Você está na página 1de 113

SEBENTA

Ensino Clínico
Saúde Infantil e Pediátrica
CONTEÚDO
CONCEITOS BÁSICOS ............................................................................................................. 9

CLASSIFICAÇÃO EM FUNÇÃO DA IDADE GESTACIONAL ....................................................................... 9

CLASSIFICAÇÃO EM FUNÇÃO DO PESO DE NASCIMENTO.................................................................... 9

ADAPTAÇÃO À VIDA EXTRAUTERINA ................................................................................... 10

ADAPTAÇÃO CARDIO-RESPIRATÓRIA ................................................................................................ 10

CUIDADOS DE ROTINA NA SALA DE PARTOS ........................................................................ 11

ANOMALIAS CONGÉNITAS ................................................................................................................ 13

Asfixia Perinatal .......................................................................................................................... 13

Sinais de Síndrome de Dificuldade Respiratória (SDR) ................................................................. 14

Hipoglicémia............................................................................................................................... 15

Icterícia ...................................................................................................................................... 15

Icterícia Patológica ..................................................................................................................... 16

Icterícia Prolongada .................................................................................................................... 16

CUIDADOS AO RN NA MATERNIDADE E PREPARAÇÃO DA ALTA .......................................... 17

EXAME FÍSICO AO RN ....................................................................................................................... 17

CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DO RECÉM-NASCIDO ....................................................................... 20

Eliminação Vesical ...................................................................................................................... 20

Aparelho Digestivo ..................................................................................................................... 20

Nutrição e Alimentos Neonatais ................................................................................................. 21

Comportamento Alimentar......................................................................................................... 21

Leite Materno............................................................................................................................. 21

Arroto e engasgamento .............................................................................................................. 21

Chupeta ...................................................................................................................................... 21

2
Autonomia alimentar ................................................................................................................. 22

Eliminação Intestinal .................................................................................................................. 22

RASTREIOS UNIVERSAIS....................................................................................................... 22
CUIDADOS AO RN ANTES E DEPOIS DA ALTA ....................................................................... 23

Higiene ............................................................................................................................................. 23

Cordão Umbilical e Umbigo .............................................................................................................. 23

Choro ............................................................................................................................................... 23

Sono ................................................................................................................................................. 23

Síndrome da morte súbita do lactente (SMSL) .................................................................................. 24

Queixas frequentes – situações normais .......................................................................................... 24

Sinais de Alarme SOS ........................................................................................................................ 24

ALTA DO RECÉM-NASCIDO .................................................................................................. 25


CRESCIMENTO E A SUA AVALIAÇÃO .................................................................................... 25

Fisiologia do Crescimento................................................................................................................. 26

- Peso ......................................................................................................................................... 26

- Perímetro Cefálico .................................................................................................................... 26

- Dentição ................................................................................................................................... 27

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO ......................................................................................................... 27

Curvas da OMS – Programa Nacional Saúde Infantil e Juvenil ..................................................... 28

Anomalias de Peso ..................................................................................................................... 29

A consulta de vigilância de saúde infantil ............................................................................ 30

Periodicidade das Consultas de Saúde Infantil .................................................................................. 30

Exame físico completo ................................................................................................................ 31

Avaliação da Tensão Arterial....................................................................................................... 31

SINAIS VITAIS ...................................................................................................................... 31


ALIMENTAÇÃO NO PRIMEIRO ANO DE VIDA........................................................................ 32

3
NECESSIDADES NUTRITIVAS DO LACTENTE ....................................................................................... 32

Leites e Fórmulas Infantis ........................................................................................................... 32

diversificação alimentar ................................................................................................................... 33

4 - 5 Meses ................................................................................................................................. 34

6 – 7 Meses ................................................................................................................................ 35

9 Meses ...................................................................................................................................... 36

9 – 11 Meses (surge reflexo da mastigação → alimentos de forma menos homogénea) ............. 36

12 Meses .................................................................................................................................... 37

Água ........................................................................................................................................... 37

Suplementos .............................................................................................................................. 37

PRECAUÇÕES NA PREPARAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE TERAPÊUTICA À CRIANÇA .............. 38

VIA ENTÉRICA ................................................................................................................................... 38

A Preparação da Dose................................................................................................................. 38

A Forma de Administração ......................................................................................................... 39

VIA PARENTÉRICA............................................................................................................................. 39

Via Endovenosa .......................................................................................................................... 40

Soros mais Utilizados em Pediatria ............................................................................................. 44

Preparação de Fluidoterapia ....................................................................................................... 44

Protocolo de administração de fluidoterapia para crianças/jovens no período pré-operatório ... 44

Via Intramuscular ............................................................................................................................. 45

Via Subcutânea ................................................................................................................................ 48

Medicação rectal .............................................................................................................................. 48

Medicação por via inalatória ............................................................................................................ 49

Nebulização ................................................................................................................................ 49

4
Oxigenoterapia ........................................................................................................................... 50

Avaliação e Gestão da dor na Criança .................................................................................. 55

MANIFESTAÇÕES DE DOR NA CRIANÇA ............................................................................................ 55

Norma de Boa Prática: ................................................................................................................ 56

História da dor: ........................................................................................................................... 56

Instrumentos de Avaliação da Dor em Crianças .......................................................................... 56

Intervenções Farmacológicas no Controlo da Dor na Criança ...................................................... 58

Locais anatómicos de administração das vacinas - idade < 12 meses ................................................ 59

Locais anatómicos de administração das vacinas - idade ≥ 12 meses ................................................ 60

Febre .................................................................................................................................. 62

Manifestações CLínicas .................................................................................................................... 63

Onde avaliar temperatura? .............................................................................................................. 63

Medição Retal ............................................................................................................................ 63

Medição Axilar............................................................................................................................ 64

Medição Timpânica .................................................................................................................... 64

Sinais de alerta ................................................................................................................................. 64

QUANDO DEVE RECORRER A CRIANÇA/ADOLESCENTE AOS SERVIÇOS DE SAÚDE EM CASO DE FEBRE?


......................................................................................................................................................... 64

AGUARDAR O RECURSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE, MANTENDO A VIGILÂNCIA PELOS PAIS SE: ........ 65

MEDIDAS ANTIPIRÉTICAS E DE ALÍVIO DO DESCONFORTO ................................................................ 65

Medidas gerais (aumentar o aporte de líquidos e promover o repouso) ..................................... 65

Medidas Especificas.................................................................................................................... 65

Avaliação Inicial da Criança/Adolescente com Febre ........................................................................ 66

INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM - Avaliar /despistar sinais de alerta: ............................................. 66

Diagnostico de Enfermagem - Sem Febre ......................................................................................... 67

5
Alta/transferência ............................................................................................................................ 67

Convulsões Febris............................................................................................................................. 67

O que fazer perante a criança com convulsão? ........................................................................... 68

Colheitas de Amostras para Exames Microbiológicos .......................................................... 68

Colheita de Sangue Periférico ........................................................................................................... 68

Colheita de Sangue Periférico – Hemocultura ................................................................................... 69

Colheitas de Urina ............................................................................................................................ 70

Colheita de Secreções ...................................................................................................................... 74

Secreções Gástricas .......................................................................................................................... 76

Cirurgia e a Criança ............................................................................................................. 78

Fatores a considerar no programa de preparação para a cirurgia ..................................................... 78

Preparação Pré-Operatória da Criança/Família................................................................................. 78

PREPARAÇÃO PARA O PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO .......................................................................... 80

Sintomas Comuns em Pediatria........................................................................................... 81

Tosse ................................................................................................................................................ 81

Vómitos ............................................................................................................................................ 83

Complicações ............................................................................................................................. 84

Diarreia ............................................................................................................................................ 84

Cefaleias........................................................................................................................................... 85

Dor Abdominal ................................................................................................................................. 87

Cólicas do Lactente .......................................................................................................................... 88

PRINCIPAIS PATOLOGIAS RESPIRATÓRIAS ........................................................................... 88

Rinofaringite .................................................................................................................................... 89

Adenoidite aguda ............................................................................................................................. 89

6
Faringo-amigdalite ........................................................................................................................... 90

Escarlatina........................................................................................................................................ 90

Sinusite ............................................................................................................................................ 90

Otite Média Aguda ........................................................................................................................... 91

Laringite ........................................................................................................................................... 91

Penumonia ....................................................................................................................................... 92

Broquiolite ....................................................................................................................................... 93

Patologia gastrointestinal.................................................................................................... 94

REFLUXO GASTROESOFÁGICO .......................................................................................................... 94

Obstipação ....................................................................................................................................... 95

GASTROENTERITE AGUDA ................................................................................................................ 99

DOENÇA CELÍACA ........................................................................................................................... 101

PATOLOGIA ENDÓCRINA ................................................................................................... 102

PUBERDADE NORMAL .................................................................................................................... 102

Problemas na Puberdade.......................................................................................................... 102

Puberdade Precoce ........................................................................................................................ 103

Atraso Pubertário ........................................................................................................................... 104

Patologia Tiroideia ......................................................................................................................... 104

Hipotiroidismo.......................................................................................................................... 105

Hipertiroidismo ........................................................................................................................ 105

TIROIDITE DE HASHIMOTO ............................................................................................................. 105

DIABETES MELLITUS ....................................................................................................................... 105

Patologia neurológica........................................................................................................ 106

Meningite....................................................................................................................................... 106

7
CONVULSÕES E EPILEPSIA .............................................................................................................. 107

Convulsões febris ........................................................................................................................... 108

Alergias ............................................................................................................................. 109

Rinite.............................................................................................................................................. 109

Asma .............................................................................................................................................. 110

8
CONCEITOS BÁSICOS
Recém-nascido (RN) – 0 aos 28 dias (neonatologia, abrange todas as modificações impostas pela
passagem da vida intrauterina à vida extrauterina).
Lactente – 1 aos 12 meses.
Pré-escolar – 2-3 anos; 4 aos 5 anos.
Escolar – 6 anos até início da puberdade.
Puberdade – raparigas: 8-13 anos; rapazes: 9-14 anos.
Adolescência – 10 aos 19 anos (OMS e DGS).

CLASSIFICAÇÃO EM FUNÇÃO DA IDADE GESTACIONAL


Prematuro: < 37 semanas (prematuros tardios – 34 às 36 semanas e 6 dias)
De termo: > 37 e ≤ 42 semanas
Pós-termo: > 42 semanas

- Os prematuros, incluindo os tardios, têm maior risco de morbilidade e mortalidade quando comparados
com os de termo. Os fatores que tornam os prematuros mais suscetíveis são: maior risco de hipotermia,
imaturidade pulmonar e défice de surfactante (com consequente doença da membrana hialina e
insuficiência respiratória), maior suscetibilidade à infeção, imaturidade dos tecidos e capilares
nomeadamente da retina e da matriz germinativa cerebral, redução da função anti-oxidante que pode
contribuir para a morbilidade particularmente na enterocolite necrosante e doença pulmonar crónica da
prematuridade. Os RN de termo precoce têm maior risco de hipoglicemia, necessidade de suporte
ventilatório incluindo ventilação mecânica invasiva, taxas superiores de administração de fluidos e
antibióticos intravenosos e de icterícia que os mais maduros. Estes factos devem fazer ponderar a indução
precoce do parto antes das 41 semanas sem justificação médica.

CLASSIFICAÇÃO EM FUNÇÃO DO PESO DE NASCIMENTO


Leve para a idade gestacional (LIG): LIG < 2500g. RN cujo peso se encontra abaixo do percentil 10 para a
IG, numa curva representativa da população.
Adequado para a idade gestacional (AIG): 2500 > AIG < 4000g. RN cujo peso se encontra entre o percentil
10 e o percentil 90 para a IG (bebé de termo).
Grande para a idade gestacional (GIG): GIG > 4000g. RN cujo peso se encontra acima do percentil 90 para
a IG.

9
ADAPTAÇÃO À VIDA EXTRAUTERINA

- O período de transição entre a vida intra e extra uterina ocorre nas primeiras quatro a seis horas após o
nascimento. Nesta fase o RN deve ser avaliado a cada 30 a 60 minutos. Deve ser registada a temperatura
axilar (alvo 36,5 a 37,5ºC nos RN sem asfixia), a frequência cardíaca (normal 120 a 160 bpm; pode reduzir
durante o sono), a frequência respiratória (normal 40 a 60 cpm), a cor da pele e mucosas e o tónus
muscular.

ADAPTAÇÃO CARDIO-RESPIRATÓRIA

- A função respiratória é a última a desenvolver-se. Só cerca das 22 semanas de gestação, os capilares


pulmonares se aproximam da parede alveolar. Só nessa altura se desenvolvem os pneumócitos do tipo 1,
responsáveis pelo revestimento alveolar e futuramente pelas trocas gasosas e, um pouco mais tarde, os
pneumócitos do tipo 2, responsáveis pela síntese do surfactante, fundamental para evitar o colapso
alveolar após o nascimento. O surfactante permite que exista ar residual nos pulmões aquando as
expirações. A viabilidade do feto só é possível quando estas estruturas estiverem desenvolvidas e
permitirem as trocas gasosas entre os alvéolos e os capilares sanguíneos. Esta é uma das razões porque a
viabilidade > 24 semanas de gestação.

- O sucesso da transição da vida intra para a extrauterina está dependente de importantes alterações
fisiológicas que ocorrem ao nascimento. Para que a transição decorra com sucesso quando o cordão
umbilical é clampado após o nascimento, devem verificar-se alterações rápidas na função
cardiopulmonar, tais como:

10
a) Expansão pulmonar – com os primeiros movimentos respiratórios efetivos, o ar começa a mobilizar-se
com a descida da pressão intratorácica. O aumento da pressão inspiratória expande o alvéolo e estabelece
a capacidade residual funcional. A expansão pulmonar também estimula a libertação de surfactante, que
reduz a tensão alveolar, aumenta a compliance e estabiliza a capacidade residual funcional.

b) Clearance do líquido pulmonar fetal (LPF) – são vários os mecanismos que contribuem para a clearance
do LPF como o parto, a respiração inicial e a compressão do tórax. O aumento da tensão de oxigénio após
o parto aumenta a expressão do gene que regula os canais de sódio do epitélio pulmonar e a sua
capacidade de transportar sódio promovendo a reabsorção do LPF. Os primeiros movimentos
respiratórios efetivos do RN geram pressões hidrostáticos negativas, que promovem a deslocação do LPF
para o espaço intersticial e posteriormente para a vasculatura pulmonar. A compressão do tórax,
antigamente tida como o principal fator de clearance do LPF, é hoje considerada como desempenhando
um contributo reduzido.

c) Alterações circulatórias – após o aumento da perfusão pulmonar e da pressão sistemática ocorre o


encerramento do FO (forâmen oval) e do DA (ductos arteriosos) com redução e posterior
desaparecimento dos shunts direito-esquerdo da circulação fetal. Após a clampagem do cordão umbilical,
a placenta é removida da circulação, resultando na subida da pressão sistemática neonatal.
Simultaneamente com a expansão pulmonar há diminuição da resistência vascular e da pressão pulmonar.
Estas duas alterações promovem o shunt esquerdo-direito e condicionam um aumento do fluxo
sanguíneo pulmonar e do volume de ejeção do ventrículo esquerdo, melhorando a saturação de oxigénio
cerebral. Com o aumento da expansão e perfusão pulmonar, a saturação de oxigénio neonatal aumenta
o que estimula o encerramento do DA. Adicionalmente, o aumento do fluxo sanguíneo arterial pulmonar
aumenta o retorno venoso pulmonar para a aurícula esquerda e a sua pressão. À medida que a pressão
na aurícula esquerda aumenta e na direita reduz, o shunt através do FO diminui. O encerramento deste
ocorre quando a pressão na aurícula esquerda excede a da direita (10 a 15 horas após o nascimento).

CUIDADOS DE ROTINA NA SALA DE PARTOS


- A maioria dos RN de termo respira e/ou chora nos primeiros 90 segundos após o parto, sendo necessário
apenas cuidados de rotina. Destes fazem parte:

. evitar o arrefecimento: secar rapidamente o líquido amniótico, proteger de correntes de ar, proteger
cabeça do RN (representa grande percentagem de superfície corporal), usar cobertores aquecidos,
colocar em superfície aquecida, usar calor materno.

. exame objetivo sumário e dirigido: principais objetivos são avaliar a necessidade de reanimação e o
modo de adaptação à vida extra-uterina, excluir malformações congénitas major e lesões de parto
traumático. O RN deve ser pesado, mas na sala de partos não é necessário nem desejável avaliar o
perímetro craniano nem o comprimento que ficam reservados para o dia seguinte, quando há maior
estabilidade fisiológica. As guidelines para a reanimação do RN incluem uma avaliação rápida, baseada

11
nas seguintes questões: i) o RN é de termo?; ii) o RN está a respirar ou a chorar?; iii) o RN tem bom tónus
muscular?. Se a resposta a todas estas questões for sim, então o RN não precisa de reanimação. Deve ser
registado o momento do 1º choro e respiração.

ÍNDICE DE APGAR - Foi introduzido por Virgínia Apgar de forma a avaliar rapidamente o RN
nos seus primeiros minutos de vida. A sua determinação é efetuada nos 1º, 5º e 10º minutos de vida.

Pontuação 0 1 2
Frequência Ausente < 100 bpm > 100 bpm Avaliar durante
cardíaca 30s
Respiração Ausente Irregular Regular, choro Movimentos da
(Apneia) (Normal) parede torácica

Tónus muscular Hipotonia Flexão das Ativo Avaliar grau de


(Flacidez) extremidades (movimentos de flexão e
braços e pernas) movimento das
extremidades
Resposta aos Ausente (não Gemido Choro vigoroso
estímulos reage)
Cor da pele Palidez/ Cianose Cianose Rosado Reflete a
central periférica oxigenação dos
(acrocianose) tecidos
Pontuação do Índice de APGAR:
7 até 10 – Bom estado vital
4 até 6 – Ligeira dificuldade respiratória (Manobras de Reanimação ligeiras): aquecer, permeabilizar vias
aéreas, estimular
Inferior a 4 – Situação grave: manobras de reanimação; suporte básico neonatal; transferir para a
neonatologia.

. profilaxia da hemorragia por carência de vitamina K: deve-se administrar vit. K via IM (0,5 mg se peso
de nascimento inferior a 1500g ou 1 mg se superior). Os RN têm risco de carência fisiológica de vitamina
K uma vez que a passagem desta vitamina por via transplacentar e a sua reserva hepática são limitadas, o
seu trato intestinal é relativamente estéril e leva algum tempo a colonizar com bactérias que têm um
papel importante na síntese de vitamina K, e o leite materno é uma pobre fonte desta vitamina.

. profilaxia da conjuntivite neonatal: a solução de iodopovidona a 2,5% parece ser eficaz, ter menor
toxicidade, previne também a conjuntivite por Chlamydia trachomatis, tem um custo mais baixo e sem
resistências conhecidas.

. estabelecer vínculo e aleitamento materno precoce (nos primeiros 30 min após o nascimento): Os RN
saudáveis de termo ou prematuros tardios devem permanecer junto da mãe para promoção da vinculação
entre a mãe e o RN através do contacto “pele com pele” e pelo início precoce de aleitamento materno. A

12
primeira mamada do RN deve começar ainda na sala de partos, tão precoce quanto possível pois também
previne as hipoglicemias e possibilita a deteção de casos de atrésia esofágica sem suspeita pré-natal. São
critérios para o RN ser colocado junto da mãe, dispensando vigilância em unidade de cuidados especiais:
ser de termo ou prematuro tardio; ter peso de nascimento adequado (superior a 1800g); terem sido
excluídas malformações major; ter tido boa adaptação à vida extrauterina; ter capacidade de mamar e
ser capaz de manter estabilidade térmica.

- É recomendado que o cordão umbilical só deva ser clampado um minuto após o nascimento nos RN que
não necessitam de reanimação. Para prevenir a perda de calor, o RN deve ser envolvido com panos
quentes durante este tempo. A clampagem precoce do cordão umbilical pode causar hipovolémia.

- Nos RN filhos de mães Rh negativas devem ser colhido sangue do cordão umbilical para estudo do grupo
sanguíneo e teste de Coombs direto.

ANOMALIAS CONGÉNITAS
- Fendas do palato e/ ou do lábio leporino – relativamente frequente e podem ser observados pela
inspeção. Provoca dificuldade na alimentação e posteriormente na fala.
- Hérnia diafragmática congénita – consiste na herniação dos órgãos abdominais para a cavidade torácica
através de um defeito postero-lateral do diafragma. É mais frequente à esquerda. É uma emergência e o
tratamento é cirúrgico.
- Atrésia do esófago – pode ocorrer com ou sem fístula entre o topo proximal ou distal (ou ambos) do
esófago e a traqueia. Os RN com atrésia do esófago apresentam-se nas primeiras horas de vida com
abundantes secreções na boca e dificuldade respiratória, senão forem devidamente diagnosticados e
tratados. O tratamento é cirúrgico.
- Imperfuração anal – são habitualmente classificados em baixos ou altos.

PROBLEMAS NO NASCIMENTO
- Traumatismo de parto. Os RN GIG correr elevado risco, com extração difícil e os submetidos a fórceps e
ventosa:
. Céfalo-hematoma – é uma coleção hemática subperióstea de origem traumática, uni ou bilateral, que
não ultrapassa as suturas cranianas. A hemorragia pode ocorrer durante o parto devido à pressão exercida
contra os ossos pélvicos da mãe. Ocorre em 1 a 2% dos RN. Pode aumentar de dimensões depois do
nascimento e demora semanas ou meses a regredir.
. Caput succedaneum ou bossa serossanguínea – é uma lesão craniana mole e mal delimitada, que
ultrapassa as suturas e é resultante do edema traumático do couro cabeludo (tecidos moles). Leva ao
aumento dos fluídos tecidulares da pele do crânio e, consequentemente, à formação de edema.
Tipicamente está presente ao nascimento e desaparece em poucos dias.

Asfixia Perinatal
- Quando um acontecimento ante, intra ou pós parto diminui o fornecimento de O2 ao feto ou ao RN,
causando diminuição da FC, incapacidade de troca de gases no sangue e inadequada perfusão dos tecidos

13
e órgãos, provocando PACO2 aumentada, PAO2 diminuída e pH baixo, o que leva a uma acidose
metabólica.
- O RN com índice de APGAR 3 ≤ ao 5º minuto está com asfixia perinatal.
- A asfixia perinatal pode ser definida como incapacidade de iniciar e manter a respiração ao nascer (3-
5%).
- A asfixia pode resultar de diferentes incidentes que levam a uma interrupção no fluxo sanguíneo
normal do cordão umbilical tais como: prolapso com compressão do cordão umbilical, descolamento da
placenta, hipoxia e hipotensão, insuficiência placentar ou reanimação ineficaz.

Sinais de Síndrome de Dificuldade Respiratória (SDR)


- Taquipneia – frequência respiratória superior a 60 cpm;
- Adejo nasal – batimento, com abertura das asas do nariz, desencadeado para diminuir a resistência à
entrada do ar e melhorar o fluxo nasal;
- Tiragem supraesternal, intercostal ou subcostal – traduz-se em retrações supraesternais, intercostais
ou subcostais como consequência do uso de músculos acessórios quando é necessário gerar maior
pressão negativa intra-torácica para insuflar os alvéolos;
- Gemido – pode ser normal se isolado na primeira hora de vida, mas o gemido expiratório contínuo traduz
a necessidade de encerramento precoce da glote durante a expiração para evitar o colapso total dos
alvéolos no final da expiração, melhorar o volume residual e facilitar a oxigenação;
- Cianose central – surge quando os mecanismos de compensação da função respiratória se esgotam.
- As patologias pulmonares mais frequentes no RN de termo são: taquipneia transitória do RN (atraso na
clearance do LPF que regride habitualmente entre as 12 e as 24 horas); síndromes de aspiração (sangue
ou mecónio – pneumonite); pneumonia congénita; ou pneumotórax espontâneo.
- O tratamento do SDR passa pela administração suplementar de O2 idealmente aquecido e humidificado
de forma a obter saturações de O2 entre 92 a 96%.
- A radiografia torácica, o hemograma, a proteína C reativa e a determinação da glicemia orientados pela
história clínica e exame objetivo são suficientes para determinar o diagnóstico.

14
Hipoglicémia
- São considerados critérios de hipoglicemia: concentrações de glicose inferiores a 40mg/dL do
nascimento até às quatro horas de vida e inferior a 45 mg/dL das quatro até às 24 horas de vida.
- Os RN com maior risco de hipoglicemia são: prematuros, RCIU, macrossomáticos, filhos de mães
diabéticas, mãe a tomar b-adrenérgicos ou hipoglicemiantes orais, com sintomas.
- Os sintomas compatíveis com a hipoglicemia são: hiperexcitabilidade, tremores, hipotonia, irritabilidade,
letargia, sonolência excessiva, apneia, recusa em mamar, hipotermia, convulsões.

Icterícia

- Caracteriza-se pela cor amarelada da pele e escleróticas, com valores de bilirrubina sérica total
(pigmento amarelo alaranjado) superiores a 5mg/dL. A icterícia ocorre em 2/3 dos recém-nascidos, sendo
mais frequente no prematuro. É a causa de readmissões frequentes.

- Inicia-se geralmente na fase, com progressão cefalo-caudal à medida que os níveis de bilirrubina
aumentam. Praticamente, todos os RN têm valores de bilirrubina circulante superior a 1 mg/dL, no
entanto só quando este valor ultrapassa os 5 mg/dL se torna visível na pele e escleróticas.

- Mecanismo de ação da Icterícia: O metabolismo da bilirrubina ocorre em três fases - produção da


bilirrubina, transporte da bilirrubina, conjugação e excreção da bilirrubina. Os RN têm um aumento da
circulação enterohepática da bilirrubina pelo facto de possuírem na mucosa intestinal a enzima beta-
glocuronidase que hidrolisa a bilirrubina conjugada em não conjugada, tornando-a reabsorvível, e
também por existirem bactérias no lúmen intestinal dos RN, ficando, deste modo, comprometida a
degradação da bilirrubina conjugada em estercobilina.

- Icterícia Fisiológica: só surge depois das 24 horas de vida e deverá estar resolvida até às duas semanas
de vida. É a tradução da dificuldade de adaptação do fígado do recém-nascido à vida pós-natal. Durante
a vida intra-uterina, a bilirrubina atravessa a placenta e é excretada pela mãe. Após o nascimento, o RN
tem de ativar os seus próprios sistemas excretores, ocorrendo geralmente um atraso na sua maturação,
o que se traduz na icterícia fisiológica. É causada por alterações normais no metabolismo da bilirrubina
incluindo o aumento da produção de bilirrubina (hematócrito elevado e diminuição da semi-vida dos
glóbulos vermelhos), diminuição da depuração da bilirrubina (imaturidade enzimática – captação e
conjugação imaturas) e pelo aumento da circulação enterohepática. Não há incompatibilidade de grupo
sanguíneo ABO nem do fator Rh; o recém-nascido está sob aleitamento materno exclusivo; há progressão
cefalo-caudal; as fezes são coradas; a urina tem coloração normal; não há sinais de doença; a progressão
ponderal é normal e os níveis de BT (bilirrubina total) sérica estão abaixo do P95 do normograma em
horas de Bhutani; é de termo.

A bilirrubina não conjugada pode atravessar a barreira hematoencefálica, sendo tóxica para as células
cerebrais, originando uma encefalopatia bilirrubínica. Como consequência desta encefalopatia, pode
surgir uma entidade neurológica chamada Kernicterus. As zonas do cérebro mais atingidas são os núcleos

15
da base, núcleos do oculomotor e zonas auditivas do tronco cerebral. O controle desta situação passa
geralmente pela utilização da fototerapia segundo critérios previamente definidos.

Icterícia Patológica
- Tem início antes das primeiras 24 horas de vida. Geralmente resulta da hemólise que pode progredir
rapidamente para toxicidade do SNC. A chamada doença hemolítica do RN, que é causada pela
incompatibilidade sanguínea entre mãe e filho, pode originar um quadro de icterícia e anemia logo ao
nascimento devido à hemólise. A causa mais grave é a incompatibilidade Rh, mas não devemos esquecer
a incompatibilidade ABO. O RN encontra-se doente: sépsis e hemólise (palidez) e tem um aumento rápido
( > 5 mg/dL/dia). Há hepatomegalia. É conjugada. As dejeções são acólicas (fezes claras ou
esbranquiçadas) e a urina escura. Risco de Kernicterus e enfalopatia da bilirrubina (aumento do índice de
bilirrubina + aumento da permeabilidade de BHE). Kernicterus: letargia, hipertonia, posição em
opistótonos, choro gritado, febre e convulsões. Potenciado pela acidose, anemia, baixa albumina,
fármacos, asfixia, prematuridade, hipoxia.

Icterícia Prolongada
- Chama-se prolongada quando a icterícia tem uma duração maior do que 14 dias se o bebé for de termo
ou maior que 21 dias se o bebé for prematuro. A causa mais frequente desta situação num RN sem outros
sinais e que está clinicamente bem é o leite materno.

. Tratamento → Fototerapia: Espectro de luz azul-verde (450nm), tem maior penetração na pele,
tornando mais rápida a descida dos níveis de bilirrubina. A luz converte a bilirrubina não conjugada por
fotodegradação num pigmento hidrossolúvel menos prejudicial, excretado na bile e nos rins.

Material: Complicações:
. Aparelho de fototerapia . Hipo ou hipertermia
. Venda opaca para os olhos . Exantema maculoso
. Fonte de calor . Diarreia
. Berço ou incubadora . Desidratação

Intervenções de Enfermagem ao RN – fototerapia


. Despir o RN, expondo a maior área corporal; . Vigiar dejeções sem horário;
. Proteger os olhos; . Vigiar peso 1x/dia;
. Colocar as luzes entre 10-15cm; . Mudar o RN de posição de 2/2h e SOS;
. Ajudar a hidratação; . Avaliar sinais vitais sem horário;
. Vigiar pele sem horário (especial atenção: . Executar doseamento de bilirrubina de
região nadegueira pela irritação provocada acordo com o protocolo do serviço.
pelas fezes);

16
CUIDADOS AO RN NA MATERNIDADE E PREPARAÇÃO DA ALTA
EXAME FÍSICO AO RN
1. Observação dos Sinais Morfológicos de Maturidade
Pele rosada e macia com rede venosa superficial pouco visível
. RN pré-termo: pele gelatinosa e transparente
. RN pós-termo: pele grossa a descamar
- Escasso lânugo (uma fina penugem que cobre a pele do bebé)
. RN pré-termo: lânugo abundante
- Sulcos plantares marcados em toda a planta do pé
. RN pré-termo: sulcos plantares no 1/3 anterior
- Pavilhão auricular bem enrolado, com cartilagem dura
. RN pré-termo: pavilhão auricular desenrolado e mole
- Aréola mamilar bem marcada, cheia, com cerca de 10 mm de diâmetro.
. RN pré-termo: aréola mamilar ténue com menos de 5 mm
- Genitais:
. Raparigas: os grandes lábios cobrem completamente os pequenos lábios e o clitóris. RN pré-termo:
clitóris e pequenos lábios proeminentes
. Rapazes: os testículos estão nas bolsas e o escroto é pregueado. RN pré-termo: testículos subidos e
escroto liso.

2. Observação da pele
- Cor da pele (rosada)
- Rede venosa superficial (pouco visível)
- Macha mongólica: no dorso, região sacrococcígea, mancha de contorno irregular circular. Corresponde
a uma zona mais pigmentada que normalmente se pode observar.

3. Observação da cabeça
- Deformidades no crânio: bossa, cefalohematoma
- Apresentação e parto
- Suturas
- Fontanela anterior
- Consistência dos ossos do crânio
- Cabelo e sua implantação

4. Observação da face
- Forma da face
- Dismorfias ou assimetrias (pode ser devida a uma parésia facial traumática)

5. Observação dos olhos


- Tamanho
- Fendas palpebrais

17
- Edema palpebral
- Hemorragias conjuntivais
- Dimensões da córnea e íris (se são iguais ou não e o seu tamanho)
- Opacidade

6. Observação do nariz
- Simetria e permeabilidade
- Adejo nasal

7. Observação da boca
- Lábios
- Palato (ver se tem fenda e concavidade)
- Língua (rosada, tamanho normal e com papilas). Verificar se o freio é curto
- Pérolas de Epstein (cistos de consistência rígida amarelo-esbranquiçados presentes, geralmente, na
mucosa do palato; desaparecem espontaneamente após uma a duas semanas de vida; não provocam dor
e não são sinal de doença)

8. Observação das orelhas


- Implantação
- Malformação
- Permeabilidade canal auditivo

9. Observação do pescoço
- Tamanho
- Ver se tem tumorações, pregas cutâneas laterais ou outras anomalias (ex: fístulas)

10. Observação das clavículas


- Ver se há crepitação à palpação

11. Observação do tórax


- Forma
- Implantação dos mamilos (linha médio-clavicular)
- Verificar se tem engurgitamento mamilar
- Ritmo respiratório (regular), respiração abdominal
- Retração intercostal, infracostal ou supraesternal
- Auscultação (boa ventilação bilateral): ruídos adventícios
- Frequência cardíaca: 120-140bpm
- Frequência respiratória: 30-40 ciclos/min; ruídos cardíacos, sopros

12. Observação dos pulsos femorais


- Palpação: palpáveis, simétricos e de amplitude normal

18
13. Observação do abdómen
- Forma
- Rede venosa superficial pouco visível
- Umbigo (cutâneo, não se conseguindo identificar os vasos)
- Palpação abdominal (tentar palpar baço, fígado, rins) – ver se há organomegálias, massas. Normalmente
só se consegue palpar o bordo inferior do fígado

14. Observação dos genitais e ânus


- Verificar se os grandes lábios cobrem completamente os pequenos lábios e o clítoris
- No sexo feminino o hímen é perfurado e dá saída a muco branco
- No sexo masculino o prepúcio não é retrátil, meato urinário centrado, testículos estão nas bolsas e o
escroto é pregueado
- O ânus é perfurado e tem tonicidade normal

15. Observação do aparelho locomotor


- Atividade motora (membros superior e inferior sem malformações; todos os segmentos estão bem
desenvolvidos; mobilidade mantida)
- Unhas (normalmente desenvolvidas)
- Pregas das mãos
- Tíbias (curvação fisiológica)
- Luxação da anca – Manobra de Ortolani
- Observação em decúbito ventral
- Curvatura da coluna vertebral (normal é concavidade anterior), ver se tem tumorações
- Fosseta sacrococcígea

16. Exame neurológico


- Apreciar a postura e atividade motora espontânea
. RN de termo: Membro superior e inferior em flexão, com alternância regular dos movimentos: flexão
e extensão
- Tónus passivo:
. Pesquisa-se pelo sinal do abraço – o cotovelo não ultrapassa em flexão o antebraço
. Retorno em flexão do antebraço (esticar os braços e depois largar rapidamente; ver se os braços se
fletem rapidamente ou não)
. Manobra calcanhar-orelha (calcanhar não deve tocar a orelha)
. Ângulo poplíteo (deve ser próximo de 90º)
. Ângulo dorsiflexão do pé (deve ser de 0º)
- Tónus Ativo:
. Endireitamento da cabeça e tónus dos músculos flexores e extensores do pescoço (segurar o RN pelos
ombros e levantá-lo lentamente, observando a cabeça)
. Endireitamento dos membros inferiores e tronco (colocar o RN de pé)
. Reflexos arcaicos/primitivos:

19
.. Glabela (à compressão do espaço entre as sobrancelhas o RN pestaneja. Importante na deteção
de paralisias faciais)
.. Pontos cordinais (tocar junto ao ângulo da boca → RN ri-se)
.. Sucção (desencadeado pela estimulação dos lábios. Observa-se sucção vigorosa)
.. Preensão palmar e plantar (desencadeado pela pressão da palma da mão. Observa-se flexão dos
dedos)
.. Mhoro (desencadeado por queda súbita da cabeça, amparada pela mão do examinador. Observa-
se extensão e abdução dos membros superiores seguida por choro)
.. Marcha automática (desencadeado por inclinação do tronco do RN após obtenção do apoio
plantar. Observa-se cruzamento das pernas, uma à frente da outra)

17. Visão
- Seguir uma bola vermelha com o olhar

18. Audição
- Reação ao som de uma campainha ou de um roco

19. Somatometria
- Perímetro cefálico (medir 3 vezes)
- Peso ao nascer
- Comprimento

CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DO RECÉM-NASCIDO


Eliminação Vesical
- No 4º mês de gestação – rins formados → Urina excretada para o líquido amniótico.
- Nascimento: A concentração plasmática está diminuída → Dificuldade em concentrar a urina → Maior
suscetibilidade e desidratação, acidose, hiperhidratação.
- Micções: A primeira micção deve ocorrer nas 12 a 24 horas após o nascimento. Pode ocorrer durante o
parto. 15 a 60 mL/kg/dia é a quantidade de urina nas primeiras semanas.
- Após a alta: em média, o bebé urina 10 a 12 vezes/dia. Caso ocorram menos de 4 micções ou que estas
sejam com dificuldade ou com desconforto, o bebé deve ser avaliado e vigiado.
- Uratos: urina concentrada do bebé que pode aparentar um aspeto alaranjado e avermelhado como se
fosse sangue mas não é sangue. Nos recém-nascidos do sexo feminino pode ainda surgir a
pseudomenstruação (pode aparecer sangue na fralda).
- São motivo de preocupação: oligoanúria, sangue ou mau cheiro.
Aparelho Digestivo
- O RN de termo é capaz de deglutir, digerir, metabolizar e reabsorver glícidos e proteínas simples; tem
uma capacidade limitada no que se refere à digestão das gorduras, devido à insuficiente produção de
amílase pancreática.
- Tem uma capacidade no estômago de 30 a 90 mL. Podem ocorrer vómitos e regurgitação.

20
- Deve-se ter atenção às cólicas (diminuição dos níveis de acidez gástrica), à retenção gástrica (devido à
dificuldade em digerir) e vómitos.
- A sucção e a deglutição estão bem coordenadas no RN de termo a partir das 12h de vida.
- Há atraso do esvaziamento gástrico nas primeiras 12 horas de vida, melhorando gradualmente nos
primeiros 4 dias.
- O trânsito intestinal estabelece-se, na ausência de anomalias morfológicas e funcionais, desde o
nascimento.
- O refluxo gastroesofágico de grau variável por relaxamento do esfíncter esofágico inferior é habitual
(sobretudo nos primeiros 3 dias de vida).

Nutrição e Alimentos Neonatais


- O RN corretamente hidratado possui a mucosa oral com um aspeto húmido e rosado, o palato duro e o
palato mole íntegros.
- Pérolas de Epstein: quistos de retenção, pequenas áreas esbranquiçadas nas margens das gengivas na
junção entre o palato mole com o palato duro.

Comportamento Alimentar
- A quantidade de alimentos que o RN ingere por refeição depende do tamanho, fome e estádio de alerta.
Deve-se prevenir o risco de engasgamento, vigiar o vómito e verificar alterações da cor do bebé.
- Após a refeição deve ser sempre registada: a quantidade; a frequência de regurgitação (bolçar); hora a
que foi alimentado; tempo em que mamou ao seio.

Leite Materno
- Razões para a suspensão precoce: falta de informação antenatal; atraso na 1ª mamada; falta de ajuda
pós-natal.
- O stress é o maior inimigo na amamentação pois diminui a produção de leite (prolactina) e diminui o
esvaziamento da mama (ocitocina).
- Durante a 1ª semana pós-parto ou até amamentação estabelecer-se, os bebés “dorminhocos” devem
ser acordados após 4h da última mamada. Também não deve ser dada 2h após a última mamada. Após a
mamada, o bebé deve ser erguido para poder arrotar.

Arroto e engasgamento
- Após as mamadas, o RN deve ser erguido para poder “arrotar”. Nem sempre será necessário e algumas
vezes a criança adormecerá antes.
- Em caso de engasgamento ou aspiração, o RN deverá ser colocado em decúbito ventral e inclinado, com
a face sobre o antebraço do adulto, após o que se fazem alguns toques suaves sobre o dorso.

Chupeta
- Não deve ser usada antes de ser estabelecida a amamentação (não deve ser usada antes das 2 semanas
de vida). A melhor forma de se ver se o bebé está a mamar bem é avaliando o seu peso.

21
Autonomia alimentar
- Promover o aleitamento materno pelas suas vantagens (RN e mãe)
- Ensinar a reconhecer sinais de fome e saciedade
- Treinar técnica da amamentação
- Promover a vinculação mãe e filho
- Horário livre a pedido
- Tentar esvaziar a primeira mama e só depois oferecer a segunda; iniciar de modo alternado
- Evitar a introdução de mamilos artificiais e chupeta antes que a amamentação esteja bem implementada
- É considerada uma perda excessiva de peso quando é superior a 7% do peso do RN. Pode ser necessário
suplemento ou não. Em caso de perda excessiva de peso, a AAP recomenda: avaliação da díade RN-mãe,
história familiar, exame físico RN (icterícia, sinais de desidratação, …), exame físico da mama da mãe,
observação da mamada.
- É normal haver uma perda ponderal de 5-7% do peso sendo que no 5º dia o peso é menor que no
nascimento. Entre o 10º e o 14º dia, a perda é recuperada.
- Vómito biliar é sempre anormal!
Eliminação Intestinal
Passa por três fases:
1. Mecónio – Primeiras fezes do RN compostas por líquido amniótico e seus constituintes, muco e bílis.
Tem aspeto viscoso, cor verde escura. A expulsão do mecónio deve ocorrer nas primeiras 24 a 48 horas.
Pode ocorrer durante o parto caso o bebé se encontre em sofrimento fetal. Na primeira eliminação
intestinal do RN deve ser registada a hora e as características da dejeção. Caso não ocorra a expulsão do
mecónio nas primeiras 24 horas deve ser estudada para despiste de imperfuração anal e oclusão
intestinal.
2. Fezes de transição – são eliminadas habitualmente pelo 3º dia após o bebé ter iniciado a alimentação.
São castanho-esverdeado a castanho-amarelado, finas e menos viscosas do que o mecónio, podendo
conter grumos de leite.
3. Fezes de leite – são expelidas por volta do 4º dia. As fezes dos bebés amamentados ao seio têm uma
consistência pastosa, de cor amarelo-dourado e com o cheiro semelhante a iogurte. As fezes do bebé
alimentado com fórmula láctea são de cor amarelo pálido e castanho claro, mais moldadas e com odor
mais intenso. Durante a primeira/segunda semana, os bebés em todas as mamadas têm dejeções, depois
começam a ter um padrão que se mantém. Com os bebés de leite de fórmula, mais duras, pode ocorrer
obstipação. No primeiro mês podem ocorrer 6 ou mais dejeções por dia. Fezes esverdeadas são devidas
a motilidade intestinal acelerada, pouca gordura (esvaziamento deficiente da mama).

RASTREIOS UNIVERSAIS
- Auditivo: deve ser efetuado após as primeiras 12 horas de vida. Consiste na colocação de uma sonda no
canal auditivo do RN e no registo da resposta do ouvido interno ao estímulo emitido.
- Oftalmológico: através do reflexo vermelho pupilar, serve para despistar catarata e retinoblastoma.

22
- “Teste do pézinho”: o rastreio universal para doenças hereditárias do metabolismo e o hipotiroidismo
(diagnóstico precoce) deve ser programado antes da alta, mas só deve ser efetuado entre o terceiro e o
sexto dias de vida. Cartão de Ghutrie.

CUIDADOS AO RN ANTES E DEPOIS DA ALTA


. Aleitamento Materno . Conhecer as . Queixas frequentes
. Banho competências e . Identificar fatores de
Cordão Umbilical necessidades do RN risco para stress tóxico
. Pele . Posição de deitar . Vacina(s)
. Sono . Segurança
. Promover o vínculo . Sinais de alarme

HIGIENE
. Lavar as mãos
. Manter o cordão seco e arejado
. Limpeza do coto
. Vigiar rubor e cheiro
- Banho diário: não é necessário
- Evitar perfumes – utilizar de preferência um sabonete de pH neutro

CORDÃO UMBILICAL E UMBIGO


- Coto umbilical: mumifica e cai em 7 a 10 dias. A persistência até à 3ª semana de vida é frequente mas,
para além do 1º mês exige avaliação médica.
- Deve ser mantido limpo e seco, fora da fralda, para favorecer a cicatrização.
- Mau cheiro, presença de pus e eritema e/ou edema na base são sinais de infeção e exigem tratamento.
- Se existe um cenário de baixos recursos, a utilização de agentes antisséticos como o álcool a 70º ou a
solução de clorhexidina são boas opções, uma vez que são baratos e reduzem a morbilidade neonatal e a
mortalidade.

CHORO
- Comunica através da mímica facial e do choro para expressar a satisfação ou insatisfação.
- Chora porque ciclicamente sente necessidade de dormir, de se alimentar, de ver e ouvir a mãe/família
feliz, calma, tranquila, serena, segura e informada.

SONO
- Os RN passam a maior parte do tempo a dormir: 20-22h por dia.
- Bebés que não dormem ou que dormem excessivamente, que não acordam para mamar, devem ser
observados pelo médico.
- As principais razões para a falta de sono são a fome, as dores, a depressão da mãe, ambas frequentes
no período neonatal.

23
SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DO LACTENTE (SMSL)
Fatores de risco:
. Posição no berço em decúbito ventral ou . Prematuro e/ou baixo peso;
lateral; . Partilhar a cama
. Tabagismo; . Dormir em superfícies moles;
. Condições socioeconómicos, culturais . Sobreaquecimento.
deficientes com mau seguimento pré-natal;

- As recomendações para a prevenção da SMSL são:


i) Dormir em decúbito dorsal.
ii) Não adormecer o bebé em superfícies moles. O berço deve ser seguro, sólido e estável, sem arestas ou
outras saliências. As grades devem ter uma altura mínima, pelo interior, de 60 cm e não devem ter
aberturas superiores a 6cm. O colchão deve ser firme e estar bem ajustado ao tamanho da cama.
iii) Manter a cabeça do lactente sempre destapada, não usar almofadas, edredões, brinquedos ou peças
de roupa que possam cobrir o lactente. A roupa da cama deve ficar ao nível do tronco e presa debaixo do
colchão.
iv) Dormir com os pés a tocar o fundo da cama.
v) Evitar o sobreaquecimento – manter a temperatura do quarto entre os 18 e os 21ºC, a roupa da criança
e da cama devem estar adequadas à estação do ano e ao local. O bebé deve ser vestido como uma pessoa
friorenta se veste.
vi) Não dormir na cama dos pais.
vii) Evitar exposição tabágica
viii) Quando está acordado, o bebé pode ser colocado noutras posições, brincar em decúbito ventral é
aconselhado, fortalece os músculos do pescoço. A cabeça deve ser posicionada, de forma a evitar a
plagiocefalia posicional.

QUEIXAS FREQUENTES – SITUAÇÕES NORMAIS


. Tremor do queixo ou lábio inferior . Esforço, pletórico quando defeca (gases)
. Abanar os braços e pernas quando chora . Pele seca, descamação, especialmente nas
. Respiração irregular (periódica, sem SDR) mãos e pés
. Obstrução nasal . Algumas erupções: eritema tóxico, acne,
. Soluços, espirros, arrotos, bocejo angiomas planos, mancha mongólica
. Reflexo de Moro espontâneo (som) . Estrabismo intermitente

SINAIS DE ALARME SOS


. Icterícia a agravar . Letargia . Irritabilidade excessiva,
. Sinais de SDR (gemido, . Sonolência excessiva choro inconsolável
cianose) . Recusa em mamar . Temperatura instável
. Apneia . Perda de > 10% do peso . Vómito biliar
. Convulsão

24
ALTA DO RECÉM-NASCIDO
A alta dos RN é cada vez mais precoce. São critérios de alta os seguintes:
. Ter efetuado exame objetivo completo, na presença da mãe, em que se demonstrou estabilidade
fisiológica e ausência de malformações no bebé, assim como se procedeu à informação sobre as variantes
do normal;
. Confirmar a estabilidade dos sinais vitais pelo menos 12 horas antes da alta;
. Constatar micções normais e pelo menos uma dejeção espontânea nas primeiras 24 horas;
. Observar o momento da amamentação e confirmar que pelo menos duas refeições foram bem-sucedidas
(com boa sucção, boa pega e corrigidos os posicionamentos);
. Ter efetuado o rastreio da acuidade auditiva com orientação dos casos duvidosos;
. Ter confirmada a existência de icterícia, garantindo que é fisiológica e que a mãe recebeu informação
sobre a evolução natural e ou eventual agravamento;
. Ter excluído fatores de risco de sepsis e confirmação da normalidade das análises da mãe e ausência de
infeções maternas tais como sífilis, hepatite B e HIV;
. Ter administrado a primeira dose da vacina contra a hepatite B e eventualmente a imunoglobulina contra
a hepatite B se a mãe tem o antigénio de superfície positivo da hepatite B e a vacina BCG para as
populações definidas pela Direção Geral de Saúde como de risco;
. Ter avaliado a competência da mãe para cuidar do filho e fornecida informação sobre: importância e os
benefícios do aleitamento materno; micções e frequência adequada de dejeções; cuidados com o cordão
umbilical, a pele e os genitais; determinação da temperatura com o termómetro; sinais de doença e
problemas infantis comuns, particularmente a icterícia; segurança infantil; posição de dormir e higiene
das mãos como forma de prevenir a infeção;
. Ter avaliado e garantido o suporte familiar e económico necessário para cuidar do RN;
. Ter excluído fatores de risco familiar, ambientais e sociais tais como: doença mental num dos pais ou
outra pessoa em casa; uso parental de substâncias ilícitas ou resultados positivos de toxicologia na urina
da mãe ou do RN consistentes com abuso materno ou uso indevido de drogas; história de abuso ou
negligência por qualquer prestador de cuidados; história de violência doméstica, em particular durante a
gravidez; falta de apoio social, em especial para as mães; pobreza extrema; mãe adolescente,
especialmente se tiver outras condições listadas anteriormente; sem residência fixa; sem garantia de
seguimento adequado para o RN, como a falta de transporte para os serviços de cuidados médicos, falta
de telefone; imigrantes.

CRESCIMENTO E A SUA AVALIAÇÃO


- O crescimento normal corresponde à progressão de estatura, peso e perímetro cefálico compatível com
as curvas standard para uma determinada população. A progressão de crescimento deve ser interpretada
de acordo com o contexto do potencial genético da criança.
- Tipos de Crescimento:
. Global
. Neurológico – cresce nos primeiros anos e estabiliza
. Linfóide – tem um pico aos 6 anos
. Genital – está latente até à puberdade

25
FISIOLOGIA DO CRESCIMENTO
- No crescimento pós-natal, distinguem-se três fases:
. 1ª fase – correspondente até aos dois primeiros anos de vida. É um período de crescimento rápido,
embora se continue a observar desaceleração progressiva da velocidade de crescimento desde o
nascimento. Os fatores genéticos e a nutrição são os reguladores de crescimento mais importantes. A
hormona de crescimento (HC) começa a adquirir importância a partir dos 6 meses de idade. A tiroxina é
importante para o desenvolvimento cerebral durante o primeiro ano e para a maturação óssea em todas
as idades. É frequente encontrarmos nesta fase crianças com desvios de percentil, para um nível superior
ou inferior.
. 2ª fase – depois dos 3 anos até à puberdade. São os fatores hormonais que assumem o papel mais
importante no crescimento, nomeadamente as hormonas tiroideias e do eixo hipotálamo-hipofisário
promotor da promoção de HC e estimulação da síntese do IGF-1.
. 3ª fase – puberdade. Dependem de hormonas sexuais, hormona de crescimento, hormonas tiroideias e
o estadio nutricional. Ocorre um surto de crescimento. Este surto de crescimento na rapariga ocorre 2
anos mais cedo do que no rapaz. O pico de velocidade de crescimento no rapaz inicia-se por volta dos 12
anos (9,5cm/ ano) e na rapariga por volta dos 10 anos (8,3cm/ ano).

- Parâmetros importantes na avaliação do crescimento:


. Peso . Índice de massa
. Comprimento/ Estatura corporal
. Perímetro cefálico . Dentição

- Peso
. É sensível a alterações nutricionais agudas.
. Reflete variações não nutricionais, desidratação, edema.
. Avaliação do Peso – regras a cumprir:
.. Verificar e aferir a balança antes de pesar
.. Pesar sempre nas mesmas circunstâncias: mesma balança, descalço, despido ou com a mesma
camisola.
.. Deve ser registado o BSIJ

- Comprimento/ Estatura
. A medição do comprimento é efetuada em crianças com idade inferior a dois anos em decúbito dorsal,
utilizando um pediómetro sobre uma superfície firme.
. Depois desta idade já é possível medir a altura (posição ortostática), usando uma régua de parede ou
estadiómetro.

- Perímetro Cefálico
. A avaliação do PC deve fazer parte da rotina do exame objetivo até aos 3 anos de vida, uma vez que o
tamanho do crânio reflete o crescimento do cérebro. O cérebro atinge cerca de 50% do seu tamanho final
pelo 6º mês e 90% antes dos cinco anos.

26
. Deve ser sempre efetuada a avaliação das fontanelas, considerando que existe uma grande variabilidade
individual no seu tamanho e idade de encerramento. A fontanela anterior tem a forma de losango e
situação na junção das suturas sagital, coronal e frontal e encerra normalmente entre os 10 e os 24 meses.
Uma fontanela demasiado grande pode refletir aumento da pressão intracraniana, hipotiroidismo ou
displasias ósseas, e um encerramento precoce craniossinostose, hipertiroidismo ou desenvolvimento
cerebral anómalo. A fontanela posterior é geralmente de pequenas dimensões ao nascimento (inferior à
polpa do indicador) e tem a forma triangular, situa-se na junção das suturas sagital e lambdóide e encerra
entre a quarta e oitava semanas de vida.
. Regras a cumprir na avaliação do PC:
.. Durante a medição: fita métrica mole e não elástica, que passa por cima da arcada supra-ciliar e pela
protuberância occipital externa
.. Medição rigorosa (pequenas variações na técnica podem induzir erros significativos na avaliação da
curva de percentis)
.. Medir 3 vezes e determinar a média.
.. O PC não é influenciado pela nutrição
.. Paragens de progressão e os desvios da normalidade são sempre de valorizar (valores para além dos
percentis limite)
. Sinais de alerta:
.. Acima do percentil 95-97
.. Abaixo do percentil 5-3
.. A cruzar percentis no sentido descendente ou ascendente
.. Está num percentil muito diferente dos percentis do peso e estatura

- Dentição
. A erupção da dentição primária (dentes de leite) é tipicamente bilateral e simétrica, havendo
variabilidade individual e familiar. Geralmente os incisivos centrais mandibulares são os primeiros a surgir,
entre os seis e os dez meses, seguidos dos incisivos centrais maxilares, dos incisivos laterais, dos primeiros
molares, dos caninos e segundos molares.
. A dentição primária é constituída por:
.. Incisivos médios inferiores (2)
.. Incisivos médios superiores (2)
.. Incisivos laterais inferiores e superiores (4)
. A erupção dos 20 dentes que constituem a dentição primária fica completa pelos 30 meses e a definitiva
(dentição de 32 dentes completa) por volta dos 6 anos.
. A calcificação dos dentes de leite e dos primeiros dentes da dentição definitiva inicia-se na vida intra-
uterina.

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO
- Para avaliar o crescimento de determinada criança comparamo-lo, habitualmente, com curvas padrão
de percentis. O percentil (P) indica a posição (ordenação) de cada criança em relação à população padrão,
expectavelmente saudável. Por exemplo: um menino de 18 meses cujo peso esteja no P15, estima-se que

27
pese o mesmo ou mais que 15% dos meninos da mesma idade da população de referência, e pese menos
que 85% desses mesmos rapazes.
- É normal haver um crescimento entre o intervalo de mais ou menos 2 desvios padrão e a média. A média
corresponde ao P50 e é o mais frequente. Se a distribuição variável for normal (simétrica ou Gaussiana)
→ P50 = média = mediana

Curvas da OMS – Programa Nacional Saúde Infantil e Juvenil


- As curvas de crescimento da Organização Mundial de Saúde (OMS) são atualmente consideradas as mais
adequadas para monitorizar o crescimento e o estado de saúde infantil, integrando o Boletim de Saúde
Infantil e Juvenil (BSIJ) português.
- Em ambos os sexos, as curvas a utilizar são:
. Comp./altura – nascimento aos 5 anos; . Peso – dos 5 aos 10 anos;
. Peso – do nascimento aos 5 anos . IMC – dos 5 aos 19 anos.
. IMC – do nascimento aos 5 anos; . Avaliação do crescimento em bebés ex-
. Perímetro cefálico – nascimento aos 2 anos; prematuros
. Altura – dos 5 aos 19 anos;

- Na avaliação inicial do crescimento em bebés ex-prematuros, até às 50 semanas de idade pós-


concecional, são recomendadas as curvas de Fenton 2013.
- Após as 50 semanas, deverão ser utilizadas as curvas da OMS, pois permitem a comparação com crianças
de termo saudáveis. Nestes casos é necessário fazer o ajuste dos parâmetros de crescimento calculando
a idade corrigida:

Idade corrigida = idade cronológica – [40 semanas – idade gestacional]

Por exemplo, um ex-prematuro que nasceu com 32 semanas de idade gestacional, aos 10 meses de idade
cronológica, terá uma idade corrigida de 8 meses porque 10 - [40 - 32] = 10 - 8 = 2 meses; 10 meses - 2
meses = 8 meses. Geralmente corrige-se o peso até aos 24 meses, a estatura atá aos 40 meses e o
perímetro craniano até aos 18 meses.

- Algumas regras práticas:

28
PN: peso de nascimento. Sempre que baixa 2 percentis é de valorizar. São considerados anormais
aumentos inferiores a 20g por dia no primeiro semestre e inferiores a 10g por dia no segundo.

Anomalias de Peso
- A evolução insuficiente do peso é das principais preocupações dos pais nas consultas de Pediatria. É
necessário distinguir a criança magra, daquela que está desnutrida.
- Falamos de magreza constitucional quando uma criança apresenta uma boa vitalidade, apetite normal
e ausência de sinais de doença, embora com uma relação P/E < P95 ou IMC < P95, mas próximo deste
valor de percentil.
- A má evolução ponderal, sendo um dos motivos frequentes de referenciação à consulta de pediatria
geral hospitalar, deve ser investigada, deve ser vista não como um síndrome, mas como um sinal físico de
que a criança não está a receber um aporte nutricional adequado.
- No outro extremo dos problemas de peso temos o excesso de peso e a obesidade. Na maioria dos casos
de obesidade, a causa é primária ou nutricional (95 a 99% dos casos).
- Uma história clínica completa em crianças com excesso de peso ou obesidade deve incluir a descrição
da evolução do crescimento, inquérito alimentar, atividade física, hábitos de sono, história psicossocial.
Nos antecedentes pessoais valorizar fatores de risco para a obesidade como a diabetes gestacional, baixo
peso de nascimento ou macrossomia ao nascer. Nos antecedentes familiares avaliar a presença de
obesidade, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipidémia ou doença cardiovascular precoce.
O tratamento da obesidade baseia-se na prescrição de hábitos alimentares saudáveis e atividade física.

29
A CONSULTA DE VIGILÂNCIA DE SAÚDE INFANTIL
Objetivos dos exames de saúde:
. Avaliar o crescimento e desenvolvimento
. Estimular a opção por comportamentos promotores de saúde (nutrição, exercício físico, prevenção de
consumos nocivos, medidas de segurança)
. Promover (imunização, saúde oral, aleitamento materno e prevenção de perturbações emocionais e de
comportamento, acidentes e intoxicações, maus tratos, riscos decorrentes de exposição solar
inadequada)
. Detetar precocemente e encaminhar situações que possam comprometer a vida ou afetar a qualidade
de vida da criança e adolescente.
. Prevenir, identificar e saber como abordar as doenças comuns nas várias idades
. Sinalizar e proporcionar apoio continuado às crianças com doença crónica/ deficiência
. Assegurar a realização do aconselhamento genético
. Identificar, apoiar e orientar crianças e famílias vítimas de maus tratos e de violência
. Promover o desenvolvimento e autodeterminação
. Apoiar e estimular o exercício adequado das responsabilidades parentais.

PERIODICIDADE DAS CONSULTAS DE SAÚDE INFANTIL


Salientam-se os objetivos da introdução das seguintes consultas:
. Aos 5 anos com a finalidade de avaliar a existência de competências para o início da aprendizagem;
. Aos 6/7 anos para a deteção precoce de dificuldades específicas de aprendizagem;
. Aos 10 anos para preparar o início da puberdade a entrada para o 5º ano de escolaridade

- Primeiro ano de vida - De 1 aos 3 anos


. 1ª semana de vida . 12 meses
. 1º mês . 15 meses
. 2 meses . 18 meses
. 4 meses . 2 anos
. 6 meses . 3 anos
. 9 meses

- Dos 4 aos 9 anos - Dos 10 aos 18 anos


. 4 anos . 10 anos – ano inico do 2º ciclo
. 5 anos – exame global de saúde . 12/13 anos – exame global de saúde
. 6 ou 7 anos – final do 1º ano de escolaridade . 15/18 anos
. 8 anos

- Exames de Saúde Oportunistas: As idades acima referidas não são rígidas. Se uma criança ou jovem se
deslocar à consulta por outros motivos, pouco antes ou pouco depois da idade-chave, deverá, se a
situação clínica o permitir, ser efetuado o exame indicado para essa idade. Com este tipo de atuação –
exames de saúde oportunistas – reduz-se o número de deslocações e alarga-se o número de crianças cuja

30
saúde é vigiada com regularidade. De igual modo, a periodicidade recomendada deverá adequar-se a
casos particulares, podendo ser introduzidas, ou eliminadas, algumas consultas em momentos especiais
do ciclo de vida das famílias, como, por exemplo, em situações de doença grave, luto, separações ou
aumento da fratria.

Exame físico completo


. Cabeça . Abdómen . Sistema osteoarticular
. Pescoço . Genitais externos . Exame neurológico
. Tórax . Períneo . Pele

Avaliação da Tensão Arterial


- TA sistólica e diastólica inferior ao percentil 90 para a idade, para o sexo e a estatura.
- A braçadeira deve envolver 80-100% do perímetro do braço

SINAIS VITAIS
AVALIAÇÃO TENSÃO ARTERIAL - COMO PROCEDER?
- Em relação à TA sistólica ou diastólica:
1. Situar-se nas linhas da idade da criança/adolescente
2. Encontrar a coluna correspondente ao percentil da estatura, previamente determinado
3. Verificar os valores correspondentes aos percentis 90 e 95 da TA e compará-los com os valores obtidos
na criança

- Definições:
. Tensão Arterial NORMAL: TA sistólica e diastólica inferior ao percentil 90 para a idade e sexo.
. Tensão Arterial NORMAL-ALTA: TA sistólica ou diastólica entre os percentis 90 e 95 para a idade e o sexo.
Recomenda-se vigilância e avaliação de outros factores de risco.
. HIPERTENSÃO ARTERIAL: TA sistólica ou diastólica superior ou igual ao percentil 95 para a idade e o sexo,
em três ocasiões separadas. A criança deverá ser enviada a uma consulta da especialidade.

31
PULSO Variabilidade
bpm

IDADE Respirações/min 0 – 3 MESES 90 - 180

0 – 6 meses 30 - 60 3 – 6 MESES 80 - 160

6 – 12 meses 24 - 45 6 – 12 MESES 80-140

1 – 3 anos 24 - 40 1 – 3 ANOS 75 - 130

4 – 5 anos 22 - 34 4 – 5 ANOS 70 - 110

6 – 12 anos 18-30 6 – 12 ANOS 60 - 90

13 – 18 anos 12 - 16 13 – 18 ANOS 60 - 90

ALIMENTAÇÃO NO PRIMEIRO ANO DE VIDA


NECESSIDADES NUTRITIVAS DO LACTENTE
- Água: 150ml/KG/dia → máximo:1000ml (até 7kg)
- Calorias: 1os 6 meses → 100-110 Kcal /kg/dia | 2os 6 meses → 90-100Kcal/kg/dia
- Proteínas: 2g/Kg/dia

- Duração do Aleitamento Materno, preferencialmente:


. exclusivo até aos 6 meses
. complementar até aos dois anos

Leites e Fórmulas Infantis


São classificados de acordo com o grupo etário a que se destinam:
- Leite para lactentes (tipo 1): estão indicados como suplemento ou substituto do leite materno nos
primeiros 6 meses de vida e que satisfaçam as necessidades nutricionais desses lactentes até à introdução
de alimentação complementar adequada. Obedecem a uma composição de micro e macro nutrientes que
procura aproximar se do leite materno.
- Leite de transição (tipo 2): apresentam um teor de cálcio, fósforo e ferro superiores ao leite 1 estando
apenas recomendados a partir dos 6 M (quando é introduzida uma alimentação complementar adequada)
e até aos 12-24M.
- Leites de crescimento: destinados a crianças dos 1 aos 3 anos.
. “Leites 3”, + crescidos e de crescimento São incluídos neste grupo os leites com apresentação em pó
(que impliquem reconstituição com água);
. Outros leites integram este grupo todos os leites com apresentação líquida
. Vantagens nutricionais em relação ao leite de vaca:
. Menor teor proteico
. Maior valor relativamente a alguns oligoelementos (ferro e zinco), ácidos gordos essenciais e algumas
vitaminas nomeadamente, Vitamina D.

32
Tipos de Fórmulas:
- Fórmulas anti refluxo (AR)
. Espessadas com amido de milho/arroz ou farinha de alfarroba
. > quantidade de HC e < de lípidos aumenta o esvaziamento gástrico
. Recomendação: RGE com compromisso no crescimento.

- Fórmulas saciedade
. Contêm amido de milho, maltodextrinas e ácidos gordos de cadeia longa
. Aumentam a saciedade no período noturno

- Fórmulas anti-obstipantes (AO)


. Ricas em lactose e magnésio que promovem a motilidade intestinal

- Fórmulas anti-cólica
. Menor quantidade de lactose
. ↓ flatulência e cólicas

Modo de preparação:
- O cálculo de volume de leite a preparar para cada refeição tem em conta as necessidades diárias em
água de um lactente: 150ml/Kg/dia até um máximo de 1000ml/dia, a dividir pelo número total de
refeições diárias.
- Necessidades hídricas diárias: 150mL/kg/dia (determinação exata de acordo com o peso)
Volume de LA/refeição: dividir as necessidades hídricas/nº refeições diárias
- Preparação do biberão com LA: 30mL de água para 1 medida rasa de pó (concentração a 13%), colocando
em primeiro lugar o volume de água.
- Exemplo: Lactente de 3 meses; P=6000g
150 mL x 6 kg = 900 mL /dia
900mL / 6 refeições = 150 mL /biberão
150mL / 30mL de cada medida = 5 medidas (150 mL água + 5 medidas de leite em pó).

DIVERSIFICAÇÃO ALIMENTAR
- O gosto pelo doce e a aversão pelo amargo são inatos a preferência para o salgado desenvolve se a partir
do segundo semestre de vida, mas a tolerância ao amargo ou o ácido dos legumes e da fruta, pode implicar
oferecer mais de 10 vezes o mesmo alimento até ser aceite.
- Capacidade do lactente aceitar novos sabores, principalmente amargos ou ácidos, vai aumentando
gradualmente MAS a janela para a habituação é estreita e começa a fechar se aos 2 anos encerrando aos
3 anos.
- Princípios orientadores entre os 4-6M:

33
4 - 5 Meses
a) Sopa: puré de legumes
. Substitui uma das refeições de leite embora nos primeiros dias, se necessário, ainda possa ser
completada com o leite.
. Treino do paladar para sabores menos doces - alternativa: papa
. Ingredientes iniciais: abóbora, cenoura, batata
. No final da cozedura, já no prato, adicionar 5 - 7,5 ml de azeite em cru
. Progressivamente introduzem se novos legumes: alface, alho, alho francês, curgete, brócolos, feijão
verde e couve branca, em grupos de 4-5
. Os vegetais têm baixo valor energético, mas são importantes fontes de macronutrientes (exceto
gorduras) e micronutrientes (vitaminas e minerais)
. Quantidade semelhante à que fazia de leite: inicialmente 150-180mL de sopa.
. Proibidos até ≈12M: Beterraba, Aipo, Nabo, Nabiça, Espinhafres → elevado teor de nitratos/fitatos,
inibem a absorção do ferro.

b) Papas: Lácteas (preparadas com água), Não Lácteas (preparadas com leite materno ou adaptado), Com
Glúten (misturas de cereais), Sem Glúten (milho, arroz ou frutos)
. Iniciar com papas sem glúten
. São fornecedores de hidratos de carbono, proteína vegetal, de ácidos gordos essenciais, de minerais,
vitaminas (B1 e B6) e proteínas (12 a 18 g/100 g)
. Cada refeição deve corresponder a cerca de 35-50 g de farinha
. A partir do 6º mês de vida deverão ser enriquecidas em ferro
c) Fruta
. Iniciar com maçã, pêra, banana
. Crua se estiver madura (ralada ou esmagada), cozida ou assada; sempre sem casca e trituradas
. Oferecer a fruta individualmente e não em puré com mistura de frutas ou sob a forma de sumo

34
. Complemento da refeição da sopa mas não deve constituir uma refeição
. Durante o primeiro ano evitar frutos potencialmente alergénicos ou libertadores de histamina (frutos
vermelhos, kiwi, maracujá).

Exemplo
Manhã: Leite
Almoço: sopa legumes + fruta
Lanche: papa/leite
Jantar: Leite
Noite: Leite

6 – 7 Meses
d) Carne
. Iniciar com carne de frango, perú pato e coelho e, posteriormente, borrego e vitela. Não dar porco antes
dos 1-2 anos (só a partir dos 12-15 meses)
. Recomendado 15 g/dia de carne branca limpa e sem pele ou gordura que deverá ser progressivamente
aumentada até os 30 g/dia (1 colher de sopa rasa depois de triturada)
. Ingestas > 4g/kg/dia entre 8-24 meses → ↑ Risco de obesidade.

e) Peixe
. Começar a introduzir na sopa peixe fresco ou congelado pescada, maruca, solha, faneca e linguado.
Salmão, sardinha, carapau e bacalhau só a partir dos 10-12 meses.
. Recomendada uma quantidade de 10 g por refeição que deverá ser progressivamente aumentada até às
30g (1 colher de sopa cheia).

f) Fruta
. Pode iniciar outras frutas como pêssego, alperce, ameixa, melão, meloa, uva, manga, papaia, abacate
. Evitar o uso de boiões de fruta: contêm sacarose/outros açúcares, concentrado de sumo de limão,
farinha de arroz, entre outros ingredientes, que conferem um sabor mais apurado, podendo levar o bebé
a recusar a fruta natural.

g) Papas com glúten


. A partir dos 4meses completos pode iniciar as papas com glúten (trigo, centeio, aveia e cevada)
. Pode oferecer-se ao bebé pão ou bolachas (tipo bolacha Maria ou específicas para a idade), sempre com
o cuidado de vigiar engasgamentos!

- Inicialmente, o bebé fará por dia apenas uma refeição de sopa com carne seguida de fruta.
- Decorrido 1 mês após o início da carne, o bebé pode começar a fazer 2 refeições de sopa.
- Quando for adicionado o peixe na sopa não colocar carne
- Cerca de 3 refeições de sopa com peixe e 4 refeições de sopa com carne por semana

35
- A partir do 7º mês pode adicionar se a carne ou peixe a açorda e a partir dos 8/9 meses a arroz ou massa,
cozidos sempre com legumes
- A carne e o peixe são uma fonte importante de minerais como o zinco e o ferro; de iodo, aminoácidos e
ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa (ácido araquidónico, LC-PUFAs).

EXEMPLO
Manhã: Leite
Almoço: Sopa carne/peixe + fruta
Lanche: papa/leite
Jantar: Sopa de legumes + fruta
Noite: Leite

9 Meses
h) Iogurte:
. Pode começar a comer iogurte natural (150 200mL), sem aditivos (açúcar, mel ou natas)
. Pode dar se ao lanche, em alternativa ao leite ou à papa, e pode ser misturado com fruta ou 2 bolachas
trituradas. Frutos secos e oligenosas podem ser usados, em quantidades reduzidas, a não ser que haja
potencial alérgico.
. Rico em pré/probióticos
. Os “iogurtes para bebés” têm, muitas vezes, grandes quantidades de açúcar e não trazem nenhum
benefício.

EXEMPLO
Manhã: Leite
Almoço: Sopa carne/peixe + fruta
Lanche: Papa/leite ou Iogurte com bolacha ou
Iogurte com fruta
Jantar: Sopa de legumes + fruta
Noite: Leite

9 – 11 Meses (surge reflexo da mastigação → alimentos de forma menos homogénea)


i) Ovos
. Introduzir a gema de ovo, começando por introduzi la na sopa, em substituição da carne e do peixe
. Não consumir > 1 gema/refeição ou > 2-3/semana
. A clara do ovo apenas deve ser introduzida mais tarde, a partir dos 11-12 meses ou mesmo próximo dos
2 anos se houver história de atopia
. Se oferecer uma gema à refeição não dar outra fonte de proteína animal!

j) Arroz e massa
. Inicialmente na sopa de legumes e depois a partir dos 9-10 meses no prato juntamente com a carne e/ou
peixe.

36
k) Leguminosas
. Cerca dos 9-10 meses de idade pode introduzir se as leguminosas: o feijão frade, branco ou preto, grão,
ervilha e lentilhas
. Devem ser dadas inicialmente previamente demolhadas, descascadas e em pequenas quantidades que
vão aumentando progressivamente; podem ser adicionadas à sopa ou dadas separadamente
. Importante fonte proteína vegetal, HC complexos, minerais e fibra
. Num lactente a efetuar uma dieta vegetariana este grupo é a principal fonte de proteína e a sua
introdução deverá ocorrer mais precocemente.

EXEMPLO
Manhã: Leite
Almoço: Sopa + carne/peixe com massa/arroz/leguminosas + fruta
Lanche: Papa/leite ou iogurte com fruta ou iogurte com bolacha
Jantar: Sopa + carne/peixe com massa/arroz/leguminosas + fruta
Noite: Leite

12 Meses
. Os alimentos devem ser dados em pequenos pedaços e separados por sabores, ou seja, a sopa, o
segundo prato e a fruta Dieta será progressivamente semelhante à da família
. É a partir desta altura que o leite pode ser alterado para outro adequado à idade o leite da família!
. Recomenda se até aos 3 anos o consumo do leite especial crescimento ou, caso isso não seja possível,
leite de vaca gordo ou meio gordo (não magro!)
. Pode ser introduzida na dieta o ovo inteiro
. Pode começar a introduzir-se citrinos, frutos vermelhos, kiwi, maracujá (em pequenas quantidades por
serem libertadores de histaminas)

Água
. Principal regulador térmico imprescindível à adequada realização de todas as funções vitais
. Principal constituinte do corpo humano
. Deve ser oferecida água ao lactente, várias vezes ao dia
. Não se deve oferecer outras bebidas (chá ou sumos)
. Não se recomenda a introdução da água antes do início da diversificação alimentar!

Suplementos
. Os micronutrientes prioritários são o ácido fólico, a vitamina D e o ferro.
..Ferro e a Vit. D são especialmente importantes no primeiro ano de vida, dado o leite materno ser
pobre nestes micronutrientes
.Vitamina D
..Regulação do metabolismo fosfo-cálcico, promovendo a absorção de cálcio para uma adequada
mineralização óssea, evitando o raquitismo e a osteomalácia

37
..Tendo em conta que a exposição solar direta está desaconselhada durante o primeiro ano de
vida e que poucos alimentos são naturalmente ricos nesta vitamina, a sua suplementação oral
está aconselhada.
..PREVENÇÃO → Colecalciferol: 400UI/dia de vitamina D durante o primeiro ano.

PRECAUÇÕES NA PREPARAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE TERAPÊUTICA À


CRIANÇA
- Compete ao enfermeiro:
a) Administrar a terapêutica
b) Garantir o armazenamento adequado e correta administração dos medicamentos do domicílio
c)Facultar aos pais informação sobre o medicamento a administrar para ser consultada, caso estes o
solicitem.

- Atender às regras de preparação de acordo com a forma medicamentosa e via de administração:


a) Identificação correta do medicamento
b) Verificação do prazo de validade
c) Preparação/verificação da dose correta
d) Identificação da criança
e) Informação aos pais sobre medicamentos prescritos e pedir a sua colaboração.

VIA ENTÉRICA
- Sempre que possível deve-se escolher a via entérica para administrar terapêutica;
- Existem duas formas de medicamentos para administração oral: sólidos e líquidos;
- Medicamentos sólidos não devem ser administrados antes dos 5 anos → Risco Asfixia;
- A maioria dos fármacos orais vem preparados sob a forma líquida com sabor agradável, para facilitar a
administração;
- Os medicamentos sólidos devem ser dissolvidos em pequenas quantidades de água, porque a criança
pode recusar
- Podem ser misturados em geleias, sumos, sopas; não utilizar leite.

A Preparação da Dose
- Medicamento correto → Verificar a forma de apresentação do medicamento para assegurar que seja
apropriada para a criança.
. Seringa (lactentes) ou copo de unidose (crianças maiores) - se for usada seringa esta deve ser colocada
dentro do invólucro e nunca encapsulada com agulha de proteção!
. A medicação oral sólida é dissolvida em água destilada (copo de unidose), devendo ser utilizada a
quantidade mínima.

38
A Forma de Administração
- Ter cuidado para evitar aspiração do fármaco
- O medicamento é colocado na boca com uma colher, um copo plástico, um conta gotas de plástico, ou
uma seringa no canto da boca, ao lado da língua do lactente, com o conteúdo administrado lentamente,
em pequenas quantidades, permitindo à criança deglutir durante a administração.
- Tentar obter sempre a colaboração da criança e solicitar a colaboração do acompanhante. Se a criança
resistir, pode ser necessário recorrer a alguma coerção física que deverá ser efetuada rápida e
cuidadosamente com a criança semi-sentada.

- Soluto hidratação Oral (SRO)


. Bioral-suero
. Dioralyte 1sq/200ml de água
. Miltina electrolit

Administrar Ad libitum se:


. RN ou lactente com vómitos: 5ml de 5/5minutos
. Criança maior: 10ml de 5/5 mn
Conservar no frigorifico após abertura/preparação durante 24h

VIA PARENTÉRICA
- Esta via de administração é muito traumatizante para as crianças.
- O enfermeiro deve considerar os aspetos particulares:
. locais de administração,
. seleção do material,
. diluições,
. preparação física e psicológica da criança.

1. PREPARAÇÃO DA CRIANÇA
- Psicológica
- Analgesia e Estratégias não farmacológicas (Norma DGS 22/2012 Controlo da dor em Procedimentos
invasivos na criança)
- Física: Imobilização, Local de administração

2. PREPARAÇÃO DO FÁRMACO
- Diluições: Utilizar regra de três simples e atender aos protocolos de diluição → Diluir em função da via a
utilizar e tipo de droga
- Material → Escolher seringa e agulha de acordo com:
. Via de administração e local
. Idade da criança
. Quantidade de fármaco

- Seringas:

39
. Volume < 1ml → seringa de insulina
. Volume > 1ml → seringa com diâmetro estreito adequado

- Agulhas:
. Tipo de droga, via e local de administração

Via Endovenosa
- Aspetos a ter em conta na preparação e administração por esta via:
. Dose do fármaco a ser administrado;
. Diluição mínima da droga;
. Tipo de solução em que a droga pode ser diluída;
. Período de tempo em que a droga pode ser administrada com segurança;
. Velocidade da infusão que a criança/jovem e o seu sistema circulatório podem tolerar com segurança;
. Horário no qual a substância pode ser administrada;
. Compatibilidade de todas as substâncias prescritas/administradas por via EV;
. Não administrar com plasma ou sangue.

- INDICAÇÕES
. Administrar terapêutica a crianças não cooperantes, inconscientes, ou com dificuldade de absorção;
. Administrar grandes quantidades de líquidos e ou medicação;
. Obter um efeito rápido do medicamento;
. Manter/restabelecer o equilíbrio hidro-electrolítico.

- DILUIÇÕES
. Atender aos protocolos de diluição dos fármacos
. Consultar:
Guia de Preparação e Administração de Medicamentos por via parentérica;
Manual de terapêutica injetável;
Manual de terapêutica de emergência.

- ESCOLHA DO LOCAL
. LACTENTES: Epicraneanas (cada vez menos utilizadas), e veias do dorso da mão e antebraço. Evitar locais
de grande mobilidade. Atenção à imobilização e fixação dos adesivos.

40
41
Protocolo de Antibioterapia por via parenteral → Cefoxitina (Mefoxin®)

Colocação de CVP para administração de terapêutica


- Orientações quanto à execução:
. Informar a criança /pais e obter consentimento verbal da criança/ acompanhante;
. Explicar o procedimento à criança e pedir a sua colaboração;
. Fazer aplicação tópica do EMLA após escolha criteriosa de veia, proteger a zona com adesivo
transparente e aguardar no mínimo 1hora (1h30 a 2 h);
. Utilizar técnica asséptica na colocação do cateter venoso periférico.
. Puncionar a porção mais distal do membro, para preservar o vaso, evitando as zonas de flexão;
. Evitar puncionar veias lesadas e locais próximos de um local recentemente puncionado;
. Puncionar, se possível, no membro não dominante da criança;
. Os adesivos de fixação devem ser colocados de forma a permitir visualizar o máximo do local de punção;
. O local de punção deve ser observado assiduamente;
. O procedimento deve ser realizado preferencialmente na sala de tratamentos.

- PROCEDIMENTO:
Material e Equipamento
. EMLA e Tegaderm
. Luvas limpas e garrote

42
. Álcool a 70º e “Kit para PV” esterilizado ou compressas esterilizadas
. Cateter venoso periférico de calibre adequado
. Válvula anti-retorno (VAR)
. Rede elástica tubular ou ligadura
. Seringa com 5cc de soro fisiológico + agulha dentro do respetivo invólucro
. Adesivo hipoalergénico
. Recipiente para sujos
. Contentor corto-perfurantes.

- EXECUÇÃO:
. Providenciar a preparação e transporte do material para junto da criança;
. Dispor o material de forma funcional;
. Explicar o procedimento à criança e pedir a sua colaboração;
. Colocar a criança em posição adequada, de preferência deitada;
. Lavar as mãos;
. Calçar luvas;
. Efetuar a punção no local selecionado;
. Fixar o cateter com adesivo hipoalérgico esterilizado, na zona mais próxima do local da punção, sem
cobrir demasiado o local de punção;
. Colocar válvula anti-retorno, preenchida com soro
. Introduzir aproximadamente 5 ml de soro fisiológico, para confirmar permeabilidade do cateter;
. Colocar tampa da válvula anti-retorno;
. Colocar pequena compressa esterilizada debaixo da parte proximal do cateter para protecção da pele;
Não colocar adesivo no local de adaptação do cateter ao prolongador;
. Cobre se a válvula anti-retorno com uma compressa esterilizada, que é substituída sempre que se
manipula o cateter, e protege se com rede tubular ou ligadura;
. Manter sempre o penso do local de inserção, integro, seco e estéril;
. Providenciar a recolha e arrumação do material;
. Lavar as mãos.

OU
. Adaptar sistema de administração de fluidos adequado à situação, com torneira de três vias e
prolongador;
. Fixar prolongador à válvula anti-retorno;
. Não colocar adesivo no local de adaptação do cateter ao
prolongador;
. Proteger local do cateter com rede elástica tubular ou ligadura;
. Manter sempre o penso do local de inserção, integro, seco e estéril;
. Providenciar a recolha e arrumação do material;
. Lavar as mãos.

- REGISTOS:

43
. Data e hora da colocação do CVP; local de inserção do CVP; permeabilidade; aspeto.
. Intercorrências observadas.

Soros mais Utilizados em Pediatria


- Princípios Ativos: Glucose + Cloreto Sódio (NaCl)
- Os mais utilizados:
. Glicose 5% (50 mg/ml) em NaCl a 0,9% (9 mg/ml)
. Glicose a 5% em NaCl a 0,45%
. Glicose a 5% em NaCl 0,3%

- Soro glucossalino hipossódico - Soro a 1/3 com glicose ou Soro 210


. Composição: Glucose 5% em solução de 0,3% de NaCl
. Frasco de 500 ml: 5% de glicose (55 mg/ml) 0,3% de NaCl
3 mg/ml)

Preparação de Fluidoterapia
- Fórmulas mais utilizadas:
1ml/h = 1 mgt/min
1gt/min = 3mgt/min

𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑓𝑢𝑠ã𝑜


𝑚𝑙/ℎ =
(𝑛º 𝑑𝑒 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠)

𝑣. 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑓𝑢𝑠ã𝑜 × 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠/𝑚𝑙


𝑔𝑡𝑠/𝑚𝑖𝑛 =
𝑑𝑢𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑓𝑢𝑠ã𝑜 𝑒𝑚 𝑚𝑖𝑛

Protocolo de administração de fluidoterapia para crianças/jovens no período pré-operatório


- Utilizar soro glucossalino hipossódico
- Cateterizar veia (aplicar EMLA pelo menos 1h antes)
- Administrar sedação, de preferência oral, quando está prescrita
- Proceder ao cálculo do débito do soro de acordo com o peso da criança, segundo o seguinte esquema:

Primeiros 10 Kg 100ml/Kg/dia

Segundos 10 Kg 50 ml/Kg dia

Restantes Kg 20 ml/Kg/dia

Por ex: uma criança com 45 KG


10Kg x100 ml= 1000 ml

44
10Kgx 50 ml = 500 ml
25 Kg x 20 ml = 500 ml
Total = 2000 ml/dia
2000 ml: 24 horas = 100 ml/hora

- Identificar o frasco do soro com:


. Nº da cama
. Nome da criança
. Hora de início
. Hora de fim (depende do serviço)
. Data
. Débito

- Selecionar o sistema de soro atendendo ao tipo de bomba perfusora a utilizar ou ao débito a perfundir
(gota ou microgota);
- Colocar torneira de 3 vias e prolongador de 50 cm;
- Identificar o sistema de soro com rótulo conforme indicado anteriormente;
- Mudar o sistema, a torneira de 3 vias e prolongador em dias alternados ou diariamente se soro composto
ou protocolo do serviço;
- O sistema de soro de administração de terapêutica mudar diariamente, no turno da manhã.
- Os sistemas de administração de sangue devem ser substituídos logo que a transfusão termine.
- Os sistemas de administração de alimentação parentérica são substituídos aquando da mudança dos
frascos/bolsa de alimentação;
- Vigiar frequentemente o ritmo das perfusões a fim de prevenir a ocorrência de obstrução e sobrecarga
circulatória;
- Controlar o ritmo da perfusão com bomba perfusora, sempre que possível;
- Manter sempre o penso do local de inserção, integro, seco e estéril;
- Vigiar local inserção do cateter s/horário;
- Otimizar cateter diariamente.

VIA INTRAMUSCULAR

- INDICAÇÕES:
. Administrar terapêutica a crianças não cooperantes, inconscientes, ou com problemas gastrointestinais.

- DILUIÇÕES:
. Sempre que o fármaco traz solvente este deve ser utilizado;
. os solventes mais utilizados são a água bidestilada e o soro fisiológico a 0,9%.

- ESCOLHA DO LOCAL:
. Idade
. Peso e do desenvolvimento da massa muscular

45
. Tipo de medicamento quantidade e características
. Frequência e nº de injecções aplicadas no local
. Causas que impeçam o acesso ou causem contaminação (ex: feridas)
. Capacidade da criança em assumir a posição necessária com segurança

- LOCAIS DE ELEIÇÃO PARA ADMINISTRAÇÃO:

46
- TÉCNICA DE ADMINISTRAÇÃO:
. Obter ajuda para imobilizar a criança
. Expor a área, de modo a permitir uma ampla visão dos pontos de referência;
. Selecionar o local onde não haja irritação cutânea ou perigo de infeção, palpando de modo a evitar áreas
endurecidas;
. Colocar a criança em posição adequada e mantê-la imobilizada
. Desinfetar a área
. Segurar o músculo entre o polegar e os outros dedos para assim imobilizar com segurança e injetar a
solução na sua parte mais profunda
. Inserir a seringa “montada” introduzi-la perpendicular ao músculo, ou na obliqua a 45º na direção do
joelho no caso do vasto externo (vasto lateral e reto femoral)
. Aspirar para ter a certeza de que a agulha não está num vaso sanguíneo e injetar lentamente segurando
bem o conjunto agulha seringa;
. Injetar lentamente a medicação no músculo relaxado
. Retira a agulha/seringa e aplicar pressão firme fazendo uma pequena massagem;
. Segura e acariciar a criança e estimular os pais a confortá-la; nas crianças
maiores elogiá-las.

- REGISTAR:
. hora; fármaco, dose e o local da injeção

47
VIA SUBCUTÂNEA
- LOCAIS DE ADMINISTRAÇÃO:

. Face superior externa do braço (região deltóidea);


. Abdómen, abaixo do bordo costal até à crista ilíaca (exceto 5 cm à volta do
umbigo);
. Região ântero-lateral da coxa;
. Região escapular na parte superior do tórax posterior;
. Região ventroglútea;
. Região dorsoglútea.

- Outros aspetos a ter em conta:


. Providenciar analgesia
. Trocar agulha após aspirar a medicação da ampola
. Selecionar agulha de acordo com tamanho da criança: lactentes ou criança pequena (10mm);
adolescente (13 a 15mm)
. Crianças pequenas e lactentes: o volume máximo administrar 1ml; lactentes pequenos podem não
tolerar volumes > 0,5ml
. Selecionar o local mais adequado: características do fármaco; frequência e o número de injeções.
Desinfetar com álcool e deixar secar (exceto insulina)
. Administrar preferencialmente no 1/3 médio da face externa do braço; exceto se outra indicação (por
ex: insulina; heparina)
. Atender à rotação dos locais de administração do fármaco
. Solicitar presença e colaboração dos pais
. Imobilizar corretamente a criança
. Administrar lentamente
. Registos

MEDICAÇÃO RECTAL
- Medicação retal mais utilizada:
. Supositório analgésico e/ou antipirético
. Microenema bebegel®
. Anticonvulsivante (Diazepan retal).

- Cuidados a ter:
. Solicitar consentimento verbal dos pais/cuidadores;
. Solicitar presença e/ou colaboração do acompanhante;
. Sempre que possível permitir que seja o acompanhante ou a criança a administrar o supositório; neste
caso explicar e supervisionar a administração
. Após administração de medicação retal, comprimir as nádegas firmemente durante 5 minutos
. Após administração do microenema ou enema, solicitar à criança para o reter pelo menos 15 minutos;
crianças pequenas e lactentes comprimir as nádegas durante esse período.

48
MEDICAÇÃO POR VIA INALATÓRIA
Aerossolterapia, Nebulização, Oxigenoterapia

- TIPO DISPOSITIVOS SIMPLES:


A. Inalador pressurizado de dose
calibrado (pMDI)
B. Inalador pressurizado de dose
calibrado + câmara expansora (pMDI+CE),
com bucal ou máscara facial
C. Inalador de pó seco (DPI)

- Inalador pressurizado de dose calibrado + câmara expansora (pmDI+CE) com máscara facial
Cuidados a ter:
. Colocar a criança/jovem na posição de pé, sentado ou semi-sentado
. Retirar a tampa do pDMI e agitar bem (na vertical)
. Adaptar o pDMI à camara expansora, com o reservatório voltado para cima
. Adaptar a máscara facial à câmara expansora da criança/jovem
. Pressionar 1 vez para libertar o aerossol
. Manter a câmara colocada enquanto a criança respira 5 a 10 vezes
Nota: Se tiver prescrito mais do que 1 “puf”, deverá aguardar se que a criança respire 5 a 10 vezes para
nova inalação.
. Após inalação do medicamento (anti-inflamatório esteroide) deve lavar se a boca com água ou escovar
os dentes e lavar a face se utilizar máscara.
. Lavar a máscara facial.

Nebulização
- Cuidados a ter:
. Preparar medicação de acordo com a prescrição;
. Adaptar bem a máscara à face da criança;
. Ligar a fonte de O2 ou ar comprimido a um fluxo de 6 a 8L/min
. Instruir a criança para respirar normalmente;
. Manter a fonte ligada até terminar o líquido colocado no reservatório;
. Substituir o nebulizador após 24h (em regime de internamento).

49
Oxigenoterapia
- Consiste na administração de oxigénio medicinal, por via inalatória, em concentração superior à
encontrada na atmosfera
- Objetivos:
. Facilitar as trocas gasosas
. Prevenir a hipoxia dos tecidos
. Corrigir as alterações metabólicas causadas pela hipoxia
. Promover uma boa oxigenação diminuindo o trabalho respiratório

- Humidificado, sempre que possível;


- Colocar a criança em posição confortável;
- Encorajar a presença dos familiares;
- Obrigatório monitorizar – Oximetria de pulso
- Inflamável
- O oxigénio pode ser administrado por: cânula nasal (preferencialmente); tendas de oxigénio, máscara;
- A necessidade de O2, o sistema de administração e a quantidade de O2 a administrar são prescritos pelo
médico;
- Cumprir o procedimento: lavagem das mãos; reunir todo o equipamento; selecionar tamanho da
cânula/cateter nasal/máscara.
- As velocidades de fluxo devem ser as seguintes:
. Cânula nasal:
..RN e lactentes max. 2L/min
..Crianças maiores e adolescentes até 4L/min
. Máscaras:
.. Pode variar de 5 a 10L/min
- Pode haver reinalação de CO2 se o fluxo de O2 for inadequado

- Escolha do sistema:
. Baseado na clínica e necessidade de concentração de O² a administrar
. Fluxo: mínimo necessário para PaO² → 50-80mmHg e SpO² → 90-95%
4 x fluxo O² + 21% = concentração de O²
. Métodos não invasivos:
.. Sistemas de baixo Fluxo:
… Cateter/cânula nasal
... Máscara facial simples
.. Sistemas de Alto Fluxo:
... Máscara de Venturi
... Máscara facial com reservatório
... Tendas e campânulas

. Cânula nasal
.. Fluxos acima de 2l/min não estão recomendados em RN e crianças

50
FLUXO O2 CONCENTRAÇÃO O2
0,5 LITROS/MIN 23%
1 LITRO/MIN 25%
2 LITRO/MIN 29%

- Máscaras:
. Considerações Gerais:
.. Preencher o nariz e a boca
.. Escolher o tamanho adequado
.. Verificar o sistema de selagem
.. Ajustável com banda elástica
.. Sempre que possível transparente
.. Risco de aspiração

51
CONECTOR CONCENTRAÇÃO FLUXO
AZUL 24% 2 litros/min
BRANCO 28% 4 litros/min
LARANJA 31% 6 litros/min
AMARELO 35% 8 litros/min
VERMELHO 40% 10 litros/min
VERDE 60% 12 litros/min

52
53
54
AVALIAÇÃO E GESTÃO DA DOR NA CRIANÇA
MANIFESTAÇÕES DE DOR NA CRIANÇA
- Comportamentais:
. Postura antiálgica - Fisiológicas:
. Mudanças de comportamento: . Alterações do tónus muscular
.. Irritabilidade, agitação . Alterações fisiológicas:
.. Letargia, prostração .. Rubor, palidez
.. Choro, gemidos, gritos .. Hipersudorese
.. Agitação noturna .. Hipertermia
.. Fácies característico de dor .. FC; FR; TA e Sat. O2 (taquicardia, polipneia)
.. Agressividade .. Recusa alimentar
.. Dificuldade em consolar .. Distúrbio do sono, pesadelos
.. Recusa de jogo ou participação lúdica

55
Norma de Boa Prática:
a) Acreditar sempre na criança que refere dor;
b) Privilegiar a autoavaliação a partir dos 3 anos, sempre que
c) Dar tempo à criança para expressar a sua dor;
d) Ter sempre presente o comportamento habitual da criança ou de uma criança sem dor da mesma idade;
e) Dialogar com a criança (a partir dos 3 anos) /pais/cuidador principal, observar a
criança e utilizar um instrumento de avaliação da dor;
f) Realizar a história de dor na admissão da criança ao hospital e na primeira consulta;
g) Manter o mesmo instrumento em todas as avaliações da mesma criança, expecto se a situação clínica
justificar a mudança;
h) Utilizar de forma rigorosa as instruções metodológicas especificas de cada instrumento;
i) Em situação de dor intensa dar prioridade ao tratamento em detrimento da sua avaliação.
j) Registar no processo clínico da criança todas as avaliações realizadas

História da dor:
- Permite orientar a avaliação e o controlo da dor na criança. Consiste na colheita de informação (através
de entrevista aos pais e criança quando possível, observação e outras fontes disponíveis) sobre:
a) características da dor: localização, qualidade, intensidade, duração, frequência, sintomas associados
b) fatores de alívio e agravamento;
c) uso e efeito de medidas farmacológicas e não farmacológicas;
d) formas de comunicar/expressar a dor
e) experiências anteriores traumatizantes e medos;
f) habilidades e estratégias para enfrentar a dor e outros problemas de saúde
g) comportamentos da criança e ambiente familiar
h) efeitos da dor na vida diária
i) impacto emocional e socioeconómico

Instrumentos de Avaliação da Dor em Crianças


Recém-nascidos

56
Menores de 4 anos ou crianças sem capacidade para verbalizar

Entre os 4 e 6 anos

A partir dos 6 anos

57
Intervenções Farmacológicas no Controlo da Dor na Criança
ANALGÉSICOS:
. Paracetamol
. AINE (cetorolac, metamizol magnésio)

ANESTÉSICOS LOCAIS:
. lidocaína + prilocaína creme - EMLA® → creme sob penso oclusivo
. Lidocaína 1% tamponada → infiltração local

ANALGESIA+SEDAÇÃO:
. Fentanilo
. Morfina
. Tramadol
. Diazepan
. Hidrato de Cloral
. Cetamina
. Midazolan
. Protóxido de azoto e oxigénio (50/50%) - fluxo de gás

58
VACINAÇÃO

LOCAIS ANATÓMICOS DE ADMINISTRAÇÃO DAS VACINAS - IDADE < 12 MESES


- Não dar na nádega – risco lesão nervo ciático
- Podem ser administradas em simultâneo mais do que uma vacina no mesmo membro, em locais
distantes entre em locais distantes entre si 2,5-5 cm.

59
LOCAIS ANATÓMICOS DE ADMINISTRAÇÃO DAS VACINAS - IDADE ≥ 12 MESES
- Se ausência de massa muscular podem ser administradas na coxa.
- Podem ser administradas em simultâneo mais do que uma vacina no mesmo membro, em locais
distantes entre si 2,5-5 cm.

60
61
FEBRE
- A febre é o principal sintoma que leva as crianças às urgências.
- É a elevação anormal da temperatura corporal (geralmente +1,0ºC acima da temperatura habitual do
indivíduo) que ocorre como parte de uma resposta biológica específica e que é mediada e controlada pelo
sistema nervoso central. Ex: se o indivíduo tem temperaturas axilares basais que variam de 36,1ºC a
37,1ºC (média 36,6ºC), deverá considerar se como febre um valor igual ou superior a 37,6ºC.
- Até aos 10 anos, deve-se avaliar T⁰C retal, uma vez que é a mais fiável, principalmente quando ainda
está a subir. Isto ocorre porque é nas extremidades que o calor se dissipa, principalmente com a sudorese.
- A regulação da temperatura corporal é controlada por um centro termorregulador localizado no
hipotálamo.
- As causas podem ser:
. Infeciosas
.. Víricas (auto-limitadas – 3-5 dias, tratamento sintomático, bom estado geral em apirexia)
.. Bacterianas (maior atingimento do estado geral, febre desaparece ao fim de 24-48h de antibioterapia)
. Inflamatórias
. Neoplásicas
. Outras

62
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Hiperatividade do Sistema Nervoso Autónomo Simpático:
- Taquipneia (para libertar calor)
- Taquicardia (para chegar sangue e mecanismos de defesa mais rápido ao local) → ↑ 10bpm por cada
aumento de 1⁰C
- ↑ TA

ONDE AVALIAR TEMPERATURA?


- Depende da idade da criança:
. Axila (≥ 37,6⁰C)
. Reto (≥38⁰C)
. Tímpano (a partir dos 3 anos) (≥37,8⁰C)

Medição Retal
- É o método mais rigoroso e o que melhor corresponde à temperatura central
- Deve ser efetuada sempre que seja de importância clínica uma temperatura exata
- Como avaliar? Introduzir o termómetro digital de ponta flexível ou o de galinstan no ânus (pelo
menos 3 cm) e esperar pelo 1º toque (demora média de 37±14 segundos); com termómetro de galinstan
deve se esperar 3 minutos;
- FEBRE: Temperatura retal ≥ 1,0⁰C acima da temperatura média individual ou temperatura retal ≥ 38⁰C.

63
Medição Axilar
- A temperatura na axila demora 5 minutos a estabilizar
- Como avaliar? Após colocar o termómetro digital desligado na axila (de preferência para a do lado em
que o doente está recostado ou virado), devendo manter se o braço sempre firmemente encostado ao
tronco durante 5 minutos, após os quais se deve ligar então o termómetro e esperar pelo apito com o
termómetro de galinstan a leitura deve ser também aos 5 minutos.
- FEBRE: Temperatura axilar ≥ 1,0⁰C acima da temperatura média individual basal; ou Temperatura axilar
≥ 37,6⁰C, com a leitura aos 5 minutos.

Medição Timpânica
- A temperatura é medida em poucos segundos
- Uso de pontas descartáveis
- Desaconselhada em crianças 3 anos
- Como avaliar? Realizar 3 determinações consecutivas e adotar o valor mais elevado.
- FEBRE: Temperatura timpânica ≥ 1,0⁰C acima da temperatura média individual basal ou Temperatura
timpânica ≥ 37,8⁰C.

SINAIS DE ALERTA
. Febre no RN ou no lactente com idade < 3 meses;
. Má impressão clínica;
. Prostração
. Aparecimento de exantema nas 1ªs 24 a 48h
. Petéquias; púrpura
. Má perfusão periférica mantida/instabilidade hemodinâmica;
. Gemido;
. Sinais de irritação meníngea, convulsão;
. Sinais de dificuldade respiratória;
. Vómitos repetidos entre as refeições;
. Dor ou dificuldade em mobilizar um membro ou alteração da marcha
. Recusa alimentar completa superior a 12 horas, principalmente em criança com menos de 1 ano; sede
insaciável;
. Febre muito elevada/difícil de controlar; mais de 4-5 dias de evolução;
. Apreensão excessiva dos pais.

QUANDO DEVE RECORRER A CRIANÇA/ADOLESCENTE AOS SERVIÇOS DE SAÚDE EM CASO DE FEBRE?


- Evidência de 1 ou mais “sinais de alerta”;
- Idade < 3 meses (inferior a 3 meses de idade corrigida se a criança nasceu prematura);
- Temperatura axilar ≥ 39,0ºC ou retal ≥ 40,0ºC, se idade inferior a 6 meses;
- Temperatura axilar ≥ 40,0ºC ou retal ≥ 41,0ºC, após os 6 meses de idade;
- Se tem doença crónica grave (malformações cardíacas, imunodeficiência, medicação crónica com
imunossupressores, cancro em quimioterapia).

64
- Febre com duração superior a 5 dias ou reaparecimento de febre após 2 a 3 dias de apirexia.

AGUARDAR O RECURSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE, MANTENDO A VIGILÂNCIA PELOS PAIS SE:
- Brinca e tem atividade normal;
- Come menos, mas não recusa os alimentos líquidos;
- Tem sorriso aberto ou fácil;
- Acalma ao colo e fica com o comportamento quase habitual.

MEDIDAS ANTIPIRÉTICAS E DE ALÍVIO DO DESCONFORTO


Medidas gerais (aumentar o aporte de líquidos e promover o repouso)
a) Manter temperatura ambiental 20ºC - 22ºC
b) Adequar a atividade à capacidade da criança/adolescente com febre
c) Na criança autónoma, adequar o vestuário e a roupa da cama à sensação de frio ou de calor na criança
sem autonomia, adequar o vestuário de modo a que não provoque sobreaquecimento, mas mantenha o
conforto
d) Oferecer água ou leite (lactentes)
e) Alimentar sem forçar
f) Por rotina não usar meios físicos para baixar a temperatura na febre (exemplo banho tépido), mas
devendo usar se na hipertermia (aumento da temperatura corporal por aquecimento externo, excessiva
produção de calor ou remoção inadequada de calor).

Medidas Especificas
a) Os medicamentos antipiréticos não são necessários se a criança estiver confortável;
b) De um modo geral temperaturas axilares, orais ou timpânicas superiores a 38,5ºC ou retais superiores
a 39,0ºC causam desconforto;
c) Na criança que mantém a temperatura elevada com desconforto, e após a aplicação das medidas gerais,
poderá ser efetuada a seguinte medicação:
. PARACETAMOL
.. Dose oral: 10-15 mg/Kg/dose (máximo 1g) --(dose diária máxima: 90mg/Kg/dia);
.. Intervalos de administração de 4 a 6 h (máximo 5x dia), atua em 30min, com o pico do efeito em 2h e a
duração de 4 a 6h.
.. NÃO ESQUECER: Apesar de ser um fármaco seguro pode apresentar: toxicidade gástrica, cutânea e
hepática.

. IBUPRUFENO
.. Dose oral: 5-10mg/Kg/dose (máximo 600mg)
.. Intervalo de administração 6 a 8 horas, atua em 60min, com o pico de efeito em 3 horas e a duração de
6 a 8h
.. NÃO ESQUECER: Apesar de ser um fármaco seguro pode apresentar toxicidade gástrica, redução da
adesão plaquetar trombocitopenia, disfunção renal e síndrome de Stevens Johnson.

65
AVALIAÇÃO INICIAL DA CRIANÇA/ADOLESCENTE COM FEBRE
- Em CSP ou hospitalares, a avaliação inicial de uma criança/adolescente implica uma colheita de dados:
a) Motivo de recurso aos serviços de saúde;
b) Antecedentes pessoais;
c) História de febre:
. Início do episódio febril;
. Horário e evolução da febre;
. Valor máximo de temperatura atingido;
. Local de medição da temperatura;
. Medidas realizadas;
. Terapêutica antipirética efetuada (fármacos, doses e horários; registar a última administração);
. Sintomas associados.
d) Contexto epidemiológico
e) Estado e calendário vacinal
f) Peso (2x idade+8 =)
g) Alergias
h) Outros dados relevantes.

INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM - AVALIAR /DESPISTAR SINAIS DE ALERTA:


1. Alteração do nível de consciência/ prostração

2. Má perfusão (repreenchimento capilar com duração superior a 2 segundos).


- Repreenchimento capilar (normal ≤ 2 segundos, tempo que o sangue leva para retornar ao tecido
empalidecido pela pressão):
. Aumenta inversamente proporcional à perfusão cutânea;
. Deverá ser avaliado em temperatura térmica neutra (ambiente);
. Técnica: Erguer uma extremidade ligeiramente acima do nível do coração, pressionar e observar quantos
segundos aquela leva a retornar à sua cor basal;

66
. Nota: a pele marmoreada (reticulado cutâneo) na subida térmica é um fenómeno fisiológico na fase
ascensional da curva térmica e não significa má perfusão periférica.

3. Alteração do ritmo respiratório hipo ou hiperventilação) e da FR (polipneia e/ou apneias)


- Observar se a via aérea está permeável e funcional:
. Avaliar a frequência respiratória (respiração <50crpm nos primeiros 12 meses de vida; >40crpm depois
do primeiro ano de vida); avaliada com a criança calma e a dormir e 2h após antipirético
. Avaliar sinais de dificuldade respiratória (SDR) - dois ou mais dos seguintes: polipneia, adejo nasal,
gemido expiratório, tiragem, cianose
. Avaliar SpO2

4. Alteração da FC e pressão arterial;


5. Cianose /acrocianose e saturação periférica do oxigénio SpO2< 94%).
6. Sinais de desidratação (diminuição da diurese, sede não saciável, mucosas secas, olhos encovados,
fontanela deprimida, prega cutânea)
7. Dor e sua caracterização: vigiar e monitorizar através de escala de dor
8. Tumefação osteoarticular e/ou limitação da mobilidade.
9. Exantema macular ou petequial, sugestivos de doença invasiva/sépsis.

DIAGNOSTICO DE ENFERMAGEM - SEM FEBRE


- O Enfermeiro deve considerar sem febre um período ≥ 48h;
- Poderá dar termo ao foco Febre
- A intervenção monitorizar a temperatura corporal mantem se ativa no plano de cuidados associada às
Atitudes Terapêuticas relacionadas com a monitorização dos SV.

ALTA/TRANSFERÊNCIA
- A nota de alta/carta de transferência deve ser entregue aos pais com:
. informação de enfermagem,
. identificação do enfermeiro que a realizou
- Deve conter: os diagnósticos de enfermagem, os resultados das intervenções e o plano recomendado
para a sua continuidade de cuidados no domicílio, em cuidados de saúde primários ou hospital, redigidas
nos termos da norma DGS nº 16/2017.

CONVULSÕES FEBRIS
- Habitualmente são situações benignas
- Podem repetir se com novo episódio febril
- Ocorrem geralmente em crianças entre os 6 meses e os 6 anos
- Têm uma duração curta (menos que 15 minutos)
- Não causam lesão cerebral ou atraso mental
- Requerem somente o tratamento da febre e da doença que a provoca
- Pode manifestar de diversas formas:

67
. movimentos bruscos e repetidos dos membros como sacudidelas ou tremores
. rigidez de parte ou de todo o corpo
. olhar fixo
. perda de consciência
. movimentos de sucção e mastigação
. emissão de espuma pela boca
. perda de urina e fezes

O que fazer perante a criança com convulsão?


1. Deitar a criança em Posição Lateral Segurança (PLS);
2.Retirar tudo o que tenha na boca para evitar a obstrução das vias aéreas;
3. Despir a roupa e coloca-lo de lado
5.Colocá-la de barriga para cima e fletir os joelhos da criança sobre o abdómen;
6. Administrar Diazepan retal (Stesolid®): Introduzir a cânula no ânus, esvaziar o seu conteúdo no reto,
comprimindo a sempre até retirar; com a outra mão manter as nádegas apertadas durante 2 minutos para
evitar a expulsão do líquido administrado;
8. Se tiver febre administrar o supositório antipirético;
9. Colocá-lo de lado e mantê-lo num ambiente tranquilo sem agasalhar.

COLHEITAS DE AMOSTRAS PARA EXAMES MICROBIOLÓGICOS


COLHEITA DE SANGUE PERIFÉRICO
Compete ao enfermeiro:
a) Explicar o procedimento à criança/pais
b) Proceder à execução da colheita
c) Registar na requisição a data e hora da colheita e identificação do enfermeiro que executou
d) Enviar para o laboratório, devidamente acondicionada e identificada com etiqueta da criança.

Orientações quanto à execução:


- Providenciar analgesia
- Selecionar locais de eleição para punção venosa
- Utilizar técnica asséptica na punção venosa
- Utilizar agulha com aleta apropriada para tubos com ou sem vácuo
- Evitar puncionar o membro do acesso vascular na criança com insuficiência renal crónica ou do membro
da mão dominante;
- Evitar puncionar veias lesadas e locais próximos de um local recentemente puncionado
- Puncionar a porção mais distal do membro, para preservar o vaso, evitando as zonas de flexão
- Utilizar luvas durante o procedimento.

Material e Equipamento
. Garrote
. Resguardo

68
. Luvas não esterilizadas
. Álcool a 70º
. Frascos de colheita
. Penso rápido
. Compressas esterilizadas
. Garrote
. Agulha com aleta/sistema de vácuo/cateter
. Recipiente para sujos de acordo com as normas de triagem de resíduos hospitalares
. Contentor corto perfurantes

Procedimento:
1. Providenciar analgesia;
2. Providenciar os recursos para junto da criança
3. Lavar as mãos
4. Explicar o procedimento à criança e pedir a sua colaboração
5. Observar a veia a puncionar e a área circundante, de acordo com o objectivo da punção
6. Colocar a criança em posição adequada, de preferência deitada
7. Assepsia geral lavagem mãos/Calçar as luvas
8. Desinfetar área
9. Puncionar num dos locais previamente seleccionados.
10. Colher a amostra de sangue para os respetivos tubos
12. Retirar a agulha /obturar e fixar cateter
13. Fazer pressão no local de punção com compressa esterilizada
14. Colocar penso rápido após a hemóstase
15. Identificar os tubos de colheita com etiquetas de identificação da criança
16. Providenciar a recolha e arrumação do material
17. Lavar as mãos
18. Providenciar o transporte dos tubos de colheita para o laboratório

Registos:
- A data e hora da punção venosa
- Diagnósticos de enfermagem
- Intervenções de enfermagem
- Resultados obtidos
- Educação para a saúde

COLHEITA DE SANGUE PERIFÉRICO – HEMOCULTURA


Orientações Quanto à Execução
- Providenciar analgesia
- Utilizar técnica asséptica na realização do procedimento
- Não é conveniente colher sangue através de um cateter
- A recolha deve ser efetuada, se possível, no início do pico febril

69
- Atender ao protocolo serviço relativo aos frascos hemocultura.
- O volume de sangue a colher deverá ser entre 1 a 3 ml (ver indicação do frasco)
- A amostra depois de colhida não pode ser refrigerada e deve ser entregue rapidamente no Laboratório,
para incubação adequada
- A identificação da colheita não pode cobrir o código de barras que fica no frasco
- A requisição deve ser identificada com o código de barras do frasco de hemocultura, com a data e hora
da colheita e com a temperatura da criança/jovem.

Material e Equipamento
- Luvas esterilizadas
- Álcool a 70º
- Compressas esterilizadas
- Frascos de Hemocultura
- Agulha de com aleta para sistema de vácuo, de calibre adequado
- Adaptador de seringa
- Seringa de 5 ml
- Agulha EV
- Recipiente para sujos
- Contentor corto perfurante

Execução
- Explicar o procedimento à criança/acompanhante e pedir colaboração
- Colocar a criança em posição adequada, de preferência deitada
- Lavar as mãos
- Calçar as luvas
- Certificar se que o frasco de colheita se encontra intacto e não apresenta contaminação
- Executar assepsia sobre a veia e até 5cm de diâmetro, do centro para a periferia, com compressas
esterilizado e humidificado com álcool a 70⁰
- Puncionar veia
- Colher 1 a 3 ml de sangue
- Certificar se que a garrafa se encontra intacta e não apresenta contaminação ou turvação
- Retirar a tampa do frasco de colheita e desinfetar com álcool a 70⁰,
- Inocular a garrafa (picar e injectar o sangue na mesma)
- Providenciar o transporte para o laboratório, o mais rapidamente possível
- Providenciar a recolha e arrumação do material
- Lavar as mãos

COLHEITAS DE URINA
- As amostras colhidas por micção espontânea são úteis apenas para a análise sumária de urina, teste de
gravidez, urocultura e pesquisa e/ou doseamento de alguns analítos (drogas de abuso, amilase, etc.).
Sempre que possível deve utilizar se a primeira urina da manhã por ser mais concentrada;

70
- A maior parte dos doseamentos exigem colheita da amostra num período de tempo pré-determinado
que deve ser suficientemente longo de modo a minimizar a influência das variações biológicas. O tempo
ideal é de 24 horas.
- Para exames não bacteriológicos não é necessário fazer colheita asséptica, porém deve haver o cuidado,
de fazer limpeza adequada dos genitais externos e não deixar contaminar as amostras com sangue
menstrual, material vaginal ou fecal. O recipiente deve ser quimicamente limpo e seco, sendo utilizado o
tubo de fundo cónico para urina (tubo amarelo).
- Para exames bacteriológicos de urina é necessário fazer colheita asséptica, lavar os genitais
cuidadosamente com água e sabão e aproveitar o jacto médio da micção (se colaborar). A urina deve ser
colhida para recipiente esterilizado sendo acondicionada posteriormente no tubo Monovette (tubo
verde).

Métodos de colheita de Urina Asséptica


- Crianças com Controlo de Esfíncteres:
. Jacto médio

- Crianças sem Controlo de Esfíncteres:


. Saco colector
. Cateterismo vesical
. Punção vesical

Jacto Médio para exame bacteriológico (Crianças com Controlo de Esfíncteres)


Material:
. 1 frasco contentor urina esterilizado
. 1 pacote compressas esterilizadas
. 1 tubo de colheita de urina bacteriológica (verde)
. Sabão neutro
. 2 cuvetes limpas (1 para lavagem dos genitais outra para os sujos)
. 1 par de luvas não esterilizadas, se for o enfermeiro a realizar a colheita

Execução
. Lavar as mãos
. Calçar as luvas
. Lavar os genitais com água corrente, sabão líquido e compressa esterilizada, tendo o cuidado de remover
o sabão
. Secar os genitais com compressa esterilizada
. Rejeitar o primeiro jato de urina
. Aproveitar a urina do jato médio até aproximadamente metade da capacidade do contentor esterilizado
. Aspirar a urina par o tubo de colheita adequado
. Acondicionar o recipiente de colheita e enviar de imediato para o laboratório.

71
Colheita com Saco Coletor para Exame Bacteriológico (Crianças sem Controlo de Esfíncteres)
Material Necessário:
. 1 Par de luvas látex esterilizadas
. 1 Pacote de compressas esterilizadas
. 1 Tubo de colheita de urina bacteriológica (verde)
. 1 Saco coletor de urina pediátrico esterilizado
. 2 Cuvetes (1 esterilizada para lavagem e 1 limpa para sujos)
. Sabão líquido
. Soro fisiológico aquecido

Execução
(Antes: Higiene perineal prévia adequada)
. Colocar na cuvete água morna com sabão
. Calçar luvas esterilizadas
. Lavar cuidadosamente a área genital com água e sabão, tendo especial atenção à região dos pequenos
lábios/prepúcio
. Lavar com água limpa para remover o sabão
. Secar bem com compressa esterilizada
. Colocar o saco colector
. Verificar frequentemente se a criança urinou. Se a criança não urinar num período de 30 minutos, repetir
todo o processo
. Após urinar, remover o saco
. Aspirar a urina para o tubo de colheita de urina bacteriológica
. Acondicionar e enviar de imediato ao laboratório

Colheita de Urina Asséptica por Cateterismo vesical


- A escolha do calibre da algalia é efectuada de acordo com as características do doente e sempre de
menor calibre que o meato urinário.
- A selecção da algália está relacionada com o objectivo da algaliação.
. Algalia Bequile sem balão para esvaziamento e retirar no final (no serviço pediatria ULSAM só existe
nº 6 para sexo feminino)
- O Gel lubrificante urológico com cloridrato de lidocaína em embalagem individual é de uso único

Tamanhos Cateter

72
Material:
. 1 frasco contentor de urina esterilizado
. 1 tubo de fundo cónico
. 1 tubo de colheita de urina bacteriológica (se pedido)
. Material para algaliação:
.. Algália de número e tipo adequado à criança e à situação
.. Saco colector de urina esterilizado com local de punção e torneira de esvaziamento, se necessário
.. Gel lubrificante com cloridrato de lidocaína, dose individual
.. Seringa com água bidestilada para preencher o balão, se necessário
.. Adesivo hipoalérgico
.. 1 Par de luvas látex não esterilizadas
.. 1 Par de luvas látex esterilizadas
.. 1 Pacote de algaliação (10 compressas, campo com óculo e/ou campo sem óculo)
.. 2 Pacotes de compressas esterilizadas
.. 1 Cuvete esterilizada
.. Sabão líquido
.. Soro fisiológico 100 ml
.. 2 Resguardos descartáveis

Orientações para algaliação


1. Ambiente com privacidade
2. Explicar o procedimento à criança/acompanhante e solicitar a sua colaboração
3. Executar lavagem higiénica das mãos
4. Colocar na cuvete água morna com sabão
5. Colocar o resguardo descartável sob a região nadegueira
6. Posicionar a criança em decúbito dorsal:
. Sexo feminino: com os joelhos flectidos e coxas em abdução
. Sexo masculino: pernas em extensão ligeiramente afastadas
7. Calçar luvas não esterilizadas
8. Lavar cuidadosamente a área genital com água e sabão:
.. Na criança do sexo masculino: a pele da glande deverá ser puxada o mais para trás possível de modo
a permitir higiene adequada do meato urinário. Com a mão não dominante posicionar o pénis
perpendicularmente à zona pélvica retraindo o prepúcio. Com a mão dominante lavar utilizando uma
compressa estéril de cada vez, com movimentos circulares em sentido descendente, do meato para a
glande.
.. Na criança do sexo feminino: efectuar a lavagem da área genital, começando pelos grandes lábios e
utilizando uma compressa estéril para cada um, num movimento descendente e único. Seguidamente
a mão não dominante afasta os grandes lábios e a outra mão executa a lavagem dos pequenos lábios
e por último do meato, num movimento único
9. Remover o sabão com soro fisiológico morno
10. Secar com compressa esterilizada
11. Retirar luvas e lavar as mãos

73
12. Abrir o campo e colocar neste a algália sem o invólucro adaptada ao saco colector esterilizado (se a
algália não tiver mandril), a embalagem de gel lubrificante (dose individual) e um campo esterilizado
13. Calçar luvas esterilizadas para proceder à algaliação
14. Anestesia/lubrificação
. Na criança do sexo feminino e na criança do sexo masculino pequena, lubrificar com Gel lubrificante
. No adolescente do sexo masculino injectar na uretra Gel lubrificante e esperar 2 minutos)
15. Introdução da algália:
. É fundamental ter suavidade na manipulação e progressão do catéter, a fim de se poder aperceber de
qualquer obstrução ou paragem no percurso. À sua compreensão saber ultrapassa la ou parar antes ser
responsável por complicações.
. No sexo masculino:
Com a mão não dominante colocar o pénis num ângulo de 90º com os membros inferiores, exercendo
uma ligeira tracção, ao mesmo tempo que se faz a inserção da algália com movimentos circulares.
Quando se sentir uma ligeira resistência baixar o pénis (+/ 120º) continuando a introdução da algália
até chegar à bexiga (quando surge urina)
. No sexo feminino:
Com a mão não dominante manter afastados os grandes lábios ao mesmo tempo que se faz a
introdução da algália com a mão dominante em movimentos circulares até chegar à bexiga
16. Introduzir um pouco mais a algália
17. Se utilizarmos uma algália de Foley, deverá:
. Proceder-se à insuflação do balão com água bidestilada, tendo em conta a capacidade volumétrica deste,
conforme indicação do fabricante, excepto se houver indicação em contrário do médico. Depois, retira se
a algália lentamente com ligeiro movimento de tracção, até se sentir o travamento dado por esta com o
colo vesical
. Fixar adequadamente a algália para evitar o movimento e a tracção sobre a uretra
. No sexo masculino fixar na face anterior da coxa ou região infra umbilical
. No sexo feminino fixar lateralmente n a face interna da coxa.
. Fixar o saco colector em suporte próprio na cama do doente - (caso a algalia não seja para retirar
18. Retirar luvas e lavar as mãos.

COLHEITA DE SECREÇÕES
- Sempre que possível e de acordo com a idade e situação clínica da criança/jovem, a colheita de secreções
deve ser efetuada com a sua colaboração;
- Nas situações que não é possível a sua colaboração, é necessário proceder à colheita através da aspiração
das vias aéreas, nasofaríngea ou orofaríngea brônquica, de acordo com o exame solicitado;
- A colheita de expetoração deve ser efetuada com a criança em repouso e em jejum por feita, de
preferência ao acordar e sempre que possível após higiene bocal

Criança/jovem colaborante
Material
. Recipiente estéril (copo de colheita de urina esterilizado)

74
Execução
. Explicar o procedimento
. Incentivar a tossir tentando produzir expectoração e não saliva
. Se a criança não consegue expectorar, efectuar nebulização com 5 a 10 ml de soro fisiológico tépido para
ajudar a libertar as secreções
. Emitir a expetoração para o recipiente estéril
. Acondicionar e identificar o recipiente
. Enviar par o laboratório o mais rápido possível

Criança/jovem não colaborante


Material
. Aspirador de mucosidades esterilizado
. Luvas esterilizadas
. Ampola de soro fisiológico
. Pacote de compressas esterilizadas

Execução:
. Explicar o procedimento à criança/acompanhante
. Verificar o funcionamento do sistema de aspiração
. Colocar a criança em semi-fowler, se a situação clínica permitir
. Lavar as mãos
. Abrir o invólucro do aspirador de mucosidades e exteriorizar uma pequena porção do tubo que vai
conectar ao aspirador
. Adaptar à conexão da tubuladura do aspirador, mantendo o restante aspirador de mucosidades
protegido pelo respetivo invólucro
. Ligar o aspirador com a mão não dominante
. Calçar luvas esterilizadas
. Retirar o invólucro do aspirador de mucosidades
. Introduzir a sonda através da boca/nariz, durante a inspiração, com a mão dominante
. Retirar a sonda com movimentos circulares aplicando sucção intermitente
. Limpar a sonda com compressa esterilizada
. Aspirar da ampola de soro fisiológico +/- 2 ml
. Desadaptar o aspirador de mucosidades da conexão da tubuladura do aspirador de vácuo
. Dobrar a sonda utilizada na mão enluvada e retirar a luva pelo avesso, envolvendo a sonda
. Proteger a extremidade da tubuladura
. Desligar o aspirador
. Retirar a luva da outra mão
. Lavar as mãos
. Acondicionar e identificar o recipiente
. Enviar ao laboratório o mais precocemente possível

75
SECREÇÕES GÁSTRICAS
Entubação Nasogástrica
Orientações quanto à execução:
- Explicar o procedimento à criança/acompanhante e pedir a sua colaboração
- Deve ser efetuado com a criança em repouso e em jejum por entubação nasogástrica ou orogástrica;
- A seleção do calibre e tamanho da sonda é efetuado de acordo com comprimento/estatura da criança;
- Medir o comprimento da sonda a introduzir;
- Ter sempre disponível material de aspiração funcionante, com o fim de poder ser utilizado com rapidez,
se a criança tiver vómitos.

Material e Equipamento
. Sonda gástrica de tipo e calibre adequados . Adesivo hipoalérgico
. Tampa para sonda, se necessário . Estetoscópio
. Ampola de água destilada . Saco colector, se necessário
. Copo com água para crianças maiores . Resguardo descartável
. Luvas esterilizadas . Compressas limpas
. Seringa de 10 cc ou 100 cc (de acordo com a . Tintura de benjoim
adaptação da sonda à seringa) . Material para aspiração
. Cuvete

Execução
. Providenciar a preparação e transporte do material para junto da criança;
. Dispor o material de forma funcional;
. Explicar o procedimento à criança e pedir a sua colaboração;
. Colocar a criança em posição de semi-fowler ou sentada, se a situação clínica o permitir;
. Lavar as mãos;
. Calçar luvas;
. Medir o comprimento de sonda a introduzir:
.. Em crianças maiores: a distância da ponta do nariz ao lóbulo da orelha e daí até à extremidade
inferior do apêndice xifoide e observar a marca correspondente;
.. Em crianças menores: da narina ao umbigo;
. Lubrificar a extremidade da sonda com água destilada;
. Introduzir suavemente a sonda na narina, orientando a na direção da orelha e fazendo a progredir para
trás e para baixo. Nas crianças maiores, pedir para fazer movimentos de deglutição até a sonda estar
introduzida. Se necessário e possível, pedir lhe para ingerir pequenos goles de água;
. Retirar a sonda até à oro faringe e aguardar alguns minutos antes de continuar a entubação, se a criança
apresentar tosse, dificuldade respiratória, cianose ou se se verificar a presença de vapor de água no
interior da sonda;
. Aspirar o conteúdo gástrico ou na ausência deste introduzir 0,5 a 1ml de ar no bebé e nas crianças
maiores 5 a 10 ml, auscultando simultaneamente a existência de ruídos hidroaéreos na região epigástrica;
. Colocar a tampa na extremidade da sonda ou adaptar um saco coletor, de acordo com o objetivo da
entubação;

76
. Limpar a pele do nariz, se necessário;
. Aplicar a tintura de benjoim na zona onde será aplicado o adesivo;
. Fixar a sonda na asa do nariz ou acima do lábio superior;
. Retirar as luvas;
. Providenciar a recolha e arrumação do material;
. Lavar as mãos.

Registos:
. A data e hora da entubação nasogástrica;
. Finalidade da entubação;
. Características do conteúdo gástrico aspirado;
. Intercorrências observadas.

Punção Lombar
- Consiste na colheita de uma amostra do líquido cefalorraquidiano existente no espaço que rodeia a
espinal medula
- O líquido cefaloraquidiano forma-se nas células do plexo coróide. É um líquido aquoso, límpido, incolor,
apresenta vestígios de proteínas e alguns leucócitos.
- A colheita de LCR permite detectar a presença de infecções, hemorragias e aumento da pressão
intracraneana (PIC)

Material Necessário:
Tabuleiro com:
. Iodopovidona dérmica
. acetona
. 2 Pacotes de compressas esterilizadas
. 2 Pares de luvas esterilizadas
. Adesivo hipo alérgico ou penso cirúrgico pequeno esterilizado
. Xilocaina spray ou outro analgesico local
. Agulha de punção lombar (tamanho de acordo com a idade da criança)
. Tubos de colheita de líquor (3 esterilizados sem anticoagulante) identificados como 1º, 2º e 3º
. Bata, máscara. Usar óculos de protecção se necessário

Compete ao enfermeiro:
a) Efectuar a preparação psicológica da criança/pais.
b) Manter a criança em jejum durante 3 horas antes da realização do exame se não for urgente
c) Aplicar EMLA no local da punção 2 3 horas antes da realização da punção se não for urgente
d) Preparar o material necessário
e) Providenciar o transporte da criança para a sala de tratamentos.
f) Posicionar a criança correctamente segundo a opção e orientação médica.
. Sentada na a marquesa com as pernas pendentes, curvada sobre o tórax, ou
. Deitada em decúbito lateral com as pernas flectidas e tronco curvado sobre o abdómen.

77
e) Manter a criança imobilizada durante a execução da punção.
g) Manter a criança imobilizada durante a execução da punção.
h) Colaborar com o médico durante a punção.
i) Fazer penso compressivo no local da punção.
j) Colocar a criança deitada preferencialmente em decúbito ventral. Se não for possível colocar em
decúbito dorsal. Manter a criança nesta posição durante 2 horas para diminuir probabilidade de cefaleias.
k) Manter repouso no leito durante 6 horas.
l) Observar o estado geral da criança assiduamente, alterações do nível de consciência, actividade motora
ou outros sinais neurológicos
m) Avaliar os parâmetros vitais de 30/30 minutos até estabilizarem.
n) Manter pausa alimentar durante 1 hora.
o) Enviar colheitas para o laboratório, o mais rápido possível devidamente acondicionadas

CIRURGIA E A CRIANÇA
FATORES A CONSIDERAR NO PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA A CIRURGIA
- A idade/desenvolvimento da criança, particularmente o nível de compreensão;
- Os limites da idade variam entre os 4 e os 7 anos
- A preparação da criança com idade inferior a 4-5 anos deve ser essencialmente dirigida aos pais
- Não existe consenso quanto à idade a partir da qual a preparação deve ser dirigida à criança

PREPARAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA DA CRIANÇA/FAMÍLIA


Jejum Pré-operatório

78
- Pausa alimentar de 6 horas antes da cirurgia, ou segundo prescrição médica
Hidratar bem a criança, antes do início da dieta nula

Cuidados de Higiene
- Banho geral na véspera se cirurgia de manhã, ou no próprio dia se cirurgia à tarde.
- Vestir adequadamente

Preparação da área operatória:


- Se indicação médica, por ex. tricotomia, enemas, limpeza e desinfeção local
- Colocação de Fluidoterapia
- Colocar em perfusão o soro conforme prescrito
- Quando não existir prescrição de soro, seguir protocolo de fluidoterapia:
. Utilizar soro 210
. Proceder ao cálculo do débito do soro, segundo o seguinte esquema:

Primeiros 10 Kg 100ml/Kg/dia

Segundos 10 Kg 50 ml/Kg dia

Restantes Kg 20 ml/Kg/dia

- Cateterizar veia (aplicar EMLA pelo menos 1,5/2 horas antes)


- O cálculo da fluidoterapia é feito segundo o peso da criança
Por ex: uma criança com 45 KG
10Kg x100 ml= 1000 ml
10Kgx 50 ml = 500 ml
25 Kg x 20 ml = 500 ml
Total = 2000 ml/dia
2000 ml: 24 horas = 83.3 =3 ml/h

- Retira pulseira eletrónica, verniz, próteses, adornos ou outros objetos metálicos antes da ida para o BO
- Estimular a criança a urinar registar características e hora da última micção
- Efetuar ensino sobre cuidados pré-operatórios (jejum, colocação de fluidoterapia, …)
- Iniciar ensino sobre cuidados pós-operatórios (de acordo com a cirurgia)

Relaxamento e Distracção
- Administrar terapêutica pré-anestésica
- Colocar a criança em sala calma e com distração
- Incentivar e favorecer a presença dos pais

Segurança
- Não deixar a criança sozinha, incentivando os pais a acompanhá-la ao BO

79
- Confirmar nome/diagnóstico da criança com o pessoal do BO e com o processo
- Permitir que os objetos significativos acompanhem a criança
- Dar explicações e responder de forma clara e precisa a todas as perguntas da criança, por forma a
minimizar a ansiedade.

PREPARAÇÃO PARA O PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO


Preparar convenientemente a unidade:
- Manter a cama aquecida
- Ambiente obscurecido e sem ruídos
- Verificar se o aspirador de secreções, esfingnomanómetro, sistema de O2 estão funcionais

Verificar condições hemodinâmicas:


- Avaliar sinais vitais:
. 15-15 min 1ª hora
. 30-30 min 2ª hora
. 1-1 hora até estabilizarem

- Avaliar os efeitos da anestesia:


. Hipotensão
. Hipo ou Hipertermia

Despistar Sinais de Choque


. Avaliar o estado de consciência
. Pele húmida, pálida, fria
. Hipotensão
. Hipotermia
. Pulso fraco, impercetível, taquicardico
. Respiração superficial e fraca

Verificar o Local da Cirurgia


. Vigiar penso, drenos, tracções
. Vigiar e avaliar perdas sanguíneas

Prevenir Complicações
. Posicionamento lateral
. Ensinar a criança a tossir e a respirar profundamente
. Ensinar a criança a comprimir com as mãos o local da cirurgia
. Logo que possível, fazer o 1º levante (na maior parte das vezes 24 horas após, salvo outra indicação)

Hidratar a Criança
. Manter dieta nula até a criança estar bem acordada e seguir as prescrições médicas

80
. Deve iniciar alimentação por dieta líquida em pequenas quantidades e progredir para mole e depois
própria para a idade, de acordo com a tolerância da criança, tipo de cirurgia e prescrição médica

Avaliar Eliminação Vesical


. Vigiar fralda
. Vigiar globo vesical
. Incentivar a urinar quando acordada

Atender à Nutrição
. Auscultar sons abdominais (cirurgia abdominal)
. Registar transito intestinal
. Administrar e vigiar dieta prescrita

Proporcionar Conforto e Prevenir Dor


. Posicionar a criança confortavelmente
. Estimular a presença dos pais
. Evitar o desconforto da dor (avaliar dor e administrar analgésico prescrito); utilizar estratégias não
Farmacológicas.

SINTOMAS COMUNS EM PEDIATRIA


TOSSE
- Reflexo, mecanismo de defesa para remoção de “agressões”: da laringe, traqueia, brônquios e
minimização da inalação de partículas tóxicas
- Único reflexo passível de controlo voluntário: início e fim (capacidade limitada)
- Fisiologia
Aferências:
. Estruturas inervadas pelo nervo vago . Pequenos brônquios
. Laringe . Membrana timpânica
. Árvore traqueobrônquica proximal . Meato auditivo externo
. Porção posterior da orofaringe

Centro "integrador": Aferências comunicam com núcleos:


. Bolbo raquidiano . Pontinos
. Subcorticais
. Corticais

- Importância de conhecer os mecanismos "centrais" → Acção "central" de bastantes antitússicos

Eferências:
. Acção dos músculos respiratórios . Broncoconstrição
. Encerramento da glote

81
Fase inspiratória: “estiramento” /inspiração profunda - melhora
da função muscular. Na tosse psicogénica es5ta fase está ausente.
Fase compressiva: 200ms, encerramento da glote, aumento da
pressão intra-alveolar
Fase expulsiva: abertura da glote, expiração forçada. Pode ser
prolongada ou entrecortada
Fase de recuperação: inspiração de “recuperação”

Causas
. Infecção das Vias Áreas Superiores (IVAS) - escorrência posterior
. Laringite
. Traqueobronquite
. Bronquiolite
. Pneumonia

Sinais de alarme
. “Falta de ar”
. Dificuldade respiratória
. Cor arroxeada em volta dos lábios
. “Guincho” entre acessos de tosse
. Prolongada (> 2-3 semanas sem melhoria)

Abordagem
1. Identificar o tipo de tosse (seca/produtiva)
2. Determinar a gravidade da tosse
3. Identificar a causa da tosse
4. Tratar a causa e NÃO a tosse

Tratamento
. Desobstrução vias aéreas superiores (lavagem, aspiração, etc)
. Anti-histamínicos? (podem ser usados para ↓ produção de muco)
. Descongestionantes nasais? (apenas durante 3-4 dias)
. Mucolíticos/expectorantes? (usados em casos + específicos)
. Anti-tússicos? (usados em casos + específicos)

VÓMITOS
- Mecanismo de defesa muito comum em todas as idades
- Fisiopatologia: Reflexo. Expulsão forçada do conteúdo gástrico. Processo complexo: Controlo central
e Controlo periférico
- Centro de controlo: Formação reticular e Bolbo raquidiano
- Vómitos que surgem e posição deitado pode estar relacionado
com o ↑PIC, podendo ser de > gravidade. Deve ser observado
pelo médico.
- Causas: GI (obstrutivas ou não obstrutivas) ou não GI

- Causas GI obstrutivas
. Vómitos biliares: Obstrução distal à ampola de Vater (Vómito biliar NUNCA é normal!)
. Vómitos não biliares: Obstrução proximal à ampola de Vater
. Exemplos:
. Atrésia esofágica . Invaginação intestinal
. Estenose hipertófica do piloro . Divertículo de Meckel
. Atrésia duodenal . Doença de Hirschsprung
. Má rotação intestinal . Ânus imperfurado

- Causas GI não obstrutivas:


. Perturbação:
.. Alimentar .. Inflamatória
.. Motilidade
. Exemplos:
.. GEA (Gastroenterite aguda) .. Doença celíaca
.. Excessos alimentares .. Intolerância à lactose
.. Aerofagia .. Colecistite
.. RGE (refluxo gastroesofágico) .. Pancreatite
.. Enterite eosinofílica

Causas não GI
. Medicações:
.. Irritação gástrica
.. Estimulação da sensação de náusea
. Neurológicas:
.. Enxaquecas .. LOE
.. Vómitos cíclicos .. Trauma
.. HIC (hipertensão intracraniana)

83
. Otológicas: . ORL:
.. OMA .. Sinusite (escorrência posterior)
.. Vertigem paroxística benigna .. Epistáxis
. Infecciosas: .. Litíase
.. Víricas .. Torção testicular ou ovárica
.. Bacterianas (amigdalite) . Psiquiátricas:
.. Respiratórias (tosse emetizante) .. Anorexia nervosa
. Genitourinárias: .. Ingestão medicamentosa
.. Pielonefrite aguda .. Abuso de substâncias

Complicações
. Desidratação
. Hipocaliémia
. Hipoclorémia
. Alcalose metabólica
. Pneumonia de aspiração
. Esofagite
. Lesões de Mallory-Weiss
. Gastrite
. Hematemese
. Perda ponderal

Tratamento
. Hidratação Oral Fracionada (HOF):
.. 50ml/kg se desidratação ligeira
.. 100ml/kg se desidratação moderada

Sinais de alarme
. Idade < 3 meses
. Vómitos incoercíveis
. Vómitos que só surgem de noite ou ao acordar
. Vómitos com sangue
. Se houver suspeita de intoxicação

. Se existirem sinais de desidratação: . Se a criança apresentar:


.. Olhos encovados .. Mau estado geral
.. Língua seca .. Febre de difícil controlo
.. Choro sem lágrimas .. Prostração ou desorientação
.. Fontanela deprimida .. Manchas na pele
.. A criança não urina há mais de 8 horas

DIARREIA
- Mecanismo de “defesa” para limpar intestino. Importante pergintar quantas dejaccoes/dia para verificar
risco de desidratação e se tinham sangue e muco, para verificar risco inflamatória.
- Definição: Aumento do volume de fezes (≥ 3 dejecções por dia) com diminuição da consistência das fezes
- Associação muito frequente a vómitos. Pode surgir muco e/ou sangue nas fezes.
- Causas:
. Infecciosas:
.. Vírus (Rotavírus (+++), Adenovírus, Norovírus, Astrovírus)
.. Bactérias (Salmonella, Campylobacter, Shigella, E. coli - Síndrome hemolítico-urémico, Clostridium)
.. Parasitas (Giardia, Cryptosporidium)
. Não infecciosas

Complicações: Factores de risco para desidratação


. Desidratação . Bebés com menos de 1 ano (6 meses +++)
. Alterações electrolíticas: . Baixo peso ao nascer
. Hipocaliémia (+++) . Mais de 5 dejecções diarreicas nas últimas 24 horas
. Acidose metabólica . Mais de 2 episódios de vómito nas últimas 24 horas
. Não tolerar HOF (hidratação oral fracionada)
. Má nutrição

Tratamento: Sinais de alarme:


. Probióticos . Mau estado geral
. Racecadotril (1,5mg/kg/dose, 8/8h) → ↓ . Diarreia com sangue:
libertação de muco e consequentemente ↓ . Grande quantidade
diarreia. Não é aconselhado imodium® em . Febre de difícil controlo
pediatria. . Sinais de desidratação.

CEFALEIAS
- Frequentes: 57-82% entre os 7-15 anos
- Tipos:

85
. Primárias – enxaqueca, cefaleia
de tensão, cefaleia em salva,
outras cefaleias primárias
. Secundárias – traumatismo
craniano/cervical, doença
vascular; doença intracraniana
não vascular; abuso/privação de
substâncias; doença craniana,
cervical, dos olhos, nariz, seios
perinasais, ouvidos,
dentes, boca e outras estruturas
cranianas ou faciais; doença
psiquiátrica.
Cefaleias Agudas:
Situações ameaçadoras à vida:
. Infeção do SNC (meningite,
encefalite, abcesso cerebral)
. Hemorragia intracraniana
. Hidrocefalia
. Disfunção de shunt VP
Comuns:
. Febre
. IVAS, otite, faringite, sinusite
. Infeção dentária
. 1º episódio de enxaqueca
. Traumatismo
Outras:
. Abuso de substâncias (CO,
cocaína, anfetaminas)
. Pós-ictal
. Hipertensão arterial

Sinais de alarme
. Cefaleia intensa ou pior cefaleia
experimentada
. Instalação subaguda com aumento
progressivo da intensidade
. Localização occipital
. Confusão, alteração do estado de consciência
ou queixas neurológicas focais
. Sinais ou sintomas sistémicos
. Cefaleia de novo numa criança imunodeprimida

86
. Cefaleia que desperta durante a noite ou agrava na manobra de Valsava
. Exame neurológico anormal

Tratamento – cefaleias primárias


- Medidas gerais:
. Estilos de vida saudáveis
. Evitar fatores precipitantes
. Repouso em ambiente tranquilo, escuro e sem ruídos
- Tratamento sintomático:
. Ibuprofeno 10 mg/kg/6-8 horas (PO ou retal) à 1º linha
. Paracetamol 15 mg/kg/4-6 horas (PO, retal ou IV)

. Cetorolac 0.5 mg/kg/dose (PO em >16 anos, IV ou IM)


. Sumatriptano 10-20 mg/dose (intranasal)
. Metoclopramida 0,2 mg/kg/dose (PO ou IV)

- Tratamento profilático

DOR ABDOMINAL
- Sintoma pouco específico e de difícil valorização
- Causas:
. Orgânicas: . Funcionais:
.. GEA (gastroenterite aguda) .. Dispepsia
.. Gastrite aguda .. Intolerância a lactose
.. Apendicite .. SII (síndrome do intestino irritável)
.. Invaginação intestinal .. Obstipação
.. DII (doença inflamatória do intestino) .. etc.
.. etc.

Sinais de alarme
. < idade da criança . Interferência com as actividades do dia-a-
. Dor afastada do umbigo dia (brincar +++)
. Dor permanente, com despertares . Sintomas associados:
nocturnos .. Mau estado geral
. Sem relação com alimentação .. Febre de difícil controlo
. Agravamento muito significativo com a .. Sangue nas fezes
alimentação .. Vómitos incoercíveis
.. Alternância entre obstipação e diarreia

Tratamento
. Depende da causa da dor . Probióticos?
. Analgésicos . Laxantes?

87
. Desparasitação: se sintomas compatíveis . Dieta sem lactose - se suspeita clínica
com infecção por parasitas ou contacto
evidente com parasitas

CÓLICAS DO LACTENTE

Tratamento
. Ensino aos pais
(evolução natural,
assegurar de que o bebé
não está doente, ensinar
técnicas "calmantes",
antecipar sentimentos
de frustração, culpa,
exaustão ou raiva).
Intervenções calmantes: . Passeio de carro
. Chupeta (introduzir apenas a partir das 3-4 . White noise
semanas, quando processo alimentar já
perfeitamente estabelecido) Sinais de alarme
. Contacto físico (essencial para se sentirem . Má evolução ponderal
seguros) . Vómitos em jacto
. Mudar de local (a partir do 2º mês, como já . Alterações do desenvolvimento
veem, ajuda a distraírem) . Irritabilidade persistente
. Banho (eficaz a partir do 1º mês) . Mau estado geral
. Marsúpio ou baby sling

PRINCIPAIS PATOLOGIAS RESPIRATÓRIAS

88
RINOFARINGITE
- Infecção na naso e orofaringe de
etiologia vírica. Constipação comum.

Manifestações clínicas:
. Rinorreia
. Tosse
. Febre moderada
. Obstrução nasal
. Conjuntivite
. Cefaleias
. Mialgias
. Espirros

Tratamento:
. Hidratação
. Desobstrução nasal (SF em gotas nasais ou spray e aspiração frequente de secreções)
. Antipirético se febre

Complicações:
. Sobreinfecção bacteriana (sinusite, OMA [otite média aguda – o edema das adenoides causa
encerramento das tompas de eustaquio e consequente inflamação - otite], pneumonia)
. Suspeitar destas complicações se agravamento de sintomatologia após 10 a 14 dias

ADENOIDITE AGUDA
- Inflamação das adenóides. Etiologia: Vírus respiratórios ou Streptococcus pyogenes grupo A.
Distingue-se da rinofaringite por tee secreções muito espessas, amarelas e em moderada quantidade.

Manifestações clínicas: Tratamento:


. Corrimento mucopurulento «em toalha» na . Desobstrução nasal com SF ou água do mar
parede posterior da faring e aspiração frequente de secreções
. Rinorreia . Antipirético se febre
. Obstrução nasal . Amoxicilina 50 mg/Kg/dia, 8/8h ou 12 12h
. Halitose PO - 10 dias
. Tosse (inicialmente seca, posteriormente
produtiva) de predomínio nocturno com 2 Complicações:
ou mais semanas de evolução . OMA (otite média aguda)
. Sinusite aguda

89
FARINGO-AMIGDALITE
- Inflamação das amígdalas, com extensão para a faringe e as adenóides.
Etiologia: Vírus respiratórios (> 70%), nomeadamente adenovírus,
enterovírus, EBV, influenza, parainfluenza; Streptococcus pyogenes grupo
A (muito raro antes dos 2-3 anos, maior incidência entre os 5 e os 15 anos)

Diagnóstico:
- Sintomas que sugerem infecção por vírus respiratórios: febre moderada (de início gradual), conjuntivite,
tosse, rinorreia, diarreia, eritema da orofaringe
- Sintomas que sugerem infecção por Streptococcus pyogenes grupo A: odinofagia, febre elevada (de
início súbito), cefaleias, náuseas, vómitos, dor abdominal, eritema da orofaringe, exsudados, petéquias
no palato, adenomegalias cervicais dolorosas

Tratamento: Complicações:
. Sintomático . Supurativas (relacionadas com o agente):
. Penicilina G benzatínica IM (50000 UI/kg) - abcesso amigdalino ou faríngeo, adenite
toma única cervical, bacteriemia, síndrome de choque
. Amoxicilina 50mg/kg/dia PO, 8/8h ou tóxico
12/12h - 10 dias . Não supurativa (relacionadas com
inflamação – resposta do organismo): febre
reumática, glomerulonefrite pós
estreptocócica

ESCARLATINA
- Amigdalite com manchas (ásperas e por vezes com prurido) na pele, “língua de morango”, palidez à volta
da boca. O estreptococos produz toxina que reage na pele.

SINUSITE

Seios maxilares → 0-4 anos


Seios etmoidais → 0 anos
Seios esfenoidais → 2-5 anos
Seios frontais → 6-8 anos
Aguda:
. < 30 dias

Subaguda:
. 30-90 dias

Aguda recorrente: . 4 episódios em 12 meses


. 3 episódios > 10 dias de intervalo (6 meses)

90
Crónica: . > 90 dias

Sintomas:
. Tosse . Halitose . Dor de garganta
. Sintomas nasais . Cefaleias
. Febre . Dor e edema facial

Etiologia:
. Vírica Complicações:
. Bacteriana: . Celulite
.. Sintomas > 10 dias . Extensão óssea
.. Sintomas severos . Extensão intracraniana
.. Sintomas em agravamento (apresentação
bifásica)

Tratamento:
. Amoxicilina 90mg/kg/dia 12/12h
. Amoxicilina + ácido clavulânico 90mg/kg/dia 12/12h
. SF ou spray de água do mar (isotónica vs. hipertónica)

OTITE MÉDIA AGUDA


- Infecção do ouvido médio
- Sintomas: dor de ouvidos, febre, dor de cabeça
- Infecção: Vírica ou bacteriana
- Modo de aquisição: “ascendente”
- Otite supurada: otite com pus. Não pode nadar
durante 15 dias. Otites apanham-se a partir do nariz,
pelas trompas de Eustáquio.

Tratamento:
. Ibuprofeno
. Paracetamol - SOS
. Antibiótico? (amoxicilina / amoxicilina + ácido clavulânico) → se drenar pus ou atingir o estado geral, e
princípio será bacteriano.

LARINGITE
. Inflamação da laringe (cordas vocais): . 15% das infecções respiratórias em Pediatria:
.. Obstrução da via aérea .. Pico no 2º ano de vida
.. 3-4 dias de evolução .. Outono Inverno

91
Etiologia: Parainfluenza vírus; VSR < 5 anos; Influenza e Mycoplasma > 6 anos

Manifestações clínicas:
. Tosse laríngea (3 semanas)
. Febre (3 4 dias)
. Disfonia / afonia (3 4 dias)
. Estridor (3 4 dias)
. Grau variável de dificuldade respiratória
. Agravamento com o calor (inflamação)

- Diagnóstico clínico
- Tratamento:
. Ar frio (ex. agasalhados, mas com janela aberta)
. (1º) Nebulização com adrenalina (estridor) (vasodilatador de ação rápida, ↓ edema, duração de 3-5h)
. (2º) Nebulização com corticóide (início de ação +lento, mas > duração)
. Corticóide sistémico

Indicações para internamento:


. Idade < 6 M . Insuficiência . Palidez
. Desidratação e respiratória . Depressão estado
incapacidade de . Estridor persistente ou consciência / Agitação
alimentação por via oral em repouso . Suspeita de epiglotite
. Hipoxemia . Cianose . Ar “tóxico”

PENUMONIA
- Infecção pulmonar. Em
Portugal, incidência anual
de internamentos em
Pediatria 30/1000.
- Pneumonia: Típica;
Pneumonia Atípica
(dissociação dos achados
radiológicos e auscultação).
- Exames complementares
de diagnóstico: Rx tórax,
hemograma, PCR (se >
4mg/dl – etiologia
bacteriana)
- Tratamento: Antibiótico e
medidas de suporte
- Follow-up: Re-avaliação clínica ao fim de 48h de antibioterapia, Re-avaliação radiológica se pneumonia
complicada, pneumonia redonda ou atelectasia

92
BROQUIOLITE
- Infecção do tracto respiratório inferior: Bronquíolos. Causa comum de hospitalização. 2/3 dos casos
causada por Vírus Sincicial Respiratório (VSR)
Definição:
. 1º episódio de pieira
. Criança < 12 meses (24?)
. Sinais físicos de infeção respiratória vírica
. Ø outra explicação para pieira (pneumonia ou atopia)

Factores de risco
Doença severa por VSR e/ou complicações:
. Prematuridade
. Baixo peso ao nascer
. Idade < 6 12 semanas
. Doença pulmonar crónica (displasia broncopulmonar, fibrose quística, anomalia
. Cardiopatia congénita com significado hemodinâmico
. Imunodeficiência
. Doença neurológica

Ambientais:
. Irmãos mais velhos . Fumo passivo . Infantário
. Irmãos gémeos . Casas superlotadas . Alta altitude

Fisiopatologia
- Edema, muco excessivo e células epiteliais destruídas (vírus penetram células epiteliais dos bronquíolos
terminais levando a lesão directa e inflamação) → obstrução das pequenas vias aéreas e atelectasias.

Manifestações
. Constelação de sinais e sintomas: Pródromo de IVAS, esforço respiratório aumentado, pieira
. Febre: geralmente < 38,5ºC | < com VSR | > com adenovírus
. Tosse
. Stress respiratório ligeiro

93
Gravidade
Suporte:
. Oxigenação
. Hidratação (risco de
desidratação por ↑
necessidades hídricas
pela febre e taquicardia
e ↓ ingestão por
taquipneia, esforço
respiratório e vómitos).

PATOLOGIA GASTROINTESTINAL
DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS FUNCIONAIS

CÓLICAS (ver em sintomas comuns)

REFLUXO GASTROESOFÁGICO
- Bolsar ≠ vomitar (em jato, ficam a chorar)
- Importante: Refluxo agrava até aos 3 4 meses e depois tem tendência a melhorar devido ao
fortalecimento dos músculos e introdução de alimentos não líquidos.

Sinais de alarme
- Sintomas sugestivos de . Distensão e dor . Macro ou microcefalia
obstrução ou doença abdominal . Convulsões
gastrointestinal: . Pneumonias . Hipo ou hipertonia
. Vómitos biliares recorrentes . Dismorfias
. Hemorragia . Infecções crónicas
gastrointestinal - Sinais e sintomas
. Vómitos persistentes sugestivos de doença - Inespecíficos
. Início dos vómitos após sistémica ou . Febre
os 6 meses de idade neurológica: . Pneumonia
. Obstipação . Hepatoesplenomegalia . Letargia
. Diarreia . Fontanela abaulada . Má evolução ponderal

Tratamento (da doença de refluxo, se só refluxo apenas se acalma os pais):


. Mamadas fraccionadas
. Terapias posturais (não deitar logo após mamada)
. Evicção do fumo passivo (efeito miorelaxante da nicotina)
. Evicção PLV? (risco atópico)
. Espessantes / leites AR (leites com espessantes, por ex. alfarroba, amido de milho ou batata – aumentam
o trânsito intestinal)

94
OBSTIPAÇÃO
- 3 períodos críticos: diversificação alimentar, desfralde, escola
- Pico de incidência entre os 2 e os 4 anos de idade

- Motivo frequente de consulta em idade pediátrica. Prevalência 0,3-8%

Definição:
- Dificuldade ou atraso na defecação: Duas ou mais semanas; desconforto significativo da criança
- Crónica: > 8 semanas
- Funcional ou orgânica

Disquésia infantil vs. Obstipação


Disquésica infantil: Obstipação funcional
. Esforço defecatório . 40% < 1 ano
. Gritos . Duração de 1 mês:
. Choro . ≤ 2 dejecções por semana
. Rubor . ≥ 1 episódio de incontinência fecal por
. Até 10-20 minutos semana (após continência)
. Alívio com a defecação . Retenção excessiva de fezes
. Início nos primeiros meses de vida . História de movimentos intestinais
. Resolução em semanas dolorosos
. Fecalomas no recto
. Fezes de grande calibre

Discinésia infantil (Roma III):


. Surge em lactentes saudáveis, com idade < 6 meses
. Períodos de esforço e choro com duração > 10 minutos antes defecar fezes moles
. É causado pela incapacidade de relaxamento do pavimento pélvico
. Geralmente existe uma resolução espontânea → questão maturativa
. O uso de laxantes é desnecessário
. A estimulação rectal é evitável

95
Incontinência fecal
- Expulsão de fezes (voluntária ou involuntária) de forma
repetitiva:
. Local inapropriado
. > 4 anos de idade
- Funcional (com retenção ou sem retenção) ou orgânica

Obstipação funcional
- Roma III:
. Obstipação sem evidência objetiva de uma condição patológica
. Inclui incontinência fecal funcional com retenção
. Pelos menos 2 dos seguintes critérios:
.. ≤ 2 dejeções /semana
.. Incontinência fecal ≥ 1/semana após aquisição do controle dos esfíncteres
.. Posturas ou intenção de retenção fecal
.. Dejeções dolorosas ou fezes duras
.. Fecaloma rectal
.. Fezes de grande volume
. Idade < 4 anos:
.. Critérios supracitados presentes ≥ 1 vez/mês
.. Sintomas acompanhantes: irritabilidade, diminuição do apetite e saciedade precoce
.. Sintomas desaparecem imediatamente após dejeção abundante
. Idade ≥ 4 anos:
.. Critérios supracitados presentes ≥ 1 vez/semana durante 2 meses
.. Sem critérios completos para Síndrome de Intestino Irritável

Obstipação orgânica

96
Sinais de alarme
- História clínica: . Má evolução estaturo ponderal
. Ausência de emissão de mecónio nas . Presença de sangue nas fezes
primeiras 48h de vida . Fezes de pequeno calibre
. Obstipação desde o período neonatal ou . Vómitos, febre e astenia
primeiras semanas de vida . Incontinência urinaria ou sintomas urinários

97
. Anteposição do ânus
- Exame físico: . Ampola rectal vazia com fecaloma
. Palidez e distensão abdominal abdominal palpável
. Alterações na musculatura abdominal . Ausência de contração anal e/ou reflexo
. Deformidade dos membros inferiores cremastérico
. Alterações da região lombossagrada
Tratamento
. Educação e Seguimento
. Treino esfincteriano
. Medidas dietéticas
. Terapêutica farmacológica
- Objetivos do tratamento: 1-2 dejeções de
consistência mole/dia. Prevenir a reacumulação
de fezes.

Educação e seguimento
. Fornecer informação verbal e escrita
. Desmistificar e tranquilizar os pais/criança
. Problema frequente, não castigar
. Diminuir o stress e aumentar a auto-estima
. Explicar mecanismo de defecação e retenção
. Diário de dejecções
. Tratamento prolongado

Treino esfincteriano
- Idas, sem pressa, ao WC após 2 refeições por dia, durante 5-10 minutos:
. Preferencialmente em casa e a mesma hora do dia
. Atenção ao suporte dos pés
- Idas ao WC sempre que haja vontade de defecar
- Diário das dejeções
- Importância de reforços positivos e evitar as repreensões
- Tratamento das lesões anais
- Pedopsiquiatria? (problemas motivacionais e comportamentais)

Medidas dietéticas
- Alteração dietética forçada não é desejada
- Não deve ser utilizada, como abordagem terapêutica isolada
- 60 minutos de exercício diário
- Aumentar a ingestão de fluidos
- Aumentar a ingestão de carbohidratos não absorvíveis
Ex: sorbitol , em sumos de fruta de ameixa, pêra e maça
- Aporte adequado de fibras

98
Tratamento farmacológico
- Desimpactação fecal
. É necessária antes de iniciar o tratamento de manutenção
. Pode ser realizada por via oral (+++) e/ou rectal

Duração:
. Mínimo 3-6 meses
. Desmame lento

GASTROENTERITE AGUDA
Definição:
- Diarreia: - Outros sintomas possíveis:
. Aumento da frequência das dejecções . Febre
. Diminuição da consistência das dejecções . Vómitos
. Dor abdominal

Fisiopatologia:
- Destruição de enterócitos: Transudação de fluídos para o lúmen intestinal e má absorção variável

Epidemiologia
- Todo o ano:
. Pico no outono / inverno
- Causas:

99
. Vírus (+++) - Rotavírus: Mais frequente. 6-24 meses. Vacina!
. Bactérias – Salmonella: Pico nos meses quentes, ovos mal cozinhados, cremes; Campylobacter: Carne de
aves mal cozinhada; Shigella; E. coli: atenção às estirpes enterohemorrágicas.
. Parasitas

Manifestações
- Início: 12 horas - 5 dias após exposição Complicações
- Duração: 3-7 dias - Desidratação, desequilíbrios hidro
1. Vómitos (2-3 dias) electrolíticos, desequilíbrio ácido base,
2. Diarreia (4-5 dias) intolerância à lactose, dermatite irritativa.

Avaliação
Critérios para observação médica:
. Idade < 6 meses
. Peso < 8kg
. Febre elevada (> 39ºC)
. Vómitos persistentes
. Sangue nas fezes
. Diarreia muito abundante
. Diarreia > 7 dias
. Intolerância oral
. Incapacidade parental
. Doenças crónicas

Sinais de desidratação:
. Perda ponderal
. Olhos encovados
. Língua seca
. Choro sem lágrimas
. Fontanela deprimida
. Tempo de reperfusão capilar > 2 seg
. Hipotensão

Tratamento
- Hidratação oral fraccionada: 5ml de 5/5 minutos
- Dieta: Iniciar o mais precocemente possível (após re-hidratação). Sem grandes restrições (açúcares e
gorduras).
- Farmacológico:
. Agentes anti-diarreicos: apenas racecadotril
. Anti-eméticos: apenas ondansetron
. Probióticos: vantagem potencial

100
DOENÇA CELÍACA
- Doença inflamatória: Imunomediada. Sensibilidade ao glúten (trigo, centeio, cevada). Predisposição
genética.
- ≠ alergias (mediadas por IgE ou IgG)
- 0,5-1% da população. Caucasianos +++. Sexo feminino 2x.

Grupos de risco (Risco 3 a 10x superior!)


. Familiares em 1º e 2º . Diabetes tipo 1 . Síndrome de Turner
grau com doença celíaca . Défice de IgA . Síndrome de Williams
. Trissomia 21 . Tiroidite autoimune . Artrite idiopática juvenil

Manifestações
- Forma clássica:
. Sintomas de má absorção:
.. Esteatorreia
.. Perda ponderal
.. Sinais de carência nutricional ou vitamínica
. Alterações histológicas típicas em biópsia
. Resolução clínica e histológica após evicção do glúten
(semanas a meses)

. Início entre os 6 e os 24 meses


. Diarreia crónica (obstipação 8%)
. Anorexia
. Distensão abdominal
. Dor abdominal
. Perda ponderal ou má evolução ponderal

- Forma não GI:


. Baixa estatura . Ferropenia
. Atraso pubertário . Dermatite herpetiforme
. Atraso de desenvolvimento . Defeitos do esmalte
. Cefaleias . Artrite
. Epilepsia

- Forma subclínica:
. Ø sintomas
. Testes serológicos positivos
. Atrofia vilositária na biópsia
. Importante rasteio dos grupos de risco

101
- Doença celíaca “potencial”: Testes serológicos positivos e Biópsia não consistente com diagnóstico
- Doença celíaca latente: Cumprimento dos critérios de diagnóstico e Recuperação espontânea ou após
período de evicção
- Risco de malignidade: Linfoma não Hodgkin

PATOLOGIA ENDÓCRINA
PUBERDADE NORMAL
Gonadarca: Activação das gónadas pela FSH e LH
Adrenarca: Aumento na produção androgénica pelo córtex adrenal
Telarca: Desenvolvimento mamário (acção do estradiol produzido pelos ovários)
Menarca: Primeira menstruação (efeito do estradiol no endométrio)
Espermarca: Início da produção de esperma (efeito das acções de LH e FSH, via testosterona)
Pubarca: Aparecimento de pelo púbico e axilar (androgénios da supra-renal)

Problemas na Puberdade
Anemia Ferropénica: Devido ao crescimento acelarado -> uso de ferro. Raparigas (+++) → perdas
menstruais; aporte insuficiente. Protecção no sexo masculino testosterona estimula eritropoiese
Ginecomastia: 1/3 dos rapazes, duração 6-18 meses. Nem todas são fisiológicas!
Acne: Oclusão e inflamação folicular. Influência androgénica. Papel do P. acnes. Comedogénico vs.
Inflamatório. Atenção a sinais de excesso androgénico nas raparigas!

102
Desenvolvimento cerebral: maturação cerebral nas raparigas até aos 20 anos e rapazes até aos 24 anos.
Última área é o córtex pré-frontal, responsável pelo controlo das emoções.
Alterações psicológicas: Depressão 2x mais frequente no sexo feminino. Diferenças entre maturadores
precoces e tardios
Alterações menstruais: Irregularidade durante 2 anos após menarca (registo da duração dos ciclos). Ciclos
anovulatórios. Dismenorreia mais evidente com ovulação.

PUBERDADE PRECOCE
Definição:
- Desenvolvimento pubertário com início:
. 2-2,5SD em relação à idade normal
. < 8 anos nas meninas
. < 9 anos nos meninos

Classificação
Central:
. Maturação precoce do eixo hipotálamo hipófise gónadas
. Sequência pubertária “normal”
. Isossexual
. Patológica em 40 75% dos rapazes e 10 20% das raparigas
. Causas: idiopática, lesões no SNC (tumores, radiação, trauma, …), genéticas (minoria), exposição prévia
a doses excessivas de esteroides.

Periférica:
Ou “precocidade periférica”
Produção excessiva de hormonas (gónadas, supra-renal, tumor, …)
Isossexual ou inapropriada

Benigna ou não progressiva:


. Telarca prematura
. Adrenarca prematura
. Pelos púbicos da infância
. Hemorragia vaginal pre púbere benigna
. Variante do normal

Tratamento
Objectivo: Estatura “normal” na idade adulta
Puberdade precoce central: Agonista de GnRH. Decisão de tratar depende da idade, maturação sexual,
velocidade de crescimento e estatura alvo
Precocidade periférica: Tratamento dirigido
Variantes: Vigilância

103
ATRASO PUBERTÁRIO
Definição:
Raparigas: Ausência de botão mamário aos 12 anos
Rapazes: Ausência de aumento do volume testicular aos 14 anos

Outras definições:
- Puberdade “parada”: 4 anos
- Hipogonadismo:
. Diminuição da(s) função(ões) das gónadas
. Primário - elevação da FSH e LH (S. Turner, S. Klinefelter, lesão gonadal, doenças da biossíntese da
testosterona)
. Secundário - LH e FSH normais ou diminuídas (Secreção inadequada de GnRH ou atraso constitucional -
alteração transitória do funcionamento hipotalâmico, tem influência genética)

PATOLOGIA TIROIDEIA

104
Hipotiroidismo
. Fadiga
. Intolerância ao frio
. Aumento ponderal
. Obstipação
. Adinamia
. Pele seca
. Mialgias
. Irregularidades menstruais

Hipertiroidismo
. Perda ponderal
. Intolerância ao calor
. Tremor
. Palpitações
. Diarreia crónica
. Taquipneia
. Ansiedade

Rastreios
TSH normal: Sem necessidade de mais testes
TSH elevada: T4 livre para avaliar grau de hipotiroidismo
TSH diminuída: T4 livre e T3 para avaliar grau de hipertiroidismo

Bócio: tiroide aumentada

TIROIDITE DE HASHIMOTO
. Doença auto-imune. Com ou sem bócio.
Causa frequente de hipotiroidismo. Relação
com doença de Graves.
. Presença de auto anticorpos: Anti-
peroxidase, Anti-tiroglobulina
. Infiltrado linfocitário

DIABETES MELLITUS
Epidemiologia: Uma das doenças crónicas
mais frequentes em Pediatria. Dois picos de
incidência:
6 anos e adolescência precoce. Sem
predomínio de género.

105
Sintomas “clássicos”
Poliúria:
. Glicemia > 180mg/dl
. Diurese osmótica glicosúria
. Possíveis manifestações noctúria, enurese,
incintinência
Polidipsia:
. > osmolaridade séria
. Hipovolémia
Perda de peso:
. Hipovolémia
. > catabolismo (ácidos gordos e proteínas)
Cetoacidose diabética: Precedida por
sintomas clássicos. Hálito a acetona/fruta, sintomas neurológicos (confusão, letargia), vómitos.

Diagnóstico:
. Glicemia em jejum (8h): ≥ 126mg/dl
. Medição ocasional em criança com sintomas clássicos: ≥ 200mg/dl
. PTGO positiva
. Hb A1c > 6,5%.

Tratamento: Alimentação equilibrada, exercício físico, insulina.

PATOLOGIA NEUROLÓGICA
MENINGITE
Manifestações Factores de risco para meningite bacteriana
. Febre . Exposição recente a alguém com meningite
. Cefaleias meningocócica ou a H. influenzae
. Náuseas . Infecção recente
. Vómitos . Viagem recente para áreas endémicas para
. Rigidez cervical N. meningitidis
. Petéquias / sufusões hemorrágicas . TCE penetrante
. Fotofobia . Otorráquia ou rinorráquia
. Convulsões . Implante coclear
. Sinais focais

Sintomas de encefalite:
. Alteração do estado de consciência, comportamento ou personalidade
. Défices motores ou sensitivos

106
. Alteração da marcha ou movimento
. Hemiparésia

LCR
Células: Glicose: Proteínas:
. Leucócitos -MENINGITE . Reduzida – meningite . Elevadas – meningite
. Neutrófilos bacteriana bacteriana
. Meningite bacteriana . Normal ou ligeiramente . Normais ou
. Meningite vírica reduzida – meningite ligeiramente
(primeiras 24-48h) vírica aumentadas – meningite
. Linfócitos vírica
. Meningite vírica

Tratamento Prognóstico
Suporte: Meningite vírica:
. Descanso . Muito bom. Sequelas são raras.
. Pouca luz Meningite bacteriana:
. Analgésico se dor . Mortalidade de 100% se não tratada
. Antipirético se febre . Mortalidade 0-15% se tratada
. Fluidoterapia EV se intolerância oral adequadamente - maior com S. pneumoniae
Antibiótico: . Sequelas neurológicas: Perda auditiva em 5-
. Iniciado logo após PL se suspeita de 30%
meningite bacteriana

Prevenção
Vacinação:
. H. influenzae
. S. pneumoniae
. N. meningitidis (C, B, A, W, Y)
Isolamento
Quimioprofilaxia

CONVULSÕES E EPILEPSIA
- Tipos de Convulsões:
. Convulsões parciais: Activação neuronal localizada (simples: sem alteração do estado de consciência ou
complexa: com alteração do estado de consciência)
- Convulsões generalizadas: Envolvimento de ambos os hemisférios - manifestações motoras bilaterais,
geralmente com alteração do estado de consciência. Generalização pode ser secundária.

107
CONVULSÕES FEBRIS
Definição:
. Convulsão associada a temperatura corporal > 38⁰C
. Criança < 6 anos
. Ø infecção ou inflamação do SNC
. Ø alterações metabólicas que originem convulsões
. Ø história prévia de convulsões sem febre

Convulsões febris simples Convulsões febris complexas


. Mais comuns . Duração > 15 minutos
. Duração < 15 minutos . Atingimento focal
. Generalizadas . Parésia pós-ictal
. Se ocorrerem em “série”, duram menos de . Múltiplos episódios em 24 horas
30 minutos . Se ocorrerem em “série”, duram mais de 30
minutos

Manifestações Tratamento
. 6 meses – 6 anos: maioria → 12-18 meses . ABC
. 1º dia de doença . Diazepam rectal: Aguardar 2-5 minutos
. Subida térmica . Antipirético: Supositório

Prognóstico
. Muito bom
. Risco de recorrência:
.. 30-35%
.. Factores de risco
.. Idade baixa na 1ª convulsão
.. História de convulsões febris em familiares de 1º grau
.. Febre baixa no SU
.. Intervalo curto entre início da febre e 1ª convulsão

108
ALERGIAS
- Resposta inflamatória exagerada. Relacionada com mecanismos imunológicos.

RINITE
- Pode associar se a: conjuntivite 60%, sinusite 30 80%, asma 50%, dermatite atópica.
- Factores de risco:
. História familiar de atopia . Uso precoce de antibióticos
. Sexo masculino . Tabagismo passivo no primeiro ano de vida
. Nascimento durante a estação polínica . Exposição a alergénios indoor
. Primeiro filho

Sinais e sintomas
- Paroxismos: espirros, rinorreia, obstrução nasal, prurido nasal
- Sintomas: Gotejamento pós-nasal, tosse, irritabilidade, fadiga, prurido no palato e ouvido, conjuntivite

Padrões de sintomas

109
Severidade: Tratamento
. Ligeira Crise:
. Moderada a severa . Corticóide nasal obstrução
.. Distúrbios do sono . Anti-histamínico prurido
.. Afectação escolar ou laboral Manutenção:
.. Afectação das actividades do dia a dia . Corticóide nasal
.. Sintomas incapacitantes . Montelucaste

ASMA
Sintomas
. Tosse: Pode ser a única manifestação. Geralmente seca, mas pode ser produtiva. Nocturna, sazonal,
início após exposições específicas, duração mais de 3 semanas
. Pieira: obstrução das pequenas vias aéreas
. Sintomas Sazonais: suspeita de causa alérgica (Ácaros – inverno, pólens - Primavera/Verão, fungos -
tempo húmido, pêlos de animais)

Factores precipitantes:
. IVAS
. Exercício (90% das crianças com asma, dispneia + aperto torácico + tosse,
resolução com descanso 30-60 minutos)
. Tempo: ar frio, ar húmido e quente, chuva
. Tabaco: factor externo mais frequente em crianças
. Alergias: > 3 anos, mais frequentes ácaros, animais, pólens, fungos
. Irritantes
. Stress: exclusão

Gravidade

Tratamento
Componentes essenciais da abordagem:
. Monitorização contínua dos sintomas e função pulmonar
. Educação dos pacientes
. Controlo dos factores precipitantes
. Ajuste das condições comórbidas
. Tratamento farmacológico
Crise: Manutenção (prevenção):
. Broncodilatadores β 2 de curta duração . Corticóide inalado
. Corticóide oral . Montelucaste
. Broncodilatadores β 2 de longa duração
DIAGNÓSTICOS

FEBRE Avaliar a temperatura corporal


Avaliar o conhecimento da mãe e/ou pai sobre Ensinar a mãe e (ou) pai sobre: febre; Sobre
febre processo patológico; Sobre complicações do
Avaliar o conhecimento do prestador de processo patológico;
cuidados sobre febre Entregar folheto informativo (febre)
Avaliar conhecimento sobre febre Ensinar sobre quando deve recorrer aos serviços
Avaliar potencial para melhorar o de saúde
conhecimento Ensinar a gerir medicamento
Ensinar sobre regime medicamentoso
Ensinar a diminuir a temperatural corporal
Ensinar a gerir o ambiente
Conforto Comprometido Promover conforto
Vigiar comportamento
Potencial para melhorar conforto Otimizar ambiente físico
Gerir ambiente
Gerir medidas de segurança
DOR Medidas não farmacológicas para alívio da dor:
Conhecimento do adolescente sobre - Amamentação
autocontrolo da dor não demonstrado -Contenção com lençol ou contenção manual
-Distração
Conhecimento da criança/do adolescente -Glicose a 30% ou sacarose a 24%
sobre técnica de (relaxamento; distração; -Imaginação guiada/hipnoanalgesia
imaginação guiada), não demonstrado -Massagem
-Modelação/ensaio comportamental
Dor Presente no …. -Preparação
-Reforço positivo
Conhecimento do prestador de cuidados -Relaxamento muscular/exercícios respiratórios
sobre medidas não farmacológicas não -Sucção não nutritiva
demonstrado Vigiar a dor;
Monitorizar a dor;
Gerir ambiente físico;
Posicionar o RN, a criança, o adolescente;
Executar técnica de: massagem; distração;
imaginação; relaxamento
Ensinar a criança/adolescente sobre autocontrolo
da dor
Ensinar sobre medidas não farmacológicas do
controlo da dor
Instruir sobre ….
Treinar sobre….
Aplicar métodos físicos (calor, frio)
Administrar medicação analgésica prescrita em
SOS

112
113

Você também pode gostar