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Angélica Simões Ferrari

Microbiota e preferências alimentares:


qual a relação?

Microbiota and food preferences: what is the relation?

Resumo
O trato gastrointestinal humano é composto por abundantes e diversas comunidades microbianas, sendo o cólon o principal habitat
para elas, com cerca de 1013 a 1014 microrganismos que exercem uma relação mutualista com o hospedeiro, influenciando no fenótipo
imunológico e metabólico e, assim, impactando na saúde do ser humano. Dessa relação mutualista, o eixo microbiota-intestino-cérebro
exerce um papel importante na função do sistema nervoso, interligando o intestino com o centro da fome/saciedade, podendo influenciar
no comportamento alimentar e afetar a qualidade e quantidade do que é consumido. Essa comunicação entre cérebro e intestino pode
ocorrer através de quatro vias principais interligadas entre si: imune, neuronal, endócrina e metabólica, onde a via imune ocorre por
meio das citocinas produzidas pelas células imunológicas, a comunicação neuronal dá-se por meio do sistema nervoso entérico e
nervo vago, a ligação endócrina faz-se por intermédio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e na via metabólica tem-se a participação
dos metabólitos produzidos pela microbiota intestinal, como o butirato. Portanto a microbiota intestinal tem um papel chave nessas
comunicações, podendo influenciar no apetite e preferências alimentares, destacando-se, assim a importância da homeostase microbiana
e saúde intestinal no comportamento alimentar.

Palavras-chave: Microbiota; comportamento alimentar; nervo vago; leaky gut.

Abstract
The human gastrointestinal tract is composed of abundant and diverse microbial communities, the colon being the main habitat for them,
with about 1013 to 1014 microorganisms that exercise a mutualistic relationship with the host influencing the immune and metabolic
phenotype and thus impacting human health. From this mutualistic relationship, the microbiota-gut-brain axis plays an important role
in the function of the nervous system, connecting the intestine with the center of hunger/satiety, which can influence eating behavior
and affect the quality and quantity of what is consumed. This communication between the brain and the intestine can occur through
four main routes interconnected: immune, neuronal, endocrine and metabolic, where the immune pathway occurs through the cytokines
produced by immune cells, the neuronal communication occurs through the enteric nervous system and the vagus nerve, the endocrine
connection is made through the hypothalamic-pituitary-adrenal axis and in the metabolic path there is the participation of metabolites
produced by the intestinal microbiota, such as butyrate. Therefore, the intestinal microbiota has a key role in these communications,
which can influence appetite and food preferences, thus highlighting the importance of microbial homeostasis and intestinal health in
eating behavior.

Keywords :Microbiota; eating behavior; vagus nerve; leaky gut.


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Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

Introdução

O
O intestino humano é composto por abundantes e comensais, estado denominado de disbiose,
diversas comunidades microbianas, que consistem associado a um aumento da permeabilidade
principalmente em bactérias, fungos, protozoários, intestinal, pode predispor o organismo a uma
vírus e arqueias, denominadas de microbiota inflamação crônica de baixo grau, ocasionando
intestinal. O cólon é quem abriga a maior parte um remodelamento vagal, levando à alterações
desse ecossistema, com cerca de 1013 a 10 14 no controle da fome/saciedade, aumentando a
microrganismos, que interagem com o hospedeiro ingestão alimentar7,8.
desempenhando importantes funções metabólicas Diante do exposto, a presente revisão de
e imunológicas, impactando assim na saúde do ser literatura teve como objetivo abordar o impacto
humano1-3. A microbiota intestinal também tem um da microbiota no comportamento alimentar, o
papel importante no desenvolvimento e função que pode influenciar em distúrbios metabólicos
do sistema nervoso, exercendo uma comunicação como a obesidade, e a importância do equilíbrio
bidirecional com o cérebro, através das vias microbiano para um melhor controle da fome/
neuronal, endócrina, imune e/ou metabólica, por saciedade, visando uma melhor qualidade de vida.
meio do eixo microbiota-intestino-cérebro, que Será, ainda, apresentado um estudo de caso, com o
também interliga o intestino com o centro da fome/ intuito de discutir, de forma prática, os conceitos
saciedade, podendo impactar no comportamento teóricos abordados.
alimentar, afetando a qualidade e quantidade do Para a escrita foram considerados como
que é consumido2-4. objetos de estudo artigos e outras revisões da
Considerando essa influência que a microbiota literatura, disponíveis no banco de dados PubMed,
exerce no controle da fome/saciedade, é importante publicados nos últimos 10 anos, utilizando as
salientar que ela pode ocorrer por diferentes palavras-chave “microbiota”, “microbioma”
maneiras, controlando a ingestão alimentar. Dentre “comportamento alimentar” e o termo “microbiota
tais maneiras, destaca-se a capacidade das bactérias e ingestão alimentar”. Os artigos incluídos foram
intestinais de sintetizar neurotransmissores, como apenas aqueles que relacionavam a microbiota
serotonina, dopamina e ácido γ-aminobutírico com a ingestão alimentar, tanto em modelo
(GABA) que podem atuar localmente no sistema experimental, quanto em humanos.
nervoso entérico ou transmitir sinais ao sistema
nervoso central através dos neurônios aferentes Microbiota
vagais, no nervo vago. Além disso, tais bactérias,
também podem metabolizar carboidratos O trato gastrointestinal humano é colonizado por
indigeríveis em ácidos graxos de cadeia curta trilhões de microrganismos, como fungos, vírus,
(AGCC), principalmente butirato, acetato e protozoários, arqueias e principalmente bactérias,
propionato, que podem ligar-se a receptores conhecidos como microbiota intestinal, que vive
acoplados a proteína G, especificamente GPR41 uma relação mutualista com o hospedeiro1,3,9.
e GPR43, nas células intestinais enteroendócrinas, Essa colonização dá-se ao início da vida, sendo
estimulando a liberação do peptídeo semelhante influenciada pela microbiota da mãe, modo
ao glucagon (do inglês, glucagon-like peptide – de entrega (parto normal ou cesárea), tipo de
GLP-1) e peptídeo YY (PYY), ambos conhecidos leite recebido (aleitamento materno ou fórmula
pelo efeito anorexigênico2,5,6. Em contrapartida, infantil), introdução alimentar, ambiente que a
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um desequilíbrio da microbiota intestinal, com criança está inserida, alimentação ao longo da


diminuição da diversidade microbiana, aumento vida, uso de antibióticos, dentre outros fatores9-11
de patobiontes ou diminuição de microrganismos (Figura 1).

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Figura 1. Fatores que afetam a composição e função da microbiota intestinal.

Fonte: Adaptado de: Clarke et al.11

Nos primeiros anos de vida, a microbiota é tecido linfoide associado ao intestino (do inglês –
relativamente instável e menos diversa, com uma gut associated lymphoid tissue - GALT), sintetiza
predominância dos gêneros Bifidobacterium e algumas vitaminas, como por exemplo as vitaminas
Lactobacillus. Com o passar do tempo, quando B9, B12 e K e, por fim, também influencia no
a criança atinge 3 a 4 anos de idade essa processo digestivo, expressando algumas enzimas
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microbiota assemelha-se a do adulto, tonando- digestivas e degradando carboidratos indigeríveis


se mais diversa e estável. Em adultos saudáveis em AGCC, onde o butirato é utilizado como
ela é composta essencialmente por bactérias, principal fonte energética para os colonócitos,
que perfazem cerca de 99% dos genes no com consequente manutenção da integridade da
intestino, com uma predominância de cinco filos: barreira intestinal12-14.
Actinobacteria, Proteobacteria, Verrucomicrobia Por outro lado, quando ocorre uma diminuição
e, principalmente, Bacteroidetes e Firmicutes e, na na quantidade de microrganismos comensais,
velhice, ela será novamente modificada, com uma aumento na proliferação de patobiontes e/ou
queda na diversidade microbiana2,9,12. redução na diversidade microbiana, origina-se
Sendo assim, manter uma microbiota saudável é um quadro de disbiose, uma alteração que pode
essencial para o equilíbrio imunológico e metabólico favorecer desordens imunológicas, causando
do hospedeiro, pois ela promove proteção contra degradação do muco intestinal, rompimento
patógenos, exerce imunomodulação através do de junções fortes da barreira epitelial, com
aumento da produção de IgA e maturação do consequente aumento da permeabilidade intestinal,

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Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

levando ao chamado intestino “gotejante” ou, todas essas vias sofrem interferência da microbiota,
do inglês, leaky gut, além de um aumento de por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro,
lipopolissacarídeos bacterianos (LPS - componente no qual ela pode impactar de alguma maneira
da membrana celular de bactérias gram-negativas) no comportamento alimentar, influenciando nas
no lúmen intestinal que, através desse intestino preferências alimentares e apetite, bem como em
mais permeável, atinge a corrente sanguínea, distúrbios alimentares e metabólicos18,19.
provocando uma endotoxemia metabólica, com À vista disso, segue uma discussão mais
inflamação crônica de baixo grau7,8,12. detalhada de cada uma dessas vias que fazem
Quando esse desequilíbrio microbiano acontece a comunicação do intestino com o cérebro,
na relação entre os filos Firmicutes e Bacteroidetes lembrando que elas estão interligadas entre si.
há uma correlação com a obesidade, com a
microbiota intervindo na coleta de energia, nas Via imunológica – comunicação microbiota-
alterações no comportamento, na modulação intestino-cérebro através de citocinas
de respostas imunológicas e na sinalização Bactérias intestinais possuem componentes
inadequada de AGCC, com consequente impacto na membrana celular (padrões moleculares)
no controle da saciedade15,16. Ademais, a microbiota que podem ser reconhecidos por receptores de
também pode influenciar no desenvolvimento reconhecimento de padrão, particularmente os do
e função do sistema nervoso, onde a disbiose tipo Toll (TLR) que são expressos em diferentes
associa-se à algumas patologias que atingem esse células no trato gastrointestinal e sistema nervoso.
sistema, com a endotoxemia metabólica gerando Dentre tais receptores destacam-se o TLR4
uma inflamação neuronal, com consequente responsável por reconhecer o LPS proveniente da
remodelamento vagal, causando hiperfagia e membrana celular de bactérias gram-negativas5,7.
impactando assim, no comportamento alimentar, O nervo vago possui neurônios envolvidos na
conforme discutido a seguir3,5,7. regulação da ingestão alimentar, estando os
terminais periféricos dos neurônios aferentes
Influência da microbiota no comporta- vagais localizados na mucosa intestinal. Tais
mento alimentar neurônios, juntamente com os plexos mioentérico
e submucoso expressam tais receptores, sugerindo
Um adequado controle da ingestão alimentar que o LPS pode controlar as sinalizações neuronais
depende de um equilíbrio neuronal e hormonal entéricas5,20.
entre o intestino e o sistema nervoso central Quando o LPS se liga ao TLR4 ocorre a
(SNC), onde o cérebro recebe e assimila sinais translocação nuclear do NF-κB, um fator de
intestinais, modificando o comportamento transcrição que regula positivamente a liberação
alimentar conforme a necessidade e o desejo do de citocinas com ação pró-inflamatória, como as
organismo. Essa comunicação entre o cérebro e interleucinas 1β e 6 (IL-1β e IL-6) e o fator de
o intestino é bidirecional, através de quatro vias necrose tumoral α (TNF-α). Dessa maneira, na
principais interligadas entre si: imune, neuronal, disbiose intestinal, ocorre um aumento do LPS
endócrina e metabólica. Em síntese, a via imune no lúmen, devido ao aumento de bactérias gram-
ocorre por meio das citocinas produzidas pelas negativas, levando a uma maior ativação desses
células imunológicas, ao passo que a comunicação receptores, gerando uma resposta inflamatória
neuronal dá-se por meio do sistema nervoso que lesiona a barreira intestinal, aumentando a
entérico e nervo vago, com neurônios aferentes e permeabilidade com consequente passagem do
eferentes vagais. Já a ligação endócrina faz-se por LPS para a corrente sanguínea, provocando uma
intermédio do eixo hipotálamo-hipófise(pituitária)- inflamação crônica de baixo grau (endotoxemia
adrenal (HPA) e na via metabólica tem-se a metabólica). Foi demonstrado em modelos
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participação dos metabólitos produzidos pela experimentais que a endotoxemia metabólica


microbiota intestinal, como os AGCC2,17. Um leva à ligação do LPS nos TLR4 expressos
crescente corpo de evidências tem demostrado que no gânglio nodoso, aumentado a liberação de

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citocinas pró-inflamatórias que direcionam uma e expressam a pró-opiomelanocortina (POMC) e


maior ativação dos aferentes vagais e conseguinte o transcripto regulado por anfetamina e cocaína
remodelamento vagal, prejudicando a sinalização (CART) que, quando estimulados, liberam o
de saciedade mediada vagamente para o núcleo do hormônio estimulador de α-melanócitos (α-MSH)
trato solitário no tronco encefálico, favorecendo que ativa o receptor de melanocortina-4 (MC4R)
desordens no comportamento alimentar com suprimindo a fome e aumentando o gasto de
aumento da ingestão energética, mostrando um energia4,6,21,22.
papel da microbiota na contribuição da patogênese
Dessa maneira, a microbiota intestinal
da obesidade, através de um desequilíbrio na
influenciará na ingestão de alimentos por meio
comunicação vagal7,8.
do papel que exerce na liberação de GLP-1, PYY
Via endócrina – comunicação microbiota- e CCK, sinalizando as células enteroendócrinas
intestino-cérebro através de hormônios e peptídeos através da produção de metabólitos como os
intestinais e eixo HPA AGCC, que serão abordados no próximo tópico.
As células intestinais enteroendócrinas (CEE) Essas células também possuem TLR4 que
recebem sinais do lúmen intestinal como a reconhecem o LPS, interagindo diretamente
presença de nutrientes e metabólitos microbianos com a microbiota e influenciando a ingestão de
e então interagem com as fibras aferentes vagais alimentos, pois o aumento na concentração de
por meio da liberação de hormônios como a citocinas pró-inflamatórias vindos por exemplo
colecistocinina (CCK) e peptídeos, como o GLP- da disbiose e estresse emocional levam a ativação
1 e PYY, que ligam-se a receptores presentes no do eixo HPA, com liberação do hormônio
nervo vago, levando assim as informações ao liberador de corticotrofina (CRH) pelo hipotálamo,
SNC e/ou atingem o hipotálamo e tronco cerebral
que então estimulará a secreção do hormônio
por meio da circulação, regulando o apetite, com
adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise e
promoção de saciedade e então sinalizando para
o término da refeição2,4,7,17,21. com isso a liberação de cortisol pela glândula
A CCK é um hormônio secretado no intestino adrenal. Cronicamente, essa elevação do cortisol
em resposta a gorduras e proteínas, atuando também irá modular a microbiota intestinal para
no processo digestivo e também como um um perfil mais disbiótico, com crescimento de
anorexígeno. O GLP-1 é uma incretina liberada patobiontes como Escherichia coli, Pseudomonas
pelas células L-enteroendócrinas em resposta a aeruginosa e Yersinia enterocolitica, mantendo
ingestão de carboidratos, com ação na inibição o quadro inflamatório, entrando, assim, em um
do esvaziamento gástrico, secreção de insulina, ciclo vicioso4,18. Ademais, exacerbando ainda
controle da fome e homeostase da glicose, ligando- mais esse ciclo, um estresse emocional interfere
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se a receptores expressos no intestino, células na escolha alimentar, com propensão ao consumo


β-pancreáticas, rins, nervo vago, núcleo do trato de alimentos mais palatáveis, ricos em gordura,
solitário e hipotálamo. O PYY é um peptídeo açúcar e energia que, além de ativarem regiões
produzido em resposta ao consumo principalmente
cerebrais de recompensa e prazer, podem piorar o
de lipídeos, mas também de proteínas e, em menor
quadro de disbiose que também, conforme supõe
intensidade, carboidratos, ligando-se a receptores
contidos no eixo intestino-cérebro, proporcionando Norris, Molina e Gewirtz 23, pode influenciar
um controle na ingestão de alimentos21. Essas na escolha alimentar, devido à plasticidade da
substâncias enviam sinais ao SNC indiretamente microbiota que se molda rapidamente para motivar
por vias aferentes do nervo vago ou diretamente preferências alimentares, mantendo-se assim esse
através dos neurônios no núcleo arqueado do looping infinito4,18,23,24.
hipotálamo. Dentre esses neurônios, o GLP-1 Pensando ainda na produção hormonal pelo
e o PYY irão atuar naqueles que possuem ação trato gastrintestinal e a influência da microbiota,
anorexígena, ou seja, que promovem saciedade vale ressaltar também que Cani e Knauf 5

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Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

demonstraram que modular a microbiota de ratos as bifidobactérias e bactérias do ácido lático


obesos com prebióticos diminui significativamente são bem conhecidas por produzirem acetato e
a grelina sanguínea – um hormônio com ação lactato, que serão utilizados como substratos por
orexígena, ou seja, associado ao aumento da outros microrganismos para produção de butirato
fome e ingestão energética –, diminuindo, dessa e propionato e, dentre as bactérias produtoras
maneira, a ingestão alimentar e contribuindo com de butirato, o Faecalibacterium prausnitizzi e
a homeostase energética5. a Akkermansia muciniphila têm demostrado
Outro ponto importante de ressaltar é o papel participação especial, estando associadas a um
da disbiose no sistema endocanabinoide, um perfil de microbiota mais saudável, com efeitos
sistema de sinalização presente no eixo intestino- benéficos à saúde28,29.
cérebro e que estimula o apetite e a ingestão Pensando no papel que os AGCC exercem
de alimentos, especialmente daqueles mais no comportamento alimentar, eles podem se
palatáveis, ricos em gordura e açúcar. Esse sistema ligar a receptores acoplados a proteína G,
possui substâncias endógenas denominadas especificamente o GPR41 e GPR43, presentes
endocanabinoides que se ligam a receptores nas células L-enteroendócrinas, estimulando-
acoplados a proteína G, chamados de canabinoides as a secretarem os peptídeos anorexígenos,
1 e 2 (CB1 e CB2). De acordo com Ringseis, GLP-1 e PYY, reduzindo a ingestão alimentar
Gessner e Eder22, o LPS estimula a produção de e melhorando a homeostase de glicose. AGCC
anandamida a partir do ácido araquidônico, uma também exercem função imunomoduladora, com
substância com alta afinidade pelos receptores modulação da função de linfócitos e neutrófilos,
CB, ativando-os em diferentes tecidos periféricos, e anti-inflamatória neutralizando a inflamação
particularmente adiposo e hepático, levando mediada pelo LPS5,12,30. Além disso, os AGCC
a uma alteração no metabolismo energético também podem regular a sensibilidade à insulina
e maior consumo alimentar. A modulação da e a liberação de leptina pelo tecido adiposo,
microbiota de camundongos obesos, por uma pelo mesmo mecanismo de ligação ao GPR41
alimentação rica em prebióticos, com aumento de e GPR43 presentes nesse tecido5,8,12. A leptina é
Akkermansia muciniphila (uma espécie bacteriana um hormônio produzido pelos adipócitos que está
relacionada à saúde intestinal), protege a barreira envolvido na regulação da ingestão energética
intestinal e, consequentemente, leva a uma menor e que também sofre influência da microbiota
ativação desse sistema. Sendo assim, fica claro intestinal, onde uma endotoxemia metabólica
a importância de estratégias alimentares que vinda de uma disbiose intestinal pode favorecer
promovam um perfil microbiano mais saudável e um quadro de resistência à leptina, contribuindo
a integridade da barreira intestinal12,22,25. para um desequilíbrio na homeostase energética,
ao passo que uma alimentação rica em prebióticos
Via metabólica – comunicação microbiota- pode melhorar a sensibilidade desse hormônio5.
intestino-cérebro através de metabólitos Ademais, os quimiorreceptores dos aferentes
produzidos pela microbiota – AGCC vagais também são capazes de detectar
Prebióticos são componentes alimentares não metabólitos microbianos, como os AGCC,
digeríveis que serão fermentados pela microbiota transmitindo mensagens ao SNC para controle
intestinal com consequente produção de AGCC. da fome2 e, somado à isso a microbiota também
Dentre os alimentos fontes de prebióticos cita-se é capaz de influenciar a diferenciação de células
banana verde, cebola, chicória, aspargo e aveia, tronco intestinais em células enteroendócrinas,
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ressaltando também que os polifenóis presentes aumentando ainda mais a secreção de GLP-1 e
nos alimentos vegetais podem exercer efeitos PYY, com estudos demonstrando que tais células
prebióticos26,27,28. No tocante aos microrganismos, podem produzir também o GLP-2 que auxilia

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na integridade da barreira intestinal, diminuindo induz a secreção de serotonina pelas células


assim a translocação de LPS para corrente enterocromafins intestinais. Dessa maneira, a
sanguínea5. serotonina liga-se então a receptores nos aferentes
Outro quesito eminente é a influência da vagais, regulando a ingestão energética através
microbiota nos receptores de sabor acoplados de sinais emitidos ao tronco cerebral5,18,31. É
às células enteroendócrinas (CEE), dentre eles interessante ressaltar que 80 a 90% da serotonina
os receptores de sabor doce que ligam açúcares do corpo é sintetizada e centralizada no trato
e adoçantes não calóricos, receptores de sabor gastrointestinal, não atravessando a barreira
amargo e receptores de ácidos graxos livres, que hematoencefálica, mas sim, transmitindo sinais
além dos ácidos graxos da alimentação, ligam ao SNC por meio do nervo vago, regulando dessa
também os AGCC provenientes da microbiota18,21. maneira o humor e o apetite, tanto em relação ao que
De acordo com Lyte18, existe uma hipótese de se come, como o volume das refeições e, somado
que a composição microbiana é diferenciada para a isso, a liberação da serotonina em nível cerebral
a preferência pelo sabor doce, gerando efeitos similarmente sofrerá influência da alimentação.
comportamentais através da comunicação da Ademais, a serotonina intestinal também tem uma
microbiota, CEE e nervo vago18. Isso mostra o importante ação local para controle por exemplo,
quão importante é modular a microbiota para um dos movimentos peristálticos24,31.
perfil mais saudável, limitando o consumo de Em contrapartida, estudos demostram que
alimentos açucarados. a disbiose intestinal pode gerar inflamação,
controlando o metabolismo do triptofano,
Via neuronal – comunicação microbiota-intestino- desviando-o para a via das quinureninas,
cérebro através de neurotransmissores diminuindo, assim, a síntese de serotonina
O controle da atitude alimentar pela via e melatonina, levando a um comportamento
neuronal caminha junto à via hedônica, onde alimentar negativo, pois a serotonina é um
não apenas hormônios influenciam a ingestão neurotransmissor ligado à regulação do humor e
alimentar como também o comportamento e apetite4,31.
humor do indivíduo, com uma grande participação Digno de nota também são as catecolaminas,
da microbiota nesse processo, onde um alto e serotonina, glutamato e GABA, atuando como
frequente consumo de alimentos ricos em gordura e mensageiros na comunicação microbiota-intestino-
açúcar ativam a via de recompensa dopaminérgica, cérebro, com alguns estudos demostrando que
com tendência ao vício nesses alimentos, que a disbiose pode afetar a síntese e sinalização
consequentemente levarão a microbiota à um desses neurotransmissores através do nervo
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perfil mais negativo, devido a plasticidade de vago, promovendo alterações comportamentais,


adequarem-se ao ambiente em benefício próprio. como por exemplo ansiedade e humor deprimido
Além disso, a via neuronal associada ao intestino que, como dito anteriormente, podem promover
está firmemente conectada ao centro da fome/ ainda mais alterações desfavoráveis da
saciedade e homeostase energética, através de microbiota, impactando na sinalização desses
neurotransmissores produzidos tanto pelas células neurotransmissores e controle da alimentação4,12,18.
intestinais quanto pela microbiota, modulando o À vista de tudo o que foi exposto nota-
comportamento alimentar4,18,23,24. se que alterações na composição e atividade
Em um ambiente microbiano equilibrado microbiana podem impactar no comportamento
as bactérias intestinais tanto podem sintetizar alimentar, influenciando tanto a qualidade
a serotonina, quanto expressarem uma enzima quanto a quantidade do que é consumido, com
denominada triptofano descaboxilase, capaz estudos mostrando a importância de modular a
de converter o triptofano em triptamina, que microbiota intestinal com uma alimentação rica

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Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

em prebióticos e hábitos de vida saudáveis, para energético. A Figura 2 sintetiza todas essa vias de
um melhor controle da fome/saciedade e equilíbrio controle que sofrem influência microbiana.

Figura 2. Influência da microbiota no controle da ingestão alimentar.

Legenda: AGCC: ácidos graxos de cadeia curta; DA: dopamina; GABA: ácido γ-aminobutírico; Ach: acetilcolina; HI:
histamina; TRP: triptamina; 5-HT: serotonina; NA: noradrenalina; Neurotrans.: neurotransmissores; ClpB: protease
caseinolítica; CEE: células L-enteroendócrinas; Perm. BI: Permeabilidade da barreira intestinal; IN: insulina; LP: leptina;
GR: grelina; Comp alim: comportamento alimentar; TC: tronco cerebral; Cels. recep. paladar: diferenciação de células
receptoras do paladar.

Fonte: Adaptado de Van de Wouw et al.19

Outro aspecto que também merece atenção é a contrapartida, modificar o relógio biológico,
conexão da microbiota com o ciclo circadiano pois, com hábitos noturnos e restrição do sono, estilo
conforme Kaczmarek, Thompson e Holscher3, o de vida estressante e comportamento alimentar
metabolismo microbiano pode variar ao longo tipo ocidental, com alto consumo de alimentos
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do dia, apontando ritmos diurnos, ao passo industrializados, pode diminuir a diversidade


que o momento da alimentação também pode microbiana, favorecendo a disbiose e alterações
promover mudanças na função microbiana3. Em metabólicas32.

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Estudo de Caso chamam a atenção, dentre eles, os antecedentes


e histórico clínico, a parte da assimilação
De maneira a melhor compreender a influência englobando as alterações do trato gastrointestinal,
da microbiota no comportamento alimentar a comunicação com possíveis alterações na
e, consequentemente, a importância da saúde sinalização de neurotransmissores e hormônios e
intestinal nesse quesito, segue um exemplo o centro da teia, englobando as emoções, mente
de estudo de caso com possíveis estratégicas e espírito, todos abordados a seguir de maneira
nutricionais baseadas nos princípios da nutrição sucinta.
funcional com foco na modulação da microbiota e Considerando que a colonização microbiana
integridade da mucosa intestinal, proporcionando dá-se ao início da vida, sofrendo diversas
mais saúde e qualidade de vida. influências, pode-se cogitar que desde o
nascimento as condições foram mais propícias
Caso Clínico: Paciente com disfunções para a prevalência de uma microbiota com um
do trato gastrointestinal e compulsão perfil mais negativo pois, de acordo com Thursby
alimentar. e Juge33, o nascimento por cesariana proporciona
um atraso na colonização pelo gênero Bacteroides,
1. Descrição do caso: com predominância do gênero Clostridium e
Mulher, 23 anos de idade, estudante pouca semelhança à microbiota intestinal da mãe
universitária, procura atendimento nutricional e, bebês alimentados por fórmulas, possuem uma
com objetivo de emagrecimento e queixa de má menor concentração de Bifidobacterium e maior
funcionamento intestinal. de Escherichia coli e Clostridium difficile33. Além
Antecedentes: nasceu por cesárea, recebeu disso, o uso frequente de antibióticos também
aleitamento materno apenas por três meses, e contribui para uma diminuição da diversidade
então iniciou a alimentação por fórmula. Relata ter microbiana e consequente disbiose11,33.
sido uma criança com peso adequado porém, com Analisando o funcionamento do trato
aumento da massa de gordura na adolescência, gastrointestinal é possível que haja correlação da
que acentuou-se no início da fase adulta. Possui má digestão com uma diminuição na produção
histórico de infecção de urina recorrente, com uso de ácido clorídrico, o que dificulta a digestão e
frequente de antibióticos. Referiu sempre possuir absorção de nutrientes, pois um pH estomacal
intestino mais lento, com evacuação a cada 2 menos ácido dificulta a digestão de proteína,
ou 3 dias, com fezes ressecadas e volumosas e, diminui a ionização de minerais e impacta
atualmente vem sentindo-se incomodada com na absorção da vitamina B12, que precisa do
o aumento de gases, distensão abdominal e má fator intrínseco para ser absorvida e, esse fator
digestão. depende de um meio estomacal ácido para ser
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Possui o hábito de estudar a noite, devido ao produzido. Ainda, essa má digestão proporciona
silêncio, pois relata dificuldade de concentração. uma passagem maior de fragmentos alimentares
Além disso, mencionou estresse com o período de para o intestino, favorecendo a fermentação
provas na faculdade. Visto que mora sozinha, baseia microbiana e produção de gases, corroborando
a sua alimentação em produtos industrializados, com o aumento da distensão abdominal relatado
como macarrão instantâneo, bolachas recheadas pela paciente. Além disso, um tempo de trânsito
e lanches prontos. Somado a isso, tem percebido mais lento, também permite que nutrientes fiquem
um aumento no consumo alimentar nos últimos disponíveis para fermentação por um tempo maior,
meses, com dificuldade em perceber a saciedade. favorecendo a proliferação microbiana. Portanto,
todos esses fatores possibilitam o surgimento de
2. Entendimento funcional do caso: uma disbiose intestinal, piorando ainda mais a
Pensando na Teia das Interconexões Metabólicas saúde e qualidade de vida dessa mulher34,35,36.
proposta pelo Instituto de Medicina Funcional e Contribuindo com esse quadro, uma
representada por Souza et al.37, alguns pontos alimentação baseada em produtos alimentícios

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Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

ultraprocessados exacerbam a disbiose, visto importantes para a adequada digestão dos


que um número crescente de evidências tem alimentos, considerando-se assim, o uso de chás
associado o padrão alimentar ocidental, rico em com ação digestiva e enzimas compostas nos
açúcar e gordura, à alterações da microbiota7,8,32. próprios alimentos, como a bromelina presente
Somado a isso, esse tipo de alimentação é pobre no abacaxi e que auxilia na digestão de proteínas.
em fibras prebióticas, limitando a produção de Reinocular: pensar em uma alimentação rica
AGCC, o que pode impactar na integridade da em fibras prebióticas para contribuir com o
membrana intestinal, além de atenuar a secreção crescimento de bactérias comensais, como
de peptídeos como o GLP-1 e PYY, favorecendo bifidobactérias e lactobacilos e assim aumentar a
o aumento da ingestão energética. E, ainda, a produção de AGCC que podem sinalizar as células
restrição de sono, com interrupção do relógio enteroendócrinas para produção de peptídeos
biológico e estilo de vida mais estressante também ligados ao controle da ingestão alimentar, como
são pontos importantes que vão a favor da disbiose GLP-1 e PYY. Avaliar a necessidade de reinocular
intestinal5,12,30,32. probióticos. Reparar: restaurar a integridade
Por fim, pode-se pensar que tanto a compulsão da mucosa intestinal, por meio de uma dieta
alimentar pode impactar na microbiota, quanto não irritativa e rica em nutrientes importantes
a disbiose pode promover um desequilíbrio para a integridade da barreira intestinal, como
no controle da fome/saciedade, conforme vitaminas A, D, zinco, ômega 3 e glutamina.
descrito anteriormente, possibilitando aumento Reequilibrar: focar em hábitos de vida saudáveis,
da permeabilidade intestinal e consequente e por fim Reavaliar: verificar se os objetivos foram
endotoxemia metabólica, com redução da alcançados, se houve melhora na saúde e então
sinalização hormonal e de neurotransmissores, reavaliar as condutas nutricionais37,38,39.
colocando essa paciente num ciclo vicioso que É relevante salientar que as condutas nutricionais
precisa ser rompido. Ademais, vale considerar devem sempre ser individualizadas e que as
que a disbiose ativa o sistema endocanabinoide estratégias aqui comentadas foram pertinentes ao
aumentando o consumo de alimentos mais exemplo de caso clínico relatado. Portanto, deve-
palatáveis, ricos em gordura e açúcar e também se sempre pensar no contexto que o paciente está
diminui a síntese de serotonina, que cronicamente inserido e todas as suas particularidades, para então
pode deprimir o humor dessa paciente e contribuir traçar as intervenções nutricionais pertinentes,
com a compulsão alimentar. visando sempre mais saúde e qualidade de vida.

3. Possíveis intervenções nutricionais funcionais: Conclusão


Quando tem-se o foco em modular a saúde
intestinal, uma intervenção funcional pertinente Mesmo com um crescente corpo de evidências
deve envolver um planejamento alimentar que associando a microbiota ao comportamento
compreenda o programa dos 6R: Remover, alimentar, ainda há a necessidade de mais
Recolocar, Reinocular, Reparar, Reequilibrar e estudos em humanos, com uma abordagem mais
Reavaliar37. profunda sobre causa e efeito no que tange esse
Remover: o foco está em diminuir a tema, principalmente em relação à preferência
colonização de patobiontes e reduzir a ingestão por determinados alimentos. Porém, pode-se
de xenobióticos e alérgenos alimentares, para concluir que ter um estilo de vida mais estressante
tanto deve-se minimizar o consumo de alimentos e/ou sedentário e alimentar-se sobretudo de
ultraprocessados, cheios de aditivos químicos e produtos industrializados repletos de açúcar e
orientar o consumo de alimentos mais naturais, gordura e também ricos em aditivos alimentares
ricos em vitaminas, minerais e fitoquímicos, pode corromper a microbiota intestinal, levando
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inclusive aqueles com ação antimicrobiana. ao aumento da permeabilidade intestinal, com


Recolocar: utilizar estratégias que visam uma translocação do LPS para a corrente sanguínea,
melhor produção de ácido clorídrico e enzimas, causando endotoxemia metabólica, favorecendo a

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Angélica Simões Ferrari

compulsão alimentar, obesidade e outras desordens assim sucessivamente, o que deixa claro a primazia
metabólicas, além de colocar o organismo em um de hábitos de vida saudáveis na modulação da
looping infinito, partindo para escolhas alimentares microbiota para um perfil mais positivo, que
mais palatáveis, exacerbando a disbiose que então irá modular o comportamento alimentar,
aumenta a fome por alimentos mais palatáveis e

Highlights
• Manter uma microbiota saudável é essencial para o equilíbrio imunológico e
metabólico do hospedeiro;
• A microbiota também pode influenciar no desenvolvimento e função do sistema
nervoso, onde a disbiose associa-se a alterações no comportamento alimentar;
• Um adequado controle da ingestão alimentar depende de um equilíbrio neuronal
e hormonal entre o intestino e o sistema nervoso central (SNC);
• A comunicação entre o cérebro e o intestino ocorre através de quatro vias principais
interligadas entre si: imune, neuronal, endócrina e metabólica, todas sofrendo influência
da microbiota;
• Uma das estratégias utilizadas para modular a microbiota intestinal e,
consequentemente, equilibrar o comportamento alimentar, pode ser o programa dos 6R.

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