Você está na página 1de 33

Assistência ao

Par to e Nascimento
Diretrizes para o cuidado multidisciplinar
Assistência ao
Par to e Nascimento
Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Instituições participantes

ABENFO - Associação Brasileira de Enfermeiras Obstetras


EE-UFMG - Escola de Enfermagem da UFMG
FM-UFMG - Faculdade de Medicina da UFMG
IBEDESS - Instituto Brasileiro para Estudo e Desenvolvimento do Setor de Saúde
SAMG - Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais
SMP - Sociedade Mineira de Pediatria
SMSA - Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte
SOGIMIG - Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia de Minas Gerais

Coordenação geral

Comissão Perinatal - Sonia Lansky

Coordenação editorial

Quésia Tamara Mirante Ferreira Villamil

Grupo de trabalho assistência ao parto

Alamanda Kfoury Pereira


Eliane Soares
Gisele Cordeiro Maciel
Inessa Beraldo de Andrade Bonomi
Nanci Gusmão
Nelci Muller Xavier Faria
João Batista Marinho de Castro Lima
Vanessa Devitto Zákia Miranda
Pablo Pires Martins Miranda
Vera Bonazzi

Belo Horizonte
2015
Colaboradores

Adrinez Cançado
Ana Paula Vallerini
Bruno Carvalho Cunha de Leão Regulamentações, leis, portarias e diretrizes
Kleide Ventura Souza
Danubia Mariane Barbosa Jardim Para construir a presente diretriz, o grupo elaborador baseou-se em algumas regulamentações, leis, portarias
Hemmerson Henrique Magioni e diretrizes, que estão disponíveis para consulta on-line.
Karine Ferreira
Mario Dias Correa Junior Abaixo estão listadas as referências, com respectivos links, acessados em 17 de setembro 2015.
Matheus Oliveira Marcelino
Patrícia Pereira Rodrigues Magalhães 1- Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal – Resolu-
Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar ção da Diretoria Colegiada - RDC N° 36, de 03 de junho de 2008. (Disponível em http://www20.anvisa.
gov.br/segurancadopaciente/index.php/legislacao/item/rdc-n-36-de-03-de-junho-de-2008)
Foto da capa 2- Lei da Atuação da Enfermagem Obstétrica – Decreto no 94.406, de 8 de junho de 1987) – (http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D94406.htm)
Hemmerson Henrique Magioni
3- Diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido (RN) no Sistema
Único de Saúde (SUS). (Disponível em http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jorn
Projeto gráfico al=1&pagina=50&data=08/05/2014)
Prdução Visual - Gerência de Comunicação Social 4- Programa Nacional de Segurança do Paciente - Portaria no. 529, de 1º de abril de 2013. (Disponível em
Secretaria Municipal de Saúde http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_2013.html)

5- Leis do acompanhante (Lei federal nº 11.108, de 7 de abril de 2005 e Lei municipal nº 9016, de 1 de janei-
ro de 2005) (Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11108.htm)

6- Diretrizes para implantação e habilitação de Centro de Parto Normal (CPN) – Portaria no 11, de 7 de janeiro
de 2015. (Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2015/prt0011_07_01_2015.html)
Sumário
Regulamentações, leis, portarias e diretrizes.........................................................................................................3 5.3.5 Rotura prematura de membranas no termo (RPMT)....................................................................... 25
5.3.6 Líquido amniótico meconial.................................................................................................................... 26
1 Apresentação.................................................................................................................................................................6 5.3.7 Alívio da dor no parto............................................................................................................................... 26
1.1 Atenção Perinatal em BH......................................................................................................................................7 5.3.7.1 Métodos não farmacológicos de alívio da dor no parto..................................................... 27
5.3.7.2 Métodos farmacológicos de alívio da dor no parto.............................................................. 28
2 Introdução.......................................................................................................................................................................8 5.4 Assistência no segundo período do trabalho de parto.............................................................................. 29
2.1 Objetivos deste documento..................................................................................................................................9 5.4.1 Definições do segundo período do trabalho de parto...................................................................... 29
2.2 Conceito de “parto normal”.................................................................................................................................9 5.4.2 Duração do segundo período do trabalho de parto......................................................................... 29
5.4.3 Monitorização do bem estar materno e fetal no segundo período do trabalho de parto..... 30
3 Princípios e pressupostos.......................................................................................................................................... 10 5.4.4 Posições maternas para o período expulsivo...................................................................................... 30
3.1 Organização da rede de saúde......................................................................................................................... 10 5.4.5 Manobra de Kristeller............................................................................................................................... 32
3.1.1 Vaga Sempre............................................................................................................................................... 10 5.4.6 Uso de antissépticos vaginais.................................................................................................................. 32
3.1.2 Acolhimento com classificação de risco............................................................................................... 10 5.4.7 Uso de ocitocina no segundo período do trabalho de parto.......................................................... 32
3.1.3 Qualidade e segurança na assistência obstétrica e neonatal........................................................ 11 5.4.8 Episiotomia................................................................................................................................................... 32
3.2 Diretrizes assistenciais ....................................................................................................................................... 12 5.4.9 Intervenções para reduzir o trauma perineal..................................................................................... 33
3.2.1 Humanização da assistência................................................................................................................... 12 5.4.10 Manipulação do períneo no período expulsivo............................................................................... 34
3.3 Ambiência.............................................................................................................................................................. 13 5.4.11 Puxos maternos dirigidos...................................................................................................................... 34
3.4 Assistência ao parto e ensino acadêmico e profissional............................................................................ 14 5.4.12 Extração ativa dos ombros.................................................................................................................... 35
5.5 Assistência no terceiro período do trabalho de parto ............................................................................... 35
4 Atribuições da equipe assistencial......................................................................................................................... 15 5.6 Assistência no quarto período do trabalho de parto ................................................................................ 35
4.1 Enfermeiros obstetras e obstetrizes................................................................................................................. 15 5.7 Assistência ao recém-nascido........................................................................................................................... 36
4.2 Médico obstetra.................................................................................................................................................... 16 5.8 Assistência no puerpério.................................................................................................................................... 38
4.3 Médico pediatra - neonatologista................................................................................................................... 16 5.9 Assistência às anormalidades do trabalho de parto e nascimento........................................................ 38
4.4 Médico anestesiologista..................................................................................................................................... 17 5.9.1 Parada de progressão no primeiro período do trabalho de parto................................................ 38
4.5 Outros profissionais da assistência................................................................................................................. 17 5.9.2 Estado fetal não tranquilizador.............................................................................................................. 39
5.9.3 Parada de progressão no segundo período do trabalho de parto................................................ 40
5 Aspectos gerais da assistência à gestante........................................................................................................... 17 5.9.4 Parto vaginal operatório ......................................................................................................................... 40
5.1 Pré-natal................................................................................................................................................................. 17
5.9.5 Complicações do terceiro período do trabalho de parto................................................................. 40
5.1.1 Acompanhamento multidisciplinar na gestação............................................................................... 17
5.1.2 Preparo para o parto durante a gestação........................................................................................... 17 6 Anexos........................................................................................................................................................................... 42
5.1.3 Plano de parto............................................................................................................................................ 19 6.1 Partograma Recomendado pela PBH............................................................................................................. 42
5.2 Acolhimento da mulher em trabalho de parto............................................................................................ 19 6.2 Orientações sobre preenchimento do partograma..................................................................................... 43
5.2.1 Diagnóstico do trabalho de parto e internação................................................................................. 20 6.3 Recomendações para interpretação do traçado da Cardiotocografia................................................... 43
5.2.2 Avaliação do risco materno e fetal ....................................................................................................... 20 6.4 Plano de parto da PBH....................................................................................................................................... 46
5.2.3 Suporte contínuo........................................................................................................................................ 21 6.5 Modelo de termo de consentimento pós-informado para assistência ao parto normal.................. 48
5.3 Assistência ao primeiro período do trabalho de parto.............................................................................. 21 6.6 Recomendações para Profilaxia de Conjuntivite Neonatal em
5.3.1 Duração do primeiro período do trabalho de parto ........................................................................ 21 BH - Comissão Perinatal / Secretaria Municipal de Saúde...................................................................... 49
5.3.2 Práticas assistenciais recomendadas para o primeiro período do trabalho de parto............. 22 6.7 Recomendações da SAMG para realização de analgesia em mulheres em trabalho de parto...... 50
5.3.3 Monitorização fetal durante o trabalho de parto............................................................................. 25
5.3.4 Avaliação do progresso da dilatação e descida da apresentação................................................. 25 Referências Bibliográficas......................................................................................................................................... 58
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Apresentação 1.1 Atenção Perinatal em BH


1
A atenção perinatal em BH é coordenada pela A Comissão está ligada à Gerência de Regulação e
Comissão Perinatal da SMSA-BH, fórum gestor inte- à Gerência de Assistência e tem sob sua coordenação:
No Brasil, 98% dos partos ocorrem nos hospitais. Entendendo que a humanização do atendimento rinstitucional ampliado que conta com a participa-
Apesar disso, a mortalidade materna ainda repre- é um conjunto de práticas baseadas em evidências ção da sociedade civil, com agenda regular de tra- • Comitê de Prevenção do Óbito Materno
senta um desafio que o Ministério da Saúde está científicas e no cuidado qualificado e integral em balho desde 1999. Tem como objetivo coordenar, (desde 1997);
firmemente empenhado em superar, de forma con- saúde, que visam a promoção do parto e nascimen- planejar, monitorar e qualificar a atenção à saúde da • Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e
junta, com todas as instituições envolvidas com a to saudáveis e a prevenção da mortalidade materna mulher e do recém-nascido no município de Belo Fetal (desde 2002).
questão. Tal desafio, conforme indicam os estudos e perinatal, o presente documento estimula práticas Horizonte Faz parte da Comissão o Comitê de Pre-
acerca do problema, é representado pela ampliação que incluem o respeito ao processo fisiológico e a venção de Óbitos Materno, Fetal e Infantil, confor- Histórico das principais ações de qualificação e
do acesso e, principalmente, pela melhoria da assis- dinâmica de cada nascimento, nos quais as interven- me regulamentação pela Portaria No 027 de 12 de humanização do cuidado desenvolvidas pela Co-
tência à mulher no ciclo gravídico puerperal. ções devem ser criteriosas, evitando os excessos no julho de 2004. missão Perinatal:
Dentro deste contexto, no município de Belo Hori- uso dos recursos tecnológicos disponíveis. Com a re-
zonte, a assistência ao parto e nascimento tem passa- dução da hipermedicalização e seus efeitos iatrogê- Premissas Desde 1999
do por grandes transformações nos últimos anos. Fo- nicos, é proposta uma revisão do modelo assistencial
ram instauradas uma série de medidas para ampliar a ao parto e nascimento, buscando valorizar a expe- A Comissão Perinatal tem como premissa pro- • Organização da linha de cuidado para a
assistência ao pré-natal e organização de sistemas de riência da mulher e do bebê, protegendo a saúde mover acordo ético no município para promoção atenção integral à saúde da mulher, saúde
atenção à gestante de alto risco, redução das taxas de imediata e futura das mulheres e suas crianças. da saúde e qualidade de vida da mulher e recém- sexual e reprodutiva, pré-natal, pré-natal de
cesáreas, estruturação do Movimento BH Pelo Parto Esperamos que este documento seja lido por pro- -nascido com a oferta de a assistência universal, re- alto risco, acolhimento e vinculação à ma-
Normal bem como publicação de recomendações fissionais que assistem mulheres durante a gestação, solutiva, integral e equitativa, com garantia dos di- ternidades desde o pré-natal para o parto,
técnicas para o pré-natal, gestação em situação de no nascimento de seus filhos e no período puerperal. reitos da mulher e da criança no parto e nascimento. acolhimento imediato nas intercorrências
risco e emergências obstétricas (Ver a seguir ítem 1.1. Que a leitura suscite nas pessoas profundas reflexões A Comissão Perinatal trabalha com o enfoque de durante a gestação e no parto, adequação
“A atenção perinatal em Belo Horizonte”). sobre a assistência que está sendo prestada e incite transformar a epidemiologia em ação, investigar de leitos de obstetrícia e neonatologia na
Na busca pela melhoria crescente da assistên- o desejo de melhoria na assistência de cada mulher, óbitos maternos, fetais e infantis, monitorar a quali- cidade; qualificação da atenção nas mater-
cia, gestores e profissionais trabalhadores da rede por cada profissional, na sua linha de cuidado. dade da atenção de saúde perinatal para a redução nidades; alta responsável da maternidade
de cuidado à gestante e recém-nascido percebe- Desejamos que o debate seja contínuo, pois este da morbi-mortalidade infantil e materna na cidade com continuidade do cuidado na atenção
ram a necessidade de, juntos, discutirem questões documento não é, de forma alguma, estático e ter- e promoção da saúde e qualidade de vida para mu- primária de saúde e seguimento no puer-
relevantes relacionadas à assistência ao parto, de minado. Entendemos que as evidências científicas lheres e crianças. pério e na atenção à criança;
maneira que práticas com benefício comprovado norteiam a assistência e ajudam na tomada de de- • Protocolos de atenção pré-natal, de Aco-
fossem incorporadas e práticas sem benefícios com- cisões, por isto esperamos que o grupo de trabalho Composição lhimento com Classificação de Risco na
provados, ou com malefícios, fossem abandonadas. se perpetue e que este documento permaneça em atenção primária, urgências e maternida-
Este documento é resultado de um trabalho coleti- constante revisão. Desta forma, estaremos contri- • Secretaria Municipal de Saúde: Coordenação des e de atenção ao parto e nascimento.
vo: um grupo de trabalho multidisciplinar foi formado buindo para a construção de um modelo assisten- de Saúde da Mulher, da Criança, Coordena- • Avaliação e monitoramento contínuo da qua-
e, ns anos de 2012 a 2015, representantes de várias ins- cial dinâmico que resulte não só em melhoria dos ção de DST/AIDS, Epidemiologia e Informa- lidade da atenção nas maternidades e orga-
tituições (IBEDESS, SOGIMIG, ABENFO, SMP, FM-UFMG, resultados perinatais, mas, principalmente, que re- ção, Controle e Avaliação Ambulatorial e nização de rede regionalizada, hierarquizada
EE-UFMG, SAMG) se reuniram periodicamente e es- sulte em famílias bem cuidadas de maneira segura e Hospitalar, Auditoria, Vigilância Sanitária; e resolutiva, garantia de acesso oportuno e
creveram, juntos, o documento Assistência ao Parto e respeitosa em um dos momentos mais importantes • Outras instituições: maternidades do SUS/ equidade com a regulação assistencial (Cen-
Nascimento: diretrizes para o cuidado multidisciplinar. da vida humana: o nascimento. BH, Associação Mineira de Hospitais, So- tral de Marcação de Consultas e Central de
ciedade Mineira Pediatria, Associação de Internação); fechamento das maternidades
Obstetrícia e Ginecologia MG, Associa- de baixa qualidade, implementação das prá-
ção. Brasileira de Enfermagem, Associa- ticas baseadas nos direitos da mulher e da
ção Brasileira de Enfermagem Obstétri- criança e em evidências científicas.
ca, Conselho Municipal de Direitos . da
Fabiano Geraldo Pimenta Criança, ONG Bem-Nascer, ISHTAR, Coor- Desde 2006
Secretário Municipal de Saúde denadoria Municipal de Direitos da Mu-
lher, Pastoral da Criança, Rede Feminista • Acompanhante da gestante garantido
Saúde, CRM-MG, COREN, Conselho Muni- nas maternidades;
cipal Saúde, Ministério Público, Secretaria • Projeto Doulas Comunitárias como Políti-
Municipal Educação. ca Pública Municipal;

6 7
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

• Capacitação de Conselheiros de Saúde; com pagamento vinculado ao alcance de das políticas públicas e sociedades profissionais, pelos utilizadas as diretrizes clínicas elaboradas pelo Natio-
• Avaliação da satisfação de usuárias e ma- meta assistenciais. Monitoramento das Ma- riscos desnecessários para mãe e bebê. A orientação nal Institute of Clinical Excellence (NICE) da Inglaterra1,
ternidades; ternidades (desde 2006), o Termo de Com- para utilização de evidências na prática clínica vem da Austrália2 e do País Basco3.a, com atualização das
• Avaliação da assistência por observação promisso das Maternidades (desde 2008) e de encontro a este objetivo de subsidiar a assistência. evidências científicas quando disponíveis. Também
pelo supervisor (auditor) hospitalar (Mo- o Contrato de Gestão com Maternidades com base no conhecimento científico mais atualiza- foram utilizadas portarias e normas técnicas existen-
nitoramento de Maternidades). (2010) têm como finalidade a avaliação e do, incoporados aos protocolos institucionais. tes do Ministério da Saúde, ANS e ANVISA, como a
o monitoramento do processo assistencial Esta publicação é resultado de um trabalho coleti- Resolução da Diretoria Colegiada sobre Funcionamento
Desde 2007 em maternidades do SUS-BH para imple- vo, que envolveu as principais entidades profissionais dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal - RDC no.
mentação das práticas obstétricas e neo- relacionadas à assistência perinatal em Belo Horizon- 36/2008 ( Veja link na página 3) e o Programa Nacio-
• Movimento “BH pelo Parto Normal”, proje- natais baseadas em evidências científicas. te com o intuito de subsidiar e qualificar as ações de nal de Segurança do Paciente - Portaria no. 529/2013
to de extensão com a a PUC e UFMG e atenção obstétrica e neonatal. Como referência foram (Veja link na página 3), dentre outros.
conta com a participação da sociedade A partir de 2011
civil organizada; estande itinerante em
praças, feiras, shoppings, eventos diver- • Participação na Rede Cegonha, do Minis- 2.1 Objetivos deste documento
sos relacionados à saúe e direitos da mu- tério da Saúde, estratégia político- assis-
lher e da criança, e estande permanente tencial voltado para o atendimento inte- Os objetivos do documento “Assistência ao par- des direcionadas à segurança e ao bem-
na Feira de Artesanato de BH; gral das mães e das crianças até os dois to e nascimento: diretrizes para o cuidado multidis- -estar da mulher e do bebê;
• Curso de Multiplicadores do BH pelo Par- anos de idade e que prevê uma série de ciplinar” são: • Aprimorar a assistência ao trabalho de
to Normal; ações. Entre elas, o acompanhamento de parto, parto e nascimento, possibilitando
• Rodas de conversa com gestantes nos saúde sexual e reprodutiva, do pré-natal • Promover, por meio da construção que a mulher/parturiente seja protago-
Centros de Saúde; ao parto e o pós-parto, direito a acom- de consenso entre os prestadores de nista do processo, considerando os prin-
• Estruturação da Maternidade Municipal panhante no momento do nascimento, serviço, a assistência ao parto e nas- cípios da Política Nacional de Humaniza-
(atualmente funcionando no Hospital Riso- ampliação e qualificação da estrutura cimento que respeite a fisiologia da ção da Assistência3.b;
leta Tolentino Neves): novo modelo assis- das maternidades, fomento às equipes mulher e do recém-nascido trazendo • Aperfeiçoar o processo de trabalho de assis-
tencial em parceria com a UFMG (FUNDEP). multiprofissionais na atenção, e o moni- uma concepção de parto como um tência ao parto com práticas benéficas base-
toramento da assistência.com incentivo processo fisiológico onde a mulher é adas em evidências reduzindo a utilização
Desde 2008 à implementação das práticas baseadas o centro do processo; de intervenções desnecessárias e procedi-
em evidências; • Promover adequada assistência ao tra- mentos invasivos e seus efeitos iatrogênicos.
• Termo de Compromisso das maternida- balho de parto e nascimento por meio • Incentivar melhorias na ambiência e lo-
des para implementação de práticas ba- 2013 do envolvimento multiprofissional com- gística no atendimento às parturientes e
seadas em evidências científicas. partilhado, com ações e responsabilida- seus filhos.
• Implementação a Política de Segurança do
Desde 2010 Paciente com base na legislação Portaria 529
de 2013, RDC 36 de 2008, RDC 36 de 2013 – 2.2 Conceito de “parto normal”
• Contrato de Gestão com maternidades ANVISA , Ministério da Saúde.
De acordo com a Organização Mundial de Para fins de construção do presente documento,
Saúde, parto normal é definido como “de início es- este conceito foi ampliado para todos os tipos de
pontâneo, baixo risco no início do trabalho de parto, parto, sejam eles espontâneos, distócicos ou indu-
permanecendo assim durante todo o processo, até o zidos. Desta maneira, foram incluídas as situações
2 Introdução nascimento. O bebê nasce espontaneamente, em po- abaixo, para as quais este documento também será
sição cefálica de vértice, entre 37 e 42 semanas com- norteador de condutas:
Nas últimas décadas a assistência ao parto e nas- mais se os altos níveis de intervenção são necessá- pletas de gestação. Após o nascimento, mãe e filho • Mulheres em trabalho de parto que
cimento no mundo, e em especial no Brasil, passou rios para que todas as mulheres e crianças tenham permanecem em boas condições.”4 durante sua evolução, em algumas cir-
por mudanças significativas. O uso da tecnologia acesso à assistência obstétrica e neonatal segura.
tornou-se a norma, com um importante aumento de A adoção sem críticas de uma variedade de inter- 1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: ht-
intervenções, mesmo em nascimentos de baixo risco. venções inúteis, inoportunas, inadequadas e/ou des- tps://www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations.
2 Maternity - towards normal birth in NSW. A woman friendly birth initiative: protecting, promoting and supporting normal birth. NSW Department of Health 2010. Disponível em:
Questões sociais, culturais e assistenciais, além da necessárias, com muita frequência mal avaliadas, é www.health.nsw.gov.au.
3.a Guia de prática clínica sobre cuidados com o parto normal. GUIAS DE PRÁTICA CLÍNICA NO SNS. MINISTÉRIO DA SAÚDE E POLÍTICA SOCIAL.Vitoria-Gasteiz 2010. Disponível em:
própria organização do sistema de saúde, vêm con- um risco incorrido com frequência no intuito de me- http://www.euskadi.net/ejgvbiblioteka.
3.b HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde,
tribuindo para que as mulheres se sintam inseguras lhorar os serviços obstétricos. Por isto é crescente a SecretariaExecutiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humani-
em relação à sua capacidade de gestar e parir sem preocupação da sociedade com o aumento das inter- zasus_2004.pdf.
4 Assistência ao Parto Normal: Um guia prático. Saúde Materna e Neonatal / Unidade de Maternidade Segura Saúde Reprodutiva e da Família. Organização Mundial da Saúde. Ge-
intervenções tecnológicas. Questiona-se cada vez venções no nascimento e, em particular, o interesse nebra. 1996.

8 9
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

cunstâncias, são necessárias as seguin- • Manejo ativo do terceiro período do parto; associada ao julgamento clínico embasado em pro- SUS-BH / 2009 - Sogimig/PBH5a”. e “Manual de Acolhi-
tes intervenções: • Situações de complicação no parto e pós- tocolo fundamentado cientificamente. Para maiores mento e Classificação de Risco em Obstetrícia. Mi-
• Estimulação com ocitocina; -parto (hemorragia pós-parto, laceração detalhes recomenda-se a leitura dos documentos nistério da Saúde, 2014”5b.
• Rotura artificial de membranas; perineal, recém-nascido admitido em uni- “Acolhimento com classificação de risco em obstetrícia
• Monitorização fetal eletrônica contínua; dade neonatal de cuidados intensivos);
• Utilização de métodos farmacológi- • Mulheres com complicações na gravidez
cos para alívio da dor; (hipertensão e diabetes, dentre outras), em 3.1.3 Qualidade e segurança na assistência obstétrica e neonatal
• Uso de fórceps ou vácuo-extrator; trabalho de parto.
• Episiotomia; Em todo o mundo a questão da segurança do taxas de intervenções com grande potencial de pro-
paciente vem se tornando parte fundamental dos vocar danos. Tais intervenções, como a episiotomia,
processos relacionados à melhoria da qualidade o uso de ocitocina e a cesariana, além de outras, que
assistencial. A Segurança Sanitária na Assistência deveriam ser utilizadas de forma parcimoniosa ape-
Materna e Neonatal se reveste de fundamental im- nas em situações de necessidade, hoje são rotineiras
3 Princípios e pressupostos portância, tendo em vista o grande número de pa- e atingem quase a totalidade das mulheres que dão à
cientes envolvidos e o potencial de eventos adver- luz em hospitais no país. Em situações onde as com-
3.1 Organização da rede de saúde sos que podem surgir no processo assistencial. plicações já existiam, uma assistência inadequada
O processo e a natureza do trabalho na assistên- pode adicionar ou potencializar os riscos, aumentan-
3.1.1 Vaga Sempre cia materna e neonatal apresentam outras peculiari- do as mortes evitáveis de mulheres e crianças bem
dades, tais como o grande uso de força de trabalho como lesões e sequelas permanentes.
A qualidade da assistência obstétrica e neonatal, -nascido, evitando sua peregrinação e, providencian- humano, com várias configurações de equipes, en- Na atenção materna e neonatal deve prevalecer
entre outros recursos, depende da organização da do, quando necessário, sua transferência em trans- volvendo médicos, enfermeiros e outros profissio- uma concepção multidimensional onde, tanto os
rede de serviços que possa assegurar o cumprimento porte seguro e com garantia de vaga e acolhimento nais, que exige intensiva vigilância para a não ocor- eventos adversos que comprometem a estrutura
dos princípios constitucionais de universalidade do na unidade de referência. Em qualquer unidade de rência de erros, além de efetiva comunicação entre ou função do corpo, como lesões, incapacidade ou
acesso, da equidade e da integralidade do cuidado. saúde, seja da atenção primária, urgência, hospital e diversas disciplinas. Com esses números, a diversida- disfunção ou mesmo a morte, assim como o sofri-
É necessário que todas as gestantes, as parturien- maternidade, toda gestante e puérpera, assim como de de locais de assistência e profissionais envolvidos mento social, psicológico, moral e cultural devem
tes, os recém-nascidos e as puérperas recebam todo todo recém-nascido que procura assistência deve ser faz da atenção materna e neonatal uma das áreas ser enquadrados na categoria de danos ao paciente.
o atendimento que têm direito visando a redução acolhido imediatamente, avaliado, a assistência inicia- prioritárias para ações voltadas à segurança do pa- Nesse contexto, as estratégias destinadas à melho-
dos agravos decorrentes das complicações da gravi- da e mantida até a sua estabilização, considerando a ciente. Além da assistência hospitalar, a assistência ria da qualidade e segurança na assistência materna e
dez, do parto e do puerpério. Para isso, é necessá- sua maior vulnerabilidade. Nas unidades de cuida- materna e neonatal se dá também na comunidade, neonatal devem incluir todas aquelas voltadas à assis-
rio que todos os pontos da rede de atenção estejam do a mulher deve ser acolhida e o seu atendimento com ações educativas para gestantes, puérperas e tência aos pacientes em geral, assim como estratégias
atuando de forma integrada e harmônica, visando deve ser priorizado de acordo com o grau de risco suas famílias, apoio ao aleitamento materno, apoio específicas para esse grupo. Dentre essas estratégias
garantir o atendimento integral à mulher e ao recém- que apresenta nesse momento. nutricional, imunização, serviço de apoio social etc. se destacam: treinamento individual e em equipe dos
Embora a gravidez e o nascimento, na maioria provedores de cuidado; simulações; desenvolvimento
das vezes, ocorram sem intercorrências para a mãe e de protocolos, diretrizes e listas de checagem; uso da
3.1.2 Acolhimento com classificação de risco seu filho, sabe-se que em muitos casos podem sur- tecnologia da informação; educação e rondas de se-
gir complicações, desde as mais simples até as mais gurança. Essas atividades e ferramentas podem ser uti-
O acolhimento na porta entrada das maternida- mulher e de sua família. Tem como principal obje- graves que podem ameaçar as suas vidas. Tais com- lizadas tanto em nível hospitalar quanto ambulatorial.
des assume peculiaridades próprias às necessidades tivo promover e garantir o acesso e a qualificação plicações, em sua maioria, têm a sua origem tanto Com intuito de promover a atenção obstétrica
e demandas relacionadas ao processo gravídico- do cuidado à saúde das mulheres, bem como dos no próprio processo de gravidez e parto como por e neonatal de qualidade que reduza os agravos re-
puerperal e tem função fundamental na construção recém-nascidos durante todo o percurso no serviço, condições clínicas preexistentes. Em outras situações, sultantes do próprio processo reprodutivo e mini-
de vínculo de confiança da mulher com os profis- envolvendo a recepção, os espaços assistenciais, as entretanto, elas podem surgir em decorrência da pró- mize os danos relacionados ao processo assistencial,
sionais e serviços de saúde, favorecendo seu prota- providências para propiciar resposta definitiva e/ou pria assistência oferecida, seja em relação à estrutura a Agência Nacional de Vigilância Sanitária elaborou
gonismo no momento do parto. encaminhamento responsável para outros locais. O dos locais de nascimento, assim como consequência um documento sobre segurança Sanitária em Aten-
Queixas comuns da gestação podem camuflar atendimento burocrático, por ordem de chegada, de erros no processo de trabalho. Adicionalmente, o ção Materna e Neonatal5b. Recomenda-se que esse
situações clínicas que demandam ação rápida, o não permite que casos graves sejam devidamente modelo obstétrico contemporâneo, principalmente documento sirva de base e orientação para a orga-
que exige preparo das equipes, com escuta quali- identificados e priorizados. O acolhimento associa- no Brasil, expõe as mulheres e recém-nascidos a altas nização e estruturação dos serviços.
ficada e ganho de habilidade para julgamento clí- do à ferramenta da Classificação de Risco visa reor-
nico criterioso. O acolhimento é decisivo não só no ganizar a porta de entrada e todo o atendimento
reconhecimento de condições clínicas urgentes nas maternidades e serviços que realizam partos 5a Comissão Perinatal - Secretaria Municipal de saude - Associação Mineira de Ginecologia e Obstetrícia - Protocolo do Acolhimento com classificação de risco em obstetrícia e prin-
cipais urgências obstétricas. 2009.
como também na potencialização da vivência do apoiando a tomada de decisões do profissional de 5b Ministério da Saúde - Manual de Acolhimento com Classificação de Risco em Obstetrícia, 2014. Serviços de atenção materna e neonatal: segurança e qualidade/Agência NAcional
parto e nascimento, experiência única na vida da saúde e equipe a partir de uma escuta qualificada, de Vigilância Sanitária: Brasília: ANVISA:2014. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/29/Manual-de-ACR-em-Obstetricia-versao-26-de-maio--4-.pdf

10 11
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

3.2 Diretrizes assistenciais É importante destacar que, mesmo em situações inclusão das boas práticas aliadas à humanização na
em que a “celebração” do nascimento não se concre- assistência favorecem a mulher e tornam a vivência
O processo de parturição consiste em comple- digma a ser resgatado é a atenção centrada na mu- tiza, como nos casos de fetos portadores de malfor- do momento menos traumática para toda a família.
xo processo fisiológico no qual, por meio de con- lher e seu contexto familiar. mações incompatíveis com a vida ou natimortos, a
trações regulares e progressivas ocorre a passagem Esta prática deve ser desenvolvida a partir das
do feto pelo canal do parto culminando com a sua instituições de ensino, que devem preparar o estu-
expulsão para o meio externo. Entretanto, a sua as- dante para o trabalho em equipe multiprofissional 3.3 Ambiência
sistência tem sofrido inúmeras transformações ao harmoniosa, utilizando conhecimentos, habilidades e
longo do tempo, em função do contexto contem- atitudes para oferecer à gestante e ao bebê uma as- O local do parto tem importante impacto sobre o diminui taxas de partos operatórios, diminui índice de la-
porâneo e do conhecimento de fatores psicoemo- sistência individualizada, de forma competente, com andamento do trabalho de parto e o nascimento. A cerações perineais e anormalidades na frequência cardí-
cionais, econômicos, sociais e culturais. O momen- segurança e humanismo. O local onde a mulher é proposta de um ambiente acolhedor e de apoio ao aca fetal e aumenta o sucesso no aleitamento materno6.
to atual se caracteriza por rápido desenvolvimento cuidada não pode ser um ambiente hostil, com roti- processo natural iniciou-se com a abertura das salas Desta maneira, recomenda-se que toda mulher
técnico-científico, queda da fecundidade, aumento nas rígidas e imutáveis, onde a mesma não possa ex- de parto para os pais e outros familiares. Alguns hos- em trabalho de parto seja assistida em quartos indi-
da idade e das condições clínicas da mulher ao ges- pressar livremente seus sentimentos e necessidades, pitais esforçaram-se implementando salas de parto viduais, desde o início do trabalho de parto ativo até
tar, resultando em grande diversidade de paradig- devendo receber cuidados individualizados e flexíveis mais semelhantes ao ambiente doméstico e obser- o puerpério imediato (mínimo de duas horas após
mas para a assistência ao parto. de acordo com suas demandas. É necessário que a vou-se que isso aumenta a satisfação materna. o parto) pelo menos, sem mudança de ambiente.
O avanço da obstetrícia moderna contribuiu para a mesma se sinta segura e protegida por todos aqueles Salas de parto foram construídas visando o con- Mesmo mulheres com elevado risco materno e/ou
melhoria dos indicadores de morbidade e mortalidade que a cercam. Ela deve sentir que está sendo com- forto materno: são as “Labour Delivery Rooms”, ou fetal se beneficiam da ambiência da suíte de parto
materna e perinatais. Por isto deve, também, permitir a preendida e acolhida e que participará ativamente do Quartos PPP (pré-parto, parto e puerpério). Nestes e, desta forma, é recomendado que sejam assistidas
concretização de um modelo assistencial que conside- processo do trabalho de parto e parto, para que te- ambientes é possível a assistência completa ao nasci- neste ambiente. A RDC 36, de 2008, dispõe sobre o
ra a gravidez, o parto e o nascimento como expressões nha uma experiência de prazer e crescimento interior. mento, desde a admissão até a alta para o domicílio. regulamento técnico para funcionamento dos servi-
de saúde, e não como doença. Devem sempre ser con- Tanto na assistência pré-natal como na assistência ao São quartos confortáveis, com camas largas e baixas ços de atenção obstétrica e neonatal e fornece todas
siderados os aspectos emocionais, humanos, culturais nascimento, a presença do seu companheiro ou ou- (contrapondo às camas hospitalares altas e estreitas as orientações para a construção de suítes PPP (Veja
e sociais envolvidos no processo para que a assistência tro acompanhante deve ser sempre encorajada. que dificultam a livre movimentação da mulher), com link na página 3). Ressalte-se que qualquer quarto in-
seja cada vez mais individualizada e humanizada. A interação imediata e contínua entre mãe e filho possibilidade de realização de diversos métodos para dividual com banheiro pode ser utilizado como PPP,
Por gerações e em todas as culturas humanas, o é outro foco prioritário na assistência. A separação alívio não farmacológico da dor do parto (chuveiro pois trata-se, sobretudo, de um processo assistência,
surgimento de um novo ser sempre despertou co- mãe-filho deve ser evitada em qualquer momento, quente, banheira para imersão em água morna, bola acima de um desafio arquitetônico ou estrutural.
rações e mentes. Para a mulher principalmente, a desde o nascimento até a alta. Tanto os fatores cien- de Bobath, escada de Ling, espaço para deambula- Também é de fundamental importância que todos
gravidez, e o nascimento em particular, são eventos tíficos, que trazem segurança, como os fatores hu- ção, luz indireta, cromoterapia, dentre outros). os profissionais envolvidos no cuidado à parturien-
únicos repletos de fortes sentimentos e emoções. manos, que trazem alegria e felicidade, devem ser Além de serem dotadas de materiais para assis- te sejam empáticos e respeitosos, evitando entradas
A experiência vivida por ela nestes momentos fica- considerados para assegurar uma experiência bem tência ao parto fisiológico, os quartos PPPs também intempestivas no quarto, assim como a presença de
rá indelevelmente marcada na sua memória e, por sucedida e gratificante para todos os envolvidos. possuem todos os equipamentos para atendimento muitos profissionais ao mesmo tempo no ambiente.
isso, todos os envolvidos na sua assistência, desde o Essa interação mãe e filho deve promover apego e às emergências maternas e neonatais. Apesar de es- O ideal é que o(s) profissional(is) assistente(s) de uma
pré-natal até o parto, devem lhe proporcionar uma afeto, já que é um fator determinante para o desen- tarem disponíveis para uso imediato em caso de ne- determinada mulher internada numa suíte de parto
atmosfera de respeito e carinho. O principal para- volvimento psicoafetivo da criança. cessidade, estes equipamentos não são visíveis pela seja(m) o(s) mesmo(s) desde a internação até o par-
parturiente, assim como o relógio, de maneira que a to. Caso não seja possível, no momento da troca de
mulher em trabalho de parto não se sinta “intimidada” plantão mulher deve ser orientada e apresentada ao
3.2.1 Humanização da assistência pela tecnologia hospitalar e não se sinta pressionada novo(s) profissional(is) que continuará(ão) seu cuidado.
pelo tempo de duração de seu trabalho de parto. A voz dentro do quarto de parto deve ser utilizada
A assistência à mulher e à família durante o par- qualquer outro indivíduo que lhe ofereça apoio e Revisões sistemáticas comprovaram que o parto em o mínimo possível, num tom baixo e delicado. Diá-
to deve apoiar-se em práticas humanizadas, des- suporte durante todo o trabalho de parto, parto e ambiente “home-like” (semelhante ao doméstico), quan- logos com a parturiente devem ser realizados prefe-
de a construção e planejamento das práticas do após o parto, independente dos profissionais envol- do comparado com o parto assistido em ambiente tradi- rencialmente nos intervalos entre as contrações. As
serviço até o atendimento e cuidado individual. vidos no processo, é fundamental. cional (salas de “pré-parto” e centro cirúrgico), apresenta pessoas que estiverem neste ambiente, na cena do
O nascimento é uma celebração. É um privilégio Os procedimentos institucionais devem ser ofe- diversos outros benefícios além da satisfação materna: parto, devem manter postura de respeito e em sinto-
para todos os membros da família e profissionais recidos de acordo com necessidades individualiza- diminui a necessidade de uso de ocitocina para acelera- nia com o momento, para apoiar o processo fisiológi-
de saúde envolvidos. O parto é um processo sau- das (físicas, sociais e psicológicas) da mulher e seu ção do parto, diminui o uso de analgesia farmacológica, co do nascimento.
dável e os profissionais de saúde desempenham filho estimulando o protagonismo da mulher no
um profundo papel neste momento, facilitando o parto. As decisões devem ser compartilhadas com
apego entre mães e recém-nascidos, assim como a mulher e seu(s) acompanhante(s). A família é uma
o fortalecimento das relações familiares. A presença unidade e não deve ser separada em nenhum mo- 6 Hodnett ED, Downe S, Edwards N, Walsh D. Home-like versus conventional institutional settings for birth. Cochrane Database of Systematic Reviews 2005, Issue 1. Art. No.: CD000012.
de um acompanhante de escolha da mulher e/ou mento desde a internação até a alta. DOI: 10.1002/14651858.CD000012.pub2.

12 13
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

4 Atribuições da equipe assistencial


As orientações a seguir referem-se à atuação equipe deve ser efetivo e harmonioso.
da equipe de enfermeiros obstetras, obstetrizes A comunicação entre membros da equipe de
e médicos (obstetras, anestesistas, pediatras/ne- assistência ao parto deve ser assertiva, não hierar-
onatologistas, outros). Os outros profissionais de quizada e com uma periodicidade que atenda à
apoio na assistência ao parto deverão atuar de necessidade para o bom funcionamento do servi-
acordo com suas competências técnicas e legais. ço. Sugerem-se reuniões diárias para discussão dos
Objetivam, principalmente, uma atuação coesa e casos e decisão sobre condutas mais apropriadas a
colaborativa da equipe baseada na capacitação serem tomadas coletivamente.
técnica e legal dos seus membros. O trabalho em

Figura 1 - Suíte de parto do Hospital Sofia Feldman


4.1 Enfermeiros obstetras e obstetrizes
• Oferecer cuidados às mulheres e seus filhos nicas não-farmacológicas e solicitação
3.4 Assistência ao parto e ensino acadêmico e profissional ou filhas, independente do local do parto; de avaliação médica;
• Oferecer apoio emocional, garantir a conti- • Identificação das distócias obstétricas e
A educação dos acadêmicos e profissionais da em sintonia com a situação, já que toda nuidade do cuidado e promover e proteger notificação imediata do médico obste-
rede de assistência ao parto (alunos de graduação presença interfere no processo; a gravidez e o trabalho de parto, sempre tra. De acordo com orientação e prescri-
de enfermagem e medicina, residentes de enferma- (4) O aluno poderá prestar assistência téc- que possível, como processos fisiológicos ção deste, utilizar de medidas corretivas;
gem obstétrica, obstetrícia, neonatologia e aneste- nica sob supervisão (por preceptor que mesmo em situações em que for necessá- • Identificação de risco e dos desvios
siologia) deve se embasar nas melhores práticas de é o responsável pela paciente), desde ria a participação do médico obstetra; da normalidade e solicitação de assis-
acordo com as evidências científicas, sempre com a que tenha conseguido estabelecer um • Avaliar gestantes de risco habitual verifi- tência médica presencial. No caso de
visão da assistência respeitosa que promova a fisio- vínculo com a mulher e sua família, du- cando se a mesma está em trabalho de emergências obstétricas absolutas, (dis-
logia e o cuidado integral da mulher e bebê. Sua rante a internação; parto inicial ou fase ativa e realizar interna- tócia de ombro, por exemplo) iniciar
participação no cuidado pode ser de grande benefí- (5) O número de alunos no acompanha- ção hospitalar, quando necessário; manobras preconizadas até a chegada
cio para a parturiente, desde que sejam observadas mento do trabalho de parto e parto • Assistir ao parto normal em todas as suas do médico obstetra ao local do parto;
algumas orientações: deve ser o menor possível. Sendo as- fases, independente da categoria de risco • Identificação de complicações no puer-
sim, deve-se manter a relação de 1:1 (1 da parturiente, com as seguintes compe- pério imediato, como hemorragias, e
(1) O aluno deve ter orientação sobre as aprendiz/1 parturiente); tências: utilização de medidas corretivas sim-
boas práticas na assistência ao parto (6) A presença de alunos no serviço não • Avaliação do estado geral da parturiente; ples como: posicionamento, uso de
oferecidas à parturiente que está acom- deverá ser, jamais, elemento motivador • Avaliação de dados vitais (freqüência ocitocina, oxigenioterapia, hidratação
panhando. Como parte da equipe, deve para realização, pela equipe da assistên- respiratória, pulso, pressão arterial, venosa, massagem uterina, conforme
apoiar e incentivar a utilização das prá- cia, de intervenções clínicas ou cirúrgi- temperatura); os protocolos instituicionais, com notifi-
ticas baseadas em evidências com uma cas desnecessárias, com o argumento • Avaliação da dinâmica uterina; cação imediata ao médico obstetra;
postura proativa e crítica; de necessidade de aprendizado. Deve- • Avaliação do bem-estar fetal por auscul- • Avaliar e prestar assistência até a alta a
(2) O aluno, sob supervisão, deve oferecer -se lembrar que as instituições de cui- ta intermitente e/ou cardiotocografia; puérperas após parto normal, como parte
informações às mulheres e familiares dado a parturientes e recém-nascidos • Realização de toque vaginal; do trabalho em equipe;
acerca do cuidado em saúde para que devem ser focadas na assistência de • Realização de amnioscopia, caso seja • Avaliar e adotar condutas, conforme diretrizes
possam fazer escolhas informadas. Deve, qualidade, centrada na mulher e sua fa- utilizada para definição de risco e to- assistenciais, em puérperas com problemas
ainda, encorajar a participação ativa da mília, os quais jamais podem se tornar mada de condutas obstétricas; relacionados à amamentação e às mamas;
mulher no seu processo de parto; meros objetos de ensino. • Adoção de medidas simples para corre- • Solicitar avaliação presencial do médico
(3) O aluno, sob supervisão, deve acompa- ção de alterações na freqüência cardía- obstetra para puérperas com outras com-
nhar a mulher durante todo o trabalho ca fetal tais como mudança de posição plicações ou problemas médicos ou obs-
de parto, evitando entradas intempes- e oxigenioterapia; tétricos mais complexos;
tivas e pontuais, apenas para observar • Sugestão de técnicas de alívio da dor • Avaliar e dar assistência imediata ao re-
a cena do parto e/ou procedimentos apropriadas; cém-nascido após o parto (Portaria Minis-
técnicos. O aprendiz deve estar na cena • Identificação da presença de dor into- tério da Saúde No 371 de maio 2014- Veja
do parto, com qualidade de presença e lerável e não-responsiva ao uso de téc- link na pagina 3);

14 15
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

• Avaliar e prestar assistência ao recém-nas- cém-nascido, respeitando a importância 4.4 Médico anestesiologista
cido no alojamento conjunto até a alta. do “minuto de ouro”;
(Lei de Atuação da Enfermagem Obstétri- • Auxiliar os outros membros da equipe a • Manter comunicação constante e efetiva to/parto e manter o acompanhamento de
ca – Veja Link na pagina 3); estarem atentos sobre aspectos importan- com a equipe de atenção obstétrica es- toda paciente sob analgesia farmacológica;
• Solicitar avaliação presencial do médico tes da história materna ou fetal que pos- tando ciente, em especial, das pacientes • Estar prontamente disponível para atuar
pediatra/neonatologista para recém-nas- sam necessitar intervenções. com maior risco potencial de complica- nas situações de urgência/emergência
cidos prematuros ou de risco, em tempo ções presentes, ainda que não apresentem em que seja necessário o uso de técnicas
hábil para a assistência adequada ao re- indicação de procedimentos anestésicos; anestésicas, suporte clínico ou ressuscita-
• Realizar a avaliação pré-anestésica de to- ção cardiopulmonar;
das as pacientes que possam necessitar • Participar ativamente na decisão da escolha
4.2 Médico obstetra de uso de analgesia/anestesia e de pa- da analgesia para dor pós-operatória aguda;
cientes com maior risco de complicações • Retirar o cateter peridural ao final do pro-
• Trabalhar em estreito relacionamento, ticipação de outros membros da equipe clínicas ou obstétricas; cedimento em casos de técnicas neuroa-
colaboração e harmonia com a enferma- sob sua responsabilidade; • Acolher a mulher que relata dor não-to- xiais contínuas ou intermitentes;
gem obstétrica, com médicos pediatras e • Identificar a presença de dor não-respon- lerável mesmo após uso de técnicas não • Oferecer atendimento de qualidade às
anestesiologistas, no sentido de promo- siva ao uso de técnicas não-farmacoló- farmacológicas para o alívio da dor e indi- gestantes e trabalhar junto aos gestores
ver excelência na assistência obstétrica; gicas e ofertar, de acordo com o desejo car, de acordo com o desejo da mulher e hospitalares para garantir presença de
• Assegurar alto padrão de cuidado basea- da mulher e em consenso com a equipe em conjunto com a equipe, a técnica de equipamentos, materiais, medicamentos
do em evidências científicas para as mu- (médico anestesiologista e enfermeiro analgesia farmacológica mais apropriada; e processos de trabalho que aumentem a
lheres e seus bebês; obstetra/obstetriz) o uso de técnicas de • Executar a analgesia para o trabalho de par- segurança das pacientes.
• Conduzir a assistência obstétrica das pacien- analgesia farmacológica;
tes que apresentem fatores de risco gesta- • Acompanhar, em conjunto com a enfer-
cional, distócias de parto com seus trata- magem obstétrica e médico anestesiolo- 4.5 Outros profissionais da assistência
mentos e parto cirúrgico, juntamente com gista, todas as pacientes em uso de técni-
os demais membros da equipe assistencial; cas farmacológicas de analgesia durante Demais profissionais que prestam cuidados dire- as práticas instituídas pela equipe sejam realizadas
• Atuar prontamente nas situações de ur- o trabalho de parto e parto; to ou indireto à gestante e sua família devem traba- de acordo com protocolos previamente estabeleci-
gência e emergência ameaçadoras à vida • Discutir, diariamente, com a equipe todas lhar harmoniosamente para garantir a individualiza- dos baseados em evidências.
da mulher e do feto / recém-nascido; as altas hospitalares, incluindo as do alo- ção do cuidado. Todos devem se esforçar para que
• Atender prontamente à solicitação de jamento conjunto, sendo o responsável
enfermeiro obstetra/obstetriz e/ou ou- final pelas mesmas (Lei No 12.842, de 10
tros membros da equipe assistencial para de julho de 2013);
avaliação de parturiente com suspeita de • Realizar avaliação e auditoria das práticas
5 Aspectos gerais da assistência à gestante
parto distócico; obstétricas e propor modificações quan-
• Conduzir todo parto distócico, com a par- do necessário. 5.1 Pré-natal
5.1.1 Acompanhamento multidisciplinar na gestação
4.3 Médico pediatra - neonatologista
A assistência à mulher gestante deve abranger deverá ser feito por equipe composta por enfermei-
• Assegurar alto padrão de cuidados para para assistência ao recém-nascido nas si- todos os aspectos para o alcance de melhores re- ros (generalistas e/ou obstetras) e médicos (genera-
todos os recém-nascidos, em particular tuações de emergência agudas, graves e sultados de saúde para ela e seu filho. Saúde não listas e/ou obstetras), de acordo com necessidade
os prematuros ou com patologias; ameaçadoras à vida. assim como às situ- é apenas a ausência de doença; desta forma, os clínica de cada gestante. Outros profissionais, como
• Formar e liderar equipe técnica (médicos ou ações de cuidados básicos e de rotina ao profissionais devem atuar no acompanhamento da nutricionista, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas e
enfermeiros) capaz de prestar assistência recém-nascido; mulher, para atingir o objetivo de bem-estar mais doulas também terão papel importante no cuidado
ao recém-nascido saudável no momento • Trabalhar em regime de estreito relaciona- abrangente. O acompanhamento clínico pré-natal e preparação da mulher para o parto e puerpério.
do nascimento; mento, colaboração e harmonia com a en-
• Atender prontamente ao chamado para fermagem obstétrica, médicos obstetras e
assistência em todo nascimento (a So- anestesiologistas, no sentido de promover 5.1.2 Preparo para o parto durante a gestação
ciedade Mineira de Pediatria recomen- excelência na assistência neonatal;
da a presença do pediatra em todos os • Desenvolver e implementar padrões ade- Curso de preparo para o parto e aleitamento Algumas medidas anteparto podem ser adota-
nascimentos); quados de prática neonatal e ter papel materno das a fim de preparar a gestante para o momento
• Estar disponível para atuar prontamente central no gerenciamento de risco. do parto. A preparação para o parto pode acontecer

16 17
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

de várias formas, mas todas devem estar estrutura- Exercícios do assoalho pélvico 5.1.3 Plano de parto
das para habilitar a mulher para o trabalho de parto,
parto e as primeiras semanas de cuidado com o re- Dados epidemiológicos sugerem que tanto a gravi- O plano de parto é uma lista de itens relaciona- da cartilha e entregue à equipe de assistência no mo-
cém-nascido. Desde os anos 50, cursos de prepara- dez como o parto são fatores de risco para incontinên- dos ao parto, sobre os quais a gestante pensou e mento da admissão na maternidade. (Ver em Anexo
ção para o parto usando as técnicas de Lamaze e de cia urinária. Mulheres que fazem exercícios do assoalho refletiu. Isto inclui a escolha da maternidade que 6.4. “Plano de Parto da Prefeitura de Belo Horizonte”. )
Dick-Read têm sido utilizados para informar as mu- pélvico durante a gestação apresentam menos inconti- deseja para o seu parto, seu(s) acompanhante(s),
lheres e seus parceiros como lidar com a dor ocasio- nência urinária no final da gravidez e após o parto. Esse os procedimentos que deseja e quais prefere evi- Termo de Consentimento pós-informado
nada pelas contrações durante o trabalho de parto. efeito ainda é maior em certos grupos de mulheres, tar. Funciona como uma carta, onde a gestante diz
Esta preparação inclui um conjunto de técnicas como aquelas que tiveram bebês grandes e partos a como prefere passar pelas diversas fases do trabalho Consentimento pós-informado é um documento
de respiração, exercícios de relaxamento, informa- fórcipe. Por isto, orientações sobre exercícios de assoa- de parto e como deseja que seu bebê seja cuidado assinado pela(o) paciente ou responsável consentin-
ção e suporte para alívio da dor no parto. Mais re- lho pélvico são recomendados para todas as gestantes8. após o nascimento. do à equipe da instituição a realização de determina-
centemente, informações acerca da evolução do Entende-se que o maior valor do plano de parto dos procedimentos após haver recebido informações.
trabalho de parto, medicações, riscos e benefícios Massagem perineal é propiciar uma maior reflexão e compreensão so- Apesar de o trabalho de parto fisiológico não ser
da analgesia farmacológica, sobre a cesariana, alei- bre os cuidados obstétricos. É um exercício que leva considerado um “procedimento” médico ou cirúrgi-
tamento e paternidade, foram incluídos como con- A massagem do períneo iniciada após 35 sema- informação à mulher, fazendo com que ela esteja co, é possível que, durante a evolução e acompa-
teúdo. O objetivo principal dos cursos de prepara- nas tem sido proposta a fim de diminuir a ocorrên- mais bem preparada para conversar com os profis- nhamento do trabalho de parto, sejam realizadas in-
ção é ajudar as mulheres a se sentirem confiantes cia de lacerações perineais e redução de chance de sionais que irão cuidar dela no pré- natal e no parto. tervenções com o intuito de melhorar os resultados
para o parto normal e o aleitamento materno7. realização de episiotomia9. Não se trata, portanto, de uma lista de exigências, perinatais. Além disto, eventos adversos durante e
mas de um ponto de partida para a conversa. após o parto, apesar de incomuns, podem ocorrer,
Grupo de Gestantes A construção do plano de parto deve ser esti- demandando alguma(s) intervenção (ões).
mulada durante as consultas e grupos de pré-natal. O conhecimento, pela mulher e seus familiares,
Os grupos são espaços de acolhimento, troca de Sempre que possível, deve ser apresentado previa- dos possíveis eventos adversos e intervenções que
experiências e compartilhamento mútuo. Sugere- mente à maternidade onde a mulher deseja ter seu possam acontecer durante a assistência ao parto na
-se que os grupos de gestantes sejam mediados por bebê, para que seja avaliado como exequível ou não maternidade, melhora a relação e o diálogo com os
profissionais da assistência: médicos, psicólogos, de acordo com as instalações de cada instituição e profissionais do cuidado durante a internação, já que,
fisioterapeutas, enfermeiros, obstetrizes, doulas ou protocolos assistenciais. no momento em que as intervenções são sugeridas,
educadores perinatais. Participam dos grupos ges- É importante, ainda, que a mulher compreenda durante o trabalho de parto, a mulher encontra-se
tantes desacompanhadas ou acompanhadas do que, se necessário, a equipe assistencial poderá to- vulnerável para a plena tomada de decisões.
parceiro ou alguém de sua confiança, que irá ajudá- mar medidas e condutas distintas das descritas no Desta maneira, é recomendado que, durante o
-la no parto e no puerpério. seu plano de parto, desde que estas representem acompanhamento pré-natal, a mulher seja orienta-
Assim como nos cursos, os grupos de gestantes Figura 2 - Massagem Perineal
maneiras de garantir a sua segurança e de seu filho da sobre eventos que podem acontecer durante a
devem fornecer informações de qualidade sobre a durante o trabalho de parto e nascimento. assistência ao seu parto e tenha a oportunidade de
fisiologia do nascimento e apoio emocional para A Prefeitura de Belo Horizonte oferece às gestantes obter o termo de consentimento pós-informado.
que a mulher se sinta competente e segura, enten- Autodiagnóstico do trabalho de parto da cidade um modelo de plano de parto que se en- Um modelo deste documento é disponibilizado no
dendo o parto como um processo ativo do seu cor- contra anexo à cartilha da gestante, que é distribuída Anexo 6.5. "Termo de consentimento pós-informa-
po e altamente vinculado ao seu protagonismo. A presença de contrações sintomáticas no fim da durante o pré-natal. O mesmo pode ser destacado do para assistência ao parto normal".
Recomenda-se que as gestantes sejam incenti- gravidez pode levar ao falso diagnóstico de traba-
vadas a visitar a maternidade onde pretendem ser lho de parto, acarretando várias visitas ao hospital,
assistidas no parto e se informar sobre os fluxos, ro- frustração e desconforto para a mulher. Durante o 5.2 Acolhimento da mulher em trabalho de parto
tinas e protocolos adotados pelas instituições, assim acompanhamento pré-natal a gestante deve ser
como a estrutura física oferecida. As equipes das orientada sobre como reconhecer a fase ativa do A atenção humanizada à parturiente pressupõe que ção de cada um no processo de assistên-
maternidades por sua vez deverão se organizar para trabalho de parto e quais os sintomas que sinalizam a dignidade das mulheres está no respeito e incentivo cia ao nascimento;
receber estas gestantes aproveitando o momento a necessidade de procurar avaliação clínica. Ter este à sua autonomia e seu controle sobre a situação. A mu- • Informar à mulher e acompanhante so-
da visita como mais um espaço de acolhimento e conhecimento irá reduzir a chance de admissão lher tem posição central no processo de nascimento bre o diagnóstico de trabalho de parto e
fortalecimento da mulher. hospitalar precoce e a ansiedade materna. e deve participar ativamente nas decisões sobre sua rotinas da maternidade;
saúde. Desta maneira, após a admissão, a equipe de • Tomar conhecimento do plano de parto
cuidado obstétrico deve observar os seguintes itens: apresentado pela mulher;
• Dar apoio à mulher e acompanhante duran-
7 Hotelling BA. Teaching Normal Birth. Normally J Perinat Educ. 2009 Winter: 18(1): 51-55.
• Chamar a mulher pelo nome; te o trabalho de parto e parto, propiciando
8 Hay-Smith J, Mørkved S, Fairbrother KA, Herbison GP. Pelvic floor muscle training for prevention and treatment of urinary and faecal incontinence in antenatal and postnatal • Se identificar e usar crachá com nome e função; um ambiente tranquilo e acolhedor, respei-
women. Cochrane Database Syst Rev. 2008; (4):CD007471.
9 Beckmann MM, Garrett AJ. Antenatal perineal massage for reducing perineal trauma. Cochrane Database Syst Rev. 2006; (1):CD005123. • Apresentar a equipe de cuidado e a fun- tando sua individualidade e privacidade;

18 19
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

• Realizar a triagem para sífilis e HIV com parto, incentivar a deambulação e posi- dentes obstétricos e condição psicossocial; macrossomia fetal, malformações fetais, apre-
aconselhamento pré-teste; ções verticalizadas; • Buscar condições fetais que podem se associar sentação fetal anômala e alterações do líquido
• Registrar os dados do trabalho de parto • Estimular ingestão de líquidos sem resí- a risco aumentado durante o parto, como: pre- amniótico (volume, presença de mecônio), tes-
em partograma; duos, na ausência de contraindicações; maturidade, crescimento intra-uterino restrito, te rápido para infecção pelo HIV positivo.
• Não realizar: tricotomia, clister intestinal e • Evitar manobras e intervenções desnecessá-
infusão venosa de líquidos de rotina; rias que interferem com aspectos fisiológicos
• Incentivar e propiciar a presença do acom- e psicológicos durante o trabalho de parto; 5.2.3 Suporte contínuo
panhante de livre escolha da mulher no • Disponibilizar e incentivar o uso de méto-
pré-parto, parto e pós-parto, de acordo dos não farmacológicos de alívio da dor; e avaliar adequadamente a evolução do parto, tam-
com o seu desejo; • Disponibilizar os métodos farmacológi- O apoio contínuo à mulher em trabalho de parto bém oferecer apoio emocional à mulher, asseguran-
• Orientar sobre opções de escolha em re- cos de alívio da dor, informando sobre traz uma série de benefícios e diminui a incidência do assistência individualizada e holística. A mulher e
lação à posição para trabalho de parto e seus benefícios e desvantagens. de maus resultados perinatais: favorece a progres- seu acompanhante devem ser informados sobre to-
são mais rápida do trabalho de parto, diminui a dos os membros da equipe presentes na condução
necessidade de analgesia farmacológica, a taxa de do parto, de forma a se sentirem confortáveis com a
5.2.1 Diagnóstico do trabalho de parto e internação parto operatório e de cesariana e está associado a presença de outro membro da equipe em qualquer
melhores resultados no índice de Apgar de quinto momento durante o processo assistencial.
Fase latente e fase ativa do trabalho de parto tação a termo, a internação hospitalar deve ser re- minuto, além de proporcionar avaliação mais positi- O suporte emocional e físico não envolve apenas
tardada até quando a mulher realmente esteja na va da experiência no nascimento10. a adoção de determinadas técnicas de conforto e
O início do trabalho de parto é um processo fi- fase ativa do trabalho de parto. Esta medida evita O suporte contínuo pode ser oferecido à parturiente relaxamento. É necessário que todos aqueles envol-
siológico complexo e não pode ser facilmente de- intervenções desnecessárias e propicia melhores re- pelo seu acompanhante ou por uma doula, mas tam- vidos na assistência estejam imbuídos de um espí-
finido por um único evento. Embora seja um pro- sultados perinatais. bém pode ser oferecido por profissionais que partici- rito da promoção de uma experiência gratificante
cesso contínuo, é conveniente dividir em períodos As gestantes que não preencherem o critério de in- pam da assistência (técnicos de enfermagem, enfermei- no momento do nascimento, tanto para a mulher
para fins assistenciais. As definições dos períodos do ternação por estarem ainda na fase latente do trabalho ros, psicólogos, alunos de graduação, dentre outros). quanto para sua família. Devem estar preparados
parto devem ser claras para assegurar que a mulher de parto deverão ser orientadas pelo profissional/equi- Sempre que possível, a mulher deverá ser assistida, para uma ação que leve em conta as necessidades
e seus assistentes tenham uma compreensão com- pe que a atendeu, de maneira empática e acolhedora, do ponto de vista técnico, pelo mesmo profissional individuais da mulher, pois o que pode ser bom para
partilhada dos conceitos envolvidos, permitindo sobre os benefícios de retardar a internação e, junta- durante todo o trabalho de parto e parto. Este pro- uma pode não ser para outra, além de ter capaci-
uma boa comunicação entre ambos. mente com seu(s) acompanhante(s) e/ou familiare(s) fissional deverá ser capaz de, além de acompanhar dade de estabelecer boa comunicação interpessoal.
A fase latente é o período de tempo, não necessa- receber orientações sobre como reconhecer, no domi-
riamente contínuo, quando existem contrações ute- cílio, os sinais de fase ativa de trabalho de parto. Deve
rinas dolorosas e alguma modificação das condições ser assegurado a ela e sua família que poderá retornar 5.3 Assistência ao primeiro período do trabalho de parto
cervicais, incluindo apagamento e dilatação, até 3 cm. à maternidade para ser avaliada a qualquer momento.
Sua duração é extremamente variável, uma vez que Deve-se estar atento ao considerar essa possibilidade 5.3.1 Duração do primeiro período do trabalho de parto
é difícil determinar o momento exato de seu início. A de acordo com o local da residência da mulher e a faci-
fase ativa ou franco trabalho de parto, se inicia quando lidade de acesso para o hospital. Caso deseje, pode ser A duração do trabalho de parto ativo varia muito A aceleração do trabalho de parto deve ser re-
há presença de contrações uterinas regulares (míni- oferecida uma reavaliação com horário definido, o que de mulher para mulher e é influenciada pela pari- alizada de maneira criteriosa, levando sempre em
mo de duas contrações em dez minutos de avaliação) pode ser confortante para gestantes e acompanhantes dade, posição da mulher e estado das membranas. consideração as evoluções anotadas no partogra-
e dilatação cervical progressiva a partir de 3 cm. que demonstrem ansiedade por insegurança em reco- O progresso do trabalho de parto fisiológico não é ma (Ver anexos 6.1. “Partograma recomendado pela
nhecer o trabalho de parto ativo. necessariamente linear. Na maioria dos casos e sem Prefeitura de Belo Horizonte” e 6.2. Orientações so-
Momento ideal para internação hospitalar Rotura de membranas, mesmo sem trabalho de intervenções, as primíparas em trabalho de parto bre prenchimento do partograma). Sendo assim, a
parto, é um critério para internação. (Ver item 5.3.5. ativo atingirão o segundo período do parto em até decisão de intervir em caso de um suposto prolon-
Para a assistência ao trabalho de parto em ges- “Rotura prematura de membranas no termo”). 18 horas (média de 8 horas) e as multíparas em até gamento do primeiro período do trabalho de parto
12 horas (média de 5 horas). deve ser tomada em função do progresso da dilata-
A instituição de medidas para aceleração do pri- ção e de outros fatores obstétricos, e não exclusiva-
5.2.2 Avaliação do risco materno e fetal meiro período do trabalho de parto não deve ser mente com base na duração do trabalho de parto.
rotina, pois mesmo que estas medidas sejam inte- (Ver item 5.9.1. Parada de progressão no primeiro
No momento da admissão deve-se avaliar o risco do os dados do cartão de pré-natal (ga- ressantes para a instituição e para os profissionais, período do trabalho de parto).
materno e fetal, já que mulheres de baixo risco po- nho de peso, altura uterina, resultados de podem ser prejudiciais à parturiente em quem deve
dem ter partos de alto risco, assim como mulheres exames e ultrassonografia); estar centrada a assistência.
com gestação de alto risco podem ter partos sem • Checar idade materna, confirmar idade ges-
complicações. Neste sentido, deve-se sempre: tacional, doenças surgidas durante a gravi-
• Avaliar a evolução da gestação observan- dez, história prévia pessoal e familiar, antece- 10 Hodnett ED1, Gates S, Hofmeyr GJ, Sakala C, Weston J. Continuous support for women during childbirth. Cochrane Database Syst Rev. 2011 Feb 16;(2):CD003766.

20 21
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

5.3.2 Práticas assistenciais recomendadas para o primeiro Se as membranas amnióticas se rompem esponta- • Sua utilidade é muito grande no diagnós-
neamente ou artificialmente, deve-se anotar o aspecto tico das distócias e para definição da con-
período do trabalho de parto do líquido amniótico na folha de evolução clínica e no duta a ser adotada em cada uma delas;
partograma, já que a presença de mecônio, mesmo não • Facilita a comunicação entre profissionais
Monitorização dos sinais vitais maternos ou alimentos que fornecem calorias sem aumentar significando necessariamente comprometimento fetal, que se intercalam no cuidado à mulher
resíduos gástricos, como mel e rapadura. se associa a maior risco de morbimortalidade neonatal. durante o trabalho de parto.
O pulso materno, a pressão arterial e a temperatura É recomendável que cada serviço crie, em con- Deve-se sempre realizar um exame vaginal se ocor-
devem ser avaliados a cada 4 horas, entre as contra- junto com o setor de nutrição, uma dieta específica rer rotura espontânea das membranas para descartar Assim que o trabalho de parto ativo for estabelecido,
ções, e repetidos se aparecerem sintomas de altera- com os itens indicados para as parturientes. a possibilidade de prolapso de cordão. Por fim, a am- o partograma deve ser utilizado no acompanhamento
ção, tais como: dispnéia, lipotímias, cefaléias, escoto- Em algumas situações excepcionais, em que há niotomia é contra-indicada na gestante HIV positiva. de cada parturiente. Um modelo de partograma suge-
mas visuais, zumbidos, dor aguda, calafrios e sudorese. aumento da predisposição à regurgitação e aspiração rido pela PBH e orientações sobre seu preenchimento
pulmonar, recomenda-se dieta oral suspensa. São elas: Uso do partograma estão disponibilizados nos anexos 6.1 e 6.2.
Monitorização da evolução do trabalho de parto (1) Gestantes com obesidade mórbida, (2) Mulheres
que fizeram uso de opioides sistêmicos; (3) Gestantes O partograma é uma representação gráfica do traba- Infusão de ocitocina artificial
Recomenda-se, de acordo com evidências cientí- cuja via aérea apresente parâmetros preditores de difi- lho de parto, criada inicialmente por Friedman, em 195411,
ficas atuais, que a avaliação das contrações uterinas culdade ou situações clínicas que retardem o esvazia- por meio da observação da evolução natural do trabalho A ocitocina é um peptídeo sintético utilizado
deva ser realizada a cada 30 minutos e que o exame mento gástrico e (4) Mulheres com risco aumentado de parto de 100 mulheres africanas, com toque retal a para aceleração do trabalho de parto com muita fre-
genital para medida da dilatação cervical seja realizado de receber anestesia geral (últimos dois itens definidos cada hora Ele produziu uma curva sigmoide em forma quência em alguns países15,16. O uso de dispositivos
a cada 4 horas1. Na maioria das vezes, não há necessi- após avaliação de médico anestesiologista). de S e chamou de “cervicografia”. Em 1972, com o ob- para controle de infusão e monitoramento eletrôni-
dade de toques vaginais com frequência ou intervalo jetivo de treinar parteiras em Zimbabwe, Philpott12, num co das contrações uterinas e batimentos cardíacos
menor, a menos que haja dúvidas sobre a progressão Acesso venoso de rotina estudo com 624 mulheres, adicionou outros dados à cer- fetais fez com que seu uso se tornasse mais seguro.
do trabalho de parto, suspeita de prolapso de cordão vicografia, e também uma linha de alerta, que, quando Mesmo assim, o uso indiscriminado de ocitocina
ou se houver desejo da mulher para a realização deste Não há necessidade de instalação de veia perifé- ultrapassada, indicava a necessidade de transferência da sintética durante o trabalho de parto continua sen-
exame. (Veja sessão 5.3.4. "Avaliação do progresso da rica e/ou administração rotineira de líquidos por via parturiente para um centro onde pudesse receber cuida- do associado a efeitos adversos previníveis durante
dilatação e descida da apresentação"). venosa no trabalho de parto normal. A instalação de dos obstétricos em caso de prolongamento do trabalho o nascimento.
acesso venoso causa desconforto à parturiente, au- de parto. Mais tarde, Philpott criou também uma “linha Recentemente esta droga foi adicionada pelo
Dieta menta riscos de infecção local, limita a livre movimen- de ação”, que indicava necessidade de intervenção no Instituto para Administração Medicamentosa Segu-
tação e o uso de métodos não farmacológicos de alí- trabalho de parto, como amniotomia ou ocitocina. ra (Institute for Safe Medication Practices - ISMP) a
A restrição de líquidos e sólidos durante o par- vio à dor. Por isto, o acesso venoso em mulheres em Com o passar dos anos o partograma se tornou par- uma pequena lista de medicamentos “com alto grau
to constituiu uma rotina assistencial que pretendia trabalho de parto deve ser criteriosamente indicado. te da rotina na assistência ao parto em todo o mundo e de riscos”, o que pode “requerer salvaguardas espe-
prevenir o risco de aspiração gástrica em caso de desde 1994 sua utilização é recomendada pela OMS13. ciais para reduzir o risco de erro”.
intervenção cirúrgica sob anestesia geral. Entretan- Amniotomia Estudos mais recentes mostraram que o partogra- As evidências atuais sugerem que a infusão roti-
to, sabe-se que esta medida não garante a redução ma não é uma ferramenta absoluta para indicação de neira de ocitocina não deve ser realizada em traba-
do conteúdo gástrico e que o bem estar da mulher A amniotomia se associa a uma série de riscos intervenções no trabalho de parto. Seu uso não me- lhos de parto fisiológicos. A aceleração do trabalho
durante o trabalho de parto pode ser afetado pela maternos e neonatais, por isto não deve ser reali- lhora a taxa de cesariana, de parto instrumental nem o de parto com uso de ocitocina deve ter indicação
impossibilidade de beber ou ingerir alimentos. zada como manobra rotineira no trabalho de parto, índice de Apgar no 5º minuto14. Entretanto, é consenso criteriosa, a partir de análise do partograma, para
Atualmente, a anestesia geral em obstetrícia ce- exceto se aparecerem complicações como: entre as instituições nacionais e internacionais que seu correção de parada de progressão no trabalho de
deu espaço às tecnicas neuroaxiais de forma que a uso deve ser mantido, pelos seguintes motivos: parto (Ver itens 5.9.1 e 5.9.3). O uso de ocitocina deve
adoção rotineira de jejum para mulheres em trabalho • Trabalho de parto prolongado (descarta- • Facilita o acompanhamento do trabalho ser realizado de acordo com a dinâmica uterina, se-
de parto não mais se justifica na prática assistencial. da desproporção feto-pélvica e atividade de parto por principiantes; guindo protocolo institucional pré-estabelecido para
O desenvolvimento de cetose pelo jejum pro- uterina inadequada); • É excelente ferramenta de ensino; aumento de gotejamento até alcance dos níveis de
longado durante o parto é motivo de preocupação, • Necessidade de encurtar o trabalho de • Facilita a supervisão da qualidade da assistência; contrações desejados e exige também o acompa-
já que podem causar náuseas, vômitos, cefaleia e parto por problemas maternos ou fetais; • Favorece a utilização racional de ocitóci- nhamento do médico obstetra. A indicação deverá
exaustão materna. Para evitar isto, e também para • Polidrâmnios; cos, analgesia e amniotomia, contribuin- ser justificada e registrada em prontuário da paciente.
que aumente a satisfação e conforto maternos, • Hemorragia por placenta prévia marginal; do para diminuir a incidência de cesárea;
deve-se oferecer à gestante em trabalho de parto a • Descolamento prematuro da placenta;
livre ingestão de líquidos sem resíduos (sucos sem • Feto morto ou malformação fetal. 11 Friedman E. Graphic analysis of labour. American Journal of Obstetrics and Gynecology 1954;68:1568-75.
12 Philpott RH. Graphic records in labour. BMJ 1972;4:163.
polpa, chás, café, bebidas isotônicas e gelatina) e/ 13 Anonymous 1994. World Health Organization partograph in management of labour. World Health Organization Maternal Health and Safe Motherhood Programme. Lancet 343
14 Lavender T, Hart A, Smyth RMD. Effect of partogram use on outcomes for women in spontaneous labour at term. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, Issue 7. Art. No.:
CD005461. DOI: 10.1002/14651858.CD005461.pub4. (8910): 1399-404.
15 Freeman RA, Nageotte M. A protocol for the use of oxytocin. Am J Obstet Gynecol. 2007: 197:445-6.
1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: 16 Brown HC, Paranjothy S, Dowswell T, Thomas J. Package of care for active management in labour for reducing caesarean section rates in low-risk women. Cochrane Database of
https://www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations Systematic Reviews 2013, Issue 9. Art. No.: CD004907. DOI: 10.1002/14651858.CD004907.pub3

22 23
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Posicionamento da mulher durante o trabalho cabeça fetal (em particular sobre a bossa serossan- 5.3.3 Monitorização fetal durante o trabalho de parto
de parto guínea quando as membranas estão íntegras) e fa-
vorece a rotação cefálica interna17. Para favorecer a Ausculta fetal intermitente (1) Presença de líquido amniótico meconial (Ver
As evidências indicam que o trabalho de parto
17
posição vertical é importante que a mulher tenha à item 5.3.6 - Líquido amniótico meconial);
é mais fisiológico quando se permite que a mulher sua disposição materiais e utensílios que a auxiliem A ausculta fetal intermitente deve ser o método (2) Frequência cardíaca fetal anormal detec-
adote livremente a posição vertical, porque: nesse processo, tais como cadeiras, bancos, bolas, de escolha para avaliação do bem-estar fetal intra- tada na ausculta intermitente (menor que
poltronas e escada de Ling, além de espaço e liber- parto , devendo ser realizada antes, durante e após 110 bpm ou maior que 160 bpm);
• O ângulo entre o eixo fetal e o estreito supe- dade para se movimentar e mudar de posição du- uma contração, em intervalos de 15 a 30 minutos (3) Hipertermia materna;
rior favorece o encaixamento fetal na pelve; rante o trabalho de parto. durante o primeiro estágio do trabalho de parto. (4) Sangramento vaginal anormal durante o
• As contrações são mais intensas e eficientes; Embora a mulher deva ser encorajada a adotar trabalho de parto;
• A mulher se sente mais confortável e sen- a posição vertical, ela deve ter liberdade de esco- Monitorização fetal eletrônica contínua (5) Uso de ocitocina artificial para indução
te menos dor; lher em que posição quer ficar durante o trabalho (cardiotocografia) ou aceleração do trabalho de parto;
• A duração do trabalho de parto se encurta. de parto. Se escolher a posição horizontal, deve ser (6) Solicitação da gestante;
Existem evidências de que a posição vertical estimulado o decúbito lateral esquerdo para preve- O uso da monitorização fetal eletrônica contínua (7) Após instalação e repique de analgesia
encurta o trabalho de parto em cerca de 25%, não nir a hipotensão materna, que aumenta o risco de não melhora os resultados perinatais se utilizada farmacológica;
influi no momento da rotura espontânea das mem- hipóxia fetal (síndrome supino-hipotensiva). sem indicação precisa, aumenta as intervenções no (8) Feto com risco aumentado de hipóxia
branas, nem sobre a frequência da modelagem da parto e diminui a satisfação da mulher. Por isto, a intra-parto (CIUR)
cardiotocografia não deve ser realizada como roti- Recomendações para análise do traçado
na nem na admissão nem no acompanhamento do cardiotocográfico estão disponibilizadas
trabalho de parto em mulheres e fetos saudáveis. As no Anexo 6.3. “Recomendações para inter-
indicações para o uso de cardiotocografia são: pretação do traçado da Cardiotocografia”.

5.3.4 Avaliação do progresso da dilatação e descida da apresentação


A avaliação do progresso da dilatação e descida • Estar ciente do fato de que para muitas
da apresentação fetal no canal de parto deverá ser mulheres que já estão sentindo dor e em
realizada por meio de exame genital (toque), em um ambiente não familiar, os toques va-
geral a cada 4 horas, dependendo da evolução do ginais podem ser bastante estressantes;
trabalho de parto ou de acordo com outras neces- • Assegurar o consentimento, privacidade,
sidades (por exemplo após amniorrexe ou sob soli- dignidade e conforto da mulher no mo-
citação da mulher). No momento do exame genital mento do exame;
deve-se considerar os seguintes aspectos: • Explicar a razão do exame e como será rea-
lizado e explicar os achados para a mulher;
• Certificar-se de que o exame é realmente • Múltiplos toques simultâneos, principal-
necessário e irá acrescentar informações mente por mais de um examinador, de-
importantes no processo de decisão; vem ser mandatoriamente evitados.

5.3.5 Rotura prematura de membranas no termo (RPMT)


Em 60% dos casos de RPMT (rotura espontânea neo do trabalho de parto) implica em maior taxa de
com idade gestacional > 37 semanas na ausência infecção materna e neonatal e maior tempo de du-
de trabalho de parto), o trabalho de parto aconte- ração do trabalho de parto18. Por isto recomenda-se
cerá espontaneamente em 24 horas. Entretanto, a que a gestante com RPMT seja internada e que se
conduta conservadora (aguardar o início espontâ- proceda a indução de parto.

Figura 3 - Posições maternas para o Trabalho de parto

18 Dare MR, Middleton P, Crowther CA, Flenady VJ, Varatharaju B. Planned early birth versus expectant management (waiting) for prelabour rupture of membranes at term (37 weeks
17 Silva LBD, Silva MP, Martins PC, Ferreira QTM. Posições maternas no trabaho de parto e parto. Femina; 35(2): 101-106. Fev 2007. or more). Cochrane Database Syst Rev. 2006(1)

24 25
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

5.3.6 Líquido amniótico meconial 5.3.7.1 Métodos não farmacológicos de alívio da dor no parto
Na presença de líquido amniótico meconial, devem ser comunicados e disponibilizados no mo- Para muitas mulheres, o alívio da dor pode ser • Toques corporais e massagens: O to-
recomenda-se a realização imediata de cardiotoco- mento do nascimento (pediatra/neonatologista e obtido apenas com suporte físico e emocional ade- que é uma forma universal de comu-
grafia (CTG). Se o líquido meconial for classificado enfermeiro treinado). quado. Ela deve se sentir segura e estar bem orien- nicação. Uma mulher em trabalho de
como fluido (+), deve-se realizar CTG intermitente Não se deve realizar a sucção da nasofaringe e tada sobre a evolução do parto. A presença de um parto pode se sentir confortável ou não
durante o trabalho de parto. Se o líquido meconial orofaringe logo após a saída da cabeça do bebê. Se familiar e/ou doula pode contribuir para a redução com o toque manual em seu corpo, rea-
for classificado como moderado a espesso (++ ou o bebê nascer deprimido, laringoscopia e sucção da intensidade dolorosa. As massagens corporais, lizado por profissionais da assistência ao
+++), recomenda-se monitorização fetal contínua. com visão direta deverá ser realizada por profissio- banhos, deambulação ativa, técnicas de respiração parto ou por seu(s) acompanhante(s).
Profissionais treinados em reanimação neonatal nal treinado em reanimação neonatal19. e relaxamento, livre posicionamento, toques confor-
tantes, utilização das bolas de nascimento e outras • Banhos de aspersão (chuveiro): A
medidas de suporte físico e emocional devem ser água morna causa relaxamento mus-
5.3.7 Alívio da dor no parto estimulados como alívio da dor. cular e, para muitas mulheres, promo-
ve alívio da dor do parto. A parturien-
A satisfação no parto não está condicionada à au- Toda mulher deve se sentir livre para escolher a • Técnicas de relaxamento: A dor do par- te pode ficar em baixo do chuveiro de
sência de dor, mas depende de vários fatores, como: técnica de alívio da dor que pode ajudá-la durante to, como outras dores, é um sentimento pé, sentada em um banco de plástico
ambiência (locais de parto “home-like” se associam o parto. Desta forma, tanto métodos farmacológi- subjetivo. Por isto, técnicas que promo- ou na bola de Bobbat.
a maior satisfação da mulher), presença de acompa- cos quanto não farmacológicos devem ser dispo- vam relaxamento e concentração podem
nhante, qualidade da relação com o(s) cuidador(es) nibilizados pelos serviços de assistência obstétrica funcionar para algumas mulheres como • Banhos de imersão: A imersão em
e possibilidade de participação ativa nas decisões a e serem conhecidos pelos profissionais assistentes métodos efetivos de alívio. Existem di- água durante o trabalho de parto dimi-
respeito do seu cuidado20. Alguns procedimentos do parto. É importante que já durante o acompa- versas técnicas de respiração profunda e nui a necessidade de analgesia farma-
rotineiros, muitas vezes considerados pelos profis- nhamento pré-natal as mulheres sejam informadas concentração no movimento respiratório cológica e é um método efetivo para
sionais da assistência como necessários, podem ser sobre benefícios e potenciais efeitos do uso de dife- que são praticadas por mulheres e ensi- alívio da dor para muitas mulheres24. A
considerados pelas mulheres como desagradáveis e rentes métodos de alívio da dor do parto. nadas com este objetivo. Também téc- temperatura da água e da mulher de-
até degradantes. Em geral, quanto menos interven- Revisão sistemática recente da biblioteca Co- nicas da yoga podem ser extremamente vem ser monitoradas de hora em hora,
ções, maior é a sensação de controle da experiência chrane22 classificou os métodos de alívio da dor importantes principalmente em mulhe- para assegurar que a mulher está con-
pela mulher e consequentemente maior é a satisfa- em: (1) métodos com evidências científicas de que res que se prepararam para tal. fortável e não está com hipertermia.
ção com a experiência do nascimento21. promovem alívio efetivo da dor: analgesia farma- A temperatura da água não deve ser
Expectativas flexíveis e a preparação para o parto cológica regional ou inalatória; (2) métodos que, • Vocalização: A vocalização da mulher du- superior a 37,5ºC. As banheiras utiliza-
podem influenciar o bem-estar da mulher durante segundo evidências científicas atuais, podem pro- rante o trabalho de parto não é uma ati- das deverão ser limpas de acordo com
e após o parto. Apesar de a dor extrema poder re- mover alívio efetivo da dor: imersão em água, re- tude negativa. Para muitas mulheres ge- protocolo estabelecido em conjunto
sultar em trauma psicológico para algumas mulhe- laxamento, acupuntura, massagem e (3) métodos mer ou repetir palavras pode ser um meio com serviço de controle de infecção
res, para outras os efeitos indesejáveis dos métodos sem evidência suficiente de que promovam alívio para relaxar e lidar com a dor. Rotinas hospitalar da unidade. No caso de ba-
farmacológicos de alívio da dor podem influenciar efetivo da dor: hipnose, biofeedback, aromatera- ritualísticas ou repetitivas que algumas nheiras específicas para parto, a limpe-
negativamente a experiência do nascimento. O pia e TENS (Transcutaneos Eletrical Nerve Stimu- utilizam por sua própria conta podem ser za deverá ser realizada de acordo com
importante é que as necessidades individuais da lation - Estimulação Nervosa Eletrônica Transcutâ- efetivas. Por isto devem ser respeitadas e a recomendação do fabricante.
mulher sejam reconhecidas por meio de um bom nea). Recomenda-se que todos os métodos sejam não devem ser interrompidas se a mulher
processo de apoio e comunicação, devendo-se apresentados à mulher e estejam disponíveis pois, estiver confortável dessa maneira. • Acupuntura e acupressura: A acupun-
estar alerta para as mudanças de comportamento mesmo métodos que não possuem evidência de tura, usada durante séculos na me-
durante o trabalho de parto, notadamente para si- alívio efetivo da dor do parto podem ser efetivos • Posições: Se a ambiência é favorável, é dicina tradicional chinesa, envolve a
nais graves de estresse e esgotamento, o que pode para uma mulher específica. Desta forma, não há comum que a mulher assuma uma varie- colocação e manipulação de agulhas
indicar a necessidade de utilização de um método sentido em coibi-los já que não apresentam efeitos dade de posições durante o trabalho de muito finas em pontos específicos do
mais efetivo de alívio da dor. adversos para a parturiente e seu bebê. parto, o que diminui a chance de que ela corpo, o que causa um bloqueio de
sinta necessidade de usar analgesia far- certos impulsos nervosos e estimula
macológica23. a liberação de analgésicos naturais e

19 Maria Fernanda Branco de Almeida & Ruth Guinsburg. Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria: Condutas 2011); Disponível em http://www.sbp.
com.br/pdfs/PRN-SBP-ReanimacaNeonatal-2011-24jan11.pdf.
20 Am Fam Physician. 2003 Sep 15;68(6):1109-12. The nature and management of labor pain: part I. Nonpharmacologic pain relief. Leeman L1, Fontaine P, King V, Klein MC, Ratcliffe S.
21 Hodnett ED. Pain and women´s satisfaction with the experience of childbirth: a systematic review. Am J Obstet Gynecol 2002: 186 (sSuppl 5):S160-172
22 Jones L, Othman M, Dowswell T, Alfirevic Z, Gates S, Newburn M, Jordan S, Lavender T, Neilson JP. Pain management for women in labour: an overview of systematic reviews. 23 Simkin PP, O´Hara MM. Nonpharmacologic relief of pain during labor: systematic reviews of five methods. Am J Obstet Gynecol 2002; 186 (Suppl 5): S131-59
Cochrane Database of Systematic Reviews 2012, Issue 3. Art. No.: CD009234. DOI: 10.1002/14651858.CD009234.pub2. 24 Berghella V, Baxter JK, Chauhan SP. Evidence-based labor and delivery management. AJOG 2008 445-454.

26 27
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

endorfinas, diminuindo a dor do parto Apesar de não haver evidências científicas onde a analgesia não é realizada no quarto deverá ser contactado para checar posi-
e também diminuindo a necessidade suficientes sobre sua eficácia para alívio PPP). Também é possível que ela não retor- cionamento do cateter e/ou necessida-
de utilização de métodos famacológicos efetivo da dor do trabalho de parto, é um ne mais ao quarto PPP (se houverem com- de de nova dose;
para alívio da dor. A acupressão não usa método seguro, sem contraindicações, plicações após a instalação da analgesia); 4- O nível de bloqueio sensorial deve ser
agulhas e sim a aplicação de pressão so- podendo ser utilizado por mulheres que • A deambulação, após instalação da analge- testado a cada hora;
bre esses pontos. Como existem evidên- se interessarem pelo método. sia, poderá ser possível, porém numa área 5- Após a analgesia, se a mulher desejar e
cias consistentes da efetividade destes restrita e com acompanhamento, pois po- tiver condições para tal, estimular a de-
métodos, seu uso deve ser estimulado25. • Bolas de nascimento (Bobbat): Para alí- derá diminuir o controle dos membros26. ambulação e posições não supinas;
vio da dor durante o trabalho de parto a 6- Infusão venosa de ocitocina não deve ser
• Musicoterapia: O uso de música de acor- gestante pode se sentar na bola em uma Cuidados específicos para mulheres com analgesia utilizada de rotina para mulheres com
do com a escolha da mulher pode ter posição de cócoras apoiada com contra- analgesia farmacológica;
efeito positivo por gerar mais conforto e pressão mínima sobre o períneo (como 1- Ao solicitar analgesia farmacológica, a par- 7- Após a administração de analgesia regio-
relaxamento para ela. se senta em um vaso sanitário). A pessoa turiente deve ter um acesso venoso com nal e depois de cada dose de repique, re-
que a apoia é colocada em uma cadeira infusão de fluidos previamente testado; comenda-se monitorização contínua dos
• TENS: Acredita-se que o TENS estimula o atrás ou de frente para a mulher enquan- 2- Durante o estabelecimento da analge- batimentos fetais por 30 minutos.
corpo a produzir endorfinas, desta ma- to ela fica livre para rolar para frente e sia e depois de cada dose de repique, a
neira bloqueando o sinal doloroso que é para trás ou balançar gentilmente. Isto pressão arterial deve ser monitorada; Para melhor detalhamento sobre analgesia far-
enviado ao cérebro pela medula espinhal ajuda a parturiente porque promove um 3- Se a mulher não apresentar alívio da dor macológica ver Anexo 6.7. “Recomendações da
durante as contrações. Os aparelhos de movimento rítmico, distração, relaxa- após 30 minutos de estabelecimento da SAMG para realização de analgesia em mulheres em
TENS portáteis foram especialmente de- mento e pode melhorar as dimensões da medicação, o médico anestesiologista trabalho de parto”.
senhados para uso durante o trabalho de pelve (aumentando os diâmetros), desta
parto. Eletrodos são conectados na região forma favorecendo o progresso do parto
lombar e a própria mulher é quem contro- e a descida fetal. 5.4 Assistência no segundo período do trabalho de parto
la a intensidade da corrente elétrica, po-
dendo variar durante e após as contrações. A conduta ideal a ser adotada no segundo período parto vaginal, que deve ser maximizada, contra os ris-
deve se basear no balanço entre a probabilidade de um cos maternos e perinatais, que devem ser minimizados.

5.3.7.2 Métodos farmacológicos de alívio da dor no parto


5.4.1 Definições do segundo período do trabalho de parto
Toda gestante em trabalho de parto deve ter as- • Tecnicamente bem realizada não aumenta a
segurado o acesso à analgesia farmacológica quan- duração do primeiro período do trabalho de O segundo período do trabalho de parto, período 2- Fase ativa do segundo período: se inicia
do demandar. É importante que a equipe assistente parto e não aumenta a chance de cesariana; expulsivo ou período pélvico, é dividido em duas fases: quando o polo cefálico fetal já é visível
a informe sobre os riscos e benefícios da analgesia • Não causa dor nas costas em longo prazo; ou quando há contrações expulsivas in-
farmacológica e suas implicações. Abaixo algumas • As soluções analgésicas podem conter opio- 1- Fase passiva do segundo período: pre- voluntárias.
informações que devem ser compartilhadas com as ides, que atravessam a placenta e podem sença de dilatação cervical completa na
mulheres que desejarem usar métodos farmacoló- causar dificuldade respiratória no recém- ausência de contrações expulsivas invo-
gicos para alívio da dor no trabalho de parto1: -nascido quando utilizadas em altas doses; luntárias (puxos maternos);
• Após realização de analgesia farmacoló-
• A analgesia farmacológica é um método gica a mulher não poderá mais usar ba-
efetivo para alívio da dor do parto, entre- nhos de imersão ou aspersão nem usar a 5.4.2 Duração do segundo período do trabalho de parto
tanto, não é isenta de riscos, diferentemen- bola de Bobbat;
te dos métodos não-farmacológicos, que • Um acesso venoso será obtido e mantido O manejo seguro e eficaz do segundo período do, que pode variar de acordo com a definição do
não apresentam efeitos adversos; até o fim do parto; do trabalho de parto representa um desafio para as seu início. Para os propósitos deste protocolo, e de
• Está associada à maior duração do se- • Apesar de não haver qualquer recomenda- mulheres em trabalho de parto e para os profissio- acordo com outros protocolos internacionais1,3a, as
gundo período do trabalho de parto e ção para isso, o local de realização da anal- nais da assistência obstétrica. Não existe consenso seguintes definições de duração para o segundo
aumenta a chance de parto instrumental gesia poderá ser diferente do local onde a respeito da duração máxima do segundo perío- período do trabalho de parto são recomendadas:
(fórceps e vácuo-extrator); a mulher se encontra (para maternidades

1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: ht-
25 Knobel Roxana. Técnicas de Acupuntura para Alívio da Dor no Trabalho de Parto: Ensaio Clínico. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [serial on the Internet]. 2002 Sep [cited 2015 Mar 19]; 24(8): tps://www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations
561-561. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032002000800010&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-72032002000800010. 3.a Guia de prática clínica sobre cuidados com o parto normal. GUIAS DE PRÁTICA CLÍNICA NO SNS. MINISTÉRIO DA SAÚDE E POLÍTICA SOCIAL.Vitoria-Gasteiz 2010. Disponível em:
1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: ht- http://www.euskadi.net/ejgvbiblioteka
tps://www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations 26 Gupta JK, Hofmeyr GJ, Smith. Position for women during second stage of labour for women without epidural anaesthesia. COchrane Database System Rev. 2004; (1) CD002006.

28 29
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Fase passiva do Fase ativa do Duração total do parto nas posições verticais (incluindo de pé, andan- Em conclusão, recomenda-se que, durante o segun-
segundo período segundo período segundo período do, ajoelhada, agachada ou sentada em mais de 60 do período do trabalho de parto, as mulheres adotem
Nulíparas sem analgesia 2 horas 1 hora 3 horas graus em relação à horizontal) em comparação coma a posição que lhes seja mais cômoda e que os profissio-
Nulíparas com analgesia 2 horas 2 horas 4 horas posição supina29. nais da assistência incentivem posições não litotômicas.
Multíparas sem analgesia 1 hora 1 hora 2 horas
Multíparas com analgesia 2 horas 1 hora 3 horas

5.4.3 Monitorização do bem estar materno e fetal no segundo


período do trabalho de parto
A avaliação do progresso do segundo período do suspeita de bradicardia deve-se checar o pulso ma-
trabalho de parto inclui: observar o comportamento terno, para diferenciar as duas frequências cardíacas.
materno, a eficácia do puxo e o bem estar fetal. A Em caso de alteração da frequência cardíaca fetal ou
decisão sobre o(s) momento(s) da realização de exa- suspeita de alteração a cardiocotografia poderá ser Figura 5 - Posição inglesa, de Gaskin, ou de quatro apoios
me de toque vaginal irá depender destes fatores e da de extrema utilidade, devendo ser instalada se hou-
posição e altura da apresentação. Recomenda-se, de ver persistência da bradicardia sem que haja iminên-
acordo com o desejo da mulher, um exame de toque cia do nascimento.
a cada hora e a cada meia hora palpação abdominal A mulher deve ser hidratada, receber orientações
para verificar a frequência das contrações uterinas. sobre posições mais confortáveis e maneiras de ali-
A ausculta intermitente dos batimentos cardíacos viar a dor no período expulsivo. O suporte emocio-
fetais, neste período, deverá ser realizada a cada 5 nal, neste momento, é imprescindível.
minutos, durante e após cada contração. Se houver

5.4.4 Posições maternas para o período expulsivo


Na sociedade ocidental, a maioria das mulheres dá
a luz em decúbito dorsal, semideitada ou em posição
litotômica. A maioria dos tratados da especialidade
Figura 6 - Posição de Sims, francesa ou decúbito lateral esquerdo
recomenda posição de litotomia dorsal, por facilita-
rem a avaliação pelo profissional de saúde e a prática
de intervenções. Entretanto, as evidências atuais su-
gerem que as posições verticais e lateral (Sims), em
comparação com as posições supina e litotômica,
para o período expulsivo, estão relacionadas com re-
dução da duração do segundo período, do número
de partos operatórios, da dor intensa e de alterações
da frequência cardíaca fetal27.
As mulheres que adotam a posição de quatro
apoios (posição inglesa ou de Gaskin) apresentam
menos dor lombar e perineal pós-parto, além da
percepção de um parto mais curto28.
Em mulheres com analgesia regional observa-se
uma redução da duração do segundo período do Figura 4 - Posição sentada em banquinho de parto

27 Ragnar I, Altman D, Tyden T, et al. Conparison of the maternal experience and duration of labour in two upright delivery positions - A randomised controlled trial. BJOG 2006; Figura 7 - Posição de cócoras Figura 8 - Posição semissentada em cama de parto
113(2):65-70.
28 Roberts CL, Algert CS, Cameron CA, TOrvaldsen S. A meta-analysis of upright positions in the second stage to reduce instrumental deliveris in women with epidural analgesia. Acta
Obstet Gynecol Scand 2005; 84(8): 794-8. 29 Verheijen EC, RAven JH, Hofmeyr GJ. Fundal pressure during the secund stage of lagour. Cochrane Database Syst Rev. 2009; (4): CD006067

30 31
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

5.4.5 Manobra de Kristeller 5.4.9 Intervenções para reduzir o trauma perineal


A manobra de Kristeller é a expressão do fundo materno-fetal, principalmente, quando executada O interesse por estratégias capazes de diminuir o incluindo massagem perineal intraparto, técnica de
uterino durante as contrações utilizando as mãos com o antebraço ou cotovelo. Em função dos riscos risco de trauma perineal durante o parto tem crescido, flexão, manobra de Ritgen, uso de compressas mor-
para empurrar o feto em direção ao canal de parto conhecidamente associados ao uso desta manobra já que as evidências recomendam episiotomia restriti- nas e práticas hands on (posicionamento das mãos de
durante o período expulsivo. e pela ausência de benefícios com sua realização a va e persiste a controvérsia sobre a melhor maneira de modo a controlar a deflexão da cabeça fetal) e hands
Seus riscos incluem: rotura uterina, lesões peri- prática da manobra de Kristeller é formalmente con- proteger o períneo durante o nascimento34. Existem off (mãos do assistente são mantidas preparadas mas
neais graves, tocotraumatismo e maior hemorragia traindicada30. diversas técnicas propostas para proteção perineal, sem tocar na cabeça fetal e no períneo).

5.4.6 Uso de antissépticos vaginais


Uma prática comum observada é a instilação de sibilidade local e dor perineal no momento do nas-
antissépticos na vagina e/ou vulva da parturiente no cimento, não está associada a melhores resultados
momento do nascimento, com o objetivo de dimi- maternos e neonatais: não diminui infeccção, corio-
nuir a incidência de infecção local e complicações amnionite, endometrite e sepse neonatal31. Desta
na cicatrização perineal. Essa prática, além de causar maneira não deve ser realizada antissepsia vaginal
desconforto à mulher, que apresenta extrema sen- e/ou vulvar de rotina.

5.4.7 Uso de ocitocina no segundo período do trabalho de parto


O uso de ocitocina artificial no segundo período gressão no segundo período do trabalho de parto”),
do trabalho de parto deve seguir os mesmos princí- associada à hipodinamia uterina. Este diagnóstico
pios das recomendações para seu uso no primeiro deverá ser feito por médico obstetra após avaliação
período do trabalho de parto. Recomenda-se seu criteriosa da parturiente, já que o uso indiscrimina-
uso apenas quando houver parada de progressão do de ocitocina associa-se a maior risco de hipóxia
no segundo período (veja item 5.9.3. “Parada de pro- fetal no período expulsivo16.

Figura 9 - Manobra de Ritgen: Pressão moderada e compressão no períneo


5.4.8 Episiotomia posterior (mento fetal) e controle da deflexão da cabeça com mão oposta.

Introduzida na prática clínica no século XVIII, a episioto- a realização de episiotomia de rotina. Esta deve ser reali-
mia tem sido amplamente utilizada durante o parto, apesar zada em casos seletivos, como na suspeita de alteração Sumariamente e considerando as limitações das tiva, além de causar desconforto para a
da ausência de evidências científicas sobre seus benefícios, do bem estar fetal ou para o parto instrumental32,33. evidências atuais, recomenda-se que: parturiente36,37;
sendo portanto um procedimento bastante controvertido. Quando indicada a realização de episiotomia, é in- 3- A aplicação de compressas mornas é re-
A justificativa visava à redução do risco de lacerações peri- dispensável que a mulher seja informada sobre o proce- 1- A técnica de flexão e a manobra de Ritgen comendada durante o segundo período
neais, disfunção do assoalho pélvico e incontinência urinária dimento e esteja com analgesia efetiva. A técnica reco- não devem ser usadas porque agem contra do trabalho de parto, se for desejo da
e fecal. Pensava-se que os benefícios potenciais para o feto mendada é a de episiotomia mediolateral começando na o mecanismo normal do trabalho de parto35; mulher, pois reduz o risco de lacerações
eram devidos a um encurtamento do período expulsivo, o comissura posterior dos lábios menores e orientando-a 2- A massagem perineal não deve ser rea- de terceiro e quarto graus e a dor nos
que facilitava um maior número de partos espontâneos. habitualmente para o lado direito. O ângulo com relação lizada por profissionais de saúde no se- três primeiros dias após o parto;
Entretanto, além de não ter benefícios, a episiotomia ao eixo vertical deverá ficar entre 45 e 60 graus. gundo período do trabalho de parto, por 4- Ambas as técnicas hands on ou hands off
ainda tem efeitos adversos potenciais, incluindo extensão Mesmo para mulheres que tiveram lacerações de ter- não apresentar evidência de que é efe- podem ser empregadas1.
para lacerações de terceiro e quarto graus, disfunção do ceiro e quarto graus prévias, a episiotomia não deve ser
esfíncter anal e dispareunia. Por isto, não é recomendada realizada de rotina1.
1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: ht-
1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: ht- tps://www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations
tps://www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations 34 Myrfield K1, Brook C, Creedy D. Reducing perineal trauma: implications of flexion and extension of the fetal head during birth. Midwifery. 1997 Dec;13(4):197-201.
16 Brown HC, Paranjothy S, Dowswell T, Thomas J. Package of care for active management in labour for reducing caesarean section rates in low-risk women. Cochrane Database of 35 Stamp G, Kruzins G, Crowther C. Perineal massage in labour and prevention of perineal trauma: randomised controlled trial. BMJ 2001; 322(7297):1227-80.
Systematic Reviews 2013, Issue 9. Art. No.: CD004907. DOI: 10.1002/14651858.CD004907.pub3 36 World Health Organization. Maternal and newborn haelth/safe motherhood division of reproductive health. Care in Normal Birth: a practical guide. Report of a Technical
30 Cochrane Database Syst Rev. 2014 Sep 14;9:CD004070. doi: 10.1002/14651858.CD004070.pub3. Vaginal chlorhexidine during labour for preventing maternal and neonatal infec- Working Group. Ginebra 1996;[Citado: 12 feb 2008]. Disponível em: http://www.who.int/making_pregnancy_safer/publications/archived_publications/care_in_normal bir-
tions (excluding Group B Streptococcal and HIV). Lumbiganon P1, Thinkhamrop J, Thinkhamrop B, Tolosa JE. th_practical_guide.pdf _
31 Amorim MMR, Katz L. O papel da episiotomia na obstetrícia moderna. Femina; 36 (1)47-54, jan. 2008. 37 Brancato RM, Church S, Stone PW. A meta-analysis of passive descent versus immediate pushing in nulliparous women with epidural analgesia in the second stage of labor. J obstet
32 Carroli G1, Mignini. Episiotomy for vaginal birth. Cochrane Database Syst Rev. 2009 Jan 21;(1):CD000081. doi: 10.1002/14651858.CD000081.pub2. Gynecol Neonatal Nurs 2007; 37(1):4-12.
33 Assistência ao segundo e terceiro períodos do trabalho de parto baseada em evidências. FEMINA. Novembro 2010. vol 38 nº 11 587.

32 33
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

5.4.10 Manipulação do períneo no período expulsivo 5.4.12 Extração ativa dos ombros
Uma prática comum é a realização, pelo profissio- perinatais ou diminua o tempo do período expulsivo, Prática comum na assistência ao nascimento é a não é recomendada a extração ativa dos ombros
nal assistente, de massagem e distensão do períneo além de ser um procedimento incômodo e desconfor- tração fetal após desprendimento cefálico, na ten- pelo profissional assistente do período expulsivo.
com os dedos durante o período expulsivo, com a tável para a mulher. Recomenda-se que não seja feita tativa de “auxiliar” o nascimento dos ombros. Não Após o nascimento da cabeça, deve-se aguardar o
intenção de auxiliar nos puxos. Entretanto, não existe manipulação do períneo no período expulsivo36,37. existem evidências de que esta manobra ou outras nascimento espontâneo dos ombros e restante do
evidência de que esta prática melhore os resultados manobras diminuam a incidência de distócia de corpo fetal, exceto em situações nas quais ocorra
ombro nem melhore os resultados perinatais, além distócia de ombro, quando o profissional deverá
de ser desconfortável para a mulher e aumentar seguir as manobras recomendadas para tal.
5.4.11 Puxos maternos dirigidos a chance de lacerações perineais. Desta maneira,

Dirigir os puxos maternos durante o segundo período expulsivo recomenda-se que, associados
período do trabalho de parto constitui uma práti- aos puxos espontâneos, a mulher seja orientada a 5.5 Assistência no terceiro período do trabalho de parto
ca obstétrica controversa. De fato, os benefícios do manter a glote aberta: (boca aberta com mandíbu-
puxo dirigido são cada vez mais debatidos, mesmo la relaxada) e não prender a respiração39,40,41. Com O terceiro período do trabalho de parto é o perí- conduzido de forma passiva, deve-se respeitar sua
que o amplo uso da analgesia neuroaxial faça com a glote aberta durante os puxos, a mulher poderá odo compreendido entre o nascimento do bebê e escolha. A palpação e massagem uterina de rotina
que seja necessário dirigir o puxo em muitas vezes, emitir sons, como gritos ou gemidos. Esta expressão a saída completa da placenta, cordão e membranas. também devem ser evitadas, pois, além de serem
já que a mulher pode perder o puxo voluntário após é considerada fisiológica e não deve ser reprimida Existem duas abordagens para a assistência no desconfortáveis para a maioria das mulheres, não se
o uso da analgesia. pelos profissionais da assistência. terceiro período do trabalho de parto: manejo passi- associam a redução de riscos de complicações no
A evidência atual mostra que puxos não dirigidos vo e manejo ativo. O manejo passivo (ou fisiológico) terceiro período.
aumentam a segurança e a efetividade dos partos Atenção suportiva aos puxos maternos consiste em aguardar a dequitação espontânea. O Durante o terceiro período a parturiente deve ser
vaginais, reduzem os partos instrumentais e o tem- manejo ativo compreende três ações: uso de ocito- observada em sua condição física, coloração, respira-
po de puxo38. Desta maneira, recomenda-se o res- Durante os puxos, a mulher deve ser encoraja- cina (10 unidades intramuscular administrada após ção e perda sanguínea. Ela deverá receber sugestões
peito ao puxo espontâneo da mulher. Na ausência da a perceber seu corpo e o movimento de saída desprendimento biacromial), clampeamento do cor- para mudança de posição caso esteja desconfortável
de sensação de puxo (que acontece principalmente de seu bebê. A parturiente precisa de uma atitude dão umbilical entre 1 e 5 minutos e tração controlada neste momento (se teve o parto em posição vertica-
em mulheres com analgesia neuroaxial) a orienta- encorajadora e de apoio, se ela se sentir inibida ou do cordão. Estas condutas estão associadas com me- lizada poderá desejar deitar-se). Deverá ser coberta e
ção dirigida só deverá ser feita após concluída a fase amendrontada, a fase ativa do período expulsivo nor duração do terceiro período e redução do risco aquecida, juntamente com o recém-nascido, que, se
passiva do segundo período do trabalho de parto. poderá se prolongar. de hemorragia materna1. nasceu em boas condições deverá, neste momento,
O assistente do parto deve incentivar a mulher Esta diretriz recomenda manejo ativo no tercei- estar em contato pele-a-pele com sua mãe.
Manobra de Valsalva durante o momento dos puxos. É importante dizer ro estágio do trabalho de parto, já que se associa a É considerado normal que o terceiro período dure
a ela que cada puxo representa progressão do bebê melhores resultados perinatais. Entretanto, se a mu- 30 minutos em caso de manejo ativo e 60 minutos
A manobra de Valsalva para coordenação de no canal do parto e informá-la quando o períneo já lher informar que deseja que o terceiro período seja em caso de manejo passivo1.
puxos maternos consiste em orientar a mulher em estiver abaulado e quando já for possível a visualiza-
inspirar profundamente e depois fechar a boca (e, ção da cabeça do bebê. Se ela desejar, poderá visu-
consequentemente, sua glote), prender a respira- alizar a cabeça do bebê com um espelho e também 5.6 Assistência no quarto período do trabalho de parto
ção e empurrar o bebê para baixo durante cerca tocá-la. Estas simples medidas irão auxiliá-la nos
de 6 segundos, nas contrações. Manter a glote fe- puxos e diminuir o tempo da fase ativa do período O quarto período do trabalho de parto inicia-se infecção congênita, suspeita ou diagnóstico de co-
chada durante os puxos pode reduzir a oxigenação expulsivo, além de melhorar a satisfação da mulher após a saída completa da placenta e membranas. É rioamnionite, qualquer evento adverso intraparto
sanguínea e consequentemente, aumentar o risco com o processo do nascimento. um período muito importante de observação clíni- como febre materna, hemorragia intraparto, estado
de hipóxia fetal. Para melhorar o bem estar fetal no ca, pois podem acontecer complicações hemorrági- fetal não tranquilizador, baixo Apgar ao nascimento,
cas importantes, mesmo em partos fisiológicos. prematuridade a placenta deve ser adequadamente
Após a dequitação, deve-se realizar exame ma- armazenada para envio ao laboratório de anatomia
croscópico da placenta, cordão e membranas, com patológica, após consentimento da parturiente.
registro dos dados observados. Deve-se oferecer à Com a mulher em posição confortável e boa ex-
36 World Health Organization. Maternal and newborn haelth/safe motherhood division of reproductive health. Care in Normal Birth: a practical guide. Report of a Technical
Working Group. Ginebra 1996;[Citado: 12 feb 2008]. Disponível em: http://www.who.int/making_pregnancy_safer/publications/archived_publications/care_in_normal bir- mulher a possibilidade de ver sua placenta ou levá- posição da vulva e da vagina (deve-se ter boa ilumi-
th_practical_guide.pdf _
37 Brancato RM, Church S, Stone PW. A meta-analysis of passive descent versus immediate pushing in nulliparous women with epidural analgesia in the second stage of labor. J obstet
-la para casa, se for este o seu desejo. Entretanto, nação disponível e a mulher pode ser posicionada
Gynecol Neonatal Nurs 2007; 37(1):4-12. nos casos nos quais existe indicação para avaliação em posição de litotomia, com o auxilio de perneiras,
38 Murray SS, McKinney ES. Nursing care during labor and virt and intrapartum fetal surveillance. In: Fondations of maternal-Newborn Nursing. 4th Ed. St. Louis., MO: Saunders;
2006, pp.266-334. histológica da placenta (suspeita ou diagnóstico de caso o exame não seja possível fora desta posição),
39 Simpson KR, James DC. Effects of immediate versus delayed pushing during secund-stage labor on fetal well-beijng. Nurs Res. 2005; 54(3):149-157
40 Yao-Hua, Wang, RN, Liu, Shu-Hui,. Effectiveness of different pushing methods during the second stage of labor: A systematic review. Executive summary . Disponível em: http://
son.web.ym.edu.tw/front/bin/download.phtml?Part=100SYS&Nbr=451&Category=131.
41 Athukorala C, Middleton P, Crowther CA. Intrapartum interventions for preventing shoulder dystocia. Cochrane Database of Systematic Reviews 2006, Issue 4. Art. No.: CD005543. 1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: ht-
DOI: 10.1002/14651858.CD005543.pub2. tps://www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations

34 35
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

o profissional assistente do parto deverá proceder à • Quarto grau: lesão do períneo envolven- são recente da literatura e a portaria 371 do pelo pai do bebê. (Ver anexo 6.6.: Reco-
revisão do canal de parto (vagina e genitália exter- do o esfíncter e o epitélio anal. MS - Diretrizes para a atenção ao recém- mendações para profilaxia da conjunti-
na). Ele deve explicar à mulher detalhadamente o -nascido (ver link na pagina 3: Portaria 371 vite neonatal em Belo Horizonte);
que planeja realizar e porque esta revisão é necessá- Após exame local, o profissional deverá explicar à do Ministério da Saúde - Diretrizes para a • Banho: O primeiro banho do RN deve
ria. Ela deve entender que pode receber anestésicos mulher qual tipo de laceração ela teve (se for o caso) atenção ao recém-nascido), este protoco- ser postergado ao máximo: o intervalo
tópicos ou sistêmicos para este exame e que é im- e como será feito o reparo. Depois, também deverá lo recomenda que o clampeamento do mínimo entre o nascimento e o primeiro
portante que ela se sinta confortável e sem dor para orientar sobre analgesia e cuidados locais. cordão umbilical seja realizado em tempo banho deve ser de 6 horas para preve-
que o profissional tenha bom acesso às estruturas O reparo da lesão perineal (episiotomia ou laceração) oportuno, ou seja, entre 60 segundos e 3 nir a perda de calor. Deve-se incentivar
que precisam ser examinadas. poderá ser feito sob anestesia local ou neuroaxial. Se a pa- minutos após o nascimento. A laqueadura que o primeiro banho seja dado pela
A cavidade uterina não deve ser explorada de ro- ciente estiver com catéter em espaço peridural, deve-se do cordão deverá ser imediata apenas nas mãe ou outro familiar de sua escolha;
tina. Isto significa que, se o útero estiver contraído, o preferencialmente utilizar esta via para inserção de anesté- gestantes HIV, HTLV e HBsAg positivas com • Limpeza do recém-nascido: A limpeza
sangramento vaginal for de pequena quantidade e sicos, já que é mais efetivo e confortável do que a injeção o objetivo de reduzir a transmissão vertical da pele do RN com óleos e loções é
o exame da placenta e membranas sugerir que não local perineal. Lacerações de primeiro grau não deverão e nas isoimunizadas pelo fator Rh com o contra-indicada, pois retira a proteção
há retenção de tecidos intra cavitários, não se deve ser suturadas se não houver sangramento e se as bordas objetivo de reduzir a passagem de anti- natural da pele, aumentando a chance
pinçar o lábio cervical nem inserir instrumentos na estiverem bem próximas naturalmente sem sutura. corpos anti-Rh da classe IgG. É importante, de infecções de pele. Uma exceção são
cavidade uterina. O quarto período é um período importante de neste momento, incentivar a participação os filhos de mães HIV e HbsAg positivas.
Após exame do canal de parto, o profissional de- observação e vigilância das condições da mulher. do acompanhante, oferecendo que ele • Medidas antropométricas: peso, altura,
verá documentar o grau de laceração perineal, se- É essencial que sejam avaliados e registrados, de 30 corte o cordão umbilical; perímetro cefálico e abdominal deve-
gundo classificação abaixo: em 30 minutos nas primeiras duas horas após o par- • Realização de procedimentos com o re- rão ser realizadas apenas após a primei-
to, os seguintes parâmetros: mucosas, pressão arte- cém-nascido: Passada a primeira hora de ra hora de vida, no mesmo ambiente
• Primeiro grau: lesão apenas na pele; rial, temperatura, pulso, tônus uterino e sangramen- vida, o bebê será, então, recepcionado pela em que esteja a mãe do recém-nascido;
• Segundo grau: lesão da pele e muscula- to vaginal. É muito importante, também, observar equipe técnica de enfermagem, para reali- • Amamentação na primeira hora de vida:
tura perineal; as condições emocionais da mulher em resposta ao zação dos procedimentos de rotina, a saber: Assim que ocorre o nascimento os pro-
• Terceiro grau: lesão do períneo envolven- trabalho de parto e nascimento, e oferecer suporte • Injeção de vitamina K para profilaxia de fissionais de saúde presentes devem es-
do o esfíncter anal; a ela e seu(s) acompanhante(s) / familiar(es). doença hemorrágica do recém-nasci- timular o aleitamento ainda na primeira
do: Apesar de que a via oral em três hora, respeitadas as containdicações (in-
doses também ter efetividade clínica, fecção pelo HIV e uso de quimioterápi-
5.7 Assistência ao recém-nascido por questões práticas de organização cos). Médicos e enfermeiros devem evitar
do serviço e assistência no município, quaisquer procedimentos que interfiram
A maioria dos bebês nasce em boas condições e não devem ter uma visão ampliada e perceber a individualida- a via intramuscular é a recomendada; e dificultem o aleitamento na primeira
requer nenhum procedimento de reanimação. Os cui- de de cada mulher neste momento, respeitando-a no seu • Aplicação de colírio de antibiótico. Re- hora de vida do recém-nascido;
dados imediatos visam a prevenção da perda de calor, tempo e desejo. Fluxos e rotinas nas instituições devem comenda-se o uso de iodopovidona ou • Alojamento conjunto: Desde o nascimen-
incentivo ao vínculo mãe e filho e aleitamento materno. ser revistos visando garantir esta primeira hora que é mo- eritromicina, já que o nitrato de prata to, o bebê saudável deve permanecer as
O recém-nascido deve ser recebido em ambiente aco- mento único da mãe/família/bebê. tem proteção incompleta para clamídia, 24 horas do dia ao lado de sua mãe. A for-
lhedor, com temperatura de 26ºC, numa sala com poucos Muitos procedimentos realizados rotineiramente o principal agente da oftalmia neonatal. mação de laços afetivos é uma necessida-
estímulos sonoros e pouca luminosidade. Deve-se evitar com os bebês nas maternidades não são necessá- O vitelinato de prata (Argirol), embora de humana vital. Esses laços propiciam a
movimentos bruscos com o bebê, que ao nascer deve ser rios e outros são realizados de maneira inadequada. utilizado amplamente em nosso meio, base para o desenvolvimento psicológico
entregue delicadamente à sua mãe (ou recebido direta- Seguem-se as recomendações: também não é indicado. Apesar de a e social do indivíduo. Desde o nascimento
mente por ela), e só então coberto por campos aquecidos aplicação do colírio de antibiótico ser o bebê depende do adulto para sua so-
e secos. As primeiras horas de vida são consideradas crí- • Aspiração de vias aéreas: Não deve ser um procedimento obrigatório (inclusive brevivência. Os laços formados tornam-se
ticas para o sucesso da vinculação entre mãe e bebê. Os realizada de rotina, apenas em casos se- regulamentado pelo decreto-lei 9713, a maneira pela qual a criança e o jovem
primeiros 60 minutos são chamados de período sensível lecionados, quando há obstrução de vias de 1977), sabe-se que não é isento de alcançam um único e específico senso
do bebê: é o período em que ele está alerta e faz conta- aéreas pela secreção nasal e oral; riscos para o recém-nascido, já que o de si mesmo, adquirindo assim um senti-
to visual. Por isto, ao nascer o bebê deve permanecer em • Ligadura do cordão umbilical: O momen- produto utilizado pode causar conjun- mento de segurança necessário para pro-
contato pele a pele efetivo sobre o tórax/abdome mater- to ideal para clampeamento do cordão tivite química nos neonatos (mais co- gressivamente tornar-se mais autônomo
no, isto é, a mãe e o bebê sem roupas ou tecidos entre o umbilical após o nascimento tem sido as- mumente quando é utilizado o nitrato e independente. Aumenta a auto-estima
corpo dos dois. Esta simples ação estimula o vínculo mãe sunto controverso. Sabe-se que o clam- de prata quando comparado com a eri- e confiança da mãe e o desenvolvimento
e filho e o aleitamento materno, favorece a estabilidade peamento tardio se associa com maiores tromicina). Por isto, caso a família recuse de suas habilidades; propicia a identidade
térmica e cardiorrespiratória do recém-nascido, deixa o reservas de ferro para o recém-nascido, en- este procedimento deve-se anexar, ao dos pais como pais e o seu conhecimento
bebê mais calmo, além de dar a satisfação de sentir a pele tretanto, existe um pequeno aumento na prontuário, um termo de recusa de tra- com relação à criança; tranquiliza os pais
e o cheiro um do outro logo após o parto. Profissionais incidência de icterícia. Considerando revi- tamento, assinado pela paciente e/ou para a alta da maternidade;

36 37
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

• Reanimação neonatal: A necessidade de • Tem bom tônus muscular ou está em flexão? de dilatação, já que nos permite identificar e tratar Duas horas após a suspeita de atraso no primeiro pe-
reanimação neonatal depende da avalia- Se a resposta é sim a todas as perguntas, consi- precocemente o transtorno. Mesmo que os fatores ríodo e realização das medidas acima, deve-se realizar
ção rápida de quatro sinais referentes à dera-se que o recém-nascido tem boa vitalidade e etiológicos que podem levar a um atraso do primei- novo exame de toque vaginal: se o progresso da dila-
vitalidade do concepto. Segundo o Pro- não necessita de manobras de reanimação. Deve ser ro período do parto sejam variados, atividade uteri- tação for de menos de 1 cm, estabelece-se o diagnósti-
grama de Reanimação Neonatal da Socie- colocado no colo da mãe e, neste local e posição, de- na insuficiente constitui a causa mais comum e cor- co de parada da dilatação e recomenda-se estimulação
dade Brasileira de Pediatria20, o profissional verá ser avaliado pelo profissional de assistência neo- rigível de progressão anormal de trabalho. com ocitocina artificial. Antes do início da ocitocina por
que irá assistir o bebê imediatamente após natal, que irá registrar o índice de Apgar no primeiro Quando, numa mulher em fase ativa do trabalho via venosa, a mulher deve ser consultada e autorizar o
o nascimento deverá ter em mente respos- e quinto minuto de vida. Caso o bebê necessite de de parto, a progressão da dilatação cervical for infe- procedimento. Ela deve ser informada que poderá rece-
tas para quatro perguntas: reanimação neonatal, esta deverá ser prontamente rior a 2 cm em 4 horas deve-se suspeitar de atraso no ber analgesia farmacológica antes mesmo do início da
realizada por profissional capacitado, de acordo com primeiro período do trabalho de parto1. Apesar de ser medicação e que o uso de ocitocina artificial aumenta a
• Trata-se de uma gestação a termo? as recomendações da Sociedade Brasileira de Pedia- consenso universal que o trabalho de parto tende a chance de complicações no nascimento (estados fetais
• Ausência de mecônio? tria20 (Portaria 371 do MS - Diretrizes para a atenção ser mais rápido em multíparas quando comparadas não tranquilizadores, parto assistido e cesariana)1,3a.
• O bebê nasceu respirando ou chorando? ao recém-nascido - Veja link na página 3). com nulíparas, o mesmo critério deve ser aplicado Durante o uso de ocitocina venosa, está indicado
para identificação de atraso no primeiro período de monitoramento fetal contínuo através da cardiotoco-
trabalho de parto em ambos os grupos. grafia. A velocidade de infusão deverá ser aumentada
5.8 Assistência no puerpério Para estas mulheres deve-se oferecer suporte lentamente, a cada 30 minutos, até que se atinja 4
emocional, hidratação, um método efetivo para con- a 5 contrações em 10 minutos1,3a. A infusão deve se
O cuidado no puerpério deve auxiliar mulheres e involução uterina, características dos lóquios (cor, cheiro trole da dor e estimular movimentação. O medo é um iniciar em baixas doses (1 a 2 mUI/minuto) sendo que
seus parceiros durante a transição inicial para a ma- e quantidade), períneo e estado das mamas (consistên- componente potencialmente bloqueador do parto. a dose máxima não deve ultrapassar 40 mUI/minuto).
ternidade e a paternidade. Este período é de crucial cia, integridade dos mamilos, sinais de apojadura). Por isto a equipe deve estar preparada para a aborda- Após 4 horas do início da ocitocina artificial, novo
importância na formação do vínculo familiar com O estado emocional deve ser avaliado observan- gem adequada à mulher com suspeita de atraso no exame de toque deverá ser realizado e, caso a pro-
o bebê. A mãe deve ser estimulada a fazer contato do-se a aceitação da maternidade e a integração en- trabalho de parto, de forma que ela se sinta à vontade gressão da dilatação seja menor que 2 cm, deve-se
pele a pele com o RN e amamentá-lo sob livre de- tre mãe, pai e bebê, à procura de sinais que possam para expressar suas necessidades e medos1,3a. pensar na possibilidade de parada primária de pro-
manda. O ambiente deve ser tranquilo e acolhedor, sinalizar comprometimento emocional que aumente Se as membranas estiverem intactas, a amniotomia gressão e necessidade de cesariana. Se a dilatação
de modo a favorecer essa interação. o risco de depressão pós-parto. Se necessário, avalia- deve ser considerada, após orientação, para a mulher, cervical aumentar 2 cm ou mais após 4 horas de iní-
A avaliação rotineira durante a internação permite ção e acompanhamento deve ser realizado por pro- de que o procedimento poderá encurtar seu trabalho cio da ocitocina, recomenda-se que seja mantido o
detectar e intervir oportunamente quando ocorrerem fissionais do serviço psicossocial da instituição. de parto e aumentar a força e intensidade das contra- acompanhamento do trabalho de parto com novo
desvios dos limites fisiológicos do puerpério. Diariamen- O aconselhamento da puérpera deve acontecer ções, e desta maneira, aumentar também sua dor. exame cervical em 4 horas1,3a.
te deve-se verificar: queixas da mulher, presença de dor, de acordo com suas condições físicas e psicológicas e
checar pulso, temperatura, pressão arterial, condição abranger aspectos como nutrição, higiene, cuidados
das mucosas, aparelho digestivo e urinário, eliminações, com o RN, aleitamento materno e planejamento familiar. 5.9.2 Estado fetal não tranquilizador
Quando a frequência cardíaca fetal é considerada mento materno (tentar posições mais ver-
5.9 Assistência às anormalidades do trabalho de parto e nascimento anormal durante a ausculta intermitente, o manejo ticalizadas), correção de hipotensão mater-
imediato deve incluir: na ou tocólise (realizada através da infusão
Apesar de não ser objetivo deste documento as algumas situações foram selecionadas com reco- subcutânea de 0,25 mg terbutalina. Na au-
condutas diante de intercorrências durante o parto, mendações para o acompanhamento. 1- Instalação de cardiotocografia (CTG) (Ver sência desta, realizar infusão subcutânea
anexo 6.3. “Recomendações para inter- de 0,25 mg de salbutamol = ½ ampola);
pretação do taçado da Cardiotocografia”); 4- Se a paciente estiver recebendo ocitoci-
5.9.1 Parada de progressão no primeiro período do trabalho de parto 2- Considerar outros dados como idade ges- na endovenosa, a continuação da mes-
tacional, período do trabalho de parto, pro- ma dependerá da decisão médica após
O atraso no primeiro período do trabalho de par- tal, grau de proporção feto-pélvica, paridade, posi- gressão do trabalho de parto, CTG prévia; avaliação apurada do estado fetal:
to tem inúmeras definições e não há consenso na ção materna e estado das membranas. 3- Identificar quaisquer causas de anormali- • Se a CTG for normal, a ocitocina pode
literatura. Sua duração sofre influência de fatores Mesmo que a duração do parto não deva cons- dade reversíveis (como hipotensão mater- ser continuada até que se alcance 4
como paridade, prática assistencial, aspectos emo- tituir um fator-chave de preocupação por si só, seu na, compressão sustentada de cordão um- ou 5 contrações em 10 minutos ou
cionais e local do parto. O progresso da dilatação e prolongamento para além dos limites normais po- bilical, febre materna, hipertonia uterina) e a dose máxima de 40 mUI/minuto. A
a descida da apresentação não são funções lineares deria ser a primeira manifestação da existência de iniciar ação apropriada, como reposiciona- ocitocina deverá ser reduzida se mais
podendo estar influenciados por vários fatores, tais algum problema. A progressão da dilatação tem
como: variedade de posição, deflexão da cabeça fe- maior relevância do que a duração total do período 1 Intrapartum Care: Care of health women and their babies during childbirth. NHS: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guideline 2014. Disponível em: https://
www.nice.org.uk/guidance/cg190/chapter/1-Recommendations
3.a. Guia de prática clínica sobre cuidados com o parto normal. GUIAS DE PRÁTICA CLÍNICA NO SNS. MINISTÉRIO DA SAÚDE E POLÍTICA SOCIAL.Vitoria-Gasteiz 2010. Disponível em:
20 Am Fam Physician. 2003 Sep 15;68(6):1109-12. The nature and management of labor pain: part I. Nonpharmacologic pain relief. Leeman L1, Fontaine P, King V, Klein MC, Ratcliffe S. http://www.euskadi.net/ejgvbiblioteka

38 39
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

que 5 contrações em 10 minutos; ratório (quando possível) ou cesariana de emergência. no bloco cirúrgico e colocada em posição de lito-
• Se a CTG for suspeita, a decisão sobre Administração materna de oxigênio inalatório tomia após receber analgesia/anestesia. Então está
manutenção da ocitocina deverá consi- recomendada a extração manual da placenta se-
derar outros fatores clínicos maternos e A administração de oxigênio à parturiente é comu- guida de curetagem uterina e infusão de uterotô-
fetais e o período do trabalho de parto; mente realizada no intuito de melhorar a oxigenação nicos, se necessário.
• Se a CTG for patológica a infusão ve- fetal em casos de bradicardia fetal ou profilaticamente
nosa de ocitocina deverá ser suspensa. no segundo período do trabalho de parto. Entretanto, Hemorragia
não há evidências científicas que sustentem esta prá-
Em caso de frequência cardíaca fetal anormal per- tica, comprovando melhora do estado fetal. Portanto, Fatores de risco para hemorragia pós-parto:
sistente, a conduta deverá ser tocólise (quando indica- não está recomendado uso de oxigênio inalatório em
da) e parto imediato, podendo ser parto vaginal ope- caso de alterações de estado fetal não tranquilizador42. • Retenção placentária prévia ou hemorra-
gia pós parto prévia;
• Hemoglobina materna menor que 8,5g/dl;
5.9.3 Parada de progressão no segundo período do trabalho de parto • IMC > 35 kg/m2;
• Multiparidade (paridade maior que 4);
Quando há suspeita de atraso no segundo perío- de infusão de ocitocina deve ser avaliada. • Hemorragia anteparto;
do do trabalho de parto a equipe de cuidadores deve É esperado que o parto aconteça até 2 horas • Hiperdistenção uterina (polidrâmnios, ma-
observar se a mulher está excessivamente cansada. após o início da fase ativa do período expulsivo em crossomia, gemelaridade);
Ela deve receber apoio e encorajamento, sugestão de nulíparas e 1 hora em multíparas. Caso o parto não • Placenta de implantação baixa;
medidas que facilitem a progressão, como mudança seja iminente após este tempo, ou existam sinais de • Idade materna acima de 35 anos;
de posição, assim como oferta de analgesia (farmaco- comprometimento da vitalidade fetal, deve-se con- • Trabalho de parto induzido;
lógica e/ou não farmacológica) e amniotomia. Caso a siderar parto vaginal operatório. • Prolongamento do primeiro, segundo ou
parada de progressão não se resolva, a necessidade terceiro período do trabalho de parto;
• Uso de ocitocina artificial;
• Parto precipitado;
5.9.4 Parto vaginal operatório • Parto vaginal operatório.

O parto vaginal operatório é indicado quan- trator) dependerá do balanço entre a indicação clíni- O tratamento imediato para hemorragia pós-
do há sinais de estado fetal não tranquilizador ca e a experiência do obstetra. -parto inclui:
ou como tratamento para um segundo período Analgesia efetiva deverá ser realizada antes da
prolongado. Em raras ocasiões, também pode aplicação do instrumento. No caso de parto opera- • Pedir ajuda: o(s) profissional (is) do cuidado à
ser realizado em caso de exaustão materna, sob tório de urgência por suspeita de comprometimen- parturiente deverá(ão) solicitar a presença de
solicitação da mulher. to fetal, caso não haja tempo hábil para analgesia re- outro(s) profissional(s) para iniciar rapidamen-
A escolha do instrumento (fórceps ou vácuo-ex- gional, recomenda-se uso de bloqueio de pudendo. te a assistência emergencial à hemorragia;
• Massagem uterina;
• Infusão intravenosa de fluidos;
5.9.5 Complicações do terceiro período do trabalho de parto • Uso de uterotônicos: ocitocina, ergometrina
e misoprostol, de acordo com fluxograma.
As principais complicações no terceiro período do umbilical. Se após 30 minutos desta conduta ainda
trabalho de parto são retenção placentária e hemorragia. não tiver ocorrido a dequitação, a mulher deverá Maior detalhamento sobre o tratamento de he-
ser orientada sobre a necessidade de remoção ma- morragia pós parto pode ser obtido em protocolo
Retenção placentária nual da placenta. É preciso comunicar que o proce- municipal específico.
dimento é doloroso e que pode receber analgesia
Se após realização de manejo ativo no terceiro neuroaxial ou mesmo anestesia geral, para o pro-
período, em 30 minutos não ocorrer a dequitação cedimento. Durante o mesmo, caso ela ainda quei-
espontânea, a primeira conduta a ser tomada é ob- xe dor, o procedimento poderá ser interrompido e
ter acesso venoso calibroso na parturiente. A próxi- a analgesia reforçada.
ma conduta recomendada é injeção de 20 unida- Se a paciente estiver em ambiente de suíte de
des de ocitocina em 20 ml de solução salina na veia parto/ PPP, deverá ser encaminhada para uma sala

42 Cochrane Database Syst Rev. 2003;(4):CD000136. Maternal oxygen administration for fetal distress.Fawole B1, Hofmeyr GJ.

40 41
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

6.2 Orientações sobre preenchimento do partograma


6 Anexos
O partograma é feito numa folha de papel qua- dade de posição, apagamento do colo,
6.1 Partograma Recomendado pela PBH driculado, onde na abscissa (linha horizontal) colo- atividade uterina, bolsa das águas, pre-
ca-se o tempo em horas e, na ordenada (linha verti- sença ou não de mecônio, FCF, presen-
cal) à esquerda, a dilatação vertical e na ordenada à ça ou não de desacelerações intra parto.
direita, a descida da apresentação. Também deve-se preencher a hora em
que foi realizado cada exame no qua-
a) Cada coluna equivale a uma hora e cada drado da hora real;
linha a um centímetro de dilatação cer- f ) Cada coluna representa uma hora, se o
vical e de descida da apresentação; próximo exame é realizado após duas
b) Deve-se começar a marcar o valor da di- horas, a segunda coluna à direita é que
latação cervical à esquerda na primeira deverá ser preenchida, deixando em
coluna no momento em que as contra- branco a primeira coluna;
ções uterinas são efetivas (trabalho de g) Em partos de evolução normal a curva
parto ativo); de dilatação cervical se processa à es-
c) Por convenção marca-se a dilatação querda da linha de alerta;
cervical com um triângulo e a apresen- h) Na continuação da mesma coluna no
tação e respectivo desenho da varieda- quadro abaixo, há espaços para o pre-
de de posição numa circunferência na enchimento das seguintes variáveis:
mesma coluna de acordo com altura da hora real do exame; apagamento do
apresentação; colo uterino em percentagem; número
d) Inserir a linha de alerta a partir do canto de contrações em 10 minutos, durações
inferior direito da 1ª. Verificação da dila- das contrações (segundos); frequência
tação cervical (na fase ativa do trabalho cardíaca fetal (antes, durante e após as
de parto) e a linha de ação, a partir de contrações, detectando-se, portanto, a
04 quadrados à direita, ligando as dia- existência ou não de desacelerações da
gonais dos quadrados, com inclinação frequência cardíaca fetal intra parto (DIP
ascendente para a direita; ausente, DIP I - precoce, DIP II-tardia ou
e) A cada exame de toque vaginal (frequ- DIP III - variável); estado das bolsas (inte-
ência de realização de acordo com a gras ou rotas); mecônio (não, +, ++ ou
necessidade diante da progressão do +++); local para escrever alguma obser-
trabalho de parto) avalia-se dilatação vação, se necessária, e por último local
cervical, altura da apresentação, varie- para identificação do examinador.

6.3 Recomendações para interpretação do traçado da Cardiotocografia


As definições e classificações redomendadas
para o traçado cardiotocográfico produzido durante
monitorização fetal contínua intra-parto são mos-
tradas nas tabelas ao lado:

42 43
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Variável Linha de Base (bpm) Variabilidade (bpm) Desacelerações Categoria Definição Interpretação Conduta
Tranquilizadora 100-160 ≥5 Ausentes Continuar cuidado obstétrico normal. Se a CTG
DESACELERAÇÕES VARIÁVEIS com queda foi iniciada por causa de alterações na auscul-
da linha de base de até 60 bpm durando Três variáveis são tran- CTG normal, feto ta intermitente, deverá ser removida após 20
Normal
até 60 seg para recuperar, em mais de 50% quilizadoras saudável minutos de instalação se não há variável não
das contrações, ocorrendo por mais de 90 tranquilizadora ou anormal e não há fatores de
minutos. risco subjacentes.
• Se a linha de base for superior a 160, che-
OU
car temperatura e pulso. Se elevados, fazer
DESACELERAÇÕES VARIÁVEIS com queda hidratação (oral ou venosa) e uso de anti-
Não tranquilizadora 161-180 < 5 por 30-90 min da linha de base de mais que 60 bpm ou -térmico;
com recuperação em tempo maior que 60 Traçado em que uma va-
Suspeita • Iniciar uma ou mais medidas conservadoras:
seg, presentes por mais que 30 minutos, riável é classificada como
(com necessida- Risco aumentado • Colocar a mulher em decúbito lateral es-
em mais de 50% das contrações. não tranquilizadora e as
de de medidas de acidose fetal. querdo;
demais como tranquili-
OU conservadoras) • Hidratar com fluidos orais ou venosos;
zadoras
• Reduzir as contrações desligando a infusão
DESACELERAÇÕES TARDIAS presentes por de ocitocina e/ou realizacão de tocólise
maias que 30 minutos, ocorrendo em mais (com Salbutamol 0,25 mg SC ou Terbuta-
de 50% das contrações. lina 0,25 mg SC).
DESACELERAÇÕES VARIÁVEIS, em mais de Traçado em que uma va- • Iniciar medidas conservadoras;
50% das contrações, ainda observadas riável é classificada como • Nascimento deve ocorrer o mais rapidamen-
30 minutos após realização de medidas anormal e duas como te possível.
conservadoras. não tranquilizadoras. Padrão provavel-
OU Patológica mente associado a
OU
acidose fetal
< 5 por mais DESACELERAÇÕES TARDIAS presentes por Bradicardia abaixo de
Anormal < 100 ou > 180
que 90 min maias que 30 minutos, ocorrendo em mais 100 bpm persistindo por
de 50% das contrações, que não melhoraram 3 minutos ou mais.
após realização de medidas conservadoras.
Tabela 2- Definição de Cardiotocografia normal, suspeita e patológica
OU
Desaceleração única prolongada por mais
• Se acelerações estão presentes com variabi- mover a paciente para o sala cirúrgica. O
de 3 minutos
lidade reduzida, considerar tranquilizador; parto (vaginal ou cesariana) deverá ocor-
Tabela 1- Classificação das variáveis da Cardiotocografia (CTG) • Raras desacelerações precoces uniformes rer se os batimentos fetais não recupera-
são consideradas benignas, não tendo rem a normalidade em até 10 minutos;
significado clínico; • Taquicardia entre 160 e 180, com acelera-
• A maioria das desacelerações durante o ções presentes e sem outros sinais preo-
TP são variáveis; cupantes adversos, não deve ser conside-
• Se a bradicardia persiste por mais de 3 rada suspeita. Entretanto, a presença de
minutos, toda a equipe deve estar pre- outras variáveis não tranquilizadoras ou
parada para parto iminente. Isto inclui re- anormais sugere CTG patológica.

44 45
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

6.4 Plano de parto da PBH

PLANO DE PARTO A posição do parto deve ser escolhida pela mulher.

Para atendermos suas necessidades no parto é fundamental o registro prévio dos 5. Em qual posição deseja ter o parto?
seus desejos e expectativas. O acompanhamento do parto deverá iniciar quando ( ) Sentada/ Cócoras
( ) Deitada com cabeceira elevada
as contrações estão regulares e o colo do útero apresenta-se fino e dilatado. Em
( ) De lado
caso de perda de líquido ou sangue, mesmo sem contrações, a mulher deve pro-
( ) Outras: ______________________
curar o serviço de saúde. Poderá ter o acompanhante que desejar.
6. Em poucos casos pode ser necessário o corte da vagina.
1. Acompanhante que deseja durante a internação na maternidade: Caso necessário você deverá ser informada pelo profissional
( ) Marido/ parceiro/ pai do bebê ( ) Mãe e dar seu consentimento. Na hora do nascimento:
( ) Filha (o) ( ) Amigos ( ) Desejo que ninguém aperte minha barriga
( ) Outros familiares ( ) Doula ( ) Desejo que não manipulem meu períneo sem meu consentimento
( ) Nenhum ( ) Outros:___________________________
O bebê que nasce bem é secado e mantido em contato pele a pele com a mãe, antes
No trabalho de parto é recomendado que a mulher se movimente livremente. A posição mesmo de cortar o cordão. Este só deve ser cortado após parar de pulsar (depois de um
minuto de vida). O bebê deve ser colocado para mamar logo que nascer e permanecer
deitada de costas deve ser evitada. A raspagem dos pêlos é desnecessária, assim como
junto da mãe durante toda a internação hospitalar.
a lavagem intestinal. Várias técnicas podem ser utilizadas para aliviar a dor durante o tra-
balho de parto. Você pode, ainda, escolher usar remédios para aliviar a dor. Neste caso, 7. Assim que o bebê nascer você gostaria de:
o anestesista irá injetá-los num espaço próximo da coluna vertebral. ( ) Reduzir a luz e barulho desnecessário
( ) Pegar meu bebê no colo imediatamente
2. Métodos para alívio da dor que deseja ter como opção ( ) Receber o bebê quando me sentir pronta para tal
( ) Massagens ( ) Respiração profunda ( ) Ter pelo menos 1 hora com meu bebê no meu colo sem
( ) Ficar à vontade para experimentar posições que me dêem interferências de profissionais, caso ele esteja bem
maior conforto
8. Quanto ao corte do cordão umbilical, deseja que seja feito:
( ) Movimentar e/ou andar caso queira
( ) Pelo profissional ( ) Por você mesma
( ) Exercícios de relaxamento com bola do nascimento ( ) Pelo marido/ parceiro/pai do bebê
( ) Banho de banheira ou de chuveiro
( ) Anestesia com medicamentos Após o parto, depois da 1ª hora de vida, administra-se vitamina
Outros: ______________________ K no músculo da perninha do bebê, para evitar hemorragia, e pinga-se um colírio nos
olhos para evitar infecção. Deve-se evitar dar banho nas primeiras horas para que o bebê
3. Você também pode tomar líquidos para manter-se não esfrie e o curativo do coto umbilical é feito com álcool. Se a mãe estiver bem, pode
hidratada. Líquidos que deseja ingerir: tomar banho e alimentar-se do que desejar. Os profissionais avaliam periodicamente o
sangramento após o parto e ajudam na amamentação.
( ) Sucos de frutas ( ) Chás ( ) Gelatina
( ) Outros: ______________________________ SE HOUVER NECESSIDADE DE REALIZAR ALGUM PROCEDIMENTO NO TRABALHO DE
PARTO E PARTO A MULHER DEVERÁ SER INFORMADA E PARTICIPAR DA DECISÃO
4. Manter o ambiente favorável ajuda a tranquilizar
e favorece a evolução do trabalho de parto 9. Caso tenha outros desejos e expectativas em relação à vivência do parto, registre aqui:
( ) Desejo um ambiente com pouca luminosidade durante o trabalho de parto
( ) Desejo ouvir música durante o trabalho de parto
( ) Desejo pouco barulho, sem conversas paralelas

46 47
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

6.5 Modelo de termo de consentimento pós-informado para 6.6 Recomendações para Profilaxia de Conjuntivite Neonatal em
assistência ao parto normal BH - Comissão Perinatal / Secretaria Municipal de Saúde

Eu,__________________________________________________________________ (nome), A Conjuntivite Neonatal (CN) é uma importante VISA desde 2000. Sua eficácia é superior à da eritro-
DECLARO que o profissional ________________________________ ( ) médico, ( )enfermeiro, doença ocular em neonatos, sendo considerada uma micina para prevenção da CN, além de ser ativa não
da instituição __________________________________________________, informou-me que, condição potencialmente séria, tantos pelos efeitos apenas contra os agentes bacterianos, como a CT,
por eu ( ) estar em trabalho de parto / ( ) apresentar rotura da bolsa das águas / ( ) necessitar locais quanto pelo risco de disseminação sistêmica. A NG e outras bactérias, mas também contra fungos e
de indução do parto, devo ser internada para receber cuidados profissionais durante o processo grande maioria dos casos de CN infecciosa é adquiri- contra os vírus HIV e da herpes.
de nascimento do meu(s) filho(s). da durante a passagem pelo canal do parto. Com re-
O profissional acima me esclareceu que: lação aos agentes microbianos, a Clamydia tracomatis Sendo assim, recomenda-se:
(CT) é a principal bactéria implicada na gênese da CN,
1. Para que o parto vaginal aconteça, é necessário que ocorram contrações uterinas que seguida pela Neisseria gonorrhoeae (NG) e outras bac- 1- A profilaxia da CN deve ser realizada em
promovam a abertura do colo do útero e a passagem do bebê pelo canal da vagina. térias, como Streptococcus viridans e aureus e Escheri- todos os recém-nascidos que passaram
Esse processo pode se iniciar espontaneamente ou através do estímulo com medica- chia coli, além de vírus. Além dos agentes microbia- pelo canal de parto. Para recém-nasci-
mentos, quando é chamado de “parto induzido”. Entendo que, caso eu necessite de nos, o produto utilizado na prevenção pode também dos de cesariana, a profilaxia deverá ser
passar por um “parto induzido” esta conduta é a que se associa a melhor segurança levar à CN, por causar uma conjuntivite química, que realizada APENAS se houve amniorrexe
para mim e meu bebê, devido a ___________________________________________ é relatada em 10 a 100% dos recém-nascidos que são ou trabalho de parto previamente à rea-
____________________. submetidos aos agentes profiláticos, mais comumen- lização da cirurgia;
2. O acompanhamento do processo que leva ao parto vaginal (processo esse chamado te o Nitrato de Prata (NP). 2- O medicamento de escolha deverá ser o
de trabalho de parto) conforme as evidências científicas é feito através da monitoriza- Até o final do século XX, o método de Credé colírio de Iodopovidona (PVPI) a 2,5%, uma
ção dos batimentos cardíacos do bebê, das contrações uterinas e da dilatação do colo (Instilação de colírio de NP a 1% nos olhos dos neo- gota em cada olho, ou colírio de Eritromici-
do útero. A avaliação da dilatação é feita através de exame de toque pela vagina, que natos) foi o método de escolha para a profilaxia de na 0,5%. Não deve ser utilizado o Nitrato de
será realizado quando justificada sua necessidade, após a minha autorização verbal. conjuntivite neonatal no Brasil, regulamentado em Prata a 1% ou o Vitelinato de Prata a 10%;
3. Fui informada que terei acesso a métodos que aliviem a dor do parto. Estes métodos 1977 pelo Decreto-Lei 9713 e posteriormente pelo 3- O momento para realização da profilaxia
podem ser naturais (sem medicamentos), como apoio da doula e acompanhante, exer- Decreto-Lei 19941. Entretanto, estudos recentes é após a primeira hora do recém-nasci-
cícios, massagem, banhos de chuveiro ou banheira ou medicamentosos, ou seja, com questionaram o uso do NP, pois, além de ter efeito do, já que na primeira hora não devem
o uso de anestésicos, sendo que a anestesia mais comumente será aplicada nas costas extremamente irritativo, tem incompleta ação con- ser realizados procedimentos com o ne-
( peridural ou raquianestesia). tra a CT. Por isto, e também por não estar disponível onato: ele deverá ficar em contato pele-
4. O parto na maioria das vezes é um evento normal para a mãe e o bebê. Entretanto fui para venda em farmácias, levantamentos mostraram -a-pele com sua mãe;
informada que, em caso de alterações na sua fisiologia, poderei necessitar de inter- que em grande porcentagem das maternidades o 4- Para pacientes que apresentarem recusa
venções para que eu e meu bebê sejamos melhor assistidos. As principais interven- CT foi substituído pelo Vitelinato de Prata a 10% (Ar- à realização da profilaxia deve-se solicitar
ções que podem ser necessárias são: (1) Rotura das membranas da bolsa amniótica, (2) girol). Este agente é um antisséptico muito menos a assinatura de termo de recusa de me-
Administração de ocitocina com soro na veia; (3) Corte do períneo (parte externa da eficaz que o NP e não há nenhuma recomendação dicação, anexo ao prontuário;
vagina), chamado de episiotomia; (4) Uso de instrumentos para auxiliar o nascimento para seu uso para a profilaxia da CN. 5- No caso de mulheres que realizaram, du-
do bebê (fórceps ou vácuo-extrator), que são colocados na vagina em caso de sinais de O uso de antibióticos (Eritromicina e Tetraciclina) rante o pré-natal, exames genitais que
alteração da oxigenação do bebê no momento do nascimento ou se sua saída estiver para prevenção de CN é recomendada pelo CDC comprovem a negatividade para CT e
prolongada além da normalidade, ou em caso de exaustão e cansaço; (5) Cesariana: (Centers for Disease Control), por terem ação contra NG (gram, cultura, imunoflorescência ou
operação para retirada do bebê através de um corte no abdome, quando o parto nor- CT e NG, além de terem a vantagem de causarem PCR) estes dados deverão ser anotados
mal não for mais seguro. Entendo que esta operação poderá acontecer em situação menos conjuntivite química que o NP. em prontuário como justificativa para re-
de emergência, quando sua indicação for absoluta. Entretanto, no caso de indicações A Iodopovidona (PVPI) a 2,5% é, hoje, uma opção cusa da medicação.
relativas para a realização da operação cesariana serei consultada e participarei da de- com baixa toxicidade e alta eficácia contra os agen-
cisão sobre sua realização. tes causadores da CN, sendo recomendada pela AN- Belo Horizonte, 10 de setembro de 2014.

Assinatura da gestante: ________________________________________________________

Testemunhas: _______________________________________________________________
_______________________________________________________________

Belo Horizonte, _____ / ____ / ____ .

48 49
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Sistema Respiratório
6.7 Recomendações da SAMG para realização de analgesia em
1. Hiperventilação durante as contrações
mulheres em trabalho de parto a. Aumento no consumo materno de oxigênio;
b. Alcalose respiratória, com desvio da curva de dissociação da hemoglobina para esquerda e menor liberação
Considerações Gerais o umbigo e a sínfise púbica. Em alguns casos, asso- tissular (para o feto) de oxigênio;
ciada a esta dor, a compressão das raízes do plexo c. Vasoconstrição reflexa;
d. Redução do fluxo sanguíneo cerebral materno;
O controle da dor relacionada ao trabalho de par- lombossacro pode desencadear estímulos dolorosos
e. Redução no fluxo sanguíneo umbilical.
to é um dos grandes benefícios conquistados pela durante a contração e distensão uterinas, levando a 2. Hipoventilação no intervalo das contrações
anestesiologia. A melhor compreensão dos efeitos uma dor intensa na região lombar48. Com a progres- a. Redução da pressão arterial de oxigênio materna.
provocados pela estimulação dolorosa e sua reper- são do trabalho de parto, os segmentos espinhais
Sistema Cardiovascular
cussão negativa sobre a gestante e o feto, aliada à adjacentes são estimulados e a dor torna-se mais in-
1. Aumento dos níveis de catecolaminas plasmáticas maternas;
síntese de novos fármacos e ao aprimoramento de tensa, atingindo os dermátomos L1 e L2. No período
2. Redução da circulação útero-placentária;
materiais e técnicas anestésicas, proporcionaram um expulsivo, ocorrem estimulações dos segmentos S2 a 3. Desequilíbrio na produção de adrenalina e noradrenalina, com interferência na dinâmica uterina;
grande impulso à analgesia em obstetrícia43,44,45,46,47. S4, no território correspondente ao nervo pudendo, 4. Aumento do débito cardíaco entre 10 e 25%, com sobrecarga hemodinâmica;
No primeiro estágio do trabalho de parto, as do- e a dor localiza-se na região do baixo ventre e perí- 5. Aumento da pressão arterial entre 5 e 20%.
res são causadas pela contração uterina, associadas neo48. Melzack, em um trabalho realizado em 1975, Sistema Gastrointestinal
à dilatação do colo. O colo uterino é o local de ori- observou que a dor desencadeada pelas contrações
1. Diminuição da motilidade gástrica;
gem da maioria dos estímulos dolorosos aferentes no trabalho de parto é equivalente à dor provocada 2. Retardo no esvaziamento gástrico, com aumento da incidência de náuseas e vômitos;
e, neste estágio, a dor tem predominantemente um pela amputação digital e que são complexos os fa- 3. Aumento da secreção de gastrina, com consequente aumento da acidez do conteúdo gástrico;
caráter visceral48. Durante o segundo estágio do tra- tores que a influenciam, não sendo a psicoprofilaxia 4. Aumento do risco de regurgitação e aspiração pulmonar.
balho de parto, à medida que a apresentação fetal e os métodos não farmacológicos suficientes para o
distende o segmento inferior do útero, estruturas seu adequado tratamento em vários casos50. Quadro 1 - Efeitos negativos da dor durante o trabalho de parto sobre a mãe e o feto(3, 5)

pélvicas e o períneo, ocorre ativação de fibras so- A dor tem importante função biológica como
máticas dos segmentos sacrais S2 a S4, associada à indicadora do início do trabalho de parto. A dor
tração e compressão de estruturas vizinhas (ovários, intensa e persistente, no entanto, pode acarretar A analgesia de parto bloqueia, parcial ou com- das no quadro acima46,48,53,54. Deste modo, a analge-
tubas uterinas, peritôneo parietal, bexiga, uretra e efeitos indesejáveis tanto para a mãe quanto para o pletamente, os efeitos sobre o sistema cardiovascu- sia deve ser iniciada no momento em que a dor se
reto). Neste estágio, portanto, a dor tem componen- feto e evidências clínicas consistentes comprovam lar e respiratório e promove conforto à parturiente torna incômoda para a parturiente, independente
tes viscerais e somáticos48. Durante todo o processo, que a indicação e realização de analgesia, de for- por controlar, de modo efetivo, a dor associada às do grau de dilatação do colo uterino e havendo a
o componente emocional pode exercer forte influ- ma correta, colaboram para uma redução do risco contrações46,48. Acredita-se que controle das respos- confirmação do diagnóstico de fase ativa do traba-
ência no limiar de tolerância da parturiente à dor49,50. materno-fetal51. A dor e o estresse do trabalho de tas autonômicas possa ser desejado em casos extre- lho de parto (contrações rítmicas na frequência de 3
A intensidade da dor é, normalmente, dependen- parto podem intensificar respostas segmentares e mos ou em pacientes específicas, como as portado- a 5 em um intervalo de 10 minutos e resultando em
te do grau de dilatação do colo uterino48. Em geral, supra-segmentares reflexas, produzindo efeitos ne- ras de cardiopatias. dilatação do colo uterino)51.
a dor tem leve intensidade e é do tipo cólica na fase gativos48,52. Os principais efeitos deletérios sobre os A indicação e o início da analgesia devem ser ba- A analgesia neuroaxial foi introduzida em substi-
inicial do trabalho de parto, quando a dilatação do sistemas respiratório, cardiovascular e gastrointesti- seados na intensidade da dor. O início da analgesia tuição às técnicas inalatórias com éter e clorofórmio
colo é inferior a 3 cm. A estimulação visceral é refe- nal são mostrados no quadro ao lado: deve ser individualizado e ocorrer no momento em e, a partir da década de 1970, houve um aumento
rida como dor na localização dos dermátomos T10 a que a parturiente determinar que a dor tenha se progressivo e acentuado na sua utilização para o
T12 correspondendo, na região anterior, à área entre tornado um elemento de grande desconforto. No controle da dor durante o trabalho de parto57. Ini-
passado, a indicação do início da analgesia era rela- cialmente, a técnica peridural era a principal escolha,
cionada ao grau de dilatação do colo uterino. Atual- sendo realizada com grandes volumes e concentra-
mente, os estudos que analisam os efeitos deletérios ções de anestésicos locais. Esta técnica resultava em
da dor sobre a mãe e feto mostram que, ao aguardar interferência significativa na evolução do trabalho
as dilatações do colo uterino descritas, a parturiente de parto pela ocorrência de bloqueio motor, com
43 American Society of Anesthesiologists Task Force on Obstetric Anesthesia. Practice guidelines for obstetric anesthesia. Anesthesiology 2007; 106:843-63.
44 Hagerdal M, Morgan CW, Sumner AE, Gutsche BB. Minute ventilation and oxygen consumption during labor with epidural analgesia. Anesthesiology 1983; 59:425-7.
desenvolve muitas das respostas negativas mostra- bloqueio intenso dos músculos reto-abdominais
45 Pearson JF, Davies P. The effect of continuous lumbar epidural analgesia on the acid-base status of maternal arterial blood during the first stage of labour. J Obstet Gynaecol Br
Commonw 1973; 80:218-24.
46 Jouppila R, Hollmen A. The effect of segmental epidural analgesia on maternal and foetal acid-base balance, lactate, serum potassium and creatine phosphokinase during labour.
Acta Anaesth Scand 1976; 20:259-68. 46 Jouppila R, Hollmen A. The effect of segmental epidural analgesia on maternal and foetal acid-base balance, lactate, serum potassium and creatine phosphokinase during labour.
47 Thalme B, Raabe N, Belfrage P. Lumbar epidural analgesia in labour. II. Effects on glucose, lactate, sodium chloride, total protein, haema- tocrit and haemoglobin in maternal, fetal Acta Anaesth Scand 1976; 20:259-68.
and neonatal blood. Acta Obstet Gynecol Scand 1974; 53:113-9. 48 Pearson JF, Davies P. The effect of continuous lumbar epidural anal- gesia on maternal acid base balance and arterial lactate concentrations during the second stage of labour. J
48 Pearson JF, Davies P. The effect of continuous lumbar epidural anal- gesia on maternal acid base balance and arterial lactate concentrations during the second stage of labour. J Obstet Gynaecol Br Commonw 1973; 80:225-9.
Obstet Gynaecol Br Commonw 1973; 80:225-9. 51 Shnider SM, Abboud TK, Artal R, Henriksen EH, Stefani SJ, Levinson G. Maternal catecholamines decrease during labor after lumbar epidural anesthesia. Am J Obstet Gynecol.
49 Eidelman AI, Hoffmann NW, Kaitz M. Cognitive deficits in women after childbirth. Obstet Gynecol. 1993 May;81(5 ( Pt 1)):764-7. PubMed PMID: 8469469. eng. 1983 Sep;147(1):13-5. PubMed PMID: 6614080. eng.
50 Soet JE, Brack GA, DiIorio C. Prevalence and predictors of women's experience of psychological trauma during childbirth. Birth. 2003 Mar;30(1):36-46. PubMed PMID: 12581038. eng. 53 Pan P, Eisenach J. The pain of childbirth and its effect on the mother and the fetus. In: Mosby E, editor. Chestnut's Obstetric Anesthesia - Principles and Practice. 4 ed ed. Philadel-
51 Shnider SM, Abboud TK, Artal R, Henriksen EH, Stefani SJ, Levinson G. Maternal catecholamines decrease during labor after lumbar epidural anesthesia. Am J Obstet Gynecol. phia: Elsevier; 2009. p. 389-97.
1983 Sep;147(1):13-5. PubMed PMID: 6614080. eng. 54 Lowe NK. The nature of labor pain. Am J Obstet Gynecol. 2002 May;186(5 Suppl Nature):S16-24. PubMed PMID: 12011870. eng.
52 Hawkins JL. Epidural analgesia for labor and delivery. N Engl J Med. 2010 Apr;362(16):1503-10. PubMed PMID: 20410515. eng. 57 Rooks JP. Labor pain management other than neuraxial: what do we know and where do we go next? Birth. 2012 Dec;39(4):318-22. PubMed PMID: 23281953. eng.

50 51
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

e comprometimento da força de expulsão, relaxa- ou controladas pela paciente). Tais técnicas apre-
1. Recusa materna, na ausência de fatores preditores de uma via aérea difícil51;
mento precoce do períneo com interferência na sentam qualidade de analgesia superior a todas as
2. Situações impeditivas à colaboração da paciente durante a execução da técnica62, aumentando o risco
rotação interna da apresentação fetal e sofrimento outras técnicas sistêmicas e regionais47. Além disso, de lesões em estruturas neurais e outras complicações:
fetal frequente por hipoperfusão uterina resultante elas mantêm a percepção materna da contração a. Doença psiquiátrica grave não compensada;
de hipotensão materna. Como consequência, havia uterina, preservam o tônus da musculatura abdomi- b. Déficit de desenvolvimento neuropsicomotor grave;
aumento do número de partos instrumentados e de nal e pélvica, permitem a deambulação da paciente c. Imaturidade emocional importante;
conversões da via de parto para cesariana55,58. e apresentam flexibilidade para uso em diferentes d. Paciente de língua estrangeira, sem disponibilidade de profissionais com fluência ou tradução ade-
Nos últimos anos, no entanto, a utilização de momentos do trabalho de parto51 Por tais razões, as quadas62;
doses menores de anestésicos locais em soluções técnicas peridural e combinada representam atual- 3. Hipertensão intracraniana secundária a lesão expansiva51,62;
ultradiluídas e a associação destes com opioides li- mente o padrão para a analgesia de parto e, entre 4. Instabilidade hemodinâmica62;
pofílicos permitiram o desenvolvimento de técnicas as modalidades de repique disponíveis, as técnicas 5. Distúrbios de coagulação51 (RNI > 1,3, PTTA >1,5x o controle, plaquetometria < 80.000 e uso de drogas
analgésicas extremamente eficientes e com mínima intermitentes parecem ser as mais adequadas por anticoagulantes);
6. Septicemia62;
interferência na evolução do trabalho de parto47,51,59. proporcionarem melhor analgesia com menor gas-
7. Infecção no local da punção62;
Entre as técnicas de bloqueio neuroaxial destacam- to de anestésicos60,61. Os principais efeitos colaterais, 8. Alergia documentada a anestésicos locais62;
-se, com igual efetividade, a analgesia peridural e complicações e implicações à evolução do trabalho 9. Cardiopatias maternas (descompensadas ou primariamente incompatíveis com as técnicas neuroaxiais)19;
a analgesia combinada (contínuas, intermitentes de parto são mostrados no Quadro abaixo. 10. Doença neurológica preexistente62 (esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, neuromielite ópti-
ca e neuropatias periféricas de membros inferiores);
11. Inexperiência do anestesiologista na realização de analgesia de parto51.
1. Prurido (em geral leve, sendo desnecessárias intervenções para o tratamento); Quadro 3 - Bloqueios neuroaxiais - Contraindicações absolutas ou relativas
2. Hipotensão arterial (rara, em geral leve e de fácil correção com o uso de vasopressores em bolus. A pos-
sibilidade deste efeito requer, no entanto, como mostrado adiante, o uso de monitorização intermitente
da pressão arterial, em especial nos primeiros 30 minutos após a administração da analgesia);
3. Aumento do tempo de duração do segundo estágio do trabalho de parto (não associado a pior Apgar Além das contraindicações apresentadas acima, ta tem benefício muito restrito no controle dos efei-
ou pH de cordão umbilical do recém-nascido); um obstáculo importante às técnicas neuroaxiais é tos deletérios da dor (considerando que a paciente
4. Provável aumento da incidência de partos instrumentados (em especial quando há relaxamento exces- o fato de não serem isentas de riscos, além do efei- tenha sentido dor durante todo o trabalho de parto
sivo da musculatura perineal. Em decorrência da existência de estudos com diferentes resultados em tos colaterais já descritos63. Complicações impor- e a indicação foi feita apenas no 2º estágio) sendo,
relação a esta variável, ainda não há consenso de que haja relação entre a analgesia e o uso de fórceps); tantes como dor lombar, cefaleia pós-punção de portanto, uma técnica com risco potencial superior
5. Retardo no início da amamentação;
dura-máter e lesões neurológicas podem surgir em ao benefício. Este tipo de analgesia deve ser desen-
6. Hipertermia materna (de etiologia ainda desconhecida, sem aparente prejuízo materno e fetal);
função da execução da técnica, dos medicamentos corajado e restrito apenas aos casos em que a ges-
7. Bradicardia fetal transitória (maior incidência com o uso de opioides intratecais, em especial sufentanil
em doses superiores a 15mcg, sendo explicada pela hipersistolia ocacionada pela queda abrupta na e dos materiais utilizados. Complicações imedia- tante solicita a analgesia no final do primeiro estágio
concentração de adrenalina circulante após o alívio da dor. Refere-se a uma bradicardia com frequência tas, decorrentes da injeção inadvertida de soluções do trabalho de parto.
mínima de 80bpm, flutuante e que ocorre dentro dos 30 primeiros minutos após a analgesia. Não requer, anestésicas no espaço subaracnóideo, subdural e Nos casos em que as técnicas não farmacológi-
na maior parte dos casos, nenhum intervenção específica além da observação rigorosa. intravascular, também podem ocorrer com incidên- cas já não são efetivas e nos quais não é possível a
cias baixas, mas não desprezíveis (1:2.900, 1:4.200 e realização da analgesia neuroaxial, as demais opções
Quadro 2 - Efeitos colaterais da analgesia neuroaxial para o trabalho de parto
1:5.000, respectivamente)63. Tais complicações, por farmacológicas disponíveis são sistêmicas venosas
sua baixa incidência, não representam uma limita- ou inalatórias. Estas técnicas, no entanto, oferecem
Em algumas situações, no entanto, o emprego de profissionais treinados na instituição. As contrain- ção ao emprego das técnicas neuroaxiais, mas, em resultados menos favoráveis em relação à eficácia
das técnicas neuroaxiais é limitado pela existência dicações absolutas e relativas à execução da analge- algumas situações, geram na paciente receio ou analgésica e efeitos colaterais maternos e fetais sen-
de contraindicações maternas ou pela indisponibi- sia neuroaxial são apresentadas no Quadro ao lado. mesmo recusa em aceitar o procedimento, criando, do, portanto, consideradas técnicas alternativas e de
lidade de estrutura, material ou número adequado portanto, uma contra-indicação absoluta. uso indicado apenas na presença de contraindica-
Uma prática ainda muito comum em nosso meio ções ao bloqueio neuroaxial.
é a indicação da raquianalgesia em dose única no Em todos os casos, as técnicas de analgesia não
período expulsivo ou próximo dele como forma de farmacológica (de eficácia comprovada) devem ser
analgesia em pacientes que iniciaram a dor muito estimuladas e a analgesia farmacológica deve ser ofe-
antes deste período. Conforme descrito, esta condu- recida a todas as pacientes em fase ativa do trabalho
47 Thalme B, Raabe N, Belfrage P. Lumbar epidural analgesia in labour. II. Effects on glucose, lactate, sodium chloride, total protein, haema- tocrit and haemoglobin in maternal, fetal
and neonatal blood. Acta Obstet Gynecol Scand 1974; 53:113-9.
51 Shnider SM, Abboud TK, Artal R, Henriksen EH, Stefani SJ, Levinson G. Maternal catecholamines decrease during labor after lumbar epidural anesthesia. Am J Obstet Gynecol. 19 Maria Fernanda Branco de Almeida & Ruth Guinsburg. Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria: Condutas 2011); Disponível em http://www.sbp.com.br/
1983 Sep;147(1):13-5. PubMed PMID: 6614080. eng. pdfs/PRN-SBP-ReanimacaNeonatal-2011-24jan11.pdf.
55 Melzack R. The myth of painless childbirth (the John J. Bonica lecture). Pain. 1984 Aug;19(4):321-37. PubMed PMID: 6384895. eng. 51 Shnider SM, Abboud TK, Artal R, Henriksen EH, Stefani SJ, Levinson G. Maternal catecholamines decrease during labor after lumbar epidural anesthesia. Am J Obstet Gynecol. 1983
58 Hansen JM, Ueland K. Maternal cardiovascular dynamics during pregnancy and parturition. Clin Anesth. 1974;10(2):21-36. PubMed PMID: 4590563. eng. Sep;147(1):13-5. PubMed PMID: 6614080. eng.
59 Ueland K, Metcalfe J. Circulatory changes in pregnancy. Clin Obstet Gynecol. 1975 Sep;18(3):41-50. PubMed PMID: 1157366. eng. 62 Findley I, Chamberlain G. ABC of labour care. Relief of pain. BMJ. 1999 Apr;318(7188):927-30. PubMed PMID: 10102864. Pubmed Central PMCID: PMC1115344. eng.
60 Yamashita A M. Analgesia e Anestesia para o Parto Vaginal. In: Yamashita A M, Gozzani J L. Anestesia em Obstetrícia. 2 ed. São Paulo, Atheneu, 2007;73. 63 Traynor JD, Dooley SL, Seyb S, Wong CA, Shadron A. Is the management of epidural analgesia associated with an increased risk of cesarean delivery? Am J Obstet Gynecol. 2000
61 Minnich ME. Childbirth preparation and nonpharmacologic analgesia. Chestnuts Obstetric Anesthesia. 4a ed. Philadelphia: Elsevier; 2009. p. 405-15. May;182(5):1058-62. PubMed PMID: 10819827. eng.

52 53
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

de parto admitidas na maternidade. De acordo com a Local de realização do procedimento Monitorização contínua b. Antissepsia da região lombar
literatura e de modo paradoxal, o conhecimento pre- • A paciente deve estar vestida com aven-
coce da existência de uma possibilidade de alívio far- A analgesia de parto pode ser realizada em sala Pacientes sob analgesia de parto, em especial tal da unidade com a abertura para trás
macológico da dor em geral retarda o momento de cirúrgica, em uma sala de anestesia ou no quarto nos primeiros 30 minutos de instalação e seguindo (verificar se a parte frontal do avental está
solicitação da analgesia, além de reduzir a ansiedade PPP. Por questões ergonômicas e de segurança, é in- a resolução do CFM1802/2006, deverão obrigatoria- adequadamente colocada para garantir
e aumentar o grau de satisfação materna22. teressante que seja realizada preferencialmente nas mente ter os seguintes parâmetros sob monitoriza- a privacidade e conforto da gestante);
Idealmente, as gestantes devem receber orienta- salas cirúrgica ou de anestesia. No entanto, após o ção contínua: • Orientar a paciente a manter as mãos
ções sobre as técnicas analgésicas não-farmacoló- tempo de observação determinado pelo anestesio- 1. Oximetria de pulso; e braços na frente do corpo;
gicas e farmacológicas em uma consulta pré-anes- logista, é desejável que a paciente retorne ao quarto 2. Pressão arterial não invasiva sistólica/diastó- • Todas as sujidades visíveis (se houver)
tésica ambulatorial e, caso esta não seja possível, PPP (vide orientações para deambulação no item lica a cada 5 minutos (realizar uma medida deverão ser retiradas pela técnica de
logo à admissão no Centro Obstétrico. A orientação "Acompanhamento pós-analgesia" abaixo). antes do início do procedimento, manter o enfermagem com o uso de fricção de
deve incluir informações sobre os riscos e implica- A decisão sobre o local de realização da analgesia é aparelho desligado durante a sua realização compressa estéril e sabão comum;
ções das técnicas para o parto e deve ser seguida do anestesiologista, de acordo com sua preferência e e retornar apenas após fim da técnica); • Degermação com solução de clorohe-
de um termo de consentimento livre e esclarecido, recursos disponíveis. Caso a analgesia seja realizada no 3. Eletrocardiografia contínua. xidine degermante (1x – Realizada pelo
preferencialmente assinado em conjunto com o(a) quarto PPP, uma sala de cirurgia e condições de transpor- técnico de enfermagem utilizando gase
acompanhante ou uma testemunha. A aplicação do te a esta sala devem estar bem próximas e prontamente Posicionamento da paciente para a analgesia estéril e luva de procedimento). Solu-
termo de consentimento em analgesias de parto é disponíveis caso seja necessária a realização de cesariana ções à base de iodo não devem mais ser
questionável e sua aplicação após o início das dores de emergência. Como condições de transporte, enten- O posicionamento da paciente deve ser deter- utilizadas para este tipo de antissepsia;
relacionadas à contração é considerada inadequada. de-se a disponibilidade de maca, ala de oxigênio com minado pelo anestesiologista (decúbito lateral ou • Antissepsia química com solução de álcool
O momento adequado para sua utilização é a con- fluxômetro e látex conectados, maleta de via aérea, 2 sentada) e explicado à paciente. Uma técnica de en- 70º ou clorohexidine (2x – Realizada pelo
sulta pré-anestésica no período pré-natal ou, quan- técnicos de enfermagem treinadas e anestesiologista. Da fermagem deve permanecer na frente da paciente anestesiologista que irá aguardar a solução
do esta não for possível, na internação, desde que mesma forma, devem estar disponíveis no quarto uma durante toda a execução do ato anestésico. Cabe ao secar sobre a pele para iniciar a punção).
a paciente não esteja em franco trabalho de parto. fonte de oxigênio montada, material para ressuscitação anestesiologista autorizar a presença da doula ou
A equipe obstétrica deve estar sempre ciente da cardiopulmonar, medicamentos para o atendimento a acompanhante durante o procedimento. Técnica anestésica
indicação do início da analgesia e o consenso deve emergências e um monitor multiparamétrico. Conforme Caso seja possível, a ultrassonografia pode ser uti-
ser registrado no prontuário da paciente pelo obste- detalhado em itens subsequentes, a equipe obstétrica lizada neste momento para localização e marcação Critérios de escolha da técnica anestésica
tra e pelo anestesiologista responsáveis. deve estar ciente da realização da técnica analgésica e do interespaço desejado (L5/L4 – L3/L4 – L2/L3). A técnica anestésica a ser empregada é uma
De acordo com dados da literatura, em algumas preparada para atuar em caso de emergência. escolha do anestesiologista responsável pelo caso
gestantes, a inserção precoce do cateter peridural As técnicas de analgesia farmacológica só estão Assepsia e antissepsia considerando-se suas habilidades pessoais, condi-
(sem a administração de medicamentos) reduz a in- disponíveis em Centros Obstétricos, não sendo rea- ções clínicas da paciente e material disponível.
cidência de complicações graves e fatais. No grupo lizadas em em Centros de Parto Normal perihospita- a. Regras de paramentação
de pacientes indicadas abaixo, a inserção deve ser lares e outros ambientes extra-hospitalares. Todos os profissionais e o acompanhan- 1. Descrição do ato anestésico
feita antes do início da dor e assim que a paciente te presente na sala devem estar vestindo
iniciar a fase ativa do trabalho de parto: Acesso venoso periférico privativo, gorro e máscara a partir do mo- Localização do interespaço desejado (L5/L4 – L3/
a. Gestantes portadoras de doenças sis- mento em que for iniciada a antissepsia L4 – L2/L3) ou da marcação realizada por técnica ul-
têmicas que possam apresentar piora Obter acesso venoso periférico em membro su- e abertura da bandeja estéril. A pacien- trassonográfica.
com a presença de dor (insuficiência perior utilizando cateter IV 18G. Iniciar SF 0,9% em te deve estar vestindo avental próprio
cardíaca congestiva, doenças pulmona- gotejamento mínimo para manter veia, não sendo da maternidade e gorro. A equipe deve Infiltração da pele e subcutâneo
res restritivas/obstrutivas etc); necessário pré ou co-hidratação. Utilizar fixação zelar por manter as partes íntimas da pa- Material
b. Condições maternas que possam com- adequada, com identificação do calibre do cateter, ciente cobertas durante o procedimento. • Agulha hipodérmica 13x4 (insulina);
plicar a realização de anestesia geral: data e responsável pela punção. O anestesiologista deve retirar os orna- • Agulha hipodérmica 25x7;
• Exame da via aérea que mostre predi- mentos das mãos e punhos (anéis, reló- • Seringa 10 ml;
tores de dificuldade de intubação e/ Dieta gios e pulseiras) e realizar a antissepsia das • Lidocaína 2% com adrenalina.
ou ventilação; mãos com escovação + solução deger-
• Obesidade mórbida; Vide "Dieta" no item 5.3.2 - Assistência no primei- mante. A secagem das mãos deve ser feita Realizar infiltração da pele com lidocaína 1-2%
• Hipertermia maligna. ro período do trabalho de parto. com compressa estéril e as luvas devem com adrenalina no interespaço escolhido seguida
ser calçadas utilizando técnica asséptica. de infiltração do subcutâneo e ligamentos. Atenção:
Em caso de uso do quarto PPP, as janelas não injetar solução anestésica em ligamentos caso
e a porta devem estar fechadas; haja resistência.
22 Jones L, Othman M, Dowswell T, Alfirevic Z, Gates S, Newburn M, Jordan S, Lavender T, Neilson JP. Pain management for women in labour: an overview of systematic reviews.
Cochrane Database of Systematic Reviews 2012, Issue 3. Art. No.: CD009234. DOI: 10.1002/14651858.CD009234.pub2.

54 55
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Analgesia peridural contínua Fixação do cateter peridural 2. Oximetria de pulso e eletrocardiografia 1. Ausência de contra-indicação obstétrica;
Bolus inicial + Passagem de cateter peridural contínuas; 2. Tempo mínimo de 30 minutos após o
• 10 a 15 ml de bupivacaína 0,0625 a 0,125% Idealmente, o cateter deve ser fixado com cura- 3. Pressão arterial não invasiva de 5/5 minutos; bloqueio neuroaxial ou o repique pelo
+ Fentanil 50-100 mcg ou tivo transparente no local de inserção e fita tipo es- 4. Avaliação de dor em 10 e 30 minutos (Es- cateter peridural;
• 10 a 15 ml de ropivacaína 0,08 a 0,2% + paradrapo ou MicroporeR na extensão do cateter. A cala visual analógica ou numérica). O iní- 3. Liberação pelo anestesiologista responsável;
Fentanil 50-100 mcg. ponta do cateter (para injeção) deve ser firmemente cio da analgesia é variável entre as pacien- 4. Ausência de bloqueio motor (a paciente
tampada e protegida de contaminação por secre- tes podendo ser imediato ou não. Deste deve ser capaz de, em decúbito dorsal, ele-
A critério do anestesiologista, as doses re- ção (com a embalagem do próprio cateter, espara- modo, é necessário explicar à gestante var as pernas esticadas a pelo menos 45º);
comendadas podem ser injetadas direta- drapo, seringa, gaze ou compressa). que um tempo de 10 minutos pode ser 5. Presença de acompanhante capaz de
mente na agulha de peridural logo após a necessário para alívio da dor. Por esta ra- fornecer sustentação à paciente durante
punção, via cateter ou em combinação. A Analgesia sistêmica para o trabalho de parto zão, a primeira avaliação de dor só deve o período de deambulação;
injeção de um pequeno volume da solução ocorrer após 10 minutos e sempre após 6. Dados vitais estáveis e ausência de sinto-
em bolus pela agulha antes da inserção do Na presença de contra indicações ao uso da anal- uma contração uterina; mas na posição sentada;
cateter parece reduzir a incidência de posi- gesia neuroaxial, técnicas sistêmicas alternativas po- 5. Avaliação de bloqueio motor (Escala de 7. Mudança de posição (sentada para em pé)
cionamento intravascular do cateter. A inje- dem ser oferecidas à gestante, sendo atualmente Bromage modificada); lenta e cuidadosa;
ção da maior parte da solução via cateter é indicadas neste contexto o remifentanil venoso em 6. Solicitar avaliação obstétrica (BCF) (pre- 8. Área de caminhada restrita ao Bloco Obs-
interessante para verificação do posiciona- infusão contínua ou controlada pela paciente e o ferencialmente após instalação da anal- tétrico. Após o retorno ao leito, reinício da
mento do mesmo logo após a inserção. óxido nitroso 50% inalatório. Protocolos específicos gesia, para evitar dor caso seja necessária monitorização com oximetria de pulso;
para uso destas técnicas devem ser desenvolvidos a realização de exame de toque). Realizar A ocitocina não deve ser utilizada como
Analgesia combinada por cada instituição para possibilitar a implementa- ausculta fetal intermitente de 5 em 5 mi- rotina durante o trabalho de parto nas
Bolus intratecal inicial + Passagem de cateter ção destas formas de analgesia. nutos por pelo menos 30 minutos após a mulheres com analgesia neuroaxial e,
peridural Considerando o emprego de técnicas sistêmicas é realização da analgesia regional e após a caso a gestante já esteja em uso deste
• 1,25 a 2,5 mg de bupivacaína hiperbárica importante ressaltar que a meperidina, o opióide sis- realização de qualquer dose adicional. medicamento, ele não deve ser suspen-
ou isobárica + Fentanil 10 a 20 mcg têmico mais estudado e empregado até os dias atuais so durante a realização do procedimento
(aspiração desta solução em seringa de no Brasil, deve ter seu uso desencorajado como téc- • Tardio – Após 30 minutos anestésico. Após o diagnóstico de dilata-
alta precisão (1mL). nica analgésica. A maioria dos trabalhos mostra que a 1. Avaliação de dor de 30/30 minutos (Es- ção cervical completa, assegurar que o
meperidina produz certo grau de analgesia, mas com cala visual analógica ou numérica); parto tenha ocorrido no máximo 3 ho-
Repique peridural falhas ou resposta insuficiente em um grande núme- 2. Verificar efeitos colaterais; ras após para as nulíparas e 2 horas após
• 10 a 15 ml de bupivacaína 0,0625 a 0,125% ro de casos, levando alguns autores a sugerirem que 3. Avaliações obstétricas (BCF) 30/30 minuto. para as multíparas.
ou ela age muito mais como um sedativo do que como
• 10 a 15 ml de ropivcaína 0,08 a 0,2% um analgésico 7,9. A depressão fetal prolongada asso- Em pacientes que receberam analgesia neuroaxial Recuperação pós-parto imediato
ciada ao seu uso é um efeito bem documentado. Ela (peridural ou raquidiana, com ou sem cateter), o uso da
Repique para anestesia perineal ocorre em virtude da meia vida prolongada da droga bola de Bobath e o banho não trazem nenhum bene- As pacientes hígidas que receberam analgesia
• 3 a 5 ml de lidocaína 2% com adrenalina (2,5 a 3 horas na mãe e 18 a 23 horas no neonato) e fício e são contraindicados. A bola de Bobath e o ba- neuroaxial para o trabalho de parto/parto podem
do acúmulo de metabólitos ativos. A normeperidina, nho são utilizados com a finalidade de produzir alívio ser avaliadas quanto aos critérios da escala de Al-
Analgesia subaracnóidea (Dose única) por exemplo, tem uma meia vida de 60 horas e pode da dor e auxiliar na descida do bebê pela verticaliza- drette-Kroulik na sala de parto. Caso já apresentem
Esta modalidade de técnica deve ser reser- ser responsável por depressão respiratória neona- ção postural. Nas pacientes sob analgesia, a proprio- critérios adequados para alta, não é necessário que
vada a gestantes que são admitidas com tal persistente por até 3 a 5 dias após o nascimento cepção e o equilíbrio estão comprometidos e o uso sejam encaminhadas à Sala de recuperação pós-
dor intensa às contrações uterinas e já se mesmo após o uso de baixas doses de meperidina 7. destas duas técnicas pode resultar em acidentes sérios. -anestésica. Nos casos em que houver cateter peri-
encontram muito próximas do período ex- Além destes problemas, a meperidina afeta a motili- Além destes riscos, nas pacientes com cateter peridu- dural, a retirada do mesmo deve ser sempre realiza-
pulsivo ou nos casos em que a realização dade gástrica materna, modifica a cardiotocografia e ral, a movimentação excessiva da região lombar pode da pelo anestesiologista.
das demais técnicas neuroaxiais não fo- está relacionada à acidose fetal em análise do sangue deslocar o cateter (tornando impossível o repique de É fundamental comunicar à coordenação do Ser-
ram possíveis. Deve-se evitar que pacientes de cordão umbilical10. doses) e a umidade pode aumentar a chance de in- viço de Anestesia Obstétrica e Supervisão de Enfer-
sejam encaminhadas à analgesia apenas fecção do sistema nervoso central. Caso seja desejável magem/Coordenação do Bloco Obstétrico todos os
próximo ao período expulsivo, tendo expe- Acompanhamento pós-analgesia a verticalização, outros métodos podem ser utilizados eventos que prejudiquem a assistência adequada à
rimentado dor intensa durante longos perí- como o banquinho de parto ou a posição de cócoras. paciente tais como mau funcionamento ou falta de
odos que antecedem a anestesia. • Imediato – nos primeiros 30 minutos após A deambulação após a analgesia neuroaxial é per- equipamento ou material, irregularidades no preen-
o procedimento mitida e pode ser estimulada. No entanto, é necessá- chimento dos impressos descritos, falha na comuni-
• 2 a 2,5 mg de bupivacaína hiperbárica ou 1. Paciente deve ser mantida em decúbito rio que sejam observados os seguintes critérios: cação ou supervisão de profissionais responsáveis.
isobárica + Fentanil 20 a 25 mcg lateral esquerdo/direito;
10 Hodnett ED1, Gates S, Hofmeyr GJ, Sakala C, Weston J. Continuous support for women during childbirth. Cochrane Database Syst Rev. 2011 Feb 16;(2):CD003766.

56 57
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Analgesia para parto vaginal operatório ção 7,5 ml de lidocaína 2%c/a + 2,5 ml de
água destilada); com pequeno intervalo
Anotações
Para estes partos, a objetivo da conduta anes- após os primeiros três mls visando dose
tésica é promover uma analgesia mais consisten- teste. Latência mínima cinco minutos;
te que permita eficazmente a instrumentalização • Pacientes sem cateter previamente insta-
sem grande desconforto materno e com menor lado: Realizar raquianestesia com bupiva-
trauma fetal. Recomendações para realização de caína 0,5% hiperbárica intratecal 2,5 mg
analgesia em pacientes que irão ser submetidas com 15 mcg fentanila.
a um parto vaginal operatório:

• Paciente com cateter previamente instala-


do: Fazer 8ml de lidocaína 1,5% c/a (solu-

58 59
Assistência ao Parto e Nascimento - Diretrizes para o cuidado multidisciplinar

Anotações

60

Você também pode gostar