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Saúde da Criança
e Adolescente
Autoras: Profa. Giane Elis de Carvalho Sanino
Profa. Neisa Castells Fontes
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professoras conteudistas: Giane Elis de Carvalho Sanino / Neisa Castells Fontes
Doutora e mestre em Educação na linha de pesquisa de Políticas em Educação. Especialista em: Nefrologia,
Educação Profissional na Área de Saúde, Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância. Possui
aprimoramento em pediatria pelo Hospital Menino Jesus de São Paulo. Profissional com experiência na área clínica e
educacional, com atividade clínica voltada para a nefrologia e atuação em clínicas e hospitais (particulares e públicos).
Possui vivência acadêmica em escolas técnicas e universidades, atuando tanto na parte administrativa quanto na
pedagógica. É professora adjunta da UNIP nos cursos de Enfermagem, Educação Física, Fisioterapia e Nutrição.
Atualmente, estuda as temáticas juventude e formação, pedagogia da simulação, políticas públicas de educação e
saúde e mediação pedagógica na formação em EAD.
CDU 342.115.7
A-XVIII
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Vitor Andrade
Lucas Ricardi
Sumário
Políticas de Atenção à Saúde da Criança e Adolescente
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 PANORAMA ATUAL DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL ...........................................9
1.1 Indicadores demográficos, socioeconômicos e morbimortalidade destacando
os principais problemas de saúde por faixa etária.......................................................................... 13
1.2 Comitês de prevenção do óbito ..................................................................................................... 16
1.3 A morbimortalidade entre crianças, adolescentes e jovens brasileiros .......................... 21
2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) E O CONSELHO TUTELAR ....................... 30
2.1 Conceito, objetivo, aplicabilidade, ações específicas.............................................................. 33
2.2 Atuação do enfermeiro diante do ECA......................................................................................... 34
2.3 Acompanhamento da criança e do adolescente saudável................................................... 37
3 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NA ESCOLA.......................................................................................... 42
3.1 Programa de Saúde na Escola (PSE).............................................................................................. 42
3.2 Atuação do enfermeiro na saúde do escolar............................................................................. 44
4 PREVENÇÃO DE ACIDENTES NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA................................................ 45
Unidade II
5 IMPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................... 52
5.1 Conceito e classificação da violência............................................................................................ 53
5.2 Políticas de enfrentamento contra a violência......................................................................... 55
5.3 Atuação dos enfermeiros diante das crianças vitimizadas.................................................. 57
5.4 A criança e o adolescente institucionalizados.......................................................................... 63
5.5 Conceitos, objetivos e as diferentes instituições – Fundação Casa,
orfanato, abrigo e casa de acolhimento............................................................................................. 64
5.5.1 Abrigos......................................................................................................................................................... 64
5.5.2 Fundação Casa.......................................................................................................................................... 64
5.5.3 Orfanato...................................................................................................................................................... 66
5.5.4 Casa de acolhimento.............................................................................................................................. 67
6 INICIATIVAS E PROJETOS DE ATENÇÃO À CRIANÇA E INCENTIVO AO
ALEITAMENTO MATERNO.................................................................................................................................. 67
6.1 Semanas Mundiais de Aleitamento Materno (SMAM) ......................................................... 72
6.2 Iniciativa Hospital Amigo da Criança............................................................................................ 75
6.3 Projeto Carteiro Amigo da Amamentação.................................................................................. 79
6.4 Empresa Amiga da Criança .............................................................................................................. 80
Unidade III
7 PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO (PNI).................................................................................. 85
7.1 Conceito de vacina, objetivo, imunidade ativa e passiva..................................................... 86
7.1.1 História da vacina.................................................................................................................................... 86
7.1.2 Imunidade ativa e passiva.................................................................................................................... 87
7.2 Cuidados necessários para a vacina segundo as recomendações da Rede de Frio................. 87
7.3 Calendário nacional, estadual e municipal................................................................................. 88
8 PROGRAMA NACIONAL DE TRIAGEM NEONATAL (PNTN) .............................................................. 89
8.1 Doenças diagnosticadas – triagem neonatal biológica (TNB)............................................ 92
8.1.1 Fenilcetonúria (PKU)............................................................................................................................... 93
8.1.2 Hipotireoidismo congênito (HC) primário..................................................................................... 94
8.1.3 Doenças falciformes (DF) e outras hemoglobinopatias .......................................................... 95
8.1.4 Fibrose cística (FC) .................................................................................................................................. 98
8.1.5 Hiperplasia adrenal congênita (HAC) ou hiperplasia congênita da suprarrenal........................100
8.1.6 Deficiência de biotinidase (DB)........................................................................................................101
8.2 Técnica para a coleta da tiragem neonatal biológica..........................................................102
8.3 Assistência Integral das Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI).................................109
8.4 Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (Pnaisc)...............................111
APRESENTAÇÃO
O livro-texto pauta seu conteúdo em parâmetros legais, destacando o dever da família, da sociedade,
dos órgãos de proteção a crianças e adolescentes e, ainda, o papel exercido pelo Estado para proteger
essa população, em especial à de maior vulnerabilidade social.
INTRODUÇÃO
A partir da Portaria nº 1.130, de 5 de agosto de 2015 (BRASIL, 2015), o Ministério da Saúde instituiu
as diretrizes da Política Nacional de Atenção integral à Saúde da Criança e do Adolescente (Pnaisc), no
âmbito do Sistema único de Saúde (SUS).
A criação dessa política pública abrangente tem como objetivo executar e garantir cuidados essenciais
à saúde da criança e do adolescente como indivíduos portadores de direitos. O programa se estabelece
pautado em sete eixos principais:
Tais princípios visam articular os programas focados nessa população com as demais ações
existentes, atendendo ao anseio de iniciativas sociais e organismos de proteção à criança e ao
7
adolescente. Segundo dados do Portal Brasil (2016), entre 1990 e 2015, o Brasil reduziu em 73%
suas taxas de mortalidade infantil. O gráfico a seguir ilustra essa situação:
30,0
15,0
7,5
0,0
00
09
03
04
05
06
08
02
01
12
13
14
15
07
10
11
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Anos
Figura 1 - Taxa de mortalidade infantil por mil nascidos vivos - Brasil (2000 a 2015)
Com as referências deste livro-texto, será possível analisar o panorama social e de saúde pública em
que estão inseridas as crianças e os adolescentes brasileiros. Notaremos que a diminuição do quadro de
mortalidade infantil está associada à execução de políticas sociais inclusivas.
Todavia, ainda há muito que se fazer, sobretudo quanto ao entendimento do que é a infância e a
adolescência, quais são as metas do milênio e qual lugar o Brasil quer ocupar quando comparado a
outras nações.
Assim, é vital refletir sobre o papel dos profissionais da enfermagem nesse contexto: como podem
promover melhorias nos serviços para atender às especificidades do público? Estudaremos como o
Poder Público deve se posicionar e como os agentes de saúde devem conduzir essas políticas de saúde,
transformando-as em ações cotidianas.
8
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Unidade I
1 PANORAMA ATUAL DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL
Para assimilarmos os resultados das ações executadas pelos profissionais de saúde para a população
de crianças e adolescentes brasileiros, é essencial conhecer os diversos aspectos aos quais este grupo
está submetido, em especial às situações de vulnerabilidade e fatores de risco específicos dessa faixa
etária. Nesse contexto, a mortalidade infantil é o principal parâmetro, trata-se de um indicador global
que acompanha o grau de vulnerabilidade aos quais o grupo está exposto.
As nações desenvolvidas denotam baixo índice de mortalidade, situação bem diferente de países
em desenvolvimento, reconhecidos como social e economicamente periféricos, que apresentam as
maiores taxas. Os principais indicadores para os casos de mortalidade infantil se concentram na
fragilidade ou inexistência de boa assistência pré-natal ao recém-nascido, além de dificuldades
primárias, como ausência de saneamento básico e desnutrição.
No momento em que uma criança chega ao mundo, até mesmo sua segurança
depende de sorte em relação ao local de nascimento e às condições de vida
de sua família – e a desigualdade estende-se ao longo da infância, e além
dela (UNICEF, 2014, p. 3).
A ONU (2015) acompanha a quantidade mundial de mortalidade infantil. Em 2015, divulgou que a
cada mil nascidos vivos no mundo, 49,4 falecem.
Saiba mais
9
Unidade I
No Brasil, esse índice está em 22 a cada mil nascidos vivos. Embora o Brasil não esteja entre os líderes
neste ranking, o quadro é alarmante. Para compreendê-lo, é preciso examinar as especificidades que
traduzem nossa formação como nação.
O Brasil possui uma população de 201,5 milhões de pessoas, das quais 59,7
milhões têm menos de 18 anos de idade (PNAD, 2013). Mais da metade
de todas as crianças e os adolescentes brasileiros são afrodescendentes, e
mais de um terço dos 821 mil indígenas do País são crianças (CENSO, 2010)
(UNICEF, 2014).
Tabela 1
17,5%
Urbano
Rural
82,5%
Figura 2
10
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Tabela 2
Com base nas informações acentuadas, podemos concluir que a grande concentração está na região
Norte e que a maioria de crianças e adolescentes centralizada nas regiões Norte e Nordeste habita, em
maior parte, a zona rural de suas cidades. Nas regiões Sul e Sudeste, a concentração maior está na área
urbana dessas cidades. Esse recorte geográfico também nos ajuda a compreender as estatísticas da
mortalidade infantil no país, pois as regiões Norte e Nordeste, historicamente, apresentam condições
sociais mais precárias que o Sudeste e o Sul.
Saiba mais
adolescentes no Brasil traduz as condições sociais vulneráveis nas quais crianças e adolescentes
se encontram:
Esses observações não deixam dúvida do abismo social existente no Brasil e de como crianças e
adolescentes são amplamente atingidos por seus aspectos. Nos mapas a seguir, é possível identificar a
concentração geográfica de crianças e adolescentes em situação de pobreza ou extrema pobreza em
nosso país.
2,5 | (54%)
8,0 | (60,6%)
0,9 | (28,4%)
4,5 | (27,8%)
1,2 | (23,1%)
Figura 3 – Pobres
12
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
0,9 | (19,7%)
3,4 | (26,3%)
0,1 | (5%)
0,9 | (5,9%)
0,2 | (5,2%)
Lembrete
Hoje, o Brasil tem cerca de 60,5 milhões de crianças e adolescentes (de 0 a 19 anos). A maior
parte está centralizada demograficamente no Sudeste, totalizando 18,6 milhões. Contudo, quando
comparamos essa fração à população total, a maior concentração ocorre nas regiões Nordeste e Norte,
que são afetadas severamente pelos baixos níveis dos indicadores sociais, desprotegendo ainda mais
esses habitantes.
Ao observar tais relatos, notamos que crescer e se desenvolver no Norte e no Nordeste é desafiador. É
importante ressaltar que também há problemas nas outras regiões, especificamente quanto à violência
e ao trabalho infantil, causados pela constante falta de acesso a direitos básicos, como saúde e escola
de qualidade.
13
Unidade I
Saiba mais
<https://observatoriocrianca.org.br/>.
Observação
Na área urbana, observa-se que de 2008 para 2014 houve uma diferença
proporcional de 1,16% e 1,40% nas faixas etárias de 0 a 4 anos e de 15
a 17 anos, respectivamente, o que indica aumento populacional. Houve
diminuição da população nas faixas etárias de 5 a 9 anos (-0,03%) e de 10 a
14 anos (-0,87%). Na área rural, os dados indicam diferenças proporcionais
negativas, o que representa diminuição na população infantojuvenil em
todas as faixas etárias: de 0 a 4 anos (-0,46%), de 5 a 9 anos (-0,73%), de 10
a 14 anos (-0,45%), e de 15 a 17 anos (-0,02%).
14
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
15
Unidade I
Em 2013, cerca de dois em cada três arranjos familiares residentes em domicílio particular
tinham ao menos uma criança, adolescente ou jovem de 0 a 29 anos de idade. Do ponto de vista do
rendimento mensal familiar per capita, são núcleos mais vulneráveis, uma vez que o ganho mensal
familiar per capita médio desses conjuntos sem pessoas nesta faixa etária é quase duas vezes maior
do que naqueles em que há ao menos um indivíduo de 0 a 29 anos (BRASIL, 2009a).
Mesmo sendo um grupo populacional que tende a diminuir, tanto em termos absolutos quanto
em percentuais, é importante destacar a relevância das políticas públicas de saúde, educação,
trabalho e proteção social que são voltadas a esse público, bem como a preocupação com a
qualidade de equipamentos e serviços sociais ofertados. O grupo de crianças, adolescentes e
jovens é tão amplo e heterogêneo que, para realizar uma análise mais substantiva, é preciso
fazê‑la em partes (BRASIL, 2009a).
Em 2004, essa situação foi observada para 15,5% de crianças e adolescentes com até 14 anos de
idade, diminuindo para 9,8% em 2013, sendo mais agravante para os residentes na região Norte (20,7%)
e Nordeste (17,0%) (BRASIL, 2009a).
Um indicador que reflete as condições sanitárias a que a população está exposta corresponde à
proporção de óbitos por doença diarreica aguda nas crianças menores de 5 anos. Pelos dados do Sistema
de Informações de Mortalidade (SIM) sobre aspectos demográficos, em vinte anos esse indicador
diminuiu consideravelmente, passando de 9,3% dos óbitos de crianças com menos de 5 anos, em 1991,
para 1,6% em 2011 (BRASIL, 2009a).
16
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
A queda nesse indicador foi mais significativa para as regiões Sul e Sudeste, e na região Sul
registrou-se o menor valor (0,7%), em 2011. Relacionado com a maior proporção de crianças vivendo
em domicílios com saneamento inadequado, as regiões Norte (2,7%) e Nordeste (2,3%) apresentaram
maior proporção de mortes por doença diarreica aguda em crianças com até 5 anos. O gráfico a seguir
denota essa situação:
%
0
14,4
12,0
9,3 9,3
8,8
6,7 6,1
4,4 4,9 4,2
2,7 2,3 2,5 2,5
1,6 1,6
0,9 0,7
0
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Figura 5
Observação
Em 2016, o Ministério da Saúde lançou uma série de ações para reduzir
em 20% as mortes de bebês e crianças indígenas com até 5 anos.
No campo da enfermagem, podemos considerar que a redução nos números da mortalidade infantil
é resultado de intenso trabalho de pesquisa e formação profissional. Para Barbeiro et. al. (2015, p. 2-3),
17
Unidade I
[...]
[...]
Geral
Específicos
A seguir acentuamos um exemplo de caso clínico de uma criança que veio a falecer:
19
Unidade I
2) Malformação congênita.
4) Asfixia: perda fetal intraparto; óbito fetal sem maceração; fresh stillbirth,
ou seja, natimorto recente (menos que 12 horas); óbitos neonatais por
hipóxia, exceto peso ao nascer menor que 1000 g.
O quadro a seguir apresenta os principais instrumentos para coletar as informações sobre o óbito infantil:
Quadro 1
20
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Lembrete
A violência ganha espaço quando analisamos a causa de morte entre crianças, adolescentes
e jovens. Há um grupo específico que é alvo dessa estatística: negros em situação de grande
vulnerabilidade social.
Vejamos o que relata o Mapa da Violência 2016 sobre as vítimas de homicídio por arma de
fogo (HAF):
21
Unidade I
[...]
Agora vamos apresentar dados que detalham a distribuição dos HAF no ano de 2014, segundo as
idades simples das vítimas.
Vítimas
Ano
Total Jovem Juvenil
1980 6.104 3.159 51,8
1981 6.452 3.325 51,5
1982 6.313 3.118 49,4
1983 6.413 3.215 50,1
1984 7.947 4.061 51,1
1985 8.349 4.482 53,7
1986 8.803 4.750 54,0
1987 10.717 5.711 53,3
1988 10.735 5.760 53,7
1989 13.480 7.513 55,7
1990 16.588 9.193 55,4
1991 15.759 8.560 54,3
1992 14.785 7.718 52,2
1993 17.002 9.317 54,8
1994 18.889 10.455 55,3
1995 22.306 12.168 54,6
1996 22.976 12.428 54,1
1997 24.445 13.680 56,0
1998 25.674 14.643 57,0
1999 26.902 15.475 57,5
2000 30.865 18.252 59,1
2001 33.401 19.800 59,3
2002 34.160 20.567 60,2
2003 36.115 21.755 60,2
22
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Brasil 2014
80,0
20 anos = 67,4
Taxas de HAF (por 100 mil)
70,0
60,0
50,0
40,0 29 anos
30,0
20,0 15 anos
10,0
0,0
0
3
6
9
12
15
18
21
24
27
30
33
36
39
42
45
48
51
54
57
60
63
66
69
Idades simples
Figura 6 – Taxas de homicídio por AF (por 100 mil) por idade simples
Tabela 4 – Taxas de HAF (por 100 mil) por idade simples – Brasil, 2014*
23
Unidade I
Pode ser vista a enorme concentração de mortalidade nas idades jovens, com pico nos 20 anos de
idade, quando os homicídios por AF atingem a impressionante marca de 67,4 mortes por 100 mil jovens.
Mas a escalada de violência começa nos 13 anos de idade, quando as taxas iniciam uma pesada espiral,
passando de 1,1 HAF, nos 12 anos, para 4,0, nos 13 anos, quadruplicando a incidência da letalidade e
crescendo de forma contínua até os 20 anos de idade (WAISELFSZ, 2016, p. 51).
Tabela 5 – Número e taxas de HAF nas Ufs (por 100 mil) segundo
faixa etária – Brasil, 2014*
24
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Essas informações também são reiteradas pelo levantamento feito na síntese de indicadores sociais
do IBGE:
Na análise do Imas (2016, p. 129), podemos entender a dimensão desses homicídios por estado e por
faixa etária:
25
Unidade I
Por conta desse cenário, foi sancionada a Lei nº 13.431/07, resultado de um projeto de
lei proposto pela deputada Maria do Rosário (PT-RS) e mais dez outros deputados. Com sua
instituição, crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência puderam contar com um
sistema de garantias nos inquéritos e no curso dos processos. A lei normatiza mecanismos para
prevenir a violência contra menores, assim como estabelece medidas de proteção para a tomada
de depoimentos (IMAS, 2016).
A violência tem ocupado destaque nos debates sobre a condição de vida de crianças e adolescentes,
hoje é vista como uma questão de saúde pública. Nos grandes centros urbanos, as taxas de atendimentos
médicos provocados pela violência aumentaram consideravelmente, tornando-se referência em
especialização médica de atendimento e socorro a feridos por arma de fogo. No Rio, por exemplo, a
violência supera locais onde há conflitos e guerras civis.
Além da violência, há indicadores de saúde pública muito importantes que compõem as taxas de
mortalidade, morbimortalidade e expectativa de vida de crianças e adolescentes brasileiros. Segundo
o Plano Nacional de Saúde 2016-2019 (BRASIL, 2016b, p. 10), o perfil da morbidade brasileira é
caracterizado pela crescente prevalência e incidência de doenças crônicas não transmissíveis que
já poderiam ter sido eliminadas, coexistindo com as doenças classificadas como emergentes e
reemergentes, bem como pela alta carga de acidentes e violência e, consequentemente, com reflexo
nos indicadores das taxas de mortalidade.
Nessa conjuntura, as crianças e os adolescentes são os mais vulneráveis, são os mais atingidos por
essas estatísticas. As mortes causadas por doenças imunopreviníveis ganham relevância, e todas as
26
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
ações preventivas estão no Programa Nacional de Imunização, que fixa as campanhas de vacinação
(BRASIL, 2016a).
O Brasil possui um calendário nacional de vacinação disponibilizado pelo SUS em todas as unidades
básicas de saúde e que acompanham os cuidados iniciados no pré-natal.
A imagem a seguir possui gráficos que refletem a importância da adesão às práticas de imunização
para diminuir as taxas de morbimortalidade:
Tétano neonatal Doença meningocócica
(número de casos) (número de casos)
50 5000
39 4164
40 4000
30 -92 3000 -49
% % 2109
20 2000
10 3 1000
0 0
2001 2013 2001 2013
Figura 7
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
2010 2011 2012 2013 2014
Cobertura (%) 79,1 84 86,3 91,6 86,3
Doses aplicadas 15,4 25,1 26 29,2 35,6
(milhões)
27
Unidade I
Saiba mais
Para saber mais sobre os componentes e causas da mortalidade infantil
no Brasil, leia:
BRASIL. Saúde Brasil 2011: uma análise da situação de saúde e a
vigilância da saúde da mulher. Brasília: Editora do Ministério da Saúde,
2012a. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_
brasil_2011.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2018.
25
20
15
10
5
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Norte 33,2 31,0 29,1 28,3 27,0 26,4 25,9 24,4 23,2 22,8 21,8
Nordeste 38,4 34,7 32,9 31,6 27,6 27,0 25,4 23,9 21,8 21,4 20,1
Sudeste 19,6 18,3 17,4 17,0 16,3 15,5 15,0 14,4 14,1 13,8 13,1
Sul 16,9 16,0 15,7 15,4 14,7 13,6 13,1 12,6 12,5 11,8 11,3
Centro-Oeste 21,8 21,1 20,0 19,5 19,5 18,9 17,7 17,5 16,9 16,9 15,9
Brasil 26,6 24,8 23,5 22,9 21,0 20,3 19,4 18,5 17,5 17,2 16,2
Figura 9 – Tendência da taxa de mortalidade infantil (TMI) – Brasil e regiões (de 2000 a 2010)
28
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Vejamos a redução significativa da mortalidade infantil no País nas últimas décadas por região:
60 1974-75
Prevalência de déficit de altura (%)
1989
50 1996
2006-07
40
30
20
10
29
Unidade I
Agora destacamos as principais causas da mortalidade infantil no Brasil e o decréscimo que ocorreu
nas últimas décadas:
25
15
10
0
Perinatal Má-formação Infecções Diarreia Outras
congênita respiratórias infecções
“Durante muito tempo, a infância foi marginalizada pela sociedade e no seio familiar, subjugada à
vontade e poderio adulto, ficando inclusive em uma situação de invisibilidade social, visto que não era
vista como um ator social” (LELIS; LELIS, 2014, p. 36).
A criança começou a ter seus direitos reconhecidos a partir do século XX. Em 1923, publicou-se o
primeiro documento internacional em defesa da criança, por reconhecimento à sua vulnerabilidade,
o qual foi incluído à Declaração dos Direitos da Criança, conhecida como Declaração de Genebra
(LIMA, 2012).
A reformadora social Eglantyne Jebb iniciou seu interesse pelas ciências sociais quando se instalou
na cidade de Cambridge, Reino Unido. Fundou e dirigiu a União Internacional de Proteção à Infância.
Era conhecida por ter uma “vontade de ferro”, e ela sabia despertar nos outros o sentimento de
responsabilidade e consciência social. Acreditava na solidariedade humana e no poder da ação individual
mais do que em uma reforma radical ou intervenção das autoridades. Segundo ela, o nível de um país
mede-se pela proteção da qual usufruem os mais vulneráveis. Entende-se por vulnerável a condição de
fragilidade observada desde o nascimento até o amadurecimento emocional, fase em que crianças e
adolescentes são dependentes de adultos para viver e sobreviver.
30
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Acentuamos o texto da primeira Declaração de Direitos da Criança, redigido por Eglantyne Jebb:
A criança que tem fome deve ser alimentada, a criança que está doente deve
receber os cuidados de saúde necessários, a criança que está atrasada deve
ser ajudada, a criança delinquente deve ser recuperada, e o órfão e a criança
abandonada devem ser protegidos e abrigados.
À criança devem ser dadas todas as ferramentas para que ela se torne capaz
de sustentar-se, e deve ser protegida contra toda forma de exploração.
A criança deve ser criada na consciência de que seus talentos devem ser
colocados a serviço de seus semelhantes (LELIS; LELIS, 2014, p. 37).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi engendrado pela Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990
(BRASIL, 1990), com o objetivo de criar condições de exigibilidade para os direitos da criança e do adolescente,
que estão definidos no artigo 227 da Constituição Federal, estipulando que é dever da família, da sociedade e
do Estado assegurar-lhes seus direitos. Também prevê que todos têm o dever de colocar crianças e adolescentes
a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Em outras
palavras, tudo o que for direito de crianças e adolescentes é dever dos adultos.
Saiba mais
Conheça a lei que regulamenta o Estatuto da criança e do adolescente
na íntegra:
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 9 mar. 2018.
31
Unidade I
Recém-nascidos e bebês precisam de alguém para alimentá-los e trocar suas fraldas, ou seja, são
completamente dependentes. Conforme o bebê cresce, desenvolve funções corporais e cognitivas e,
gradativamente, começa a tornar-se independente. Aos poucos, aprende a andar, a comer e a vestir-se
sem ajuda. Contudo, mesmo conseguindo executar as tarefas do dia a dia, ainda necessitam dos adultos
para protegê-los física e emocionalmente.
A adolescência é uma fase na qual se inicia o amadurecimento psíquico, que costuma começar
ao mesmo tempo em que ocorre a maturação sexual, chamada de puberdade. É uma etapa de novas
descobertas e de experimentação, servindo como uma espécie de treino para a vida adulta. Como não há
consenso entre o exato início da adolescência, usaremos a faixa etária definida no ECA (BRASIL, 1990),
originando-se aos 12 e terminando aos 18 anos.
Uma das principais características desse estágio é a construção da identidade própria, pois a criança
assume a personalidade dos pais, ou seja, gosta do que os pais gostam. Para formar sua identidade,
é preciso descontruir a identidade paterna e assumir a identidade de grupo. Por isso, é comum que
adolescentes façam o que seus amigos fazem, testando seus limites com os pais ou responsáveis. Além de
receber condições dignas de vida, é vital que seus pais ou responsáveis imponham-lhe limites, evitando
que coloquem suas vidas em risco.
Figura 12
32
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Vejamos o que diz a lei no caso de os adultos responsáveis pela criança ou adolescente não seguirem
tal obrigação: “Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990).
Em seu Título V, o ECA traz definições sobre o Conselho Tutelar, sua formação, área de atuação,
competências, atribuições e escolha dos conselheiros. Define que o Conselho Tutelar goza de
autonomia funcional, não tendo nenhuma relação de subordinação com qualquer outro órgão
do Estado, pois realiza um trabalho de fiscalização a todos os entes de proteção à criança. “Art.
131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta
Lei” (BRASIL, 1990).
Observação
O ECA define que cada município deverá ter, no mínimo, um conselho formado por cinco
conselheiros. Tais integrantes devem ser membros da comunidade, residir no município, ter mais de
21 anos e possuir reconhecida idoneidade moral. Cabe a eles atender e aconselhar pais, crianças e
adolescentes, visando sempre à proteção dos direitos da criança e do adolescente.
Saiba mais
O ECA é uma lei federal, um conjunto de normas do ordenamento jurídico brasileiro que cria
condições de exigibilidade para os direitos da criança e do adolescente, que estão definidos no artigo
227 da Constituição Federal (BRASIL, 1988). É o marco legal e regulatório dos direitos humanos de
crianças e adolescentes.
33
Unidade I
Observação
Ordenamento jurídico é como se chama a disposição hierárquica
das normas jurídicas dentro de um sistema normativo. Essas normas
regulamentam as regras e princípios de um grupo ou sociedade.
Com o objetivo de amparar a criança e o adolescente de modo integral, o ECA é uma lei que visa à
proteção dos menores de 18 anos, preparando-os para a vida adulta em sociedade por meio da promoção
de desenvolvimento físico, mental, moral e social condizentes com os princípios constitucionais da
liberdade e da dignidade.
Além desses preceitos, o ECA aborda questões de políticas de atendimento, medidas protetivas ou
socioeducativas, entre outras providências. Todavia, muitas vezes é preciso que o Estado, a família e a
sociedade não só cumpram a lei, mas que ocupem o lugar da criança quando houver descumprimento
da lei, denunciando qualquer contravenção por ela. Ao Estado, que se faça cumprir a lei. À família, que
trate com dignidade e respeito suas crianças. À sociedade, que denuncie a lesão aos direitos que devem
ser assegurados pelo Estado e respeitado por todos, dando voz às crianças, caladas pelo medo e ameaças
de seus agressores (MIÃO, 2010).
Como um membro da sociedade, o enfermeiro deve denunciar o não cumprimento do ECA. Deve
prestar cuidados à criança e ao adolescente, tratando-os com respeito e dignidade.
“Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação
de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência” (BRASIL, 1990).
34
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
O enfermeiro possui diversas atribuições, desde ações assistenciais e gerenciais até ações de
pesquisa. Ele e sua equipe são os membros do quadro de saúde que permanecem em contato direto
com o paciente e sua família por mais tempo durante a internação hospitalar. Desse modo, devem
garantir que todos os direitos de seus pacientes sejam assegurados.
Saiba mais
Figura 13
36
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
É importante salientar que o cuidado à saúde não se restringe à atenção terciária, mas a qualquer
local onde há pessoas. Por exemplo, o enfermeiro de uma creche deve acompanhar o crescimento
e desenvolvimento de todas as crianças por meio de avalições rotineiras, observando necessidades
especiais, estimulando e orientando os responsáveis pela criança. Podemos citar o enfermeiro escolar,
que orienta e auxilia crianças e adolescentes com seus problemas de saúde, desde questões relacionadas
ao início da vida sexual até dores de barriga.
O crescimento e a evolução psicomotora de uma criança constituem a principal medida para avaliar
se suas necessidades essenciais de nutrientes, sociais e de afeto estão sendo atendidas. Se ela cresce e
se desenvolve, é uma criança saudável.
Essa avaliação deve ser realizada periodicamente, a fim de detectar riscos de desnutrição e obesidade
infantis e agir preventivamente, evitando os agravos que podem decorrer dos distúrbios alimentares. O
Ministério da Saúde adota o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) como base de dados
para esse controle. Este sistema acompanha o estado nutricional de todas as faixas etárias e forma um
extenso registro sobre o estado nutricional.
37
Unidade I
Como observado no quadro anterior, acompanhar o crescimento por meio da antropometria é fácil,
tem baixo custo e é eficiente, por isso tem ampla utilização.
Saiba mais
38
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
O cronograma de visitas de rotina proposto pelo Ministério da Saúde para as crianças que não foram
classificadas como de alto risco é o seguinte: 1ª semana, 1º mês, 2º mês, 4º mês, 6º mês, 9º mês, 12º mês,
18º mês e 24º mês. A partir dos 2 anos de idade, as consultas de rotina podem ser anuais, próximas ao
mês de aniversário (BRASIL, 2012b).
O sinais vitais constituem uma importante medida do funcionamento do organismo e devem ser
aferidos em toda consulta. A frequência respiratória reflete a capacidade do organismo em inspirar,
expirar e trocar gases. Em recém-nascidos, principalmente se forem prematuros, os movimentos podem
ser irregulares, intermitentes e arrítmicos.
39
Unidade I
Adaptada de: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (2007 apud BRASIL, 2012b, p. 37).
A frequência cardíaca expressa a capacidade de o coração bombear sangue aos órgãos e levar os nutrientes
e oxigênio necessários para as células do corpo. Nos lactentes, verifica-se a ausculta do pulso apical, pois é
mais difícil palpar os pulsos periféricos. É possível auscultar sopros nos primeiros dias de vida no recém-nascido
devido ao não fechamento completo da comunicação interatrial necessária na circulação intrauterina.
Fonte: Dieckmann; Brownstein; Gausche-Hill (2000, p. 43-45 apud BRASIL, 2012b, p. 65).
A pressão arterial destaca a força que o sangue deve fazer para passar pelas artérias e depende da força de
contração do coração, do volume de líquido circulante e do diâmetro do vaso. Como os demais sinais vitais, a
aferição deve ser feita com a criança descansada, de preferência no colo da mãe ou do responsável, local em que se
sente segura, pois a respiração, a frequência cardíaca e a pressão arterial são alteradas por estresse e movimentação.
Média das duas últimas de três aferições da pressão arterial na consulta Definição
PA sistólica e diastólica < percentil 90 Normal
PA sistólica média e/ou diastólica média entre o percentil 90 e 95 Normal alta
PA sistólica média e/ou diastólica média > percentil 95 Alta ou hipertensão arterial
40
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
A temperatura deve ser medida com uso de termômetro e, no caso de avaliação da temperatura axilar,
pode ser mais fácil aferi-la com a criança no colo da mãe ou do responsável. Os limites considerados
normais variam conforme a localização do termômetro. A temperatura axilar varia de 35,9 a 36,7 ºC; já
a temperatura oral, de 35,8 a 37,2 ºC; e a temperatura retal, menos utilizada devido ao desconforto que
pode causar, de 36,2 a 38 ºC.
Saiba mais
A partir dos 10 anos, deve-se avaliar os sinais da puberdade, como a presença de pelos pubianos e
axilares e o desenvolvimento das mamas e da genitália masculina. Análises de dados antropométricos
também são necessárias e a anotação no gráfico de IMC por idade é fundamental para acompanhar o
crescimento e a evolução saudável do adolescente.
Nessa fase, as preocupações com o corpo começam a tomar dimensão maior. Alguns jovens adotam
dietas emagrecedoras pouco recomendáveis e, em alguns casos, adquirem distúrbios alimentares como
reflexo do descontentamento com o próprio corpo ou como reação às mudanças físicas e emocionais
características da puberdade e da adolescência.
Saiba mais
41
Unidade I
Lembrete
A partir do sexto ano de vida, a criança deve, obrigatoriamente, frequentar uma escola. Devido às
características sociais que se iniciam de forma mais intensa nessa faixa etária, observamos a escola
como o meio de convívio social mais importante, pois é lá que o jovem passa a maior parte do tempo
social, ou seja, em grupo.
É nessa época que a criança inicia seu período de educação formal. Passa a pensar com lógica,
embora de modo predominantemente concreto, sua memória e sua habilidade com a linguagem
aumentam e seus ganhos cognitivos melhoram sua capacidade de tirar proveito da educação formal. Os
amigos assumem papel fundamental, e a criança começa a compreender a constância de gênero, o que
faz com que meninos e meninas “não se misturem”. A partir dessa idade, a influência dos pais diminui
gradativamente, enquanto a influência de amigos aumenta, em especial na adolescência, quando
o jovem tem a necessidade de construção de sua própria identidade. Essa diminuição da influência
dos progenitores ocorre de maneira gradativa e tem seu ápice na adolescência. Em geral, por volta
dos 10 anos, alguns adultos ainda possuem certo poder de persuasão, sendo ouvidos e até mesmo
procurados por meninos e meninas para receberem orientação. Aos 13 anos, os adultos passam a não
ser considerados confiáveis. Por conta dessa característica, indica-se que orientações sobre saúde sejam
iniciadas desde o começo da vida social, período no qual ainda há confiança e empatia com os pais, e
devem ser englobadas em toda a vida escolar da criança e do adolescente.
Nesse contexto, observamos a importância de um ambiente escolar saudável, que pense desde a
nutrição adequada até o desenvolvimento biopsicossocial e que incentive dietas saudáveis, jogos que
promovam o convívio social, o respeito às diferenças e o estímulo de atividades físicas e ações de
aperfeiçoamento cognitivo.
Para alcançar esses propósitos, o PSE foi constituído por cinco componentes:
• avaliação das condições de saúde de crianças, adolescentes e jovens que estão na escola pública;
Saiba mais
A execução das ações de educação em saúde deverá acontecer nos territórios definidos segundo
a área de abrangência da Estratégia Saúde da Família (Ministério da Saúde), podendo acontecer em
parques, unidades básicas de saúde ou centros de educação, por exemplo. Desse modo, é vital que
profissionais da saúde e da educação unam forças e saberes e os incorpore no cotidiano da escola
durante as aulas, no intervalo ou nas consultas de enfermagem.
43
Unidade I
Em 1986, após a VIII Conferência Nacional de Saúde, veio à tona o questionamento sobre a
complexidade do termo saúde, destacando que ela não poderia ser compreendida apenas como a
ausência de doença, mas como um conjunto de fatores subjetivos referentes a como um indivíduo vive
e como se relaciona com o meio e com outras pessoas. Foi a partir dessa conferência que as discussões
sobre promoção da saúde como uma estratégia para aumentar a qualidade de vida se intensificaram.
Acentuou-se, ainda, que cuidar da saúde não é um ato exclusivo dos profissionais da saúde, e sim de
todos (CARDOSO; REIS; IERVOLINO, 2008).
Na EEPS, o professor estimula hábitos saudáveis de vida e avalia riscos ao escolar e a sua família.
Como exerce influência contínua em seus alunos, a sensibilidade e a didática do docente facilitam esse
processo de educação em saúde (CARDOSO; REIS; IERVOLINO, 2008).
44
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Há três estratégias básicas que podemos usar para iniciar os trabalhos na escola, pois é vital que
sejamos reconhecidos como parte do “grupo”:
• Triagem de peso e estatura: esse método é mais utilizado em crianças até os 10 anos. É possível
detectar sobrepeso, excesso de peso, risco para desnutrição e desnutrição. Ao identificar crianças
com essas alterações, agendam-se consultas de enfermagem para orientação e assistência.
• Ações educativas: deve-se propor ações lúdicas que envolvam a criança ou o adolescente na
construção do saber em saúde, abordando temas como nutrição e autocuidado, conforme a
demanda. A educação dialógica, na qual os saberes do educando fazem parte do aprendizado, é a
forma mais indicada de trabalho.
Grupo Adolescência
Para quem estuda de manhã Para quem estuda de tarde
Quinta-feira, 16h Sexta-feira, 10h
Nós somos: Wagner, Eder, Juliana, Karen, Nós somos: Fernando, Getúlio, Camila,
Roberto, Douglas, Mariana, Jorge, Rafael, Joyce, Kelly, Kleber, Renata, Tatiana e
Rodrigo, Vânia, Janaína e Vanessa Domênico
Falamos sobre: sexualidade Falamos sobre: relação com os pais
A escolha dos temas é importante, pois demonstra que estamos interessados em ajudar os
alunos com seus problemas. Assim, eles são protagonistas, e não apenas espectadores. Isso traz
maior envolvimento e compromisso. Ademais, tudo o que eles aprendem na escola pode ser
repassado por eles mesmos aos pais, tornando-os agentes de educação em saúde.
Conforme Martins (2006, p. 344-345), “os acidentes, classificados atualmente como causas externas,
são definidos, culturalmente, como situações inevitáveis. No entanto, um novo conceito tem considerado
o acidente como um evento previsível”. Todavia, se o evento é previsível, o conceito transforma-se,
havendo vitimização, pois os acidentes ocorrem a partir da falta de cuidado necessário.
Será descuido ou desleixo das pessoas? Muitas vezes, o acidente ocorre por falta de informação ou
porque o indivíduo duvida do perigo iminente. O conceito de vitimização já nos fornece uma pista sobre
o como e o porquê acontecem alguns acidentes envolvendo crianças de 0 a 15 anos.
45
Unidade I
Então, a questão é vista em outra perspectiva: como orientar as pessoas para evitar acidentes
envolvendo crianças?
Saiba mais
Assim, vimos que não é novidade que crianças se acidentam por falta de atenção dos cuidadores.
Ainda segundo Martins (2006, p. 345), “vários autores apontam o trauma resultante das
causas externas como o principal mal dos últimos 60 anos, em todas as partes do mundo,
ocorrendo tanto em países desenvolvidos, devido à industrialização [...] como também em
países subdesenvolvidos”.
Nesse contexto, todos os profissionais da saúde devem estar alerta. Precisam tomar conhecimento
e estudar as categorias acerca da abordagem sobre casos de acidentes que exponham a criança a risco
46
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
(BRASIL, 2012b). Conhecendo o perfil desses acidentes, é possível avaliar a magnitude da violência
contra a criança em distintos locais do País.
É importante destacar o esforço do Ministério da Saúde para diferenciar as formas pelas quais os
acidentes sofridos pelas crianças acontecem. Para tanto, os atendimentos foram classificados em dois
grupos: acidentes e violências.
Ambiente
Fases Criança Agente causador Ambiente físico socioeconômico
Reduzir a
Campanhas de Separar o agente Modificações
Pré-evento quantidade e/ou
prevenção da vítima ambientais
intensidade
Instalação de
Diminuir a liberação Afastar outros
Evento Estabilizar e reparar barreiras ou
de energia agentes proteções
Suporte e
Centros de treinamento em
Pós-evento Reabilitar Avaliar seu controle trauma atendimento de
emergência
47
Unidade I
Aberturas e vãos
Fases Criança Residência Comunidade
desprotegidos
Orientar a família para não
Orientar a criança Manter as janelas instalar móveis junto às janelas
Impedir o acesso
Antes da queda para não se pendurar protegidas com redes e providenciar a instalação de
da criança à janela
em janelas ou grades barreiras de acesso a janelas,
escadas e sacadas.
Diminuir o risco de nova Ensinar normas de primeiros
queda pela retirada de socorros à comunidade. Elaborar
Durante a queda ou Prestar os Instalar barreiras
móveis de perto das normas que regulamentem a
imediatamente depois primeiros socorros de proteção
janelas e pela instalação instalação mandatória de barreiras
de barreiras de acesso a aberturas e vãos.
Providenciar o Avaliar a qualidade Construir Facilitar o acesso ao atendimento
Depois da queda atendimento da instalação do moradias com pós-queda e o acompanhamento
necessário equipamento de proteção proteção incluída da família envolvida.
Esses exemplos servem para que analisemos as práticas relativas aos procedimentos necessários
para conhecer as vulnerabilidades, fazendo com que repensemos a maneira de incentivar hábitos e
comportamentos saudáveis. Sem dúvida, trabalhar junto aos órgãos de saúde e à família previne tanto
acidentes quanto situações de violência com as crianças (BRASIL, 2010a).
Resumo
Nesta unidade, estudamos o panorama atual da infância e da
adolescência, seus aspectos demográficos, políticos e sociais, contemplando
os programas de proteção e fortalecimento destinados a esta população.
Acentuamos quais são as contribuições da enfermagem para a efetividade
dessas ações.
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POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Exercícios
Questão 1. (FCC 2012) A taxa de mortalidade infantil é um importante indicador das condições de
vida, saúde e renda de uma população. Assim sendo, sua redução indica importantes vitórias sociais.
A taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu 61,7% entre 1990 e 2010, ou seja, de 52,04 mortes por
mil nascimentos em 1990 para 19,88/mil em 2010. Apesar de ainda ser alta, em relação a outros países
com taxas de mortalidade da ordem de 2,6 a 2,7, o Brasil está a caminho de cumprir uma das metas do
Milênio da ONU: diminuir a mortalidade infantil em dois terços até 2015.
49
Unidade I
Considere as afirmativas a seguir e assinale a alternativa que explique de forma correta as razões que
levaram a esta redução da taxa de mortalidade infantil brasileira.
II – Menos infecções, especialmente aquelas que se previnem com vacinas; o que contribuiu para
uma grande redução de casos de meningite e pneumonia na população.
III – Significativa redução de diarreias como causa de morte, em consequência de melhor saneamento
e aplicação de vacinas contra os enteropatógenos associados com a diarreia aguda.
A) I.
B) I, II e V.
C) II e III.
D) I e V.
E) III, IV e V.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: as melhores condições de vida, tais como habitação urbana, facilitaram o acesso a
vacinação e a renda proporcionou melhores hábitos alimentares, reduzindo a mortalidade infantil.
II – Afirmativa correta.
IV – Afirmativa incorreta.
Justificativa: quando havia maior taxa de mortalidade, havia também maiores taxas de fecundidade.
V – Afirmativa correta.
Justificativa: o acesso aos alimentos em diversidade e quantidade devido aos direitos à remuneração
trabalhista contribuiu com a redução da mortalidade infantil.
Questão 2. (Fepese 2014) A caderneta de saúde da criança utiliza como parâmetros para avaliação
do crescimento de crianças menores de 10 anos os seguintes gráficos:
D) Perímetro cefálico e torácico, peso, comprimento/estatura, pregas cutâneas e índice de massa corporal.
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