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Histórico da criminologia

Parte considerável da doutrina defende que a criminologia como ciência autônoma teve seu
primeiro registro com a publicação de “o homem delinquente” de Cesare Lombroso, em 1826.

Outros apontam que o “programa de direito criminal” de Francesco Carrara, apesar de não ter
empregado o termo criminologia, traçou vigas mestras para essa ciência.

Criminologia pré-científica
Como vimos, há divergência quanto ao marco do estudo científico da criminologia. Assim,
iremos considerar como fase pré-científica o período anterior ao início da Escola Clássica.

Desde a antiguidade, na época babilônica, há relatos de estudos sobre crimes e criminosos,


bem como os critérios utilizados para aplicação da pena. O principal marco é o Código de
Hamurabi, que pregava um julgamento distinto a depender da classe do infrator. Quanto mais
rico mais rigoroso deveria ser o julgamento.

Há, ainda, relatos mais antigos, como o de Confúcio, pensador chinês, que se preocupava com
o emprego e a finalidade das penas aos delitos cometidos.

Na Grécia e no período Romano, há contorno da criminologia como campo de estudo. A


exemplo temos:
- Protágoras: defendia uma pena com caráter correcional e intimidatório;
- Aristóteles: falava da correlação entre o crime e sua causas econômicas;
- Platão: pregava que deveria ensinar os criminosos a não serem reincidentes através da
instrução e formação que precisavam.

Nesse período também a igreja possuía grande influência. Assim, muitas vezes aqueles que
cometiam crimes eram considerados possuídos pelo demônio.

Ressaltamos que a criminologia teve influência de outros ramos do estudo, como a filosofia e a
medicina.

Escola Clássica
Surgiu no século XVIII, na Europa, no período da Revolução Francesa. No campo criminológico
o iluminismo criticava a legislação penal da época, defendendo uma individualização da pena e
abolição de penas cruéis.

Nesse mesmo período Cesare Bonesana lançava a obra dos delitos e das penas, que além de
criticar o sistema penal, apresentava alguns meios de prevenção como a iluminação da cidade
e distribuição da polícia. O Marquês de Beccaria é considerado o principal autor do período
iluminista no campo penal.
Além de Beccaria, há grande relevância nessa escola Francesco Carrara. Em seu “programa
de Direito Criminal” defendia a abolição da pena de morte. Além disso, para Carrara o crime
era entendido como ente jurídico, constituído pela força física e moral.

Na escola clássica podemos destacar outros nomes:


PELEGRINO ROSSI: jurista italiano, defendia que a pena tem um caráter de retribuição do mal
e restabelecimento da paz social.

VON FEUERBACH: cunhou o princípio da legalidade, qual seja, “nullum crimen, nulla peona
sine lege”. É um dos precursores da teoria do delito, sustentava que a finalidade da pena era a
prevenção, além da coação psicológica exercida pelo eventual criminoso pelo medo de ser
apenado.

A Escola Clássica possui como pilares de sua estrutura o jusnaturalismo e o contratualismo.

O homem teria direitos inerentes à sua natureza, ainda que não fossem reconhecidos pelo
Estado. Ademais haveria um pacto social entre o Estado e os cidadãos, em que se abriria mão
de parcela de seus direitos individuais em prol da segurança coletiva.

Resumindo: para a escola clássica o crime era um ente jurídico, uma infração ao pacto social.
O delinquente era um ser normal, dotado de livre arbítrio e que optava pelo mal. A pena era
proporcional ao crime, e possuía a finalidade de retribuição. Utilizava o método lógico-dedutivo
(partia de premissas para compreender os fatos).

Escola Cartográfica
Foi desenvolvida pelo sociólogo Lambert Adolphe Quetelet. Por possuir formação na área da
matemática e estatística, procurou agregar seus conhecimentos no campo da sociologia.

Defendia-se, à época, que o crime se fundava na maldade do criminoso. Para Quetelet a


explicação era outra: fatores sociais e situacionais exerceriam influência sobre o “homem
médio”, levando-o a cometer ou não o crime.

Através de análises estatísticas e demográficas compreendeu que as causas do crime estavam


no meio social e situacional, que variavam conforme a fisiologia e biologia do criminoso. Em
sua obra “Física Social” desenvolveu 3 aspectos importantes: o crime é um fenômeno social;
os crimes são cometidos ano a ano com certa precisão; existem condicionantes como miséria,
analfabetismo.

Formulou, ainda, a teoria das leis térmicas. No inverno seriam cometidos mais crimes contra o
patrimônio; no verão os crimes seriam contra a pessoa; e na primavera haveria crimes contra a
liberdade sexual.

Ressalte-se que, embora fosse defensor das estatísticas oficiais, Quetelet percebeu que uma
quantidade razoável de crimes não estava sendo comunicada aos órgãos estatais. Muitas
vezes a vítima tem vergonha do que aconteceu (crimes sexuais), possui medo de represálias
ou simplesmente acha inútil pelo baixo valor do bem furtado. A essa não comunicação
chamamos de cifra negra.

Escola Positiva
Subsequente à Escola Clássica, surgiu em meados do século XIX e apresentou fundo científico
com a publicação de dados estatísticos sobre a criminalidade na França.

A Escola Clássica adotava o método dedutivo e abstrato, que foi abandonado pela
Escola positiva, que empregava o método indutivo (partia dos fatos para uma verdade
geral) e empírico.

A Escola Positiva ampliou o objeto de estudo da Criminologia para o crime e o criminoso.


Nesse ponto de vista, o delito era um fato humano e social, sendo fundamental a compreensão
dos motivos que levaram o indivíduo à prática do crime.
O delinquente era considerado uma espécie de doente, preso à conduta criminosa, e a pena
era um instrumento de defesa social.

Três nomes são apontados como principais defensores da Escola Positiva: CESARE
LOMBROSO (médico), RAFAEL GARÓFALO (jurista) e ENRICO FERRI (sociólogo).

Lombroso baseava seu estudo na análise da antropometria (medidas humanas). Desenvolveu


modelos de criminosos que poderiam ser identificados de acordo com traços físicos, chegando
a seguinte conclusão:

1- criminosos são seres natos (mal formados) e apresentam características mongolóides e


africanóides;

2- o delinquente é um ser atávico (homem menos civilizado e preso ao gene do crime).

Para Lombroso os criminosos possuíam a seguinte classificação:

- criminoso nato ou selvagem, determinado por traços físicos;


- criminoso louco, que possui perturbação mental ligada à delinquência;
- criminoso de ocasião, que seriam aqueles que possuem predisposição genética, mas
dependem de uma circunstância para cometer o delito;
- criminoso de paixão, levado à prática delitiva por impulso, quando confrontados com questões
passionais.

Garófalo, primeiro estudioso a usar o termo criminologia, defendia que o delito era uma
anomalia moral ou psíquica, além de compartilhar os ensinamentos de Lombroso a respeito de
traços físicos distintos. Trouxe uma importante contribuição para a esfera penal: a medida de
segurança.
Ferri entendia que o delito não se limitava a fatores antropológicos, pois havia outros meios a
influenciar no cometimento do crime, como o clima, temperatura, densidade populacional,
família, religião, miserabilidade. Foi autor da “Sociologia Criminal”, que defendia menos justiça
criminal e mais justiça social.

Zaffaroni, citando Ferri, afirma que se a periculosidade era uma característica do agente, não
era necessário o cometimento do crime, já que outros signos podiam atestar essa
característica. O positivismo trouxe consigo leis de periculosidade sem delito em vários países
da Europa, que serviam para liberar a seletividade policial.

Escola Deolítica Criminal ou Moderna Alemã (Von Lizst,


Adolphe Prins e Von Hammel)
Essa escola trouxe os seguintes postulados:

- método indutivo-experimental (parte dos fatos para o geral);


- distinção entre imputáveis e inimputáveis (pena para os “normais” e medida de
segurança para os perigosos);
- o crime era um fenômeno humano-social e um fato jurídico;
- função da pena era uma prevenção especial.

Terza Scoula
Surgiu no início do século XX, mesclando os ideais clássicos com os ideais positivistas, como o
próprio nome deixa a sugerir: uma “terceira escola”. Tem como principais expoentes Bernardino
Alimena, Giuseppe Impallomeni e Manuel Carnevale. Sustentavam as seguintes premissas:

• O crime era um fenômeno individual e social;


• A pena se fundamenta com base no determinismo e na responsabilidade moral do
criminoso, o que gera a distinção entre imputáveis e inimputáveis;
• Aos imputáveis, a aplicação de pena; aos inimputáveis, as medidas de segurança;
• A pena tem por finalidade a defesa social;
• O controle da criminalidade depende de uma reforma social;
• O direito penal possui autonomia científica, de modo que não pode ser absorvido pelos
estudos da sociologia criminal.

Escola de Lyon
A Escola de Lyon parte de duas premissas para a explicação do fenômeno criminoso:
predisposição individual e meio social. Em outras palavras, o criminoso possui uma
predisposição ao delito; contudo essa característica é fomentada pelo meio social em que vive
e pelas interações que pratica.

Defende a importância do meio social, isto é, reconhece um fundo patológico ou estado


mórbido individual na delinquência. Inclusive, Alexandre Lacassagne preconiza que o
delinquente apresenta mais anomalias físicas e psíquicas que o não delinquente, mas uma e
outras seriam consequência do meio social.

Escola Técnico-Jurídica
Essa escola tem como principais expoentes Arturo Rocco, Karl Binding, Vincenzo Manzini,
Eduardo Massari, Giacomo Delitala e Ottorino Vannini. Ela nasceu como uma reação à Escola
Positiva, que se apegava excessivamente a questões antropológicas e sociológicas,
prejudicando a análise jurídica.

Suas ideias em muito se aproximam das teses traçadas pela Escola de Lyon, que entendia o
crime como predisposição individual aliada ao meio social. Contudo o marco distintivo entre as
duas escolas reside no fato de a Escola Técnico-Jurídica trabalhar com a perspectiva de
reação ao delito, ou seja, a aplicação de uma pena, a qual deve se revestir de alguma
finalidade – prevenção geral e prevenção especial.

Escola Correcionalista
Surgiu na Alemanha, com a publicação da obra “Comentatio na poena malum”, publicada em
1839, mas teve maior repercussão na Espanha, a partir da tradução da obra para o espanhol.

Entre os principais expoentes podemos elencar: Pedro Dorado Montero, Concepción Arenal,
Giner de Los Ríos, Romero Gíron, Félix de Aramburu y Zuloaga, Rafael Salilas e Luis Jiménez
de Asúa.

A Escola Correcionalista idealizou a piedade e o altruísmo, defendendo a pena como correção


moral. O delinquente é portador de uma patologia de desvio social, sendo certo que a pena
funcionaria como remédio social.

Criminologia no Brasil
João Vieira de Araújo: com sua obra “ensaios sobre o direito penal” foi o primeiro a trazer a
criminologia para o Brasil em 1884.

Raimundo Nina Rodrigues: entendia que a raça negra no Brasil era a responsável pela
inferioridade do povo brasileiro. Seguia os ensinamentos de Lombroso, sendo adepto da
inferioridade biológica.

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