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“Criminologia é a ciência autônoma, empírica e

interdisciplinar, que tem por objeto o estudo do crime, do


criminoso, da vítima e do controle social da conduta
criminosa, com o escopo de prevenção e controle da
criminalidade.” (Oliveira, 2018).
Por ser uma ciência autônoma a criminologia em função,
método e objeto próprios, que dão validade e confiabilidade ao
seu estudo.
Política criminal: “Ciência ou arte de selecionar os bens (ou
direitos), que devem ser tutelados jurídica e penalmente, e
escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que
iniludivelmente implica a crítica de valores e caminhos já
eleitos.” (Zaffaroni, 2004).
Política criminal eficientista: apostam na funcionalidade
do direito penal, que seria capaz ter impacto social e
proteger a comunidade.
Política criminal abolicionista: geralmente relacionadas
à ideia de que a pena é um mal em si, pior que a
conduta criminosa, de forma que não deve existir
punição para a prática de condutas criminosas.
Política criminal de direito penal mínimo: há uma maior
consideração para aqueles que praticam condutas
criminosas, a ponto de serem dadas à eles certas
garantias e direitos, muitas vezes constitucionais.
A política criminal possui função orientadora na assunção de
medidas penais futuras e, também, função crítica, com
valoração das decisões tomadas pelo poder político.
Dogmática jurídico-penal ou direito penal: o estudo,
intelecção, interpretação, sistematização e ordenação das
normas penais vigentes, que preveem delitos e cominam
sanções, que foram confeccionadas a partir das orientações e
sistemas propostos pela política criminal, a aplicação e a
execução das sanções impostas.
Método e objeto da criminologia
A criminologia possui os seguintes métodos: empirismo e
interdisplinaridade.
Empirismo: a partir da observação do fato, pretende
conhecer a realidade para explica-la. Aproxima-se dos
fenômenos delitivos sem mediações, buscando
informação direta
Interdisciplinaridade: a criminologia se relaciona com
diversas e distintas áreas do conhecimento. É marcada
por dialogar com diferentes orientações ao buscar
compreender o delito, o delinquente, a vítima e o
controle social.
A criminologia tem os seguintes objetos de estudo: delito,
delinquente, vítima e controle social.
Delito: é um fenômeno humano, cultural e social. Não
há consenso sobre um delito universal.
Delinquente: indagar por que determinadas pessoas
praticam determinadas condutas que são reconhecidas
como delitos e porque existe uma punição.
Vítima: estudo sobre as pessoas que sofrem crimes,
como, por exemplo, de fatores de risco que facilitam a
vitimização, relações mantidas com o delinquente,
medidas preventivas adotadas, denúncias oferecidas,
incremento ou diminuição do medo e atuação do
sistema penal em prol das vítimas.
Controle social: como é articulada a resposta oficial em
face de uma conduta definida como criminosa. O
controle social pode ser formal (previstos em lei) ou
informal (formas não necessariamente legais).
Sistema penal faz referência aos diversos atores que atuam
com o crime, cada um deles com uma cosmovisão de delito
particularizada, e como eles reagem a um comportamento
definido como delito.
Direito penal subterrâneo é uma expressão utilizada para
fazer referência à ação de agências executivas de controle à
margem da lei e com certa aderência de outros players, como
a milícia, por exemplo.
Cifra oculta da realidade ou cifra negra da realidade são
expressões utilizadas para fazer referência aos diversos
crimes que aconteceram, mas cuja conduta não foi
devidamente apurada e punida pelo sistema de justiça
(sentença condenatória com trânsito em julgado).
Nessa cifra oculta entram crimes que não são
reportados à polícia, inquéritos policiais que não geram
denúncias, denúncias que não são recebidas ou geram
condenações e sentenças condenatórias que não chegam
a transitar em julgado.
Attrition rates é uma expressão utilizada para fazer referência
aos delitos que são conhecidos pelo sistema penal, mas não
foram condenados pelo sistema.

História da criminologia
Período pré-científico: marcado por textos esparsos da
antiguidade de autores como Sócrates (importância da
ressocialização), Hipócrates (premissas de inimputabilidade
penal ao insano mental) e Platão (fatos econômicos geram
criminalidade).
Ausência de estudo sistematizado do crime e do
criminoso.
Adoção de explicações sobrenaturais ou religiosas para o
delito, como o pecado, por exemplo.
Demonismo personificado pelo criminoso.
É possível dividir os estudos do período pré-científico em
02 enfoques: o criminológico clássico (filosofia,
iluminismo, reformadores e direito penal clássico) e o
empírico (investigações sobre o crime, fragmentada e
com fontes diversificadas).
Idade Média: na Europa feudal a religião dominante era
o cristianismo, com poder político da igreja. Delito era
pecado e o delinquente o pecador.
Ordálios eram admitidos na produção de provas.
Santos Agostinho: pena é medida de defesa social,
ela intimida e promove a ressocialização do
delinquente.
São Tomás de Aquino: considerava a pobreza
grande causa do roubo e que deveria ser levada em
consideração as condições de miséria. Ideia votada
a “dar a cada um o que é seu”.
Demonologia: explicação do mal pela existência do
demônio. Existência da natureza e da qualidade
dos demônios. Há adoção da teoria da tentação, o
criminoso era tentado pelo espírito do mal.
Thomas Morus (Utopia, 1516): delito conectava-se a
vários motivos, mas destacam-se a desorganização
social e a pobre. É dele a proposta de que os poderes
públicos arbitrassem medidas para que delinquentes
trabalhassem para as vítimas, para compensar o dano.
Fisionomistas (séculos XVII e XVIII): estudavam
aparência externa dos delinquentes buscando verificar
as características físicas de matiz criminosa.
Cranioscopia: medição da cabeça e a forma externa do
crânio determina o caráter e a personalidade.
Frenologia: análise interna da mente para identificar a
localização física de cada função anímica do cérebro. Os
atuais estudos de neurofisiologia e neuropsiquiatria se
desenvolveram a partir da frenologia.
Ciência penitenciária (século XVIII): análise, descrição e
denuncia da realidade penitenciária europeia. Reforma
do delinquente deve ser a principal finalidade. John
Howard e Jeremy Bentham.
Psiquiatria (século XVIII): a psiquiatria se desenvolve
como ciência autônoma, a partir de Philippe Pinel,
rompe com o pensamento demonológico e distingue
criminosos de enfermos mentais.
Antropologia: estudos com ênfase no ser humano e na
degeneração presente nos deliquentes.
Escola cartográfica ou estatística moral: delito é
fenômeno social, periódico e relacionado a
determinadores fatores (miséria, analfabetismo, clima e
etc) e que deve ser estudo pelas estatísticas. É dessa
escola que surge o conceito de “homem médio”.
Escola clássica (iluminismo penal, século XVIII): há
superação do pensamento mágico e sobrenatural da
idade médica, que cede espaço para o pensamento
liberal, racionalista e humanista do iluminismo.
Montesquieu (prevenção do delito), Voltaire
(proporcionalidade e legalidade da pena) e Rousseau (má
estruturação do pacto social) são desta época.
Cesar Beccaria e seu livro Dos Delitos e da Penas é
vinculado à escola clássica. Nesse livro, o autor utiliza
um método lógico-abstrato e dedutivo para fundamentar
a responsabilidade penal no livre arbítrio. Há uma
crítica contundente às arbitrariedades da Idade Média.
Período científico: a criminologia se estabelece como uma
ciência autônoma. Os trabalhos de Cesare Lombroso, Enrico
Ferri (delito é fenômeno social determinado por causas
naturais) e Rafaelle Garofalo foram fundamentais para dar
autonomia científica à criminologia.
O positivismo criminológico é a escola de pensamento
que inaugura o período científico.
A obra O Homem Delinquente de Cesare Lombroso é
considerado o marco de nascimento da criminologia,
mas o termo já tinha sido utilizado por Paul Topinard
em 1879.
O século XIX é marcado pelo cientificismo, que possui
as seguintes características: empirismo, método
experimental ou indutivo e verificação prática do crime e
do criminoso.
Há uma passagem do pensamento abstrato (escola
clássica) para o mundo naturalístico e concreto.
Escola positivista: Cesare Lombroso, Enrico Ferri (delito
é fenômeno social determinado por causas naturais) e
Rafaelle Garofalo.
Sociologia criminal: crime como fenômeno social e
fatores ambientais atuam sobre a conduta individual e
conduzem à prática delitiva. Exemplos de autores:
Alexandre Lacassagne, Emile Durkheim e Jean-Gabriel
de Tarde.
Positivismo sociológico: sugere que fatores sociais como
pobreza, pertencimento a subculturas e baixos níveis
educacionais como predisposição para a prática de
crimes. Exemplos de autores: Adolphe Quetelet, Rawson
W. Rawson e Henry Mayhew.
Criminologia socialista (lato sensu): crime decorre da
natureza capitalista da sociedade, que somente iria
diminuir ou erradicar com a instauração do socialismo.
Tem sua base nas teorizações de Karl Marx e Friderich
Engels.
Sociologia criminal norte-americana: depois da primeira
guerra mundial houve um abandono do modelo europeu
e começou-se a seguir orientação de caráter prático e
sociológico (empírico). Influenciada por Sutherland e
Sellin.
Teorias de longo alcance ou grandes teorias são expressões
utilizadas para fazer referência a teorias amplas e abstratas,
demasiadamente especulativas e desconectadas da
observação. Elas fornecem explicações mais amplas e que
facilitam estratégias para compreensão e enfrentamento da
criminalidade. Contudo, a multifatoriedade do delito
inviabiliza que essas teorias forneçam uma explicação
totalizante.
Teorias de médio alcance ou teorias parciais são expressões
utilizadas para se referir a teorias que se ocupam,
principalmente, de uma análise estrutural da sociedade em
que surge o delito. Elas explicam fragmentos do todo, com
conexão empírica e com mais possibilidade de teste das
hipóteses propostas.

Escola Clássica e Positivismo Criminológico


A expressão Escola Clássica foi criada por Enrico Ferri.
Zaffaroni acredita que o que se chama de Escola Clássica não
constitui, de fato, uma corrente ou escola, mas sim um
amontoado de pensamentos, de épocas e países diferentes.
Contudo, prevalece na doutrina a ideia de que existiu sim um
Escola Clássica porque é possível identificar uma unidade
ideológica e metodológica nestes pensamentos.
A unidade ideológica está na busca de dar ao indivíduo
garantias contra o poder punitivo do Estado.
A unidade metodológica está na forma de pesquisa, pois
utilizavam os métodos racionalista, lógico-abstrato e
dedutivo.
O Positivismo Criminológico é a escola de pensamento que
vem logo depois da Escola Clássica e, por isso, se contrapõe à
ela. As diferentes entre as duas correntes de pensamento são
centradas nas respostas aos seguintes problemas:
Em que se funda a responsabilidade penal do
criminoso?
Qual é o conceito de crime?
O criminoso é um homem normal ou anômalo?
Qual é o conceito e os efeitos da pena?
A Escola Clássica adota os seguintes conceitos:
Método: utiliza os métodos dedutivo ou lógico-abstrato.
Crime não é um simples fato, mas um ente jurídico, que
revela uma contradição entre fato e lei.
Fundamento da responsabilidade: se funda na moral e
tem por base o livre-arbítrio.
Fim da pena: pena é retribuição, consequência da livre
ação humana. Deve ser proporcional à gravidade do
crime, uma correspondência quase matemática.
Criminoso: é baseado no princípio do indeterminismo,
ou seja, todos podem praticar crimes.
Não faz parte da Escola Clássica qualquer tipo de
preocupação com o que causa o comportamento criminoso,
ou seja, o que leva uma pessoa a praticar um crime, pois a
Escola Clássica parte do pressuposto jusnaturalista do livre-
arbítrio.
Cesare Beccaria escreveu o livro “Dos Delitos e das Penas” em
1764 e ele faz parte do primeiro período da Escola Clássica,
conhecido como período filosófico. Suas ideias são baseadas
no iluminismo. Em seu livro, Beccaria coloca ênfase na
necessidade de prevenir a prática de delitos e denunciou a
legislação da época, muitas vezes arbitrária na aplicação da
lei e com excessivo punitivismo.
Beccaria adota os seguintes pressupostos no seu
pensamento: contrato social (reserva legal), separação
dos poderes, humanidade das penas, princípio
utilitarista da máxima felicidade para o maior número
de pessoas.
Beccaria adota as seguintes conclusões: legalidade
(poder punitivo contratualmente elaborado e da
separação dos poderes), leis gerais e escritas, juiz
limitado ao silogismo e utilidade do castigo.
O segundo período da Escola Clássica é o período jurídico. Os
pensamentos deste período são fundados no livre arbítrio, de
origem divina, que guia a ação humana. Logo, o crime é uma
violação consciente e voluntária da norma penal.
A pena deve ser proporcional ao crime e por ele
justificada (função retributiva).
A pena é a negação da negação. Isso significa que o
delito nega o bem jurídico protegido pela norma penal e
a pena, por sua vez, nega o delito.
O crime é juridicamente definido.
O positivismo criminológico critica a Escola Clássica e aplica
métodos de orientação científica (empírico-positivista), ao
invés de orientações filosóficas. Segundo o positivismo
criminológico, apenas é possível compreender o crime
entendendo o criminoso.
O ser humano é determinado por sua vontade, que não
é livre, mas resultado de vários fatores.
Há uma crítica aos clássicos de serem os responsáveis
pelo aumento da criminalidade e da reincidência,
especialmente em razão da tipificação e da
criminalização primária.
Outra crítica está na ênfase dada pelos clássicos à
proteção dos direitos dos indivíduos e que isso
ultrapassou os limites e sacrificou os interesses da
coletividade.
O Positivismo Criminológico adota os seguintes conceitos:
Método: positivo empírico (imaginação submetida
constantemente à análise, observação e indução dos
fatos) ou indutivo-experimental (infere-se uma realidade
a partir de dados singulares enumerados).
Crime: conceito natural de delito, é um fenômeno
natural e social.
Fundamento da responsabilidade é social, pois um ente
da própria sociedade deve zelar pela sua manutenção.
Fim da pena: defesa social, inclusive com penas
indeterminadas.
Criminoso: autor do fato, escravo de sua carga
hereditária (determinismo social), com periculosidade.
Cesare Lombroso é vinculado ao positivismo criminológico,
especialmente a fase antropológica. Ele escreveu em 1876 o
livro “O homem delinquente”.
É considerado o pai da criminologia.
Utilizou o método empírico-indutivo ou indutivo-
experimental (realizou 400 autópsias e 6 mil análises de
delinquentes vivos).
Tentou reunir todas as disciplinar voltadas ao estudo da
delinquência.
Defendia que o delito tem origem em múltiplas causas,
inclusive de origem ambiental e social (uso de álcool,
clima, educação, trabalho e etc).
Lombroso defendeu a ideia de um determinismo
biológico, ou seja, o criminoso é um ser atávico que
regride a um estado primitivo e selvagem. O criminoso
nasce assim e fatos exógenos (clima, bebida e etc)
apenas desencadeiam a propulsão interna para o delito.
Lombroso defendeu que é possível diferenciar
criminosos de não criminosos por meios de sinais físicos
e psíquicos.
Lombroso defendeu que o criminoso é um ser atávico
(não humano, degenerado) e que essa variação pode ser
transmitida hereditariamente.
Enrico Ferri é vinculado ao positivismo criminológico,
especialmente a fase sociológica. Ele escreveu, em 1914, o
livro “Sociologia Criminal”.
O livre-arbítrio é uma ilusão metafísica.
O criminoso é uma classe especial, com retorno atávico
às raízes selvagens.
Prova de aumento ou diminuição do crime depende de
outras causas além da aplicação de penas.
Considera fatores criminológicos de ordem antropológica
(orgânica, psíquica, biológico-sociais e etc), física (clima,
natureza, temperatura e etc) e social-cultural.
Delito é fenômenos social determinado por causas
naturais (responsabilidade social).
A punição é uma forma de defesa social (prevenção geral
é mais eficaz que repressão).
Lei da saturação criminal: conceito criado por Ferri em
que ele defende que que uma combinação de condições
do meio físico e social combinadas com as tendências
congênitas e impulsos dos indivíduos define o nível da
criminalidade. Dessa forma, num determinado meio
social e em determinadas condições individuais e
psíquicas comete-se um exato número de delitos, nem
um a mais ou a menos.
Quando há um incremento das taxas de criminalidade,
em determinadas condições especiais, há uma
sobressaturação criminal.
Ferri defende que não há regularidade mecânica nos
fenômenos criminais e que as penas não têm a eficácia
atribuída a elas.
Raffaele Garofalo é vinculado ao positivismo criminológico,
especialmente a fase jurídica. Sua teoria acentua fatores
psicológicos, como personalidade do autor e anomalias
psíquicas.
O crime está no homem e se revela como sua
degeneração.
A partir de formulações jurídicas, define o critério da
temibilidade (ou periculosidade), base da reprovação.
Acreditava na prevenção especial como fim da pena e
métodos de graduação.
Ele pensou na aplicação de medidas de segurança como
outra forma de intervenção penal.
Ele acreditava num conceito de delito natural, que é
aquele que existe em qualquer sociedade humana e
decorre da violação dos sentimentos altruístas
fundamentais de piedade e probidade.
Para ele a repressão deve ser rigorosa.
Ele acreditava numa supremacia radical da ordem
social, que deve eliminar os que não se adaptam à
sociedade e às exigências de convivência. Ele aderiu ao
fascismo e tinha enorme ceticismo à reabilitação.
Lei da adaptação: Ferri acreditava, com base em um
darwinismo social, que havia um processo de adaptação
com a eliminação dos inaptos em um tipo de seleção
social natural, inclusive com a possibilidade de morte
para criminosos natos.
O positivismo criminológico no Brasil chegou por meio da
Faculdade de Direito de Recife, João Vieira de Araújo
ministrava aulas debatendo teorias de Lombroso e escreveu
sobre isso.
Houve uma certa aceitação das teorias da criminologia
positivista, mesmo com as críticas que faziam a
Lombroso e na legitimação do tratamento desigual.
Na época, o quadro social estava tenso, com a libertação
da mão-de-obra escrava, possibilidade de alguns direitos
por negros, debate sobre o status jurídico do negro e sua
cidadania.

Escolas intermediárias.
Apesar da grande discussão entre a Escola Clássica e o
Positivismo Criminológico, existem diversas escolas e modelos
teóricos que também foram criados nessa época e que
representam alternativas aos conceitos e modelos criados
pelas correntes principais.
Escola Eclética, Escola Crítica, Positivismo Crítico ou Terza
Scuol Italiana.
Dualismo metodológico: premissas de etiologia do crime,
da antropologia e da sociologia criminal (escola positiva)
e, apesar de afastar o livre-arbítrio, combina com a
Escola clássica a distinção entre imputáveis (pena) e não
imputáveis (medida de segurança).
O direito penal é substantivo e autônomo.
A responsabilidade moral e baseada no determinismo.
O crime é fenômeno social e individual.
A pena tem caráter aflitivo, para defesa social.
Expoentes: Emmanuele Carnevale, Bernardino Alimena
e Juan Impallomeni.
Escola Técnico-Jurídica Italiana.
Arturo Rocco: o Direito Penal não possui propensão a
ser mero capítulo da história (como aponta o positivismo
criminológico) e do formalismo excessivo (escola
clássica). Há redução do direito penal a uma teoria
jurídica, ou seja, conjunto de princípio, de fatos ou
fenômenos regulados pelo ordenamento jurídico
positivo.
Método dogmático: voltado para o único direito penal
que existe como dado pela experiência, direito penal
positivo. Crime e pena sob aspectos puramente
jurídicos, como fatos disciplinados pelo direito positivo.
Elaboração científica escalonada: fases de interpretação
(exegética teleológica), sistemática e crítica (como o
direito deve ser).
Segundo esta escola, juristas, ao elaborarem o estudo
técnico das leis penais, devem elaborar uma dogmática
guiada por um espírito realista (estudo da instituição
jurídica deve remeter a estudo de sua finalidade e
função social).
Escola Dogmática Jurídico-Penal Alemã.
Binding: foca no estudo do direito em si, excluindo
qualquer consideração metajurídica ou valorativa
(formalismo intranormológico). Para ele, a norma é uma
entidade puramente jurídica e a pena possui apenas
finalidade retributiva, voltada para a sua execução.
Teoria objetiva da interpretação: buscar a vontade da lei,
não a do legislador, mas da vontade do direito que se
exprimiu na proposição jurídica como elemento de um
sistema.
Escola Sociológica Alemã ou Moderna Alemã.
Expoentes: Franz Von Liszt, Adolphe Prins e Von
Hammel.
Olhar sociológico do direito, conservando o estudo
dogmático.
Estudo do delito e da pena em sua realidade sensível.
Sociedade desenvolve e produz criminalidade, ou seja, o
fator social é causa determinante.
Utiliza método indutivo-experimental.
Faz distinção entre imputáveis e inimputáveis.
O crime é um fenômeno humano-social e fato jurídico.
Função da pena é a prevenção especial.
Há uma eliminação/substituição de penas privativas de
curta duração.
Escola da Defesa Social.
Filippo Gramatica: a responsabilidade penal deve
repousar no indivíduo. Deve-se eliminar as causas de
desamparo na sociedade pelo Estado. Não há direito de
castigar, mas de socializar, não com penas, mas com
medidas de defesa social preventiva, terapêutica e
pedagógica. As medidas são em face da personalidade,
não em relação ao dano causado.
Marc Ancel (nova defesa social): máxima
individualização da resposta punitiva para potencializar
a socialização e rechaçar direito penal meramente
retributivo.
Objetivo: prevenção da delinquência e recuperação do
delinquente em contexto de harmonia social.

Modelos teóricos da criminologia: divisão geral


Os modelos teóricos da criminologia podem ser classificados
da seguinte forma.
Teorias bioantropológicas
Lombroso
Endocrinologia
Biotipologia: morfologia, fisiologia e psicologia
Teorias sociológicas
Consenso: a sociedade apenas se mantém por um
consenso entre os viventes e por compartilharem valores
fundamentais, que definem a identidade do sistema e
permitem a coesão social.
Conflito: a coesão e a ordem são fundadas na força. Há
um planejamento de produção de normas criminais
(criminalização primária) voltado para os interesses das
classes dominantes.

Modelos teóricos da criminologia: Escola de Chicago


A Escola de Chicago é uma teoria sociológica do consenso.
A Escola de Chicago utiliza explicações mais ecológicas para
a criminalidade.
Para essa Escola a gênese delitiva (crime) relaciona-se
diretamente com o conglomerado urbano (muitas vezes
desordenado e radial) e favorece a decomposição da
solidariedade das estruturas sociais nas cidades grandes.
Para essa escola a cidade é o centro das investigações
sociológicas.
O método utilizado pela Escola de Chicago é o empírico e
técnicas estatísticas.
O objeto de estudo da Escola de Chicago são as condições
sociais.
Para a Escola de Chicago a desorganização social (ausência
de controle social formal) é diretamente ligada a formação de
áreas de criminalidade.
A Escola de Chicago acreditava que em grandes centros
urbanos há uma perda dos vínculos comunitários
responsáveis por fazer um controle social informal e, a
partir daí, a desorganização social aumenta o índice de
criminalidade.
A Escola de Chicago possui foco na prevenção.
Para a Escola de Chicago a desorganização social tem origem
a impossibilidade de definir modelos e padrões de condutas
coletivas, pois não há limites para um indivíduo expressas
suas inclinações.
Ernes Burgess, estudioso da Escola de Chicago, desenvolveu
a teoria das zonas concêntricas. Segundo essa teoria,
praticadas criminosas podem ser mapeadas de acordo com
uma expansão radial de dentro para fora, em círculos
concêntricos.
Para a Escola de Chicago, o planejamento urbanístico poderia
evitar zonas de degradação e criar meios de estimular
vínculos comunitários, como escolas, associações de bairro e
etc.

Modelos teóricos da criminologia: estrutural


funcionalismo
O estrutural-funcionalismo é uma teoria sociológica do
consenso.
Para as teorias estruturais-funcionalistas, o crime é um
fenômeno social, normal e funcional para a sociedade.
Emile Durkheim: há um conjunto comum de crenças e
sentimentos em uma comunidade, consagrado em suas
normas e que estabelece um padrão de condutas, que produz
coesão social. Essa consciência coletiva difere das
consciências individuais, é difusa em toda a sociedade e
possui características próprias que fazem dela uma realidade
distinta.
Teoria da Anomia: o desvio é fenômeno inevitável,
normal da estrutura social, sendo necessário e útil para
equilíbrio e desenvolvimento sociocultural. Apenas
possui aspecto negativa quando ultrapassa certos
limites. O crime pode preparar e antecipar a moral
futura (renova pautas) e o delinquente introduz um
agente regulador da vida social (estabiliza e reforça o
sentimento coletivo). Para essa teoria, a pena mantém
intacta a coesão social e reforça a consciência coletiva.
Robert K. Merton: crimes ligados ao modelo cultural e, em
razão de apelos de cada sociedade, que sugere metas
culturais, cada indivíduo deve alcançar a estrutura social, daí
decorrendo pressões sociais sobre o comportamento humano.
O crime surge do desajuste entre os objetivos culturais e as
formas legítimas de alcança-los (estrutura social defeituosa).
Estrutura cultural: conjunto de valores que regulam o
comportamento, os objetivos culturais de cada
sociedade.
Estrutura social: complexo de relações sociais em que os
membros de uma sociedade ou grupo estão inseridos
(estrutura das oportunidades reais).
Teoria da anomia: crise da estrutura cultural quando há
forte discrepância entre normas e fins culturais, de um
lado, e possibilidades estruturadas socialmente de atuar
em conformidade com aquelas, de outro lado. A
sociedade não oferece caminhos legais para atingir fins
culturais que a própria sociedade fomenta.
Sociedade anômica é aquela caracterizada por uma
distribuição seletiva das estruturas sociais, em que
apenas alguns conseguirão alcançar as metas culturais
(caráter sistêmico).
A partir de sua teoria da anomia, Robert K. Merton compõe
04 tipos de adaptações do indivíduo na sociedade:
Conformista: resposta positiva do indivíduo aos fins
culturais e aos meios legítimos.
Inovação: tipicamente criminoso, só se adapta aos fins
culturais, não aos meios legítimos, mas legalmente
proibidos a alcançar simulacro de sucesso.
Ritualismo: rechaço às metas culturais, por não
conseguir alcança-las e respeito por quem consegue.
Normas institucionais são seguidas compulsivamente.
Evasão, retraimento ou apatia: há uma negação total
dos fins culturais e dos meios legítimos.
Rebelião: substituição por novos fins culturais e meios
institucionalizados.
Teoria de pressão (Robert Agnew): a criminalidade é
consequência da pressão social sofrida por indivíduos que
buscam alcançar fins culturais, diante da escassez dos meios
legítimos. O delito é uma forma de aliviar as pressões.
Para Agnew existem fatores de impulsão (como menor
adaptação ou apoio social) ou fatores de predisposição
(temperamento).
A pressão não é unicamente para a aquisição de bens
materiais, mas, também, na impossibilidade de alcançar
as metas sociais desejadas, privação de estímulos
positivos que o indivíduo possui ou que espera possuir e
deriva da confrontação do indivíduo com situações
negativas que não pode escapar.
Teoria da anomia institucional (Messner e Rosenfeld):
contradição implícita no sistema de valores dominantes
produz pressão para empregar os meios mais eficientes para
alcançar recompensas monetárias.
A expansão de oportunidades econômicas, ao invés de
diminuir a anomia societária, intensifica pressões
induzidas culturalmente para o uso de formas
extralegais de obter recompensas monetárias, pois
reforça os objetivos de sucesso material.

Modelos teóricos da criminologia: teorias subculturais


A teoria das subculturas é uma teoria sociológica do
consenso.
Cultura: membros de um grupo específico de uma dada
comunidade, valores transmitidos dinamicamente de uma
geração para outra, com certa durabilidade. Ação que
individualiza um grupo e torna-o singular e inconfundível.
Subcultura: comportamento social e sistema de valores que
se separa de outro existente e dominante. Refere-se à minoria
e não constituem uma contracultura. Valores não se
desprendem por completo da cultura dominante.
Segundo Albert Cohen, subcultura é a cultura dentro da
cultura e tem as seguintes características: 1) caráter
pluralista e atomizado da ordem social; 2) cobertura
normativa da conduta desviada; 3) semelhanças
estruturais entre comportamentos regulares e
irregulares.
A subcultura delinquente possui as seguintes características:
1) não utilitarismo da ação: muitos delitos não possuem
motivação racional (quebrar placas de trânsito), mas sim
simbólico (fama, valor, satisfação);
2) malícia da conduta: desafio dos tabus sociais da
cultura oficial. Há uma autocomplacência (agradar a si)
e prazer em atemorizar o outro (ação de gangues, temor
em jovens);
3) negativismo da conduta: polo oposto aos padrões da
sociedade.
Para essa subcultura há um rechaço deliberado aos
valores da classe médica.
Richard Cloward e Lloyd Ohlin: a subcultura também é
marcada pela oportunidade diferencial, assim como acontece
com os meios legítimos, ou seja, também é variável a
oportunidade de ser bem-sucedido por meios ilegítimos.
Subcultura criminal: criminalidade adulta estruturada
fornece padrão aos jovens.
Subcultura de conflito: não há criminalidade estável e
estruturada, pois a subcultura tem a tônica da
violência.
Subcultura de afastamento: há uma renúncia aos
valores tradicionais e uso de drogas.
Walter B. Miller: a subcultura, com seus valores e metas, é
transmitida por gerações, fomentando a delinquência – crime
resulta da própria cultura das classes inferiores (classe
social).

Modelos teóricos da criminologia: teoria da associação


diferencial.
A teoria da associação diferencial é uma teoria sociológica do
consenso.
Gabriel De Tarde: Ele estuda a criminalidade em função da
origem social (imitação), pois a sociedade é uma reunião de
pessoas que imitam e repetem comportamentos. É possível a
invenção, quando há um encontro mental que cria ou
desenvolve algum objeto, mesmo diante de oposições.
O delito é menor original do que aparenta, salvo raras
exceções. O criminoso é mero receptor passivo de
impulsos delitivos ou não delitivos, não havendo
interação para o influenciado.
O homem imita o outro na proporção direta do grau de
proximidade ou intimidade entre eles.
O superior é imitado pelo inferior.
Pela lei da inserção, há um caráter subsidiário em
determinadas tendências delituosas (a mais recente
acresce e há um decréscimo da anterior).
Edwin Sutherland (1939) é o criador da teoria da associação
diferencial e se inspirou em Gabriel De Tarde. Ele estudou 70
empresas dos EUA por 25 anos e verificou que apenas uma
não teria participado doe atos ilícitos e que 91,7% eram
reincidentes. Mesmo assim, existia uma apreciação
diferencial de grandes empresários, comerciantes, industriais
pelo status.
O comportamento criminoso deriva de um processo de
aprendizagem que se dá com a interação com pessoas
favoráveis à prática de crimes (comunicação pessoal).
Não é um processo de socialização deficiente.
Há um excesso de definições aprendidas que são
favoráveis à violação da lei em número superior às
definições desfavoráveis à violação da lei.
A teoria de Sutherland tem as seguintes premissas: 1.
“Comportamento criminoso é aprendido”. 2. “Comportamento
criminoso é aprendido pela interação com outras pessoas em
um processo de comunicação”. 3. “A principal parte da
aprendizagem do comportamento criminoso ocorre dentro de
grupos íntimos e pessoais”. 4. “Quando um comportamento
criminoso é aprendido, a aprendizagem inclui: técnicas para
executar o crime, que podem ser complicadas ou simples; e
as direções específicas de motivos, impulsos, racionalizações
e atitudes”. 5. “A direção específica dos motivos e impulsos é
aprendida a partir de definições dos códigos legais como
favoráveis ou desfavoráveis”. 6. “Uma pessoa torna-se
delinquente por causa de um excesso de definições favoráveis
à violação das leis sobre definições desfavoráveis à violação
delas”. 7. “Associações diferenciais podem variar em
frequência, duração, prioridade e intensidade”. 8. “O processo
de aprendizagem do comportamento criminoso por associação
com padrões criminosos e anticriminosos envolve todos os
mecanismos envolvidos em qualquer aprendizagem”. 9.
“Enquanto comportamento criminoso é uma expressão de
necessidades e valores gerais, ele não é explicado por essas
necessidades e por esses valores, dado que comportamento
não criminoso é uma expressão das mesmas necessidades e
dos mesmos valores”.
Crime de colarinho branco: pessoa de alto nível (alto poder
econômico) viola leis que regulamentam sua profissão. Cifras
douradas da criminalidade.

Modelos teóricos da criminologia: teoria da identificação


diferencial
Daniel Glaser: crime relaciona-se mais com a identificação do
delinquente com pessoa reais ou imaginárias, e suas pautas
de conduta, tornando aceitável sua própria conduta delitiva,
do que decorre de um processo de aprendizagem.
Inclui a teoria dos papeis ao conceito de aprendizagem
(relação positiva com os papeis desempenhados por
delinquentes).
Uma teoria do comportamento criminoso deve incluir a
complexidade da associação por si, ou seja, incluir
grande processos envolvendo o indivíduo e a associação.
Essa teoria considera a importância dos meios de
comunicação de massa na conduta do indivíduo.

Modelos teóricos da criminologia: teoria do reforço


diferencial
Uma pessoa aprende o comportamento desviante pela
interação com o seu entorno social – condicionamento
operante (aprendizagem a partir das consequências das
próprias ações).
Burgess e Akers: a partir do condicionamento operante
(conduta criminosa é derivada de uma série de estímulos
constantes na vida do indivíduo, experiências), há o reforço
diferencial, em que é reiterado, reforçado, com mais
frequência, intensidade e probabilidade, o comportamento
social desviante.
Jeffery: condicionamento a partir das ideias de privação e
saciação, bem como a ausência de punição (de atos
passados). Relevância das variáveis não sociais biológicos,
bioquímicos) no comportamento. Processo contínuo de
interação com o meio.

Modelos teóricos da criminologia: técnicas de


neutralização
A teoria das técnicas de neutralização é uma teoria
sociológica do consenso.
David Matza e Gresham Sykes: o processo da carreira
criminosa parte da aprendizagem, de técnicas de
cometimento dos crimes e de impulsos, motivos,
racionalizações e atitudes favoráveis à violação das leis.
Não existiria uma subcultura (outro sistema de valores
opostos aos socialmente difundidos), mas os criminosos
compartilham do mesmo sistema de valores, existindo
um sentimento de culpa e vergonha. Há tributação de
respeito à quem não descumpre a lei e reconhecem a
ilegitimidade de seus atos.
Ao internalizar valores dominantes também ocorre o
aprendizado de técnicas capazes de neutralizar, racionalizar e
justificar o comportamento criminoso. São exemplos de
técnicas de neutralização:
1) Negação de responsabilidade: “não foi minha culpa”.
2) Negação da lesão: “não achava que faria mal a
alguém”.
3) Negação da vítima: “teve o que merecia”.
4) Condenação dos condenadores: juízes hipócritas.
5) Apelo à lealdade: “não fiz isso por mim”.

Modelos teóricos da criminologia: teoria da reação social


A teoria da reação social é uma teoria sociológica do conflito.
Principais expoentes desta teoria são Erving Goffman e
Howard Becker.
A teoria da reação social também pode ser chamada de
internacionalismo simbólico, rotulação social, etiquetamento
ou labelling approach.
Teorema de Thomas: se os homens definem uma situação
como real, ela acaba se tornando real para eles (ou real em
suas consequências).
O desviante é produzido pelo controle social (sociologia da
sociedade punitiva).
Desvio primário: comportamento ocasional ou situacional – é
multifatorial, logo deve ficar fora da explicação do crime.
Desvio secundário: resultado da interação entre indivíduo e a
resposta formal ao desvio – resposta aos problemas derivados
do desvio primário.
A explicação do crime para a teoria da reação social
concentra-se nas respostas formais do Estado (processo de
estigmatização), ou seja, o foco é no controle social e suas
consequências.
Há um processo de definição do delito, do delinquente e
a assunção da identidade de delinquente.
Sistema penal: forma de dominação social – criminalidade é
uma definição.
O poder econômico e político determina o que e quem é
etiquetado.
O etiquetamento é instrumental para a criação de caráter e
de um estilo de vida desviado.
Becker: desviação é produto de um processo exitoso de
aplicação da etiqueta (estigma social), em que alguns são
rotulados e outros, embora tenham praticado crimes, nunca
são descobertos ou apreendidos.
Não é predicado do comportamento da pessoa, mas
consequência da aplicação, por outros, das normas e
sanções.
É de Becker a expressão “gestores da moral” (moral
entrepreneurs), que são indivíduos criados ou
aplicadores das regras ocupados de impor sua moral a
todos, por possuir superioridade e conhecimento de
regras que tornariam a vida melhor. Eles
instrumentalizam o direito penal a seu favor.
Criminalização primária: primeira vez que indivíduo é objeto
de seleção como desviante. Consiste na eleição de condutas
consideradas criminosas pelo legislador, em função da
habitualidade e do estereótipo dos criminosos, não do dano
social. Intolerância a determinadas condutas e hábitos.
Criminalização secundária: o ato é considerado de acordo
com o padrão de comportamento pré-estabelecido por
indivíduos com poder na sociedade (agências de controle
social, principalmente instâncias formais) e pelo estereótipo
relacionado ao ato.
O estigma surge com a criminalização secundária, não a
primária.
Erving Goffman: criador da ideia de instituições totais, em
que há uma despersonalização do sujeito, com a mortificação
do “eu” e a reconstrução para seguir as regras do local.
Garfinkel: criador da ideia de cerimônias degradantes, em
que há condenação e despojamento da identidade e
recebimento de outra. Podem ser formais (processo penal) ou
informal (mídia).
A teoria da razão social construiu alternativas para evitar que
o indivíduo ingresse nas instâncias formas de controle:
1) Diversificação: soluções alternativas;
2) Descriminalização: formal (abolitio criminis),
substitutiva (administrativização) e descriminalização do
fato (sistema não faz sua função);
3) Despenalização: redução das sanções criminais
tradicionais;
4) Devido processo: observação das garantias de
liberdade.

Modelos teóricos da criminologia: teoria radical


A teoria radical é uma teoria sociológica do conflito.
Principais expoentes: Willen Bonger, Evgeni Pachukanis e
Georg Rush.
A teórica radical tem as seguintes características:
1) Concepção conflitual da sociedade e do direito:
análise crítica das estruturais sociais pelos alicerces de
classe e relações de poder, que definem a ideologia do
sistema punitivo;
2) Alteridade para o criminoso;
3) Crítica severa da criminologia tradicional;
4) Capitalismo é base da criminalidade;
5) Reformas estruturais na sociedade são necessárias
para reduzir desigualdades e a criminalidade.
Bonger: capitalismo é a base da criminalidade, por promover
o egoísmo e incentivar condutas de apropriação de bens.
Condutas dos menos favorecidos são efetivamente
perseguidas, ao contrário das condutas dos possuidores de
poder.
Pachukanis: legislação penal e dogmática, inspiradas pelo
contratualismo burguês, estabilizam as relações de
exploração.
Rusche e Otto Kirchheimer são os responsáveis pela
introdução do materialismo histórico na análise
criminológica.

Modelos teóricos da criminologia: mudança de paradigma


Até a teoria da reação social, os modelos teóricos da
criminologia eram baseados num paradigma etiológico, ou
seja, se dedicavam ao estudo das causas do crime, que teria
uma natureza patológica e biológica, e tem como fim o
combate à criminalidade. Esse paradigma etiológico possui as
seguintes características:
1) Legitimidade: Estado interpreta a necessidade de
controle e, por seus entes, busca exercita-lo;
2) Defesa social: o desvio criminal é um mal e a
sociedade é o bem a ser protegido;
3) Finalidade: além de reprimir (justa punição), há
preocupação com a ressocialização dos indivíduos pelas
penas;
4) Igualdade: criminoso é uma minoria anormal,
verificada por uma lei abstrata, genérica e aplicada de
forma equânime;
5) Interesse social: o Código protege o interesse comum
de todos os cidadãos e apenas uma pequena parte é
interesse político e econômico;
6) Culpabilidade: atitude interior reprovável, contrária à
sociedade e as suas normas sociais naturais.
A partir da teoria da reação social há uma mudança de
paradigma, pois adota-se o conceito de que o crime é definido
pelo direito, não é natural e depende do contexto social.
Dessa forma, há um repúdio ao determinismo e à visão do
delinquente como indivíduo diferente. O novo paradigma
critica o anterior da seguinte forma:
1) Com relação a legitimidade: há impulsos igual nos
demais membros sociais e se projeta no criminoso os
impulsos idênticos, através da punição, para que a
sociedade não haja dessa forma;
2) Com relação a defesa social: o crime possui função
social positiva, renovando pautas ou reforçando a
coesão social;
3) Com relação a finalidade: a prisão, em realidade,
impede o retorno às práticas não desviantes, pois insere
os criminosos em uma consolidação as carreiras
criminosas;
4) Com relação a igualdade: o cifra oculta mostra que o
criminoso não é uma minoria anormal e há existência de
um second code aplicado por magistrados;
5) Com relação ao interesse social: impunidade dos
crimes de colarinho branco, a cifra oculta da
criminalidade e o encarceramento em massa revelam
que a lei não protege ou pune todos;
6) Com relação a culpabilidade: a pessoa que pratica
delito tem o mesmo aprendizado da pessoa que não
pratica.

Modelos teóricos da criminologia: criminologia crítica


A criminologia crítica é uma teoria sociológica do conflito.
Teoria baseada no novo paradigma, o paradigma da reação
social, ou seja, a criminalidade é conceito construído a partir
da interação social.
Interacionismo simbólico (Georg Mead, Blummer e Howard
Becker): o ser humano significa as coisas conforme suas
interações, sendo a sociedade constituída por uma infinidade
de interações concretas.
Para a criminologia crítica a criminalidade não é mais uma
qualidade ontológica de determinados indivíduos, mediante
dupla seleção: em primeiro lugar, a seleção dos bens
protegidos penalmente e dos comportamentos ofensivos
destes bens, descritos nos tipos penais; em segundo lugar, a
seleção dos indivíduos estigmatizados entre todos os
indivíduos que realizam infrações e normas penalmente
sancionadas.
O direito penal não defende todos os bens essenciais, nos
quais estão igualmente interessados todos os cidadãos, e
quando pune as ofensas aos bens essenciais o faz com
desigualdade e de modo fragmentário.
A lei penal não é igual para todos, o status de criminoso é
distribuído de modo desigual entre os indivíduos.
O grau efetivo de tutela e a distribuição do status criminoso é
independente da danosidade social das ações e da gravidade
das infrações à lei, no sentido de que estes não constituem a
variável principal da reação criminalizante e da sua
intensidade.
Criminologia crítica dos EUA, criminologia radical,
criminologia do conflito ou criminologia marxista (Richard
Quinney William Chambliss, Austin Turk e Robert Seidman):
A partir de teorias da estratificação, compreende o sistema de
justiça criminal como expressão do conflito característico da
sociedade capitalista.
A lei (instrumento opressivo para os poderosos) atende a
desejo da classe dominante para manutenção e
expansão de sua dominação, protegendo e fortalecendo
o sistema capitalista.
Essa teoria está longe de ser dominante.
A criminologia crítica na Inglaterra foi construída a partir de
Ian Taylor, Paul Waltson e Jock Young.
O controle social é a resposta do indivíduo e fator
gerador da desviação criminal, em uma perspectiva
histórica.
A teoria criminológica deve afastar-se de conceitos
biológicos, psicológicos e práticas correcionais, devendo
ser produzida com a sociologia.

Modelos teóricos da criminologia: teorias conflituais.


Teoria da criminalização secundária (Zaffaroni, Alagia e
Slokar): a criminalização secundária é responsável por
construir o estereótipo de quem é o delinquente, em dada
comunidade, sendo altamente seletiva, em face da
fragmentariedade do direito penal, e volta-se com muita
eficiência para a incriminação dos mais vulneráveis.
Teoria do desafio (Braithwaite, Scheff e Sherman): a pena não
terá o mesmo efeito para todos. Logo, deve tentar verificar
quando a pena estimula o falso orgulho e a criminalidade
futura (percepção de sanção injusta e estigmatizante, não o
ato criminoso; e vínculos sociais precários; orgulho do
isolamento de quem sanciona) e quando ela serve como
dissuasão criminal (respeito às normas e dignidade do
criminoso; ligação social do criminoso; introjeção da
vergonha, em um caminho de reintegração).
Teoria do ajuste à imagem estereotipada ou construção social
estereotipada da criminalidade (Scheff): pessoas criam novas
categorias de desvio, alocando outros, nessas categorias, com
características morais negativas, contribuindo para
estereótipos.
Estereótipos: ideias coletivamente compartilhadas sobre
a natureza das pessoas que são classificadas assim a
partir da participação no delito.
A estereotipação estabelece um sendo de ordem
impessoal, de heterogeneidade social (várias ocupações,
raças, religiões, grupos étnicos e desviantes), que
correspondem a discursos cotidianos, linguagem e
media de massa (como imagens de uma cultura
popular).
Essa teoria possui as seguintes consequências: 1) o
conteúdo do estereótipo geralmente oferece uma
descrição válida dos grupos a que se referem e as
pessoas acham que conhecem informações relevantes
sobre desviantes estão aptos a reconhece-los quando os
veem. Quem não adere ao estereótipo é aceito como
exceção que comprova a regra; 2) definições
estereotipadas são institucionalizadas (inclusive
distorções sobre quem pratica tal comportamento e quão
frequente o faz); 3) Estereótipos possuem expectativas
implícitas (pessoas tendem a antecipar comportamentos
especiais pelos desviantes); 4) Estereótipos podem servir
como barreira entre desviantes e outros, o que levaria a
rejeição destes outros como desviantes; 5) Estereótipos
moldam e justificam as ações tomadas pelas agências
policiais para lidar com a clientela desviada; 6) levam a
prática de atos de omissão, de abstenção sistemática de
certos atos, palavras ou tópicos de conversas quando na
presença de pessoas alocadas em determinadas
categorias estereotipadas.
Teoria da vergonha (inibição) reintegradora (Braithwaite):
uma maior integração à comunidade gera laços de
interdependência, inclusive uma aversão a se sentir
envergonhado naquele local, como ocorreria com a aplicação
da pena, que tem duração limitada e, se a comunidade não
desfaz os vínculos de aceitação, contribui para a formação da
consciência do indivíduo. Ao lado da reprovação, cerimoniais
de reintegração.

Modelos teóricos da criminologia: críticas à criminologia


crítica e ao labeling approach.
Bergali e Ramirez:
Não explicita, de forma completa, o comportamento
desviante (motivações iniciais do primeiro delito não são
devidamente investigadas).
Remanejo do determinismo biológico, psicológico e social
para o determinismo da reação social.
Não contempla suficientemente as facetas políticas do
desvio (questões macroestruturais sociais e econômicas),
enfatizando aspectos microssociais.
Wellford: existem atos que são intrinsicamente delitivos.
Condutas que atentam gravemente contra bens jurídicos
fundamentais em todas as sociedades são conhecidas e
são delitos em si mesmos, independentemente da reação
que provoquem (homicídio, roubo em residência,
liberdade sexual).
Evidência de que o fundamental na persecução e prisão
são características do fato (gravidade, por exemplo), não
características de quem o praticou.
Não teria comprovação que o etiquetamento como
delinquente afetaria dramaticamente seu conceito sobre
si mesmo.

Prevenção do delito
Classificação da prevenção ao delito com relação aos atores:
Prevenção penal: imposição de castigo a uma
determinada pessoa, intimidando toda a população
(prevenção geral) ou afetando o apenado (prevenção
especial). Não é o mecanismo mais eficaz.
Prevenção policial: presença, investigação e atuação da
polícia.
Prevenção comunitária: mobilização de recursos sociais
de uma sociedade ou delegação à comunidade em
esforços específicos desde baixo.
Classificação da prevenção ao delito com relação aos
destinatários:
Prevenção primária: voltada para as causas do delito,
buscando neutraliza-las, com forte caráter etiológico.
São demandas de alto custo, voltadas para toda
população, de médio a longo prazo, por intermédio de
políticas públicas (Ex: acesso à educação, saúde,
saneamento básico...).
Prevenção secundária: após ou na iminência do delito,
se volta para grupos que possuem mais possibilidade de
sofrerem ou praticarem o delito. Foco em grupos sociais
mais vulneráveis, de curto a médio prazo.
Prevenção terciária: incide sobre detentos após a prática
do delito, com o objetivo de prevenir a reincidência,
como medidas alternativas, serviços comunitários,
liberdade assistida.

Prevenção situacional do delito


Fatores situacionais que propiciam o cometimento de
comportamentos delitivos.
Não se busca alterar a motivação, mas incidir nas
oportunidades físicas para impedir ou dificultar a
possibilidade de praticar o delito.
Presumem um delinquente motivado e optam por uma
prevenção situacional (na área de cometimento de crimes),
baseado no desenho ambiental e a partir de várias medidas
concretas.
Há duas críticas à teoria da prevenção situacional: 1) não se
ocupam das causas últimas da delinquência, atuando apenas
no meio ambiente, existindo dúvida se são medidas que
conseguem impedir o delito isoladamente; 2) deslocam os
delitos para zonas mais pobres e menos seguras.
Expoentes da prevenção situacional do crime: Marcus Felson,
Ronald Clark e Donald Cornish.
A base teórica da prevenção situação do crime é o utilitarismo
de Bentham.
A prevenção situacional do crime é a base da ideia de
policiamento ostensivo (preventivo).
Teoria da escolha racional: o delito é fruto de uma escolha
racional, baseada maximização dos ganhos e minimização
dos custos, na percepção de riscos e recompensas.
O delito ocorre quando se percebe que ele é a solução
mais rentável para as necessidades do delinquente (a
partir do que é mais evidente e imediato, negligenciando
questões mais complexas de custo-benefício).
Teoria dos jogos: homens tomam suas decisões a partir
de possíveis consequências das decisões alheias
(estratégias a partir de posicionamento dos outros).
Aspectos econômicos da conduta humana.
Características: 1) seleção primária do alvo; 2)
determinação do alvo; 3) planejamento; 4) espreita; 5)
ação delitiva.
Elementos do delito: intencionalidade, racionalidade,
risco e ação estratégica.
Intencionalidade: programam suas finalidades em
face das consequências não intencionais de ações
intencionais de outras pessoas.
Racionalidade: há racionalidade na ação social,
conhecimento e alternativas às ações são possíveis.
Risco: visualizam probabilidades de vários
resultados.
Ação estratégica: possibilidades de escolha.
Teoria das atividades rotineiras: o delito é escolha racional
entre custos e benefícios. A organização social pode facilitar o
cometimento de determinados delitos.
Mudanças sociais estruturais trazem mudança das
atividades rotineiras, produzindo aumento dos objetivos
apropriados e ausência de vigilância.
Elementos: 1) alvo disponível a partir dos critérios de
valor, inércia, visibilidade e acesso (pessoa ou coisa); 2)
guardião responsável ausente; 3) ofensor motivado.
Para que um crime ocorra deve haver convergência de
tempo e espaço em, pelo menos, 03 elementos: um
provável agressor, um alvo adequado, na ausência de
um guardião capaz de impedir o crime.
Teoria da oportunidade: a oportunidade é uma das principais
causas do crime (interações entre indivíduo e ambiente).
O crime é produto da interação entre pessoas e seus
ambientes.
Oportunidade: (a) papel na causa de todos os crimes; (b)
altamente específicas; (c) concentradas no tempo e
espaço; (d) dependem de como as atividades diárias
ocorrem; (e) crime produz oportunidade para outro; (f)
produtos são mais tentadores conforme as
oportunidades; (g) novas oportunidades por mudanças
sociais ou tecnológicas; (h) é possível prevenir reduzindo
as oportunidades; (i) esforço para reduzir o crime não o
desloca, mas pode oferecer mudanças reais; (j) redução
acentuada de oportunidades pode produzir amplos
declínios dos índices de crimes.
Teoria do padrão criminal: explica o delito em certas áreas, já
que o crime (e suas oportunidades) não é aleatório.
O crime acontece quando um espeço de atividade (casa,
trabalho, escola, shopping e etc) da vítima ou do alvo
atravessa o espaço de atividade de um ofensor
(delimitada por experiências passadas). Os padrões
pessoais se conectam em vários nós criando um
perímetro.
Apenas ocorre o crime quando o espaço de atividade da
vítima cruza o espaço de conscientização de um
criminoso.
Fornece elementos para organizar padrões de
comportamento e de criminalidade.
Princípio de Pareto: pequeno número de causas é
responsável por grande proporção de resultados.

Vitimologia
Vitimização primária: decorre da própria prática delituosa,
causando danos à vítima (físicos e patrimoniais).
Vitimização secundária: sobrevitimização, decorrente dos
efeitos causados na vítima pela atuação do sistema de justiça
criminal, seja pelas investigações, seja pelo próprio curso do
processo penal (ex: oitivas, constrangimentos, reconstituições
de delitos, ficar em frente ao criminoso e etc).
Vitimização terciária: a inércia ou atuação insuficiente do
Estado e do próprio corpo social causam prejuízos às vítimas,
que são desestimuladas a denunciar os fatos delituosos ou
buscar reparações (incremento na cifra oculta da
criminalidade).
Modelos de reação ao delito:
Modelo clássico: punição ao agente com a imposição de
penas e reforço coletivo para intimidar. Protagonismo do
Estado e delinquente.
Modelo ressocializador: possibilita a reinserção social,
para além da aplicação da pena.
Modelo restaurador: pretende restabelecer o status quo,
reeducando o agressor, assistindo a vítima e o controle
social.

Penologia.
Teorias absolutas: pena é imperativo da justiça, sem fins
utilitários, mas retribuição pelo crime praticado. Punição
advém da prática delituosa. Retribuição e expiação.
Kant: A pena é um imperativo categórico, consequência
natural do delito. Ao mal do crime impõe-se o mal do
castigo.
Hegel: Pena é a negação da negação do delito. É uma
retribuição jurídica em razão do discernimento e livre
arbítrio do agente.
Teorias relativas: a pena deve ter finalidade utilitária (meio
para a prevenção criminal). Crime não é causa da pena, mas
momento para aplica-la. Fins de prevenção geral (sobre a
sociedade) e especial (sobre o delinquente).
Prevenção geral negativa (intimidação): busca
conformidade pela coação psicológica pela ameaça de
sanção. Inibição sobre a generalidade dos cidadãos.
Prevenção geral positiva (integradora): restabelecimento
do crédito da norma, viés educativo – aprendizagem,
confiança e pacificação social.
Vertente eticizante (Welzel): direito penal enfatiza
valores ético-morais e respeito à vigência da norma,
buscando a conscientização jurídica da população.
Vertente sistêmica (Jakobs): direito é instrumento
para estabilização do sistema e integração social,
reforçando a confiança da população na vigência
da norma.
Prevenção especial negativa: há inocuição ou
neutralização do delinquente.
Prevenção especial positiva: há ressocialização ou
reinserção do delinquente.
Teorias mistas, unitárias ou ecléticas: admitem o caráter
retributivo das penas, mas com finalidade de reeducação e
intimidação.
É a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro, como se
observa do art. 59 do CPB.

Movimentos de política criminal


Política criminal: “Ciência ou arte de selecionar os bens (ou
direitos), que devem ser tutelados jurídica e penalmente, e
escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que
iniludivelmente implica a crítica de valores e caminhos já
eleitos.” (Zaffaroni, 2004).
Políticas criminais: forma como o corpo social organiza as
respostas ao fenômeno criminal (Delmas-Marty).
Ideologia liberal: tem fundamento iluminista e possui foco na
liberdade individual.
Ideologia igualitária: faz uma crítica ao liberalismo e da
atenção a desigualdade concreta. Pode ser libertária ou
anarquista.
Ideologia autoritária: prevalência do Estado sobre o indivíduo.
Essas ideologias orientam a formulação de políticas criminais
e, assim, as respostas à prática criminosa podem envolver
um direito penal mínimo (abolicionismo ou minimalismo) ou
um direito penal máximo (eficientismo), a depender da
ideologia adotada.
Políticas criminais autoritárias também são chamadas de
eficientismo, direito penal máximo, realismo de direito ou
neorretribucionismo.
Expansionismo punitivista: aumento dos poderes
policiais e redução da intervenção judicial.
Sociedade do risco e a quebra da segurança, com
tendências securitárias.
Desvalorizam, em maior ou menor intensidade, o
princípio da legalidade estrita ou um de seus corolários.
Eficácia absoluta do direito penal.
Nenhum culpado fica impune.
Máxima efetividade do controle social e também máxima
imunidade a comportamentos ilícitos, mas que são
funcionais para o sistema.
Teoria das janelas quebradas: “Psicólogos sociais e policiais
possivelmente concordariam que se uma janela é quebrada e
não é reparada, todas as ademais janelas serão quebradas.”
A essência do papel policial seria manter a ordem pelo
reforço dos mecanismos de controle informal da própria
comunidade.
Tolerância zero: conjunto de novas práticas do departamento
de política de Nova Iorque (1993-1996) e que seria
responsável pela queda do número de crimes.
Aumento da repressão, intolerância com crimes e
desvios e penas mais rígidas, especialmente pequenos
crimes e incivilidades.
Suporte teórico: Broken Windows Theory (James Q.
Wilson e George L. Kelling).
Críticas à tolerância zero;
1) nunca se aplicou efetivamente uma política de
tolerância zero, é mais publicitária;
2) aumento do encarceramento em massa;
3) mera atuação do sistema penal não altera questões
estruturais que originam os crimes;
4) processo de simplificação do social, como se o crime
fosse um problema superficial na sociedade e que o
anuncia da prisão seria efetivo para repelir práticas
delituosas.
Movimento de Lei e Ordem (Law and Order): incrementos das
respostas formais do Estado a partir de 1970.
A tolerância zero em Nova Iorque (Rudolph Giuliani) faz
parte deste movimento.
Direito penal é simbólico e midiático.
Os problemas da criminalidade são atacados pela
maximização do sistema punitivo.
Uma lei originária da Califórnia previa prisão perpétua
para a terceira condenação por crime doloso (three
strikes and you’re out).
Adoção de táticas de pressão, com redefinição do
conceito de tortura para “dor difícil de ser suportada”.
Breaking Balls Theory (teoria dos testículos despedaçados):
Quando há atividade policial rotineira, em determinado local,
o delinquente (delitos de pouca gravidade) desiste ou irá
realizar a sua conduta em outra localidade.
Direito penal do inimigo (Gunther Jakobs).
Inicialmente, Jakobs escreveu sobre o direito penal dos
inimigos de forma descritiva, denunciando que as
legislações de diferentes países estavam adotando
políticas criminais desta natureza. Contudo, a partir de
2001 Jakobs adota o direito penal do inimigo como um
postulado teórico e passa a defende-lo como uma
política criminal necessária.
Essa teoria representa o extremo das políticas criminais
autoritárias.
Segundo essa teoria, existem duas classes de pessoas: o
cidadão e o inimigo. O cidadão é uma pessoa que tem
um respeito mínimo pelo Estado, ainda que pratique
crimes, e seu comportamento não atenta contra a ideia
de existência do Estado. Já o inimigo é imprevisível e
não respeita o Estado. O cidadão pode ser tutelado pelo
direito penal, o inimigo não deve ser tutelado e sim
neutralizado.
Exemplos de políticas criminais autoritárias no Brasil: 1)
regime disciplinar diferenciado; 2) prisões cautelares como
antecipação de pena; 3) encarceramento em massa.

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