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Estudo sobre os conflitos

Aula 3 - Análise dos conflitos


INTRODUÇÃO

Mesmo o conflito sendo comum nas nossas relações, não deixa de ser complexo. Muitas vezes, vivemos uma situação
de conflito de forma equivocada e a compreensão que damos a ele, naquele momento, pode até intensificá-lo.

De acordo com Lederach (2012), não podemos resolver um conflito se não o entendermos. O conflito, em todos os
seus níveis e contextos, é um fenômeno formado por diferentes fatores, que se misturam em aspectos distintos –
relação, interesses, valores etc. Saber trabalhar com essa complexidade é indispensável para podermos travar um
confronto construtivo com os conflitos.

Nesta aula, reconheceremos a persistência dos conflitos no nosso cotidiano e analisaremos seus diferentes
componentes. Além disso, serão abordadas as semelhanças e as diferenças entre os níveis dos conflitos. A estrutura e
os parâmetros dos conflitos interpessoais farão parte de nossos estudos nesta aula.
OBJETIVOS

Analisar a presença dos conflitos no cotidiano;

Descrever uma concepção diferente do conflito;

Distinguir os diferentes níveis e componentes dos conflitos;

Identificar os conteúdos dos conflitos.


CONFLITOS E COTIDIANO
Os conflitos, em nosso cotidiano, independente de suas características, implicam em uma percepção diferente de
interesses divergentes, sejam estes divergentes ou não na realidade.

Independente das diferenças ocorrerem entre indivíduos, Estados, grupos ou organizações,


todo conflito revela certo grau de incompatibilidade percebida pelas partes, em relação aos
seus objetivos ou meios para realizá-los.
Os conflitos podem ter origem em uma competição, em diferenças de valores ou crenças,
ou diferenças na relação. Por exemplo, dois sócios em uma empresa podem estar em
desacordo sobre como pagar seus funcionários (recurso), se é melhor ou não promover
alguns chefes de setores (valores ou crenças) e de que forma podem resolver essa situação
entre eles (relacional).
Independente do nível de análise, as partes percebem de forma distorcida o problema
enfrentado. O conflito sobre determinados temas, pode estar obscurecido por situações
de outros níveis.

ANTECEDENTES DOS CONFLITOS


Na hora de analisarmos o conflito, precisamos ter em mente que há um grande número de condições que afetam o seu
desenvolvimento. Essas variáveis são, segundo Heredia (2011):

• Contexto físico; (glossário)

• Contexto social; (glossário)

• Contexto do problema. (glossário)

Analisando um pouco mais os antecedentes, podemos dizer que uma das fontes mais frequentes do conflito é a má
interpretação de uma parte sobre a intenção da outra.

Exemplo: uma ação que A pode ver como positiva, B pode considerar negativa e abusiva.

Outra questão que se coloca é sobre os observadores.

Exemplo: uma testemunha em uma relação interpessoal, pode levar as partes a extremarem suas propostas e
dificultarem o acordo.

DIMENSÕES DOS CONFLITOS


Os conflitos podem ser definidos a partir de três dimensões: perceptiva, emocional e comportamental. Segundo Bastos
(2014), podemos representar da seguinte forma:
ESTRUTURA DOS CONFLITOS
As fontes principais dos conflitos podem ser representadas, independente do nível e do campo, por meio do círculo do
conflito, criado por Moore (1998).

Em outras palavras, esses diferentes tipos representados podem ser descritos como:

CONFLITOS DE RELAÇÃO
Ocorrem devido a fortes emoções negativas, percepções falsas ou estereótipos (glossário), à escassa ou falsa
comunicação ou a condutas negativas repetitivas. Esses problemas levam a conflitos chamados por Moore (1998) de
desnecessários (ou irreais) .Os problemas de relação, muitas vezes, dão o suporte para discussões e conduzem,
desnecessariamente, a conflitos destrutivos.

CONFLITOS DE INFORMAÇÃO
Ocorrem pela falta de informação necessária para tomar as decisões corretas. As pessoas podem estar mal-
informadas, diferem sobre qual a informação é importante, interpretam de forma diferente a informação ou têm
critérios diferentes. Alguns conflitos de informação podem ser desnecessários, como aqueles que acontecem entre
pessoas com falta de informação ou informação insuficiente. Outros conflitos podem ser genuínos ou autênticos
quando as informações não são compatíveis.

CONFLITOS DE INTERESSE
Ocorrem pela competição entre necessidades incompatíveis ou percebidas desta forma. Eles acontecem quando uma
ou mais partes acreditam que só conseguirão satisfazer suas necessidades se a dos outros não forem satisfeitas.
Esses conflitos são representados por: questões substanciais, como financeiras; questões de procedimentos, a
maneira como a disputa pode ser resolvida; questões psicológicas, como percepção de confiança, respeito e
participação.
CONFLITOS ESTRUTURAIS
Ocorrem por causa das estruturas opressivas das relações humanas, segundo Galtung (1975), citado por Heredia
(2011). Essas estruturas podem ser representadas por forças externas às pessoas em conflito. Por exemplo,
condicionamentos geográficos, tempo, estruturas organizacionais.

CONFLITOS DE VALORES
Ocorrem por causa dos sistemas de crenças incompatíveis ou percebidos como incompatíveis. Os valores, segundo
Moore (1998), são crenças que as pessoas usam para dar sentido às suas vidas. Essas disputas surgem quando as
pessoas tentam impor às outras seus valores ou pretendem que apenas os seus valores sejam respeitados.

NÍVEIS DOS CONFLITOS


O conflito está em toda parte e uma forma de classificá-lo é em níveis. Vamos ver uma possibilidade de classificação:

AS FUNÇÕES DOS CONFLITOS

Retardar tarefas que deveriam ser executadas e são retardadas por causa do conflito.

Verificar o poder que cada parte tem, a partir da confrontação.

Originar atitudes cooperativas a partir da necessidade de resolver o conflito.

Colocar as partes que se enfrentam em relação.

Afetar a coesão que mantém um grupo entre os seus membros.

Provocar reações em cadeia.


Permitir que se manifestem habilidades pessoais novas ao emergir o conflito.

Satisfazer necessidades psicológicas.

Surgir inovações no marco do conflito.

Aprender métodos de prevenção de conflitos futuros.

Surgimento de novas informações a partir do conflito.

Desgaste emocional.

Promover o interesse pessoal.

Aparecimento de novos compromissos entre as partes e nova estabilidade na relação a partir de acordos.
Como você pode perceber, dessa análise sobre as funções dos conflitos existem aspectos positivos (construtivos) e
negativos (destrutivos), que podem gerar um ciclo construtivo ou destrutivo do conflito. A visão negativa que temos do
conflito está ligada ao desgaste emocional que gera. Com frequência, esquecemos aquele ditado que diz “Há males
que vêm para o bem”. Uma gestão adequada dos conflitos está intimamente ligada com a gestão emocional que os
conflitos provocam.

Redorta (2007) resume alguns aspectos dos conflitos - os positivos (construtivos) e os negativos (destrutivos). Veja, a
seguir, quais são eles.

QUESTÃO
Considerando que, em nossa disciplina, o modo como enfrentamos o conflito fará seu curso ser destrutivo ou
construtivo, o que você considera mais importante: Evitar os conflitos ou aceitá-los?

Resposta Correta
OS CONFLITOS NO TEMPO
Estudando a perspectiva temporal dos conflitos, vemos que:

• Todo conflito tem uma fase de início, uma culminante e uma etapa final.

• Segundo as características de cada conflito, essas fases (ou etapas) podem ser mais ou menos reconhecidas e a sua
duração pode ser diferente.

Uma forma de representar os conflitos no tempo adotada por Redorta (2007), é exposta a seguir:

Veja agora duas situações de um relacionamento que, provavelmente, você já presenciou ou ouviu alguém contar:

Analisando a situação...

O episódio teve um conflito de curta duração e, mesmo intenso, as emoções se atenuaram rapidamente. Às vezes, os
conflitos muito intensos podem não resolver-se em um encontro (ou em vários) e a emoção vai diminuindo com o
tempo.
Analisando a situação...

Esse conflito não resolvido, se encontra e irá surgindo regularmente, com menor intensidade. Algumas vezes, ele se
estende, com rapidez, para os grupos sociais.

OS CONFLITOS NO TEMPO
Depois de conhecer alguns fatos da vida do casal, responda:

Você acredita que Sílvia já tinha ciúmes dessa amiga de Rogério antes, e o gesto dela (abraçar e cochichar no ouvido)
foi apenas o estopim para o conflito?

Será que a namorada teria essa atitude com qualquer mulher que se aproximasse dele, independente do abraço dado?

Resposta Correta
TEORIA DOS 3 PS DE JOHN PAUL LEDERACH
Para realizarmos a análise dos conflitos, seguiremos as ideias de Lederach (2012).

Para este autor, o conflito, apesar da complexidade, costuma manifestar certas características. Há uma estrutura que
define o conflito e que é composta pela interação de três elementos (conhecidos também como 3 Ps), que podem ser
representados da seguinte forma:

PROCESSO
É como o conflito se desenvolve e como as pessoas o resolvem. É o modo como as partes tomam decisões e como se
sentem a respeito disso.

PESSOAS
É um elemento de estrutura do conflito que inclui tanto os envolvidos como os elementos psicológicos ( sentimentos,
emoções, autoestima, percepções individuais).

PROBLEMA
São as diferenças e os assuntos que as pessoas enfrentam. São as bases que causam o conflito e sobre as quais as
pessoas desenvolvem suas posições.

MODOS DE RESPONDER AOS CONFLITOS


Quando existe um conflito entre duas ou mais partes, independente de quem são essas partes, há certos métodos para enfrentá-
los, segundo Rubin; Pruitt; Kim (1994):
• Dominação – ocorre quando uma das partes tenta impor sua vontade por meios físicos e/ou psicológicos;
• Capitulação – ocorre quando uma das partes cede frente à outra, independente de qual seja a sua vontade ou expectativas.
Pode estar associada à várias crenças, como: ceder porque não tem opção ou ceder agora para conseguir que os outros cedam
em outras ocasiões;
• Retirada – ocorre quando uma parte abandona o conflito, recusando-se a fazer parte dele por mais tempo;
• Inatividade – ocorre quando uma parte não faz nada, intencionalmente, esperando que com o tempo a situação melhore;
• Negociação – ocorre quando duas ou mais partes interdependentes se relacionam, na busca de um acordo mutuamente
aceitável;
• Intervenção de terceiros – ocorre quando um indivíduo ou grupo, que não é parte do conflito, intervém para ajudar as partes
envolvidas a identificar o problema e levar para um acordo.

Como você observou, há um número ilimitado de estratégias para enfrentar os conflitos. No entanto, há diferenças
importantes para acessar essas estratégias.

ATIVIDADE
Para lidar de forma positiva com os conflitos, devemos:

Adiar a sua resolução.

Acomodarmo-nos à situação.
Ter uma atitude assertiva e de cooperação individual e coletiva.

Renunciar à procura de soluções.

Incentivar as divergências.

Justificativa
Glossário
CONTEXTO FÍSICO

Lugar, oportunidades de comunicação, limite de tempo.

CONTEXTO SOCIAL

Número de partes, início do conflito, aspectos entre as partes do conflito.

CONTEXTO DO PROBLEMA

Assuntos em conflito.

ESTEREÓTIPO

É pressuposto sobre determinadas pessoas, muitas vezes ele acontece sem ter conhecimento sobre grupos sociais ou
características de indivíduos, como aparência, condições financeiras, comportamento, sexualidade etc. É geralmente um conceito
infundado sobre algo e é normalmente depreciativo, que as pessoas se baseiam em opiniões alheias e as tornam como
verdadeiras. O estereótipo também faz parte do racismo, da xenofobia e da intolerância religiosa. Existem estereótipos positivos
também, por exemplo, o Brasil ser conhecido como o “país do futebol”, isso demonstra uma grande qualidade da seleção e dos
jogadores brasileiros.
Disponível em //www.significados.com.br/estereotipo/ (//www.significados.com.br/estereotipo/). Acesso em 21 ago. 2016

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