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Faculdade MATER DEI – PATO BRANCO – PARANÁ – Prof.

Cléber Rigailo
Atenção: O material presente é um resumo criado para o acadêmico melhor acompanhar as aulas, não
exime o estudo de outras obras indicadas e nem pode ser utilizado para fins de pesquisa.
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Aula 02 – Criminologia Pré-científica, Clássica (Tradicional)
Professor Cléber Rigailo
Disciplina: Criminologia – 2º Período

1. Introdução.

O crime é tão antigo quanto o ser humano, assim que os primeiros grupos foram
formados os primeiros crimes ocorreram, seja pela luta pelo alimento ou pelo território, essa
característica pertence à natureza humana.
Da mesma forma, a Criminologia não tem sua origem em tempos recentes, vários
estudos isolados foram realizados muitos anos antes da idealização de uma ciência com um
objeto delimitado. O tema “crime” ou “criminoso” sempre despertou interesse dentre os
estudiosos.
Neste período, chamado por GOMES e MOLINA, de Pré-científico estão grande
parte das bases utilizadas para todas as outras correntes mais tarde desenvolvidas.
Pode-se delimitar tal período como tudo que antecedeu o surgimento da Escola
Positiva, que se deu antes da última terça parte do século XIX, isto é, antes de 1870.
A qualificação de pré-científica para a escola em estudo, e de científica para a
Escola Positiva, se deve à adoção de um método, principalmente pelo indutivo, por escolas
posteriores como a Escola Positiva.
Grande parte da doutrina denomina o período em estudo de Criminologia Clássica
ou Tradicional, nome que será adotado daqui em diante.
Antes de Lombroso, já existiam várias teorias que tentavam explicar a criminalidade
ou certos fenômenos dentro desta. Alguns tentavam explicar tais fenômenos a partir de
ideais trazidos pelo Iluminismo, se valendo de abstrações e do método dedutivo; e outros,
agindo empiricamente, analisando, dentro de suas especialidades, determinados
fenômenos. Interessante neste ponto, que essa divisão pode ser ainda trazida para os dias
de hoje.

2. Escola Clássica

GOMES e MOLINA optaram por dividir a corrente da Criminologia Clássica em duas


vertentes, uma mais abstrata e racional, e outra, mais empírica e fragmentada.

2.1 A Escola Clássica na visão abstrata

Desenvolveu-se a partir dos ideais humanistas apresentados pelo Iluminismo, tendo


uma forte influência Jusnaturalista1.
A idéia de crime nesse período, segundo GOMES e MOLINA, se dava como “fato
individual, isolado, como mera infração à lei: é a contradição com a norma jurídica que dá
sentido ao delito, sem que seja necessária uma referência à personalidade do autor (mero

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O Direito Natural é o direito pressuposto pela intuição do que é o correto, dos princípios elementares
do "justo". A idéia de Direito Natural é, assim, de alta indagação filosófica, constituindo-se o
Jusnaturalismo em uma tendência que visualiza o direito como um valor perene, imutável e válido
universalmente. Em outras palavras, seria o direito válido em todos os lugares e em todos os
tempos, para todos os povos, correspondendo à clássica fórmula "direitos do homem e do
cidadão", ou em outras palavras, "direitos humanos". O Direito Natural teológico traduz-se na
concepção medieval, com a notória influência da Igreja Católica, sobretudo da filosofia tomista.
Persiste, aqui, a noção de um direito imutável e superior, de origem divina, que é revelado aos
homens através da Santa Madre Igreja.
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sujeito ativo do fato) ou à realidade social, para compreendê-lo. O decisivo é mesmo o fato,
não o autor. A determinação sempre justa da lei, igual para todos e acertada, é infringida
pelo delinqüente em uma decisão livre e soberana. Falta na Escola Clássica uma
preocupação inequivocamente etiológica (preocupação em indagar as ‘causas’ do
comportamento criminoso), já que sua premissa jusnaturalista a conduz a atribuir a origem
do ato delitivo a uma decisão ‘livre’ do seu autor, incompatível com a existência de outros
fatores ou causas que pudessem influir no comportamento” (p. 160).
As três características principais desse período são, segundo VOLB, citado em
GOMES e MOLINA:
1 – o homem como ser racional, igual e livre;
2 – o Pacto Social como fundamento da sociedade civil e do Poder instituído;
3 – a concepção utilitarista do castigo.
Percebe-se a permanência da confusão entre as idéias de Direito Penal e de
Criminologia.

2.2 A Escola Clássica na visão empírica

Comportando as mesmas influências do Jusnaturalismo e do Iluminismo, descritos


anteriormente, esta divisão da Escola Clássica pode ser formada em razão de algumas
outras características específicas que aproximam seus componentes. Uma maior atenção
às “ciências naturais” produziu nos participantes deste momento histórico uma vontade
observativa, que acabou introduzindo o método empírico-dedutivo, o que os autores
baseavam sua produção científica na observação do criminoso e de seu meio. Nota-se que
neste ponto se encontra a postura que influenciou a corrente seguinte da Criminologia, ou
seja, a Positiva.
Essa postura pode ser observada em vários autores desse período, que para fins
didáticos, foram divididos em grupos, tendo como determinantes o tipo de suas abordagens
e o conteúdo de suas pesquisas.

2.2.1 – A influência da ciência penitenciária

Principais doutrinadores: Jeremy Bentham (1748-1832) e John Howard (1726-1790).


John Howard publica em 1777 o relatório: “A situação das prisões na Inglaterra e no país de
Gales”.
Analisaram a situação penitenciária européia de seu tempo, sugerindo reformas
legais e políticas públicas na atuação quanto ao preso e a prisão.
Especificamente sobre Bentham cabe lembrar suas idéias sobre o panóptico. Uma
disposição circular de cárceres vigiados por uma torre central.

2.2.2 – Os Fisionomistas

Principais doutrinadores: Della Porta (1535-1616) e Lavater (1741-1801). Johann


Kaspar Lavater, pastor suíço, descreveu o caráter humano através dos traços fisionômicos.
Preocuparam-se com o estudo da aparência externa do criminoso, levantando seus
dados através de visitas às prisões e a partir de necropsias realizadas.
Para Lavater, “tudo quanto sucede na alma do homem se manifesta em seu rosto:
sua beleza ou feiúra correspondem com a bondade ou a maldade daquela” (GOMES e
MOLINA, P. 163). Lavater considerava que a partir da observação e medição de certas
partes da fisionomia do indivíduo as potencialidades deste poderiam ser observadas: “A vida
intelectual podia ser observada na fronte (testa); a moral e sensitiva nos olhos e no nariz; a
animal e a vegetativa no mento (maxilar inferior)”. Ainda para o autor, um claro precursor da
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idéia de criminoso nato lombrosiana, Lavater apresenta seu “homem delinqüente de
maldade natural”: “tem o nariz oblíquo em relação com o rosto, que é disforme, pequeno e
amarelado; não tem barba pontiaguda; tem a palavra negligente; os ombros cansados e
pontiagudos; os olhos grandes e ferozes, brilhantes, sempre iracundos (coléricos), as
pálpebras abertas, ao redor dos olhos pequenas manchas amarelas e, dentro, pequenos
grãos de sangue brilhante como fogo, envolvidos por outros brancos, círculos de um
vermelho sombrio rodeiam a pupila, olhos brilhantes e pérfidos e uma lágrima colocada nos
ângulos interiores; as sobrancelhas rudes, as pálpebras direitas, mirada feroz e às vezes
atravessada” (GOMES e MOLINA, P. 163).
Para exemplificar essa postura vale lembrar do “Édito de Valério”2: “quando se tem
dúvida entre dois presumidos culpados, condena-se o mais feio”.

2.2.3 – A Frenologia

Principais doutrinadores: Franz Joseph Gall (1758-1828), Spurzhein (1776-1832),


Lauvergner (1797-1859: francês), Cubí Y Soler (1801-1875).
Segundo o Dicionário Aurélio, Frenologia é a teoria que estuda o caráter e as
funções intelectuais humanas, baseando-se na conformação do crânio (frenologismo).
A frenologia é precursora da Neurofisiologia e da Neuropsiquiatria. Gall, em 1810,
determinava o caráter do indivíduo através da estrutura externa do crânio (craneoscopia)3 e
outras disfunções cerebrais, pensava que era possível localizar no cérebro do criminoso
pontos responsáveis pelo instinto homicida, pelo patrimônio e pela moral. Cubí y Soler,
utilizou em 1843, três décadas antes de Lombroso, a expressão criminoso nato.

2.2.4 – A Psiquiatria

Principais doutrinadores: Philippe H. Pinel (1745-1826), Esquirol (1772-1840),


Morel (1809-1873).
A psiquiatria, fundada pelo médico francês Philippe Pinel, separou os delinqüentes
dos doentes mentais. Outros psiquiatras sustentaram a existência de uma loucura moral
(Morel – 1857). Esquirol estudou as manias, como loucuras parciais ou setoriais.
Esses doutrinadores tiveram que lutar contra a concepção da época, que
influenciada pela Igreja, via as pessoas com transtornos psicológicos como incuráveis
possuidoras de uma personalidade demoníaca.

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"El emperador Valerio del Imperio Romano de Oriente, en su código de Justicia establecía la
siguiente norma, cuando entre dos presuntos asesinos tengáis que decidir quien es el culpable y no
sepáis claro quien es, decidiros por el más feo, porque la maldad y la bondad están unidas a la
fealdad y la belleza”
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Frenologia é o estudo da estrutura do crânio de modo a determinar o caráter das pessoas e a sua
capacidade mental. Esta pseudociência baseia-se na falsa assunção de que as faculdades mentais
estão localizadas em "órgãos" cerebrais na superfície deste que podem ser detectados por inspeção
visual do crânio. O físico vienense Franz-Joseph Gall (1758-1828) afirmou existirem 26 "órgãos" na
superfície do cérebro que afetam o contorno do crânio, incluindo um "órgão da morte" presente em
assassinos. Gall era advogado do principio "use-o ou deixe-o". Os órgãos do cérebro que eram
usados tornavam-se maiores e os não usados encolhiam, fazendo o crânio subir ou descer com o
desenvolvimento do órgão. Estes altos e baixos refletiam, de acordo com Gall, áreas especificas do
cérebro que determinam as funções emocionais e intelectuais de uma pessoa. Gall chamou a este
estudo "cranioscopia".
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2.2.5 – A Antropologia

Principais doutrinadores: Broca (1824-1880), Nicholson (1845-1873), Lucas (1805-


1885) e outros.
A antropologia, parte da análise de crânios de assassinos (Paul Broca – fundador da
Escola de Antropologia da Faculdade de Medicina de Paris). Lucas desenvolveu o conceito
de atavismo. Charles Robert Darwin, ao publicar, em 1859 a obra “Origem das Espécies”,
influenciou grandemente a Escola Positivista, com explicações sobre o atavismo e sobre a
evolução.

2.2.6 – A Estatística Moral ou a Escola Cartográfica

Principais doutrinadores: Jacques Quetelet (1796-1874), Guerry (1802-1866).


Precursores do positivismo sociológico e do método estatístico. Criou-se a idéia de
que o crime era um fenômeno normal, regido por leis naturais, como qualquer outro
acontecimento.
GOMES e MOLINA: “O delito, em terceiro lugar, é um fenômeno normal, isto é,
inevitável, constante, regular e necessário. Cada sociedade tem sua taxa de criminalidade
anual tão inexorável como a taxa de nascimentos ou falecimentos” (p. 170). Guerry foi o
criador da idéia de que existe um “volume constante da criminalidade em um país” (p. 172).
Mas tal constatação logo foi rechaçada devido a outros dados estatísticos levantados, e a
partir dessa ótica dinâmica do comportamento criminal, foi possível a percepção e a
influência de outros acontecimentos históricos no volume da criminalidade como guerras,
modificação dos preços dos produtos de subsistência e outras crises econômicas e sociais.
Observações como a de Öttingen “que ressaltou o movimento da criminalidade e sua
conexão com a guerra, com o preço de certos produtos, a época do ano, o clima, a profissão
etc. De acordo com seu juízo, as estatísticas comprovam que em tempos de crise aumenta
o delito de roubo e, de maneira especial, os delitos cometidos por mulheres e crianças;
enquanto em tempos de prosperidade se incrementaria a criminalidade violenta e agressiva”
(GOMES e MOLINA, p. 173).

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