Envelhecimento e microbiota intestinal

Suplementação proteica e sarcopenia 9

Benefícios do azeite de olivia 14

Suplementação de ômega-3 no transtorno bipolar 20

SIBO: sinais, sintomas e terapia nutricional 26

Creatina e saúde feminina 33

Suplementação infantil 38

Carboidratos & musculação 44

Spirulina azul 50
Envelhecimento e microbiota intestinal

4
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Introdução
O envelhecimento é um processo natural
sofrido por quase todos os organismos
biológicos. Os mecanismos subjacentes deste
processo envolvem alguns características
principais que, juntas, dão origem ao fenótipo
do envelhecimento: instabilidade genômica,
atrito de telômeros, alterações epigenéticas
e perdas de proteostase são algumas das
principais causas que refletem um dano celular
característico do envelhecimento. Numa
tentativa de conhecer melhor os mecanismos
interligados aos processos de envelhecimento,
bem como encontrar intervenções para
aumentar a longevidade e melhorar a saúde,
o papel da microbiota intestinal vem sendo
constantemente estudado e atrelado ao
envelhecimento 1.
A microbiota humana pode ser definida como
um conjunto ecológico de microrganismos
comensais, simbióticos e patogênicos que
vivem em nosso corpo, sendo uma área
altamente variável. Tais populações consistem
em bactérias, fungos, parasitas e archaea, que
co-evoluiu com nossos ancestrais ao longo de
milhões de anos. A relação entre microbiota
intestinal e o envelhecimento foi descoberta
há tempos em organismos ‘’modelo’’ como
a mosca Drosophila melanogaster e o peixe
Nothobranchius furzeri, e cada vez mais
estudos vêm consolidando que esta relação
também é existente no Homo Sapiens 1, 2 .
Microbiota intestinal e envelhecimento
A microbiota intestinal sofre interferência de
diversos fatores como idade, dieta, ambiente
e doenças. Alterações na microbiota do corpo
humano foram inicialmente descobertas na
década de 1970, onde a transição da microbiota
adulta e idosa foi caracterizada pela diminuição
de Bifidobacterium e pelo aumento de
Clostridium, Lactobacillus, Enterobacteriaceae
e Enterococcus. Posteriormente, descobriu-
-se que a diversidade bacteriana como um
todo diminui com a idade, e mudanças na
abundância de Bacteroides e Clostridium
acontecem em indivíduos idosos, mas, não em
jovens. Curiosamente, indivíduos centenários
e supercentários apresentam maior
abundância de Christensenella, Akkermansia
e Bifidobacterium, gêneros associados à
saúde do hospedeiro, sugerindo um potencial
efeito promotor da expectativa de vida 1.
No entanto, é importante ressaltar que
ainda não é clara na literatura se a relação
das mudanças da microbiota intestinal
em indivíduos de mais idade é causa
ou consequência – as mudanças nas
comunidades de bactérias intestinais de
indivíduos idosos podem ser frutos do estilo de
vida, da alimentação, do uso de medicações e
também do estado de saúde – e não somente
um resultado do envelhecimento cronológico.
Alguns estudos no formato coorte publicados
sugerem que a microbiota intestinal de
diferentes populações idosas pode diferir
dentre si, o que reforça a hipótese de que
é importante não somente avaliar a idade
cronológica numa perspectiva de mudanças
na microbiota, mas, também todo o estilo de
vida do indivíduo em questão 1, 3.
5
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Consequências da mudança da microbiota simbiontes (uma vez que são relativamente
no envelhecimento tolerantes ao oxigênio), mantendo, por
consequência, o estado inflamatório . 4

Estado inflamatório
O envelhecimento está associado a um
meio pró-inflamatório, denominado como
‘’inflammaging’’. Tal estado pró-inflamatório
em idosos é expresso por altos níveis
circulantes de citocinas pró-inflamatórias
como IL-1, IL-6, IL-8, IL-13, IL-18, bem como
de PCR e TNF-α. Em condições normais,
a microbiota intestinal desempenha um
importante papel na manutenção da
troficidade da parede intestinal, modulando
a proliferação, diferenciação, maturação e
reparo após lesões de células teciduais; além
disso, via AGCC (ácidos graxos de cadeia curta),
a microbiota também aumenta a expressão
de tight junctions (‘’junções firmes’’) em
enterócitos, contribuindo com sua proteção
contra a colonização de patógenos . 4
Em indivíduos idosos, a microbiota intestinal é
caracterizada por genes sacarolíticos reduzidos
e genes proteolíticos aumentados, o que
favorece o supercrescimento de patobiontes
que, por sua vez, intensificam a inflamação.
O estado inflamatório per si também possui
a capacidade de prejudicar a microbiota
intestinal através da indução de um processo
de aerobiose acompanhado por uma alta
produção de Espécies Reativas de Oxigênio
(EROs), que induz a inativação de bactérias
estritamente anaeróbicas (ex: firmicutes) e
promovem bactérias aeróbias facultativas;
neste ambiente, os patobiontes da microbiota
intestinal aumentam e prevalecem sobre os
Sistema imunológico
O termo ‘’imunosenescência’’ foi introduzido
há algumas décadas para se referir a
deficiências funcionais ou respostas
imunes defeituosas observadas em idosos,
podendo resultar, por exemplo, numa maior
vulnerabilidade às infecções bacterianas
e virais. Ainda que esteja em estado inicial
de estudos e a maioria dos trabalhos até
então publicados tenham sido realizados
em roedores, a relação entre a microbiota
intestinal e alterações associadas às respostas
imunológicas relacionadas à idade vêm sendo
alvo de discussão entre diversos autores.
Um estudo realizado em camundongos, por
exemplo, observou disfunções nas funções
de macrófagos naqueles que apresentaram
quadros de disbiose intestinal. Um outro
trabalho também realizado em camundongos
descobriu que a transferência da microbiota
intestinal de camundongos de maior idade
para camundongos jovens livres de germes
promoveu maior ativação de células T e a
inflamação do intestino delgado, bem como
um aumento de F. alocis e F. prausnitzii,
conhecidas por induzir a apoptose de
linfócitos e aumentar a secreção de citocinas
pró-inflamatórias 5.
Doenças potenciais
Alterações em respostas inflamatórias e/ou
imunológicas podem potencialmente estar

6
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interligadas com a patogênese e progressão Como mencionado anteriormente, o
de diversas doenças metabólicas que envelhecimento tem relação com diversas
são prevalentes em pessoas idosas, como doenças, reduzindo a qualidade de vida.
resistência à insulina, gordura no fígado e Intervenções que visam melhorias na
esteatose hepática, aterosclerose, doenças microbiota intestinal podem minimizar o
cardiovasculares e diminuição da atividade impacto destas mudanças fisiológicas, e,
motora. Alterações no microbioma também portanto, melhorar o aumento na expectativa
podem afetar o eixo intestino-cérebro, de vida destes indivíduos.
dificultando sinais neurais, endócrinos,
A dieta é um fator relevante que leva
nutricionais e imunológicos através do Sistema
a alterações na microbiota intestinal.
Nervoso Entérico (SNE) e, consequentemente,
Sabidamente, a quantidade de AGCC em
podem desempenhar um papel em doenças
indivíduos de maior idade tende a ser
do Sistema Nervoso Central (SNC), como
reduzida, podendo induzir prejuízos na
esclerose múltipla, depressão, ansiedade
barreira intestinal; um alto consumo de
e autismo. Evidentemente, tais alterações
fibras alimentares, portanto, é altamente
podem, não necessariamente, estar
recomendado, visando reforçar esta barreira,
relacionadas somente ao envelhecimento,
reduzir a colonização de bactérias patogênicas
mas, também, por exemplo, ao uso de
e mitigar o estado pró-inflamatório 4.
medicamentos como anti-inflamatórios não
esteroidais, antibióticos, etc. Alguns autores Outro modulador importante na promoção

ainda sugerem que mudanças na microbiota de uma microbiota intestinal saudável são

tem maior relação com o envelhecimento os prebióticos. Em resumo, prebióticos são

biológico do que com o envelhecimento carboidratos complexos não digeríveis no

cronológico. Ainda que os mecanismos intestino delgado que, ao chegar no cólon,

exatos pelos quais a microbiota intestinal são submetidos à fermentação, modulando

pode influenciar positiva ou negativamente a composição e a atividade metabólica da

doenças atreladas ao envelhecimento microbiota intestinal. Os prebióticos são

precisem ser mais estudadas, é relevante comumente encontrados nos grupos de FLVs

que intervenções precoces sejam realizadas (frutas, legumes e verduras), bem como em

visando maximizar a saúde da microbiota cereais integrais 4.

intestinal e, potencialmente, minimizar o risco O consumo de probióticos também é

de doenças relacionadas ao processo natural comumente relacionado à uma microbiota
de envelhecimento 7, 8
. intestinal mais saudável. Probióticos são
definidos como microrganismos vivos, que,
quando administrados em quantidades
Intervenções para melhorias na microbiota
adequadas, conferem benefício à saúde do
intestinal no idoso
hospedeiro. Em ratos e camundongos idosos,

7
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a administração de alguns probióticos como
Lactobacillus Acidophilus demonstrou-
se capaz de aumentar as populações de
bactérias benéficas, ao mesmo tempo que
reduziu os níveis de bactérias oportunistas,
como Proteobacterias. Em seres humanos,
uma revisão sistemática publicada em 2019
relatou que a suplementação de curto-prazo
(3-12 semanas) de probióticos melhorou a
função imune celular em indivíduos idosos
saudáveis. Ainda que mais estudos em seres
humanos sejam necessários para esclarecer os
mecanismos exatos pelos quais os probióticos
idade.
podem auxiliar no sistema imunológico e
na longevidade, a ciência demonstra dados
promissores sobre a utilização dos mesmos 4, 6.

Conclusão

O interesse no estudo da microbiota intestinal

é cada vez maior. Indivíduos idosos tendem a
ter, com o passar do tempo, modificações na
composição de sua microbiota intestinal que
podem, direta ou indiretamente, induzir e/ou
potencializar diversas doenças comumente
presentes em indivíduos mais velhos.
Intervenções nutricionais e no estilo de vida
deste paciente podem melhorar a qualidade
de vida do idoso, bem como aumentar a
expectativa de vida do mesmo. Ainda que mais
estudos sejam necessários visando averiguar
os mecanismos exatos pelos quais a microbiota
interfere na saúde do hospedeiro, os trabalhos
atualmente disponíveis são promissores e
refletem um leque de possibilidades para que
o profissional da saúde possa, em sua prática,
auxiliar na saúde de pacientes com maior

8
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Suplementação proteica e sarcopenia

9
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sabe-se que a proteína é um macronutriente
extremamente importante para as funções
corporais normais. A sua ingestão diária varia
de acordo com a idade, grau de atividade
física e sexo, dentre outros fatores, mas, é
fundamental para que a massa e a força
muscular de um indivíduo seja mantida
durante toda a sua vida.
Tanto a massa muscular quanto a força
muscular estão positivamente correlacionadas
e estão associadas a um melhor quadro de
saúde em geral, prevenção de problemas
funcionais e declínios associados ao
envelhecimento.
Após os 30 anos, a massa muscular diminui
a uma taxa de 0,3 a 0,8% ao ano1. Essa
redução é atribuída à redução em número
e, até certo ponto, no tamanho da área,
de miofibrilas2. Os fatores que afetam essa
redução incluem atrofia muscular relacionada
à idade, diminuição da função mitocondrial,
aumento do estresse oxidativo, sedentarismo,
má alimentação e inflamação, dentre outros.
Além disso, em indivíduos com idades
de 50/60 anos, juntamente com a atrofia
muscular, possuem a taxa de força muscular
diminuindo de 2 a 4% em membros inferiores
todos os anos. Com isso, observa-se que o
declínio da força muscular está associada à
incapacidade de tarefas rotineiras, levando
o indivíduo idoso mais suscetível a quedas e
, consequentemente, ao aumento nas taxas
de mortalidade. Portanto, se faz necessária a
prevenção de perdas associadas à idade.
A sarcopenia, ou declínio musculoesquelético
relacionado à idade, é caracterizada por:
(1) Baixa força (testada por meio de força de
preensão palmar e teste de levantar-se da
cadeira);
(2) Baixa quantidade ou qualidade muscular
(confirmado por Dual X-Ray Absorptiometry
(DXA), tomografia computadorizada (TC), ou
ressonância magnética (MRI), etc.);
(3) Baixo desempenho físico (avaliado através
da velocidade da marcha, teste de caminhada
de 400 m, etc.)3..
A etiologia potencial da sarcopenia é uma
combinação de declínios na função física, perda
de massa muscular, aumento da inflamação,
equilíbrio hormonal alterado, ingestão
inadequada de nutrientes e resistência
anabólica . Atualmente, a sarcopenia afeta
4
6-19% dos indivíduos em todo o mundo com
idade superior a 60 anos5. Esses indivíduos
estão mais vulneráveis a um maior risco de
quedas, fraturas, diminuição da qualidade
de vida, doenças cardiovasculares, doenças
respiratórias e comprometimento cognitivo. É
importante ressaltar que o risco da sarcopenia
depende da idade, etnia, condições de vida e
condições médicas pré-existentes.
Atualmente, não existem medicamentos
aprovados para o tratamento da sarcopenia, o
que está disponível são suplementações que
auxiliam na prevenção e no tratamento. Para
idosos hospitalizados ou institucionalizados
com fragilidade ou sarcopenia, o atendimento
padrão inclui exercícios de resistência e
levantamento de peso. Porém, a transição
10
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entre o leito hospitalar para a reabilitação em
casa, é um tanto quanto desafiadora, pois,
muitos pacientes são incapazes de praticar
atividade física, seja por falta de apoio familiar,
automotivação ou falta de equipamento
próprios, dentre outros.
No entanto, a dieta é um fator de estilo
de vida modificável que pode servir como
um importante papel na prevenção e no
tratamento da sarcopenia, como exemplo, um
maior aporte proteico.
A recomendação diária atual da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e da Academia
Nacional de Ciências de 0,8 g/kg de peso
corporal/dia para adultos pode não ser
suficiente para combater a sarcopenia em
idosos. Evidências recentes sugerem que a
ingestão de proteínas mais próxima 1,2-1,5
g/kg de peso corporal/dia, em combinação
com exercício adequado, é mais benéfica em
prevenir declínios relacionados à idade na
massa e força muscular, melhorar o estado
de saúde e reduzir o risco de mortalidade
precoce6-8.
Porém, a maior barreira na implementação
das recomendações se dá pelo fato de o
indivíduo idoso muitas vezes residir sozinho,
ter inapetência, problemas com mastigação
e problemas gastrointestinais. Além disso,
proteína aumenta a saciedade, e, portanto, os
idosos são menos propensos a satisfazer suas
necessidades devido à sensação de saciedade
e omissão de refeições.
Portanto, é fundamental fornecer fontes de
proteína sustentáveis e
​​ densas em nutrientes
que irão melhorar ao máximo a massa e
força muscular, reduzindo o risco para o
aparecimento da sarcopenia.
Tradicionalmente, a proteína de soro de
leite (whey protein) tem sido utilizada para
suplementação de proteína dietética devido
à sua alta digestibilidade e perfil completo
de aminoácidos, proporcionando uma boa
palatabilidade e aderência entre o público
mais idoso.
1. A resposta muscular a fontes de proteína
animal versus vegetal
Pesquisa comparando as propriedades
anabólicas de várias fontes de proteína vegetal
e animal são importantes para determinar se
condutas nutricionais específicas podem ser
formuladas para maximizar a saúde muscular
do idoso. Diferenças entre a proteína do soro
do leite versus proteína de soja foram bem
estudadas em adultos e jovens.
Volek, et al, conduziu um estudo no qual foi
demonstrado que a ingestão de proteína de
soja resulta em uma síntese proteica mais
baixa em comparação à proteína do soro do
leite durante as condições de repouso e pós-
exercício.9
No entanto, a pergunta que permanece é:
existe uma fonte ideal de suplementação de
proteína para idosos? Um estudo de Gorissen,
et al10, demonstra as diferenças gritantes
entre os tipos de suplementos proteicos,
onde proteína do soro do leite, caseína, soja
e ervilha têm 43%, 34%, 27% e 30% de EAAs,
respectivamente. Os autores concluem que
para um adulto consumir 2,7 g de leucina,
11
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um forte determinante de síntese proteica
muscular, ou 10,9 g de aminoácidos essenciais,
eles teriam que ingerir ~32 g de proteína do
soro do leite, ~47 g de proteína caseína, ~55
g de proteína de soja e ~48 g de proteína de
ervilha. Devido às diferenças no perfil de EAA
entre os subtipos de proteínas.
2. A suplementação com leucina e
aminoácidos essenciais pode beneficiar os
idosos com baixa ingestão de proteínas
Vários aminoácidos, como β-alanina,
L-glutamina, L-arginina, L-leucina e suas
forma bioativa (butirato de hidroximetila),
têm sido estudados para o manejo nutricional
da sarcopenia, pois, são anti-catabólicos
e anabólicos por natureza11. Por exemplo,
estudos mostraram que a suplementação
de β-alanina12-15 pode prevenir e retardar
a progressão da sarcopenia, abordando a
depleção sistêmica de carnosina (β-alanil
l-histidina), um dipeptídeo que atua como
um tampão de pH e é predominantemente
encontrado no esqueleto músculo. Entretanto,
desses substratos, a leucina é o mais bem
estudado, e requer maior compreensão
sobre a dosagem adequada e os efeitos de
curto prazo versus longo prazo sobre saúde
muscular11.
3. Associações entre fontes de alimentos à
base de plantas e massa muscular
Com estudos demonstrando que a resposta da
síntese proteica muscular a curto prazo difere
pela qualidade da proteína, digestibilidade e
conteúdo de leucina, há uma necessidade de
examinar a relação da proteína de ingestão
usual com saúde muscular entre idosos. Além
disso, é importante examinar os efeitos das
fontes de proteína vegetal no músculo dentro
do contexto de padrões alimentares usuais,
como o interesse crescente em dietas à base
de plantas devido aos seus conhecidos efeitos
saudáveis ​​sobre saúde metabólica16.
Consumir maiores quantidades de proteína,
independentemente da fonte, pode
compensar o menor teor de EAA de proteínas
de origem vegetal. Além disso, podem ser
combinadas na dieta para formar perfis de
EAA completos. Por exemplo, as proteínas de
grãos são tipicamente mais baixas em lisina
e mais altas em metionina. Em contraste, os
feijões são tipicamente menor em metionina,
mas, maior em lisina. Quando esses alimentos
de proteína vegetais são combinados, as
proteínas do grão e do feijão formam um perfil
de EAA que se assemelha à proteína animal17.
No entanto, a concentração de EAA no sangue
pós-prandial após a ingestão de proteína
vegetal combinada não era o mesmo que
proteína de soro de leite quando combinado
com seu conteúdo de leucina18. Portanto,
índices de qualidade e digestibilidade da
proteína não fornecem informações sobre
o verdadeiro efeito anabólico de fontes
específicas de proteínas vegetais nos tecidos
do corpo em comparação com os homólogos
de origem animal.
Uma revisão sistemática da literatura por
van Vliet, Burd e van Loon 17
destacaram
que a proteína animal é geralmente, em
12
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uma quantidade isonitrogênica, superior na
promoção da síntese proteica muscular e leva
a maior massa muscular em comparação com
a proteína de origem vegetal (por exemplo,
soja e trigo). Os autores mostram que a
proteína à base de plantas oferece benefícios
iguais em comparação com a de origem
animal em maior quantidade de ingestão. No
entanto, isso pode não ser o caso em certas
populações.19

Conclusão

Conclui-se que a população idosa passa

a ser clinicamente comprometida devido
à sarcopenia e desnutrição proteica. Uma
abordagem nutricional personalizada para
fornecer proteína adequada através de uma
mistura de fontes mais a suplementação de
leucina suficiente pode compensar esses riscos.
Dentre idosos com baixa ingestão crônica de
proteínas, uma suplementação de proteína ou
leucina pode ser garantido para aumentar a
ingestão diária inadequada de proteínas. Com
uma grande variedade de bebidas proteicas
disponíveis no mercado com fontes variadas
de proteína, como soro de leite, soja e proteína
à base de ervilha, ficou mais acessível para os
idosos conseguirem atingir a quantidade de
proteína diária com produtos de excelente
palatabilidade. Cabe a nós, profissionais da
saúde, difundirmos a importância dessa
ingestão proteica, principalmente no público
da terceira idade.

13
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Benefícios do azeite de olivia

14
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O azeite de oliva extravirgem (AOE) é produzido
através da extração mecânica sem uso de calor
ou solventes de azeitonas, fruto da árvore Olea
europaea L., conhecida como oliveira, nativa
da Ásia menor e Síria. Atualmente, os maiores
produtores de azeitonas e azeite são Espanha,
Itália e Grécia (1).

Existem diferentes formas de processamento

do azeite, e o AOE possui um processamento
mínimo, o que mantém os mais altos níveis de
ingredientes benéficos.

É composto principalmente por ácidos

graxos (98-99%), onde 55 a 83% do total é
composto por ácidos graxos monoinsaturados
(MUFA) como o ácido oleico, além de outros
componentes como fitoesteróis, esqualeno e
tocoferóis. Esses componentes têm mostrado
potencial como agentes antioxidantes,
antiinflamatórios e antimicrobianos (2) (5). Adaptado de: Extra virgin olive oil improves
synaptic activity, short‐term plasticity,
memory, and neuropathology in a tauopathy
Fig.1 Principais componentes do azeite de
model (13)
oliva extravirgem
A extração do azeite de oliva
deve respeitar um procedimento
adequado para evitar alterações
em sua composição e qualidade:
coleta, classificação, lavagem,
esmagamento, malaxação,
separação e centrifugação,
armazenamento e embalagem (5).

Fig. 2 Resumo do processo de

extração do azeite

15
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Adaptado de Bioactive Compounds and
Quality of Extra Virgin Olive Oil, Foods (5)
Sua acidez leva em consideração o
teor de ácidos graxos livres com base
na porcentagem de ácido oleico. Um
azeite obtido a partir de azeitonas
de qualidade e em condições ideais
possui uma acidez mais baixa de até
0,8% (2).
Para que suas propriedades benéficas
sejam mantidas, alguns cuidados são
necessários para o armazenamento,
como o controle de exposição à luz,
temperatura, presença de oxigênio ou
material da embalagem (2).
Óleos vegetais ricos em gorduras
saturadas são mais estáveis nos
processos de cozimento e fritura do
que os insaturados, porém, possuem
menos propriedades benéficas à
saúde. O óleo de girassol, que é rico
em gorduras insaturadas, aumenta
as propriedades benéficas, mas,
pouca estabilidade térmica. O AOE
possui um bom equilíbrio entre
ácidos graxos monoinsaturados e
poliinsaturados MUFA:PUFA, o que
confere propriedades de estabilidade,
sendo adequado para uso de fritura de
alimentos (5).
O azeite de oliva extravirgem é
elemento fundamental que compõe
a Dieta do Mediterrâneo, composta
por vegetais, frutas, cereais, nozes e
peixes, onde o consumo de gorduras
monoinsaturadas, advindas do AOE,
equivalem até 18% do total energético
diário (3).
Os benefícios do AOE podem ser
atribuídos aos compostos fenólicos,
representados pelos álcoois
fenólicos, hidroxitirosol e tirosol, e aos
secoiridóides, que incluem oleocantal,
aleaceína, oleuropeína e ligstrosídeo
(15).
Existe uma dúvida muito frequente na
população sobre quais gorduras são
melhores para consumo, se podem ser
aquecidas e quais os seus benefícios.
Neste artigo, abordaremos mais
especificamente sobre os aspectos do
AOE.
16
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Fig. 3 Componentes nutricionais avaliou os efeitos da dieta mediterrânea em
presentes no azeite de oliva eventos clínicos de doença cardiovascular
extravirgem (DCV) (6).

Foram avaliados cerca de 7500 participantes

com risco cardiovascular potencial, durante 4.8
anos e resultou em uma diminuição de 30%
do desenvolvimento de DCV, como acidente
vascular cerebral e infarto do miocárdio em
comparação com um grupo controle, que
seguiu uma dieta com baixo teor de gordura
(6).

Em resumo, o efeito benéfico da

dieta mediterrânea está relacionado,
principalmente, às suas propriedades anti-
inflamatórias e antioxidantes (8).

O estresse oxidativo implica na patogênese de

vários fatores de risco da aterosclerose, como
hipertensão, diabetes e síndrome metabólica
(11).

O consumo agudo do AOE também mostrou

benefícios em marcadores cardiometabólicos,
Adaptado de The Secrets of the Mediterranean como redução dos níveis de glicose no sangue,
Diet. Does [Only] Olive Oil Matter? (11) triglicerídeos, aumento dos níveis de insulina
e peptídeo semelhante ao glucagon (GLP-1),
com 10g de AOE adicionado às refeições (9)
Atividade cardioprotetora
(10)
Sabemos que a alta ingestão de gordura
Microbiota intestinal
saturada na dieta está associada a um
aumento do risco para o desenvolvimento de A obesidade, síndrome metabólica e
doenças cardiovasculares. Em contrapartida, até doenças neurodegenerativas estão
estudos mostram que os ácidos graxos relacionadas a saúde e microbiota intestinal
monoinsaturados presentes no AOE possuem (2)
efeitos cardioprotetores (4) (1). A microbiota intestinal é crucial tanto para
O estudo PREDIMED (PREvención com Dieta mediar a inflamação do hospedeiro quanto
MEDiterránea) multicêntrico, randomizado, para influências sua saúde metabólica. A
dieta é o principal fator para determinar a

17
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diversidade do microbioma. Uma dieta pobre
em fibras e rica em ácidos graxos saturados
impulsiona a disbiose intestinal, o que impacta
negativamente a saúde metabólica (12).
O consumo de AOE reduz a abundância
de bactérias patogênicas, estimulando
o crescimento de bactérias benéficas e
aumentando a produção de ácidos graxos
de cadeia curta (AGCC) que possuem efeitos
antiinflamatórios; também influencia
saúde da mucosa intestinal, atuando como
um prebiótico e antibacteriano.
Os AGCC gerados pela microbiota intestinal,
podem aumentar as células T-reguladores
(Treg) e a produção de citocina anti-
inflamatórias, influenciando positivamente o
sistema imunológico da mucosa (2).
A composição e diversidade da microbiota
intestinal de camundongos, função
imunológica intestinal e saúde metabólica em
uma dieta composta por AOE, demonstrou
ser superior em comparação à dietas com
baixo teor de gordura (12).
Saúde Cognitiva
A doença de Alzheimer (DA) e as
tauopatias estão relacionadas a distúrbios
neurodegenerativos, cujos principais sintomas
são perda de memória e déficits cognitivos
(13).
Um estudo realizado em camundongos
transgênicos tau (hTau) demonstrou que
uma dieta rica em AOE melhorou a memória
de trabalho, aprendizado espacial, atividade
sinápstica basal e plasticidade de curto prazo
(13).
O nervo vago, metabólitos do triptofano e
produtos microbianos, como os AGCC são
as principais vias de comunicação entre a
microbiota intestinal e o cérebro (7).
A microbiota intestinal pode afetar a função
cerebral modulando neurotransmissores
como serotonina,noradrenalina, dopamina,
glutamato e GABA (7).
na
Um subestudo da dieta PREDIMED, onde
foram avaliados vários testes neuropsicológicos,
os participantes que consumiram a dieta
mediterrânea com alto consumo de AOE
melhoram a função cognitiva em comparação
aos que consumiram uma dieta com baixo
teor de gorduras.
Atividade antitumoral
Menor incidência de cânceres foram
encontradas em países do mediterrâneo em
comparação com os EUA e países europeus.
O AOE está sendo amplamente estudado
para avaliar sua atividade antitumoral e
anticancerígena (5).
Diversos estudos mostraram que a ingestão
de AOE está inversamente relacionada à
prevalência de câncer, porém, ainda não
está claro se isso se deve aos ácidos graxos
monoinsaturados ou aos componentes
antioxidantes (14).
O composto fenólico secoiridóide possui
propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias
e anti-proliferativas, mostrando sua ação
anticancerígena (15).
18
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Em resumo, um azeite de boa qualidade
deve ter sua acidez baixa, em até 0,8%, e
ser armazenado em local apropriado com
controle de temperatura e iluminação.
Sua maior parte é composta por ácidos
graxos monoinsaturados (55-83%) e possui
componentes fenólicos que apresentam
atividades antioxidantes, anti-inflamatórias,
antiproliferativas e antimicrobianas, portanto,
apresenta efeitos benéficos à saúde, como
atividade cardioprotetora, melhora da
microbiota intestinal, melhora da função
cognitiva e prevenção da doença de Alzheimer
e também efeito antitumoral.

19
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suplementação de ômega-3 no transtorno
bipolar: estudos sobre os possíveis
benefícios

20
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O papel dos ácidos graxos ômega-3 na saúde de peixe (4,1).
mental humana vem sendo muito estudado
nas últimas décadas. Os ácidos graxos
ômega-3, compostos pelo ácido alfa-linolênico Os ácidos eicosapentaenoico (EPA) e

(ALA), ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) atuam como

docosahexaenoico (DHA), constituem uma inibidores competitivos dos ácidos graxos

das classes mais importantes de PUFAs, ômega-6, causando uma redução na síntese

componentes essenciais de fosfolipídios e de mediadores pró-inflamatórios. Sendo

ésteres de colesterol da membrana celular assim, uma dieta rica em óleo de peixe tem

neuronal, juntamente com os ácidos graxos sugerido uma diminuição na incidência de

ômega-6, os quais abrangem os ácidos doenças inflamatórias (1).

araquidônico (AA) e linoleico (1,2).

DESENVOLVIMENTO

Inúmeras fontes mostram que os seres Nos últimos anos, o interesse pelos ácidos
humanos evoluíram em uma dieta com graxos ômega-3 aumentou na área da
a proporção de ácidos graxos ômega-6 psiquiatria e o seu papel no tratamento de
para ômega-3 de aproximadamente 1:1. um grande número de doenças mentais
No entanto, na dieta moderna ocidental, a vem sendo investigado; a justificativa leva
proporção passou a ser em torno de 20:1, em consideração a sua ação primária em
tendo em vista a grande quantidade de promover alterações na composição de ácidos
ômega-6 nos alimentos. Ocorre que o graxos fosfolipídicos da membrana sináptica
excesso de ácidos graxos poliinsaturados e modulação da cascata de segundos
ômega-6 pode ocasionar o desenvolvimento mensageiros. Estes agentes modulam a
de inúmeras doenças, como câncer, sinalização de células cerebrais, abrangendo
doenças cardiovasculares, inflamatórias e vias serotoninérgicas e dopaminérgicas. A
autoimunes, enquanto altas concentrações proporção balanceada de ômega-3/ ômega-6
de ômega-3 são capazes de inibir estes efeitos, é imprescindível para o funcionamento
promovendo também ação hipolipidêmica e do sistema nervoso central, sendo EPA e
anti-inflamatória (3). DHA os principais agentes na regulação
da neurogênese, neurotransmissão e
sobrevivência celular (1,2).
Os ácidos graxos ômega-3 são ácidos graxos
essenciais que os seres humanos e outros
animais necessitam para a manutenção da O desequilíbrio entre ômega-3 e ômega-6,
saúde e que não são sintetizados pelo corpo, envolvido em processos inflamatórios, é
sendo necessário introduzi-los por meio da frequente em pacientes com distúrbios
alimentação e suplementação, como o óleo afetivos, incluindo pacientes diagnosticados

22
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
com transtorno bipolar, o que justifica o Embora os resultados sejam contraditórios,
interesse pela suplementação de ômega-3 a suplementação de ômega-3 passou a
como uma possível terapia para transtornos ser indicada pela American Psychiatric
psiquiátricos (2). Association (APA) (3).

O transtorno bipolar caracteriza-se por O Subcomitê de Ácidos Graxos Ômega-3,

episódios maníacos ou hipomaníacos, com reunido pelo Comitê de Pesquisa em
um estado anormal de euforia ou excitação e, Tratamentos Psiquiátricos da APA, orienta
na maioria dos casos, por episódios depressivos que os “pacientes com humor, controle de
maior alternados. Intervalos livres entre os impulsos ou distúrbios psicóticos devem
episódios estão frequentemente presentes consumir 1g de EPA+DHA por dia” (3).
e duram por períodos variados. A doença é
relativamente comum e atinge de 1% a 2%
da população, gerando inúmeros prejuízos e Estudos pré-clínicos sugerem que os

sendo uma das principais causas no mundo ácidos graxos ômega-3 podem amenizar

de incapacitação. O tratamento para a doença as modificações relacionadas ao estresse

é medicamentoso, aliado à intervenção em animais e humanos com características

psicossocial (3,5). depressivas, pois, estes ácidos graxos estão

supostamente associados aos processos de
mielinização e poda sináptica, os quais são
Estudos epidemiológicos e bioquímicos essenciais para o desenvolvimento cerebral. Os
demonstram evidências irrefutáveis acerca PUFAs ômega-3 possuem a capacidade anti-
da relação entre transtorno bipolar e redução inflamatória e de imunomodulação por meio
da ingestão de ômega-3. Níveis reduzidos de da modulação de ácidos graxos ômega-6
ácidos graxos ômega-3 foram encontrados no e da promoção de resolvinas, mediadores
sangue e no tecido cerebral de pacientes com anti-inflamatórios e neuroprotetores. Os
transtorno bipolar após a morte, sugerindo ácidos graxos ômega-3 estão também
que o baixo consumo de ômega-3 é um fator comprometidos na fluidez da membrana,
de risco evitável para transtornos de humor. fazendo com que haja uma melhora na
No entanto, esta afirmação ainda carece de transmissão monoaminérgica (4).
evidências (6).
As pesquisas disponíveis também
apresentaram materiais promissores com
relação à função dos PUFAs ômega-3 no
Inúmeros estudos duplo-cegos controlados
tratamento de transtornos afetivos. Estes
por placebo avaliaram a aplicabilidade da
ácidos graxos, administrados em doses
suplementação com ômega-3 em transtornos
elevadas (1-2 g/dia, com relação EPA:DHA =
de humor e apresentaram resultados mistos.

23
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
2:1), supostamente amenizam os sintomas
depressivos. No entanto, faltam evidências
acerca da eficácia dos sintomas maníacos (4).
Cinco ensaios clínicos randomizados foram
conduzidos com a finalidade de avaliar o
efeito da suplementação de EPA e DHA no
transtorno bipolar, além de medicações
antipsicóticas e estabilizadoras do humor. Um
estudo randomizado avaliou EPA mais DHA
como monoterapia versus placebo e outro
estudo testou a aplicabilidade do ácido alfa
linolênico (ALA) mais outros medicamentos
psicotrópicos em crianças e adolescentes
com transtorno bipolar. Dos sete estudos
avaliados, apenas dois ECRs apresentaram
resultado significativo de EPA e DHA nos
traços depressivos do transtorno bipolar,
havendo remissão destes sintomas. Os outros
cinco estudos restantes não apresentaram
diferenças consideráveis em sintomas
depressivos ou maníacos (2).
Existem também alguns estudos com
desfechos menos confiáveis, evidenciando que
o desenho e a execução dos ensaios devem
ser melhorados para se chegar a fechamentos
conclusivos. Por exemplo, a duração do ensaio
deve ser de no mínimo três meses para que
hajam alterações na composição de ácidos
graxos do cérebro (7).
Sugere-se que o padrão alimentar moderno
ocidental esteja relacionado a uma maior
chance de se desenvolver o transtorno bipolar,
tendo em vista tratar-se de uma alimentação
que contribui para a carência de nutrientes,
sendo deficiente em vegetais, frutas e fontes de
ômega-3, como peixes, ovos e leite. Por outro
lado, as dietas que enfatizam legumes, frutas,
grãos integrais e peixes estão relacionadas
a uma menor chance de se desenvolver a
doença (3,5).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se que os achados em revisões
sistemáticas e matanálises acerca do
transtorno bipolar sugerem um potencial
benefício no papel dos ácidos graxos ômega-3,
em conjunto às medicações padrão, para
tratar os sintomas depressivos, na dosagem
de 1 a 2g/dia. No entanto, não apresentaram
a mesma eficácia na atenuação dos sintomas
maníacos do transtorno bipolar (1,2).
Além do mais, foi concluído, através de quatro
revisões sistemáticas e duas metanálises, que
a insuficiência de estudos, a diferença nos
métodos, o tamanho reduzido das amostras,
a diversidade na duração dos ensaios, os
tipos e dosagem de PUFAs, a associação
com medicações padrão e as avaliações de
acompanhamento constituíram importantes
limitações, o que impossibilitou a coleta de
dados fidedignos acerca do tema em estudo.
Assim, apesar de o papel de EPA e DHA nos
últimos anos ter sido alvo de atenção para o
tratamento de transtornos psiquiátricos em
uma quantidade considerável de ensaios
clínicos, ainda é necessário um consenso
acerca da sua funcionalidade, pois, os achados
disponíveis são contraditórios e inconclusivos
(2).
24
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
É importante também que haja cautela
na interpretação das conclusões acerca da
suplementação com ômega-3 em pacientes,
tendo em vista que um dos pontos a ser levado
em consideração é a forma como a doença
afeta a qualidade de vida do paciente. Afinal,
as pessoas diagnosticadas com transtorno
bipolar apresentam maiores taxas de hábitos
alimentares ruins, desemprego e conflitos
familiares. Levando isto em consideração,
o simples fato de estar participando de um
ensaio poderia levar a uma consequência
positiva, tendo em vista a melhora de um
aspecto na qualidade de vida do paciente.
Além do mais, a suplementação com ácidos
graxos ômega-3 tem se mostrado positiva para
a saúde cardiovascular e metabólica, tendo
um desfecho positivo na saúde de modo geral
(7).

Sendo assim, não parece conveniente fazer a

suplementação com ácidos graxos ômega-3
na psiquiatria, independentemente de quão
mínimos sejam os efeitos adversos desta
intervenção, a menos que sejam encontrados
resultados seguros acerca dos benefícios
de sua utilização. Por outro lado, é seguro o
tratamento do transtorno bipolar com o uso
de medicamentos tradicionais e terapia.

25
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
SIBO: SINAIS, SINTOMAS E TERAPIA
NUTRICIONAL

26
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
A SIBO (Small Intestinal Bacterial Overgrowth),
ou Supercrescimento Bacteriano no Intestino
Delgado (SCBID), é caracterizada
crescimento excessivo de bactérias aeróbias
e anaeróbias no intestino delgado, que
normalmente é pouco colonizado por conta
do peristaltismo e da presença do ácido
estomacal. Essa situação desencadeia uma
resposta inflamatória que pode gerar danos ao
epitélio intestinal e alterar a permeabilidade
intestinal. Em alguns casos, devido
modificações no processo de metabolização
de carboidratos, as bactérias promovem
a fermentação dos carboidratos que não
foram digeridos, aumentando a produção
de hidrogênio e gás metano no intestino,
levando a desconfortos gastrointestinais. A
SIBO pode se diferenciar de acordo com o
microrganismo predominante, contudo, os
sintomas e tratamento são parecidos (01, 07,
09).
Diagnóstico
O diagnóstico “padrão ouro” da SIBO é feito
pela análise da cultura presente no fluído do
jejuno. Através de uma endoscopia, o líquido
é aspirado e colocado em um meio de cultura.
O diagnóstico se dá com um número de
bactérias acima de 103 unidades formadoras
de colônia (UFC) por mililitro coletado.
Existem ressalvas quanto a esse exame, por
ser invasivo, de alto custo, apresentar risco de
contaminação e a possibilidade de aspirar a
região errada do intestino delgado. Contudo,
há um método alternativo, seguro e de baixo
custo. O processo consiste na ingestão de
glicose ou lactulose, seguido da realização
teste de hidrogênio e metano expirados.
pelo Caso a concentração desses gases seja maior
que o recomendado, o resultado para SIBO é
positivo. Para aumentar a precisão do teste, é
necessário seguir algumas recomendações,
como suspender o uso de antibióticos e
probióticos quatro semanas antes, inibidores
de bomba de prótons uma semana antes,
medicamentos que afetem a motilidade
às intestinal dois dias antes e, nas 24 horas
anteriores, suspender o consumo de álcool,
laticínios e fibras alimentares; não fumar e
evitar exercícios de alto impacto (01, 07, 09).
Fatores de risco
Algumas situações podem alterar o ambiente
intestinal. Quando os mecanismos de defesa
são comprometidos, os microrganismos são
capazes de proliferar e migrar para o intestinal
delgado. Dessa maneira, os principais meios
de perturbar a saúde gastrointestinal e levar
ao desenvolvimento da SIBO são (01,07,09):
- Deficiência dos mecanismos de defesa
gastrointestinais relacionados com a produção
de ácido clorídrico, secreção de enzimas
pancreáticas, bile e imunidade da mucosa
intestinal (uso de inibidores da bomba de
prótons);
- Distúrbios de motilidade intestinal,
dificultando a remoção de impurezas do
intestino delgado;
- Presença de anomalias anatômicas no trato
gastrointestinal, como divertículos, estenoses,
aderências e fístulas ou derivadas da doença
28
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
de Crohn, radioterapia e cirurgias;
- Idade avançada;
- Sexo feminino;
- Presença de doenças em outros órgãos e
comorbidades, como diabetes, disfunções
no tecido conjuntivo, Síndrome do Intestino
Irritável, doença celíaca e doenças hepáticas.
Sintomas
A SIBO é caracterizada pela presença de
sintomas inespecíficos que, na maioria das
vezes, são negligenciados ou atribuídos a
outras doenças. Em alguns casos, pode ser
assintomática, dificultando ainda mais o seu
diagnóstico. Contudo, as manifestações mais
comuns são (01, 07,09):
- Distensão abdominal;
- Gases e flatulência;
- Sensação de plenitude gástrica;
- Cólicas abdominais;
- Variação do hábito intestinal;
- Fadiga crônica;
- Déficit de atenção;
- Esteatorreia (presença de gordura nas
fezes), o que reduz absorção de vitaminas
lipossolúveis e nutrientes (vitamina A, D, E, B12
e ferro), levando à perda de peso, desnutrição
e desenvolvimento de outras condições
associadas à deficiências nutricionais, como
anemia, polineuropatia e distúrbios do
metabolismo ósseo.
Terapia nutricional
Uma vez diagnosticado, é iniciado o tratamento
com antibióticos, aos quais - por mais que
seja uma abordagem reconhecida e eficaz
- alguns indivíduos se mostram resistentes
(02). Além disso, quase metade dos pacientes
submetidos ao uso de antibióticos tiveram a
remissão dos sintomas gastrointestinais em
três a nove meses após finalizar o tratamento,
como demonstrado no estudo de Lauritano, et
al. Dessa maneira, vale pontuar que a eficácia
do tratamento medicamentoso dependerá
do manejo do estilo de vida, em especial dos
hábitos alimentares, por apresentarem uma
ligação íntima com as respostas do sistema
gastrointestinal.
No âmbito da alimentação, existem poucos
estudos que avaliam estratégias nutricionais em
pacientes diagnosticados com SIBO. Contudo,
uma revisão realizada pela Nutrients em 2022
avaliou a efetividade das recomendações
nutricionais para Síndrome do Intestino
Irritável (SII) no tratamento de SIBO, já que
possuem características similares. Também foi
demonstrado que cerca de 78% dos pacientes
com SII testam positivo para SIBO. Dentre
os achados, destaca-se a utilização de uma
dieta baixa em FODMAPs (oligossacarídeos,
dissacarídeos, monossacarídeos e polióis
fermentáveis) por três a seis semanas para
reduzir os desconfortos gastrointestinais.
Todavia, essa estratégia não deve ultrapassar o
tempo recomendado, visto que pode alterar a
homeostase da microbiota e desencadear, ou
até mesmo piorar, uma disbiose em pacientes
com SIBO. Outro ponto é a melhora do aporte
29
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
de fibras, em especial das fibras solúveis, para gastrointestinais. Em contrapartida, outro
favorecer o crescimento de microrganismos estudo associou do uso de probióticos com
benéficos, a motilidade intestinal e modulação prevalência de gases, distensão abdominal e
da microbiota. Uma alimentação consciente, confusão mental (05). Além disso, indivíduos
com melhora dos padrões alimentares e que utilizam probióticos podem estar mais
atenção plena ao comer (Mindful Eating) propensos ao supercrescimento de bactérias
também está associada com remissão dos metanogênicas (produtoras de gás metano),
sintomas, considerando que indivíduos aumentando o risco de constipação intestinal
que não prestam atenção na refeição e na (04). Essas informações reforçam que nem
mastigação tendem a apresentar dores e todos os probióticos serão eficazes e devem
distensão abdominal. ser utilizado com muita cautela nos pacientes
com SIBO, correndo risco de agravar o quadro
A utilização de probióticos e prebióticos pode
clínico.
amenizar os sintomas da SIBO. Uma possível
explicação seria que, com a redução de
bactérias no ambiente intestinal após uso de
antibióticos, a suplementação de probióticos
ajuda a “repovoar” o intestino e restabelecer a
integridade do trato gastrointestinal. Quando
aos prebióticos estimulam indiretamente a
proliferação de lactobacilos e bifidobactérias,
além de favorecer a recuperação da mucosa
intestinal ao aumentar a produção de ácidos
graxos de cadeira curta, como o ácido butírico
(03, 06). Dessa maneira, é possível relacionar
dietas veganas e vegetarianas, ricas em fibras,
polifenóis e compostos antioxidantes, com a
melhora dos sintomas, dietas que também
favorecem a produção de ácidos graxos de
cadeia curta e atuam contra patógenos, como
Escherichia coli (08, 11).

Um estudo recente desenvolvido por

Leventogiannis et al., demonstrou que
pacientes diagnosticados com SII e SIBO
podem se beneficiar da utilização de probióticos
de múltiplas cepas, melhorando consistência
das fezes e reduzindo os desconfortos

30
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Conclusão

Como pontuado anteriormente, existem

poucos ensaios clínicos randomizados
para avaliar os reais benefícios da terapia
nutricional em pacientes acometidos com
SIBO. Devido a sua similaridade com a SII,
as estratégias nutricionais efetivas para essa
condição podem ser um ponto de partida para
o tratamento e redução de sintomas da SIBO.
Enquanto mais estudos são desenvolvidos,
sabe-se que um bom prognóstico se dá com o
equilíbrio entre vários aspectos que envolvem
o indivíduo e não apenas o tratamento
medicamentoso agudo. Portanto, além do
uso de antibióticos, o controle do ambiente e
hábitos alimentares se torna imprescindível,
como o manejo do estresse; a prática de
atividade física regular; a redução do consumo
de carne vermelha, alimentos gordurosos,
produtos industrializados/ultraprocessados,
bebida alcoólica; do tabagismo; e priorizar o
consumo de fibras (frutas, verduras, legumes
e cereais integrais).

31
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Creatina e saúde feminina

33
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
A creatina é uma molécula produzida no
corpo, principalmente no fígado, a partir dos
aminoácidos glicina, arginina e metionina,
sendo caracterizado por ser um dos suple-
mentos mais bem pesquisados e eficazes . O 1
fosfato de creatina, também é denominada
de fosfocreatina. Funciona como um reserva-
tório de fosfato, sendo encontrado em gran-
de quantidade nos músculos esqueléticos e
no coração. Dentre as fontes alimentares de
creatina, destacam-se a carne, as aves e os
peixes, contendo cerca de 4 a 5 gramas por
quiilo de creatina .
1
Apesar de sua grande popularidade
e aplicabilidade no meio esportivo,
proporcionando aumento indireto da massa
muscular magra, força e capacidade de
exercício quando usado com exercícios de
curta duração e alta intensidade, seu uso
no aspecto clínico também é de extrema
relevância, como por exemplo na saúde
feminina em diversas perspectivas2.
Creatina na gravidez
Durante a gestação ocorre o aumento da
demanda metabólica devido ao crescimento
e desenvolvimento do feto, associando a um
pool reduzido de creatina, fator que tem sido
associado ao baixo peso ao nascer e parto
prematuro6.
Até o momento, as pesquisas são limitadas
em roedores. Entretanto, demonstra-se que a
suplementação de creatina durante a gravidez
é capaz de reduzir a lesão cerebral induzida
pela asfixia intraparto através do aumento da
captação de creatina pelas células neuronais e
suporta integridade mitocondrial. Dessa forma,
através de um protocolo de suplementação de
creatina na gravidez pode haver melhora na
sobrevivência após episódio de asfixia grave
ao nascimento, prevenindo danos em vários
órgãos 6,7,8
. Embora não tenha sido avaliado
o efeito em humanos, a suplementação de
creatina durante a gravidez pode fornecer
uma estratégia nutricional segura e de baixo
custo para reduzir as complicações intra e pós-
parto associada à depleção de energia celular.
Creatina na pré e pós-menopausa
De acordo com a Organização Mundial da
Saúde, o climatério é definido como uma
fase biológica da vida e não um processo
patológico, compreendendo desde a
transição entre o período reprodutivo até o
não reprodutivo da vida da mulher, sendo a
menopausa um marco dessa fase4.
A menopausa ocorre geralmente em torno
dos 48 aos 50 anos de idade e é marcada pelo
hipoestrogenismo, ocorrendo a diminuição
da massa óssea e proporcionando fragilidade
esquelética, diminuindo a resistência do
osso, além da perda gradual e generalizada
de massa muscular e força relacionada à
senescência, denominada sarcopenia. Diante
desse cenário, existem duas intervenções
necessárias e que devem ser incentivadas:
exercício físico e alimentação3.
De forma independente da síntese de
proteínas, por meio da suplementação de
creatina é possível observar o aumento
34
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
do tamanho da fibra muscular, fator
correlacionado ao aumento do teor de água
nas células musculares. Além disso, é visto
uma regulação positiva em diversos genes
causada pelo inchaço celular envolvendo o
recrutamento de células satélites, como por
exemplo esfingosina quinase-1, em conjunto
ao teor de proteína de PKBa/Akt1, p38 MAPK e
ERK6, a hipertrofia muscular11.

Em situações que o exercício de força também

esteja acontecendo, ocorre maior benefício
no aumento da massa corporal, da força
máxima, da capacidade de elevação de peso,
da massa livre de gordura e das proteínas
miofibrilares9,10, como supracitado. Sendo
assim, a suplementação de creatina pode ser
uma ótima aliada nos mecanismos naturais
decorrentes da idade e contexto hormonal da
menopausa.

35
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Considerações finais

Em conclusão, é visto que a segurança da

creatina já foi investigada por inúmeros
autores, sendo o único efeito colateral relatado
com a suplementação do suplemento em
questão é o ganho de peso, exercendo
impacto na massa livre de gordura (MLG).

Dessa forma, é possível perceber os motivos

pelos quais a prescrição de creatina por parte
de profissionais da saúde vem ganhando
cada vez mais atenção. De todo modo, a
prescrição deve vir acompanhada de uma
boa anamnese e de um acompanhamento
individualizado; embora, atualmente, o corpo
científico suporta que cada vez mais pessoas
tendem a se beneficiar do consumo crônico
deste suplemento.

36
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Suplementação infantil

38
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Uma ingestão adequada vitaminas
minerais é essencial para garantir a saúde e
o bom desenvolvimento físico e intelectual, e,
quando pensamos nisso, não é diferente para
as crianças.
A melhor forma de garantir esse aporte
de vitaminas tão essências se dá através
da alimentação. Esses micronutrientes tão
essenciais são amplamente encontrados
nos alimentos de origem vegetal (legumes,
verduras, frutas, cereais integrais e sementes)
e animal (carne e laticínios).
Por meio de uma alimentação diversificada
que oferte todos os grupos de alimentos,
é possível obter esses compostos que o
organismo necessita para cumprir inúmeras
funções metabólicas, antioxidantes e zinco e ferro estão entre as mais comuns
estruturais, associadas ao crescimento,
desenvolvimento e sistema imunológico.¹
Entretanto, muita das vezes manter uma
alimentação variada, que garanta todo o
aporte de nutrientes adequados para a criança,
pode ser uma tarefa difícil para os pais.
Orientações não faltam para que as crianças
consumam bastante verduras, legumes e
frutas, e evitem o açúcar e os alimentos ultra-
processados. Porém, muitas crianças, já com
o paladar mal-acostumado, insistem em uma
alimentação pobre em nutrientes e rica em
calorias vazias, muitas vezes ofertada pelos
e próprios pais, na busca por algo mais prático e
atrativo para a criança.
Nesse caso, entra o papel da suplementação,
com a finalidade de complementar uma
dieta em que não haja a oferta necessária de
nutrientes, para corrigir alguma deficiência
já existente ou até mesmo para potencializar
um nutriente às necessidades da criança.
Vale ressaltar que ela nunca substituirá uma
alimentação adequada para a criança.
Quais suplementos podem ser usados
durante a infância?
Suplementação vitamínico-mineral
Geralmente, as vitaminas A e D e os minerais
deficiências, consideradas de grande efeito
social e priorizadas pela Organização Mundial
da Saúde (OMS). Porém, atualmente, também
passou a ter relevância, em um nível de saúde
pública mundial, a deficiência de um vital
macronutriente para o neurodesenvolvimento,
o DHA (Ácido Docosahexaenoico).²
Vitamina D
A principal função da vitamina D em humanos
é a manutenção das concentrações normais
de cálcio e fósforo. Essa regulação se dá pela
maior eficiência de absorção desses minerais
no intestino delgado e pela regulação da
atividade osteoclástica dos ossos. Portanto,
o calcitriol age aumentando a absorção
39
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
intestinal e reduzindo a secreção de cálcio pelo
aumento da reabsorção dos túbulos distais
dos rins e pela mobilização dos minerais dos
ossos, entre outras funções. 8
A principal fonte de vitamina D é a exposição
solar e corresponde à 90% da vitamina no
organismo. As fontes alimentares em geral não
conseguem suprir a demanda necessária. O
leite humano possui quantidade insuficiente
para suprir as necessidades do lactente (1 litro
= 20 a 40 UI), e, mesmo que vivamos em um
País tropical, a poluição ambiental, a neblina,
o inverno e o hábito de manter as crianças
vestidas e dentro de casa aumentam o risco
de deficiência. ²
Consequência disso é que a deficiência de
vitamina D é um dos distúrbios nutricionais
mais prevalentes em todo o mundo,
considerando que 1 bilhão de pessoas sofram
de insuficiência ou deficiência.²
Para garantir adequado aporte desta vitamina
e evitar sua deficiência, a Sociedade Brasileira
de Pediatria indica a suplementação nos
primeiros dois anos de vida, mesmo para
crianças em aleitamento materno exclusivo:5
- 400 UI por dia a partir da 1ª semana de vida
até completar um ano de idade.5
- 600 UI por dia de 1 (um) ano até completar 2
(dois) anos de idade.5
Vitamina A
A função fisiológica mais conhecida da
vitamina A é no processo visual, como grupo
prostético dos pigmentos visuais. Participa,
também do crescimento, do desenvolvimento
ósseo e do tecido epitelial, da expressão
gênica, da diferenciação celular e do processo
imunológico.6
Para a promoção do crescimento e do
desenvolvimento adequados na infância e
para prevenção dos sintomas de deficiência,
foi estabelecido a RDA de 300 µg/dia para
crianças de 1 a 3 anos de idade, e de 400 µg/
dia para crianças de 4 a 8 anos.6,7
É importante identificar as crianças em
risco para deficiência de vitamina A através
de uma anamnese alimentar, e as que não
recebem outro suplemento vitamínico com
esta vitamina associada, para não causar
hipervitaminose.
Ferro
As funções do ferro estão amplamente descritas
na literatura, incluindo sua participação como
componente estrutural de proteínas (enzimas
e hemoglobinas) no transporte de oxigênio
para todos os tecidos do organismo e no
desenvolvimento da cognição.4
A deficiência de ferro, que é a responsável
por causar a anemia ferropriva, é a mais
prevalente em crianças, principalmente em
países subdesenvolvidos, sendo duas vezes
40
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
mais provável de afetar bebês entre as idades A dosagem sérica de zinco não reflete com
de 6 e 24 meses e 25 a 60 meses.² segurança o real estado nutricional com
relação ao mineral. A prova terapêutica pode
ser realizada utilizando-se o zinco na dosagem
A anemia se torna um sério problema, pois, de 1 mg/kg/dia e observando-se a resposta
pode prejudicar o desenvolvimento mental e clínica em 5-10 dias de uso.
psicomotor, causar o aumento de morbidade
e mortalidade materna e infantil, além de uma
redução da resistência as infecções.² No tratamento da deficiência, é preconizado a
dose de zinco elementar, 1-2mg/kg/dia por via
oral e correção dietética adequada; na diarreia
As recomendações para bebês amamentados aguda se prescreve 20mg/dia para crianças
são aproximadamente 1mg/kg/dia por 4 a 6 acima de seis meses de idade e metade da
meses de idade, preferivelmente de alimentos dose para aquelas abaixo dessa idade.¹
suplementares e apenas fórmulas fortificadas
com ferros para desmame ou suplemento ao
leite humano e para bebês alimentados por Ácidos graxos poli-insaturados de cadeia
fórmulas, apenas fórmula fortificada com ferro longa (LCPUFA)
durante o primeiro ano de vida. Para crianças
Os ácidos graxos poli-insaturados de
de um a três anos de idade, a recomendação
cadeia longa (LCPUFA), como o ácido
é de 7mg de ferro/dia; para aquelas com 4 a
eicosapentaenoico (EPA) e o ácido
9 anos, é de 10mg/dia, pois, nessa fase ocorre
docosaexaenoico (DHA), exercem funções
um rápido processo de incorporação de ferro
bioquímicas e fisiológicas fundamentais no
corporal. 4,5
metabolismo e na saúde humana.9

Zinco
Do mesmo modo, o DHA tem um papel
O Zinco é tido como um mineral importante crucial no desenvolvimento cerebral e da visão,
para a nutrição, e, consequentemente, para a sendo assim um nutriente primordial para o
saúde humana. Ele realiza três importantes
7
desenvolvimento e crescimento infantil.9
papéis biológicos no nosso organismo:
catalítico, estrutural e regulatório. Por meio
desses, o zinco tem um papel determinante De acordo com o I Consenso Brasileiro

no sistema imune, atuando como anti- da Associação Brasileira de Nutrologia, as

inflamatório, assim como no sistema de defesa recomendações de DHA durante a gestação,

antioxidante.7 lactação e infância, são de 200mg de DHA ao

dia para gestantes, lactantes, independente da

41
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
dieta. No caso das crianças não amamentadas,
estas devem receber o DHA por meio da sua
fórmula complementar, do contrário, o DHA
deve ser suplementado de forma isolada.2

Considerações finais

Toda suplementação deve ser avaliada de

forma criteriosa, levando em consideração
as recomendações diárias de ingestão (DRI)
para cada faixa etária, além das diversas
preparações comerciais. E, muita atenção,
pois, os polivitamínicos podem até parecer
uma solução mais prática e até mesmo mais
acessível, porém, eles podem conter vitaminas
hidro e lipossolúveis em quantidades variáveis,
causando um risco de toxicidade quando
ingeridas em altas doses ou por tempo
prolongado.¹

Então a melhor solução é sempre buscar

um profissional para ter uma orientação
individualizada e segura em relação à
suplementação e à dosagem, respeitando as
recomendações para cada faixa etária.

42
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
CARBOIDRATOS & MUSCULAÇÃO

44
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Parte da sociedade considera os
alimentos fontes de carboidratos,
vilões. Você se enquadra neste grupo?
A nutrição precisa ser específica para
cada caso em questão. Isto significa
direcionar o planejamento nutricional
e alimentar para cada um, conforme
a sua realidade social, sua condição
clínica, seu programa de treinamentos,
seus objetivos, seu histórico de vida
e suas crenças, enfim. Somos todos
iguais, porém, somos únicos em nossa
individualidade biológica.
Sabemos da complexidade envolvida
na logística para todos os âmbitos em
nossa rotina. Organização da casa, das
tarefas e compromissos diários, da
sessão de treinamento, alimentação,
vida social, dentre todas outras.
Ao direcionar a nutrição esportiva
para determinada modalidade, faz-
se necessário compreender que
estratégias nutricionais serão ainda
mais específicas. Mas , esta é uma
tensão exclusiva do profissional de
nutrição. O nutricionista precisa
adentrar ao mundo do atleta que se
encontra à sua frente para que consiga
entregar a máxima simplicidade
conforme cada necessidade. Ao atleta
resta fazer o seu melhor, com máxima
satisfação e paixão ao que lhe foi
concebido. De maneira fácil e eficiente,
o resultado é questão de tempo.
Garantir o consumo de calorias e
nutrientes suficientes para suprir a
demanda do atleta conforme seu
nível de treinamento, é o principal
componente para promover
desempenho esportivo. Profissionais
de alta performance precisam de
energia rápida e específicas para
melhor recuperação sistêmica
do seu organismo. Os grupos dos
carboidratos e gorduras são as fontes
primárias de combustível utilizadas
durante o exercício prolongado. À
medida que a intensidade do exercício
aumenta, maior é a contribuição dos
carboidratos. A depender do volume
e intensidade de diferentes fases de
treinamentos e campeonatos, as
necessidades energéticas para atletas
de elite podem ser equivalentes à 5x
mais que um desportista comum [1].
Figura extraída do art. The use of carbohydra-
tes during exercise as an ergogenic aid.
Conforto gastrointestinal e
disponibilidade financeira para
investimento na dieta são dois
pilares de maiores enfoques quando
pensamos em um consumo alimentar
de alto volume. Juntos, o nutricionista
45
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
e o atleta precisam encontrar
soluções eficientes e confortáveis para
consolidação da meta nutricional. Em
cenários de dietas com deficiências
nutricionais durante periodizações
intensas de treinamentos, alguns
desfechos são evidentes. Condições
físicas (catabolismo muscular,
recuperação insuficiente, flutuações
hormonais, elevação da frequência
cardíaca, outros) e psíquicas (apatia
ao treinamento, níveis de estresse
elevado, distúrbios do sono, outros) são
resultados derivados de uma nutrição
desbalanceada [2].
Já é consolidado que o nosso sistema
nervoso central também demanda, e
muito, energia provida do carboidrato,
bem como todas as demais células
do corpo. Na temática em questão,
a conexão mente-músculo é de facilitarem a adesão e consequente
fundamental para conseguirmos
atingir o alvo daquela sessão de
trabalho.
Por muito tempo acreditou-se, por
exemplo, que a qualidade do alimento
fonte de carboidrato, bem como o
tempo de digestão entre seu consumo
e o início do exercício físico, fosse o
fator fundamental para determinar a
performance do treinamento. Dúvidas
como o consumo de alimentos de baixo
ou alto índice glicêmico? 1 hora antes
do treinamento ou 15 minutos? Dentre
diversas outras. E o que encontramos
então nos tempos atuais?
Após um específico estudo, um certo
grau de dogma ainda era prevalente
em relação a recomendação do tipo
de carboidrato, bem como no tempo
de seu consumo previamente ao
exercício físico. Porém tempos depois,
a renomada Burke e seu colega Hawley
compilaram diversos estudos e não
encontraram nenhum efeito adverso
ao que diz respeito ao desempenho de
treinamento resistido correlacionado
ao tipo de carboidrato. Alimentos
ricos em grãos integrais, vegetais,
legumes, frutas são excelentes fontes
alimentares para uma saúde íntegra,
sistêmica. Mas, em uma realidade que
se exige um consumo de carboidrato
acima de 8g/kg, fontes refinadas e
industrializadas. também podem fazer
parte de uma rotina alimentar a fim
sucesso do planejamento nutricional
[3].
Ao que se diz respeito ao famoso ‘’pré-
-treino’’ as reflexões são amplas. O
carboidrato é digerido e direcionado
para tecidos musculares e hepáticos
(reservas de energia na forma de
glicogênio) em um espaço de tempo
de 4-8 horas, aproximadamente. Isto
significa que, a depender do número
de sessões de treinamento, bem
como seus respectivos horários, todas
as refeições da rotina podem ser
consideras ‘’pré-treino’’.
Rotina intensa de treinamentos
46
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
com volumes acima de 90 minutos,
com o músculo sob tensão durante
40 segundos ou mais, soluções
de GES (glicose com eletrólitos) e
suplementos como o maltodextrina,
beta alanina, creatina, nitratos,
cafeínas, são recomendados em suas
especificidades. Converse com o
seu nutricionista para otimizar seus
resultados [2, 4].
Outro objetivo nutricional muito
importante em cuidado de atletas
de alto rendimento é a recuperação
(ressíntese) do glicogênio muscular
perdido, durante o exercício físico. Ou
seja, a ingestão pós-exercício de fontes
de carboidratos continuar a ser a
melhor estratégia e a mais rápida para
maximizar a reposição deste estoque
de energia. Tal estratégia pode ser
iniciada imediatamente após a prática
física ou até duas horas após seu
término, abrangendo até as próximas
6 horas. Mais uma vez, a depender de
cada atleta, conforme suas sessões de
treinamento e seus objetivos principais
[5].
Um dado interessante é que tanto
alimentos sólidos quanto líquidos
conseguem promover o glicogênio,
o que permite ao atleta maior
flexibilidade alimentar conforme sua
preferência do momento da refeição
em si.
Para atletas que praticam duas sessões
de treinamentos ao dia, em um espaço
de tempo relativamente curto, opções
de shakes ou alimentos hiperpalatáveis
são muito interessantes. Desta forma,
conseguimos um consumo rápido de
energia, auxiliando na recuperação
muscular e hormonal deste primeiro
treino, e ao mesmo tempo já
condicionando o organismo para a
segunda sessão.
Ainda neste cenário de urgência na
reposição do glicogênio, as seguintes
estratégias podem ser consideradas.
Alimentos de alto índice glicêmico em
quantias agressivas de carboidratos
(1,2g/kg/h), seguido da adição de
cafeína (3-8mg/kg). Se você precisa
utilizar este momento também para
atingir sua meta de proteínas diárias,
faz-se necessário reduzir para 0,8g/
kg/h de carboidratos adicionado
então de 0,2-0,4g/kg/h de proteína.
Evidentemente que é muito fácil para
o profissional de nutrição demonstrar
em alimentos como atingir sua
necessidade. Não se apegue a estes
números, o nutricionista cuida disso
[3].
Vale salientar que, tão importante
quanto o consumo de carboidratos,
proteínas e até gorduras, a água
é o fator decisivo para que você
consiga entregar (ou não) a energia
e nutrientes dos alimentos, no
tempo necessário. Mais um pilar da
performance esportiva e da saúde
íntegra que necessita de fino ajuste,
47
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
conforme cada caso.
Aproveitando para ampliar nossa
reflexão para o grupo alimentar das
proteínas, a queridinha dentre a
maioria, inúmeras são as possibilidades.
Sabemos da importância de promover
um balanço nitrogenado positivo
diariamente, o que de modo simples
significa um saldo positivo entre o seu
consumo de proteínas seguida de sua
absorção e disponibilidade em relação
à perda sofrida no dia.
Inicialmente, o mais importante
é o consumo diário adequado de
proteínas totais, do dia. Se você é
uma pessoa organizada e busca
otimizar seus resultados, talvez as
distribuir uniformemente a cada três
horas aproximadamente, em valores
próximos a 20-40g de proteína por
cada refeição, também pode lhe
favorecer na síntese proteica muscular
(MPS) [3].
Analisando alguns dados
científicos, embora o desempenho
atlético em si não tenha sido
afetado instantaneamente, níveis
significativamente maiores de insulina
(anabólico) e níveis mais baixos de
cortisol (catabólico) foram encontrados
quando combinado carboidratos com
proteínas. Além disso, marcadores de
dano muscular (mioglobina e creatina
quinase – CK) também foram reduzidos
ao decorrer das primeiras 24 horas de
recuperação com esta combinação,
entre carboidratos e proteínas [3].
O que isso significa? Se você é uma
pessoa que precisa utilizar o seu
momento pré-treino e pós-treino
para consumir sua necessidade diária
de proteína, há um possível benefício
acrescentado. Mas, não é exclusividade.
A recomendação inicial precisa ser
direcionada para o consumo total
diário de proteínas.
Comumente subestimamos ou
superestimamos o nosso consumo
alimentar. Isto acontece inclusive com
atletas que já possuem uma rotina de
treinos e alimentação padronizada. Na
prática de consultório, percebemos
erros de quantificação ou descrição ao
registarem sua ingestão de alimentos.
Ferramentas básicas como balança
de alimentos, fotos e avaliações
comportamentais são necessárias para
maior assertividade nas estratégias
nutricionais, principalmente tratando-
-se de competições de alto nível [6].
Ressalto que, frequentemente,
somos confrontados com um estilo
de vida caótico e excessivamente
comprometido. Conhecemos nesta
nossa conversa alguns pontos
relevantes na prática esportiva de alto
rendimento. Tão importante quanto
compreender a necessidade específica
de cada caso, o gerenciamento de
tempo deve fazer parte dos estudos
do atleta, para maior engajamento
e comprometimento com o objetivo
48
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
que se auto designou.
Em viagem ou em seu ambiente
doméstico habitual, o atleta precisa se
atentar com o planejamento de todas
suas refeições para evitar desconfortos
durante sua preparação. Estreitar a
relação entre todos os profissionais
integrantes da equipe é fundamental.
O organismo humano é complexo e
cada modalidade esportiva exige sua
especificidade. Acompanhamento
multidisciplinar é um diferencial
quando alinhado com a paixão pelo
que se faz, seguido de disciplina e
trabalho árduo.

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GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Spirulina azul

azul

51
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Comumente comercializada como um
suplemento dietético, a spirulina deriva de um
conjunto de algas verde-azuladas, oriundas
de águas tanto salgadas como doces que
contenham um ph mais alcalino. Facilmente
encontradas em áreas tropicais e subtropicais
do México, da América, Ásia e África Central . 7
Inicialmente era classificada como um vegetal
devido ao seu potencial de realizar fotossíntese,
no entanto, conforme foi sendo mais
estudada, sua classificação foi alterada para
cianobactéria, devido às suas características
genéticas, fisiológicas e bioquímicas . Existem
2
diversas subespécies de spirulina e as mais
estudadas são Spirulina Platensis (Arthrospora
platensis), Spirulina Maxima (Arthrospora
maxima) e Spirulina Fusiformis (Arthrospora
fusiformis) . As que apresentam a coloração
2
mais azulada possuem predominante em sua
composição o pigmento Phycocyanin.
O papel de destaque da spirulina deve-se
à sua composição extremamente rica em
proteínas, vitaminas do complexo B; vitamina
E; clorofila; betacaroteno; ferro9; antioxidantes
potentes, como fiococianina e tocoferóis; e
ácidos graxos poliinsaturados, em destaque o
gama linolênico2. Sua aplicabilidade começou
a ser disseminada nos anos 70, sendo utilizada
no combate à fome por ser altamente nutritiva
e proteica. Também foi utilizada pela Agência
Espacial Europeia para a suplementação
alimentar durante viagens espaciais2.
Aplicabilidade na rinite alérgica
Uma das funções conhecidas da spirulina
é seu papel como agente modulador da
imunidade, o que configura um fator de
grande interesse pela ciência. Motivados
por esta ação, o grupo de pesquisadores de
Cemal Cingi (2008) desenvolveu um ensaio-
clínico randomizado duplo cego controlado
por placebo, visando investigar os impactos
do uso da spirulina em pacientes com rinite
alérgica. Foram recrutados 150 pacientes
entre 19 e 49 anos com diagnóstico clínico
de rinite alérgica e apresentando sintomas
no momento do estudo. Durante seis meses,
foram administrados aos pacientes cinco
comprimidos diários resultando em um
consumo de 2.000 mg/dia de spirulina ou
placebo. Salienta-se que os pacientes foram
completamente desautorizados a utilizar
qualquer tipo de anti-alérgico ou qualquer
outra intervenção farmacológica interferente
nos sintomas de rinite alérgica no período
do estudo, e os sintomas foram avaliados
pelos mesmos médicos ao início e ao final
do estudo1. Ao final do estudo houve uma
associação positiva entre o uso da spirulina e
a redução de sintomas dos pacientes como:
coceira nasal, corrimento nasal, espirros e
congestão nasal1. Os autores deste ensaio
concluíram que a administração de spirulina
apresentou resposta positiva como agente de
tratamento dos sintomas da rinite alérgica.
Ressalta-se que mais estudos são necessários
para elucidar o mecanismo de como isso
acontece.
Propriedades antioxidantes
A composição da spirulina a coloca em um
lugar de destaque na ciência como um
52
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
potencial agente antioxidante.
autores relatam este impacto positivo nas
mais diversas condições metabólicas. Um
estudo realizado pelo grupo de
Tajvidi (2021) demonstrou a repercussão
da administração da spirulina em células
de câncer de pulmão. Os resultados foram
promissores, uma vez que a administração
da spirulina aumentou a necrose das células
doentes, e também agiu no ciclo celular
interrompendo-o, mais precisamente
fase G2, impedindo que chegasse na fase M
proliferativa. Os autores relatam que, neste
caso, a alga pode ser considerada um agente
com atividade anticancerígena em células de
câncer de pulmão10. É prudente e necessário
salientar que nenhum autor a coloca como
um substituto do tratamento convencional, e
sim como um possível adjuvante no manejo
da doença.
Na literatura há relatos que a administração
da suplementação de spirulina resulta em
um impacto positivo no status total de
antioxidantes, destaca-se o componente
ficocianina que parece ter expressiva ação na
eliminação de espécies reativas de oxigênio,
incluindo alcoxil, hidroxil e peroxil, inibindo
a expressão de óxido nítrico e reduzindo
significativamente o dano celular5.
Efeitos metabólicos
Já é muito bem descrito que o tratamento
da obesidade é multifatorial. Deste modo,
as substâncias que podem atuar
metabolismo de maneira positiva têm sido
cada vez mais estudadas. O primeiro relato
Diversos que se tem na literatura de ensaio clínico com
impacto metabólico da spirulina é de 1988,
que descreveu o impacto positivo na redução
Elham dos lipídeos séricos4
Há evidências que sustentam que a
suplementação reduz expressivamente o
colesterol total e LDL em indivíduos com
alterações nestes parâmetros3;4. A literatura
tem apontado a spirulina como um agente
cardioprotetor, uma vez que são relevantes
na
seus efeitos na redução do colesterol, LDL e
também pela ação antioxidante2.
Sabe-se que a redução da massa corporal
em indivíduos obesos e com sobrepeso
engloba diversos fatores como, por exemplo,
resistência insulínica, saciedade, restrição
calórica e nível de atividade física, entre
outros. As substâncias que possam apresentar
impacto positivo em quaisquer desses fatores
são de grande interesse da ciência, uma vez
que a obesidade é uma epidemia global.
Neste âmbito, o destaque da spirulina se
deve à sua ação ampla no metabolismo em
diversos pontos chave no controle do peso5.
O composto é capaz de reduzir a entrada
de macrófagos na gordura visceral, agindo
como um fator de prevenção do acúmulo de
gordura no fígado2. Se tratando de saciedade
seu efeito é a nível cerebral, melhorando a
resistência à leptina no núcleo arqueado,
o que resulta na redução do apetite2. Um
dos compostos encontrados na spirulina
é a fiococianocobalamina, cuja atividade é
capaz de reduzir significativamente o estresse
no oxidativo nos adipócitos, colocando-o em um
papel de destaque na resistência à insulina2.
53
GOAHEAD NUTRITION | 26ªed.
Assim a spirulina tem ganhado protagonismo
como aliada no manejo do peso, uma vez
que parece atuar em fases cruciais como:
resistência insulínica, acúmulo de gordura
visceral, papel antioxidante e na saciedade.

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