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All content following this page was uploaded by Fabiani Lage Rodrigues Beal on 02 October 2020.
A terceira idade é uma fase da vida na qual os indivíduos passam por uma série de mudanças
clínicas, imunológicas, metabólicas e nutricionais. A saúde do idoso está em constante
transformação devido, principalmente, ao declínio de suas funções orgânicas. É também nessa fase
da vida que há uma grande incidência e prevalência de desnutrição.
À medida que cresce o percentual de idosos de forma generalizada, surge a necessidade de
se aperfeiçoar os protocolos específicos para essa população, com o objetivo de minimizar as
complicações decorrentes da idade e, com isso, melhorar sua qualidade de vida. A OMS define que
são considerados idosos indivíduos com mais de 60 anos, em países em desenvolvimento, e com
mais de 65 anos, em países desenvolvidos. Ainda segundo essa Organização, o envelhecimento bem
sucedido ou ativo caracteriza-se por satisfação com a vida, longevidade, ausência de incapacidade,
domínio/crescimento, participação social ativa, alta capacidade funcional/independência e
adaptação positiva.
Enquanto que em 1960 o número de pessoas no mundo com idade igual ou superior a 60
anos era de apenas 2 milhões, a previsão para 2020 mostra que esse valor será de aproximadamente
26,3 milhões de indivíduos. O Brasil acompanha essa tendência mundial: dados do censo de 2010
do IBGE mostram que do início da década de 90 até o final de 2010 o nascimento de crianças
diminuiu, enquanto que a quantidade de indivíduos maiores de 65 anos aumentou
consideravelmente. Nos últimos 20 anos, houve uma diminuição na taxa de fecundidade,
juntamente com a aumento da expectativa de vida. Os idosos hoje correspondem a cerca de 7,4% da
população brasileira e a expectativa para 2050 é de que sejam cerca de 29,7%. Ainda segundo o
IBGE, os idosos são divididos em quatro faixas etárias: de 65 anos a 69 anos, de 70 a 74 anos, de 75
a 79 anos e acima de 80 anos, sendo que a maior prevalência é de idosos da primeira faixa etária.
Medidas de prevenção quanto às doenças crônicas, degenerativas e incapacitantes que
deterioram a qualidade de vida desses indivíduos devem ser priorizadas, com intuito de minimizar
não só o impacto que essas doenças causam na vida dos indivíduos e de seus familiares, como
também no próprio Sistema de Saúde. Dados de estudos epidemiológicos mostram que não menos
de 85% dos idosos têm alguma doença crônica e que o risco de morte por desnutrição nessa
população é de cerca de 65%.
Uma vez que o organismo tende a perder a capacidade de manter suas funções com o
avançar da idade, a imunossupressão, comum nos idosos, tem uma importante correlação com o
prognóstico desses pacientes quando submetidos à injúria. Assim, mecanismos que possam auxiliar
como preditores e minimizadores dos efeitos deletérios que a injúria e a desnutrição podem trazer
aos pacientes devem ser instituídos como uma prática nos serviços de saúde.
Com relação à antropometria, os parâmetros de avaliação para idosos são o IMC, o PCT, o
CB e o CMB. Pode-se usar, ainda, a circunferência da panturrilha e o somatório das dobras. A
circunferência abdominal para idosos, se utilizada, deverá ser feita com parcimônia, uma vez que os
parâmetros de referência existentes na literatura foram elaborados com base na população adulta.
Portanto, da mesma forma que a avaliação de IMC, PCT, CB e CMB em idosos exige parâmetros
específicos, também a CA apresenta essa demanda.
Assim, é preciso que sejam empregados padrões antropométricos de referência que tenham
sido elaborados com base nessa população, como os de Frisancho, 1981 e NHANES III, 1991-1994.
O uso de parâmetros de análise próprios é de vital importância, pois é notória a mudança na
composição corporal de idosos no que concerne aos tecidos adiposo, ósseo e magro, bem como na
composição hídrica. As alterações fisiológicas comumente encontradas com o avançar da idade são
a sarcopenia, a desmineralização óssea, a diminuição do tamanho dos adipócitos e as alterações
hormonais, que, dentre outras coisas, podem refletir no aumento corporal de massa gorda e na
diminuição da massa magra e óssea.
A história alimentar também é de grande valia para o prognóstico nutricional, pois apresenta
uma correlação direta com a análise qualitativa e quantitativa dos hábitos alimentares dos
indivíduos. No caso dos idosos, esse inquérito é muitas vezes de difícil coleta, pois há a necessidade
de boa memória por parte do entrevistado ou do cuidador. Não obstante, é importante que a história
alimentar seja coletada por um profissional treinado, uma vez que erros nesse inquérito podem
contribuir para a não identificação de uma situação de insegurança alimentar e nutricional pela qual
o paciente possa estar passando.
Os resultados dos exames bioquímicos são importantes para a avaliação de situações tanto
de risco quanto já existentes. Todavia, por se tratar de um método invasivo e muitas vezes de alto
custo, estes exames deverão ser solicitados somente quando o profissional tiver a certeza de sua
necessidade no fechamento do diagnóstico e consequente tratamento do paciente. Devido ao
avançar da idade, podem ser identificadas alterações fisiológicas na osmolaridade sanguínea, bem
como bioquímicas e hormonais que não representem de fato uma doença, mas sim a degeneração da
função orgânica decorrente da senescência. Por isso, uma boa estratégia a ser usada
concomitantemente com os resultados bioquímicos do paciente seria a de comparar os dados atuais
não só com os valores de referência, mas também com valores apresentados pelo próprio paciente
em exames anteriores, quando saudável; ou seja, comparar o paciente com ele mesmo.
A Semiologia Nutricional é o exame clínico que pode auxiliar a conduta profissional tanto
na prevenção quanto na evolução das carências nutricionais que o indivíduo já possa estar
apresentando. Para que a semiologia nutricional seja realizada de forma precisa e possa se tornar um
instrumento que corrobore com a elaboração do diagnóstico e condutas nutricionais de indivíduos
nos diferentes ciclos da vida, é indispensável que seja realizada por um profissional bem treinado,
dada a subjetividade do método. A análise semiológica é simples, não invasiva, de baixo custo e
apresenta uma boa correlação com os resultados bioquímicos, antropométricos e clínicos do
paciente.
Quando se fala em terceira idade, alguns fatores relevantes devem ser observados,
principalmente no que diz respeito ao estado de saúde física e mental do indivíduo. Sabe-se que
idosos dependentes, institucionalizados e portadores de incapacidade neurológica são os que têm
uma pior qualidade de vida e, com isso, tornam-se mais susceptíveis à desnutrição.
Sabe-se que com o avançar da idade, alterações de estatura e peso são notórias, bem como
alterações de apetite e funcionamento do trato gastrintestinal. Esses fatores, bem como a capacidade
funcional, a intelectual, o funcionamento orgânico e a qualidade de vida do idoso serão de grande
relevância para o fechamento do diagnóstico nutricional, bem como na implementação da conduta a
ser seguida.
Quanto mais a idade avança, maior será o estreitamento e o desgaste dos espaços
intercostais, agravando ou dando origem a deformidades na coluna vertebral, que podem ser
caracterizadas como cifose, lordose e escoliose. Na semiologia, a eventual má-postura do idoso
deve ser levada em consideração, pois um indivíduo com cifose, por exemplo, poderá indicar um
equivocado diagnóstico de perfil andróide quando, de fato, poderá não apresentar essa
característica.
Por esses motivos, então, o treino e a habilidade do avaliador serão de suma importância na
análise da semiologia nutricional de pacientes idosos. Somente assim esse método, que apresenta
um caráter subjetivo, pode vir a ter maior correlação com o estado nutricional e o prognóstico do
paciente avaliado.
O quadro a seguir (Quadro 1) mostra os sinais clínicos a serem observados quando realizada
a semiologia em idosos. Apresenta, ainda, a correlação desses sinais com as carências nutricionais
suspeitas.
A análise semiológica na terceira idade deve ser amplamente encorajada nos profissionais de
saúde. A detecção precoce de sinais sugestivos de carências nutricionais pode ser de extrema
importância para a qualidade de vida do paciente. Esse método, porém, requer treino e habilidades
específicas por parte do avaliador.
A semiologia nutricional, porém, quando bem realizada, certamente contribui para
minimizar e até mesmo prevenir os efeitos deletérios que tanto a deficiência de macro quanto a de
micronutrientes pode causar na qualidade de vida e no prognóstico do idoso.
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