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à Saúde do Adulto
Autora: Profa. Maria Inês Rosselli Puccia
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo
Profa. Raquel Machado Coutinho
Profa. Romilda Iyakemi Ribeiro
Professora conteudista: Maria Inês Rosselli Puccia
Professora titular do curso de Enfermagem da Universidade Paulista (UNIP), Maria Inês Rosselli Puccia é enfermeira
graduada pela Escola Paulista de Medicina, especialista e mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Púbica
da Universidade de São Paulo e doutora em Ciências pelo Programa Interunidades de Enfermagem, da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP).
Atualmente, é coordenadora da disciplina Políticas de Atenção à Saúde do Adulto, além de docente das disciplinas:
Práticas Gerencias em Saúde Coletiva, Práticas Gerenciais em Saúde Hospitalar, Políticas de Atenção em Saúde da
Mulher, Propedêutica e Processo de Cuidar em Saúde da Mulher, além de orientar estágios supervisionados.
CDU 614
U507.14 – 20
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Talita Lo Ré
Marcilia Brito
Sumário
Políticas de Atenção à Saúde do Adulto
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL.................................................................................................................9
2 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ........................................................................................... 10
2.1 Sistema previdenciário e a assistência médica......................................................................... 10
2.2 Do sanitarismo campanhista à promoção da saúde ............................................................. 15
2.3 Reforma Sanitária e VIII Conferência Nacional de Saúde.................................................... 18
2.4 Sistema Único de Saúde (SUS)........................................................................................................ 19
2.4.1 Princípios do SUS..................................................................................................................................... 20
2.4.2 Participação e controle social no SUS............................................................................................. 21
2.4.3 Normas Operacionais Básicas do SUS (NOB) e Normas Operacionais de
Assistência à Saúde (Noas)............................................................................................................................. 22
2.4.4 Pacto pela Saúde...................................................................................................................................... 23
2.4.5 Decreto n.º 7.508...................................................................................................................................... 26
3 MODELOS TECNO-ASSISTENCIAIS PARA OPERACIONALIZAÇÃO DO SUS................................. 28
3.1 Atenção Primária à Saúde................................................................................................................. 28
3.2 Estratégia de Saúde da Família........................................................................................................ 32
3.3 Núcleos de Apoio à Saúde da Família........................................................................................... 36
4 OS PERFIS DE REPRODUÇÃO SOCIAL E OS PERFIS DE SAÚDE-DOENÇA................................... 37
4.1 Estrutura social e o processo saúde-doença.............................................................................. 37
4.2 Relatório Flexner e o modelo biomédico..................................................................................... 41
4.3 Multicausalidade da doença............................................................................................................. 44
4.4 Determinação social da saúde......................................................................................................... 47
Unidade II
5 PROGRAMAS PÚBLICOS DE CONTROLE DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO
TRANSMISSÍVEIS: DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL................................................. 55
5.1 Condições crônicas .............................................................................................................................. 56
5.1.1 Fatores de risco para as condições crônicas................................................................................. 58
5.1.2 Tabagismo................................................................................................................................................... 58
5.1.3 Sedentarismo............................................................................................................................................. 59
5.1.4 Alimentação inadequada...................................................................................................................... 61
5.1.5 Uso abusivo do álcool............................................................................................................................ 64
5.2 Atenção às doenças crônicas não transmissíveis..................................................................... 64
5.3 Atenção às pessoas com doenças crônicas na consulta de enfermagem..................... 69
5.4 Educação para o autocuidado à pessoa com doença crônica............................................ 83
6 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE................................................................................................. 89
6.1 Sistema de Cadastramento de Usuários do Sistema Único de Saúde (Cadsus).......... 91
6.2 Classificação Internacional de Doenças (CID-10) ................................................................... 92
6.3 Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)................................................... 92
6.4 Sistema de Informação de Atenção Básica (Siab).................................................................... 92
6.5 Sistema de Informação sobre Agravos de Notificação (Sinan).......................................... 93
6.6 Sistemas de informação na saúde na mulher........................................................................... 94
6.7 Sistema de Informação Ambulatorial do SUS (Siasus).......................................................... 94
6.8 Sistema de Informação Hospitalar do SUS (Sihsus e e-SUS).............................................. 94
6.9 Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre
Nascidos Vivos (Sinasc)............................................................................................................................... 95
6.10 Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa).................................................. 98
7 SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA NA SAÚDE DO ADULTO............................................................... 99
7.1 Saúde mental e doença mental...................................................................................................... 99
7.2 Políticas de atenção em saúde mental.......................................................................................100
7.3 Rede de Atenção Psicossocial e recursos existentes para a assistência........................101
7.4 Centros de Atenção Psicossocial (Caps).....................................................................................105
7.5 Demais serviços que integram a Rede de Atenção Psicossocial......................................106
8 O PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE MENTAL.............................................................................107
8.1 Técnico de Referência e Projeto Terapêutico Singular.........................................................107
8.2 Processo de cuidar em Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental................................109
APRESENTAÇÃO
A política de atenção à saúde implementada em nosso país a partir da nova Constituição Federal de 1988
estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado” (BRASIL, 1978), garantindo o acesso universal e
igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Partindo desse princípio, a atenção
à saúde do adulto atua na promoção dos cuidados primários da população adulta, buscando reduzir os riscos
relacionados às doenças crônico-degenerativas, particularmente a hipertensão arterial e o diabetes mellitus.
Elaboramos este material para que os alunos de Enfermagem possam compreender a organização do
sistema de saúde no Brasil, com ênfase na atenção à saúde do adulto, desenvolvida no nível da Atenção
Básica em Saúde, por meio da Estratégia de Saúde da Família. O Ministério da Saúde tem investido
em diretrizes que orientam a reorganização das Redes de Atenção à Saúde e as linhas de cuidado às
doenças crônicas, com o intuito de garantir a prevenção desses agravos, assim como o diagnóstico e o
tratamento precoces.
Entende-se que este campo de atenção oferece autonomia de ação aos enfermeiros e, portanto, exige
um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para que esses profissionais sejam absorvidos
pelo mercado de trabalho. Além disso, esta disciplina tem como objetivo a aquisição de conceitos básicos
dessas áreas a fim de capacitar o aluno a compreender e a relacionar os conhecimentos específicos em
sua área de atuação, bem como desenvolver adequadamente o raciocínio clínico e crítico, indispensáveis
para a tomada de decisões seguras e eficazes.
INTRODUÇÃO
As doenças do aparelho circulatório são as principais causas de morte no Brasil. No total, foram
340 mil óbitos registrados em 2014 de acordo com dados do Ministério da Saúde; as principais doenças
desse grupo incluem o acidente vascular cerebral (AVC) e o infarto agudo do miocárdio.
Nas últimas décadas, o perfil dos óbitos no Brasil mudou bastante. A melhoria no acesso a serviços
de saneamento fez com que diminuísse o número de mortes provocadas por doenças infecciosas e
transmissíveis. Houve, no entanto, um aumento no número dos falecimentos ocasionados por doenças
crônicas ou ligadas a causas externas, como acidentes de trânsito e violência.
Analisaremos ainda o sistema de saúde no Brasil e a Estratégia de Saúde da Família como os eixos
estruturantes das ações de promoção e prevenção com base nos determinantes sociais de saúde.
Discutiremos também a estratificação de riscos, o diagnóstico e a instituição de tratamento precoces
propostos para o nível da Atenção Básica em Saúde.
Assim, a disciplina Políticas de Atenção à Saúde do Adulto tem como proposta a compreensão das
dinâmicas político-assistenciais no âmbito da saúde pública, bem como o desenvolvimento da assistência
de enfermagem fundamentada na epidemiologia e nas ações de promoção e prevenção em saúde.
Esperamos que, após o estudo deste livro-texto, seja possível compreender as atribuições do
enfermeiro em relação ao cuidado integral da saúde da população adulta, de modo a melhorar a
qualidade de vida das pessoas da comunidade sob a responsabilidade desse profissional.
Boa leitura!
8
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
Unidade I
1 POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Para que possamos compreender o SUS como principal política de saúde atual, é preciso conhecer os
determinantes históricos envolvidos no processo de organização do sistema de saúde brasileiro.
Isso porque o setor de saúde sofreu influências políticas, sociais e econômicas, internas e externas,
desde o descobrimento do Brasil até os momentos atuais. Tais influências deixaram impressas diferentes
concepções sobre o tema, a depender das necessidades e interesses por parte da população, dos
trabalhadores e dos gestores dos serviços de saúde e, principalmente, das políticas sociais adotadas
pelos governos.
É importante compreender que a política de saúde é uma política pública, classificada como política
social ou de proteção social. Ou seja, é uma política social que está inserida no conjunto das políticas
públicas que asseguram à população o exercício de direito de cidadania, tais como: Educação, Trabalho,
Assistência Social, Previdência Social, Justiça, Agricultura, Saneamento, Habitação Popular e Meio
Ambiente, entre outras.
Observação
Portanto, a política de saúde, que atualmente é efetivada por meio do SUS, representa um direito de
todo o cidadão brasileiro, cabendo ao Estado formular ações, projetos e estratégias para que as pessoas
tenham acesso aos serviços e aos programas de saúde.
Saiba mais
O direito universal à saúde somente passou a ser garantido à população brasileira a partir da
Constituição de 1988, mais precisamente quando o SUS passou a ser implementado nos municípios
e estados da federação, após sua regulamentação pelas Leis Orgânicas da Saúde – Lei n.º 8.080/90
(BRASIL, 1990a) e Lei n.º 8142/90 (BRASIL, 1990b).
Antes de 1988, o direito ao acesso aos serviços e programas de atendimento à saúde pública somente
poderia ser exercido pelos cidadãos (incluindo seus dependentes) que contribuíssem com o Instituto
Nacional de Assistência Médica e Previdência Social, o extinto Inamps. Essas pessoas necessariamente
teriam que manter vínculo empregatício formal, de acordo com o estabelecido pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT).
Entende-se que por meio dessa política social, vigente à época, o acesso à saúde era excludente, na
medida em que somente aqueles que contribuíssem mensalmente com uma parte dos seus rendimentos
poderiam ser atendidos nos hospitais e ambulatórios do Inamps. Também não era gratuito, pois o
trabalhador deveria comprovar o pagamento mensal para ter esse direito, por meio da apresentação da
carteirinha de vinculação com o instituto atualizada.
10
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
O Inamps, uma autarquia federal, foi criado em 1977, pela Lei n.º 6.439, que instituiu o Sistema
Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas). O Sinpas constituiu-se em um novo modelo para o
sistema previdenciário, numa transição até o atual Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Com o
Sinpas, a assistência médica aos segurados foi atribuída ao Inamps e a gestão financeira, ao Instituto de
Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (Iapas), permanecendo a cargo do Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS) a concessão de benefícios como aposentadoria, pensão, licença-
maternidade, auxílio-doença, entre outros.
As atribuições do Inamps foram gradativamente sendo assumidas pelo SUS, por meio das instâncias
de gestão municipais, estaduais e federal, até sua extinção em 1993.
Observação
A política previdenciária de saúde teve origem na criação das primeiras instituições de proteção
social, a Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAPs), instituídas pela Lei Eloy Chaves em 1923.
Lembrete
Observação
Dessa forma, a criação da CAPs se deu no contexto das reivindicações operárias, em janeiro de
1923, como resposta dos empresários e do Estado a uma crescente mobilização em prol de garantias
trabalhistas, como férias, jornada de trabalho definida, pensão ou aposentadoria e melhores condições
de trabalho.
Saiba mais
No sistema da CAPs, estabelecido pela lei Eloy Chaves, não havia participação do Estado na
gestão dos fundos, cujos recursos provinham de três fontes de receita: dos empregados (maior
percentual), das empresas e dos consumidores dos serviços dessas empresas. Os valores recolhidos
eram depositados diretamente na conta bancária da CAP que, além das aposentadorias e pensões,
também garantia serviços funerários, médicos e farmacêuticos. Portanto, havia uma CAP para
cada segmento produtivo (ferroviários, comerciários, têxteis, químicos, portuários etc.). “Em
1930, o sistema já abrangia 47 caixas, com 142.464 segurados ativos, 8.006 aposentados, e 7.013
pensionistas” (POLIGNANO, 2001).
Mais adiante, o cenário econômico caracterizado pela crise do café, em 1929, imprimiu novos rumos
para a produção de capital nacional, os quais implicaram novos padrões de uso do poder no Brasil.
Já no cenário político, houve a revolução de 1932 e a eleição de Getúlio Vargas como presidente (e a
consequente implantação do Estado Novo).
A era Vargas foi marcada por mudanças trabalhistas importantes, por um lado, para aquecer a
economia e, por outro, para garantir o apoio dos trabalhadores ao governo.
12
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
Destaca-se que os recursos advindos do regime de capitalização dos IAPs foram fundamentais para
o desenvolvimento econômico nacional, na medida em que serviram como fonte de financiamento de
obras e investimentos da máquina estatal. Ou seja, foi a partir de então que a previdência social assumiu
importância como instrumento de ação política eleitoreira e econômica.
Observação
Entre as décadas de 1950 e 1960 empresas privadas de saúde, por meio da medicina de grupo, se expandiram
nos centros metropolitanos, seguidas posteriormente das cooperativas de saúde (PEREIRA FILHO, 1999).
Observação
E foi nesse contexto que, finalmente, o Brasil passou a contar com um ministério exclusivo para a
saúde em 1953, o Ministério da Saúde. Vale destacar que até aquele momento, a saúde caminhava sob
a gestão do Ministério da Segurança Pública e da Educação.
Essa nova política elevou os custos das ações de saúde dentro do sistema previdenciário, em
grande parte também atribuídos ao modelo de atenção adotado, o modelo biomédico (que será
abordado mais adiante).
A crescente especialização médica e o foco de atenção na doença, com ênfase nas ações curativas,
passaram a exigir inovações tecnológicas, aumentando a produção de materiais médico-hospitalares
e abrindo horizontes promissores para a indústria farmacêutica. Assim, a saúde passa a ser um campo
altamente lucrativo para a iniciativa privada, representada, à época, pelo capital estrangeiro (o que
também foi de grande interesse para o governo, que criou facilidades para a entrada das empresas
multinacionais do setor).
A situação se agrava após o golpe militar e em 1966 é criado o Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS), que unificou todos os IAPs nesse único órgão. Também consolidou-se a política da contratação
do setor privado de saúde para prestação de serviços para o INPS. Progressivamente, foram desativados
e/ou sucateados os serviços hospitalares próprios da previdência, ao mesmo tempo em que se ampliou
o número de serviços privados credenciados e/ou conveniados.
Observação
O modelo da medicina previdenciária de atenção à doença das CAPs, IAPs e INPS, destinados aos
trabalhadores organizados, entra em grave crise na década de 1970, época marcada pela elevação
constante da cobertura do sistema com a entrada de novos segmentos de trabalhadores (como os rurais,
os autônomos e os empregados domésticos). Isso exigiu aumento de serviços médico-hospitalares e,
consequentemente, elevou ainda mais os custos.
Foram várias as iniciativas e estratégias adotadas como forma de superar os limites e dificuldades do
sistema até que fosse criado o Inamps.
Lembrete
Atente-se que até o momento foi apresentada a política de atenção à saúde do sistema
previdenciário. Agora serão discutidas as políticas voltadas ao controle de doenças e endemias.
Nesse momento, a saúde pública estava sob gestão executiva da segurança pública e o principal
objetivo da política de saúde era a melhoria das condições sanitárias, a fim de erradicar ou controlar
doenças e garantir a circulação de mercadorias nas estradas e nos portos.
Nessa época foi instituída a vacinação obrigatória contra a varíola, fato que gerou um movimento
popular conhecido como a Revolta da Vacina (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2005).
As campanhas sanitárias para controle de endemias urbanas e rurais, bem como as ações médicas,
tinham caráter repressivo, caracterizando, assim, o modelo de atenção à saúde denominado “sanitarismo
campanhista”.
Esse modelo campanhista perdurou até os anos 1960. A febre amarela foi erradicada no Rio de
Janeiro e o Brasil passou a produzir produtos profiláticos, como medicamentos e vacinas para uso em
massa, com o intuito de controlar as endemias e epidemias.
Observação
Gradativamente, com o controle das epidemias nas grandes cidades brasileiras e em razão de a
agricultura ser a atividade hegemônica da economia da época, o modelo campanhista deslocou sua
ação para o campo e para o combate das denominadas endemias rurais. Esse modelo de atuação foi
amplamente utilizado pelas Superintendências de Campanhas de Saúde Pública (Sucam) no combate
a diversas endemias (doença de Chagas, esquistossomose e outras), sendo tal órgão posteriormente
incorporado à Fundação Nacional de Saúde.
Portanto, o sistema de saúde brasileiro, até a década de 1990, caracterizou-se pela separação entre
as ações preventivas e as ações de assistência à saúde.
16
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
Lembrete
Durante a década de 1960, houve o amplo debate realizado em várias partes do mundo, visando
superar essa orientação predominantemente centrada no controle das doenças que negligenciava a
determinação econômica e social da saúde (BRASIL, 2002).
Essa experiência está descrita em dois importantes relatórios: inicialmente, no Relatório Lalonde:
uma Nova Perspectiva na Saúde dos Canadenses (1974) e, posteriormente, no Relatório EPP: Alcançando
Saúde Para Todos (1986) (BRASIL, 2002).
Abriu-se então uma nova perspectiva para a organização dos sistemas de saúde no mundo que
culminou na realização da Conferência de Alma-Ata (1978), em que foi consagrada a estratégia de
Atenção Primária de Saúde. Um ano antes, aconteceu a 30ª Assembleia Mundial de Saúde da ONU,
que definiu a proposta Saúde para Todos no Ano 2000. Essas conferências originaram um amplo
debate mundial em torno do tema da promoção da saúde, que ganhou destaque especial na Primeira
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde (1986) com a promulgação da Carta de Ottawa.
Essa conferência foi sucedida por uma série de declarações internacionais periodicamente formuladas
nas conferências realizadas sobre o tema da promoção da saúde (BRASIL, 2002).
17
Unidade I
A despeito da importante crise econômica, política e sanitária vivenciada à época, o Brasil não
ficou alheio a esse debate internacional. Diversos setores da sociedade brasileira (das áreas de saúde,
educação, assistência social, universidades, estudantes, profissionais da saúde e população como um
todo), em plena ditadura militar, deram início a um movimento em prol dos serviços públicos de saúde,
que ficou conhecido como Movimento da Reforma Sanitária Brasileira.
A Reforma Sanitária propõe, ao final da década de 1970, um sistema de saúde que unifique as ações
presentes no Ministério da Saúde e no Ministério da Previdência e Assistência Social, garantindo a
integralidade entre as atividades preventivas e curativas. Reivindicou também universalidade do sistema,
maior autonomia dos municípios, bem como a participação popular na fiscalização e na formulação das
políticas de saúde (ARCHANJO; ARCHANJO; SILVA, 2007).
Por outro lado, esse movimento fez, por quase 10 anos, duras críticas ao modelo hegemônico de
cuidado centrado na doença, incorporando as propostas defendidas na Conferência de Alma-Ata e,
posteriormente, na Conferência de Ottawa (ARCHANJO; ARCHANJO; SILVA, 2007).
Observação
A realização da VIII Conferência Nacional de Saúde consagrou uma concepção ampliada de saúde
e o princípio da saúde como direito universal e como dever do Estado; princípios esses que seriam
plenamente incorporados na Constituição de 1988.
Observação
A nova Constituição Federal, promulgada a 3 de outubro de 1988, instituiu o SUS, cuja formatação
final e regulamentação ocorreram mais tarde por meio das Leis n.o 8.080 e n.o 8.142, ambas de
1990 (BRASIL, 1990a; BRASIL, 1990b).
A criação do SUS se deu com a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que “dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes” (BRASIL, 1990a).
Logo em seguida, a Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a participação da
comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros
(BRASIL, 1990b). Ela também institui os Conselhos de Saúde e confere legitimidade aos organismos
de representação de governos estaduais – Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e
municipais Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Finalmente estava
19
Unidade I
criado o arcabouço jurídico do Sistema Único de Saúde, mas novas lutas e aprimoramentos ainda seriam
necessários (BRASIL, 1990b).
Lembrete
(Diretrizes organizativas)
• Universalidade: deve atender a todos, sem distinções, de acordo com suas necessidades e sem
cobrar nada ou levar em conta o poder aquisitivo ou, ainda, se a pessoa contribui ou não com a
Previdência Social (BRASIL, 1990a).
• Integralidade: a pessoa deve ser tratada como um todo, isto é, não pode ser dividida. Isso quer
dizer que as ações de saúde devem estar voltadas, ao mesmo tempo, para o indivíduo e para a
comunidade; para a prevenção de doenças, a promoção da saúde e para o tratamento, sempre
respeitando a dignidade humana (BRASIL, 1990a).
• Participação popular (ou controle social): o SUS é democrático porque tem mecanismos para
assegurar o direito de participação de todos os segmentos envolvidos com o sistema – governos,
prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e, principalmente, os usuários dos serviços, as
comunidades e a população (BRASIL, 1990a).
20
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
A participação e o controle social no SUS são efetivados mediante duas instâncias colegiadas: as
Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde. De acordo com a Lei nº 8.142/90 de 28 de dezembro
de 1990:
A representação dos usuários deverá ser paritária (50%) em relação ao conjunto dos demais
segmentos, ou seja, 25% de participação dos profissionais da saúde e 25% de participação dos
representantes do governo e prestadores de serviço. As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde
têm sua organização e normas de funcionamento definidas em regimento próprio, aprovado pelo
respectivo Conselho (BRASIL, 1990b).
Para entender melhor o SUS, é importante conhecer suas principais bases legais:
21
Unidade I
A operacionalização do SUS é definida por meio de diferentes portarias do Ministério da Saúde. Assim,
logo após a implantação do SUS, algumas normas foram deliberadas com o intuito de melhor organizar
o repasse financeiro e a descentralização da gestão do sistema, de forma complementar às leis orgânicas
da saúde. Dessa forma, as NOB representam instrumentos que orientam o processo de implantação do
SUS, definindo as competências de cada esfera de governo e as condições necessárias para que estados
e municípios possam assumir as responsabilidades e as prerrogativas dentro do Sistema. Dividem-se em
(SCATENA; TANAKA, 2011):
• NOB 01/92: inclui consensos entre diferentes instâncias participativas do SUS, com destaque
para Conass e Conasems representando interesses e expectativas diversos e ressaltando o caráter
processual da construção do SUS, em especial, no que diz respeito aos elementos constitutivos
da descentralização.
• NOB 01/93: é a primeira a ser editada como portaria do Ministério da Saúde e a definir o
gerenciamento do processo de descentralização nos três níveis de governo por meio das
Comissões Intergestores Tripartite, das Comissões Intergestores Bipartites e dos Conselhos
Municipais, bem como definir as condições de gestão para municípios (incipiente, parcial e
semiplena) e estados (parcial e semiplena), buscando exatamente contemplar os diferentes
estágios em que se encontravam estados e municípios em relação à descentralização. No
entanto, avançou pouco no que diz respeito ao financiamento, mantendo basicamente as
disposições das normas anteriores.
• NOB 96: essa norma propôs, modificou e implantou diferentes aspectos da gestão do SUS,
como o reordenamento do modelo de atenção à saúde com base na incorporação do modelo
epidemiológico ao modelo clínico; também instituiu a Programação Pactuada e Integrada
(PPI), como o instrumento essencial de reorganização do modelo de atenção e da gestão do
SUS de alocação dos recursos; definiu as transferências de recursos fundo a fundo para a
22
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
assistência ambulatorial e hospitalar, com destaque para a criação do Piso da Atenção Básica
(PAB) com base em um valor per capita anual; determinou, finalmente, as condições de gestão
para os municípios (Plena da Atenção Básica e Plena do Sistema) e para os estados (Avançada
do Sistema e Plena do Sistema), relacionando responsabilidades, requisitos e prerrogativas.
• Noas 01/2001 e 2002: os municípios precisavam ter a capacidade gerencial e política de cuidar da
saúde de sua população, por meio dos serviços possíveis existentes em seu território e comprando
fora os não existentes. Então, o Ministério da Saúde, por meio dessas normas operacionais de
assistência à saúde, ampliou as responsabilidades dos municípios na atenção básica e estabeleceu
o processo de regionalização; definiu ainda os valores de recursos destinados ao custeio da
assistência de alta complexidade para cada estado e estabeleceu o pagamento de um valor fixo
por metas estabelecidas, buscando fortalecer a capacidade de gestão do SUS.
Em 2006, após quase duas décadas do processo de institucionalização do Sistema Único de Saúde,
sua implantação e implementação ampliaram o contato do sistema com a realidade social, política e
administrativa do País, respeitando as especificidades regionais, tornando-se mais complexo. Diante
disso, os gestores foram sendo colocados à frente de desafios para superar a fragmentação das
políticas e dos programas de saúde, além das dificuldades orçamentárias, de forma a garantir o
acesso da população aos serviços com qualidade e resolutividade, por meio da organização de uma
rede regionalizada e hierarquizada.
Observação
Por meio da Portaria n.º 399, de 22 de fevereiro de 2006, foi divulgado o Pacto pela Saúde 2006
e foram aprovadas as suas diretrizes operacionais para a consolidação do SUS. Posteriormente,
em 3 de novembro de 2009, a Portaria n.º 2.669, estabeleceu novas prioridades, objetivos, metas e
indicadores de monitoramento e avaliação do Pacto pela Saúde nos componentes pela Vida e de
Gestão (BRASIL, 2006b).
Quadro 1 – Pacto pela saúde de acordo com a Portaria n.º 399/GM de 2006
e a Portaria n.º 2.669/GM de 2009
O Pacto pela Vida definiu compromissos entre os gestores do SUS em torno de prioridades que
apresentassem impacto sobre a situação de saúde da população. As prioridades foram expressas em
metas municipais, regionais, estaduais e nacionais, no termo de compromisso de gestão.
Prioridades, metas e
monitoramento de
indicadores
Fortalecimento Saúde do
da Atenção Básica trabalhador
Câncer de mama e em Saúde
de colo de útero Mortalidade
infantil e
materna
Saúde do
homem Pacto pela
Vida Saúde mental
Saúde
do idoso Doenças
emergentes e
Promoção da endemias
saúde
Pessoas
em situação de Pessoas com
violência deficiências
24
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
O Pacto em Defesa do SUS previu ações concretas e articuladas pelos três níveis federativos no sentido
de reforçar o Sistema como política de Estado. Estabeleceu como prioridades a repolitização da saúde e
a promoção da cidadania, com o objetivo de implementar um projeto permanente de mobilização social
e de garantir o aumento do financiamento da saúde, além de elaborar e divulgar a Carta dos Usuários
do SUS e também regulamentar a Emenda Constitucional 29 como determinante para a reestruturação
do financiamento do sistema (BRASIL, 2006b).
O Pacto de Gestão do SUS definiu as responsabilidades dos gestores, explicitando o que cada um
deveria realizar e reconhecendo as grandes diferenças locais e regionais. Os gestores do SUS são os
representantes de cada esfera de governo designados para o desenvolvimento das funções do Executivo
na saúde: na esfera nacional, o ministro da Saúde (Ministério da Saúde); na esfera estadual, o secretário
de Estado da Saúde (Secretaria Estadual de Saúde); e, na esfera municipal, o secretário municipal de
Saúde (Secretaria Municipal de Saúde) (BRASIL, 2006b). Apresentou como principais diretrizes para a
gestão do SUS:
1 – responsabilidades gerais;
2 – regionalização;
3 – planejamento e programação pactuada integrada (PPI);
4 – regulação da atenção à saúde e assistencial;
5 – participação e controle social;
6 – gestão do trabalho;
7 – educação em saúde.
Observação
A implantação desse pacto, nas suas três dimensões – Pacto pela Vida,
Pacto de Gestão e Pacto em Defesa do SUS – possibilita a efetivação de
acordos entre as três esferas de gestão do SUS para a reforma de aspectos
institucionais vigentes, promovendo inovações nos processos e instrumentos
de gestão que visam a alcançar maior efetividade, eficiência e qualidade de
suas respostas e, ao mesmo tempo, redefine responsabilidades coletivas por
resultados sanitários em função das necessidades de saúde da população e
na busca da equidade social (BRASIL, 2006b).
25
Unidade I
Pacto em
Defesa do SUS
Pacto pela Pacto de
Vida Gestão
43 indicadores 11 indicadores
Monitoramento e
avaliação do Pacto
pela Saúde
Esse decreto, regulamentado em 28 de junho de 2011, é uma complementação da Lei n.º 8.080, de 19
de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à
saúde e a articulação interfederativa, além de outras providências. (BRASIL, 2011a).
26
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
• Portas de entrada: serviços de atendimento inicial à saúde do usuário no SUS (BRASIL, 2011a).
• Comissões intergestores: instâncias de pactuação consensual entre os entes federativos para
definição das regras da gestão compartilhada do SUS (BRASIL, 2011a).
• Serviços especiais de acesso aberto: serviços de saúde específicos para o atendimento da pessoa
que, em razão de agravo ou de situação laboral, necessita de atendimento especial (BRASIL, 2011a).
• Protocolo clínico e diretriz terapêutica: documento que estabelece critérios para o diagnóstico
da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais
produtos apropriados, quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle
clínico; e o acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos
gestores do SUS (BRASIL, 2011a).
Saiba mais
27
Unidade I
Por fim, o financiamento das ações de saúde está dividido em seis blocos distintos para a aplicação
dos recursos:
• Atenção Básica: mediante um componente fixo definido pelo PAB e um componente variável,
baseado no histórico de utilização dos recursos na saúde do munícipio em questão;
A maneira pela qual as ações de saúde (promoção, prevenção, tratamento, recuperação e reabilitação)
são desenvolvidas pelos serviços de saúde é conhecida como modelos de atenção à saúde. Esses modelos
são influenciados por diferentes concepções sobre a política de saúde (VERDI; DA ROS; CUTOLO, 2010).
Essas diferentes concepções influenciam as práticas, que podem ser melhores ou piores em termos
de eficiência, custos, acesso aos serviços e qualidade do atendimento. Ao analisarmos a organização
28
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
da saúde no Brasil, identificamos que ao longo da história predominaram alguns modelos de atenção
à saúde como o da saúde pública campanhista e o modelo médico assistencial privatista da assistência
médica previdenciária. Por outro lado, tanto a formação quanto a prática dos profissionais de saúde
sempre estiveram orientadas para a atenção à doença, ao indivíduo, ao uso intensivo de tecnologias de
diagnóstico e terapêutica, sendo o hospital o local de preferência para o cuidado. Denomina-se esse modo
hegemônico de produção do cuidado de modelo biomédico, um modelo fortemente influenciado pelo
modelo flexneriano e articulado aos interesses econômicos do mercado de saúde, não necessariamente
atendendo aos interesses e necessidades da população.
Dessa forma, a prevenção e a promoção de saúde passam a ser incorporadas ao rol das ações de
saúde e, no Brasil, em pleno movimento da Reforma Sanitária e posteriormente durante todo o processo
de implantação do SUS, gestores, trabalhadores, usuários e sociedade civil são desafiados a repensar a
forma de praticar e utilizar a saúde.
O modelo biomédico é então fortemente questionado, e gradativamente vão sendo propostos novos
referenciais para o cuidado e a organização dos serviços de saúde, tendo como ponto de partida a
manutenção da saúde e a atenção mais ampla à coletividade de acordo com os diferentes determinantes
sociais do processo de saúde-doença.
Então, em 1994, é lançado o Programa de Saúde da Família, uma estratégia para reorganização do
foco de atendimento à população, buscando modificar um modelo assistencial de reabilitação para um
modelo de prevenção.
29
Unidade I
Essa é, portanto, uma proposta de hierarquização dos serviços de saúde em níveis de atenção, tal
como proposto na Lei Orgânica da Saúde. Ou seja, um conjunto articulado e contínuo das ações e
serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de
complexidade do sistema, de forma a viabilizar a referência e a contrarreferência entre os serviços e
níveis de atenção.
Dessas concepções, apreende-se como principal eixo de organização desse sistema hierarquizado,
o nível primário como o ponto de primeiro contato dos indivíduos e das comunidades com o
sistema de saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, os sistemas de saúde deveriam ser organizados segundo
duas metas prioritárias para alcançar um ótimo nível de saúde: primeiramente, otimizar a saúde da
população, com base no conhecimento das causas das enfermidades e no manejo adequado das
doenças, buscando maximizar a saúde. Em segundo lugar, minimizar as desigualdades entre subgrupos
populacionais, por meio do acesso aos serviços.
Segundo Starfield (2002), o modelo de atenção com forte base em Atenção Primária à
Saúde (APS) é mais eficiente, mais equânime e mais barato, mesmo em situações de grande
iniquidade social. Metade dos diagnósticos realizados em APS correspondem a 32 problemas
de saúde mais comuns e mais frequentemente apresentados pela população. Os especialistas
em APS conhecem muito sobre problemas comuns – simples ou complexos, mas comuns. A APS
contará com profissionais eficientes que poderão resolver 85% dos problemas da população sob
sua responsabilidade, de forma humanizada, qualificada e orientados a partir da realidade local
(STARFIELD, 2002).
30
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
• Primeiro contato para garantir a acessibilidade: a APS deverá ser a “porta de entrada” para o sistema
de saúde. A unidade de saúde deve ser o local preferencial para atendimento das necessidades de
saúde. A unidade deve ser de fácil acesso e disponível.
31
Unidade I
Essa maneira de pensar a saúde foi gradativamente sendo incorporada ao Sistema Único de Saúde,
levando o Ministério da Saúde a lançar o Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994, como opção
operacional de implantação e consolidação da atenção primária em saúde no Brasil.
Em 2006, o Ministério da Saúde, mediante a Portaria n.º 648, de 28 de março, aprova a Política
Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2006c). A partir de então, a atenção primária em saúde passa a ser
compreendida de uma forma mais ampla como atenção básica.
Em 2011, o Ministério da Saúde lançou uma nova edição da Política Nacional de Atenção Básica, por
meio da Portaria n.º 2.488, de 21 de outubro de 2011, buscando consolidar uma atenção básica mais
fortalecida e ordenadora das Redes de Atenção em Saúde (BRASIL, 2012a).
A Atenção Básica enquanto uma estratégia de organização do modelo assistencial tem como
fundamentos e diretrizes:
32
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
De acordo com as Portarias n.º 648 de 2006 (BRASIL, 2006c) e n.º 2.488 de 2011 (BRASIL, 2011a), o
Ministério da Saúde estabeleceu que as Equipes de Saúde da Família devem:
• planejar ações que produzam impacto sobre as condições de saúde da população em sua área de
abrangência, orientadas por um diagnóstico participativo, capaz de identificar a realidade local e
o potencial da comunidade na resolução dos problemas de saúde;
• conceber saúde como um processo de responsabilidade compartilhada entre vários setores
institucionais e a participação social, o que implica buscar parceria intersetorial e conscientização
dos indivíduos como sujeitos no processo de vigilância à saúde;
• pautar suas ações entendendo a família como espaço social e respeitando suas potencialidades
e limites socioeconômicos e culturais, e buscar, nesse contexto, estratégias que otimizem as
abordagens médicas e terapêuticas tradicionais.
Assim, são atribuições comuns a todos os profissionais que compõem as equipes de saúde da família:
34
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
35
Unidade I
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) integram a Atenção Básica em Saúde com o intuito
de ampliar e qualificar as ações da Atenção Básica em Saúde. Os profissionais especialistas que compõem
os NASF atuam de forma integrada às equipes da ESF no cuidado e na atenção a indivíduos, famílias
e comunidades dos territórios adscritos. No entanto, não estabelecem demandas de atendimento
individuais com livre acesso em unidades físicas independentes. Todas as atividades das equipes dos
NASF são realizadas nas unidades básicas de saúde, no domicílio ou nos espaços comunitários, de acordo
com planejamento e priorização compartilhada com as respectivas equipes de ESF sob responsabilidade
do NASF.
36
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
A composição dos NASF será definida pelos gestores municipais e poderão integrá-los os seguintes
profissionais: médico acupunturista; assistente social; profissional/professor de educação física;
farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; médico ginecologista/obstetra; médico homeopata;
nutricionista; médico pediatra; psicólogo; médico psiquiatra; terapeuta ocupacional; médico geriatra;
médico internista (clínica médica); médico do trabalho; médico veterinário; profissional com formação
em arte e educação (arte educador); e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado
na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma
dessas áreas (BRASIL, 2012a).
Lembrete
Os modelos de atenção à saúde refletem diferentes concepções sobre
saúde, assim como a forma de atender as necessidades da população ou
simplesmente de tratar as doenças.
Desde o princípio da história da humanidade, a saúde e a doença estavam relacionadas a diferentes formas
de os povos e as civilizações compreenderem e manejarem a realidade e os fenômenos que os rodeavam.
Lutando por sua sobrevivência, os homens primitivos buscavam alimentos e precisavam se defender
contra ameaças do meio e agressores. Eram nômades, viviam em agrupamentos ou tribos e, sucintamente,
pode-se dizer que entendiam a doença como algo vinculado à vontade dos deuses.
Sabe-se hoje que os problemas de saúde e as doenças estavam relacionados, basicamente, com a
forma como as pessoas viviam nessas pequenas comunidades: por exemplo, a forma de obtenção de
água, a comida, a busca pela melhoria do meio ambiente físico e as técnicas utilizadas para o alívio do
sofrimento, da incapacidade e do desamparo.
Assim, a história da medicina e da saúde pública se constituiu com base nas diferentes formas que
as civilizações encontraram para solucionar tais problemas.
Muitas crenças e práticas religiosas associavam a limpeza com a religiosidade. Por exemplo, em
3000 a.C., a civilização Harappa, que vivia às margens do rio Ravi, já possuía casas com tijolos e salas de
banho; as ruas eram largas, pavimentadas e drenadas por esgotos cobertos (DIMITROV, 2000). Contudo
tais cuidados não foram suficientes para impedir a proliferação de doenças e, por um longo período, as
epidemias foram consideradas uma repreensão divina em consequência da perversidade humana.
37
Unidade I
Entretanto, para alguns persistia a ideia de que as doenças poderiam advir do clima e do ambiente.
Na Grécia, por exemplo, entre os séculos V e IV a.C., já se identificavam as primeiras tentativas de teoria
científica sobre as causas das doenças (DIMITROV, 2000).
A primeira descrição de doença transmissível foi feita por Hipócrates (460-370 a.C.). Ele foi o autor
do livro Ares, Águas e Lugares, em que trata da relação causal entre fatores do meio físico e doença;
nessa obra ainda estão as primeiras concepções sobre os conceitos de doenças endêmicas e epidêmicas
(DIMITROV, 2000).
Hipócrates relacionou fatores essenciais para a endemicidade local, tais como clima, solo, água,
modo de vida e nutrição, mas se destacou pela descrição da relação entre os humores do corpo e as
doenças: os quatro elementos chineses que compõem a natureza (água, terra, fogo e ar), segundo
sua concepção, estavam associados, respectivamente, à glândula pituitária (fleuma), ao estômago (bile
negra), ao fígado (bile amarela) e ao coração (sangue). Veja o quadro.
Por outro lado, foi nesse período que se instituiu o ideário dicotômico de “medicina para ricos” e
“medicina para pobres”. Nessa época, a prática da medicina geralmente ficava a cargo dos sacerdotes,
que assistiam os nobres da sociedade. No entanto, a um outro tipo de medicina era praticada por
escravos e homens livres, a chamada medicina popular, associada aos pobres.
É no Egito que surgem os primeiros médicos especialistas: oculistas, dentistas, cirurgiões e os que
tratavam doenças do estômago. Aqui, fatores naturais já são interpretados como causas das doenças,
mas ainda existe uma forte ênfase na superstição. Nesse contexto, a civilização egípcia contribuiu com
o seu mais importante legado: a primeira farmacopeia da humanidade (DIMITROV, 2000).
Constantinopla, a sede da cultura médica da Europa. O Império Bizantino conservou muito da tradição
e da cultura de Roma, que foram difundidas para árabes e povos do Oeste (DIMITROV, 2000).
Entretanto, o Ocidente ficou condenado à Idade das Trevas (500-1000 d.C.). Nesse período, a doença
passou a ser enfrentada com paganismo e com a religião cristã, e o adoecimento foi atribuído a uma
forma de punição por pecado, por possessão de demônio ou, ainda, feitiçaria. As técnicas terapêuticas
resumiam‑se a orações e invocações de santos, e o fortalecimento do corpo físico tinha por propósito a
resistência às investidas do demônio.
No início da Idade Média os médicos eram, em geral, clérigos que se dedicavam à caridade; somente
a partir do século XI os leigos começaram a entrar na profissão. Mais uma vez, estabelece-se a separação
entre “medicina para pobres” e “medicina para ricos”. Verifica-se, também, a dicotomia entre médicos e
cirurgiões, com estes últimos situados num nível inferior na escala social.
Por se considerar que as doenças têm origens externas e, portanto, exigem isolamento e reclusão
de enfermos, surgem os primeiros hospitais urbanos no Oriente do século IX. Em 1283, no Cairo, foi
implantado um hospital com diretor, corpo médico e enfermeiros.
Por outro lado, no Ocidente, os hospitais tiveram origem com a Igreja e suas ordens monásticas. Os
monges que tratavam seus companheiros serviam de exemplo para os leigos, desenvolvendo um tipo de
enfermagem (DIMITROV, 2000).
A partir do século XIII, a municipalidade começou a assumir sua responsabilidade pelos hospitais e,
no final do século XV, já se formava uma rede de hospitais na Europa (Inglaterra, Paris, Florença etc.). No
entanto, o avanço da clínica e dos conceitos da causalidade das doenças começa a ser verificado apenas
na Idade Moderna.
O Renascimento contribui enormemente para os avanços da saúde pública por meio do salto
qualitativo da ciência e da efervescência cultural que esse movimento suscitou à época. Entre as novas
ideias correntes, algumas se destacavam: o universo deixa de ser aceito como obra do sobrenatural; o
espírito crítico do homem torna-se mais aguçado; a ciência experimental e a observação contribuem
com explicações racionais para os fenômenos da natureza; e verdades racionais deveriam ser sempre
comprovadas na prática (empirismo).
• Miguel Servet (1511‑1553) e William Harvey (1578‑1657): responsáveis pelo estudo do mecanismo
da circulação sanguínea.
• Ambroise Paré (1509‑1564): nome fundador da cirurgia, usou bálsamo no tratamento de feridas
por arma de fogo (no lugar de óleo fervente) e promoveu ligaduras dos vasos sanguíneos nas
amputações; acreditava em seres ocultos na falta de melhor interpretação de suas indagações.
39
Unidade I
A Teoria Miasmática é adotada para explicar o contágio de doenças e perdura até a primeira metade
do século XIX, quando é substituída pela Bacteriologia.
Observação
Segundo a Teoria Miasmática, condições sanitárias ruins criavam um
estado atmosférico local, infectando o meio e, consequentemente, levando
a doenças infecciosas e a surtos epidêmicos.
Com base em estudos sobre o funcionamento do corpo e alterações anatômicas sofridas durante a
doença, os cientistas passam a compreender melhor os sinais e sintomas das doenças, relacionando-as
e agrupando-as segundo características comuns (DIMITROV, 2000).
Observação
Na Idade Contemporânea amplia-se a concepção sobre o processo
saúde e doença com base na multicausalidade e, posteriormente, na
determinação social.
A medicina social ressurge por meio dos revolucionários ligados aos movimentos políticos do final
do século XVIII e início do século XIX. Fatores externos como causas da doença passam a ser minimizados
e cedem espaço para o contexto social, para as condições de vida e de trabalho (saúde e higiene do
trabalho e medicina ocupacional).
Rudolf Ludwig Karl Virchow (1821-1902), médico alemão, antropólogo e político liberal, explicou
a ocorrência da epidemia de tifo na Alemanha com base em causas sociais e políticas, sem conhecer
as bactérias e os antibióticos. Foi reconhecido como o pai da patologia moderna (VERDI; DA ROS;
CUTOLO, 2010).
Ao final do século XIX, a epidemiologia se consagra como ciência, unindo o saber clínico, o método
numérico e o engajamento social.
40
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
Observação
A formulação unicausal das doenças perdurou até o início do século XX, quando foi adotado o
modelo de multicausalidade. Esse, em meados do século XX, é substituído pelo modelo ecológico de
Leavell e Clark, o qual, por sua vez, dá lugar à determinação social da doença (ROUQUAYROL; ALMEIDA
FILHO, 1999).
Grécia Antiga Teoria Hipocrática dos humores do corpo associados aos quatro elementos (ar, água,
terra e fogo), atribuindo as causas das doenças a fatores ambientais.
Sob forte influência do cristianismo, a doença toma sentido místico religioso
Idade Média (castigo), e a cura é buscada por meio de poderes miraculosos (relíquias, amuletos,
água benta e exorcismo).
Teoria Miasmática que associava a ocorrência de doenças às partículas invisíveis,
Renascimento os miasmas. Posteriormente surge a Teoria Social da Medicina, explicando algumas
doenças em função das condições de vida e de trabalho.
A Bacteriologia revoluciona as descobertas e muda o conceito de doença com base
Século XIX nas descobertas de Louis Pasteur e Robert Koch. Teoria da Unicausalidade: para cada
doença um agente causador.
A Teoria da Multicausalidade advém da insuficiência da teoria unicausal da doença,
Século XX propondo a formulação de explicações multicausais. No entanto, pode-se reconhecer
seu caráter biologicista e a-histórico, numa concepção reducionista do social.
Abraham Flexner foi inicialmente graduado em Artes e Humanidades pela Universidade Johns
Hopkins em 1886. Após a graduação, iniciou carreira como professor e fundou em 1890 seu próprio
colégio. Matriculou-se na Escola de Graduados de Harvard, concluindo seus estudos de pós-graduação
em 1906 e, a partir de então, dedicou-se ao estudo sobre educação médica nos Estados Unidos e no
Canadá, visitando inúmeras escolas de medicina. Com base nas visitas e análises realizadas, publicou, em
1910, o famoso Relatório Flexner (PAGLIOSA; DA ROS, 2008).
41
Unidade I
Flexner propõe a instalação de uma nova ordem para a reconstrução do modelo de ensino
médico, o qual recomenda que seja realizado fundamentalmente no hospital, local privilegiado
para estudar as doenças. Para ele, os estudos devem ser focados na doença de forma individual e
concreta, como um processo natural e biológico. Suas afirmações são notadamente positivistas,
especialmente quando considera que o social, o coletivo, o público e a comunidade não são
relevantes para o ensino médico e não são considerados implicados no processo de saúde-doença
(PAGLIOSA; DA ROS, 2008).
Observação
Esse modelo, por meio de uma posição autoritária e unidisciplinar, mantém relação intrínseca
com os interesses lucrativos do complexo médico-industrial na medida em que intensifica o uso de
recursos de apoio diagnósticos e terapêutico, como exames, medicamentos, procedimentos altamente
especializados e internações hospitalares, movimentando, assim, capital empresarial e industrial (VERDI;
DA ROS; CUTOLO, 2010).
Observação
No entanto, é preciso compreender o processo saúde-doença de uma outra forma, mais ampla e
mais dinâmica.
Lembrete
Virchow foi o precursor da medicina social. Ele “afirmava que as pessoas adoecem e morrem em
função do jeito que vivem. E este jeito de viver é determinado social-cultural e economicamente
(caracterizando o contexto de aparecimento da doença)” (VERDI; DA ROS; CUTOLO, 2010, p. 19).
Os pressupostos da medicina social acabam sendo suplantados pelas descobertas dos bacteriologistas
Robert Koch e Louis Pasteur, no final do século XIX, quando esses cientistas estabelecem noções básicas
sobre microbiologia que explicariam novos conceitos envolvendo o processo saúde-doença, isso tudo
com base na bacteriologia. É quando ascende a Teoria da Unicausalidade e se estabelece um amplo
debate no campo da prática e da educação em saúde pública com relação aos enfoques biológico e
social do processo saúde-doença.
Morte
A análise dos diferentes fatores relacionados a uma determinada doença, segundo o modelo
multicausal, requer a utilização da estatística nos métodos de investigação, assim como nas características
do meio ambiente (o domicílio e a comunidade). Em razão da relevância de tais fatores na prevenção
de doenças, o modelo multicausal possibilita a intervenção sobre a evolução da doença, propondo
controle sobre o ciclo evolutivo da doença, mesmo antes das manifestações clínicas (pré-patogênese)
(FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2017).
45
Unidade I
PERÍODO PATOGÊNICO
PERÍODO PRÉ-PATOGÊNICO Patogenia Patologia Patologia Defeito
precoce precoce avançada
Imunizações
específicas.
Educação geral
em saúde. Profilaxia
medicamentosa.
Bons padrões
de nutrição Saneamento
ajustados às ambiental. Provisão de recursos hospitalares e
diferentes fases comunitários para aprimoramento
da vida. Proteção Exames médicos periódicos, e educação, visando ao máximo
contra riscos gerais ou dirigidos. aproveitamento da capacidade
Habitação ocupacionais. remanescente.
e vestuário Busca e exame de
adequados. Proteção contra comunicantes. Educação do público e dos
acidentes. Tratamento empregadores para inclusão dos
Condições Levantamentos ocasionais. adequado. reabilitados.
satisfatórias Nutrientes
de trabalho e específicos. Tratamento adequado. Busca de casos. Ocupação seletiva.
recreação.
Proteção contra Métodos educativos relativos Laborterapia.
Atenção para o carcinógenos. à importância do diagnóstico
desenvolvimento precoce e aos meios para Instituições para manutenção e
da personalidade. Não exposição torná-lo possível. tratamento de doentes crônicos.
a alérgicos,
Educação substâncias Campanhas contra o preconceito.
sexual e tóxicas ou
aconselhamento. venenosas.
Aconselhamento Meios de
proteção
genético. individual:
botas, telagem,
repelentes etc.
1° Nível 2° Nível 3° Nível 4° Nível 5° Nível
Promoção da Proteção Diagnóstico e Tratamento Limitação da Reabilitação
Saúde Específica Precoces Incapacidade
Fase de prevenção primária Fase de prevenção secundária Fase de prevenção terciária
46
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
de fatores sociais, históricos e culturais e o impacto destes na ocorrência das doenças (FUNDAÇÃO
OSWALDO CRUZ, 2017).
Observação
Mas é com o debate sobre as Metas do Milênio, em 2005, que os determinantes sociais se afirmam
e, então, é criada a Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde (DSS) da organização Mundial da
Saúde (OMS).
Nas últimas décadas, houve um avanço significativo nos estudos das relações entre a maneira
como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a situação de saúde de sua população
(ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999). Com base nos DSS, são analisadas as iniquidades em saúde
socialmente injustas e desnecessárias e, para sua superação, são propostas intervenções sobre grupos
populacionais vulneráveis.
Os DSS consideram o meio ambiente no qual a pessoa vive e trabalha, além de fatores sociais,
econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais associados aos problemas de
saúde e fatores de risco, tais como moradia, alimentação, escolaridade, renda e emprego.
Diversos modelos procuraram esquematizar a trama de relações entre os fatores geradores das
iniquidades e os impactos provocados sobre a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos. Um dos
principais é o modelo de Dahlgren e Whitehead (CARVALHO; BUSS, 2008).
Os DSS estão organizados por níveis de abrangência em distintas camadas: a mais próxima
referindo‑se aos aspectos individuais e a mais distante aos macrodeterminantes.
47
Unidade I
as, culturais e a
oeconômic mbi
soci ent
ais
es Condições ge
id çõ de vida e de rai
on trabalho
s
Ambiente de
C
trabalho Desemprego
is e comun
es socia itár
Educação ed id a d o s ias Água e esgoto
R ev
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uo
Es
Serviços sociais
s
de saúde
Produção
agrícola e de Idade, sexo
alimentos Habitação
e fatores
hereditários
48
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
ômicas, culturais e am
cioecon bien Intersetorialidade Participação Social
ões so Condições
tais
ge
id ç de vida e de rai
on trabalho
s
Ambiente de Distais
C
trabalho Desemprego
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d ias Água e esgoto Intermediários
Educação Re e vida dos ind
d ivíd
tilo
uo
Es
s
de saúde
Produção
agrícola e de Idade, sexo
alimentos Habitação
e fatores Intervenções sobre os DSS baseadas
hereditários em evidências e promotoras da
equidade em saúde
Portanto, pode-se afirmar que nos dias atuais o processo saúde-doença fundamenta-se na análise
e compreensão dos DSS. O processo de trabalho na Estratégia de Saúde da Família fundamenta-se na
análise, compreensão e intervenção sobre os DSS.
Dessa forma, o modelo de atenção vigente é o modelo de Vigilância da Saúde, que tem por sujeitos
da atenção os cidadãos, de acordo com o seu meio e estilo de vida, buscando atuar sobre os danos,
riscos, necessidades e determinantes dos modos de vida e de saúde (condições de vida e de trabalho).
Saiba mais
Para conhecer mais sobre o tema dos determinantes sociais de saúde,
acesse o portal Determinantes Sociais da Saúde:
<http://dssbr.org/site/>.
49
Unidade I
Resumo
Esse sistema foi implementado em 1990, por meio das Leis n.º 8.080
e 8.142, que resultaram de um intenso movimento sanitário de caráter
político e social, denominado Reforma Sanitária. Tal processo ocorreu entre
o final da década de 1970 e os anos 1980, concomitantemente ao processo
de redemocratização do país e da reforma da Constituinte.
Esse modelo é ainda hoje adotado por vários países, inclusive pelo
Brasil, e se caracteriza por ações focadas na doença, no tratamento e
na cura, com caráter individual e curativo, centralizadas no profissional
médico. O modelo biomédico destina papel secundário aos demais
profissionais de saúde e às ações de promoção e prevenção de caráter
coletivo e comunitário, gerando altos custos e alta incorporação
tecnológica no cuidado à saúde.
50
POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO
Exercícios
51
Unidade I
Universalidade
Equidade
Integralidade
(Princípios Doutrinários)
(Diretrizes organizativas)
I – Princípio da Universalidade.
II – Princípio da Equidade.
a. Tratar a pessoa como um todo, isto é, não pode ser dividida. Isso quer dizer que as ações de saúde
devem estar voltadas, ao mesmo tempo, para o indivíduo e para a comunidade, para a prevenção
de doenças, a promoção da saúde e para o tratamento, sempre respeitando a dignidade humana
(BRASIL, 1990a).
c. Atender a todos, sem distinções, de acordo com suas necessidades, e sem cobrar nada, sem
levar em conta o poder aquisitivo ou se a pessoa contribui ou não com a Previdência Social
(BRASIL, 1990a).
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
Justificativa: o Princípio da Universalidade estabelece que o SUS deve atender a todos sem
distinções, de acordo com suas necessidades, sem cobrar nada, sem levar em conta o poder aquisitivo
nem o fato de a pessoa contribuir ou não com a Previdência Social. O Princípio da Equidade
estabelece que o SUS deve oferecer os recursos de saúde de acordo com as necessidades de cada
indivíduo/serviço/comunidade e deve identificar as diferenças entre os grupos populacionais,
trabalhando para cada necessidade diferente e oferecendo mais aos mais necessitados para reduzir
as desigualdades. O Princípio da Integralidade estabelece que no SUS a pessoa deve ser tratada
como um todo, ou seja, que as ações de saúde devem estar voltadas, ao mesmo tempo, para o
indivíduo e para a comunidade, para a prevenção de doenças, a promoção da saúde e para o
tratamento, respeitada sempre a dignidade humana.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
53
Unidade I
(Diretrizes organizativas)
54