Você está na página 1de 122

Hospital Universitário da

Universidade Federal da Grande Dourados


HU-UFGD

Manual de Normas e Rotinas


de Aleitamento Materno

Dourados - MS
2019
2019 - Material produzido pela Comissão de Incentivo e Apoio ao Aleitamento
Materno (CIAAM) do Hospital Universitário da Universidade Federal da
Grande Dourados (HU-UFGD) e colaboradores.

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte e sem fins
comerciais.

ELABORAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Comissão de Incentivo e Apoio ao Aleitamento Materno do HU-UFGD - CIAAM
Amanda Jorge de Souza Stefanello
Alexandre Rodrigues Mendonça
Angela Amanda Nunes Rios
Daniela Bender Morandi
Daniele Romero Ceccato Schroder
Larissa Gomes da Costa Franco
Neiva Ney Gomes Barreto
Renata Vidigal Guimarães
Renata Abreu Moreira Coimbra
Rita de Cássia Dorácio Mendes
Rosalina Dantas da Silva
Sidney Antonio Lagrosa Garcia
Vanessa Pereira Fonseca
Tatiane Felizari Greghi Nasser
Terezinha Inês Bonfim

COLABORADORES
Adauto Tsutomu Ikejiri
Renata Silva Roerver Borges
Roselaine Terezinha Migotto Watanabe
Colegiado da Maternidade do HU-UFGD

EDIÇÃO DE TEXTO, CAPA E PROJETO GRÁFICO


Vanda Laurentino - jornalista - Unidade de Comunicação Social - HU-UFGD

IMAGEM DA CAPA
Imagem da capa gentilmente cedida por Dayse Gripa Silva Lima

FICHA CATALOGRÁFICA
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

SOBRE A CIAAM

O incentivo ao aleitamento materno é um grande desafio


em saúde pública, considerando-se o alto índice de desmame
precoce e o grande número de óbitos infantis por causas evitá-
veis. Esses problemas podem ser minimizados por meio de ações
sistematizadas de incentivo ao aleitamento materno.
A Comissão de Incentivo e Apoio ao Aleitamento Materno
(CIAAM), instituída pela Portaria n. 224, de 31 de outubro de
2016, da Superintendência do Hospital Universitário da Univer-
sidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), tem por finali-
dade a definição e execução de ações sistematizadas de incentivo
ao aleitamento materno durante a internação, incluindo orienta-
ção individual e em grupos pela equipe multiprofissional no pré
e pós-parto, acompanhamento de mães que apresentam maior
risco de desmame e a captação precoce de potenciais doadoras
de leite materno para o Banco de Leite.
Compete à CIAAM:
• Planejar, implantar, monitorar e avaliar os dez pas-
sos para o sucesso do aleitamento materno, conforme
Art. 7º da Portaria n. 1153 do Ministério da Saúde, de
22 de maio de 2014;
• Prestar assistência para a promoção e apoio ao alei-
tamento materno na linha materno-infantil;
• Implantar o Ambulatório de Aleitamento Materno
para pacientes com risco de desmame pós-alta hospi-
talar;
• Elaborar e/ou disponibilizar materiais educativos
sobre a importância do aleitamento materno;
• Promover atividades educativas aos colaborado-
res, acadêmicos, voluntários e comunidade sobre o
aleitamento materno;
• Apoiar ações que venham ao encontro de assuntos
relacionados à gestação, parto, puerpério e cuidados
aos recém-nascidos.

3
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Este Manual foi elaborado pela CIAAM com o objetivo de:


• Subsidiar a capacitação da comunidade interna do
HU-UFGD referente ao aleitamento materno;
• Orientar os profissionais de saúde no manejo clíni-
co do aleitamento materno na linha de cuidados ma-
terno-infantil;
Promover a integração da equipe hospitalar com a
equipe da Atenção Básica para promoção do aleita-
mento materno em linha de cuidado.

4
SUMÁRIO
LACTAÇÃO .............................................................................. 9
Fisiologia da Lactação .................................................... 9
Composição do Leite Materno ......................................... 13
PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO DURANTE A
GESTAÇÃO .............................................................................. 15
Preparo da Mama Durante a Gestação ............................ 16
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO .................. 17
Como Escutar e Aprender ............................................... 17
Como Desenvolver Confiança e Dar Apoio ...................... 19
TÉCNICAS DE AMAMENTAÇÃO ............................................... 21
Posicionamento e pega adequados ................................. 21
Posicionamento da mãe e do bebê .............................. 21
Pega Adequada ............................................................... 26
Como Colocar o Bebê para Mamar .................................. 26
Avaliação da Sucção Não Nutritiva ................................. 27
Observação e Avaliação da Amamentação ...................... 28
AMAMENTAÇÃO E O USO DE MEDICAMENTOS E DROGAS DE
VÍCIO E ABUSO ........................................................................ 31
Medicações Maternas que Interferem na Amamentação ... 31
Amamentação e o Uso de Drogas de Vício e Abuso ......... 31
Inibidores da Lactação ................................................... 32
Uso de Galactagogos na Amamentação .......................... 33
PROTOCOLO DE SUPLEMENTAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DO
ALEITAMENTO MATERNO ........................................................ 35
Razões Aceitáveis para Uso de Substitutos do Leite
Materno .......................................................................... 35
Condições Maternas que Justificam a Interrupção
Temporária ou Permanente da Amamentação ................. 36
Condições Especiais do Recém-Nascido ......................... 38
Hipoglicemia Neonatal .................................................... 38
Causas de hipoglicemia neonatal – evento transitório ... 40
Causas de hipoglicemia neonatal – evento persistente
ou recorrente ............................................................. 41
Diagnóstico da hipoglicemia neonatal ......................... 42
Prevenção da hipoglicemia neonatal ........................... 43
Tratamento da hipoglicemia neonatal ......................... 43
ORDENHA E ADMINISTRAÇÃO DE LEITE ................................. 47
Ordenha do Leite Materno ............................................... 47
Ordenha de Alívio ........................................................... 47
Ordenha para Manutenção da Lactação .......................... 47
Como Realizar a Ordenha Manual ................................... 48
Conservação e Preparo do Leite Ordenhado ................... 49
Como Oferecer o Leite no Copo ou Xícara ....................... 50
Relactação ..................................................................... 51
CONDUTAS NAS COMPLICAÇÕES DA MAMA PUERPERAL ...... 53
Traumas Mamilares ......................................................... 53
Ingurgitamento Mamário Patológico ................................ 54
Mastite ............................................................................ 55
Abcesso Mamário ........................................................... 56
Candidíase (Monilíase) .................................................... 57
Bloqueio de Ductos Lactíferos ........................................ 58
Galactocele .................................................................... 59
Reflexo Anormal de Ejeção do Leite ................................ 59
Hiperlactação ................................................................. 60
Baixa Produção de Leite ou Hipogalactia ........................ 60
A Queixa de “Leite Fraco” ou “Pouco Leite” ..................... 61
CONDIÇÕES ESPECIAIS EM ALEITAMENTO MATERNO ............ 63
Bebês que Necessitam de Cuidados Especiais ............... 63
Bebê que não suga ou tem sucção débil ..................... 63
Gemelaridade ............................................................ 64
Bebês com malformações orofaciais .......................... 65
Bebês com anquiloglossia (frênulo lingual curto) ........ 67
Picos de Crescimento e Desenvolvimento ....................... 67
Mães que se Recusam a Amamentar ............................... 68
PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO NO HU-UFGD ........ 69
Contato Pele-a-Pele entre Mãe e Recém-Nascido na Sala
de Parto .......................................................................... 70
Aproveitamento do Primeiro Período de Reatividade do
Recém-Nascido para Incentivar o Aleitamento Materno
em Sala de Parto (Hora de Ouro para Amamentação) ...... 72
Controle Térmico do Recém-Nascido em Sala de Parto e
o Apoio a Amamentação ................................................. 73
Pico de Ocitocina e Aleitamento Materno ........................ 74
Disponibilidade para Aleitamento Materno – DAME ......... 74
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Promoção do Aleitamento Materno no Pronto


Atendimento Ginecológico e Obstétrico do HU-UFGD .. 74
Promoção do Aleitamento Materno no Centro
Obstétrico do HU-UFGD ............................................. 76
Fluxo de Assistência ao Aleitamento Materno no Pós-
Parto, na Ausência de Contraindicações ou Situações
que Impeçam o Fluxo Proposto, como Fatores Maternos,
Fetais e do Recém-Nascido ............................................. 77
Promoção do Aleitamento Materno no Alojamento
Conjunto ......................................................................... 78
Fluxo na Assistência ao Puerpério no Alojamento
Conjunto, na Ausência de Contraindicações ou
Situações que Impeçam o Fluxo Proposto, como Fatores
Maternos e do Recém-Nascido ........................................ 80
Ambulatório de Aleitamento Materno .............................. 81
ROTINAS DO BANCO DE LEITE HUMANO DO HU-UFGD ........... 83
Fluxo de Doação de Leite Humano .................................. 83
Captação de Doadoras ............................................... 83
Cadastro das Doadoras .............................................. 84
Seleção de Doadoras ................................................. 84
Acompanhamento das Doadoras ................................ 85
Fluxo de Encaminhamento de Puérperas do Alojamento
Conjunto ao BLH ............................................................. 86
ALIMENTAÇÃO DA MÃE QUE AMAMENTA ................................ 87
INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO
NO BRASIL .............................................................................. 89
Licença Maternidade ...................................................... 89
Licença Paternidade ....................................................... 89
Direito à Creche .............................................................. 90
Pausas para Amamentar ................................................. 90
Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos
para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos,
Chupetas e Mamadeiras – NBCAL ................................... 90
DÚVIDAS FREQUENTES .......................................................... 93
Quais os benefícios do aleitamento materno? ................. 93
Quantas vezes por dia o bebê deve ser amamentado? .... 94
Qual o tempo e intervalo de cada mamada? .................... 94
O que pode interferir no processo de lactação? .............. 94
Quais os sinais do reflexo de ocitocina ativo? .................. 94
A amamentação é possível em mamilos planos ou
invertidos? ...................................................................... 95
7
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Como diferenciar ingurgitamento mamário de mamas


turgidas/apojadura? ........................................................ 96
Qual a quantidade de leite que uma nutriz produz? ......... 96
Como saber se há insuficiência de leite materno para o
bebê? ............................................................................. 97
Quais fatores podem inibir a produção do leite materno? .. 97
Como aumentar a produção de leite? .............................. 97
Qual o preparo da mama durante a gravidez? .................. 98
Como o(a) acompanhante da mulher que amamenta
pode oferecer apoio? ...................................................... 99
Quais os sinais de que a amamentação vai bem? ............ 99
POLÍTICAS NORTEADORAS DE ALEITAMENTO MATERNO ....... 101
Os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno .. 101
A Iniciativa Hospital Amigo da Criança ............................ 102
Normas de atenção integral e humanizada ao recém-
nascido no SUS ............................................................... 103
Normas para a organização da atenção integral e
humanizada à mulher e ao recém-nascido no Alojamento
Conjunto ......................................................................... 105
Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para
Lactentes e Crianças de 1ª Infância, Bicos, Chupetas e
Mamadeiras (NBCAL) ...................................................... 109
Referências Bibliográficas .............................................. 111
ANEXO 1 - POP Avaliação do Frênulo Lingual do Recém-Nascido .. 115
ANEXO 2 - DAME - Disponibilidade para Aleitamento Materno
Exclusivo ................................................................................. 119

8
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

LACTAÇÃO

Fisiologia da Lactação

As mamas começam a se desenvolver na puberdade femi-


nina a partir do estímulo dos picos de estrogênio (hormônio ova-
riano) existentes nos ciclos sexuais mensais da mulher adulta.
O estrogênio estimula o crescimento da glândula mamária e a
deposição de gordura para dar massa às mamas. As glândulas
mamárias podem ser comparadas a uma estrutura semelhante a
um cacho de uvas.
A estrutura funcional da glândula mamária é denominada
alvéolo mamário – e nele existe a síntese do produto secretado,
o leite. Conjuntos de 10 a 100 alvéolos denominam-se lóbulos –
ou lobos – mamários. Cada mama possui de 15 a 20 lobos. Cada
lobo mamário se reúne em canalículos que se fundem em duc-
tos lactíferos e ampolas lactíferas (seios lactíferos). Os canalícu-
los são finos canais que transportam o leite dos alvéolos para os
ductos e seios mamários, e de lá se exteriorizam por meio de 15 a
20 orifícios existentes nos mamilos de cada mama.
A imagem abaixo (Figura 1) é a representação esquemática
de um corte sagital da mama, onde a porção superior represen-
ta a mama em repouso e porção inferior representa a mama em
lactação.

Figura 1 - Representação esquemática de um corte sagital na mama (Reprodução/Internet)

9
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Durante a gestação as mamas têm um crescimento ainda


maior em função dos altos níveis de estrogênio. No entanto, existe
a ação de outros hormônios gestacionais que participam do proces-
so de maturação mamária: progesterona, lactogênio placentário,
gonadotrofina, corticoides placentários, hormônios tireoidianos e
paratireoidianos, corticoides suprarrenais, insulina, prolactina e
possivelmente o hormônio de crescimento hipofisário.
A partir desses hormônios, existe o aumento do volume
das mamas, dilatação das veias superficiais, aumento do fluxo
sanguíneo e aumento da pigmentação da aréola e do mamilo. No
fim do segundo trimestre da gestação, o tecido alveolar cessa sua
proliferação e inicia sua atividade secretora basal, que aumen-
ta gradativamente até o fim da gravidez. Nessa fase, a glândula
mamária está apta a produção de leite, devido aos altos níveis
de prolactina (hormônio da produção de leite). No fim do ter-
ceiro trimestre, observa-se colostro no interior dos lóbulos glan-
dulares. No entanto, o estrogênio e progesterona placentários
não permitem a ação produtora da prolactina, ação que só será
desencadeada com o nascimento do feto e expulsão da placen-
ta – devido à queda acentuada desses hormônios inibidores da
prolactina.
Para a expulsão da placenta existe a ação de outro hormô-
nio gestacional, a ocitocina, responsável pelas contrações uteri-
nas e expulsão do feto e da placenta. Na lactação, a ocitocina é
produzida pela hipófise posterior em resposta à sucção da crian-
ça, sendo responsável pela contração das células musculares do
tecido mamário, favorecendo a “expulsão” do leite produzido
nos alvéolos mamários para os ductos e seios lactíferos.
Essa fase em que ocorre a elevação do nível de ocitocina
para que ocorra o trabalho de parto e expulsão do feto e placenta,
e consequente efetivação da ação da prolactina (com a saída da
placenta e seus hormônios placentários), é denominada fase de
descida do leite, também chamada “apojadura”, que nada mais
é do que a estabilização da produção láctea. A apojadura pode
demorar de 24 a 72 horas. Nesse período de estabilização da pro-
dução láctea, as mamas ficam edemaciadas, com um grau leve de
tumefação, avermelhadas e um pouco doloridas.
Após a apojadura, é iniciada a fase também denominada
galactopoiese. Essa fase, que se mantém por toda a lactação, de-
pende principalmente da ação de dois hormônios produzidos a
10
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

partir da mecânica de sucção do bebê (ocitocina) e do esvazia-


mento da mama (prolactina).
A mamada do lactente provoca transmissão de impulsos
sensoriais pelos nervos somáticos dos mamilos para a medula
espinhal da mãe, e daí para o hipotálamo, promovendo a secre-
ção da ocitocina juntamente com a prolactina. A ocitocina secre-
tada cai na corrente sanguínea e irá provocar a contração dos al-
véolos, fazendo fluir o leite para os ductos, promovendo a ejeção
ou descida do leite.
O efeito da sucção da mamada garante a ejeção do leite nas
duas mamas. Sem o esvaziamento adequado da mama, a produ-
ção do leite diminui, por inibição mecânica e química. Grande
parte do leite de uma mamada é produzida enquanto a criança
mama, sob o estímulo da prolactina.
A ocitocina, liberada principalmente pelo estímulo provo-
cado pela sucção da criança, também é disponibilizada em res-
posta a estímulos condicionados, tais como visão, cheiro e cho-
ro da criança, e a fatores de ordem emocional, como motivação,
autoconfiança e tranquilidade. A dor, o desconforto, o estresse,
a ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de autoconfiança
podem inibir a liberação da ocitocina, prejudicando a saída de
leite da mama (Figura 2).

Figura 2 - Ilustração do reflexo da ocitocina (Reprodução/Internet)

11
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Nos primeiros dias após o parto, a secreção de leite é peque-


na, menor que 100ml/dia, mas, por volta do quarto dia, a nutriz é
capaz de produzir, em média, 600ml de leite. Na amamentação,
o volume de leite produzido varia, dependendo da frequência
com que a criança mama. Quanto maior a frequência das mama-
das, maior será a produção de leite. Uma nutriz que amamenta
exclusivamente produz, em média, 800ml por dia. Em geral, uma
nutriz é capaz de produzir mais leite do que a quantidade neces-
sária para o seu bebê.
Após o nascimento da criança os níveis de secreção de pro-
lactina voltam aos níveis normais, de uma mulher não grávida,
entretanto quando a mãe amamenta o filho, os receptores ner-
vosos dos mamilos atingem o hipotálamo, provocando secreção
de prolactina maior de 10 a 20 vezes, permanecendo elevado por
até uma hora. Caso esse surto seja cessado, ou por lesão no hipo-
tálamo ou hipofisária ou, também, caso ocorra a paralisação do
aleitamento, a mama produzirá leite por, em média, mais uma
semana. Caso a criança continue sugando a produção do leite
continuará por vários anos, entretanto em menor quantidade,
próximo a nove meses pós-parto.

Figura 3 - Ilustração do reflexo da prolactina (Reprodução/Internet)

12
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

A secreção da prolactina, responsável pela produção do lei-


te, pode ser diminuída pela nicotina. Aconselha-se a mãe lactan-
te a não fumar.

Composição do Leite Materno

A composição do leite humano varia entre as mulheres e


em relação à própria mulher. Dentre os fatores que podem inter-
ferir, temos a nutrição materna e as fases da lactação. As fases de
lactação correspondem a produção do colostro, o leite de transi-
ção e o leite maduro.
O colostro é o leite produzido nos primeiros dias após o
parto. É espesso e de cor amarelada, possui maior conteúdo de
proteína, vitaminas lipossolúveis, sódio e zinco, e menor teor de
gordura, lactose e vitaminas hidrossolúveis, quando compara-
do com o leite maduro. Possui altas concentrações de fatores de
defesa, como as imunoglobulinas e agentes anti-inflamatórios,
conferindo proteção ao recém-nascido. O colostro também é la-
xativo favorecendo a eliminação do mecônio (as primeiras fezes
escuras), retirando a bilirrubina do intestino, ajudando a preve-
nir a icterícia.
O leite de transição é aquele produzido no período inter-
mediário entre o colostro e o leite maduro, ou seja, aquele produ-
zido entre o 7º e o 14º dia após o parto. Nessa fase, a composição
nutricional se modifica até se transformar em leite maduro.
O leite maduro é constituído de 87,5% de água, o que pro-
move a adequada hidratação do lactente durante os primeiros 6
meses de vida, não necessitando ofertar água ao bebê. Esse leite
também oferece a quantidade adequada de carboidratos, proteí-
nas, lipídios, vitaminas e minerais para garantir adequado cres-
cimento e desenvolvimento da criança.
Os nutrientes do leite materno são de fácil digestão, o que
faz com que o bebê mame várias vezes ao dia. A concentração
de gordura é mais elevada no fim da mamada, sendo necessário
o esvaziamento completo da mama para que o bebê receba um
leite mais rico em gordura, importante para o desenvolvimento
cerebral, adequado ganho de peso e sensação de saciedade.

13
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO


DURANTE A GESTAÇÃO

A abordagem com as mulheres que planejam amamentar


seus filhos deve ser feita com habilidades de aconselhamento
apropriadas, e oferecer informações corretas de forma compre-
ensível, incluindo a importância do aleitamento materno para a
mãe e o bebê, e porque estas práticas são recomendadas. Deve-se
proporcionar oportunidade para que a mulher faça perguntas ou
discuta mais profundamente as informações.
Durante a gestação, a mãe precisa compreender que:
• A amamentação é importante para ela e seu bebê.
• A amamentação exclusiva é recomendada durante
os seis primeiros meses de vida e como alimento com-
plementar no mínimo até dois anos de idade.
• A amamentação em livre demanda continua a ser
importante após a introdução de alimentos comple-
mentares.
• Práticas como contato pele-a-pele após o parto,
início precoce da amamentação, alojamento conjunto,
bom posicionamento e pega, amamentação em livre
demanda guiada pelo bebê e amamentação exclusiva
sem suplementos, são benéficas e podem contribuir
com o sucesso do aleitamento materno.
São pontos fundamentais:
• Toda mãe deve ter acesso às informações e ao
apoio.
• O pré-natal ideal é aquele que trabalha a confiança
da mulher em sua capacidade de amamentar.
• Algumas mulheres precisarão de atenção especial
caso tenham tido experiências anteriores malsucedi-
das com o aleitamento materno ou caso tenham maior
risco de enfrentar dificuldades.
• O aconselhamento e a testagem voluntária para
HIV são confidenciais e devem ser oferecidos a todas
as gestantes.
• Uma mulher HIV positivo precisa de aconselha-
mento individual para ajudá-la a decidir a melhor for-

15
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

ma de alimentar seu bebê de modo que seja aceitável,


factível, acessível, sustentável e segura (AFASS) em
suas circunstâncias. O Ministério da Saúde do Brasil
contraindica a amamentação nos casos de mãe HIV
positivo.

Preparo da Mama Durante a Gestação

A preparação das mamas e mamilos no pré-natal não é ne-


cessária e pode ser danosa. Durante a gestação a natureza pre-
para o seio para a amamentação. Ocorrem modificações naturais
(fisiológicas) no organismo da mulher desde a gestação, prepa-
rando para a fase da amamentação: as mamas ficam maiores, as
aréolas (parte escura da mama) tornam-se mais escuras e resis-
tentes pela ação dos hormônios e a hidratação é promovida pelas
glândulas de Montgomery (pontinhos na aréola parecidos com
espinhas – referente a hipertrofia das glândulas sebáceas da re-
gião areolar). Por isso, não existe a necessidade de fazer exercí-
cios para estimular as mamas e mamilos, lavar com esponjas ou
usar hidratantes.
Orientar o uso de sutiã confortável, se possível de alças
largas, preferindo o de algodão. É importante alertar a gestan-
te para não realizar pressão sobre a mama para verificar se está
saindo leite e não utilizar cremes e pomadas na parte escura da
mama (aréola e mamilo).

16
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

ACONSELHAMENTO EM
ALEITAMENTO MATERNO

Como Escutar e Aprender

O aconselhamento pode ser entendido como um processo


de escuta ativa, individualizado, que busca compreender como
a mãe e os demais membros da família se sentem, favorecendo
e estimulando a desenvolver autoconfiança, oferecendo apoio
para que se tornem capazes de tomar decisões adequadas a res-
peito da alimentação da criança.
Aconselhamento significa “escutar” o outro com atenção,
demonstrar interesse no que a pessoa tem a dizer.

Qual a diferença entre ouvir e escutar?


O significado de ouvir remete ao sentido da audição, é
aquilo que o ouvido capta. Já escutar corresponde ao ato
de ouvir com atenção, favorecendo o estabelecimento de
uma relação de confiança entre os interlocutores.
Ou seja, escutar é entender o que está sendo captado pela
audição, mas, além disso, compreender e processar a infor-
mação internamente.
Portanto, a diferença entre ouvir e escutar é o que aconte-
ce após o indivíduo receber o som. Ele está ouvindo quan-
do há pouca interação, e escutando quando está prestando
atenção ao que é emitido.

“Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso


também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: a gente não
aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem
misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…”
(Rubem Alves)

Habilidade 1 – Use comunicação não verbal útil


Comunicação não verbal: significa mostrar sua atitude pela

17
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

sua postura, sua expressão, utilizando-se menos da fala. Comu-


nicação não verbal útil é aquela que faz a mãe sentir que existe
interesse nela, e assim a estimula a expressar suas dúvidas e sen-
timentos.

Habilidade 2 – Faça perguntas abertas


Perguntas abertas são muito úteis. Para respondê-las a mãe
tem que dar alguma informação. Pergunta abertas começam com
“Como? Que? Quem? Onde? Porque? ”
Perguntas fechadas geralmente são menos úteis, pois levam
a mãe a responder apenas com um “sim” ou “não”. Elas geral-
mente começam com palavras como “Ela faz? Ele tem? Você está?
Para começar uma conversa, devem ser utilizadas pergun-
tas abertas de ordem geral. Exemplo: “Como é que está sendo
a amamentação para você?” ou “Quantas horas depois que seu
bebê nasceu, ele foi alimentado pela primeira vez?”

Habilidade 3 – Use respostas e gestos que demonstrem interesse


É fundamental demonstrar interesse no que a mãe está di-
zendo, por meio de gestos, expressões ou respostas. Exemplos:
balançar a cabeça afirmativamente, sorrir, e dar respostas cur-
tas (de uma só sílaba) e/ou murmúrios como “Ahã”, “Mmmm”
e “Ah é?!”.

Habilidade 4 – Devolva com suas palavras o que a mãe diz


Significa repetir o que a mãe disse de uma forma um pouco
diferente, para mostrar que ela foi ouvida, e dessa forma enco-
rajá-la a se expressar mais. Por exemplo, se uma mãe diz: “Meu
bebê estava chorando demais na noite passada”. Você poderia
dizer: “Seu bebê chorou e fez você ficar acordada a noite toda? ”

Habilidade 5 – Empatia – Mostre à mãe que você entende como


ela se sente
Empatia significa se posicionar no lugar da outra pessoa,
tendendo a compreender o que ela pensa e a sentir o que ela
sente. É importante que o profissional deixe claro que entendeu
o sentimento e/ou ponto de vista expressado pela mulher. Por
exemplo, se uma mãe diz: “Meu bebê quer mamar o tempo todo
e isto me cansa demais”, pode-se utilizar da seguinte fala: “Então
18
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

você está sempre cansada?” Isto mostra que você ouviu que ela
se sente cansada, e que existe disposição para ajudá-la a partir da
sua queixa.
Se você responde com uma questão factual: “Com que fre-
quência ele mama? O que mais você está dando a ele?”, você não
está mostrando empatia, e sim simpatia.

Habilidade 6 – Evite palavras que soam como julgamento


São palavras como “certo”, “errado”, “bem”, “mal”, “bas-
tante”, “bom”, “adequado”, “direitinho”. Se essas palavras são
utilizadas nas perguntas, a mãe pode sentir que está errada, ou
que há alguma coisa errada com seu bebê. Devido a isso, deve-se
sempre evitar o uso de perguntas fechadas, pois soam como jul-
gamento. Por exemplo, em vez de perguntar: “O bebê está dor-
mindo bem?”, deve ser dito “Como o bebê está dormindo?”.

Como Desenvolver Confiança e Dar Apoio

Habilidade 1 – Aceite o que a mãe pensa e sente


A mãe pode ter ideias com as quais você não concorda. Se
você discordar dela ou criticá-la, ela pode sentir que está errada
e isso reduz a confiança dela, porém se você concorda com ela,
depois é difícil sugerir alguma coisa diferente. É mais útil aceitar
o que ela pensa. Aceitar significa responder de uma forma neu-
tra, nem concordando nem discordando. Devolver com suas pa-
lavras e formular respostas e gestos que demonstram o interesse
são formas úteis de mostrar aceitação, bem como são habilidades
úteis de ouvir e aprender. Exemplo:
- A Mãe diz: “Meu bebê está chorando muito porque meu
leite é fraco”.
- Resposta inapropriada: “Capaz, não existe leite fraco”.
- Resposta apropriada: “Eu entendo, o choro do seu bebê
está te preocupando”.

Habilidade 2 – Reconheça e elogie que a mãe e o bebê estão


fazendo certo
Frequentemente, vemos apenas o que pensamos que as
pessoas estão fazendo de errado e queremos corrigir, quando na
19
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

verdade devemos elogiar ou mostrar aprovação às boas práticas.


O elogio aumenta a confiança da mãe e a encoraja a continuar
com as boas práticas, facilitando que mais tarde ela aceite suas
sugestões.

Habilidade 3 – Ofereça ajuda prática


Oferecer ajuda prática é melhor do que apenas falar teorias.
Por exemplo: quando uma mãe se sente cansada, suja ou descon-
fortável, ajude-a a estar limpa e confortável. Quando ela está com
fome ou sede, dê-lhe algo para beber ou comer. Segure o bebê
enquanto ela se ajeita para ficar mais confortável.

Habilidade 4 – Dê poucas informações, e apenas informações


relevantes
Procure dar informações úteis e relevantes para a situação
identificada no momento. Evite o excesso de informações de uma
só vez, ou informações que soem como críticas.

Habilidade 5 – Use linguagem simples


Use termos simples e conhecidos para dar explicações à
mãe e aos familiares. Lembre-se que a maioria das pessoas não
entende termos técnicos usados por profissionais de saúde.

Habilidade 6 – Dê sugestões, não ordens


Tenha cuidado para não dizer o que fazer ou para não dar
ordens. Isso não ajuda a mãe a se sentir confiante. Ao aconselhar
uma mãe, deve ser sugerido o que ela pode fazer diferente. Isso
faz com que ela se sinta confiante e dona da situação. Por exem-
plo, em uma situação em que o bebê possua dificuldade de ma-
nutenção da pega, em vez de dizer: “Você deve amamentar nesta
posição!”, deve-se utilizar falas como “Você quer experimentar
amamentar em uma outra posição para tentar facilitar a pega do
seu bebê?”.

20
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

TÉCNICAS DE AMAMENTAÇÃO

Todas as mulheres, por natureza são capazes de amamen-


tar. Algumas, devido às variações anatômicas, necessitam de
atenção especial nesse processo, visto que tais variações podem
propiciar ansiedade materna quanto à adequação do manejo,
causando dificuldades. Porém, quanto mais precoce for o início
do aleitamento materno, e com apoio dos profissionais no mane-
jo da lactação o aleitamento materno se estabelecerá com tran-
quilidade.

Posicionamento e pega adequados

Posicionamento da mãe e do bebê

• A mãe deve estar relaxada e confortável, na posição


que escolher. A mãe pode ficar DEITADA, SENTADA
ou EM PÉ. O importante é a mãe e o bebê se sentirem
bem confortáveis.
• O corpo do bebê deve estar inteiramente de frente
para a mãe e bem próximo (barriga do bebê voltada
para o corpo da mãe).
• O bebê deve estar alinhado, com a cabeça e a colu-
na em linha reta, no mesmo eixo. A mãe deve apoiar
com o braço e a mão o corpo e o “bumbum” do bebê.
• O nariz do bebê deve estar apontado para o mamilo.
• Deve-se aproximar a boca do bebê de frente para a
mama, para que ele possa abocanhá-la, ou seja, colo-
car a maior parte da aréola (área mais escura e arre-
dondada da mama) dentro da boca.

21
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Posição Tradicional

Figura 4 - Posição tradicional para amamentação (Guia Rápido da Amamenta-


ção – Hospital Israelita Albert Einstein)

• Apoiar o braço que segura o bebê com uma almofada.


• Manter os ombros relaxados.
• Manter o tronco e a cabeça do bebê alinhados, de frente
para a mãe.
• Manter a cabeça do bebê apoiada sobre o cotovelo, e o
braço que está embaixo em leve rotação externa e abdução
de ombro.

22
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Mãe Deitada

Figura 5 - Posição deitada para amamentação (Guia Rápido da Amamentação –


Hospital Israelita Albert Einstein)

• Mãe deitada de lado, com a cabeça apoiada em um traves-


seiro.
• Manter os ombros relaxados.
• Manter o tronco e a cabeça do bebê alinhados, de frente
para mãe.
• Apoiar a cabeça do bebê sobre o cotovelo ou um travessei-
ro, elevando-a, e o braço que está embaixo em leve rotação
externa e abdução de ombro.

23
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Posição Invertida

Figura 6 - Posição invertida para amamentação (Guia Rápido da Amamentação


– Hospital Israelita Albert Einstein)

• Mãe sentada confortavelmente e com uma almofada de


amamentação ou travesseiro para apoiar o bebê.
• O bebê é posicionado lateralmente ao corpo da mãe, com
a cabeça apoiada na mão da mãe.
• Excelente posição para bebês que apresentam preferência
por apenas um lado ou para mães com mamas grandes.

24
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Cavalinho

Figura 7 - Posição de cavalinho (Guia Rápido da Amamentação – Hospital


Israelita Albert Einstein)

• A criança deve estar de frente para a mãe.


• Manter o tronco e a cabeça do bebê alinhados, de frente
para a mãe.
• A cabeça do bebê deve estar apoiada.
• Posição indicada para bebês com dificuldade de pega e
para bebês sonolentos.

25
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Pega Adequada

• Boca bem aberta.


• Lábios virados para fora.
• Queixo tocando a mama da mãe.
• Aréola mais visível na parte superior que na inferior (a
pega é assimétrica).
• Bochecha redonda (“cheia”), sem estalidos ou covinhas.

Como Colocar o Bebê para Mamar

• Ao dar de mamar, a mãe deve estar calma e não apressar


o bebê.
• Quando a mama estiver muito cheia, antes de amamentar,
a mãe deve fazer uma ordenha manual para facilitar a pega
do bebê. Com os dedos indicador e polegar, ela deve com-
primir suavemente as regiões acima e abaixo do limite da
aréola para a ordenha do leite materno.
• Encostar o mamilo na boca do bebê, para ele virar a cabe-
ça e abocanhar a maior parte da aréola (reflexo de busca).
• Levar o bebê à mama e não a mama ao bebê.
• Segurar a mama com o polegar acima da aréola e o indi-
cador e a palma da mão abaixo, com a mão em formato de
“C”, isto facilita a pega adequada.
• O bebê abocanhando a maior parte da aréola suga mais
leite e evita fissuras na mama. A mãe deve ouvir o ritmo
cadenciado de sucção, deglutição e pausa.
• A alternância das mamas é necessária. A cada mamada
deve ser oferecida a mama oposta à da mamada anterior.
• Recomenda-se que a criança seja amamentada em livre
demanda, ou seja, sem restrições de horários e de duração
das mamadas. Nos primeiros meses, é normal que a criança
mame com maior frequência e sem horários regulares.
• Não utilizar soro glicosado para estimular a pega do re-
cém-nascido no seio materno.
• Não utilizar seringas para protusão (formação) do mamilo.

26
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Avaliação da Sucção Não Nutritiva

A sucção não nutritiva é uma série de eclosões de sugadas


alternadas e com pausas. A avaliação e a estimulação da sucção
são realizadas por fonoaudiólogo, que introduz o dedo mínimo
enluvado na cavidade oral do recém-nascido, tocando na parte
posterior do palato (papila palatina), desencadeando o reflexo
de sucção.
Ao nascimento, o recém-nascido a termo já apresenta ple-
nas condições de alimentação por via oral. Os músculos da face
encontram-se plenamente desenvolvidos e desempenham ade-
quadamente as funções de sucção e deglutição, o que garante
à criança todos os benefícios da amamentação no seio materno.
Porém, o bebê prematuro pode apresentar dificuldades durante
o processo de alimentação, por ser neurologicamente desorga-
nizado e apresentar imaturidade anatômica e funcional do trato
gastrintestinal.
A avaliação do padrão de sucção observa os seguintes as-
pectos:
• Avaliação da postura oral: postura de lábios (vedados, en-
treabertos, abertos).
• Postura de língua (plana, elevada, retraída, protraída).
Alterações mais comuns: Postura de lábios abertos e postura
de língua elevada e retraída.
• Avaliação dos reflexos orais: Procura; Sucção; Mordida;
Vômito.
Alterações mais comuns: Atraso no reflexo de sucção; Exacer-
bação do reflexo de mordida; Anteriorização do reflexo de
vômito.
• Avaliação da sucção não-nutritiva: Movimentação e cano-
lamento de língua; Movimentação da mandíbula.
• Força de sucção; Sucções por pausa (s/p); Manutenção do
ritmo de s/p.
Alterações mais comuns: Alteração na movimentação de lín-
gua; Alteração na força de sucção.
Há situações em que o bebê não consegue manter a pega da
aréola durante a mamada. Além de o bebê poder estar sonolento
ou sem força para sugar (no caso de bebês prematuros ou doen-

27
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

tes), essa dificuldade pode estar relacionado à obstrução nasal ou


ao fluxo abundante de leite da mama materna. As causas desses
problemas devem ser sanadas para que a mamada seja eficaz.
Além da avaliação, a estimulação com sucção não nutritiva
tem como objetivo proporcionar um aumento nas séries de eclo-
sões de sugadas alternadas e rítmicas. Esta estimulação, ao ser
realizada pelo fonoaudiólogo, enquanto a dieta é oferecida por
sonda orogástrica ou nasogástrica (antes e/ou durante a oferta do
leite), acelera a maturação do reflexo de sucção, contribui para a
coordenação da sucção/deglutição/respiração, facilitando a tran-
sição para alimentação por via oral, auxiliando no ganho de peso
e consequentemente acelerando a alta hospitalar.
A técnica de sucção não nutritiva pode ser utilizada tam-
bém por outros profissionais de saúde, como método não farma-
cológico para alívio da dor, durante a realização de procedimen-
tos invasivos desconfortáveis para o recém-nascido.

Observação e Avaliação da Amamentação

Para a manutenção da amamentação, a mulher precisa re-


ceber apoio e ajuda centrados em suas dificuldades. Nesses mo-
mentos, devem ser oferecidas informações relevantes que pro-
porcionem tranquilidade e que a façam sentir-se mais confiante
para amamentar. Estudos apontam que o aconselhamento face a
face é primordial no estabelecimento do aleitamento materno, e
é de extrema importância identificar precocemente os possíveis
fatores envolvidos no risco de insucesso desse processo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) quatro pontos-
chave que caracterizam o posicionamento e a pega adequados:

Pontos-chave do posicionamento adequado:

1. Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura


do mamilo.
2. Corpo do bebê próximo ao da mãe.
3. Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido).
4. Bebê bem apoiado.

28
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Pontos-chave da pega adequada:

1. Visualiza-se mais aréola acima da boca do bebê que abaixo.


2. Boca bem aberta.
3. Lábio inferior virado para fora.
4. Queixo tocando a mama.

Os seguintes sinais são indicativos de técnica inadequada


de amamentação:

• Bochechas do bebê encovadas a cada sucção.


• Ruídos da língua.
• Mama aparentando estar esticada ou deformada durante
a mamada.
• Mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas
ou achatadas quando o bebê solta a mama.
• Dor na amamentação.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a


OMS elaboraram um Formulário de Observação de Mamadas,
com o objetivo de capacitar os profissionais da saúde a desenvol-
ver habilidades clínicas no manejo da lactação e, assim, promo-
ver o sucesso da amamentação.

29
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Quadro 1 - Formulário de Observação de Mamadas

Fonte: Carvalho, Marcus Renato de, Gomes, Cristiane F. Amamentação: bases científicas, 2017, p. 155.

30
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

AMAMENTAÇÃO E O USO DE MEDICAMENTOS


E DROGAS DE VÍCIO E ABUSO

Medicações Maternas que Interferem na Amamentação

A terapia medicamentosa das nutrizes deve, preferencial-


mente, considerar a utilização de medicamentos compatíveis
com a amamentação. A indicação de amamentação respeitará o
manual do Ministério da Saúde “AMAMENTAÇÃO E USO DE
MEDICAMENTOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS” disponível no
link <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/amamentacao_
uso_medicamentos_2ed.pdf>.
Para as puérperas em uso de medicamentos classificados,
segundo o manual, em “amarelo” (uso criterioso), a amamenta-
ção será orientada após avaliação médica.

Amamentação e o Uso de Drogas de Vício e Abuso

Recomenda-se que as nutrizes não utilizem drogas de vício


e abuso, pois já se demonstrou que o uso pela mãe de nicotina, ál-
cool, ecstazy, anfetaminas, cocaína e estimulantes relacionados,
tem efeitos danosos sobre o bebê amamentado. Álcool, opiáceos,
benzodiazepínicos e maconha (cannabis) podem causar sedação
tanto na mãe como no bebê. Sendo assim, devem ser seguidas as
seguintes recomendações:

Álcool (Etanol): Uso criterioso durante a amamentação. O


álcool pode modificar o odor e o sabor do leite materno levando
à recusa do mesmo pelo lactente A ingestão de doses iguais ou
maiores que 0,3g/kg de peso podem reduzir a produção láctea,
por exemplo, uma puérpera de 70kg poderia consumir no máxi-
mo uma lata (360ml) de cerveja por dia, considerando a concen-
tração de 5% de álcool.

Anfetaminas, Cocaína, Crack, Fenciclidina, Heroína, Ina-


lantes, LSD, Maconha e Haxixe: Uso contraindicado durante a
amamentação.

31
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Nicotina: Uso criterioso durante a amamentação. Apesar de


a quantidade de nicotina excretada no leite humano ser pequena,
o tabagismo materno está associado com a redução do volume
de leite e com o desmame precoce. O uso de medicamentos (ade-
sivo, goma de mascar e spray) contendo nicotina é compatível
com a amamentação.

Inibidores da Lactação

Diante de casos em que a amamentação é contraindicada,


preconiza-se o enfaixamento das mamas e a prescrição de su-
pressor da produção de leite nas primeiras 24 horas pós-parto.
Orienta-se também o acompanhamento por assistente social e
psicóloga no puerpério.
Existem situações em que a inibição primária da lactação
ou a suspensão da lactação estabelecida é necessária, como é o
caso de mães em situação de morte fetal ou neonatal, HIV po-
sitivo, ou mães que iniciarão terapêutica citotóxica, respectiva-
mente. Em todas as situações, a primeira conduta deverá ser o
estabelecimento da indicação desta ação, com o devido esclare-
cimento materno.
A primeira ação será orientar a mãe a não mais estimular
as mamas, seja pela sucção do recém-nascido, seja com métodos
de ordenha ou massagens repetidas. A turgescência dos alvéolos
mamários inibe a produção de leite. Esta simples conduta, na
maioria das vezes, bloqueia ou diminui a lactogênese.
Como medida terapêutica medicamentosa, podem ser
utilizadas substâncias que inibem ou que bloqueiam a ação do
hormônio responsável pela produção do leite em nível alveolar
(prolactina).
Substâncias estrogênicas eram usadas com esta finalidade,
atualmente, dispomos de fármacos que atuam diretamente na
inibição da secreção da prolactina, sendo a mais utilizada a Ca-
bergolina (comprimidos de 0,5 mg).

A critério e prescrição médica, a Cabergolina pode ser utili-


zada no seguinte esquema:
• Inibição primária da lactação: 2 comprimidos de 0,5mg
em dose única no 1º dia pós-parto.
32
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

• Supressão da lactação estabelecida: 0,5 comprimido (0,25


mg) cada 12 horas, por 2 dias.

Recomenda-se não esvaziar as mamas, usar enfaixamento


compressivo e/ou sutiã apertado e analgésicos, a critério médico,
em caso de dor. É esperado o aparecimento de sintomas de in-
gurgitamento mamário mesmo com uso das ações descritas, que
devem receber tratamento sintomático além do suporte emocio-
nal adequado.
Mães em situação de morte neonatal que não estejam inter-
nadas na instituição, mas que sejam acompanhantes de recém-
nascidos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo) ou
na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal (UCI), deve-
rão ser encaminhadas para atendimento no Pronto Atendimento
Ginecológico (PAGO) do HU-UFGD, para avaliação e conduta.

Uso de Galactagogos na Amamentação

O ato de amamentar envolve não apenas o impulso bioló-


gico, mas também aspectos sócio-psico-culturais e, portanto, é
cercado por diversas crenças e mitos, que podem causar insegu-
ranças. A produção adequada de leite exige o crescimento dos
alvéolos secretores no tecido glandular da mama, a secreção de
leite pelas células secretoras dos alvéolos e o esvaziamento da
mama por sucção ou por expressão, bem como depende da inte-
gridade do eixo hipotálamo-hipófise. Além disso, qualquer fator
materno e/ou da criança que interfira na transferência efetiva do
leite da mama para o lactente pode causar a produção insuficien-
te de leite por inibição mecânica e química.
Galactagogos são drogas que auxiliam na iniciação e ma-
nutenção da produção adequada de leite. Podem ser úteis (des-
de que utilizados com cautela e adequadamente) nas seguintes
situações: parto prematuro, doenças ou situações que necessitem
do afastamento entre o binômio mãe-bebê, ou ainda em casos de
adoção. As drogas utilizadas para este fim agem bloqueando os
receptores de dopamina (inibidor da produção de prolactina),
resultando no aumento dos níveis séricos de prolactina e conse-
quente aumento da produção de leite.
Na prática clínica, as drogas usadas como galactagogos, de-
33
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

vido à sua segurança, são a metoclopramida e a domperidona.


Não há evidências de que esses agentes estimulem a produção
de leite em mulheres com níveis elevados de prolactina ou com
tecido mamário inadequado à lactação.
Metoclopramida: Possui efeito prolactinogênico dose-de-
pendente, sendo preconizada na dose de 10 a 15 mg/dia, via oral,
três vezes ao dia, durante 1 a 2 semanas. Pequena quantidade é
transferida para o leite, sendo relatadas concentrações que va-
riam de 28 a 157 µg/L no puerpério imediato, porém esse me-
dicamento pode causar efeitos colaterais extrapiramidais, como
tremor, bradicinesia e outras reações distônicas, principalmente
na mãe, sendo seu uso indicado por profissional médico de for-
ma criteriosa.
Domperidona: Droga estimulante da secreção de prolacti-
na, também por ação antagonista da dopamina. Apresenta menor
lipossolubilidade e maior peso molecular que a metoclopramida,
o que a torna menos permeável à barreira hematoencefálica e,
portanto, mais segura, devido ao menor risco de efeitos extrapi-
ramidais. A dose usada para induzir e manter a lactação varia de
10 a 30 mg, três vezes ao dia.
Outros galactagogos: Os neurolépticos, como a clorproma-
zina, possuem uso muito limitado como galactagogos devido ao
risco potencial de efeitos colaterais.
O sulpiride, usado a longa data como galactogogo, teve o
uso com tal finalidade abolido devido a indicação do fabricante,
pelo risco de excreção no leite materno durante a amamentação.
Cabe ressaltar que a estimulação mecânica do complexo
aréolo-mamilar pela sucção do lactente e/ou a ordenha do leite
é o fator mais importantes à indução e manutenção da lactação.
Tais estímulos promovem a secreção de prolactina pela hipófi-
se anterior e de ocitocina pela hipófise posterior. Portanto, cabe
ao profissional de saúde avaliar se a técnica de aleitamento está
correta, ou seja, se o posicionamento e a pega do complexo aré-
olo-mamilar estão adequados, se a amamentação é praticada em
livre demanda, ou, caso a mãe esteja separada de seu filho, se
está sendo feita ordenha manual ou mecânica frequente.
A utilização de fármacos galactagogos deve ser reservada
somente para quando as medidas citadas não obtêm sucesso, e
somente a critério e prescrição médica, respeitando o tempo da
apojadura do leite (24 a 72 horas pós-parto).
34
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

PROTOCOLO DE SUPLEMENTAÇÃO E
SUBSTITUIÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO

Razões Aceitáveis para Uso de Substitutos do Leite Materno

O aleitamento materno é uma prática fundamental para a


criança, para a nutriz e para sociedade. É notória a relação entre
o aleitamento materno e a prevenção de doenças e a diminuição
da mortalidade infantil, bem como os benefícios para a mãe.
A maioria das mães podem ser bem-sucedidas na amamen-
tação, o que inclui o apoio dos profissionais envolvidos, iniciar
a amamentação na primeira hora de vida, amamentar exclusiva-
mente nos primeiros seis meses e continuar a amamentar (com
alimentos complementares apropriados) até dois anos de idade
ou mais.
Em poucas situações, justifica-se a prescrição de fórmulas
infantis para complementar o leite materno ou até mesmo para
não oferecê-lo. Em 2009, a OMS publicou uma atualização sobre
as razões médicas aceitáveis para uso temporário ou permanente
de substitutos do leite materno.
Sendo assim, para o manejo adequado do aleitamento ma-
terno, é importante distinguir entre:
• lactentes que não podem ser alimentados no seio, mas
para quem o leite materno permanece o alimento ideal
(prematuro extremo, baixo peso, criança com sucção débil,
má-formação orofacial e transtornos neurológicos).
• lactentes que podem precisar de outra nutrição além do
leite materno (baixa produção de leite, sucção inadequada
ou irregular).
• lactentes que não devem receber leite materno ou qual-
quer outro tipo de leite, incluindo os substitutos do leite
materno habituais, e que precisam ser alimentados com fór-
mulas especiais.
• lactentes para quem o leite materno não está disponível
(morte materna, separação mãe-bebê, psicose, eclampsia
ou choque).
• doenças maternas que afetam as recomendações de alei-
tamento materno (HIV e HTLV), uso de drogas ou uso de

35
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

medicações contraindicadas durante a amamentação (cito-


tóxicos, radioativos e antitireoidianos, exceto propiltioura-
cil).

Condições Maternas que Justificam a Interrupção Temporária


ou Permanente da Amamentação

Condições maternas que interrompem a


amamentação permanentemente:

HIV Não amamentar.


Na ausência do teste de HIV no mo-
mento do parto, deve-se postergar o
aleitamento até que seja excluída a
ausência de infecção por HIV.
HTLV 1 e HTLV 2 Não amamentar.

Em casos em que a amamentação é contraindicada, o re-


cém-nascido deverá receber leite materno pasteurizado ou artifi-
cial no copinho, conforme página 47 (Como Ofertar o Leite no Copo
ou Xícara). A Política de Amamentação do HU-UFGD proíbe a
entrada de bicos artificiais, como mamadeiras, chupetas, bicos
de silicone, entre outros.

Manejo de Aleitamento Materno em


condições maternas especiais:

Citomegalovírus Amamentar.
Exceto: recém-nascido com idade
gestacional menor que 32 semanas
ou peso menor ou igual a 1,5kg.
Nesses casos, ofertar preferencial-
mente leite materno pasteuriza-
do e, na ausência deste, fórmula
artificial.
Herpes Simples e Herpes Amamentar se não tiver lesões nas
Zoster mamas.

36
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Hepatite A Amamentar.
Hepatite B Amamentar, desde que aplicadas a
vacina anti-hepatite B nas primei-
ras 12 horas e a imunoglobulina
dentro das primeiras 24 horas.
Hepatite C Amamentar.
Exceto: Se a mãe estiver com car-
ga viral elevada ou lesão mamilar
sangrante.
Hanseníase Amamentar.
Exceto: Hanseníase Virchowiana
não tratada ou tratamento inferior
a 3 meses com sulfona ou 3 sema-
nas com rifampicina. Contraindi-
cado até que o tratamento atinja o
tempo necessário para controle da
transmissão.
Rubéola Amamentar.
Caxumba Amamentar.
Sarampo Amamentar.
Tuberculose pulmonar Amamentar. Utilizar máscaras ou
similares até 2/3 semanas do início
do tratamento.
Malária Amamentar.
Sífilis Amamentar, se tratada adequada-
mente.
Doença de Chagas Não amamentar se estiver em fase
aguda. Na fase crônica, não ama-
mentar apenas se houver san-
gramento mamilar evidente.
Mastite Amamentar na mama não afeta-
da e realizar ordenha manual na
mama afetada.
Abscesso mamário A amamentação deve ser mantida
na mama sadia. Após o tratamento
da mama afetada, retornar à ama-
mentação.

37
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Coqueluche Não amamentar na fase aguda. A


amamentação é permitida após 5
dias do início da terapia antimicro-
biana.
Leptospirose Não amamentar na fase aguda. É
permitido o uso do leite materno,
apenas ordenhado e pasteurizado.
H1N1 Amamentar. Utilizar máscaras ou
similares.
Zika, Chikungunya e Amamentar.
Dengue

Condições especiais do Recém-Nascido

Condição neonatal Indicação


Galactosemia Suspender amamentação e utili-
zar fórmula isenta de galactose.
Fenilcetonúria Suspender amamentação e utili-
zar fórmula isenta de fenilalani-
na.
Condutas específicas podem ser
feitas pelo pediatra.
Doença da urina de xarope do Suspender amamentação e
bordo (Leucinose) utilizar fórmula livre de leucina,
isoleucina ou valina.
Condutas específicas podem ser
feitas pelo pediatra.
Condição clínica do recém-nas- Priorizar a oferta de leite materno
cido em que necessite de maior e a complementação com fórmu-
aporte calórico e/ou apresenta di- las infantis deverá ser prescrita
ficuldade de coordenação sucção/ por médico ou nutricionista.
deglutição/respiração

Hipoglicemia Neonatal

De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Pe-


diatria sobre a hipoglicemia no período neonatal, o limite infe-

38
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

rior da normalidade para glicemia fetal durante a gestação é de


54 mg/dl. Ao nascimento, após o clampeamento do cordão umbi-
lical, o suprimento materno de glicose cessa de maneira abrupta
e os níveis glicêmicos do recém-nascido caem rapidamente, di-
minuindo fisiologicamente até cerca de 3 mg/dl durante as pri-
meiras 1 a 2 horas de vida, alcançando aproximadamente 45 mg/
dL nas primeiras 4 a 6 horas de vida, nível que se mantém nas
primeiras 12 horas de vida.
Sinais e sintomas de hipoglicemia no período neonatal ten-
dem a ser inespecíficos, incluindo tremores, irritabilidade, suc-
ção débil, letargia, taquipnéia, cianose e hipotermia que podem
estar associados também a outras condições tais como sepse,
desconforto respiratório, cardiopatias.
A hipoglicemia neonatal é uma das anormalidades bioquí-
micas mais comuns encontradas no recém-nascido. Existe muita
controvérsia sobre a definição numérica de hipoglicemia neona-
tal, abaixo da qual poderiam existir riscos neurológicos e ao de-
senvolvimento do recém-nascido e também sobre seu manejo,
especialmente em pacientes assintomáticos.
Essa divergência justifica-se uma vez que:
• Não existe ponto de corte específico.
• A sensibilidade à hipoglicemia é individual.
• Variabilidade da tolerância (idade gestacional, dias de
vida, presença ou ausência de sintomas).
Importante: A complementação através de fórmulas arti-
ficiais para os recém-nascidos que apresentarem hipoglicemia
com valores de até 40mg/dl dentro das primeiras 48 horas de
vida, deve ser feita após avaliação clínica e somente em casos em
que o manejo adequado da amamentação não puder ser realiza-
do.
Para prevenir hipoglicemia neonatal, deve-se evitar tanto
jejum materno prolongado quanto oferta excessiva de glicose in-
travenosa durante o trabalho de parto e ato operatório.
O manejo clínico e laboratorial deve respaldar-se em:
• Reconhecer os grupos de risco e tomar condutas anteci-
padas, monitorizando os níveis de glicose sanguínea e fazendo a
profilaxia da hipoglicemia.
• Intervir quando os níveis forem considerados como hipo-
glicemia.
• Investigar e tratar a causa da hipoglicemia.
39
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Definição clínica de hipoglicemia: Níveis baixos de glicose


no sangue (sangue total abaixo de 40mg/dl ou no plasma abaixo
de 45mg/dl) por método de detecção confiável, sinais clínicos ou
desaparecimento dos sinais com a correção da glicemia, em re-
cém-nascido a termo ou recém-nascido prematuro.
Sugere-se a glicemia alvo em recém-nascido a termo acima
de 50mg/dl para todas as idades (entre 40 e 50mg/dl é considera-
do o risco de hipoglicemia).

Aspectos fisiológicos importantes:


• A glicemia fetal corresponde a 2/3 dos níveis maternos.
• A glicemia atinge seu valor mais baixo ao redor de 2 horas
após o nascimento.
• A hipoglicemia neonatal pode ser sintomática ou assin-
tomática e na maioria das vezes os sinais clínicos associados à
hipoglicemia neonatal são inespecíficos.
Quadro Clínico da Hipoglicemia Neonatal:
• Sucção débil ou ausente
• Recusa alimentar
• Hipotonia
• Hiporreflexia
• Alterações de consciência
• Letargia, torpor
• Hipotermia
• Irritabilidade, tremores
• Bradicardia
• Apneia, Dispneia.
• Cianose, Convulsões

Causas de hipoglicemia neonatal – evento transitório

Aumento de consumo de glicose:


• Uso materno de propranolol, ritodrina, terbutalina, clor-
propamida e diuréticos tiazídicos.
• Enfermidade idiopática ou por “má- adaptação”.
• Asfixia perinatal.
• Hipotermia.
• Policitemia: Hematócrito venoso > 70%.
• Hiperviscosidade.
40
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

• Sangue heparinizado.
• Cardiopatia congênita.
• Estresse perinatal: acidose grave ou síndrome hipóxico‐is-
quêmica.
• Suspeita de infecção.
• Desconforto respiratório.

Hiperinsulinismo:
• Recém-nascido Grande Para a Idade Gestacional (GIG) >
percentil 90 de peso.
• Administração intraparto excessiva de glicose.
• Filho de mãe diabética: principalmente se mal controlada.
• Isoimunização Rh.
• Após exsanguineotransfusão – sangue citratado.
• Iatrogenia (suspensão abrupta de infusão glicose, mal po-
sicionamento do cateter arterial).
• Eritroblastose fetal.

Diminuição de produção de glicose:


• Recém-nascido Pequeno para a Idade Gestacional (PIG) <
percentil 10 de peso.
• Baixo peso ao nascimento (< 2500 g).
• Jejum prolongado.
• Ingestão calórica insuficiente.
• Prematuridade.
• Crescimento intrauterino restrito.
• Gemelar discordante com peso 10% inferior ao do gêmeo maior.

Causas de hipoglicemia neonatal – evento persistente ou re-


corrente (mais de 5 a7 dias)

Secundária a hiperinsulinismo:
• Hiperplasia de células beta-pancreáticas.
• Nesiodioblastose.
• Adenoma pancreático.
• Defeito de receptor de sulfonilureia.
• Eristroblastose fetal.
• Síndrome de Beckwith-Wiedemann.

41
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Secundária a endocrinopatias:
• Insuficiência pituitária.
• Deficiência cortisol.
• Deficiência congênita de glucagon.
• Deficiência de adrenalina.

Secundária a erros inatos do metabolismo:


• Disfunção no metabolismo de carboidratos.
• Disfunção no metabolismo de aminoácidos.
• Disfunção no metabolismo de ácidos graxos.
• Micropênis ou defeitos da linha média.

Diagnóstico da hipoglicemia neonatal

Para o diagnóstico é necessário determinar a concentração


da glicemia sanguínea. No HU-UFGD o protocolo padrão é a
avaliação com fita reagente para a dosagem da glicemia à beira
do leito. Todas as fitas reagentes no mercado apresentam baixa
sensibilidade para níveis de glicemia inferiores a 40mg/dl, por-
tanto, para resultados recorrentes abaixo de 40 mg/dl deve ser
feita análise criteriosa do caso, com coleta de sangue para glice-
mia sérica.

Lembrar:
- A dosagem da glicose no sangue total tem valor 10% a
15% menor que a glicemia plasmática.
- A análise da glicemia deve ser realizada imediatamente
após a coleta do sangue. A cada hora que o sangue coletado per-
manece sem ser processado, a glicemia reduz-se em 18mg/dl.

Diagnóstico diferencial:
- Insuficiência adrenal
- Cardiopatia
- Doença renal
- Doença neurológica
- Sepse neonatal
- Outros distúrbios metabólicos

42
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Prevenção da hipoglicemia neonatal

O estímulo e apoio ao início precoce da amamentação é


uma importante estratégia para garantir aporte necessário de
calorias aos recém-nascidos. Nas primeiras 24 horas de vida, a
produção de colostro pela mãe ainda é baixa, mesmo naquelas
que terão sucesso na amamentação. Essa situação, entretanto,
não representa qualquer risco para o recém-nascido a termo com
peso adequado para a idade gestacional. Esses recém-nascidos
possuem reservas suficientes de carboidratos e são capazes de
lançar mão de mecanismos de controle da glicemia plasmática, o
que pode não ocorrer nas crianças dos grupos de risco.
Para a monitorização da glicemia nos recém-nascidos (RN)
pertencentes aos grupos de risco deve ser adotada a seguinte
conduta:
RN GIG (e risco de hiperinsunilismo): Esses RN, por se-
rem macrossômicos, podem ser portadores de hiperinsulinismo.
Devem receber atenção especial na orientação da amamentação,
que deve ser iniciada na primeira hora de vida. Não existe evi-
dência científica de que o uso de fórmulas lácteas oferecidas pre-
cocemente reduza os casos de hipoglicemia nessa população.
RN PIG (e outras situações com diminuição de reserva ou
causas mistas): Este grupo de RN pode apresentar hipoglicemia
por diminuição das reservas de glicogênio. Se o aporte energéti-
co não for garantido, eles podem apresentar quadro mais tardio.
Deve ser lembrado que o uso de glicose por via oral pode, após
aumento inicial da glicemia, causar hipoglicemia de rebote 1 a
2 horas após a ingestão.
Para monitorização da glicemia nos recém-nascidos perten-
centes aos grupos de risco deve ser adotada a seguinte conduta:
Nos grupos de hiperinsulinismo, extremo baixo peso ou
sintomáticos: 1h, 2h, 3h, 6h, 12h e 24h.
Os outros grupos (aumento de consumo e diminuição de
produção): 3h, 6h, 12h e 24h.

Tratamento da hipoglicemia neonatal

Na presença de níveis glicêmicos >25mg/dL e <40mg/dL,


deve-se proceder cuidadosa avaliação clínica do RN: atividade
43
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

motora e busca pelo seio materno.


No caso de bebês com glicemia sanguínea < 25mg/dL, sin-
tomáticos ou com níveis de glicemia persistentemente baixos
mesmo com o início da dieta, devem ser encaminhados imedia-
tamente a Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) e o trata-
mento da hipoglicemia segue o protocolo de cada setor.
Em bebês ativos deve-se estimular o seio materno e obser-
var se a mamada é eficaz, utilizando como instrumento o “For-
mulário de Observação das Mamadas” (Quadro 1 – pág.30).
Prioriza-se o manejo adequado do aleitamento materno, seguin-
do instruções constantes neste protocolo com relação a posicio-
namento e pega, orientações e acolhimento das dúvidas da mãe.
Caso o bebê não esteja ativo deve-se proceder a ordenha
manual, e ofertar o leite no copinho, quantificando a ingesta,
conforme descrito a seguir, no fluxograma 01.
Apenas nos casos em que a administração do leite materno
não for possível, o médico ou enfermeiro responsável deve soli-
citar o leite no lactário e ofertar ao RN no copinho ou pela técnica
de translactação, conforme descrito no Capítulo 7.
Após as primeiras 24 horas de vida, se a glicemia se man-
tiver acima dos valores esperados (50 mg/dL) por três aferições
consecutivas, e não houver dificuldades no manejo do aleitamen-
to materno, suspender a monitorização.

44
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Fluxograma 1- Fluxo para o tratamento da hipoglicemia neonatal

45
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

ORDENHA E ADMINISTRAÇÃO DE LEITE

Ordenha do Leite Materno

A ordenha é útil para aliviar o desconforto provocado por


uma mama muito cheia, para manter a produção de leite quando
o bebê não suga ou tem sucção inadequada (Ex.: RN de baixo
peso ou doente), para retirar leite a ser oferecido à criança na au-
sência da mãe, ou para ser doado a um Banco de Leite Humano.
A ordenha pode ser realizada manualmente, método que,
além de ser eficiente, é mais econômico e prático, possibilitando
que a nutriz retire seu leite mais facilmente em locais e situações
diversas.

Ordenha de Alívio

A ordenha de alívio é utilizada quando as mamas estão


túrgidas e o bebê, por algum motivo, não pode sugar a mama.
Ou ainda, antes de cada mamada (mesmo que as mamas não
estejam túrgidas), quando a aréola estiver muito distendida/en-
durecida, visando amaciá-la facilitando a pega do bebê ao seio.

Ordenha para Manutenção da Lactação

É utilizada geralmente quando, por algum motivo, o re-


cém-nascido não suga o seio materno e a mãe precisa estimular
e manter a produção através do esvaziamento da mama (reflexo
da prolactina). Consiste na realização da ordenha por cerca de
20/30 minutos ou até o esvaziamento da mama, a cada 2 ou 3
horas (8 a 12 vezes por dia).
Se o leite ordenhado for utilizado para ser oferecido ao bebê
ou doado a um Banco de Leite Humano, os seguintes cuidados
são necessários:
• Utilizar vasilhame de vidro esterilizado para receber o lei-
te, preferencialmente vidros de boca larga com tampas plásticas,
que possam ser submetidos à fervura por no mínimo 15 minutos.
• Usar touca ou um pano limpo para prender os cabelos.
47
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

• Evitar falar, espirrar ou tossir durante a ordenha.


• Usar máscara ou pano limpo para cobrir a boca.
• Lavar as mãos e os braços até os cotovelos com bastante
água e sabão. As unhas devem estar limpas e de preferência curtas.
• Lavar as mamas apenas com água; sabonetes devem ser
evitados pois ressecam os mamilos e os predispõem a fissuras.
• Secar as mãos e as mamas com toalha individual ou des-
cartável.
• Posicionar o recipiente onde será coletado o leite materno
(copo, xícara, caneca ou vidro de boca larga) próximo ao seio.

Como Realizar a Ordenha Manual

A seguir, são descritos os passos da ordenha manual do


leite com técnica correta:
• Procurar uma posição confortável, relaxante. Pensar no
bebê pode auxiliar na ejeção do leite.
• Massagear delicadamente a mama com a ponta dos de-
dos, com movimentos circulares, da aréola em direção à base da
mama.
• Manter o tórax curvado sobre o abdome, para facilitar a
saída do leite e aumentar o seu fluxo.
• Posicionar os dedos da mão em forma de “C”, com o po-
legar na aréola ACIMA do mamilo e o dedo indicador ABAIXO
do mamilo na transição aréola-mama, em oposição ao polegar,
sustentando o seio com os outros dedos.
• Usar preferencialmente a mão esquerda para ordenhar a
mama esquerda e a mão direita para a mama direita, ou as duas
mãos simultaneamente (técnica bimanual).
• Fazer leve pressão do polegar e do dedo indicador, um
em direção ao outro, e leve pressão em direção à parede torácica.
Pressão muito forte pode bloquear os ductos lactíferos.
• Após a pressão, soltar. Repetir essa manobra tantas vezes
quanto necessárias. A princípio o leite pode não fluir, mas depois
de pressionar algumas vezes, o leite começa a pingar e pode fluir
em jorros se o reflexo de ocitocina for ativado.
• Desprezar os primeiros jatos. Assim, melhora a qualidade
do leite pela redução dos contaminantes microbianos.
• Mudar a posição dos dedos ao redor da aréola para que
48
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

todas as áreas da mama sejam esvaziadas.


• Iniciar a ordenha da outra mama quando o fluxo de leite
diminuir. Alternar a mama e repetir a massagem e o ciclo várias
vezes. Lembrar que ordenhar leite de peito adequadamente leva
mais ou menos 20 a 30 minutos, em cada mama, especialmente
nos primeiros dias, quando apenas uma pequena quantidade de
leite pode ser produzida.
• Podem ser ordenhados os dois seios simultaneamente.
• Rotular o frasco com a data da coleta.
• Guardar imediatamente o frasco na geladeira ou freezer,
em posição vertical.

Na figura 08, é possível observar os movimentos para a or-


denha manual, são eles:
1- Massagem com movimentos circulares, da aréola em di-
reção à base da mama.
2- Mão em forma de “C”.
3- Expressão da mama.

Figura 8 - Ordenha Manual (FONTE: Reprodução/Internet)

Conservação e Preparo do Leite Ordenhado

O leite ordenhado cru (não pasteurizado) pode ser conser-


vado em geladeira por 12 horas e no freezer ou congelador por
15 dias. Para alimentar o bebê com leite ordenhado congelado,
este deve ser descongelado, de preferência dentro da geladeira.
Uma vez descongelado, o leite deve ser aquecido em banho-ma-
49
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

ria fora do fogo. Antes de oferecer o leite à criança, este deve ser
agitado suavemente para homogeneizar a gordura.
O leite ordenhado deve ser oferecido à criança de preferên-
cia utilizando copo ou xícara

Como Oferecer o Leite no Copo ou Xícara

• Acomodar o bebê desperto e tranquilo no colo, na posição


sentada ou semissentada.
• Encostar a borda do copo no lábio inferior do bebê e dei-
xar o leite materno tocar o lábio. O bebê fará movimentos de lam-
bida do leite, seguidos de deglutição.
• Não despejar o leite na boca do bebê, devido ao risco de
engasgos e aspiração.
• Não utilizar seringas ou mamadeiras para oferecer o leite
ao recém-nascido.

Figura 9 - Oferta de leite por copo ou xícara (FONTE: Reprodução/Internet)

50
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Relactação

É uma técnica que estimula o aleitamento materno e o au-


mento da produção láctea, através da sucção do bebê, quando a
produção láctea da mãe é insuficiente ou ausente. A sucção de-
sencadeia um reflexo hormonal, liberando a prolactina, que pro-
move a produção de leite, e a ocitocina, gerando a descida para a
região da aréola mamária.

Figura 10- Relactação (FONTE: Reprodução/Internet)

Visto que o objetivo da relactação é fazer com que a mãe


produza leite o suficiente, deve-se tomar o cuidado de não satu-
rar a oferta de complemento, para que o bebê tenha mais vontade
de mamar ao longo do dia, estimulando as glândulas mamárias
da mãe através da sucção.
A relactação é realizada através de uma sonda de alimen-
tação n° 06 ou 04 adaptada (extraída a extensão que aporta os
orifícios de saídas laterais), fixada junto à mama da mãe, estando
o orifício de saída na altura do mamilo. Na outra extremidade é
acoplado um recipiente, como copo, xícara ou seringa onde fica
armazenado o leite artificial que flui a partir da sucção do bebê
ao seio materno.
A translactação é quando o leite utilizado para ser ofertado
ao recém-nascido é o leite materno.
51
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

CONDUTAS NAS COMPLICAÇÕES DA


MAMA PUERPERAL

Traumas Mamilares

A principal causa de traumas e fissuras mamilares se dá


pelo mal posicionamento do bebê ao amamentar, e consequente
pega inadequada. Ter dor ao amamentar e sofrer lesões nos ma-
milos, apesar de comum, não é normal, e pode propiciar, além
do desmame precoce, o desenvolvimento de mastites infeccio-
sas, como também abcessos mamários, pois as lesões se compor-
tam como porta de entrada para micro-organismos.

Sinais e sintomas: lesões cutâneas (fissuras, rachaduras, es-


coriação, erosão); dor e ardor.

Condutas:
• Avaliar posição e pega; cuidados ao terminar a mamada –
afastar a boca do bebê com o dedo mínimo no canto da boca.
• Iniciar a amamentação pela mama menos afetada, logo a
sucção do bebê na mama mais afetada vai ser realizada durante
menor tempo e com menor força de sucção.
• Antes de posicionar o bebê no peito, ordenhar um pouco
de leite até estimular o reflexo de ejeção do leite. Dessa forma o
bebê não precisará fazer grande pressão na sucção para iniciar a
mamada.
• Em casos de dor extrema, realizar a ordenha manual do
leite da mama afetada de forma integral. Utilizar um recipiente
limpo e esterilizado para coletar o leite e ofertar ao bebê.
• Alternar a posição de amamentar para que os locais de
contato da boca do bebê também se alternem no mamilo, dimi-
nuindo o contato com a área lesionada.
• Manter a área lesionada limpa e hidratada com o próprio
leite materno no mamilo antes e após a amamentação. Evitar o
uso de sabonetes e cosméticos no local da lesão.
• A critério médico, pode ser necessário o uso de analgési-
cos por via oral.

53
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Ingurgitamento Mamário Patológico

É importante diferenciar o ingurgitamento fisiológico (nor-


mal e frequente na apojadura), do ingurgitamento patológico. O
primeiro representa um sinal positivo de que o leite está “des-
cendo”, pode ocorrer edema discreto, as mamas ficam mais sen-
síveis e dolorosas e as condutas se restringem a massagem na
mama seguida de posicionar o bebê para sugar sob livre deman-
da. Em casos de dor excessiva, compressa fria (não ultrapassar o
tempo limite de 10 minutos de compressa fria).
O ingurgitamento mamário patológico ocorre pela conges-
tão e obstrução do sistema de drenagem linfática das mamas,
aumentando assim a vascularização e acúmulo de leite nas glân-
dulas mamárias, evoluindo para o edema, vermelhidão, dor e
calor, ocasionando mal-estar e às vezes febre (não muito alta) na
mãe. Ocorre geralmente na primeira semana após o nascimento
e, na maioria das vezes, é ocasionado pelo mal esvaziamento da
mama pelo bebê, o que pode ocorrer pela pega inadequada, ma-
madas infrequentes, controle do tempo de sucção, mamadas em
horas pré-determinadas, uso de bicos artificiais, suplementação
desnecessária, ou ainda pelo início tardio da amamentação.

Sinais e sintomas: aumento do volume mamário, nódulos,


edema, hiperemia, hipertermia, tensão na região areolar, dificul-
tando a sucção do bebê e a drenagem do leite.

Condutas:
• Massagem em movimentos circulares nas mamas e aréo-
las, e ordenha manual para esvaziamento das mamas.
• Mamadas frequentes, sem horários estabelecidos.
• Compressas frias para alívio da dor (com o gelo envolto
em tecido) logo após as mamadas ou ordenha manual, não de-
vendo o tempo de aplicação ultrapassar 10 minutos, devido a
possibilidade de efeito rebote.
• Uso de sutiãs adequados (alças largas e firmes).
• A critério médico, pode ser necessário o uso de analgési-
cos em caso de dor excessiva.

54
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Mastite

A mastite puerperal ou da lactação é o processo inflama-


tório e\ou infeccioso das glândulas mamárias durante a fase de
lactação da mulher. O ingurgitamento mamário não tratado pro-
voca a obstrução de canais lactíferos, aumentando a pressão nos
alvéolos produtores de leite. Esse aumento de pressão provoca a
desestruturação das células alveolares, tendo como consequên-
cia a troca de fluidos glandulares com tecidos e vasos sanguíneos
que circundam os alvéolos, levando à instalação de uma resposta
inflamatória local (dor, calor, vermelhidão, e dano tecidual).
O leite acumulado, a resposta inflamatória e o dano tecidu-
al resultante da inflamação favorecem a invasão e proliferação de
micro-organismos na glândula mamária, podendo evoluir para
abcessos e até infecções generalizadas, se não houver tratamento.
A mastite não confere riscos ao bebê, pois as possíveis bactérias
que contaminam o leite são as mesmas da mama da mãe, com as
quais ele já entrou em contato desde a primeira mamada.
Existe a necessidade de tratamento do que ocasionou o de-
senvolvimento da mastite (fissura, ingurgitamento), para que
não haja falha do tratamento e reincidência da patologia, posto
que as mães que já tiveram mastite na lactação atual, ou em ou-
tras lactações, são mais susceptíveis a desenvolver outras masti-
tes, em consequência da lesão do tecido alveolar pela primeira
mastite.

Sinais e sintomas: ingurgitamento mamário acompanhado


de mal-estar, febre, dor, rubor, calor, taquicardia, náuseas, vômi-
tos, cefaleia, calafrios.

Condutas:
• A mulher pode e deve manter a amamentação ainda que
o diagnóstico de mastite seja confirmado, mas isso dependerá
da localização da mastite. Se a região da aréola estiver dolorida,
avermelhada e quente, a amamentação pode se tornar doloro-
sa e a mulher pode aguardar melhora do quadro para voltar a
amamentar do lado afetado. Porém, é importante que, durante a
pausa, ela extraia leite com frequência, esvaziando a mama. Des-
ta forma, manterá a produção e impedirá a recidiva da mastite.
• Caso a região acometida esteja localizada distante da re-
55
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

gião necessária para a pega do bebê, a amamentação deve ser


mantida, sempre cuidando para não permitir que o leite perma-
neça na mama.
• A critério médico, pode ser necessário o uso de analgési-
cos e antibióticos.
• O uso de antibióticos não anula a necessidade de esvaziar
a mama.
• Usar sutiãs de alças largas, mantendo a posição anatômi-
ca da mama.
• Orientar quanto à pega correta e posição adequada do
bebê durante a mamada.
• Promover o repouso da mãe e oferecer apoio emocional.
• Aumentar a frequência das mamadas, se possível.
• Após 48 horas de tratamento instituído com o esvazia-
mento e\ou antibióticos sem melhora, deve ser investigada a
possibilidade de abcesso mamário.

Abcesso Mamário

O abcesso mamário é a formação de um local contendo pus


e material infeccioso na mama. Geralmente é secundário a uma
mastite não tratada, mal tratada ou tratada tardiamente.

Sinais e sintomas: Ingurgitamento mamário acompanhado


de mal-estar, febre, dor, rubor, calor, taquicardia, náuseas, vômi-
tos, cefaleia e calafrios. O abcesso mamário pode ser identificado
pela palpação de uma área amolecida da pele da mama (área
flutuante) bastante dolorosa; porém o diagnóstico confirmatório
se dá pela realização de um ultrassom.

Condutas:
• Realizar o esvaziamento do conteúdo colecionado por
meio de punção com agulha ou em alguns casos por incisão ci-
rúrgica.
• A amamentação deve ser mantida na mama não afetada.
• Quanto à mama afetada, após a drenagem do abscesso
e início da antibioticoterapia, realizar a ordenha manual a cada
três horas, a fim de evitar a reincidência e piora dos sintomas.
Após o tratamento da mama afetada, retornar à amamentação.
56
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

• A critério médico, pode ser necessário o uso de analgési-


cos e antibióticos.
• O uso de antibióticos não anula a necessidade de esvaziar
a mama.

Candidíase (Monilíase)

A infecção da mama no puerpério por Candida sp (candi-


díase ou monilíase) é bastante comum. A infecção pode atingir
só a pele do mamilo e da aréola ou comprometer os ductos lac-
tíferos. São fatores predisponentes a umidade, a lesão dos ma-
milos e o uso, pela mulher, de antibióticos, contraceptivos orais
e esteroides. Na maioria das vezes é a criança quem transmite o
fungo, mesmo quando a doença não seja aparente. Uma vez que
o fungo cresce em meio úmido, quente e escuro, são medidas
preventivas manter os mamilos secos e arejados e expô-los à luz
por alguns minutos ao dia.

Sinais e sintomas na mãe: Prurido, ardência e dor em agu-


lhadas nos mamilos que persiste após as mamadas. A pele dos
mamilos e da aréola pode apresentar-se avermelhada, brilhante
ou apenas irritada ou com fina descamação.

Sinais e sintomas no recém-nascido: Podem ou não ser apa-


rentes. Quando aparentes, caracterizam-se por crostas esbran-
quiçadas na cavidade oral, não removíveis, e/ou lesões fúngicas
na genitália.

Condutas:
• Manter mamilos e aréolas secos e arejados. Evitar uso de
absorventes e conchas. Quando necessário utilizar coxins do tipo
rodilhas, feitos de tecido de algodão absorvente.
• Reforçar a lavagem das mãos com água e sabão antes e
após as mamadas e depois da troca de fraldas.
• As chupetas e bicos de mamadeira são fontes importantes
de reinfecção, por isso, caso não seja possível eliminá-los, eles
devem ser fervidos por 20 minutos pelo menos uma vez ao dia.
• Mãe e bebê devem ser tratados simultaneamente, mesmo
que a criança não apresente sinais evidentes de candidíase. O
tratamento a critério médico inicialmente é local, com Nistatina,
57
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Clotrimazol, Miconazol ou Cetoconazol tópicos por duas sema-


nas. As mulheres podem aplicar o creme após cada mamada e ele
não precisa ser removido antes da próxima mamada. Se o trata-
mento tópico não for eficaz, recomenda-se Cetoconazol 200mg/
dia, por 10 a 20 dias.

Bloqueio de Ductos Lactíferos

O bloqueio de ductos lactíferos ocorre quando o leite pro-


duzido numa determinada área da mama, por alguma razão,
não é drenado adequadamente, o que pode acontecer quando a
amamentação é infrequente ou quando a criança não está con-
seguindo remover o leite da mama de maneira eficiente. Pode
ser causado também quando existe pressão local em uma área,
como, por exemplo, um sutiã muito apertado, ou como conse-
quência do uso de cremes nos mamilos, obstruindo os poros de
saída do leite.

Sinais e sintomas: nódulos localizados, sensíveis e doloro-


sos, vermelhidão, “fisgadas” e calor na área envolvida (mama e
região axilar).

Condutas:
O tratamento dessa condição deve ser instituído precoce
e energicamente, para que o processo não evolua de ingurgita-
mento para mastite. As seguintes medidas são necessárias para o
desbloqueio de um ducto lactífero:
• Mamadas frequentes;
• Utilização de distintas posições para amamentar, ofere-
cendo primeiramente a mama obstruída, com o queixo do bebê
direcionado para a área afetada, o que facilita a retirada do leite
desse local;
• Massagens suaves na região atingida, na direção do ma-
milo, antes e durante as mamadas;
• Ordenha manual da mama, caso a criança não esteja con-
seguindo esvaziá-la;
• Evitar o uso de sutiã/tops apertados que bloqueiem a dre-
nagem do leite;
• Restringir o uso de cremes nos mamilos.
58
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Galactocele

Galactocele é uma formação cística nos ductos mamários


contendo líquido leitoso, que no início é fluido, adquirindo pos-
teriormente aspecto viscoso, que pode ser exteriorizado por meio
do mamilo. Acredita-se que a galactocele seja causada por um
bloqueio de ducto lactífero. O diagnóstico é feito por aspiração
ou ultrassonografia.

Sinais e sintomas: similares à evolução de ingurgitamento


e/ou obstrução de ducto, com dor na região mamária, massa pal-
pável, lisa e redonda.

Condutas:
• O tratamento imediato é feito por punção e aspiração.
• A formação cística deve ser extraída cirurgicamente por-
que o cisto enche novamente após a aspiração.

Reflexo Anormal de Ejeção do Leite

Algumas mulheres têm o reflexo de ejeção do leite exacer-


bado (associada à ocitocina), o que pode interferir na amamen-
tação.

Sinais e sintomas: Ejeção do leite em quantidade excessiva,


dificuldade do bebê em manter pega adequada, com irritabilida-
de e engasgos.

Condutas:
• Ordenhar um pouco de leite antes da mamada até que o
fluxo diminua.
• Colocar a criança para mamar apenas depois de iniciar
o reflexo de ejeção do leite, o que pode ser estimulado com or-
denha. Isto diminui a intensidade do fluxo de leite na boca da
criança.
O leite ordenhado, se necessário, poderá ser ofertado ao re-
cém-nascido ou doado ao Banco de Leite.

59
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Hiperlactação

A hiperlactação é uma produção excessiva de volume de


leite (associada à prolactina), diferenciada do reflexo anormal de
ejeção do leite, que geralmente acontece no início da mamada.

Sinais e sintomas:
Relativos às mamas - desconforto permanente, enchimen-
to muito rápido após esvaziamento, dor profunda em agulhada,
presença de áreas sensíveis, firmes e nodulosas, dor intensa ao
primeiro sinal de ejeção do leite, reflexo de ejeção do leite exacer-
bado, vazamento constante de leite entre as mamadas.
Relativos ao bebê - engasgos, tosse e/ou leite escorrendo da
boca durante a mamada. Dificuldade em manter a pega, largan-
do o seio abruptamente, arqueando o corpo. Regurgitação, fla-
tulência (como resultado da fermentação da lactose e deglutição
de ar devido ao rápido fluxo de leite), fezes explosivas, ganho de
peso insatisfatório ou bom ganho de peso no início com ganho
de peso mais lento posteriormente.

Condutas:
• Amamentação em livre demanda garantindo esvaziamen-
to completo da mama.
• Se houver desconforto na mama, a mãe deve ordenhar vo-
lume necessário apenas para obter conforto.
• Caso a lactante apresente reflexo de ejeção de leite exacer-
bado, seguir as condutas listadas no tópico acima.
• Se o recém-nascido apresentar sinais de engasgo durante
a mamada, colocar para arrotar, ordenhar a mama até a diminui-
ção do fluxo de leite, e iniciar novamente a mamada.

Baixa Produção de Leite ou Hipogalactia

A grande maioria das mulheres tem condições biológicas


para produzir leite suficiente para atender à demanda de seu fi-
lho. O volume de leite produzido por cada mãe é estabelecido
de acordo com a frequência de esvaziamento (seja pela sucção
ou pela ordenha manual), adequando-se à necessidade do bebê.
No entanto, algumas condições especiais podem interferir na
60
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

produção adequada de leite, tornando-a insuficiente: mãe taba-


gista, estresse materno, depressão pós-parto, apojadura tardia,
hipotireoidismo materno, diabetes descompensada, Síndrome
de Sheehan (necrose da hipófise), restrição importante da dieta,
sucção ineficiente do recém-nascido, pega incorreta, uso de bi-
cos, mamadeira, complementos, restrição da mamada (intervalo
e tempo de sucção).

Sinais e sintomas: Recém-nascido choroso e/ou irritado


após as mamadas, ganho de peso insuficiente, débito urinário
insuficiente (menos de cinco eliminações diárias), fontanelas de-
primidas, turgor da pele diminuído, fezes endurecidas, mama-
das frequentes e com intervalos curtos.

Condutas:
• Avaliar e corrigir a pega e posição da mamada para detec-
ção e correção de possíveis falhas.
• Suspender o uso de bicos artificiais (bicos, chupetas e ma-
madeiras).
• Estimular o aleitamento em livre demanda.
• Promover o esvaziamento adequado da mama.
• Garantir de 8 a 12 esvaziamentos da mama por dia.
• Suspender ou diminuir a quantidade do consumo de ci-
garros/tabaco.
• Garantir a hidratação adequada (consumir de 3 a 4 litros
de líquidos por dia).
• Proporcionar repouso materno.
• Sendo necessária a complementação com fórmula infantil,
utilizar pequenos volumes após a amamentação, para não deses-
timular a amamentação. Se possível, a complementação deverá
ser feita pela técnica de relactação.
• Identificar e garantir tratamento médico adequado para
as patologias maternas.

A Queixa de “Leite Fraco” ou “Pouco Leite”

Uma queixa comum durante a amamentação é “pouco lei-


te” ou “leite fraco”. Muitas vezes, essa percepção é o reflexo da
insegurança materna quanto a sua capacidade de nutrir plena-
61
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

mente o seu bebê. Essa insegurança, com frequência reforçada


por pessoas próximas, faz com que o choro do bebê e as ma-
madas frequentes (que fazem parte do comportamento normal
em bebês pequenos) sejam interpretados como sinais de fome.
A ansiedade que tal situação gera na mãe e na família pode ser
transmitida à criança, que responde com mais choro.
A complementação com outros leites muitas vezes alivia a
tensão materna e essa tranquilidade é repassada ao bebê, que
passa a chorar menos, vindo a reforçar a ideia de que a criança
estava passando fome. Uma vez iniciada a complementação, a
criança passa a sugar menos o peito e, como consequência, di-
minui a produção de leite, processo que com frequência culmina
com a interrupção da amamentação. Por isso, a queixa de “pouco
leite” ou “leite fraco” deve ser valorizada e adequadamente ma-
nejada.
Outra situação que pode levar à percepção errônea de “leite
fraco” é o excesso de leite ou hiperlactação. Nesses casos, como
a criança ingere grande quantidade de leite anterior, pouco ca-
lórico, pode voltar a sentir fome em intervalos muito curtos. Por
isso é importante o esvaziamento adequado da mama, para que
seja assegurado que o bebê receba tanto o leito anterior quanto
o posterior.

Sinais e sintomas: Mãe insegura quanto à capacidade de


alimentar seu recém-nascido, bebê choroso e/ou irritado (pico
de crescimento e desenvolvimento), ganho de peso adequado,
hidratação adequada do recém-nascido (mais de 5 eliminações
vesicais diárias e fezes lácteas e amolecidas).

Conduta:
• Avaliar e corrigir a pega e posição da mamada.
• Suspender o uso de bicos artificiais caso tenham sido uti-
lizados.
• Amamentar em livre demanda.
• Promover o esvaziamento adequado da mama.
• Proporcionar repouso e tranquilidade materna.
• Fornecer apoio e informações para promover o incentivo
e suporte sobre a capacidade da mãe nutrir o seu recém-nascido.

62
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

CONDIÇÕES ESPECIAIS EM ALEITAMENTO


MATERNO

Bebês que Necessitam de Cuidados Especiais

Bebê que não suga ou tem sucção débil

Não é raro os recém-nascidos, aparentemente normais, não


sugarem ou apresentarem sucção débil, ineficaz, logo após o nas-
cimento. Essa condição pode durar poucas horas ou dias. As se-
guintes medidas são úteis para o adequado estabelecimento da
amamentação:
• Enquanto o bebê não estiver sugando vigorosamente,
orientar a mãe a estimular suas mamas regularmente (no míni-
mo oito vezes ao dia) por meio de massagem e ordenha manual.
Isso garantirá a produção de leite e permitirá que o ele receba
leite de sua própria mãe.
• Em caso de recusa do seio materno sem causa aparente,
acalmar o bebê e a mãe, observar se ele sente dor, posicioná-lo na
mama e insistir por alguns minutos. Caso a pega/sucção não se
estabeleça, dar um intervalo para acalmar o binômio mãe-bebê e
reiniciar o processo.
• Alguns bebês nessa situação beneficiam-se se amamen-
tados com a mãe reclinada, de maneira que a criança possa ser
colocada sobre o corpo da mãe, verticalmente, sem receber apoio
(pressão) nas costas e na cabeça.
• Se o recém-nascido não consegue pegar a aréola adequa-
damente ou não consegue manter a pega, observar se ele está
bem posicionado, se abre bem a boca, se as mamas estão muito
tensas, ingurgitadas, ou se os mamilos são invertidos ou muito
planos. O manejo vai depender do problema detectado.
• Se após alguns segundos do início da mamada o bebê
larga a mama e chora, observar se ele está bem posicionado e se o
fluxo de leite é muito intenso. Posicionar o bebê adequadamente
e, se o fluxo for intenso, orientar a realização da ordenha antes da
mamada e a possibilidade de doação do leite materno.
• Se o problema for dificuldade do bebê para sugar em ape-
nas uma das mamas, ou a mãe não consegue posicioná-lo ade-
63
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

quadamente em um dos lados, ou, ainda, se o bebê sente dor


numa determinada posição (devido à fratura de clavícula, por
exemplo), colocá-lo em outra posição na mama recusada. Se,
após o manejo, o bebê continuar a recusar uma das mamas, or-
denhar o leite materno dessa mama para evitar ingurgitamento
mamário e ofertar o leite materno ordenhado por copo ou xícara
até que o bebê sugue o seio materno efetivamente. Assegurar se
o recém-nascido não está em “confusão de bicos” por utilização
de bicos artificiais.
Alguns bebês podem apresentar movimentos orais atípi-
cos (disfunções orais) durante as mamadas, que podem causar
dificuldades no estabelecimento do aleitamento materno. Essas
desordens da sucção podem ser decorrentes de alterações tran-
sitórias do funcionamento oral do recém-nascido ou de carac-
terísticas anatômicas que dificultam o encaixe adequado entre
a boca do bebê e a mama da mãe. As mais comuns são reflexo
de procura e sucção débeis, lábios invertidos na pega da mama,
padrão mordedor, tensão oral excessiva, língua posteriorizada e
língua hipertônica em posição alta na cavidade oral.
Essas disfunções são corrigidas com treinamento para
prontidão oral, utilização de exercícios e manobras específicas,
e ajustes aplicados na região orofacial, modificando o funciona-
mento oral durante a mamada, o que requer a atuação e conduta
de profissional especializado, fonoaudiólogo.

Gemelaridade

O melhor momento de iniciar o aleitamento materno de


gêmeos é logo após o nascimento, sempre que possível. Se um
ou mais bebês não estão em condições de serem amamentados,
a mulher deve realizar a ordenha manual o mais precocemente
possível.
Por mais difícil que possa ser, é muito importante que os
bebês sejam amamentados em livre demanda. Somente haverá
produção de leite suficiente para cada um dos bebês se a mãe
amamentar (ou retirar leite) com frequência e em livre demanda.
Coordenar as mamadas de dois ou mais bebês pode parecer uma
tarefa quase impossível, mas após um período de aprendizagem
(que pode durar meses e, inicialmente, requer apoio profissio-
64
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

nal), muitas mulheres se surpreendem com a sua extraordinária


capacidade de adaptação.
A amamentação de gemelares pode ser realizada utilizan-
do uma das seguintes variações:
• Alternância de bebês e mamas em cada mamada. Desta
maneira, se o bebê “A” começou a sugar na mama direita em
uma mamada, na próxima ele deverá iniciá-la na mama esquer-
da, independentemente se os bebês sugarem em uma só mama
ou nas duas. Uma variação deste método é oferecer a mama mais
cheia ao primeiro bebê que mostrar interesse em mamar. A al-
ternância de bebês e mamas em cada mamada é muito utilizada
nas primeiras semanas após o parto, especialmente se um dos
bebês tem sucção menos eficiente ou quando um ou mais bebês
querem sugar nas duas mamas.
• A amamentação simultânea, ou seja, a amamentação de
dois bebês ao mesmo tempo, economiza tempo e permite satis-
fazer as demandas dos bebês imediatamente. Além disso, há evi-
dências de que a mulher produz mais leite quando amamenta
simultaneamente dois bebês. No entanto, algumas mães (ou be-
bês) só se sentem prontas para praticar amamentação simultânea
algumas semanas depois do parto, após conseguir manejar algu-
mas dificuldades iniciais tais como problemas de posicionamen-
to e técnica.
Muitas vezes as mães de gêmeos, ao vivenciarem esta situ-
ação, pensam que não estão sendo capazes de produzir leite su-
ficiente para os bebês e tendem a suplementar com outros leites.
Estes períodos podem ser antecipados, diminuindo a ansiedade
das mães e preparando-as para uma maior demanda, o que pode
significar reforço na ajuda.

Bebês com malformações orofaciais

Esta é uma situação que exige atenção multiprofissional,


sobretudo acompanhamento psicológico. É importante que os
bebês com malformações orais sejam amamentados porque além
dos inúmeros benefícios já citados anteriormente, o aleitamen-
to materno diminui as infecções do ouvido médio e reduz a in-
flamação da mucosa nasal causada por refluxo do leite, comum
nesses bebês. A amamentação também promove o equilíbrio da
65
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

musculatura orofacial, favorecendo o adequado desenvolvimen-


to das estruturas do sistema motor-oral, que estão afetadas nes-
ses bebês.
É comum as crianças com malformações de mandíbula, na-
riz e boca apresentarem dificuldades na amamentação. Crianças
com fissuras que não envolvem o palato têm um grau de dificul-
dade menor para mamar do que as que possuem fissura palatal.
A criança com fissura labial que envolve narinas e arcada dentá-
ria tem dificuldade de realizar a pega do mamilo e aréola, além
da possibilidade de ter refluxo de leite para as narinas. As fendas
labiais bilaterais são responsáveis pela perda de continuidade do
músculo orbicular dos lábios, comprometendo o vedamento an-
terior durante a amamentação.
A fissura somente palatal, pode envolver o palato duro, o
palato mole ou ambos. As fissuras posteriores pequenas mui-
tas vezes não causam problemas para a amamentação, poden-
do passar despercebidas por vários dias. Já nas fissuras palatais
mais extensas a língua não encontra apoio para compressão do
mamilo e da aréola, limitando a compressão dos seios lactíferos
para extração do leite, dificultando a amamentação.
As principais dificuldades na amamentação relatadas pelas
mães de bebês com malformações orofaciais são: sucção fraca,
dificuldade de pega, refluxo de leite pelas narinas, engasgos do
bebê, ganho de peso insuficiente, pouco leite, ingurgitamento
mamário e trauma mamilar. Tais dificuldades podem ser mini-
mizadas com a ordenha manual do leite para amaciar mamilo e
aréola; oclusão da fenda com o dedo da mãe, durante a mamada;
posicionamento do mamilo em direção ao lado oposto à fenda;
e utilização do bebê em posição semissentada, conhecida como
“cavalinho”, para evitar refluxo de leite pelas narinas.
Em alguns casos, poderá ser necessário a utilização de bicos
especiais e a complementação por meio de fórmulas para garan-
tir o crescimento e desenvolvimento do bebê, devido a necessi-
dade de posteriormente realizarem cirurgias corretivas, caberá
ao pediatria e fonoaudiólogo a avaliação da conduta a ser utili-
zada mediante o comprometimento da amamentação.

66
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Bebês com anquiloglossia (frênulo lingual curto)

A anquiloglossia é uma alteração anatômica, na qual o frê-


nulo lingual é anormalmente curto e espesso (ou ainda delgado),
podendo variar amplamente em elasticidade e local de inserção
na língua e no assoalho da boca. Tais características podem res-
tringir os movimentos da língua em diferentes graus, interferin-
do na amamentação e no consequente ganho de peso do recém-
nascido.
A anquiloglossia pode ser classificada em leve ou parcial,
que é o tipo mais comum, e grave ou completa, condição rara,
em que a língua está fundida com o assoalho da cavidade oral.
Assim, nos casos graves, essa membrana interfere na livre movi-
mentação da língua e a alteração no frênulo lingual implica con-
sequências nas funções de sucção e fala.
Os bebês avaliados e diagnosticados pelo fonoaudiólogo
com frênulo lingual alterado são comumente submetidos a um
procedimento cirúrgico, conhecido como frenotomia, que é re-
alizada pelo médico ou dentista após consentimento informado
dos pais.
O Teste da linguinha é realizado no HU-UFGD por fono-
audiólogos, odontólogos e demais profissionais de saúde devi-
damente capacitados, por meio da aplicação do Procedimento
Operacional Padrão (POP) Assistencial, referente a Avaliação do
Frênulo Lingual no Recém-nascido (Anexo 1).

Picos de Crescimento e Desenvolvimento

O bebê (recém-nascido ou lactente) passa por picos de cres-


cimento, um fenômeno identificado quando ele solicita mais ma-
madas do que de costume. Isso indica que ele está crescendo, terá
mais fome, e precisa de mais leite para sua alimentação, ficando
mais tempo na mama. Deve-se permitir que ele mame o quanto
necessitar, assim a produção se adaptará à sua necessidade. Este
comportamento dura de poucos dias a uma semana, retornando
ao padrão menor de mamadas. Com isso, a mães tem a sensação
de que não está dando conta de produzir leite suficiente.
A mãe precisa ser orientada que quanto mais o bebê ma-
mar, mais leite ela produzirá, que deve confiar em sua produção,
67
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

que seios murchos não significam menos leite, que boa parte do
leite é produzida durante a mamada, e que é normal, durante o
pico de crescimento, o bebê mamar horas seguidas.
Em geral ocorrem três episódios de aceleração do cresci-
mento antes dos 4 meses, podendo ser mais prolongados em gê-
meos:
• entre 10 e 14 dias de vida,
• entre 4 e 6 semanas,
• em torno dos 3 meses.
Bebês prematuros podem experimentar vários períodos de
aceleração do crescimento nos primeiros meses.

Mães que se Recusam a Amamentar

Em casos de recusa da mãe para amamentar o recém-nasci-


do, deve-se solicitar o atendimento psicossocial da equipe do HU
-UFGD e orientar a mulher sobre a importância do aleitamento
materno para o binômio mãe e filho.
Após os atendimentos, se a mãe mantiver seu posiciona-
mento, que seja garantido seu direito de escolha. No momento
da alta hospitalar, será solicitado que a mãe assine o sumário de
alta constando ciência da sua escolha e das orientações recebidas.
Na ausência do Serviço Psicossocial, o enfermeiro ou a en-
fermeira responsável pelo setor garantirá o direito de escolha da
mãe, e posteriormente encaminhará a demanda à equipe psicos-
social.

68
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO NO


HU-UFGD

A promoção e o apoio profissional ao aleitamento materno


deve ser pertencente a um processo histórico de formação so-
ciocultural dos envolvidos, e dessa forma, cabe aos profissionais
conhecerem quais são as bases das representações sociais da mu-
lher que pretende amamentar, bem como desenvolver habilida-
des de aconselhamento para que a mãe possa ter a oportunidade
de encontrar nesse profissional um modelo que sirva de base te-
órica e prática para o aprendizado ou estímulo à amamentação.
É importante ter em mãos alguns conceitos básicos do pro-
cesso de amamentação:
1) A mulher é fisiologicamente apta à produção de leite
(salvo algumas exceções de doenças maternas) e não necessaria-
mente apta a saber amamentar.
2) O recém-nascido não nasce sabendo mamar e sim com
reflexo de busca e sucção que, se bem conduzido, culminará na
boa pega e consequente efetividade do aleitamento materno.
Sendo assim, amamentar é um processo apreendido pela
nutriz e pelo recém-nascido, e para que esse processo aconteça
de forma adequada, deve receber apoio, orientações e oportuni-
dade de aprendizado mútuo para o binômio mãe-bebê.
Ensinar a amamentar induz a uma necessidade de maior
aproximação dos profissionais envolvidos com a realidade social
da nutriz, partindo de uma visão menos biologicista e incluin-
do mais fatores socioculturais evidenciados pela sua história de
vida. É fundamental que o profissional permita que a mulher
exprima suas vivências e experiências anteriores, uma vez que a
decisão de amamentar está diretamente relacionada ao que ela
já viveu.
O sucesso do aleitamento materno exclusivo até o sex-
to mês de vida, e de forma complementar até no mínimo dois
anos de idade (conforme proposto pelo Ministério da Saúde),
não deve ser condicionado apenas à garantia do aprendizado
posicionamento/pega e sucção. É importante que as instituições
apoiadoras do aleitamento materno evidenciem e trabalhem,
durante toda a internação da mãe, as dúvidas, as inseguranças,

69
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

os anseios, assim como é importante que sejam desmistificadas


eventuais informações errôneas que possam levar ao desmame
precoce e insucesso do aleitamento materno.
Para que o aleitamento materno se estabeleça de forma ade-
quada entre a mãe e seu bebê, são necessárias certas condições,
destacando-se inicialmente uma especial sensibilidade materna,
que chamamos de “preocupação materna primária”, que seria
um estado psíquico da mãe, de extrema sensibilidade, que per-
mite a identificação da necessidade e motivação interna para su-
prir as necessidades essenciais de nutrição do seu bebê.
Tal achado materno deve ser identificado por meio do seu
histórico sociocultural como mulher, mãe e suas experiências
com o aleitamento materno. Além disso, a avaliação feita deve
evidenciar o estado emocional materno (dor, nervosismo, ansie-
dade), para que dessa maneira possa ser levantada sua real pos-
tura materna sobre a amamentação.
Sendo assim todos os profissionais e serviços que atendem
a mãe dentro do hospital, precisam oportunizar que as mulhe-
res expressem concretamente seus determinantes e condicionan-
tes sociais, que podem estar sendo decisivos para o sucesso da
prática. A partir daí, o aleitamento materno deve ser trabalhado
desde a admissão da mulher no HU-UFGD até a sua alta, e ain-
da assim garantido o suporte de acompanhamento pós-alta, caso
seja necessário.

Contato Pele-a-Pele entre Mãe e Recém-Nascido na Sala de Parto

Devido à importância do aleitamento materno logo após


o parto para a sobrevivência neonatal e para a manutenção da
amamentação, as práticas e condições que permitam a amamen-
tação imediata e exclusiva são essenciais.
O contato pele-a-pele é a prática de colocar o recém-nasci-
do que se encontra ativo e reativo, livre de complicações que con-
traindiquem a conduta, sem roupa, de bruços, sobre o tórax ou
abdômen desnudo da mãe. O recém-nascido deve ser coberto com
uma manta aquecida e, se possível, mãe e bebê devem ser manti-
dos nessa posição pelo menos na primeira hora de vida, poster-
gando todos os procedimentos de rotina e realizando supervisão
frequente, a fim de detectar qualquer possível complicação.
70
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

O contato pele-a-pele entre a mãe e seu recém-nascido ime-


diatamente após o parto ajuda na adaptação da criança à vida
extrauterina. Essa prática promove o incentivo à amamentação
logo após o parto, pois aproveita o primeiro período de reativi-
dade (hora de ouro na amamentação), o pico de ocitocina mater-
na existente no trabalho de parto e suas consequências na ejeção
do leite, e propicia o comportamento inato do bebê de abocanhar
e sugar a mama durante a primeira hora de vida, geralmente sem
requerer nenhuma ajuda em particular.
O contato pele-a-pele promove o estabelecimento e favore-
ce a manutenção do vínculo entre a mãe e seu bebê. Também está
estabelecida a associação positiva entre índices de aleitamento
materno nos primeiros 4 meses pós-parto e maior duração da
amamentação.

Tabela 1 - Benefícios do contato pele-a-pele da mãe e do


recém-nascido logo após o parto:

Lactente Mãe
Melhora a efetividade da Promove o estabelecimento
primeira mamada e reduz o do vínculo afetivo entre a mãe
tempo de obtenção de sucção e recém-nascido
efetiva
Regula/mantém a temperatu- Diminui o risco de ingurgi-
ra corporal tamento mamário e demais
intercorrências mamárias
Melhora a estabilidade car- Favorece o estabelecimento da
diorrespiratória amamentação sem que a mãe
inicie um processo de ansie-
dade
Previne hipoglicemia neonatal Favorece a dequitação placen-
associada a perda de tempera- tária espontânea
tura do recém-nascido

71
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Aproveitamento do Primeiro Período de Reatividade do Re-


cém-Nascido para Incentivar o Aleitamento Materno em Sala
de Parto (Hora de Ouro para a Amamentação)

Logo após o nascimento, o primeiro período de reatividade


do recém-nascido perdura por cerca de 60 minutos. Nesse perío-
do, existe intensa atividade e consciência de estímulos externos,
o neonato está alerta e atento ao ambiente e pode exibir ativi-
dade vigorosa, choro, frequência cardíaca e respiratória rápidas.
O recém-nascido tem um forte desejo de sugar nesse período,
de modo que a amamentação pode ser iniciada. Aos poucos, o
recém-nascido torna-se menos alerta e menos ativo, e dorme. As
adaptações neonatais durante esse período inicial são reguladas,
sobretudo, pelo sistema simpático: respirações irregulares, ta-
quipnéia e abertura nasal sem relação com estresse podem ocorrer.
Outras características visíveis nesse período incluem movi-
mentos espontâneos como o reflexo de Moro (no qual o neonato
se estende e move os membros para longe do corpo quando a
cabeça cai subitamente para trás), expressões faciais, reflexo de
busca e procura, choro súbito que cessa abruptamente, tremores
finos do queixo ou das extremidades, piscar dos olhos e movi-
mentos oculares.
O primeiro período de reatividade é o momento ideal para
promover a interação entre os pais e o recém-nascido, estimu-
lando o vínculo ao propiciar que a mãe e o neonato permaneçam
juntos nesse período (desde que o recém-nascido seja saudável).
A temperatura precisa ser monitorada e mantida cuidadosamen-
te durante esse período, para prevenir o estresse por frio, que
pode favorecer a hipotermia e consequente hipoglicemia.
Considerando que a produção de leite é determinada pela
frequência com a qual o bebê suga e esvazia o seio, a sucção ini-
ciada o mais precocemente possível, frequente e efetiva, é im-
portante para estabelecer a produção de leite e prevenir perda
excessiva de peso neonatal, e para a manutenção adequada dos
níveis de glicemia.
A suplementação precoce com fórmula reduz a frequência
da sucção e a necessidade do recém-nascido em buscar e sugar o
seio materno, o que pode iniciar um círculo vicioso em potencial,
em que a suplementação deve ser aumentada continuamente em
virtude da diminuição da produção de leite materno.
72
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Além disso, o leite humano possui componentes que po-


dem estar relacionados com o desenvolvimento de mecanismos
de proteção para alergias. Ele age como um modulador da mi-
crobiota intestinal, que acaba por estimular o equilíbrio do siste-
ma imunológico.
O recém-nascido exposto nos primeiros dias de vida às fór-
mulas infantis à base de proteína do leite de vaca, mesmo que em
pequenas quantidades, apresenta maior probabilidade de desen-
volver alergia à proteína do leite.

Controle Térmico do Recém-Nascido em Sala de Parto e o


Apoio à Amamentação

Assim que possível, e caso não haja nenhuma contraindica-


ção para o recém-nascido ou para a puérpera, o bebê deve ser po-
sicionado em contato pele-a-pele com a mãe, e ser mantido nesta
posição pelo tempo de uma hora. Espera-se que, nesse tempo, a
mãe transfira temperatura ao recém-nascido e este não precise
“gastar” gordura marrom e glicose plasmática para a sua adap-
tação térmica ao ambiente.
A hipotermia leva à diminuição da produção de surfactante
e aumento do consumo de oxigênio, e causa depleção das reser-
vas calóricas, podendo levar o recém-nascido a apresentar hipo-
glicemia, além de outros sintomas mais graves que podem con-
tribuir para o desenvolvimento ou agravamento de um quadro
de insuficiência respiratória. Alterações fisiológicas provocadas
pela hipotermia:
• Diminuição da produção de surfactante.
• Aumento do consumo de oxigênio.
• Acidose metabólica.
• Hipoglicemia.
• Diminuição do débito cardíaco.
• Aumento na resistência vascular periférica.
Após o parto, antes de checar a primeira glicemia capilar
do recém-nascido, deve-se assegurar que a contenção térmica do
bebê está apropriada para que ele mantenha uma temperatura
entre 36,5°C e 37°C.

73
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Pico de Ocitocina e Aleitamento Materno

A ocitocina é um dos principais hormônios envolvidos no


trabalho de parto. Ela é responsável pela estimulação das con-
trações uterinas para expulsão do feto e, posteriormente, da pla-
centa. Após o parto, atua de forma conjunta com a prolactina
(hormônio responsável pela produção de leite que é “ativado”
após a expulsão da placenta) na estimulação das contrações das
células musculares da mama, responsáveis pela ejeção do leite
produzido. Além disso, a ocitocina está relacionada a aumentar
a sensibilidade materna para o vínculo com seu bebê.
Logo após o parto, existe um alto nível de ocitocina sérica,
e, devido a isso, esse momento torna-se crucial para o apoio e o
incentivo à efetivação do aleitamento materno.
O uso de ocitocina sintética pode afetar a efetividade do
aproveitamento do pico de ocitocina fisiológico do parto. Geral-
mente, a ocitocina sintética é utilizada com o intuito de regula-
rizar as contrações quando elas não estão efetivas, ou quando
é diagnosticado que o trabalho de parto não está evoluindo da
maneira mais adequada. No entanto, seu uso inadvertido pode
ocasionar desconforto materno (náuseas/vômitos), assim como
contrações mais dolorosas, o que culmina na liberação de adre-
nalina e noradrenalina, hormônios que antagonizam os efeitos
pró-aleitamento da ocitocina fisiológica. Esses hormônios vão
causar a contração da musculatura lisa e vasoconstrição na re-
gião dos ductos mamários, impedindo que a ocitocina chegue
até as células mioepiteliais da glândula, diminuindo assim a li-
beração de leite. Além disso, alguns receptores aos quais a ocito-
cina se ligaria podem ser ocupados pela adrenalina.

Disponibilidade para Aleitamento Materno – DAME

Promoção do Aleitamento Materno no Pronto Atendimento


Ginecológico e Obstétrico do HU-UFGD

Para levantamento de condição prévia para o aprendizado


e efetividade do aleitamento materno, podemos classificar a par-
turiente a partir da sua Disponibilidade para Aleitamento Mater-
74
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

no – DAME. Este instrumento será composto de três avaliações,


preenchidas em três etapas: no Pronto Atendimento Ginecológi-
co e Osbstétrico (PAGO), no Centro Obstétrico e no Alojamento
Conjunto.
No PAGO, será realizado o preenchimento da ficha de evo-
lução do aleitamento materno, onde deverá constar a história
materna pertinente aos fatores interferentes no sucesso do aleita-
mento materno, assim como a classificação do DAME em quatro
possibilidades: favorável, favorável a trabalhar, não favorável e
não indicado.

Disponibilidade para Aleitamento Materno – DAME FA-


VORÁVEL: A gestante entende e acolhe seu papel social como
mãe e mulher. Entende a importância de promover o aleitamen-
to materno exclusivo até o sexto mês de vida do bebê e de forma
complementar até no mínimo dois anos de vida. A família de-
monstra apoio ao aleitamento materno, ou ainda a mãe já possui
histórico de sucesso em aleitamento materno exclusivo.
Em DAME favorável, os profissionais devem acolher pos-
síveis dúvidas da mãe e orientar sobre rotinas do hospital, va-
lorizando a decisão positiva da parturiente e familiares sobre o
aleitamento materno.

Disponibilidade para Aleitamento Materno – DAME FA-


VORÁVEL A TRABALHAR: A gestante entende e acolhe seu pa-
pel social como mãe e mulher. Entende a importância de promo-
ver o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida do
bebê e de forma complementar até no mínimo dois anos de vida,
porém possui histórico de traumas e insucesso com a amamenta-
ção anterior, ou ainda não possui apoio da família, mas ainda as-
sim assegura o objetivo de amamentar seu recém-nascido. Outra
condição é a evidência de que a gestante não recebeu orientações
suficientes e/ou adequadas sobre a importância do aleitamento
materno no pré-natal ou em sua vivência social.
Em DAME favorável a trabalhar, os profissionais devem se
atentar a elencar e conduzir todos os possíveis fatores que po-
dem negativar o interesse ou sucesso dessa mãe em realizar o
aleitamento materno.

Disponibilidade para Aleitamento Materno – DAME NÃO


75
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

FAVORÁVEL: A gestante pode até demonstrar entendimento de


seu papel social como mãe e mulher, mas pode ter um histórico
de traumas e insucesso com a amamentação anterior, pode não
contar com apoio da família, ou mesmo manifestar desinteresse
em amamentar seu filho.
Em DAME não favorável, os profissionais devem identifi-
car os motivos relatados pela mulher para que ela se mantenha
na negatividade em realizar o aleitamento materno, a partir daí
realizar as orientações adequadas, e, caso seja necessário, solici-
tar apoio dos serviços de Psicologia e Assistência Social do hos-
pital.
Deve-se ressaltar a importância biológica e nutricional do
leite materno e explicar as condutas que serão oferecidas à mu-
lher e seu recém-nascido em sala de parto (contato pele-a-pele,
clampeamento tardio do cordão umbilical, aproveitamento do
primeiro período de reatividade do RN e pico de ocitocina).

Disponibilidade para Aleitamento Materno – DAME NÃO


INDICADO: Condição materna ou fetal que contraindique o
aleitamento materno.
Em DAME não indicado, os profissionais devem assegurar
que a parturiente entenda os motivos pelos quais não será opor-
tunizado a ela amamentar seu RN. Se necessário, garantir apoio
do serviço de psicologia e assistência social do hospital.

Promoção do Aleitamento Materno no Centro Obstétrico do


HU-UFGD

Existindo a pré-disposição materna, o objetivo é de que


essa mulher possa estar apta a propiciar uma relação e um am-
biente adequados para o lactente. Devido à fragilidade inicial
do recém-nascido, ele necessita que a realidade externa lhe seja
apresentada aos poucos. As condições favoráveis de prontidão
materna e apoio dos envolvidos nesse primeiro momento é que
permitem respeitar os progressivos descobrimentos por parte do
recém-nascido, sem que a realidade lhe seja imposta antes do
momento em que esteja preparado, de acordo com suas condi-
ções fisiológicas.
Evidentemente, o ato de amamentar não pode se constituir
exclusivamente como garantia de vínculo adequado entre a mãe
76
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

e seu bebê; contudo é possível conceber a amamentação como


sendo de importância fundamental para o estabelecimento desse
vínculo.
O sentimento de obrigação de amamentar, e o convenci-
mento ou a imposição dessa prática às mães, podem trazer mais
prejuízos do que benefícios, em função de se organizar um es-
paço de conflito e ansiedade, principalmente para aquelas mães
que se sintam impossibilitadas, por inúmeras razões internas e/
ou externas, conscientes ou não.
Dessa forma, no momento do trabalho de parto efetivo, que
se dá no Centro Obstétrico (CO), os profissionais devem asse-
gurar e oportunizar que a interação entre a mãe e o bebê possa
ocorrer, de forma a incentivar o início da amamentação espon-
tânea, adequada e livre de vícios que podem levar ao desmame
precoce.

Fluxo de Assistência ao Aleitamento Materno no Pós-Parto,


na Ausência de Contraindicações ou Situações que Impeçam
o Fluxo Proposto, como Fatores Maternos, Fetais e do Recém-
Nascido

1 - Após o parto deverá ser instituído o 4º passo do incenti-


vo ao aleitamento materno (contato pele-a-pele na primeira hora
de vida e conduzir o início do aleitamento materno), colocando o
recém-nascido desnudo no tórax materno e proceder à ligadura
do cordão após cessarem os batimentos nele detectados.
2 – Finalizado o parto, mãe e recém-nascido permanecem
em contato pele-a-pele por período mínimo de 1 hora (período
de Greenberg) para os controles necessários e contenção térmica
do bebê.
3 – Caso o aleitamento materno seja indicado e haja DAME
favorável, a equipe multiprofissional e/ou o enfermeiro respon-
sável pelo centro obstétrico deve avaliar a reatividade do recém-
nascido, reflexo de busca, sucção, pega e possível efetivação do
aleitamento materno na primeira hora. Devem ser registrados os
controles de enfermagem maternos e do recém-nascido, e a evo-
lução do aleitamento materno.
4 – Deve-se evitar a oferta de leite em fórmula como pri-
meiro alimento do recém-nascido, a fim de prevenir o desenvol-
77
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

vimento de alergia à proteína do leite de vaca e também dificul-


dades do início do aleitamento materno.
5 – Antes de avaliar/realizar a glicemia capilar do recém-
nascido, caso seja indicado pelo pediatra, devido a sucção débil
ou suspeita de hipoglicemia, deve se assegurar que o recém-nas-
cido esteja com as contenções térmicas adequadas e com tempe-
ratura alvo alcançada (36,5°C a 37,0°C).
6 – Caso o recém-nascido não obtenha a temperatura alvo
de 36,5° a 37,0°C, o contato pele-a-pele deve ser mantido mesmo
no alojamento conjunto.
7 – As prescrições médicas maternas pós-parto devem se-
guir protocolo assistencial de obstetrícia, disponível no setor.
8 – As prescrições do recém-nascido devem seguir protoco-
lo assistencial do serviço de neonatologia, atentando para que o
aleitamento materno seja exclusivo e incentivado, portanto, não
prescrever complementação oral de rotina. Tal conduta deve es-
tar embasada em necessidade técnica justificada na prescrição e
evolução do recém-nascido.
A evolução da assistência ao aleitamento materno no centro
obstétrico deve ser registrada em impresso específico (Anexo 2):

Promoção do Aleitamento Materno no Alojamento Conjunto

Segundo o Ministério da Saúde, o alojamento conjunto é o


setor hospitalar em que o recém-nascido sadio, logo após o nasci-
mento, permanece com a mãe, diuturnamente, num mesmo am-
biente, até a alta hospitalar. Este sistema possibilita a prestação
de todos os cuidados assistenciais, bem como a orientação à mãe
sobre a saúde do binômio mãe e filho. É nesse momento que a
mulher é estimulada a amamentar e a cuidar do seu recém-nasci-
do, fortalecendo, dessa forma, o vínculo mãe-filho e a promoção
do aleitamento materno.
Caso o aleitamento materno não tenha sido instituído no
centro obstétrico, os profissionais do alojamento conjunto devem
assegurar que o binômio mãe-bebê receba todo o suporte neces-
sário para eliminar qualquer possível interferência que tenha
ocorrido e esteja relatado no impresso de evolução do aleitamen-
to materno (DAME).
Para isso o profissional da equipe multiprofissional do alo-
jamento conjunto e/ou profissional da equipe de enfermagem
78
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

responsável deve classificar o binômio recém-admitido em:

AME instituído, caso não exista mais dificuldade no mane-


jo e manutenção do aleitamento.
AME com dificuldades, caso a ficha de evolução do alei-
tamento materno já apresente fatores contrários ao manejo do
aleitamento como: impossibilidade de contato pele-a-pele, hipo-
termia, dificuldade de pega, sucção débil e/ou condições mater-
nas limitantes.
AME não indicado – condições maternas ou fetais que con-
tra indiquem o aleitamento materno.

Para guiar a avaliação direta da amamentação, seguir o for-


mulário intitulado “Formulário de Observação das Mamadas”
proposto pela UNICEF, contido na evolução de aleitamento ma-
terno do alojamento conjunto (vide página 33 - quadro 01).
Durante a internação, o acompanhamento e manejo do alei-
tamento materno deve ser classificado em três categorias:

VERDE: Aleitamento materno instituído sem dificuldades.

AMARELO: Evidenciada alguma dificuldade ou fator in-


terferente na instituição do aleitamento materno, que necessite
de novo assessoramento ou que não se tenha conseguido resol-
ver momentaneamente.

VERMELHO: Evidenciada alguma dificuldade ou fator in-


terferente na instituição do aleitamento materno, que necessite
de acompanhamento contínuo de um profissional. Nesses casos,
e após ser realizada assistência pela equipe de enfermagem e
equipe multiprofissional do alojamento conjunto, sem efetivida-
de, solicitar um dos membros da CIAAM ou, na ausência destes,
encaminhar ao Banco de Leite, para acompanhamento e auxílio
especifico.
O profissional que realizou o atendimento de cada caso, deve
sempre reavaliar a mamada e reclassificar o aleitamento materno
nas três possibilidades (Verde, Amarelo e Vermelho) no verso do
impresso de evolução do aleitamento. Até a alta do binômio mãe
-bebê, se não instituída a amamentação, a mãe deverá ser enca-
minhada ao Ambulatório de Aleitamento Materno do HU-UFGD.
79
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Fluxo na Assistência ao Puerpério no Alojamento Conjunto,


na Ausência de Contraindicações ou Situações que Impeçam o
Fluxo Proposto, como Fatores Maternos e do Recém-Nascido

1 – A enfermagem deve registrar os controles maternos, do


recém-nascido e do aleitamento materno na admissão ao aloja-
mento conjunto, e orientar a mãe sobre aleitamento materno em
livre demanda.
2 - As evoluções e prescrições maternas, médicas e de en-
fermagem, devem dirigir-se ao incentivo ao aleitamento mater-
no, identificando dificuldades no processo de amamentação.
Tais dificuldades devem ser avaliadas por todas as categorias de
profissionais envolvidos na assistência multiprofissional da ma-
ternidade do HU-UFGD e, se identificadas, corrigidas por essa
equipe ou, se necessário, por um membro da CIAAM ou pelo
Banco de Leite do HU-UFGD.
3 – A necessidade de complementação do aleitamento ma-
terno com fórmulas deve ser identificada pelo pediatra responsá-
vel pelo alojamento conjunto e/ou componentes da equipe multi-
profissional da maternidade, seja através de evidências clínicas,
seja através de informes maternos, seja através de realização de
aferição de glicemia no recém-nascido, e deve ser realizada con-
forme o descrito no Protocolo de Aleitamento Materno da HU
-UFGD.
4 – As aferições de glicemia capilar devem ser de indicação
médica ou da(o) enfermeira(o) responsável presente no setor.
Antes da aferição, deve-se garantir a contenção térmica adequa-
da e a temperatura alvo alcançada (36,5° a 37,0°c).
5 – A conduta sobre eventos hipoglicêmicos do recém-nas-
cido deve obedecer o fluxo estabelecido pelo Protocolo de Alei-
tamento Materno do HU-UFGD (ver página 43) e, dessa forma,
esgotar as possibilidade de manejo sem necessidade de comple-
mentação com fórmulas lácteas.
6 - Os níveis detectados deverão ser informados ao médico
neonatologista/pediatra, que deverá adotar a conduta de com-
plementação, caso seja necessária. A complementação deve ser
solicitada através de prescrição em impresso padrão de solicita-
ção de fórmulas artificiais, descrevendo a justificativa, o volume
e periodicidade da oferta de leite.
7 – Esta conduta de complementação constitui exceção e
80
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

deve ser ofertada pelo período de tempo mais curto possível,


evidentemente sem implicar risco ao recém-nascido e favorecen-
do o estabelecimento do aleitamento materno.

SOMENTE MÉDICOS E NUTRICIONISTAS PODEM


PRESCREVER FÓRMULAS INFANTIS PARA LACTENTES!

Ambulatório de Aleitamento Materno

O Ambulatório de Aleitamento Materno é uma extensão


das ações de incentivo e apoio ao aleitamento materno no HU-U-
FGD. Tem como objetivo diminuir o prolongamento das interna-
ções obstétricas e neonatais por motivos associados à manuten-
ção da nutrição do recém-nascido, pelo não estabelecimento do
aleitamento materno e/ou por complicações da mama puerperal.
É direcionado ao binômio mãe-bebê que, durante a inter-
nação hospitalar e trânsito pelos setores materno-infantis, tenha
sido identificado com necessidade de continuidade da interven-
ção de uma equipe multiprofissional para auxílio da nutriz a
alcançar o sucesso no aleitamento materno. Também se destina
a casos classificados como aleitamento materno não instituído
(VERMELHO) e/ou grupos considerados de risco, como recém-
nascidos GIG, PIG, gemelares, prematuros, puérperas menores
de 18 anos ou puérperas que apresentaram complicações na
mama relativas ao aleitamento materno.
A identificação e encaminhamento do binômio mãe-bebê
serão realizados pelo pediatra responsável pelo alojamento con-
junto, ou por um membro da CIAAM, ou pela equipe multipro-
fissional do alojamento conjunto.

81
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

ROTINAS DO BANCO DE LEITE HUMANO DO


HU-UFGD

O Banco de Leite Humano (BLH) do HU-UFGD


tem por objetivo a captação de doadoras de leite humano e a
realização da seleção, classificação e processamento de leite hu-
mano para atender à demanda dos bebês internados na UTI Ne-
onatal e na Unidade de Cuidados Intermediários.
Doadoras externas são nutrizes saudáveis que produzem
uma quantidade de leite materno superior a quantidade que seu
filho mama. A doação é da quantidade excedente de leite huma-
no que a mãe ordenha diariamente e mantem congelado. Sema-
nalmente, uma equipe do BLH faz a coleta no domicílio. Esse
leite será submetido a seleção e processamento para que possa
ser oferecido para outra criança que, por algum motivo, não tem
o leite de sua mãe.
As doadoras internas são as mães dos bebês que estão in-
ternados no HU-UFGD, que temporariamente não estão ama-
mentando seus filhos diretamente no peito por razões ligadas à
saúde dos mesmos ou outras razões não relacionadas à saúde do
recém-nascido, mas consideradas compatíveis com a ingestão do
leite materno. O leite é retirado na sala de ordenha com cuida-
dos de higiene, controle de tempo e temperatura para manter a
segurança microbiológica do leite, para que seja ofertado cru aos
seus filhos.
É contraindicado o aleitamento cruzado, ou seja, o aleita-
mento da criança por nutriz que não seja a mãe biológica. No
Brasil, todo o leite humano oferecido a bebês de mulher que não
seja a mãe biológica deve ser processado de acordo com a norma
para funcionamento de bancos de leite humano – RDC/Anvisa
nº 171/2006.

Fluxo de Doação de Leite Humano

Captação de Doadoras

Na maternidade do HU-UFGD as nutrizes são orientadas

83
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

quanto às vantagens da amamentação, e é realizado um pré-ca-


dastro dessas mães. Posteriormente, por telefone, a equipe do
BLH entra em contato para saber como está amamentação e es-
clarecer possíveis dúvidas. Nesse momento, as nutrizes são con-
vidadas para serem doadoras externas.
A captação de doadoras externas também acontece em gru-
pos de gestantes das Unidades Básicas de Saúde e por meio de
divulgação em rádio, televisão, jornais, escolas e eventos.
Mães com a intenção de serem doadoras podem entrar em
contato com o BLH, de segunda a sexta-feira, em horário comer-
cial, por meio do telefone 3410-3002, que a equipe agendará a
primeira visita para orientação.
Atualmente o contato é realizado somente com nutrizes
que residem no perímetro urbano de Dourados.

Cadastro das Doadoras

As nutrizes que aceitam ser doadoras externas recebem


uma visita domiciliar da nutricionista e/ou da enfermeira do
Banco de Leite, para que sejam esclarecidas dúvidas quanto à
amamentação do seu bebê. Nesse momento é explicado como
fazer a ordenha manual, como conservar o leite humano orde-
nhado, o cuidado com a higiene e como será realizada a coleta.
Nessa primeira visita é realizado o preenchimento de formulário
de cadastro e são coletados os resultados dos exames laborato-
riais realizados no pré-natal.

Seleção de Doadoras

Para que a nutriz seja confirmada como doadora de leite


humano, os seguintes requisitos devem ser respeitados:
• estar amamentando ou ordenhando leite para o próprio filho.
• ser saudável.
• apresentar exame pré ou pós-natal compatível com a do-
ação de leite ordenhado: resultado negativo para sífilis e HIV.
• não fumar mais que 10 cigarros por dia.
• não usar medicamentos incompatíveis com a amamentação.
• não usar álcool ou drogas ilícitas.
A seleção de doadoras é de responsabilidade do médico
responsável pelas atividades médico-assistenciais do BLH, e essa
84
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

avaliação resulta da leitura clínica do cadastro preenchido pelo


profissional treinado.

Acompanhamento das Doadoras

• Primeira doação

As doadoras aptas devem iniciar a ordenha o mais preco-


cemente possível. Após o cadastramento, o BLH deve agendar a
coleta e garantir informações sobre as boas práticas de manipu-
lação do leite ordenhado.

• Doações subsequentes

Semanalmente a equipe do BLH entra em contato com as


doadoras externas para organizar a coleta semanal, orientar as
mães com possíveis dúvidas que surgiram durante a semana e
também avaliar o surgimento de intercorrências à saúde da do-
adora ou de seu filho. Se houver intercorrências, o profissional
responsável pela coleta tem de comunicar imediatamente o mé-
dico para que este analise se a doação será ou não aceita para a
pasteurização.
O BLH do HU-UFGD está aberto para atendimento à po-
pulação todos os dias, inclusive fins de semana e feriados, das
7h às 19h, preferencialmente com contato prévio pelo telefone
3410-3002.

85
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Fluxograma 2- Fluxo para a doação de leite

Fluxo de Encaminhamento de Puérperas do Alojamento Con-


junto ao BLH

As puérperas que necessitam de ordenha de alívio, quando


não é possível a realização no alojamento conjunto, devem ser
encaminhadas ao BLH preferencialmente nos horários das 10h
às 12h e das 16h às 18h.
Antes de encaminhar as puérperas ao BLH para ordenha
de alívio, é necessário avaliar se a mama está em processo de
ingurgitamento mamário ou apojadura.
Em casos de apojadura a mama estará edemaciada e o vo-
lume de leite será pequeno. Nesses casos, não encaminhar ao
BLH e orientar a amamentação em livre demanda. Caso a mama
esteja ingurgitada, encaminhar ao BLH, porém conferir antes os
exames da puérpera e verificar se não há contraindicações para
doação de leite materno. Deve-se verificar também se o bebê já
foi amamentado, e orientar o acompanhante sobre os cuidados
com o bebê. Caso o bebê queira mamar enquanto a mãe está no
BLH, procurar a equipe de enfermagem para solicitar o retorno
da puérpera ao alojamento conjunto.
Deve-se encaminhar ao BLH o nome e o telefone das puér-
peras que apresentam volume de leite superior ao que o bebê
está consumindo, para que seja feito contato para cadastro no
domicílio.

86
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

ALIMENTAÇÃO DA MÃE QUE AMAMENTA

A lactação constitui uma das fases do ciclo reprodutivo hu-


mano de maior demanda energética, decorrente da energia adi-
cional necessária à produção de leite. A alimentação da mãe é
importante para garantir todos os nutrientes no leite materno.
O conteúdo de vitaminas do leite é fortemente influenciado pela
ingestão e pelo estado nutricional da mãe.
Para uma alimentação adequada, a nutriz deve realizar 6
refeições/dia, que contenham alimentos de todos os grupos da
pirâmide alimentar:
1) arroz, pão, massa, batata, mandioca;
2) legumes, verduras e frutas;
3) leite, queijos e iogurte;
4) feijões, carnes e ovos.
Deve-se intensificar o consumo de líquidos. A recomenda-
ção de ingestão de líquido é de 3,8 litros/dia, podendo ser de
água, leite, chás claros e suco, o que corresponde a um volume
entre 18 e 20 copos/dia.
Por mais que seja importante respeitar as condições socio-
econômicas e hábitos alimentares das nutrizes, este período é
excelente para promover educação nutricional, desestimulando
o consumo de refrigerante, salgadinhos e outros produtos indus-
trializados, e estimulando uma alimentação saudável.
Existe uma série de tabus e mitos relacionados à alimenta-
ção da nutriz, que podem interferir no sucesso do aleitamento
materno. A manutenção das restrições impostas pelos tabus ali-
mentares durante a lactação pode impedir, principalmente nos
grupos de vulnerabilidade econômica, a escolha de alimentos
para uma dieta balanceada, podendo, assim, comprometer a prá-
tica da amamentação.
As mães que acreditam na necessidade de utilizar artifícios
para manter o volume e a composição do seu leite estão insegu-
ras quanto a sua capacidade de amamentar, e podem estar sujei-
tas ao desmame precoce.
Nenhum alimento é capaz de aumentar a produção do leite
e também não deve ser associada a alimentação da mãe com a
cólica do bebê.

87
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DO ALEITAMENTO


MATERNO NO BRASIL

A legislação de proteção ao Aleitamento Materno no Brasil


é uma das mais avançadas do mundo. É muito importante que
o profissional de saúde conheça as leis e outros instrumentos de
proteção do Aleitamento Materno, para que possa informar às
mulheres que estão amamentando, e suas famílias, os seus direi-
tos. Além de conhecer e divulgar os instrumentos de proteção da
amamentação, é importante que o profissional respeite a legis-
lação e monitore seu cumprimento, denunciando as irregulari-
dades. A seguir são apresentados alguns direitos da mulher que
direta ou indiretamente protegem o Aleitamento Materno.

Licença Maternidade

À empregada gestante é assegurada licença de 120 dias con-


secutivos, sem prejuízo do emprego e da remuneração, podendo
ter início no primeiro dia do nono mês de gestação, salvo anteci-
pação por prescrição médica (Constituição Federal de 1988, arti-
go 7º - inciso XVIII). A Lei Federal no 11.770, de 9 de setembro de
2008, cria o Programa Empresa Cidadã, que visa prorrogar para
180 dias a licença-maternidade prevista na Constituição, me-
diante incentivo fiscal às empresas. A empregada deve requerer
a licença-maternidade até o fim do primeiro mês após o parto e
o benefício também se aplica à empregada que adotar ou obtiver
guarda judicial para fins de adoção de criança.
O Decreto nº 6.690, de 11 de dezembro de 2008, regulamen-
ta a extensão da licença-maternidade prevista na Lei nº 11.770
para as servidoras da Administração Pública Federal. Muitos es-
tados e municípios estão concedendo a licença-maternidade de
180 dias para suas servidoras.

Licença Paternidade

Em apoio à maternidade e à amamentação, ao pai traba-


lhador é assegurada licença de 5 dias consecutivos, sem prejuízo
89
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

do emprego e da remuneração, (Constituição Federal de 1988,


artigo 10º - inciso II, §1º). A Lei Federal nº 13.257, de 8 de março
de 2016, prorroga por mais 15 dias a licença paternidade para
servidores públicos e para trabalhadores celetistas cuja empresa
esteja cadastrada no Programa Empresa Cidadã.

• Direito à garantia do emprego – É vedada a dispensa ar-


bitrária ou sem justa causa da mulher trabalhadora durante o
período de gestação e lactação, desde a confirmação da gravidez
até cinco meses após o parto (Ato das disposições constitucionais
transitórias – Artigo 10, Inciso II, Letra b).

Direito à Creche

Todo estabelecimento que empregue mais de trinta mulhe-


res com mais de 16 anos de idade deverá ter local apropriado
onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e as-
sistência os seus filhos no período de amamentação. Essa exigên-
cia poderá ser suprida por meio de creches distritais mantidas,
diretamente ou mediante convênios, com outras entidades pú-
blicas ou privadas como SESI, SESC, LBA, ou entidades sindicais
(Consolidação das Leis do Trabalho – artigo 389 – parágrafos 1º e 2º).

Pausas para Amamentar

Para amamentar seu filho, até que este complete seis meses
de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho,
a dois descansos, de meia hora cada um. Quando assim exigir
a saúde do filho, o período de seis meses poderá ser expandido
a critério da autoridade competente (Consolidação das Leis do
Trabalho – artigo 396 – parágrafo único).

Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para


Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e
Mamadeiras – NBCAL

A Portaria do Ministério da Saúde n° 2.051/2001, Resolu-


ções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – a RDC n°
90
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

221/2002 e a RDC n° 222/2002 – e a Lei nº 11.265, de 3 de janei-


ro de 2006, regulamentam a comercialização de alimentos para
lactentes e crianças de primeira infância (até os 3 anos de ida-
de) e produtos de puericultura correlatos. A legislação traz regras
como a proibição de propagandas de fórmulas lácteas infantis, de
uso de termos que lembrem o leite materno em rótulos de alimen-
tos preparados para bebês e fotos ou desenhos que não sejam ne-
cessários para ilustrar métodos de preparação do produto. Além
disso, torna obrigatório que as embalagens dos leites destinados
às crianças tragam inscrição advertindo que o produto deve ser in-
cluído na alimentação de menores de 1 ano apenas com indicação
expressa de médico e/ou nutricionista, assim como os riscos do
preparo inadequado do produto. A lei também proíbe doações de
mamadeiras, bicos e chupetas ou sua venda em serviços públicos
de saúde, exceto em casos de necessidade individual ou coletiva.

91
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

DÚVIDAS FREQUENTES

Quais os benefícios do aleitamento materno?

O aleitamento materno é a forma mais efetiva de nutrir a


criança, suprindo todas as suas necessidades nutricionais nos
primeiros seis meses de vida, e de forma complementar até os
dois anos de idade. Os benefícios se desdobram, desde o âmbito
biológico até o desenvolvimento psicocognitivo e afetivo pro-
porcionados ao lactente e sua mãe.
Diversos autores citam os benefícios da amamentação tanto
para a criança quanto para a nutriz enquanto inserida num con-
texto social. As linhas de interferência atingem aspectos psicoa-
fetivos quando se trata do favorecimento do vínculo mãe/bebê, e
também da representação familiar e social do ser mãe.
O aleitamento materno também oferece vantagens econô-
mica e ecológica. Primeiramente, minimiza os gastos com fórmu-
las lácteas e dispositivos de administração de substitutos do leite
materno, e, em segundo lugar, diminui a segregação dos invólu-
cros industriais. Ou seja, promove economia de dinheiro para a
família e reduz a produção de lixo (descarte de embalagens).
Outros estudos revelam os benefícios do aleitamento ma-
terno sob um ponto de vista mais avançado. Pesquisas direcio-
nadas apontam o leite materno como fator de proteção ao ado-
ecimento da criança na primeira infância, principalmente por
diarreia, pneumonia e otite. O AM também é decisivo no desen-
volvimento da musculatura da face da criança, assim como de-
mais desenvolvimentos funcionais do bebê (dentição, respiração
e fala), e outros associados à adaptação do recém-nascido.
O leite materno tem alta disgestibilidade, ou seja, é de fácil
digestão, oferecendo todos os nutriente necessários para o cres-
cimento e o desenvolvimento, e ainda oferece imunoglobulinas e
fator bífido para fortalecimento do sistema de defesa do recém-
nascido.
O aleitamento materno interfere, ainda, na saúde materna,
auxiliando na prevenção de doenças hemorrágicas puerperais,
favorecendo a diminuição do peso no pós-parto e a prevenção
de câncer de mama.
93
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

Quantas vezes por dia o bebê deve ser amamentado?

Recomenda-se que a criança seja amamentada sem restri-


ções de horários e de duração das mamadas. Nos primeiros me-
ses, é normal que a criança mame com maior frequência e sem
horários regulares.

Qual o tempo e intervalo de cada mamada?

O aleitamento materno é sob livre demanda, sendo variá-


vel para cada binômio mãe-bebê conforme a fome da criança, o
intervalo transcorrido desde a última mamada, o fluxo de leite,
a capacidade de sucção do recém-nascido, pega adequada, entre
outros fatores. O mais importante é que a mãe observe sinais de
saciedade da criança: o bebê larga o peito sozinho, fica calmo e
tranquilo, dorme profundamente.

O que pode interferir no processo de lactação?

O reflexo da ejeção do leite é inibido pela ansiedade ma-


terna e estimulado pela confiança que a puérpera tenha quanto
à sua capacidade de amamentar. A ansiedade, que é atribuível à
dor, e a ocorrência de dúvidas, incertezas ou desinteresses ma-
ternos, inibe o reflexo da ejeção, constituindo uma das princi-
pais causas de aleitamento inadequado. Sendo assim, sentimen-
tos agradáveis como sentir-se contente, pensar com amor sobre
o bebê, sentir-se confiante de que o seu leite é o melhor para o
bebê, tocar, ver ou ouvir o bebê chorar auxiliam na ejeção do leite
materno e consequentemente na lactação. A mãe deve se sentir
confortável, confiante e segura para amamentar o seu bebê.
A produção de prolactina é uma resposta somática à suc-
ção, enquanto a secreção de ocitocina, que leva à ejeção do leite, é
um reflexo psicossomático. A sucção e o esvaziamento da mama
são condições básicas para a lactação.

Quais os sinais do reflexo de ocitocina ativo?

- Pressão, formigamento ou “fisgada” nos seios antes ou


durante uma mamada.
- Ejeção de leite quando a mãe pensa em seu bebê, sente o
94
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

cheiro, toca ou ouve o choro.


- Ejeção de leite do outro seio, quando o bebê está mamando.
- Ejeção de leite quando o bebê larga o seio durante a ma-
mada.
- Cólica devido à contração uterina, durante as mamadas
nas primeiras semanas.
- Sucções profundas e lentas seguidas de deglutição, de-
monstrando que o leite está fluindo.
- Sede repentina na mãe, durante a mamada.
Como proceder em casos de demora na descida do leite?
Em algumas mulheres, a “descida do leite”, ou apojadura,
só ocorre alguns dias após o parto. Nesses casos, recomenda-se:
• tranquilizar a mãe.
• orientar medidas de estimulação da mama como sucção
frequente do bebê e ordenha.
• estimular o contato pele-a-pele.
• se necessário utilizar sistema de nutrição complementar,
fazê-lo preferencialmente por relactação (vide capítulo 8). Dessa
maneira, o bebê continua a estimular a mama e sente-se gratifi-
cado ao sugar o seio da mãe e ser saciado.

A amamentação é possível em mamilos planos ou invertidos?

Mamilos planos ou invertidos merecem atenção especial,


visto que podem propiciar ansiedade materna devido à neces-
sidade de adequação do manejo, podendo até gerar dificulda-
des no aleitamento materno. Quanto mais precoce for o início da
amamentação, com o apoio dos profissionais no manejo da lac-
tação, o aleitamento materno se estabelecerá com tranquilidade.
Para a mãe que tem mamilos planos ou invertidos conse-
guir amamentar com sucesso, é fundamental que receba apoio
logo após o nascimento do bebê. As medidas a serem tomadas
são:
• transmitir à mãe que, com paciência, perseverança, e com
o posicionamento e auxílio adequados, o bebê sugará a mama com
eficácia. É muito importante que a aréola esteja macia (elástica).
• orientar a mãe a ordenhar seu leite enquanto o bebê não
sugar efetivamente, para manter a produção e deixar as mamas
macias, facilitando a pega. O leite ordenhado deve ser oferecido
ao bebê no copinho.
95
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

• tentar diferentes posições para ver em qual delas a mãe e


o bebê adaptam-se melhor.

Como diferenciar ingurgitamento mamário de mamas turgidas/


apojadura?

É importante diferenciar o ingurgitamento fisiológico (nor-


mal e frequente na apojadura), do ingurgitamento patológico. O
primeiro representa um sinal positivo de que o leite está “descen-
do”. Pode ocorrer edema discreto, as mamas ficam mais sensíveis
e doloridas, e as condutas se restringem a massagem na mama,
seguida de posicionar o recém-nascido para sugar sob livre de-
manda. Em casos de dor excessiva, pode-se aplicar compressa fria
(não ultrapassar o tempo limite de 10 minutos).
Já no ingurgitamento patológico, a mama fica excessiva-
mente distendida, o que causa grande desconforto e dor, às vezes
acompanhados de febre e mal-estar. Podem haver áreas difusas
avermelhadas, edemaciadas e brilhantes. Os mamilos ficam acha-
tados, dificultando a pega do bebê, e o leite, muitas vezes, não flui
com facilidade.
O ingurgitamento patológico ocorre com mais frequência
entre as primíparas, aproximadamente de três a cinco dias após o
parto. Os fatores que contribuem para o ingurgitamento são: leite
em abundância, início tardio da amamentação, mamadas infre-
quentes, restrição da duração e frequência das mamadas, e sucção
ineficaz do bebê.
Portanto, amamentação em livre demanda, iniciada o mais
cedo possível, preferencialmente logo após o parto, com técnica
correta, e o não uso de complementos (água, chás e outros leites)
são medidas eficazes na prevenção do ingurgitamento patológico.

Qual a quantidade de leite que uma nutriz produz?

O volume de leite produzido na lactação já estabelecida varia de


acordo com a demanda da criança. Em média, uma mulher com a lac-
tação estabelecida de forma exclusiva e sem a utilização de bicos e in-
termediários, produz 800 ml de leite por dia. Em algumas mulheres, a
produção pode ser maior que a necessidade de seu filho, o que explica a
possibilidade de amamentação exclusiva de gêmeos e o leite extra pro-
duzido pelas mulheres que doam leite aos Bancos de Leite Humano.
96
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Como saber se há insuficiência de leite materno para o bebê?

A grande maioria das mulheres tem condições biológicas


para produzir leite suficiente para atender à demanda de seu fi-
lho. O volume de leite produzido por cada mãe é estabelecido
de acordo com a frequência de esvaziamento, adequando-se à
necessidade do recém-nascido. No entanto, algumas condições
especiais – como mãe tabagista, parto cirúrgico (cesárea), estres-
se materno, depressão pós-parto, apojadura tardia, hipotireoi-
dismo materno, diabetes descompensada, Síndrome de Sheehan
(necrose da hipófise) – podem interferir na produção adequada
de leite, tornando-a insuficiente.
Quando existe pouca produção de leite, o recém-nascido
pode ficar choroso e/ou irritado, apresentar ganho de peso insu-
ficiente, ter débito urinário insuficiente (menos de cinco micções
diárias), as fontanelas ficam deprimidas, o turgor da pele fica di-
minuído, as fezes ficam endurecidas, as mamadas são frequentes
e com intervalos curtos.

Quais fatores podem inibir a produção do leite materno?

Existem, no leite materno, substâncias específicas que ini-


bem sua produção (peptídeos inibidores da lactação). A retirada,
por meio do esvaziamento da mama, é que garante a reposição
total do leite removido. Qualquer fator, materno ou da criança,
que limite o esvaziamento das mamas pode causar diminuição
na produção do leite.
A má pega é a principal causa de remoção ineficiente do
leite. Mamadas infrequentes e/ou curtas, amamentação com ho-
rários preestabelecidos, ausência de mamadas noturnas, ingur-
gitamento mamário, o uso de complementos e uso de chupetas e
protetores de mamilo também podem levar a um esvaziamento
inadequado das mamas.
Outras situações menos frequentes associadas com suc-
ção ineficiente do bebê: veja mais informações no Capítulo 10
– “Condições especiais em Aleitamento Materno”.

Como aumentar a produção de leite?

Para aumentar a produção de leite, as seguintes medidas


97
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

são úteis:
• melhorar o posicionamento e a pega do bebê, quando não
adequados.
• aumentar a frequência das mamadas.
• oferecer as duas mamas em cada mamada.
• dar tempo para o bebê esvaziar bem as mamas.
• se a criança estiver sonolenta, ou se não sugar vigorosa-
mente, estimular tocando-lhe a face (bochechas).
• evitar o uso de mamadeiras, chupetas e protetores (inter-
mediários) de mamilos.
• consumir dieta balanceada.
• ingerir líquidos em quantidade suficiente: 3,8 litros/dia
(podendo ser água, leite, chás claros e suco), o que corresponde a
18 a 20 copos/dia (lembrar que líquidos em excesso não aumen-
tam a produção de leite, podendo até diminuí-la).
• repousar.
Apesar de haver controvérsias sobre o uso de medicamen-
tos para o estímulo da lactação, muitas vezes o profissional de
saúde, em casos selecionados e quando as medidas citadas não
produziram o efeito desejado, sente necessidade de indicar algu-
ma droga. Para mais informações, leia o Capítulo 6 – “Amamen-
tação e o uso de medicamentos e drogas de vício e abuso”.

Qual o preparo da mama durante a gravidez?

Durante a gestação, a natureza prepara o seio para a ama-


mentação e ocorrem modificações naturais (fisiológicas) no or-
ganismo da mulher: as mamas ficam maiores, as aréolas (parte
escura da mama) tornam-se mais escuras e resistentes pela ação
dos hormônios e pela hidratação promovida pelas glândulas de
Montgomery (pontinhos na aréola parecidos com espinhas, uma
hipertrofia das glândulas sebáceas da região areolar). Portanto,
não existe a necessidade de lavagem com esponjas, uso de hi-
dratantes, ou necessidade de “espremer” os pontinhos parecidos
com espinhas.
Deve-se orientar:
• se possível, o uso de sutiã confortável, preferindo o de al-
godão.
• não fazer pressão sobre a mama para verificar se está sain-
do leite.
98
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

• não utilizar cremes e pomadas na parte escura da mama


(aréola e mamilo).

Como o(a) acompanhante da mulher que amamenta pode ofere-


cer apoio?

• Garantindo a ela um ambiente tranquilo e acolhedor.


• Oferecendo líquidos e/ou alimentos enquanto ela ama-
menta.
• Ajudando-a a posicionar-se de forma confortável, como,
por exemplo, colocando um apoio para seus pés e para as costas,
assim como uma almofada para apoiar o bebê e os cotovelos.
• Após a amamentação, ficar com o bebê para que ele arrote.
• Auxiliando nos cuidados com o bebê e com os afazeres
domésticos, para que a mãe possa descansar.

Quais os sinais de que a amamentação vai bem?

• A mãe não sente dores para amamentar e nem tem racha-


duras no mamilo.
• O bebê mama várias vezes ao dia e à noite também.
• Após a mamada, o bebê se mostra relaxado e satisfeito,
molinho de satisfação.
• O bebê molha a fralda de seis a oito vezes por dia. O xixi
deve ser claro e sem cheiro.
• O ganho de peso e o crescimento estão adequados.

99
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

POLÍTICAS NORTEADORAS DE
ALEITAMENTO MATERNO

Os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno

Para favorecer a assistência humanizada ao binômio mãe


-bebê, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fundo das Na-
ções Unidas para a Infância (UNICEF) formalizaram, na década
de 1990, os dez passos para o sucesso do Aleitamento Materno:
a) Ter uma política de Aleitamento Materno escrita que seja
rotineiramente transmitida a toda equipe de cuidados de saúde;
b) Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práti-
cas necessárias para implementar essa política;
c) Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o mane-
jo do Aleitamento Materno;
d) Ajudar as mães a iniciar o Aleitamento Materno na pri-
meira hora após o nascimento, conforme nova interpretação , e
colocar os bebês em contato pele-a-pele com suas mães, imedia-
tamente após o parto, por pelo menos uma hora e orientar a mãe
a identificar se o bebê demonstra sinais que está querendo ser
amamentado, oferecendo ajuda, se necessário;
e) Mostrar às mães como amamentar e como manter a lac-
tação, mesmo se forem separadas dos filhos;
f) Não oferecer aos recém-nascidos (RN) bebida ou alimento
que não seja o leite materno, a não ser que haja indicação médica;
g) Praticar o alojamento conjunto, ou seja, permitir que
mães e RNs permaneçam juntos 24 horas por dia;
h) Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda;
i) Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a RNs e lactentes e
j) Promover a formação de grupos de apoio à amamenta-
ção e encaminhar as mães a esses grupos quando da alta da ma-
ternidade. Conforme nova interpretação, encaminhar as mães a
grupos ou outros serviços de apoio à amamentação, após a alta,
e estimular a formação desses grupos ou serviços e a colaboração
com eles.

(Os dez passos foram redefinidos na Portaria do Ministério da Saúde n. 1.153 de 22


de maio de 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/
prt1153_22_05_2014.html . Acesso em 13/04/2017.)

101
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

A iniciativa Hospital Amigo da Criança - IHAC

A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) foi idea-


lizada em 1990 pela OMS e UNICEF, para promover, proteger
e apoiar o aleitamento materno. O objetivo é mobilizar os cola-
boradores dos estabelecimentos de saúde para que adotem con-
dutas e rotinas que minimizem os elevados índices de desmame
precoce. Para isso, foram estabelecidos os Dez Passos para o Su-
cesso do Aleitamento Materno, citados anteriormente.
Nos últimos 20 anos, a iniciativa tem crescido, contando
atualmente com mais de 20 mil hospitais credenciados em 156
países do mundo, incluindo o Brasil. Hoje, o país conta com mais
de 300 Hospitais Amigos da Criança, presentes em todas as uni-
dades da Federação.
A habilitação dos hospitais pela IHAC é realizada após
estabelecimento dos seguintes critérios, citados na Portaria n.
1.153, de 22 de maio de 2014:
I. Cumprir os “Dez passos para o sucesso do aleitamento mater-
no”;
II. Cumprir a Lei n. 11.265, de 3 de janeiro de 2006, e a Norma
Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e
Crianças na Primeira Infância (NBCAL);
III. Garantir permanência da mãe ou do pai junto ao recém-nas-
cido 24 (vinte e quatro) horas por dia e livre acesso a ambos ou,
na falta destes, ao responsável legal, devendo o estabelecimento
de saúde ter normas e rotinas escritas a respeito, que sejam ro-
tineiramente transmitidas a toda equipe de cuidados de saúde;
IV. Cumprir o critério global de “Cuidado Amigo da Mulher”,
conforme Portaria n. 1.153, de 22 de maio de 2014 que define as
seguintes práticas:
a) garantir à mulher, durante o trabalho de parto, o parto e o pós
-parto, um acompanhante de sua livre escolha, que lhe ofereça
apoio físico e/ou emocional;
b) ofertar à mulher, durante o trabalho de parto, líquidos e ali-
mentos leves;
c) incentivar a mulher a andar e a se movimentar durante o tra-
balho de parto, se desejar, e a adotar posições de sua escolha
durante o parto, a não ser que existam restrições médicas e isso
seja explicado à mulher, adaptando as condições para tal;
d) garantir à mulher, ambiente tranquilo e acolhedor, com priva-
cidade e iluminação suave;
e) disponibilizar métodos não farmacológicos de alívio da dor,
tais como banheira ou chuveiro, massageadores ou massagens,
bola de pilates, bola de trabalho de parto, compressas quentes
e frias, técnicas que devem ser informadas à mulher durante o
102
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

pré-natal;
f) assegurar cuidados que reduzam procedimentos invasivos,
tais como rupturas de membranas, episiotomias, aceleração ou
indução do parto, partos instrumentais ou cesarianas, a menos
que sejam necessários em virtude de complicações, sendo tal fato
devidamente explicado à mulher; e
g) caso seja da rotina do estabelecimento de saúde, autorizar a
presença de doula comunitária ou voluntária em apoio à mulher
de forma contínua, se for da sua vontade.
(BRASIL, Portaria n. 1153, de 22 de maio de 2014. Disponí-
vel em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/
prt1153_22_05_2014.html)
Os critérios gerais e de habilitação, avaliação, monitora-
mento, reavaliação e incrementos financeiros aos valores de pro-
cedimentos realizados nos estabelecimentos de saúde habilita-
dos na IHAC são definidos na Portaria n. 1.153, de 22 de maio
de 2014. Consta ainda nesse instrumento legal que os Hospitais
Amigos da Criança devem adotar ações educativas articuladas
com a Atenção Básica, de modo a informar à mulher sobre a as-
sistência que lhe é devida, do pré-natal ao puerpério, visando
ao estímulo das “Boas Práticas de Atenção ao Parto e ao Nasci-
mento”, na forma da Recomendação da OMS no Atendimento ao
Parto Normal, e a vinculação da gestante, no último trimestre de
gestação, ao estabelecimento hospitalar em que será realizado o
parto.

Normas de atenção integral e humanizada ao recém-nascido


no Sistema Único de Saúde

A Portaria n. 371, de 7 de maio de 2014, do Ministério da


Saúde (MS), institui diretrizes para a organização da atenção
integral e humanizada ao recém-nascido no Sistema Único de
Saúde (SUS). Dentre outras, seguem as seguintes considerações,
que se fazem necessárias para concretização do passo 4 (dos 10
passos para o sucesso do Aleitamento Materno) das diretrizes do
IHAC:
Art. 1º Ficam instituídas diretrizes para a organização da atenção
integral e humanizada ao recém-nascido (RN) no momento do
nascimento em estabelecimentos de saúde que realizam partos.
Parágrafo único. O atendimento ao recém-nascido consiste na as-
sistência por profissional capacitado, médico (preferencialmente
pediatra ou neonatologista) ou profissional de enfermagem (pre-

103
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

ferencialmente enfermeiro obstetra ou neonatologista), desde o


período imediatamente anterior ao parto, até que o RN seja en-
caminhado ao Alojamento Conjunto com sua mãe, ou à Unidade
Neonatal (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, Unidade de
Cuidado Intermediário Neonatal Convencional ou da Unidade
de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru), ou ainda, no caso
de nascimento em quarto de pré-parto, parto e puerpério (PPP)
seja mantido junto à sua mãe, sob supervisão da própria equipe
profissional responsável pelo PPP.
Art. 2º Para prestar este atendimento o profissional médico ou de
enfermagem deverá exercitar as boas práticas de atenção humani-
zada ao recém-nascido apresentadas nesta Portaria e respaldadas
pela OMS e MS e ser capacitado em reanimação neonatal.
Art. 3º Considera-se como capacitado em reanimação neonatal o
médico ou profissional de enfermagem, que tenha realizado trei-
namento teórico-prático, conforme orientação a ser publicada, por
expediente específico, pela Coordenação Geral de Saúde da Crian-
ça e Aleitamento Materno (CGSCAM) do Ministério da Saúde.
Art. 4º Para o RN a termo com ritmo respiratório normal, tônus
normal e sem líquido meconial, recomenda-se:
I - assegurar o contato pele a pele imediato e contínuo, colocando
o RN sobre o abdômen ou tórax da mãe de acordo com sua vonta-
de, de bruços e cobri-lo com uma coberta seca e aquecida, Verificar
a temperatura do ambiente que deverá está em torno de 26 graus
para evitar a perda de calor;
II - proceder ao clampeamento do cordão umbilical, após cessadas
suas pulsações (aproximadamente de 1 a 3 minutos), exceto em ca-
sos de mães isoimunizadas ou HIV HTLV positivas, nesses casos o
clampeamento deve ser imediato;
III - estimular o aleitamento materno na primeira hora de vida,
exceto em casos de mães HIV ou HTLV positivas;
IV - postergar os procedimentos de rotina do recém-nascido nessa
primeira hora de vida. Entende-se como procedimentos de rotina:
exame físico, pesagem e outras medidas antropométricas, profila-
xia da oftalmia neonatal e vacinação, entre outros procedimentos;
Art. 5º Para o RN pré-termo ou qualquer RN com respiração au-
sente ou irregular, tônus diminuído e/ou com líquido meconial
seguir o fluxograma do Programa de Reanimação da Sociedade
Brasileira de Pediatria.
Art. 6º O estabelecimento de saúde que mantenha profissional de
enfermagem habilitado em reanimação neonatal na sala de par-
to, deverá possuir em sua equipe, durante as 24 (vinte e quatro)
horas, ao menos 1 (um) médico que tenha realizado treinamento
teórico-prático conforme previsto no artigo 3º desta Portaria [...]
(BRASIL, Portaria n. 371, de 7 de maio de 2014. Disponí-
vel em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/
prt0371_07_05_2014.html)

104
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

Normas para a organização da atenção integral e humanizada


à mulher e ao recém-nascido no Alojamento Conjunto

Em consonância a Portaria n. 2068, de 16 de outubro de


2016, que institui diretrizes para a organização da atenção inte-
gral e humanizada à mulher e ao recém-nascido no Alojamento
Conjunto, aplica-se a este protocolo as seguintes considerações:
[...]
Art. 2º - O Alojamento Conjunto é o local em que a mulher e o re-
cém-nascido sadio, logo após o nascimento, permanecem juntos,
em tempo integral, até a alta.
Parágrafo único - O Alojamento Conjunto possibilita a atenção
integral à saúde da mulher e do recém-nascido, por parte do ser-
viço de saúde.
Art. 3º - A manutenção da mulher e do recém-nascido em Aloja-
mento Conjunto apresenta as seguintes vantagens:
I - favorece e fortalece o estabelecimento do vínculo afetivo entre
pai, mãe e filho
II - propicia a interação de outros membros da família com o
recém-nascido;
III - favorece o estabelecimento efetivo do aleitamento materno
com o apoio, promoção e proteção, de acordo com as necessida-
des da mulher e do recém-nascido, respeitando as características
individuais;
IV - propicia aos pais e acompanhantes a observação e cuidados
constantes ao recém-nascido, possibilitando a comunicação ime-
diata de qualquer anormalidade;
V - fortalece o autocuidado e os cuidados com o recém-nascido,
a partir de atividades de educação em saúde desenvolvidas pela
equipe multiprofissional;
VI - diminui o risco de infecção relacionada à assistência em ser-
viços de saúde; e
VII - propicia o contato dos pais e familiares com a equipe multi-
profissional por ocasião da avaliação da mulher e do recém-nas-
cido, e durante a realização de outros cuidados.
Art. 4º - O Alojamento Conjunto destina-se a:
I - mulheres clinicamente estáveis e sem contraindicações para a
permanência junto ao seu bebê;
II - recém-nascidos clinicamente estáveis, com boa vitalidade,
capacidade de sucção e controle térmico; peso maior ou igual
a 1800 gramas e idade gestacional maior ou igual a 34 semanas;
III - recém-nascidos com acometimentos sem gravidade, como
por exemplo: icterícia, necessitando de fototerapia, malforma-
ções menores, investigação de infecções congênitas sem acometi-
mento clínico, com ou sem microcefalia; e
IV - recém-nascidos em complementação de antibioticoterapia
para tratamento de sífilis ou sepse neonatal após estabilização
105
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

clínica na UTI ou UCI neonatal.


§ 1º - Cabe ao serviço de saúde realizar a gestão eficiente de lei-
tos de forma que mulheres em outras situações ginecológicas e
obstétricas, especialmente em situação de perda gestacional, não
permaneçam no mesmo quarto ou enfermaria com puérperas e
recém-nascidos.
§ 2º - Incumbe ao serviço de saúde evitar que puérperas que não
podem amamentar por doença de base ou uso de medicamentos,
permaneçam junto com mulheres que amamentam.
[...]
Art. 6º - Cabe à equipe multiprofissional no Alojamento Conjun-
to:
I - avaliar as puérperas diariamente, com atenção aos sinais de
alerta para complicações no período pós-parto, tais como san-
gramento vaginal aumentado, febre, dor exacerbada, edema as-
simétrico de extremidades, sinais inflamatórios de ferida cirúrgi-
ca, sinais de sofrimento psíquico e depressão pós-parto;
II - promover e proteger o aleitamento materno sob livre deman-
da, apoiando a puérpera na superação de possíveis dificuldades
de acordo com suas necessidades específicas e respeitando suas
características individuais;
III - garantir à mulher o direito a acompanhante, de sua livre
escolha, durante toda a internação e a receber visitas diárias, in-
clusive de filhos menores;
IV - estimular e facilitar a presença do pai sem restrição de horá-
rio, inclusive de genitor socioafetivo;
V - oferecer à mulher orientações relativas à importância de não
ofertar ao recém-nascido nenhum outro alimento ou bebida,
além do leite materno, exceto em situações especiais com pres-
crição médica ou de nutricionista, destacando que, nesses casos,
deverá ser oferecido, preferencialmente, leite humano pasteuri-
zado de Banco de Leite Humano;
VI - oferecer à mulher orientações relativas à importância de não
usar protetores de mamilo e não oferecer bicos artificiais ou chu-
petas ao recém-nascido;
VII - oferecer à mulher orientações sobre os riscos da amamenta-
ção cruzada amamentar outro recém-nascido que não seja o pró-
prio filho, e da proibição desta prática no Alojamento Conjunto;
VIII - apoiar, incentivar e orientar a participação da mãe e do pai
nos cuidados ao recém-nascido, bem como de outros familiares,
de acordo com o desejo dos pais da criança;
IX - orientar e estimular o contato pele a pele, posição canguru,
pelo tempo que a mãe e o pai considerarem oportuno e prazero-
so, especialmente quando se tratar de recém-nascido com peso
inferior a 2500g;
X - realizar o exame clínico do recém-nascido em seu próprio
berço ou no leito materno, preferencialmente na presença da
mãe e do pai;

106
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

XI - realizar o banho do recém-nascido na cuba de seu próprio


berço ou banheira e assegurar a limpeza e a desinfecção entre o
uso de acordo com padronização da Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar das respectivas maternidades. Durante o
banho, orientar os cuidados necessários para a prevenção de hi-
potermia, incentivando a participação materna e paterna ou de
outro acompanhante;
XII - avaliar o peso do recém-nascido de acordo com necessida-
des individuais;
XIII - adotar técnicas não farmacológicas de prevenção/redução
da dor para a coleta de sangue e outros procedimentos doloro-
sos. Recomenda-se a sucção ao seio materno previamente, du-
rante a realização de procedimentos;
XIV - identificar e enfatizar os recursos disponíveis na comu-
nidade e na rede de saúde local para atendimento continuado
das mulheres e das crianças, referindo-as ou agendando-as para
acompanhamento no serviço de saúde na primeira semana após
o parto;
XV - realizar atividades de educação em saúde, preferencialmen-
te em grupo, com o objetivo de:
a) ampliar o autocuidado das mulheres e de cuidados com os
recém-nascidos;
b) desfazer mitos relacionados à maternidade, à paternidade, ao
aleitamento materno, ao puerpério, ao retorno à vida sexual, en-
tre outros; e
c) oferecer orientações quanto aos cuidados de saúde, nutrição,
higiene, saúde sexual e reprodutiva, destacando o direito a uma
vida sexual livre, prazerosa e segura e o direito à escolha sobre a
reprodução se, quando e quantas vezes engravidar, com esclare-
cimento sobre métodos contraceptivos disponíveis e importân-
cia do uso do preservativo masculino ou feminino.
XVI - ofertar a inserção de método contraceptivo de longa dura-
ção e alta eficácia antes da alta, caso seja escolha da mulher.
Parágrafo único - A equipe de saúde deverá conferir atenção
ao estabelecimento de vínculo entre a mãe e o recém-nascido, a
riscos e a vulnerabilidades particulares, bem como manter ob-
servação e escuta qualificada para esclarecer dúvidas e apoiar a
mulher nesse período.
[...]
Art. 9º - A alta da mulher e do recém-nascido deverá ser realiza-
da mediante elaboração de projeto terapêutico singular, consi-
derando-se, para o tempo de alta, as necessidades individuais.
Parágrafo único - Recomenda-se a permanência mínima de 24
horas em Alojamento Conjunto, momento a partir do qual a alta
pode ser considerada, desde que preenchidos os critérios abaixo
listados:
I - puérpera: (i) em bom estado geral, com exame físico normal,
sem sinais de infecção puerperal/sítio cirúrgico, com loquiação

107
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

fisiológica; (ii) sem intercorrências mamárias como fissura, esco-


riação, ingurgitamento ou sinais de mastite, e orientada nas prá-
ticas de massagem circular e ordenha do leite materno; (iii) com
recuperação adequada, comorbidades compensadas ou com
encaminhamento assegurado para seguimento ambulatorial de
acordo com as necessidades; (iv) bem orientada para continui-
dade dos cuidados em ambiente domiciliar e referenciada para
Unidade Básica de Saúde (retorno assegurado até o 7º dia após
o parto); (v) estabelecimento de vínculo entre mãe e bebê; (vi)
com encaminhamento para unidade de referência para acesso a
ações de saúde sexual e reprodutiva e escolha de método anti-
concepcional, caso a mulher não receba alta já em uso de algum
método contraceptivo, ou para seguimento pela atenção básica
da prescrição ou inserção de método pela equipe da maternidade;
II - recém-nascido: (i) a termo e com peso adequado para a idade
gestacional, sem comorbidades e com exame físico normal. (ii) com
ausência de icterícia nas primeiras 24 horas de vida; (iii) com ava-
liação de icterícia, preferencialmente transcutânea, e utilização do
normograma de Bhutani para avaliar a necessidade de acompa-
nhamento dos níveis de bilirrubina quando necessário; (iv) apre-
sentando diurese e eliminação de mecônio espontâneo e controle
térmico adequado; (v) com sucção ao seio com pega e posiciona-
mento adequados, com boa coordenação sucção/deglutição, salvo
em situações em que há restrições ao aleitamento materno; (vi) em
uso de substituto do leite humano/fórmula láctea para situações em
que a amamentação é contraindicada de acordo com atualização
OMS/2009 “Razões médicas aceitáveis para uso de substitutos do
leite”.
Art. 10 - No momento da alta, a equipe multiprofissional fornecerá
à mulher as seguintes orientações:
I - procurar a Unidade Básica de Saúde ou o pronto-atendimento
caso a mulher apresente sinais de infecção (febre, secreção puru-
lenta vaginal, por ferida operatória ou nas mamas), sangramento
com odor fétido ou com volume aumentado, edema assimétrico de
extremidades, dor refratária a analgésicos, sofrimento emocional,
astenia exacerbada ou outros desconfortos;
II - procurar a Unidade Básica de Saúde se o recém-nascido apre-
sentar problemas com aleitamento materno, icterícia ou qualquer
outra alteração;
III - em caso de intercorrências com as mamas, os Bancos de Leite
Humano poderão oferecer a assistência referente às boas práticas
da amamentação, e orientações sobre a doação de leite humano;
IV - realizar vacinação conforme calendário vacinal;
V - higienizar as mãos antes e após o cuidado com o recém-nascido;
VI - evitar ambientes aglomerados ou com pessoas apresentando
sinais e sintomas de doenças infectocontagiosas, como gripe e res-
friado;
VII - prevenir a morte súbita do recém-nascido por meio dos se-

108
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

guintes cuidados: deixar a criança em posição supina, manter a


amamentação ao seio e evitar o tabagismo materno ou outra forma
de exposição da criança ao fumo;
VIII - transportar o recém-nascido de forma segura e prevenir aci-
dentes domésticos; e
IX - para crianças filhos de mães cuja amamentação é contraindi-
cada de acordo com razões médicas aceitáveis/OMS/2009, orientar
o preparo correto da fórmula láctea e higienização dos utensílios
utilizados para preparo e oferta desse alimento.
(BRASIL, Portaria n. 2068, de 16 de outubro de 2016. Disponível em:
https://goo.gl/RBXsvp)

Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lac-


tentes e Crianças de 1ª Infância, Bicos, Chupetas e Mamadei-
ras (NBCAL)

A NBCAL é um conjunto de normas que regula a promo-


ção comercial e a rotulagem de alimentos e produtos destinados
a recém-nascidos e crianças de até 3 anos de idade, como leites,
papinhas, chupetas e mamadeiras. O seu objetivo é assegurar o
uso apropriado desses produtos de forma que não haja interfe-
rência na prática do aleitamento materno. A NBCAL reúne a se-
guinte portaria e resoluções:
1. PORTARIA N°. 2.051, DE 8 DE NOVEMBRO DE 2001.
2. RESOLUÇÃO RDC N°. 222, DE 5 DE AGOSTO DE 2002
- Regulamento Técnico para Promoção Comercial dos Alimentos
para Lactentes e Crianças de Primeira Infância.
3. RESOLUÇÃO RDC N°. 221, DE 5 DE AGOSTO DE 2002 -
Regulamento Técnico sobre Chupetas, Bicos, Mamadeiras e Pro-
tetores de Mamilo.
4. LEI N°. 11 265 - Regulamenta a comercialização de ali-
mentos para lactentes e crianças de 1ª infância e também a de
produtos de puericultura correlatos
A legislação traz regras como a proibição de propagandas
de fórmulas lácteas infantis e, além disso, torna obrigatório que
as embalagens dos leites destinados às crianças tragam inscrição
advertindo que o produto deve ser incluído na alimentação de
menores de 1 ano apenas com indicação expressa de médico e/
ou nutricionista, assim como os riscos do preparo inadequado
do produto. A lei também proíbe doações de mamadeiras, bicos
e chupetas ou sua venda em serviços públicos de saúde, exceto
em casos de necessidade individual ou coletiva.
109
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCIOLY, E. et al. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria 2ed. Rio de


Janeiro: Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2009, 649p.
BRASIL, Portaria n. 1153, de 22 de maio de 2014. Disponí-
vel em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/
prt1153_22_05_2014.html
BRASIL, Portaria n. 371, de 7 de maio de 2014. Disponí-
vel em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/
prt0371_07_05_2014.html
BRASIL, Portaria n. 2068, de 16 de outubro de 2016. Disponível
em: https://goo.gl/RBXsvp
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Banco de leite
humano: funcionamento, prevenção e controle de riscos. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. – Brasília: Anvisa, 2008. 160 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde Pro-
movendo o Aleitamento Materno 2ª edição, revisada. Brasília: 2007.
Álbum seriado. 18p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. De-
partamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação
saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um
guia para o profissional da saúde na atenção básica/Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Departamento de Atenção
Básica. - 2 ed. - 2 reimpre.- Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde.
Departamento de Ações Estratégicas. Atenção humanizada ao re-
cém-nascido de baixo peso: Método Canguru/Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção á Saúde, Departamento de Ações Progra-
máticas Estratégicas. - 2ed. - Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. De-
partamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Amamentação
e uso de medicamentos e outras substâncias. Brasília: Ministério da
Saúde, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. De-
partamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil:
111
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério


da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Aten-
ção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 112 p. : il. – (Sé-
rie A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica,
n. 23)
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Promovendo o Aleitamento Materno. 2 ed., revisada. Brasília: 2007.
Álbum seriado. 18p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atencção à Saúde.
Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção a
saúde do recém-nascido: guia para profissionais de saúde/Ministé-
rio da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de
AçõesProgramáticas e Estratégicas - Brasília: Ministério da Saú-
de, 2011.4 v.:II - ( Série A. Normas e Manuais Técnicas).
BUENO L.G.S.; TERUYA, K.M. Aconselhamento em amamenta-
ção e sua prática. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/
v80n5s0/v80n5s0a03.
CARVALHO MR, Tavares LAM. Amamentação: bases científi-
cas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
CHAVES RG e LAMOUNIER JA. Uso de medicamentos durante
a lactação. Jornal de Pediatria, v. 80, n.5, 2004. Suplemento.
LAMUNIER, J.A. Promoção e incentivo ao aleitamento materno:
Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Jornal de Pediatria. Rio de
Janeiro, v.72, n.6, p.363-436, 1996.
MARQUES, Maria Ceciliados Santos; MELO, Adriana Medeiros;
Amamentação no alojamento conjunto. Revista CEFAC, v. 10, n.
2, abril-junio, 2008, pp. 261-271 Instituto Cefac São Paulo, Brasil.
MARTINELLI, RLC. Relação entre as características anatômicas
do frênulo lingual e as funções de sucção e deglutição em bebês
[dissertação]. Bauru: Faculdade de Odontologia de Bauru, Uni-
versidade de São Paulo; 2013.
MARTINELLI, RLC, Marchesan IQ, Berretin-Felix G. Protocolo
de avaliação do frênulo lingual para bebês: relação entre aspec-
tos anatômicos e funcionais. Rev Cefac., v.15, n.3, p.599-610, 2013
Disponível em http://sp.cefac.br/prop/divulgacoes/artigos/teste-
linguinha_2014_livro.pdf

112
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

SANCHES MTC. Manejo clínico das disfunções orais na ama-


mentação. J Pediatr (Rio J). 2004;80 (5 Supl):S155-S162.
UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Declaração
de Innocenti: Sobre a Proteção, Promoção e Apoio ao Aleitamen-
to Materno; 1990. Disponível em: http://www.unicef.org/brazil/
innocenti.htm.
UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Iniciativa
Hospital Amigo da Criança: revista, atualizada e ampliada para
o cuidado integrado: módulo 1: histórico e implementação / Fun-
do das Nações Unidas para a Infância. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2008. 78 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
VASCONCELOS, M.J.O.B. et al. Nutrição Clínica Obstetrícia e
Pediatria. 1 ed Rio de Janeiro: MedBook, 2011, 740p.

113
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

ANEXO 1

POP - Avaliação do Frênulo Lingual no Recém-Nascido

Procedimento Operacional POP nº. 01


Padrão (POP) – ASSISTEN-
CIAL
Avaliação do Frênulo Lingual Versão: 01
no recém-nascido.
Unidade organizacional: Unidade Multiprofissional
Categoria profissional: Fonoaudiólogos, Odontólogos e de-
mais profissionais da saúde envolvidos na linha materno-in-
fantil
Linha de cuidado: Materno-infantil
Elaborado por: Renata Abreu Data de Criação: 15/04/2019
Moreira Coimbra
Revisado por: João Henrique Data de Revisão: 26/04/2019
Honorato de Carvalho, Maurí-
cio Hidemi Shimada e Raquel
Bressan de Souza
Aprovado por: Gerência de Data de Aprovação:
Atenção à Saúde 21/05/2019
Responsável pelo POP: Raquel Bressan de Souza

OBJETIVO:
Padronizar a avaliação do frênulo lingual com a finalidade de
atender à Lei nº 13.002 de 20 de junho de 2014, que torna obrigatória a
realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês,
em todos os hospitais e maternidades, nas crianças nascidas em suas
dependências.

SIGLAS E ABREVIATURAS:
BTAT: Bristol Tongue Assessment Tool
HU-UFGD: Hospital Universitário da Universidade Federal da
Grande Dourados.
OMS: Organização Mundial da Saúde
UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância

115
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFGD

DEFINIÇÃO:
Anquiloglossia ou “língua presa”, como é popularmente co-
nhecida, é uma alteração congênita que ocorre quando uma pequena
porção de tecido embrionário, que deveria ter sofrido apoptose duran-
te o desenvolvimento, permanece na face ventral da língua. Essa di-
ferença anatômica pode restringir, em diferentes graus, a mobilidade
lingual e consequentemente, pode causar prejuízo nas funções relacio-
nadas a este órgão.
De acordo com a Lei nº 13.002 de 20 de junho de 2014 é obriga-
tória a realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em
Bebês em todos os hospitais e maternidades, nas crianças nascidas em
suas dependências.
O Ministério da Saúde por meio da nota técnica nº 35/2018 su-
gere a utilização do protocolo Bristol Tongue Assessment Tool (BTAT)
e orienta a identificação de casos graves de anquiloglossia na materni-
dade, tendo em vista sua potencial interferência sobre a amamentação.

RESPONSÁVEL PELA PRESCRIÇÃO: Profissionais de saúde devi-


damente capacitados.

RESPONSÁVEL PELA EXECUÇÃO: Fonoaudiólogos, odontólogos e


demais profissionais de saúde devidamente capacitados.

INDICAÇÃO: Todos os bebês nascidos no HU-UFGD.

CONTRAINDICAÇÃO: Não tem contraindicações.

MATERIAIS E EQUIPAMENTOS: Equipamentos de proteção indivi-


dual (Luvas e Máscara)

PROCEDIMENTOS:
• Higienizar as mãos;
• Realizar anamnese com a mãe;
• Colocar equipamentos de proteção individual (luvas e másca-
ra);
• Posicionar o bebê no berço ou no colo da mãe ou responsável;
realizar abertura da boca; inspecionar a cavidade oral; visuali-
zar o frênulo lingual por meio da elevação das margens laterais
da língua com os dedos indicadores; observar os seguintes ele-
mentos padronizados no protocolo BTAT:
1- aparência da ponta da língua;

116
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

2- fixação do frênulo na margem gengival inferior;


3- elevação da língua;
4- projeção da língua.
• Nos casos de alteração do frênulo lingual, realizar avaliação da
mamada (é sugerido pela nota técnica nº 35/2018 que seja utili-
zado o Protocolo de observação da mamada preconizado pela
OMS/UNICEF);
• Desprezar, em local adequado, materiais descartáveis após o
procedimento;
• Realizar devolutiva à mãe ou responsável acerca dos aspectos
observados;
• Encaminhar, se necessário, para realização de correção cirúrgica;
• Discutir os resultados, se necessário, com equipe multiprofissio-
nal;
• Registrar na caderneta e no prontuário da criança os resultados
e a conduta adotada.

RESULTADOS ESPERADOS: Identificação precoce de alteração no


frênulo lingual e indicação, quando necessário, de correção cirúrgica
para os casos que possam interferir nas funções relacionadas à língua.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coorde-
nação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Nota
Técnica n.º 35/2018 – Anquiloglossia em recém-nascidos.
• BRASIL. Lei nº 13.002, de 20 de Junho de 2014. Obriga a realiza-
ção do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês.
• Parecer técnico cientifico: Anquiloglossia e aleitamento mater-
no: evidências sobre a magnitude do problema, protocolos de
avaliação, segurança e eficácia da frenotomia. Instituto de Saú-
de, 2015.
• Martinelli RLC, Marchesan IQ, Berretin-Felix G. Protocolo de
avaliação do frênulo lingual para bebês: relação entre aspectos
anatômicos e funcionais. Rev Cefac 2013;15(3):599-610.
• Martinelli RLC, Marchesan IQ, Berretin-Felix G. Cartilha do
Teste da Linguinha: para mamar, falar e viver melhor. São José
dos Campos, SP: Pulso Editorial, 2014.

117
MANUAL DE NORAMAS E ROTINAS DE ALEITAMENTO MATERNO

ANEXO 2

DAME - Disponibilidade para


Aleitamento Materno Exclusivo

119

Você também pode gostar