Estudo sobre os conflitos

Aula 1 - A Gênese dos Conflitos

INTRODUÇÃO

Os conflitos são encontrados em todos os tipos de relacionamentos, ao longo da vida aumentam de quantidade e vão
se tornando mais complexos. Segundo Fisher, Patton e Ury (1992, p. 15), “o conflito é uma indústria em crescimento”.
Vários fatores contribuem para que apareça, entre eles podemos citar: diferenças de aspirações entre as pessoas;
aumento da complexidade de tarefas; conscientização de direitos; surgimento de tecnologias que abrem novas
possibilidades; mensagens através dos meios de comunicação, entre outros.

Quando falamos em conflito não podemos considerar estagnação. O conflito é como uma mola que impulsiona a
humanidade na busca de sua sobrevivência. Sendo assim, alguns autores falam de gestão de conflitos no lugar de
solução de conflitos. A gestão de conflitos permite identificá-los, compreendê-los e interpretá-los para utilizá-los a favor
do indivíduo.
Nesta aula, você compreenderá alguns conceitos fundamentais que permitirão o seu entendimento inicial sobre os
conflitos. Além disso, abordaremos as causas e características dos conflitos. Serão descritos e analisados, também,
os conteúdos dos conflitos, possibilitando mais esclarecimento sobre estes aspectos.

OBJETIVOS

Analisar uma visão abrangente sobre a conceituação dos conflitos;

Identificar os fatores que fazem parte dos conflitos;

Compreender como funcionam os fatores que influenciam os conflitos;

Estabelecer as diferenças entre os elementos fundamentais presentes em todos os conflitos.

AS VÁRIAS CONCEITUAÇÕES DOS CONFLITOS

O que é o conflito?

O conflito surge sempre que existem

necessidades, motivos ou interesses
opostos, independente de sua natureza.
Está associado às experiências
negativas ou desagradáveis, mas, no
entanto, pode ser rico em experiências
pessoais, quando bem administrado.

Os conflitos
desencadeiam crises.
Saiba mais
, No idioma chinês, por exemplo, crise representa um momento perigoso em que as coisas começam
a dar errado. Uma situação arriscada em que se deve ser cauteloso.

Existem relacionamentos sem conflitos?

Não, porque as pessoas são diferentes umas das outras
e isso resulta nas divergências que formam os conflitos.

Podemos falar que um conflito ocorre,

quando duas partes entendem que suas
necessidades não podem ser satisfeitas
ao mesmo tempo.

Podemos dizer que um conflito surge,

também, quando as pessoas desejam a
mesma coisa, e o acesso ao que é
desejado é muito diferente para cada
uma.
 Vivemos alguns conflitos e sabemos, por experiência, o que é.
Mas, se não o conceituarmos diremos coisas como:

Vamos abordar alguns conceitos sobre os

conflitos.

Saiba mais!
, Outra definição citada pelos mesmos autores (MILLÁN & GÓMEZ, 2010), a partir de um grupo que
oferece serviços de mediação pela internet — Intermediación — afirma que o conflito é uma
incompatibilidade entre condutas, percepções, objetivos e/ou afetos entre indivíduos ou grupos, que
definem suas metas como mutuamente incompatíveis.
Estamos percebendo, a partir destes conceitos que para falarmos de conflito devemos observar as seguintes
circunstâncias:
Como você pode observar, não existe uma única palavra para definir o conflito, pois trata-se de um conceito
multidimensional que combina a racionalidade com as emoções. Na prática, palavras como dilema, problema,
confusão e conflito são utilizadas como sinônimos, mas em nossa disciplina será útil diferenciá-las.

Atenção!
, Para Redorta (2007), conflito é um problema cujos aspectos emocionais aparecem deslocados,
enquanto o problema seria um conflito cujos aspectos emocionais estão sob controle. Quando o nível
emocional é baixo e permite à pessoa atuar friamente e o nível de racionalidade é muito alto,
estaremos diante de um dilema. O dilema só depende de uma tomada de decisão no processo.
Entretanto, quando há um alto nível de emocionalidade e racionalidade teremos uma situação definida
como confusão, isto é, extremamente complexa.

QUAL É A ORIGEM DOS CONFLITOS?

Existem, na ciência, diferentes formas
de pensar sobre qual a origem dos
conflitos. Cada ciência tem seu próprio
ponto de vista sobre a realidade do
conflito, que muitas vezes não coincide.

O estudo sobre os conflitos começou a

avançar recentemente através de uma
ciência multidisciplinar chamada de
conflitologia, que trata dos conflitos e de
suas formas de resolução.

Existem alguns processos básicos nos

conflitos, pois os eles existem na vida de
todos e em todas as partes. Nem todos
os conflitos são necessariamente maus
e pode haver aspectos que tenham
alguma utilidade social.
As relações de poder, por exemplo,
formam o núcleo
de toda interação social e se situam no
centro
desta discussão.

Vamos ver agora, um dos temas básicos em

relação aos conflitos, que diz respeito aos
processos de competição e cooperação.
Estes processos, muitas vezes, são a
essência e o indicador de vários tipos de
conflitos.

Origem do Processo Competitivo/Cooperativo

Tanto a competição quanto a cooperação são processos fundamentais na vida das pessoas. A vida se desenvolve
através destes processos que aparecem desde as células e que podemos encontrar tanto na natureza quanto nos
seres humanos.

Há uma alternância contínua entre competição e cooperação, ocorrendo, muitas vezes, situações de ambiguidade.
Geralmente, uma situação ou outra ocorre em razão de três fatores:

A Filosofia tem se ocupado, durante séculos, sem chegar a um acordo definitivo na análise de quais são as causas dos
conflitos e o que fazer para viver em mais harmonia. Thomas Hobbes, autor do século XVII, reduzia o problema
considerando três causas básicas como fonte dos conflitos:

O processo de competição (alguém acredita que pode mais do que o outro);

O processo de afirmação (alguém acredita que é melhor do que o outro); e
A desconfiança nas relações sociais.
Causas e características dos conflitos
Segundo Fiorelli, Fiorelli e Malhadas Júnior (2008),
a causa de todo conflito é a mudança, seja ela real
ou a partir da perspectiva de sua possibilidade de
ocorrência. Para estes autores, a mudança irá
interferir no relacionamento entre as pessoas,
grupos ou organizações e conduzirá ao conflito.

Atenção!
, As mudanças acontecem quando algo ou alguém interfere em um sistema (faremos um estudo
aprofundado sobre a Teoria dos Sistemas na disciplina Teoria do Processo de Mediação), que pode
ser uma pessoa até uma sociedade, e irá provocar, neste sistema, algum tipo de transformação ou
possibilidade de que esta venha acontecer.

A natureza dos conflitos depende das pessoas envolvidas e de vários fatores, como:

Bens (patrimônios, direitos, pertences individuais);

Princípios, valores e crenças de qualquer natureza;
Poder e relacionamentos interpessoais.

Em geral, estes elementos estão

combinados nestas situações. Por exemplo,
os relacionamentos pessoais, envolvem
valores e crenças e poder. Muitas vezes,
também estão ligados a bens. As situações
de conflito não são simples. Não se pode
conhecer totalmente, nem predizer, com
certeza, a sua evolução.

Como já vimos, a gênese do conflito é a mudança, mas uma mesma mudança pode gerar conflitos em algumas
pessoas e em outras não. Podemos, então, falar de causas acessórias de natureza psíquica e que envolvem
pensamentos e ideias sobre as transformações dos fatos.

As causas consideradas acessórias e mais presentes nestas situações, serão brevemente apresentadas para você,
porque teremos o desenvolvimento destas questões, de forma mais detalhada na aula 5. Vamos a esta breve
exposição:

Fonte da Imagem:

Esquemas rígidos de pensamento: são interpretações que a pessoa faz do mundo, durante o seu desenvolvimento,
construindo regras ou esquemas que podem ser pouco suscetíveis à mudanças ou flexíveis (mais predispostos à
mudança).

Pensamentos automáticos: são esquemas que funcionam como caminhos predefinidos, permitindo uma grande
economia psíquica e agilidade no raciocínio. Você deve estar percebendo que estes pensamentos automáticos, em um
esquema rígido de pensamento, deixará a pessoa sem muitas escolhas nas suas situações de conflito.
 Fonte da Imagem:

Crenças inadequadas ao contexto: são ideias sem ligação com a realidade, que a pessoa constrói para lidar com o
medo, a incerteza e reduzir riscos. Muitas têm origem em crenças do senso comum que, muitas vezes, quando
confrontadas, geram conflitos.

Fenômenos de percepção: é o mecanismo através do qual a pessoa interpreta os fenômenos do mundo externo e do
seu mundo interno. O estado psicológico e as emoções das pessoas têm forte influência.

Fonte da Imagem:

Comportamentos condicionados: podem ser considerados como o funcionamento de acordo com os esquemas de
pensamento. A pessoa realiza parte de suas atividades do cotidiano sem se dar conta do que faz, porque faz e como
faz. No caso dos conflitos, o condicionamento de se fixar no passado é bastante comum.

Modelos: uma parte do nosso conjunto de comportamentos é estabelecida pela observação e pela imitação. Uma
frustração, relacionada a um modelo, pode provocar conflitos entre o admirador e a pessoa idealizada.

Influências de natureza sociocultural: podem ser locais, regionais, nacionais e mundiais, podendo gerar os mais
diversos tipos de conflitos.

Outras causas acessórias são aquelas chamadas funcionais. Elas afetam o funcionamento das relações e estão
ligadas aos atos das pessoas envolvidas. São diferentes das causas acessórias de natureza psíquica porque são
originadas pela aprendizagem e resolvidas através da aquisição de novas habilidades de relacionamento. Podemos
destacar, resumidamente:

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As deficiências de comunicação
Para muitos autores, a comunicação é o elemento fundamental do conflito. Uma comunicação,
dependendo da forma como for realizada, pode contribuir para o surgimento, a manutenção ou o
agravamento do conflito. Este tema será mais bem desenvolvido na disciplina Teorias da
Comunicação na Mediação de conflitos.
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As fronteiras mal estabelecidas entre os subsistemas
Os sistemas e subsistemas fazem trocas entre si através de suas fronteiras, preservando suas
identidades. Muitas vezes, estas trocas podem gerar comportamentos disfuncionais entre as
pessoas. Este tema será desenvolvido na disciplina O Processo de Mediação.
galeria/aula1/img/19c.jpg
Os erros no desempenho de papéis
Nas relações interpessoais, cada pessoa tem uma expectativa em relação ao seu papel e aos papéis
das outras pessoas. Papéis são comportamentos, requisitos e atribuições esperadas das pessoas.
Por exemplo, desempenhamos papéis de filho, chefe, aluno etc.

Comentário
, Erros no desempenho de papéis são comuns, no entanto, alguns podem gerar conflitos. Este
assunto, você verá com mais detalhes na aula 5.

FATORES QUE INFLUENCIAM OS CONFLITOS

Vamos agora, destacar para você, alguns fatores que podem influenciar os conflitos.

Expectativas em relação à mudança

As pessoas podem empenhar-se na promoção de mudanças, de acordo com as

expectativas que elas criam em relação aos resultados que poderão alcançar. Três fatores
são fundamentais na influência sobre a expectativa da pessoa em relação aos resultados
possíveis de serem alcançados:

• As experiências anteriores;

• A observação do que acontece ou aconteceu com outras pessoas;

• E a divulgação de determinados acontecimentos ou situações.

No caso dos conflitos, as pessoas podem acreditar que experiências anteriores irão se
repetir em novas situações.

Expectativas associadas aos relacionamentos

Todo relacionamento gera expectativas reais e inconscientes em cada pessoa no que diz
respeito ao comportamento das demais. Essas questões exercem grande influência no
comportamento das pessoas e influenciam as situações de conflito. Este tema será mais
bem desenvolvido na aula 5.
Resistência à mudança

Em geral, toda mudança envolve certa resistência. A mudança pode ser desejada por alguns,
rejeitada por outros, provocada por terceiros ou até mesmo fazer parte de uma situação do
desenvolvimento humano, como a adolescência.

Consequências para a estabilidade do sistema

A reação à mudança também está associada às consequências para a estabilidade do

sistema. Há uma tendência à preservação de valores, princípios, crenças, comportamentos e
hábitos, que serão mais bem estudados na disciplina Processo de Mediação.

Aderência à realidade

Quando um conflito apresenta fundamentos reais, as partes percebem as diferenças de

interesses entre elas. Entretanto, o conflito, sem bases reais, tem origem nas falhas da
comunicação e no não entendimento das questões envolvidas. O fato de um conflito não ter
bases reais, não o torna mais simples ou menos doloroso.

Diferenças de personalidade

Há algumas diferenças de personalidade que tornam as pessoas mais difíceis para

buscarem soluções aos seus conflitos. Muitas vezes, o convívio com estas pessoas é
obrigatório por uma série de razões, mas o conflito permanece latente, pronto para surgir. As
diferenças de personalidade ligadas a estas situações serão desenvolvidas na disciplina
Psicologia Aplicada à Mediação de conflitos.

Efeitos da mudança sobre os valores das pessoas

Podemos conceituar valor como a ideia que é aceita pela pessoa e que orienta a sua ação. O
valor, como você deve estar percebendo, apresenta aspectos emocionais e aspectos ligados
à realidade que a pessoa constrói desde a sua infância. Sendo assim, há valores que
mantém uma convivência harmônica com as pessoas e outros que produzem efeitos
contrários.

Modificações na estrutura de poder

O poder pode ser classificado em diferentes tipos, conforme a maneira como ele é exercido.
Em linhas gerais, o poder deriva de fontes externas ou internas aos indivíduos.

Quanto às fontes externas temos riqueza, posse de bens, posição profissional entre outras.
Nas fontes de poder internas, destacamos as características de personalidade ligadas às
capacidades dos indivíduos.
 Observando mais atentamente, você já percebeu que mudanças na estrutura de poder
provocam conflitos e levam a situações, muitas vezes difíceis, porque lidam com a mudança
de equilíbrio existente em uma dada situação. Quando a mudança reduz o poder de um dos
envolvidos, aquele que sente a perda pode agir para evitá-la, surgindo o conflito, ou pode
desenvolver estratégias para diminuir os seus efeitos.

No caso da mudança reduzir o poder de todos os envolvidos, imposta por forças externas ao
sistema, o conflito pode se estabelecer entre as partes afetadas e a entidade externa,
causadora do desequilíbrio, ou entre os participantes do sistema, na tentativa de diminuir as
perdas.

E, finalmente, quando a mudança acentua a diferença de poder, ou seja, não altera as

relações de poder, mas fortalece o mais forte, estas grandes diferenças podem provocar
conflitos.

O “PREÇO” DOS CONFLITOS

Fonte da Imagem:

O conflito tem custos financeiros e afetivos. Fiorelli; Fiorelli; Malhadas Junior (2008), citando Acland (1993), alertam
que as pessoas tendem a não valorizar os custos dos conflitos para superestimar os seus benefícios. Uma das
questões que os autores chamam a atenção é para os gastos ocorridos no passado.

Nos estudos econômicos, estes gastos não interessam, no entanto, quando lidamos com conflitos estes gastos
ocupam o papel principal, porque os litigantes insistem em tentar recuperar estes “investimentos” que não retornam
mais.

CONTEÚDOS DOS CONFLITOS

Podemos identificar dois conteúdos básicos dos conflitos:
Exemplificando, para tornar mais claro para você
estas duas situações, vamos imaginar que um
empregado esteja lutando por um salário melhor
(posição), para proporcionar uma boa escola para
o seu filho (interesse).

Abaixo, navegue pelos links para obter a breve

análise do caso.

Posição | Interesse
QUESTÃO 1
Leia com atenção: “Processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razão de metas, interesses ou
objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatíveis”. Esse conceito refere-se a:

Processo destrutivo

Conflito
Mecanismo de fuga e luta

Disputa

Espiral de conflito

Justificativa
 Glossário
POSIÇÃO

Na situação de barganha, baseada nas posições — já estudada na disciplina Fundamentos da

Negociação — a posição com o tempo torna-se um esquema rígido de pensamento, que possibilitará
uma negociação pouco criativa ou, até mesmo uma solução padronizada, muitas vezes imposta por
um terceiro.

INTERESSE

Na mediação, transporta-se da barganha por posições, que induz emoções negativas, para o
reconhecimento de interesses e a busca de possibilidades para satisfazê-los, como já foi
demonstrado na disciplina Fundamentos da Negociação.