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Economia e Gestão

Farmacêutica
Autor: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro
Professor conteudista: Juliano Rodrigo Guerreiro

Juliano Rodrigo Guerreiro é formado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade de São Paulo (2004) e Doutor em
Bioquímica pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (2009). Desenvolve o pós-doutorado com ênfase
em Bioquímica de Plantas pela ESALQ/USP (2009-2012).

Atualmente é coordenador do curso de Farmácia (desde 2008) e professor titular da Universidade Paulista
(desde 2009), tendo sido professor auxiliar da mesma universidade de 2005 a 2009. Tem experiência nas áreas de
Bioquímica, Fisiologia e Química, além de gerenciamento de drogarias, atuando principalmente nos seguintes temas:
Estrutura de Biomoléculas, Bioquímica Estrutural, Metabólica e Clínica, Bioquímica e Fisiologia de Plantas, Interação
Ligante-Receptor e Venenos Animais. É autor e coautor de 13 artigos científicos sobre Venenos Animais, Fisiologia e
Bioquímica, além de três patentes e um capítulo de livro.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G934e Guerreiro, Juliano Rodrigo

Economia e Gestão Farmacêutica / Juliano Rodrigo Guerreiro. –


São Paulo: Editora Sol, 2019.

88 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-026/19, ISSN 1517-9230.

1. Gestão farmacêutica. 2. Farmacoeconomia. 3. Políticas


farmacêuticas. I.Título.

CDU 615

U500.80 – 19

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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Virgínia Bilatto
Andréia Andrade
Sumário
Economia e Gestão Farmacêutica

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 ECONOMIA FARMACÊUTICA...........................................................................................................................9
1.1 Economia da saúde.................................................................................................................................9
1.2 Formas de financiamento dos gastos com saúde................................................................... 10
1.3 Gastos com saúde x expectativa de vida ................................................................................... 11
1.4 Saúde complementar no Brasil....................................................................................................... 12
2 ECONOMIA SETORIAL FARMACÊUTICA.................................................................................................. 15
2.1 Indústria farmacêutica – relevância.............................................................................................. 15
2.2 Indústria farmacêutica – competitividade................................................................................. 15
2.3 A importância das patentes para a indústria farmacêutica de inovação...................... 16
2.4 Regulação do mercado farmacêutico........................................................................................... 17
2.5 Agentes econômicos do segmento farmacêutico .................................................................. 19
2.5.1 Indústrias farmacêuticas...................................................................................................................... 19
2.5.2 Comércio farmacêutico....................................................................................................................... 19
3 POLÍTICAS NA ÁREA FARMACÊUTICA...................................................................................................... 21
3.1 Política Nacional de Medicamentos.............................................................................................. 22
3.2 Política Nacional de Assistência Farmacêutica......................................................................... 24
3.3 Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos....................................................... 26
4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL................................................................................................................ 27
4.1 Organograma.......................................................................................................................................... 28
4.2 Fluxograma.............................................................................................................................................. 29
4.3 Layout........................................................................................................................................................ 30

Unidade II
5 FARMACOECONOMIA..................................................................................................................................... 36
5.1 Métodos em farmacoeconomia...................................................................................................... 36
5.1.1 Análise de custo x benefício................................................................................................................ 36
5.1.2 Análise de minimização de custos.................................................................................................... 37
5.1.3 Análise de custo x efetividade............................................................................................................ 38
5.1.4 Análise de custo x utilidade................................................................................................................ 39
6 NORMAS INTERNACIONAIS ISO................................................................................................................. 42
6.1 ISO 9000 – garantia da qualidade.................................................................................................. 43
6.1.1 ISO 9001:1994........................................................................................................................................... 44
6.1.2 ISO 9001:2000........................................................................................................................................... 45
6.1.3 ISO 9000:2005.......................................................................................................................................... 46
6.1.4 ISO 9001:2008........................................................................................................................................... 46
6.2 ISO 14000 – meio ambiente ............................................................................................................ 46
6.3 ISO 26000 – responsabilidade social............................................................................................. 49
6.4 Saúde e segurança do trabalhador................................................................................................ 50
7 CONTABILIDADE................................................................................................................................................ 52
7.1 Balanço Patrimonial............................................................................................................................. 53
7.2 Abertura de empresa............................................................................................................................ 55
7.3 Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE) .................................................................. 56
7.4 Análise de demonstrações financeiras......................................................................................... 61
7.4.1 Análise horizontal.................................................................................................................................... 62
7.4.2 Índices financeiros................................................................................................................................... 63
7.4.3 Análise vertical.......................................................................................................................................... 64
7.5 Índices de balanço................................................................................................................................ 64
7.6 Retorno sobre o investimento......................................................................................................... 66
7.7 Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP)............................................ 68
8 MARKETING FARMACÊUTICO ..................................................................................................................... 69
8.1 Conhecendo os principais clientes................................................................................................ 71
8.1.1 Pacientes..................................................................................................................................................... 71
8.1.2 Médicos........................................................................................................................................................ 71
8.2 Conhecendo o cliente de farmácias e drogarias...................................................................... 71
8.3 Ações de fidelização............................................................................................................................. 76
8.3.1 Cartão fidelidade...................................................................................................................................... 76
8.3.2 Layout........................................................................................................................................................... 77
APRESENTAÇÃO

A disciplina Economia e Gestão Farmacêutica desenvolve tópicos fundamentais para a ascensão do


profissional farmacêutico em sua carreira, proporciona ao aluno conhecimentos gerais sobre economia,
gestão e administração aplicáveis no dia a dia do farmacêutico.

Este livro-texto tem como objetivos primordiais fazer que o aluno venha a compreender que a
economia e a gestão de empresas farmacêuticas são peças fundamentais para o êxito profissional. E que
as funções administrativas são, na verdade, as principais vias para ascensão do profissional farmacêutico
em sua carreira profissional. Mostrar ao acadêmico de Farmácia a abrangência das empresas farmacêuticas
e a sua complexidade administrativa, e também as características econômicas do setor. Além disso, é de
suma importância o entendimento dos aspectos econômicos do setor farmacêutico e da saúde como
um todo, das informações sobre os organogramas de empresas privadas, estatais e sem fins lucrativos
(terceiro setor) e tipos de sociedade e de controle financeiro, como as S.A. e as Ltda.

Ao término, o aluno terá conceitos básicos de administração geral, com conhecimento dos
documentos legais, desde a abertura da empresa, sua gestão e fechamento, e dos diversos tipos de
empresa (e setores de empresas) farmacêuticas comuns à atuação do profissional farmacêutico. Será
oferecida, ainda, uma noção de aspectos administrativos gerais: tipos de custos, gerenciamento de
materiais, fluxograma de operações, além de fazer com que o aluno:

• conscientize-se da importância do envolvimento do profissional com a gestão financeira;

• conheça e interprete parâmetros e valores econômicos, assim como índices financeiros;

• entenda os mecanismos econômicos gerais do país e suas correlações com a área farmacêutica;

• interprete os valores e conceitos aplicados ao setor econômico da saúde, como farmacoeconomia;

• conheça o funcionamento do mercado farmacêutico e como é regulado por órgãos públicos;

• seja capaz de perceber oportunidades profissionais na área de gestão financeira;

• reconheça as características gerais e necessidades de um determinado ramo de negócio


farmacêutico, como empresas inovadoras e farmoquímica, comércios e serviços.

INTRODUÇÃO

O livro-texto está dividido em duas unidades – na primeira, serão discutidos temas da área de
Economia Farmacêutica, como:

• economia da saúde: gastos dos países, financiamento público e privado, relação investimento em
saúde x resultados. Tamanho e perspectivas da saúde complementar no Brasil e investimento público
e privado;
7
Unidade I

• economia setorial farmacêutica. Conceitos de bem de consumo credencial, valor da patente, foco
dos investimentos em novos fármacos, barreiras econômicas e tecnológicas que movimentam
o setor farmacêutico; papel dos órgãos públicos na economia setorial farmacêutica, como a
regulação de preços;

• agentes econômicos do segmento farmacêutico, com enfoque em estratégias em função do


porte e do nível tecnológico; indústria inovadora, farmoquímica, de especialidades; comércio,
atacado, rede varejista, associativismo de varejistas, franquias, varejistas independentes; tipos de
estabelecimentos comerciais;

• Política Nacional de Medicamentos, Política Nacional de Assistência Farmacêutica e Política


Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e suas aplicações;

• estrutura organizacional: padrões de organogramas, fluxogramas e layouts.

Já na segunda unidade, serão introduzidos temas relacionados à Gestão Farmacêutica e sua


aplicabilidade, bem como entendimentos de normas de produção, como, por exemplo:

• estrutura organizacional; conceitos básicos (ênfase na necessidade de administrar), tipos de


empresas e suas implicações legais (Ltda., S.A.), tipos de sociedade, organogramas (estrutura), tipos
de custos e desenvolvimento de orçamento; gestão financeira e contabilidade aplicada ao setor
farmacêutico. Análises de índices que revelam a situação contábil da empresa ou estabelecimentos
comerciais. Planejamento e programação do controle de produção de empresas farmacêuticas;

• economia farmacêutica (farmacoeconomia) e estratégias de produção e pesquisa, valor das


patentes e dos genéricos; métodos utilizados na farmacoeconomia, como análise custo x benefício,
minimização de custos, análise custo x efetividade e análise custo x utilidade;

• normas internacionais ISO; noções de gestão de qualidade (BPF e normas ISO);

• marketing farmacêutico; promoção de produtos, noções de controle de produção, setores


emergentes pertinentes aos farmacêuticos (Pharmacy Benefit Management (PBM); Clinical
Research Organization (CRO). Análise de customização, personalização e fidelização de
consumidores de produtos farmacêuticos e correlatos.

8
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Unidade I
1 ECONOMIA FARMACÊUTICA

A economia farmacêutica estuda aspectos econômicos, nos campos da Farmácia, e aplica-os


ao desenvolvimento e estudo da economia médica e aos impactos dos medicamentos no custo
de saúde. A economia farmacêutica também inclui considerações econômicas do sistema de
distribuição da assistência farmacêutica e da prescrição dos remédios, especialmente quanto ao
custo/ benefício.

1.1 Economia da saúde

A relação entre economia e saúde é, por vezes, conflituosa, pois cada setor entende de modo diferente
a assistência à saúde. As profissões da área de saúde tendem a seguir a premissa de que saúde não
tem preço e qualquer esforço deve ser feito para salvar uma vida. Já as profissões da área econômica
valorizam a ética social e o bem comum.

Ambos os grupos divergem basicamente sobre a utilização dos recursos e na gestão eficiente dos
serviços de saúde. No Brasil, quase não há profissionais que tenham formação nas duas áreas; porém, na
Europa, profissionais que possuem formação nessa interface economia-saúde contribuem sobremaneira
com o planejamento e a administração dos serviços de saúde.

A economia da saúde é definida como:

O estudo de como os homens e a sociedade escolhem, com ou sem o


uso de dinheiro, a utilização de recursos produtivos limitados, que têm
usos alternativos, para produzir bens e distribuí-los como consumo, atual
ou futuro, entre indivíduos e grupos na sociedade. Ela analisa os custos
e os benefícios da melhoria das formas de distribuir os referidos recursos
(SAMUELSON, 1976, p. 3).

Essa definição aplica-se diretamente no cotidiano do setor de saúde, no qual a aplicação dos poucos
recursos é decidida de forma centralizada e política. Os recursos do setor de saúde dão origem a bens
e serviços que são repassados de acordo com as características do sistema de saúde. Já a avaliação
econômica cuida dos custos e benefícios e das formas de distribuição.

A assistência médica foi atribuída financeiramente ao Estado depois da Segunda Guerra Mundial,
exatamente quando ocorreu a universalização do sistema de saúde em detrimento do universo de
trabalho. Já na década de 1960, os gastos dos Estados com o sistema de saúde começaram a crescer
de forma mais intensa, principalmente em países mais desenvolvidos (OCDE). Esses países investiam, na
9
Unidade I

década de 1960, por volta de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e passaram a investir por volta de 12%,
na década de 1980, preocupando os economistas e associados do setor.

Tabela 1

País Per capta


Alemanha 2.820
Austrália 2.532
Brasil 573
Canadá 2.792
Espanha 1.607
Estados Unidos 4.887
Reino Unido 1.999

Fonte: OMS - The World Health Report.


Obs.: Em dólares internacionais.

Eua 1950-2000 → Custos diretos totais


1800 1.700
1600
Valores em bilhões de US$

1400
1200
1000
800 666
600
400 250
200 13 27 75
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano

Figura 1

1.2 Formas de financiamento dos gastos com saúde

Os sistemas de saúde tidos como universais, que cobrem a totalidade da população (caso do Brasil),
são financiados com recursos dos impostos, já que é uma atribuição geral do Estado. Esse sistema é
conhecido como unificado, pois possui uma única fonte de financiamento centralizada, ainda que a
execução e administração sejam regionalizadas.

Os recursos destinados à saúde são alocados em fundos de saúde, que são como um banco único
que financia os programas do ministério. Esses recursos podem ser enviados do governo federal para os
governos regionais (estados e municípios) e formam outros fundos unificados.

10
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

A maioria dos sistemas de saúde universais é financiada com recursos fiscais e impostos sobre a folha
de pagamento e salários. Este é o caso do Brasil e de alguns países europeus, já em Cuba e em alguns
países do Leste Europeu, o sistema de saúde universal e unificado funciona com menos flexibilidade de
financiamentos.

Os sistemas de saúde que são administrados de forma muita rígida sofrem com a impossibilidade
de reduzir gastos ou melhorar a qualidade e cobertura dos produtos e serviços sem aumentar as
despesas. Dessa forma, alguns países europeus iniciaram reformas nos sistemas de saúde, a fim de
introduzir mecanismos que estimulem a concorrência para aumentar a eficiência sem que diminua a
qualidade dos serviços prestados aos cidadãos. Quando um país passa por uma crise de arrecadação
de impostos, há sempre introduções e modificações nos sistemas de saúde universais e unificados,
melhorando a flexibilidade de gestão e de financiamentos, além de estratégias de coberturas. Algumas
dessas modificações são as introduções de várias formas de coberturas e financiamentos dos sistemas
de saúde, por exemplo:

• a população de baixa renda terá um sistema de atenção médica gratuita, financiado com impostos.
Os serviços podem ser prestados pelo sistema público ou privado, tendo sempre uma cobertura
mínima e de qualidade que será fiscalizada por algum órgão público regulamentador;

• aos trabalhadores formais, o sistema de saúde é baseado em impostos sobre a folha de pagamento.
Os serviços devem garantir patamares mínimos de cobertura segundo níveis de renda;

• as pessoas com renda mais alta possuem um sistema de saúde baseado em desembolso direto de
recursos, em planos de saúde complementares, seguro-saúde ou em outras estratégias, abatidas
do imposto de renda.

Lembrete

Os sistemas de saúde universais (Brasil) são financiados com recursos


dos impostos, sendo esse sistema unificado, pois possui uma única fonte
de financiamento centralizada, embora a administração seja regionalizada.

1.3 Gastos com saúde x expectativa de vida

Qual o nível máximo de saúde que um sistema de saúde pode oferecer? Esta pergunta não pode ser
facilmente respondida, pois o sistema de saúde não é o único responsável pela saúde da população. Ainda,
se for levado em consideração a complexidade da definição do conceito de saúde, pode-se entender
melhor sua complexidade. Saúde depende de inúmeros fatores, como biológico, cultural, ambiental,
social, econômico e psicológico.

É claro que nutrição, saneamento básico, escolaridade e renda são quesitos importantes para
determinar o estado de saúde de uma coletividade. Os sistemas de saúde são melhores e possuem
melhores indicadores de qualidade em sociedades que apresentam altos níveis de desenvolvimento
11
Unidade I

nos parâmetros citados anteriormente. O inverso também é verdadeiro, e sociedades com baixos
níveis de desenvolvimento nas áreas supracitadas apresentam sistemas de saúde precários, ou
seja, é impossível melhorar o sistema de saúde da população sem antes melhorar seus indicadores
sociais e econômicos.

Os serviços prestados na área da saúde não são gratuitos, representam um enorme comprometimento
de recursos humanos, de matérias-primas e de capital. Os sistemas de saúde contribuem efetivamente
para a saúde das populações e também para uma melhor qualidade de vida, pelos benefícios econômicos
que trazem devido às melhorias das funções humanas e de produtividade.

Dessa forma, convém chamar os recursos gastos com o sistema de saúde de investimento em
saúde, pois aumentam a possibilidade de as pessoas produzirem e gerarem riquezas.
Estrutura de financiamento e prestação de serviços

Gasto direto Empresa


Impostos e das famílias
Fontes contribuições
sociais

Fundos

SUS Planos e seguros


Compra saúde

Prestação de
serviços Rede Rede privada
pública

Figura 2

Observação

Os sistemas de saúde contribuem para a saúde das populações, pois


melhoram a qualidade de vida pelos benefícios econômicos que trazem
devido às melhorias das funções humanas e de produtividade.

1.4 Saúde complementar no Brasil

O sistema complementar de saúde engloba os serviços prestados por seguradoras de seguros‑saúde,


empresas de medicina e odontologia de grupo, cooperativas (especializadas em planos médico‑hospitalares
e/ou odontológicos), entidades filantrópicas, companhias de autogestão e administradoras. As operadoras
compram dos prestadores de serviços da área de saúde (médicos, laboratórios, clínicas, hospitais)
serviços como consultas, exames, internações, cirurgias, tratamentos, entre outros. Para tanto, dispõem
12
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

de carteira de clientes (conveniados ou segurados), que, a partir de contratos, remuneram as operadoras


de planos e seguros-saúde por meio de mensalidades.

Há uma ampla gama de planos e seguros de saúde oferecidos aos consumidores, cada um
se distingue pela cobertura de rede de serviços oferecida, padrão de conforto, carências, valor,
entre outros. São os convênios médicos que, praticamente, financiam o setor privado da saúde,
já que chegam a ser responsáveis por 80% a 90% do faturamento dos maiores hospitais privados
do país.

Embora tenham sido considerados pela Constituição de 1988, os planos de saúde privados
começaram a funcionar em 1964, quando o governo federal passou a credenciar a assistência
médica privada para atender a pacientes do serviço público. Nas décadas seguintes, essas
operadoras teriam papel crucial no desenvolvimento do setor de saúde suplementar, que se
consolidaria também devido à incapacidade do Estado de suprir todas as demandas por saúde da
população. A saúde suplementar cresceu a tal ponto que o Brasil passou a ter o maior mercado
privado de serviços relacionados à saúde da América Latina.

O forte desenvolvimento deu-se já a partir dos anos 1960, com as empresas de medicina de grupo.
Companhias de grande porte passaram a adotar o convênio-empresa nos anos seguintes. Na década
de 1970, um complexo médico-hospitalar começa a se consolidar no país e, em virtude do crescimento
dos custos da medicina, com a incorporação crescente de novas tecnologias, os hospitais foram ficando
cada vez mais dependentes dos planos de saúde, que passaram a ser a alternativa para financiar os
gastos de uma parcela da população. Nessa década, surge a primeira regulamentação operacional para
o seguro-saúde.

As operadoras de planos de saúde consolidaram sua presença no mercado no início dos anos
1980, atendendo a uma parcela significativa da classe média e de trabalhadores especializados nas
regiões Sul e Sudeste. Estima-se que, à época, cerca de 15 milhões de pessoas já eram beneficiárias
de planos oferecidos pelas empresas de medicina de grupo e pelas cooperativas. No fim dos
anos 1980, as operadoras desse segmento passaram a vender planos individuais com padrões de
cobertura diferenciados.

Há um significativo crescimento do mercado de saúde suplementar entre o fim da década de 1980


e o início dos anos 1990, com a expansão das vendas de planos individuais e com uma forte demanda
de novos grupos de trabalhadores, com destaque para o funcionalismo público e os empregados em
estatais.

Entre 1987 e 1992, por exemplo, houve um aumento médio de 7,4% no número de usuários de
medicina privada. Vale lembrar que é nesse contexto de grande expansão da medicina suplementar que
foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS).

Nos anos seguintes, o bom desempenho da saúde suplementar continuou. O número de beneficiários
do setor saltou de 32 milhões, em 1992, para pouco mais de 41 milhões, em 1997. Todavia, se desde
as décadas anteriores o setor caminhou para a consolidação, com a formação de uma classe média
13
Unidade I

significativa e o incremento da demanda por parte de trabalhadores e empresas por uma assistência
médica com qualidade, a partir dos anos 1990, para alguns especialistas, o crescimento ocorreu também
devido à queda na qualidade dos serviços públicos de saúde.

No fim dos anos 1990, as perspectivas para a saúde suplementar eram positivas. Em 1998,
estimava-se que o setor teria, em cinco anos, 80 milhões de usuários de planos de saúde no país,
ante o pouco mais de 40 milhões de então. A perspectiva de regulamentação levou os analistas a
prever que haveria a entrada de companhias estrangeiras que contribuiriam para a expansão da
saúde suplementar.

A partir do fim do século passado, o setor entrou em estagnação, de tal forma que, em março
de 2006, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o setor, informou que o Brasil
possuía 42,4 milhões de beneficiários. Esse número está próximo do que os especialistas estimavam
existir em 1998, entre 40 milhões e 43 milhões de usuários. A estagnação da saúde suplementar ocorreu
justamente após a aprovação da Lei 9.656, em junho de 1998, que, finalmente, trouxe regulamentação
a um setor que já existia desde os anos 1950.

Os debates em torno da necessidade de criar regras para o mercado, os quais vinham sendo tratados
desde o início dos anos 1990, e a aprovação da lei tornaram-se o marco mais importante na história do
setor de saúde suplementar no Brasil.
Participação (%) Pública e Privada no Financiamento da
Saúde em Países federativos e/ou de Cobertura Universal

Reino Unido 96,9 3,1


Alemanha 77,5 22,5
Austrália 72,0 28,0

Canadá 72,0 28,0


Espanha 70,6 29,4
Brasil 48,7 51,3
Estados Unidos 44,1 55,9
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Gasto público Gasto privado

Figura 3

Saiba mais

Para mais informações sobre saúde complementar no Brasil, consultar


o site: <www.ans.gov.br>.

14
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

2 ECONOMIA SETORIAL FARMACÊUTICA

A indústria intensiva é intensiva em pesquisa e, ao longo de sua história, apresentou ritmo acelerado
de inovações implementadas por empresas em estreita relação com outras instituições.

O lançamento de produtos novos ou melhorados constitui elemento central no padrão de competição


da indústria, possibilitado pela inovação tecnológica, exigindo elevados investimentos em pesquisa
e desenvolvimento, e conta, ainda, com amplo respaldo do sistema internacional de propriedade
intelectual e expressivo gasto em marketing e propaganda.

2.1 Indústria farmacêutica – relevância

A indústria farmacêutica tem crucial importância para a economia brasileira não apenas por ser
fornecedora de bens essenciais, mas também porque é um segmento produtivo interdependente e de
alto desenvolvimento tecnológico. Além disso, é um setor suscetível a políticas públicas, sobretudo pelo
poder de compra do Estado, o maior comprador de medicamentos do país.

É grande importadora de insumos e produtos, revelando-se altamente deficitária em seu comércio


exterior. A estrutura industrial, segundo dados da PIA-IBGE de 2001 (último ano disponível), era
composta por cerca de 780 empresas, com mais de 88 mil funcionários e faturamento próximo a US$
6,4 bilhões, sendo 66% dessa receita de responsabilidade de empresas multinacionais. Isso significa uma
participação de 2,5% no valor agregado pela indústria brasileira.

Em termos comparativos, em 2008, a participação da indústria farmacêutica no PIB industrial do


país era de 3,8%, e a participação das empresas transnacionais nas vendas setoriais não chegava a 50%
do total. A taxa de crescimento das vendas de medicamentos no Brasil tem sido seis vezes superior ao
desempenho dos mercados desenvolvidos, segundo a Federação Internacional da Indústria Farmacêutica.

A média de expansão gira em torno de 13% ao ano, enquanto nos países ricos não chega a 2%,
fazendo com que o Brasil mantenha o sétimo lugar no ranking global, segundo a IMS Health. As contas
de 2011 ainda estão sendo apuradas, mas já é possível aferir que o ano deve fechar com bons resultados
para a indústria farmacêutica instalada no país, projetando que deva fechar o balanço do ano com
faturamento na casa dos R$ 41 bilhões, o que representa crescimento de 13% em relação a 2010.

Lembrete

Em 2010, no Brasil, a indústria farmacêutica teve faturamento


aproximado de R$ 41 bilhões.

2.2 Indústria farmacêutica – competitividade

A indústria farmacêutica apresenta um padrão muito concentrado e sem muita concorrência,


baseado na inovação tecnológica e na propriedade intelectual, exercida sob a forma de patentes (em
marcas, princípio ativo, processo produtivo ou forma de ação no organismo).
15
Unidade I

O faturamento obtido pelas patentes implica, por um lado, grande esforço na inovação, com
crescentes e elevados gastos em desenvolvimento de novos produtos, e, por outro, grande concentração
do capital. Em 2010, por exemplo, as vendas das quatro maiores companhias do mundo respondiam por
cerca de 30% do total do setor. Em 2009, essas empresas investiram em conjunto quase US$ 20 bilhões
em inovação.

Para cada uma delas, o investimento em inovação representou, em média, 12% do faturamento. São
elevados também o grau de transnacionalização dessas empresas e o nível de comércio internacional
intraempresa. No entanto, as empresas não disputam apenas o mercado no segmento dos medicamentos
patenteados, mas também no segmento dos genéricos (com patentes expiradas) e no segmento dos
medicamentos similares. No caso dos similares, a concorrência envolve força de uma marca e distribuição,
e, no caso dos genéricos, dá-se principalmente via preços. Nesses dois casos, empresas de menor porte
e sem escala internacional podem encontrar segmentos de atuação, tal como vem ocorrendo no Brasil.

Finalmente, o setor é muito suscetível à regulação governamental (aprovação e controle de


medicamentos, defesa da concorrência, entre outras formas) e a políticas públicas em geral, tais
como compras governamentais e tributação, o que lhe confere um padrão de concorrência e atuação
estratégica ainda mais particular. Esse segmento também se revela sensível a alterações no nível de
renda da população.

2.3 A importância das patentes para a indústria farmacêutica de inovação

O sucesso de uma indústria farmacêutica está intimamente associado à sua capacidade de gerar
produtos que possam ser produzidos e comercializados apenas pela empresa que os desenvolveu. Essa
proteção é um documento depositado em órgãos regulamentadores e conhecido como patente. O
tempo dessa proteção varia entre os países, sendo no Brasil vinte anos.

Embora esse tempo possa parecer grande, na verdade, não é, pois do depósito da patente à
comercialização do produto leva em média quatorze anos, ou seja, a empresa possui seis anos, em
média, para comercializar de forma exclusiva o produto que ela própria desenvolveu.

É nessa janela de poucos anos que a empresa recupera o investimento que fez durante a maior
parte do tempo de validade da patente. Em média, o desenvolvimento de um fármaco totalmente novo
custa US$ 100 milhões, e são os documentos patentários que garantem que a empresa possa recuperar
os recursos investidos. Vale ressaltar que há inúmeras moléculas que começam a ser desenvolvidas,
mas que não podem ser comercializadas devido a algum problema intrínseco do fármaco, e todo o
investimento feito no desenvolvimento desse produto é perdido.

Dessa forma, a ausência ou a fraca proteção de patentes é um desestímulo aos investimentos em


novos medicamentos e, consequentemente, à concorrência, uma vez que as empresas farmacêuticas
não concorrem com preços, mas com diferenciação de produtos e inovações, o que demanda maiores
gastos em desenvolvimento. Além disso, a indústria farmacêutica de medicamentos genéricos também
seria prejudicada, uma vez que não haveria novos produtos a serem copiados e explorados, como ocorre
quando a patente termina.
16
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Essas afirmações podem ser verificadas ao se observar a própria indústria farmacêutica brasileira,
que era fortemente focada na produção de genéricos desde os anos 1950, quando o governo passou a
não reconhecer mais as patentes para produtos farmacêuticos.

Assim, sem proteção, as empresas passaram a depender da cópia de medicamentos


fabricados pelas multinacionais, o que levou à diminuição dos incentivos para investimentos
em desenvolvimento e à redução dos investimentos estrangeiros no setor, que, somados aos
inexistentes auxílios do governo, contribuíram para o esfacelamento e a desnacionalização da
indústria farmacêutica brasileira.

Na década de 1990, entrou em vigor a Lei nº 9.279/96, que permitiu a concessão de patentes de
medicamentos, apesar da resistência de setores que acreditavam que a concessão levaria ao aumento
excessivo dos preços, à diminuição do consumo de medicamentos, à transferência de recursos ao exterior
e à concentração acentuada do mercado, causando problemas na concorrência e na política de acesso
a medicamentos.

De qualquer forma, é importante ressaltar que as patentes de medicamentos são tão importantes
para a indústria farmacêutica de pesquisa como para a indústria de genéricos, já que possibilita maior
segurança para investimentos no setor, e, consequentemente, maior concorrência e desenvolvimento
tecnológico e econômico.

Observação

As patentes são documentos que garantem a proteção legal de


exclusividade para produção e comercialização de um produto.

2.4 Regulação do mercado farmacêutico

As empresas produtoras de medicamentos possuem, individualmente, capacidade para impor sua


política comercial aos consumidores, ou seja, o poder de mercado. Dessa maneira, podem aumentar
preços independentemente da formação de cartel ou de outras condutas punidas pela Lei de Defesa da
Concorrência.

A estratégia de diferenciação de produtos desenvolvida pelas empresas, as características


técnicas dos produtos, bastante complexas, a lealdade à marca desenvolvida pelos médicos,
associadas à dificuldade de compreensão das informações disponíveis sobre os preços e a qualidade
dos produtos, retiram a capacidade de o consumidor reagir no mercado, desviando suas compras
para produtos substitutos, o que facilita a imposição de aumentos de preço por parte da indústria.

A lei de defesa da concorrência é inapropriada para evitar ou punir a prática do aumento unilateral
de preços. Além de não conseguir o enquadramento legal apropriado, age relativamente, após o abuso
ter se verificado, e é aplicada por meio de processos morosos.

17
Unidade I

As características dos produtos do mercado farmacêutico não permitem ações reativas e


morosas. Em nenhuma economia desenvolvida, a indústria farmacêutica, diante do evidente poder
de mercado e da absoluta essencialidade do produto, fixa preços diretamente para o consumidor,
à exceção dos EUA, e mesmo assim apenas para uma pequena parcela do mercado não coberta
pelos planos de saúde.

Verificam-se no mercado aumentos sucessivos de preços ao longo dos últimos dez anos, sem o
aumento da quantidade vendida, apesar do crescimento da população, por volta de 14% no período.
Assim, cabe ao poder público encontrar instrumentos capazes de impedir o abuso do poder de mercado
na forma da imposição de preços por parte da indústria.

Os mecanismos disponíveis para a redução do poder de mercado dos fabricantes têm eficiência
discutível e incerta a curto e médio prazo. Assim, adotá-los e aguardar que seus efeitos sejam observados
não resguardará a sociedade do aumento de preços futuro.

É preciso ressaltar que, mesmo sendo viável o financiamento público, haveria necessidade de
regulação do mercado para as parcelas da população não cobertas. Por outro lado, o financiamento
público implica pesada intervenção do poder público, no sentido de estabelecer os preços aceitáveis
para a compra de medicamentos, como ocorre nos demais países em que o instrumento é utilizado –, ou
seja, o preço pago pelo Estado é absoluta e totalmente controlado, tornando necessária uma gerência
para realizar esse trabalho.

A omissão do poder público nesse mercado, nessas circunstâncias, implica descumprimento de


mandado constitucional. Resta a intervenção no mercado, estabelecendo competência legal para
a regulação econômica, especialmente no que concerne à variável preço e à instrução dos atos de
concentração do setor.

1990 - Reforma Bases para a introdução da concorrência


comercial e fim da no país, ganhou impulso com a
intervenção direta na estabilidade dos preços obtida a partir de
economia 1994 (Plano Real)

O setor Praticando aumentos


farmacêutico, Operou na significativos e não
apesar da contramão transitórios nos preços
desregulamentação dos medicamentos

Figura 4

18
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

2.5 Agentes econômicos do segmento farmacêutico

2.5.1 Indústrias farmacêuticas

• Indústria inovadora

São indústrias focadas no desenvolvimento de medicamentos, com alta capacidade de investimento


em inovação. O processo de inovação da indústria é dividido em seis etapas (pesquisa básica, patente,
pesquisa clínica, registro, precificação e incorporação).

Além disso, essas empresas são dependentes de marcos regulatórios. No caso do Brasil,
o país possui um marco regulatório eficiente, mas mal-administrado, como no caso dos
sistema CEP/CONEP e, em outros casos, apresenta instituições que são um entrave adicional
não desprezível no processo de inovação farmacêutica no país, caso da anuência prévia para
concessão de patentes.

• Indústria farmoquímica

A indústria farmoquímica engloba empresas que realizam processos extrativos, nos reinos animal (ex.:
heparina), mineral (ex.: cloreto de sódio) e vegetal (ex.: rutina). Podem, ainda, obter fármacos por síntese
química (ex.: omeprazol), por processos biotecnológicos clássicos, como fermentativos (ex.: penicilina)
e enzimáticos (ex.: amoxicilina). Podem ser obtidos ainda por processos biotecnológicos modernos (ex.:
alfainterferona).

Os adjuvantes farmacotécnicos são produtos químicos usados para a elaboração de formas


farmacêuticas que carreiam os farmoquímicos para os organismos a que se destinam (humano
ou veterinário), embora sem ação farmacológica. Esses adjuvantes farmacotécnicos são também
chamados de insumos farmacêuticos não ativos ou excipientes, e são produzidos pela indústria
farmoquímica.

2.5.2 Comércio farmacêutico

• Drogarias

É onde se comercializam medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens


originais. A drogaria é um estabelecimento comercial cuja atividade está regulada pela Lei Federal nº
5.991, de 17 de dezembro de 1973.

• Farmácia de manipulação

A legislação federal nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973, estabelece farmácia como estabelecimento


de manipulação de fórmulas magistrais e oficiais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos
farmacêuticos e correlatos, a título remunerado ou não, e o de atendimento privativo de unidade
hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica.
19
Unidade I

De acordo com a Lei 6.360/76, o Decreto 85.878/81 e a Resolução 387/02 do Conselho Federal de
Farmácia (CFF), setores como controle de qualidade, produção, farmacotécnica (setor de desenvolvimento
de produtos) e garantia de qualidade devem estar sob a responsabilidade do profissional farmacêutico.

Qualquer pessoa pode abrir uma farmácia, com exceção dos médicos, conforme vedação prevista
no Decreto 20.931/32. Porém, o ideal é que o farmacêutico assuma essa responsabilidade, justamente
por ser habilitado técnico e legalmente, e, principalmente, por ser conhecedor dos deveres inerentes ao
exercício profissional.

A farmácia de manipulação ou farmácia magistral é a que prepara medicamentos, atendendo a


uma prescrição médica, que estabelece sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar.
Portanto, uma farmácia de manipulação não apenas revende um produto industrializado pronto, mas
participa de todo processo magistral.

As farmácias magistrais terão de obedecer a novas regras para garantir maior segurança, qualidade
e eficácia das fórmulas manipuladas. A Anvisa publicou a resolução RDC nº 214, com Regulamento
Técnico sobre Boas Práticas de Manipulação de Medicamentos para Uso Humano em Farmácias.

• Farmácia fitoterápica

Medicamentos fitoterápicos são medicamentos obtidos a partir de plantas medicinais. Assim como
todos os medicamentos, devem oferecer garantia de qualidade, ter efeitos terapêuticos comprovados,
composição padronizada e segurança de uso para a população. A seguir, as leis regulamentadoras:

— Decreto 5813, de 22/6/06.

— Resolução - SES nº 1.590, de 12 de fevereiro de 2001 – republicada no D.O. nº 51, de 18/3/2004.

— Resolução - RE nº 88, de 16 de março de 2004 – D.O.18/3/2004.

— Resolução - RE nº 89, de 16 de março de 2004.

— Resolução - RE nº 90, de 16 de março de 2004.

— Resolução - RE nº 91, de 16 de março de 2004.

• Farmácia hospitalar

Abrange um sistema assistencial, técnico-científico e administrativo e desenvolve atividades ligadas


à produção, armazenamento, controle, dispensação e distribuição de medicamentos e materiais médico-
hospitalares às unidades hospitalares.

A farmácia hospitalar responsabiliza-se por todo o ciclo do medicamento, desde sua seleção (ativos
e fornecedores), armazenamento, controles, até o último momento, a dispensação e o uso pelo paciente.
Sua atuação é muito abrangente.
20
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Ela é responsável por todo o fluxo do medicamento dentro da unidade de saúde e pela orientação
aos pacientes internos e ambulatoriais, buscando cooperar na eficácia do tratamento e na redução dos
custos. A seguir, as leis regulamentadoras:

— Portaria nº 196, de 24 de junho de 1983, do MS (Brasil,1983) (DOU 28/6/1983).


— Resolução nº 208, de 19 de junho de 1990, do Conselho Federal de Farmácia.
— Decreto nº 793, de 6 de abril de 1993, do MS (Brasil,1993) (DOU 6/4/1993).
— Resolução nº 300, de 30 de janeiro de 1997, do CFF.

Saiba mais

Para mais informações sobre definições de estabelecimentos


farmacêuticos, consultar o site: <www.crfsp.or.br>.

3 POLÍTICAS NA ÁREA FARMACÊUTICA

Política é um compromisso oficial expresso em documento escrito, no qual consta um conjunto


de diretrizes, objetivos, intenções e decisões de caráter geral e em relação a um determinado tema em
questão.

Funciona como um guia para direcionar o planejamento e a elaboração de estratégias cujo


desdobramento é um plano de ação, programas e projetos para sua efetiva implementação. A importância
de estabelecer políticas tem por objetivo resolver ações concretas, executar, acompanhar e avaliar,
criando espaço para debates e discussão pertinentes à área.

Para concretização dos objetivos da saúde, foram estabelecidas políticas farmacêuticas (Política
Nacional de Medicamentos e Política Nacional de Assistência Farmacêutica e, posteriormente,
Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos). Os objetivos e a execução de uma política
farmacêutica dependem de vários fatores e circunstâncias: econômicas, sanitárias e de prioridades
políticas de governo, e têm por fundamento:

• garantir o acesso da população a medicamentos essenciais com qualidade e segurança;

• promover seu uso racional.

O Sistema Único de Saúde, pela sua complexidade e características, necessita de uma assistência
farmacêutica estruturada, de pessoal qualificado para suporte técnico às ações de saúde e do alcance
de bons resultados.

21
Unidade I

Contar com uma política de Assistência Farmacêutica é uma prioridade na Saúde Pública. A
compreensão do processo de construção, implementação, suas interações e relações, necessidade
de avaliação, são de fundamental importância para o entendimento da Assistência Farmacêutica no
contexto das políticas nas quais ela está inserida: Política Nacional de Saúde, Política Nacional de
Medicamentos, Política Nacional de Assistência Farmacêutica, entre outras normas pertinentes.

A perspectiva é a da integralidade, cuja efetivação envolve o estabelecimento de estratégias, parcerias


e interfaces com outras políticas setoriais, bem como participação de diferentes atores e segmentos
envolvidos.

3.1 Política Nacional de Medicamentos

A Política Nacional de Medicamentos foi estabelecida pela Portaria n° 3916, de 30/10/1998, com o
propósito de garantir a segurança, a eficácia, a qualidade e o acesso e uso racional aos medicamentos.
Para tanto, levou-se em consideração o perfil demográfico da população brasileira por regiões, a renda
das famílias e o tamanho do mercado farmacêutico nacional. Tem como diretrizes:

• Adoção da Relação de Medicamentos Essenciais (Rename), que são medicamentos básicos e


indispensáveis e a que toda a população deve ter acesso. Essa lista é elaborada pelas três esferas
do governo, sendo regionalizada e com critério puramente epidemiológico.

• Regulamentação sanitária de medicamentos, que estabelece o registro de medicamentos, a


autorização de funcionamento das empresas, institui a farmacovigilância com assessoria técnica
e promove o uso e a compra governamental de medicamentos genéricos.

• Reorientação da assistência farmacêutica, sendo obrigatórios a presença e o suporte técnico do


profissional farmacêutico em todas as áreas nas quais houver medicamento. O farmacêutico deve
promover o acesso da população aos medicamentos do Rename. A assistência farmacêutica deve
ser descentralizada na aquisição e distribuição de medicamentos, mas centralizada em caso de
doenças de saúde pública, em tratamentos longos com custos elevados e em caso de doenças sem
tratamento.

• Promoção ao uso racional do medicamento, no qual o farmacêutico pode trocar a prescrição


médica entre medicamentos similares ou de refêrencia por genéricos, deve avaliar os riscos da
automedicação, da troca ou da interrupção do tratamento. A propaganda de medicamento só
poderá ser feita com aprovação prévia de algum órgão governamental. Cabem aos governos
promover campanhas educativas e de vacinação da população.

• Desenvolvimento científico e tecnológico, no qual as empresas e os profissionais farmacêuticos


devem ser estimulados a buscar novas formulações com ênfase na fauna e flora nacionais. A
produção dos medicamentos do Rename deve ser priorizada, além do incentivo ao desenvolvimento
de novos fármacos, promovendo a integração entre indústria e pesquisa (inovação). A farmacopeia
brasileira deve ser reformulada de forma periódica.

22
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

• Promoção da produção de medicamentos, todo esforço da indústria farmacêutica nacional deve


ser no sentido de produzir os medicamentos do Rename e suprir toda a demanda por esses
medicamentos. A produção de medicamentos genéricos deve ser promovida e incentivada, bem
como a facilidade da importação de matérias-prima e insumos para a produção. O governo deve
produzir os medicamentos de interesse nacional por meio das FURPs (Fundação do Remédio
Popular), para diminuir a depedência da indústria privada. E sempre que julgar necessário o
governo federal pode “quebrar a patente” dos medicamentos de uso essencial da população.

• Garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos; para tanto, o governo criou o
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, que faz a inspeção e fiscalização de todos os aspectos
relacionados aos medicamentos. Esse sistema estabelece, por exemplo, como devem ser as boas
práticas de fabricação de medicamentos, entre outras. O governo determinou, ainda, a criação
da Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos Certificadores em Saúde (Reblas), que auxilia na
fiscalização dos produtos.

Vale ressaltar que essas diretrizes foram determinantes para o acesso da população a medicamentos
com segurança e qualidade e que os profissionais da área farmacêutica passaram a ter um reconhecimento
e importância fundamentais para o desenvolvimento dessa política.

Ainda em 1998, o governo federal criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que,
além das inúmeras funções fora da área farmacêutica, deve de forma centralizada estabelecer os
procedimentos de importação, produção e registro de medicamentos.

Para tanto, possui procedimentos operacionais sistematizados que avaliam e liberam os


produtos e insumos farmacêuticos. A Anvisa é responsável pelo sistema de informação em
vigilância sanitária, sistema esse que estabelece as prerrogativas de ensaios clínicos (Conep), a
farmacovigilância (farmácias e drogarias notificadoras), o grau de risco da medicação (tarja dos
medicamentos) e a propaganda. Trata-se do principal órgão federal de fiscalização de empresas
e estabelecimentos de saúde.

Finalmente, a política nacional de medicamentos, por meio da Anvisa, estabeleceu os critérios de


fabricação e registro dos medicamentos genéricos. Para uma empresa poder produzir e comercializar
os medicamentos genéricos, deve fazê-lo de acordo com as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e
comprovar a eficácia do medicamento pelo teste de bioequivalência, ou seja, deve comprovar que o
medicamento genérico se comporta de forma idêntica ao medicamento referência (farmacocinética e
farmacodinâmica).

O teste de bioequivalência é obrigatório somente para os medicamentos genéricos, não sendo


exigido no caso de similares, o que explica o preço do medicamento genérico ser geralmente
maior que o dos medicamentos similares. A Anvisa periodicamente revisa o formulário terapêutico
nacional, que tem como objetivo relatar tudo relacionado ao medicamento genérico. Com relação
ao registro do medicamento genérico pela Anvisa, este deve ser priorizado com relação aos demais
medicamentos, para que se possa incentivar a produção, a comercialização e a dispensação
desse medicamento.
23
Unidade I

Lembrete

A Política Nacional de Medicamentos tem o propósito de garantir a


segurança, a eficácia, a qualidade e o acesso e uso racional aos medicamentos.

3.2 Política Nacional de Assistência Farmacêutica

A Assistência Farmacêutica no Brasil, como política pública, teve início em 1971, com a instituição da
Central de Medicamentos (Ceme), que tinha como missão o fornecimento de medicamentos à população
sem condições econômicas para adquiri-los. Caracterizava-se por manter uma política centralizada de
aquisição e distribuição de medicamentos.

Em 1988, a Constituição Federal estabeleceu a criação de um Sistema Único de Saúde, reconhecendo


a saúde como um direito a ser assegurado pelo Estado a todos os cidadãos brasileiros. O Artigo 6º
determina, como campo de atuação do SUS, a “formulação da política de medicamentos (...)” e atribui
ao setor saúde a responsabilidade pela “execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive
farmacêutica”.

Diferente de outras áreas, a assistência farmacêutica não se adequou imediatamente aos princípios
e às prerrogativas do SUS, em especial devido à descentralização das ações, à regionalização e
hierarquização dos serviços e à participação popular (controle social). Sendo assim, a CEME apresentou
problemas de gerenciamento, o que acarretou a desarticulação da assistência farmacêutica no país e
irregularidades no abastecimento de medicamentos.

A Política Nacional de Assistência Farmacêutica, criada na Resolução n° 338, de 8/5/2004, define


assistência como “Conjunto de ações desenvolvidas pelo farmacêutico e outros profissionais de saúde,
voltadas à promoção, à proteção e à recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o
medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional”. A abrangência da
assistência farmacêutica engloba:

• pesquisa, desenvolvimento e produção de medicamentos e insumos;

• seleção, programação, aquisição, distribuição e dispensação dos medicamentos;

• garantia da qualidade dos produtos e serviços;

• acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados


concretos e da melhoria da qualidade de vida da população;

• todas as ações referentes à assistência farmacêutica.

Além disso, a Assistência Farmacêutica (AF) tem que se concretizar como uma prática executiva, e não
apenas como suporte à atenção à saúde, nem de mera dispensação e disponibilização de medicamentos
dentro da atenção à saúde; deve ser melhor compreendida entre os profissionais de saúde e usuários
24
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

para que possa contribuir mais na integralidade da atenção à saúde; não pode ser vista apenas como
orientação ao paciente ou ao farmacêutico do medicamento.

Para atingir a integralidade da atenção à saúde, temos de atuar desde o início da cadeia, mantendo
o foco na população a partir da atenção básica até o planejamento das ações de acompanhamento do
usuário, para a melhoria na qualidade de vida.

A AF tem de ter por objetivos o monitoramento, a adesão do paciente ao tratamento, a integração


multidisciplinar, a integração com a gestão e a garantia da qualidade dos serviços prestados à população;
a orientação quanto ao uso adequado do medicamento, o acompanhamento farmacoterapêutico, a
intervenção farmacêutica como ações que compõem a assistência farmacêutica, que garantem a sua
qualidade e contribuem para a integralidade do cuidado à saúde. Para isso, é necessária a presença
do farmacêutico nas UBS´s (Unidade Básica de Saúde) e o fortalecimento da gestão da assistência
farmacêutica.

A AF tem de ser entendida como parte do eixo fundamental das políticas públicas de saúde,
proporcionando aos usuários um atendimento integral de qualidade que culmine com a maior valorização
do profissional farmacêutico; que o acesso aos medicamentos seja uma prática constante, fortalecendo
a política de AF; que a inserção do farmacêutico na atenção básica seja de um profissional com uma
visão humanizada integrativa, exercendo a prática de educação em saúde; reconhecer o farmacêutico
como profissional de saúde, com foco no usuário, utilizando o uso racional de medicamentos com
instrumento de trabalho, tendo por resultado desse trabalho o reestabelecimento da saúde e a prevenção
e/ou controle da doença, a fim de fazer uma melhoria nos indicadores de saúde. Deve também estar
inserida nas políticas de atenção primária à saúde, com ações que envolvem todo o ciclo de AF, ou seja,
da programação à dispensação dos medicamentos, e também de todos os ciclos de vida do paciente,
garantindo qualidade e equidade de acesso aos medicamentos essenciais e também a prevenção da
doença e a promoção da saúde por meio de campanhas educativas e da integração com a comunidade,
como apoio do diagnóstico nos exames laboratoriais. A humanização da AF deve se contrapor à
burocratização hoje existente, garantindo acesso com qualidade.

Os principais problemas encontrados na gestão de assistência farmacêutica incluem:

• os gastos com saúde aparecem em 3º lugar dentre os gastos familiares, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo que o item medicamento compromete 45% dos
gastos com saúde;

• os medicamentos representam 61% desses gastos para as famílias de baixa renda (Fiocruz);

• 51,7% das pessoas que necessitam de tratamento têm dificuldades para obter os medicamentos
(Conass);

• cerca de 55% delas não podem pagar os medicamentos de que necessitam (IBGE).

25
Unidade I

Observação

A assistência farmacêutica pode ser entendida como um conjunto de


ações desenvolvidas pelo farmacêutico, voltadas à promoção, à proteção e
à recuperação da saúde.

3.3 Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

Desde a criação do SUS em 1988, diversas políticas indicam a necessidade de disseminar e


racionalizar a utilização de práticas integrativas e complementares de saúde no SUS, como, por
exemplo, a acupuntura, a homeopatia, assim como o uso de plantas medicinais e de fitoterápicos.

Vale ressaltar que o Brasil é um dos países com maior biodiversidade do planeta. Além disso, a
miscigenação do povo resultou em um valioso conhecimento popular em relação à utilização de
plantas medicinais.

Um medicamento fitoterápico pode ser definido como medicamento que contenha


exclusivamente derivados de drogas vegetais, tais como suco, cera, exsudato, óleo, extrato, tintura,
entre outros. Já medicamento com planta medicinal, envolve realmente o vegetal como um todo
no exercício curativo e/ou profilático.

Os fitoterápicos são medicamentos industrializados e têm legislação específica. Trata-se


de uma mistura complexa de substâncias, em que, na maioria dos casos, o princípio ativo é
desconhecido. O simples fato de coletar, secar e estabilizar um vegetal não o torna medicamento
fitoterápico. Desse modo, vegetais íntegros, rasurados, triturados ou pulverizados não são
considerados medicamentos fitoterápicos, em outras palavras, uma planta medicinal não é
um fitoterápico.

Embora de difícil consenso, um fitoterápico pode ser definido como um medicamento (obtido
pela tecnologia farmacêutica e industrializado) de origem vegetal (fitomedicamento), caracterizado
por apresentar várias substâncias químicas (fitoquímicos) responsáveis pelos efeitos terapêuticos
e colaterais.

Em 2006, o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos,


por meio do Decreto n° 5.813, de 22/6/2006, como uma diretriz para a atuação do governo na
área de plantas medicinais e de fitoterápicos por meio do SUS. Essa política configura-se como
importante estratégia para o enfrentamento das desigualdades regionais existentes em nosso país,
já que pode aumentar as oportunidades de trabalho para populações situadas em regiões menos
favorecidas economicamente.

Além disso, a ampliação das opções terapêuticas ofertadas aos usuários do SUS, com garantia
de acesso a plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia, com segurança,

26
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção à saúde, é uma importante


estratégia com vistas à melhoria da atenção à saúde da população e à inclusão social.

A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos reitera o artigo n° 196 da Constituição


Federal, que assegura que a saúde é direito de todos os cidadãos brasileiros e dever do Estado,
mediante políticas sociais e econômicas que possam reduzir os riscos de doenças e outros agravos.

Em decorrência da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos criada em 2006,


o governo instituiu as Farmácias Vivas, que são implantadas pelos municípios. Esta é uma
forma de economizar recursos que seriam gastos com medicamentos convencionais. As hortas
geralmente são mantidas pelo município, por universidades ou outras instituições e cultivam as
plantas medicinais; depois, produzem os fitoterápicos. Isso já é realidade em diversos municípios
brasileiros.

Para o funcionamento adequado das Farmácias Vivas, deve haver o trabalho conjunto
do médico (responsável pelo diagnóstico e pela orientação do tratamento com plantas), do
farmacêutico (responsável pela identificação das plantas e pela orientação do trabalho desde a
etapa de coleta até a etapa final de preparação e controle de qualidade dos fitoterápicos) e do
agrônomo (para orientar seu cultivo, controle do crescimento e higidez das plantas e preparação
das mudas).

Saiba mais

Para saber mais sobre as políticas descritas, acesse o site do Conselho


Regional de Farmácia: <www.crfsp.or.br>.

4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

A estrutura organizacional deve ser delineada de acordo com os objetivos e as estratégias estabelecidos
pela empresa. É uma ferramenta básica para alcançar as situações almejadas pela empresa.

Organização da empresa é a ordenação e o agrupamento de atividades


e recursos, visando ao alcance de objetivos e resultados estabelecidos
(OLIVEIRA, 2002, p. 84).

Estrutura organizacional é a forma pela qual as atividades de uma organização


são divididas, organizadas e coordenadas (STONER, 1992, p. 230).

Toda empresa possui dois tipos de estrutura: formal e informal. A formal é deliberadamente planejada
e formalmente representada, em alguns aspectos, pelo seu organograma. Tem como objetivos: ênfase
a posições em termos de autoridades e responsabilidades, é estável, está sujeita a controle, está na
estrutura e tem um líder formal.
27
Unidade I

Já a estrutura informal, surge da interação social das pessoas, o que significa que se desenvolve
espontaneamente quando elas se reúnem. Representa relações que usualmente não aparecem no
organograma. São relacionamentos não documentados e não reconhecidos oficialmente entre os
membros de uma organização, que surgem inevitavelmente em decorrência das necessidades pessoais
e grupais dos empregados.

Para elaboração da estrutura organizacional, é necessário ter em mente que a organização é o conjunto
ordenado de responsabilidades, autoridades, comunicações e decisões das unidades organizacionais de
uma empresa.

A organização de uma empresa deve seguir alguns parâmetros, como não ser estática, ser representada
graficamente pelo organograma, ser dinâmica, ser planejada e delineada de forma a alcançar os objetivos
institucionais.

O planejamento deve estar voltado para os seguintes objetivos: identificar as tarefas físicas e mentais
que precisam ser desempenhadas, agrupar as tarefas em funções que possam ser bem desempenhadas
e atribuir sua responsabilidade a pessoas ou grupos, proporcionar aos empregados de todos os níveis
informação e recursos para o trabalho.

O sistema de responsabilidade está relacionado à prestação de contas a quem atribuiu responsabilidade.


O sistema de autoridade é responsável por fazer, tomar decisões, dar ordens e dirigir. Os aspectos básicos
do sistema de responsabilidade são: departamentalização, linha e assessoria, atribuições das unidades.

4.1 Organograma

O organograma é uma espécie de diagrama usado para representar as relações hierárquicas


dentro de uma empresa, ou simplesmente a distribuição dos setores, unidades funcionais, cargos
e a comunicação entre eles. É uma ferramenta fundamental para as organizações, pois, além
de facilitar a todos conhecer como funcionam as relações da empresa e sua estrutura, permite,
inclusive, identificar alguns problemas ou oportunidades de melhorias, por meio de sua análise.

Na criação de um organograma, deve-se levar em consideração que ele é uma representação


da organização em determinado momento e pode, portanto, mudar. Para isso, ele deve ser flexível
e de fácil interpretação. Quando o organograma é bem estruturado, permite aos componentes
da organização saber exatamente quais suas responsabilidades, suas funções e a quem devem se
reportar.

Os principais tipos de organograma são:

• organograma vertical (clássico) – é usado para representar claramente a hierarquia na empresa;

• organograma circular (ou radial) – é usado quando se quer ressaltar o trabalho em grupo, não há a
preocupação em representar a hierarquia. É o mais usado em instituições modernas ou do terceiro
setor, em que se quer ressaltar a importância do trabalho em grupo;
28
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

• organograma horizontal – leva em consideração a hierarquia da empresa, mas tem a característica


amenizada pelo fato de essa relação ser representada horizontalmente, ou seja, o cargo mais
baixo na hierarquia não está numa posição abaixo dos outros, mas ao lado;

• organograma funcional – é parecido com o organograma vertical, mas representa não as relações
hierárquicas, e sim as relações funcionais da organização;

• organograma matricial – é empregado para representar a estrutura das organizações que não
apresentam uma definição clara das unidades funcionais, mas grupos de trabalho por projetos
que podem ser temporários (estrutura informal).

Como exposto, a própria criação do organograma exige um estudo da organização e a definição


do que se pretende representar. Nos últimos anos, tem-se notado uma tendência de mudança nos
organogramas das empresas, que é o achatamento do organograma.

Essa técnica promove a redução dos níveis hierárquicos da empresa, com o objetivo de aproximar os
níveis da organização, reduzir mão de obra e custos e agilizar processos decisórios. Em outras palavras,
reduz a verticalização da estrutura organizacional.

Lembrete

Organização da empresa é a ordenação e o agrupamento de atividades


e recursos, visando ao alcance de objetivos e resultados estabelecidos.

4.2 Fluxograma

Fluxograma é um diagrama que tem como finalidade representar processos ou fluxos de materiais
e operações (diagramação lógica ou de fluxo). Usualmente é confundido com o organograma, mas
possui a diferença de representar algo essencialmente dinâmico, já o organograma é uma representação
da estrutura funcional da organização. O fluxograma também pode ser usado por programadores para
elaboração de algoritmos (programação estruturada); porém, nesse caso, possui algumas representações
próprias.

Ele sempre possui um início, um sentido de leitura, ou fluxo, e um fim. Alguns símbolos básicos
são usados na construção de qualquer fluxograma; porém, eles podem variar. Veja a seguir algumas
definições básicas:

• Geralmente, usa-se um círculo alongado para indicar o início e o fim do fluxo.


• A seta é usada para indicar o sentido do fluxo.
• No retângulo, são inseridas as ações.
• O losango representa questões/alternativas.
29
Unidade I

• O losango sempre terá várias saídas.


• As linhas ou setas nunca devem cruzar umas sobre as outras.
• O texto deve ser sempre claro e sucinto.
• Recomenda-se iniciar as ações sempre com um verbo no infinitivo (fazer, dizer).

O importante é estabelecer o fluxograma de forma que ele fique o mais claro possível, ou seja, fácil
identificar as ações que devem ser executadas, ou, dependendo do tipo de fluxograma, as alternativas do
processo. Outros símbolos e modelos podem ser usados para montar fluxogramas, o que vai determinar
quais símbolos utilizar ou não, ou, ainda, que tipo de fluxograma se deve usar, seu objetivo e o que
descreve.

Exemplo de fluxograma:

Patologia (prevenção ou tratamento)

Alternativa de conduta

Riscos Benefícios Custos

Figura 5 – Fluxograma

Observação

O organograma é um diagrama usado para representar as relações


hierárquicas, a distribuição dos setores, as unidades funcionais, os cargos
dentro de uma empresa.

4.3 Layout

O layout é um esboço que mostra a distribuição física, os tamanhos e os pesos de elementos como
texto, gráficos ou figuras num determinado espaço. Pode ser apenas formas rabiscadas numa folha
para depois realizar o projeto ou o projeto em fase de desenvolvimento. Ou seja, trata-se de uma prévia
do serviço pronto antes de ser executado, em que se pode alterar sua disponibilidade sem danos a
nenhuma das partes envolvidas no processo (designer e cliente), a fim de que o serviço seja produzido de
acordo com o gosto do cliente, e apenas ao término do desenvolvimento e da obtenção de aprovação
se leva a público.

30
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

O termo layout pode também configurar-se como projeto, envolvendo diferentes cadeias associativas
e técnicas visuais, sempre com objetivo e função.

Saiba mais

Para aprender a fazer um organograma, acesse: <http://www.abnt.org.br>.

Resumo

A economia da saúde é o ramo da ciência que relaciona cuidados da


saúde com os custos envolvidos. Tem como objetivos conhecer e aperfeiçoar
o fluxo e o volume dos recursos utilizados no segmento saúde, a fim de
atender às necessidades populacionais de forma mais racional e eficiente.
A economia da saúde busca responder a algumas perguntas, como:

• Qual é a origem e o volume de recursos?

• Como esses recursos são organizados e mobilizados?

• Como se distribuem (regiões, áreas, serviços)?

• Quem se beneficia com os recursos distribuídos?

• Quem provê os serviços?

No Brasil, o sistema de saúde é único e possui algumas diretrizes, como


a universalização, que consiste em atendimento gratuito a toda população,
a equidade, que estabelece tratamento igual e indiferenciado a todos os
cidadãos, e a integralidade, que prima por ter o usuário do sistema como
ser integrado a outras áreas, como saneamento básico e educação.

É sabido que os custos com os sistemas de saúde crescem de forma


exponencial. Assim, os órgãos públicos e privados de saúde buscam
alternativas que viabilizem um sistema de saúde que possa atender
com qualidade e eficiência. Nesse contexto, a área farmacêutica é de
fundamental importância, pois os custos com medicamentos e correlatos
farmacêuticos representam a maior fatia.

Dessa forma, o governo criou três políticas públicas para a área


farmacêutica: a Política Nacional de Medicamentos, a Política Nacional

31
Unidade I

de Assistência Farmacêutica e a Política Nacional de Plantas Medicinais e


Fitoterápicos. A Política Nacional de Medicamentos tem como diretrizes:

• adoção do Rename;
• regulamentação sanitária dos medicamentos;
• reorientação da assistência farmacêutica;
• promoção do uso racional de medicamentos;
• desenvolvimento científico e tecnológico;
• promoção da produção de medicamentos;
• garantia da segurança, da eficácia e da qualidade dos medicamentos;
• desenvolvimento e capacitação de recursos humanos.

As demais políticas estabelecem parâmetros para atuação e inserção


do profissional farmacêutico como agente de saúde ou incentivam o
desenvolvimento científico e farmacológico da área de plantas medicinais
e fitoterápicos.

O mercado farmacêutico brasileiro é um dos maiores do mundo e


apresentou crescimento consistente na última década. Isso torna o setor
muito pujante, movimentando anualmente por volta de R$ 40 bilhões.

O setor farmacêutico é muito dependente da inovação, pois os


lançamentos de medicamentos são aguardados pelo mercado todo ano.
Esses medicamentos novos movimentam a partir do faturamento das
empresas. Assim sendo, a indústria farmacêutica é dependente da geração
e do respeito legal das patentes.

Por se tratar de um mercado com poucas indústrias e muito concentrado,


os preços dos medicamentos não são estabelecidos diretamente pela empresa
ou pelo comércio, e sim em parceria com o governo federal. Esse tipo de
precificação ocorre no mundo todo, exatamente pelos motivos apresentados.
A seguir, os tipos de indústrias e comércios da área farmacêutica:

• indústria farmacêutica inovadora;


• indústria farmoquímica;
• farmácia de manipulação;
• farmácia hospitalar;

32
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

• farmácia fitoterápica;
• drogaria.

Para facilitar a organização das empresas e dos estabelecimentos


comerciais, foram criadas ferramentas eficazes, como o organograma,
o fluxograma e o layout. O organograma serve para mostrar de forma
sucinta vários aspectos da organização empresarial, como a hierarquia, os
projetos e as informações. Já o fluxograma, serve para sintetizar de forma
contínua uma informação ou projeto, e os layouts servem para mostrar a
apresentação logística de um local ou site.

Exercícios

Questão 1. Uma análise mais apurada sobre os custos com saúde certamente encontrará motivos
que justifiquem seu crescente aumento. Dentre as afirmações a seguir, qual é incorreta?

A) Os custos vêm crescendo porque a população está mais velha.


B) Os custos vêm crescendo porque há novas tecnologias para o setor da saúde.
C) Os custos vêm crescendo porque a inflação também vem aumentando.
D) Os custos vêm crescendo porque há novos e melhores métodos para diagnosticar doenças.
E) Os custos vêm crescendo porque o número de doenças vem aumentando rapidamente.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das alternativas:

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a população mais envelhecida necessita de mais serviços de saúde, o que acaba
aumentando os custos de forma geral.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o setor de saúde apresenta constantes modernizações e a inserção de constantes


tecnologias, o que leva ao aumento dos custos.

C) Alternativa incorreta.

33
Unidade I

Justificativa: principalmente em países como o Brasil, a inflação, embora controlada, é relativamente


alta, o que acaba gerando em alguns anos aumento dos custos com saúde.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: o diagnóstico de doenças envolve sofisticados equipamentos, o que encarece o sistema


como um todo.

E) Alternativa correta.

Justificativa: embora algumas patologias novas tenham sido esclarecidas, o número de doenças
permanece constante.

Questão 2. A assistência farmacêutica é a atribuição profissional do farmacêutico. Dentre as


afirmações a seguir, qual é a que melhor se encaixa na definição que consta na Política Nacional de
Assistência Farmacêutica?

A) Provisão responsável pelo tratamento farmacológico, com o propósito de alcançar resultados


concretos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes.
B) Conjunto de ações voltadas para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde, tendo o
medicamento como enfoque.
C) É um problema de saúde, relacionado ou suspeito de estar relacionado à farmacoterapia, que
interfere ou pode interferir nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário.
D) Prática profissional desconectada das políticas de saúde e de medicamentos, com priorização das
atividades administrativas em detrimento da orientação sobre o uso de medicamentos.
E) Nenhuma das alternativas anteriores.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas:

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: essa definição consta nas atribuições da atenção farmacêutica, diferente de assistência
farmacêutica.

B) Alternativa correta.

Justificativa: definição que consta na Política Nacional de Assistência Farmacêutica e que atinge os
propósitos do SUS e de profissional de saúde.

34
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a definição refere-se aos problemas relacionados aos medicamentos (RAM), que devem
ser mais bem avaliados na atenção farmacêutica e na farmacoterapia.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: toda prática farmacêutica desconectada das políticas públicas de saúde deve ser
descartada.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: pelo fato de a alternativa B ser a correta, invalida essa alternativa como correta.

35
Unidade II

Unidade II
5 FARMACOECONOMIA

A farmacoeconomia é um conceito que surgiu na década de 1990. Trata-se do estudo que avalia
o comportamento de indivíduos, empresas e mercados com relação ao uso de produtos, serviços e
programas farmacêuticos, e frequentemente enfoca os custos e as consequências dessa utilização.

Para entender melhor esse conceito, é necessário estabelecer uma quantificação monetária de todos
os recursos consumidos durante o curso de uma doença. Esses custos podem ser divididos em custo
direto e custo indireto.

Os custos diretos incluem: medicamentos e materiais utilizados, salários e honorários pagos aos
profissionais da área, exames laboratoriais e diárias de internação. Já no custo indireto incidem: perdas
de ganhos motivadas pelos eventos relacionados à patologia e/ou seu tratamento. As consequências
da boa utilização da farmacoeconomia podem ser quantificadas de acordo com o número de curas
obtidas, anos de vida ganhos, melhorias dos parâmetros clínicos e, principalmente, na qualidade de vida
do paciente.

O conceito de farmacoeconomia não é o estudo de utilização de medicamentos, ou uma ferramenta


de gerenciamento de estoques, ou uma ferramenta de incremento de lucro às custas da saúde, ou
exclusivamente uma ferramenta de marketing, ou viável apenas em situações de igual efetividade.
Farmacoeconomia é uma ferramenta de apoio à decisão em saúde que busca um balanço ético e justo
entre custos e consequências.

A seguir, um fluxograma representativo de definição de farmacoeconomia:


Custo
Preço
Efeitos colaterais
Melhor
Eficácia Opção
Tratamento
Qualidade de vida

Figura 6

5.1 Métodos em farmacoeconomia

5.1.1 Análise de custo x benefício

Quando se aplica na farmacoeconomia o conceito de custo x benefício, faz-se uma comparação


entre resultados financeiros proporcionados por cada alternativa de tratamento. Deve-se considerar
36
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

a despesa com saúde como sendo investimento com rentabilidade financeira. Essa análise pode ser
aplicada quando houver questões éticas na escolha da conduta de um tratamento.

Por exemplo: uma empresa com 1.000 funcionários é convidada a fazer uma ampla campanha de
vacinação contra gripe. O custo de cada vacina é de R$ 10,00, com cobertura de um (1) ano e eficácia de
50%. Os diretores devem concordar com a campanha? Para tanto, considerar que cada falta ao trabalho
motivada pela gripe tem custo diário de 1 dia/homem/ano de R$ 30,00/trabalhador e tem dispêndio
anual: R$ 30.000,00.

Levando em consideração que a eficácia da vacinação é de 50% na prevenção da gripe, então o


absenteísmo será reduzido para 0,5 dia/homem/ano. O custo anual para com os trabalhadores que
faltam por motivo de gripe passou a ser de R$ 15.000,00. Porém, o custo para fazer a vacinação dos
trabalhadores é de R$ 10.000,00; tendo, portanto, um custo total entre trabalhadores vacinados que
ainda faltam e custo da vacinação de R$ 25.000,00. Sendo assim, temos:

Custo da opção “não vacinar” de R$ 30.000,00.

Custo da opção “vacinar” de R$ 25.000,00.

Razão custo/benefício de R$ 5.000,00.

Nesse caso, após a avaliação farmacoeconômica de custo x benefício, vale a pena vacinar os
trabalhadores com a gripe.

Lembrete

Farmacoeconomia é uma ferramenta de apoio à decisão em saúde que


busca um balanço ético e justo entre custos e consequências.

5.1.2 Análise de minimização de custos

A análise de minimização de custos compreende uma comparação entre alternativas de tratamento


com perfis equiparáveis de efetividade (real ou presumida). Além disso, requer uma compreensão melhor
dos custos de tratamento e não considera opções clínicas e preferências individuais.

Por exemplo: para o tratamento de um paciente que esteja internado em hospital, deve-se escolher
entre dois antibióticos da classe das quinolonas, a Qui/A, caixa com 16 comprimidos e custo de R$ 16,00,
e a Qui/B, caixa com 30 comprimidos e custo de R$ 34,50.

Para fazer essa escolha, é necessário avaliar o custo de cada comprimido. No caso da Qui/A, o custo
fica sendo de R$ 16,00/16 comprimidos = R$1,00/comprimido e, no caso da Qui/B, o custa fica sendo
de R$ 34,50/30 comprimidos = 1,15/comprimido; devendo-se, então, optar pela Qui/A. Porém, antes da
escolha, deve-se analisar a posologia das medicações. Por exemplo, se no tratamento com a Qui/A forem
37
Unidade II

necessários 3 comprimidos ao dia e no tratamento com a Qui/B, 2 comprimidos ao dia, será necessário
multiplicar o custo de cada comprimido pelo número de comprimidos a ser utilizado por dia. Nesse caso,
o tratamento com a Qui/A custaria R$ 1,00 x 3 = R$ 3,00/dia, e o tratamento com a Qui/B, R$ 1,15 x 2 =
R$ 2,30/dia. Dessa forma, deveria ser a opção de tratamento a Qui/B; contudo, ainda antes de finalizar
o estudo e a compra da medicação, deve-se analisar o tempo de tratamento que deverá ter o paciente.
Por exemplo:

Qui/A – tempo até a cura, sendo de 7 dias x R$ 3,00 = R$ 21,00.

Qui/B – tempo até cura, sendo de 10 dias x R$ 2,30 = R$ 23,00.

Finalmente, nesse caso, após a análise de todas as variáveis de um tratamento com antibióticos,
chega-se à conclusão de que a melhor opção de tratamento, quando se faz a análise de minimização de
custo, é o tratamento com a Qui/B.

Observação

A análise de minimização de custos compreende uma comparação


entre alternativas de tratamento com perfis equiparáveis de efetividade.

5.1.3 Análise de custo x efetividade

Essa análise farmacoeconômica consiste em uma avaliação comparativa entre os custos de um


tratamento e os resultados clínicos, humanísticos e quantitativos obtidos com a utilização destas
diferentes opções de tratamentos. Vale ressaltar que neste caso as despesas e custos com a saúde devem
ser vistas como investimentos em resultados clínicos.

Por exemplo: para a terapêutica vitalícia da hipertensão arterial, há dois medicamentos para escolha
do paciente a HAS/X e HAS/Y, com os seguintes custos diários de tratamento:

HAS/X: R$ 1,50/dia com efetividade de redução de 10 mmHg.

HAS/Y: R$ 1,85/dia com efetividade de redução de 20 mmHg.

A qual medicação deve ser dada a preferência de prescrição?

Para se chegar a uma conclusão utilizando a análise de custo x efetividade deve-se estabelecer qual
o parâmetro clínico será observado. Como trata-se do tratamento da hipertensão, o parâmetro clínico
analisado deve ser o valor de pressão arterial (em mmHg) que se consegue reduzir com o anti‑hipertensivo.
No caso do medicamento HAS/X, para cada 1 mmHg reduzido da pressão arterial houve um custo de
R$ 0,15 e no caso do medicamento HAS/Y, para cada 1 mmHg de redução da pressão arterial houve um
custo de R$ 0,09. Portanto nesse exemplo de caso e realizando a análise farmacoeconômica de custo x
efetividade deve-se optar pelo tratamento com o medicamento HAS/Y.
38
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

5.1.4 Análise de custo x utilidade

Essa análise é muito utilizada quando se deseja levar em consideração, na escolha de um


tratamento, o subjetivo conceito de qualidade de vida. Para tanto, é necessário definir utilidade, que é a
percepção individual subjetiva que o paciente faz de sua qualidade de vida. Nesse caso, é preciso fazer
a transformação de noções subjetivas em valores quantitativos, conhecido como Quality of Life (QOL).
A análise custo x utilidade é a avaliação comparativa entre custos de um tratamento e anos de vida
ajustados pela qualidade.

Por exemplo, para o tratamento do câncer de cólon, uma nova droga obteve sobrevida de 2,4 anos,
em média, a um custo de R$ 17.500,00. Os pacientes, no entanto, queixam-se de náuseas, vômitos,
alopecia, astenia e outras reações colaterais graves. Sugere-se o uso de uma droga antiemética em
complementação à terapia, mas o custo eleva-se em mais R$ 2.500,00. Há dúvidas quanto ao benefício
obtido em função do custo. Dessa forma, coloca-se o problema de escolha entre o uso ou não de
tratamento adjuvante à quimioterapia no tratamento de câncer de cólon:

Grupo A: com quimioterapia

Anos de vida ganhos = 2,4


Índice QOL = 0,3
Custo = R$ 17.500,00
Custo/QOL = 58.000,00

Grupo B: com quimioterapia e antiemético

Anos de vida ganhos = 2,4


Índice QOL = 0,8
Custo = R$ 20.000,00
Custo/QOL = R$ 25.000,00

De acordo com a avaliação custo x utilidade, deve-se optar pelo tratamento associado com
quimioterapia e antiemético, pois o índice custo/QOL que se obteve foi menor nesse caso.

Assim, deve-se levar em consideração na hora da escolha de um tratamento o seguinte quadro:

Quadro 1

Resultados Custos Menores Custos Iguais Custos Maiores


Piores ? Rejeitar Rejeitar
Iguais Preferencial Livre escolha Rejeitar
Melhores Dominante Preferencial ?

39
Unidade II

A seguir, um exemplo de escolha consciente que leva em consideração todos os aspectos estudados
neste capítulo:

Pneumonias por Bacterium sp. são tratadas atualmente com Velhociclina, com um preço de
R$ 15,00 por ampola. É apresentado o novo antibiótico Novociclina, sugerido para a mesma
indicação da Velhociclina. O propagandista alega que Velhociclina é hepatotóxica, enquanto
Novociclina, além de muito mais eficaz, não gera reações adversas. O preço de uma ampola de
Novociclina é R$ 50,00. Assim, temos:

• Velhociclina – eficaz em 80% dos casos, gera hepatotoxicidade em 5% dos pacientes tratados,
com um custo adicional de diagnóstico e tratamento de R$ 2.750,00 por ocorrência, sendo o
custo total para 10 dias de tratamento (medicamento, materiais, horas de trabalho e outros):
R$ 200,00.

• Novociclina – eficaz em 95% dos caso e desprovida de reações adversas, tem custo total para 10
dias de tratamento (medicamento, materiais, horas de trabalho e outros): R$ 600,00.

• Superciclina – eficaz em 99,9% dos casos, desprovida de reações adversas, apresenta custo
total de tratamento: R$ 2.500,00, falha com óbito: 0,1% dos casos, com um custo adicional
de R$ 500,00. É um antibiótico utilizado em caso de falhas dos anteriores.

Por qual se deve optar – Velhociclina ou Novociclina? Para obter essa resposta, deve-se resolver a
questão utilizando o modelo da árvore de decisões:
cura (95 %)
$ 600

(Novociclina)

$ 3,100
(Superciclina) cura (99 %)

falha (5 %)
$ 3,600
óbto (0,1 %)

Figura 7

40
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

$ 200
cura (80 %) sem hepatoxidade (95 %)

com hepatoxidade (5 %)
$ 2.950
(Velhociclina)
cura (99,9 %)
$ 2.700
sem hepatoxidade (95 %)
óbto (0,1 %)
$ 3.200
falha (20 %) (Superciclina)
cura (99,9 %)
$ 5.450
com hepatoxidade (5 %)
óbto (0,1 %) $ 5.950

Figura 8

Tabela 3

Velhociclina
0,80 x 0,95 x $ 200 = $ 152,00
0,80 x 0,05 x $ 2.950 = $ 118,00
0,20 x 0,95 x 0,999 x $ 2.700 = $ 512,49
0,20 x 0,95 x 0,001 x $ 3.200 = $ 0,61
0,20 x 0,05 x 0,999 x $ 5.450 = $ 54,45
0,20 x 0,05 x 0,001 x $ 5.950 = $ 0,06
TOTAL = $ 837,61
Novociclina
0,95 x $ 600 = $ 570,00
0,05 x 0,999 x $ 3.100 = $ 154,85
0,05 x 0,001 x $ 3.600 = $ 0,18
TOTAL = $ 725,03

Ou seja, deve-se optar pelo tratamento com a Novociclina, que, embora seja mais cara, apresenta no
final um custo menor que a Velhociclina. Assim, pode-se tirar as seguintes conclusões:

• preço não é o mesmo que custo;


• probabilidades afetam resultados;
• nem tudo o que é mais barato tem necessariamente o menor custo;
• nem tudo o que é mais caro é necessariamente a melhor opção;
• farmacoeconomia não é determinante.
41
Unidade II

Finalmente, pode-se afirmar que farmacoeconomia não é:

• estudo de utilização de medicamentos;


• ferramenta de gerenciamento de estoques;
• ferramenta de incremento de lucro às custas da saúde;
• exclusivamente uma ferramenta de marketing;
• viável apenas em situações de igual efetividade.

Farmacoeconomia é: ferramenta de apoio à decisão em saúde que busca um balanço ético e justo
entre custos e consequências.

6 NORMAS INTERNACIONAIS ISO

Os padrões ISO são acordos documentados contendo especificações técnicas e outros critérios
precisos para serem usados constantemente como regras, guias ou definições de características,
para assegurar que materiais, produtos, processos e serviços estejam de acordo com seus propósitos.
Como exemplo, podemos citar que cartões de crédito, telefone e cartões de banco (que se tornaram
comuns) são derivados de uma norma ISO internacional.

A International Organization For Stantandardization (ISO) é um instituto sediado em Genebra, na


Suíça. Trata-se de uma organização não governamental composta de 110 países. A sigla ISO não provém
da abreviatura de International Organization For Stantandardization, mas do grego isos, que significa
igualdade e uniformidade. O certificado ISO não significa excelência, mas a implantação de um sistema
de garantia da qualidade.

A missão da ISO é promover o desenvolvimento da padronização e atividades relacionadas no


mundo, com o objetivo de facilitar a troca ou a comercialização de produtos e serviços e desenvolver
cooperação na esfera intelectual científica tecnológica e econômica. Os resultados do trabalho da ISO
são publicados como normas internacionais.

As normas ISO são produzidas por um consenso mundial, com o intuito de criar um padrão global
de qualidade para produtos e serviços. O conjunto de normas forma um sistema de gestão da qualidade
aplicável a qualquer organização, sem considerar seu tamanho ou se a companhia é pública ou privada.

Sistema de gestão refere-se a tudo o que a organização faz para gerenciar


seus processos ou atividades. Em pequenas organizações, provavelmente
não exista um sistema, apenas uma forma de fazer as coisas, e essa forma
na maioria das vezes não está documentada, mas na cabeça do proprietário
ou do gerente. Quanto maior a organização, e quanto mais pessoas estão
envolvidas, maior a possibilidade de existirem alguns procedimentos,
instruções, formulários ou registros documentados. Eles contribuem para

42
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

assegurar que qualquer pessoa dentro da organização não esteja apenas


fazendo seu trabalho de seu jeito e que exista um mínimo de ordem na forma
como a organização conduz seus negócios, de forma que tempo, dinheiro e
outros recursos sejam utilizados eficientemente. Para ser realmente eficiente
e eficaz, a organização pode gerenciar sua forma de fazer as coisas de forma
sistêmica. Isso garante que nada importante seja esquecido e que todos
estejam conscientes sobre quem é responsável para fazer o que, quando,
como, por que e onde (MELLO, 2002, p. 15).

São normas que consolidaram sua aceitação. Há centenas de milhares de empresas certificadas
nessas normas e, a cada dia que passa, muitas outras são certificadas. Cada país tem um órgão e uma
comissão para tratar dessas normas, dando sua contribuição. No Brasil, além do representante da ISO – a
ABNT, temos o Comitê Brasileiro para a Qualidade, o CB-25, que participa ativamente, contribuindo com
sugestões para a série 9000 da ISO.

Lembrete

Os padrões ISO são acordos contendo especificações técnicas que são


usados constantemente como regras ou definições de características, para
assegurar que produtos, processos e serviços estejam de acordo com os
propósitos.

6.1 ISO 9000 – garantia da qualidade

A expressão ISO 9000 designa um grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de
gestão da qualidade para organizações em geral, qualquer que seja seu tipo ou dimensão.

As normas de série ISO 9000 constituem um dos maiores fenômenos


administrativos do mundo moderno, mais de 300.000 organizações
certificadas no mundo no final do ano 2000. Sua aceitação universal
como modelo para o estabelecimento de sistemas de gestão da qualidade
surpreendeu a todos, demonstrando a carência por um modelo bem
definido e estruturado de gestão empresarial. Apesar da série ISO referir-se à
gestão da qualidade, todos os que a implantaram e utilizaram conseguiram
melhorias significativas em suas empresas, na produtividade, nos custos e
mesmo no clima organizacional, com responsabilidades e tarefas mais bem
definidas e controladas (FERREIRA, 2001, p. 2).

A primeira ISO 9000 surgiu em 1987 e tinha a estrutura idêntica à norma britânica BS 5750,
além de ser também influenciada por outras normas existentes nos Estados Unidos e por normas
de defesa militar (as Military Specifications – MIL SPECS). Subdividia-se em três modelos de
gerenciamento da qualidade, conforme a natureza das atividades da organização:

43
Unidade II

• ISO 9001:1987 – modelo de garantia da qualidade para design, desenvolvimento, produção,


montagem e prestadores de serviço. Aplicava-se a organizações cujas atividades eram voltadas à
criação de produtos.
• ISO 9002:1987 – modelo de garantia da qualidade para produção, montagem e prestação de
serviço. Compreendia essencialmente o mesmo material da anterior, mas sem abranger a criação
de produtos.
• ISO 9003:1987 – modelo de garantia da qualidade para inspeção final e teste. Abrangia apenas a
inspeção final do produto e não se preocupava como o produto era feito.

6.1.1 ISO 9001:1994

Posteriormente, surgiram atualizações das ISO 9000, 9001 e 9002, sendo a primeira atualização
realizada em 1994 sobre a ISO 9001, com a garantia da qualidade como base da certificação. Estabeleceu:

• responsabilidade da direção (trata do papel da alta direção na implementação do sistema da


qualidade);
• sistema da qualidade (descreve a documentação que compõe o sistema da qualidade);
• análise do contrato (trata da relação comercial entre a empresa e seus clientes);
• controle da concepção e do projeto (trata da concepção e do desenvolvimento de produtos para
atender aos clientes);
• controle dos documentos e dados (trata da forma de controlar os documentos do sistema da
qualidade);
• compras (trata da qualificação dos fornecedores de materiais/serviços e do processo de compras);
• produto fornecido pelo cliente (trata da metodologia para assegurar a conformidade dos produtos
fornecidos pelo cliente para incorporar ao produto final);
• rastreabilidade (trata da história desde o início da fabricação do produto ou da prestação do
serviço);
• controle do processo (trata do processo de produção dos produtos da empresa);
• inspecção e ensaios (trata do controle da qualidade que é realizado no produto ou serviço);
• controle de equipamentos de inspeção, medição e ensaio (trata do controle necessário para a
calibração/verificação dos instrumentos que inspecionam, meçam ou ensaiem a conformidade do
produto);
• situação da inspeção e ensaios (trata da identificação da situação da inspeção do produto ou
serviço em todas as etapas da sua produção);
• controle do produto não conforme (trata da metodologia de controle para os produtos fora de
especificação);
44
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

• ação corretiva e preventiva (trata das ações necessárias para as não conformidades identificadas,
de forma a evitar que aconteçam e a sua repetição);
• manuseamento, armazenamento, embalagem, preservação e expedição (trata dos cuidados com
o produto acabado até a sua expedição para o cliente);
• controle dos registos da qualidade (trata da metodologia do controle dos registos da qualidade
para facilitar a sua identificação e recuperação);
• auditorias internas da qualidade (trata da programação das auditorias internas da qualidade);
• formação (trata do levantamento de necessidades de formação e da programação das respectivas
formações);
• serviços pós-venda (trata dos serviços prestados pós-venda);
• técnicas estatísticas (trata da utilização de técnicas estatísticas na empresa).

6.1.2 ISO 9001:2000

Para solucionar as dificuldades da norma anterior, essa norma combinava as normas 9001,
9002 e 9003 em uma única, doravante denominada simplesmente 9001:2000. Os processos
de projeto e desenvolvimento eram requeridos apenas para empresas que, de fato, investiam
na criação de produtos, inovando ao estabelecer o conceito de “controle de processo” antes e
durante o processo.

Essa nova versão exigia ainda o envolvimento da gestão para promover a integração da
qualidade internamente na própria organização, definindo um responsável pelas ações da qualidade.
Adicionalmente, pretendia-se melhorar o gerenciamento de processos por meio de aferições de
desempenho e pela implementação de indicadores para medir a efetividade das ações e atividades
desenvolvidas.

Mas a principal mudança na norma foi a introdução da visão de foco no cliente. Anteriormente,
ele era visto como externo à organização, e doravante passava a ser percebido como integrante do
sistema da organização. A qualidade, desse modo, passava a ser considerada como uma variável de
múltiplas dimensões, definida pelo cliente por suas necessidades e desejos. Além disso, não eram
considerados como clientes apenas os consumidores finais do produto, mas todos os envolvidos na
cadeia de produção.

Observação

A expressão ISO 9000 designa um grupo de normas técnicas que


estabelecem um modelo de gestão da qualidade para organizações em
geral.

45
Unidade II

6.1.3 ISO 9000:2005

Foi a única norma lançada nesse ano, descrevendo os fundamentos de sistemas de gestão da
qualidade que, no Brasil, constituem o objeto da família ABNT NBR ISO 9000, e definindo os termos
a ela relacionados.

É aplicável a organizações que buscam vantagens por meio da implementação de um sistema


de gestão da qualidade; que buscam a confiança nos seus fornecedores de que os requisitos de seus
produtos serão atendidos; a usuários dos produtos; àqueles que têm interesse no entendimento
mútuo da terminologia utilizada na gestão da qualidade (por exemplo: fornecedores, clientes, órgãos
reguladores); àqueles, internos ou externos à organização, que avaliam o sistema de gestão da
qualidade ou o auditam para verificarem a conformidade com os requisitos da ABNT NBR ISO 9001
(por exemplo: auditores, órgãos regulamentadores e organismos de certificação); àqueles, internos
ou externos à organização, que prestam assessoria ou treinamento sobre o sistema de gestão da
qualidade adequado à organização; e a grupos de pessoas que elaboram normas correlatas.

6.1.4 ISO 9001:2008

Essa nova versão foi elaborada para apresentar maior compatibilidade com a família da ISO
14000, e as alterações realizadas trouxeram maior compatibilidade para as suas traduções e,
consequentemente, um melhor entendimento e interpretação de seu texto.

Outra importante alteração nessa versão foi a subcláusula 1.2, que introduz o conceito de
exclusões. Essa cláusula permite que requisitos da norma que não sejam aplicáveis devido a
características da organização ou de seus produtos sejam excluídos, desde que devidamente
justificados. Dessa forma, garante-se o caráter genérico da norma e sua aplicabilidade para
qualquer organização, independentemente do seu tipo, tamanho e categoria de produto.

Lembrete

As ISO 9000 passam periodicamente por atualizações, sendo a última


realizada em 2008 sobre ISO 9001, que tinha a garantia da qualidade como
base da certificação.

6.2 ISO 14000 – meio ambiente

A ideia da ISO 14000 surgiu das discussões de desenvolvimento sustentável, durante a Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992,
conhecida como ECO 92.

A série ISO 14000 reúne normas internacionais que estabelecem regras para que as empresas
possam implantar Sistemas de Gestão Ambiental, com a finalidade de reduzir desperdícios,
quantidade de matéria-prima, de água, de energia e de resíduos usados e obtidos durante o
46
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

processo de produção, tentando dessa forma minimizar os impactos ambientais e estar de acordo
com a legislação ambiental. A ideia central dos sistemas de gestão ambiental é usar menos para
produzir mais e com melhor qualidade.

A ISO 14.000 abrange seis áreas, estudadas nos subcomitês (SC) coordenados pelos institutos de
normatização dos países que os sediam:

• SC.1 – sistemas de gestão ambiental; estudadas pela Inglaterra – BSI. Esse subcomitê desenvolveu
a norma ISO 14001, que estabelece as diretrizes básicas para o desenvolvimento de um sistema
que gerenciasse a questão ambiental dentro da empresa, ou seja, um sistema de gestão ambiental.
É a mais conhecida entre todas as normas da série 14000.

• SC.2 – auditorias ambientais; estudadas pela Holanda – NNI. No que diz respeito à execução de
auditorias ambientais, esse subcomitê desenvolveu três normas: ISO 14010, ISO 14011 e ISO 14012,
em 1996. Em 2001, foi desenvolvida a ISO 14015, que foi revisada em 2003. No ano de 2002,
foi criada a norma ISO 19011, que substituiu a 14010, 11 e 12. As normas citadas estabelecem:
ISO 14010 – os princípios gerais para execução das auditorias; ISO 14011 – os procedimentos
para planejamento e execução de auditorias num sistema de gestão ambiental; ISO 14012 – os
critérios para qualificação de auditores (quem executa as auditorias); ISO 14015 – as avaliações
ambientais de localidades e organizações; ISO 19011 – guias sobre auditorias da qualidade e do
meio ambiente.

• SC.3 – rótulos ambientais e Selos Verdes; estudadas pela Austrália - SAA. A rotulagem ambiental é
a garantia de que um determinado produto é adequado ao uso que se propõe e apresenta menor
impacto ambiental em relação aos produtos do concorrente disponíveis no mercado. É conhecida
também pelo nome de Selo Verde, sendo utilizada em vários países, como Japão, Alemanha, Suécia,
Países Baixos e Canadá, mas com formas de abordagens e objetivos que diferem uma das outras.
Para estabelecer as diretrizes para a rotulagem ecológica, esse subcomitê criou várias normas.
São elas: ISO 14020 – estabelece os princípios básicos para os rótulos e as declarações ambientais
(criada em 1998 e revisada em 2002); ISO 14021 – estabelece as autodeclarações ambientais –
Tipo II – autodeclarações ambientais (criada em 1999 e revisada em 2004); ISO 14024 – estabelece
os princípios e procedimentos para o rótulo ambiental Tipo I – programas de Selo Verde (criada
em 1999 e revisada em 2004); ISO TR 14025 – estabelece os princípios e procedimentos para o
rótulo ambiental Tipo III – inclui avaliações de ciclo de vida (criada em 2001). No ano de 2003,
foi iniciada a criação da ISO 14025, relativa ao Selo Verde Tipo III, que poderá ser usada como
empecilho para as exportações dos produtos de países que não estejam adequados e preparados.

• SC.4 – avaliação de desempenho ambiental; estudadas pelos EUA – ANSI. A fim de estabelecer
as diretrizes para um processo de avaliação da performance ambiental de sistemas de gestão
ambiental, esse subcomitê criou as normas ISO 14031 em 1999 (revisada em 2004) e ISO 14032,
também em 1999. As normas estabelecem e fornecem: ISO 14031 – diretrizes para a avaliação do
desempenho (performance) ambiental. Ela inclui ainda exemplos de indicadores ambientais; ISO
14032 – exemplos de avaliação do desempenho ambiental.

47
Unidade II

• SC.5 – análise do ciclo de vida; estudadas pela França – Afnor. A análise do ciclo de vida, ou seja,
durante a existência da empresa, é um processo criado com o intuito de avaliar os impactos ao
meio ambiente e à saúde provocados por um determinado produto, processo, serviço ou outra
atividade econômica. A análise abrange todo o ciclo de vida de um produto/processo/atividade
e aborda, por exemplo, a extração da matéria-prima, o processamento da matéria-prima, a
produção, a distribuição, o uso, o reúso (quando necessário), a manutenção, a reciclagem,
a eliminação (disposição final). Para incentivar entidades oficiais e empresas privadas e
públicas a abordarem os temas ambientais de forma integrada durante toda a sua existência,
esse subcomitê criou diversas normas. São elas: ISO 14040 – estabelece as diretrizes e a estrutura
para a análise do ciclo de vida (criada em 1997); ISO 14041 – estabelece a definição do âmbito
e a análise do inventário do ciclo de vida (criada em 1998); ISO 14042 – estabelece a avaliação
do impacto do ciclo de vida (criada em 2000); ISO 14043 – estabelece a interpretação do ciclo
de vida (criada também em 2000); ISO 14048 – estabelece o formato da apresentação de dados
(criada em 2002); ISO TR 14047 – fornece exemplos para a aplicação da ISO 14042 (criada em
2003); ISO TR 14049 – fornece exemplos para a aplicação da ISO 14041 (criada em 2000). Com
a finalidade de facilitar a aplicação, as normas 14040, 14041, 14042 e 14043 foram reunidas
em apenas dois documentos (14041 e 14044).

• SC.6 – termos e definições; estudadas pela Noruega – NFS. A terminologia utilizada em todas
as normas citadas anteriormente (relativas à gestão ambiental) é definida na norma ISO 14050,
publicada no ano de 1998, criada por esse subcomitê. Foi feita uma revisão dessa norma, conforme:
ISO 14050 - Rev. 1, publicada em 2002 e revisada em 2004.

Os certificados de gestão ambiental da série ISO 14000 atestam a responsabilidade ambiental no


desenvolvimento das atividades de uma organização. Para obtenção e manutenção do certificado
ISO 14000, a organização tem de se submeter a auditorias periódicas, realizadas por uma empresa
certificadora, credenciada e reconhecida pelos organismos nacionais e internacionais. Nas
auditorias, são verificados o cumprimento de requisitos como:

• cumprimento da legislação ambiental;

• diagnóstico atualizado dos aspectos e impactos ambientais de cada atividade;

• procedimentos padrões e planos de ação para eliminar ou diminuir os impactos ambientais sobre
os aspectos ambientais;

• pessoal devidamente treinado e qualificado.

Entretanto, apesar do fato de que as empresas estejam procurando se adequar, a degradação


ao ambiente continua em ritmo crescente. Apenas um número pequeno de empresas busca a
sustentabilidade, e as melhorias conseguidas são pequenas diante da demanda crescente por
produtos e serviços, originadas do desenvolvimento econômico. Segundo o relatório Planeta Vivo,
desenvolvido pela organização WWF em 2002, a humanidade consome cerca de 20% mais recursos
naturais do que a Terra é capaz de repor sozinha.
48
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

No Brasil, a ISO é representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que
participa dos comitês e tem direito a voto na organização. Além disso, a ABNT também trabalha
como certificadora credenciada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (Inmetro), que é o responsável por credenciar as certificadoras brasileiras.

A certificação é voluntária, ou seja, deve ser requerida pela própria empresa, com a vantagem
de que o implante desses padrões ambientais internacionais pode facilitar a entrada de seus
produtos no mercado externo. Após implantar Sistemas de Gestão Ambiental, ligados à
qualidade do ar, da água e do solo, a empresa recebe o certificado e, depois, anualmente,
a certificadora realizará auditorias de acompanhamento para manutenção do certificado.
Se a empresa abandonar algum dos padrões estabelecidos, corre o risco de perder o certificado
ISO 14000. De três em três anos, realizam-se auditorias de renovação, mas os períodos variam de
empresa para empresa. É também dever do Inmetro fiscalizar as certificadoras brasileiras quanto
à realização de seu trabalho.

Observação

A ISO 14000 reúne normas para que as empresas possam implantar


sistemas de gestão ambiental, com a finalidade de reduzir desperdícios,
matéria-prima, água, energia e resíduos usados na produção.

6.3 ISO 26000 – responsabilidade social

O reconhecimento pelas empresas de que é necessário realizar mudanças na gestão dos negócios
representa um grande avanço. O desenvolvimento da norma ISO 26000, além de ser uma clara evidência
desse reconhecimento, contribui para superar as dificuldades nos setores resistentes ao entendimento
de que a responsabilidade social trata do conjunto das atividades da organização, e não apenas da
participação das empresas na solução de problemas sociais das comunidades.

A publicação da norma ISO 26000 é uma grande conquista para o movimento de responsabilidade
social, mas também lança um grande desafio aos atores envolvidos: a implementação, de fato, de suas
orientações.

A ISO 26000 é inovadora em muitos sentidos, tanto no seu formato quanto no seu conteúdo. A norma
foi desenvolvida com intenção de contribuir para consolidar o entendimento sobre responsabilidade
social, melhorando a relação entre as práticas locais e globais, ampliando a responsabilidade pela cadeia
produtiva e o engajamento. É importante destacar que a norma reforça a visão da responsabilidade
social como uma contribuição para o desenvolvimento sustentável da sociedade.

Foram estabelecidos sete princípios da responsabilidade social:

• Responsabilização: ato de responsabilizar-se pelas consequências de suas ações e decisões,


respondendo pelos seus impactos na sociedade, na economia e no meio ambiente, prestando
49
Unidade II

contas aos órgãos de governança e demais partes interessadas, declarando seus erros e as medidas
cabíveis para remediá-los.

• Transparência: fornecer às partes interessadas, de forma acessível, clara, compreensível e em


prazos adequados, todas as informações sobre os fatos que possam afetá-las.

• Comportamento ético: agir de modo aceito como correto pela sociedade, com base nos valores
da honestidade, da equidade e da integridade, perante as pessoas e a natureza, e de forma
consistente com as normas internacionais de comportamento.

• Respeito aos interesses das partes interessadas (stakeholders): ouvir, considerar e responder aos
interesses das pessoas ou grupos que tenham interesse nas atividades da organização ou por ela
possam ser afetados.

• Respeito ao Estado de Direito: o ponto de partida mínimo da responsabilidade social é cumprir


integralmente as leis do local onde está operando.

• Respeito às Normas Internacionais de Comportamento: adotar prescrições de tratados e acordos


internacionais favoráveis à responsabilidade social, mesmo que não haja obrigação legal.

• Direito humanos: reconhecer a importância e a universalidade dos direitos humanos, cuidando


para que as atividades da organização não os agridam direta ou indiretamente, zelando pelo
ambiente econômico, social e natural que requerem.

Observação

É importante destacar que a norma reforça a visão da responsabilidade


social como uma contribuição para o desenvolvimento sustentável da
sociedade.

6.4 Saúde e segurança do trabalhador

A certificação pela ISO 14000 exige das empresas fornecedoras de produtos e serviços processos
de produção e fornecimento mais específicos, isto é, além dos requisitos anteriores, demanda-se
para a implantação da ISO 14000 um maior conhecimento tecnológico para o desenvolvimento e
controle de processos de produção não poluidores.

Isso tem impacto direto nas relações comerciais num mundo globalizado (fenômeno financeiro
com consequências nos sistemas de produção) e dinâmico, em que se procura constantemente
superar as expectativas dos clientes.

Por outro lado, a conformação estrutural produzida pela forma como se propagou o progresso
técnico no plano internacional fez surgir o subdesenvolvimento, o imposto aos países da “periferia”
pelos países ricos e gerado pela lógica dos mercados.
50
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Tais normas de sistema de gestão passaram a ser usadas como obstáculo à comercialização
de produtos e serviços nos grandes blocos econômicos, fundamentadas em especificações
puramente técnicas.

O que, diga-se de passagem, contradiz as regras estabelecidas em consenso internacional


pelos 134 países membros da ISO: as normas de gestão não devem ser compulsórias.
Atualmente, estamos no estágio de maturação das normas de gestão de sistemas que tendem
a convergir para o mesmo ponto, considerando todos os anteriores. São as normas de Gestão
de Sistema de Saúde e Segurança Ocupacional (SGSSO).

Embora não exista uma ISO específica que trate da saúde e segurança no trabalho, já são
empregados modelos como a BS8800 (norma britânica), a AS 8000 (responsabilidade social) e a
OSHA 18001 (americana) em diversas organizações em nível mundial. Os países membros da ISO
votaram contra a formação de um comitê técnico para saúde e segurança no trabalho em meados
dos anos 1990.

A gestão em saúde e segurança do trabalho, embora não seja discutida no âmbito internacional
pelo comitê técnico da ISO, é tratada em outros fóruns internacionais promovidos pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

No âmbito regional, alguns países já se utilizam de normas consensuadas para certificação de


empresas em SGSSO. Essa antecipação, provavelmente, deve-se ao fato das crescentes fusões e
acordos, trades, entre empresas que necessitam conhecer de fato a realidade econômica de seus
parceiros. Muitas possuem um passivo trabalhista que, quando contabilizado, pode superar
seus próprios valores.

Muitas organizações estão implementando um SGSSO como parte de sua estratégia de gestão
de riscos para lidar com mudanças na legislação e proteger seus colaboradores. Um SGSSO
promove um ambiente de trabalho seguro e saudável por meio de uma estrutura que permite à
sua organização identificar e controlar consistentemente seus riscos à saúde e segurança, reduzir
o potencial de acidentes, auxiliar na conformidade legislativa e melhorar o desempenho geral.

A OHSAS 18001 é uma especificação de auditoria internacionalmente reconhecida para sistemas


de gestão de saúde ocupacional e segurança. Foi desenvolvida por um conjunto de organismos
comerciais líderes, organismos internacionais de normas e certificação com foco em uma lacuna
para a qual não existe uma norma internacional certificável por organismos certificadores. E com
compatibilidade com a ISO 9001 e a ISO 14001, para ajudar a sua organização a cumprir com suas
obrigações de saúde e segurança de modo eficiente.

As áreas-chave a seguir são enfocadas pela OHSAS 18001:

• planejamento da identificação de perigos, avaliação de riscos e controle dos riscos;


• estrutura e responsabilidade;
• treinamento, conscientização e competência;
51
Unidade II

• consulta e comunicação;
• controle operacional;
• prontidão e resposta a emergências;
• medição de desempenho, monitoramento e melhoria.

A OHSAS 18001 pode ser adotada por qualquer organização que deseja implementar um procedimento
formal para redução dos riscos associados com saúde e segurança no ambiente de trabalho para os
colaboradores, os clientes e o público em geral.

Saiba mais

Mais informações podem ser obtidas no Inmetro, na ABNT e na


ISO. Algumas certificadoras: Sebrae, ABNT, Fundação Carlos Alberto
Vanzolini.

7 CONTABILIDADE

A contabilidade é uma metodologia concebida para captar, registrar, resumir e interpretar os


fenômenos que afetam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas de pessoas físicas, empresas,
entidades com finalidade não lucrativa e pessoa de direito público (Estado, União, Município, Autarquia
etc).

O desenvolvimento do método contábil está associado ao capitalismo, que necessita estabelecer


mecanismos para mensurar os acrésccimos ou decréscimos dos investimentos iniciais alocados em
alguma atividade industrial ou comercial. A contabilidade é um instrumento que auxilia a administração
nas tomadas de decisões.

A quem interessa conhecer a situação contábil de um negócio?

• Sócios, acionistas e proprietários de quotas societárias – estão interessados na rentabilidade e na


segurança de seus investimentos. Não estão na direção da empresa e precisam de informações
resumidas para continuar investindo.

• Administradores, diretores e executivos – têm interesse mais profundo, pois são os responsáveis
pelas tomadas de decisões.

• Bancos, capitalistas, emprestadores de dinheiro – também estão interessados na rentabilidade e


na segurança de seus investimentos. A diferença está nas razões sentimentais, profissionais e no
pioneirismo em seus investimentos, por exemplo, pequenas e médias empresas.

52
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

• Governo e economistas governamentais – o interesse está centrado na arrecadação de impostos,


taxas e contribuições, por exemplo, imposto de renda das empresas que é taxado a partir de seus
balanços.

• Fornecedores – cujo interesse é conhecer a capacidade pagadora de seus clientes.

• Sindicatos – têm interesse em conhecer a produtividade do setor para influenciar nos reajustes
dos salários.

• Pessoas físicas – com interesse em controlar seus patrimônios individuais e orçamentos domésticos.

A contabilidade, segundo alguns autores, pode se dividir em:

• Contabilidade gerencial – mais analítica, inclui a contabilidade de custos, que visa primordialmente
à administração da empresa.

• Contabilidade financeira – os relatórios finais básicos são os balanços patrimoniais, demonstrativos


de resultados do exercício, retorno sobre o investimento, demonstração de origens e aplicações de
recursos (necessário mais diretamente aos agentes econômicos externos à empresa, assim como
aos sócios desligados da direção).

7.1 Balanço Patrimonial

O Balanço Patrimonial ou Estatística Patrimonial é uma das mais importantes informações contábeis,
é por meio dela que se pode apurar (testar) a situação patrimonial financeira de uma empresa em um
dado momento. É como se fosse uma fotografia financeira da empresa, sendo que nesse demonstrativo
estão claramente evidenciados os direitos e deveres de uma empresa. Para melhor entender esse balanço,
é necessário conhecer algumas definições:

• Ativos – compreende os bens e direitos expressos em moeda, como caixas e bancos que
possuem disponibilidades financeiras imediatas; estoque, terrenos, veículos e materiais que
são bens da empresa; títulos a receber, que são quantias que os clientes devem à empresa,
operações de crédito (vendas a prazo ou empréstimo de dinheiro). A relação do ativo deve
sempre ser colocada dos ativos mais líquidos (mais facilmente trocados por dinheiro) para
os menos líquidos.

• Passivos – compreendem os títulos e as obrigações (deveres) da empresa, por exemplo:


títulos a pagar, contas a pagar, fornecedores, salários a pagar, impostos a pagar, hipotecas a
pagar etc. As obrigações a pagar são basicamente os empréstimos bancários a curto e longo
prazo. A relação do passivo no Balanço Patrimonial deve ser colocada em ordem crescente
do prazo de vencimento.

• Exemplo de versão simplificada:

53
Unidade II

Tabela 4 - Alfenas S.A.

Balanço Patrimonial em 31/7/2012 em R$ mil

Ativos (direitos) Passivo e Patrimônio Líquido (deveres)


Caixa 1.000,00 Passivo
Bancos 200,00 Títulos a pagar 3.500,00
Títulos a receber 3.000,00 Obrigações a pagar 1.800,00
Estoque 1.000,00 Total 5.300,00
Terceiros 700,00 Patrimônio Líquido
Veículos 500,00 Capital 4.000,00
Materiais 3.000,00 Lucros 700,00
Total 10.000,00 Total 4.700,00
Total final 10.000,00

Patrimônio Líquido é definido como sendo a diferença entre o valor do ativo e do passivo de uma
empresa em determinado momento. Por exemplo:

Se uma empresa tem:

ATIVO ------------------------------------------------ 10.000,00


PASSIVO ---------------------------------------------- 5.300,00
O PATRIMÔNIO LÍQUIDO SERÁ --------------------------4.700,00

As fontes geradoras do Patrimônio Líquido são os investimentos efetuados pelos proprietários em


troca de ações ou lucros acumulados na entidade como fonte (adicional) de financiamento.

Quadro 2

Resumindo Balanço Patrimonial

Ativo (direitos) Passivo (deveres) V


L Obrigações que a empresa tem e
i com terceiros n
q c
u Bens e direitos da empresa Patrimônio Líquido i
i mensuráveis monetariamente que m
d representam benefícios presentes e
e ou futuros Dinheiro da empresa e recursos n
z dos proprietários na empresa t
o

A equação fundamental do patrimônio é:

PATRIMÔNIO LÍQUIDO = ATIVO – PASSIVO

54
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Já que na maioria das empresas o Ativo (bens e direitos) suplanta o Passivo (obrigações), a
representação mais comum do Balanço Patrimonial é:

ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Caso o Passivo supere o Ativo, encontramos:

ATIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO = PASSIVO

Lembrete

A contabilidade é uma metodologia concebida para captar, registrar,


resumir e interpretar os fenômenos que afetam as situações patrimoniais,
financeiras e econômicas de pessoas físicas, empresas, entidades com
finalidade não lucrativa e pessoa de direito público.

7.2 Abertura de empresa

A abertura de uma empresa passa pelos seguintes passos:

• 1ª operação: subscrição do capital social. Exemplo: diversas pessoas resolveram fundar uma
sociedade anônima, denominada Alfenas S.A., com o capital subscrito de R$ 4.000,00 fracionado
em 40 ações de R$ 100,00 cada. A atividade foi iniciada em 15/1/2000, sendo o ramo de prestação
de serviços de reparos (consertos) de aparelhos laboratoriais. Após a subscrição do capital social,
o Balanço Patrimonial tem a forma:

Tabela 5 - Alfenas S.A. Balanço em 15/1/2012

Ativo Passivo

Acionistas Passivo 0

Capital a integralizar 4.000,00 Patrimônio Líquido

Total 4.000,00 Capital subescrito 4.000,00

Total: P + PL 4.000,00

Com essa operação, a empresa adquiriu o Ativo (acionistas/capital) por um direito a receber dos
acionistas. Como o fato não produz o aparecimento de dívidas, o Passivo é igual a zero.

• 2ª operação: integralização em dinheiro pelos acionistas;

• 3ª operação: aquisição de edifício;

55
Unidade II

• 4ª operação: compra de materiais;


• 5ª operação: compra de veículo;
• 6ª operação: venda de parte do edifício;
• 7ª operação: pagamento de obrigação;
• 8ª operação: recebimento de direito.

7.3 Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE)

As variações verificadas no Patrimônio Líquido de um estabelecimento têm como causas principais o


investimento inicial ou aumentos posteriores de investimento ou desinvestimentos de capital.

O Patrimônio Líquido sofre ainda influência do resultado obtido no composto entre contas de receitas
e despesas dentro do período contábil. Para entender melhor como o DRE é feito e como influencia no
Patrimônio Líquido, são necessárias algumas definições:

• Receita: é a entrada de elementos para o Ativo sob a forma de dinheiro ou direitos a receber, por
exemplo: vendas de mercadorias, prestação de serviços, juros sobre depósitos bancários, títulos e
ganhos eventuais. A obtenção de uma receita resulta no aumento do Patrimônio Líquido.

• Despesa: é o consumo de bens ou serviços que direta ou indiretamente deverá produzir uma
receita. Diminuindo um Ativo ou aumentando o Passivo, a despesa é realizada com a finalidade
de obter uma receita cujo valor seja superior à diminuição que a despesa provoca no Patrimônio
Líquido.

Como resultado, temos:

RECEITAS > DESPESAS = LUCRO ---- AUMENTA O PATRIMÔNIO LÍQUIDO

RECEITAS < DESPESAS = PREJUÍZO ---- DIMINUI O PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Os registros de aumentos e diminuições do Patrimônio Líquido obedecem aos aumentos registrados


por créditos e às diminuições registradas por débitos. Sendo assim, a receita aumenta o resultado,
enquanto a despesa o diminui.

Partindo do princípio de que uma empresa opera indefinidamente, o resultado exato só poderá ser
verificado no final da sua vida, após a venda de todo o ativo e o pagamento de suas obrigações, e o do
empreendimento será medido como: Patrimônio Líquido do final da vida – Patrimônio Líquido inicial.

O administrador não pode esperar o fim da vida da empresa para tomar decisões. Assim, a informação
do resultado das várias operações deve ser fornecido a intervalos regulares de tempo, que se chamam de
exercício social e exercício contábil, ou simplesmente exercício.

56
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

A contabilidade registra e resume todas as mudanças no Patrimônio Líquido que ocorrem durante o
perído escolhido e apresenta o resultado obtido. Toda empresa precisa fazer a apuração dos resultados.
O lucro ou prejuízo está na dependência do confronto das contas de receita e despesa, cujo resultado
final fica registrado na conta resultado.

O resultado positivo, que é o lucro, ou negativo, que o prejuízo, será transferido para a conta lucros
ou prejuízos, acumulados no Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial, e destas migrar para outras
contas, dependendo das decisões tomadas pela empresa.

Dessa forma, é necessário montar a demonstração do resultado do exercício, em que aparecerão


detalhadamente as contas de receita e despesa, o lucro e/ou o prejuízo líquido. Nessa demonstração,
devem aparecer:

• nome ou denominação da empresa;


• nome do demonstrativo;
• período coberto.

A demonstração deve ser levantada, no mínimo, uma vez por ano, e tem por finalidades informar
os acionistas e quotistas os resultados obtidos, os bancos que devem conhecer a rentabilidade das
empresas para atender os financiamentos solicitados por elas, além de interessar aos investidores de
ações e aos administradores para medirem sua eficiência, para alterar a política de negócios da empresa.

Outro parâmetro importante são as operações com as mercadorias. O resultado com mercadorias
é a diferença entre o total das receitas obtidas pelas vendas e o custo dessas mercadorias que foram
vendidas.

Resultados com mercadorias = vendas – custo das mercadorias vendidas.

O conhecimento desse resultado é de grande importância para empresas que trabalham com compra
e venda de mercadorias, como é o caso das farmácias e drogarias. De que forma pode-se calcular o custo
das mercadorias que vendemos? Por meio do:

• Inventário periódico – quando efetuamos as vendas sem o controle paralelo e concomitante do


estoque e, portanto, sem controlar o custo das mercadorias vendidas. Para apurar o resultado
obtido, fazemos o levantamento físico do estoque e, pela diferença entre o total das mercadorias
vendidas disponíveis para venda, obtemos o custo da mercadoria vendida (CMV) no período.

CMV = Total de mercadorias disponíveis para venda – Estoque final

CMV = EI + C – EF
e
RCM = V - CMV
57
Unidade II

Onde:
EI: Estoque Inicial;
C: Compras;
EF: Estoque Final
V: Vendas
RCM: Resultado com Mercadorias

• Inventário permanente – nas médias e grandes empresas, adota-se o controle contínuo sobre o
valor do estoque de mercadorias. Consegue-se isso fazendo com que haja a baixa, em cada venda,
do custo da mercadoria vendida.

Vários fatores influenciam os preços de todos os tipos de mercadorias, como, por exemplo,
as variações do índice geral de preços, as variações de mercado e o tabelamento imposto pelo
governo. Assim, durante o período observado, não teremos o mesmo preço. Diante desse fato,
temos um problema para avaliar o inventário e, consequentemente, o estoque final. Então, como
deve ser considerado?

• Pelas últimas compras?

• Pelo valor das primeiras compras?

• Na média das compras no período?

• Na média das compras no último mês?

• No valor corrente dessas mercadorias?

Os critérios aceitos para atribuir os preços aos inventários são:

• Preço específico – quando é possível, deve-se fazer a determinação do preço específico de


cada unidade em estoque, pode-se dar baixa em cada venda, por esse valor. O estoque será
a soma dos custos específicos de cada unidade existente. Por exemplo: em 01/03, existem no
estoque 5 automóveis, adquiridos por R$ 13.000,00 cada. Se em 02/03 comprarmos mais 3
automóveis por R$ 15.000,00 cada e, em 03/03, vendermos 2 automóveis por R$16.000,00
cada, sabendo-se que um pertence ao lote inicial e outro foi adquirido em 02/03. Veja como
fica o CMV e o estoque:

Tabela 6 – Ficha de controle de estoque

Espécie: Automóveis
Data Entrada Saída Saldo
Q Valor un. Total Q Valor un. Total Q Valor un. Total
01/03 5 13.000 65.000

58
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

3 15.000 45.000 5+ 13.000 65.000 +


02/03 3 15.000 45.000
8 110.000
1+ 13.000 13.000 4+ 13.000 52.000 +
03/03 1 15.000 15.000 2 15.000 30.000
2 28.000 6 82.000

• PEPS ou FIFO – Primeiro que entra, Primeiro que sai ou First-in, First-out. As vendas são valorizadas
a partir das primeiras compras e o estoque é valorizado pelas últimas entradas remanescentes.
Por exemplo: em 01/09, compraram-se 10 unidades a R$ 10,00 cada; em 02/09, 10 unidades a R$
15,00 cada; em 03/09, venderam-se 5 unidades; em 04/09, 10 unidades; em 05/09, compraram-se
15 unidades a R$ 18,00 cada e, em 06/09, venderam-se 5 unidades. Como fica a ficha de controle
de estoque?

Tabela 7 – Ficha de controle de estoque

Espécie: Medicamentos – Unidade: caixa


Data Entrada Saída Saldo
Q V. Un. V. total Q V. Un. V. total Q V. Un. V. total
01/09 10 10,00 100,00 -- -- -- 10 10,00 100,00
10 15,00 150,00 -- -- -- 10+ 100 +
10,00
02/09 10 15,00 150

20 250
-- -- -- 5 10,00 50,00 5+ 50 +
10,00
03/09 10 150
15,00
15 200
-- -- -- 5+ 50 + 5 15,00 75,00
10,00
04/09 5 75
15,00
10 125
15 18,00 270,00 -- -- -- 5+ 75 +
15,00
05/09 15 270
18,00
20 345
06/09 -- -- -- 5 15,00 75,00 15 18,00 270,00

• UEPS ou LIFO – Último que entra, Primeiro que sai ou Last-in, First-out. As vendas são
valorizadas a partir das últimas compras e o estoque, pelas entradas remanescentes. Por
exemplo: em 01/09, compraram-se 10 unidades a R$ 10,00 cada, em 02/09, 10 unidades
a R$ 15,00 cada; em 03/09, venderam-se 5 unidades, em 04/09, 10 unidades; em 05/09,
compraram-se 15 unidades a R$ 18,00 cada e, em 06/09, venderam-se 5 unidades. Como
fica a ficha de controle do estoque?

59
Unidade II

Tabela 8 – Ficha de controle de estoque

Espécie: Medicamentos – Unidade: caixa


Data Entrada Saída Saldo
Q V. Un. V. total Q V. Un. V. total Q V. Un. V. total
01/09 10 10,00 100,00 -- -- -- 10 10,00 100,00
10 15,00 150,00 -- -- -- 10+ 100 +
10,00
02/09 10 15,00 150

20 250
-- -- -- 5 10,00 75,00 5+ 50 +
10,00
03/09 10 150
15,00
15 200
-- -- -- 5+ 50 + 5 10,00 50,00
15,00
04/09 5 75
10,00
10 125
15 18,00 270,00 -- -- -- 5+ 50 +
15,00
05/09 15 270
18,00
20 320
5+10 50+180
06/09 -- -- -- 5 18,00 90,00 10/18
15 230

• Preço médio (média ponderada móvel) – para evitar o controle de preços por lotes, como nos
métodos anteriores, e para fugir dos extremos, existe a possibilidade de dar como custo o valor
médio das compras. O valor médio utilizado é do custo do estoque existente e chama-se Média
Ponderada Móvel, pois se altera a cada compra.

• Reposição ou NIFO – Next-in, First-out, o estoque é valorizado pelo preço corrente de mercado, e
as vendas, pelo valor da próxima compra.

A seguir, exemplo de demonstrativo de resultado do exercício de uma empresa:

Tabela 9

Venda bruta ou receita bruta 100.000


(-) Deduções de venda 1.000
Venda líquida ou receita líquida 99.000
(-) CMV
Estoque inicial 8.000
(+) Compras 70.000

60
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Mercadorias disponíveis 78.000


(-) Estoque final 5.000 73.000
Lucro bruto 26.000
(-) Despesas operacionais
(+) Despesas comerciais 8.000
(+) Despesas administrativas 2.000
(+) Despesas de depreciação 200 10.200
Lucro operacional 14.800
(-) Despesas não operacionais 800
Lucro antes do imposto de renda 14.000
(-) Despesas com imposto de renda 400
Lucro líquido ou prejuízo 13.600

A Demonstração do Resultado do Exercício, elaborado simultaneamente com o Balanço Patrimonial,


constitui-se num relatório sucinto das operações realizadas pela empresa durante determinado tempo,
em que se sobressai um dos valores mais importantes às pessoas nela interessadas, o resultado líquido –
lucro ou prejuízo. Ao mostrar como se formou o lucro ou o prejuízo, esclarecem-se muitas das variações
do Patrimônio Líquido no período, entre dois balanços.

Com os dois relatórios: BP e DRE, qualquer pessoa interessada nos negócios da empresa tem
condições de obter informações, fazer análises, estimar variações, tirar conclusões de ordem patrimonial
e econômica da empresa, traçar novos rumos para futuras transações. Para tanto, é só praticar
adequadamente a técnica de análise e interpretação de balanços e outros processos fornecidos pela
contabilidade.

Observação

O Balanço Patrimonial é uma das mais importantes informações


contábeis, é por meio dele que se pode apurar (testar) a situação patrimonial
financeira de uma empresa em um dado momento.

7.4 Análise de demonstrações financeiras

A análise de demonstrações financeiras refere-se sempre ao passado da empresa. Para olhar o


futuro, é necessário projetar os dados frente à expectativa do crescimento do PIB, ao cenário econômico
(estabilidade ou instabilidade), ao cenário político (reformas, privatizações etc). São feitos três tipos de
análise das demonstrações financeiras:

• análise horizontal;

61
Unidade II

• índices financeiros;

• análise vertical.

7.4.1 Análise horizontal

A seguir, exemplo de uma análise de demonstração financeira realizada sobre o DRE de uma empresa.

• Construir o DRE.

Tabela 10

Venda bruta 101.000


(-) Deduções de venda 1.000
= Venda líquida 100.000
(-) Custo da mercadoria vendida 73.000
= Lucro bruto 27.000
(-) Despesas operacionais 10.000
= Lucro operacional 17.000
(-) Despesas não operacionais 1.000
= Lucro antes do IR 16.000
(-) despesas com IR 1.000
= Lucro líquido 15.000

• Considerar a venda líquida = 100% e calcular cada item em % frente à receita líquida.

Tabela 11

1999 AV% 2000 AV% 2001 AV%


Venda bruta 101.000 101 102.000 102 101.000 101
(-) Deduções de venda 1.000 1 2.000 2 1.000 1
= Venda líquida 100.000 100 100.000 100 100.000 100
(-) Custo da mercadoria vendida 69.000 69 70.000 70 73.000 73
= Lucro bruto 31.000 31 30.000 30 27.000 27
(-) Despesas operacionais 11.000 11 12.000 12 10.000 10
= Lucro operacional 20.000 20 18.000 18 17.000 17
(-) Despesas não operacionais 1.000 1 1.000 1 1.000 1
= Lucro antes do IR 19.000 19 17.000 17 16.000 16
(-) Despesas com IR 1.000 1 1.000 1 1.000 1
= Lucro líquido 18.000 18 16.000 16 15.000 15

62
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

• Agora, pode-se tirar os dados da tabela e construir um gráfico capaz de mostrar a tendência da
empresa.

%
80
Custo da mercadoria
70 vendida
60
50
40
30
20
10 Lucro líquido

1999 2000 2001 Ano

Figura 9 – Tendência da empresa

7.4.2 Índices financeiros

Os principais índices financeiros utilizados pelas empresas ou comércio são:

• Margem bruta – mede quantos reais estão entrando e quantos estão sendo gastos para produzir.
Mede a eficiência da produção, do comércio ou do serviço.

MARGEM BRUTA = LUCRO BRUTO X 100


RECEITA LÍQUIDA

• Margem operacional – mede a eficiência operacional da produção, do comércio ou do serviço.

MARGEM OPERACIONAL = LUCRO OPERACIONAL X 100


RECEITA LÍQUIDA

• Margem líquida – mede a eficiência global da empresa.

MARGEM LÍQUIDA = LUCRO LÍQUIDO X 100


RECEITA LÍQUIDA

63
Unidade II

7.4.3 Análise vertical

A seguir, um exemplo de análise vertical utilizada sobre o Balanço Patrimonial:

• Construir o Balanço Patrimonial.

Tabela 12

Ativo Análise % Passivo Análise %


Cx. banco 20 20/360 x 100 5,55 Salários 15 15/360 x 100 4,16
Dupl. Receber 30 30/360x 100 8,33 Fornecedor 30 30/360 x 100 8,33
Estoques 40 40/360 x 100 11,1 Impostos 5 5/360 x 100 1,38
Realiz. longo prazo 50 50/360 x 100 13,8 Empréstimo 5 5/360 x 100 1,38
Exigível longo
Investimento 100 100/360 x 100 27,7 5 5/360 x 100 1,38
prazo
Imobiliário 100 100/360 x 100 Patrimônio Líquido
250/360 x
Diferido 20 20/360 x 100 5,55 Capital 250 69,4
100
Ativo Total 360 100 Lucros acum. 50 50/360 x 100 13,8
P + PL 360 100

AC – Ativo Circulante; AI – Ativo Imobilizado; e AP – Ativo Permanente.

• Considerar o ativo total = 100% e calcular cada item em % frente à receita líquida.

7.5 Índices de balanço

São índices de liquidez utilizados para aliar a capacidade que a empresa tem de honrar (pagar) seus
compromissos. Os principais são:

• Índice de liquidez corrente – é utilizado para avaliar a capacidade de pagamento de uma empresa
no curto prazo.

ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE = ATIVO CIRCULANTE


PASSIVO CIRCULANTE

Por exemplo, se tomarmos o caso do Balanço Patrimonial do item anterior, temos AC = 90 e PC =


55; então, o índice de liquidez corrente é de 1,63. Isso significa que vai entrar R$ 1,63 para cada R$ 1,00
que tem de pagar. Se o resultado for >1, significa situação confortável e, se for <1, indica situação difícil.
Há um problema nessa análise, pois não há avaliação da qualidade dos ativos circulantes da empresa, e
também não dá ideia do sincronismo entre pagamentos e recebimentos.

• Índice de Liquidez Seca (ILS) e Índice de Liquidez Imediata (ILI) – medem a liquidez da empresa
quando essa tem seus estoques obsoletos e tem que honrar compromissos. Também avaliam a
liquidez quando a empresa para de operar por qualquer motivo.
64
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECA = ATIVO CIRCULANTE – ESTOQUES


PASSIVO CIRCULANTE

ÍNDICE DE LIQUIDEZ IMEDIATA = DISPONÍVEL (CAIXA + BANCOS)


PASSIVO CIRCULANTE

• Índice de liquidez dias a receber – mede em dias (na média) quanto tempo vai levar para receber
o valor das duplicatas em % que vai receber no período considerado.

ÍNDICE DE LIQUIDEZ DIAS A RECEBER (MÉDIA) = DUPLICATAS A RECEBER X 100


VENDA LÍQUIDA

• Coeficiente de imobilização – mede quanto dos recursos próprios da empresa (Patrimônio Líquido)
estão aplicados em ativos permanentes. O quanto foi imobilizado dos recursos da própria empresa.

COEFICIENTE DE IMOBILIZAÇÃO = ATIVO PERMANENTE


PATRIMÔNIO LÍQUIDO

• Endividamento Geral – mede o quanto de recursos de terceiros faz parte do total de recursos de
uma empresa.

ENDIVIDAMENTO = PASSIVO CIRC. + EXIGÍVEL LONGO PRAZO

• Outros índices – alguns indicadores importantes utilizados na análise de demonstração financeira


são: giro dos estoques, prazo médio de renovação de estoques, prazo médio de recebimento, prazo
médio de pagamento de contas, retorno sobre o investimento, giro do ativo e retorno sobre o
Patrimônio Líquido.

GIRO DOS ESTOQUES = CMV


ESTOQUES

PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES = ESTOQUES X 12


CMV

PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO = DUPLICATAS A RECEBER


RECEITA LÍQUIDA

PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE CONTAS = FORNECEDOR A PAGAR X 360


COMPRAS

RETORNO SOBRE O INVESTIMENTO = LUCRO LÍQUIDO ANUAL


ATIVOS TOTAIS

65
Unidade II

GIRO DO ATIVO = VENDAS LÍQUIDAS


ATIVO TOTAL

RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO = LUCRO LÍQUIDO


PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Lembrete

A informação do resultado das várias operações deve ser fornecida a


intervalos regulares de tempo, chamados de exercício social e exercício
contábil, ou simplesmente exercício.

7.6 Retorno sobre o investimento

O ponto de equilíbrio entre a receita total e o custo total é o primeiro passo a ser alcançado quando
nasce uma empresa. Quanto mais cedo for atingido, mais rapidamente o lucro aparece. A definição de
ponto de equilíbrio é quando existe equilíbrio entre receita total e custo total com lucro zero. Assim,
pode-se considerar:

Receita total = custo total e lucro = 0

Considerar ainda:

• Receita total = Quantidade x Preço (QP)

• Custo total = Custo fixo (CF) x Custo variável (Cv)

• Custo variável total = Custo variável/unidade x Quantidade (CvuQ)

Substituindo, temos:

QP = CF + CvuQ

Tabela 13

CV
Receita QP CF Q L
CVuQ
0 30 0 0 -30
10 30 5 1 -25
20 30 10 2 -20
50 30 25 5 -5
60 30 30 6 0

66
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Ainda se pode construir um gráfico com os valores obtidos na tabela:


R$

P = Ponto de equilíbrio

Custo
total

C.F.
Custo Receita
Fixo
Área de
prejuízo

Q
Qeq

Figura 10

Sendo Qeq = quantidade no ponto de equilíbrio.

Já no caso do retorno sobre o investimento (RSI), utiliza-se a seguinte fórmula para seu cálculo:

RSI = LUCRO LÍQUIDO ANUAL


CX + BCOS + DUPL. A RECEBER + ESTOQUES

Nas empresas varejistas (farmácias e drogarias), o caixa, o banco e as duplicatas a receber não são
relevantes quando comparados com o estoque; então, pode-se escrever a fórmula a seguir:

RSI = LUCRO LÍQUIDO ANUAL


ESTOQUES

Se multiplicar a fórmula por vendas anuais, tem-se:

RSI = LUCRO LÍQUIDO ANUAL X VENDAS ANUAIS


ESTOQUES VENDAS ANUAIS

Fazendo um rearranjo:

RSI = VENDAS ANUAIS X LUCRO LÍQUIDO ANUAL


ESTOQUES VENDAS ANUAIS

GIRO = VENDAS ANUAIS LUCRATIVIDADE = LLA


ESTOQUES VENDAS ANUAIS

RSI = GIRO X LUCRATIVIDADE

67
Unidade II

Assim, conclui-se que, para aumentar o RSI, é necessário:

• aumentar o giro dos estoques, diminuindo o tamanho (em valores) desses;


• aumentar a lucratividade, trabalhando com o lucro líquido anual, por meio da diminuição do
custo da mercadoria vendida e das despesas, principalmente as operacionais e financeiras.

Alguns conselhos para ter um bom retorno sobre o investimento são:

• produto não pode ficar parado na prateleira;


• o segredo do comércio é comprar bem;
• quem compra bem pode vender por um preço mais baixo; portanto, vende mais e o produto não
fica parado;
• nunca depender de banco (diminuindo as despesas financeiras e operacionais);
• controlar sempre, com muito rigor, os itens mais importantes na farmácia/drogaria;
• produto na prateleira é dinheiro parado.

7.7 Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP)

A produção é o principal setor de uma indústria, pois todos os produtos que serão vendidos pela
empresa provêm do seu sistema de produção.

O PPCP pode ser entendido como um sistema de informação da empresa que orienta suas decisões,
fazendo com que atinja objetivos de produção. A produção deve ser muito planejada e controlada para:

• minimizar atrasos e não atendimentos de ordens de produção;


• minimizar a falta de materiais quando necessários à produção;
• minimizar os investimentos em estoques de matérias-primas, componentes, processos e produtos
acabados;
• maximizar a disponibilidade e a utilização dos equipamentos;
• maximizar a utilização de recursos humanos;
• conseguir uma distribuição equilibrada de carga de trabalho entre os recursos produtivos e uma
flutuação suave dessa carga no tempo;
• minimizar os custos necessários ao atendimento dos níveis de qualidade especificados;
• minimizar os custos operacionais dos sistemas.

68
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Recursos
humanos
Administração
superior
2 1
Processos
3
21 20 19 Produtos
4 18
Manutenção

5
Compras 6
PPCP 17
7 Gestão de
qualidade
8
Estoque
9
16
10
13 14 15
Finanças Vendas
11
12 Produção
Custos

Figura 11 – Fluxo de informações através da unidade de PPCP

1- informações sobre mercado de mão de obra e salários; 2- informações sobre previsão de utilização;
3- informações sobre capacidade produtiva e roteiros de produção; 4- programação de paradas;
5‑ informações sobre necessidades; 6- informações sobre encomendas; 7- informações sobre reservas e
fabricação; 8- informações sobre disponibilidades; 9- previsão sobre utilização de recursos financeiros;
10- disponibilidade de recursos financeiros; 11- informações sobre custos para o plano e o programa;
12- planos e programas de produção; 13- informações sobre execução; 14- informações sobre
atendimento; 15- informações sobre demanda; 16- planos de inspeção e especificações de qualidade;
17- informações sobre linha de produtos; 18- previsão de necessidades de recursos; 19- informações
sobre cumprimento de objetivos e metas; 20- objetivos e políticas.

8 MARKETING FARMACÊUTICO

O marketing farmacêutico é uma ferramenta essencial ao sucesso profissional, mas muitas vezes
mal-interpretada. Para melhor entendimento, fica mais fácil definir o que não é marketing: não é
publicidade, não é vendas, não é enganar o cliente e não é vender algo a qualquer preço.

O mercado farmacêutico é muito particular, pois existem resoluções que normatizam a informação,
a Anvisa, e a população passou a ter mais acesso à informação sobre os medicamentos. A biotecnologia
presente nos produtos força que a informação seja embasada em dados seguros e confiáveis, e os
médicos e outros profissionais da área representam um público altamente especializado, além de haver
áreas muito próprias que auxiliam ou dificultam o marketing farmacêutico, como a farmacovigilância,
a farmacoeconomia e a pesquisa clínica.

A seguir, quadro com as principais tendências do mercado farmacêutico:


69
Unidade II

Quadro 3
• Forte processo de internalização:

Globalização - áreas de livre comércio intensificando comércio exterior;


- especialização crescente das plantas locais nas redes mundiais das multinacionais;
- grande concentração da produção em poucos países.
Concentração da • Forte concentração do mercado mundial entre as principais empresas, através de
indústria fusões e aquisições.
• pressão por eficiência e eficácia;
• outsourcing de pesquisa e desenvolvimento para empresas especialiazadas;
Importância da pesquisa
e desenvolvimento • transferência para países com condições favoráveis;
• expiração iminente de patentes de vários medicamentos;
• tendência de customização para doenças específicas.
• Canibalização:
- substituição de originais por genéricos;
-substituição de farmacêuticos por fitoterápicos.
Substituição
por genéricos e • Favorecimento dos genéricos através de regulamentação:
fitoterápicos
- flexibilização de quebra de patentes para países sem capacidade de produção;
- acesso a medicamentos de baixo preço.
• Commoditização dos remédios devido principalmente aos genéricos.

O mercado farmacêutico e as indústrias farmacêuticas apresentam muitos fatores limitantes para se


desenvolver, como os ilustrados nas figuras a seguir:

Distribuição de
medicamentos pelo
governo não atingem toda
a população

40% medicamentos 15% consomem


com prescrição
Limitantes 50% medicamentos
médica

Genéricos não
atenderam Baixo crescimento
população debaixa economia
renda

Câmbio alto Controle de preços


Taxas altas
o Brasil possui o preço dos remédios
as altas taxas de Genéricos
poucos produtores é controlado pelo
juros aumentam a entrada de
de fármacos e, Governo, impedindo
consideravelmente as genéricos aumentou
consequentemente, as empresas de
despesas financeiras a pressão por baixos
grande parte da repassarem o
da indústria, que é de preços no mercado
matéria prima é aumento de custos de
capital intensivo
importada matéria-prima

achatemento das margens de


lucro da indústria

Figura 12

70
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

8.1 Conhecendo os principais clientes

8.1.1 Pacientes

É sabido que a expectativa de vida das pessoas tem aumentado e que o conceito de sustentabilidade
e qualidade de vida vem cada vez mais sendo valorizado, e isso não é diferente para os pacientes que
estão inseridos no mercado farmacêutico.

Além disso, essas pessoas têm necessidade de maiores informações, de produtos, de serviços e
conhecem seus direitos, consequentemente são mais exigentes, dispõem de menos tempo e usam
mais a internet. Isso implica busca de menores preços, serviços mais valorizados e tratamentos mais
personalizados. Para trabalhar com esse tipo de cliente, é necessário:

• site informativo;
• palestras;
• descontos em farmácias;
• prestação de serviços = ligação médico + paciente com folhetos informativos/cupons;
• serviços voltados à qualidade de vida e a doenças “sociais”;
• serviços direcionados à prevenção.

8.1.2 Médicos

Esses clientes são altamente especializados e possuem um perfil muito particular. De 70 a 85%,
atendem em consultórios; de 75 a 90% dependem dos convênios médicos; e 88% acham os planos
de saúde ruins ou regulares, e ainda 93% disseram que o plano interfere na autonomia médica.
Aproximadamente 68% desses profissionais têm menos de 45 anos, e quase 50% dos jovens médicos
têm em sua família algum parente direto que também é médico.

Pesquisa recente feita com a classe médica revelou que 96% sentem necessidade de se atualizar,
67% foram a algum congresso regional, 68% participaram de eventos nacionais, 72% de eventos
internacionais realizados no Brasil, e apenas 25% foram a eventos internacionais no exterior. Já sobre a
condição de trabalho dos médicos, pesquisa similar revelou que 76% têm até três atividades, 24% com
quatro ou mais atividades e 50% trabalham em plantões, sendo 60% deles com menos de 40 anos.

8.2 Conhecendo o cliente de farmácias e drogarias

A seguir, serão apresentadas, em forma de gráficos e tabelas, uma série de pesquisas realizadas com
clientes que compram em farmácias e drogarias:

• Qual sexo compra mais em farmácias e drogarias?

71
Unidade II

66% 34%
Mulheres Homens

Figura 13

• De onde vêm os clientes para comprar em farmácias e drogarias?


72%

Total redes 40,1 31,2 11,9 8,0 8,8

Drogasil 42,1 25,1 16,6 7,6 8,6

Outras redes 39,1 34,3 9,5 8,2 8,9

Indep. 45,1 34,7 5,5 6,8 7,9

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Residência Trabalho Lojas/mercado/banco Hospital / médico Outros

Figura 14

Vale ressaltar que 72% dos clientes de redes têm como origem a residência ou o trabalho, e esse
percentual sobe para 80% quando analisados clientes que compram em redes independentes. Não é
verdade o mito de que as pessoas saem do consultório médico e vão direto às farmácias e drogarias.

• Com qual frequência vão às compras?

Tabela 14

Total Redes Drogão Outras Redes Independentes


Todos os dias 0,7 1,0 0,5 1,5
4 a 5 vezes por semana 0,4 0,5 0,4 2,1
2 a 3 vezes por semana 4,4 6,0 3,6 12,4
Uma vez por semana 17,6 18,7 17 20,9
2 a 3 vezes ao mês 36,9 35,2 37,8 25,2

72
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

Uma vez por mês 33,1 32,2 33,6 28,6


Uma vez a cada 2 ou 3
meses 6 5,5 6,3 6,5

Uma vez a cada 4 ou 5


meses 0,2 0 0,4 1

Uma vez a cada 6 meses 0,7 0,9 0,4 1,8

Vale ressaltar que 93% dos consumidores compram uma vez por mês e 23% dos clientes, uma vez
por semana.

• Qual a razão por optar por determinada farmácia ou drogaria?

Maior desconto = 14%


Preço
21% Perto de casa = 22%
Perto do trabalho = 25%
Localização
48%

Serviços
31%
Confiança e conhecimento dos balconistas = 20%

Figura 15

• Quanto tempo é gasto dentro da loja?


100,0
13,9 10,7 10,4
23,6
9,0 10,8
80,0 10,2
6,7

60,0 41,9 Mais 8 min


42,1 45,2 7 a 8 min
38,3
77% 5 a 6 min
76% 80%
40,0
3 a 4 min
19,2 0 a 2 min
16,3 14,9 15,0
20,0
17,5 19,2 16,7 16,4
0,0
Total Redes Drogão Outras redes Independentes

Figura 16

Nesse caso, 73% dos clientes das redes ficam apenas 6 minutos dentro da loja, esse percentual é
parecido com o observado nas lojas independentes.
73
Unidade II

• Quanto tempo em média os clientes ficam no caixa?

Tabela 15

Total Redes Drogão Outras redes Independentes


Menos de 1 minuto - - - 4,6
1 a 2 minutos 61,2 54,6 64,4 70,5
3 a 4 minutos 34,1 34,4 34 19,6
5 a 6 minutos 3,4 7,5 1,4 3,0
Mais de 7 minutos 1,3 3,5 0,2 2,3

O tempo médio gasto no caixa para 95% dos consumidores de farmácias e drogarias de rede é de
até 4 minutos. Nas lojas independentes, 5% dos consumidores ficam menos de um minuto e outros 5%
mais de 5 minutos.

• Faz os pagamentos das compras utilizando cartão fidelidade ou cartão desconto?


70,0%

60,0%
54,4%
50,0% 48,3% 45,3%
40,0%

30,0%

20,0% 14,7%
10,0%

0,0%
Total Redes Drogão Outras redes Independentes

Figura 17

O uso do cartão desconto/fidelidade atinge 48,3% dos clientes de farmácias e drogarias de redes.

• População que compra em farmácias e drogarias de acordo com renda e classe social:

74
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0,0%
Total São Paulo Drogão Drogasil Indep.

A B C D

Figura 18

Pode-se notar que as classes A e B representam aproximadamente 60% dos consumidores totais, nas
farmácias e drogarias independentes existe um equilíbrio entre os consumidores das classes A e B e C e
D, com 50% para cada.

• Fazem perguntas no momento do atendimento?

Indep. 52

Drogão 40

Drogasil 53

Drogaria SP 41

Total 48

0 10 20 30 40 50 60

Total Drogaria SP Drogasil Drogão Indep.

Figura 19

Lembrete

Setenta e dois por cento dos clientes de redes têm como origem a
residência ou o trabalho, assim não é verdade que as pessoas saem do
consultório médico e vão direto às farmácias.

75
Unidade II

De posse dessas informações, é possível extrair as principais tendências do setor:

• ter franquias ou realizar associativismo;


• oferecimento de novos serviços para aumentar a fidelização;
• vendas on-line e delivery;
• treinamento intenso dos funcionários;
• atenção farmacêutica;
• ter sistema de atendimento ao consumidor (SAC) ativo e passivo;
• preocupação cada vez maior com o ambiente da farmácia e com o local de atendimento;
• cuidado maior com a margem da empresa;
• encarar o paciente como cliente, mas com bom senso;
• informação ganha força estratégica fundamental;
• como devem funcionar as farmácias e drogarias do futuro?;
• farmácia com integração de dados e possibilidade de reposição automática de produtos;
• Layout voltado para o autosserviço;
• gestão financeira eficiente;
• estar associada a uma marca forte (redes, franquias ou associativismo);
• não ser dependente da venda de produtos similares;
• comunicação e permanente diálogo com o paciente.

8.3 Ações de fidelização

8.3.1 Cartão fidelidade

As premissas básicas do cartão fidelidade são: fortalecer a marca, não ter discriminação de clientes no
título, por exemplo: cartão gold, master ou silver, ter um banco de dados bem gerenciado e estruturado
para fornecer as informações necessárias nos momentos de decisão, ter um programa de premiação
consistente e atualizado dentro das necessidades do cliente.

Tais necessidades devem ser levantadas por meio de pesquisas de satisfação. O cartão pode
apresentar outros serviços que agreguem valor, como, por exemplo, ser cartão de crédito e ter acesso
ao extrato.

Os resultados obtidos com esse tipo de cartão foram avaliados por diversos institutos de pesquisa e
revelaram:

76
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

• o gasto médio com utilização do cartão foi de 55% acima da média de mercado (média mercado
SP = R$ 23,09 – fonte: Abrafarma);
• a frequência de utilização do cartão ficou 20% melhor que a média de mercado (média de mercado
SP = uma compra a cada 21 dias – fonte: pesquisa Sensus);
• a recência foi 20% melhor que a média de mercado (média de mercado SP = última compra há 21
dias – fonte: pesquisa Sensus).

Saiba mais
Para maiores informações, acesse o site <http://www.sebrae.com.br>

8.3.2 Layout

O layout é uma espécie de planta interna com as disposições de todos os equipamentos e móveis
do estabelecimento. No caso de farmácias e drogarias, esse layout pode ser explorado no sentido de
melhorar a logística e aumentar as vendas.

Sendo assim, deve ter 80% do seu planejamento voltado para o auto-atendimento; para tanto,
podem-se seguir algumas regras:

• balcão: curtos = atendimento-ajuda e transparentes para evitar produtos de venda livre;


• gôndolas: 30 a 35% do centro são as mais visíveis e devem ter no centro até 1,60 m, e nas
extremidades até 1,80 m;
• check out: promoções de produtos de menor valor = compra impulso;
• renovar sempre os displays promocionais;
• balança: preferível no centro da farmácia.

Observação
Noventa e três por cento dos consumidores de farmácias e drogarias
costumam comprar uma vez por mês, e 23% dos clientes, uma vez por semana.

Resumo
Nesta unidade, foram apresentados aspectos da gestão na área
farmacêutica. Uma das principais ferramentas utilizadas na gestão
farmacêutica é a farmacoeconomia.

77
Unidade II

Esse ramo farmacêutico tem por objetivo estudar o comportamento de


indivíduos, empresas e mercados com relação ao uso de produtos, serviços
e programas farmacêuticos, que, frequentemente, enfocam os custos e as
consequências dessa utilização. Vários métodos são utilizados na aplicação
da farmacoeconomia:

• custo x benefício – faz uma comparação do custo por cada alternativa


de tratamento;

• análise de minimização de custo – utiliza a comparação entre custos


e perfis equiparáveis de tratamento;

• custo x efetividade – avalia os custos com os resultados clínicos


quantificáveis obtidos;

• custo x utilidade – compara os custos do tratamento com a qualidade


de vida que é obtida.

Uma ferramenta fundamental para os meios de produção é a garantia


da qualidade do produto ou serviço. Assim, a International Organization
For Stantandardization encarregou-se de emitir um certificado conhecido
como ISO, que é um sistema de garantia da qualidade.

A missão da ISO é promover o desenvolvimento da padronização e das


atividades relacionadas no mundo, com o objetivo de facilitar a troca ou
comercialização de produtos e serviços e desenvolver cooperação na esfera
intelectual científica, tecnológica e econômica.

Os resultados do trabalho da ISO são publicados como normas


internacionais. As normas ISO são produzidas por um consenso mundial,
com o intuito de criar um padrão global de qualidade para produtos e
serviços. O conjunto de normas forma um sistema de gestão da qualidade
aplicável a qualquer organização, sem considerar seu tamanho ou se a
companhia é pública ou privada. Existem três tipos de ISO:

• ISO 9000 – responsável pela certificação da garantia da qualidade de


produtos e serviços;

• ISO 14000 – responsável pela certificação ambiental;

• ISO 26000 – responsável pela certificação de responsabilidade social.

Embora não exista uma certificação ISO que garanta a gestão de


sistema de saúde e segurança ocupacional – SGSSO, diversas empresas
78
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

e prestadores de serviços já começaram a se organizar e implantar um


sistema que garanta a saúde do trabalhador. Atualmente essas empresas
seguem as normas do OHSAS 18001.

Também foram apresentadas ao aluno a definição de contabilidade e as


principais ferramentas contábeis utilizadas por empresas e estabelecimentos
comerciais.

A contabilidade é uma metodologia concebida para captar, registrar,


resumir e interpretar os fenômenos que afetam as situações patrimoniais,
financeiras e econômicas de pessoas físicas, empresas, entidades com
finalidade não lucrativa e pessoa de direito público (Estado, União,
Município, Autarquia etc). Os principais métodos de contabilidade são:

• abertura e constituição de uma empresa;

• Balanço Patrimonial e cálculo do Patrimônio Líquido – possibilitam


ter uma fotografia financeira da empresa;

• Demonstrativo de Resultados do Exercício – possibilita avaliar o fluxo


contábil de uma empresa;

• análises dos demonstrativos financeiros – podem ser do tipo


horizontal, vertical ou índices financeiros;

• retorno sobre o investimento – avalia se o empreendimento está


gerando retorno e de quanto é esse retorno, de acordo com o
investimento inicial feito;

• planejamento, programação e controle da produção – uma ferramenta


fundamental para que uma empresa possa produzir de forma eficiente.

Finalmente, foi apresentado ao aluno outra ferramenta de fundamental


importância para empresas e comércio: o marketing farmacêutico.

O marketing na área farmacêutica é bastante regulado, visto que os


produtos comercializados precisam de orientação especializada (médicos e
farmacêuticos) e possuem controle governamental de preços.

As principais ferramentas utilizadas no marketing são:

• customização – ferramenta que possibilita antever os problemas que


possam surgir, a fim de evitá-los, além de perceber as necessidades
dos clientes e melhorar a comunicação com esses;
79
Unidade II

• personalização – todos os consumidores querem ser tratados de


forma personalizada e exclusiva. De acordo com esse conceito,
busca-se preencher essa necessidade do cliente com produtos e
serviços que possam satisfazê-lo. Uma ferramenta importante na
área farmacêutica para atender a esse quesito é a aplicação da
atenção farmacêutica;

• fidelização – esse conceito é o mais difícil de obter dos clientes,


principalmente na área farmacêutica. Pensando nisso, algumas
estratégias foram desenvolvidas, como, por exemplo, o cartão
fidelidade, que deve promover descontos e outros benefícios.

Nesse contexto, novas tendências surgiram no mercado


farmacêutico e, para se enquadrar, é necessário promover algumas
mudanças na gestão e na disposição (layout) dos estabelecimentos
comerciais.

Exercícios

Questão 1. Utilizando o conceito de custo x efetividade, qual dos medicamentos listados a seguir
para o tratamento da hipertensão você escolheria?

A) Medicamento A, com custo de R$ 1,50/unidade e redução de 10 mmHg.


B) Medicamento B, com custo de R$ 1,90/unidade e redução de 15 mmHg.
C) Medicamento C, com custo de R$ 2,20/unidade e redução de 20 mmHg.
D) Medicamento D, com custo de R$ 2,30/unidade e redução de 25 mmHg.
E) Medicamento E, com custo de R$ 3,00/unidade e redução de 30 mmHg.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas:

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: tem um custo de R$ 0,15/mmHg.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: tem um custo de R$ 0,12/mmHg.

80
ECONOMIA E GESTÃO FARMACÊUTICA

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: tem um custo de R$ 0,11/mmHg.

D) Alternativa correta.

Justificativa: tem um custo de R$ 0,09/mmHg.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: tem um custo de R$ 0,10/mmHg.

Questão 2. De acordo com análise de marketing embasada em pesquisas de opinião, foi possível
obter as tendências dos consumidores para um futuro próximo. Dentre os itens a seguir, qual não deve
fazer parte das farmácias/drogarias nesse futuro?

A) Oferecer o serviço de atenção farmacêutica como forma de personalizar o atendimento.

B) Possuir reposição automática de produtos no estoque e no sistema automatizado.

C) Ser franquia.

D) Promover vendas on-line e delivery.

E) Promover vendas de similares.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das alternativas:

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse serviço é um diferencial na atração de clientes que buscam por personalização do
atendimento.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse sistema permite que o estabelecimento possa trabalhar com um estoque mínimo
e constantemente com um sistema informatizado.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: as lojas franquiadas ou que possuem associativismo podem negociar melhor os preços
de compra das mercadorias.

81
Unidade II

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: as vendas de produtos on-line ou delivery são um diferencial para atração de clientes,
que podem solicitar o produto sem precisar sair de suas residências.

E) Alternativa correta.

Justificativa: os medicamentos similares apresentam baixa qualidade quando comparados a outros


medicamentos, além de terem menor preço.

82
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 3

OMS, Informe sobre la saúde en el mundo, 2000.

Figura 9

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

Figura 10

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

Figura 11

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

Figura 12

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

Figura 13

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

Figura 14

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

Figura 15

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

REFERÊNCIAS

Textuais

FERREIRA, J. J. A. A série ISO 9000:2000. São Paulo: Fundação Vanzolini, 2001.

ITALIANI, F. Marketing farmacêutico – uma análise estratégica. 2. ed. São Paulo: Qualitymark, 2012.

MELLO, C. H. P. et al. ISO 9001:2000. São Paulo: Atlas, 2002.

83
OLIVEIRA, D. P. R. de. Sistemas, organização & métodos: uma abordagem gerencial. 13. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.

SAMUELSON, P. A. Economics. Nova Iorque: Mcgraw Hill, 1976.

STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: PHB, 1992.

PINCHOT III, G. (1985). Intrapreneurship. New York, NY: Harper & Row.

HAYEK, F.A. Individualism and economic order, Chicago, IL, University of Chicago Press, 1948.

KLEIN, P. Opportunity discovery, entrepreneurial action, and economic organization. Strategic


Entrepreneurship Journal 2, n. 3: 175–190, 2008.

KIRZNER, I. Perception, opportunity, and profit: studies in the theory of entrepreneurship. Chicago:
University of Chicago Press, 1979.

Sites

<http://www.ans.gov.br>

<http://www.crfsp.gov.br>

<http://www.anvisa.gov.br>

<http://www.abnt.org.br>

<http://www.inmetro.gov.br>

<http://www.sebrae.com.br>

<http://www.vanzolini.org.br>

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<http://www.imshealth.com>

<http://www.saude.gov.br>

<http://www.who.int>

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88
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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