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FARMACOLOGIA

Unidade II
5 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

O sistema nervoso autônomo (SNA) é uma divisão do sistema nervoso periférico que controla a
musculatura lisa e as glândulas e, portanto, influencia a função dos órgãos internos. Trata-se de um
sistema de controle que atua inconscientemente e regula funções corporais em geral, como a frequência
cardíaca, a digestão, a frequência respiratória, a resposta pupilar, a micção e a excitação sexual. No
sistema nervoso central é o hipotálamo que coordena o SNA.

O SNA é dividido em dois subsistemas: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso


parassimpático. O sistema nervoso simpático é muitas vezes considerado o sistema de “luta ou fuga”,
enquanto o sistema nervoso parassimpático, nesse caso, pode ser considerado o sistema de “descanso
e digestão” (ou vegetativo). Em muitas circunstâncias, os sistemas têm ações “opostas”: enquanto um
ativa uma resposta fisiológica, o outro a inibe.

Uma simplificação antiga, tachando os sistemas nervoso simpático e parassimpático de “excitório” e


“inibitório”, respectivamente, foi derrubada devido às muitas exceções encontradas. Uma caracterização
mais moderna retrata o sistema nervoso simpático como um “sistema de mobilização de resposta rápida”
e o parassimpático como um “sistema de amortecimento mais lentamente ativado”. Recentemente,
um terceiro subsistema do SNA foi descoberto, recebendo a denominação de entérico (por controlar,
particularmente, o intestino).

Em geral, o SNA simpático e o SNA parassimpático devem ser vistos como moduladores das funções
vitais, geralmente de forma antagônica, para conseguir a homeostase. Algumas ações típicas dos
sistemas simpático e parasimpático estão ilustradas e são listadas a seguir.

• Sistema nervoso simpático: promove uma resposta de luta ou fuga e está relacionado à excitação,
à geração de energia e à inibição da digestão. A seguir estão algumas das funções desempenhadas
pelo sistema nervoso simpático.

— Desvia o fluxo sanguíneo do trato gastrointestinal (TGI) e da pele através da vasoconstrição (o


fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos é aumentado em até 1.200%).

— Dilata os bronquíolos do pulmão através da adrenalina circulante, o que permite maior troca
de oxigênio alveolar.

— Aumenta a frequência cardíaca e a contratilidade das células cardíacas (miócitos),


proporcionando, assim, um mecanismo para o aumento do fluxo sanguíneo para os
músculos esqueléticos.
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— Dilata as pupilas e relaxa o músculo ciliar nos olhos, permitindo que mais luz entre no olho e
melhorando a visão distante.

— Fornece vasodilatação para os vasos coronários do coração.

— Contrai todos os esfíncteres intestinais e o esfíncter urinário.

— Inibe o peristaltismo.

— Estimula o orgasmo.

• Sistema nervoso parassimpático: promove tanto a resposta vegetativa “descanso” quanto as


respostas regulares do organismo, além de melhorar a digestão. A seguir estão algumas das
funções desempenhadas pelo sistema nervoso parassimpático.

— Dilatação dos vasos sanguíneos que levam ao TGI, aumentando o fluxo sanguíneo (isso é
importante após o consumo de alimentos, devido à maior exigência metabólica).

— Contração dos bronquíolos pulmonares (pois a necessidade de oxigênio está reduzida).

— Diminuição da frequência cardíaca por estimulação do nervo vago.

— Constrição da pupila e contração dos músculos ciliares, facilitando a acomodação visual e


permitindo uma visão mais próxima.

— Estimulação da secreção das glândulas salivares e aceleração do peristaltismo, mediando a


digestão dos alimentos e, indiretamente, a absorção de nutrientes.

— Estimulação sexual (promovendo a ereção).

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Parassimpático Simpático
Dilata a pupila
Contrai a pupila

Estimula a salivação Inibe a salivação


Gânglios
Reduz os simpáticos
batimentos Relaxa os
cardíacos brônquios

Contrai os
brônquios Acelera os
batimentos cardíacos

Estimula a atividade Inibe a atividade


do estômago e do do estômago e
pâncreas do pâncreas

Estimula a Estimula a liberação de


vesícula biliar glicose pelo fígado

Estimula a produção
de adrenalina e
noradrenalina
Contrai a bexiga Relaxa a bexiga

Promove a ereção Promove a ejaculação

Figura 11 – As principais funções do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático

5.1 Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos

Os fármacos que afetam o sistema nervoso autônomo parassimpático são chamados de colinérgicos
ou anticolinérgicos, pois agem em receptores de acetilcolina. A acetilcolina é um neurotransmissor que
é liberado quando ocorre a estimulação dos neurônios parassimpáticos e também é usada na junção
neuromuscular - em outras palavras, é a substância química que os neurônios motores do sistema
nervoso liberam para ativar os músculos. Essa propriedade significa que os fármacos que agem sobre os
sistemas colinérgicos podem ter efeitos muito perigosos, desde paralisia até convulsões. No cérebro, a
acetilcolina funciona como neurotransmissor e como neuromodulador: o cérebro contém várias áreas
colinérgicas, cada uma com funções distintas e desempenhando um papel importante na excitação,
atenção, memória e motivação.

Em parte em razão de sua função de ativação muscular e em parte em razão de suas funções no sistema
nervoso autônomo e no cérebro, um grande número de fármacos importantes exerce os seus efeitos alterando
a transmissão colinérgica. Inúmeros venenos e toxinas produzidos por plantas, animais e bactérias, bem como
agentes químicos nervosos como o sarin, causam dano ao inativar ou hiperativar os músculos através de
suas influências na junção neuromuscular. Drogas que agem sobre receptores de acetilcolina muscarínicos,
como atropina, podem ser venenosas em grandes quantidades, mas, em doses menores, podem ser usadas
para tratar certas condições cardíacas e problemas oculares. A escopolamina, que atua principalmente nos
receptores muscarínicos no cérebro, pode causar delírio e amnésia. As qualidades viciantes da nicotina derivam
de seus efeitos sobre os receptores nicotínicos de acetilcolina no cérebro.
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Nos órgãos-alvo, ou seja, no local em que a acetilcolina terá efeito, é necessário que haja receptores
específicos para esse neurotransmissor. Duas famílias de receptores colinérgicos foram descobertas e
designadas como receptores muscarínicos e receptores nicotínicos.

5.1.1 Receptores muscarínicos

Os receptores de acetilcolina muscarínicos possuem um mecanismo de sinalização complexo e afetam


as céulas-alvo ao longo de um período de tempo mais longo. Em mamíferos, foram identificados cinco
subtipos de receptores muscarínicos, chamados de M1 a M5. Todos eles funcionam como receptores
acoplados à proteína G, o que significa que eles exercem seus efeitos através de segundos mensageiros
intracelulares. Somente os receptores M1, M2 e M3 têm importância clínica e já foram funcionalmente
caracterizados; eles se localizam em gânglios do sistema nervoso periférico e nos órgãos efetores do
sistema nervoso autônomo parassimpático (como coração, músculos lisos, cérebro e glândulas exócrinas).
Os receptores M1 são encontrados nas células parietais gástricas, os receptores M2 são encontrados
nas células cardíacas e no músculo liso, e os receptores M3 estão presentes na bexiga, nas glândulas
exócrinas e no músculo liso.

5.1.2 Receptores nicotínicos

Esses receptores são canais iônicos capazes de se ligar à acetilcolina e à nicotina. A ligação de
duas moléculas de acetilcolina promove sua abertura, permitindo a entrada de Na+ e resultando na
despolarização da célula efetora. Os receptores nicotínicos estão localizados no sistema nervoso central,
na glândula suprarrenal, nos gânglios do sistema nervoso autônomo e na junção neuromuscular. Os
receptores nícotínicos encontrados na junção neuromuscular são designados como Nm, e os outros
nicotínicos, de Nn. Os receptores nicotínicos ganglionares são diferentes dos receptores nicotínicos
da junção neuromuscular: os receptores nicotínicos ganglionares, por exemplo, apresentam cinco
subunidades proteicas, enquanto os receptores nicotínicos da junção neuromuscular apresentam quatro
dessas subunidades.

5.1.3 Fármacos colinérgicos

Os fármacos colinérgicos são divididos em três classes terapêuticas: os agonistas de ação direta, os
agonistas de ação indireta reversíveis e os agonistas de ação indireta irreversíveis.

Agonistas colinérgicos de ação direta

Esses fármacos são também conhecidos como parassimpatomiméticos, pois seus efeitos mimetizam
(se assemelham) os causados pela acetilcolina, sendo, porém, mais prolongados. A seguir estão listados
os principais fármacos dessa classe.

• Betanecol: 1 – Mecanismo de ação: agonista muscarínico; 2 – Indicação: por atuar como


agonista muscarínico, age no relaxamento dos esfíncteres da bexiga, aumentando a pressão
de micção e causando a expulsão da urina. É indicado nos casos de retenção urinária não
obstrutiva no pós-parto ou pós-operatório; 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica
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generalizada (diaforese, salivação, rubor, diminuição da pressão arterial, náuseas, dor


abdominal, diarreia e broncoespasmos).

• Pilocarpina: 1 – Mecanismo de ação: agonista muscarínico; 2 – Indicação: a pilocarpina, quando


administrada nos olhos, promove rápida miose e contração do músculo ciliar, sendo, portanto,
indicada para tratamento de glaucomas; 3 – Efeitos adversos: por ter efeito central, pode causar
distúrbios cerebrais.

Agonistas colinérgicos de ação indireta reversíveis

A enzima acetilcolinesterase é responsável por degradar a acetilcolina quando esta é liberada


nas fendas sinápticas. Dessa forma, fármacos que inibem ou bloqueiam essa enzima aumentarão a
sobrevida da acetilcolina nas sinapses, prolongando ou potencializando os efeitos colinérgicos. Os
fármacos inibidores de acetilcolina são também chamados de agonistas colinérgicos de ação indireta,
já que indiretamente aumentam os níveis desse neurotransmissor. O fato de o fármaco se ligar
reversivelmente a acetilcolinesterase o torna relativamente mais seguro do que os fármacos que se
ligam irreversivelmente a essa enzima. Os efeitos colinérgicos são sentidos em todos os receptores de
acetilcolina (muscarínicos e nicotínicos). A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Neostigmina: 1 – Mecanismo de ação: inibidor de acetilcolinesterase; 2 – Indicação:


miastenia grave, estimulante da bexiga e do TGI; 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica
generalizada (diaforese, salivação, rubor, diminuição da pressão arterial, náuseas, dor
abdominal, diarreia e broncoespasmos).

• Tacrina, donepezila, rivastigmina e galantamina: 1 – Mecanismo de ação: inibidores de


acetilcolinesterase de ação central; 2 – Indicação: esses fármacos são indicados para tratamento
da doença de Alzheimer, pois nessa patologia há perda de neurônios colinérgicos no sistema
nervoso central; 3 – Efeitos adversos: distúrbios do TGI, entre outros.

Agonistas colinérgicos de ação indireta irreversível

Esses fármacos são também conhecidos como organofosforados e apresentam a propriedade de se


ligar irreversivelmente à acetilcolinesterase. Muitos deles são extremamente tóxicos: o paration, por
exemplo, é usado como inseticida.

• Ecotiofato: 1 – Mecanismo de ação: inibidor irreversível da acetilcolinesterase; 2 – Indicação:


tratamento do glaucoma (por estimular intensa miose); 3 – Efeitos adversos: estimulação
colinérgica generalizada, paralisia da função motora e convulsões.

5.1.4 Fármacos anticolinérgicos

Os antagonistas colinérgicos (ou bloqueadores colinérgicos ou, ainda, parassimpatolíticos)


ligam‑se aos receptores colinérgicos bloqueando-os e impedindo a ligação da acetilcolina. Os
efeitos da estimulação parassimpática são interrompidos e as ações da estimulação simpática
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ficam sem oposição. Esses fármacos podem ser seletivos para os receptores nicotínicos ou seletivos
para os receptores muscarínicos.

Fármacos antimuscarínicos

São fármacos capazes de bloquear seletivamente os receptores muscarínicos, causando a inibição de


todas as funções muscarínicas, incluindo os receptores que estão nas glândulas salivares e sudoríparas.
A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Atropina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico; 2 – Indicação: antiespasmódico


do TGI (hiosciamina), antissecretor para cirurgias (saliva e suor) e para causar midríase (pupila
dilatada) em exames oftalmológicos; 3 – Efeitos adversos: xerostomia, visão borrada, taquicardia
e constipação.

• Escopolamina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico; 2 – Indicação: anticinestósico


(bloqueia as doenças do movimento, como a cólica), bloqueio da memória de curta duração; 3 –
Efeitos adversos: semelhantes aos da atropina.

• Ipratrópio e tiotrópio: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico inalado; 2 – Indicação:


tratamento de manutenção do broncoespasmo associado com a doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC), bronquites crônicas, enfisema e asma; 3 – Efeitos adversos: esses fármacos são
pouco absorvidos e causam poucas reações adversas.

• Oxibutinina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico M3; 2 – Indicação: doença da bexiga


superativa (diminui a pressão intravesicular e aumenta a capacidade vesical, enfraquecendo a
frequência de contração da bexiga; 3 – Efeitos adversos: xerostomia, visão borrada e constipação.

Observação

A atropina é obtida a partir da Atropa belladonna (beladona),


antigamente usada para dilatar a pupila e aliviar a asma.

5.2 Fármacos que atuam na junção neuromuscular

Os fármacos que atuam na junção neuromuscular geralmente são bloqueadores dessa transmissão
colinérgica. São análogos à acetilcolina e atuam como antagonistas nicotínicos (não despolarizantes) ou
agonistas nicotínicos (despolarizantes) na placa motora da junção neuromuscular. Esses fármacos são
bastante utilizados para se obter uma paralisia muscular durante um procedimento cirúrgico ou para
facilitar a intubação na traqueia.

A tubocurarina foi o primeiro fármaco capaz de bloquear a junção neuromuscular e foi isolada
do curare (componente do veneno da pele de sapos da região amazônica). A seguir estão listados os
principais fármacos desta classe.
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• Pancurônio, atracúrio, vecurônio, rocurônio, cisatracúrio: 1 – Mecanismo de ação: bloqueadores


neuromusculares não despolarizantes antagonistas de receptores nicotínicos; 2 – Indicação: são
utilizados como adjuvantes de anestesia durante a cirurgia para relaxar os músculos esqueléticos
e em cirurgias ortopédicas; 3 – Efeitos adversos: em geral apresentam boa segurança, mas
eventualmente podem aumentar a frequência cardíaca.

• Succinilcolina: 1 – Mecanismo de ação: bloqueador neuromuscular despolarizante agonista


de receptores nicotínicos (isso se deve ao fato de esse fármaco ter efeito semelhante ao da
acetilcolina porém não ser degradado pela acetilcolinesterase, permanecendo, portanto, na junção
neuromuscular); 2 – Indicação: intubação endotraqueal rápida; 3 – Efeitos adversos: hipertermia,
apneia e hiperpotassemia.

5.3 Fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos

Os fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos atuam em receptores que são estimulados pela noradrenalina
(norepinefrina) ou pela adrenalina (epinefrina). Os neurônios adrenérgicos liberam noradrenalina como
neurotransmissor primário. Esses neurônios são encontrados no sistema nervoso central e no sistema nervoso
simpático, onde servem de ligação entre os gânglios e os órgãos efetores.

5.3.1 Receptores adrenérgicos

Os receptores adrenérgicos (ou adrenoceptores) são uma classe de receptores acoplados a proteínas
G que são alvos das catecolaminas, especialmente a norepinefrina (noradrenalina) e a epinefrina
(adrenalina). Muitas células possuem esses receptores, e a ligação de uma catecolamina ao receptor
irá geralmente estimular o sistema nervoso simpático. Como vimos anteriormente, o sistema nervoso
simpático é responsável pela resposta de luta ou fuga, que inclui dilatação das pupilas, aumento da
frequência cardíaca, mobilização de energia e desvio do fluxo sanguíneo de órgãos não essenciais para
o músculo esquelético.

São divididos em dois grupos principais de receptores: α (alfa) e β (beta), com vários subtipos. Os
receptores alfa têm os subtipos alfa-1 (um receptor acoplado Gq) e alfa-2 (um receptor acoplado Gi).
Os receptores beta têm os subtipos beta-1, beta-2 e beta-3. Todos três estão ligados a proteínas G,
que, por sua vez, estão ligadas à adenilato ciclase. A ligação agonista origina, assim, um aumento na
concentração intracelular do segundo cAMP de mensageiro. Os efetores a jusante de AMPc incluem
a proteína quinase dependente de AMPc (PKA), que medeia alguns dos eventos intracelulares após a
ligação hormonal.

Receptor alfa-1-adrenérgico

Os receptores alfa-1-adrenérgicos são membros da superfamília do receptor acoplado à proteína


Gq. Após a ativação, há o aumento do conteúdo de cálcio numa célula. As ações específicas do alfa-1
envolvem principalmente a contração do músculo liso. Esse receptor causa vasoconstrição em muitos
vasos sanguíneos, incluindo os da pele, do sistema gastrointestinal, do rim (artéria renal) e do cérebro.
Outras áreas de contração do músculo liso são: ureter, vasos deferentes, cabelo (músculo eretor dos
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pelos), útero (quando grávida), esfíncter uretral, bronquíolos (embora menores em relação ao efeito
relaxante do receptor beta-2 nos bronquíolos), vasos sanguíneos do corpo ciliar (a estimulação causa
midríase). Os efeitos sobre o metabolismo incluem glicogenólise e gliconeogênese do tecido adiposo e
do fígado, bem como secreção de glândulas sudoríparas e reabsorção de Na+ nos rins.

Receptor alfa-2-adrenérgico

O receptor alfa-2-adrenérgico é acoplado à proteína Gi. É um receptor pré-sináptico, causando


feedback negativo sobre, por exemplo, a liberação de noradrenalina (NA). Quando a NA é liberada
na sinapse, age no receptor alfa-2, diminuindo a liberação de NA do neurônio pré-sináptico, o que
reduz o efeito de NA. Existem também receptores alfa-2 na membrana terminal nervosa do neurônio
adrenérgico pós-sináptico. As ações específicas do receptor alfa-2 incluem: inibição da liberação de
insulina no pâncreas, indução da liberação de glucagon do pâncreas, contração de esfíncteres do trato
gastrointestinal, feedback negativo nas sinapses neuronais (inibição pré-sináptica da liberação da NA no
sistema nervoso central, aumento da agregação de trombócitos).

Receptor beta-1-adrenérgico

As ações específicas do receptor beta-1 incluem: ampliar o débito cardíaco aumentando a frequência
cardíaca (efeito cronotrópico positivo), a velocidade de condução (efeito cromotrópico positivo) e o
volume sistólico (aumentando o efeito inotrópico positivo da contratilidade), ampliar a secreção de
renina de células justaglomerulares do rim e aumentar a secreção de grelina do estômago.

Receptor beta-2-adrenérgico

Os receptores beta-2-adrenérgicos estimulam as células a aumentar a produção de


energia, além de promover a utilização dessa energia. As ações específicas do receptor beta-
2 incluem: o relaxamento do músculo liso causando também relaxamento nos brônquios; no
trato gastrointestinal, a diminuição da motilidade e a vasodilatação dos vasos sanguíneos,
especialmente no músculo esquelético; a lipólise no tecido adiposo; anabolismo no músculo
esquelético; relaxamento uterino; relaxamento do músculo urinário e do detrusor da parede da
bexiga; dilatação das artérias do músculo esquelético, glicogenólise e gliconeogênese; estimulação
da secreção de insulina; secreção das glândulas salivares; inibição da liberação de histamina dos
mastócitos; aumento da secreção de renina do rim; e relaxamento de bronquíolos.

5.3.2 Agonistas adrenérgicos

Os fármacos agonistas adrenérgicos são divididos em três categorias: agonistas de ação direta,
agonistas de ação indireta e agonistas de ação mista.

Agonistas adrenérgicos de ação direta

Esses fármacos se ligam aos receptores adrenérgicos sem interagir com o neurônio pré-sináptico. A
seguir estão listados os principais fármacos desta classe.
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• Epinefrina: 1 – Mecanismo de ação: é um neurotransmissor natural do organismo e age


diretamente em todos os receptores adrenérgicos; 2 – Indicação: emergência envolvendo
asma aguda (broncodilatadora), choque anafilático, parada cardíaca (cronotropismo positivo),
coadjuvante em anestesias locais (aumenta o tempo do anestésico por promover vasoconstrição);
3 – Efeitos adversos: os principais efeitos adversos incluem distúrbios no sistema nervoso central,
hemorragia, arritmias cardíacas e edema pulmonar.

• Norepinefrina: 1 – Mecanismo de ação: é um neurotransmissor dos nervos adrenérgicos


e, teoricamente, deveria estimular todos os receptores adrenérgicos; contudo, em doses
terapêuticas, a noradrenalina/norepinefrina age preferencialmente nos receptores alfa-
adrenérgicos; 2 – Indicação: choques; 3 – Efeitos adversos: são similares aos efeitos adversos
da epinefrina.

• Dopamina: 1 – Mecanismo de ação: é estimulante do sistema simpático; exerce efeito inotrópico


positivo em doses baixas e promove vasodilatação cerebral, renal e mesentérica, com aumento
do débito urinário. Em doses altas promove aumento do tônus vascular e da pressão venosa
central, semelhante ao efeito da noradrenalina (melhora a pressão arterial e aumenta o trabalho
do miocárdio). 2 – Indicação: casos de hipotensão aguda, choque, descompensação cardíaca,
como a encontrada na insuficiência cardíaca congestiva crônica ou insuficiência cardíaca aguda.
3 – Efeitos adversos: estão descritos distúrbios no sistema nervoso central, hemorragia, arritmias
cardíacas e edema pulmonar.

• Dobutamina: 1 – Mecanismo de ação: agonista beta-1 seletivo; 2 – Indicação: insuficiência cardíaca


congestiva (amplia o débito cardíaco); 3 – Efeitos adversos: aumenta a condução atrioventricular.

• Fenilefrina: 1 – Mecanismo de ação: agonista alfa-1 seletivo; 2 – Indicação: congestão


nasal (produz vasoconstrição prolongada); 3 – Efeitos adversos: cefaleia hipertensiva e
irregularidades cardíacas.

• Clonidina: 1 – Mecanismo de ação: agonista alfa-2 seletivo; 2 – Indicação: hipertensão essencial


(inibe centros vasomotores simpáticos, diminuindo a estimulação simpática periférica); 3 – Efeitos
adversos: letargia, sedação, constipação e xerostomia.

• Terbutalina: 1 – Mecanismo de ação: agonista beta-2 seletivo de ação curta; 2 – Indicação:


broncodilatadores e relaxante uterino para evitar partos prematuros; 3 – Efeitos adversos: tremores
nas mãos, intranquilidade, apreensão e ansiedade.

• Salmeterol e formoterol: 1 – Mecanismo de ação: agonista beta-2 seletivos de ação prolongada;


2 – Indicação: broncodilatador, agindo melhor em monoterapia (sem concomitância de
glicocorticoides); 3 – Efeitos adversos: esses fármacos não devem ser usados em excesso, pois há
relatos de mortes por conta do uso exagerado.

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Quadro 3 – Principais agonistas adrenérgicos

Fármaco Receptor Uso terapêutico


Fenilefrina Alfa-1 Descongestionante nasal
Metoxamina Alfa-1 Taquicardia
Clonidina Alfa-2 Taquicardia
Metaprotenerol Beta-1 Hipertensão
Terbutalina Beta-2 Broncoespasmos
Ritodrina Beta-2 Parto prematuro
Albuterol Beta-2 Broncoespasmos
Anfetamina Alfa e beta Hiperatividade
Efedrina Alfa e beta Descongestionante nasal

Agonistas adrenérgicos de ação indireta

Esses fármacos promovem a liberação de noradrenalina dos terminais pré-sinápticos ou inibem


a captação de noradrenalina. Agem potencializando os efeitos da noradrenalina endógena, mas não
diretamente sobre os receptores adrenérgicos. Entre os exemplos de fármacos agonistas de ação indireta
temos: as anfetaminas (recentemente proibidas no Brasil), a tiramina e a cocaína (droga ilícita).

Agonistas adrenérgicos de ação mista

Os agonistas adrenérgicos de ação mista induzem a liberação de noradrenalina dos terminais


pré‑sinápticos, agindo também diretamente sobre os receptores adrenérgicos. Entre os fármacos
dessa categoria, podem-se citar as efedrinas e a pseudoefedrina, sendo a utilização de ambas bem
restrita no país.

5.3.3 Antagonistas adrenérgicos

Os fármacos antagonistas adrenérgicos (bloqueadores adrenérgicos ou simpatolíticos) ligam-se aos


receptores adrenérgicos, mas não produzem efeitos, porém evitam a ativação desses receptores pela
noradrenalina endógena. Assim como os agonistas, os antagonistas adrenérgicos são classificados de
acordo com suas afinidades pelos receptores alfa e beta no sistema nervoso periférico. Numerosos
fármacos desse tipo são utilizados na clínica, principalmente devido aos seus efeitos sobre o sistema
cardiovascular.

Bloqueadores alfa-adrenérgicos

Os fármacos que bloqueiam os receptores alfa interferem drasticamente na pressão arterial, uma vez
que o controle do tônus vascular é feito pelo sistema simpático em receptores alfa. Porém, esse bloqueio
leva à redução do tônus, o que resulta em menor resistência vascular periférica com taquicardia reflexa.
Tais efeitos são sentidos principalmente com usuários em pé, sendo menos frequentes quando o paciente
se encontra sentado ou deitado. A seguir estão listados os principais fármacos desta classe.

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• Fenoxibenzamina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista alfa não seletivo (bloqueio do alfa-1


e do alfa-2); 2 – Indicação: tratamento do feocromocitoma (tumor na glândula suprarrenal);
3 – Efeitos adversos: hipotensão postural, congestão nasal, taquicardia reflexa, náuseas e êmese.

• Prazosina, terazosina, doxazosina, tansulosina: 1 – Mecanismo de ação: são bloqueadores


competitivos dos receptores alfa-1; 2 – Indicação: esses fármacos podem ser indicados para
hipertensão arterial e hipertrofia prostática benigna; 3 – Efeitos adversos: para tratamento
de hipertensão, a primeira dose do fármaco pode levar à hipotensão ortostática e à síncope
(desmaio), tontura, falta de energia, congestão nasal, cefaleia ou sonolência.

Bloqueadores beta-adrenérgicos

Os betabloqueadores, também escrito como β-bloqueadores, são antagonistas competitivos


que bloqueiam os locais receptores das catecolaminas endógenas epinefrina (adrenalina) e
norepinefrina (noradrenalina) nos receptores beta-adrenérgicos do sistema nervoso simpático.
Alguns bloqueiam a ativação de todos os tipos de receptores β-adrenérgicos e outros são
seletivos para um dos três tipos conhecidos de receptores beta (designados receptores β1, β2 e
β3). Os receptores β1-adrenérgicos estão localizados principalmente no coração; os receptores
β2‑adrenérgicos estão presentes principalmente nos pulmões, no trato gastrointestinal, no
fígado, no útero, no músculo liso vascular e no músculo esquelético; por fim, os receptores
β3‑adrenérgicos estão localizados em células adiposas.

Os bloqueadores beta representam uma classe de medicamentos que particularmente utilizada


para controlar arritmias cardíacas e proteger o coração de um segundo ataque cardíaco (infarto do
miocárdio) após um primeiro ataque cardíaco (prevenção secundária). Eles também são amplamente
utilizados para tratar a hipertensão, embora já não sejam a primeira escolha para o tratamento inicial
da maioria dos pacientes.

A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Propranolol: 1 – Mecanismo de ação: betabloqueador não seletivo (beta-1 e beta-2) que promove
diminuição do débito cardíaco, vasocontrição periférica, broncoconstrição, aumento na retenção
de Na+ e distúrbios no metabolismo da glicose; 2 – Indicação: é indicado principalmente para
hipertensão arterial sistêmica (redução do débito cardíaco), enxaqueca, hipertireoidismo
(principalmente, no hipertireoidismo agudo, na prevenção dos efeitos da tempestade tireóidea),
angina pectoris (diminui a necessidade de oxigênio no coração) e infarto do miocárdio; 3 – Efeitos
adversos: broncoconstrição (contraindicado para asmáticos), arritmias, comprometimento sexual,
distúrbios metabólicos, depressão, tonturas, letargia, fadiga e fraqueza.

• Timolol: 1 – Mecanismo de ação: betabloqueador não seletivo (beta-1 e beta-2) mais potente que
o propranolol; 2 – Indicação: tratamento de glaucoma (diminui a pressão intraocular e a produção
de humor aquoso nos olhos); 3 – Efeitos adversos: como a administração é tópica, os efeitos
adversos são reduzidos.

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• Atenolol, metoprolol, bisoprolol, betaxolol, nebivolol: 1 – Mecanismo de ação: são betabloqueadores


beta-1 seletivos, agem na redução da pressão arterial em hipertensos e aumentam a tolerância
ao exercício na angina; 2 – Indicação: hipertensão arterial sistêmica, inclusive para pacientes com
função respiratória comprometida ou pacientes diabéticos que usam insulina ou hipoglicemiantes
orais; 3 – Efeitos adversos: frio nas extremidades, entre outros.

• Labetalol e carvedilol: 1 – Mecanismo de ação: são betabloqueadores seletivos beta-1 e


antagonistas de receptores alfa-1 concomitantemente, promovem vasodilatação periférica,
reduzindo a pressão arterial e diminuindo o espessamento da parede vascular; 2 – Indicação:
hipertensão arterial sistêmica quando se deseja promover concomitantemente vasodilatação
periférica (os demais betabloqueadores induzem vasoconstrição periférica como efeito
indesejado); também para insuficiência cardíaca e pré-eclâmpsia (labetalol); 3 – Efeitos
adversos: hipotensão ortostática e tonturas.

Quadro 4 – Principais betabloqueadores

Fármaco Ação principal Uso/Funções


Fenoxibenzamida Antagonista alfa Feocromocitoma
Fentatomina Antagonista alfa Raramente utilizada
Prazosina Antagonista alfa-1 Hipertensão
Ioimbina Antagonista alfa-2 Não utilizada
Propranolol Antagonista beta Angina, hipertensão, arritmias, glaucoma
Alprenolol Antagonista beta Idem ao propranolol
Practolol Antagonista beta-1 Hipertensão, angina, arritmias
Metoprolol Antagonista beta-1 Hipertensão, angina, arritmias
Butonamina Antagonista beta-2 Não utilizada
Labetalol Antagonista alfa/beta Pré-eclâmpsia

Observação
Em 1964, James Black sintetizou o primeiro betabloqueador
(propranolol). Com isso, ele revolucionou o tratamento da angina, e sua
descoberta até hoje é considerada uma das contribuições mais importantes
para a Medicina Clínica e a Farmacologia do século XX.

Saiba mais
O livro Manual de Farmacoterapia, de Wells, é uma sugestão de
referência para seus estudos:
WELLS, B. G. et al. Manual de Farmacoterapia. 9. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2016.

58
FARMACOLOGIA

6 FÁRMACOS QUE ATUAM NOS SISTEMAS CARDIOVASCULAR E RENAL

As doenças cardiovasculares são uma classe de doenças que envolvem o coração ou vasos
sanguíneos. Entre essas patologias se incluem doenças da artéria coronária, como angina e infarto do
miocárdio (comumente conhecido como ataque cardíaco). Outras doenças cardiovasculares incluem
acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença cardíaca hipertensiva, cardiopatia reumática,
cardiomiopatia, arritmia cardíaca, cardiopatia congênita, doença cardíaca valvar, cardite, aneurismas da
aorta, doença arterial periférica, doença tromboembólica e trombose venosa.

Os mecanismos subjacentes variam dependendo da doença em questão. A doença da artéria coronária,


o acidente vascular cerebral e a doença arterial periférica, por exemplo, envolvem a aterosclerose. Tal
quadro pode ser causado por pressão alta, tabagismo, diabetes, falta de exercício, obesidade, colesterol
elevado no sangue, má alimentação e consumo excessivo de álcool, entre outros. A pressão arterial
elevada resulta em 13% das mortes por doenças cardiovasculares; já o tabaco resulta em 9%, a diabetes
em 6%, a falta de exercício em 6% e a obesidade em 5%.

6.1 Fármacos anti-hipertensivos

A hipertensão arterial, também conhecida como pressão arterial elevada, é uma condição médica
de longo prazo em que a pressão nas artérias é persistentemente elevada. A pressão arterial elevada
geralmente não causa sintomas, mas, a longo prazo, torna-se um importante fator de risco para: doença
arterial coronariana, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, perda
de visão e doença renal crônica.

A hipertensão pode ser classificada como primária (essencial) ou secundária. Cerca de 90%-95%
dos casos são primários, definidos como hipertensão devido ao estilo de vida e a fatores genéticos. Os
hábitos de vida que aumentam o risco incluem consumo desmedido de sal, excesso de peso corporal,
tabagismo e álcool. Já a hipertensão secundária é definida como pressão arterial elevada diretamente
relacionada a uma causa identificável, como doença renal crônica, estreitamento das artérias renais,
doença endócrina ou uso de pílulas anticoncepcionais.

A pressão arterial é expressa por duas medidas, as pressões sistólica e diastólica (que são as pressões
máxima e mínima, respectivamente). A pressão arterial normal em repouso está dentro da faixa de
100‑140 milímetros de mercúrio (mmHg) sistólica e 60-90 mmHg diastólica. A hipertensão será
diagnosticada se a pressão arterial em repouso for persistentemente igual ou superior a 140/90 mmHg
em adultos em repouso, e o monitoramento ambulatorial da pressão arterial durante um período de 24
horas é mais preciso para o diagnóstico definitivo.

Alterações de estilo de vida e medicamentos podem diminuir a pressão arterial e diminuir o risco de
complicações de saúde. Mudanças no estilo de vida incluem perda de peso, diminuição da ingestão de
sal, exercício físico e uma dieta saudável. Se as mudanças de estilo de vida não forem suficientes, então
os medicamentos serão recomendados. Muitas vezes, apenas um fármaco é insuficiente para controlar
a hipertensão, tornando-se, portanto, necessária a introdução concomitante de vários fármacos.

59
Unidade II

Quadro 5 – Classificação da pressão arterial com base


nas Diretrizes Nacionais de Hipertensão

Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg)


Ótima <120 <80
Normal <130 <85
Limítrofe 130-139 85-89
Hipertensão estágio 1 140-159 90-99
Hipertensão estágio 2 160-179 100-109
Hipertensão estágio 3 >180 >110
Hipertensão sistólica isolada >140 <90

6.1.1 Mecanismos de controle da pressão arterial

A regulação endógena da pressão arterial ainda não é completamente compreendida, mas alguns
mecanismos foram bem-caracterizados. Observe-os a seguir.

• Reflexo barorreceptor: os barorreceptores nas zonas receptoras de alta pressão detectam alterações
na pressão arterial, enviando sinais, em última análise, para a medula do tronco cerebral, mais
especificamente para a medula rosilar ventrolateral (RVLM). A medula, por meio do sistema nervoso
autônomo, ajusta a pressão arterial média, alterando a força e a velocidade das contrações do
coração, bem como a resistência vascular sistêmica. Os barorreceptores arteriais mais importantes
estão localizados nos seios carotídeos esquerdo e direito e no arco aórtico.

• Sistema renina-angiotensina (RAS): esse sistema é geralmente conhecido por seu ajuste de longo
prazo da pressão arterial, permitindo que o rim a adapte à volemia, ativando um vasoconstritor
endógeno conhecido como angiotensina II.

• Liberação de aldosterona: esse hormônio esteroide é liberado do córtex adrenal em resposta à


angiotensina II ou a níveis elevados de potássio sérico. A aldosterona estimula a retenção de
sódio e a excreção de potássio pelos rins. Uma vez que o sódio é o principal íon que determina a
quantidade de líquido nos vasos sanguíneos por osmose, a aldosterona aumentará a retenção de
líquidos e, indiretamente, a pressão arterial.

• Barorreceptores em zonas receptoras de baixa pressão (principalmente nas veias cava e nas veias
pulmonares e nos átrios): resultam em uma regulação por feedback e promovem a secreção
de hormônio antidiurético (ADH/vasopressina), renina e aldosterona. O aumento resultante no
volume sanguíneo ocasiona um aumento do débito cardíaco pela Lei Frank-Starling, aumentando
a pressão arterial.

Esses diferentes mecanismos não são necessariamente independentes uns dos outros, como indicado
pela ligação entre o RAS e a liberação de aldosterona. Quando a pressão arterial cai, muitos mecanismos
fisiológicos são ativados a fim de restituir um nível mais adequado. A queda da pressão arterial é
detectada por uma diminuição no fluxo sanguíneo e, portanto, uma diminuição da taxa de filtração
60
FARMACOLOGIA

glomerular (TFG). Essa diminuição é sentida como uma redução dos níveis de Na+ pela mácula densa,
que, por sua vez, causa um aumento na reabsorção de Na+; isso faz a água ser reabsorvida por osmose e
leva a um aumento final no volume plasmático. Além disso, a mácula densa libera adenosina, composto
que promove a constrição das arteríolas aferentes. Ao mesmo tempo, as células justaglomerulares
sentem a diminuição da pressão arterial e liberam renina, que converte angiotensinogênio (forma
inativa) em angiotensina I (forma ativa). A angiotensina I flui na corrente sanguínea até atingir os
capilares dos pulmões, onde a enzima de conversão da angiotensina (ECA) age sobre ela para convertê-
la em angiotensina II. Esta é um vasoconstritor que irá aumentar o fluxo sanguíneo para o coração e,
subsequentemente, a pré-carga, ampliando o débito cardíaco. Angiotensina II também provoca um
aumento na liberação de aldosterona das glândulas suprarrenais, a qual estimula ainda mais a reabsorção
de Na+ e H2O no túbulo contorcido distal do néfron.

6.1.2 Estratégias de tratamento

O objetivo do tratamento para hipertensão é reduzir a morbidade cardiovascular e renal e a


mortalidade. A relação entre pressão arterial e risco cardiovascular é muito evidente. As recomendações
atuais são de iniciar o tratamento com um diurético, a menos que haja razão que determine o emprego
de outra classe de fármaco. Caso a pressão arterial não seja controlada adequadamente, deve-se
acrescentar um segundo fármaco, selecionado de acordo com os mínimos efeitos adversos possíveis. Um
vasodilatador pode ser acrescentado como um terceiro fármaco para aqueles usuários que continuam
sem alcançar uma pressão arterial adequada.

A falta de adesão do paciente é a causa mais comum de falha no tratamento da hipertensão. O


paciente geralmente é assintomático e o diagnóstico se dá por triagem de rotina, antes da lesão de um
órgão-alvo. Dessa forma, o objetivo do tratamento é prevenir complicações da doença, e não aliviar
sintomas. Porém, os efeitos adversos podem influenciar a decisão do paciente de se tratar ou não; por
exemplo, os betabloqueadores podem inibir a libido e ocasionar disfunção erétil.

6.1.3 Fármacos anti-hipertensivos

Os fármacos anti-hipertensivos são uma classe de medicamentos variados utilizados para


tratar a hipertensão por diferentes meios. Entre os fármacos mais importantes e mais amplamente
usados estão os diuréticos tiazídicos, os bloqueadores dos canais de cálcio, os inibidores da ECA, os
antagonistas dos receptores da angiotensina II e os betabloqueadores. A seguir estão listados os
principais fármacos dessa classe.

• Hidroclorotiazida e clortalidona: 1 – Mecanismo de ação: são diuréticos tiazídicos que


agem no túbulo contorcido distal dos néfrons (o mecanismo detalhado será abordado mais
adiante); 2 – Indicação: os diuréticos tiazídicos diminuem a pressão arterial tanto com
o corpo deitado como em pé, portanto são indicados para tratamento da hipertensão e
devem ser associados a outros agentes anti-hipertensivos; 3 – Efeitos adversos: induzem
hipopotassemia (às vezes é necessário associar um diurético poupador de K+ na terapia),
hiperuricemia, hiperglicemia e hipomagnesemia.

61
Unidade II

• Betabloqueadores: essa classe já foi estudada na unidade anterior e inclui os fármacos propranolol,
atenolol, metoprolol e nebivolol. 1 – Mecanismo de ação: são antagonistas de receptores
beta‑adrenérgicos podendo ser seletivos para o receptor beta-1 ou não seletivos (beta‑1 e beta‑2);
2 – Indicação: os betabloqueadores são mais eficazes na população branca que na negra, sendo
também mais eficazes em pacientes jovens que em idosos. São úteis no tratamento de condições
que possam coexistir com a hipertensão, como taquicardia supraventricular, infarto do miocárdio,
angina pectoris e insuficiência cardíaca crônica; 3 – Efeitos adversos: os efeitos adversos causados
já foram discutidos.

• Inibidores da ECA: essa classe inclui os fármacos captopril, enalapril, lisinopril, ramipril.
1 – Mecanismo de ação: inibição da enzima conversora da angiotensina, o que promove a
diminuição do vasoconstritor angiotensina II; 2 – Indicação: tratamento da hipertensão; mais
eficazes quando associados aos diuréticos, diminuem a nefropatia diabética, pós‑infartos
do miocárdio e insuficiência cardíaca; 3 – Efeitos adversos: tosse seca, exantema, febre,
alteração no paladar, hipotensão, hiperpotassemia (melhora com a associação com
diuréticos tiazídicos).

• Bloqueadores de receptor de angiotensina II: essa classe terapêutica inclui a losartana, a


valsartana, a olmeosartana, a candesartana, entre outras. 1 – Mecanismo de ação: bloqueiam
os receptores AT1 diminuindo sua ativação pela angiotensina II (seus efeitos farmacológicos
são semelhantes aos dos inibidores da ECA); 2 – Indicação: tratamento da hipertensão, da
nefrotoxicidade em diabéticos, sendo o tratamento ideal se o paciente for hipertenso e
diabético; 3 – Efeitos adversos: causam menos efeitos adversos que os inibidores da ECA,
mas são fetotóxicos.

• Bloqueadores de canais de cálcio: essa classe de medicamentos inclui o dialtiazem, o verapamil,


o nifedipino, o anlodipino e o felodipino. 1 – Mecanismo de ação: a concentração de cálcio
tem um papel importante na manutenção do tônus da musculatura lisa do vaso e na contração
do miocárdio; os antagonistas de canais de cálcio bloqueiam a entrada de cálcio, causando o
relaxamento do músculo liso vascular e dilatando as arteríolas. 2 – Indicação: pacientes hipertensos
que também tenham asma, diabetes, angina (não requer a adição de diuréticos); 3 – Efeitos
adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga.

• Bloqueadores alfa-adrenérgicos: prazosina, doxazosina e terazosina. 1 – Mecanismo


de ação: antagonistas seletivos para os receptores alfa-1-adrenérgicos; 2 – Indicação:
tratamento de hipertensão leve a moderada; 3 – Efeitos adversos: taquicardia reflexa e
síncope na primeira dose.

• Adrenérgicos de ação central: clonidina e metildopa: 1 – Mecanismo de ação: funcionam como


agonistas do receptor alfa-2-adrenérgico, diminuindo a liberação de noradrenalina nos centros
vasomotores centrais; 2 – Indicação: a clonidina é indicada para tratamento de hipertensão de
leve a moderada, e a metildopa é indicada para pacientes com hipertensão e insuficiência renal,
bem como para pré-eclâmpsia; 3 – Efeitos adversos: sedação, xerostomia e constipação.

62
FARMACOLOGIA

• Vasodilatadores: são exemplos dessa classe os fármacos hidralazina e minoxidil. 1 – Mecanismo de


ação: relaxantes de músculo liso de ação direta, o que diminui a resistência periférica e a pressão
arterial; 2 – Indicação: para tratamento de hipertensão e pré-eclâmpsia (hidralazina); 3 – Efeitos
adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga.

Lembrete

A hipertensão arterial, também conhecida como pressão arterial


elevada, é uma condição médica de longo prazo em que a pressão nas
artérias é persistentemente elevada.

6.2 Fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca

A insuficiência cardíaca, frequentemente referida como insuficiência cardíaca congestiva (ICC), ocorre
quando o coração é incapaz de bombear de forma adequada a manter o fluxo sanguíneo apropriado para
atender às necessidades do corpo. Dentre os sinais e sintomas, são comuns falta de ar, cansaço excessivo
e inchaço das pernas (a falta de ar geralmente se faz mais intensa com o exercício físico). As causas mais
comuns de insuficiência cardíaca incluem a doença arterial coronariana, incluindo infarto do miocárdio
anterior (ataque cardíaco), pressão arterial elevada, fibrilação atrial, doença cardíaca valvar, excesso de
álcool, infecção e cardiomiopatia de causa desconhecida. Essas causas levam à insuficiência cardíaca,
alterando a estrutura ou o funcionamento do coração.

Existem dois tipos principais de insuficiência cardíaca: um causado pela disfunção ventricular
esquerda e outro relacionado à fração de ejeção normal (dependendo da capacidade afetada: a do
ventrículo esquerdo de se contrair ou a do coração de relaxar). A gravidade da doença é geralmente
classificada pelo grau de problemas com o exercício físico. Insuficiência cardíaca não é o mesmo
que infarto do miocárdio (em que parte do músculo cardíaco morre) ou parada cardíaca (em que o
fluxo sanguíneo para completamente). Outras doenças que podem ter sintomas semelhantes aos da
insuficiência cardíaca incluem obesidade, insuficiência renal, problemas hepáticos, anemia e doença
da tireoide. A insuficiência cardíaca é uma condição comum, dispendiosa e potencialmente fatal. Nos
países desenvolvidos, cerca de 2% dos adultos têm insuficiência cardíaca, e entre aqueles com mais de
65 anos, essa taxa sobe para o intervalo 6%-10%.

A insuficiência é diagnosticada com base no histórico de sintomas e em um exame físico (teste


ergonométrico) com confirmação por ecocardiografia. Exames de sangue, eletrocardiografia e radiografia
de tórax podem ser úteis para determinar a causa subjacente. O tratamento depende da gravidade
e da causa da doença. Em pessoas com insuficiência cardíaca crônica leve estável, o tratamento
geralmente consiste em modificações no estilo de vida, como parar de fumar, inserir exercício físico
na rotina e fazer algumas mudanças na dieta, bem como lançar mão do uso de alguns medicamentos.
No caso de pacientes com insuficiência cardíaca relacionada à disfunção ventricular esquerda, são
recomendados os inibidores da enzima de conversão da angiotensina ou os bloqueadores dos receptores
da angiotensina juntamente com os betabloqueadores. Para aqueles com um quadro grave, podem
ser utilizados antagonistas da aldosterona ou hidralazina com um nitrato. Os diuréticos são úteis para
63
Unidade II

prevenir a retenção de líquidos, e, às vezes, dependendo da causa, um dispositivo implantado, como


um marca‑passo ou um desfibrilador cardíaco, pode ser recomendado. Em alguns casos moderados ou
graves, a terapia de ressincronização cardíaca (TRC) pode ser sugerida ou a modulação da contratilidade
cardíaca pode ser benéfica. Um dispositivo de assistência ventricular ou, ocasionalmente, um transplante
cardíaco pode ser recomendado para aqueles com doença grave.

6.2.1 Categorização da insuficiência cardíaca

Existem muitas maneiras diferentes de categorizar a insuficiência cardíaca; observe a seguir.

• O lado do coração envolvido (insuficiência cardíaca esquerda versus insuficiência cardíaca direita).
A insuficiência cardíaca direita compromete o fluxo pulmonar para os pulmões. A insuficiência
cardíaca esquerda compromete o fluxo aórtico para o corpo e o cérebro. As duas categorias podem
apresentar-se concomitantemente e são comuns. Insuficiência cardíaca esquerda muitas vezes
leva à insuficiência cardíaca direita a longo prazo.

• Se a anomalia é devido a contração cardíaca insuficiente (disfunção sistólica), relaxamento


insuficiente do coração (disfunção diastólica) ou a ambos.

• Se o problema é principalmente aumento da pressão de retorno venosa (pré-carga) ou falta de


fornecimento de perfusão arterial adequada (pós-carga).

• Se a anormalidade se relaciona ao baixo débito cardíaco com alta resistência vascular sistêmica
ou ao alto débito cardíaco com baixa resistência vascular (insuficiência cardíaca de baixo débito
versus insuficiência cardíaca de alto débito).

• O grau de doença coexistente, isto é, insuficiência cardíaca/hipertensão sistêmica, insuficiência


cardíaca/hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca/diabetes, insuficiência cardíaca/insuficiência
renal etc.

A classificação funcional geralmente depende da catalogação feita pela New York Heart Association.
As classes (I-IV) são:

• classe I: nenhuma limitação é sentida em qualquer atividade, não há sintomas durante


atividades comuns;

• classe II: ligeira limitação de atividade, o paciente está confortável em repouso ou com
esforço leve;

• classe III: a limitação está presente em qualquer atividade, o paciente se sente confortável apenas
em repouso;

• classe IV: durante qualquer atividade física, o desconforto aparece, e os sintomas se manifestam
também em repouso.
64
FARMACOLOGIA

6.2.2 Principais fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca (IC)

A IC é tratada normalmente com redução da atividade física, dieta com baixa ingestão de sódio,
tratamento das condições mórbidas coexistentes e uso criterioso de diuréticos, inibidores de ECA e
fármacos inotrópicos. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Inibidores da ECA: enalapril. 1 – Mecanismo de ação: os inibidores da ECA diminuem a resistência


vascular, o tônus venoso e a pressão arterial, bem como a pré-carga e a pós-carga, resultando em
aumento do débito cardíaco; 2 – Indicação: são indicados para pacientes com insuficiência cardíaca
e podem ser associados com diuréticos de alça (furosemida) e a digoxina, reduzindo as arritmias
fatais na IC; 3 – Efeitos adversos: hipotensão postural, insuficiência renal, hiperpotassemia,
angioedema e tosse seca.

• Bloqueadores do receptor de angiotensina II: losartana. 1 – Mecanismo de ação: antagonista de


receptores AT1 da angiotensina II; 2 – Indicação: são agentes anti-hipertensivos, porém podem
ser indicados na IC em substituição aos inibidores da ECA, pois apresentam vantagens nos efeitos
adversos. 3 – Efeitos adversos: hipotensão postural, insuficiência renal, hiperpotassemia, porém
não causam tosse seca nem angioedema.

• Betabloqueadores: carvedilol e metoprolol. 1 – Mecanismo de ação: antagonistas seletivos para


os receptores beta-1-adrenérgicos, causam reversão do remodelamento cardíaco, hipertrofia e
morte celular; 2 – Indicação: hipertensão arterial sistêmica e IC; 3 – Efeitos adversos: os efeitos
adversos causados já foram discutidos na unidade anterior.

• Diuréticos: furosemida. 1 – Mecanismo de ação: atuam na alça de Henle dos néfrons impedindo
a reabsorção de sódio (a descrição do mecanismo será estudada mais adiante); 2 – Indicação:
evitar congestão pulmonar e edema periférico associado a IC; 3 – Efeitos adversos: hipovolemia
profunda, hipopotassemia, entre outros.

• Vasodilatadores diretos: hidralazina e isossorbida. 1 – Mecanismo de ação: agem diretamente nos


vasos promovendo relaxamento da musculatura lisa e, consequente, diminuição da resistência
vascular periférica; 2 – Indicação: IC congestiva; 3 – Efeitos adversos: constipação, tonturas,
sensação de fadiga (os demais vasodilatadores devem ser evitados em pacientes com IC).

• Fármacos inotrópicos: glicosídeos digitálicos (digoxina). 1 – Mecanismo de ação: aumentam os


níveis de cálcio livre no citoplasma das células cardíacas promovendo um aumento na força de
contração e na contratilidade do músculo cardíaco; 2 – Indicação: o tratamento com digoxina é
indicado para pacientes com disfunção sistólica ventricular esquerda grave depois de iniciado o
tratamento com inibidor de ECA e diurético; também é indicada na IC com fibrilação atrial;
3 – Efeitos adversos: arritmias, anorexia, náuseas, êmese, cefaleia, fadiga, confusão, visão
borrada, alteração na percepção de cores e distúrbios eletrolíticos.

65
Unidade II

IC descompensada IC descompensada IC descompensada IC descompensada


Congestão (+) Congestão (+) Congestão (+) ou (-) Congestão (+) ou (-)
Extremidades quentes Extremidades quentes Extremidades frias Extremidades frias
PAS > 105 mmHg PAS 90 ≤ 105 mmHg PAS 90 ≤ 105 mmHg AS < 90 mmHg

Correção volêmica?

Vasodilatadores IV ou Levosimendana ou dobutamina


levosimendana Dobutamina ou
ou milrinona
+ dopamina ou
(+ otimização)
Otimização terapêutica: norepinefrina
+ vasopressor para manter PAS > 100
• Oxigênio
• Diuréticos IV
• Ajustar ECA
• Vasodilatadores orais
• Reavaliar em 24 horas Se necessário
Reposta inadequada após 24 horas: (para desmame da
• Aumento de BUN dobutamina), acrescentar
levosimendana
• Congestão persistente
• Dispneia persistente

Figura 12 – Esquema de tratamento para IC

6.3 Antianginosos

A angina pectoris, comumente conhecida como angina, é a sensação de dor no peito, pressão
ou aperto, muitas vezes relacionada ao fluxo sanguíneo insuficiente para o músculo cardíaco como
resultado da obstrução (ou espasmo) das artérias coronárias. Embora a angina de peito possa ocorrer
em razão de anemia, ritmos cardíacos anormais e insuficiência cardíaca, sua principal causa é a doença
arterial coronariana, um processo aterosclerótico que afeta as artérias que alimentam o coração. O
termo deriva do latim angere (“estrangular”) e pectus (“peito”) e pode, portanto, ser traduzido como
“uma sensação de estrangulamento no peito”.

Existe uma relação sutil entre a gravidade da dor e o grau de privação de oxigênio no músculo
cardíaco (pode haver dor grave com pouco ou nenhum risco de infarto do miocárdio e um ataque
cardíaco sem dor). Em alguns casos, a angina pode ser bastante grave e, no início do século XX, ela
era conhecida por ser um sinal de morte iminente. No entanto, dadas as atuais terapias médicas, as
perspectivas melhoraram substancialmente: as pessoas com idade média de 62 anos, com grau moderado
a grave de angina (classificando-se pelas classes II, III e IV), têm uma taxa de sobrevida de 5 anos de
aproximadamente 92%.

O agravamento dos ataques de angina, a angina de repouso e a angina com duração superior
a 15 minutos são sintomas de angina instável (geralmente agrupados com condições semelhantes
66
FARMACOLOGIA

à síndrome coronária aguda). Como podem preceder um ataque cardíaco, exigem atenção médica
urgente e são, em geral, tratados de forma semelhante ao infarto do miocárdio.

6.3.1 Classificação da angina pectoris

A angina pectoris pode ser classificada em estável ou instável.

• Angina estável: também conhecida como angina de esforço, refere-se ao tipo clássico de angina,
relacionada com a isquemia miocárdica. Uma apresentação típica é a de desconforto no peito
e sintomas associados precipitados por alguma atividade física (corrida, andando, etc.), com
sintomas mínimos ou inexistentes em repouso ou após administração de nitroglicerina sublingual.
Os sintomas geralmente diminuem alguns minutos após o fim do exercício e retornam quando a
atividade é retomada.

• Angina instável: definida como angina pectoris que evoluiu de estável para instável (piora).
Possui pelo menos uma destas três características: ocorre em repouso (ou com esforço mínimo),
geralmente durando mais de 10 minutos; é grave e se repete (isto é, dentro de 4 a 6 semanas);
ocorre com um padrão crescente de intensidade (isto é, distintamente mais grave, prolongada ou
frequente do que antes).

A angina instável pode ocorrer imprevisivelmente em repouso, o que pode ser um indicador
grave de um ataque cardíaco iminente. O que diferencia a angina estável da angina instável (à
exceção dos sintomas) é a fisiopatologia da aterosclerose. A fisiopatologia da angina instável
é a redução do fluxo coronariano devido à agregação plaquetária transitória em endotélio
aparentemente normal, espasmos das artérias coronárias ou trombose coronariana. O processo
começa com aterosclerose, progride através da inflamação para produzir uma placa instável ativa,
que sofre trombose, e resulta em isquemia miocárdica aguda, que, se não controlada, ocasiona
necrose celular (infarto). Estudos mostram que 64% das anginas instáveis ocorrem entre 22h00 e
08h00, quando os pacientes estão em repouso. Na angina estável, o ateroma em desenvolvimento
é protegido com um tampão fibroso; essa tampa pode se romper e estabelecer a angina instável,
permitindo que coágulos de sangue diminuam ainda mais a área do lúmen do vaso coronariano.
Isso explica por que, em muitos casos, a angina instável se desenvolve independentemente da
atividade física.

6.3.2 Principais fármacos utilizados no tratamento da angina pectoris

Os fármacos mais indicados para o tratamento da angina pectoris estão listados a seguir.

• Nitratos orgânicos: isossorbida e nitroglicerina. 1 – Mecanismo de ação: esses fármacos são


ésteres de ácido nítrico e nitroso com glicerol e inibem vasoconstrição ou espasmos coronarianos
aumentando a perfusão do miocárdio e, assim, aliviando os sintomas da angina; além disso,
relaxam as veias diminuindo a pré-carga e o consumo de oxigênio pelo coração; 2 – Indicação:
são eficazes nos sintomas da angina (para alívio imediato de um ataque de angina provocado
por exercícios ou estresse emocional, o fármaco de escolha deve ser a nitroglicerina sublingual);
67
Unidade II

3 – Efeitos adversos: cefaleia (deve-se evitar a associação com outros vasodilatadores como a
sildenafila, pois causam severa hipotensão).

• Betabloqueadores: metoprolol e atenolol. 1 – Mecanismo de ação: os betabloqueadores diminuem


a demanda de oxigênio do miocárdio, diminuindo a frequência e a força de contração do coração;
eles também suprimem a ativação do coração bloqueando seletivamente os receptores beta-1-
adrenérgicos; 2 – Indicação: são agentes anti-hipertensivos, indicados também na insuficiência
cardíaca e na angina pectoris; 3 – Efeitos adversos: os efeitos adversos dessa classe estão listados
na seção de fármacos anti-hipertensivos.

• Bloqueadores de canal de cálcio: nifedipino, verapamil e diltiazem. 1 – Mecanismo de ação:


o cálcio é essencial para a contração muscular e seu influxo aumenta a isquemia devido à
despolarização da membrana provocada pela hipóxia; os bloqueadores de canal de cálcio
agem inibindo sua entrada nas células cardíacas e musculares lisas dos leitos arteriais
coronarianos e sistêmicos; 2 – Indicação: na angina, pois promovem o relaxamento das
artérias coronárias; 3 – Efeitos adversos: taquicardia reflexa, rubor, cefaleia, hipotensão,
edema periférico e constipação.

6.4 Antiarrítmicos

A arritmia cardíaca, também conhecida como batimento cardíaco irregular, é um grupo de


condições em que o batimento cardíaco é irregular, muito rápido ou muito lento. A frequência
cardíaca considerada muito rápida (acima de 100 batimentos por minuto em adultos) é
chamada de taquicardia, e uma frequência cardíaca considerada muito lenta (abaixo de 60
batimentos por minuto) é chamada de bradicardia. Muitos tipos de arritmia não apresentam
sintomas, mas, quando estão presentes, podem incluir palpitações ou a sensação de pausa
entre os batimentos cardíacos. Mais seriamente pode haver tontura, desmaio, falta de ar ou
dor no peito. Embora a maioria dos tipos de arritmia não seja grave, alguns predispõem uma
pessoa a complicações como acidente vascular cerebral ou insuficiência cardíaca; outros
podem resultar em parada cardíaca.

A maioria das arritmias pode ser efetivamente tratada, e os tratamentos podem incluir
medicamentos, procedimentos médicos e cirurgia. Medicamentos para controlar uma frequência
cardíaca rápida podem incluir betabloqueadores ou agentes que tentam restaurar um ritmo
cardíaco normal, como procainamida. No entanto, este último grupo pode ter efeitos colaterais
mais significativos, especialmente se ingerido por um longo período de tempo. Os marca‑passos
são frequentemente usados para situações de bradicardia, e aqueles com batimentos cardíacos
irregulares são muitas vezes tratados com diluentes de sangue para reduzir o risco de complicações.
Pacientes apresentando sintomas graves de arritmia podem receber tratamento urgente com
uma carga de eletricidade sob a forma de cardioversão ou desfibrilação.

68
FARMACOLOGIA

6.4.1 Classificação das arritmias

A arritmia pode ser classificada pela frequência cardíaca (taquicardia, bradicardia), pelos mecanismos
cardíacos afetados (automaticidade, reentrada, desencadeada) ou duração (batimentos prematuros
isolados, dísticos, corridas, ou seja, 3 ou mais batimentos, não sustentados – menos de 30 segundos –
ou sustentados – mais de 30 segundos). Também pode ser classificada pelo local de origem, como se
observa a seguir.

• Atrial: as mais comuns são bradicardia sinusal, contrações atriais prematuras, marca-passo atrial
errante, taquicardia atrial, taquicardia atrial multifocal, taquicardia supraventricular, flutter atrial,
fibrilação atrial.

• Arritmias juncionais: taquicardia atrioventricular, ritmo juncional, taquicardia juncional, contração


juncional prematura.

• Ventricular: contrações ventriculares prematuras que são às vezes denominadas batimentos


extraventriculares; os batimentos ventriculares prematuros que ocorrem após cada batimento
normal podem ser denominados bigêminos ventriculares. São observados: ritmo idioventricular
acelerado, taquicardia ventricular monomórfica, taquicardia ventricular polimórfica, fibrilação
ventricular e torsades de pointes.

• Blocos do coração (também conhecidos como blocos atrioventriculares, porque, em sua maioria,
surgem de patologia no nodo atrioventricular): as causas mais comuns de bradicardia são
bloqueio cardíaco de primeiro grau (que se manifesta como prolongamento das ondas P e R do
eletrocardiograma), bloqueio cardíaco de segundo grau, bloqueio cardíaco de segundo grau tipo
1 (também conhecido como Mobitz I ou Wenckebach), bloqueio cardíaco de segundo grau tipo 2
(também conhecido como Mobitz II) e bloqueio cardíaco completo.

• Síndrome de morte arrítmica súbita (SADS): é uma expressão usada como parte da síndrome de
morte inesperada súbita para descrever morte súbita devido a parada cardíaca provocada por
uma arritmia na presença ou na ausência de qualquer doença cardíaca estrutural na autópsia.
A causa mais comum de morte súbita nos Estados Unidos é a doença arterial coronariana,
especificamente por causa da má oxigenação do músculo cardíaco (ou seja, isquemia miocárdica
ou ataque cardíaco). Aproximadamente de 180 mil a 250 mil pessoas morrem em decorrência
dessa síndrome a cada ano nos EUA. As causas de SADS em jovens incluem miocardite viral,
síndrome de QT longo, síndrome de Brugada, taquicardia ventricular polimórfica catecolinérgica,
cardiomiopatia hipertrófica e displasia arritmogênica ventricular direita.

69
Unidade II

6.4.2 Fármacos utilizados como antiarrítmicos

Os fármacos antiarrítmicos podem ser classificados de acordo com seu efeito predominante sobre o
potencial de ação. Sua classificação se dá conforme o quadro a seguir.

Quadro 6 – Ação dos fármacos antiarrítmicos

Classificação dos antiarrítmicos


Classe I – Bloqueadores dos canais de sódio
A (ação moderada) – quinidina, procainamida, disopiramida
B (ação discreta) – lidocaína, hidantoína, mexiletina, tocainida
C (ação atenuada) – propafenona, flecainida, encainida
Classe II – betabloqueadores
Propranolol e similares
Classe III – Inibidores da repolarização
Amiodarona, bretiílio, soltalol
Classe IV – Bloqueadores de canais de cálcio
Verapamil

• Classe I: esses fármacos atuam bloqueando canais de Na+ sensíveis à voltagem, pelos
mesmos mecanismos dos anestésicos locais. A diminuição da velocidade de entrada de sódio
reduz a velocidade inicial do potencial de ação, causando diminuição na excitabilidade
e na velocidade de condução elétrica cardíaca. Entre os principais fármacos dessa classe
estão a quinidina, a procainamida, a disopiramida, a lidocaína, a tocainida, a propafenona
e a flecainida. Os principais efeitos adversos são: taquicardia, arritmias, sonolência, fala
enrolada, parestesia, agitação, confusão mental, xerostomia, retenção urinária, constipação,
cefaleia, náuseas e visão borrada.

• Classe II: esses fármacos são os betabloqueadores clássicos estudados anteriormente, sendo
os mais utilizados o propranolol, o metoprolol e o esmolol. Eles restringem a despolarização
do final do potencial de ação, reduzindo, assim, a automaticidade e prolongando a condução
atrioventricular; também diminuem a frequência cardíaca e a contratilidade. Os efeitos adversos
dessa classe foram estudados anteriormente.

• Classe III: esses fármacos bloqueiam canais de K+ e, assim, diminuem o fluxo de potássio
durante a repolarização das células cardíacas. Também prolongam a duração do potencial
de ação sem alterar a fase inicial do potencial ou o potencial de repouso da membrana;
prolongam ainda o período refratário efetivo aumentando a refratariedade. Dentre os
principais fármacos dessa classe temos a amiodarona, a dronedarona e o sotalol. Os efeitos
adversos causados são: arritmias, intolerância gastrointestinal, fraqueza muscular, coloração
azulada da pele e fotossensibilidade.

• Classe IV: esses fármacos são bloqueadores de canais de cálcio. Eles restringem a corrente de
entrada do cálcio, resultando na diminuição da velocidade de despolarização espontânea. Os
70
FARMACOLOGIA

principais fármacos utilizados dessa classe são o verapamil e o diltiazem. Ambos foram estudados
no tópico destinado a agentes anti-hipertensivos.

Lembrete

Arritmia é um distúrbio do batimento ou ritmo cardíaco, como


batimento muito rápido, muito lento ou irregular.

6.5 Fármacos que atuam no sangue

Agora trataremos de fármacos bastante úteis no tratamento de importantes disfunções do sangue,


como trombose, sangramentos, problemas de circulação e anemias.

Trombose é a formação de um coágulo sanguíneo dentro de um vaso, obstruindo o fluxo de sangue através
do sistema circulatório. Quando um vaso sanguíneo é rompido, o corpo usa plaquetas (trombócitos) e fibrina
para formar um coágulo sanguíneo a fim de evitar a perda de sangue. Mesmo quando um vaso sanguíneo não
é rompido, coágulos de sangue podem se formar no corpo sob certas condições (um coágulo, ou um pedaço
do coágulo, que se liberta e começa a correr dentro do vaso sanguíneo é conhecido como um êmbolo).

A trombose pode ocorrer em veias (trombose venosa) ou em artérias. A trombose venosa leva
ao congestionamento da parte afetada do corpo, enquanto a trombose arterial (e raramente a
trombose venosa grave) afeta o suprimento sanguíneo e provoca danos ao tecido abastecido por
essa artéria (isquemia e necrose). Um pedaço de um trombo arterial ou venoso pode se soltar como
um êmbolo, viajando através da circulação e se alojando em algum outro lugar, causando uma
embolia; esse tipo de embolismo é conhecido como tromboembolismo. Complicações podem surgir
quando um tromboembolismo venoso (comumente chamado de TEV) se aloja no pulmão causando
uma embolia pulmonar.

O sangramento, também conhecido como hemorragia, é o sangue que escapa do sistema


circulatório. Pode ocorrer internamente, quando o sangue escapa de vasos sanguíneos dentro do corpo,
ou externamente, através de uma abertura natural, como boca, nariz, orelha, uretra, vagina ou ânus (ou
através de uma ruptura da pele).

Fala-se em hipovolemia quando há uma diminuição maciça no volume de sangue, e a morte por
perda excessiva de sangue é chamada de exsanguinação. Normalmente, uma pessoa saudável pode
suportar uma perda de 10%-15% do volume total de sangue sem dificuldades médicas graves (por
comparação, a doação de sangue normalmente leva 8%-10% do volume de sangue do doador). A
interrupção dessa perda ou controle de sangramento é chamada de hemostasia e é um procedimento
de extrema importância para primeiros socorros e cirurgia.

A anemia é geralmente definida como uma diminuição da quantidade total de glóbulos vermelhos
ou hemoglobina no sangue; também pode ser definida como uma capacidade reduzida do sangue
para transportar oxigênio. Quando a anemia surge lentamente, os sintomas são frequentemente vagos
71
Unidade II

e podem incluir cansaço, fraqueza, falta de ar ou má capacidade durante um exercício físico. Já a


anemia que surge rapidamente tem muitas vezes sintomas mais evidentes, como confusão mental,
perda de consciência ou aumento da sede. A anemia deve ser significativa antes que uma pessoa se
torne visivelmente pálida.

Os três principais tipos de anemia se devem à perda de sangue, à diminuição da produção de glóbulos
vermelhos ou ao aumento da decomposição de glóbulos vermelhos. As causas de perda de sangue
incluem trauma e sangramento gastrointestinal, entre outros. Já as causas de diminuição da produção
englobam deficiência de ferro, falta de vitamina B12, talassemia e neoplasias da medula óssea. As causas
de maior incidência incluem uma série de condições genéticas, como anemia falciforme, infecções como
a malária e certas doenças autoimunes. A anemia pode, ainda, ser classificada com base no tamanho
dos glóbulos vermelhos e na quantidade de hemoglobina em cada célula: se as células são pequenas,
tem-se anemia microcítica; se são grandes, trata-se de anemia macrocítica; por fim, se são de tamanho
normal, é a anemia normocítica.

6.5.1 Coagulação sanguínea e fibrinólise

A coagulação é o processo pelo qual o sangue muda de sua forma líquida para uma forma de gel.
O mecanismo de coagulação envolve a ativação, a adesão e a agregação de plaquetas com deposição
e maturação de fibrina. Os distúrbios da coagulação são estados patológicos que podem resultar
em sangramento (hemorragia ou contusões) ou obstrução (trombose). A coagulação começa quase
instantaneamente depois que uma lesão no vaso sanguíneo danifica o endotélio que reveste este vaso.
O vazamento de sangue através do endotélio dá origem a dois processos: alterações nas plaquetas e
exposição do fator de tecido subendotelial ao fator de plasma VII, o que leva, em última instância, à
formação de fibrina. As plaquetas formam imediatamente um tampão no local da lesão; isso é chamado
de hemostasia primária. Mas a hemostasia secundária ocorre simultaneamente: fatores de coagulação
além do fator VII são ativados numa cascata proteica complexa para formar estruturas de fibrina, que
reforçam o tampão plaquetário.

A fibrinólise é um processo que impede coágulos de terem um crescimento exagerado. Esse processo
ocorre de duas formas: fibrinólise primária e fibrinólise secundária. O tipo primário é um processo normal
do corpo, enquanto a fibrinólise secundária é a quebra de coágulos causada por um medicamento,
um distúrbio médico ou outra causa semelhante. Na fibrinólise, um coágulo de fibrina, o produto da
coagulação, é quebrado. Sua enzima principal, plasmina, corta a malha de fibrina em vários locais,
levando à produção de fragmentos circulantes que são eliminados por outras proteases ou pelo rim e
pelo fígado.

6.5.2 Fármacos anticoagulantes

Os fármacos anticoagulantes inibem a ação dos fatores de coagulação ou interferem na síntese


desses fatores. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Heparina (enoxaparina): 1 – Mecanismo de ação: é um anticoagulante injetável de ação


rápida que inibe a trombina (enzima responsável pela última etapa da formação da fibrina)
72
FARMACOLOGIA

e o fator de coagulação Xa (ativado); 2 – Indicação: a heparina limita a expansão dos


trombos evitando a formação de fibrina, sendo o principal fármaco utilizado no tratamento
da trombose aguda de veias profundas e do embolismo pulmonar; também é indicada de
forma profilática para evitar trombos venosos em pacientes pós-cirúrgicos e pacientes que
estão em processo de infarto do miocárdio; 3 – Efeitos adversos: hemorragias, reações de
hipersensibilidade, trombose, trombocitopenia e osteoporose.

• Dabigatrana: 1 – Mecanismo de ação: inibidor direto da trombina; 2 – Indicação: usado para


prevenir derrames e embolismos sistêmicos em pacientes com fibrilação atrial; 3 – Efeitos adversos:
hemorragias e distúrbios gastrointestinais (esse fármaco não requer monitorização terapêutica
constante quando comparado a outros fármacos anticoagulantes).

• Lepirudina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista direto e altamente específico da trombina


(relacionado à hirudina encontrada na saliva de sanguessugas); 2 – Indicação: tratamento de
trombocitopenia induzida por heparina e de outros distúrbios tromboembólicos; 3 – Efeitos
adversos: é importante monitorar o tempo de tromboplastina parcialmente ativada (TTPa) e a
função renal quando o paciente está recebendo lepirudina.

• Varfarina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista da vitamina K (vários dos fatores de coagulação,


como II, VII, IX e X, precisam de vitamina K como um cofator para suas produções); 2 – Indicação:
a varfarina é usada para prevenir a progressão ou a recorrência de trombose aguda de veias
profundas ou de embolia pulmonar, após o tratamento inicial com heparina; também é indicada
para prevenção de tromboembolismo venoso durante cirurgias ortopédicas ou ginecológicas e,
profilaticamente, é indicada para evitar infartos agudos do miocárdio, válvulas cardíacas prostéticas
e fibrilação arterial crônica; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e doenças hepáticas podem levar
à exacerbação do efeito hemorrágico da varfarina, além de poder causar teratogenicidade ou
aborto; apresenta muitas interações medicamentosas, sendo necessário monitorizar a terapêutica.

Observação

A varfarina (ou warfarina) é um fármaco do grupo dos anticoagulantes


que é usado na prevenção das tromboses. É usada também em altas doses
como veneno para roedores.

6.5.3 Fármacos trombolíticos

As doenças tromboembólicas agudas podem ser tratadas com a administração de fármacos que
ativam a conversão do plasminogênio em plasmina. O tratamento trombolítico é malsucedido em cerca
de 20% dos casos de artérias infartadas e em cerca de 15% das ocorrências em que artérias são
desobstruídas e voltam a se fechar. Nos casos de infartos do miocárdio, os fármacos trombolíticos
são utilizados para as situações nas quais a angioplastia não é uma opção ou até que o paciente
possa ser levado ao local que tenha condições de realizar intervenções coronarianas percutâneas.
A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.
73
Unidade II

• Alteplase: 1 – Mecanismo de ação: atua ativando o plasminogênio que está ligado à fibrina em
um trombo ou em um tampão hemostático (assim é considerada fibrina seletiva); 2 – Indicação:
está aprovada para tratamento de infarto agudo do miocárdio, embolismo pulmonar massivo e
choque isquêmico agudo; tem capacidade efetiva maior de dissolver os coágulos que os demais
trombolíticos; 3 – Efeitos adversos: hemorragias gastrointestinais e cerebrais.

• Estreptoquinase: 1 – Mecanismo de ação: não apresenta atividade proteolítica específica,


porém auxilia a transformação do plasminogênio em plasmina, não sendo seletiva apenas para
o plasminogênio ligado ao coágulo; 2 – Indicação: utilizada para embolia pulmonar, trombose
de veias profundas, infarto agudo do miocárdio, trombose arterial e oclusão de acesso de
anastomoses; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e hipersensibilidade (é altamente imunogênica).

• Uroquinase: 1 – Mecanismo de ação: funciona como enzima proteolítica, convertendo o


plasminogênio em plasmina; 2 – Indicação: usada para hidrolisar êmbolos pulmonares, para
infarto agudo do miocárdio, tromboembolismo arterial, trombose na artéria coronária e trombose
de veias profundas; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e reações anafiláticas.

6.5.4 Fármacos antiagregantes plaquetários

Os fármacos dessa classe promovem a inibição da agregação plaquetária e diminuem a formação


ou ação dos sinais químicos promotores dessa aglutinação. A estimulação das plaquetas pela trombina,
pelo colágeno e pelo ADP resulta na sua ativação, gerando a tromboxana A2, que é liberada e pode,
então, desencadear a ativação de novas plaquetas, e consequente agregação. A seguir estão listados os
principais fármacos dessa classe.

• Ácido acetilsalicílico: 1 – Mecanismo de ação: possui a capacidade de inibir a síntese de


tromboxana A2 a partir do ácido araquidônico nas plaquetas, tendo um efeito rápido e
persistente; a administração de repetidas doses tem efeito acumulativo; 2 – Indicação: é
indicado de forma profilática para a isquemia cerebral, na redução da incidência de infartos
do miocárdio recorrentes e para diminuir a mortalidade nos pacientes pré-infartados e nos
pós-infartados, podendo ser associado a fármacos anticoagulantes; 3 – Efeitos adversos:
choque hemorrágico e sangramento gastrointestinal.

• Clopidogrel: 1 – Mecanismo de ação: inibe de forma irreversível a ligação do ADP aos seus
receptores nas plaquetas (coíbe a ativação dos receptores responsáveis pela ligação das plaquetas
ao fibrinogênio e umas às outras); 2 – Indicação: prevenção de eventos ateroscleróticos que
se seguem ao infarto agudo do miocárdio, derrame e doença arterial periférica; também pode
ser usado para prevenir eventos trombóticos na síndrome coronariana aguda, associados com a
intervenção coronária percutânea com ou sem stent; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e derrames.

• Abciximabe: 1 – Mecanismo de ação: é um anticorpo monoclonal que é capaz de bloquear os


receptores que fazem a ligação entre o fibrinogênio e o fator de von Willebrand impedindo a
agregação plaquetária; 2 – Indicação: auxilia nas intervenções coronarianas percutâneas para
prevenção das complicações isquêmicas cardíacas; também pode ser utilizado na angina instável
74
FARMACOLOGIA

e, com fins profiláticos, no infarto agudo do miocárdio; 3 – Efeitos adversos: sangramentos


(principalmente quando associado a anticoagulantes).

• Tirofibana: 1 – Mecanismo de ação: similar ao do abciximabe; 2 – Indicação: pode diminuir a


incidência de complicações trombóticas associadas a síndromes coronarianas agudas; 3 – Efeito
adverso: sangramento.

• Dipiridamol: 1 – Mecanismo de ação: vasodilatador coronariano capaz de diminuir a síntese


de tromboxana A2 e, consequentemente, reduzir a aderência das plaquetas às superfícies
trombogênicas; 2 – Indicação: é recomendado associá-lo à varfarina para se obter um efeito na
inibição da embolia das válvulas cardíacas prostéticas; 3 – Efeitos adversos: não deve ser utilizado
em idosos, pois, nesses pacientes, causam ortostasia e problemas gastrointestinais.

• Cilostazol: 1 – Mecanismo de ação: antiplaquetário com atividade vasodilatadora; 2 – Indicação:


diminuição dos sintomas da claudicação intermitente, tratamento da esclerose vascular e da isquemia
cerebral crônica; 3 – Efeitos adversos: cefaleia, diarreia, fezes anormais, dispepsia e dor abdominal.

6.5.5 Fármacos que atuam no sistema hematopoiético: antianêmicos

Como vimos anteriormente, a anemia é definida como uma diminuição da quantidade total de
glóbulos vermelhos (hemácias) ou hemoglobina no sangue. As causas de diminuição da produção incluem
deficiência de ferro, falta de vitamina B12, talassemia e neoplasias da medula óssea. As hemácias são
produzidas na medula óssea e, depois de diferenciadas, atigem a circulação sanguínea, permanecendo
de 90 a 120 dias no sangue. Após esse período, são removidas e degradadas, principalmente pelo baço.
A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Ferro: 1 – Mecanismo de ação: o ferro é armazenado nas células intestinais como ferritina
e, quando necessário, é incorporado às hemoglobinas; 2 – Indicação: anemia microcítica
hipocrômica (hemácias pequenas e com pouco ferro) ou ferropriva; 3 – Efeitos adversos:
distúrbios gastrointestinais.

• Ácido fólico: 1 – Mecanismo de ação: é utilizado na produção de ácidos nucleicos pela medula
óssea; 2 – Indicação: anemia megaloblástica (grande tamanho) que é causada pela diminuição na
síntese de purinas e pirimidinas, levando a uma incapacidade de o tecido hematopoiético produzir
DNA e proliferar-se; 3 – Efeitos adversos: hipersensibilidade.

• Cianocobalamina (vitamina B12): 1 – Mecanismo de ação: é importante como cofator na produção


de proteínas nas hemácias; 2 – Indicação: anemia megaloblástica e anemia perniciosa; 3 – Efeitos
adversos: não é tóxica.

• Eritropoietina: 1 – Mecanismo de ação: estimular a proliferação das células produtoras de


hemácias na medula óssea (eritroblastos); 2 – Indicação: anemia causada por doenças renais,
anemia causada por HIV e anemia causada por quimioterapia; 3 – Efeitos adversos: hipertensão,
artralgia e trombose (em altas doses).
75
Unidade II

• Hidroxiureia: 1 – Mecanismo de ação: diminuição da dor causada por alguns tipos de anemias;
2 – Indicação: anemia falciforme, policitemia vera e leucemia mielógica crônica; 3 – Efeitos
adversos: supressão da medula óssea e vasculite cutânea.

• Pentoxifilina: 1 – Mecanismo de ação: modificador reológico, causando deformidade nas


hemácias (aumenta flexibilidade) e diminuindo a viscosidade do sangue; 2 – Indicação:
claudicação intermitente, anemia falciforme, insuficiência cerebrovascular, ataques isquêmicos
transitórios, úlceras na perna e infartos. 3 – Efeitos adversos: rubor facial com sensação de calor,
distúrbios gastrointestinais, como sensação de pressão gástrica, plenitude, náusea, vômito ou
diarreia; podem ocorrer, ocasionalmente, arritmia cardíaca (ex.: taquicardia), vertigem, dores de
cabeça, agitação e distúrbios do sono.

6.6 Antilipêmicos

A dislipidemia é a elevação das taxas de colesterol plasmático, de triglicérides (TG) ou de


ambos, que contribui para o desenvolvimento da aterosclerose. As causas podem ser primárias
(genéticas) ou secundárias. O diagnóstico é determinando pelos níveis plasmáticos de colesterol
total, TGs e lipoproteínas individuais. O tratamento envolve alterações dietéticas, exercícios e
fármacos hipolipêmicos.

Os lipídios plasmáticos estão associados principalmente a lipoproteínas (transportadores de


lipídios no sangue). As lipoproteínas clinicamente importantes são LDL, VLDL, HDL e quilomícron. O
risco cardiovascular está associado principalmente ao aumento do colesterol total no sangue ou à
fração LDL. No entanto, um aumento nos níveis plasmáticos da HDL está relacionado a um menor
risco cardiovascular. A diminuição do nível de LDL é o objetivo principal do tratamento de redução
do colesterol, principalmente se houver a concomitância de outros fatores de risco cardiovascular.
Caber ressaltar ainda que níveis elevados de triglicérides também estão associados a um maior
risco cardiovascular.

6.6.1 Classificação das dislipidemias

As dislipidemias são classificadas segundo os padrões de anormalidade nos níveis das lipoproteínas.
Um método alternativo para classificar as dislipidemias as categoriza em hiperlipidemia primária
ou secundária, definidas de acordo com o padrão lipídico sérico característico (colesterol elevado,
triglicérides ou ambos). Tal categorização tem vantagens sobre a classificação de Fredrickson (que
se baseia principalmente no fenótipo observado) porque, em algumas hiperlipidemias hereditárias, o
mesmo genótipo pode ser expresso por meio de mais de um fenótipo, e, em algumas hiperlipidemias
secundárias, os fenótipos podem variar. A seguir estão listados os tipos de dislipidemias e sua relação
com os níveis de lipoproteínas e o risco cardiovascular.

76
FARMACOLOGIA

Quadro 7 – Tipos de dislipidemias (classificação), lipoproteínas envolvidas


e risco cardiovascular (aterogenicidade)

Lipoproteína Frequência
Fenótipo Colesterol Triglicérides
alterada relativa
I Quilomícron + ++++ 1%
IIa LDL ++ ++ 10%
IIb LDL ++ +++ 40%
III IDL ++ ++ 1%
IV VLDL + ++ 45%
V Quilomícron ++ ++++ 5%

Fonte: Avancini; Favaretto (1997, p. 97).

6.6.2 Fármacos antilipêmicos

Os fármacos antilipêmicos combatem os altos níveis de lipídios séricos por meio de estratégias
complementares. Alguns reduzem a produção das lipoproteínas transportadoras de colesterol e
triglicérides, outros aumentam a degradação da lipoproteína, outros, ainda, reduzem a absorção do
colesterol ou aumentam a sua remoção do organismo. Contudo, para uma melhor eficiência dos
fármacos, sua utilização deve ser associada a uma dieta de baixa ingestão de gorduras saturadas e
gorduras trans. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Inibidores da HMG-CoA redutase: incluem os fármacos lovastatina, sinvastatina, pravastatina,


atorvastatina, pitavastatina, fluvastatina e rosuvastatina. 1 – Mecanismo de ação: são análogos
do HMG, o precursor do colesterol e, portanto, inibem a principal enzima da via produtora de
colesterol no fígado; uma menor disponibilidade de colesterol no organismo leva a uma maior
retirada do LDL do sangue pelas células, diminuindo, assim, os níveis plasmáticos do LDL; 2 –
Indicação: podem ser utilizados em todos os tipos de dislipidemias, porém os pacientes ainda
apresentam algum risco cardiovascular, sendo necessárias dieta adequada e mudanças no estilo
de vida; 3 – Efeitos adversos: miopatia, rabdomiólise (muscular) e lesões hepáticas (convém
monitorar com exames bioquímicos de lesão hepática e muscular: TGP, TGO e CK).

• Niacina: 1 – Mecanismo de ação: inibição de lipólise no tecido adiposo e diminuição na produção


de triglicérides hepáticos, com redução do VLDL e, consequentemente, do LDL; 2 – Indicação:
por ser capaz de diminuir os níveis de colesterol e triglicérides, pode ser utilizada em quaisquer
dislipidemias (uma efeito característico da niacina é o aumento dos níveis de HDL); 3 – Efeitos
adversos: intenso rubor cutâneo, prurido, náuseas e dores abdominais, hiperuricemia (predispondo
a gota) e hepatotoxicidade.

• Fenofibrato e genfibrozila: 1 – Mecanismo de ação: redução das concentrações de triglicérides no


sangue em decorrência do aumento nos níveis da lipoproteína lipase; 2 – Indicação: são utilizados
na hipertrigliceridemia, causando importante redução do triglicéride sanguíneo; 3 – Efeitos

77
Unidade II

adversos: efeitos gastrointestinais, litíase e miosite (não podem ser utilizados durante a gravidez
e a lactação).

• Colestiramina e colestipol: 1 – Mecanismo de ação: são resinas que se ligam aos ácidos biliares.
O complexo resina-ácido biliar é excretado nas fezes, evitando, dessa forma, que os ácidos
biliares (derivados do colesterol) retornem ao fígado através da circulação êntero-hepática; a
redução na absorção estimula o fígado a utilizar mais colesterol para produzir ácidos biliares,
diminuindo a concentração plasmática do LDL; 2 – Indicação: no tratamento das hiperlipidemias
tipo IIA e tipo IIB; 3 – Efeitos adversos: distúrbios gastrointestinais e deficiências na absorção
de vitaminas lipossolúveis.

• Ezetimiba: 1 – Mecanismo de ação: inibe seletivamente a absorção do colesterol da dieta e


da bile no intestino delgado, diminuindo a oferta de colesterol intestinal para o fígado, o que
reduz as reservas de colesterol hepático e estimula a remoção de LDL do sangue; 2 – Indicação:
todos os tipos de dislipidemias; 3 – Efeitos adversos: seu uso deve ser evitado em pacientes com
insuficiência hepática.

Saiba mais

A dislipidemia é um dos principais fatores de risco para doenças


cardiovasculares. Em 2002, cerca de 40% da população adulta brasileira
apresentava elevadas taxas de colesterol, destacando-se, entre as localidades
estudadas, a cidade de Santos, onde essa taxa ficava em torno de 57%. É
interessante para o aluno a leitura da V Diretriz Brasileira de Dislipidemias
e Prevenção da Aterosclerose, disponível em: <http://publicacoes.cardiol.
br/consenso/2013/V_Diretriz_Brasileira_de_Dislipidemias.pdf> (acesso em:
22 maio 2017).

6.7 Diuréticos

Chamamos de diurético qualquer substância que promova a diurese, ou seja, o aumento da


produção de urina. Existem várias categorias de diuréticos, Todos aumentam a excreção de água
do organismo, embora cada classe o faça de uma maneira distinta. Analogamente, um antidiurético
(como a vasopressina ou o hormônio antidiurético) é um agente ou fármaco que reduz a excreção de
água na urina.

Na Medicina, os diuréticos são usados ​​para tratar insuficiência cardíaca, cirrose hepática, hipertensão,
gripe, intoxicação por água e certas doenças renais. Alguns diuréticos, como acetazolamida, ajudam a
tornar a urina mais alcalina e são úteis por estimular a excreção de substâncias, como a aspirina, em
casos de overdose ou envenenamento. Diuréticos são frequentemente usados como drogas de abuso​​
por pessoas com transtornos alimentares, especialmente bulímicos, como uma tentativa de perder ou
evitar o ganho.
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FARMACOLOGIA

As ações anti-hipertensivas de alguns diuréticos (tiazidas e diuréticos de alça em particular) são


independentes do seu efeito diurético, ou seja, a redução da pressão arterial não ocorre devido à
diminuição do volume sanguíneo resultante do aumento da produção de urina, mas decorre de outros
mecanismos (já que tem efeito anti-hipertensivo em doses mais baixas do que as necessárias para
produzir diurese). A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe.

• Tiazidas – hidroclorotiazida, clortalidona e indapamida são os fármacos diuréticos mais


utilizados. 1 – Mecanismo de ação: agem no túbulo contorcido distal diminuindo a reabsorção
de Na+ (aparentemente por inibir uma bomba cotransportadora de Na+/Cl-); não há alteração no
equilíbrio ácido-base, e perdem a eficácia quando a função renal está diminuída (esses fármacos
promovem perda de vários eletrólitos, como o K+, Mg2+); 2 – Indicação: aumento na excreção de
Na+/Cl-, tratamento da hipertensão arterial, insuficiência renal, hipercalciúria e diabetes insipidus;
3 – Efeitos adversos: depleção de potássio, hiponatremia, hiperuricemia, hipotensão ortostática,
hipercalcemia, hiperglicemia, hiperlipemia e hipersensibilidade.

• Diuréticos de alça – os mais conhecidos (e os mais potentes) diuréticos, são furosemida e


bumetanida. 1 – Mecanismo de ação: os diuréticos de alça inibem a bomba cotransportadora
de Na+/K+/2Cl- presente na membrana na porção ascendente da alça de Henle; dessa forma,
a reabsorção desses íons diminui; 2 – Indicação: os diuréticos de alça atuam rapidamente,
reduzindo a resistência vascular (renal) e aumentando o fluxo sanguíneo (renal), sendo indicados
para redução de edema pulmonar, insuficiência cardíaca e tratamento da hiperpotassemia e da
hipercalcemia; 3 – Efeitos adversos: ototoxicidade, hiperuricemia, hipovolemia aguda, depleção
de potássio e hipomagnesemia.

• Espironolactona: 1 – Mecanismo de ação: são antagonistas de aldosterona, hormônio que


favorece, de forma indireta, um aumento na reabsorção de Na+ no túbulo coletor por estimular
uma bomba de Na+/K+ (portanto, a inibição da aldosterona leva um aumento na diurese e, em
contrapartida, aumenta a retenção de K+, sendo, por isso, chamada de diurético poupador de
potássio); 2 – Indicação: pode ser administrada para insuficiência cardíaca, como diurético ou no
tratamento do hiperaldosteronismo secundário; é indicada, ainda, associada a outros diuréticos
para evitar perda intensa de potássio; 3 – Efeitos adversos: distúrbios gástricos, ginecomastia e
irregularidades menstruais.

• Diuréticos osmóticos (manitol): 1 – Mecanismo de ação: são substâncias que aumentam a


osmolalidade mas têm uma permeabilidade limitada das células epiteliais tubulares. Trabalham
principalmente pela expansão extracelular líquida e pelo volume de plasma, aumentando o fluxo
sanguíneo para o rim (particularmente nos capilares peritubulares), o que reduz a osmolalidade
medular e, portanto, prejudica a concentração de urina no anel de Henle (que geralmente usa o
alto gradiente osmótico para transportar solutos e água). Além disso, a permeabilidade limitada
das células epiteliais tubulares aumenta a osmolalidade e, portanto, a retenção de água no filtrado.
2 – Indicação: tratamento de edemas cranianos para diminuição da pressão intracraniana (PIC);
3 – Efeitos adversos: os principais efeitos colaterais do manitol surgem, especialmente, quando
o medicamento não é administrado de forma adequada e incluem desidratação, insuficiência
cardíaca congestiva, inchaço dos pulmões ou redução súbita da pressão arterial.
79
Unidade II

Resumo

Nesta unidade foram apresentados os principais fármacos que atuam


no sistema nervoso autônomo e no sistema cardiovascular. Os distúrbios
do sistema cardiovascular são uma das principais causas de morte precoce
no mundo desenvolvido. Em alguns casos, podem ser melhorados por
mudanças no estilo de vida, como adequar a dieta ou deixar de fumar. Em
outros casos, requerem tratamento com fármacos que atuam nos vasos
sanguíneos, no coração ou nos rins.

Foram apresentados medicamentos ​​para tratar a pressão arterial


elevada, uma doença que afeta uma em cada cinco pessoas nos países
desenvolvidos. Muitos desses fármacos são eficazes não só na redução da
pressão sanguínea, mas também no tratamento de insuficiência cardíaca,
angina e doença arterial coronária.

Ainda foram estudados os principais fármacos disponíveis para


tratamento de arritmias, um grupo de distúrbios em que o coração
bate de forma extremamente rápida ou com um ritmo anormal. Os
betabloqueadores e os bloqueadores dos canais de cálcio são utilizados
para tratar certas arritmias. Tais drogas e nitratos também tratam a doença
arterial coronariana. Já diuréticos, inibidores da ECA e betabloqueadores
são úteis no tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. A maioria
desses fármacos é útil também na regulação da pressão arterial elevada.

Os fármacos hipolipemiantes (que, por diminuir os níveis de gorduras


no sangue, são utilizados para reduzir o risco de ataque cardíaco)
foram estudados, e seus mecanismos, descritos. Posteriormente
foram vistos fármacos capazes de estimular a excreção de sódio
e, consequentemente, aumentar a eliminação de água (diurese),
fármacos esses denominados diuréticos e que apresentam inúmeras
indicações diferentes.

Exercícios

Questão 1. (EBSERH/UFMT, 2014) Diuréticos são empregados regularmente no controle da


pressão arterial em paciente com hipertensão arterial sistêmica. Esses fármacos atuam nos rins
aumentando o volume e o grau do fluxo urinário, podendo ser empregados também para outras
indicações, como a Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). Pacientes com ICC comumente utilizam
digitálicos para o controle da doença, e o uso de diuréticos associados a esses cardiotônicos deve
ser monitorado com cautela para evitar a intoxicação digitálica, sendo necessária muitas vezes a

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FARMACOLOGIA

utilização de diuréticos poupadores de potássio. Deste modo, assinale a alternativa que contém
um diurético poupador de potássio:

A) Indapamida.

B) Hidroclorotiazida.

C) Clortalidona.

D) Espironolactona.

E) Furosemida.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a indapamida é um diurético (aumenta a quantidade de urina), eliminando sal e água


do corpo. É utilizada no tratamento da pressão alta e de inchaços provocados por problemas cardíacos
(insuficiência cardíaca).

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: a hidroclorotiazida tem indicação no tratamento da hipertensão arterial, isoladamente


ou em associação com outros fármacos anti-hipertensivos. Pode ser utilizada também no tratamento
dos edemas associados a insuficiência cardíaca congestiva, cirrose hepática e com terapia por
corticosteroides ou estrógenos. Também é eficaz no edema relacionado a várias formas de disfunção
renal, como síndrome nefrótica, glomerulonefrite aguda e insuficiência renal crônica.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a clortalidona atua contra hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, edemas, ascite e
no tratamento profilático de cálculo.

D) Alternativa correta.

Justificativa: a espironolactona é o único inibidor do receptor da aldosterona. Esta atua no túbulo


coletor renal, onde se liga a seus receptores intracelulares e promove a síntese de um transportador de
Na+/K+. Esse transportador promove a reabsorção de sódio e a eliminação de potássio. Uma vez que a
espironolactona antagoniza a ação da aldosterona, seu efeito será o inverso: o transportador de Na+/K+
terá sua expressão reduzida, o sódio permanecerá na luz da urina, trazendo consigo a água, e o potássio
será poupado.
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Unidade II

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: furosemida é usada para hipertensão arterial de leve a moderada, edema devido a
distúrbios cardíacos, hepáticos e renais ou, ainda, edema devido a queimaduras.

Questão 2. (EBSERH, 2013) A respeito do sistema nervoso autônomo e dos fármacos que agem nele,
assinale a alternativa incorreta:

A) Os medicamentos anticolinérgicos, no sistema nervoso autônomo, são antagonistas competitivos


de acetilcolina em receptores muscarínicos.

B) Existem dois tipos principais de receptores colinérgicos: os receptores nicotínicos e os


receptores muscarínicos.

C) Além da atropina e da escopolamina, diversos fármacos possuem propriedades antimuscarínicas,


incluindo antidepressivos tricíclicos, fenotiazinas e anti-histamínicos.

D) Os efeitos muscarínicos de utilização clínica dos anticolinesterásicos são os mesmos dos


agonistas colinérgicos.

E) Os agentes anticolinesterásicos irreversíveis bloqueiam a degradação da dopamina durante


minutos ou horas.

Resolução desta questão na plataforma.

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