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FACULDADES INTA

Curso de Nutrição
Disciplina: Dietoterapia I

TRATAMENTO DIETÉTICO PARA PACIENTES


COM CONSTIPAÇÃO E DIARRÉIA

Profª Lélia Sales de Sousa


Nutricionista
CASOS CLÍNICOS
CASO 1
M.L. M., sexo masculino, 65 anos, P = 50kg, A = 1,55 m,
aposentado.

Internado ah 7 dias por PAC Apresenta apresentou diarréia


há 3 dias. Em uso de Tazocin (D6) e Meropenen (D2) . O
volume fecal chega a 5x/dia, fétidas e de coloração normal.
Ausência de sangue. Há 3 dias você (nutricionista) retirou
alguns alimentos iniciou suplementação de fibra solúvel a
fim de aumentar o peso das fezes, mas obteve resultados
discretos.
Pergunta-se: que alimentos foram esses? E agora o que
fazer? Qual a nova conduta?
 CASO 2
 A. A. M., sexo feminino, 45anos, P = 77 kg, A = 1,65 m, professora,
sedentária.

 Refere "prisão de ventre" há uns 6 meses, e procurou atendimento


nutricional para melhorar sua saúde e estimular o intestino. Relatou já
ter tomado lactulona e a que tomou 4x neste período Lactopurga, mas
que não aumentou a frequência de evacuações com o tempo,
continuando com "prisão de ventre".

 OBS: Trabalha como professora no turno da tarde e não costumo


lanchar no trabalho, mas refere sentir "fome". Não bebe água durante o
dia, apenas no período da noite, quando chega em casa. Nega DM/HAS
ou outra doença.

 Evacuações: 2x/semana - fezes endurecidas e em pequena quantidade

 Urina: concentrada

 Preferências alimentares: salgadinhos fritos, refrigerante e tapioca

 Alergia: crustáceos
Refeição Preparação Alimentos Med Caseira

Desjejum (6h) Café com leite Café preto 1/2 xíc G

Leite integral líquido 1/2 xíc G

Tapioca Tapioca sem coco 2 und M

Margarina Margarina 1 col sob

Banana Banana Prata 1 und M

Lanche da manhã (9h) Torrada Torradas 3 und

Suco de cajá adoçado Suco de cajá 1 copo P

Açúcar refinado 1 col s ch


Peixe Frito
Almoço (12h) Arroz branco Arroz branco 3 col A ch

Feijão Feijão preto 1 co ch

Farofa Farinha de mandioca 2 col s ch

Margarina 1 col s ch

Cebola 1 rodela P

Jantar (20h) Pizza Pizza de mussarela 3 fatias

Refrigerante Coca-Cola 1 lata

Ceia (22h) Iogurte Iogurte Activia 1 und


BREVE RESUMO SOBRE
FIBRAS ALIMENTARES E INTESTINO
FIBRAS ALIMENTARES
O consumo de fibras alimentares associado a uma dieta
balanceada, rica em CHO e pobres em LIP, é importante para
promover a saúde, diminuindo o risco de doenças crônicas
RECOMENDAÇÃO DE
CONSUMO:
20 a 35 g/dia de fibra
alimentar

Frutas – 2,8 g Cada porção tem


valores de FAT
Pães e matinais – 1,4 g próximos, o que
permite a
Equivalentes de Vegetais A – 0,42 g substituição de
Fibra Alimentar um alimento por
Total (FAT) Vegetais B – 1,3 g outro, garantindo
a equivalência
Leguminosas – 3,11 g das fibras
alimentares
Cereais e outros – 1,35 g
FIBRAS ALIMENTARES
• Fibra alimentar total (“g” de fibra por porção da tabela de equivalentes):

– Frutas: 2,80g

– Pães/Cereais matinais: 1,40g

– Vegetais A: 0,42g
(abobrinha, alface, acelga, tomate, couve flor, maxixe, espinafre, repolho, rabanete, pepino, agrião...)

– Vegetais B: 1,30g
(abóbora, beterraba, cenoura, chuchu, palmito, cebola, vagem, quiabo)

– Leguminosas: 3,11 g
(ervilha, feijão, grão de bico, lentilha)

– Cereais/outros: 1,35 g
(arroz polido cozido, farinha de trigo, farinha de mandioca, macarrão cozido, milho enlatado)

Fonte: CARUSO L. Distúrbios do trato digestório. In: CUPPARI L. Guia de nutrição: clínica do adulto. 3ª
ed. Barueri, SP: Manole, 2014
CARBOIDRATOS E EFEITOS FISIOLÓGICOS
Tipos de CHO Efeitos fisiológicos

Fibras solúveis

Pectina (maçã (casca), casca de frutas cítricas, morango); Retardam o esvaziamento gástrico e diminuem a
gomas (aveia, leguminosas secas); algumas hemiceluloses taxa de absorção de CHO
(psyllium)
Ligam-se aos ácidos biliares, retardando ou
reduzindo a absorção de lipídios
Aumentam o volume e a maciez das fezes

Formam soluções viscosas e têm a capacidade de


reter moléculas orgânicas e cátions metálicos
FOS (alho, cebola, banana, tomate, alcachofra, alimentos São fermentados no cólon e produzem ácidos graxos
produzidos à base de inulina, massas) de cadeia curta (acetato, proprianato, butirato)
Efeito prebiótico

Fibras insolúveis

Celulose (farinha de trigo integral, feijões, ervilha, maçã, Não são normalmente fermentados
farelo, repolho, raízes vegetais); hemiceluloses tipo B (farelo,
cereais, soja, grãos integrais); lignina (vegetais maduros, Aceleram o trânsito intestinal; reduzem obstipação
trigo)
Aumentam volume e maciez das fezes
CONSTIPAÇÃO

Definição:

• Alteração no trânsito intestinal (intestino grosso)


• ↓ n° de evacuações com fezes endurecidas e esforço à defecação
• Ausência de evacuação por mais de 3 dias ou volume <100g/dia
• 200 a 250 g (normal ?)

Etiologia
Etiologia:

Secundários:
Principais: Inatividade (pacientes acamados); uso crônico de
ausência repetida da resposta imediata ao laxantes (medicações anticonvulsivantes,
bloqueadores de canal de Ca, depressivos, AINE,
estímulo de evacuar
anti-heméticos, anti-Parkinson...); doenças do
Vida moderna, alimentos fast-food e a falta intestino grosso (que levam a insuficiência da
de horários regulares para as refeições propulsão ou da passagem do bolo fecal por
obstrução), neuropatia (diabetes), neoplasias
(↓fibra; ↓líquido) intestinais, gestação, síndrome do cólon irritável,
hemorroidas, etc.
CONSTIPAÇÃO

Dietoterapia:

> oferta de fibras na dieta

(IOM, 2005)
> 50g/dia
♀: 25 g/dia
(BEYER, 2006) ♂: 38 g/dia

20 a 38 g/dia
(ADA, 2003)

20 a 35 g/dia
American Dietetic
Association
CONSTIPAÇÃO

Principal instrumento:
A utilização de
medicamentos é
importante, entretanto,
Anamnese “viciam” a mucosa
Frequência
Alimentar intestinal, de modo que
quantidades
crescentes serão
necessárias

Fontes de ↓
vegetais Quantidade
(fibras) FIBRAS
melhor
CONSTIPAÇÃO

Estimuladores
da mobilidade
intestinal
(contém ácido
di-hidroxifinil
isotina)

Essencial a
ingestão de 8
copos/dia de
líquidos para
que as fibras
possam alterar
o peso e a
maciez das
fezes

Alternativas para
aumentar o consumo
de fibras totais
CONSTIPAÇÃO

Dietoterapia:

– Azeite de oliva e gorduras emulsionadas (ex: creme de leite,


margarina)
↑ peristalse

– Frutas cruas ↑ em ácidos orgânicos


(laranja; mamão; ameixa preta/suco)
CONSTIPAÇÃO

Dietoterapia:

Coquetel nutricional laxativo Nelzir Trindade Reis


(1978 – efeitos colaterais/interações de fármacos):

5 ameixas (ácido di-hidroxifinil isotina)


1 colher de sopa cheia creme de leite (emulsificante)
1 colher de sopa de farelo de aveia
1 und M laranja (150g – ácido orgânico + celulose)
1 fatia M de mamão (papaína e ácido orgânico)
200 a 250mL de água gelada
CONSTIPAÇÃO

Dietoterapia:

– Coquetel nutricional laxativo:

Bater no liquidificador:
- ameixas de molho na água de um dia para o outro sem
caroço
- laranja (sem casca e sem caroço)
- mamão (sem casca e sem sementes)
- creme de leite
- farelo
- Água
Consumir em jejum

– Outras orientações: obedecer ao menor estímulo evacuatório;


evitar laxantes; água gelada em jejum (+ fibras insolúveis no
desjejum = bolo fecal)
DIARREIA
DIARREIA

Etiologia:

Segundo início e duração:

– Aguda: início abrupto, duração < 10 dias (causas variadas) –


perda de H2O e eletrólitos pelas fezes

– Crônica: duração > 2 semanas ou recidiva – perda de


nutrientes (má digestão/absorção)
DIARRÉIA
Definição:

– ↑ da frequência (> 3x/dia), fluidez com fezes semipastosas ou líquidas + perda


excessiva de líquidos e eletrólitos (Na e K) ou volume das evacuações (> 300mL)

Classificação e etiologia:

Diarréia Aguda Osmótica


 Dano na mucosa Intestinal
 Déficit na produção e liberação de dissacarídeos
 Presença de solutos osmoticamente ativos intestino,inadequadamente
absorvidos – dumping/def. de lactase)
 Gradiente osmolar para luz intestinal = DIARRÉIA
DIARRÉIA

Diarréia Aguda INFECCIOSA (DAI)

 Também chamada secretória


 Toxigenicidade (cólera, Vibrios) - secretória
 Invasão (Shingella, Salmonella)
 Mista (Vírus, Y. enterocolítica)
DIARRÉIA

 Diagnóstico Diferencial das Diarréias Agudas

Osmótica Infecciosa
Volume Fecal – 24 h < 500 ml > 700 ml
Volume Fecal/ vez < 50 ml > 70 ml
ATUA NO SEM ATUAÇÃO /
Resposta a TRATAMENTO
REMISSÃO
EFEITOS
INALTERADOS

Dieta
DIARRÉIA

TRATAMENTO DA DIARRÉIA AGUDA – OSMÓTICAS E INFECCIOSAS

Corrigir DESIDRATAÇÃO
Realimentação Precoce
Uso de antibiótico
Uso de Prebiótico
 Uso de Probiótico
Uso de Glutamina
DIARRÉIA

Dietoterapia:

– 1 a 2 semanas para atingir a meta de fibras

– Líquidos: mínimo 1.600 mL/dia (8 copos de 200mL)

– FOS (prebiótico)

Fruto-
oligossacarídeos
(FOS)
Naturalmente
presente nos
alimentos,
adicionados e
sintéticos
USO DE PROBIÓTICOS
Interação com a microbiota do hospedeiro
Inativação de toxinas bacterianas
Estimula o sistema imune
Efeito trófico na mucosa
Aumento da atividade das dissacaridades
Aumento de substancias bactericidas
EFEITOS COMPROVADOS
DO USO DE PROBIÓTICOS
PREVENÇÃO de Diarréias Agudas Infecciosas por C. difficile
Redução do processo inflamatório intestinal nas Diarréias
Agudas Infecciosas por V. cholerae
Diminuição da mortalidade da severidade das lesões nas
infecções por Shigella e Salmonella
Gastroentelogy Clinical Nutrional (2005)

Disenteria ???
Acompanhada por ulcerações na mucosa do
intestino – fezes freqüentes líquidas com muco e
sangue. Risco rápido de desidratação. Pode ser
Fatal.
USO DE GLUTAMINA EM DIARRÉIA

Principal fonte energética para enterócitos e células do


sistema imune
Mantem a integridade da mucosa intestinal
Controle a permeabilidade intestinal aumentando a
reabsorção de Na pelo jejuno

Glutamine and the preservation of gut integrity (Van der Hulst


2003)
DIARRÉIA

Ainda Temos:
Classificação e etiologia:

– Exsudativa (lesão da mucosa – extravasa muco, PTN do plasma, sangue – RCU,


Chron, enterite por radiação)

– Por medicamento – antibióticos (↓flora colônica/MO oportunistas)


DIARREIA

Dietoterapia:

1º Passo: identificar/tratar causa

2º: reposição de líquidos/eletrólitos

– Repor líquidos e eletrólitos pela dieta ( sucos de frutas e hortaliças sem resíduos,
isotônicos, água de coco)

– NÃOleite e derivados (↓lactase - enterócitos)


_ NÃO Sacarose
_NÃO caldos ?

– Dieta antifermentativa (evitar – Alimentos ↑enxofre = flatulentos: agrião, brócolis,


couve-flor, pepino, alho, batata-doce, milho-verde, repolho, nabo, rabanete,
pimentão, lentilha, goiabada, melão, melancia, jaca, uva, gema de ovo, leguminosas
(ver tolerância)
DIARREIA

Dietoterapia:

– +Fibras solúveis (viscosidade; prebióticos – absorver H2O e


eletrólitos) - fermentadas

Pectinas (maçã, Gomas (aveia,


morango, cascas de leguminosas secas –
frutas cítricas) lentilha, grão de bico)

Fruto-oligossacarídeos
Hemicelulose (psyllium) (alho, cebola, banana,
tomate, alcachofra)
DIARREIA

Dietoterapia:

• Fibras insolúveis ( Não consumir- acelera trânsito!)


– Não fermentadas
 Celulose (farinha de trigo integral, feijões, ervilhas)
 Hemiceluloses tipo B (farelos; cereais e soja)
 Lignina (vegetais maduros, trigo)
DIARREIA

Dietoterapia:

 Período de recuperação: probióticos (recuperar flora)


 Limitar lactose e açúcares se diarréia osmótica
(excessos: sacarose - >25-50g/refeição; frutose - >20-25g/refeição; polióis -
>10g/d)

 Período imediato pós-recuperação de episódios agudos:


ausência/evitar também café e álcool (taninos )
DIARREIA

Dietoterapia:

 Diarréia + grave: NE e NP (++ secreção/DII, imunodeficiência, infecção


prolongada)
– Prevenção – doentes graves: realimentar precoce
– Micronutrientes (atenção!): vilosidades, regeneração

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