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Saúde e Segurança no

Trabalho: Benefício e
Assistência Social
Autores: Profa. Elaine Aparecida de Araújo
Prof. Márcio Antoni Santana
Colaboradores: Prof. Santiago Valverde
Profa. Ana Paula de Andrade Trubbianelli
Profa. Angélica Carlini
Prof. Ricardo Calasans
Professora conteudista: Elaine Aparecida de Araújo / Márcio Antoni Santana

Profa. Elaine Aparecida de Araújo

Mestra em Educação, com pós-graduação em Formação para Docência de Ensino Superior a Distância (EaD),
MBA em Gestão Empresarial, bacharel em Administração de Empresas. Pesquisadora do Programa de Mestrado da
Universidade Uniban Anhanguera, na linha de pesquisa “Adolescente em conflito com a lei: violência, sociedade e
criminalidade”.

Atualmente, é professora universitária, auditora e consultora em Administração de Empresas e na área de Saúde e


Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, especialista em desenvolver treinamentos in company pela organização
Central de Negócios, do qual é sócia-diretora.

Prof. Márcio Antoni Santana

Márcio Antoni Santana é Especialista em Direito Processual, Psicopedagogia Clínica e Institucional, possui extensão
universitária em Direito Administrativo e Docência do Ensino Superior, especialização em MBA em Mercado de Capitais,
graduação em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia. Atua como advogado e defensor público
conveniado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo nas Áreas Cível, Criminal, Família e Trabalhista, com ênfase
na advocacia preventiva há mais de 10 anos.

Na área acadêmica é professor há mais de 12 anos, tendo atuado em diversas Universidades do Estado de São
Paulo, trabalhado com turmas de formação de professores em nível de Pós-Graduação nos anos de 2008 a 2011.
Atualmente é professor da disciplina de Ética e Legislação Empresarial e Trabalhista, Saúde e Segurança, Ciências
Sociais e Sistema para Operações em RH na Unip, atuando também como orientador de trabalhos para conclusão de
curso no modo presencial e a distância, também é professor conteudista da disciplina de Ética e Legislação: Empresarial
e Trabalhista para turmas de Gestão em Recursos Humanos.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A663s Araújo, Elaine Aparecida de

Saúde e segurança no trabalho: benefício e assistência social /


Elaine Aparecida de Araújo. – São Paulo, 2013.
104 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-083/13, ISSN 1517-9230.

1. Saúde no trabalho. 2. Segurança no trabalho. 3. Assistência


social. I. Título.

CDU 331.45

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla Torre


Vice-Reitora de Unidades Universitárias

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Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez


Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Janandréa do Espírito Santo
Amanda Casale
Sumário
Saúde e Segurança no Trabalho:
Benefício e Assistência Social
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 INTRODUÇÃO À SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO......................................................................9
1.1 A saúde e a segurança do trabalhador e os fatores históricos, sociais, políticos e
econômicos..................................................................................................................................................... 14
1.1.1 Trabalho e a saúde do trabalhador: a quebra de paradigmas .............................................. 15
1.2 Histórico da Segurança do Trabalho.............................................................................................. 19
1.3 Prevenção................................................................................................................................................. 23
1.4 Ajustamento ao trabalho................................................................................................................... 25
1.5 1.4 Tratamento....................................................................................................................................... 26
2 DADOS DE SST NO MUNDO GLOBALIZADO........................................................................................... 28
2.1 Conceito e histórico............................................................................................................................. 30
2.2 Cipa – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes............................................................ 32
2.2.1 Da organização......................................................................................................................................... 32
2.2.2 Atribuições.................................................................................................................................................. 33
2.2.3 Funcionamento......................................................................................................................................... 34
Unidade II
3 CONCEITO E IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA....................................................................................... 40
3.1 A ergonomia e a empresa.................................................................................................................. 42
3.2 Base legal.................................................................................................................................................. 45
4 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)................................................................................ 55
4.1 Base legal.................................................................................................................................................. 55
4.2 Áreas de proteção................................................................................................................................. 60
4.2.1 Cabeça.......................................................................................................................................................... 60
4.2.2 Membros superiores............................................................................................................................... 61
4.2.3 Membros inferiores................................................................................................................................. 61
4.2.4 Tronco........................................................................................................................................................... 62
4.2.5 Pele................................................................................................................................................................ 62
4.2.6 Respiração................................................................................................................................................... 62
4.2.7 Ouvidos........................................................................................................................................................ 62
4.3 Origem e evolução da ginástica laboral....................................................................................... 63
4.3.1 Benefícios da ginástica laboral.......................................................................................................... 63
4.3.2 Tipos de ginástica laboral..................................................................................................................... 65
Unidade III
5 ACIDENTE DE TRABALHO.............................................................................................................................. 69
5.1 Definição................................................................................................................................................... 69
5.1.1 Doenças profissionais e doenças do trabalho.............................................................................. 71
5.1.2 Atos inseguros e condições inseguras............................................................................................. 72
5.1.3 Outros acidentes de trabalho.............................................................................................................. 72
5.2 O acidente de trabalho e seu reconhecimento técnico......................................................... 73
6 PREVENINDO E INVESTIGANDO O ACIDENTE DE TRABALHO......................................................... 74
6.1 Prevenção................................................................................................................................................. 75
6.1.1 Principais causas dos acidentes de trabalho................................................................................ 75
6.1.2 Prevenção de acidentes de trabalho................................................................................................ 76
6.2 Investigação............................................................................................................................................ 77
6.2.1 Atos inseguros........................................................................................................................................... 77
6.2.2 Condições inseguras............................................................................................................................... 77
6.2.3 O Método Árvore de Causas (ADC)................................................................................................... 77
Unidade IV
7 A COMUNICAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO AO INSS............................................................. 86
7.1 Cuidados importantes no preenchimento da CAT................................................................... 87
7.1.1 Quando informar o acidente e de que forma?............................................................................ 87
7.1.2 Comunicação de reabertura................................................................................................................ 88
7.1.3 Comunicação de óbito........................................................................................................................... 89
7.2 Legislação pertinente........................................................................................................................... 89
8 HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO.................................................................................................. 89
8.1 As principais normas regulamentadoras..................................................................................... 92
8.1.1 NR-4: serviço especializado................................................................................................................ 92
8.1.2 NR-5: comissão interna de prevenção de acidentes................................................................. 92
8.1.3 NR-6: equipamentos de proteção individual............................................................................... 92
8.1.4 NR-7: exames médicos.......................................................................................................................... 93
8.1.5 NR-8: edificações..................................................................................................................................... 93
8.1.6 NR-9: riscos ambientais........................................................................................................................ 93
8.1.7 NR-15: atividades e operações insalubres..................................................................................... 93
8.1.8 NR-16: atividades e operações perigosas...................................................................................... 93
8.1.9 NR-17: ergonomia.................................................................................................................................. 94
APRESENTAÇÃO

Prezados(as) alunos(as),

Nesta disciplina, Saúde e Segurança no Trabalho: Benefício e Assistência Social, vamos iniciar os
conhecimentos sobre a origem e evolução da Segurança no Trabalho, bem como os principais conceitos
necessários para possibilitar ao profissional compreender a abrangência da Segurança no Trabalho; sua
importância e responsabilidade; a relação entre a saúde do trabalhador e o ambiente de trabalho e,
assim, permitir que se busque melhorar os ambientes de trabalho e oferecer ambientes de qualidade
para que o se possa executar suas atividades com segurança.

Desta forma, espera-se que ao final deste estudo você, aluno, possa ser capaz de compreender
de forma adequada as bases da Prevenção e Segurança no Trabalho, contribuindo com a proteção
dos trabalhadores e com ambientes saudáveis e seguros para os mesmos. Também possa estabelecer a
relação entre as condições do ambiente de trabalho, a produtividade e a qualidade de produtos e/ou
serviços. Tenha condições de identificar os fatores que diminuem absenteísmo, no que se refere à área
de medicina e segurança do trabalho, bem como os agentes causadores de acidentes e afastamento
do trabalho. Permita que perceba a importância da Segurança no Trabalho como fator de satisfação e
motivação junto ao trabalhador, contribuindo para sua fixação, manutenção e desempenho produtivo.

Para alcançar esses objetivos, o presente livro-texto divide-se da seguinte maneira:

• Unidade I: Introdução à Saúde e Segurança no Trabalho.

• Unidade II: Acidente do Trabalho.

• Unidade III: Controle Total de Perdas.

• Unidade IV: A comunicação de Acidente do Trabalho ao INSS.

Bom estudo!

INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a)!

No estudo das nossas civilizações até a Revolução Industrial, observa-se pouca informação sobre
a saúde do trabalhador e o ambiente de trabalho. As definições e as discussões sobre os riscos à saúde
frequentemente estão associados a resultados decorrentes de um fato que possa ocasionar um agravo
ou mesmo uma consequência à saúde ocorrida com um trabalhador, as negligências, imprudência, ou
até mesmo falhas humanas. O trabalho pode gerar saúde, doença, acidente, invalidez e mesmo a morte
precoce do trabalhador. Assim, é de suma importância entender seu mecanismo, visando à adoção de
uma gestão preventiva e segura que propicie condições saudáveis do ambiente do trabalho bem como
da qualidade de vida e de saúde.
7
Unidade I

O que se verificou ao longo da história do processo do trabalho foi a primazia dos meios de produção
em detrimento da própria saúde humana do trabalhador, gerando, dessa forma, inúmeras doenças que
constituem riscos à saúde desses colaboradores. A Lei Federal nº 8.080/90, entre as ações preventivas e de
proteção ao meio ambiente, estabeleceu as diretrizes de vigilância ambiental em saúde, compreendendo
um conjunto de ações que propicia o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores
determinantes e condicionamentos que interferem na saúde humana com a finalidade de identificar as
medidas de prevenção e controle dos fatores de riscos ambientais relacionados às doenças ou outros
agravos à saúde através:

• do estudo dos fatores de risco existentes (físicos, químicos, biológicos, mecânicos, ergonômicos ou
psicossociais);
• da verificação das características especiais do ambiente que interferem no padrão da saúde da
população e
• do estudo dos efeitos adversos à saúde relacionados à exposição a fatores de risco ambientais.

Por outro lado, de todo fato vivenciado, devemos destacar os pontos positivos destas ocorrências, que
constituem um grande potencial de aprendizado e de conhecimento que nos possibilitará a escolha de
outro caminho de desenvolvimento mais saudável e de ações preventivas e educadoras para minimizar
ou mesmo limitar as ocorrências dos riscos à saúde do trabalhador.

8
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Unidade I
1 INTRODUÇÃO À SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO

Para iniciarmos nas questões referentes à segurança do trabalho, torna-se necessário o bom
entendimento de como diferenciar o que deve ser considerado perigo e o que deve ser considerado
risco.

Perigo é a fonte de dano ou prejuízo potencial, ou uma situação com potencial para provocar dano
ou prejuízo. Outra forma de entendermos perigo é como sendo uma fonte de energia capaz de causar
perda, dano ou lesão. Para o dicionário Houaiss (2001), é uma situação em que se encontra, sob ameaça,
a existência ou a integridade de uma pessoa, um animal, um objeto etc. Situação ou eventualidade em
que pode ocorrer um dano. Para Ferreira (1992), perigo é uma exposição relativa a um risco que favorece
a sua materialização em danos ou circunstância que prenuncia um mal para alguém ou para alguma
coisa.

O risco é uma combinação da probabilidade de ocorrência e das consequências de um evento


perigoso específico (acidente ou incidente). Portanto, ele é composto pela probabilidade de um perigo
ocorrer e as consequências de um evento perigoso. Assim, pode-se dizer que o risco é o resultado
da probabilidade de uma ocorrência versus a severidade que ela pode causar. Será considerado um
risco grave ou risco iminente toda a condição que possuir uma probabilidade acentuada da ocorrência
imediata de um evento ou uma sequência de eventos que possam levar à materialização de um acidente
ou resultar em uma doença com consequências graves.

Segundo o Houaiss (2001), risco é a probabilidade de perigo, geralmente com ameaça física para
o homem e/ou para o meio ambiente. Já para Ferreira (1992), é um fator adverso que se antepõe aos
esforços em produzir segurança à integridade física das pessoas e patrimônios.

O profissional prevencionista irá compreender que muitas vezes não teremos como eliminar a fonte
de perigo do ambiente de trabalho, pois ela faz parte do processo. Entretanto, os riscos que oferece aos
trabalhadores deverão estar sob controle para que eles possam trabalhar em segurança e evitando que
ocorram acidentes de trabalho.

Inicialmente, vamos compreender o que é um acidente e, em seguida, o que é acidente de trabalho.

Segundo o Instituto Internacional de Controle de Perdas, o International Loss Control Institute (ILCI),
o que ocasiona um acidente é o contato com uma fonte de energia que ultrapassa o limite do corpo
humano ou estrutura. As fontes de energia podem ser mecânica, térmica, elétrica, ionizante ou química.

A maior parte das lesões que encontramos, como amputação, esmagamento, fratura, luxações, entre
9
Unidade I

outras, são decorrentes de energia mecânica resultante de impactos entre objetos e o corpo.

A gravidade da lesão dependerá de basicamente dois fatores: o nível potencial de energia envolvida
e a resistência da estrutura do corpo.

Assim, pode-se entender o acidente como sendo a ocorrência de um evento não desejado e
inesperado que ocasiona danos às pessoas, à propriedade ou ao meio ambiente. Para o Houaiss (2001), é
um acontecimento casual, fortuito, inesperado, uma ocorrência. Qualquer acontecimento, desagradável
ou infeliz, que envolva dano, perda, lesão, sofrimento ou morte. Já para Ferreira (1992), acidente é toda
e qualquer ocorrência que gere solução de continuidade no “estado de segurança”. Ocorrência súbita e
funesta que causa danos materiais e lesões temporárias ou permanentes, podendo, também, causar a
morte.

Deve-se também entender a definição de acidente do trabalho que, conforme a lei nº 6.367, de 19
de outubro de 1976, diz:

Acidente do trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço


da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause
a morte ou perda, ou redução permanente ou temporária, da capacidade
para o trabalho (BRASIL, 1976).

No pensamento prevencionista tem-se um entendimento um pouco diferente sobre acidente:


quanto mais melhoramos nossos sentidos de percepção e os conhecimentos prevencionistas, mais se
desenvolverá a capacidade de antever o problema e, assim, permitir que se busquem meios de evitar
que os acidentes se materializem.

Dentro desse pensamento pode-se considerar que o acidente do trabalho é uma ocorrência
programada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade,
ocasionando perda de tempo útil e/ou lesões nos trabalhadores e/ou materiais.

É considerada também como acidente do trabalho, para fins previdenciários, a doença profissional,
assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho, peculiar a determinada
atividade e constante da relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social e a doença do trabalho,
assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é
realizado.

Equipara-se ainda ao acidente do trabalho, o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha
sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do trabalhador, para a ocorrência da lesão
e certos acidentes sofridos no local e no horário de trabalho e os ocorridos no percurso da residência
para o local de trabalho ou desta para aquela.

Outro termo importante a se compreender é o incidente, que pode ser definido como sendo um
acontecimento não desejado ou não programado que venha a deteriorar ou diminuir a eficiência
operacional da empresa, segundo Jaques Sherique, Presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia
10
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

de Segurança (Sobes). Os incidentes podem ou não ser acidentes, entretanto todos os acidentes são
incidentes.

Conforme o Tribunal Superior do Trabalho (2011), temos os seguintes dados nacionais mais recentes:

Os dados estatísticos de Acidentes de Trabalho de 2011 divulgados pelo Ministério


da Previdência Social indicam, em comparação com os dos anos anteriores, um pequeno
aumento no número de acidentes de trabalho registrados. O número total de acidentes de
trabalho registrados no Brasil aumentou de 709.474 casos em 2010 para 711.164 em 2011.
Acidentes de trabalho registrados 2007-2011
2007 2008 2009 2010 2011
755.980
755.980
709.474 711.164

659.593

Número total de acidentes de trabalho fatais no período de 2007 a 2011. Fonte MPAS)

Figura 1

O número de óbitos também registrou aumento: de 2.753 mortes registradas em 2010, o


número subiu para 2.884 em 2011. O número de acidentes típicos seguiu a mesma tendência,
passaram de 417.167 em 2010 para 423.167 registros em 2011.

Já os dados apurados pelo Ministério da Previdência Social, as doenças ocupacionais


registram queda: de 17.177 em 2010 para 15.083 em 2011.

Tabela 1

Trabalhadores Acidentes Acidentes de Doenças Total dos


ANOS Mortes
formais típicos trajeto ocupacionais acidentes
2007 37.607.430 417.036 79.005 22.374 659.523* 2.845
2008 39.441.566 441.925 88.742 20.356 755.980* 2.817
2009 41.207.546 424.498 90.180 19.570 733.365* 2.560
2010 44.068.355 417.295 95.321 17.177 709.474* 2.753
2011 46.310.631 423.167 100.230 15.083 711.164* 2.884
Obs.: 1. No número total de acidentes, a partir de 2007, foram incluídos os acidentes registrados pelo INSS sem
CAT emitida, sendo 141.108 em 2007, 204.957 em 2008, 199.117 em 2009, 179.681 em 2010 e 172.684 em 2011;
2. A coluna “Trabalhadores formais” considerou, a partir de 1985, os dados da RAIS, já que o INSS não publica o
número de empregados abrangidos pelo Seguro de Acidente do Trabalho.
(Numero total de acidentes de t rabalho fata1s no penodo comparat iVO de 2007 a 2011. FONTE: MPAS).

11
Unidade I

Analisando as cinco macrorregiões demográficas, a região Sudeste conta com o maior


número de acidentes de trabalho, com um total de 387.142 ocorrências, cerca de 70% do
total nacional. Em seguida, a região Sul registra 153.329 casos, a região Nordeste 91.725,
região Centro-Oeste 47.884 e, por fim, região Norte, com 31.084 acidentes.
Acidentes de trabalho registrados em 2011
Dados percentuais por Macrorregião
Norte
6%

Nordeste
16%

Centro-Oeste
9%
Sudeste
60%

Figura 2

Analisando isoladamente, os Estados que apresentaram aumento no número de


acidentes de trabalho foram somente os das regiões Norte e Nordeste: Rondônia (de 5.101
em 2009 para 5.280 em 2010), Maranhão (de 5.957 em 2009 para 5.969 em 2010), Piauí (de
3.118 em 2009 para 3.226) Paraíba (de 4.914 em 2009 para 4.957 em 2010), Pernambuco
(18.629 em 2009 para 19.936 em 2010) e Alagoas (9.065 em 2009 para 9.185 em 2010).

No Nordeste, contudo, merece destaque a redução do número de acidentes de trabalho


na Bahia (26.483 em 2009 para 23.934 em 2010) e no Rio Grande do Norte (de 8.923 em
2009 para 7.023 em 2010).

O Estado de São Paulo registrou uma pequena redução no número de acidentes de


trabalho, de 249.289 registros em 2009 para 242.271 em 2010, mas continua sendo o com
maior número de registros de acidentes de trabalho.

Quanto aos grupos separados por idade e sexo, em todos os grupos houve uma discreta
redução nos números de acidentes de trabalho, com exceção na faixa de até 19 anos, em
que houve um pequeno aumento: de 26.336 em 2008 para 22.159 em 2009, subindo
novamente para 22.847 em 2010.

Da análise no setor específico da indústria, as atividades de produção de alimentos e


bebidas, com 59.976 ocorrências, e o da construção civil, com 54.664 registros, se encontram
dentre os com maior número absoluto de acidentes de trabalho e 2010.

12
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Quanto ao setor de serviços, o segmento do comércio e reparação de veículos


automotores registrou o maior número de acidentes de trabalho, com 95.496 ocorrências
em 2010, seguido pelo de Saúde e serviços sociais, com 58.252 acidentes de trabalho, e pelo
de Transporte, armazenagem e correios, com 51.934 acidentes computados.
Fonte: Tribunal Superior do Trabalho (2011).

Analisando as causas dos acidentes de trabalho, pode-se analisar considerando que existem duas
causas básicas, a primeira é relacionada ao fator humano e a segunda ao ambiente de trabalho.

A primeira, relacionada ao fator humano, pode ser entendida como atos inseguros. Pode-se dizer
que são causas de acidentes do trabalho que residem, exclusivamente, no fator humano, isto é, aqueles
decorrentes da execução das tarefas de forma contrária às normas de segurança. Deve-se compreender
que não se está buscando culpa ou responsabilidade e sim causa, pois o objetivo na prevenção é entender
as causas de um acidente e, assim, poder agir de forma a evitar que este volte a ocorrer.

Então, quais seriam as causas de atos inseguros?

Poder-se-ia considerar que o que leva ao ato inseguro é:

• inadaptação entre homem e função por fatores constitucionais (sexo, idade, tempo de reação
as estímulos, coordenação motora, problema neurológico, nível de inteligência, grau de atenção,
percepção, coordenação visual motora);

• fatores circunstanciais (problemas familiares, abalos emocionais, alcoolismo, doença, fadiga);

• desconhecimento dos riscos da função e/ou da forma de evitá-los (seleção ineficaz, falhas de
treinamento, falta de treinamento);
• desajustamento, relacionamento com certas condições específicas do trabalho (problema com
chefe, colegas, salário, plano de carreira, clima de insegurança);

• Personalidade (desleixado, exibicionista, “machão”, falador, desatento, brincalhão);

Quanto ao ambiente, têm-se as condições inseguras, que são aquelas que, presentes no ambiente
de trabalho, colocam em risco a integridade física e/ou mental do trabalhador devido à possibilidade de
acidentar-se.

Mais adiante voltaremos a falar sobre esses tópicos para reforçar os conceitos na hora de se fazer
uma investigação de um acidente do trabalho.

13
Unidade I

Figura 3

Prevenção de acidentes é, afinal de contas, saber trabalhar; quem trabalha sem segurança, não sabe
trabalhar.

1.1 A saúde e a segurança do trabalhador e os fatores históricos, sociais,


políticos e econômicos.

A saúde do trabalhador é tão importante pode ser considerada como uma área do conhecimento
que requer investigação e intervenção e que tem sofrido diversas configurações ao longo das últimas
décadas.
O crescimento da área da saúde do trabalhador pode ser entendido através de duas dimensões: uma
decorrente da nova ordem do capital sobre o trabalho; outra por conta do reconhecimento político
da área, representado pela sua inserção, ainda que insuficiente no conjunto das políticas públicas e
intersetoriais, resultante da capacidade de organização de diferentes agentes políticos.

Com relação à ordem do capital sobre o trabalho, esta se figura no impacto dos novos padrões da
ordem capitalista, ao se verificar, a partir dos complexos avanços produtivos, outra estrutura do trabalho,
sendo cada vez mais necessária a análise dessas novas estruturas, compreendendo o seu impacto sobre
a saúde.

Na segunda dimensão, os avanços políticos-legais (novas legislações) estão associados ao


reconhecimento da preocupação ampliada de saúde e sua regulação como direito universal (direito
para todos) e, ainda, à incorporação da saúde do trabalhador no campo da saúde coletiva e em demais
políticas públicas, configurando como uma nova ordem de interesse geral da população.

Tais fatores contribuem ao crescimento da participação social na defesa e no controle social


de políticas públicas, bem como ao fortalecimento da organização dos trabalhadores (sindicatos) e
a incorporação nas pautas coletivas de necessidades voltadas para a saúde e a proteção social e do
trabalho, enquanto conquista da mobilização de amplos setores da sociedade.

14
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

1.1.1 Trabalho e a saúde do trabalhador: a quebra de paradigmas

A denominação “saúde do trabalhador” carrega em si as contradições produzidas na relação capital e


trabalho e no reconhecimento do trabalhador como sujeito político. Hoje, representa o fim de um modelo
hegemônico que atravessou décadas, quando se entendia que qualquer trabalhador acidentado ou que
tivesse adquirido doença no local ou ambiente de trabalho estava garantido nos termos da legislação,
circunscrito num arcabouço da obrigação do empregador em indenizar e garantir os consectários legais,
como as estabilidades.
O surgimento da relação saúde e trabalho é fruto da própria história social do trabalho ao longo do
tempo. Essa transformação constante vem exigindo respostas políticas, teóricas e sociais, cuja raiz está
na compreensão do trabalho, seu significado e metamorfoses.

Este “trabalho dinâmico” representa para o trabalhador sua história individual e também coletiva.
A centralidade do trabalho (Antunes, 1999) na vida das pessoas é repleta de antagonismos e contradições,
pois ao mesmo tempo em que é propiciador de qualidade de vida, de satisfação das necessidades básicas,
pode também representar o seu anverso, devido às condições destrutivas da organização trabalho na
lógica do capital, podendo determinar a produção de doenças e mortes.

A construção do conhecimento e a compreensão das múltiplas determinações que constituem o


processo saúde-doença fazem parte da relação entre o capital e o trabalho na explicitação do conjunto
de manifestações no corpo e na mente dos indivíduos envolvidos neste processo. Como refere Dias
(1994), os trabalhadores vivem, adoecem e morrem de forma compartilhada com a população de
um determinado tempo, lugar e classe social, mas também de forma diferenciada, decorrente de sua
inserção particular no processo produtivo, sustenta a proposição de que esta especificidade deve ser
contemplada no atendimento às suas necessidades de saúde.

Compreender a saúde nessa dimensão significa entendê-la na divisão social e técnica do trabalho.
Representa entender “o processo de trabalho como espaço concreto de exploração “[...] e a saúde do
trabalhador como expressão, igualmente concreta, desta exploração” (LAURELL; NORIEGA, 1989, p.
23). Os desafios são de diferentes ordens, uma vez que o capital procura dissimular seu caráter de
exploração, mas fica cada vez mais difícil esconder sua natureza, ou seja, “a nova ordem teoriza e
pratica, abertamente, as desigualdades como uma necessidade intrínseca do capital” (AUGUSTO, 2001,
p. 170). Assim, fica exposta a estranha lógica na qual a igualdade tem valor negativo e a desigualdade
valor positivo, a fim de naturalizá-la.

A nova transformação do trabalho no sistema capitalista tem apresentado, em seus vários ciclos,
sistemas gerenciais com evolução crescente da produção, da qualificação profissional, do ritmo de
trabalho e da fragmentação do processo produtivo. O contexto é de precarização, flexibilização, trabalho
parcial, polivalência de funções, redução dos postos de trabalho, aceleração no ritmo da produção e
das ações somado ao desemprego estrutural, à implementação de novas tecnologias, com salários em
declínio e/ou instáveis.

Ressaltam-se ainda outras questões relacionadas à precarização dos contratos de trabalho,


tanto aquelas denominadas de precariedade objetiva (contrato por prazo determinado, trabalho
15
Unidade I

temporário) quanto às de precariedade subjetiva, tão ou mais prejudicial à saúde quanto a anterior,
como a instabilidade dos contextos técnicos e organizacionais, em que se constata a fragilidade
das organizações não governamentais e cooperativas que fazem os contratos com os profissionais
terceirizados, e a responsabilização dos assalariados, tornando-os responsáveis pela sobrevivência
das empresas.

Constitui momento predominante da atual produção do capital a busca do envolvimento do


trabalhador enquanto disposição intelectual-afetiva com a lógica da valorização do capital, portanto
para além do “fazer” e do “saber” (ALVES, 2005).

Todas essas condições de trabalho levam a uma verdadeira “sobressolicitação mental”, com uma
sobrecarga informacional, um verdadeiro “soterramento” de informações, hipersolicitação e tratamento
paralelo de tarefas múltiplas, que provocam uma situação que poderíamos chamar de “transbordamento
cognitivo” (FALZON, 2007); uma sensação de transbordamento e saturação, impressão de fazer o urgente
passar na frente do importante, de não conseguir fazer o que se planificou, sem compreender o porquê,
de permanente insatisfação com o trabalho realizado.

A reestruturação produtiva alterou substancialmente o perfil do trabalho e dos trabalhadores, assim


como os determinantes da saúde-doença dos trabalhadores. Essas alterações modificaram também o
perfil da morbi-mortalidade relacionada ao trabalho, assim como a organização e as práticas de saúde
e trabalho (DIAS, 1994).

Um dos grandes marcos da transformação das práticas sociais para uma abordagem ampliada da
saúde, fazendo frente aos crescentes índices de morbidade e mortalidade da população, ocorreu em um
momento de efervescência do movimento da Reforma Sanitária e da democracia brasileira. O resultado
foi a aprovação do Sistema Único de Saúde (1990) e a reorganização das competências das ações de
segurança e saúde do trabalhador, na tentativa de superar a histórica fragmentação em três áreas:
saúde, trabalho e previdência.

O movimento de Reforma Sanitária foi um fato importante iniciado no início da década de 1980,
sob a denominação “saúde do trabalhador”. A consolidação do conceito legal pela Lei nº 8.080, de 1990,
do Sistema Único de Saúde - SUS estabeleceu os procedimentos de orientação básicos como forma de
instrumentalização das ações e dos serviços em saúde do trabalhador.

Inicialmente, a atenção prestada aos trabalhadores se voltava apenas para o trabalho


formal. Contudo, em tempos de transformações, constata-se que a precarização das relações
de trabalho, em todos os seus segmentos, mudou, sem dúvida, a forma de entender a
questão, o que exigiu transformações radicais na maneira de se conceber e de se enfrentar
os problemas daí decorrentes.

A análise, sob uma perspectiva evolutiva e conceitual, indica que na medicina do trabalho o enfoque
principal da determinação do processo de saúde/doença é individual e biologicista, como demonstra a
sistematização realizada por Mendes e Oliveira (1995) no quadro a seguir.

16
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Quadro 1 - Situando o desenvolvimento conceitual em saúde do trabalhador

Determinantes Caráter Papel do Campo da


do Processo Ação Principal Principal da Ator Principal Cenário Usuário Saúde
Saúde/Doença Ação
1. Biológico Tratamento da O usuário é o Medicina do
Técnico Médico Hospital
doença objeto Trabalho
Usuário e
Prevenção da Saúde
2. Ambiental Técnico Equipe Ambulatório ambiente são
doença ocupacional
objetos
Promoção da
3. Social Técnico/ Saúde do
saúde Cidadão Sociedade Sujeito
Político trabalhador

Fonte: Mendes; Oliveira (1995).

Atualmente, a saúde do trabalhador entende o social como determinante das condições de saúde,
sem negar que o adoecimento deve ser tratado e que é necessário prevenir novas doenças, privilegiando
ações de promoção da saúde. Este entendimento define que as várias causas dos acidentes e das doenças
do trabalho têm uma hierarquia entre si, não sendo neutras e iguais, havendo algumas causas que
determinam outras (MENDES; OLIVEIRA, 1995).

Diferentemente das diversas e divergentes visões anteriores, propugna-se que os programas de


saúde incluam a proteção, a recuperação e a promoção da saúde do trabalhador de forma integrada, e
que sejam dirigidos não só aos trabalhadores que sofrem, adoecem ou se acidentam, mas também ao
conjunto deles (DIAS, 1994).

Para se conseguir a excelência na questão saúde do trabalho é necessária uma estruturação em uma
abordagem que tenha como meta a realização de ações coletivas, no âmbito da vigilância, da promoção
e da proteção da saúde nas quais o sujeito é parte essencial dessa ação.

Portanto, a área da saúde do trabalhador na atualidade vai além dos conhecimentos específicos da
medicina do trabalho, buscando compreender a relação capital-trabalho, na qual a saúde e o acidente de
trabalho tornam-se expressões máximas das desigualdades geradas por esse conflito (MENDES, 2003).
É importante e necessário, ao estudar a relação da saúde com o trabalho, entender como as sociedades
constroem a saúde e quais são as possibilidades de sobrevivência individual e coletiva (THÉBAUD-MONY,
2000).

O trabalho está, sobretudo por meio de sua presença ou ausência, totalmente ligado à evolução
da questão da saúde, evidenciando a atualidade do nexo produção-reprodução da força de trabalho-
consumo-ambiente-saúde-doença, vistos na sua integralidade (FREIRE, 1995).

Outro aspecto importante na saúde do trabalhador são os desgastes físicos provocados pela
modalidade do trabalho repetitivo e seus efeitos, associados agora à característica polivalente
da produção, e aos fatores psicossociais do desemprego crescente, pois fornecem as bases para a
criação de estratégias ao trabalhador. Se entendermos que o local de trabalho é o espaço no qual

17
Unidade I

os processos organizativos estão disponibilizados para alcançar determinados fins, é importante


perceber que os elementos que o integram não são homogêneos e devem ser entendidos como
um conjunto, pois os trabalhadores criam vínculos e regras próprias, e nem sempre obedecem
ao dito, ao mensurável, ao controlável. A observação dessas práticas de trabalho, bem como das
relações delas decorrentes, tornam-se pertinentes em estudos que buscam compreender a relação
do adoecimento com o trabalho.

Destaca-se, portanto, que a saúde do trabalhador pressupõe uma interface entre diferentes
alternativas de intervenção que contemplem as várias formas de determinação do processo de saúde-
doença dos trabalhadores (MENDES, 2003). É necessário pensar a saúde do trabalhador desde a sua
organização na sociedade e no trabalho, compreendendo-se essa realidade sob uma perspectiva de
sujeitos coletivos, conhecendo-os e reconhecendo-os historicamente. Desse modo, é preciso, além
do diagnóstico e do tratamento, a implementação simultânea das modificações nos ambientes de
trabalho, bem como o desenvolvimento de outras ações no âmbito da organização desses ambientes,
que devem estar em consonância com as múltiplas mudanças nos processos de trabalho, as quais
retratam a divergência de interesses entre capital e trabalho, quando emergem as doenças e os
acidentes de trabalho.

O alcance nos avanços no campo político e teórico sobre a saúde do trabalhador não pode prescindir
da construção de uma base legal e normativa que contemple diretrizes políticas para a atenção e a
promoção da saúde do trabalhador. Destaca-se, assim, pela Portaria nº 1.679, de 19 de setembro de
2002, a criação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), como estratégia
para a elaboração desse instrumento, com ênfase nas ações assistenciais.

Cabe ressaltar que essa portaria foi apoiada pelos profissionais e técnicos dos Centros de Referência
em Saúde do Trabalhador - Cerest e setores do movimento dos trabalhadores, que reconheceram na
iniciativa as possibilidades de institucionalização e fortalecimento da saúde do trabalhador, no SUS.
Pela primeira vez seria possível contar com um financiamento estratégico das ações, vinculado à
operacionalização de um Plano de Trabalho de Saúde do Trabalhador, em nível estadual e municipal. A
partir de 2003, a coordenação da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde priorizou
a implementação da Renast como a principal estratégia da Política Nacional de Saúde do Trabalhador
(PNST) para o SUS (MS, 2004).

Este conjunto de ações é parte do debate em torno da articulação da área e da construção da


proposta de Política Nacional de Segurança e Saúde do trabalhador - PNSST, contendo importantes
proposições e contemplando os papéis a serem desempenhados, entre outros, pelo Ministério
da Saúde (assistência e vigilância), Ministério da Previdência (benefício por incapacidade e
implementação do nexo epidemiológico presumido) e Ministério do Trabalho (diretrizes e normas
de SST).

Assim, a Segurança e Saúde do Trabalhador - SST atende o intento de ampliação das ações de
promoção, resultando na ampliação da cobertura dos trabalhadores, na harmonização de normas e
articulação de ações; precedência da prevenção sobre a reparação; estruturação de uma rede integrada
em SST; reestruturação da formação em SST; promoção de uma agenda integrada de estudos e
18
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

investigação em SST (LACAZ, 2010). Entretanto, apesar desse esforço, não há ainda a efetivação
da PNSST em decreto presidencial, para assim viabilizar efetivamente as ações propostas. Há de se
considerar ainda divergências constantes na proposta da política, as quais representam questões de
concepção travestidas, por vezes, de terminologias que, na sua essência, ocultam históricas tensões
entre as áreas.

Quando se coloca em evidencia as implicações do trabalho sobre a saúde e os constantes embates


que envolvem a área de saúde do trabalhador, identificam-se nas relações sociais da sociedade capitalista
distintas perspectivas no campo ético, político e econômico.

Uma vez observadas e constatadas estas implicações, o observador demandará sólido


conhecimento teórico-metodológico em articulação com as forças sociais, na defesa da saúde do
trabalhador como direito, e entenderá a necessidade da emancipação do trabalhador, rompendo
com abordagens conservadoras que concebem o adoecimento como fenômeno estranho ao
processo de produção.

Lembrete

O crescimento da área da saúde do trabalhador pode ser entendido


através de duas dimensões: a primeira, decorrente da nova ordem do capital
sobre o trabalho; a segunda, por conta do reconhecimento político da área,
representado pela sua inserção, ainda que insuficiente no conjunto das
políticas públicas e intersetoriais, resultante da capacidade de organização
de diferentes agentes políticos.

Saiba mais

Leia sobre o trabalho desenvolvido no Seminário Nacional Pró-


Saúde e PET-Saúde, realizado em outubro de 2011, que tratou sobre a
Regulamentação da lei 8.080/1990. Essa lei dispõe sobre as condições
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e
funcionamento dos serviços correspondentes e outras providências.

<http://www.prosaude.org/noticias/2011apres-sem-nac2011/
AndreLuizSGEP-RegLei8080SemNac-19-10-2011.pdf>.

1.2 Histórico da Segurança do Trabalho

É difícil dizer ao certo onde se iniciou a preocupação com a segurança do trabalho. Talvez esta
seja tão antiga quanto o próprio trabalho e provavelmente o primeiro acidente decorrido deste. A

19
Unidade I

informação mais antiga em que se verifica a preocupação com a segurança do trabalho se encontra em
um documento egípcio, o papiro Anastacius V. Neste documento, encontra-se a descrição da atividade
de um pedreiro e a preocupação com a preservação de sua saúde. Outro registro, também no Egito, no
ano de 2360 a.C., fala sobre a insurreição geral dos trabalhadores de uma mina de cobre que mostrou ao
faraó a necessidade de uma melhora nas condições de vida dos escravos.

Ao longo dos tempos, já no Império Romano, surgiram leis que garantiam a proteção médica-legal
dos trabalhadores. Os primeiros a estabelecer medidas de controle, com o uso do que seria um dos
primeiros equipamentos de proteção individual, EPI, foram Plínio e Rotário, que recomendaram o uso de
máscaras respiratórias para proteger o trabalhador das poeiras metálicas.

Aristóteles cuidou das enfermidades dos mineiros e tentava evitá-las. Hipócrates (considerado o pai
de medicina) viveu entre 460 a 370 a.C.. Ele é considerado um dos homens mais importantes na história
da medicina. Foi pioneiro em muitas descobertas, entre elas, a identificação na origem das doenças
relacionadas ao trabalho com as minas de estanho.

Na Idade Média encontram-se as primeiras ordenações, aos fabricantes, para a adoção de medidas de
higiene do trabalho. No período do Renascimento destaca-se a figura de Samuel Stockause como sendo
o pioneiro da inspeção médica no trabalho. Também se destacou o médico Bernadino Ramazini como
responsável por relacionar as doenças dos trabalhadores com as suas atividades laborais e sistematizar
todos os conhecimentos que se vinha acumulando sobe segurança, publicando em 1760, em Modena,
na Itália, a sua obra De Morbis Artificum Diatriba – As doenças dos trabalhadores.

Não só nos tempos antigos, mas também na nossa época, os governos bem
constituídos têm criado leis para conseguirem um bom regime de trabalho,
pelo que é justo que a arte médica se movimente em favor daqueles que
a jurisprudência considera de tanta importância, e empenhe-se, como até
agora tem feito, em cuidar da saúde dos operários, para que possam, com
a segurança possível, praticar o oficio a que se destinam. Eu, quanto pude,
fiz o que estava a meu alcance, e não me considerei diminuído visitando,
de quando em quando, sujas oficinas (já que, em nossa época, a medicina
tende para o mecanicismo, de certo modo, e as escolas nada mais tratam
senão de automatismo) a fim de observar segredos da arte mecânica. [...]
Das oficinas dos artífices, portanto, que são antes escolas de onde saí mais
instruído, tudo fiz para descobrir o que melhor poderia satisfazer o paladar
dos curiosos, mas, sobretudo, o que é mais importante, saber aquilo que
se pode sugerir de prescrições médicas preventivas ou curativas, contra as
doenças dos operários. E assim, o médico que vai atender a um paciente
proletário não se deve limitar a pôr a mão no pulso, com pressa, assim que
chegar, sem informar-se de suas condições; não delibere de pé sobre o que
convém ou não convém fazer, como se não jogasse com a vida humana;
deve sentar-se, com a dignidade de um juiz, ainda que não seja em cadeira
dourada, como em casa de magnatas; sente-se mesmo num banco, examine
o paciente com fisionomia alegre e observe detidamente o que ele necessita
20
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

dos seus conselhos médicos e dos seus cuidados piedosos. Um médico que
atende um paciente deve informar-se de muita coisa a seu respeito pelo
próprio e pelos seus acompanhantes, segundo o preceito do nosso Divino
Preceptor; quando visitares um doente, convém perguntar-lhe o que sente,
qual a causa, desde quantos dias, se seu ventre funciona e que alimento
ingeriu, são as palavras de Hipócrates no seu livro Das Afecções; a estas
interrogações devia-se acrescentar outra: e que arte exerce? (ROMAZINI,
1760).

Em 1779, na França, a Academia de Medicina fazia constar em seus anais um trabalho sobre as causas
e prevenção de acidentes; Nesta ano também foi fundada, em Milão, na Itália, a primeira sociedade
filantrópica que visava o bem estar do trabalhador.

• 1830 – inicia-se a etapa da Medicina do Trabalho;

• 1890 – ocorre a Conferência Internacional em Berlim;

• 1891 – Encíclica Rerum novarum do Papa Leão XIII (15 de maio de 1891, capítulo 27): não é justo
nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer
o espírito e enfraquecer o corpo. A atividade do homem, restrita como a sua natureza, tem limites
que se não podem ultrapassar.

• 1900 – Associação Internacional para Proteção dos Trabalhadores;

• 1919 – Organização Internacional do Trabalho – OIT;

• 1950 – etapa da Saúde Ocupacional;

• 1970 – etapa da Saúde do Trabalhador.

A partir da Revolução Industrial (1760-1850), as condições de trabalho começaram a se tornar cada


vez mais intoleráveis. Como estava claro que o país que adotasse medidas com objetivo de melhorar
as condições de trabalho elevaria o custo da mão de obra e, consequentemente, ficaria em uma
posição desvantajosa no mercado em relação aos outros países, conclui-se que deveria haver acordos
internacionais para poder se obter resultados positivos.

O primeiro deles foi uma conferência internacional em Berlim no ano de 1890, na qual 14 países
estiveram representados. Seta anos depois, outra conferência internacional foi realizada, em Bruxelas,
que resultou na criação, em 1900, da Associação Internacional para Proteção dos Trabalhadores.

Desta associação nasceu, em 1919, a Organização Internacional do Trabalho – OIT, que ficou
responsável em traduzir e publicar a legislação social de diferentes países à medida que era colocada em
prática. Nasceu assim, a série legislativa que a OIT continua publicando até a presente data.

21
Unidade I

Figura 4 – Trabalhadores usando equipamentos de proteção

No Brasil, nos primeiros séculos pós-descobrimento, as atividades industriais restringiram-se


praticamente à fabricação do açúcar e à mineração, sendo permitida a instalação de fábricas apenas a
partir de 1808, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil. Entretanto, só em 1890 surge a
primeira legislação sobre condições de trabalho industrial com a criação do Conselho de Saúde Pública.
A legislação trabalhista caminhou a passos lentos até 1930, com a criação do Ministério do Trabalho,
que adotou a questão da saúde e segurança dos trabalhadores. Em 1978, o ministério aprovou uma
portaria com as 28 Normas Regulamentadoras (NR) relativas à segurança e medicina do trabalho. A
partir de 1994, já adotando como paradigma a Convenção nº 161/85 da OIT, aprovou as atuais versões
das normas NR-7, NR-9, NR-18 e NR-29. Finalmente, em 1999, foi aprovada a atual versão da NR-5
(Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – Cipa).

Todas as normas citadas no parágrafo acima serão devidamente examinadas neste livro-texto. Ao
fazer uma análise sobre saúde e segurança no trabalho, podemos compreender a importância de interferir
no processo de segurança ocupacional dos colaboradores tendo o objetivo de prevenir, minimizar e
eliminar os riscos decorrentes de condutas e procedimentos que causam riscos à saúde do trabalhador.
Podemos entender que um serviço de saúde ocupacional apresenta finalidades como:

• cuidar e proteger o colaborador contra qualquer risco à saúde que se origine em seu ambiente de
trabalho ou das condições físicas e psicológicas em que o trabalho o expõe;
• buscar o equilíbrio, ajustamento mental e físico do colaborador;
• estabelecer e manter um alto grau de bem-estar físico e mental dos colaboradores.

Lembrete

O médico do trabalho tem como parte de suas funções a realização


de exames médicos ocupacionais chamados de admissional, demissional,
periódicos e especiais.
22
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

A definição dos objetivos e propósitos de um serviço de saúde ocupacional está formalizada na


Recomendação 112 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1959. Essa recomendação
foi um dos marcos importante no processo de organização dos serviços de saúde do trabalhador, além
de ser utilizada como um paradigma na elaboração da legislação brasileira sobre o assunto. Seu maior
mérito foi definir as funções dos serviços de medicina do trabalho, destacando sua função preventiva.
Aconselhava, também, que todos os países-membros adotassem a obrigatoriedade da existência de
serviços médicos de empresa. O Direito Internacional, juntamente com as convenções e recomendações
da Organização Internacional do Trabalho (OIT), oferecem bases para a efetiva melhora das condições e
do meio ambiente do trabalho no mundo.

Saiba mais
Conheça o histórico no Brasil da saúde e segurança do trabalho e
confira mais informações sobre a Recomendação nº 112/09 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) sobre serviços de medicina no trabalho no
endereço abaixo:
<http://nr7.sat.sites.uol.com.br/sesmt.htm>.

A maioria dos serviços de saúde ocupacional foca três áreas principais, são elas: prevenção,
ajustamento ao trabalho e tratamento.

1.3 Prevenção

A prevenção na Saúde e Segurança do Trabalho deve ser desdobrada em duas funções – controlar
riscos e controlar emergências – diminuindo, assim, as estatísticas dos acidentes com os colaboradores.

É muito comum nas empresas placas de controle dizendo:

“Estamos trabalhando há xxx dias sem acidentes com perda de tempo.


Nosso recorde é de xxx dias.”

De acordo com Cardella (1999), o controle de riscos pode ser exercido por meio de sistemas altamente
sofisticados, como o de uma unidade industrial, ou muito simples, como o de um trabalhador que
controla os riscos de suas atividades. Em qualquer um dos casos, são adotados os seguintes princípios:

• Nas organizações e sociedade, o acidente é um fenômeno de natureza multifacetada que resulta


de interações complexas entre fatores físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais.
• Todos os acidentes podem ser evitados.
• Os acidentes ocorrem porque a mente se envolve com o trabalho e esquece o corpo.
• Um indivíduo não consegue, sozinho, controlar os riscos de sua atividade.

23
Unidade I

Figura 5 – Trabalhador em ambiente de trabalho “adequado”

O objetivo da gestão de riscos é trabalhar a prevenção dos acidentes e, dessa forma, manter os riscos
associados à organização abaixo dos valores tolerados pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(Cipa). Algumas organizações não conscientizam seus colaboradores da responsabilidade da prevenção,
mas é dever de todos zelar por uma boa saúde, segurança no trabalho e, consequentemente, por uma
boa qualidade de vida. Segundo Cardella (1999), a política estabelece as regras comportamentais da
organização. Portanto, cada organização, família, pessoa ou sociedade deve estabelecer sua própria
política, que é sempre um reflexo de seus valores.

Veja algumas regras básicas:

• A preservação de pessoas tem prioridade sobre a preservação de bens.


• Quem responde por uma atividade deve responder também pelos riscos decorrentes dessa
atividade.

Ainda de acordo com Cardella (1999), é considerado emergência todo procedimento perigoso sobre
os quais o homem não tem nenhum controle. Toda emergência é considerada anormal, pois o esperado
e desejado é a ausência de emergências. Ela pode ser caracterizada como explosão, incêndio, vazamento
de gás tóxico, enchente, falta de energia elétrica, falta de água e refrigeração, entre outros. Em qualquer
um dos casos, são adotados os seguintes princípios:

• A velocidade de propagação da série de eventos perigosos é maior que a velocidade com que o
homem detecta, analisa e toma decisões.
• Em situação de emergência, o homem apresenta uma elevada probabilidade de cometer falhas.
Essa probabilidade diminui se ele estiver adequadamente treinado.
• Não é possível elevar a confiabilidade dos sistemas a cem por cento. Quando o último recurso
mecânico-eletrônico falha, o controle passa a depender totalmente da intervenção humana.

Desses princípios, decorre:

• que as emergências devem ser analisadas previamente para que decisões críticas sejam incorporadas
ao plano de ação e as ações sejam executadas de modo automático no momento da ocorrência;
24
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

• que as ações de controle devem ser executadas preferencialmente por equipamentos, pois eles
atuam muito rapidamente e com muito maior confiabilidade do que o homem;
• que as pessoas que atuam no controle de emergências devem ser treinadas em detecção de falhas.

A política de gestão de emergências deve ser simples e objetiva, não deixando dúvidas quanto ao
comportamento esperado. Cabe à liderança estabelecer a política da organização.

Lembrete
É preciso inspecionar regularmente para controlar os riscos.

1.4 Ajustamento ao trabalho

Embora estudos sinalizem, principalmente, os efeitos do trabalho sobre a saúde do colaborador, não
podemos esquecer que é tarefa primordial estudar os efeitos que a saúde pode ter sobre o trabalho.
Podemos iniciar esse estudo pelo processo seletivo do candidato a determinado cargo, com o qual
analisaremos a sua saúde e as suas aptidões.

Algumas organizações realizam um procedimento de triagem com os candidatos por meio do


preenchimento de um questionário de saúde elaborado por um médico e com o auxílio de um profissional
da enfermagem. Esse questionário confirmará se o colaborador está apto ou não para desenvolver
determinada tarefa no seu cotidiano, mas esse não é o único método utilizado para o ajustamento de
função. No caso dos colaboradores admitidos para trabalhar em uma área que acarreta exposição a riscos
específicos, como metais pesados, radiações, barulhos, eles necessitarão ser examinados para que se
estabeleçam dados clínicos de referência, com a complementação de alguns exames laboratoriais como
audiometria, hemograma completo e dosagem de chumbo no sangue. Vale lembrar que somente essas
ações não bastam: ao lidar com pessoas, o clima organizacional é primordial para ter um ajustamento
organizacional, ideal para um bom ambiente de trabalho.

Segundo Cardella (1999), o clima organizacional resulta de fatores internos e externos. Entre eles,
podemos citar a visão de futuro, ameaças externas, situação política, econômica e social do país, grau de
satisfação das necessidades das pessoas, liderança, cultura organizacional e sistema de gestão.

Saiba mais
Leia o artigo de Francisco Antônio de Castro Lacaz intitulado “O campo
Saúde do Trabalhador: resgatando conhecimentos e práticas sobre as relações
trabalho-saúde”. Nele, você verá os pressupostos teórico-operacionais do campo
Saúde do Trabalhador e os formulados pela Saúde Ocupacional.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0102-311X2007000400003>.
25
Unidade I

A Organização Internacional de Trabalho (OIT) estabeleceu o Programa Internacional para a Melhora


das Condições e Meio Ambiente do Trabalho (PIACT), que iniciou-se em 1976 e tem como objetivo o
melhoramento das condições de trabalho e a proteção da saúde física e mental do trabalhador. Seu foco
constitui-se na:

• prevenção contra os efeitos desfavoráveis de fatores físicos, químicos e biológicos no local de


trabalho e no meio ambiente imediato;
• prevenção da tensão mental resultante da duração excessiva do ritmo, do conteúdo ou da
monotonia do trabalho;
• promoção de melhores condições de trabalho visando à distribuição adequada do tempo e do
bem-estar dos trabalhadores;
• adaptação das instalações e locais de trabalho à capacidade mental e física dos trabalhadores
mediante a aplicação da ergonomia.

1.5 1.4 Tratamento

Quando o objeto é um produto, podemos identificar o tratamento deste produto de acordo com as
seguintes fases, conforme o seu ciclo de vida: implantação, desenvolvimento, produção, armazenagem,
transporte e distribuição. No entanto, quando o objeto é uma pessoa, o seu tratamento é identificado
através das seguintes fases: seleção, formação e treinamento. Nesse sentido, podemos concluir que a
grande função da saúde ocupacional nas organizações é assegurar que todos aqueles que possuem
um papel a desempenhar na criação de um ambiente de trabalho seguro o façam em harmonia, já
que a doença não respeita separações sociais e políticas e o progresso futuro será alcançado com a
colaboração de todos os envolvidos.

Em vez de um tratamento mais detalhado dos preceitos nos dispositivos legais, optou-se por delegar
a competência normativa ao Ministério do Trabalho não só para regulamentar, mas também para
complementar as normas, como expressamente prevê o art. 200 da CLT:

Art. 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições


complementares às normas, tendo em vista as peculiaridades de cada
atividade ou setor de trabalho, especialmente sobre:

I - medidas de prevenção de acidentes e os equipamentos de proteção


individual em obras de construção, demolição ou reparos;

II - depósitos, armazenagem e manuseio de combustíveis, inflamáveis e


explosivos, bem como trânsito e permanência nas áreas respectivas;

III - trabalho em escavações, túneis, galerias, minas e pedreiras, sobretudo


quanto à prevenção de explosões, incêndios, desmoronamentos e
soterramentos, eliminação de poeiras, gases e facilidades de rápida saída
dos empregados;
26
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

IV - proteção contra incêndio em geral e as medidas preventivas adequadas,


com exigências ao especial revestimento de portas e paredes, construção de
paredes contra fogo, diques e outros anteparos, assim como garantia geral
de fácil circulação, corredores de acesso e saídas amplas e protegidas, com
suficiente sinalização;

V - proteção contra insolação, calor, frio, umidade e ventos, sobretudo


no trabalho a céu aberto, com provisão, quanto a este, de água potável,
alojamento e profilaxia de endemias;
VI - proteção do trabalhador exposto a substâncias químicas nocivas,
radiações ionizantes e não ionizantes, ruídos, vibrações e trepidações ou
pressões anormais ao ambiente de trabalho, com especificação das medidas
cabíveis para eliminação ou atenuação desses efeitos, limites máximos
quanto ao tempo de exposição, à intensidade da ação ou de seus efeitos
sobre o organismo do trabalhador, exames médicos obrigatórios, limites de
idade, controle permanente dos locais de trabalho e das demais exigências
que se façam necessárias;

VII - higiene nos locais de trabalho, com discriminação das exigências,


instalações sanitárias com separação de sexos, chuveiros, lavatórios,
vestiários e armários individuais, refeitórios ou condições de conforto por
ocasião das refeições, fornecimento de água potável, condições de limpeza
dos locais de trabalho e modo de sua execução, tratamento de resíduos
industriais;

VIII - emprego das cores nos locais de trabalho, inclusive nas sinalizações
de perigo.

Parágrafo único - Tratando-se de radiações ionizantes e explosivos, as


normas a que se referem este artigo serão expedidas de acordo com as
resoluções a respeito adotadas pelo órgão técnico (BRASIL, 1977).

Exemplo de aplicação

A Constituição Federal de 1988 estabelece expressamente que a saúde é direito de todos (art. 196),
criando para seu exercício o Sistema Único de Saúde (art. 198). Desta forma, as questões relacionadas
a saúde do trabalhador são de interesse da sociedade e não apenas do ambiente de trabalho ou das
organizações, apesar da doutrina jurídica brasileira permear o entendimento dessas questões como
sendo a base do Direito do Trabalho, ampliado pelo Direito à Saúde (Lei nº 8080/1990) e o Direito
Ambiental permeada pela Lei nº 6.938/81. Podemos afirmar que, apesar de todos os avanços da nossa
legislação que trata das questões relacionadas a saúde do trabalhador, existe um dilema entre a
responsabilidade objetiva causada por degradação do ambiente, já que danos podem ser considerados
doenças ou acidentes do trabalho que possuem regras jurídicas próprias no âmbito do trabalho, as quais
constituem foco do sistema da prevenção concernente ao Direito à Saúde.
27
Unidade I

Com base no texto, descreva os fatores que podem constituir a degradação ambiental e que
contribuam para os agravos à saúde do trabalhador.

2 DADOS DE SST NO MUNDO GLOBALIZADO

O avanço tecnológico, a demanda por produtos e o mercado de consumo sem fronteiras em um


mundo globalizado aumentaram a concorrência em todas as áreas, aumentando a pressão nas linhas
de produção, buscando processos e organizações mais eficientes e eficazes. Para buscar evitar abusos
sobre o trabalhador, a legislação sobre os direitos dos trabalhadores veio se modernizando e, por meio
de organismos internacionais, ela foi divulgada e recomendada para que se proteja a maior de todas
as riquezas de uma empresa, seus trabalhadores. “A vida em sociedade exige regras de comportamento
fundamentais, para a sua sobrevivência, ditadas pelo Direito. São coercitivas” (ARAÚJO, 2013, p. 78).

Situações da SST no mundo globalizado

• 250 milhões de acidentados por ano;

• 350 mil acidentes fatais por ano;

• cada dia mil pessoas saem de suas casas de manhã para o trabalho e não voltam vivas para as
mesmas à noite;

• 160 milhões de doenças do trabalho;

Impactos da SST no mundo globalizado

As perdas (equivalem a cerca de 4% do PIB mundial):

• financeiras e materiais;

• dias de trabalho não produtivos;

• interrupções na produção;

• custos de serviço médicos;

• custos de reabilitação profissional;

• custos de capacitação.

Contexto sociolaboral da SST

• indicadores de pobreza crescentes;

28
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

• deteriorização da qualidade de emprego;

• qualidade da educação e da saúde preocupantes;

• crescimento da economia informal;

• flexibilização das relações no trabalho;

• precarização dos contratos de trabalho;

• aumento da jornada de trabalho;

• maiores dificuldades para prevenir e controlar os acidentes e doenças do trabalho;

• reduções ou limitações da capacidade de ação e cobertura da inspeção do trabalho;

• maior visibilidade dos fatores psicossociais adversos nos locais de trabalho: estresse, violência,
alcoolismo, tabagismo, Aids.

Alguns resultados observados

• orientação de políticas nacionais de SST para setores produtivos mais desenvolvidos ou mais
conflituosos (empresas com maior risco);

• abandono de setores mais fracos ou menos estruturados (setor da economia informal);

• prática incipiente do diálogo social de SST;

• carência de dados e desconhecimentos de estatísticas integrais de SST.

Tendências da SST na Economia Formal Globalizada

• reconhecimento do valor das condições de SST para a produtividade e a competitividade;

• convergência de legislações;

• cláusulas sociais;

• códigos de conduta e programas de responsabilidade social;

Impactos das Tendências

• assegurar um piso mínimo de qualidade nas condições de trabalho entre os países membros de
acordos;
29
Unidade I

• evitar o dumping social entre os países evitando condições de trabalhos inadequadas;

• fomentar a via alta para ao desenvolvimento econômico e o progresso social equitativos e


baseados no melhor e maior aproveitamento do capital humano.

Com esses dados, pode-se ver que há muito que se fazer, melhorar e aperfeiçoar nas questões de
Segurança do Trabalho, principalmente quando falamos em ações preventivas e pró-ativas.

2.1 Conceito e histórico

Neste módulo, estudaremos o conceito da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa),


abordando sua evolução histórica no decorrer dos anos por meio da sua institucionalização e
legalização.

A Cipa é uma comissão formada por representantes do empregador e do empregado que tem a
missão de preservar a saúde e a integridade física dos trabalhadores e de todos aqueles que interagem
com a organização. A primeira manifestação das atividades preventivas de acidentes do trabalho no
Brasil, por intermédio da Cipa, deu-se no final o século XIX e início do século XX, por meio da participação
ativa dos empregados e empregadores. Podemos entender que essa comissão foi um movimento de
performance nacional e de caráter prático, tanto em função das autoridades que formularam a sua
legalização e normatização como em função da parcela de empresas privadas que passaram a utilizá-la
em seus estabelecimentos.

Segundo Gonçalves (2000), o objetivo da Cipa é a prevenção de acidentes e doenças decorrentes


do trabalho, a exemplo do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho (SESMT). A institucionalização iniciou-se no ano de 1921, quando a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) aprovou a recomendação, informando que todas as entidades
industriais que tivessem regularmente empregados 25 trabalhadores deveriam possuir um comitê
de segurança.

Observação

As Cipas estão instaladas principalmente nas empresas situadas em


parques industriais e centros comerciais.

Por meio do Decreto-Lei nº 7036/44, conhecido como “Nova Lei da Prevenção de Acidentes”,
foi formalizada a obrigação das empresas brasileiras de criar organismos internos, utilizando-se da
colaboração de todos os envolvidos na busca da prevenção de acidentes. A seguir, temos o artigo 82 do
referido decreto-lei, que foi o nascedouro da Cipa:

Os empregadores, cujo número de empregados seja superior a 100,


deverão providenciar a organização, em seus estabelecimentos, de
comissões internas, com representantes dos empregados, para o fim
30
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

de estimular o interesse pelas questões de prevenção de acidentes,


apresentar sugestões quanto à orientação e fiscalização das medidas
de proteção ao trabalho, realizar palestras instrutivas, propor a
instituição de concursos e prêmios e tomar outras providências
tendentes a educar o empregado na prática de prevenir acidentes
(BRASIL, 1944).

A obrigação legal de instalação da Cipa nas empresas passou a integrar, em 1967, a Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), por força do Decreto-Lei nº 229, de 26 de fevereiro de 1967, modificando
profundamente o texto do capítulo V, Título II, que trata de assuntos de segurança e higiene do trabalho,
enfatizando a organização de Cipa nas empresas, passando a fazer parte de lei maior de proteção ao
trabalhador.

Entre os objetivos da Cipa, temos:

• observar e relatar condições de risco nos ambientes de trabalho;

• solicitar medidas para reduzir até eliminar ou neutralizar os riscos existentes;

• discutir os acidentes ocorridos, encaminhando relatório ao SESMT e ao empregador;

• solicitar medidas que previnam acidentes semelhantes;

• orientar os demais trabalhadores quanto à prevenção de acidentes.

Posteriormente, por meio da Lei nº 6514, de 22 de dezembro de 1977, firmou-se, de forma


sistemática e rígida, a comissão preventiva nas organizações com um número superior a cinquenta
empregados. Dessa forma, a Cipa foi fortalecendo-se no decorrer dos anos, aumentando o
interesse contínuo das organizações pela busca da qualidade de vida do seu trabalhador. Assim,
podemos entender que o grande marco da prevenção de acidentes deu-se com a conscientização
da iniciativa privada em se preocupar com a saúde e segurança do trabalhador no seu ambiente
profissional.

Saiba mais

Visite o Portal SESMET. Nele, você encontra as normas, vídeos e outras


publicações a respeito da educação para prática de Segurança do Trabalho.
Disponível em:

<http://www.sesmt.com.br/portal/>.

31
Unidade I

2.2 Cipa – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

Como vimos anteriormente, a Cipa é uma comissão que tem o objetivo de evitar a ocorrência
de acidentes de trabalho e as doenças que eles acarretam, de modo a garantir que trabalho,
segurança e promoção da saúde estejam sempre em perfeita sintonia e complementação. As
empresas que admitirem trabalhadores como empregados deverão estabelecer e manter suas
comissões em perfeito e regular funcionamento. Incluem-se, nesse caso, as empresas públicas,
privadas, cooperativas, associações recreativas, sociedades de economia mista, entre outras. Vale
lembrar que a NR-5 também se aplica aos trabalhadores avulsos e às empresas que lhe tomarem
serviço.

No caso de uma empresa possuir em um mesmo município mais de um estabelecimento, cada


um deles deverá ter constituída, de forma independente e em funcionamento, sua própria comissão.
Porém, a integração e a harmonia das políticas de segurança e de saúde dos trabalhadores devem
ser garantidas pela empresa. Não haverá uma relação de dependência entre as Cipas, e sim uma
uniformidade de esforços.

Saiba mais

Consulte o “Manual Cipa – A nova NR-5”, que entrou em vigor em


24 de maio de 1999 e regulamenta o instituído no artigo 163 da CLT,
estabelecendo novas regras para o funcionamento das Comissões Internas
de Prevenção de Acidentes de Trabalho – CIPA.

Disponível em: <http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_


DSC_NOME_ARQUI20081104143646.pdf>.

2.2.1 Da organização

Toda e qualquer Comissão Interna de Prevenção de Acidentes deverá ser composta por
membros representantes do empregador e do quadro de empregados. Os representantes dos
empregadores, tanto os titulares como os suplentes, serão designados por eles próprios. No caso
dos representantes dos empregados, esses serão eleitos por meio de votação secreta pelos demais
empregados interessados. Os eleitos terão mandato de um ano, podendo ser reeleitos para um
próximo mandato subsequente.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, “o empregador deverá garantir que seus indicados
tenham a representação necessária para a discussão e encaminhamento das soluções de questões de
segurança e saúde no trabalho analisadas na Cipa” (BRASIL, 1999d).

32
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Observação

Um dos fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes de


trabalho é a falta de planejamento e gestão gerencial descompromissada
com o assunto.

2.2.2 Atribuições

O interior das organizações a Cipa possui, hoje, uma gama de atribuições importantes na prevenção
de acidentes e promoção da saúde do trabalhador. Podemos citar como as mais relevantes:

• identificar previamente os riscos decorrentes das atividades desenvolvidas pelos empregados. A


comissão, com a ajuda de alguns trabalhadores, elabora um mapa dos riscos detectados para
tentar eliminá-los;

• realizar um trabalho de detecção dos problemas de segurança e saúde no trabalho e, posteriormente,


desenvolver uma estratégia para minimizá-los e, se possível, solucioná-los;

• realizar periodicamente a verificação das condições de trabalho com o intuito de identificar


possíveis riscos à saúde e à segurança dos empregados;

• realizar a divulgação de todas as informações relativas à segurança e à saúde no trabalho;

• participar das discussões do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do


Trabalho (SESMT) acerca das avaliações dos impactos do meio ambiente e dos processos de trabalho;

• colaborar com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional da empresa;


• colaborar com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais;
• promover, anualmente, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (Sipat);
• participar das campanhas de prevenção de doenças como a Aids.

Para que todas as atribuições descritas acima possam ser realizadas, é imprescindível que os demais
empregados participem de todo o processo, que tem início na própria escolha dos membros da comissão.
Os empregados precisam ter a consciência de que se trata de uma comissão formada para garantir a
sua integridade física, sendo importante que essa comissão seja acompanhada e auxiliada pelos demais
colaboradores.

Para auxiliar o trabalho da Cipa, os demais empregados poderão indicar as situações de risco que
sejam detectadas, bem como sugerir ações para eliminá-las. Será também de grande auxílio à Cipa o
uso correto dos equipamentos de proteção individual, assim como o seguimento correto das normas de
segurança no trabalho. Algumas comissões deixam de realizar feitos importantes por perderem tempo
na fiscalização de comportamentos adequados dos trabalhadores.
33
Unidade I

Observação

Um dos fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes de


trabalho é a inexistência de orientação, ordem de serviço ou treinamento
adequado.

2.2.3 Funcionamento

A Cipa realizará reuniões mensais, com datas preestabelecidas, em local apropriado e sempre no horário
do expediente. Uma vez encerrada a reunião, uma ata deverá ser assinada por todos os participantes
e uma cópia deverá ser enviada para todos os membros presentes ou ausentes à reunião. Essas atas
deverão estar sempre à disposição dos agentes de inspeção do trabalho. Vale lembrar que, apesar das
datas das reuniões serem previamente fixadas, em caso de necessidade, reuniões extraordinárias poderão
acontecer. São motivos para a convocação de reunião extraordinária:

• denúncia de situação de risco grave ou iminente;

• acidente fatal ou grave;

• solicitação expressa de uma das representações.

Antes de tomarem posse, os membros da Cipa recebem treinamento especializado, cujo conteúdo
programático contempla:

• um estudo completo de seu ambiente de trabalho, incluindo os riscos que ele apresenta;

• a apresentação das metodologias de investigação das doenças do trabalho e dos acidentes de


trabalho;

• medidas de prevenção da Aids e algumas noções sobre a doença;

• noções básicas de legislação trabalhista e previdenciária, no que diz respeito à segurança e à


saúde no trabalho;

• medidas de controle de riscos ambientais;

• princípios gerais de higiene do trabalho;

• procedimentos de organização da Cipa.

34
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Figura 6 – Demonstra a necessidade de um estudo sobre os riscos no ambiente adequado de trabalho

Observação

Um dos fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes de


trabalho é o descumprimento da legislação.

Exemplo de aplicação

Faça uma pesquisa e construa uma linha do tempo que retrate a evolução da saúde do trabalhador.
Esta atividade tem o objetivo de analisar o processo histórico da saúde do trabalhador, conhecer a
evolução do processo com o objetivo de prevenir, minimizar e eliminar os riscos e agravos à saúde do
trabalhador.

Resumo

A área de Saúde e Segurança no Trabalho tem as seguintes finalidades:


proteger o colaborador contra qualquer risco à saúde que se origine
do trabalho ou das condições físicas e psicológicas que o trabalhador
se encontra e buscar o equilíbrio, o ajustamento mental e físico dos
colaboradores, mantendo bem-estar físico e mental.

Prevenção é desdobrada em duas funções: controlar riscos e


controlar emergências. O controle de riscos pode ser exercido por
meio de sistemas simples ou altamente sofisticados. O controle de
emergências é considerado anormal, pois o esperado e desejado é a
ausência de emergências.

Para o ajustamento ao trabalho, algumas organizações realizam um


procedimento de triagem com os candidatos por meio do preenchimento

35
Unidade I

de um questionário elaborado por um médico. No caso dos colaboradores


admitidos para trabalhar em uma área que acarreta exposição a riscos
específicos – metais pesados, radiações, barulhos etc. – necessitarão ser
examinados para que se estabeleçam dados clínicos de referência, com
a complementação de alguns exames laboratoriais como audiometria,
hemograma completo, dosagem de chumbo no sangue.

A grande função da saúde ocupacional nas organizações é assegurar


que todos aqueles que possuem um papel a desempenhar na criação de um
ambiente de trabalho seguro o façam em harmonia, já que a doença não
respeita separações sociais e políticas, e o progresso futuro será alcançado
com a colaboração de todos os envolvidos.

As causas dos acidentes de trabalho nas organizações estão


diretamente relacionadas aos problemas pessoais e íntimos do
colaborador, influenciando seu comportamento e trazendo como
consequência problemas sociais e psicológicos em decorrência de fatores
como: conviver com os limites entre a vida e a morte (situação vivida
pelos profissionais de saúde, policias, motoristas etc.), comunicar-se
com o público, prazos, pressão da informatização, monotonia, trabalho
em excesso, entre outros.

A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) é uma


comissão formada por representantes do empregador e do empregado
que tem a missão de preservar a saúde e a integridade física dos
trabalhadores e de todos aqueles que interagem com a organização.
Tem como objetivos principais: observar e relatar condições de risco
nos ambientes de trabalho; solicitar medidas para reduzir até eliminar
ou neutralizar os riscos existentes; discutir os acidentes ocorridos,
encaminhando relatório ao SESMT e ao empregador; solicitar medidas
que previnam acidentes semelhantes; orientar os demais trabalhadores
quanto à prevenção de acidentes.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, o empregador deverá


garantir que seus indicados tenham a representação necessária para a
discussão e encaminhamento das soluções de questões de segurança e
saúde no trabalho analisadas na Cipa.

Exercícios

Questão 1. Rafael Nodal foi contratado para ser ajudante geral em uma empresa metalúrgica.
Foi capacitado em treinamento para exercer suas funções que consistiam, basicamente, em recolher
o lixo industrial produzido por cada uma das máquinas. Durante o período de experiência, Rafael,
36
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

desejando demonstrar que podia fazer seu trabalho com perfeição, passou a limpar também as
máquinas, inclusive para retirar o resto de material que fica dentro delas. Em uma dessas ocasiões,
a máquina entrou em movimento porque não estava desligada de forma correta e esmagou o
braço de Rafael. Ao apurar as causas do acidente o encarregado apontou, desde logo, que a culpa
era exclusivamente de Rafael, que não tinha que realizar aquele trabalho da forma como estava
fazendo. Afirmou, ainda, que ele era o único responsável por sua atividade e, ao deixar de adotar
os cuidados necessários, tornou-se o único responsável pelos resultados danosos. Ao apontar
Rafael como único culpado, o encarregado:

A) resolveu o problema da empresa, inclusive no tocante à obrigação de providenciar a Comunicação


de Acidente do Trabalho, desnecessária em razão de haver sido identificado o culpado.

B) desconsiderou o princípio de que um indivíduo sozinho não consegue controlar todos os riscos
de sua atividade.

C) desconsiderou a regra de que os encarregados devem sempre responder pelos atos de seus
subordinados.

D) causou maior dano moral aos demais empregados que se sentiram desprestigiados pela empresa.

E) cumpriu sua função de julgador do caso concreto conforme se espera de todo e qualquer
encarregado de serviço em área industrial.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: apontar o empregado como único culpado não resolve o problema da empresa, que de
todo modo terá que indenizar o funcionário que ficou seriamente lesionado.

B) Alternativa correta.

Justificativa: em conformidade com os ensinamentos de Cardella, um dos princípios a serem adotados


para a prevenção de acidentes de trabalho é o de que o indivíduo sozinho não consegue controlar
todos os riscos de sua atividade, por isso precisa ser acompanhado e instruído nas várias etapas de seu
trabalho para estar atento para os atos de prevenção de acidentes.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há regra que obrigue o encarregado a responder pelos atos de seus subordinados,
em especial quando o encarregado agiu corretamente na instrução para prevenção de acidentes.

37
Unidade I

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a atitude não causa dano moral a ninguém, ao contrário, somente desprestigia a própria
empresa que mostra fragilidade na apuração dos acidentes de trabalho.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: o encarregado da apuração de um acidente de trabalho não tem como função primordial
julgar, mas sim aferir quais os princípios de prevenção que foram descumpridos para modificar os
procedimentos, de modo que a atividade de trabalho se torne mais segura.

Questão 2. A empresa Sitcon S/A fabrica lâmpadas de mercúrio para iluminação de rua e recebeu
uma nova máquina para acelerar o processo de fabricação. Agora serão 12.000 lâmpadas fabricadas por
dia e não mais 7.500, que era o número antes da chegada da nova máquina. O funcionário Joel Filipel foi
treinado para trabalhar na nova máquina e estranhou a quantidade de lâmpadas que quebram durante o
processo de colocação do gás de mercúrio. Conversou sobre o assunto com o responsável pela montagem
da máquina e ele disse que era assim mesmo, porque na verdade a máquina não era nova, mas sim
reformada. Que ela vinha da matriz da empresa nos Estados Unidos e tinha sido retirada da linha de
produção de lá porque era muito poluente e o ambiente ficava bastante contaminado com a quebra das
lâmpadas. Joel Filipel ficou muito preocupado porque a contaminação com mercúrio é muito prejudicial
para o ser humano e levou o problema para a CIPA. O presidente da CIPA disse que nada poderia ser feito
naquele momento e que a máquina tinha que entrar em operação da forma como estava, porque somente
na reunião mensal da CIPA eles tratariam do assunto. Segundo o presidente da CIPA, aquele não era um
motivo suficiente para convocar uma reunião extraordinária. Joel Filipel fez uma denúncia para o sindicato
para requerer a realização da reunião extraordinária, porque se sente muito vulnerável com o fato de a
máquina estar inadequada do ponto de vista da segurança do trabalhador.

Com base no texto, leias as afirmativas que seguem:

I – O presidente da CIPA agiu adequadamente porque se ele for convocar uma reunião a cada
denúncia que recebe não fará outra coisa e ainda prejudicará seu próprio trabalho.

II – A CIPA tem que realizar reuniões extraordinárias todas as vezes que receber denúncia de situação
de risco grave ou iminente.

III – O presidente da CIPA deveria saber da possibilidade de realizar a reunião porque antes de
assumir o cargo ele recebe um estudo completo de seu ambiente de trabalho, incluindo os riscos que se
apresentam, e a descrição das metodologias de investigação das doenças do trabalho e dos acidentes
de trabalho.

IV – A CIPA quase sempre é um órgão inoperante e sem maior utilidade.

V – O funcionário deveria ter colocado a máquina em operação e aguardar para verificar se de fato
ela era ou não poluente.
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SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO: BENEFÍCIO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Assinale a alternativa correta:

A) I e V.

B) II e III.

C) IV e V.

D) II e IV.

E) I e III.

Resolução desta questão na plataforma.

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