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Pessoa e Família em
Situação de Risco
Autora: Ana Carolina Lopes Ottoni Gothardo
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo
Profa. Laura Cristina Da Cruz Dominciano
Professora conteudista: Ana Carolina Lopes Ottoni Gothardo
Graduada em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC – Campinas) em 2002, mestre
em Ciências da Saúde pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2012 e
doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em
2016. Especialização MBA em Administração Hospitalar com ênfase em Auditoria pela Universidade Castelo Branco –
RJ em 2011. Experiência de 12 anos na atuação como enfermeira assistencial e coordenadora de Unidade de Terapia
Intensiva Adulto. É professora titular da Universidade Paulista – UNIP desde 2012, ministrando aulas na graduação e
pós-graduação em Enfermagem.
CDU 616-083
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quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Carla Moro
Vitor Andrade
Sumário
Atenção à Saúde da Pessoa e Família em Situação
de Risco
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DE UNIDADES CRÍTICAS: UTI E PRONTO‑SOCORRO
CIRÚRGICO ............................................................................................................................................................ 11
1.1 História ..................................................................................................................................................... 11
1.2 Organização de unidades críticas: UTI e pronto‑socorro cirúrgico ................................. 13
1.2.1 Estrutura física.......................................................................................................................................... 13
1.2.2 Recursos Humanos.................................................................................................................................. 15
2 PROCESSO DE ENFERMAGEM NAS DIFERENTES UNIDADES CRÍTICAS:
UTI E PRONTO-SOCORRO.................................................................................................................................. 16
2.1 Assistência à família de pessoas internadas em UTI e pronto‑socorro........................... 18
2.1.1 Humanizar em UTIs e pronto-socorro............................................................................................. 20
2.1.2 Protocolo de Manchester..................................................................................................................... 21
Unidade II
3 INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA................................................................................................... 27
3.1 Classificação e fisiopatologia........................................................................................................... 29
3.1.1 Insuficiência respiratória hipoxêmica (tipo I)............................................................................... 29
3.1.2 Insuficiência respiratória ventilatória (tipo II)............................................................................. 36
3.2 Assistência de enfermagem ao paciente com insuficiência respiratória....................... 41
3.2.1 Intervenções de enfermagem............................................................................................................. 41
3.3 Ventilação mecânica ........................................................................................................................... 42
3.3.1 Objetivos fisiológicos da ventilação mecânica ........................................................................... 43
3.3.2 Modalidades da ventilação mecânica ............................................................................................ 44
4 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NAS AFECÇÕES CARDIOLÓGICAS E RENAIS........................ 49
4.1 Síndromes coronárias agudas.......................................................................................................... 49
4.1.1 A importância da rapidez do diagnóstico...................................................................................... 50
4.1.2 Tratamento................................................................................................................................................. 51
4.2 Arritmias................................................................................................................................................... 54
4.2.1 Diagnóstico de arritmia........................................................................................................................ 56
4.2.2 Tratamento de arritmia......................................................................................................................... 57
4.2.3 Assistência de enfermagem ao paciente com arritmia............................................................ 57
4.3 Parada cardiorrespiratória ................................................................................................................ 58
4.3.1 Causas da parada cardiorrespiratória.............................................................................................. 58
4.3.2 Mecanismos da parada cardiorrespiratória................................................................................... 59
4.3.3 Desfibrilação.............................................................................................................................................. 60
4.3.4 Diagnóstico da parada cardiorrespiratória.................................................................................... 60
4.3.5 Assistência de enfermagem................................................................................................................. 60
4.4 Choque cardiogênico........................................................................................................................... 61
4.4.1 Sinais e sintomas..................................................................................................................................... 63
4.4.2 Tratamento................................................................................................................................................. 63
4.4.3 Assistência de enfermagem ............................................................................................................... 64
4.5 Insuficiência renal................................................................................................................................. 65
4.5.1 Insuficiência Renal Aguda – IRA....................................................................................................... 65
4.5.2 Insuficiência renal crônica................................................................................................................... 66
4.6 Assistência de enfermagem.............................................................................................................. 71
4.7 Métodos dialíticos................................................................................................................................. 72
4.7.1 Mecanismos básicos............................................................................................................................... 73
4.8 Equilíbrio hidroeletrolítico................................................................................................................. 75
4.8.1 A manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico.............................................................................. 76
4.8.2 Desequilíbrio hidroeletrolítico............................................................................................................ 77
4.9 Equilíbrio ácido‑base........................................................................................................................... 80
4.9.1 Acidose metabólica ................................................................................................................................ 80
4.9.2 Alcalose respiratória .............................................................................................................................. 80
4.9.3 Acidose respiratória ............................................................................................................................... 81
4.9.4 Valores normais da gasometria.......................................................................................................... 81
4.9.5 Assistência de enfermagem no desequilíbrio hídrico eletrolítico........................................ 81
Unidade III
5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE POLITRAUMATIZADO........................................ 85
5.1 Avaliação inicial..................................................................................................................................... 85
5.1.1 Obstrução das vias aéreas.................................................................................................................... 86
5.1.2 Respiração................................................................................................................................................... 87
5.1.3 Circulação................................................................................................................................................... 88
5.1.4 Déficit neurológico.................................................................................................................................. 88
5.1.5 Exposição..................................................................................................................................................... 89
5.1.6 Ressuscitação............................................................................................................................................ 89
5.2 Avaliação secundária........................................................................................................................... 89
5.2.1 Tratamento definitivo............................................................................................................................ 91
6 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NAS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS ............................................. 91
6.1 Acidente Vascular Encefálico (AVE)............................................................................................... 91
6.1.1 Acidente vascular encefálico isquêmico........................................................................................ 91
6.1.2 Causas do AVC isquêmico.................................................................................................................... 92
6.1.3 Sintomas do AVC isquêmico............................................................................................................... 92
6.2 Acidente vascular encefálico hemorrágico................................................................................ 93
6.2.1 Causas do AVC hemorrágico............................................................................................................... 93
6.2.2 Sintomas do AVC hemorrágico.......................................................................................................... 95
6.2.3 Diagnóstico ............................................................................................................................................... 95
6.2.4 Tratamento................................................................................................................................................. 95
6.3 Assistência de enfermagem ao paciente com acidente vascular encefálico................ 97
6.4 Trauma cranioencefálico.................................................................................................................... 98
6.4.1 Sintomas de traumatismo cranioencefálico................................................................................. 99
6.4.2 Tratamento para traumatismo cranioencefálico........................................................................ 99
6.4.3 Tipos de lesões........................................................................................................................................102
6.4.4 Assistência de enfermagem no paciente com traumatismo cranioencefálico ...........103
6.5 Hipertensão craniana.........................................................................................................................104
6.5.1 Fisiopatologia..........................................................................................................................................104
6.5.2 Tratamento...............................................................................................................................................105
6.5.3 Assistência de enfermagem no paciente com hipertensão intracraniana.....................106
6.6 Morte encefálica..................................................................................................................................107
6.6.1 Protocolo de morte encefálica.........................................................................................................108
6.7 Doação de órgãos................................................................................................................................115
6.7.1 Entrevista familiar................................................................................................................................. 115
6.7.2 Retirada de órgãos................................................................................................................................ 115
6.7.3 Transporte.................................................................................................................................................115
6.7.4 Recuperação............................................................................................................................................ 116
Unidade IV
7 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ÀS PESSOAS PORTADORAS DE AFECÇÕES
DO SISTEMA GASTROINTESTINAL, ENDÓCRINO E HEMATOLÓGICO..............................................122
7.1 Sistema gastrointestinal...................................................................................................................122
7.1.1 Hemorragia digestiva.......................................................................................................................... 122
7.1.2 Pancreatite............................................................................................................................................... 123
7.1.3 Obstrução mecânica do intestino.................................................................................................. 125
7.1.4 Peritonite.................................................................................................................................................. 126
7.2 Sistema endócrino..............................................................................................................................127
7.2.1 Cetoacidose diabética ........................................................................................................................ 128
7.2.2 Síndrome hiperosmolar não cetótica........................................................................................... 129
7.2.3 Diabetes insípidus .................................................................................................................................131
7.3 Sistema hematológico.......................................................................................................................134
7.3.1 Anemia...................................................................................................................................................... 134
7.3.2 Leucemia.................................................................................................................................................. 138
7.3.3 Reação transfusional............................................................................................................................141
8 ÍNDICE DE GRAVIDADE EM UNIDADES CRÍTICAS.............................................................................145
8.1 Unidade de terapia intensiva..........................................................................................................146
8.1.1 Entendendo o Nursing Activities Score (NAS).......................................................................... 147
8.2 Pronto‑socorro.....................................................................................................................................151
8.2.1 Protocolo de Manchester.................................................................................................................. 152
APRESENTAÇÃO
A atenção à saúde da pessoa/família em situação de risco é complexa e intensa. O enfermeiro deve estar
preparado para qualquer situação e para atender pacientes com alterações hemodinâmicas importantes
que requerem conhecimento específico e grande habilidade para tomar decisões e implementá-las em
tempo hábil. Também é de suma importância acolher a família que vive esse processo de “quase” perda
do seu ente querido. Dessa forma, pode-se supor que o enfermeiro desempenha relevante papel no
âmbito da unidade de terapia intensiva.
Esta disciplina tem como objetivo a capacitação do aluno para assistência ao paciente grave nos
diferentes setores de internação e a compreensão da complexidade do atendimento e da necessidade do
aperfeiçoamento técnico-científico para a obtenção de uma assistência qualificada.
O livro-texto busca proporcionar ao aluno o conhecimento das diversas afecções que levam à
internação na UTI e ao atendimento no pronto-socorro; capacitar o aluno para planejar a assistência
ao paciente crítico e à sua família e ampliar o senso crítico do cuidar do binômio paciente-família em
situações críticas.
INTRODUÇÃO
Para organizar um serviço que atenda aos principais problemas de saúde dos usuários na área
de urgência e emergência de forma resolutiva, é necessário considerar o perfil epidemiológico e
demográfico brasileiro, no qual se evidencia, segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2002),
uma alta morbimortalidade relacionada às violências e aos acidentes de trânsito entre jovens até
os 40 anos e, acima desta faixa, uma alta morbimortalidade relacionada às doenças do aparelho
circulatório, como o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC). Soma-se
a isso o acentuado e rápido envelhecimento da população, com aumento significativo da expectativa
de vida nas últimas décadas.
De acordo com o Censo de 2010, 10% da população brasileira contava com mais de 60 anos, o
que significa mais de 20 milhões de pessoas (IBGE, 2010). Além do fator longevidade no País, deve ser
considerada a acentuada queda da natalidade para que novas estratégias em saúde sejam pensadas.
O último censo, realizado em 2010, apresentou, em relação ao censo anterior, um aumento de 12,3%
da população brasileira, o que revela uma objetiva diminuição do ritmo do crescimento populacional,
assemelhando-se a padrões europeus.
Além da mortalidade precoce e das sequelas decorrentes dos acidentes de trânsito, de outras violências
e das doenças cardiovasculares (DCV), deve-se considerar os sofrimentos enfrentados pelas pessoas
acometidas por essas condições clínicas e suas famílias. Soma-se a isso o alto custo socioeconômico.
9
Pensando a importância da assistência de enfermagem do paciente em situação crítica e seus
familiares, acreditamos que, após a leitura do livro-texto, e de todo o conteúdo da disciplina, perceba-se
a necessidade desse conhecimento para prestar uma assistência com qualidade.
Boa leitura!
10
ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Unidade I
1 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DE UNIDADES CRÍTICAS: UTI E
PRONTO‑SOCORRO CIRÚRGICO
1.1 História
Na Primeira Guerra Mundial, que ocasionou diversos tipos de ferimentos nos soldados, houve
uma forma de organização para oferecer atendimento a todos os feridos. Essa disposição se deu com
agrupamento de pacientes em certas categorias tendo em vista possibilidades terapêuticas.
Florence Nightingale também trabalhou com esse tipo de ordenação para reunir feridos, na Guerra da
Crimeia, em um mesmo ambiente, permitindo assistência direta e eficiente. Esse método de organização da
assistência ocorreu em 1854, quando a taxa de mortalidade entre os soldados hospitalizados atingia 40%.
• calamidades públicas: unidades especiais eram abertas para que recursos pudessem ser
centralizados e otimizados;
O número de unidades de terapia intensiva cresceu devido à existência de pacientes mais idosos e
mais graves que exigiam procedimentos mais complexos, e também pelo fato de os cirurgiões terem se
acostumado ao benefício das salas de recuperação na prática militar durante a guerra.
Outro fator que contribuiu foi a alta mortalidade pós-anestésica. Alterações cardiorrespiratórias
após o uso dessas drogas relaxantes musculares tornaram indispensável a monitorização cuidadosa.
11
Unidade I
O primeiro médico intensivista surgiu década de 1950; ele estimulou e preconizou o atendimento
de urgência-emergência, ABC primário, criou a técnica de ventilação artificial boca a boca e massagem
cardíaca externa. Além disso, concretizou para o paciente crítico as técnicas de manutenção de métodos
extraordinários de vida e elaborou os projetos das ambulâncias – UTI de transporte.
• 1960: avanço no tratamento intensivo, pois foi possível mensurar os gases sanguíneos, o que
permitiu o diagnóstico da insuficiência respiratória.
• 1956: foi demonstrado que o choque elétrico aplicado sobre a parede torácica poderia interromper
uma fibrilação ventricular, revertendo essa arritmia grave.
Saiba mais
<www.medicinaintensiva.com.br>
<www.sobrati.com.br>
<http://www.medicinaintensiva.com.br/personagens.htm>
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Vejamos algumas orientações que devem ser seguidas para o planejamento e organização para
unidade de terapias intensivas e unidades de urgência e emergência, seguindo as orientações RDC nº
50, de 21 (BRASIL, 2002), que dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação,
elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde:
• Localização: deve ser de acesso controlado e em um ponto estratégico (próximo aos elevadores,
CC, SRPA, PS, USI, laboratório e radiologia).
• Leitos: mínimo de 5 leitos na prática. Menos que isso, tornam-se impraticáveis e onerosas. Ideal de
8 a 12 leitos. A melhor viabilidade é seguir 10% do valor total dos leitos disponíveis na instituição.
• Os pacientes devem ser alocados de modo que a sua visualização direta pela equipe de saúde seja
possível durante todo o tempo.
• Divisória entre pacientes devem ser com materiais laváveis ou em quartos fechados (painéis de vidro).
• Quartos de isolamento são recomendáveis com antessala em cada quarto e obedecendo à quantidade
de 10% do valor total de leitos de UTIs e necessidade de equipamentos com pressão negativa.
• Copa para pequenas refeições com pia, geladeira, micro-ondas ou fogão e lixo específico para
restos alimentares.
• Sala de serviços gerais para armazenamento de soluções e materiais com prateleiras suspensas.
13
Unidade I
• Rota de transporte de pacientes separados dos utilizados pelos visitantes (incluindo uso de elevadores).
• Energia elétrica deve garantir o suprimento ininterrupto e dispor de tomadas ligadas a geradores
no-break. Mínimo de 11 tomadas por leito, com voltagens de 110 e 220 V e tomadas para aparelhos
móveis de raio X distantes de cada leito.
• Iluminação: além da iluminação natural, a unidade deve possuir iluminação geral de teto. É
desejável uma lâmpada de leitura para cada paciente.
• Abastecimento de água: pias e lavatórios instalados nos locais de manuseio de insumos, alimentos
e medicamentos, próximos à entrada dos módulos de pacientes ou entre cada dois leitos.
• Lavatórios largos e profundos para evitar respingos, com torneiras com sensores.
• Sistema de gases e vácuos: oxigênio, ar comprimido e vácuo deve ser mantido nas 24 horas.
Mínimo de duas saídas de oxigênio por leito e uma de ar comprimido. Um sistema de alarme para
pressão baixa e alta. Mínimo de dois pontos de vácuo por leito.
• Regime de plantão, com no mínimo: Anestesiologista, Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral
e Ortopedia.
Selecionar a pessoa certa para o local certo não é uma atividade fácil. Conhecer bem a UTI, o perfil
dos pacientes e os serviços oferecidos pode ajudar a definir o profissional a ser selecionado.
Dimensionar a quantidade de pessoal é uma das tarefas mais difíceis na organização da unidade,
pois apresenta implicações gerenciais e assistenciais.
Alguns quesitos são importantes nesse processo: planta física, número de leitos, características
do hospital, grau de dependência dos pacientes, capacidade do pessoal, quantidade e qualidade dos
equipamentos. A Portaria nº 3.432, de 12 de agosto de 1998, do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998),
determina um enfermeiro coordenador; um enfermeiro para cada dez leitos ou fração, por turno de
trabalho; um técnico de enfermagem para cada dois leitos ou fração, por turno de trabalho.
Figura 1 – Leitos de UTI com quartos individualizados e visualização lateral e anterior de vidro
Saiba mais
15
Unidade I
Observação
Sistematizar, segundo Aurélio (2004), significa organizar; correlacionar elementos em uma ordem
com concatenação lógica. Na enfermagem, a sistematização das ações e dos métodos contribui para
a organização do processo, visando alcançar resultados. Método representa o modo de agir e dirigir
a ação da enfermagem no caminho escolhido para o desenvolvimento da intervenção. Ele serve para
instrumentalizar a ação.
Assim, o modelo de processo de enfermagem que apresentamos aqui considera todos os elementos,
métodos e forma para operacionalização em cada área assistencial. Diante dessas considerações e
compromissados com a necessidade de redefinição das práticas assistenciais, de ensino e de pesquisa na
enfermagem, entende-se como processo de enfermagem:
• oferecer subsídios para o ensino e a prática dos alunos de enfermagem de cursos de nível médio
e superior em atividades curriculares na instituição;
A sistematização faz parte do processo de enfermagem, pois ela serve para determinar a forma
como as ações devem acontecer para a realização do cuidado ao cliente e à família.
Desse modo, os princípios que orientam o processo de enfermagem em uma UTI são:
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ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
• Construir o processo de enfermagem com base em princípios teórico-conceituais que servem para
explicar e direcionar as ações do grupo no desenvolvimento do cuidado.
• O cliente e seu familiar constituem o foco principal das ações assistenciais da equipe de enfermagem.
Processo de enfermagem
Levantamento de dados
“Organizar e
sistematizar os
cuidados de enfermagem.” Diagnóstico
Garcia e Nóbrega
(2001)
Planejamento
Implementação
Avaliação
Observação
17
Unidade I
O diagnóstico de enfermagem foi introduzido por Wanda de Aguiar Horta, na década de 1960. É a
identificação das necessidades do paciente e a determinação, pelo enfermeiro, do grau de dependência
desse atendimento.
O enfermeiro, após ter analisado os dados no histórico e no exame físico, identificará os problemas
de enfermagem.
Por fim, temos a avaliação, por meio da qual realiza-se a evolução de enfermagem. Este é um relato
diário ou periódico das mudanças sucessivas que ocorrem no ser humano enquanto ele estiver sob
assistência profissional, ou seja, uma avaliação global do plano de cuidados.
A unidade de terapia intensiva (UTI) e pronto-socorro (PS) são setores destinados ao atendimento
de pacientes graves ou de risco que dispõem de assistência médica e de enfermagem ininterruptas,
com equipamentos específicos, recursos humanos especializados, além de acesso a outras tecnologias
destinadas ao diagnóstico e à terapêutica.
Quando pensamos em alguém internado em uma UTI, imediatamente nos remetemos à questão
do sofrimento e da fragilidade de um sujeito. Diante de uma internação de UTI, consideramos que esse
paciente é alguém que necessita de cuidados diferenciados e que apresenta risco iminente de morte.
Contudo, com a rotina dos profissionais de saúde, eles não conseguem identificar a magnitude do
problema enfrentado pelo paciente.
Nesse contexto, fica evidente que o paciente não é respeitado enquanto pessoa, não se levando em
consideração o código de ética e a humanização do cuidado.
18
ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Por ser uma unidade de pacientes críticos, gera sentimentos negativos nos pacientes e familiares,
devido à sensação de ameaça e morte iminente. Diante dessa situação, os familiares podem se sentir
confusos, desamparados, temerosos e impotentes.
A internação e a doença são encaradas, portanto, como uma ameaça e vivenciadas de forma grupal,
fazendo com que a família redirecione papéis e modifique seus hábitos de vida. Contudo, mesmo diante
dessas adversidades, a presença da família traz segurança afetiva para o paciente, tranquilizando-o e
fazendo com que a tensão emocional seja minimizada.
Assim, o processo do adoecer envolve não somente o paciente que se encontra internado, mas também
toda a família, que vivencia a hospitalização diariamente. Diante dessa realidade, urge a necessidade
de dirigir também o nosso olhar à família que está sofrendo as consequências da internação. A família
é definida por conceitos mais atuais, como uma unidade básica e complexa, com ampla diversidade
de estruturas e formas de organizar seu modo de vida, sendo vista como muito especial e importante
para a maioria das pessoas. É preciso considerar que se trata de um sistema ou unidade, cujos membros
podem ou não estar relacionados ou viver juntos, devendo existir um compromisso e um vínculo entre
eles. Acredita-se, portanto, que a família é quem seus membros dizem que são.
Observação
Não se pode admitir a assistência ao indivíduo (doente ou sadio) de forma completa sem considerar
pelo menos o seu contexto mais próximo, que é a família a qual ele pertence, ou seja, a família deve ser
objeto de cuidado dos profissionais da enfermagem.
Contudo, o processo de humanizar é uma realidade. Ele conta com a presença da psicologia no
contexto hospitalar, uma vez que busca resgatar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis
dos aspectos físicos na intervenção da saúde, ou seja, procura perceber o ser humano em sua dimensão
biológica, psicológica e social (ANDRADE, 1997).
19
Unidade I
Algumas UTIs contam com o serviço do psicólogo e, muitas vezes, o atendimento desse profissional
é voltado para a família pelo fato de o paciente não estar desperto, considerando que, quando um
membro da família adoece, o equilíbrio e os papéis ocupados por cada um são afetados, podendo
eclodir antigos conflitos latentes e haver desunião momentânea. Assim, a atuação do psicólogo se torna
importante, pois percebe a família como uma extensão do paciente e o seu cuidado como uma ajuda no
processo de recuperação do parente internado.
Nesse sentido, o psicólogo deve ser um agente especializado do ponto de vista técnico para detectar
as necessidades dos pacientes, familiares e equipe em relação ao momento que estão vivendo.
A família pode ser compreendida como um sistema intercomunicante, no qual cada membro exerce
uma função, formando, assim, uma dinâmica com funcionamento próprio através de suas leis internas.
O adoecimento de um membro da família representa uma ameaça à estrutura familiar: esse sistema,
como um todo, vê-se abalado. Assim, quando a pessoa é hospitalizada, principalmente na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI), todo o equilíbrio familiar é alterado.
Compete aos profissionais de saúde, principalmente ao enfermeiro em sua rotina de trabalho, aliviar
e controlar a dor sempre que possível e atender as queixas físicas e emocionais do paciente; oferecer
informações sobre a doença, prognóstico e tratamento; respeitar o modo e a qualidade de vida do
paciente; respeitar sua privacidade (e dignidade) e compreender a importância de se oferecer a ele um
suporte emocional adequado.
Para que o trabalho de um profissional seja eficiente e, ao mesmo tempo, humanizado, em qualquer
área, e não apenas médica, são necessários conhecimento, qualidade técnica e, indubitavelmente,
uma boa qualidade de inter-relação humana. Em medicina, a qualidade exige o desenvolvimento de
conhecimentos e de capacidade técnica, mas, para a qualidade de inter-relação humana, o médico
precisa reconhecer e lidar com os aspectos emocionais do paciente, isto é, precisa desenvolver atitudes
eficientes e humanas em sua tarefa assistencial.
20
ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Em 2001, o Ministério da Saúde, sensibilizado pelo número significativo de queixas dos usuários
referentes aos maus-tratos nos hospitais, tomou a iniciativa de convidar profissionais da área de saúde
mental para elaborar uma proposta de trabalho voltada à humanização dos serviços hospitalares e de
saúde. Esses profissionais constituíram um Comitê Técnico que elaborou um Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), com o objetivo de promover uma mudança de cultura
no atendimento de saúde no Brasil (BRASIL, 2001).
Por outro lado, a despeito das elogiosas iniciativas institucionais em relação à humanização do
atendimento em saúde, as maiores esperanças e expectativas não estão na intervenção do governo,
mas, sobretudo, nas escolas de formação dos profissionais da saúde.
A formação de profissionais da saúde deve contemplar uma visão antropológica do ser humano
muito além do aspecto fisiopatológico e da formação técnico-científica vigente.
Saiba mais
O programa recebeu esse nome porque foi aplicado pela primeira vez em 1997 na cidade britânica de
Manchester. A triagem foi rapidamente implementada em vários hospitais do Reino Unido. Em Portugal,
são poucos os hospitais que ainda não utilizam esse sistema, que já está sendo empregado em outros
países da Europa, como Espanha, Holanda, Alemanha e Suécia.
21
Unidade I
A classificação de risco é realizada com base em protocolo adotado pela instituição de saúde,
normalmente representado por cores que indicam a prioridade clínica de cada paciente. Para tanto,
algumas condições e parâmetros clínicos devem ser verificados.
O paciente que chega à unidade é atendido prontamente pelo enfermeiro, que fará uma breve
avaliação do quadro clínico do paciente utilizando o protocolo de Manchester. Em seguida, o
paciente é encaminhado para o local de atendimento. A classificação é feita a partir de queixas,
sinais, sintomas, sinais vitais, saturação de O2, escala de dor, glicemia, entre outros. Após essa
avaliação, os pacientes são identificados com pulseiras de cores correspondentes a um dos seis
níveis estabelecidos pelo sistema.
A cor vermelha (emergente) tem atendimento imediato; a laranja (muito urgente), prevê atendimento
em dez minutos; o amarelo (urgente), 60 minutos; o verde (pouco urgente), 120 minutos; e o azul (não
urgente), 240 minutos, como demonstrado no quadro a seguir.
O Manchester é rápido, objetivo e reproduzível, tem alta precisão e não trabalha com diagnóstico,
mas com sintomas dentro de um padrão internacional. Discutiremos esse protocolo mais adiante.
Lembrete
22
ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
NÃO
• Dor severa?
SIM • História significativa de incidente?
Laranja
• Mecanismo de lesão?
• Dispneia aguda?
• Grande hemorragia incontrolável?
• Alteração do estado de consciência?
NÃO
• Dor moderada?
SIM • História clínica significativa?
Amarelo
• Pequena hemorragia incontrolável?
• História de perda de consciência?
• Novos sintomas e/ou sinais neurológicos?
NÃO
Reavaliar
Saiba mais
23
Unidade I
Resumo
24
ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA E FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE RISCO
Exercícios
A) Solicitar que a paciente aguarde na recepção e classificar o risco com o código verde.
B) Encaminhar a paciente para o atendimento e classificar o risco com o código amarelo.
C) Solicitar que a paciente aguarde na recepção e classificar o risco com o código vermelho.
D) Encaminhar a paciente para o atendimento e classificar o risco com o código vermelho.
E) Orientar a paciente sobre sua condição de saúde e classificar o risco com o código azul.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: atribui-se a classificação verde para os casos pouco urgentes, caracterizados por
situações clínicas menos graves, que possibilitam que o paciente aguarde o atendimento (no máximo
120 minutos).
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: o indivíduo classificado com a cor amarela necessita de atendimento urgente, mas
sua situação clínica não é considerada emergencial, visto que esse paciente apresenta condições para
aguardar o atendimento (no máximo 60 minutos).
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a cor vermelha indica situação de emergência e aponta que o cliente necessita de
atendimento imediato.
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Unidade I
D) Alternativa correta.
Justificativa: o quadro clínico sugere a presença de hipertensão arterial sistêmica, fator que pode
desencadear o rompimento da aorta abdominal, que, por sua vez, pode resultar em choque hipovolêmico
grave e em óbito da paciente. De acordo com o protocolo de Manchester, em razão da hipertensão
arterial e da iminência de rotura da aorta abdominal, essa situação clínica deve ser classificada na cor
vermelha (emergência). Portanto, a paciente precisa receber atendimento imediato.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: os casos classificados com a cor azul são não urgentes: são de menor complexidade
e podem ser acompanhados em ambulatórios ou consultórios médicos. O atendimento desse paciente
deve acontecer no período máximo de 240 minutos (COREN-SP, [s.d.]).
Questão 2. (EBSERH 2015) Sobre a estrutura física da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), nos termos
da Resolução Anvisa nº 50/2002, é correto afirmar que:
A) O posto de enfermagem deve estar instalado de forma a permitir observação visual direta ou
eletrônica dos leitos.
B) Deve existir no mínimo um sanitário para ser compartilhado entre o público e os funcionários.
E) A sala de espera deve ser exclusiva da UTI, não sendo permitido compartilhamento com
outros setores.
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