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Atualizado e revisado por

GABRIELA CHAMUSCA
Professora autora/conteudista
JOYCE MORAES CAMARNEIRO
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ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em
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pública, sob pena de responsabilização civil e criminal.
SUMÁRIO
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1. Aspectos gerais da gestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5


1.1. Período gestacional e data provável do parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1. Métodos para cálculo da idade gestacional (IG) . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1.2. Método para cálculo da data provável do parto (DPP) . . . . . . . . . . . .10
1.2. Aspectos emocionais da gestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3. Tipos de parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2. Cuidados na gestação e direitos da gestante e do bebê . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20


2.1. Assistência pré-natal (APN) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.1. Calendário de consultas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.2. Exames solicitados no pré-natal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2. Fatores de risco na gravidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3. Situações comuns na gestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4. Cuidados na gestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.5. Direitos da gestante e do bebê, aspectos legais e políticas públicas . . . . . . . . . . 34

3. Alterações metabólicas na gestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35


3.1. Custo energético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.2. Metabolismo proteico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.3. Metabolismo dos carboidratos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3. Metabolismo lipídico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4. Necessidades nutricionais da gestante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42


4.1. Recomendações energéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2. Recomendações de macronutrientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2.1. Recomendações de carboidratos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2.2. Recomendações de lipídios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.2.3. Recomendações de lipídios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.4. Recomendações de proteínas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.3. Recomendações de micronutrientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3.1. Recomendações de vitaminas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.3.2. Recomendações de minerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
INTRODUÇÃO
Obter uma boa nutrição é condição fundamental para promover o bem-estar físico, mental e
social da gestante e do bebê, garantindo, em condições normais de saúde, uma boa qualidade de
vida, além do aumento da expectativa de vida.

Além do prazer que proporciona, o alimento é fonte de energia e nutrientes essenciais para o bom
desenvolvimento corporal, para o crescimento e para a manutenção da saúde do indivíduo. E, como
cada nutriente tem uma função específica no organismo, a alimentação deve ser a mais variada
possível, para que o corpo receba todos os elementos necessários para seu bom funcionamento
fisiológico. As fases da vida possuem diferentes necessidades nutricionais, que dependem de
diversos fatores, como idade, sexo, atividade física, gravidez e amamentação.

Por isso, as ações do profissional de saúde têm papel fundamental no acompanhamento


gestacional e do lactente.

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1. ASPECTOS GERAIS DA GESTAÇÃO
A epigenética é o estudo da variação herdável que ocorre sem mudança na sequência do
DNA. Na gestação, a placenta, um órgão altamente especializado que garante o crescimento e o
desenvolvimento normal do feto, provê o contato entre mãe e concepto. Ela garante o aporte de
nutrientes, a troca de gases e a transferência de produtos residuais do metabolismo fetal, que serão
posteriormente excretados pela mãe. Embora essas sejam suas principais funções, a placenta
também é responsável por proteger o feto do ataque do sistema imune materno e pela secreção de
hormônios e fatores de crescimento associados à gestação que asseguram o sucesso da gravidez.
Falhas nessas mudanças fisiológicas ou alterações de qualquer evento nessa sucessão podem
conduzir a diversas complicações obstétricas para a mãe e/ou para o feto.

As interações entre o feto e a mãe durante a gestação são possíveis pelo desenvolvimento de
regiões especializadas da placenta, as interfaces materno-fetais, onde as células dos dois indivíduos
são colocadas em próxima associação para interagir uma com a outra. Ocorrem mudanças em
longo prazo no estado fisiológico, metabólico ou anatômico mesmo sem associação a mudança
na sequência de um gene específico. Dessa forma, qualidade e quantidade alimentar funcionam
como mecanismo de adaptação ao que pode ocorrer na vida adulta.

1.1. Período gestacional e data provável do parto


A gestação compreende o período da fecundação do óvulo até o nascimento do bebê. Esse
período dura aproximadamente nove meses. A variação do tempo total depende das características
da mãe e da evolução do feto. Teoricamente, conta-se a idade da gestação a partir da fecundação
do óvulo (normalmente após 14 dias do início da menstruação), mas, como isso é algo impossível
de se saber com exatidão, a contagem é feita a partir do primeiro dia da última menstruação.

A gestação pode ser diagnosticada por parâmetros FIGURA 1 – Gestação


clínicos, hormonais e ultrassonográficos. Os primeiros
indicativos da gravidez são atraso menstrual, sinais e
sintomas da gestação, aumento do tamanho uterino e
aumento do volume abdominal. Ela só será realmente
confirmada pelo exame do hormônio β-HCG no sangue
ou urina, que já pode ser detectado no início da gestação,
ou pelo ultrassom a partir de quatro semanas de atraso
menstrual. Fonte: Demkat/iStock

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O período gestacional pode ser contado em semanas, dias, meses solares, meses lunares ou
trimestres. A gestação a termo dura 40 semanas ± 2 semanas (38 a 42 semanas), ou 280 dias, ou
nove meses e uma semana, ou 10 meses lunares (28 dias cada), ou três trimestres. Considera-se
o primeiro trimestre até 13 semanas, o segundo, da 14ª à 28ª semana, e o terceiro, a partir da 29ª
semana (ZUGAIB; RUOCCO, 2005).

Define-se a idade gestacional (IG) como o tempo transcorrido entre o primeiro dia da data da
última menstruação (DUM) e a data atual (dia em que o cálculo está sendo realizado), medido em
semanas e dias (seis semanas e três dias, por exemplo) ou por meses. É muito comum que a idade
gestacional calculada pela DUM e a estimada pelo exame de ultrassonografia sejam divergentes.
Porém este último método é mais preciso para a avaliação da idade gestacional quando efetuada
precocemente. Se a idade calculada pela DUM situar-se dentro da margem de erro da estimativa
ultrassonográfica (aproximadamente uma semana no primeiro trimestre da gravidez, ± 2 semanas
no segundo trimestre e ± 3 semanas no terceiro trimestre), ela é aceita como correta. Caso contrário,
utiliza-se a idade calculada pela ultrassonografia como o período para a gestação.

Quando uma gestante está com 10 semanas de gestação, contando o tempo transcorrido entre
a DUM e a data atual, ela provavelmente engravidou há cerca de oito semanas, já que a ovulação
ocorreu supostamente 14 dias após a menstruação, quando ocorre o início do desenvolvimento
do embrião.

Geralmente, o médico e a gestante contam o tempo de gestação em semanas ou meses. Os


meses são contados a partir do dia da última menstruação; a cada mês, nesse mesmo dia, mais
um mês é completado, e entra-se no seguinte.

Exemplo:

Uma gestante cuja data da última menstruação (DUM) foi 20 de janeiro irá completar cada mês
todo dia 20. Em 20 abril, portanto, faz três meses de gestação e entra no quarto mês até chegar 20
de maio, quando fará quatro meses, entrando então no quinto.

Outras terminologias usadas para idade gestacional são gravidez a termo (gestação que está
entre 37 semanas completas e 42 semanas incompletas), gravidez pós-termo (a partir de 42 semanas
completas), gravidez pré-termo ou prematura (entre a 21ª semana até 37 semanas incompletas
com feto pesando mais de 500 g) e período de abortamento espontâneo, quando ocorre perda do
feto e a gravidez é interrompida de forma natural até a 20ª semana, com fetos pesando menos de

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500 g ou 25 cm. Quando os fetos morrem no útero da mãe com mais de 20 semanas completas e
pesando 500 g ou mais, são considerados natimortos.

O aborto é a expulsão ou extração do embrião ou feto com menos de 500 g. A maior parte deles
acontece antes da 12ª semana de gestação. É considerado precoce quando ocorre antes da nona
semana e tardio entre a 13ª e a 20ª semana.

Como dito, depois da 20ª semana, o feto é considerado natimorto. A morte fetal entre a 20ª e
28ª semana (fetos com 500 g a 1.000 g) é considerada intermediária, e, a partir da 28ª semana ou
acima de 1.000 g, tardia.

Os abortamentos espontâneos são frequentes e acontecem em 15% a 20% das gestações,


podendo ter aumento de incidência em mulheres gestantes com mais de 40 anos. As causas mais
comuns são as alterações cromossômicas, que representam 50% a 80% dos abortamentos naturais.
Outras causas são insuficiência lútea, anormalidades uterinas, infecções bacterianas vaginais,
infecções por rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, herpes e Listeria, doenças maternas como
diabetes, hipotereoidismo, hipertensão e doenças renais, aumento de alelos HLA (human leukocyte
antigens) semelhantes entre o casal, doença autoimune (síndrome antifosfolípide) e fatores externos
ambientais.

1.1.1. Métodos para cálculo da idade gestacional (IG)

O manual técnico Assistência pré-natal (BRASIL, 2000 a, p. 23) dá as seguintes orientações:

a) Quando a data da última menstruação (DUM) é conhecida:

Uso do calendário - contar o número de semanas a partir do 1º dia da última


menstruação atá a data da consulta. A data provável do parto (DPP) corresponde
ao final da 40º semana, contada a partir dadata do 1º dia da última menstruação;

Uso de disco ou gestograma [...].

b) Quando a data da última menstruação é desconhecida, mas se conhece o período


do mês em que ela ocorreu:

Se o período foi no início, meio ou final do mês, considerar como data da última
menstruação os dias 5, 15 ou 25, respectivamente; proceder, então, à utilização de
um dos métodos acima descritos.

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c) Quando a data e o período da última menstruação são desconhecidos:

c.1. Proceder ao exame físico:

Medir a altura uterina e posicionar o valor encontrado na curva de crescimento


uterino e verificar a IG correspondente a esse ponto. A medida da altura uterina não
é a melhor forma de calcular a idade gestacional.

Para facilitar o entendimento, Martinelli, Bittar e Zugaib (2001) disponibilizam uma tabela de
valores em relação à idade gestacional.

TABELA 1 - Valores de altura uterina (cm) em relação à idade gestacional (semanas)


Idade Percentil
gestacional 0.5 2.5 5 10 50 90 95 97,5 99,5
20 16,9 17,8 18,3 18,8 20,7 22,6 23,1 23,6 24,5
21 17,8 18,7 19,2 19,7 21,6 23,5 24,0 24,5 25,4
22 18,7 19,6 20,1 20,6 22,5 24,4 24,9 25,4 26,3
23 19,6 20,5 21,0 21,5 23,4 25,3 25,8 26,3 27,2
24 20,4 21,4 21,8 22,4 24,2 26,1 26,7 27,1 28,0
25 21,3 22,2 22,7 23,2 25,1 27,0 27,5 28,0 28,9
26 22,1 23,0 23,5 24,0 25,9 27,8 28,3 28,8 29,7
27 22,9 23,8 24,3 24,8 26,7 28,6 29,1 29,6 30,5
28 23,7 24,6 25,0 25,6 27,5 29,4 29,9 30,4 31,3
29 24,4 25,3 25,8 26,3 28,2 30,1 30,6 31,1 32,0
30 25,2 26,1 26,5 27,1 29,0 30,8 31,4 31,8 32,8
31 25,9 26,8 27,3 27,8 29,7 31,6 32,1 32,6 33,5
32 26,6 27,5 27,9 28,5 30,4 32,2 32,8 33,2 34,2
33 27,2 28,2 28,6 29,2 31,0 32,9 33,5 33,9 34,8
34 27,9 28,8 29,3 29,8 31,7 33,6 34,1 34,6 35,5
35 28,5 29,4 29,9 30,4 32,3 34,2 34,7 35,2 36,1
36 29,2 30,1 30,5 31,1 32,9 34,8 35,4 35,8 36,7
37 29,7 30,7 31,1 31,7 33,5 35,4 36,0 36,4 37,3
38 30,3 31,2 31,7 32,2 34,1 36,0 36,5 37,0 37,9
39 30,9 31,8 32,2 32,8 34,7 36,6 37,1 37,6 38,5
40 31,4 32,3 32,8 33,3 35,2 37,1 37,6 38,1 39,0
41 31,9 32,8 33,3 33,8 35,7 37,6 38,1 38,6 39,5
42 32,4 33,3 33,8 34,3 36,2 38,1 38,6 39,1 40,0
Fonte: Adaptado de Martinelli, Bittar e Zugaib (2001).

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FIGURA 2 - Curva de valores de altura uterina: percentis 10, 50 e 90

40

35
Altura uterina (cm)

30

25

20

15
20 25 30 35 40 45
Idade gestacional (semanas)
Fonte: Martinelli, Bittar e Zugaib (2001).

O manual técnico Assistência pré-natal (BRASIL, 2000, p. 23) complementa com a seguinte
explicação:

Quando a data e o período do mês não forem conhecidos, a IG e a DPP serão


inicialmente determinadas por aproximação, basicamente, pela medida da altura
do fundo do útero e do toque vaginal, além da informação sobre a data de início
dos movimentos fetais. Pode-se utilizar a altura uterina mais e o toque vaginal,
considerando-se os seguintes parâmetros:

• Até a 6ª semana, não ocorre alteração do tamanho uterino.

• Na 8ª semana, o útero corresponde ao dobro do tamanho normal.

• Na 10ª semana, o útero corresponde a três vezes o tamanho habitual.

• Na 12ª semana, enche a pelve de modo que e palpável na sínfise púbica

• Na 16ª semana, o fundo uterino encontra-se entre a sínfise púbica e a cicatriz


umbilical.

• Na 20ª semana, o fundo do útero encontra-se na altura da cicatriz umbilical.

• A partir da 20ª semana, existe uma relação aproximada entre as semanas da


gestação e a medida da altura uterina. Porém, esse parâmetro torna-se menos
confiável à medida que se aproxima o parto.

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Quando não for possível determinar a idade gestacional clinicamente, deve-se solicitar o exame
de ultrassonografia obstétrica assim que for possível.

1.1.2. Método para cálculo da data provável do parto (DPP)

Calcula-se a data provável do parto levando-se em consideração a duração média da gestação


normal (280 dias ou 40 semanas a partir da DUM), mediante a utilização de um calendário ou
gestograma. Outra forma de cálculo é somar sete dias ao primeiro dia da última menstruação e
adicionar nove meses. Deve-se ter cuidado com os anos bissextos.

Exemplo:
Data da última menstruação: 20 jan. 2005
Cálculo: dia – 20 + 7 = 27; mês – jan + 9 meses = outubro
Data provável do parto: 27 out. 2005

1.2. Aspectos emocionais da gestação


A gestação é um período de transição para a mulher. Ocorre uma inundação de sentimentos
novos e desorganizados devido a alterações físicas, psíquicas, hormonais, econômicas e até sociais,
que tendem a ser transitórias e situacionais.

A origem do contexto emocional da gestação parece estar vinculado principalmente aos fatores
hormonais e socioculturais. A progesterona leva à depressão do sistema nervoso central (SNC),
deixando a mulher mais introspectiva. As catecolaminas regulam a depressão e a euforia, e os
corticosteroides são responsáveis pelas variações emocionais de depressão, euforia, paranoia e
cognição.

A necessidade de compreender os aspectos psicológicos que permeiam o período gravídico-


puerperal torna-se cada vez mais conhecida no âmbito do atendimento à saúde reprodutiva da
mulher, tendo-se em vista, principalmente, os esforços no Brasil relacionados à humanização
do parto.

Nos dias de hoje, os aspectos emocionais nessa fase importante para a mulher devem ser bem
avaliados pela equipe médica que a acompanha, visto que a saúde tanto dela quanto da criança
sofrem influências por conta do não reajustamento de tais conflitos. Como diz Elisabeth Badinter

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(1985, p. 22), “O amor materno é apenas um sentimento humano. E como todo sentimento, é incerto,
frágil e imperfeito”.

Medos, mudanças nos vínculos afetivos (relação marido-esposa) e ansiedade são características
frequentes na vida da gestante. É sabido o quanto tais alterações afetam de forma negativa não só a
saúde da gestante, mas também o desenvolvimento psicomotor da criança. Episódios hipertensivos,
crescimento intrauterino retardado, prematuridade, complicações no parto e com o recém-nascido
são algumas das consequências já encontradas. Por causa disso, a relação médico-paciente deve
visar a prevenção, o alívio e a elaboração psíquica dos problemas mais emergentes.

É comum que a mulher, ao saber da gravidez, FIGURA 3 – Relação médico-paciente


vivencie um estado de ambivalência emocional: o
desejo de gestar e ter um filho e, ao mesmo tempo, as
indagações quanto a sua vida profissional, amorosa
e financeira, a perda da sua individualidade e a
responsabilidade quanto a ser mãe. Essa é uma fase
de introspecção, na qual ela procura buscar soluções
à sua nova realidade. Nesse momento, é importante
o médico acolher as dúvidas que surjam na gestante Fonte: PeopleImages/iStock
quanto à sua capacidade de gerar um bebê saudável, de
vir a ser mãe e de desempenhar esse novo papel de forma adequada, a fim de se estabelecer uma
relação de confiança e respeito mútuos. Essa relação médico-paciente deve ser criada nas primeiras
consultas, onde a mulher, após confirmação da gravidez, se depara com dúvidas e ansiedades.

Esse momento pode coincidir com o surgimento dos primeiros sintomas decorrentes das
alterações hormonais, como náuseas, vômitos, oscilações de humor (aumento da irritabilidade) e
maior sensibilidade. Estes, se intensificados, tanto em quantidade quanto em duração, podem ser
sugestivos de fatores psicológicos envolvidos. Aqui, há necessidade de uma avaliação profissional
para que se possa compreender o significado simbólico do sintoma para a mulher que o vivencia.
Todo esse cuidado visa preservar o desenvolvimento do vínculo mãe-bebê.

No segundo trimestre da gestação, a ansiedade liga-se a introversão e passividade, alteração do


desejo e do desempenho sexual (ganho de peso, maior sensibilidade mamária, alterações corporais
e medo de sua irreversibilidade deixam a mulher mais vulnerável à perda do apetite sexual), alteração
do esquema corporal (distensão abdominal) e percepção dos movimentos fetais (concretização

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da presença do filho) e seu impacto. Cada mulher atribui características interpretativas para cada
movimento fetal. Há algumas que os identificam como uma conversa ou um sentimento de alegria,
enquanto outras interpretam como uma agressão. Interpretações “negativas” constroem um vínculo
negativo entre a mãe e o feto, o que requer um acompanhamento psicológico para revertê-las em
uma reconstrução positiva.

Transtornos psiquiátricos também podem acometer mulheres durante a gestação. No Brasil,


38% das mulheres de baixa renda apresentam depressão nessa fase. Diminuição na ingestão de
alimentos pela gestante, não adesão ao pré-natal, abuso de substâncias ilícitas, complicações
obstétricas e dificuldades de contato com o feto e com o recém-nascido podem ocorrer com
gestantes depressivas.

FIGURA 4 – Depressão na gravidez


O terceiro trimestre é caracterizado pela ansiedade,
que se intensifica com a proximidade do parto, com medo
da dor e da morte no parto e aumento das queixas físicas.
É de extrema importância esclarecer antecipadamente a
evolução da gestação e do parto (contrações, dilatação,
perda do tampão mucoso e rompimento da bolsa). As
informações devem ser transmitidas de forma simples e
clara, observando o impacto sobre cada paciente.
Fonte: kieferpix/iStock

O puerpério também é um período crítico de risco emocional, sendo que 85% das mulheres no
pós-parto têm algum tipo de sintoma de depressão. Geralmente, os sintomas iniciam-se no primeiro
dia pós-parto e duram até duas semanas. Em algumas mulheres (10-20%), os sintomas não passam,
levando à depressão pós-parto, que se estende até os seis primeiros meses.

1.3. Tipos de parto


Existem vários tipos de parto. Não há um que seja considerado ideal para todas as mulheres, e sim
o ideal para cada uma. Fatores como preparo psicológico e expectativas da mulher, do companheiro
e da família, saúde materna e fetal e ambiente social devem ser levados em consideração na escolha.
O importante é a mulher conhecer os tipos mais apropriados à sua realidade e, após conversar com
o seu médico, tomarem a melhor decisão. Um bom pré-natal é importante para que nesse período
a mulher tire todas as suas dúvidas sobre os tipos de parto existentes.

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Muitas mulheres temem a dor do parto e buscam o tipo que pode amenizá-las, diminuí-las ou
evitá-las completamente. A tolerância à dor costuma variar entre as mulheres e apresenta muitas
formas de ser tolerada – farmacológicas ou não. Vários fatores podem capacitar a intensidade de
sensibilidade individual da dor, como as experiências anteriormente vividas, a ignorância e o medo
do parto, fatores socioculturais e o próprio ambiente e equipe escolhidos.

No Brasil, os tipos de parto são categorizados como FIGURA 5 – Trabalho de parto


via vaginal e cirúrgico. Os tipos de parto por via vaginal
são normal, Leboyer, na água, parto ativo, natural e
humanizado, e os cirúrgicos são a cesárea, o via fórceps
e o via extração a vácuo.

a) Cesárea ou cesariana

O parto cesárea, ou cirurgia cesariana, feito com


anestesia peridural, é recomendado quando o trabalho
Fonte: laflor/iStock
de parto apresenta risco severo para a parturiente e o
feto. Isso ocorre quando é necessário antecipar ou interromper o trabalho de parto devido a
distocias maternas e fetais, placenta prévia central, herpes genital ativa, eclampsia materna,
comprometimento anatômico do canal do parto, desprendimento parcial da placenta com colo não
dilatado, diabetes mellitus, incompatibilidade severa de RH, desproporção real feto-pélvica, amniorrexe
prematura, prolapso de cordão umbilical, prematuridade do feto, feto em posição transversa ou em
má apresentação e feto em sofrimento fetal agudo ou crônico.

A cirurgia consiste em incisão transversa da parede abdominal, seguida por separação longitudinal
da bainha do músculo reto abdominal e incisão transversa do útero em sua porção inferior (incisão
em “biquíni”). O feto é retirado, e o cordão umbilical é clampeado e cortado, a placenta é retirada, o
útero e parede abdominal são suturados após a curetagem do espaço uterino, e então se fecha a
ferida cirúrgica. Em situações de extrema urgência, quando o feto está em posição transversa ou
em casos de placenta prévia, a cirurgia é feita com incisão longitudinal na parede anterior do útero,
caracterizando a cesariana clássica.

Nesse tipo de parto, as complicações são mais comuns, e a recuperação da mãe é mais
demorada. É feita uma incisão de 10 cm acima dos pelos pubianos, e sete camadas são cortadas
até chegar ao útero.

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FIGURA 6 – Cesárea

Placenta

Útero Cérvix

Um corte é feito no abdômen e outro é feito no útero Um doutor ou uma parteira posiciona a cabeça do
bebê e guia o corpo enquanto ele emerge

A remoção manual pode envolver um doutor Os cortes no útero e na pele são então fechados
colocando a mão dentro do útero e gentilmente com pontos
removendo a placenta da parede uterina

Fonte: Graphic_BKK1979/iStock

b) Parto normal

A grande vantagem desse parto é a recuperação mais rápida da mulher, além do menor risco de
complicações para a mãe. O parto normal ocorre em hospital, clínica, maternidade ou casa de parto,
seguindo as normas e os protocolos da instituição, que geralmente adotam tricotomia (raspagem dos
pelos púbicos), enema (lavagem intestinal), posição deitada (litotomia), uso de ocitocina sintética,
anestesia epidural, episiotomia, monitoração de pressão arterial, frequentes exames de toque na

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parturiente e monitoração dos batimentos cardíacos fetais. O uso da anestesia ocorre se as dores
forem intensas. A lavagem intestinal e a tricotomia não são mais consideradas necessárias.

No período do trabalho de parto, a dilatação do colo do útero será avaliada. Se o espaço para o
bebê passar for insuficiente, é realizada uma episiotomia. Esta é uma intervenção sugerida apenas
para partos que por algum motivo precisam ser rápidos, mas em alguns protocolos hospitalares
apresenta-se como profilática por evitar a ruptura perineal espontânea, aumentando o canal do
parto e facilitando o nascimento.

A episiotomia pode ser feita por incisão mediana, médio-lateral ou lateral realizada no ápice da
contração uterina, e sua sutura (episiorrafia) é feita com analgesia local após a saída da placenta.
A técnica apresenta algumas desvantagens: a cicatriz no períneo prejudica a ação de contratilidade
dos músculos do assoalho pélvico, favorecendo a incontinência urinária de esforço, além de gerar
dispaurenia (dor durante a relação sexual).

De acordo com Rodrigues (2006b): FIGURA 7 - 1. Episiotomia mediana


2. Episiotomia lateral 3. Episiotomia
Quando o colo do útero estiver dilatado médio-lateral, 4. Incisão Schuchardt
por completo e as contrações tornarem-
se muito fortes, as paredes do útero farão
pressão sobre o bebê e, em conjunto
com o esforço da mãe, impulsionarão a 1
criança para fora. 2
3
Após o alívio da expulsão do bebê, há a 4
saída da placenta onde o útero se contrai
mais uma vez para expulsá-la.

A sutura da episiotomia quando


necessária é feita imediatamente após
o parto, cicatrizando em poucos dias.

Nesse tipo, a indução para acelerar o trabalho de parto


pode ser necessária. Costuma-se fazer tal tentativa quando Fonte: Henscher (2007).

a gestação passar das 40 semanas, na incompatibilidade


do fator sanguíneo Rh (a continuidade da gestação expõe a criança aos anticorpos), no diabetes
ou quando acontece o rompimento prematuro da bolsa d’água. A indução pode ser feita por meio
do rompimento precoce da bolsa ou com medicamentos.

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O grande tabu criado em cima do parto normal relaciona-se à sensação de dor que a mulher
pode sentir por horas e mais horas. Porém muitas são as técnicas utilizadas para o alívio:

No Brasil, parto sem dor é o parto feito com a aplicação de anestesia peridural ou
raquianestesia. A maneira mais moderna e eficaz de tirar a dor do período de dilatação
é a anestesia peridural, pois alivia ou quase anula a dor, mas as contrações se mantêm.

Entretanto, o parto sem dor pode começar no pré-natal onde a mãe deve receber as
informações necessárias de como reconhecer as contrações verdadeiras, a hora de
ir para o hospital e o que acontecerá com ela no hospital.

Se tiver um acompanhante na hora do parto, tensão e a insegurança da mamãe


também diminuem, suavizando dores. Outro fator é atenção dada à mamãe quando
chega ao hospital.

Outro método desenvolvido nos Estados Unidos é um treinamento baseado em


técnicas respiratórias, de relaxamento e de concentração das gestantes. O objetivo é
deixar a mamãe preparada para o parto e deixá-la segura de todo o processo, assim
terá muito menos dor do que uma mulher assustada e tensa. (RODRIGUES, 2006c)

c) Parto natural FIGURA 8 - Parto normal

O parto natural preconiza a não intervenção


médica e cirúrgica (como a anestesia e a
episiotomia, entre outras), em um processo
considerado natural e fisiológico, mas controla os
batimentos cardíacos fetais. Pode ser realizado
em domicílio ou em ambiente hospitalar. A
liberdade da parturiente em escolher posições
adequadas a cada fase do parto proporciona
um parto ativo. A possibilidade de alimentação
e hidratação durante todo o processo, interação
com familiares e companheiro, métodos
Fonte: http://www.brasilescola.com/biologia/parto-normal.htm.
alternativos e não farmacológicos de controle
e diminuição de da dor, bem como o respeito à duração fisiológica, são privilegiados.

d) Parto de cócoras

De acordo com Rodrigues (2006a):

O parto de cócoras é realizado da mesma forma que o natural, mudando-se a posição


da mãe que, em vez de ficar na posição ginecológica, mantém-se de cócoras. É um
parto mais rápido, pois é auxiliado pela gravidade, mais cômodo para a mulher e
mais saudável para o bebê, pois não tem mais a compressão de importantes vasos
sanguíneos, como acontece com a mulher deitada de costas. Este parto é indicado
para mulheres que tiveram gravidez saudável e sem problema de pressão. O parto

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de cócoras só pode ser realizado se o feto estiver na posição cefálica (com a cabeça
para baixo). A participação do companheiro, a ausência de métodos invasivos para
alívio da dor, a liberdade de movimentos dada à mulher no momento do nascimento
da criança e a recuperação imediata são as principais vantagens do parto de cócoras.

FIGURA 9 - Parto de cócoras

a b

Fonte: http://babyblogbr.com.br/tipos-de-parto/ e http://institutonascer.com.


br/parto/parto-de-cocoras-ancestral-e-modernissimo/.

e) Parto a fórceps

O parto por fórceps de alívio ou fórceps baixo é realizado com um par de colheres metálicas
inseridas no canal do parto que buscam a cabeça do feto para acelerar o período expulsivo durante
uma emergência no parto ou sofrimento fetal comprovado. A anestesia e a episiotomia médio-lateral
participam da técnica, que substitui o uso de fórceps alto, que desconsiderava a posição da cabeça
do feto, aplicando forças que ele pudesse não suportar.

São regras para que o uso do fórceps de FIGURA 10 - Parto fórceps


alívio seja indicado: o couro cabeludo do feto
deve estar visível na vagina, o crânio precisa
ter atingido o assoalho pélvico, demonstrando
sua sutura sagital no plano sagital da pelve, e
a bolsa amniótica deve estar rompida. Lesões
do músculo esfíncter anal materno podem ser
uma complicação rotineira após essa utilização.

f) Parto por vácuo-extração

O parto por vácuo-extração ou extração a


vácuo é realizado com uma taça, uma mangueira Fonte: http://guiauniversodacrianca.com.br/
de borracha e uma bomba a ar. A taça é introduzida artigos/gravidez-mae/parto-forceps/.

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na vagina materna e colocada sobre o crânio do feto, geralmente sem o uso de episiotomia. O ar é
bombeado, criando vácuo entre a taça e o crânio fetal. Em seguida, aplica-se tração na mangueira
para trazer a cabeça do feto através do canal FIGURA 11 - Parto por vácuo
de parto durante as contrações uterinas. Essa
técnica apresenta-se menos traumática ao canal
de parto materno quando comparada ao uso
de fórceps de alívio, por diminuir a incidência
de lesão perineal e de episiotomia. No recém-
nascido, a sucção pode ocasionar hematomas
na cabeça, além da possibilidade de aumentar
a ocorrência de distocia de ombros.
Fonte: http://graphicwitness.medicalillustration.
com/generateexhibit.php?ID=27773.
g) Parto humanizado

O parto normal humanizado é procurado por mulheres que buscam um atendimento focado
em suas necessidades fisiológicas e emocionais durante o trabalho de parto, estendendo-as para
o recém-nascido. Ele é feito com base em evidências científicas e recomendações da Organização
Mundial da Saúde e com apoio de um plano de parto, que é entregue à equipe médica antes do
início do trabalho de parto.

Como no parto natural, é respeitado o tempo que for necessário para o trabalho de parto, e a
busca por posições que favorecem a abertura pélvica é incentivada, por livre escolha da parturiente.
Métodos não farmacológicos para diminuição da dor são privilegiados (banhos quentes ou banheira
com água aquecida, massagens, uso de bolas fisioterápicas, entre outras), e o parto ativo é incentivado.

Nesse tipo de parto, que pode ser hospitalar ou domiciliar, evidencia-se a busca por diminuir
quaisquer intervenções desnecessárias, favorecendo técnicas menos controladoras e invasivas
nos modelos predominantes nos hospitais em geral. Conforme o trabalho de parto se desenvolve,
é esperado que o nascimento ocorra por via vaginal de acordo com a fisiologia materna, porém,
em algumas circunstâncias, isso acontece por meio de intervenções cirúrgicas com o objetivo de
acelerar ou tornar o parto possível.

h) Parto Leboyer

O parto Leboyer foi difundido nos hospitais da França e batizado com o nome do médico que
o preconizou. Tem como objetivo promover ao feto um parto calmo, em silêncio e com pouca
iluminação. O recém-nascido pode ficar próximo à mãe, com aleitamento seguido ao parto e

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alojamento conjunto. A parturiente permanece em posição deitada de costas (litotomia), e a
episiotomia é comumente utilizada.

i) Parto na água

No parto na água, é utilizada uma banheira ou piscina portátil com água a 36 °C cobrindo toda
barriga, para alívio das dores do trabalho de parto, relaxamento muscular e o próprio nascimento do
feto. A parturiente pode alcançar relaxamento por causa da temperatura da água e sentir o corpo
mais leve por ação da flutuabilidade da água, e o recém- FIGURA 12 - Parto na água
nascido é acolhido na água, que é um ambiente familiar
para ele. O local costuma estar calmo e tranquilo, com
poucas luzes e sons, e pode ser hospitalar ou domiciliar.
Esse tipo de parto não é recomendado em trabalho de
parto prematuro, presença de mecônio, sofrimento fetal,
mulheres com sangramento excessivo, diabetes, HIV
positivo, hepatite-B, herpes genital ativo, bebês com mais
de 4.000 g ou que precisem de monitoramento contínuo.
Fonte: ideabug/iStock

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2. CUIDADOS NA GESTAÇÃO E DIREITOS DA GESTANTE E DO BEBÊ

2.1. Assistência pré-natal (APN)


A assistência pré-natal (APN) prevista pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2000a) visa assistir a
gestante e o feto em sua saúde e bem-estar no período compreendido entre a concepção e o momento
do parto, identificando fatores de risco para ambos, como anemia, diabetes mellitus, hipertensão,
crescimento fetal anormal, gestação múltipla, entre outros. Dessa forma, medidas profiláticas e
terapêuticas são empregadas, minimizando possíveis riscos. A maior parte das gestações (80-90%)
evoluem normalmente e são consideradas de baixo risco, mas 10% a 20% podem ter intercorrências
e são de alto risco.

Sobre as medidas preventivas, o ideal é que a futura mãe, antes mesmo de engravidar, passe
por uma avaliação médica (chamada de consulta pré-concepcional) para verificar suas atuais
condições de saúde. Nela, o médico deve enfatizar os perigos quanto ao uso de drogas, álcool,
cigarro e contato com substâncias teratogênicas. Nesse momento, a mulher também deve receber
as instruções básicas a respeito de sua alimentação antes mesmo de engravidar (principalmente no
caso de estar acima do peso), uso profilático e necessário de vitaminas e minerais (como o ácido
fólico três meses antes da concepção para garantir um perfeito desenvolvimento do tubo neural
do feto) e prática correta de exercícios físicos.

Sabe-se que, na ausência da APN, a mortalidade perinatal é cinco vezes superior àquela encontrada
nas unidades de atendimento pré-natal regular. A participação de uma equipe multidisciplinar
qualificada, humanizada e precoce é fundamental para o seu sucesso. Ressalva-se a importância
das condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias, o fácil acesso a serviços de saúde
de qualidade, com ações que integrem todos os níveis de atenção, desde o atendimento ambulatorial
básico ao atendimento hospitalar de alto risco.

Em geral, a consulta de pré-natal envolve procedimentos bastante simples, devendo o profissional


de saúde transmitir a confiança necessária à mãe para que ela se fortaleça e possa conduzir com
mais autonomia a gestação e o parto. Respostas diretas e seguras para os questionamentos trazidos
pela mulher e familiares são importantes para o bem-estar de todos os envolvidos.

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A APN deverá ter como atribuições:

1. Realizar a primeira consulta de pré-natal em até 120 dias da gestação.


2. Realizar no mínimo seis consultas pré-natal.
3. Escutar a mulher e seu acompanhante esclarecendo suas dúvidas.
4. Fazer atividade educativas.
5. Estimular o parto normal.
6. Anamnese e exame clínico-obstétrico da gestante.

2.1.1. Calendário de consultas

A APN deve se iniciar assim que a gravidez for diagnosticada – o mais precocemente possível.
A gestante deve fazer no mínimo seis consultas no período gestacional, preferencialmente, uma
no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro. O acompanhamento deve ocorrer até o
final da gestação. As consultas devem ser feitas em postos de saúde ou visitas domiciliares, se
forem pelo sistema público de saúde, ou hospitais e consultórios médicos, se na rede particular.
Elas devem ser seriadas e com intervalo de quatro semanas. Após a 36ª semana, a gestante deverá
ser acompanhada a cada 15 dias para avaliação de pressão arterial, presença de edemas, altura
uterina e movimentos e batimentos cardiofetais. Frente a qualquer alteração, ou se o parto não
ocorrer até sete dias após a data provável, a gestante deverá ter uma consulta médica assegurada.

Na primeira consulta, deve ser realizada uma anamnese completa para avaliar os hábitos de
vida e alimentares, dados socioeconômicos e os antecedentes familiares, pessoais, ginecológicos
e obstétricos. A idade gestacional e a data provável do parto serão determinadas a partir da data da
última menstruação (para mulheres com ciclos regulares entre 28 a 30 dias e que sabem ao certo
o dia) ou pelo exame de ultrassom para mulheres com ciclos longos e irregulares.

Avaliação nutricional, exame físico geral e gineco-obstétrico devem ser feitos para se determinar
adequação do peso corporal, pressão arterial, avaliação das mamas e da pelve (tamanho do útero,
presença de cistos e miomas e malformações uterinas), edemas (inchaços) e pedido de exames de
sangue e urina. A gestante deverá receber também orientações para o pré-natal (consultas, exames,
vacinas, atividades educativas, cuidados gerais). As consultas posteriores são importantes para
acompanhamento da gestação e controle dos problemas encontrados na primeira consulta ou na
consulta pré-concepcional.

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FIGURA 13 - Proporção de mulheres que realizaram nenhuma, uma a três, quatro
a seis e mais de sete consultas de pré-natal, segundo faixa etária

70
60
50
40
%

30
20
10
0
< 14 15 a 19 20 a 34 35 e +
Nenhuma 4,6 3,4 2,6 3,1
1 a 3 vezes 17,4 12,9 8,6 8,2
4 a 6 vezes 42,9 40,9 33,4 29,14
7e+ 35,1 42,8 55,4 59,6
Fonte: IMS (2006 apud ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2012).

2.1.2. Exames solicitados no pré-natal

A portaria no 570 do Ministério da Saúde, de 1º de junho de 2000 (BRASIL, 2000c), determina


que a gestante deve fazer no pré-natal os seguintes exames laboratoriais:

• Tipo sanguíneo (ABO) e fator Rh (primeira consulta).


• Sorologia para sífilis (VDRL) (primeira consulta e 30ª semana).
• Exame de urina tipo 1 e urocultura, se necessário (primeira consulta e 30ª semana)
• Glicemia de jejum (primeira consulta e 30ª semana).
• Hematócrito e hemoglobina, ou hemograma completo, se possível (primeira consulta).
• Teste anti-HIV para municípios com mais de 50 mil habitantes.

Além desses exames, a gestante poderá fazer ainda teste de Coombs (que detecta anticorpos
livres no plasma contra as hemáceas), exame parasitológico de fezes, colpocitologia oncótica,
bacterioscopia do conteúdo vaginal, teste de tolerância oral a glicose, sorologia para hepapite B e
C, toxoplasmose, citomegalovírus e rubéola e dosagem hormonal (TSH, T3, T4).

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Outro exame imprescindível, embora não obrigatório, é a ultrassonografia. A grávida não precisa
fazer um ultrassom todo mês em todas as consultas do pré-natal, mas pelo menos três ou quatro
são necessários:

• No início (até 8 semanas ± 2), para avaliar se o embrião está dentro do útero, o número de
embriões, os batimentos cardíacos e os sinais vitais e para determinar a idade gestacional e
a data provável do parto.
• Entre 11 e 14 semanas, ultrassom morfológico do primeiro trimestre, com translucência nucal,
para avaliar o desenvolvimento e a formação de órgãos e membros e possíveis alterações
cromossômicas.
• Entre 20 e 24 semanas, ultrassom morfológico do segundo trimestre, para avaliar se há
malformações fetais pela análise minuciosa de todos os órgãos e sistemas fetais.
• Por volta da 32ª semana para avaliar posição do feto, crescimento e vitalidade, e também as
condições da placenta e do líquido amniótico.

2.2. Fatores de risco na gravidez


Vários são os fatores que podem interferir na evolução normal da gestação. Quanto mais riscos
estão envolvidos, maior deve ser o cuidado durante esse período, por mais complicações estarem
relacionadas:

1. Gestação na adolescência

Há um número crescente de gestantes no Brasil com idade menor de 19 anos, segundo dados
do Ministério da Saúde (2006b). Normalmente, são adolescentes pertencentes à classe de baixa
renda. As chances de ocorrer uma gestação de alto risco nesse grupo refere-se, principalmente, a
adolescentes com intervalo menor que cinco anos entre a menarca e a gestação, já que ainda não
estão totalmente preparadas fisiólogica ou emocionalmente. Complicações como pré-eclampsia,
recém-nascidos de baixo peso, anemia, deficiências nutricionais, tabagismo e instabilidade emocional
são os principais riscos encontrados nessa população.

2. Gestante com mais de 35 anos

Assim como as de pouca idade, as gestantes acima de 35 anos têm maiores chances de apresentar
riscos durante a gestação. Problemas como deslocamento placentário (e, por consequência, aborto),
hipertensão e diabetes são frequentemente vistos. Os riscos são ainda maiores nas acima de 40
anos, em que as anomalias genéticas do cromossomo 21, conhecidas como Síndrome de Down,
têm mais chances de ocorrer.

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3. Baixo peso

Considera-se de baixo peso a gestante que ganhou menos de 7 kg durante a gestação. Com
pouco peso adquirido, a formação da placenta é menor, o que causa menor transporte de oxigênio e
de nutrientes para o feto. Dessa forma, sequelas na formação do tubo neural, assim como deficiência
imunológica e na formação de enzimas, são comuns.

4. Sobrepeso e obesidade

O ganho de peso excessivo na gestação também é um fator de risco, não só para o feto como
para a mãe. Diabetes gestacional, hipertensão e defeitos do tubo neural são as complicações mais
comuns. Caso a gestante tenha uma alimentação hipercalórica acelerada, as concentrações de
glicose elevam-se, assim como as de insulina, estimulando maior produção das células de gordura
(lipogênese). Como resultado, o bebê pode nascer com alto peso (acima de 4 kg considera-se alto
risco), além de a mãe estar mais susceptível a complicações na hora do parto, sendo mais comum
a cesariana, nesses casos.

5. Paridade

Estudos mostram que quanto mais filhos a mulher tiver, maiores são os riscos que podem
ocorrer na gravidez. Dentre eles, destacam-se o distúrbio hipertensivo específico da gravidez (DHEG),
principalmente se associado a outros fatores de risco, como idade e peso, e a obesidade (quanto
maior a paridade, maior é o IMC - índice de massa corporal).

6. Tabagismo e álcool

O cigarro, por si só, apresenta inúmeros malefícios sobre o organismo humano, e esses efeitos
podem ser ainda piores na gestação. Retardo no crescimento intrauterino (RCIU), baixo peso ao
nascer e aumento do risco de prematuridade e mortalidade perinatal são comuns. Pode-se dizer
que o feto da gestante fumante é um perfeito fumante passivo involuntário. O monóxido de carbono
e a nicotina passam pela placenta, afetando negativamente o desenvolvimento fetal. O monóxido
de carbono “rouba” a hemoglobina de mãe e feto, reduzindo o fluxo de oxigênio para ambos. Já
a nicotina aumenta a produção das catecolaminas por agir no sistema cardiovascular da mãe,
causando taquicardia, vasoconstrição periférica e redução do fluxo sanguíneo placentário.

O consumo de álcool pela gestante deve ser evitado, pois sabe-se da influência de qualquer
bebida alcoólica sobre a saúde do feto, principalmente no sistema nervoso central (retardo mental,
microcefalia, distúrbios na coordenação motora, hipotonia, hiperatividade, nariz pequeno, retardo
no crescimento pré e pós-natal, entre outras sequelas). É a chamada síndrome fetal alcoólica (FAS),

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muito encontrada nos filhos de mães alcoólatras. Já o consumo ocasional e em baixas doses (uma
taça de vinho), sempre acompanhado de alimentos, não apresenta risco à saúde da mãe e do feto.
Porém ainda não se definiu a dosagem segura para o consumo de álcool em gestantes.

7. Drogas

As drogas ilícitas, como a cocaína, podem causar várias alterações em mãe e bebê. Aumenta o
risco de desenvolver anemias, bacteremia, endocardite, hepatite, flebite, pneumonia, tétano, e há maior
risco de infecção pelo vírus HIV. As complicações fetais mais comuns são hipóxia fetal, aumentando
a ocorrência de partos prematuros em 30%, crescimento fetal retardado, em 19%, e deslocamento
placentário, em 15% das mulheres usuárias de cocaína na gestação, além de risco aumentado de
malformações quando essa droga é utilizada no primeiro trimestre. Os problemas continuam na
infância, e os filhos dessas usuárias têm distúrbios neurocomportamentais (hiperatividade, tremores)
e deficiência no aprendizado.

No quadro a seguir, estão descritos os principais marcadores e fatores de risco gestacionais


que devem ser investigados na APN:

QUADRO 1 - Fatores de risco relacionado ao resultado obstétrico indesejável

Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis

Idade < 15 anos ou menarca há menos de dois anos; idade > 35 anos; altura < 1,45 m; peso pré-
gestacional < 45 kg ou > 75 kg (IMC < 19 e IMC > 30 kg/m²); anormalidades estruturais nos órgãos
reprodutivos; situação conjugal insegura; conflitos familiares; baixa escolaridade; condições
ambientais desfavoráveis; dependência de drogas lícitas ou ilícitas; exposição a riscos ocupacionais
(esforço físico excessivo, carga horária, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, estresse).

História reprodutiva anterior

Abortamento habitual; morte perinatal explicada e inexplicada; história de recém-nascido com


restrição de crescimento ou malformado; parto pré-termo anterior; esterilidade/infertilidade; intervalo
interpartal menor que dois anos ou maior que cinco anos; nuliparidade e grande multiparidade;
síndromes hemorrágicas ou hipertensivas; diabetes gestacional; cirurgia uterina anterior.

Condições clínicas pré-existentes

Hipertensão arterial; cardiopatias; pneumopatias; nefropatias; endocrinopatias; hemopatias;


epilepsia; doenças infecciosas; doenças autoimunes; ginecopatias; neoplasias.

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Grupos de fatores de risco que surgem na gestação transformando-a em uma gestação de alto risco

Exposição indevida ou acidental a fatores teratogênicos.

Doença obstétrica na gravidez atual: desvio quanto ao crescimento uterino; número de fetos e volume
de líquido amniótico; trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada; ganho ponderal inadequado;
pré-eclampsia e eclampsia; diabetes gestacional; amniorrexe prematura; hemorragias da gestação;
insuficiência istmo-cervical; aloimunização; óbito fetal.

Intercorrências clínicas: doenças infectocontagiosas durante a presente gestação (infecção do trato


urinário , doenças do trato respiratório, rubéola, toxoplasmose etc); doenças dignosticadas pela
primeira vez na presente gestação (cardiopatias, endocronopatias).

Fonte: Ministério da Saúde (BRASIL, 2000b apud ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2012).

2.3. Situações comuns na gestação


As queixas mais frequentes das gestantes são:

Sonolência: o aumento da progesterona no período gestacional promove função depressora no


SNC, o que leva a sonolência, fadiga, lentidão e até mesmo diminuição da memória. Esta é causada
também pela alteração dos neurotransmissores (serotonina, epinefrina e dopamina), principalmente
no segundo trimestre da gestação.

Enjoos, náuseas e vômitos: sintomas típicos do início da gestação. Cerca de 70% das mulheres
apresentam náuseas (sensação de enjoo), e 50% efetivamente relatam vômitos. Esses sintomas
costumam desaparecer após a 14ª semana da gestação, ou seja, no início do segundo trimestre.
O fato de a gestante não conseguir se alimentar nesse período em função do desconforto gástrico
não influenciará negativamente a saúde do feto, mesmo com a perda de peso (o que é comum). O
que justifica o surgimento de tais sintomas é a alteração do padrão da produção de estrogênio e
progesterona, decorrente da gestação.

Pirose (azia): sintoma típico após a gestante se alimentar, em função de o aumento do volume
uterino pressionar a parede do estômago e facilitar a passagem do suco gástrico em direção ao
esôfago. Por consequência, a sensação de “queimação” ou azia pode ocorrer em muitas gestantes.

Constipação intestinal: ocorre em algumas gestantes, principalmente após a 20ª semana de


gestação, por causa do aumento na produção do hormônio progesterona, que age na musculatura
do intestino, diminuindo os movimentos peristálticos. Com isso, a gestante passa a ter maior

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dificuldade em evacuar e facilidade em formar hemorroidas. O uso de laxante deve ocorrer apenas
com a prescrição do médico ou nutricionista.

Disbiose intestinal: ocasionada pela ingestão elevada de açúcares, proteínas e gorduras e baixa
de fibras e água. Além disso, alguns fatores externos, como estresse, hipocloridria, intoxicação por
agrotóxicos, processados, industrializados e metais pesados, uso abusivo de álcool e de cigarro,
assim como uso indiscriminado de alguns fármacos, como antiobióticos, anti-inflamatórios,
antiácidos e corticoides, aumentam o risco de disbiose. Na gestação, a disbiose pode resultar no
rompimento da camada de células responsável pela absorção de nutrientes. O aumento no espaço
entre as células do revestimento permite que macromoléculas, fungos e bactérias caiam na corrente
sanguínea, provocando intoxicações.

Diante desse quadro, o organismo tem mais dificuldade de absorção e seletividade na utilização
de macronutrientes e micronutrientes essenciais ao bom desenvolvimento fetal e à qualidade de
vida do bebê.

Ressalto que as primeiras bactérias que irão colonizar o intestino da criança estão diretamente
correlacionadas àquelas do canal do parto, oriundas das fezes maternas e do meio ambiente do
nascimento. Toda a microbiota intestinal é construída de forma simbiótica, em equilíbrio com o
estilo de vida.

Em caso de disbiose, priorizamos o uso de probióticos específicos de cepas (Lactobacillus)


para reconstrução da microbiota intestinal.

Pica: refere-se à condição que algumas gestantes relatam a “vontade” de ingerir substâncias
não alimentícias, como gelo, terra, tijolo, cravo e sabão. Ainda não se sabe o porquê de esse sinal
acontecer em algumas mulheres. Pesquisadores acreditam as que têm esse sintoma apresentam
algum tipo de carência nutricional.

Outras queixas, sinais e sintomas comuns na gestação normal são: gastrite, dificuldade de
digestão, eructações, refluxo, aumento ou diminuição do apetite, sede, alteração do paladar e
sensibilidade olfativa, desejos e aversões alimentares, sialorreia (salivação excessiva), fraquezas,
tonturas, desmaios, epistaxe (sangramento nasal), dor abdominal, cólicas, flatulência, corrimento
e infecções vaginais, queixas urinárias, falta de ar e dificuldade para respirar, dornas mamas, dor
lombar, cefaleia, sangramento nas gengivas, varizes, câimbras, cloasma gravídico (manchas no
rosto) e estrias.

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2.4. Cuidados na gestação
Vacinação: toda gestante deve ser vacinada. Muitas vezes, a mulher não se vacinou antes da
concepção e deve aproveitar o momento gestacional para se imunizar. Alguns tipos de vacinas
beneficiam o neonato por meio da transferência de anticorpos via transplacentária e via leite
materno, o que melhora a resistência imunológica do lactente.

De rotina, as vacinas obrigatórias são dupla adulto - dT (difteria e tétano), caso a gestante não
tenha tomado ou se tomou a última dose há mais de cinco anos, e da gripe (Influenza), que pode ser
tomada em qualquer fase da gestação. Outras vacinas, como contra a hepatite tipo B, podem ser
administradas, dependendo da situação e de indicação médica. As vacinas contra rubéola, sarampo,
caxumba, varicela, HPV, rotavírus e febre amarela são proibidas, pois podem causar malformações
e afetar o desenvolvimento fetal.

Tintura de cabelo: não há estudos que comprovem FIGURA 14 – Vacinas na gravidez


que o uso de tintura de cabelo ou produtos que alisam o
cabelo interfira no desenvolvimento físico-mental do feto.
Algumas substâncias encontradas neles, como amônia,
benzeno e formol, poderiam causar malformações. Por
isso, na prática, muitos médicos orientam as mães a usar
apenas após o primeiro trimestre da gestação. Alguns
estudos mostram que tinturas com enxofre poderiam
estar associadas a desenvolvimento de tumores em Fonte: Jovanmandic/iStock
crianças do nascimento até os dois anos de idade.

Cuidados com a pele: a gestante deve dar preferência para sabonetes neutros e suaves. É
importante usar cremes hidratantes para aumentar a elasticidade da pele e evitar o aparecimento
de estrias, que ocorrem em 90% das mulheres no sexto e sétimo meses da gravidez. A utilização de
fotoprotetores (fator de proteção 15) também é essencial, já que na gravidez ocorre hiperpigmentação
da pele, causada pelo excesso de depósito de melanina (aumento de 70%) na epiderme, favorecendo
o aparecimento de manchas – principalmente a partir da 20ª semana de gestação.

Cuidados com a higiene bucal: na gestação, o pH da saliva diminui, favorecendo o aparecimento


de gengivites (principalmente no terceiro trimestre) e aumentando o número de microorganismo
que causam cáries (Streptococcus mutans). A gengivite e as cáries podem ser evitadas com boa
higiene oral, diminuição de consumo de doces e suplementação com vitamina C. A infecção da

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gengiva pode estar associada ao parto prematuro e ao baixo peso de nascimento (≤ 2.500 g). A
gestante deve, portanto, fazer um acompanhamento com o cirurgião-dentista durante a gravidez.

QUADRO 2 - Planejamento odontológico para a gestante

Objetivos Educar a gestante sobre as doenças bucais, sua prevenção e suas implicações
sistêmicas e sobre o desenvolvimento dental da criança.
Primeiro Exame odontológico para conhecer as condições bucais, conscientizando sobre a
trimestre importância da higiene bucal e sobre as alterações que podem ocorrer durante a
gravidez. Salientar a importância de escovar os dentes após as refeições, uso diário de
fio dental e uso de pasta dental fluoretada.
Procedimentos de rotina, incluindo profilaxia dental devem ser realizados.

Procedimentos eletivos devem ser evitados nesse período porque os órgãos e sistemas
do feto estão se desenvolvendo, estando mais susceptíveis a influências externas.
Também existe um risco maior de aborto espontâneo nesta etapa.
Segundo Reforçar e motivar a gestante para os cuidados com a higiene bucal, checando os
trimestre cuidados domésticos praticados.
Monitorar alterações na cavidade bucal.

Tratamentos odontológicos necessários podem ser realizados com relativa segurança


nesta fase.
Orientar a futura mãe sobre a higiene bucal do futuro recém-nascido e sobre os fatores
de risco para cárie (dieta, evitar oferecer mamadeira com açúcar, evitar assoprar ou
provar a papinha, não beijar na boca etc).
Terceiro Dependendo da paciente e dos cuidados de higiene doméstica, pode ser necessário
trimestre realizar nova profilaxia.
Lembrar que neste período o volume do útero pode dificultar o atendimento
odontológico (hipotensão postural), exigindo cuidados para a postura correta da
gestante na cadeira odontológica.
Fonte: Zugaib e Ruocco (2005).

Cuidados com a higiene vaginal: na gestação, há um aumento do fluxo vaginal, alterando o pH


e aumentando o risco de infecções do trato urinário. Por isso, a mulher deve evitar usar roupas
apertadas na gravidez, calcinhas com tecidos elásticos, protetores de calcinha e ducha vaginal.

Uso de medicamentos: 50% das malformações congênitas provocadas por agentes ambientais
têm origem no uso inadequado de medicamentos durante a gestação, seja por ação direta da
droga no feto ou por sua passagem para o leite materno. Muitos medicamentos apresentam papel
importante na teratogenicidade, ou seja, na má formação do feto (anormalidades estruturais e
funcionais). Portanto, a automedicação não deve ser realizada em momento algum durante o período

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gestacional. A FDA (Food and Drug Administration), em 1980, classificou os medicamentos para
utilização na gestação em cinco grupos (CARMO;NITRINI, 2004):

A - Não apresentam risco para os fetos em estudos controlados em mulheres.

B - Não há estudos controlados em humanos e estudos em animais não indicam risco.

C - Estudos em animais mostram efeito teratogênico. Não há estudos com mulheres.

D - Evidências positivas de risco para fetos humanos, mas em algumas situações a


utilização é necessária, apesar do risco.

X - Causam anormalidades fetais em estudos com animais e humanos; proibidos


durante a gestação.

QUADRO 3 – Grupos de medicamentos

Categoria A

Ácido fólico, liotironina, retinol A, levotiroxin, piridoxina, vitamina D3.

Categoria B

Acebutolol, cromoglicato Na+, naloxona, acetilcisteína, dietilpropiona, nedocromil, ácido fusídico,


etambutol, nistatina, ácido nalidíxico, famotidina, nitrofurantoína, ambroxol, fenoterol, ondansetrona,
Aine, fentanilo, oxitrópio, ß-lactâmicos, fluoxetina, paracetamol, macrolídeos, glucagon, piperacilina,
sulfonamidas, granisetrona, piperazina, anfotericina B, indometacina, piridostigmina, aztreonam,
ipratrópio, praziquantel, bromexina, lactulose, probenecida, calcitonina, levamisol, quinina,
carbocisteína, loperamida, ranitidina, ciproeptadina, loratadina, salbutamol, cisaprida, meperidina,
sucralfato, clindamicina, metoclopramida, terbutalina, clorfeniramina, metronidazol, terfenadina,
clotrimazol, morfina, vasopressina.

Categoria C

AAS, dantrolene, midazolam, acetazolamida, dextrometorfano, milrinona, aciclovir, diazóxido,


neomicina, ácido folínico, difenidramina, neostigmina, ACTH, digoxina, nifedipino, adenosina,
droperidol, nitrofurazona, albendazol, edrofônio, omeprazol, amantadina, etossuximida, pamoato
de pirantel, amicacina, fenilefrina, pamoato de pirvínio, aminofilina, fisostigmina, paramomicina,
amiodarona, flumazenil, peniciloilpolilisina, anfetamina, furazolidona, pentamidina, imidazólicos,
azóis, furosemida, pilocarpina, quinolonas, gentamicina, pirazinamida, astemizol, griseofulvina,
pirimetamina, atenolol, haloperidol, pralidoxima, atropina, heparina, primaquina, bacitracina,
hidralazina, procainamida, betacaroteno, hidrato de cloral, procaína, betanecol, hidroxizina,
prometazina, bromocriptina, ferro, propafenona, captopril, homatropina, propranolol, carbamazepina,
idoxouridina, protamina, catecolaminas, imipenem/cilastatina, quinidina, ciclosporina, insulina,
rifampicina, clomipramina, lindano, teofilina, clonazepam, manitol, tiabendazol, clonidina, meclicina,
tolazolina, cloramfenicol, metildopa, vancomicina, cloroquina, metilfenidato, vecurônio, clorpromazina,
mexiletina, verapamilo, codeína, isoniazida, corticoesteroides, isossorbida, cotrimoxazol, caulim
pectina, crotamiton, lidocaína.

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Categoria D

Amitriptilina, espironolactona, pentobarbital, azatioprina, estreptomicina, primidona, benzodiazepinas,


fenitoína, procarbazina, bleomicina, fenobarbital, propiltiouracilo, ciclofosfamida, 5-fluouracilo,
propiltiouracilo, cisplatina, hidroclorotiazida, tetraciclinas, citarabina, imipramina, tiopental, clobazam,
canamicina, triantereno, clorambucil, mebendazol, valproato, clorazepato, meprobamato, vinblastina,
cortisona, mercaptopurina, vincristina, daunorrubicina, metadona, zidovudina, doxorrubicina,
metotrexato, enalapril, penicilamina.

Categoria X

Acenocumarol, gonadotrofina coriônica, warfarina, ganciclovir, podofilina.

Fonte: Adaptado de FDA, 2012.

Exercício físico: a prática de exercício na gravidez deve ser analisada. O exercício moderado é
recomendado com orientação médica e supervisão de instrutor especializado. Ele não aumenta o
risco de aborto espontâneo, parto prematuro ou contratilidade uterina. Alguns trabalhos mostram
que as mulheres que fazem exercício na gravidez têm mais possibilidade para o parto vaginal,
menor tempo de trabalho de parto, menor necessidade de anestesia e fórceps e menor risco de
complicações nas cesáreas.

Os maiores riscos do exercício na gestação são a hipertermia e a desidratação, que podem ser
evitadas com uma boa reidratação. A hipertermia materna pode induzir efeitos teratogênicos no
feto, com alguma malformação, principalmente no primeiro trimestre da gestação.

Os benefícios do exercício nesse período estão associados com bem-estar físico e mental
(diminuição do estresse, aumento de elasticidade e flexibilidade, melhor recuperação no pós-parto
e melhor controle do peso corporal). Bebês nascidos de mulheres que fizeram atividade física na
gestação, principalmente durante o terceiro trimestre, têm uma redução de 200-400 g no peso
de nascimento. Em algumas situações, o exercício na gravidez pode ser contraindicado: anemia,
arritmias, bronquite, asma, sangramento vaginal, hipertensão, crescimento intrauterino retardado,
placenta prévia, incompetência istmocervical, gestação múltipla, trabalho de parto pré-termo e
perda de líquido amniótico.

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QUADRO 4 - Contraindicação para a prática de atividade física durante a gravidez

Absolutas Relativas

Aborto habitual – trabalho de parto prematuro Anemia - coagulopatias

Diabetes mellitus descompensado Antecedente de parto prematuro

Doenças cardíaca ou pulmonar Baixo peso materno (IMC <12)

Epilepsia Arritmia cardíaca

Gestações múltiplas Bronquite crônica

Incompetência istmocervical Diabetes mellitus não controlado

Infecções - amniorrexe Doença da tireoide descompensada

Placenta prévia ou de inserção baixa Doenças osteoarticulares

Restrição do crescimento intraútero atual Hipertensão arterial

Sangramento vaginal ativo Obesidade mórbida

Fonte: Zugaib e Ruocco (2005).

QUADRO 5 - Benefícios da atividade física durante a gravidez

Manutenção do desempenho cardiovascular.

Redução da lombalgia.

Prevenção de excessivo ganho de peso.

Melhora ou manutenção da boa postura corporal.

Redução da intolerância à glicose gestacional.

Facilitação da recuperação pós-parto.

Prevenção de varizes.

Redução da incontinência urinária pós-parto vaginal (Kegels).

Melhor perfil psicológico – redução do estresse.

Fonte: Zugaib e Ruocco (2005).

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Fisioterapia: avaliação postural, cinesioterapia, massagem perineal, massagem terapêutica e
relaxamento são indicados na gestação. A fisioterapia ajuda a diminuir dores lombares e pélvicas,
câimbras, incontinência urinária e queixas respiratórias e sexuais comuns na gestante. A massagem
perineal, indicada a partir da 34ª semana de gestação, diminui a necessidade de episiotomia e o
índice de lacerações perineais, cesáreas e fórceps.

Acupuntura: visa aliviar as dores e proporcionar melhor qualidade de vida à gestante, levando
ao equilíbrio físico e emocional. É um método seguro para a grávida e para o feto, não tem efeitos
colaterais e é efetiva. As indicações são: analgesia, relaxamento muscular, sedativo, antidepressivo,
antiemético, anti-inflamatório, imunidade, dispneia, insônia, desconfortos gástricos, entre outros.

Adoçantes artificiais: o risco desses produtos dá-se pelo consumo indiscriminado e excessivo.
O uso deve ser bem avaliado e apenas ocorrer com indicação. O ganho de peso excessivo e a
presença de diabetes são situações em que o uso deve ser considerado. Sacarina deve ser evitada.
Estudos mostram que ela tem alto potencial carcinogênico e é altamente permeável na placenta.
Dessa forma, esse adoçante pode permanecer acumulado nos tecidos fetais. O sorbitol também
não é recomendado por aumentar a excreção de cálcio, facilitando a formação de cálculo renal. A
estévia não é recomendada pela ADA (American Dietetic Association) devido à falta de dados da sua
segurança. O ciclamato monossódico apresenta resultados controversos. Estudos experimentais
mostram haver ação transplacentária (passagem da mãe para o feto), alterações cromossômicas
e diminuição de peso dos embriões. O aspartame (quando a mãe não apresentar fenilcetonúria), o
acessulfame-K e a sucralose parecem ser bem tolerados pelo feto.

Cafeína: o consumo de café e bebidas à base de cafeína (refrigerantes à base de cola e guaraná
e chás preto, mate, branco e verde), se feito de forma moderada (até três xícaras ao dia = 300 mg/
dia), não apresenta riscos de aborto, restrição de desenvolvimento fetal ou malformação congênita
associada ao consumo excessivo dessa substância. Apesar dessa dosagem segura, vale ressaltar
que o excesso de cafeína interfere na absorção do ferro, diminuindo-a em 35%.

Dirigir veículos: o Código de Trânsito brasileiro não proíbe a gestante de dirigir, mas alerta que
os cuidados devem ser redobrados, já que qualquer infração pode ser um fator de risco grande para
a saúde da mãe e do feto. Ajustar o cinto de segurança ao tamanho da barriga, dar preferência para
o cinto de três pontos, evitar longos percursos por causa do inchaço dos pés e dirigir em baixa
velocidade são alguns dos cuidados necessários. Segundo a Associação Brasileira de Medicina
de Tráfego (Abramet, 2003), a gestante deve evitar dirigir a partir da 36ª semana de gestação, após

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longo período de jejum, quando estiver muito quente e sem hidratação adequada, quando os pés
estiverem muito inchados e na presença de intercorrências como náuseas, câimbras, risco de
abortamentos e hemorragias.

Viagens aéreas: toda gestante pode viajar de avião desde que não apresente nenhum problema
de saúde previamente identificado. Se a gravidez for de até 27 semanas, ou até 25 semanas no
caso da gemelar, não é necessário apresentar nenhum atestado médico para viajar. Com 28 a 36
semanas, a gestante deverá preencher uma declaração de responsabilidade fornecida pela companhia
aérea e apresentar um atestado médico que autorize a viagem. A partir de 37 semanas, a viagem
aérea poderá ocorrer apenas na presença do médico responsável por ela. No pós-parto, não existe
restrição para a mãe, mas o recém-nascido só poderá viajar após sete dias do nascimento. Alguns
cuidados são importantes: usar meias elásticas, deixar as pernas para cima, não ficar muito tempo
sentada, fazer alimentação branda e evitar alimentos e bebidas que aumentam a flatulência, beber
bastante líquido.

2.5. Direitos da gestante e do bebê, aspectos legais e políticas públicas


Ao longo dos anos, o Ministério da Saúde vem criando leis e políticas públicas que garantam
os direitos da gestante e do bebê. Em 2011, a Unicef e o Ministério da Saúde criaram o Guia dos
Direitos da Gestante e do Bebê, com o intuito de fortalecer o controle social.

Toda gestante tem direito a pré-natal de qualidade, parto humanizado e assistência de qualidade
para ela e para o bebê. As gestantes devem conhecer e exigir seus direitos. Esses direitos são
ligados à saúde na gravidez, às leis trabalhistas e aos direitos sociais.

Os bebês têm ainda o direito de receber gratuitamente as vacinas do calendário básico de


vacinação, mamar exclusivamente no peito durante os seis primeiros meses de vida, ter uma família
e conviver com a comunidade, viver em um lugar limpo, ensolarado e arejado, em ambiente afetuoso
e sem violência.

As principais políticas públicas que garantem o direito à saúde de gestantes, parturientes e


recém-nascidos são:

• Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal;


• Política Nacional de Atenção Integral à Mulher;
• Política de Atenção Integral à Saúde da Criança.

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3. ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA GESTAÇÃO
As 40 semanas que envolvem o período gestacional diferem em seus aspectos fisiológicos,
metabólicos e nutricionais, e muitas são as alterações que ocorrem na dinâmica do corpo da mulher.
Por esse motivo, ajustes no metabolismo proteico, dos carboidratos e lipídeos são necessários
para garantir o maior aporte de calorias e nutrientes necessários ao desenvolvimento fetal, sem
prejudicar a saúde da mãe. Vale ressaltar que a maioria das mudanças ocorridas nessa fase tendem
a desaparecer após o parto.

A gestante, desde o início da gestação, deve estar com bom estado nutricional para seguir com
uma gestação sem riscos. Mulheres que na fase pré-gestacional estão com baixo peso ou sobrepeso
e obesidade merecem atenção especial.

As principais alterações metabólicas que ocorrem no período gestacional são:

• Taxa metabólica basal: aumenta de 15% a 20% a partir do terceiro mês, pois há um considerável
aumento das funções renais e cardíacas.
• Metabolismo dos carboidratos: aumento considerável da glicemia, pois há grande utilização
de glicose pelo feto.
• Metabolismo dos lipídios: ocorre aumento de ácidos graxos livres no sangue, assim como de
lipídios séricos em geral.
• Metabolismo de proteínas: há uma importante diminuição da concentração de aminoácidos
e proteínas no sangue, causando edema.

As adaptações metabólicas da gestação têm o objetivo de promover ganho de peso corporal,


armazenamento de gordura, resistência à insulina, hemodiluição, hiperlipidemia, cetose e fome
aumentada. Elas aumentam a utilização de glicose, levando à hipoglicemia e, por isso, deve-se
evitar períodos de jejum muito longos.

Em termos metabólicos, é possível dividir a gravidez em duas fases: anabólica e catabólica.


Na primeira fase, anabólica materna, com duração até próximo da 27ª semana de gravidez, há
predominância de depósito de gordura no tecido adiposo materno, enquanto o gasto calórico do
concepto é baixo. Na segunda etapa, catabólica materna, tem início o período mais acelerado de
crescimento fetal, com máximo gasto calórico pelo feto. Ocorre queima dos estoques de gordura
como fonte calórica, além de aumento da passagem de glicose da mãe para o feto. O aumento de
ácidos graxos no plasma produz energia suplementar suficiente para o gasto materno, com reserva
de glicose e outros nutrientes para o feto.

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O pâncreas da mãe tem função moduladora do aporte de glicose ao feto. É possível observar
hiperplasia das células pancreáticas por estímulo dos esteroides sexuais, provocando hiperglicemia.
Na fase catabólica materna, o metabolismo materno é incentivado pelos hormônios da placenta,
gerando resistência à ação da insulina, aumento da glicemia e hiperestimulação pancreática.

A produção de glicose pelo fígado materno tem aumento de 16% a 30% em relação aos valores
não gravídicos. Apesar de a produção e utilização da glicose estar acelerada no final da gravidez, é
observada hipoglicemia materna por provável aumento do consumo fetal, mediado pela placenta.

Os nutrientes atravessam a barreira placentária passando do sangue materno para o sangue


fetal por diferentes mecanismos: difusão simples, difusão facilitada, transporte ativo, endocitose
e ultrafiltração.

Oxigênio, gás carbônico, vitaminas lipossolúveis, ácidos graxos, hidratos de carbono com baixo
peso molecular (inferior a 1.000), eletrólitos e água atravessam a placenta por difusão simples, com
passagem dos nutrientes do meio mais concentrado para o meio menos concentrado.

Os carboidratos, principalmente a glicose, atravessam a placenta por difusão facilitada mediada


por transportadores, que aumentam a velocidade de transporte. Aminoácidos, ferro, cálcio, iodo,
fosfato e vitaminas lipossolúveis são levados para o feto por transporte ativo através de um
transportador, contra o gradiente de concentração, com gasto de energia.

Moléculas grandes de proteína, lipoproteínas, fosfolipídios e imunoglobulina G são transportados


por endocitose pela invaginação da membrana que engloba os nutrientes. A água e seus solutos
passam rapidamente por ultrafiltração.

3.1. Custo energético


O custo energético da gestação é necessário para o crescimento e o desenvolvimento do feto.
A síntese de tecidos maternos e o gasto metabólico aumentam devido à maior atividade de vários
sistemas e do metabolismo fetal. Dessa forma, há um aumento do consumo de oxigênio durante
a gestação, aumentando o gasto energético no período gestacional.

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TABELA 2 - Componentes extras de consumo de oxigênio na gravidez

Aumento do consumo de O2
Fonte de Aumento nas semanas de
Custo estimado Consumo (ml/min)
energia extra gestação
Semanas de gestação
Débito 10 20 30 40 (ml O2/min) 10 20 30 40

Débito Aproximadamente
cardíaco 1,0 1,5 1,5 1,5 20 L a 4,5 L/min; 4,5 6,8 6,8 6,8
(litros/min) aumento pro rata
Respiração 1,0/litro de
0,75 1,50 2,25 3,00 0,8 1,5 2,3 3,0
(litros/min) ventilação
Musculatura
140 320 600 970 3,7/kg 0,5 1,2 2,2 3,6
uterina (g)
Placenta (g)
3,3/100 g de peso
Úmida 20 170 430 650 0 0,5 2,2 3,7
seco
Seca 2 17 65 110
Feto (g) 5 300 1500 3400 3,65/kg 0 1,1 5,5 12,4
Mamas (g) 45 180 360 410 3,3/kg 0,1 0,6 1,2 1,4
Rins (mEq
de Na 7 7 7 7 1,0 mEq 7 7 7 7
reabsorvido)
Total ml/min 12,9 18,7 27,2 37,9
Fonte: Adaptado de Hytten (1980).

Os fatores que determinam o custo adicional energético da gestação são:

• Quantidade de energia necessária para o ganho de peso gestacional (associado ao acréscimo


de proteína e gordura nos tecidos maternos, fetais e placentários).
• Aumento do gasto energético associado ao incremento da taxa metabólica basal.
• Atividade física.
• Constituição da reserva energética para o período de lactação.

Hytten (1999) estima o custo energético da gestação em aproximadamente 80 mil a 85 mil


calorias (± 300 kcal/dia) para uma gestação de 40 semanas, com médias de ganho de peso total
da gestante de 12,5 kg, peso do recém-nascido de 3 kg, depósito de gordura de 3.825 g e depósito
de proteína de 925 g. Dessas calorias, 36 mil são necessárias para o armazenamento de 3,5 kg de
gordura, e 35 mil, para o metabolismo basal excedente da gestante. Tais valores podem variar de
mulher para mulher, de acordo com características nutricionais, constituição corporal e grupo étnico.

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TABELA 3 - Custo energético cumulativo da gravidez

Equivalente (kcal/dia) por semanas de gravidez Total cumulativo


0-10 10-20 20-30 30-40 (kcal)

Proteína 3,6 10,3 26,7 34,2 5,186


Gordura 55,6 235,6 207,6 31,3 36,329
Consumo de oxigênio 44,8 99,0 148,2 227,2 35,717
Total líquido de energia 104,0 344,9 382,5 392,7 77,234
Energia metabolizável
114 379 421 322 84,957
(energia líquida total + 10%)
Fonte: Adaptado de Hytten (1980).

FIGURA 15 - Custo energético cumulativo da gravidez e seus componentes

80.000
70.000
60.000 Manutenção
50.000
(Kcal)

40.000
30.000
20.000 Gordura
10.000
Proteína
0 10 20 30 40
Semanas de gravidez
Fonte: Hytten (1980).

Segundo a Food and Agriculture Organization (FAO, 2004), o custo energético não é homogêneo
durante os três trimestres gestacionais. O aumento da taxa metabólica basal (TMB) intensifica-se
na ordem de 5%, 10% e 25% no primeiro, segundo e terceiro trimestres, respectivamente. O custo
energético total foi estimado em 77 mil calorias, com custo estimado de 85 kcal/dia (primeiro
trimestre), 285 kcal/dia (segundo trimestre) e 475 kcal/dia (terceiro trimestre). Essa elevação ocorre
principalmente devido a aumento do peso, maior produção hormonal e aumento do consumo de
oxigênio. O acúmulo estimado de proteína também foi menor, em torno de 600 g.

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TABELA 4 - Depósito tecidual estimado na gestação, em mulheres com ganho
de peso gestacional médio de 12 kg, por trimestre gestacional

Taxa de depósito tecidual

Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trimestre Depósito total


(g/dia) (g/dia) (g/dia) (g/280 dias)

Ganho de peso 17 60 54 12.000

Depósito de
0 1,3 5,1 597
proteínaª
Depósito de
5,2 18,9 16,9 3.741
gorduraª
ª Depósito de proteína e gordura estimado a partir de estudos longitudinais de composição corporal durante a
gestação, com valor energético estimado de 5,65 kcal/g de proteína depositada e 9,25 kcal/g de gordura depositada.
Fonte: Accioly, Saunders e Lacerda (2012).

A gestante deverá repor essa energia com a dieta para atender às necessidades de calorias e
nutrientes, preservando o estado anabólico e o balanço nitrogenado positivo do período gestacional.
Caso contrário, haverá catabolismo proteico e da gordura para suprir a energia necessária e
disponibilizar aminoácidos para síntese materna e crescimento fetal.

O acúmulo de gordura e o aumento da síntese proteica começam no início da gestação, quando


a secreção dos hormônios lactogênio placentário, prolactina e cortisol ainda estão baixos. O ganho
de peso adequado será o principal indicador da adequação da ingestão calórica.

3.2. Metabolismo proteico


A gestação promove um ganho aproximado de 1 kg de proteína, equivalente a 5 kg de massa
corporal magra, que está relacionada com feto, placenta, útero e mamas. O armazenamento de
proteínas ocorre no segundo e no terceiro trimestres na ordem de 20% e 80%, respectivamente.

Quanto ao metabolismo das proteínas, há maior exigência de aminoácidos pelo aumento da


síntese tecidual, tanto do feto quanto da mãe. A insulina, por ser um facilitador no transporte de
aminoácidos para o interior das células, eleva-se, estimulando a síntese proteica. Por consequência,
ocorre diminuição dos níveis plasmáticos de aminoácidos. Devido à hemodiluição, há redução das
proteínas plasmáticas, principalmente albumina, o que justifica o surgimento de edema na gestante.

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As proteínas poderão ser utilizadas como fonte FIGURA 16 – Proteínas
energética, quando os estoques de glicogênio
hepático estão depletados, sendo degradadas em
aminoácidos, que irão produzir glicose e ácidos
graxos quando há baixo consumo energético ou
proteico e aumento de cortisol e ACTH ou quando
são consumidas em grandes quantidades. Podem
também produzir glicose e gordura induzidas
pela insulina, considerada o principal hormônio Fonte: bit245/iStock
anabólico.

3.3. Metabolismo dos carboidratos


O consumo da glicose na gestante também é maior, devido ao alto consumo que o feto requer
para seu crescimento. Esse aumento acontece principalmente após a 10ª semana de gestação. A
glicose é extraída rapidamente da circulação materna e transferida por difusão facilitada ao feto, já
que a glicemia fetal é cerca de 20 mg menor do que a materna. Com isso, ajustes no metabolismo
materno dos carboidratos fazem-se necessários, como a menor utilização periférica de glicose
(cerca de 40% a 50% no terceiro trimestre), associada à menor sensibilidade tecidual à insulina (40%
a 70%). A glicemia da gestante tende a cair mais facilmente – daí a importância de não permanecer
em jejum por muito tempo, já que o feto continua a requerer a mesma quantidade de glicose mesmo
durante o jejum materno.
FIGURA 17 – Carboidratos

A primeira metade da gestação é caracterizada


pelo aumento da sensibilidade à insulina e pela
diminuição da glicemia basal, principalmente após
muito tempo em jejum. Nesse período, conhecido
como fase anabólica, o estrogênio e a progesterona
estimulam o depósito de gordura e a produção
hepática de glicogênio por ação da insulina.
Fonte: egal/iStock

A segunda metade, ou fase catabólica, é caracterizada pelo aumento da resistência periférica à


insulina e da secreção de insulina pelo pâncreas em 130% a 200%. O aumento de hormônio lactogênio
placentário (hPL), adrenalina, cortisol, prolactina e estrogênio eleva a lipólise, a glicogenólise e a
gliconeogênese, favorendo a hiperglicemia.

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3.3. Metabolismo lipídico
O metabolismo lipídico também se modifica durante a gestação. O objetivo é poupar a glicose
para o consumo fetal acelerado e para o sistema nervoso materno. Hormônios como adrenalina,
glucagon, hPL, estrogênio e progesterona agem mobilizando a gordura corporal, promovendo lipólise e
cetogênese. Para o metabolismo da mãe, aumentam as concentrações plasmáticas de ácidos graxos,
triglicerídios, colesterol, lipoproteínas, apolipoproteínas,
FIGURA 18 – Lipídeos
lipídeos totais e fosfolipídeos circulantes principalmente
na segunda metade da gestação. A concentração de
colesterol aumenta 50%, e a de triglicerídios tende a
triplicar na circulação materna. A fração LDL tem seu
pico na 36ª semana da gestação, e a HDL, por volta da
25ª semana, com consequente queda até a 32ª semana.

Com relação ao depósito de gordura, são armazenados


Fonte: JulijaDmitrijeva/iStock
11%, 47% e 42% no primeiro, segundo e terceiro trimestres,
respectivamente.

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4. NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA GESTANTE
O estado nutricional adequado na gestação diminui o risco de morbimortalidade da mãe e do
bebê. A gestante tem necessidades nutricionais específicas, e a alimentação equilibrada garante
o sucesso e o bom prognóstico da gravidez.

Um ótimo estado nutricional está relacionado com manutenção da saúde materna, controle
do peso corporal, manutenção dos estoques maternos, reserva de gordura para lactação, melhor
prognóstico no parto e no pós-parto, diminuição das complicações pré e pós-parto, maiores chances
de nacimento de bebês saudáveis com peso, crescimento e desenvolvimento normais e diminuição
da morbidade e da mortalidade infantil.

O estado nutricional precário pode levar a alterações fetais (retardo do crescimento intrauterino,
mortalidade fetal, baixo peso de nascimento, parto prematuro, malformações fetais e complicações
no parto) e maternas (desnutrição, obesidade, anemias, diabetes gestacional, hipertensão, pré-
eclampsia e eclampsia).

A gestação, em decorrência das alterações já citadas, implica aumento das necessidades


nutricionais, tanto em termos energéticos e proteicos quanto dos demais nutrientes, a fim de atender
às necessidades requeridas para o desenvolvimento fetal, a formação de estruturas maternas
durante a gestação (placenta, útero, glândulas mamárias e sangue), assim como a constituição de
depósitos energéticos da mãe utilizados durante o parto e lactação.

Os requerimentos nutricionais nessa fase são mais qualitativos do que quantitativos, pois a
proporção de aumento para proteínas, vitaminas e minerais é significativamente mais elevada
quando comparada com a energia. Se a gestante apresentar menores reservas nutricionais, há um
maior risco de o feto e o recém-nascido apresentarem déficit do desenvolvimento neurocognitivo,
malformações congênitas, prematuridade, ganho de peso ou comprimento insuficientes, levando
ao nascimento de crianças pequenas para a idade gestacional (PIG).

Portanto, a desnutrição proteico-calórica e as deficiências de ferro, iodo, vitamina A e folato,


principais problemas nutricionais na gestação, deverão ser avaliados com base no impacto que exercem
não somente no organismo da gestante como também no do feto e do recém-nascido. É importante
ressaltar que a obesidade, problema emergente em países desenvolvidos e subdesenvolvidos,
também é responsável por importantes alterações no binômio gestante/feto ou recém-nascido.

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4.1. Recomendações energéticas
A gestante deve atender a suas necessidades energéticas e nutricionais e ter um equilíbrio
entre a ingestão de alimentos e o gasto calórico para satisfazer as necessidades fisiológicas do
período gestacional, visando à manutenção da nutrição e da saúde maternas e ao crescimento e
desenvolvimento intrauterino ideal do feto.

O aumento do aporte energético é necessário para satisfazer as necessidades da mãe e do


feto impostas por aumento da TMB, formação de tecidos, reservas para lactação e necessidades
energéticas do feto (± 56 kcal/kg/dia), fornecendo os nutrientes necessários e impedindo a utilização
das reservas maternas.

As necessidades energéticas variam de acordo com o peso pré-gestacional, a quantidade e


composição do ganho de peso, o estágio da gravidez, o nível de atividade física e a taxa metabólica
basal (aumentada em cerca de 15% a 20%, quando a gestação é única).

Caso o aumento da demanda energética não seja suprido, alterações hematológicas e imunológicas
podem comprometer o desenvolvimento do feto. O oposto também é válido, ou seja, se a gestante
ingerir muito além das calorias necessárias, obesidade e alterações nas taxas de glicose no sangue
irão ocorrer, prejudicando a saúde fetal.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1973, considerou um aumento de 150 kcal para o
primeiro trimestre e 350 kcal para o segundo e o terceiro (FAO, 1973). Em 1985, a revisão da OMS
(FAO, 1985) recomendava aumento de 285 kcal/dia na ingestão calórica durante todo o período
gestacional e 200 kcal/dia para as gestantes com atividade física reduzida.

Posteriormente, foi observado que o aumento efetivo da ingestão calórica deveria ocorrer a partir
do segundo trimestre. Até então, o importante não é o consumo das calorias totais, e sim a condição
nutricional da mãe antes da gestação. No entanto, a partir desse período, deve haver aumento das
calorias ingeridas. O National Reserch Council (1989) recomendou adicionar 300 calorias por dia a
mais à dieta normal no segundo e terceiro trimestres.

Em 2002, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos reavaliou a necessidade calórica adicional
da gestação e propôs aumento de 340 kcal/dia no segundo trimestre e um adicional de 450 kcal/
dia no terceiro (IOM, 2002a). Novos estudos da FAO (2004) recomendam a adição de 85 kcal, 285
kcal e 475 kcal/dia no primeiro, segundo e terceiro trimestres, respectivamente. Caso a gestante

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comece o acompanhamento nutricional no segundo trimestre, a recomendação é somar o custo
dos dois trimestres e adicionar 360kcal/dia.

Há diferentes métodos para se estimar a quantidade de energia necessária durante a gestação.


Destacam-se aqui as recomendações da OMS (FAO, 1985) e da RDA (NRC, 1989) e as novas
recomendações da FAO (2004) e as Dietary Reference Intakes, ou DRIs (IOM, 2002a, 2005).

a) Cálculo da recomendação FAO (1985)


VET = TMB x ATF + CG
TMB = 14,7 x P(kg) + 496 (18 a 30 anos)
8,7 x P(kg) + 829 (30 a 60 anos)
P = PPG ou teórico (IMC 22) ou estimado
ATF = 1,56 (leve)
1,64 (moderada)
1,82 (intensa)
VET = valor energético total.
TMB = taxa metabólica basal.
ATF = atividade física.
CG = custo energético gestacional.
P = peso.
PPG = peso pré-gestacional.

b) Cálculo da recomendação RDA (NRC, 1989)


PPG ideal* x 36kcal + CG
O peso pré-gestacional ideal pode ser determinado pelo IMC.

c) Cálculo da recomendação FAO (2004)


VET = GE + CG
GE = TMB x NAF
TMB = 14,818 x P(kg) + 486,6 (18 a 30 anos)
TMB = 8,126 x P(kg) + 845,6 (30 a 60 anos)
P = PPG ou teórico (IMC 21), ou aceitável (IMC entre 18,5 a 24,9).
NAF = 1,40-1,60 (média 1,53) - estilo de vida sedentário ou leve.
ATF 1,70-1,99 (média 1,76) - estilo de vida ativo ou moderadamente ativo
ATF2,00-2,40 (média 2,25) - estilo de vida vigoroso ou moderamente vigoroso
VET = valor energético total.

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GE = gasto energético.
TMB = taxa metabólica basal.
NAF = nível de atividade física.
CG = custo energético da gestação.
P = peso.
PPG = peso pré-gestacional.

QUADRO 6 - Classificação do nível de atividade física

Categoria NAF – Nível de Atividade Física

Estilo de vida Indivíduos que não caminham longas distâncias, geralmente usam veículo para
sedentário ou leve transporte, não praticam exercício ou esportes regularmente e gastam a maior
parte do tempo de lazer sentados ou parados, com pouco deslocamento.

Indivíduos com ocupação que envolve mais gasto energético que os descritos para
Estilo de estilos sedentários.
vida ativo ou
Pessoas com atividade ocupacional sedentária e que praticam regularmente
moderadamente
atividades físicas moderadas a vigorosas, durante parte da rotina diária. Por
ativo
exemplo, indivíduos que praticam diariamente 1 h de exercício moderado, tais como
corrida, ciclismo ou atividade aeróbica.

Estilo de vida Indivíduos que realizam trabalhos intensos ou atividades de lazer intensas por
vigoroso ou várias horas. Mulheres com ocupação não sedentária que dançam ou nadam uma
moderadamente média de 2 h por dia, ou trabalhadores rurais que usam equipamentos manuaus por
vigoroso várias horas ao dia e caminham longas distâncias, muitas vezes carregando peso.

Fonte: FAO (2004 apud ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2012).

d) Cálculo da recomendação energética segundo as novas DRIs (2002a, 2005):


EERgestação = EERpré-gestacional+ CG + energia necessária para depósitos
Primeiro trimestre = EERpré-gestacional + 0 + 0
Segundo e terceiro trimestres = EERpré-gestacional + (8 kcal x IG em semanas) +
180 kcal
OU
EERgestação = EERpré-gestacional + CGM
CGM primeiro trimestre = 0
CGM segundo trimestre = 340 kcal
CGM segundo trimestre = 450 kcal

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e) EERpré-gestacional para mulheres de 19 a 50 anos
EER=354- (6,91 x idade em anos) + ATF x (9,36 x peso em kg + 726 x estrutura em
metros) para 30 anos; < 30 = + 7 kcal/ano; > 30 = - 7 kcal/ano
ATF = 1,00 (sedentária)
1,12 (pouco ativa)
1,27 (ativa)
1,45 (muito ativa)
EER = requerimento energético estimado.
ATF = atividade física.
CG = custo energético da gestação.
CGM = custo médio energético da gestação.
IG = idade gestacional.

4.2. Recomendações de macronutrientes

4.2.1. Recomendações de carboidratos

Os carboidratos são uma importante fonte de energia obtida pelos seres humanos em suas
dietas. Esse nutriente é amplamente consumido por todas as células dos órgãos e tecidos humanos.
Preferencialmente, é consumido por células metabolicamente ativas, como neurônios, fibras
musculares (esquelética e cardíaca) e hemácias. Além disso, são macronutrientes poupadores de
proteínas e ativadores metabólicos para os lipídios. Os carboidratos também desempenham papel
importante na síntese de nucleotídeos presentes no DNA/RNA.

Há atualmente várias classificações propostas para os carboidratos que levam em consideração


fatores como tamanho da molécula, origem, biodisponibilidade no organismo humano, velocidade
de digestão e absorção e sua metabolização pelo organismo.

Classificação dos carboidratos pela quantidade de carbonos na molécula

Os carboidratos biodisponíveis são classificados de acordo com a quantidade de carbonos na


molécula. São divididos em monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos.

a) Monossacarídeos

Moléculas formadas por um único monômero (molécula básica considerada como carboidrato
e formadora de moléculas maiores). Os monossacarídeos presentes na dieta são glicose, frutose e

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galactose. Apesar de a glicose ser o carboidrato consumido em maior quantidade e estar presente
em basicamente todos os alimentos que são fonte desse macronutriente, dificilmente é encontrada
na sua forma isolada nos alimentos, pois geralmente é formadora de moléculas maiores. A frutose
é amplamente encontrada nas frutas e no mel. A galactose também é uma molécula formadora de
outras moléculas e é encontrada nos laticínios e em alguns vegetais, como o feijão.

b) Dissacarídeos

Os dissacarídeos são carboidratos formados de dois monossacarídeos. Os mais encontrados


na alimentação são:

• Maltose: formada por duas moléculas de glicose. A maltose geralmente é formada a partir
da hidrólise parcial do amido, mas também está presente em alguns cereais, como o malte.
• Sacarose: molécula formada a partir da ligação entre glicose e frutose. A sacarose é encontrada
na cana-de-açúcar e, portanto, é componente do açúcar de mesa refinado. Também é encontrada
no mel e em algumas frutas.
• Lactose: dissacarídeo formado pela ligação de glicose e galactose. É o carboidrato encontrado
no leite e derivados.

c) Oligossacarídeos

Moléculas que possuem na sua constituição de três a nove monossacarídeos. Apesar de


existirem diversos oligossacarídeos na natureza, a maioria não é digerida pelo organismo humano,
por isso são classificados como carboidratos não disponíveis. A maioria deles podem também ser
classificados como fibras, em decorrência de suas características fisiológicas.

Alguns exemplos de oligossacarídeos são inulina, rafinose, estaquiose, polidextrose e fruto-


oligossacarídeo. A maltodextrina é o único oligossacarídeo biodisponível no organismo humano.

d) Polissacarídeos

São classificadas como polissacarídeos as moléculas formadas por no mínimo dez


monossacarídeos, mas também podem incluir milhares de monômeros. O polissacarídeo usualmente
encontrado na alimentação é o amido, presente em tubérculos e cereais. Há também vários outros não
digeridos presentes em vegetais, como celulose, hemicelulose, pectina, arabinoxilanas, b-glucanas,
glucomananas, gomas e mucilagens. O glicogênio é um polissacarídeo de origem animal responsável
pelo estoque de carboidratos do organismo. É encontrado no músculo esquelético e no fígado.

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Classificação pelo tempo de digestão e absorção

Os carboidratos possuem tempo diferente de digestão, absorção e liberação sanguínea de glicose,


de acordo com seu tamanho, origem e matriz alimentar. Os monossacarídeos e dissacarídeos possuem
rápida digestão e absorção, por isso, são considerados carboidratos simples. Os polissacarídeos
podem apresentar tempo de digestão rápido ou prolongado, dependendo das características do
alimento.

Cereais refinados passam por um processo de beneficiamento onde a casca e a parte fibrosa são
retiradas do grão integral. Por isso, o grão refinado é facilmente mastigado, e o amido, rapidamente
hidrolisado pelas enzimas digestórias, possuindo rápida absorção. Dessa forma, alimentos ricos
em amido que são ingeridos ou produzidos por cereais refinados são considerados carboidratos
simples. Também entram nessa classificação tubérculos sem casca ou com pouca quantidade de
fibras na sua composição. Exemplos: pão branco, macarrão, arroz, batata cozida sem casca.

Os grãos integrais possuem um tempo prolongado de digestão, pois a presença de casca


nesses grãos dificulta a hidrolização do amido pelas enzimas digestórias. Dessa forma, depois de
mastigados e deglutidos, permanecem longo tempo no estômago em contato com o ácido clorídrico,
responsável pelo enfraquecimento das fibras, facilitando a digestão do amido no intestino delgado.
Esses polissacarídeos associados a fibras possuem longo tempo de digestão e absorção, dessa
forma, são denominados carboidratos complexos. Exemplos: arroz integral, batata-doce, alimentos
confeccionados com trigo integral.

Fontes alimentares

As principais fontes alimentares dos carboidratos compreendem o grupo dos cereais e tubérculos,
as leguminosas, as raízes, as frutas e os açúcares.

• Cereais - 70-80% (arroz, trigo, milho, centeio, cevada, aveia, quinoa, chia, amaranto).
• Leguminosas - 60-65% (feijão, ervilha, soja, grão-de-bico, lentilha).
• Raízes e tubérculos - 20-30% (batata, mandioca, batata-baroa, batata-doce, yacon, inhame, cará).
• Frutas - 5-10% / 10-20% / +20%.
• Vegetais - 5-10% / até 5% (legumes/verduras).
• Açúcares - 80-100% (açúcar, xarope, mel, melado).

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Recomendações nutricionais

A ingestão diária de carboidratos para indivíduos saudáveis deve alcançar 45% a 75% do valor
calórico total, dependendo do indivíduo e do estado fisiológico e patológico.

Essa distribuição de carboidratos na dieta pode variar de acordo com a referência, como descrito
na tabela:

TABELA 5 - Distribuição percentual de macronutrientes na dieta

DRIs (2002a) WHO/FAO (2003) Phillipi et al. (1999)


Carboidratos 45-65% 55-75% 50-60%
Proteínas 10-35% 10-15% 10-15%
Lipídios 20-35% 15-30% 20-30%
Fonte: Elaborado pela autora

Recomendações de carboidrato na gestação

Os carboidratos são a principal fonte de energia para o feto, por isso, a gestante deve aumentar o
consumo deles. As DRIs (2002a, 2005) recomendam o acréscimo de 45 g/dia, mantendo a distribuição
de 45% a 65% do total calórico da dieta.

A gestante deve consumir os alimentos fonte de carboidrato em todas as refeições, a cada três
horas, para manutenção da glicemia. Ela deve dar preferência ao consumo de alimentos complexos
e de baixo índice glicêmico, evitando a hiperglicemia, o pico de insulina e o efeito rebote.

4.2.2. Recomendações de lipídios

Os lipídios possuem diversas funções no organismo. Os triacilgliceróis possuem função energética


(1 g de ácido graxo = 9 kcal). Podem ser utilizados para fornecer energia para as células, mas também
são os principais estoques de energia do organismo. Os ácidos graxos insaturados possuem funções
sinalizadoras e desencadeiam diversas reações metabólicas no organismo, além de formarem a
bainha de mielina. O colesterol possui diversas funções, como formação de membranas celulares,
componente dos sais biliares e precursor de hormônios sexuais (envolvidos com fertilidade) e da
vitamina D. Os fosfolipídios são os principais componentes da membrana celular, formadores da
bicamada lipídica, componentes dos sais biliares e das lipoproteínas. A gordura corporal possui

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função protetora, pois atua como isolante térmico e físico, e aquela localizada na região abdominal
promove a proteção das vísceras.

Os lipídios podem ser classificados de acordo com sua estrutura química da seguinte forma:

a) Lipídios simples: moléculas formadas de ésteres de ácidos graxos com álcool


(triacilglicerol e ceras).
b) Lipídios compostos: ésteres de ácidos graxos (AG) contendo outros grupos além do álcool
e do AG, como fosfolipídios, glicolipídios, sulfolipídios, lipoproteínas e lipopolissacarídios.
c) Lipídios derivados: substâncias precursoras e derivadas dos lipídios (ácidos graxos,
glicerol, esteróis, corpos cetônicos, hormônios, vitaminas lipossolúveis e hidrocarbonetos).

O principal composto lipídico encontrado na alimentação é o triacilglicerol, uma molécula


composta de três ácidos graxos ligados a um glicerol. Também são componentes dos lipídios o
colesterol e os fosfolipídios.

Ácidos graxos

Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos compostos de radical carboxila e uma cadeia carbônica
de quantidade de carbonos variável, ao longo da qual estes podem fazer ligações simples ou duplas
com outros carbonos. Podem ser classificados pelo grau de saturação com o hidrogênio, pela
posição da primeira dupla ligação e pelo tamanho da cadeia de carbonos.

Classificação dos ácidos graxos pelo grau de saturação

Os ácidos graxos que apresentam apenas ligações simples ao longo da cadeia carbônica são
denominados saturados (caproico, caprílico, cáprico, láurico, mirístico, palmítico, esteárico). Os que
possuem uma ligação dupla ao longo de sua cadeia são denominados monoinsaturados (oleico).
Aqueles que possuem duas ou mais ligações duplas em sua cadeia carbônica são denominados
poli-insaturados (linoleico, linolênico, aracdônico, eicosapentaenoico, docosa-hexanoico).

Classificação dos ácidos graxos de acordo com a posição da primeira dupla ligação

Dependendo da posição da primeira dupla ligação, os ácidos graxos possuem funções diferentes
e podem ser do tipo ômega 3, 6 ou 9.

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Classificação dos ácidos graxos pelo tamanho da cadeia

Os ácidos graxos podem apresentar tamanhos diferentes de acordo com a quantidade de


carbonos na sua cadeia. Podem ser classificados como ácidos graxos de cadeia curta, média,
longa ou muito longa.

• Cadeia curta: dois a quatro carbonos.


Ex.: ácido acético, propiônico e butírico (formado por bactérias intestinais a partir da fermentação
de fibras).

• Cadeia média: 6 a 10 carbonos.


Ex.: ácido láurico, cáprico e caprílico (encontrados no óleo de coco).

• Cadeia longa: 12 a 18 carbonos.


Ex.: ácido palmítico, esteárico (encontrados nas gorduras animais), oleico (encontrado no azeite
de oliva), linoleico (encontrado nos óleos vegetais) e linolênico (encontrado na linhaça).

• Cadeia muito longa: acima de 20 carbonos.


Ex: ácido araquidônico (gorduras animais), eicosapentanoico e docosa-hexanoico (encontrado
nos óleos de peixe).

Essa classificação é proposta pois se sabe que o metabolismo do ácido graxo varia de acordo
com o seu tamanho. Temos como exemplo os de cadeia média, facilmente digeridos, absorvidos
e transportados pelo sangue sem a necessidade de lipoproteínas.

Gorduras trans

Os ácidos graxos trans são obtidos por meio do processo de hidrogenação dos ácidos graxos
poli-insaturados para obtenção de margarinas, cremes vegetais e gordura vegetal hidrogenada.
Atualmente, discutem-se os malefícios da ingestão crônica de gordura trans pelo organismo, a
partir de muitos estudos publicados. Alguns dos efeitos nocivos da ingestão dessas gorduras são:

• Possui ação pró-inflamatória e imunossupressora.


• Promove agregação plaquetária.
• Aumenta colesterol total e LDL.
• Diminui HDL.
• Aumenta a resistência à insulina.
• Pode promover o câncer de mama.

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Fontes alimentares

Os lipídios são componentes de quase todos os alimentos encontrados na natureza. Estão


presentes em produtos de fonte animal, como carne, leite e ovos, assim como em vegetais, como
grãos, sementes e castanhas. Apesar da grande variedade de alimentos que possuem lipídios
na sua constituição, a propriedade dessa gordura presente em cada um pode variar de acordo
principalmente com sua origem. Dessa forma, atualmente, as principais fontes alimentares de
gordura são divididas em dois grupos: as de gordura saturada (gordura de origem animal) e as de
gordura insaturada (óleos vegetais).

Gordura saturada

As principais fontes alimentares de gordura saturada são os alimentos de origem animal. Estes
também se destacam por serem fontes de colesterol na nossa alimentação. Há apenas alguns
alimentos de origem vegetal ricos em gorduras saturadas (coco, cacau e óleo de palma). Dentre
as existentes, destacam-se na nossa alimentação como principais componentes lipídicos o ácido
palmítico (16:0) e o ácido esteárico (18:0), presentes na carne de vitela, frango (principalmente na
pele) e porco e no leite de vaca.

Gorduras insaturadas

Os alimentos ricos em gordura do tipo insaturada são geralmente de origem vegetal: soja,
azeitona e sementes em geral. Entretanto, podemos encontrar gordura insaturada, especialmente o
ácido linolênico, um ácido graxo poli-insaturado do tipo ômega-3, em peixes provenientes de águas
geladas e profundas, como o salmão e o atum. As fontes alimentares de gordura insaturada podem
ainda ser divididas em dois subgrupos: alimentos fontes de ácidos graxos monoinsaturados (oliva,
abacate, óleo de canola e palma, nuts e açaí) e poli-insaturados (óleos vegetais – girassol, soja,
milho, canola, açafrão, algodão, gergelim).

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Ácidos graxos do tipo trans
FIGURA 19 – Gordura trans
Como já mencionamos, os ácidos graxos trans são
obtidos pelo processo de hidrogenação dos ácidos graxos
poli-insaturados. Portanto, as principais fontes alimentares
dessas gorduras são as margarinas e os alimentos
industrializados que levam no seu preparo gordura vegetal
hidrogenada (bolachas, sorvetes, chocolate, tortas, empadas,
bolos industrializados, salgadinhos etc.). Fonte: gemredding/iStock

Colesterol

O colesterol está presente apenas nos alimentos de origem animal, como carnes, leite e ovos.
Porém sua quantidade pode variar de acordo com cada alimento, a região de proveniência e a forma
de criação dos animais.

Recomendações nutricionais

A ingestão diária de lipídios para mulheres adultas deve estar entre 15% e 35% do valor
calórico total da dieta (VET). Essa distribuição pode variar de acordo com a referência, como
descrito na tabela:

TABELA 6 - Distribuição % dos lipídios em relação ao VET

DRIs (2002ª, 2005) WHO/FAO (2003) Phillipi (1999)


Lipídios 20-35% 15-30% 20-30%
Fonte: Elaborado pela autora.

4.2.3. Recomendações de lipídios

A gestante pode manter a distribuição de consumo de gorduras na gestação. Porém é importante


aumentar o consumo de ácidos graxos ômega 6 e ômega 3 para 13 g/dia e 1,4 g/dia, respectivamente,
além de uma ingestão mínima de 200 mg a 400 mg/dia de DHA.

Ela deve evitar o consumo de alimentos que contenham gordura do tipo trans.

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4.2.4. Recomendações de proteínas

As proteínas são nutrientes construtores (estruturais) responsáveis por formação, crescimento e


reparo tecidual. Estão envolvidas em formação da massa muscular, síntese de hormônios, enzimas,
anticorpos, receptores e transportadores celulares e sanguíneos. São também componentes das
membranas celulares e podem ainda fornecer energia (aproximadamente 4 kcal/g).

As proteínas podem ser classificadas de acordo com sua estrutura ou função biológica. Pela
classificação estrutural, são divididas em dois grupos: simples e conjugadas. As proteínas simples
são aquelas formadas apenas por aminoácidos e podem ser fibrosas (colágeno, elastina, actina,
miosina) ou globulares (caseína, anticorpos, enzimas, hormônios, albumina, mioglobina, globulinas).
As conjugadas são aquelas que apresentam na sua estrutura, além de aminoácidos, uma substância
não proteica, como lipoproteínas, glicoproteínas e fosfoproteínas.

De acordo com sua função biológica, podem ser divididas em diferentes grupos:

• Estrutural - colágeno (tecido conjuntivo), queratina (cabelos, unhas).


• Contrátil - actina, miosina (contração muscular).
• Regulatória - receptores hormonais.
• Transporte sanguíneo - hemoglobina (oxigênio), albumina (AGL).
• Transporte celular - FABP (AGL), Glut (glicose).
• Hormônios - insulina, glucagon, GH.
• Catalítica – enzimas.
• Protetora - anticorpos, interleucinas, TNF.
• Armazenadora – ferritina.

As proteínas são polímeros de aminoácidos, que representam a unidade monomérica daquelas.


A ligação de dois aminoácidos forma os dipeptídeos; três, os tripeptídeos; até 30, os oligopeptídeos
e até cem, os polipeptídeos ou peptídeos. As proteínas são formadas pela junção de mais de cem
aminoácidos agrupados em uma ou mais cadeias polipeptídicas. Exemplos: insulina (51 aa, duas
cadeias) e hemoglobina (574 aa, quatro cadeias).

Os aminoácidos

Como dito anteriormente, as proteínas são formadas a partir da combinação de aminoácidos. Nos
alimentos, são encontrados 20 tipos de aminoácidos que serão utilizados para a síntese protéica.
O que vai diferenciar uma proteína da outra é a sequência de organização deles.

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Os aminoácidos são classificados em essenciais ou não essenciais. Dos 20 aminoácidos
encontrados nos alimentos, 8 são essenciais, ou seja, não são sintetizados: triptofano (Trp), lisina
(Lis), treonina (Tre), fenilalanina (Fen), metionina (Met), leucina (Leu), isoleucina (Iso) e valina (Val).
Estes três últimos também são chamados de BCAA (branched-chain amino acids – aminoácidos
de cadeia ramificada).

Os outros 12 aminoácidos não essenciais, produzidos no organismo, são: glicina (Gli), alanina
(Ala), serina (Ser), cisteína (Cis), tirosina (Tir), histidina (His), aspartato (Asp), asparagina (Asg), arginina
(Arg), prolina (Pro), glutamato (Glu) e glutamina (Gln). São FIGURA 20 – Aminoácidos
essenciais a arginina em crianças e a histidina em lactentes.

Desses aminoácidos não essenciais, oito são considerados


condicionalmente essenciais, dependendo do estado
fisiológico e das condições metabólicas: glicina (Gli), serina
(Ser), cisteína (Cis), tirosina (Tir), histidina (His), arginina (Arg),
prolina (Pro) e glutamina (Gln).

Fontes alimentares Fonte: theasis/iStock

Os alimentos proteicos fazem parte do grupo de alimentos construtores, no qual podemos


incluir carnes, ovos, laticínios, oleaginosas e leguminosas. Embora outros alimentos contenham
proteína na sua composição, como os cereais, eles não são considerados proteicos. Esse grupo
deve representar aproximadamente 20% da dieta (12% laticínios, 2% leguminosas, 6% carnes).

A quantidade de proteína encontrada nos alimentos é bastante variável (100 g):

• Leite/iogurte = 3 g.
• Queijos = 10 g.
• Carnes = 20-30 g.
• Ovo = 12 g (1 unidade = 6 g).
• Gema = 16 g (1 unidade = 2,4 g).
• Clara = 11 g (1 unidade = 3,85 g).
• Leguminosas = 7 g.
• Arroz/macarrão = 5 g.
• Pão = 10 g.

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Qualidade das proteínas

Além do aspecto quantitativo, outro ponto importante é a avaliação da qualidade da proteína,


caracterizada pelo seu valor biológico, que se refere à capacidade do alimento em suprir todos os
aminoácidos essenciais.

Os alimentos proteicos de origem animal (carnes, ovos, laticínios) são de alto valor biológico
(proteína completa), pois fornecem todos os aminoácidos essenciais em quantidade e qualidade
adequadas. Os de origem vegetal (cereais, leguminosas) são de baixo valor biológico (proteína
incompleta), fornecendo apenas alguns aminoácidos essenciais e sendo, portanto, deficientes em
outros (principalmente lisina e metionina). Porém as proteínas vegetais podem tornar-se completas,
de alto valor biológico, ao serem combinadas (exemplo: cereais + leguminosas, cereais + oleaginosas).
Dessa forma, para a dieta vegetariana obter todos os aminoácidos essenciais, ela deve conter 60%
de cereais, 35% de leguminosas e 5% de vegetais.

É também importante observar a biodisponibilidade das proteínas, que se refere à capacidade


de absorção dos aminoácidos obtidos pela digestão das proteínas ingeridas.

A avaliação da qualidade e da digestibilidade das proteínas da dieta é realizada pela proporção


entre as kcal fornecidas pelas proteínas líquidas (utilizáveis) e as kcal totais (NDpCal). O cálculo é
feito da seguinte forma:

PTN líquida = PTN bruta x NPU


NPU = utilização PTN líquida (animal = 0,7 / leguminosa = 0,6 / cereal = 0,5)
NDpCal = NpCal x 100/VET
NpCal = total PTN líquida x 4 kcal
NDpCal ideal = ≥ 5≤ 12

Recomendações nutricionais

A necessidade proteica depende da fase do desenvolvimento, do estado fisiológico, do aporte


energético da dieta, da complementação entre proteínas e da frequência e quantidade de ingestão.

A FAO (1985) recomenda a ingestão de 0,75 g/kg (ou 1 g/kg/dia, corrigidos pela digestibilidade).
A RDA (NCR, 1989) e as DRIs (2002a, 2005) recomendam 0,8 g/kg/dia.

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A distribuição percentual ideal de proteína em relação ao VET é de 10% a 15%, segundo a WHO/
FAO (2003), e 10% a 35%, pelas DRIs (2002a, 2005). Essa distribuição pode ser mantida para as
gestantes.

Recomendações de proteínas na gestação

Em gestantes, a ingestão protéica deve aumentar, em razão da sua alta contribuição para a
formação e o crescimento dos tecidos maternos e fetais. A síntese proteica aumenta 1%, 15% e 25%
no primeiro, segundo e terceiro trimestres, respectivamente.

Em 1985, a FAO avaliou que a gestação aumenta a FIGURA 21 – Ingestão de


proteínas na gestação
necessidade de proteínas em 1,2 g, 6,1 g e 10,7 g/dia no
primeiro, segundo e terceiro trimestres, respectivamente.
Isso daria um acréscimo médio/dia no período gestacional
de 6 g. A RDA de 1989 recomenda a ingestão de 60 g diárias
na gestação, o que representa uma adição de 10 g/dia à
recomendação de 0,8 g/kg de peso pré-gestacional. Esses
estudos foram atualizados nas DRIs (2002a, 2005) para 71
g/dia, equivalentes a um acréscimo de 25 g/dia, ou 1,1 g/kg
de peso corporal pré-gestacional por dia. A FAO, em 2004,
também atualizou os valores de consumo de proteína na
gestação para 1,9 g e 31 g/dia no no primeiro, segundo e
terceiro trimestres, respectivamente. Isso daria um acréscimo
Fonte: triocean/iStock
médio/dia no período gestacional de 13,7 g.

Do consumo total de proteína da dieta, pelo menos 50% deve ser das de alto valor biológico.

4.3. Recomendações de micronutrientes


As vitaminas e os minerais, necessários em pequenas quantidades e essenciais ao organismo, são
micronutrientes que não contêm energia. Funcionam principalmente como substâncias reguladoras
nas reações que liberam energia a partir dos alimentos.

O termo “vitamina”, que significa amina vital (ou amina da vida), foi proposto por Casimir Fuks em
1912. As vitaminas são compostos orgânicos necessários em pequenas quantidades e desempenham

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funções vitais específicas nas células e nos tecidos. São nutrientes reguladores essenciais ao
organismo, e sua ausência ou deficiência resulta em enfermidades carenciais específicas.

A classificação das vitaminas é realizada, de acordo com sua solubilidade, em lipossolúveis


(solúveis em gordura) e hidrossolúveis (solúveis em água). As vitaminas lipossolúveis são A, D, E e
K, e as hidrossolúveis, as do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico, piridoxina,
ácido fólico, cianocobalamina, biotina, colina, inositol) e a vitamina C. Sua principal função é
a participação no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas e na produção de energia.
Participam também do crescimento e da formação dos ossos e dentes. São encontradas em frutas,
legumes, verduras, cereais integrais e leguminosas.

Os minerais são elementos inorgânicos necessários em pequenas quantidades, porém essenciais


ao organismo. Representam cerca de 4% da composição do corpo humano. São classificados de
acordo com a quantidade em que são encontrados no FIGURA 22 – Fontes de vitaminas
organismo: os macrominerais são aqueles encontrados
em quantidades maiores (> 0,005% do peso corporal),
e os microminerais, os com quantidades menores (<
0,005%). Os macrominerais são representados por cálcio,
cloro, enxofre, fósforo, magnésio, potássio, sódio. Já os
microminerais compreendem boro, cobalto, cobre, cromo,
estrôncio, ferro, germânio, lítio, manganês, molibdênio,
selênio, silício, vanádio e zinco.
Fonte: M_a_y_a/iStock

Dentre suas principais funções, estão composição estrutural, regulação do metabolismo,


manutenção do equilíbrio ácido-básico, manutenção da pressão osmótica, transporte celular e
crescimento. São encontrados principalmente em laticínios, carnes, cereais integrais, leguminosas
e também nas verduras escuras e nas frutas.

Necessidades

As recomendações de consumo de vitaminas e minerais são baseadas em estudos norte-


americanos, uma vez que não temos dados suficientes para avaliar as necessidades da população
brasileira. Essas recomendações são baseadas nas necessidades de 97,5% dos indivíduos saudáveis.

As Ingestões Dietéticas de Referência (IDRs), ou Dietary Reference Intakes (DRIs), do Food


and Nutrition Board do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, foram publicadas a partir de

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1998, substituindo as dez antigas recomendações (RDAs) do National Research Council. Elas
representam o conjunto de quatro valores de referência de ingestão de nutrientes criados tanto
para o planejamento quanto para a análise de dietas de indivíduos ou grupos saudáveis. São eles:
ingestão dietética recomendada (RDA), ingestão adequada (AI), necessidade média estimada (EAR)
e ingestão máxima tolerada (UL).

A necessidade média estimada (EAR) é o valor estimado de nutriente suficiente para atender
aos requerimentos nutricionais de 50% da população. É o menor nível contínuo de ingestão para
manter adequada a nutrição de um indivíduo. A medida é utilizada na avaliação da adequação da
ingestão de nutrientes em indivíduos e grupos e no planejamento de dietas para grupos.

A ingestão dietética recomendada (RDA) é calculada a partir da EAR (RDA = EAR + 2DP = 1,2EAR)
e deve atender aos requerimentos nutricionais de quase a totalidade (97% a 98%) dos indivíduos
saudáveis. Essa medida é utilizada no planejamento de dietas para indivíduos.

A ingestão adequada (AI) é utilizada no lugar da RDA quando não há suporte científico suficiente
para calcular a EAR. Portanto, baseia-se na observação ou na determinação experimental da
estimativa de ingestão de nutrientes por um determinado grupo de indivíduos saudáveis. Ou seja,
é uma sugestão de consumo (meta da ingestão). É utilizada no planejamento e na avaliação de
dietas para indivíduos e grupos quando a EAR não é conhecida.

A ingestão máxima tolerada (UL) é a quantidade máxima diária segura de ingestão. É o valor mais
elevado de ingestão diária de um determinado nutriente para que não cause prejuízo à saúde dos
indivíduos e da população em geral. É determinada a partir do aparecimento de efeitos adversos. É
calculada a partir do Noael (no observed adverse effect level) e do Loael (lowest observed adverse
effect level), que representam o maior nível de ingestão de um nutriente que não resultou em
nenhum efeito adverso e a ingestão mais baixa na qual um efeito adverso tenha sido identificado,
respectivamente. A utilização da UL não reverte obrigatoriamente em benefícios para a saúde, dessa
forma, não é um nível de ingestão recomendado. É usada na avaliação da adequação da ingestão
de nutrientes em indivíduos e grupos.

As recomendações são diferenciadas por idade, sexo e estado fisiológico. Porém as necessidades
nutricionais, que representam os valores fisiológicos individuais requeridos para satisfazer as funções
fisiológicas normais e prevenir sintomas de deficiências não podem ser avaliadas somente por
esses fatores. Outros, como peso, aporte calórico da dieta, enfermidades, exercício físico, fatores
ambientais e estilo de vida, também seriam necessários na avaliação.

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Tabela 7 - Recomendações dietéticas diárias de vitaminas e minerais para gestantes

< 18 anos 19 - 30 anos 31 - 50 anos

Cálcio (mg/d) 1.300 1.000 1.000

Ferro (mg/d) 27 27 27

Zinco (mg/d) 13 11 11

Cobre (µg/d) 1.100 1.100 1.100

Selênio (µg/d) 60 60 60

Vitamina B1 (mg/d) 1,4 1,4 1,4

Vitamina B2 (mg/d) 1,4 1,4 1,4

Vitamina B6 (mg/d) 1,9 1,9 1,9

Niacina (mg/d) 18 18 18

Ácido fólico (µg/d) 600 600 600

Vitamina A (µg/d) 750 770 770

Vitamina C (µg/d) 80 85 85

Vitamina E (µg/d) 15 15 15

Vitamina D (µg/d) 15 15 15

Vitamina K (µg/d) 75 90 90

Fonte: Adaptado das DRIs (IOM1997, 1998, 2000, 2001, 2005, 2011).

4.3.1. Recomendações de vitaminas

Em comparação às mulheres não gestantes, a necessidade da maioria das vitaminas é aumentada


na gestação.

Tabela 8 - Recomendações (RDA/AI) de vitaminas para mulher (não gestante) e gestante

Mulher Gestante EAR UL

A (mcg) 700 770 550 3000

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Mulher Gestante EAR UL

C (mg) 75 85 70 2000

D (mcg) 15 15 10 100

E (mg) 15 15 12 1000

K (mcg) 90 90

B1 (mg) 1,1 1,4 1,2

B2 (mg) 1,1 1,4 1,2

B3 (mg) 14 18 14 35

B6 (mg) 1,3 1,9 1,6 100

B9 (mg) 400 600 520 1000

B12 (mg) 2,4 2,6 2,2

B5 (mg) 5 6

Biotina (mcg) 30 30

Colina (mg) 425 450 3500

Fonte: Adaptado das DRIs (IOM1997, 1998, 2000, 2001, 2005, 2011).

Vitamina A

As formas químicas da vitamina A são retinol, ácido retinoico, retinaldeído e também os


carotenoides (pró-vitamina A). Dentre os 600 carotenoides encontrados na natureza, o β-caroteno
é o mais importante.

Suas principais funções estão relacionadas com:

• visão;
• crescimento e desenvolvimento ósseo e dentário;
• manutenção da integridade do tecido epitelial;
• proteção da pele, mucosas e olhos;
• imunidade;

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• reprodução;
• síntese de corticosteroides;
• cicatrização.

Na gestação, é importante para desenvolvimento fetal, regulação da proliferação e diferenciação


celular e manutenção da placenta. A vitamina A, como potente antioxidante, exerce papel importante
no nascimento. Nesse momento, o recém-nascido produz grandes quantidades de radicais livres em
decorrência da alta demanda de oxigênio, e o dano oxidativo é a principal causa de complicações
respiratórias em crianças.

Sua absorção é relativamente rápida, e 70-90% do total ingerido é absorvido, enquanto a pró-vitamina
tem absorção de 20-50%. Forma química, tamanho da partícula do alimento, presença de gordura e
quantidade de fibras no alimento (pectina) vão influenciar a absorção. Alguns fatores, como vitamina
E, proteínas, gorduras (3 g a 5 g por refeição) e cozimento, podem aumentar a biodisponibilidade
da vitamina A. Por outro lado, oxidação, luz, calor, altas temperaturas, hipercozimento, idade e
desidratação podem diminuir sua biodisponibilidade. Os vegetais amarelados têm absorção quatro
vezes maior que os verde-escuros.

Após a absorção no intestino delgado, a vitamina A liga-se a proteínas para ser transportada no
plasma. A utilização do retinol ocorre em fígado, rins, intestino, pele, entre outros, e o ácido retinoico
é o principal metabólito.

Na gestação, ocorre aumento da proteína de ligação ao retinol (RBP, sigla retinol-binding protein)
de para favorecer a tranferência para o feto. A transferência da vitamina A da mãe para o feto ocorre
principalmente a partir do terceiro trimestre da gestação. Isso implica baixo acúmulo da vitamina
A no recém-nascido.

A insuficiência de consumo na gestação leva a deficiência de vitamina A materna e menor reserva


hepática fetal e no recém-nascido, aumentando o risco de morte nos seis primeiros meses de vida
e de déficit de crescimento até os dois anos, com redução do peso e comprimento para a idade.

Alguns estudos mostram que a deficiência e o excesso de consumo podem estar associados
a defeitos congênitos e podem levar a abortos espontâneos e morte fetal, quando consumida em
doses maiores que 25 mil UI (7.000 mcg). Outros achados relacionados à deficiência de vitamina
A materna são de parto prematuro, sepse puerperal, anemia ferropriva e cegueira noturna, o que

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aumenta o risco de infecções, diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal, pré-eclampsia, eclampsia
e morte no primeiro ano após o parto.

A vitamina A é encontrada em alimentos de origem animal, e o β-caroteno (pró-vitamina A), em


vegetais. As principais fontes são: fígado, rim, óleo de fígado de bacalhau, peixes, manteiga, gema
de ovo, leite e derivados, folhas verde-escuras, brócolis, agrião, espinafre, cenoura, batata-doce,
abóbora, nabo, pêssego, melão, manga e mamão.

Vitamina D

A investigação da natureza química da vitamina D foi iniciada em 1924 por Steenbock e Hess,
mas ela só foi isolada em 1930. Pode ser sintetizada na pele e é essencial apenas em locais com
baixa exposição solar. Sua maior importância é a manutenção do cálcio e fósforo no soro.

As formas químicas naturais são o ergocalciferol (D2) e o colecalciferol (D3). Nos alimentos
fortificados, o ergosterol é utilizado. A forma ativa é o di-hidroxicalciferol – 1,25(OH)2D3. É sintetizada
na pele na forma de 7-de-hidrocolesterol e colecalciferol.

Suas principais funções estão relacionadas com:

• imunidade;
• reprodução;
• secreção de insulina ;
• absorção e reabsorção tubular renal de cálcio e fosfato ;
• crescimento e desenvolvimento ;
• formação de ossos e dentes.

O papel da vitamina D na imunidade é aumentar a proliferação e a função dos linfócitos e das


células natural killer.

A biodisponibilidade da vitamina D em carnes é 60% menor em relação aos suplementos. A


25-OH D é a forma mais biodisponível. O leite (lactoalbumina) e as AGLs aumentam sua absorção,
enquanto as fibras e o álcool diminuem.

Após a absorção, é metabolizada no fígado e, no rim, será hidroxilada até formar 1,25 (OH)2D3. A
depleção de cálcio aumenta a produção de vitamina D pelo rim. É excretada pela bile e pelos rins.

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A deficiência de consumo na gestação pode afetar FIGURA 23 – Fonte de vitamina D
o crescimento fetal e causar hipocalcemia e tetania no
recém-nascido. Na gestante, pode levar a ganho de peso
insuficiente e osteomalacia.

É encontrada nos óleos de peixe, carnes de boi, frango,


gema de ovo, fígado, leite, manteiga e nata. É estável a luz,
oxigênio, ácidos, calor, processamento e armazenamento
Fonte: DrGrounds/iStock
e instável à luz ultravioleta.

Vitamina E

A vitamina E foi descoberta inicialmente por Herbert Evans e Karen Bishop em 1922. Evans, Oliver
Emerson e Glady Emerson isolaram-na em 1936, e somente em 1938 foi identificada quimicamente
e denominada tocoferol por Fernholtz. Apresenta-se de diferentes formas químicas: tocoferóis (a,
b,g, δ), tocotrienóis (a, b, g, δ), acetato e succinato de tocoferol e tocoferil (forma oxidada).

Suas principais funções são:

• protege a vitamina A, os carotenos e a vitamina C dos alimentos da destruição oxidativa;


• antioxidante lipídico (previne a peroxidação de AGPI);
• protege as membranas celulares de vários tecidos da oxidação;
• aumenta a proliferação de linfócitos;
• inibe a agregação e a adesividade plaquetária pela diminuição da síntese de prostaglandinas
da série 2 (PGE2);
• previne doenças cardíacas e atua na fertilidade.

Quanto à sua biodisponibilidade, não há diferença entre suas formas na absorção. A gordura
aumenta a absorção, enquanto a vitamina A e o farelo de trigo (pectina) diminuem. Os ácidos
graxos poli-insaturados aceleram a depleção de vitamina E. Ésteres de vitamina E são hidrolisados
no intestino e, após a absorção, unem-se a uma proteína ligadora: a-TPP. É transportada por QMs,
VLDL e HDL.

A deficiência causa diminuição da vida média do eritrócito e desordens do SNC. Ela é comum
nas doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, câncer e catarata. Em superdoses, possui efeitos
tóxicos e prejudica a função imune. A hipervitaminose prolonga o tempo de coagulação sanguínea
e promove aumento de triglicerídeos.

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As principais fontes são germe de trigo, óleos, gema de ovo, fígado, vegetais verde-escuros,
gordura dos laticínios, manteiga, nozes, sementes e peixes. É estável ao calor e ácidos e destruída
por gorduras rançosas, oxigênio, chumbo, ferro e irradiação UV.

A suplementação é indicada para prematuros (hemólise), anemia hemolítica, ateroesclerose,


hipertensão, câncer, diabetes, artrite, tensão pré-menstrual, displasia mamária, envelhecimento e
esterilidade.

Vitamina K
A vitamina K foi descoberta em 1935 por Dam, mas só foi isolada em 1939. Suas formas químicas
são a filoquinona (K1), proveniente dos alimentos, a menaquinona (K2), proveniente das bactérias
intestinais, e a menadiona (K3), forma sintética da vitamina.

Funções da vitamina K:

• funciona como cofator enzimático de enzimas carboxilases;


• participa da coagulação sanguínea, sendo uma vitamina coagulante (anti-hemorrágica);
• regula a deposição do cálcio na matriz óssea.

Sua absorção é de aproximadamente 40% a 80%. Os alimentos de maior biodisponibilidade


são óleos, margarinas e produtos industrializados, enquanto os vegetais folhosos têm menor
biodisponibilidade. A vitamina K dos vegetais tem absorção 1,5 vezes mais lenta do que a sintética.
A menaquinona é produzida em altas quantidades, porém não é muito absorvida. A suplementação
com vitamina E diminui a vitamina K. FIGURA 24 – Fonte
de vitamina K
A vitamina K é absorvida no intestino através das micelas e levada
ao fígado pelos QMs. Circula no plasma por meio da VLDL e é distribuída
aos tecidos que contêm a enzima glutamilcarboxilase.

É encontrada em vegetais de folhas verdes (brócolis, repolho, alface,


couve-flor, espinafre, couve), outros vegetais, frutas, cereais, leite e
derivados, gema de ovo, carnes e fígado. Grande parte é formada pela
microbiota intestinal. É estável a calor, oxigênio e umidade e instável na
presença de álcalis e irradiação UV.
Fonte: a_namenko/iStock

O papel na gestação não é conhecido, mas os recém-nascidos são suscetíveis à deficiência,


que pode levar à doença hemorrágica do recém-nascido. Nesse caso, a suplementação é indicada.

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Vitamina C

O ácido ascórbico foi isolado em 1928 por Albert Szent-Gyorgyi. Pode ser encontrado na natureza
em duas formas biologicamente ativas: ácido ascórbico e de-hidroascórbico.

A ação da vitamina C engloba os seguintes pontos:

• cofator ou cossubstrato de diferentes enzimas;


• antioxidante;
• cofator na hidroxilação do aminoácido prolina, produzindo hidroxiprolina;
• fundamental na síntese do colágeno e essencial na renovação das fibras periodontais, evitando
instabilidade do dente e hemorragias periodontais;
• inibe o crescimento viral e protege contra a queda imunológica promovida pelo cortisol;
• participa da síntese de carnitina, corticoides, serotonina, adrenalina e noradrenalina;
• participa do catabolismo de aminoácidos;
• aumenta a absorção do ferro;
• desintoxicante;
• diminui o colesterol e melhora o processo de cicatrização.

A adequação de consumo na gestação é importante, pois a deficiência pode levar a parto


prematuro e pré-eclampsia. Há redução fisiológica de 10% a 15%, e as concentrações fetais são 50%
maiores que as maternas. Outras funções importantes na gestação são prevenção e tratamento
da anemia ferropriva e conversão da folacina em ácido tetraidrofólico.

A utilização de aspirina, álcool e anticoncepcionais orais diminui sua concentração. Poluição,


tabagismo, metais pesados e alimentação rica em pró-oxidantes aumentam a necessidade de
consumo de vitamina C.

As principais fontes são: acerola, salsa, caju, goiaba, pimentão, couve, agrião, morango, kiwi,
manga, amora, espinafre, limão e laranja. É rapidamente perdida em cocção dos alimentos, oxidação
e armazenamento. A elevada quantidade de flavonoides presente nas frutas diminui as perdas.

Vitamina B1

A tiamina foi inicialmente descoberta por Eijkman em 1897, mas só foi isolada em 1926 por
Jansen e Donath. Suas formas químicas são tiamina monofosfato (TMM) – 10%, tiamina pirofosfato
(TPP) – 80% e tiamina trifosfato (TTP) – 10%.

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Atuação da vitamina B1:

• participa como coenzima no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas;


• metabolismo energético;
• descarboxilação do piruvato a acetil-CoA;
• descarboxilação de aminoácidos;
• ciclo das pentoses;
• síntese de ácidos graxos e colesterol;
• síntese de DNA e RNA;
• síntese de acetilcolina.

É absorvida por transporte passivo e ativo (no jejuno e no íleo, sódio dependente ou não). É
levada ao fígado e captada pelos eritrócitos por difusão facilitada e outras células por transporte
ativo. Está presente em músculo esquelético (50%), coração, rim, fígado e cérebro. Seus metabólitos
são excretados na urina e em pequena quantidade pela bile.

As principais fontes são fígado de porco, vísceras, leguminosas, pães e cereais integrais, germe
de trigo e batatas. É instável a calor, oxigênio, UV e enxofre e estável ao calor em solução ácida.

Vitamina B2

As coenzimas da riboflavina são a flavina mononucleotídeo (FMN) e a flavina adenina


dinucleotídeo (FAD).

Dentre suas funções, podemos destacar transporte de hidrogênio, reações de oxirredução,


metabolismo energético, oxidação da glicose, ácidos graxos e aminoácidos, ativação da vitamina B6,
crescimento, formação das células vermelhas do sangue, gliconeogênese, conversão do triptofano
em niacina e antioxidante.

Devido à sua importante participação no metabolismo energético, a gestação aumenta as


necessidades de consumo da vitamina B2. Em estudos com animais, deficiências graves podem
estar associadas a baixo peso de nascimento, defeitos congênitos e morte fetal.

É absorvida pela porção proximal do intestino delgado por um transportador saturável dependente
de sódio, circula pelo plasma por meio da albumina e outras proteínas e é excretada pelos rins.

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As fontes são leite e derivados, vísceras, carnes, vegetais folhosos verdes, leguminosas,
oleaginosas, cereais e pães enriquecidos e ovos. Estável a calor, oxigênio e meio ácido e instável
à luz (UV) e álcalis. Oxida-se rapidamente pela exposição ao oxigênio.

Vitamina B3

A niacina apresenta-se de duas formas químicas: o ácido nicotínico e a nicotinamida. Suas


coenzimas são a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e a nicotinamida adenina dinucleotídeo
fosfato (NADP). Pode ser formada a partir do triptofano (60 mg triptofano = 1 mg niacina); a gestante
parece ter maior capacidade de conversão.

Suas principais funções são: aceptores de hidrogênio, metabolismo energético, síntese de


glicogênio e gordura, síntese de ácidos graxos, colesterol e esteróides, metabolismo de glicose,
ácidos graxos e aminoácidos, ciclo das pentoses, estímulo da produção de HCl e antidepressivo.

É absorvida pelo intestino delgado por difusão passiva, 30% é ligada a proteínas, é metabolizada
no fígado e excretada pelos rins.

Encontrada em fígado e vísceras peixes, carnes, aves, cereais integrais, ovos, amendoim e
amêndoa, leite, leguminosas, grãos enriquecidos e pimentão. Estável a calor, luz, oxidação, ácido
e álcalis.

Vitamina B6

A piridoxina é encontrada em três formas químicas: piridoxina, piridoxamina e piridoxal. As


coenzimas são o piridoxal fosfato (PLF) e o fosfato piridoxamina (PMP).

Tem importante participação no metabolismo das proteínas nas reações de transaminação,


desaminação, dessulfuração, descarboxilação e síntese proteica. É essencial na conversão do
triptofano a niacina. Participa também do metabolismo de carboidratos (glicogenólise - ativa o
glicogênio fosforilase) e metabolismo lipídico (síntese de ácido araquidônico a partir do linoléico). Atua
em sistema endócrino (receptores de estrógeno, progesterona, testosterona, cortisol), metabolismo
e função do eritrócito (ajuda na ligação do oxigênio), síntese de neurotransmissores (serotonina,
taurina, dopamina, norepinefrina, histamina e ácido aminobutírico) e sistema imunológico (proliferação
de linfócitos e produção de IL-2).

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Em gestantes, vem sendo muito utilizada na hiperêmese gravídica, quando as náuseas e vômitos
são persistentes. Está associada a melhora do índice de Apgar (teste de avaliação do recém-nascido).
A deficiência na gestação talvez esteja envolvida com oaixo peso ao nascimento e pré-eclampsia.
A concentração fetal é duas a cinco vezes mais alta que a materna.

Encontrada em porco, vísceras, farelo e germe FIGURA 25 – Fonte de vitamina B6


de trigo, leite, gema de ovo, farinha de aveia, cereais
integrais, leguminosas, banana, salmão, batata, abacate,
repolho, cenoura, vegetais verde-escuros. Estável a calor,
luz e oxidação; instável ao congelamento. As fibras,
os alimentos processados e os contraceptivos orais
diminuem a biodisponibilidade.

Vitamina B9
Fonte: 4nadia/iStock

O folato é também conhecido como vitamina M. Apresenta-se de diferentes formas químicas: o


ácido fólico, a folacina, o ácido pteroilglutâmico (PGA) e o ácido tetra-hidrofólico (THF), este último
o mais ativo.

Participa de síntese proteica, síntese de tiamina, formação de aminoácidos não essenciais,


formação e maturação de eritrócitos, crescimento, síntese do DNA e RNA (síntese de purinas e
pirimidinas), metabolismo de proteínas (conversão da homocisteína em metionina), metabolismo
relacionado ao da vitamina B12, metabolismo de lipídios (formação de colina).

A gestação aumenta as necessidades de ácido fólico, importante para síntese protéica, divisão
celular e formação do tubo neural, principalmente no primeiro trimestre. A formação do tubo neural
depende de um perfeito fechamento para formação da calota craniana e da coluna vertebral,
prevenindo os defeitos do tubo neural (DTN), como anencefalia, espinha bífida, lábio leporino, fendas
palatinas e alterações na síntese de DNA e cromossomiais.

As gestantes são propensas a desenvolver deficiência pela alta demanda desse nutriente
para o crescimento fetal, o que pode levar à anemia megaloblástica. A deficiência de folato pode
também estar associada a aborto espontâneo, pré-eclampsia, restrição de crescimento intrauterino,
hemorragia e malformações cardíacas e do trato genitourinário.

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A absorção ocorre no intestino delgado. O folato monoglutâmico é mais bem absorvido que a
forma poliglutâmica, e o transporte no plasma é feito por glicoproteínas. O folato é levado para as
células de medula espinhal, fígado, fluido cerebrospinal e túbulo renal. Os metabólitos são excretados
na urina e pequena porcentagem na bile.

A absorção é comprometida por fatores antinutricionais presentes nos vegetais e aumentada


na presença de zinco, glicose e galactose.

É encontrada em vegetais verde escuros, fígado, vísceras, carne bovina magra, trigo, ovos, peixes,
feijões secos, lentilhas, aspargos, brócolis, couve, espinafre, levedura, batata, laranja e banana.
Estável à luz solar em solução e instável ao calor em meio ácido.

Vitamina B12

A cianocobalamina possui duas formas ativas: metil e adenosil. É encontrada apenas em


alimentos de origem animal. É coenzima de duas enzimas presentes nas células de mamíferos:

• Metionina sintase: permite entrada do folato na célula, síntese de DNA e RNA nas células
(forma metil).
• Metilmalonil CoA mutase: converte ácido propiônico em ácido succinato (metabolismo de
lipídios) (forma adenosil).

Suas funções incluem formação de metionina, síntese de purinas, pirimidinas e DNA, duplicação
e diferenciação celular, catabolismo de aminoácidos, crescimento, formação e maturação dos
eritrócitos, síntese de proteínas, síntese da bainha de mielina, maturação das células epiteliais do
TGI, síntese de colina e oxidação de ácidos graxos.

A absorção depende do fator intrínseco produzido pelo estômago. É absorvida no íleo; nas
células intestinais, liga-se ao TC II, responsável pelo seu transporte no plasma. Metade da vitamina
B12 está no fígado. É excretada por apoptose celular em trato digestório, rim e pele. É reciclada,
podendo ser novamente reabsorvida.

Encontrada no fígado, rim, leite e derivados, carnes e ovos. Destruída por ácidos, álcalis, calor,
luz e oxigênio.

A deficiência causa anemia perniciosa e megaloblástica e defeitos no tubo neural.

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Vitamina B5

O ácido pantotênico participa da síntese de colesterol, fosfolipídios, triglicerídeos, hormônios


esteroides, porfirina (heme) e colina, síntese e oxidação de ácidos graxos e aminoácidos, formação
de acetilcolina e descarboxilação do piruvato. Sua coenzima é a coenzima A (CoA).

Não há estudos que mostrem doenças relacionadas a deficiência e toxicidade.

Gema de ovo, rim, fígado e leveduras são fontes excelentes, enquanto brócolis, carne bovina
magra, leite desnatado, batata-doce e melaço, satisfatórias. Parte é perdida no congelamento e no
cozimento.

Vitamina B7

A biotina ou vitamina H ou B7 é cofatora de enzimas da gliconeogênese, síntese e oxidação de


AGs, degradação de aminoácidos e síntese de purinas. É prontamente absorvida e produzida pela
microbiota intestinal.

As melhores fontes são rim, fígado, gema de ovo, soja e leveduras. Leite materno, nozes, peixe e
farinha de aveia são fontes satisfatórias, e carnes, vegetais, frutas e leite de vaca, pobres. A avidina
presente na clara de ovo crua impede sua absorção.

A deficiência de biotina causa síndrome da deficiência de carboxilas e deficiência múltipla


dependente de biotina.

4.3.2. Recomendações de minerais

Em comparação a mulheres não gestantes, alguns minerais têm necessidades aumentadas na


gestação.

Tabela 9 - Recomendações (RDA/AI) de minerais para mulher (não gestante) e gestante

Mulher Gestante EAR UL

Ca (mg) 1.000 1.000 800 2.500

Cr (mcg) 25 30

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Mulher Gestante EAR UL

Cu (mcg) 900 1.000 800 10.000

Fl (mg) 3 3 10

I (mcg) 150 220 160 1.100

Fe (mg) 18 27 22 45

Mg (mg) 320 350 300 350

Mn (mg) 1,8 2,0 11

Mo (mcg) 45 50 40 2.000

P (mg) 700 700 580 3.500

Se (mcg) 55 60 49 400

Zn (mg) 8 11 9,5 40

K (g) 4,7 4,7

Na (g) 1,5 1,5 2,3

Cl (g) 2,3 2,3 3,6

Fonte: Adaptado de DRIs (1997, 1998, 2000, 2001).

Cálcio (Ca)

O cálcio é o mineral mais abundante no organismo e representa aproximadamente 1% a 2%


do peso corporal (1.200g). A maior parte é encontrada em ossos e dentes (99%), e o restante, no
sangue, no fluido extracelular e nas células.

Participa de contração e relaxamento muscular, secreção de hormônios, transmissão nervosa,


divisão celular, transporte na membrana celular, regulação dos batimentos cardíacos e coagulação
sanguínea e é responsável por densidade mineral, rigidez e força óssea e dos dentes.

Na gestação, aproximadamente 25-30 g de cálcio são transferidos para o feto, principalmente


no terceiro trimestre. A deficiência no consumo pela mãe pode causar prejuízo no crescimento
e no desenvolvimento fetal, com menor densidade óssea nos neonatos, câimbras, contrações

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uterinas prematuras e parto prematuro. Alguns estudos mostram o papel do cálcio na prevenção
das síndromes hipertensivas da gestação.

As alterações fisiológicas da gestação favorecem a transferência de cálcio para o feto por


aumento da taxa de utilização do cálcio ósseo, inibição da reabsorção óssea, aumento da reabsorção
renal, aumento da absorção intestinal de até 54% (que garante as necessidades fetais) e aumento da
retirada de cálcio ósseo quando a ingestão é inadequada. Mesmo assim, as concentrações séricas
diminuem gradativamente durante a gestação, e a calcitonina preserva a massa óssea materna.

A suplementação com cálcio na gestação parece não alterar a massa óssea materna, mas pode
aumentar a densidade óssea fetal.

É absorvido no duodeno na forma de íon ou na forma quelada intacta (oxalacetato de cálcio e


carbonato de cálcio) de duas formas: transporte ativo saturável ou transporte passivo não saturável
dependente da concentração luminal. É excretado por fezes e urina (65-75%).

A biodisponilidade do cálcio é de 20-30%. Alguns fatores além da gestação podem aumentar


sua biodisponilidade: deficiência de cálcio e fósforo, lactação, exercício e presença de vitamina D.
A deficiência de vitamina D diminui a biodisponibilidade.

Outros fatores que inibem a absorção são ácido oxálico, ácido fítico, fósforo, fibras, gorduras
e proteínas. Estimuladores da absorção de cálcio são lactose, lactoalbumina, ácido ascórbico e
clorídrico. Sódio, cafeína, álcool e proteínas aumentam a excreção urinária, e a deficiência de magnésio
causa hipocalcemia. O excesso de cálcio diminui a biodisponibilidade de magnésio, ferro e zinco.

As principais fontes alimentares são leites e derivados, sardinhas, mariscos, ostras, peixes,
couve, folhas de mostarda, tofu, leguminosas, vegetais verde-escuros, algas, brócolis e gergelim.

Fósforo (P)

O fósforo é um componente celular disponível em todos os alimentos. Compreende 22% dos


minerais totais do organismo e representa 1% do peso corporal. A maior parte localiza-se nos ossos
e dentes (80%) e também nas células e fluido extracelular (20%).

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É o mais abundante ânion dentro das células, responsável por ativação e inativação de diversas
enzimas, formação de ossos e dentes, ativação da vitamina D nos rins e componente dos fosfolipídios,
ácidos nucleicos, membranas celulares, creatina fosfato e do ATP.

O desequilíbrio da relação Ca/P (1:1) com diminuição do cálcio pode estar relacionado com as
câimbras da gestação.

Sua biodisponibilidade é de 50-70%. É absorvido em FIGURA 26 – Fonte de fósforo


todo o intestino delgado, principalmente no duodeno,
transportado por transportadores específicos e
excretado por fezes e urina (40% a 60%). Os rins retêm
80% do fósforo filtrado, e o paratormônio diminui sua
reabsorção, enquanto a hipofosfatemia aumenta. Sua
absorção é aumentada na presença do cálcio e vitamina
D e diminuída por ácido fítico, ácido oxálico, antiácidos Fonte: Aksenovko/iStock
e álcool.

As fontes alimentares são queijos, gema de ovo, leite, carnes, peixes, aves, cereais integrais,
leguminosas e nozes. O fósforo das carnes é o mais biodisponível.

Magnésio (Mg)

O conteúdo corporal de magnésio é de aproximadamente 20-30 g, sendo encontrado principalmente


em ossos (60%), músculos (26%) e 14% em cérebro, coração e líquidos corporais.

Participa de mais de 300 reações metabólicas, em metabolismo do carboidrato, produção e


transferência de energia, síntese de proteínas e lipídios, síntese de glicogênio, catabolismo de glicose,
aminoácidos e ácidos graxos, hidroxilação da vitamina D, condução do impulso nervoso, contração
e relaxamento muscular, coagulação sanguínea (inibidor), controle da pressão sanguínea, prevenção
de cáries, funcionamento do sistema imunológico. É hipotensor, inibe a aterogênese e previne
isquemia, previne cálculos renais, componente de ossos e dentes, tranquilizante e anticonvulsivante.

A absorção ocorre ao longo do intestino delgado e grosso (biodisponibilidade de 30-40%) por


difusão passiva saturável (começa após uma hora de ingestão e finaliza em 10 horas), sendo que
10% são filtrados nos rins e 5%, excretados.

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A absorção está diminuída na presença de grandes quantidades de fosfato, consumo elevado de
zinco, fibras dietéticas e utilização de anticoncepcionais orais, álcool e diuréticos. Ela é aumentada
por carboidrato e lactose. A depleção de vitamina B6 causa balanço negativo de magnésio.

As principais fontes são cereais integrais, queijo tofu, nozes, carnes, leite, vegetais verdes,
leguminosas, chocolate, castanhas, frutas, banana, batata, coco, maçã, brócolis, abacate e algas.

Ferro (Fe)

O conteúdo corporal do ferro é de 3-5 g, dos quais 60-70% estão em hemoglobina, mioglobina e
enzimas e 30-40%, em fígado, medula óssea, baço e plasma. Ele é armazenado no fígado na forma
de ferritina (Fe++) e transportado no sangue pela transferrina (Fe+++).

Participa da formação de hemoglobina e hemácias, transporte de O2 e CO2, respiração celular,


produção de energia, cofator enzimático (citocromo, catalase, peroxidase, aconitase), síntese de
colágeno, elastina e carnitina, manutenção do sistema imunológico, detoxificação (citocromo P-450),
antioxidante/pró-oxidante, metabolismo proteico e síntese de DNA.

As necessidades de ferro na gestação são maiores para suprir as necessidades para o crescimento
fetal, que armazena 290 mg ou mais, e da placenta (25 mg). A necessidade de ferro total da gestação
é de aproximadamente 1.000 g. Elas são menores no primeiro trimestre e começam a aumentar no
início do segundo até atingir no terceiro a necessidade de 6,3 mg/dia.

A placenta e o feto captam 15% a 20% do ferro plasmático diariamente. A deficiência pode levar
à anemia, que é comum após a 20ª semana gestacional.

É absorvido em todo o intestino delgado (principalmente no duodeno), 5% a 10%, pelas proteínas


ligadoras do ferro na membrana em escova. Sua absorção é facilitada na presença de quelatos, ácido
ascórbico, glicose, aminoácidos sulfurados, bile. É transferido para a mobilferrina e a paraferritina.
A gestação aumenta em três vezes a biodisponibilidade do ferro, e, no terceiro trimestre, a absorção
é de 10% a 50%, atendendo às necessidades aumentadas quando a ingestão estiver adequada.

O ferro heme é o mais biodisponível e mais facilmente absorvido pelo corpo; o não heme pode
ser encontrado na forma de cátion +2. Fitatos, oxalatos, fosfatos, proteínas do leite e da soja,
antiácidos, polifenóis, cálcio, zinco, sais de ferro, cafeína e cádmio diminuem a absorção do ferro
não heme. Ácidos, cobalto, cobre, níquel e manganês aumentam a absorção. É transportado por

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transferrinas e lactoferrinas e estocado na ferritina e na hemossiderina. A excreção é de 0,9 mg a
1,5 mg/dia em urina, pele, bile e principalmente fezes.

A deficiência leva à anemia ferropriva, caracterizada por uma anemia microcítica e hipocrômica
com diminuição da hemoglobina (< 85%). Na gestação, pode afetar o sistema imunológico, o
crescimento e o desenvolvimento fetal, aumentar a taxa de mortalidade do neonato ou levar a
prematuridade, principalmente em casos graves.

As melhores fontes são fígado, carnes, aves e peixes, fontes de ferro heme. Gema de ovo,
leguminosas, cereias integrais, farinhas enriquecidas, vegetais verde-escuros, mel, melado e caldo
de cana são fontes de ferro não heme, que precisa da vitamina C para ser absorvido.

A alimentação equilibrada raramente é suficiente para suprir as necessidades de ferro, que


estão aumentadas durante a gestação.

Zinco (Zn)

O conteúdo corporal de zinco é de 2 g a 3 g, localizados em fígado, pâncreas, rins, ossos,


músculos, olhos, próstata, espermatozoides, pele, cabelo e unha.

O zinco é necessário para a atividade de mais 300 enzimas, entre elas metaloenzimas,
pteroilpoliglutamato hidrolase (enzima que converte o folato para sua forma biodisponível de
monoglutamato) e retinal redutase (conversão do β-caroteno a vitamina A).

Está envolvido em respiração celular, síntese e degradação do DNA e RNA, síntese proteica,
manutenção da integridade da membrana celular, regulação da expressão gênica, síntese da
porção heme da hemoglobina, função digestiva, metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios,
antioxidante, ligação do T3 no receptor, síntese e aumento da sensibilidade à insulina, imunidade,
cicatrização, formação de espermatozoides, olfato, paladar, visão e atividade cerebral.

Sua biodisponibilidade é de 20% a 30%. Fatores como glicose, proteína, amido, quitosana, lactose
e vinho aumentam a absorção. Já cobre, ferro, fósforo, cádmio, chumbo, fibras, fitato, redução de
piridoxina e proteína, álcool, sal, açúcar e diuréticos diminuem.

Alguns fatores, como gravidez, estresse, vegetarianismo, uso de DIU, cromo, cálcio e ferro podem
causar sua deficiência. A deficiência grave na gestação está associada a abortos e malformações.

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As principais fontes são ostras, mexilhão, germe de trigo, cereais integrais, carne de boi, amêndoas,
peru, sardinha, frango, nozes, castanhas e ovos.

Selênio (Se)

O conteúdo corporal de selênio no organismo é de menos de 1 mg. Está localizado principalmente


em rim, fígado, pâncreas, coração e testículo.

O selênio é antioxidante, potencializa o efeito


FIGURA 27 – Fonte de selênio
da vitamina E, diminui a agregação plaquetária, é
anticarcinogênico, anti-inflamatório, imunoestimulante,
detoxificante, ajuda no metabolismo das hemácias e na
fertilidade masculina.

A principal fonte de selênio é a castanha-do-pará. É


encontrado também em alho, cebola, cereais integrais,
milho, cogumelo, carnes, aves, peixes, mariscos, levedo,
brócolis, chá verde. O consumo de álcool e cafeína diminui Fonte: Amarita/iStock

sua absorção.

Cobre (Cu)

O conteúdo corporal de cobre no organismo é de 80 mg a 120 mg. Está localizado em fígado,


cérebro, coração, rins e plasma (ceruloplasmina).

O cobre é um importante cofator enzimático (ex. monoamina oxidase, ceruloplasmina), antioxidante


(em excesso, é pró-oxidante), participa da síntese de colágeno e elastina, síntese de fosfolipídios
para formação da bainha de mielina, produção de energia, síntese de neurotransmissores, oxidação
da vitamina C, metabolismo do ferro e formação de melanina.

A deficiência causa doença de Menkes, pigmentação anormal do cabelo, anemia, dislipidemias,


desmineralização óssea, leucopenia e deficiência proteica. Vários órgãos são afetados pela deficiência
de cobre. A toxicidade causa a doença de Wilson.

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As principais fontes são fígado, levedura de cerveja, ostras, mariscos, avelã, nozes, semente de
abóbora, sardinha, oleaginosas, chocolate, cereais, frutas secas, aves. Os aminoácidos aumentam a
absorção de cobre, e fitatos, zinco, molibdênio, manganês, mercúrio, chumbo e cádmio diminuem.

Iodo (I)

O iodo é constituinte dos hormônios tireoidianos tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4). A deficiência
causa o bócio, aumento da glândula tireoide, e diminuição do metabolismo.

Sua importância na gestação está relacionada com os hormônios tireoidianos, já que eles são
essenciais para o crescimento e o desenvolvimento, desde a concepção até os dois anos de idade. A
deficiência fetal é resultante da deficiência materna e aumenta a incidência de natimortos, abortos
espontâneos e anormalidades congênitas.

As fontes alimentares incluem sal de cozinha iodado, frutos do mar, peixe e água.

Cromo (Cr)

O conteúdo corporal de cromo é de aproximadamente 6 mg, e é encontrado em fígado, músculo,


rins, ossos e cérebro.

Tem importante ação no metabolismo de glicose, lipídios e proteínas a partir das seguintes ações:
potencializa a ação da insulina, aumenta a tolerância à glicose, manutenção das concentrações
de glicose, formação do complexo GTF, estimula o transporte de aminoácidos, síntese proteica,
diminuição do colesterol e triglicerídios séricos, aumento do HDL e redução do LDL.

A absorção do cromo ocorre por mecanismos específicos; a presença de aminoácidos, albumina


e transferrina séricas aumenta sua absorção, assim como a baixa ingestão do mineral. A absorção
pode estar diminuída pela ingestão de alimentos refinados e consumo excessivo de gordura e açúcar.

As melhores fontes são óleo de milho, mariscos, cereais integrais, levedo de cerveja, carnes,
fígado, ostras, batata, ovos, maça, brócolis e castanhas.

Manganês (Mn)

O conteúdo corporal de manganês é de 15 mg a 20 mg, localizado em ossos, fígado, pâncreas,


hipófise, suprarrenais e rins.

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Participa de ativação de enzimas, antioxidante, desenvolvimento dos ossos, formação do colágeno,
formação de protrombina, síntese de colesterol e ácidos graxos, síntese de neurotransmissores,
síntese proteica e metabolismo glicídico.

Apenas 5% são absorvidos por difusão ou transporte FIGURA 28 – Fonte de manganês


ativo no intestino delgado. Compete com ferro, cobalto e
zinco. O cálcio e o magnésio aumentam sua absorção.
É transportado ligado a transferrina ou transmanganina
no plasma e excretado pelas fezes.

As principais fontes são folhas de beterraba, amoras,


cereais integrais, farelo de trigo, nozes, leguminosas,
frutas, chás, abacaxi, castanhas, cevada, centeio, espinafre
Fonte: fcafotodigital/iStock
e aveia.

Molibdênio (Mo)

O molibdênio é cofator de enzimas hidroxilases, participa de metabolismo de xantinas e receptores


esteroides, oxidação de purinas e pirimidinas, produção de ácido úrico, oxidação da glicose, síntese
de catecolaminas e metabolismo do colesterol.

É absorvido por transporte ativo e passivo, transportado para o fígado e rins e eliminado pelo
rim como molibdato. O cobre é seu antagonista.

As principais fontes são leguminosas, grãos de cereais, vegetais de folha verde escura, vísceras,
couve-flor, espinafre, lentilha, ervilha, alho, leite e feijão.

Vanádio (V)

O vanádio participa do metabolismo lipídico e de carboidratos, aumenta a absorção de glicose,


aminoácidos e ácidos graxos livres, atua no crescimento e no aparelho cardiovascular.

Encontrado em azeitona, pão, grãos, nozes, óleos, ervilha, beterraba, cenoura, rabanete, fígado,
peixes e carnes.

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Boro (Bo)

O boro participa do equilíbrio do cálcio, preserva a massa óssea, normaliza a pressão arterial e
aumenta a concentração sérica de testosterona. A deficiência causa osteoporose e perda óssea.

As principais fontes são maçã, pêra, uva, figo, pêssego e leguminosas.

Sódio (Na)

O sódio representa 2% do conteúdo mineral total do organismo (90 g a 100 g). É o principal
cátion no líquido extracelular e participa da manutenção do equilíbrio hídrico, osmótico e ácido-
básico, além de transmissão nervosa, contração muscular, absorção de glicose e outros nutrientes
e transporte de aminoácidos.

É encontrado em sal de cozinha comum, frutos do mar, alimentos de origem animal, leite, ovos,
algas, azeitona, queijos, enlatados, conservas, refrigerantes, aditivos alimentares. É abundante na
maioria dos alimentos, exceto frutas.

A deficiência causa hiponatremia (< 135 mmol/L), que pode ser consequência de aumento da
água corporal total, redução da diurese, perda de sódio (principalmente pelo suor) ou ingestão
inadequada. A hipernatremia é consequência da ingestão elevada de sódio ou da baixa ingestão
de líquidos, levando a aumento da pressão sanguínea, remoção de cálcio do osso e estresse.

Cloro (Cl)

O cloro é o principal ânion no líquido extracelular. Funciona como tampão, ativador de enzimas
e componente do ácido clorídrico. As principais fontes são sal de cozinha, frutos do mar, leite,
carnes e ovos.

Potássio (K)

O potássio representa 5% do conteúdo total mineral ósseo. É o principal cátion do líquido


intracelular (96%) e o restante é encontrado no soro.

Regula o balanço hídrico, a contração muscular, os batimentos cardíacos, a transmissão nervosa,


a produção de energia, a síntese de glicogênio e de proteínas, a pressão arterial e a regulação da
entrada e saída de líquidos e nutrientes nas células.

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As fontes alimentares incluem frutas, leite, carnes, cereais, vegetais, leguminosas, algas, ervilha,
pistache, nozes, batata, banana, laranja, água de coco, frutos do mar, brócolis, repolho e espinafre.

A redução do potássio leva a hipertensão, desnutrição, redução da síntese proteica, desidratação,


fraqueza muscular, fadiga e depressão. A hipocalemia geralmente está associada a vômitos e
diarreias. O aumento está associado a aumento da ingestão ou excreção renal reduzida e leva a
estresse, paralisia muscular, aumento do catabolismo proteico e arritmias.

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CONCLUSÃO
A gestação é uma fase em que ocorrem várias mudanças metabólicas, fisiológicas, psicológicas
na vida da mulher. As necessidades energéticas e nutricionais devem ser ajustadas a fim de
atender à recomendação, pois isso repercutirá no desenvolvimento do feto. É preciso ter atenção
aos cuidados de suplementação, avaliação nutricional e riscos gestacionais, prescrevendo dietas
personalizadas individualmente.

A gestação é também um período de grandes mudanças físicas e comportamentais na vida


da mulher, sendo imprescindível o acompanhamento por profissionais para que as necessidades
fisiológicas e comportamentais sejam atendidas.

Atender às necessidades nutricionais que são aumentadas nesse período faz toda a diferença
para a saúde da mãe e do feto. As mulheres precisam comer o suficiente durante a gestação a
fim de suportarem o esforço adicional que esse período representa para o corpo, satisfazendo as
necessidades nutricionais dela e do bebê.

Se a alimentação da mãe não satisfizer as necessidades de seu filho, ele irá utilizar o suprimento
de nutrientes dela, provocando a diminuição de reservas. Isso expõe a mãe a um risco grande de
contrair doenças e pode afetar o desenvolvimento da criança.

As gestantes devem ser informadas sobre alimentação, atividade física, sintomas gestacionais
e motivadas e incentivadas ao melhor tipo de parto, recebendo apoio em grupos de gestantes, bem
como dos profissionais que as estão acompanhando.

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GLOSSÁRIO
Anamnese – Histórico dos antecedentes de uma doença (doenças anteriores, caracteres hereditários,
condições de vida etc). Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/
anamnese/

Depleção – Perda de substâncias vitais para o organimo. Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-


portugues/busca/portugues-brasileiro/deple%C3%A7%C3%A3o/

Distocia – Parto laborioso, difícil ou anormal. Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/


busca/portugues-brasileiro/Distocia/

Gestação a termo – Parto que ocorre no tempo correto. Fonte: https://www.medcel.com.br/blog/entenda-


o-que-e-gestacao-pre-termo-termo-e-pos-termo

Íleo – Última parte do intestino delgado. Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/


portugues-brasileiro/%C3%8Dleo

Incompetência istmocervical – Encurtamento do canal cervical, que faz com que o colo dilate e
afine apenas com a evolução da gestação e o peso do bebê, sem que exista contração uterina.
Fonte: https://alomae.prefeitura.sp.gov.br/incompetencia-istmo-cervical-o-que-e/

Jejuno – Parte do intestino delgado entre o duodeno e o íleo. Fonte: https://michaelis.uol.com.br/


moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/Jejuno/

Substâncias teratogênicas – Substâncias que causam a produção e o desenvolvimento de anomalias


no útero, resultando em malformações. Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/
portugues-brasileiro/%20teratogenia/

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BIBLIOGRAFIA
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Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

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ARTAL, R.; WISWELL, R. A.; DRINKWATER, B. L. O exercício na gravidez. São Paulo: Manole, 1999.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DE TRÁFEGO. (ABRAMET). Uso do cinto de segurança


durante a gravidez. São Paulo: Abramet. 2003. Disponível em: https://www.abramet.com.br/files/uso_
cinto_gravidez.pdf. Acesso em: 08.10.2018.

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Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf>. Acesso
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________. Portaria nº 570, de 1º de junho de 2000. Estabelece o Programa de Humanização no


Pré-Natal e Nascimento. DOU, 8 jun. 2000c. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/
PORT2000/GM/GM-570.htm>. Acesso em 12 ago. 2014.

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