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Alessandra Benelli
Isabella Bonfiglioli
Laura Balliego Rebequi
Mirella Cristina de Souza
São Paulo
2022
Dieta baixa em FODMAPs como estratégia para o
tratamento da Síndrome do Intestino Irritável quanto
a redução dos sintomas globais da doença
Alessandra Benelli
Isabella Bonfiglioli
Laura Balliego Rebequi
Mirella Cristina de Souza
São Paulo
2022
FICHA CATALOGRÁFICA
Alessandra Benelli
Isabella Bonfiglioli
Laura Balliego Rebequi
Mirella Cristina de Souza
Irritable Bowel Syndrome (IBS) is a disorder of the gastrointestinal tract that has
become currently relevant in the health area. IBS is a chronic, complex and
multifactorial disease with a high prevalence of the interaction of the gut-brain axis. As
for the treatment, non-pharmacological therapies with dietary attention have been
shown to be effective. A relatively new but popular nutritional strategy in the treatment
of IBS is the low-FODMAP diet (which means: oligosaccharides, disaccharides,
monosaccharides and fermentable polyols), which aims to reduce the overall
symptoms of the disease and improve the quality of life. of the patient's life. The aim
of this study is to investigate whether this diet therapy strategy is effective in reducing
symptoms in the non-pharmacological treatment of IBS and its applicability in
nutritional practice. As materials and methods, a narrative review was carried out
through literature research publish in portuguese and english languages in journals
(PubMed and Scholar Google) as well as in guidelines of medical societies published
in the last 6 years. Since IBS is multifactorial, its diagnosis depends on a rigorous
evaluation of the patient's signs and symptoms. Treatment should take into account
the predominant symptom and focus on symptomatic relief. The low FODMAP diet
(DBF) is aimed at restricting or excluding high FODMAP food groups for a certain
period. The implementation of the protocol is divided into three stages and, for the
correct application of the protocol, the role of a trained nutritionist is essential in order
to prevent risks of nutritional inadequacies for patients and ensure a good rate of
adherence to the diet. Although many studies demonstrate positive results on the
applicability and effectiveness of DBF in patients with IBS, better designed studies are
still needed, focusing on predictors of effectiveness, with a larger number of
participants and comparing supplementation or lifestyle changes to long-term, and
should also investigate diet evasion and the impact of avoiding these foods on the
quality of life of patients.
Keywords: Irritable Bowel Syndrome; FODMAPs; Low FODMAPs diet; low FODMAPs
diet; Guidelines; Gastroenterology; Dietary management.
3
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
2 OBJETIVO.......................................................................................................... 12
3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 13
4 DESENVOLVIMENTO TEXTUAL ...................................................................... 14
4.1 DISBIOSE, DOENÇAS E DISTÚRBIOS DO TRATO GASTROINTESTINAL.. 14
4.2 SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL ....................................................... 16
4.2.1 Definição ....................................................................................................... 16
4.2.2 Semiologia e diagnóstico............................................................................. 19
4.2.3 Fisiopatologia e possíveis causas da doença ............................................ 24
4.2.4 Dados Epidemiológicos ............................................................................... 27
4.2.5 Fatores de Risco ........................................................................................... 28
4.2.6 Tratamento .................................................................................................... 29
4.2.6.1 Tratamento não farmacológico ................................................................ 30
4.2.6.2 Tratamento farmacológico ....................................................................... 33
4.3.1 Definição da dieta baixa em FODMAPs ....................................................... 35
4.3.2 Mecanismo de ação ...................................................................................... 37
4.3.3 Aplicabilidade da DBF na SII........................................................................ 39
4.3.4 Protocolo dietético baixo em FODMAPs ..................................................... 39
4.3.5 Métodos de avaliação da eficácia da DBF .................................................. 46
4.3.6 Evidências científicas da efetividade da aplicação da DBF no tratamento
da SII quanto à redução dos sintomas globais da doença. ..................................... 47
4.3.7 Pontos negativos da DBF ............................................................................ 50
4.3.8 Comparação da DBF com outras estratégias dietoterápicas .................... 52
5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56
10
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVO
3 MATERIAIS E MÉTODOS
4 DESENVOLVIMENTO TEXTUAL
intestinal também está associada a outras doenças como a SII, a doença celíaca e
câncer colorretal (CCR).
A seguir são elencadas as principais características das doenças mencionadas
acima e suas correlações com a disbiose:
Doença de crohn é uma doença crônica inflamatória do trato gastrointestinal
caracterizada por feridas descontínuas, que afeta a mucosa intestinal, sendo o íleo
considerado o epicentro da doença. As lesões causadas no sistema digestório
prejudicam a absorção de nutrientes, elevam o estresse oxidativo e
consequentemente podem causar desnutrição (FEUERSTEIN; CHEIFETZ, 2017;
LIBÂNIO et al., 2017).
A colite ulcerativa é uma DII multifatorial que afeta a mucosa do cólon e reto de
forma contínua. Desta forma, a água e os sais minerais são mal absorvidos gerando
fezes aquosas, fezes com sangue, cólicas e dores abdominais. Esta doença é
caracterizada pela resposta imunológica desproporcional sem causas conhecidas,
mas podendo ser associada a fatores ambientais e imunológicos (CAVALCANTE et
al., 2020; TORTORA; DERRICKSON, 2016).
A SII é uma desordem gastrointestinal funcional, caracterizada por dores
abdominais, cólicas, alteração do aspecto das fezes e alteração do ritmo intestinal.
Em estágio crônico, diminui a qualidade de vida do indivíduo, dificultando a vida social
e afetando negativamente até a produtividade no trabalho. Sua fisiopatologia envolve
desordens na comunicação entre cérebro e intestino, alterações na microbiota
intestinal, estresse, inflamação de baixa intensidade, hipersensibilidade visceral,
predisposição genética e outros (HAHN; CHOI; CHANG, 2021; TORTORA;
DERRICKSON, 2016; WHELAN et al., 2018).
Doença celíaca é uma patologia imunomediada na qual o indivíduo
geneticamente predisposto apresenta reação anormal ao entrar em contato com
produtos que contenham glúten. A exposição do paciente a produtos que contenham
glúten acarreta respostas pró-inflamatórias exacerbadas, contribuindo para o
desenvolvimento de inflamação crônica e outras doenças (CAIO et al., 2019;
GIRBOVAN et al., 2017).
O câncer colorretal (CC) é o nome dado a tumores malignos que se originam
no cólon e no reto, sendo o segundo mais frequente entre as mulheres e o terceiro
mais frequente entre os homens no Brasil. Fatores genéticos, ambientais e estilo de
vida (alimentação ruim, tabagismo e sedentarismo) estão associados à patogênese
16
da doença. Pacientes com doenças inflamatórias intestinais são de duas a seis vezes
mais susceptíveis a desenvolver este tipo de tumor. A disbiose do intestino possui
papel importante no desenvolvimento na patogênese do CC, atuando como causa ou
consequência da doença (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR
GOMES DA SILVA, 2019; KELLER et al., 2019; PIRES et al., 2021).
Importante salientar a concomitância que se pode estabelecer entre as doenças
citadas e a SII, sobretudo as pertencentes à classe das doenças inflamatórias
intestinais, a colite ulcerativa e a doença de crohn. Estados clínicos como a redução
da diversidade da microbiota intestinal, a inflamação de baixa intensidade e a
recorrência de disbiose junto aos fatores ambientais, comportamentais e alimentares
podem promover o quadro propício para o desenvolvimento destas patologias. Assim,
a dietoterapia torna-se uma das ferramentas fundamentais no tratamento de SII e
patologias associadas a fim de proporcionar qualidade de vida e tornar possível a
remissão dos sintomas.
4.2.1 Definição
2. Associado à mudança na
Dor abdominal recorrente em média pelo menos 1 dia
frequência das fezes
na semana nos últimos 3 meses, associado a 2 ou
mais dos seguintes critérios:
3. Associado a uma mudança na
forma/aparência das fezes
Estes critérios devem ser preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas mínimo de 6
meses antes do diagnóstico
Fonte: Adaptado de LACY et al., 2021
que varia de 1 a 7, fezes duras e grumosas a fezes líquidas (FORD; LACY; TALLEY,
2017; LACY; PATEL, 2017).
Ocorrência de dejeções < 25% das vezes do tipo 1 – 2 e > 25% das vezes
SII-D do tipo 6 – 7 da BSFS
Ocorrência de dejeções > 25% das vezes do tipo 1 – 2 e < 25% das vezes
SII-C do tipo 6 – 7 da BSFS
Ocorrência de dejeções > 25% das vezes do tipo 1 – 2 e > 25% das vezes
SII-M do tipo 6 – 7 da BSFS
19
Legenda: SII com predomínio de diarreia (SII-D), SII com predomínio de constipação (SII-C),
SII mista (SII-M) e SII indefinida (SII-I)
Grau de Grau de
Recomendação
recomendação evidência
Recomenda realizar teste sorológicos para descartar
1 Forte Moderada
doenças celíaca, para pacientes com SII e diarreia
Sugere realizar exame de calprotectina fecal (ou Moderada para
lactoferrina fecal) e Proteína C Reativa em pacientes sem PCR, muito baixa
2 Forte
sinais alarme e com suspeita de SII e sintomas de diarreia para Lactoferrina
para descartar doença inflamatória intestinal. fecal
Não recomenda o teste de fezes de rotina para patógenos
3 Condicional Baixa
em todos os pacientes com SII
Não recomenda colonoscopia de rotina em pacientes com
4 sintomas de SII com menos de 45 anos sem sinais de Condicional Baixa
alerta
Sugere uma estratégia diagnóstica positiva em
comparação com uma estratégia diagnóstica de exclusão
5 Consenso GRADE
para pacientes com sintomas de SII para melhorar o
tempo para iniciar a terapia apropriada
Recomenda uma estratégia diagnóstica positiva em
comparação com uma estratégia diagnóstica de exclusão
6 Forte Alta
para sintomas de SII para melhorar a relação custo-
benefício
Não recomenda o teste de alergias alimentares e
sensibilidade de alimentos em todos os pacientes com SII,
8 Consenso GRADE
a menos que haja sintomas relativos a uma alergia
alimentar
Sugere que o teste de fisiologia anorretal seja realizado
em pacientes com SII e sintomas sugestivos de distúrbio
9 Consenso GRADE
do assoalho e/ou constipação refratária não responsiva à
terapia médica padrão
Recomenda um teste limitado de uma dieta baixa em
10 FODMAP em pacientes com SII para melhorar os Condicional Muito Baixa
sintomas globais
Hemograma completo
VHS, PCR* *VHS (velocidade de
hemossedimentação)
PCR (proteína C
reativa)
total de 6.756 participantes e neles 31,5% apresentavam SII-D, 29,3% SII-C, 26,4%
SII-M e 11,9% SII-I (BLACK; FORD, 2020; OKA et al., 2020).
de caráter psicológico. Além disso, indivíduos com o fenótipo Linfócito T Auxiliar (LT
CD4+) Tipo 2 podem ter aumento do risco do desenvolvimento da doença. A
permeabilidade intestinal pode sofrer alterações nos indivíduos com diagnóstico de
SII, em particular aqueles do subtipo (SII-D), o que pode explicar o motivo pelo qual
ativações no sistema imune ocorrem, alterando liberação local de serotonina e
modulando funções sensoriais e motoras. Além dos fatores de risco relatados até aqui,
uma modulação na expressão gênica do canal de sódio SCN5A pode representar
cerca de 2% dos casos relatados de SII (FORD; LACY; TALLEY, 2017).
Alterações centrais tais como respostas ao estresse, doenças psiquiátricas,
disfunções cognitivas, dismotilidade intestinal, hipersensibilidade intestinal, baixo grau
de ativação do sistema imune e alteração da função da barreira intestinal também
estão no rol de riscos para o desenvolvimento da doença (DISTRUTTI et al., 2016).
4.2.6 Tratamento
Esta dieta pode reduzir a dor abdominal, o inchaço e melhorar o padrão das
fezes. Mesmo que os estudos realizados não tenham sido conclusivos para avaliação
da efetividade desta dieta, ela parece segura e sem efeitos adversos. O risco está na
deficiência nutricional que a longo prazo as restrições podem acarretar. Além disso,
mais estudos são necessários para avaliar a eficácia, danos e adesão de fato à dieta.
Ainda, os profissionais precisam orientar adequadamente os pacientes em todas as 3
fases da dieta que são: fase 1, restrição de alimentos com alto teor de FODMAP, fase
2, reintrodução dos alimentos gradualmente avaliando os sintomas e grau de
31
DBF não é uma estratégia apenas para a prevenção do aparecimento dos sintomas
da SII, mas, também, uma ferramenta para que seja testada a tolerância aos alimentos
individualmente em cada paciente, dessa forma permitindo-o excluir de sua
alimentação de forma personalizada aqueles que lhe geram desconfortos (BELLINI
et al., 2020).
Segundo Fernandes, Almeida e Costa (2020) o intuito da aplicação da DBF é
auxiliar os indivíduos que sofrem de transtornos gastrointestinais, principalmente os
que possuem a SII, através do controle dos sintomas. Durante todo tratamento é
fundamental o acompanhamento de um nutricionista que retêm o conhecimento do
mecanismo de ação, composição dos alimentos e aplicabilidade da DBF para uma
correta orientação.
Em relação às principais fontes alimentares descreve-se: (i) oligossacarídeios:
frutanos (trigo, cebola e alho); galactooligossacarídeos (feijões e leguminosas); (ii)
dissacarídeos: lactose (leite e derivados); (iii) monossacarídeo: frutose e excesso de
glicose (sucos de fruta, mel e alguns tipos de fruta como manga e figo); (iv) polióis:
sorbitol, manitol e xilitol (maçã e pêra; cogumelos e couve-flor; adoçantes artificiais,
respectivamente) (WHELAN et al., 2018).
A lista dos grupos e alimentos que compõem cada um deles está representada
no Quadro 4.
Oligossacarídeos
Dissacarídeos
Monossacarídeos
Polióis
paciente. Seguindo esta primeira fase, com a melhora dos sintomas, o paciente pode
ser direcionado para a segunda fase, fase 2 ou fase de reintrodução, com duração
média de 6 a 10 semanas, nesta fase são reintroduzidos alimentos que contenham
FODMAPs gradativamente, permitindo assim que possam ser evidenciados gatilhos
específicos com determinados alimentos e quantidades. Por fim, na última fase, fase
3 ou fase de personalização e manutenção de longo prazo, são excluídos apenas
aqueles alimentos e quantidades que induzem sintomas de hipersensibilidade visceral
presentes na SII.
Já Singh et al. (2022) em seu artigo, elucidam as etapas da DBF com uma
duração um pouco diferente para a fase 1, a mais restritiva, do que a citada
anteriormente. Os autores citam que a fase 1 deve ocorrer até o momento de
observar-se uma melhora nos sintomas (normalmente de 4 a 6 semanas), devendo-
se reduzir alimentos como trigo, cebola, alho, maçã, pêra etc. substituindo estes por
alternativas adequadas preferencialmente do mesmo grupo. Ainda, é dito que na fase
2, além da reexposição aos alimentos que contenham FODMAPs é importante incluir
e registrar a dose de tolerância que não será generalista e sim de acordo com a
sensibilidade de cada paciente. O importante na fase 2 é que seja sustentado o
controle dos sintomas. Com base no resultado da fase 2, a fase de manutenção pode
ser iniciada e geralmente traz benefícios sintomáticos por cerca de 12 meses.
Ainda sobre o tempo recomendado de prática clínica da DBF, Whelan et al.
(2018), afirmam que 4 semanas de tratamento dietético para a fase de restrição,
fornecem resultados para a maioria dos pacientes, ensaios randomizados
demonstraram que dietas restritas em FODMAPs por mais de 6 semana podem afetar
a adequação nutricional e alterar a microbiota intestinal. O que pode afetar a duração
desta fase do protocolo são as escolhas dos pacientes perante a disponibilidade e o
conhecimento dietético, podendo aumentar este estágio para até 12 semanas.
Outra linha de protocolo é a DBF suave, que restringe apenas 1 ou 2 grupos de
alimentos inicialmente e conforme for necessário faz-se a retirada de outros grupos.
Esta abordagem depende do subtipo de SII, do histórico de dieta e perfil de risco do
paciente, bem como sua capacidade de cumprir as restrições alimentares, sendo mais
adequada para pessoas com sintomas mais leves, deficiências nutricionais ou risco
de comer desordenado. As evidências mostram que os grupos que frequentemente
desencadeiam mais sintomas são os grupos de frutanos, manitol, oligossacarídeos e
a lactose. Neste caso, os nutricionistas devem usar sua avaliação clínica para
41
(incluindo fibras), que seja agradável e não prejudique a qualidade de vida paciente,
como por exemplo, comer fora e socializar (MITCHELL et al.,2019; REJ et al.,2022;
SINGH et al., 2022; WHELAN et al., 2018).
A ingestão de FODMAPs e os resultados esperados nos sintomas intestinais
da SII através do protocolo DBF em cada fase são exemplificados na Figura 6.
A recomendação geral é que a DBF seja utilizada por prazos limitados devido
as restrições que pode trazer ao indivíduo do ponto de vista nutricionais e social.
Conforme Bellini et al. (2020), existem pouco estudos que investiguem a eficácia da
DBF a longo prazo, a principal dificuldade está na alta variabilidade de modelos de
estudos em relação a ferramentas de avaliação confiáveis, definição do protocolo
dietético e reintrodução de FODMAPs, limitando a comparação de resultados.
Entretanto, a maioria dos ensaios, demonstra redução dos sintomas globais da SII em
pacientes que aderiram a DBF.
Para a avaliação de melhorias de sintomas são utilizadas ferramentas como
Escala de Avaliação de Sintomas Gastrointestinais (Gastrointestinal Symptom Rating
Scale - GSRS), composto por 15 perguntas em conjunto com respostas em escala
47
algum subtipo de SII; (iii) que fossem observados os efeitos da DBF no manejo dos
sintomas globais de SI, e; (iv) estudos clínicos. O desfecho primário mais interessante
foi a respeito da redução dos sintomas da SII utilizando a Escala de Gravidade dos
Sintomas de SII (IBS-SSS), classificada em gravidade suave, moderada ou severa.
Ainda sobre o delineamento, onze estudos compararam a DBF com outras
intervenções dietéticas, cinco com dieta habitual, dois com suplementação de pré e
probióticos, dois com mudanças no estilo de vida e dois com dieta rica em FODMAPs.
Como resultados, quatro estudos demonstraram resultados especificamente para
pacientes do subtipo SII-D, cinco baseiam seus resultados excluindo o subtipo SII-C
e os demais têm resultados em ambos os subtipos. A dieta DBF demonstrou uma
redução moderada da severidade dos sintomas quando comparada ao grupo controle.
Quando observados os estudos que compararam a severidade dos sintomas antes e
após a intervenção, houve uma redução significativa de 52.6 pontos, ou seja, uma
grande melhora no manejo dos sintomas no grupo DBF. Já quanto à análise de sub
escalas da IBS-SSS, a melhora mais significativa se deu quanto a severidade da
distensão abdominal, seguido de frequência da dor abdominal e severidade da dor
abdominal. A escala de frequência das fezes sofreu uma redução maior em
comparação ao grupo controle e o impacto da dieta DBF na redução da escala de
fezes em pacientes com subtipo SII-D foi maior do que em toda a coorte. Este estudo
concluiu que a DBF demonstrou redução moderada na severidade dos sintomas da
SII comparada à intervenções controladas. Houve redução de quatro das cinco sub
escalas de gravidade dos sintomas de SII, com exceção de interferência na qualidade
de vida. Os efeitos não foram diferentes entre a intervenção de 3-4 semanas e a de
6-12 semanas. Tem por recomendação que a fase de eliminação dos alimentos seja
seguida por uma fase de reintrodução dentro do prazo de 3-6 semanas (HAHN; CHOI;
CHANG, 2021).
Já uma terceira meta-análise recente avaliou 76 RCTs que analisavam a
eficácia de probióticos ou da dieta DBF no manejo dos sintomas da SII. Como desenho
dos estudos, procurou-se aqueles que (i) possuíam como participantes indivíduos com
diagnóstico médico de SII (alguns critérios eram aceitos, dentre eles Roma IV); (ii)
tinham por objetivo verificar a eficácia dos probióticos ou da DBF no tratamento da SII
comparando resultados com grupo controle, placebo, grupo controle operado ou dieta
com alto teor de FODMAPs; (iii) com ao menos um objetivo de alívio de sintomas e
melhora da escala de dor; (iv) eram estudos randomizados controlados com a exceção
49
daqueles com desenho crossover sem dados por etapas reportados, sem detalhes do
tratamento oferecidos e sem texto completo disponível. Os estudos foram conduzidos
em 26 países, tendo como número de participantes entre 19-443 indivíduos, 22,4%
dos estudos eram referentes ao subtipo SII-D, 3,9% sobre SII-C e 73% sobre uma
junção dos dois tipos. Os grupos estudados possuíam uma faixa de idade entre 11-51
anos, sendo compostos de 58-100% por mulheres. A duração variou entre 2 e 16
semanas. Como resultados, quanto ao alívio dos sintomas através da dieta DBF, 8
estudos foram analisados e não houve intervenções efetivas. Já quanto às escalas de
sintomas da SII ou de dor abdominal, esta dieta foi superior ao placebo, mas não
houve diferença entre ela e outros tratamentos. As meta-análises em rede
demonstraram que Bacillus, dieta DBF e Lactobacillus foram os componentes com
maiores efeitos sobre as notas de tais escalas de dor. A dieta foi incluída no estudo
como sendo um tratamento de categoria 2, ou seja, caracterizada por ser "inferior ao
tratamento mais efetivo, mas superior ao menos efetivo". Ela é efetiva para o alívio
dos sintomas globais e melhora da qualidade de vida dos indivíduos quando
comparada a placebo, dieta habitual e rica em FODMAPs. Observou-se grande
inconsistência nos resultados, uma vez que a dieta se mostrou ser benéfica para o
alívio das escalas de dor e sintomas, mas não eficiente para alívio de sintomas globais
da SII (XIE et al., 2022).
Em 2022, uma atualização do consenso do Reino Unido emitido pela Academic
Unit of Gastroenterology acerca das terapias dietéticas para o manejo da SII foi
publicado. Nele, através de revisão de literatura, observou-se que as meta-análises
que utilizaram IBS-SSS para avaliar resposta da dieta DBF demonstraram uma
redução média de 50 pontos. Outro ponto salientado foi o curto tempo de aplicação
dos estudos que demonstram a eficácia desta estratégia dietoterápica. Um dos
estudos analisados avaliou 90 pacientes com SII em um período de 16 meses que
demonstrou que a melhora dos sintomas com tal estratégia foi mantida ao longo
desses meses com uma aderência de 76%. Outro estudo relevante é um RCT com 74
participantes que demonstrou que 82% deles sustentou a resposta aos sintomas com
a intervenção dietética. Mais recentemente, dois estudos observaram os sintomas
quando aplicada a DBF: 57% dos indivíduos de uma intervenção de 6-18 meses
mostraram alívio de sintomas e 60% nos indivíduos de uma intervenção de 44
semanas. Como consenso se teve que há boas evidências da aplicabilidade a longo
50
como lácteos à base de soja, aveia, arroz e nozes (BELLINI et al., 2020;
MITCHELL et al., 2019; REJ et al., 2022; WHELAN et al., 2018).
Por fim, Mitchell et al. (2019), relatam que até 40% dos pacientes com SII têm
transtornos psicológicos como ansiedade e depressão. Estes transtornos se
relacionam com o comportamento alimentar. A restrição alimentar da DBF, pode
provocar transtornos alimentares em grupos vulneráveis de pacientes, prejudicando
os indivíduos no trabalho e na vida social. A DBF pode gerar o foco excessivo na
nutrição e obsessão pela saúde e bem-estar, ou seja, a denominada ortorexia nervosa
(muito influenciada atualmente pela internet, mídias sociais e outros fenômenos
culturais). O comportamento alimentar desordenado é caracterizado por qualquer
alteração alimentar que desvie do padrão cultural, sendo elas restrição alimentar,
pular refeições ou comer demais, mas estes comportamentos não definem
necessariamente a presença de um transtorno alimentar. O nutricionista deve
acompanhar e aconselhar o paciente caso perceba algum destes comportamentos de
forma excessiva.
Consulta individualizada,
independente da solicitação
do médico para dieta
Consulta conjunta entre paciente e nutricionista
específica
Avaliar gatilhos dietéticos
Considere a abordagem de
baixo para cima ou de cima
para baixo
Os critérios para validar uma estratégia nutricional são muitos, a dieta deve se
adaptar ao paciente de modo econômico, que atenda suas necessidades e estilo de
vida para que possa ser usada a longo prazo e ajude a diminuir os sintomas e
desconfortos, foram esses os desafios encontrados, já que a maior parte das dietas
estudadas não conseguem preencher todos os critérios (SINGH et. al., 2022).
Conforme Singh et al. (2022), o Quadro 5 faz referência a esses critérios de
comparação e mostra o método utilizado em cada estratégia nutricional sendo
possível identificar os prós e contras de cada uma, em geral todas são estratégias
saudáveis, visto que utilizam alimentos in natura e minimamente processados,
entretanto mesmo sendo alimentos saudáveis, no contexto da SII alguns alimentos
acabam sendo prejudiciais pela sua composição e presença de carboidratos com alto
54
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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