surge para o julgador a adequação da norma penal ao caso concreto, evitando a
interpretação fria da letra da lei.

O princípio da insignificância, objeto do presente estudo, é relevante, pois serve de base ao


estudo crítico do processo penal. Atualmente, a discussão e o interesse sobre o tema tem crescido
muito entre doutrinadores, estudiosos e todos os operadores do Direito.

A aplicação do princípio da insignificância, apesar de ser uma necessidade no mundo


jurídico, é objeto de diversas restrições por parte daqueles que o rejeitam, sob vários argumentos.
Por outro lado, há que se ter em mente que a aplicabilidade de tal princípio é uma solução para a
máquina judiciária que está abarrotada de processos, os quais necessitam de andamentos, pois que
estão prescrevendo pela inércia do Poder Judiciário, proporcionando, consequentemente a
celeridade e a economia processual.

A ideia de trabalhar em torno no princípio da insignificância é interpretar a norma penal de


forma coerente com a realidade social e ainda, buscando atingir o objetivo da sociedade em zelar por
sua convivência fraterna, humana e justa.

ASPECTOS HISTÓRICOS:

A fim de que se possa entender o conceito e todos os fundamentos e efeitos do Princípio dal
Insignificância da maneira mais clara possível, necessita-se conhecer sua origem, como foi e o
porquê do surgimento desse princípio.

O Estado não se valerá do Direito Penal em qualquer caso, pois este ramo do Direito é muito
severo, onde jus puniendi é exercido para impor uma sanção drástica ao indivíduo, tolhendo-lhe fora
a vida, o primeiro bem jurídico mais relevante, qual seja, a liberdade. É praticamente instantâneo
invocar o princípio da intervenção mínima ao se falar do princípio da insignificância, pois apesar de
existir previsão legal para a proteção de determinado bem jurídico, como o patrimônio no crime de
furto, não há porque adotar a intervenção abusiva do direito penal nos casos em que o valor da coisa
é irrisório.
CONCEITOS BÁSICOS:

Para que se possa entender melhor o conceito que traduz o Princípio da Insignificância, cabe
analisar, primeiramente, de forma separada os conceitos de princípios e de insignificância. Princípio
pode significar, ao mesmo tempo, o lugar onde algo começa se origina fonte, base, bem como uma
norma, regra. No desenvolver desse trabalho perceber-se-á, que princípio, no caso tratado, tem o
sentido de norma e fonte ao mesmo tempo, uma vez que o Princípio em análise, é uma norma que
serve de base para a aplicação de outras normas já existentes e positivadas. Já a Insignificância,
grosso modo falando, é tudo aquilo que não tem valor, não tem importância ou qualquer relevância.
O delito insignificante é aquele incapaz de causar prejuízo, danos à sociedade, quando, por exemplo,
subtrai-se coisa de valor irrisório, que não seja suficiente para alterar o patrimônio da vítima.

Nucci afirma que "Com relação a insignificância (crime de bagatela), sustenta-se que o direito
penal, diante de seu caráter subsidiário, funciona como ultima ratio, no sistema punitivo, não se deve
ocupar de bagatelas".

O Princípio da Insignificância é aquele que orienta no sentido de que não se deve punir os
delitos de bagatela, ou seja, delitos pequenos, irrelevantes, não ensejadores de efetivo prejuízo a
vítima ou ao social. Cabe dizer ainda que, o Princípio da Insignificância deve ser utilizado no
momento da interpretação dos fatos, com base em critérios de razoabilidade, podendo chegar a
destituição da reprovabilidade do fato por ter sido valorado como insignificante, excluindo a tipicidade
penal e, portanto, tornando-o isento de punição.

De forma concisa, pode-se assegurar que o princípio da insignificância nasceu para


preencher uma lacuna no nosso ordenamento jurídico, mais precisamente no direito penal, pois seu
objetivo é excluir as condutas que apresentam um pequeno potencial ofensivo, pois sua capacidade
abstrata de ofender a sociedade não deve ser objeto do direito penal, evitando-se assim at
desproporcionalidade da aplicação da pena diante um caso irrelevante.

O princípio da insignificância ou da bagatela encontra relação com o princípio da intervenção


mínima do Direito Penal. Esse, por sua vez parte do pressuposto de que a intervenção do Estado na
esfera de direitos do cidadão deve ser sempre a mínima possível, para que a atuação estatal não se
torne demasiadamente desproporcional e desnecessária, diante de uma conduta incapaz de gerar
lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado.

O Princípio da Insignificância ou da Bagatela é aquele cujo direito penal só deve ser


acionado quando necessário à proteção do bem jurídico. Logo, as lesões insignificantes ao bem
jurídico devem ser excluídas da esfera de atuação do direito penal, que, cada vez mais, vai se
transformando num direito de intervenção mínima. A exemplos, temos o furto de uma caixa de
fósforos, ou então a devolução do objeto furtado, estando o mesmo intacto, sem que tenha havido
prejuízo à vítima, o fato é que este princípio impede que a tipicidade seja indício de antijuridicidade,
produzindo efeitos idênticos aos do princípio da adequação social. Neste a irrelevância do fato exclui
a antijuridicidade material, em face da inexistência de significativa lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico penalmente protegido.

DIFERENCIAÇÃO ENTRE CRIMES DE BAGATELA E INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL


OFENSIVO:

As infrações de menor potencial ofensivo são da competência dos Juizados Especiais


Criminais, criados pela Lei 9.099/1995, em atendimento a determinação constitucional contida no art.
98, inciso I.

Conhecer os princípios do direito é condição fundamental para poder aplicá-lo corretamente.


Quem apenas conhece as regras, ignora a parcela mais importante do direito, a que faz delas um
todo coerente, lógico e ordenado. Logo aplica o direito de forma incompleta.

A necessidade do jurista trabalhar com os princípios existe em todos os ramos do direito,


entretanto, no direito público é bem maior. Vejamos: os princípios pertinentes ao direito privado
normalmente estão contidos em leis, em regras específicas. Assim, não se faz tão necessário se
utilizar dos princípios para resolver as questões deste ramo. O direito público, por ser formado por
legislação esparsa, jovem e produzida sem método, traz uma aparente desordem, solucionada
apenas com a consideração dos princípios. Eles permitem ao aplicador do direito organizar as regras
existentes e extrair soluções coerentes com o sistema jurídico como um todo.

DO CRIME

A prática de crime ultrapassa os tempos juntamente com o desenvolvimento do homem.


Houve tempo em que o pecado era considerado um tipo de crime, e em que, delito e crime tinham
significados diferentes. Hoje, delito e crime são sinônimos. Correntes divergentes definem o que seja
o crime, para uns, uma ação típica, antijurídica e culpável, para outros, um fato típico, ilícito ou
antijurídico e culpável, sendo esta última a adotada pela doutrina dominante. Analisa-se neste
capítulo, a evolução histórica do conceito de crime, e ainda, vale lembrar, que em nossos dias o
crime não tem um conceito definitivo uma vez que o Direito é uma ciência dinâmica e em constante
mutação.

CONCEITO DE CRIME:

Existem variados conceitos para definir o que é crime dependendo sempre da posição
adotada. Pelo critério formal, crime é o que a lei define como tal. Para o critério material, crime é o
fato humano que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos penalmente protegidos. Este critério traz
apenas a consequência do crime, mas não o define, ou melhor, define apenas o resultado do crime.

Já o critério analítico leva em consideração os elementos estruturais do crime, ou seja, o


crime sob o aspecto de sua estrutura.

Adota-se no Brasil a Teoria Tripartida, qual seja, a que preconiza que para a configuração do
crime existem três elementos estruturais, quais sejam, fato típico, ilícito ou antijurídico e culpável.

Nessa linha o conceito de crime abrange os elementos ação, tipicidade, antijuridicidade e


culpabilidade. De um conceito puramente descritivo, naturalista e causal, a ação tinha origem na
vontade, porém não se preocupava com o conteúdo desta, e sim, com o resultado. A tipicidade
representava o caráter externo na ação, composto pelos aspectos descritos na norma, já a
antijuridicidade era uma valoração negativa da ação, um juízo de desvalor, e por fim, a culpabilidade
era definida como o vinculo subjetivo entre o autor e o fato.

ELEMENTOS DO CRIME:

Adotando a teoria tripartite, conforme mencionados anteriormente, os elementos do crime


são: fato típico, antijuridicidade e culpabilidade. Cumpre esclarecer que essa divisão é apenas um
meio de utilizado pela doutrina para analisar o delito, já que este possui caráter unitário.

O Código Penal não conceituou crime, apesar do artigo 1o da Lei de Introdução do Código
Penal, tratar de uma definição puramente formal, que nada explica, a não ser quais penas
correspondem aos delitos e às contravenções.

TIPICIDADE FORMAL E CONGLOBANTE:

A tipicidade é o adequamento de uma conduta praticada pelo agente e que corresponda a


um modelo descrito no tipo (lei). Pode-se dizer também que o fato típico é composto pela conduta do
agente e pelo resultado. A tipicidade se divide em formal e conglobante.

Esse amoldamento da conduta ao tipo é o que chamamos de tipicidade formal, pois, em não
havendo essa adequação, o fato cometido pelo agente será considerado atípico. Um exemplo dado
por Greco (2009, p. 158), é o furto de uso, caso em que o autor subtrai um bem, mas não o faz com
o intuito da posse definitiva do bem, e assim, como não há o adequamento perfeito, haja vista que o
tipo não se completa, pois o agente não furtou o objeto com o fim de tê-lo para si ou para outrem,
não sendo assim punível tal conduta.

Já a tipicidade conglobante se dá quando existe um fato antinormativo, ou seja, contrário às


normas, punido juridicamente, mas as circunstâncias em que ocorreram fazem com que o fato não
seja punido. Notório exemplo é quando atletas de uma partida de futebol se lesionam, um quebrando
a perna do outro. Existe a tipificação no ordenamento jurídico de tal fato, crime de lesão corporal,
mas, as circunstâncias em que a lesão se deu não permitem que seja o jogador punido no âmbito
penal.

Outro fato é a prescrição, por profissional habilitado, de substâncias entorpecentes. Tal


atitude seria punida pela Lei de Drogas, mas as circunstâncias do fato impedem que o médico que
prescreveu a droga seja punido.

PRINCÍPIOS CORRELATOS QUE REALÇAM A NECESSIDADE DE SE APLICAR O PRINCÍPIO


DA INSIGNIFICÂNCIA

Dentre os vários princípios, estabelecidos e aplicados pelo nosso ordenamento jurídico


existem os que são efetivamente explícitos, mas também existem os que estão implícitos. É sabido
que no campo do direito nada é aplicado de forma isolada ou sem uma correlação, nesse viés, para
se falar do princípio da insignificância antes se faz necessário a abordagem de outros princípios.
Entre eles o que se seguem.

Não há aqui a pretensão de esgotar o assunto sobre os princípios e sua aplicabilidade no


direito penal, mas simplesmente trazer à baila alguns que poderão auxiliar o entendimento sobre a
proposta do presente trabalho.

PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE E DA LESIVIDADE:

O princípio da fragmentariedade, segundo alguns doutrinadores é o corolário dos Princípios


da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social. Mas, para outros doutrinadores, o
princípio da fragmentariedade é uma das características do princípio da intervenção mínima,
juntamente com a subsidiariedade.

Percebe-se assim, que diferenciados os princípios acima citados, é que enquanto um


(intervenção mínima) visa resguardar somente a ofensa/ataque a bens jurídicos importantes o outro
(lesividade) importa que não se pode punir um crime quando não há lesão significativa ao bem de
terceiros tutelados pela legislação penal.

Dois exemplos dados por Greco (2009) é que não se pode punir quem pratica um ato lesivo
contra si mesmo, como ocorre nos casos de tentativa de suicídio, ou do uso de substâncias
entorpecentes. Prova disto é que a nova Lei Antidrogas despenalizou (nova redação dada pelo artigo
28 da Lei 11.343/06) o uso de drogas. O legislador, ao criar uma lei, tem que ter em mente os
eventuais prejuízos que tal atitude cause turbulência à ordem jurídica e social. Portanto, conclui-se
que não se devem punir algumas atitudes, principalmente as irrelevantes, vez que não carecem de
atenção do ordenamento jurídico penal, ante a falta de real ofensa aos bens tutelados pela
legislação.

PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA OU ULTIMA RATIO:

Esse princípio estabelece que o Direito Penal só deve atuar na defesa de bens jurídicos
relevantes para a sociedade e para o indivíduo, bens este, imprescindíveis para a pacífica
convivência dos homens e que não podem ser protegidos de forma diversa.

Em conceito dado por Greco (2009, p.49) o Direito Penal só deve preocupar com a proteção
dos bens mais importantes e necessários à vida em sociedade e a definição dada como ultima ratio
significa que o Direito Penal somente deve ser usado/avocado em última circunstância. Define ainda
Rogério Greco (2009, p.49) que "o princípio da intervenção mínima, ou ultima ratio,“é o responsável
não só pela indicação dos bens jurídicos de maior relevo que merecem a especial atenção do Direito
Penal, mas se presta, também, a fazer com que ocorra a chamada descriminalização."

Percebe-se assim, que tal princípio tem função limitadora para que o Estado não interfira e
nem execute, constantemente, o seu poder de punir. Corroborando tal afirmação, Roxin (1997),
assevera que "a proteção de bens jurídicos não se realiza só mediante o Direito Penal, senão que
nessa missão cooperam todo o instrumento do ordenamento jurídico". (ROXIN 1997, apud GRECO,
2009, p. 50).

Dito isto, conclui-se que o Direito Penal deve intervir o mínimo possível, devendo somente
ser avocado quando outros ramos do direito forem incapazes de dar a devida tutela a bens
relevantes na vida do indivíduo e da sociedade. Este princípio, como o da insignificância não estão
implícitos nas legislações penais e constitucionais modernas, devido ao seu vínculo com outros
postulados explícitos, não deixando de se impor aos olhos do legislador e do intérprete da lei.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE:

Quanto ao princípio da legalidade, também conhecido como princípio da reserva legal e


princípio da anterioridade, encontra-se inserido no artigo 1o do Código Penal Brasileiro "Art. 10: Não
há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal." (Planalto, online).

Da redação do citado artigo, verifica-se que somente alguém poderá ser punido, se quando
da data do fato, o ilícito praticado pelo agente, existir prévia lei que o defina, e prévia sanção penal
que lhe puna. Tal princípio encontra também amparo constitucional, notadamente no artigo 50, inciso
XXXIX da Carta Magna Nacional.

Por conta de sua redação, bem como por seu conteúdo, alguns doutrinadores, dentre eles
Rogério Greco, acreditam que tal princípio seja o mais importante do Direito Penal. Segundo Rogério
Greco (2009), as funções do Princípio da Legalidade são as "de proibir a retroatividade da lei penal
(nullum crimen nulla poena sine lege praevia); proibir a criação de penas e crimes pelos costumes
(nullum crimen nulla poena sine lege scripta), proibir o emprego de analogia para criar crimes
fundamentar ou agravar penas (nullum crinem nulla poena sine lege stricta) e proibir incriminações
vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla pena sine lege certa)".

Segundo Bittencourt (2009), o Princípio da Reserva Legal é um imperativo que não admite
desvios nem exceções e representa uma conquista da consciência jurídica que obedece al
exigências de justiça, que somente os regimes totalitários os têm negado.

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE:

Busca esse princípio proibir intervenções desnecessárias e principalmente excessivas. Ele


exige que se faça uma ponderação entre a lesão, ou perigo de lesão, que o bem sofreu e a lesão que
o indivíduo que cometeu o delito sofrerá diante da sanção. Toda vez que, nessa relação, houver um
desequilíbrio acentuado, estabelece-se, em consequência, uma inaceitável desproporção. Uma pena
desproporcional representaria uma clara violação à dignidade do homem e uma ofensa a vigência
formal e material do Estado de Direito.

O Princípio da proporcionalidade visa atingir tanto o poder legislativo, no momento que este
estiver estabelecendo as penas em abstrato, quanto o juiz, quando estiver impondo ao autor do delito
a sua sanção. Segundo entendimento de Greco (2009), o princípio da proporcionalidade somente
conseguiu se firmar durante o período Iluminista principalmente com a obra intitulada Dos Delitos e
das Penas, de autoria de Beccaria. Nesta obra Beccaria (2007, p.107) conclui que, "Para não ser um
ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser, de modo essencial, pública, pronta, necessária, a
menor das penas aplicável nas circunstâncias referidas, proporcionada ao delito e determinada pela
lei".

Em conformidade com este princípio, deve haver sempre uma medida de justo equilíbrio
entre o legislador (medida abstrata) e o juiz (medida concreta), entre a gravidade do fato praticado e
a sanção imposta. O Superior Tribunal de Justiça acata o princípio da insignificância, com o
fundamento do princípio da proporcionalidade, que deve existir entre a conduta delitiva e a pena
imposta.

Para Damásio (2009, p. 52), o princípio da proporcionalidade também conhecido como


princípio da proibição de excesso, significa que a pena deve ser medida pela culpabilidade do autor,
ou seja, quando desrespeitado tal princípio é afastada a finalidade do Direito Penal, onde este é
sustentado na proporcionalidade, visto que o Direito deve garantir os princípios fundamentais do
homem, sendo um direito mínimo e garantista.

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL:

Para Toledo (1994, p. 131), "se o tipo delitivo é um modelo de conduta proibida, não é
possível interpretá-lo, em certas situações aparentes, como se estivesse também alcançando
condutas lícitas, isto é, socialmente aceitas e adequadas". De acordo com essa teoria, a medida que
uma conduta praticada é socialmente adequada, não poderá ela constituir um delito e, portanto, não
se revestirá de tipicidade.

A ação socialmente adequada exclui desde logo o tipo, pois se realiza dentro do campo de
aceitação da sociedade, ou seja, no âmbito da normalidade social. Do exposto podemos concluir que
o princípio da adequação social é aplicável a comportamentos que mesmo sendo compatíveis com a
descrição típica formal, por serem materialmente irrelevantes, são considerados atípicos.

O Princípio da adequação social e da insignificância possuem muitas semelhanças,


chegando mesmo a serem confundidos.

Estas distinções facilitam a visualização do campo de incidência de cada um deles. Um dos


exemplos que se pode citar é o da contravenção do jogo do bicho, tipificada no artigo 50 da lei de
contravenções penais, mas que, ante a adequação social, que seria em tese a jogatina realizada
pela população, e a falta de reprovabilidade da sociedade, vem sendo visto em vários de nossos
tribunais, com base no princípio da adequação social, não mais como contravenção penal.

Importante também destacar que tal princípio não tem força para revogar tipos penais em
que a sociedade não mais os considera como crime. Conforme cita GRECO (2009, p. 58) "uma lei só
pode ser revogada por outra, conforme determina o caput do art. 20 da Lei de Introdução ao Código
Civil".

Portanto, extrai-se do princípio em estudo que somente deve-se punir, mesmo que o fato
seja considerado crime ou contravenção e ainda esteja inserido no Código Penal, aquilo que é
reprovável e que a sociedade não aceita. Assim, deve o legislador, ao editar ou criar uma lei, ter
sensibilidade para diferenciar as condutas dos agentes que são socialmente aceitas pela sociedade
e aquelas que são reprováveis e merecem a interferência do ordenamento jurídico

CRITÉRIOS PARA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:

A despeito de não existir conceito legal para o principio da insignificância, doutrinadores e


tribunais têm alcançado êxito em sua formulação, restando claro que o mesmo se traduz pela prática
de ilícito penal típica, entretanto, considerando a pífia repercussão ou nenhuma reprovabilidade,
torna- se desnecessária a aplicação da lei penal.

Seguindo esse raciocínio, infere-se que a aplicação do princípio da insignificância é


importante no sentido de desvincular a atividade jurisdicional dos crimes de bagatela, para que
possam se ater a outras infrações penais realmente nocivas e de maior relevo social. Diante da
aplicação do princípio da insignificância, evita-se o acúmulo desnecessário de ações penais ou
procedimentos nos Juizados Especiais.

O STF indica os critérios para que sejam aferidos os crimes que deveriam ser acolhidos pelo
princípio da insignificância, a saber: mínima ofensividade da conduta do agente, nenhuma
periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento do agente
e a inexpressividade da lesão jurídica provocada. Dos julgados do STF e STJ extraem-se ainda as
seguintes regras, que não são precisas e nem duradoras, sobre o princípio da insignificância:

A jurisprudência pátria tem se posicionado nesse sentido: "O reconhecimento do crime de


bagatela exige, em cada caso, análise aprofundada do desvalor da conduta e do desvalor do dano,
para apurar-se, em concreto, a irrelevância penal de cada fato". (TACRIM SPAC - Rel. Haroldo Luz,
RJD 24/101).

O índice de desvalor é a análise do grau de reprovabilidade da conduta, em confronto com a


importância do bem jurídico violado e a gravidade do dano causado. Havendo inexpressiva
reprovabilidade, há que ser aplicado o princípio da insignificância.

A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFIC NCIA EM CADA CASO CONCRETO:

A despeito das considerações supracitadas, o princípio da insignificância deve ser analisado


individualmente, em cada caso concreto apresentado ao Estado-Juiz. As circunstâncias e detalhes e
cada evento são determinantes para abrir azo ao julgador manifestar-se no sentido de aplicar ou não
o princípio em estudo.

O magistrado deverá analisar de forma pormenorizada os critérios para sua aplicação, a


saber, se existe a mínima ofensividade da conduta do agente, nenhuma periculosidade social da
ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento do agente e a inexpressividade da
lesão jurídica provocada. Presentes estes critérios, deverá ainda, analisar as condições econômicas
e o valor que a vítima atribui ao bem violado. A aplicação do princípio em estudo é importante, no
sentido em que a sociedade não sinta os efeitos da impunidade para as pessoas que praticam
pequenos ilícitos penais.

POSIÇÕES JURISPRUDENCIAIS:

A finalidade do Direito penal é proteger os bens essenciais ao convívio em sociedade,


devendo o legislador fazer sua seleção, usando como primeira fonte de pesquisa a Constituição
Federal. O que se pretende com a aplicação do princípio da insignificância não é a impunidade do
agressor, mas o mínimo de coerência no momento de julgar o caso concreto. Nesse norte,
depreende-se que os tribunais pátrios têm utilizado o princípio da insignificância de modo acertado,
conforme seu objetivo maior.

2.8 - PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL DA CONDUTA

O princípio da adequação social prevê que a conduta deve ser capaz de afrontar o
sentimento social de justiça, caso a conduta não cause na população esse sentimento, ela seria
aceita e não poderia tal conduta ensejar uma reprimenda penal.

Concebido por Hans Welzel, o princípio da adequação social preconiza que não se pode
reputar criminosa uma conduta tolerada pela sociedade ainda que se enquadre em uma descrição
típica. Trata-se de condutas, que embora formalmente típicas, são exemplos: a circuncisão práticada
na religião judaíca, a tatuagem, o furo na orelha para colocação de brinco e etc.

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