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Introdução ao direito internacional público

Para Malcolm Shaw, o direito internacional evolui de acordo


com as novas necessidades da sociedade internacional.
Elemento que une os membros de uma sociedade em torno de
um conjunto de valores em comum.
Para Valério Mazzuoli, o direito internacional pode ser
conceituado como o conjunto de princípios e regras jurídicas
(costumeiras e convencionais) que disciplinam e regem a
atuação e a conduta da sociedade internacional (formada
pelos Estados, pelas organizações internacionais e também
pelos indivíduos), visando alcançara as metas comuns da
humanidade e, em última análise, a paz, a segurança e a
estabilidade das relações internacionais.
Existe distinção entre direito internacional público, direito
internacional privado e relações internacionais.
Existem duas teorias principais sobre o fundamento da
criação das normas internacionais: jusnaturalismo e
positivismo.
Jusnaturalismo: direito natural acima da vontade dos
Estados. A soberania é limitada pela lei divina, pela
razão humana ou por considerações de justiça.
Positivismo: tem um viés empírico. Só existem as
normas criadas pelos Estados.
Atualmente adota-se a ideia de há uma produção
normativa multifacetada e descentralizada de normas
internacionais.
Existem 03 doutrinas principais sobre a obrigatoriedade das
normas de direito internacional.
A doutrina voluntarista ou subjetivista defende que as
normas de direito internacional são obrigatórias porque
o Estado voluntariamente aderiu ratificou-as e, por isso,
deve cumpri-las.
A doutrina objetivista defende que o Estado adere às
normas internacionais porque é a coisa certa a se fazer e
essas regras estão acima do aspecto simplesmente
voluntário deste Estado.
O direito internacional é regido pelo princípio do pacta
sunt servanda, ou seja, se o Estado deu o consentimento
ele se submete à norma.
O direito internacional também possui sanções.
O direito internacional público possui as seguintes
características: 1) obrigatoriedade das normas; 2) poder de
sanção; 3) inexistência de subordinação entre os sujeitos de
direito; 4) inexistência de norma constitucional acima das
demais; 5) inexistência de atos unilaterais obrigatórios e
oponíveis a todos.
Existem autores que negam caráter jurídico do direito
internacional e eles podem ser divididos em duas classes:
1) Os negadores práticos são Espinosa, Adolf Lasson,
Ludwig Gumplowicz e Lundstedt. Eles negam a
existência do direito internacional.
2) Os negadores teóricos são John Austin e Julio Binder.
Eles reconhecem a existência de normas internacionais,
mas não as consideram normas jurídicas.
Professor Jorge Miranda identificou algumas tendências
evolutivas do direito internacional, que são as seguintes:
1) Universalização: houve um processo de
universalização do direito internacional, em que mais
países começaram a participar.
2) Regionalização: formação de acordo regionais
3) Institucionalização: criação de organizações
internacionais que trabalham temáticas específicas.
4) Funcionalização: processo de especialização dos
ramos do direito internacional.
5) Humanização: observância e defesa dos direitos
humanos pelas normas internacionais.
6) Objetivação: está ligada a uma crise do voluntarismo,
ou seja, os Estados estão com menor liberdade em
relação ao direito internacional.
7) Codificação: criação de textos juridicamente
organizados.
8) Jurisdicionalização: criação de organismos
internacionais de solução de controvérsias.
Além das tendências observadas pelo Professor Jorge
Miranda, a doutrina ainda identifica as seguintes tendências
do direito internacional:
1) coexistência: as normas de direito internacional são
destinadas a garantir a paz e a segurança
internacionais.
2) cooperação: normas de direito internacional relativas
ao comercio internacional e as organizações
internacionais, ou seja, cooperação entre Estados.
3) solidariedade: normas de direito internacional
relativas à proteção ao meio ambiente e aos direitos
humanos.
Normas jus cogens é uma expressão utilizada para se referir a
um conjunto de preceitos podem não estar positivados, mas
que possui um conteúdo tão fundamental e importante para
os Estados que esse conjunto de preceitos são inegociáveis e
devem ser respeitados, pois estão acima das demais regras de
direito internacional.
Todas as normas jus cogens são, necessariamente erga
omnes. Contudo, nem toda norma erga omnes é jus
congens, pois para ser jus cogens uma norma deve ter
superioridade hierárquica sobre as demais e ser
inderrogável.

Fontes do Direito Internacional Público


Estão formalmente estabelecidas no art. 38 do Estatuto da
Corte Internacional de Justiça. São elas:
1) Convenções internacionais;
2) Costume internacional;
3) Princípios gerais de direito;
4) Decisões judiciárias;
5) Doutrina dos juristas mais qualificados;
6) equidade, se as partes concordarem.
Não existe hierarquia entre as fontes de direito internacional
público.
A lista de fontes do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça é exemplificativa.
Analogia e atos unilaterais são exemplos de fontes do
direito internacional público que não estão listados no
Estatuto da CIJ.
Hierarquia de fontes é diferente de hierarquia entre normas.
A primeira não existe, já a segunda sim. No direito
internacional público normas jus congens são superiores às
demais normas de direito internacional público.
Tratados ou convenção internacionais tem sua produção,
basicamente, regulamentada pela Convenção de Viena sobre
o Direito dos Tratados entre Estados (1969) e pela Convenção
de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e
Organizações Internacional ou entre Organizações
Internacionais (1986).
Nem todos os Estados do mundo ratificaram as duas
convenções sobre direito dos tratados, mas elas são
aplicáveis a todos porque suas disposições têm origem
no costume internacional.
A Convenção de Viena de 1986 ainda não entrou em
vigor, contudo, suas regras são aplicadas porque tem
origem no costume internacional.
Tratado ou convenção internacional são acordos
internacionais celebrados por escrito entre Estados,
entre Estados e Organizações Internacionais e entre
Organizações Internacionais.
O fundamento de um tratado internacional é pacta sunt
servanda.
Costumes são práticas aceitas pelos Estados como direito
aplicável, durante um período razoável de tempo.
Existe uma tendência à internacionalização do direito,
ou seja, o costume cede lugar gradual a normas
positivadas, mas pode auxiliar a tratar temas novos no
meio internacional.
Elementos do costume: uso, por ação ou omissão,
(elemento objetivo ou material) e aceitação entre os
Estados (elemento subjetivo).
Costumes internacionais são normalmente encontrados
em declarações unilaterais, práticas dos estados,
manuais de direito, trabalhos de codificação
internacional, resoluções ou negociações em
organizações internacionais.
O reconhecimento de um costume tem as seguintes
etapas: 1) reconhecimento pela continuidade; 2) fixação
de seu conteúdo a partir dos pontos comuns entre as
formas de manifestação; 3) determinação entre quais
sujeitos deve ser aplicada.
O costume como fonte do direito internacional recebe as
seguintes críticas: podem ser fontes de manutenção do
status quo, inclusive da vontade de alguns Estados
minoritários. Costumes tradicionais podem paralisar a
evolução do direito e nos Estados devem simplesmente
aceita-los.
Um costume pode ser extinto quando deixa de ser
praticado ou quando um tratado com manifestação
contrária é ratificado pelos mesmos Estados.
Teoria do objetor persistente: Estado que nunca
concordou com o costume de modo tácito ou expresso
não fica à ele vinculado.
Princípios gerais de direito são regras amplamente aceitas
pela sociedade internacional, consolidadas por costumes
internacionais, seja na repetição em tratados ou nas decisões
de tribunais nacionais ou internacionais.
Princípios de destaque: igualdade soberana, autonomia
dos Estados, interdição do uso da força para solução de
controvérsias, respeito aos direitos humanos e
cooperação internacional.
Princípio tem uma função especial de dar coerência e
completude ao direito internacional público.
Precedentes jurídicos tem grande influência nos julgados
futuros, ainda que não possuam efeito vinculante.
A doutrina não inclui apenas livros, pois possui um sentido
amplo, abrangendo estudos de algumas entidades
internacionais.
As principais funções da doutrina é fornecer prova do
conteúdo do direito e influenciar no desenvolvimento do
direito.
A equidade (ex aequo et bono) não é uma fonte, mas uma
técnica de interpretação judicial.
É uma fonte condicionada, ou seja, depende da
concordância das partes e, em geral, está prevista nas
regras processuais dos tribunais.
Equidade é diferente de analogia, ainda que ambas
sejam uma forma de raciocínio jurídica ou de integração
de regras jurídicas.
Atos unilaterais são manifestações autônomas e não
equívocas da vontade pública formulada por um ou mais
Estados, endereçadas a um ou mais Estados ou de uma
organização internacional, com a intenção de criar obrigações
jurídicas no plano internacional.
Para serem invocáveis os atos unilaterais devem emanar
de um sujeito de direito internacional público, não ser
contrário ao direito internacional, refletir a vontade
legítima de seu autor (sem vício) e dirigir-se ao público
em geral.
Princípio do estoppel: princípio geral de direito que prevê
a impossibilidade de que uma pessoa tome atitude
contrária a comportamento assumido anteriormente.
Não há regramento internacional para regular atos
unilaterais, mas há proposta na agenda da Comissão de
Direito Internacional da ONU.

Direito dos tratados


Estado é sempre parte de um tratado internacional e membro
de uma organização internacional. Essas são as expressões
corretas.
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 é
o tratado internacional que, atualmente, é a base do direito
dos tratados.
A Comissão de Direito Internacional da ONU estudou
por 20 anos antes de formular a Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados.
Os costumes regem questões não reguladas pela CV-69.
Brasil ratificou a CV-69 em 2009.
As regras da CV-69 se aplicam apenas para tratados
feito entre Estados, excluindo-se, portanto, outros
sujeitos de direito internacional.
O Brasil apresentou reserva ao art. 25 da CV-69, que
dispõe sobre a aplicação provisória do tratado (enquanto
ele ainda não entrar em vigor). Esse dispositivo é
incompatível com o art. 49, inc. I, CF.
Existe, também, uma Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados entre Estados e Organizações Internacional e entre
Organizações Internacionais, elaborada em 1986.
Essa convenção internacional ainda não entrou em
vigor.
O Brasil assinou essa convenção, mas ainda não
ratificou-a.
Segundo a CV-69, tratado significa um acordo internacional
concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de
dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua
denominação específica.
Tratado não pode ser celebrado verbalmente.
Atualmente, existe no direito internacional uma tendência de
codificação das regras de direito que antes eram apenas
costumeiras.
Os tratados possuem os seguintes fundamentos de validade:
livre consentimento, boa-fé e pact sunt servanda.
Ratificação, aceitação, aprovação e adesão são expressões
utilizadas para fazer referência ao ato internacional pelo qual
um Estado estabelece no plano internacional o seu
consentimento em obrigar-se por um tratado.
Plenos poderes é uma expressão utilizada para fazer
referência a um documento expedido pela autoridade
competente de um Estado e pelo qual são designadas uma ou
várias pessoas para representar o Estado na negociação,
adoção ou autenticação do texto de um tratado, para
manifestar o consentimento do Estado em obrigar-se por um
tratado ou para praticar qualquer outro ato relativo a um
tratado.
Estão dispensados deste documento os chefes de
Estado, ministros das relações exteriores, chefes de
missão diplomática, representantes acreditados para tal.
Reserva é a palavra utilizada para fazer referência a
declaração unilateral feita por um Estado ao assinar,
ratificar, aceita ou aprovar um tratado ou a ele aderir com o
objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas
disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado.
A CV-19 veda algumas possibilidades de reserva: 1)
reserva proibida pelo tratado; 2) tratado disponha só
possam ser formuladas determinadas reservas e, entre
elas, não está a reserva em questão; 3) reserva
incompatível com o objeto e finalidade do tratado.
Há tratados que preveem a possibilidade dos demais
Estados-parte se manifestarem sobre uma reserva feita
por um Estado sobre o tratado. Nestes casos, é possível
o estabelecimento de um regime de duplicidade, em que
a reserva vale para os países que a aceitaram e não vale
para aqueles que a recusaram.
Reservas devem ser feitas por escrito e comunicada a
todos os demais Estados-parte.
Em caso de tratado bilateral, a reserva representa um
convite à renegociação.
Existe discussão doutrinaria sobre quem, no Brasil,
pode formular reservas. Rezek defende que somente o
Poder Executivo pode, cabendo ao legislativo apenas
aprovas com as restrições. Já Mazzuoli entende que, por
autorização da CV-69, admite-se que o Poder Legislativo
também formule reservas quando aprova o tratado,
nestes casos o Poder Executivo somente poderá ratificar
o tratado com as reservas do Poder Legislativo. Já com
relação à possibilidade do Congresso suprimir reservas
do Poder Executivo, Rezek admite que o Congresso pode
recomendar, mas Mazzuoli defende que se a reserva for
feita na assinatura, o Congresso não poderia suprimi-la.
Predomina na doutrina a ideia, defendida por Mazzuoli,
de que o Poder Legislativo e o Poder Executivo podem
formular reservas e que um Poder não pode suprimir a
reserva feita pelo outro.
Reserva é diferente de emenda, pois na reserva há
restrição ou alteração nos efeitos do tratado, já na
emenda há alteração na literalidade do texto do tratado.
A publicação do acordo executivo é a garantia da introdução,
no ordenamento jurídico nacional, dos acordos celebrados no
molde executivo, sem que haja a manifestação típica do
Congresso Nacional.
Os tratados possuem, em regra, a seguinte estrutura:
preâmbulo, dispositivos e anexos.
O preâmbulo é base para interpretação dos dispositivos
de um tratado.
Requisitos de validade dos tratados: partes capazes, objeto
lícito e possível e consentimento livre.
Partes capazes: habilitação dos agentes signatários pela
carta de plenos poderes.
A capacidade das organizações internacionais para
celebrar tratados internacionais está diretamente
vinculada ao princípio da especialidade, ou seja, os
tratados devem guardar relação com a
especialidade com que foi criada.
No Brasil, é possível que Estados da Federação
firmem tratados internacionais relacionadas a
operações financeiras, desde que com o aval do
Senado Federal (art. 52 da CF),
Objeto lícito e possível: não pode violar jus cogens (art.
53 da CV-69).
Consentimento livre: isento de vícios (erro, dolo, coação
e corrupção).
A coação gera a nulidade de um tratado, salvo para
celebrar acordo de paz.
Segundo a Constituição Federal, compete ao Presidente da
República celebrar tratados (art. 84, inc. VIII) e ao Congresso
Nacional resolver tratados que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional (art. 49, inc.
I).
Prevalece a interpretação doe que o inc. VIII do art. 84
da CF é uma ampliação da competência estabelecida no
inc. I do art. 49 da CF. Isto porque, o primeiro diz que o
Congresso Nacional resolverá apenas os tratados que
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, já o segundo diz que qualquer
tratado deve ser sujeito a referendo do Congresso
Nacional.
A elaboração e entrada em vigor dos tratados segue o
seguinte roteiro: negociação, adoção do texto, assinatura,
autorização pelo Congresso Nacional, ratificação, publicação
e promulgação e registro na ONU.
A fase de adoção do texto é aquela em que se verifica se
o conteúdo do que foi negociado efetivamente está
escrito no texto do tratado.
A assinatura implica apenas no consentimento
provisório do tratado, contudo, já possui alguns efeitos
importantes, que são: impossibilidade de frustrar o
objeto de tratado, autenticação do texto (impossibilidade
de posterior modificação) e aceitação das normas
costumeiras previstas no tratado.
Ratificação é o compromisso definitivo, expresso,
unilateral, discricionário e irretratável do Estado com o
tratado internacional.
A ratificação de um tratado bilateral ocorre com a troca
de instrumentos de ratificação ou notificação de
retificação entre os Estados-parte. Já a ratificação e um
tratado multilateral é feito por meio do depósito.
A obrigação do Estado que tem a função de depositário
permanece ainda que o Estado depositário denuncie o
tratado.
A publicação e promulgação é feita por meio de um
decreto executivo.
O Estado também pode promover o registro do tratado
na ONU. Esse registro não é obrigatório, contudo, sem
ele o Estado não pode invocar o tratado no âmbito da
própria ONU.
Existe grande discussão doutrinária sobre se a formulação de
uma denúncia depende de manifestação do Poder Legislativo
e do Poder Executivo, como na aprovação, ou se apenas o
Poder Executivo poderia fazê-lo. Existe uma discussão sobre
o assunto no STF relacionada a denúncia feita pelo Brasil de
uma Convenção da OIT, mas que ainda não foi julgada.
É possível emendar tratados, mas quando isso acontecer as
emendas devem ser aprovadas pelo Congresso Nacional.
O Poder Legislativo não pode formular emendas, pois
somente o Poder Executivo pode negociar texto de um
tratado com outros países.
Se um tratado não mencionar nada sobre quando terá início
sua vigência, ela só ocorrerá quando todos os Estados-
negociadores manifestarem seu consentimento.
Para a CV-69 (art. 27), um Estado não pode invocar seu
direito interno para justificar o descumprimento de um
tratado, exceto se houver violação de norma interna
fundamental sobre a competência para concluir tratados, é a
chamada ratificação imperfeita (art. 46).
A disposições de um tratado não irretroativas e se aplicam a
todo o território do Estado-parte, salvo intenção diferente
externada no tratado.
Existem duas formas de retificação de um tratado: emenda e
revisão.
Emenda: parte do tratado é modificado.
Revisão: todo o tratado é modificado.
Revisão e emenda podem gerar um regime jurídico
dúplice, ou seja, somente os que concordaram com a
revisão ou emenda passam a segui-la. Os demais
continuam aplicando o antigo texto do tratado.
Vícios do consentimento nos tratados:
Ratificação imperfeita: consentimento sem respaldo do
direito interno. Tratado é anulável, ou seja, a nulidade é
relativa.
Erro: Tratado é anulável, ou seja, a nulidade é relativa.
Dolo: Tratado é anulável, ou seja, a nulidade é relativa.
Corrupção: Tratado é anulável, ou seja, a nulidade é
relativa.
Coação: Tratado é nulo, ou seja, a nulidade é absoluta.
A nulidade também é absoluta em caso de violação de
jus cogens.
Predeterminação ab-rogatória (forma de extinção do tratado):
extinção é prevista no próprio tratado.
Importante: num tratado multilateral que entra em
vigor, por exemplo, com 20 ratificações, e 10 países o
abandonam, o tratado ainda continua em vigor.
Ab-rogação superveniente (forma de extinção do tratado): não
há previsão no tratado e partes decidem, por unanimidade,
extingui-lo. É uma forma de extinção do tratado.
Outras hipóteses de extinção dos tratados: execução integral,
impossibilidade superveniente de cumprimento e mudança
fundamental de circunstância (cláusula rebus sic stantibus).
Em caso de mudanças das circunstâncias deve-se
observar 03 cenários: 1) mudança foi imprevisível; 2) a
mudança modificou fator essencial para a expressão do
consentimento da parte; 3) a mudança foi radical, ou
seja, de grandes dimensões.
Outras hipóteses de extinção dos tratados: denúncia
unilateral, rompimento das relações diplomáticas e
consulares, norma jus cogens superveniente, violação
substancial do tratado, conflitos armados (princípio do inter
arma silente legis) e caducidade (abandono pelos Estados).
A extinção pelo rompimento das relações diplomáticas
somente acontece quando existência de relações é
indispensável à aplicação do tratado.

Sujeitos de direito internacional público.


O fim da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Paz de
Westifália são o marco histórico do reconhecimento da
igualdade soberana dos Estados.
Após a 2ª guerra mundial houve proliferação de organizações
internacionais.
Personalidade jurídica é uma qualidade inerente à pessoa,
física ou jurídica, que lhe confere a capacidade para usufruir
de direitos e contrair obrigações.
Rezek acredita que a capacidade é vinculada à
necessidade de agir no plano internacional. Somente
Estados e organizações internacionais a teriam.
Mazzuoli defende que entende que recebem o direito e
atuam no plano internacional possuem personalidade,
ai inclusos os indivíduos.
Soberania é um atributo de Estado. Organização
Internacional, portanto, não possui soberania.
Um Estado, para ser reconhecida, precisa ter povo, território
e governo.
Outras instituições com grande atuação internacional e que
não são sujeitos de direito internacional, como ONGs e
empresas multinacionais, são chamadas de atores
internacionais.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha é uma
exceção, pois não é um Estado ou organização
internacional, mas é considerada sujeito de direito
internacional público, o que outros atores não podem.
A expressão sujeitos de direito internacional fragmentários
faz referência a sujeitos que podem participar de alguns
mecanismos, mas não do processo de produção de normas
jurídicas internacionais, como os indivíduos.
Coletividades não-estatais:
Beligerantes: intenção de mudar o sistema político em
vigor.
Insurgentes: intenção de mudar o sistema político em
vigor, mas sem guerra civil. Dependem de ato de
reconhecimento.
Movimento de libertação nacional: movimento para a
construção de um novo Estado.
Estados possuem personalidade jurídica originária.
Organizações internacionais possuem personalidade jurídica
derivada.
O parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça no
caso Reparação de danos a serviço das Nações Unidas acerca
da morte de Folke Bernadotte é o marco que atribuiu
personalidade jurídica às organizações internacionais.

Sujeitos de direito internacional público: o Estado.


O Estado possui os seguintes elementos constitutivos:
população (elemento humano), território (elemento físico) e
governo soberano (elemento político).
A Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres
dos Estados atribuiu aos Estados os seguintes
elementos: população permanente, território
determinado, governo e capacidade de se relacionar com
os outros Estados.
A população é a dimensão humana do Estado. É constituída
pelos nacionais residentes ou não em seu território.
A nacionalidade é um vínculo pessoal de jurisdição.
A nacionalidade vincula uma pessoa à população do
Estado ainda que ele não resida no território. Da mesma
forma, um estrangeiro residente no território não faz
parte da população, pois não é um nacional.
O território é dimensão física onde o Estado exerce jurisdição
geral e exclusiva.
A jurisdição não é absoluta porque há pessoas e bens
que possuem imunidade.
É possível a atuação extraterritorial do Estado, como,
por exemplo, no caso de julgamento de nacionais por
crimes cometidos no exterior.
O governo soberano é a dimensão política do Estado.
Os Estados são igualmente soberanos entre si e, por
isso, a sociedade internacional é descentralizada.
Os Estados podem ser classificados da seguinte maneira:
1) Simples ou unitários: centralizados ou
descentralizados.
2) Compostos: por coordenação ou por subordinação.

Sujeitos de direito internacional público: Organizações


internacionais.
É possível selecionar 03 motivos que levam os Estados a
participarem de organizações internacionais:
1) institucionalizar o controle de determinados temas;
2) criar instituições independentes da burocracia
nacional;
3) for permanente de negociação, coordenação e
cooperação multilateral.
Segundo Mazzuoli, organização internacional é uma
associação voluntária de Estados, criada por um convênio
constitutivo e com finalidades pré-determinadas, regida pelas
normas do direito internacional, dotada de personalidade
jurídica distinta da dos seus membros, que se realiza em
organismo próprio, dotada de autonomia e especificidade,
possuindo ordenamento jurídico interno e órgãos auxiliares,
por meio dos quais realiza os propósitos comuns dos seus
membros, mediante os poderes próprios que lhes são
atribuídos por estes.
A personalidade jurídica da organização internacional é
derivada e distinta da personalidade dos Estados-membros.
Ela é oponível a toda a sociedade internacional e
independe de reconhecimento.
Dentro do tratado constitutivo de uma organização
internacional estão previstos dispositivos básicos para seu
funcionamento, como: personalidade jurídica, atos como
fontes de direito internacional público, capacidade para
celebrar tratados, direito de legação ativo e passivo e atuação
restrita a sua capacidade.
Direito de legação é o direito de enviar e receber
representantes.
As organizações internacionais, de forma geral, apresentam a
seguinte estrutura básica: Assembleia-geral ou Conselho
Ministerial, Secretaria, Secretário geral, Conselho
permanente, Mecanismo de solução de controvérsias e órgãos
específicos.
Existem, no geral, 03 categorias de membros em organizações
internacionais:
1) membro permanente: foi aceito na organização e tem
direitos de voz e voto.
2) membro temporário: participa, a convite, de
atividades específicas da organização. Tem somente
direito de voz.
3) membro observador: demonstra vontade de integrar a
organização, mas ainda não foi aceito. Tem somente
direito de voz.
Acordo de Sede: é o acordo firmado entre a organização
internacional e o país que abrigará sua sede.
A sede não precisa ficar necessariamente no território de
um Estado-membro.
As organizações internacionais possuem algumas
capacidades institucionais para: celebrar tratados, enviar e
receber diplomatas, promover e participar de conferências
internacionais, apresentar casos em tribunais, ser depositária
de tratados, operar navios e aeronaves próprias e administrar
territórios.
As organizações internacionais possuem competência
institucionais sobre pessoas e sobre bens, bem como para
interpretação do direito aplicável.
Teoria das capacidades ou dos poderes implícitos: segundo
esta teoria é possível que uma organização internacional
trabalhe com temas que ultrapassem suas finalidades
institucionais, previstas no tratado constitutivo. Há somente
duas limitações a essa possibilidade: 1) ao ultrapassar suas
capacidades deve fazê-lo com o objetivo de cumprir a própria
missão; 2) não pode invadir a competência de outra
organização internacional.
As formas mais correntes de tomada de decisão dentro uma
organização internacional são: consenso, unanimidade,
maioria qualificada (2/3) e maioria qualificada com aceita de
Estados específicos.
O que difere o consenso da unanimidade é que neste
último todos os países precisam concordar com a
decisão, de forma positiva. Já no consenso é possível
que alguns Estados não votem de forma favorável,
contudo, eles também não se opõem a decisão.
Uma organização internacional tem instrumentos de controle
internos ou externos, bem como políticos ou jurídicos.
A revogação do tratado constitutivo é que extingue uma
organização internacional.

Processo de integração
Integração econômica é o fenômeno de formação de blocos
econômicos regionais com o objetivo de buscar o
desenvolvimento econômico.
A integração é um processo voluntário de união que trata de
questões econômicos, mas também pode alcançar questões
sociais e políticas.
A integração possui fundamento filosófico em Kant, que
idealizou uma “paz perpétua” pela união dos Estados em uma
grande federação.
O estudo dos processos de integração regional surge na
década de 1960, com o economista Balassa. Esse teórico
defende que que existem as seguintes fases num processo de
integração regional:
Área de livre comércio: envolve livre circulação de
mercadorias e serviços. Não precisa existir liberação
total de circulação de mercadorias e serviços, é possível
a imposição de restrições. Para formação de uma área
de livre comércio é necessária apenas livre circulação
substancial de mercadorias e serviços, não total.
União aduaneira: Além da livre circulação de
mercadorias e serviços, é preciso existir harmonização
de política comercial em relação a terceiros. O principal
elemento de caracterização da união aduaneira é a meio
da tarifa externa comum (TEC).
Mercado comum: Além da livre circulação de
mercadorias e serviços e a harmonização da política
comercial em relação a terceiros, é preciso existir livre
circulação dos fatores de produção, que são elementos
básicos para produção de bens e serviços (terra,
trabalho, capital e tecnologia). Também há
harmonização das políticas previdenciárias, trabalhistas
e capitais.
União econômica: Além da livre circulação de
mercadorias e serviços, da harmonização da política
comercial em relação a terceiros e da livre circulação dos
fatores de produção, é preciso existir harmonização das
políticas econômicas (cambial, monetária e fiscal).
Integração econômica ou união monetária: Nesta fase há
uma unificação, e não mera harmonização, das políticas
econômicas e existe um órgão de condução unificado e
supranacional.
Existe discussão doutrinária sobre se a União
Europeia é realmente uma união econômica,
especialmente pela inexistência de política fiscal
unificada e os efeitos de uma crise econômica.
Zona de preferência tarifária ou acordo preferencial é um
termo utilizado no âmbito da Organização Mundial do
Comércio para se referir ao período em que os Estados estão
num processo de aproximação e negociação para verificar a
possibilidade de uma integração.
Apesar de ser um estágio inicial de aproximação, ou
seja, o processo de integração não pode ser classificado
em algum das fases de Balassa, a zona de preferência
tarifária é considerada um estágio de integração em que
há outorga mútua de redução dos impostos de
importação.
O Mercosul é considerado pela doutrina uma união
aduaneira imperfeita, pois apesar da unificação tributária
proposta pelo Mercosul o regime de exceções é tão amplo que
impede, na prática, a unificação tributária.

Direito comunitário
Direito comunitário não se confunde com o estudo dos
processos de integração entre países.
Direito comunitário é uma terminologia relacionada ao
avanço do processo de integração europeu.
1951: Comunidade Europeia do Carvão e do Aço
(CECA).
1957: Comunidade Econômica Europeia (CEE) e
Comunidade Europeia de Energia Atômica (EURATOM).
2007: Tratado de Lisboa (unificou e deu personalidade
jurídica à União Europeia).
Direito comunitário é diferente de direito internacional, pois
representa uma ordem jurídica autônoma.
Direito comunitário é aquele que regulamenta as relações
internas de um bloco regional. Contudo, não é correto
chamar de direito comunitário todo regulamento interno de
qualquer bloco regional, pois essa terminologia é mais
relacionada à União Europeia, que contem órgãos
supranacionais que produzem normas vinculantes e que não
passam por processos de internalização.
Direito comunitário originário: normas que os Estados
manifestaram seu consentimento soberano em participar e
que servem de fundamento para a criação de órgãos
supranacionais.
Direito comunitário derivado: normas emanadas dos órgãos
supranacionais criados pelo direito comunitário originário e
adotados pelos Estados membros do bloco regional.
Não existe direito comunitário no Mercosul, pois o Mercosul
ainda está na fase de União Aduaneira e não possui
organismos supracionais, mas sim intergovernamentais. As
decisões dos órgãos do Mercosul precisam ser internalizadas
pelos países para serem aplicadas.
Existe discussão doutrinária sobre se as normas de direito
comunitário são superiores às demais normas internas dos
Estados, inclusive a Constituição. Majoritariamente, a
doutrina defende que existe sim superioridade do direito
comunitário.
Existe precedente do Tribunal de Justiça da União
Europeia que reconhece a prevalência das normas de
direito comunitário sobre o ordenamento jurídico
interno dos Estados membros, inclusive a Constituição.
O Tribunal de Justiça da União Europeia não detém o
monopólio de aplicação do direito da União Europeia e
suas decisões não tem efeito imediato em todos os
Estados comunitários.
Princípios de direito comunitário (José Souto Maior Borges):
Princípio da Subsidiariedade: dá relevância aos Estados,
porque a Europa comunitária concretiza-se na união
dos Estados, mas não no sacrifício de suas identidades,
devendo a comunidade atuar subsidiariamente ao
Direito intraestadual.
Princípio da Competência por Atribuição: a comunidade
só deve exercer suas funções nos limites de suas
atribuições, conforme instituídas pelos tratados.
Princípio da Proporcionalidade: a comunidade não deve
ultrapassar os meios necessários para alcançar o seu
objetivo.
Princípio da Coesão: visa à coesão econômica e social na
área comunitária.
Princípio da Lealdade: os Estados-membros da
comunidade devem observar a boa-fé diante dos
compromissos assumidos.
Princípio da Igualdade: as relações entre as pessoas
jurídicas de Direito Público e de Direito Privado e entre
umas e outras devem pactuar-se pela igualdade. A
busca é da integração cada vez maior, e não da
dicotomia entre o Direito comunitário e os Direitos
nacionais, embora os Estados-membros conservem sua
personalidade jurídica internacional.
Princípio da Democracia: reforça o caráter democrático
das instituições (Tratado de Maastricht, art. 1º).
Decisões tomadas com abertura e divulgação, para que
os cidadãos europeus possam delas ter consciência.
Princípio da Supranacionalidade: concretiza o primado
do Direito comunitário sobre o direito interno.
Há parcela da doutrina que acredita que o
Mercosul somente viabilizaria a consecução de seu
objetivo (Mercado Comum) se o direito do Mercosul
prevalecesse sobre o Direito dos Estados partes.
Princípio da Preservação do Acervo Comunitário:
mantém os tratados em vigor, mesmo para os novos
Estados que ingressarem na comunidade.

União Europeia
Histórico de formação da União Europeia:
1944: Benelux.
1945: Conselho da Europa.
1951: Tratado de Paris cria a Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço (CECA).
Organização Mundial do Comércio (OMC)
Princípios orientadores da OMC:
Não-discriminação:
Previsibilidade:
Concorrência leal:
Proibição de restrições quantitativas:
Tratamento especial e diferenciado para países em
desenvolvimento:

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