Você está na página 1de 14

Criminologia e Justiça

Restaurativa

Aula 1 - Conceito, Objetos e Finalidade da


Criminologia

INTRODUÇÃO
Você conhecerá a ciência que estuda, analisa e investiga os crimes e os criminosos de forma geral, denominada
Criminologia, bem como os contextos sociais, a vítima, o infrator, o comportamento delitivo. Mas, antes, para
entendermos o conceito de Criminologia, é importante termos uma noção de alguns aspectos históricos que envolvem
o tema.

É característica do ser humano diante de algum conflito de interesse, impulsionado por medo, dúvida ou erro, colocar-
se entre o bem e o mal, tendo que tomar decisão de qual medida será mais adequada à situação ora enfrentada, mas,
às vezes, excede-se e faz a pior escolha.

O indivíduo, de acordo com suas convicções, valores e crenças e o no que considera o que é certo, provoca, muitas
vezes, desavenças e embates, choques entre os demais indivíduos do seu ambiente social. O stress, a inveja, a
arrogância, a ira, bem como as paixões e os amores destrutivos, são fatores que podem levá-lo a ruína moral e
espiritual e, consequentemente, ao envolvimento direto com a criminalidade.

Se estes conflitos não são apaziguados por meio de medidas conciliatórias, podem favorecer para alteração dos
ânimos, desenhando um cenário propício à ocorrência de uma ação delituosa.

Daí vem a necessidade de se estudar o crime, por intermédio da Criminologia em que se verifica suas motivações e o
conhecimento de todas as nuances que abrangem os envolvidos em um crime, ou seja, o comportamento do criminoso
e da vítima.

Os objetos de estudo da Criminologia, foram, basicamente, o delito e o delinquente, ou seja, o crime e o criminoso. Com
o passar do tempo, houve uma ampliação, passando-se a estudar também a vítima e o controle social.

OBJETIVOS

Reconhecer a definição de criminologia.

Compreender sua evolução histórica, bem como os seus objetos.

Distinguir os conceitos de criminoso, vitima e o controle social.


O CONCEITO DE CRIMINOLOGIA
Iniciaremos a nossa aula com uma breve abordagem sobre a evolução do estudo do crime.

Primórdios da civilização
Desde os primórdios da civilização humana, podemos observar evidências de comportamento que caracterizam traição e
violência, representado pela história bíblica dos irmãos Caim e Abel.

Certo dia, Caim e Abel, conforme costume na época, ofereceram um sacrifício ao Senhor, como uma maneira de adoração ao seu
Deus. Os sacrifícios feitos faziam parte de suas produções.

Abel sempre ofertava os melhores frutos de sua colheita, que, no seu caso, eram as melhores ovelhas do rebanho. Enquanto Caim
oferecia o que restava de sua colheita, os frutos da terra, fazendo de seu ato um gesto sem importância, apenas de formalidade,
diferentemente de Abel.

O Senhor viu com prazer o sacrifício de Abel, mas não olhou para a oferenda de Caim e este ficou muito irritado. Como
consequência, Caim passou a invejar o irmão e, para ficar com ele em local isolado, chamou Abel para passearem juntos pelo
campo. Durante o passeio, a sós, Caim, impelido por um sentimento de inveja, fez o que viria a ser conhecido como o primeiro
homicídio, matou Abel.

História da civilização
A história da civilização demonstra que, para concretizar a tentativa do ser humano coexistir em sociedade, estabeleceram-se leis
e regras de conduta para serem seguidas por todos, criando-se mecanismos para uma convivência harmoniosa, pois o
fundamento do Direito está na convivência humana.

Em todo convívio social, existem aqueles que não aceitam ser dominados nem oprimidos pelos grandes, e a outra parte, a classe
dominante, que quer dominar e oprimir as classes mais frágeis. Diante de uma sociedade desigual, surge o delito, fruto do conflito
de interesse e, sobretudo, da injustiça.

O que garante a paz social é o poder por meio do Direito, pois o Direito faz parte de todo o aparato estatal, visando a implementar
uma ideologia para a perpetuação das classes dominantes. As leis penais buscam proteger, em sua maioria, os bens jurídicos de
mais importância para a elite que, por conseguinte, são mais suscetíveis à ação dos menos favorecidos.

O poder é um produto da vontade humana e é conquistado pela força, e seu principal objetivo é organizar a sociedade.

Ciência da criminalidade
Em 1870, surge a ciência da criminalidade, com o principal objetivo de identificar as causas do crime, os fatores que desenvolvem
a criminalidade e encontrar formas de solucionar esse problema social.

A Criminologia nasceu com a tese do criminoso nato e que a causa do crime deveria ser encontrada no próprio criminoso.

De início, a Criminologia tinha como principal objeto de estudo o crime e o criminoso, porém, com a evolução da ciência, passou a
estudar também a vítima e o controle social. Todos esses estudos tinham por principal finalidade atribuir a culpa da criminalidade
a alguém ou a alguma coisa.

Globalização
Com a globalização, o indivíduo é inserido em um sistema político e social cada vez mais heterogêneo e complexo.
SAIBA MAIS
, As mudanças de comportamento pelo mundo têm gerado significativas transformações na concepção e no entendimento de
qual seria um comportamento ideal para uma convivência harmônica entre os indivíduos., , O ser humano comete crimes até
mesmo com certo prazer e é por isso que se faz necessário o controle social por intermédio da socialização com o objetivo de
compelir o homem a analisar e medir seus atos, ou seja, fazer uma dosagem de suas ações. É importante que, antes de qualquer
medida, reflita-se acerca das consequências jurídicas e sociais advindas dos seus atos delituosos.

ondemand_videoVídeo.

O Direito Penal tem por finalidade punir o indivíduo que infringiu as normas do ordenamento jurídico, com intuito de
ressocializar o infrator, a fim de introduzi-lo na sociedade e estimulá-lo a uma boa convivência.

Aquele que comete crimes não é mais um inimigo somente do governo instituído ou da vítima, mas sim de toda
sociedade e, desta forma, observe que o Estado transforma-se em responsável em aplicar e definir a contrapartida do
crime, ou seja, a pena e o crime passam a ser concebidos, antes de qualquer coisa, como rompimento do contrato
social.

A Criminologia se faz necessária para apurar o contexto no qual ocorre o crime, analisando aspectos psicológico,
antropológico e social.

As principais escolas criminológicas: a Escola Clássica, a Escola Positivista e a Escola Crítica.

Escola Clássica

A Escola Clássica defendia o indivíduo contra o arbítrio do Estado. A Escola trouxe novos
postulados, estudando a causa do crime a partir do criminoso, por meios dos fatores
etiológicos, psicológicos ou sociais que determinavam certas condutas criminosas.
Escola Positivista

A Escola Positivista teve início no final do século XIX, quando no âmbito filosófico as ideias
positivistas predominavam os estudos das ciências sociais, sobretudo, no campo da
Antropologia e da Sociologia, em razão de uma grande rejeição às ideias provenientes do
iluminismo, tanto pelo enorme aumento da criminalidade, quanto pela pluralidade de crimes
existentes e pelo aumento vertiginoso da reincidência dos criminosos. A Escola surge
buscando proteger a sociedade de forma mais efetiva contra a ação dos delinquentes,
dando-se prevalência aos direitos sociais em relação aos individuais.

A Escola Positivista pode ser dividida em três fases distintas: fase antropológica (Cesare
Lombroso); fase jurídica (Rafael Garofalo); e fase sociológica (Enrico Ferri).

Escola Crítica

A Escola Crítica confronta as teorias sociológicas sobre o crime e o controle social.

A Criminologia é baseada em dois pressupostos:

A Criminologia também deve ser entendida como:

Ciência empírica, é essencial para a justiça e acarreta na aplicação das normas penais, tendo em vista que
conhece as origens do comportamento criminoso;

Fornecedora de informações seguras sobre a gênese, as dinâmicas e as variáveis principais do crime, além
de técnicas de intervenção positiva para com o criminoso nos diversos modelos de combate ao crime;

Ciência do “ser”, empírica, na medica em que seu objetivo é visível no mundo real e não no mundo dos
valores, como acontece no mundo do Direito, que é uma ciência do “dever-ser”, portanto normativa e valorativa.
A Criminologia pode ser dividida em:

Fonte:

Clínica: destina-se ao estudo dos indivíduos com o fim de estabelecer diagnóstico e prognóstico de tratamento, em
uma identificação entre a delinquência e a doença;

Fonte:

Jurídica: busca compreender o crime dentro de uma abordagem jurídica;


Fonte:

Sociológica: busca entender o crime no contexto social em que ocorre.

DOS OBJETOS DA CRIMINOLOGIA


A Criminologia e o Direito Penal encarregam-se de estudar a conduta antijurídica, culpável e lesiva (crime), ambos
abordam perspectivas e ângulos diferentes para o instituto do crime.

Podemos verificar que o Direito Penal é uma espécie de ciência fundamentada e formada por normas (ciência
normativa), que enxerga o crime como uma conduta anormal, e quando esta conduta é praticada, é fixada a punição.

Tenha-se presente que o Direito Penal define o crime como espécie de conduta (comissiva ou omissiva), típica (pois
esta é prevista em lei), antijurídica (contrária ao que disciplina a lei) e culpável (censurável, reprovável socialmente, por
dolo, imprudência, negligência ou imperícia).

Quanto à Criminologia, esta concebe o crime como espécie de mazela ou distúrbio social, um problema comunitário e
social.

Os objetos da Criminologia incluem:

O crime: ação ilícita cuja prática é vedada por parte do indivíduo;

O criminoso: que é o sujeito que pratica o crime (por ação ou omissão);

Os mecanismos de controle social: formais (lei) ou informais (tradução, moral, ética) que definem o crime e
os mecanismos de correção;

A vítima: aquele que sofre as consequências do crime;

Circunstâncias do crime: o contexto no qual o crime foi praticado.


Antigamente, o objeto de estudo era o crime e o criminoso,
porém, com a evolução dos estudos da Criminologia, viu-se
a necessidade de incluir a vítima e o controle social.

CRIME
No que tange ao crime, a Criminologia procura efetivamente analisar a conduta antissocial do agente, os motivos que a
geraram, analisando da mesma forma, o tratamento concedido ao criminoso, com o propósito de sua não reincidência.

A Criminologia não pode se contentar com a limitação de somente adotar o conceito jurídico e penal de crime, vez que
tal conduta acabaria com sua forma de agir, autônoma e independente, bem assim, também a transformaria em uma
simples e banal ferramenta de auxílio ao sistema penal.

Também não se contenta com o conceito da Sociologia de que o crime é uma conduta desviada, que diverge dos
padrões ditos normais, da sociedade.

Sob o enfoque da Criminologia, o delito trata-se de fenômeno comunitário e social, mostrando-se como um problema
complexo, exigindo que seus estudiosos entendam suas várias faces.

O crime é:

Criminoso

É aquele que pratica crime. Uma das mais


importantes, e pode-se dizer também, primeira
definição de criminoso, era a que tinha os filósofos
clássicos, que definiam aqueles que praticavam os
delitos, como pecadores que optaram pelo mal,
mesmo podendo e devendo respeitar a lei.
ondemand_videoVídeo.

Tal conceito é inerente, principalmente, a Rousseau, em seu livro Contrato social.

Fonte: Wikipedia

A ideia mudou com o passar dos tempos:


VÍTIMA
A vítima passou a ser estudada de forma mais aprofundada somente a partir da Segunda Guerra Mundial,
principalmente em razão do genocídio dos judeus por Adolf Hitler.

O conceito de vítima está baseado no significado de que é uma pessoa que acaba por sofrer as consequências
infelizes de seus atos, dos atos de outrem ou até mesmo do acaso. É aquele que é atingido pela prática do crime.

A análise acerca do comportamento da vítima é muito importante, vez que, possibilita a compreensão e o estudo do
papel que esta representa e, por sua vez, vem a desempenhar no desencadear do delito.

Classificação das vítimas

• Vítima completamente inocente ou vítima ideal: aquela que não tem nenhuma participação
no crime, exceto sofrê-lo;

• Vítima por cooperação: a vítima colabora, de alguma forma, para a realização do crime;

• Vítima por ignorância: a vítima contribui de forma não intencional para o crime. Ex.:
frequentar lugares perigosos, expor objetos de valor;

• Vítima tão culpada quanto o delinquente: a vítima participa ativamente do crime. Ex.: rixa;

• Vítima provocadora: a vítima origina ativamente o crime, sem a qual ele não se realiza. Ex.:
homicídio após injusta provocação;

• Vítima como única culpada: a vítima provoca o crime e sofre e suas consequências. Ex.:
atravessar uma rua embriagado e morrer atropelado.

Classificação por Resistência

• Vítima resistente: aquela que repele a execução do crime;

• Vítima não resistente: aquela que não repele a execução do crime.

Classificação por conhecimento da vítima


• Vítima indiferente: aquela que não era conhecida pelo delinquente. Ex.: pessoa assaltada
aleatoriamente na rua;

• Vítima indeterminada: o crime é cometido contra a coletividade, porém atingindo o


indivíduo. Ex.: crime contra o consumidor;

• Vítima determinada: a vítima é conhecida pelo delinquente.

Classificação por Organização

• Vítimas individuais: pessoas físicas que são vítimas de um crime;

• Vítimas familiares: pessoas físicas que são vítimas de membros do seu círculo familiar;

• Vítimas coletivas: a vítima não é uma pessoa física, mas, em geral, uma organização. Ex.:
administração pública;

• Vítima da Sociedade: vítimas originadas da forma como a sociedade age e está


estruturada. Ex.: homicídio sem justificativa provocado por ação policial.

ondemand_videoVídeo.

CONTROLE SOCIAL DO DELITO


Ao longo da história, toda comunidade tem necessitado de instrumentos de disciplina, que visem assegurar a boa
relação e convivência de seus membros, vendo-se obrigada a desenvolver uma série de mecanismos que possam
garantir a harmonia e os objetivos traçados para aquela comunidade em seu plano social.

Tais instrumentos de disciplina e os mencionados mecanismos visam regrar e conter a conduta humana, direcionando
o comportamento pessoal e social do indivíduo.
Entende-se como controle social um grupo de sanções e mecanismos sociais que visam à submissão dos homens aos
padrões e às normas estabelecidas para a comunidade.

Com o intuito do alcance destes objetivos, a sociedade (organização social) utiliza dois métodos interligados entre si:

ondemand_videoVídeo.

FINALIDADES DA CRIMINOLOGIA

Reconhecer a natureza do ato criminoso e como ele ocorre;


Compreender o criminoso e como é levado a cometer atos criminosos;

Prover recursos para alterações de leis, prevenção de crimes, correção dos efeitos dos crimes e
ressocialização do criminoso.

EXERCÍCIOS
Questão 1: Polícia Civil – SP (PC/SP) 2013 - Assinale a alternativa correta a respeito da Criminologia.

Constitui seu objeto a análise apenas do delito e do delinquente, ficando o estudo da vítima sob a alçada da Psicologia Social.
São características fundamentais de seu método o dogmatismo e a intervencionalidade.

É uma técnica de investigação policial, que faz parte das Ciências Jurídicas.

São suas finalidades a explicação e a prevenção do crime bem como a intervenção na pessoa do infrator e avaliação dos
diferentes modelos de resposta ao crime.

É uma ciência dogmática e normativista, que se ocupa do estudo do crime e da pena oriunda do comportamento delitivo.

Justificativa

Questão 2: Polícia Civil – SP (PC/SP) 2013 - A moderna Criminologia:

Tem por seus protagonistas o delinquente, a vítima e a comunidade.

Vislumbra o delito como enfrentamento formal, simbólico e direto entre dois rivais o Estado e o infrator que se enfrentam,
isolados da sociedade, à semelhança da luta entre o bem e o mal.

Não considera como seu objeto de debate os aspectos político-criminais das técnicas de intervenção social e de seu controle.

Tem o castigo do infrator por exaurimento das expectativas que o fato delitivo desencadeia.

Tem por seus principais objetivos a reparação do dano causado ao Estado, a ressocialização do delinquente e a repressão do
crime.

Justificativa

Questão 3: Tribunal Regional do Trabalho / 15º Região (TRT 15º) 2013. Sobre a criminologia é INCORRETO afirmar:
Estuda crimes socialmente relevantes, tendo interesse em estudar homicídios dolosos e roubos.

Moderna, tem como meta erradicar as causas do crime, pois desta forma também se estará eliminando os seus efeitos.
Tem como um dos objetivos orientar a política criminal na prevenção especial e direta dos crimes socialmente relevantes.

É uma ciência que trata do delito, do delinquente e da pena.

É um conjunto de conhecimentos que estuda o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente e sua
conduta delituosa, incluindo também a maneira de ressocializá-lo.

Justificativa

Glossário

Você também pode gostar