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PARTO
como aprender com ela
Eleonora Moraes
Eleonora de Moraes
Eleonora é diretora e fundadora do Despertar do Parto.
Psicóloga formada pela Universidade de São Paulo
(FFCLRP), capacitou-se como DOULA pela ANDO
(Associação Nacional de Doulas), educadora perinatal e
instrutora de Yoga. Trabalha atendendo gestantes e casais
na preparação e acompanhamento de partos hospitalares
e domiciliares desde 2003, promovendo o parto natural e a
humanização da assistência. Promove a formação de
doulas autônomas desde 2010.
Isto não é verdade. Nenhuma mulher na história da humanidade morreu de dor no parto.
Uma dor só mata porque é sinal de que algo de muito errado está acontecendo com
alguém. Mas o que mata não é a dor. Ela é apenas o sintoma. No caso do parto, a dor não
é sintoma de que algo vai errado. Pelo contrário. É sinal de que a fisiologia está
acontecendo e seu corpo está saudável e se abrindo para dar luz a um novo ser humano.
Este processo é grandioso e intenso e tudo está certo, no lugar que tem que estar.
A dor do parto só é sinal de que algo está errado se ela for contínua e não
cessar nem mesmo nos intervalos das contrações. Fora isso é apenas um
sinal de que a fisiologia está funcionando e seu corpo se abrindo para o bebê
nascer.
É preciso desconstruir a ideia da dor do parto como inimiga. Vamos aprender aqui a
entende-la como uma aliada. Para isso vamos torna-la conhecida, compreende-la e
compreender a diferença entre dor e sofrimento.
A contração do útero é um ato involuntário (que não controlamos) provocado pela nossa
liberação hormonal e que vai fazer com que as fibras musculares do útero se contraiam
abrindo a parte debaixo (colo) e ao mesmo tempo empurrando a cabeça do bebê para baixo.
Nas contrações também são encurtados diversos ligamentos que prendem o útero a pelve,
favorecendo a abertura da pelve para a passagem do bebê.
Para um bebê nascer é preciso várias contrações eficazes em sua duração e intensidade, para
que o colo do útero e pelve se abram para o bebê passar.
Contração
Que algo fique bem claro: durante um trabalho de parto
inteiro passamos mais tempo sem sentir dor do que com
dor. Isto porque a dor vem apenas no momento de
maior intensidade de cada contração. E
passamos mais tempo sem contração do que com
contração durante todo processo. Ela é portanto
Intermitente, ou seja, vai e volta e no momento do
final de cada contração e do seu intervalo, não se
tem percepções dolorosas. COMO
A percepção de dor também é crescente e o corpo se
adapta a cada etapa, liberando mais endorfinas e
ELA É?
outros hormônios que nos permitem aceitar o
processo. Começa como uma cólica menstrual e vai
gradualmente aumentando durante o trabalho de
parto. Vem um patamar de dor, o corpo se acostuma até
ficar bem suportável, logo vem um novo patamar mais
alto e o corpo se acostuma e assim por diante.
É comum ouvirmos a comparação da dor do parto com a dor da cólica de rim, mas esta
não parece ser uma boa descrição já que a primeira é constante e impiedosa, sem
intervalos.
Quem nunca viveu um parto certamente vai imaginar que
o momento mais dolorido é o momento em que a
cabeça do bebê está passando pelo final do canal
vaginal, pelo períneo, portanto nascendo de fato.
Esta posição, além de ajudar o bom posicionamento do bebê e aliviar a dor, evita que a mulher
escolha a posição deitada, de barriga para cima, evitando que o peso do útero comprima a veia
cava inferior, uma das principais veias do corpo e que levam sangue para a parte inferior do
nosso corpo, incluindo útero e placenta! Ou seja, como ficar deitada de barriga para cima dói
muito mais na contração, escolhemos ficar na vertical com o tronco a frente ou deitadas de lado
para que doa menos. E este fato ajuda o bom funcionamento do parto.
Na hora em que isto começa a acontecer é comum sentir muito medo - "se já está doendo agora,
imagina depois!" - é o pensamento da vez. Mas em algum momento, essa vontade de fazer força
instintiva ganha nossos pensamentos e começamos a fazer estes puxos até de forma
involuntária. Para a nossa surpresa: dói muito menos quando empurramos! A dor maior é
quando resistimos em fazê-la.
O parto traz portanto, a necessidade de nos voltarmos para dentro e colocar nossa concentração
de forma inteira nesse evento máximo que é o de uma criança nascendo, absolutamente,
totalmente, dependente de cuidados.
Outro aspecto interessante é que existem algumas teorias, na psicologia, que entendem a dor do
parto como instituída culturalmente. Por exemplo, nós sempre ouvimos que dói.
FOTO: AMANDA FRANCO
Além disso, temos uma associação do parto com o sexo, como um ato pecaminoso. Na nossa
cultura, por algumas religiões, temos esse olhar distorcido para a questão da sexualidade
humana, da sexualidade feminina. Assim, é como se fosse um castigo pelo pecado. Portanto,
existem teorias que apostam nessa ideia de a dor do parto ser construída culturalmente.
Preparar-se para o parto, conhecendo como ele acontece, o que você vai sentir, o
local de parto e se possível a equipe é uma forma eficaz de reduzir o medo e a
ansiedade, minimizando a sensação de dor.
A dor torna-se sofrimento quando a mulher, por diversas razões, sente-se vítima do
próprio processo do parto, enxergando nas contrações ou na demora do nascimento
uma ameaça a própria vida e segurança, ou a vida do bebê. Um parto prolongado pode
trazer esta percepção de sofrimento. O cansaço enfraquece as barreiras contra as
artimanhas da mente que acredita na nossa incapacidade de superar nossos próprios
obstáculos. Por isso descansar bem no início do trabalho de parto, enquanto as contrações
ainda permitem isto é essencial.
Existem várias técnicas naturais de alívio para a dor do parto que ajudam imensamente a mulher a lidar
com ela, vivendo apenas o fisiológico e evitando que entre na dor do sofrimento. São conhecidas como
"métodos não farmacológicos de alívio da dor" e seus benefícios são comprovados por evidências
científicas consistentes. Ter, por exemplo, uma doula que entenda e possa oferecer um suporte
contínuo emocional e aplicar técnicas de alívio da dor naturais é um dos métodos mais comprovados,
justamente porque o parto acontece no campo das emoções e da mente, além do corpo.
BIBLIOGRAFIA
Maldonado MT. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
Balaskas J 1996. Parto Ativo – Guia Prático para o Parto Natural. Ed. Ground. São Paulo.
Kitzinger S 1985. The sexuality of birth, pp. 209-218. In S Kitzinger (ed.). Women’s experience of sex. Penguin, Nova York.
Varrassi, Guistino et al. Effects of physical activity on maternal plasma β-endorphin levels and perception of labor pain.
American Journal of Obstetrics & Gynecology , Volume 160 , Issue 3 , 707 - 712
DOR DO
PARTO
como aprender com ela
Eleonora Moraes