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O que é e como tratar a disbiose

intestinal
Tatiana Zanin
Nutricionista
A disbiose intestinal é um desequilíbrio da flora bacteriana intestinal que reduz a
capacidade de absorção dos nutrientes e causa carência de vitaminas. Este
desequilíbrio é causado pela diminuição do número de bactérias boas do intestino
e aumento das bactérias capazes de causar doença.
Geralmente, a disbiose provoca sintomas como náuseas, gases, diarreia ou prisão
de ventre, e tem cura, que pode ser alcançada através de uma reeducação
alimentar orientada por um nutricionista. No entanto, quando a disbiose não é
tratada, as bactérias ruins podem migrar para o sangue, podendo causar uma
infecção em todo o organismo que, nos casos mais graves, pode levar à morte.

Principais sintomas 
Os principais sintomas da disbiose intestinal são:
 Náuseas;
 Gases e arrotos;
 Queda de cabelo;
 Unhas fracas;
 Distensão abdominal;
 Períodos alternados de diarreia e prisão de ventre;
 Fezes mal-formadas;
 Dores de cabeça;
 Cansaço;
 Candidíase de repetição.
Em caso de suspeita de disbiose, o gastroenterologista pode solicitar um exame
de fezes ou um exame de urina específico para identificar a disbiose, o exame
Indican.
Como é feito o exame Indican
O exame Indican é feito a partir de uma amostra de urina, que deve ser a primeira
urina da manhã ou a urina concentrada por 4 horas. Nesse exame é avaliada a
quantidade de Indican na urina, que é um produto do metabolismo do
triptofano, um aminoácido presente em alimentos, como chocolate meio amargo e
nozes. 
Em condições normais, o triptofano é convertido em indol e este em Indican pela
ação das bactérias intestinais, sendo normal a presença de traços desse composto
na urina. No entanto, quando há desequilíbrio da flora intestinal, pode haver muita
produção de Indican, sendo sua concentração elevada na urina e confirmando o
diagnóstico de disbiose intestinal. 
Causas da disbiose intestinal
As causas da disbiose intestinal podem estar relacionadas com o uso de
antibióticos, cortisona ou laxantes e também devido ao uso abusivo de álcool. O
estresse, uma alimentação inadequada com excesso de açúcar, alimentos
refinados e industrializados e pobre em fibras, assim como algumas doenças
intestinais, como diverticulose, inflamação intestinal e a prisão de ventre, também
favorecem o desequilibro da flora intestinal e, consequentemente, da instalação da
disbiose.
Pessoas com disbiose podem desenvolver urticária e acne, que são causadas pela
intoxicação provocada pela entrada das bactérias ruins no sangue e, por isso, é
importante realizar o tratamento corretamente.
Como é feito o tratamento 
Para tratar a disbiose é necessário ser acompanhado por um nutricionista porque o
tratamento consiste em restabelecer a flora bacteriana com uma alimentação
adequada. A pessoa deve consumir alimentos ricos em fibras e probióticos, que
estimulam o crescimento das bactérias boas do intestino, ajudando a estabelecer a
absorção de nutrientes e vitaminas.

Disbiose intestinal humana, isto é, a modificação do equilíbrio bacteriano em


termos de riqueza, diversidade e maior presença de bactéria patogênicas, está
comprovadamente associada a várias alterações metabólicas e clínicas.
Modulação intestinal com simbióticos e probióticos pode ser uma eficiente
estratégia de tratamento.

Probióticos são definidos como microrganismos vivos que, administrado sem


quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro. Lactobacillus,
Bifidobacterium, Streptococcus e Saccharomyces, por exemplo, podem ser
pensados para casos de diarreia, gastrite por H. pylori, doenças inflamatórias
intestinais e doenças hepáticas.

Basturk e colaboradores investigaram os efeitos do simbiótico (Bifidobacterium


lactis B94 com inulina), probiótico (B. lactis B94) e somente prebiótico(inulina)
sobre os sintomas gastrointestinais de crianças com síndrome do intestino irritável.
Observaram redução de plenitude abdominal (p<0,001), melhorado inchaço após
as refeições (p=0,016) e constipação (p=0,031) nos grupos de crianças que
usaram probiótico e simbiótico.

Uma metanálise avaliou a capacidade de probióticos em modificar os fatores de


risco cardiometabólicos em pessoas com diabetes tipo 2, e encontrou  efeito
significativo dos probióticos em redução da hemoglobina glicada e HOMA-IR, mas
concluem a necessidade de estudos mais específicos.

A realização do sequenciamento genético do microbioma intestinal pela técnica


16S rRNA permite diagnosticar de maneira objetiva quadros de disbiose, causae
efeito de doenças relacionadas, e também para traçar estratégias terapêuticas
mais eficazes.
O Autismo pode estar
associado à microbiota
intestinal?
Pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) comumente apresentam
sintomas gastrointestinais como dor abdominal, gases, diarreia, constipação e
flatulência. Embora não se comprove a relação causa e efeito entre esses
sintomas e o TEA, o intestino parece desempenhar um papel importante na
etiopatogenia da doença.

A microbiota intestinal influencia a função cerebral por via dos sistemas nervoso
neuroendócrino, neuroimune e autônomo, e do aumento da permeabilidade
intestinal, o que resulta na entrada de toxinas e produtos bacterianos na corrente
sanguínea. Há evidências de que a microbiota intestinal está associada aos
sintomas de TEA por influenciar o funcionamento desse eixo-intestino-cérebro e do
sistema imunológico.

Estudos experimentais e em humanos demonstram haver alteração na


composição da microbiota de indivíduos com autismo. Strati e colaboradores,
através da análise 16S rRNA, identificaram que esses pacientes apresentam
aumento significativo na razão Firmicutes/Bacteroidetes causado por grande
redução de Bacterioidetes, e alteração entre gêneros de bactérias, com diminuição
do número total de Alistipes, Bilophila, Dialister, Parabacteroides e Veillonellae
aumento significativo de Collinsella, Corynebacterium, Dorea e Lactobacillus.

As medidas terapêuticas do TEA envolvem o controle dos sintomas


gastrointestinais e podem incluir a utilização de prebióticos e probióticos, como
Lactobacilos, Bifidobactérias e Saccharomyces. Embora ainda pouco explorado na
literatura, o transplante de microbiota intestinal (transplante fecal) parece ser uma
medida promissora no controle dos sintomas gastrointestinais e comportamentais
dos pacientes com TEA.
Quais são os fatores que
afetam o microbioma
intestinal?

A composição da microbiota intestinal sofre influência de diversos fatores ao longo


da vida. Existe grande variedade na composição das comunidades microbianas
em indivíduos saudáveis por fatores genéticos e também externos, que incluem
alimentação, higiene, estresse, e uso de medicamentos Todos podem favorecer a
redução de bactérias comensais e aumentar a disbiose intestinal.

A primeira influência sobre a microbiota intestinal vem da relação entre mãe e filho.
O ambiente intrauterino, tipo de parto e aleitamento materno são responsáveis
pela colonização microbiana inicial do bebê. O leite materno, por exemplo, possui
centenas de espécies bacterianas,
principalmente Bifidobacterium, Lactobacillus, Enterococcus e Staphylococcus, que
contribuem para saúde intestinal do bebê e fortalecimento do seu sistema
imunológico. Vale lembrar que, o conteúdo microbiano do leite materno também
sofrerá influencia dos hábitos maternos, como alimentação, uso de medicamentos
e prática de atividade física.   Assim, maus hábitos maternos, realização de parto
cesárea, e aleitamento artificial são fatores que podem contribuir para disbiose
intestinal.

A introdução alimentar é importante fator contribuinte para formação da microbiota


intestinal. É bastante conhecida a relação entre consumo de fibras e crescimento
de bactérias comensais e simbiontes. Alimentação rica em frutas, legumes,
verduras, cereais integrais pode representar fator de proteção para boa
colonização da microbiota, enquanto o alto consumo de alimentos industrializados,
excesso de açúcar, carne e bebidas alcoólicas podem reduzir o crescimento de
bactérias comensais e favorecer a adesão intestinal de bactérias patogênicas.

Uso de medicamentos, sobretudo de antibióticos, está também associado à


disbiose. Ciprofloxacina e amoxicilina, com uso superior a três ou quatro dias, são
capazes de promover aumento de bactérias resistentes a antibióticos, alteração
que pode permanecer por até dois anos após o uso do medicamento aumentar o
risco de doenças intestinais e outras complicações clínicas.

No campo da genética, identificou-se que indivíduos com genótipo secretor


(geneFUT2) possuem menor diversidade de bifidobactérias do que indivíduos não-
secretores, sendo essa condição associada a ocorrência de desordens intestinais,
como síndrome do intestino irritável e DII.

Percebe-se, então, que muitos são os fatores que influenciam a microbiota


intestinal. O ponto positivo é que a grande maioria desses fatores podem ser
facilmente identificados e modificados a fim de alcançarmos boa saúde intestinal.

Qual é a influencia da dieta


no microbioma intestinal?
Ao longo da vida, o microbioma sofre influência de diversos fatores, como
genética, tipo de parto, amamentação e introdução alimentar, uso de antibióticos,
condições sanitárias e hábitos alimentares, sendo este último um dos principais
modificadores do microbioma intestinal.

Crianças alimentadas com fórmulas possuem maior colonização intestinal de


Bacteriodetes, enquanto o microbioma intestinal de crianças alimentadas pelo leite
materno possui mais Firmicutes. Essa característica vai se modificando,
principalmente após a introdução alimentar, e a colônia intestinal passa a ser mais
semelhante à de um adulto por volta dos três anos de idade.

Há evidências de que a dieta molda a abundância relativa de filos dominantes e


populações de grupos bacterianos específicos, uma vez que o consumo
denutrientes específicos afeta a estrutura da comunidade e fornece substratos
para o metabolismo microbiano. Maior presença de Bacteroides, por exemplo, foi
associado à dieta do tipo ocidental rica em proteínas animal e gordura, enquanto
maior quantidade de Prevotella foi associada ao consumo de fibras vegetais.
Parece que as alterações mais significativas e positivas na microbiota intestinal
têm sido associadas ao consumo de fibras alimentares, frutas, vegetais e proteínas
vegetais, por esses alimentos promoverem o crescimento de microorganismos
benéficos e produção de ácidos graxos de cadeia curta, evitando assim a disbiose
intestinal e os consequentes prejuízos à saúde.

Quais espécies microbianas


intestinais são fundamentais
para o equilíbrio da
microbiota?
Algumas espécies microbianas intestinais são fundamentais para o equilíbrio da
microbiota.

A Akkermansia muciniphila é considerada a bactéria mucolítica degradante mais


abundante em um indivíduo saudável, e seus percentuais normais variam de 2% a
5%. Com níveis baixos de Akkermansia, o organismo não produz muco por falta de
estímulo. Por outro lado, níveis acima do percentual desejável desta bactéria
podem reduzir a camada de muco intestinal, e favorecer a agressão ao  epitélio,
pois o muco é consumido numa velocidade maior do que a que o organismo
consegue repor. Com pouco muco, fica reduzida a capacidade de barreira do
intestino e se traduzir por manifestações clínicas como distúrbios digestivos,
alergias sazonais, doenças inflamatórias e cutâneas, ansiedade e depressão,
intolerâncias alimentares, e halitose.

A Faecalibacterium prausnitzii é uma das espécies bacterianas intestinais mais


prevalentes em adultos saudáveis, sendo considerada uma bactéria benéfica e
produtora de butirato. Por ser uma bactéria anti-inflamatória, existem evidências
científicas acerca da eficácia de  Faecalibacterium na prevenção de doenças
respiratórias como a asma. A redução desta bactéria no intestino é vista em várias
doenças, como na Doença de Crohn (DC), ou em estados de obesidade. Ela é
considerada por muitos pesquisadores como um” probiótico do futuro”, mas sua
sensibilidade ao oxigênio dificulta sua produção industrial.

A presença de bactérias do gênero Blautia em quantidades adequadas é uma forte


indicação de um intestino saudável. Os níveis geralmente estão diminuídos em
indivíduos idosos, e em pacientes portadores de doenças colorretais.  Níveis
excessivos de Blautia são frequentemente observados em pacientes com
síndrome do intestino irritável (SII).

A Roseburia faecis é uma bactéria que produz ácidos graxos de cadeia curta,
especialmente butirato, que atua na motilidade, manutenção da imunidade e tem
propriedades anti-inflamatórias. Ela ajuda na digestão de carboidratos complexos,
tendo papel significativo na fermentação de polissacarídeos. É encontrada
reduzida em pacientes que sofrem de doença inflamatória intestinal(DII), assim
como em doenças hepáticas.

O sequenciamento genético do microbioma permite a identificação precisa de


centenas de espécies de microorganismos que habitam nosso corpo, e a
abundância relativa de cada um deles. A partir dessa avaliação, possíveis
associações entre microbiota intestinal e saúde e doença podem ser pensadas.

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