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Unidade III
Na segunda unidade estudamos sobre os contextos em que as negociações podem ocorrer nas
organizações. Abordamos o jogo de forças antagônicas e propulsoras da negociação e entendemos
como é importante o impacto da cultura e da comunicação para a eficácia do negócio. Agora vamos
falar dos obstáculos da negociação e como superá‑los. Vamos esmiuçar a questão dos conflitos e da
mediação objetivando resultados satisfatórios mútuos.
Assim, podemos inferir que, quanto maior a organização, maior será a quantidade de conflitos
que nela ocorrerá, pois, quanto mais uma organização se expande, maior é o processo de
departamentalização. Contudo, não é verdadeiro afirmar que os conflitos ocorrem porque a empresa
se expande. Observe que alguns conflitos são inerentes à função exercida. Vamos ver algumas
funções que, por natureza, estão sujeitas naturalmente aos conflitos: policiais, advogados, auditores,
controllers, dentre outros.
Outro aspecto relevante que leva ao conflito é a questão da Lei da Escassez. Esta é um pressuposto
econômico que estuda a relação entre os recursos disponíveis (que são limitados) e sua utilização em
si. O conhecimento sobre os limites de recursos impostos aos processos organizacionais, seja de qual
ordem for (recursos humanos, financeiros, operacionais, de informação etc.), acirra o comportamento
competitivo da própria concorrência em si.
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Unidade III
A consciência dos níveis de escassez leva o ser humano a pensamentos e ações organizacionais que
culminam em relacionamentos sociais coordenados capazes de enfrentar e criar soluções para atenuar
a severidade dos limites dos recursos disponíveis.
Por conta da existência dos recursos finitos, a divisão do trabalho e a administração econômica e
técnica surgiram com a intenção de direcionar as melhores decisões quanto à alocação dos meios para
os mais variados fins. Portanto, podemos observar que ainda é o agente negociador que deverá decidir
como utilizar melhor esses recursos.
São tantas as possibilidades geradoras de conflitos que vamos desvendar as possíveis soluções
apresentando conceitos, teorias e técnicas de negociação que poderiam resultar em soluções satisfatórias.
Vejamos a seguir como podemos administrar os conflitos.
5 Administração de conflitos
Incialmente, para direcionar nossos estudos, trazemos à tona as definições propostas pelo dicionário
on‑line Michaelis (2009):
Momentos críticos, possibilidade de conflito, defesa de posição, competição, todos esses são
aspectos cotidianos nas nossas vidas, por isso podemos afirmar que os conflitos estão presentes no
nosso cotidiano. A boa notícia é que, se formos capazes de compreender suas causas e naturezas, talvez
possamos amenizá‑los ou resolvê‑los.
É verdade que nem sempre o conflito pode ser evitado, mas é nossa a escolha como vamos encará‑lo.
Podemos enfrentá‑lo de maneira positiva ou negativa.
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Técnicas de Negociação
Há uma corrente de pensamento que vê o conflito como algo prejudicial que, por esse motivo, deve ser
minimizado ou evitado a qualquer preço. Em contrapartida, o conflito pode ser percebido como positivo.
Isso ocorre quando o indivíduo busca obter benefícios do embate conflituoso e enxerga oportunidade de
ganho cultural e de aprendizagem. Outro ponto a ser considerado como positivo é a existência do risco,
que evidentemente deve ser calculado, mas deve ser superado objetivando os benefícios.
Qualquer processo de negociação é um fato gerador de conflito. A natureza do conflito pode assumir
várias formas, como:
• diferenças de interesses;
• necessidades distintas;
• opiniões opostas;
• personalidades incompatíveis;
• metas dicotômicas;
• informações antagônicas;
Não haveria a necessidade de negociar se não houvesse conflito (WOLLENHAUPT, [s.d.]). A negociação,
portanto, é uma ferramenta por meio da qual trabalhamos para tentar solucionar os conflitos que
surgem no dia a dia, seja no trabalho, seja em casa.
Figura 25
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Unidade III
Observação
O termo conflito em si já tem a conotação intrínseca de negatividade, ou seja, aquele que está
em conflito está passando por uma situação desagradável. A palavra conflito leva‑nos diretamente a
pensamentos de luta, confronto, oposição, enfrentamento, desarmonia, incompatibilidade, discussão
etc. Como poderíamos não ser pessimistas em relação às situações conflituosas?
Segundo os estudiosos da área, há resoluções para os conflitos que podem ser assertivas e satisfatórias,
portanto o principal objetivo desta unidade é discutir formas de mediação e arbitragem. Mas, para isso,
antes teremos de descobrir as origens e as causas dos conflitos, além de determinar suas intensidades.
Como você administrará seus conflitos? De maneira destrutiva ou construtiva?
Observação
O conflito nem sempre é algo negativo ou significa um rompimento. De acordo com a administração
contemporânea, o conflito pode ser um gerador de oportunidades, reconstrução, inovação ou energia
criativa para a organização.
Desde o início da existência da humanidade, entende‑se que também exista o conflito. A contenda
é uma fonte de discussões e debates, que permite a expressão e a exploração de diversos ângulos,
interesses e valores. Em algumas circunstâncias e em determinados níveis de tensão, o embate pode ser
considerado necessário, caso a organização deseje sair de um processo de inércia; assim, os conflitos
podem ser motivadores de reatividade organizacional.
Podemos dizer que organizar uma empresa significa arranjar, dispor e classificar objetos, documentos,
informações e processos. Assim, a administração organizacional apresenta‑se em dois sentidos:
Considerando essas premissas organizacionais, é natural e esperado que surjam insatisfações pessoais
e de grupos em relação à organização estruturada ou em relação aos negócios e objetivos da empresa.
Essa insatisfação promoverá alguns conflitos.
Lembrete
Mesmo correndo o risco do reducionismo das valiosas contribuições desses pensadores sociais,
classificamos três categorias das atitudes básicas que prevalecem no enfrentamento conflituoso:
A vantagem dessa classificação é que podemos desenvolver três métodos de análise do conflito:
• Método Clássico;
• Método Gerencial.
Como? Por meio do aperfeiçoamento de regras e da eliminação das atitudes indesejadas. Dessa maneira,
a harmonia organizacional se restabelece.
Saiba mais
São várias as premissas sobre os tipos de motivação, contudo um fato comprovado na Experiência de
Hawthorne é que os indivíduos não são motivados unicamente pelos salários, mas também por relações afetivas.
O Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos (National Research Council) realizou a
Experiência de Hawthorne em 1927 na fábrica Western Electric Company, situada em Chicago, no bairro
de Hawthorne, liderada por Elton Mayo.
O objetivo da pesquisa era determinar a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos
operários, medida por meio da produção. Mediante esse estudo, verificou‑se que a produtividade não é
determinada pela capacidade física do empregado. A motivação para o aumento dos níveis produtivos
ocorre com mais fluidez por normas sociais e expectativas grupais.
Revela‑se então a capacidade social do trabalhador como determinante do seu nível de competência
e eficiência. Portanto, segundo os resultados aferidos, cria‑se a seguinte relação: quanto maior a
integração social do grupo, maior será disposição para trabalhar.
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Técnicas de Negociação
Outro aspecto que precisa ser levado em conta sobre as relações sociais dos indivíduos que compõem
o corpo organizacional é que não há poder unicamente nas posições hierárquicas, mas também na rede
de relacionamento, que se expande por meio de expressões de afeto e respeito, independentemente do
nível ou da posição organizacional ocupada por essa pessoa.
• Conflito predominante: fundamenta‑se na hipótese de que o conflito não seja patológico, nem
um acidente, mas sim uma falha administrativa.
— Conflito aberto ou ativo: as partes discutem itens específicos quando o conflito latente se
torna mais agudo.
É sempre bom manter em mente que há outras formas de se resolver os conflitos que estão
muito além da negociação (WOLLENHAUPT, [s.d.]). Por exemplo: guerra, luta, competição, avaliação,
votação, imposição, dentre outras. Porém, recomendamos que o conflito seja solucionado por meio da
negociação, pois essa opção tem se mostrado mais efetiva, por haver troca de ideias, envolvimento e
comprometimento com a solução.
O conflito acontece quando nascem pequenas diferenças de opinião ou interesse que podem ser
agravar com manifestações de hostilidade, culminando em um conflito destrutivo. Vamos descrever os
níveis de evolução em que o conflito pode atingir:
Primeiro nível • Discussão: em geral, a discussão se inicia de maneira racional, aberta e objetiva.
Segundo nível • Debate: nesse estágio, as pessoas passam a fazer generalizações e a buscar padrões
comportamentais. Nesse ponto, o grau de objetividade começa a diminuir.
Terceiro nível • Façanhas: as partes passam a demonstrar falta de confiança mútua.
Quarto nível • Rótulos: os envolvidos passam a estabelecer imagens preconcebidas, e as posições começam a
se tornar fixas e rígidas.
Quinto nível • Loss of face: torna‑se difícil para que uma das partes se retire da negociação, pois isso
significaria perda de prestígio.
Sexto nível • Comunicações adversas: a comunicação se restringe a ameaças, demandas e punições.
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Unidade III
Oitavo nível • Autopreservação: nessa etapa, a autopreservação é a única motivação. Os indivíduos atacam e
são atacados.
Nono nível • Ataques generalizados: não há outra resolução senão alguém perder e alguém ganhar.
O modelo de evolução do conflito apresentado serve para todas as naturezas de conflito. Por isso,
podemos concluir que quanto maior o nível evolutivo do conflito, mais difícil e desafiador será resolvê‑lo.
De acordo com as premissas de modelo gerencial, o conflito reprimido ou ignorado tende a se agravar
ao longo do tempo. Entretanto, se o conflito for compreendido e se mantivermos o foco em ações
construtivas, a chance de solução aumentará muito, tornando‑se assim uma força propulsora para a
mudança e a inovação.
Faz parte da natureza do conflito uma lista de possibilidades de resoluções. Para poder chegar ao
denominador comum dessa lista, ou seja, a uma resolução satisfatória para as partes, será necessária
a consciência de que os conflitos normalmente se originam antes e no decorrer do processo de
negociação. A origem do conflito é o ponto de partida para a análise da situação conflituosa, que deverá
ser classificada de acordo com a possibilidade de resolução, como segue.
— este tipo de conflito aparentemente não tem solução por meio de um acordo;
• Conflito paradoxal:
Para fazer essa análise, é necessário manter o foco no resultado. Se a possibilidade de solução levar a
ganho ou perda total do objetivo desejado, ou seja, o negociador só poderá ganhar se necessariamente
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Técnicas de Negociação
o outro perder, então será uma situação de natureza ganha‑perde. Nesse caso, há sempre um vencedor
e um perdedor. Esse tipo de negociação exige interações estratégicas que permitem desfechos bons e
maus para os envolvidos, como decisões políticas, econômicas etc. Um exemplo comum de mercado são
os processos de concorrências públicas.
Saiba mais
Por meio da análise da solubilidade da negociação, podemos também concluir sobre os estilos de
interação dos negociadores. O foco para atitude cooperativa ou não cooperativa é a motivação do
agente pelos resultados. Simplificando o raciocínio:
Observação
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Unidade III
Lembrete
• Conflito intenso:
• Conflito tênue:
— a tendência é a de que negociador e oponente imprimam energia mais moderada para a sua
solução.
Complementando essa análise, pode haver mais uma variável nesses dois níveis de intensidade. Essa
variável acontece quando a negociação é muito mais importante para uma parte do que para outra.
5.6.1 Acomodação
A acomodação pode ser usada para manipular o conflito (WOLLENHAUPT, [s.d.]). Contudo, quando
ocorre apenas o acobertamento do problema, ele sempre se agrava. Problemas e interesses divergentes
não se resolvem por si só: empresas que procrastinam as negociações de situações conflituosas são
menos efetivas e tendem a criar uma cultura organizacional que ignora os problemas.
Frequentemente, a fim de evitar o confronto emocional, as pessoas ocultam questões não resolvidas
por meio de várias técnicas. Isso é feito por atitudes como:
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Técnicas de Negociação
5.6.2 Dominação
O extremo exercício do poder gera a atitude de dominação, que se traduz na imposição da solução
desejada por uma das partes. O poder faz a solução chegar mais rapidamente, porém não garante a sua
eficácia. O exercício do poder pode acontecer também quando se tem a ideia de que a derrota não pode
acontecer, pois poderá comprometer a obtenção de apoio em negociações futuras. Algumas culturas
aceitam a possibilidade do forte exercício do poder e até mesmo atitudes radicais.
O risco de empregar a dominação é que a parte dominada pode ressentir‑se por não conseguir o objetivo
planejado. A solução pode acontecer em curto prazo, mas também pode ser muito insatisfatória e comprometer
a atitude cooperativa das partes nas negociações futuras, pois a percepção de ameaça se faz presente.
5.6.3 Compromisso
Compromisso é a ideia de que ambas as partes podem ceder um pouco no processo de negociação
com o intuito de solucionar o conflito, gerando resultados satisfatórios, mesmo parcialmente, para
todos. Porém, especialistas criticam essa forma, não a considerando uma técnica por não ocorrer solução
plenamente satisfatória para as partes.
A técnica mais favorável é a solução integrativa dos problemas, por vislumbrar a possibilidade de
solução satisfatória para ambas as partes. Nesse caso, a busca é de uma solução plena para as partes,
sem a necessidade de concessões e consequente diminuição do grau de satisfação dos envolvidos.
Lembrete
Segundo Lebel (1991, p. 55), “o conflito é o reconhecimento e um confronto das nossas diferenças,
ele constitui uma fonte de enriquecimento mútuo e potencial, é uma ocasião de fecundação um germe
de progresso” (tradução nossa).
O autor defende uma posição otimista sobre o conflito. Sua proposição se fundamenta em que um
desacordo não pode ser analisado apenas por uma dimensão. Assim, ele propõe três classificações aplicáveis:
— quanto ao comportamento;
Devemos observar que essas classificações não são independentes uma das outras, podendo haver
sobreposição. Vamos ver agora as categorizações sobre a natureza do conflito propostas por Lebel (1991):
— falhas conflitantes: são falhas que na realidade não existem, podem ser apenas aparentes,
portanto não existe um desacordo latente;
— conflitos de opinião: são divergências de opinião ou julgamento por que ocorrem diferenças de
educação, cultura, personalidade e referências;
— conflitos de interesse: são interesses contrários que surgem entre duas pessoas ou mais que
acordam sobre a opinião, mas desacordam sobre a distribuição dos resultados.
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Técnicas de Negociação
— conflitos de igual para igual: neles os agentes detêm a mesma posição social (exemplos: irmãos,
vizinhos, colegas etc.);
— conflitos hierárquicos: envolvem chefe e subordinado, pai e filho, fornecedor e cliente etc.;
— conflitos raciais: envolvem as diferenças entre as raças por parte daqueles que estão no
processo de negociação;
— conflitos entre instituições e organizações sociais: trata‑se das disputas entre diferentes
organizações das sociedade nas quais estão inseridas, podendo envolver questões de poder ou
disputas de mercado;
— conflitos neutros ideologicamente: neles os adversários não se separam, tendo apenas uma
diferença de interpretação de ordem técnica;
— sobre os fatos: pessoas que percebem os mesmos fatos de formas diferentes, pois a observação
é inerente ao observador e às suas experiências anteriores;
— sobre as causas: pode‑se estar de acordo sobre um determinado fenômeno, mas cada indivíduo
oferece explicações distintas sobre o fato, visto que a interpretação depende das experiências
pregressas de cada um; as causas para isso são: interesse direto, contexto social, tensões
psicológicas, divergências pessoais etc.;
— sobre os objetivos: apesar das partes terem os mesmos objetivos, há grandes dificuldades em
compartilhar satisfação mútua;
— sobre os meios: podem estar de acordo sobre os objetivos, mas estão em desacordo sobre os
meios pelos quais vão atingi‑los.
— sobre os valores: as partes estabelecem diferentes critérios de avaliação sobre o plano moral ou
a prática empregada.
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Unidade III
Podemos observar que, de acordo com os especialistas, há várias visões sobre os conflitos. Quando
há temor em relação à situação conflituosa, esta passa a ser vista como uma experiência negativa, o
que obstrui a possibilidade de solucioná‑la. As pessoas pessimistas costumam descrever o conflito com
palavras como:
• combate;
• raiva;
• pânico;
• guerra;
• impasse;
• perda;
• controle;
• ódio;
• prejuízo;
• erro;
• etc.
Na verdade, quando o conflito é analisado de uma perspectiva mais ampla, sem julgamentos
nem polarizações (negativo ou positivo), podemos observar e concluir que é um reflexo das crenças
e atitudes de uma determinada estrutura social. Por isso, cada indivíduo influencia diretamente
o conflito, tornando‑o mais intenso ou mais tênue. Assim, o conflito pode converter‑se em uma
oportunidade para o desenvolvimento mútuo, pois as partes se envolvem cada vez mais. À medida
que as habilidades de resolução se manifestam, a ações passam a ser construtivas para a evolução
social. Então, o conflito também pode ser visto como o motor que gera energia para aprendizagem,
inovação, adaptação etc. O embate pode ofertar alternativas à linha de pensamento previamente
instalada, criando novos comportamentos benéficos para o desfecho da situação e a manutenção do
relacionamento social.
As pessoas em geral têm pelo menos uma das quatro percepções equivocadas sobre os conflitos que
serão descritas a seguir:
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Técnicas de Negociação
Primeira percepção: o conflito é uma quebra de ordem, uma experiência negativa. Essa percepção encoraja a
“batalha contra o adversário” e incentiva a opressão dos envolvidos, aumentando os ressentimentos mútuos.
Segunda percepção: o conflito é a guerra de interesses e desejos competitivos incompatíveis. Isso leva ao
bloqueio da conquista do objetivo pretendido.
Terceira percepção: o conflito é percebido como fator que definirá todo o relacionamento de uma parte em
relação a outra. Torna‑se muito maior que todo o histórico relacional. Pode marcar a ruptura de uma relação
de longo prazo.
Quarta percepção: o conflito requer valores absolutos, como certe e errado, verdadeiro ou falso, tudo ou nada
etc. São ignorados outros valores subjetivos de referência que poderiam satisfazer as relações humanas.
Para solucionar um desacordo de maneira sustentável e efetiva, será necessário mudar a percepção
sobre o conflito. Podemos fazer isso ao manter o enfoque em conquistar uma parceria. A percepção que
temos de um conflito determina como ele irá terminar e também o impacto que terá no relacionamento.
O enfoque na parceria não somente resolve um conflito pontual, mas também desenvolve as habilidades
para a estruturação do relacionamento.
Observação
Alto nível de resolução de conflito: uma resolução de alto nível para um conflito
é aquela que satisfaz o indivíduo, bem como as necessidades compartilhadas.
Além disso, deve oferecer benefícios mútuos e fortalecer o relacionamento.
Para Weeks (1992, p. 16), há cinco enfoques possíveis para a resolução de conflitos. Vamos ver cada
um deles a seguir.
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Unidade III
Nesse enfoque, uma das partes finge que o conflito não existe, por isso tenta manter um enfoque
sedutor e um diálogo complexo. As pessoas que tendem a utilizar esse tipo de enfoque são aquelas que
evitam os relacionamentos polêmicos. Elas não se aproximam de pessoas que não concordam com seus
valores, crenças e estilo de vida. Simplesmente ignoram o conflito por não confiarem que estão aptas
para lidar com a circunstância.
Nesse enfoque, o sucesso da negociação está fundamentado em quanto cada uma das partes está
disposta a ceder. A negociação se converte em um jogo no qual se apresentam diferentes necessidades
e interesses ao longo dos lances.
Essa técnica é utilizada em vários tipos de negociação, por exemplo: divórcios, conflitos trabalhistas
e organizacionais, comércio exterior etc. Esse enfoque não garante uma solução sustentável e efetiva,
pois serão necessários vários ajustes que nem sempre logram a adequação necessária.
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Técnicas de Negociação
• a intensidade do poder é proporcional à coerção que uma das partes poderá usar para a outra desistir;
Lembrete
Conflito de spin‑off: como cada uma das partes deseja levar vantagem
na negociação, mesmo conquistando o que quer, continua incessantemente
a fazer pedidos absurdos, culminando em uma ruptura.
O enfoque band‑aid também é conhecido como um enfoque de solução rápida. Nesse tipo de
enfoque, raramente se pode conseguir uma solução consistente, pois o que leva as pessoas a adotá‑lo
é que elas se sentem desconfortáveis com o enfrentamento e tendem a aceitar prontamente a primeira
solução que aparece.
• limita as alternativas;
• pode provocar a perda de contribuições valiosas oriundas de papéis com status menor;
De acordo com Weeks (1992, p. 10), são necessárias oito etapas no processo de negociação para se
chegar à resolução de um conflito:
• esclarecer as percepções;
Sabemos que os conflitos podem ocorrer por desacordo sobre o uso de recursos, os meios a serem
utilizados e/ou os valores que estão sendo empregados. Essas questões divergentes, em geral, ocorrem
de maneira combinada. O negociador deverá identificá‑las e focar aquela que for dominante durante o
processo de negociação.
Quando houver conflito pela utilização dos recursos escassos, nesse caso, poderá ocorrer
que, quando uma das partes conquistar a sua meta, a outra saia perdendo, por causa dos limites
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Técnicas de Negociação
empregados na negociação, pois não há recursos suficientes para ambos. Mesmo assim, nessa
circunstância, podemos tentar aplicar a abordagem ganha‑ganha. As partes precisam esforçar‑se
por obter méritos para ambos os lados. Porém, é fato que um acordo do tipo ganha‑ganha não
significa prêmios equivalentes para as partes. A estratégia está em propor uma solução que não seja
abusiva nem coercitiva para nenhum dos lados. Assim, os agentes se comprometerão e defenderão
a solução encontrada.
Em contrapartida, quando ocorre uma discórdia sobre o meio a ser empregado para a conquista de
um acordo, a disputa permanece focada naquilo que “deveria” ser feito. Para evitar o conflito acerca
do meio, é necessário aumentar a confiança entre as partes. Novamente, recomenda‑se, nesse caso, a
abordagem ganha‑ganha, que proporcionará oportunidades aceitáveis para as partes.
Os desacordos quanto a valores podem colocar em risco toda a negociação. Isso ocorre porque
a discordância de valores desencadeia processos emocionais que se sobrepõem às questões
racionais, e, então, os agentes passam a verbalizar seus sentimentos mais intensos, ignorando
e até se esquecendo dos fatos primordiais da negociação. Não é fácil mudar o curso da ação
quando essa circunstância se apresenta, pois será difícil persuadir as pessoas envolvidas nesse
processo.
De acordo com Weeks (1992, p. 26), há algumas opções para tratar as diferenças de valores. Eles
sugerem quatro ações, na seguinte ordem:
• Permitir que as partes expressem publicamente seus sentimentos sobre a questão. Eles devem ser
ouvidos. As pessoas precisam sentir que são respeitadas.
• Às vezes, basta os sentimentos se tornarem públicos para que as pessoas possam superá‑los.
Então, promova um recesso, um intervalo para prosseguir a negociação. Esse lapso de tempo pode
servir para as partes se acalmarem e retomarem a racionalidade.
• Identificar um valor de aproximação que possa equivaler ao valor em desacordo. Essa ação é
muito difícil, posto que há uma carga psicológica complexa envolvida. Porém, se esse ponto for
encontrado, poderá servir para que as partes possam voltar a se envolver e assim recuperar a
chance de resolver a questão original.
• Durante a negociação, não se apoie em uma posição fundamentada em um valor específico. Isso
poderá gerar novos conflitos. Será melhor manter o foco na negociação e nas questões racionais.
• quanto mais tempo durar o conflito, mais importante e impactante ele se tornará; portanto, será
melhor tentar resolvê‑lo logo que se apresentar;
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Unidade III
São vários os estilos que podem ser usados para se lidar com situações conflituosas; contudo,
usar o estilo mais adequado, ou seja, aquele que pode nos aproximar do melhor resultado
esperado, depende da aplicação da técnica e da prática dos conhecimentos de técnicas de
negociação.
Hodgson (1996, p. 214) apresenta alguns estilos que podem ser usados de acordo com as
circunstâncias e os resultados pretendidos. Há categorias de estilos. Vamos verificar aqui os estilos
para administração de conflitos descritos por Hodgson (1996, p. 215) baseados nas circunstâncias dos
conflitos e nos objetivos almejados. Esses estilos são divididos em dois grupos:
Confrontador
Contestador Colaborativo
(ganha‑perde) (ganha‑ganha)
Retirada/afastamento Aceitação
(sem envolvimento) (ganha‑perde)
Não confrontador
Figura 26
Nesse estilo se combinam as características confrontador e cooperativo. Esse estilo é apropriado para
as negociações em que chegar a uma solução é muito importante, gerando um forte comprometimento
das partes, que vão incorporar e apresentar uma série de soluções possíveis. Para isso, é necessário
tempo e empenho, portanto não é apropriado para questões mais triviais.
104
Técnicas de Negociação
Exemplo: negociação entre duas montadoras de automóveis interessadas em formar uma joint
venture para fabricação de motores e câmbios de utilização comum entre as duas.
É também um estilo confrontador, mas não cooperativo. Pode ser aplicado quando são necessárias
ações rápidas e decisivas (situações de emergência, por exemplo) ou em questões que desagradam os
interesses das pessoas envolvidas no processo.
É um estilo cooperativo e não confrontador. Adequado quando o negociador percebe que está errado ou
quando é importante garantir crédito no futuro ou, ainda, quando a questão que está sendo tratada é muito
mais importante para a outra parte. Trata‑se de um obter um caminho para as demandas do oponente.
Exemplo: negociação de aumento salarial com o chefe, que oferece menos do que se pretendia, mas
que pode garantir o emprego.
É ao mesmo tempo não confrontador e não cooperativo. Tem aplicabilidade quando a questão que
está sendo tratada é trivial ou quando prevalece a necessidade de não confrontação. É o caso de quando
o negociador tem pouco poder ou não existem muitas chances de obtenção dos resultados almejados
ou a solução traz conflitos com outros interesses do grupo envolvido. Assim, evitar o conflito pode ser o
melhor resultado a se obter, salvaguardando ganhos e evitando‑se prejuízos maiores.
Exemplo: negociação de aumento de preço com um varejista importante, que não aceita o aumento proposto.
Esse estilo possui características de todos os estilos anteriores. É apropriado quando os resultados
pretendidos são de importância relativa, ou não são vitais a ponto de justificar a utilização de meios de
alto confronto, ou ainda quando a pressão exercida pelo tempo exige uma solução imediata. É o caso de
quando as partes envolvidas não estão plenamente satisfeitas com os resultados, mas estão tranquilas
com essa finalização. Para tanto, é necessário que haja certa dose de negociação e concessões e que isso
seja satisfatório.
Exemplo: negociação de venda de automóvel usado em que as partes atingem um preço que não é
o inicialmente pedido, mas também não é o inicialmente ofertado.
Os vários estilos podem ser utilizados em certas situações. O ideal seria que um negociador fosse
capaz de utilizá‑los com certa destreza, escolhendo o mais adequado de acordo com a natureza da
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Unidade III
negociação. Quanto maior a habilidade para selecionar o estilo mais adequado, maior será a capacidade
de administrar o conflito e mais efetivo será o acordo conquistado.
Há vários pontos fundamentais que precisam ser levantados para que a negociação seja solucionada
de maneira efetiva. Segue uma lista de aspectos‑chave para direcionar os negociadores:
• o aprendizado: as partes podem aprender com as necessidades e os pontos de vista dos oponentes;
o mais importante é entender melhor as razões e os comportamentos das partes;
O processo de mediação exige que as partes interessadas superem suas diferenças, pois só assim será
possível que encontrem caminhos alternativos para atender às necessidades envolvidas na demanda.
106
Técnicas de Negociação
Em circunstâncias adversas, justifica‑se a participação de uma terceira parte (o terceiro neutro), para
que se renove o direcionamento da solução. Essa terceira pessoa somente será útil para a negociação
se for capaz de manter a imparcialidade (pode ser um profissional habilitado ou alguém que esteja
habituado com esses tipos de situação).
Figura 27
• mediação: é uma invenção pacífica a fim de chegar a um acordo, portanto a solução é sugerida e
não é imposta em hipótese alguma;
• arbitragem: de acordo com as necessidades das partes, acontece um julgamento que se finda com
o veredicto, ou seja, a decisão do juiz.
Algumas vantagens que podem ser atribuídas à adoção de uma terceira parte:
• Ganha‑se tempo para acalmar os ânimos: para instituir a terceira parte, deve‑se investir tempo
na escolha da pessoa, além de colocá‑la a par dos detalhes da situação. Isso pode fazer com que
as partes se acalmem e assumam atitudes mais racionais.
107
Unidade III
• Mais clareza sobre as questões realmente importantes: a terceira parte irá priorizar as necessidades.
• Aprendizado com o terceiro: durante a negociação, as partes podem aprender como o terceiro as
orienta, assim podem adquirir autonomia e passar a aplicar esses conhecimentos.
• Enfraquecimento das partes: as partes envolvidas, ao chamar uma terceira pessoa, denotam
incapacidade de solucionar o conflito, e essa imagem pode ser negativa para a organização.
• Perda de controle do processo: pode ser inevitável a perda de controle do processo de negociação
ou dos resultados. Isso dependerá diretamente do estilo de trabalho do terceiro.
O processo de mediação surge voluntariamente, num cenário em que um terceiro neutro é escolhido,
com o propósito de restabelecer o diálogo entre as partes e facilitar o entendimento para que surjam
soluções para o conflito instalado. Por isso, a mediação pode ser entendida como uma negociação
assistida (pelo mediador).
• o mediador não é um árbitro, portanto não dá pareces técnicos nem impõe veredictos;
• quando ocorrer descaso com as regras preestabelecidas, o mediador deverá recursar sua inserção
no processo de negociação.
Para que essas ações sejam possíveis, o mediador deve desenvolver algumas habilidades, como:
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Técnicas de Negociação
Em situações de conflito intenso, muitas vezes, os negociadores optam pela primeira solução que
se apresenta, e essa não os satisfaz. Porém, teriam de manter a calma e pensar na possibilidade da
mediação como alternativa para alcançar uma resolução melhor.
O mediador desempenha um papel ativo no processo de negociação. Ele ouve as partes envolvidas,
define regras mútuas e promove a interatividade a fim de conduzir os negociadores para que se ouçam
e cheguem a um consenso sobre a solução por sua própria conta.
O mediador, primeiro, ouve as partes separadamente, depois alinha os interesses comuns, levando
as pessoas a uma solução percebida como colaborativa. Isso aumenta o comprometimento com ações
futuras.
Já no final do processo, o mediador torna público o acordo, e, muitas vezes, esse acordo é formalizado
por escrito e assinado pelas partes. Uma das táticas aplicadas pelos mediadores é a definição de um tempo
(prazo) máximo para que a negociação se finalize. Com frequência, ele poderá conseguir terminá‑la
antecipadamente, só porque as partes envolvidas estão focadas em cumprir os prazos assumidos.
Segundo as estatísticas, os processos de mediação costumam obter sucesso em 60% dos casos. As
chances de resolução aumentam de acordo com as seguintes características:
• o conflito é moderado;
6.8.1 Arbitragem
A arbitragem é um meio comum para a resolução de demandas por meio de uma terceira parte.
Nesse tipo de processo, cada parte apresenta sua posição, e o árbitro estabelece as regras comuns para
as partes. Estas podem fazer seus respectivos pedidos, que poderão ser aceitos ou não, bem como as
decisões tomadas pelo árbitro podem ser obrigatórias ou não.
Figura 29
O árbitro pode acatar uma proposta feita por uma das partes, ou apresentar uma solução que
represente o meio‑termo, ou até mesmo decidir‑se por algo inesperado, desde que esteja regido pela lei.
São comuns as arbitragens no mundo empresarial, por exemplo, com relações trabalhistas ou questões
contratuais de âmbito comercial.
• a solução é imposta;
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Técnicas de Negociação
• os árbitros podem não ser percebidos como imparciais, o que diminuirá a credibilidade do
processo.
Dessa forma, é importante haver uma reflexão mais detalhada sobre a decisão de incluir uma terceira
parte no processo de negociação. Para isso, temos de analisar o tipo de conflito existente, os custos
envolvidos, a importância do conflito, o tempo disponível, a rede de poderes e influências das pessoas,
as informações disponíveis etc.
Depois de se concluir a análise e se chegar à conclusão de que será necessário um “terceiro neutro”,
é preciso decidir qual será o meio escolhido: mediação ou arbitragem. Para isso, observe as vantagens e
as desvantagens de cada um deles.
Resumo
Lebel (1991, p. 55) defende que o conflito pode ser uma oportunidade
para soluções inovadoras e criativas. Assim, ele propõe três classificações
aplicáveis: quanto ao comportamento; quanto às partes contrárias; e
quanto aos momentos da negociação. As pessoas em geral têm pelo menos
uma destas quatro percepções equivocadas sobre os conflitos: o conflito é
uma experiência negativa; o conflito é uma guerra da interesses; o conflito
define o relacionamento; e o conflito exige valores absolutos.
• enfoque de se esquivar: uma das partes finge que o conflito não existe;
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Unidade III
• ganho de tempo;
• resoluções efetivas.
Também há desvantagens:
O árbitro pode acatar uma proposta feita por uma das partes, ou
apresentar uma solução que represente o meio‑termo, ou até mesmo
decidir‑se por algo inesperado, desde que esteja regido pela lei. São
comuns as arbitragens no mundo empresarial, por exemplo, com relações
trabalhistas ou questões contratuais de âmbito comercial.
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