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Simone Grilo Diniz Ana Cristina Duarte

Parto normal ou cesárea?


O que toda mulher deve saber
(e todo homem também)
Parto normal ou cesárea?
O que toda mulher deve saber
(e todo homem também)
FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP

PRESIDENTE DO CONSELHO CURADOR


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SIMONE GRILO DINIZ E ANA CRISTINA DUARTE

Parto normal ou cesárea?


O que toda mulher deve saber
(e todo homem também)
© 2004 Editora UNESP
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CIP – Brasil. Catalogação na fonte


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

D613p

Diniz, Simone Grilo


Parto normal ou cesárea?: o que toda mulher deve saber (e todo ho-
mem também) / Simone Grilo Diniz e Ana Cristina Duarte. – Rio de Janei-
ro: Editora UNESP, 2004. (Saúde e cidadania)

Inclui bibliografia
ISBN 85-7139-562-4

1. Parto (Obstetrícia) – Obras populares. 2. Parto normal – Obras popu-


lares. 3. Cesariana – Obras populares. I. Duarte, Ana Cristina. II. Título.
III. Série.

04-2366 CDD 618.2


CDU 618.2

Editora afiliada:
Sumário

Capítulo 1 N O parto e o direito à escolha


informada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Em busca do bom parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
A medicina baseada em evidências . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Ter um filho no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Capítulo 2 N O que dizem as evidências científicas 21


O que provoca menos dor: o parto normal
ou a cesárea? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Como é a dor no caso da cesárea? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Como é a dor do parto normal? Por que o parto dói? . . . . . . . . 24
Por que a experiência da dor é tão diferente entre as
mulheres, mesmo em um parto completamente normal? . . . 25
O que é a dor provocada pela assistência ao parto
(dor iatrogênica)? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
O alívio da dor no parto normal: as opções e o que
as evidências científicas apontam . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Resumindo: o que é associado a sentir menos dor, no
parto normal e na cesárea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
O que é mais seguro, para a mulher e o bebê,
o parto normal ou a cesárea? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Por que, no Brasil, não se informam adequadamente os


riscos da cesárea ou dos procedimentos usados no parto? . . 40
Os riscos do parto vaginal: o que as evidências demonstram 41

O que é melhor para minha vida sexual:


o parto normal ou a cesárea? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Qual é o efeito do parto vaginal sobre o períneo? . . . . . . . . . . . 43
Por que é importante manter o períneo íntegro no parto? . . . 48
O papel dos exercícios para ter uma vagina poderosa . . . . . . 51

O que deixa a mulher mais satisfeita: o parto


normal ou a cesárea? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
O controle sobre a experiência do parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Enfrentar um desafio e vencê-lo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
O papel relativo da dor na satisfação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
A continuidade do cuidado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
O acompanhante no parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Capítulo 3 N Como planejar seu parto . . . . . . . . . . . 63


A escolha da via de parto (normal ou cesárea) . . . . . . . . 64

A escolha do profissional de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66


A escolha do médico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Como encontrar um médico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

A escolha do local do parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

A escolha dos acompanhantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78


Doula – uma acompanhante especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

A escolha do curso de preparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

A escolha dos exercícios físicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

A escolha dos procedimentos, os detalhes que


fazem a diferença – o plano de parto . . . . . . . . . . . . . . 88

6
Sumário

Outras escolhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Episiotomia – ponto fundamental no Plano de Parto . . . . . . . . 95
Exemplo de plano de parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

A escolha da melhor hora – o tempo e o parto . . . . . . . . 99


Lidando com a dor do parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Elementos e recursos para lidar com a dor do parto . . . . . . . . 103
Analgesia e anestesia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

Capítulo 4 N A cesárea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115


Quando a cesárea é necessária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Indicações absolutas de cesárea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Indicações relativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Indicações discutíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
Sofrimento fetal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

Escolhas para ter uma boa cesárea . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124


O parto normal após cesárea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

Capítulo 5 N Os homens no parto . . . . . . . . . . . . . . . 135


O pai deve estar presente no parto? . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
A presença do pai no parto hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . 136
A presença do pai ajuda ou atrapalha? . . . . . . . . . . . . . . 139
De que modo posso ajudar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Lidando com a dor no parto: como fazer o “ter
filhos” mais confortável para ela . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
E nossa vida sexual depois do parto? É verdade
que a vagina fica mais larga? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
E se ela não quiser que eu esteja no parto? . . . . . . . . . . 148
O medo de desmaiar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

7
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Tenho de receber o bebê, cortar o cordão, dar banho? 150


O médico disse: No parto dele, não . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
O médico disse que o hospital não deixa . . . . . . . . . . . . 153
No estado onde moro há uma lei que permite
o direito ao acompanhante, mas os hospitais
descumprem. O que devo fazer? . . . . . . . . . . . . . . . . . 154

Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

Recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167

Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175

8
O parto e o direito
à escolha informada

n Em busca do bom parto


A proposta deste livro é ajudar as mulheres e seus
familiares a fazerem uma escolha informada sobre o
parto, para que possa ser vivido com alegria e seja
celebrado. Ainda que seja o parto do décimo filho,
trata-se da chegada ao mundo de uma nova pessoa,
da transformação da mulher em mãe, do homem em
pai, dos pais em avós, e assim por diante. Depois
daquele nascimento, o universo nunca mais será o
mesmo – ao menos para as pessoas envolvidas.
O parto é uma das raras oportunidades em que
se vivencia um milagre, no próprio cotidiano. É um
momento de intensa emoção e arrebatamento. Seja
qual for a escolha quanto à forma de seu filho vir ao

9
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

mundo, sempre será um evento marcante, com a opor-


tunidade de ser um momento de felicidade intensa.
Para viver essa alegria plenamente, é importante es-
colher o tipo de parto, de acordo com suas crenças e
seus valores.
Não há nenhuma forma “certa” ou mais politi-
camente correta de dar à luz, mas sim um conjunto
de escolhas a ser feito, para que o momento possa ser
o mais seguro, confortável e feliz para você e sua fa-
mília. Às vezes, tais opções podem ser feitas e se tor-
nam viáveis com facilidade. Porém, muitas vezes não
estão imediatamente ao alcance, exigindo, de sua parte,
dose extra de empenho e responsabilidade.
Defendemos o direito à escolha informada por
parte da mulher sobre a forma de dar à luz. Na área
da saúde, isso constitui um direito humano e um di-
reito reprodutivo, apontado em vários instrumentos
legais nacionais e internacionais. Há indicações de
pesquisa sobre o assunto. Para promover esse direito,
trabalharemos com a chamada “medicina baseada em
evidências”, conceito desenvolvido em cada capítulo.
Mas o que esse conceito significa? Por acaso, a
medicina não é baseada em evidências científicas?

n A medicina baseada em evidências


Para a maioria de nós, mesmo os profissionais
de saúde, o assunto provoca grande susto. Todos

10
O parto e o direito à escolha informada N Capítulo 1

aprendemos as nossas práticas profissionais com base


na melhor ciência, e as exercemos seguros de seus be-
nefícios.
A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é um
movimento internacional criado na segunda meta-
de da década de 1980 e em poucos anos se esten-
deu ao mundo inteiro. Nasce do reconhecimento de
que boa parte da prática médica não é respaldada
por estudos de qualidade sobre a segurança e a efi-
cácia dos procedimentos utilizados, quer sejam os
medicamentos, os exames, as cirurgias, entre outros.
Constatou-se que, dependendo da região geográfi-
ca onde alguém morasse, a prática médica “correta”
poderia ser completamente diferente (Enkin, 1996).
Por exemplo, em alguns lugares o “certo” era sempre
usar fórceps no primeiro parto (ainda é assim em
muitos lugares do Brasil), enquanto, em outros paí-
ses, só se encontravam registros de tal procedimento
em museus.
Verificou-se que a medicina se baseia em mui-
tos tipos de pesquisa tendenciosos (chamados de viés
pelos cientistas) que às vezes favorecem práticas inúteis,
arriscadas ou danosas. Com isso, foi organizada uma
iniciativa internacional para sistematizar o conheci-
mento científico “menos tendencioso” a respeito de
cada procedimento médico, por especialidade.
Essa iniciativa foi denominada Colaboração Co-
chrane, em homenagem ao médico britânico Archie

11
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Cochrane.1 Formaram-se dezenas de grupos de pes-


quisadores e profissionais para avaliar a qualidade das
pesquisas em suas áreas, dando prioridade às pesquisas
que apresentavam menos vieses, os chamados ensaios
clínicos randomizados (Jadad, 1998).
Randomizado significa que as pessoas participan-
tes do estudo são sorteadas para receber ou não o
recurso médico (medicamento, exame, cirurgia etc.),
o que torna mais fácil verificar se ele é de fato seguro
e eficaz. Muitos estudos não-randomizados mostram
que um recurso é benéfico apenas porque os pacien-
tes envolvidos na análise estavam, entre outras razões,
em condições mais favoráveis de saúde, ou eram mais
bem atendidos, ou se cuidavam melhor, e não pelo
recurso em si. Quando os pacientes são sorteados,
pode-se diminuir esse viés. Isso não quer dizer que os
pesquisadores eram ou são desonestos, apenas que, em
geral, quando pesquisamos, enxergamos mais aqui-
lo que esperamos, o que acreditamos, o que quere-
mos ver.
Quando se lida com muitos ensaios clínicos, em
que há um número muito pequeno de participantes,

1 Archie Cochrane, além de ser um dos criadores da medicina baseada em evi-


dências, foi um grande defensor dos direitos dos pacientes. Ao lado de outros
profissionais, desenvolveu a metodologia de revisão sistemática, um tipo de
síntese do conjunto dos estudos que permite “navegar” entre milhares de pes-
quisas sobre o mesmo tema, com resultados muitas vezes conflitantes. Todo o
trabalho da Colaboração Cochrane está disponível on-line, com versões para
pesquisadores e usuários (ver a seção Recursos, p.167).

12
O parto e o direito à escolha informada N Capítulo 1

existe o risco de que o resultado se deva ao acaso (outro


tipo de viés) e não ao procedimento estudado. Isso,
às vezes, leva a resultados contraditórios sobre a efi-
cácia ou a segurança de um procedimento. Nesses
casos, pode-se fazer uma revisão sistemática das di-
versas análises e realizar um “tratamento estatístico”
de seu conjunto, chamado de metanálise. Assim, de-
fine-se melhor se aquele procedimento é de fato se-
guro e eficiente, reunindo grande número de pacientes
e reduzindo o viés do acaso.
Hoje em dia, em vez de pesquisar em centenas
de artigos sobre um recurso médico, é mais adequa-
do começar lendo a revisão sistemática, que sintetiza
o conjunto dos estudos. Aqui, sempre que possível fa-
remos referência a essas revisões como as fontes mais
importantes de evidências científicas.
Mesmo a definição das prioridades – o que es-
colhemos pesquisar, a pergunta que nos fazemos, e
onde investir os recursos de pesquisa – é um tipo de
viés. Por exemplo, durante a segunda metade do sé-
culo XX, em boa parte do mundo ocidental se reali-
zou a episiotomia (corte da vulva e da vagina no mo-
mento do parto) em praticamente todas as mulheres,
pois se acreditava que era benéfico para mães e be-
bês. Hoje, sabemos que nunca houve evidência sóli-
da para recomendar tal prática como rotina. Na rea-
lidade, a evidência encontrada foi muito desfavorável.
Quando os pesquisadores fizeram uma revisão siste-

13
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

mática sobre se deveriam fazer episiotomia, cons-


tataram que os estudos eram centrados sobre o me-
lhor local do corte, o momento de cortar, se o ins-
trumento adequado era o bisturi ou a tesoura, o tipo
de fio de sutura, o analgésico mais indicado para a dor
que provocava, como combater ou prevenir as infec-
ções da ferida etc. Uma vez que os pesquisadores ti-
nham certeza de que sempre deveriam fazer episio-
tomia, as pesquisas não colocaram em dúvida a eficácia
ou a segurança do procedimento (Enkin, 2000). En-
quanto isso, centenas de milhões de mulheres tive-
ram suas vulvas e vaginas cortadas e costuradas no
momento de dar à luz, na grande maioria das vezes
sem necessidade.
Na área da assistência ao parto, comprovou-se,
já na década de 1980, que “a distância entre a práti-
ca e as evidências era alarmante”. Apesar disso, o rit-
mo de mudança nas práticas tem sido muito lento,
e estima-se que atualmente na América Latina ape-
nas 15% dos procedimentos utilizados sejam baseados
em evidências sólidas (CLAP, 2003).
O Grupo da Colaboração Cochrane de Gravi-
dez e Parto foi um dos que primeiro se organizaram
e desenvolveram pesquisas acerca do tema, tendo se
tornado referência para os demais. Em 1989, o gru-
po publicou exaustiva revisão dos procedimentos, e,
em 1993, um de seus resultados mais importantes foi
a publicação da revisão sistemática de cerca de 40.000

14
O parto e o direito à escolha informada N Capítulo 1

estudos sobre 275 práticas de assistência perinatal,


classificados quanto à efetividade e à segurança.
Este trabalho de uma década2 contou com o
esforço de mais de quatrocentos pesquisadores (in-
cluindo obstetras, pediatras, enfermeiras, estatísticos,
epidemiologistas, cientistas sociais, parteiras, e até
mesmo mulheres usuárias), que realizaram uma re-
visão completa de todos os estudos publicados sobre
o tema desde 1950, cujo resultado inteiro está dispo-
nível em publicações eletrônicas a partir da segunda
metade da década de 1990. Periodicamente é atuali-
zado no site da Colaboração Cochrane (ver na seção
Recursos).
Uma síntese desse trabalho foi publicada primei-
ramente pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
em 1996, e desde aquele momento conhecida como
as “recomendações da OMS” (ver resumo das recomen-
dações na seção Recursos, p.167). Uma coletânea bas-
tante completa dessas revisões, em uma versão popular
dirigida a profissionais e usuárias, foi organizada pelo
pesquisador canadense Murray Enkin e colaborado-
res. O livro do Enkin tornou-se grande referência para

2 A primeira versão da publicação de Effective care in pregnancy and childbirth,


Enkin, Kierse, Renfrew, Nielson,1993, incluía todas as revisões e era excessiva-
mente volumoso e caro para ser usado em serviços. Em 1995, foi lançada uma
versão condensada, A guide to effective care in pregnancy and childbirth, tornan-
do-se uma espécie de bíblia dos defensores da medicina perinatal baseada na
evidência.

15
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

os defensores de um parto baseado na evidência. Ci-


taremos com freqüência esse trabalho, publicado em
inglês e na internet (ver a seção Recursos).

n Ter um filho no Brasil


No Brasil, as recomendações da OMS foram pu-
blicadas pelo Ministério da Saúde com o título As-
sistência ao parto normal – um guia prático, e enviadas
aos ginecologistas-obstetras e às enfermeiras obstetrizes.
Esse livreto mostra, com base em evidências cientí-
ficas, que o atendimento ao parto normal no Brasil
se vale, em grande medida, do que a ciência conde-
na, como veremos nos próximos capítulos.
Hoje em dia, sabe-se que tal atendimento de-
veria garantir privacidade, conforto e segurança à mãe
durante o parto. Isso implica que nenhuma inter-
venção de rotina deveria ser realizada, apenas as que
fossem indicadas naquele caso. Mas na maioria das
maternidades promove-se a chamada cascata de in-
tervenções em todas as mulheres: uma sucessão de
procedimentos invasivos, dolorosos e potencialmente
arriscados – toques vaginais repetidos, imobilização
em uma cama, instalação de soro, medicamentos para
aumentar as dores, corte e costura da vagina (episio-
tomia), peso sobre a barriga, entre outros. Isso faz que
o parto seja mais doloroso, arriscado e freqüentemente
deixe seqüelas, físicas e/ou emocionais. Entendemos

16
O parto e o direito à escolha informada N Capítulo 1

que, no caso brasileiro, muitas mulheres recorrem à


cesárea para evitar o parto vaginal, cheio de interven-
ções desnecessárias e dolorosas.
Do ponto de vista da ciência, o modelo da in-
tervenção de rotina no parto vaginal, já é superado,
mas a mudança de assistência, baseada na evidência
– em que não se provoque dor desnecessária, facilite
o processo fisiológico do parto, respeite o ritmo do
corpo feminino e os aspectos psicológicos e sociais do
nascimento – ainda encontra grandes obstáculos. Os
serviços de saúde estão organizados com base no mo-
delo da intervenção de rotina, desde sua arquitetura
aos mecanismos de financiamento.
A maioria dos profissionais de saúde foi forma-
da no modelo intervencionista, e as instituições a elas
ligadas têm sido muito lentas em incorporar essas
mudanças. Em virtude da falta de experiência com o
novo modelo, muitas vezes eles se sentem inseguros
de arriscar uma postura baseada na evidência, acre-
ditando que o modelo intervencionista seja mais eficaz.
Nesse modelo tradicional considera-se o corpo
feminino sempre dependente da tecnologia, frágil, e
potencialmente perigoso para o bebê. Isso é o que
muitos pesquisadores chamam de viés de gênero, um
olhar preconcebido sobre a mulher, em que seu cor-
po é por definição imperfeito e ameaçador, e não
potencialmente adequado e saudável. O modelo in-
tervencionista já foi superado pela melhor evidência

17
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

científica, porém permanece porque é conveniente a


muitos interesses – dos hospitais e dos profissionais,
e mesmo nas relações entre homens e mulheres. Man-
tém-se por seu caráter ritual,3 por sua capacidade de
reproduzir valores e relações sociais. Para as mulhe-
res, acreditar que são incapazes de enfrentar o parto
com saúde e alegria, e entregar o trabalho para ter-
ceiros, é uma saída honrosa e socialmente aceitável.
Não se deve ter nenhuma culpa quanto a isso, prin-
cipalmente diante do medo e da incerteza – sentimen-
tos tão humanos e normais na gravidez, um momento
de especial vulnerabilidade.
O século XX trouxe importantíssimos avanços
na assistência, como o uso seguro de antibióticos,
anestésicos, derivados de sangue e da cesárea, o que
causou um impacto enorme na segurança e sobrevi-
vência de mães e bebês. No entanto, o uso abusivo
da tecnologia, e sem critério, como veremos, aumenta
os riscos e o sofrimento, ao contrário de reduzi-los.
Além disso, faz que as necessidades humanas – bio-
lógicas, emocionais ou sociais – fiquem submetidas
aos interesses de instituições e profissionais.

3 O caráter ritual da tecnologia médica do parto se transformou nos últimos


anos em todo um campo de estudos nas ciências sociais, principalmente na
chamada “Antropologia do Parto”. Uma introdução ao tema das “Mensagens
do Parto” pode ser vista no belo trabalho de Robbie Davis-Floyd, http://
www.birthpsychology.com/messages/index.html.

18
O parto e o direito à escolha informada N Capítulo 1

O que mudará na estrutura hospitalar quando


muitas mulheres exigirem acompanhantes, tiverem
liberdade de posição no trabalho de parto e na hora
do nascimento, em vez de passarem o parto imobili-
zadas? O que será de todo o aparato cirúrgico quan-
do muitas parturientes souberem que não precisam
necessariamente, como rotina, de nenhuma droga, cor-
te ou ponto para ter um parto satisfatório e saudá-
vel, mas sim que, na medida do possível, esses pro-
cedimentos devem ser evitados?
Trata-se também de uma mudança estética: o
parto no século XX foi visto como algo arriscado,
desagradável, degradante, repugnante, assustador, uma
exposição humilhante dos genitais a estranhos. E mais:
um assalto cirúrgico às partes íntimas, uma situação
na qual as mulheres se sentiam como “carne no açou-
gue”, como muitas descrevem, ou seja, um pesadelo
a ser evitado. O parto foi tratado como uma patolo-
gia a ser remediada por meio de uma seqüência de
intervenções, ou a ser prevenida através de uma cesárea.
A maior mudança, ou pelo menos a maior pro-
messa, trazida pela obstetrícia baseada nas evidências
científicas é uma redescoberta das dimensões saudá-
veis, positivas, emocionantes e belas da experiência
do parto. A própria compreensão da experiência genital
de dar à luz está sendo radicalmente reformulada.
Agora, o parto poderia ser vivido não necessariamente
como uma tortura imposta às mulheres pelo pecado

19
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

original ou pela natureza, mas sim como uma expe-


riência emocional, social e corporal saudável, como
um desafio. Uma aventura que poderia ter o máxi-
mo de segurança, pois poderia contar com o desen-
volvimento da tecnologia submetido às necessidades
humanas, e não o contrário.
Este é o maior desafio: romper com a falsa opo-
sição entre segurança e satisfação, visto que se quer
ambas. Não há incompatibilidade entre um atendi-
mento baseado na evidência e respeitoso com as ne-
cessidades físicas, emocionais e sociais da mulher, do
bebê e da família (no Brasil denominado atendimento
humanizado), e um parto seguro, de acordo com o
que trataremos nos capítulos a seguir. Você poderá
saber mais a respeito disso e do movimento brasilei-
ro e latino-americano pela humanização do parto na
seção Recursos.

20
O que dizem as
evidências científicas

n O que provoca menos dor:


o parto normal ou a cesárea?

Minha maior motivação para ter uma


cesárea é evitar a dor do parto. Acho que,
se é possível evitar sentir dor, é melhor, não?
Meu médico diz que faz cesárea logo por-
que não agüenta ver a paciente sofrer. Mas
conheço mulheres que tiveram parto nor-
mal e também já fizeram cesárea e acham
que a cesárea dói mais. Então, estou na
dúvida. Enfim, o que dói menos?

Para a maioria das mulheres, a dor do parto é a


segunda maior preocupação depois da segurança do

21
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

bebê. Por essa razão, é muito importante que elas


tenham o máximo de informação para fazer esco-
lhas acertadas, aumentando as chances de um parto
seguro e satisfatório quanto às suas expectativas. As
decisões sobre as formas de lidar com a dor acarre-
tam muitas conseqüências, entre elas as lembranças,
positivas e/ou negativas, do parto, os procedimentos,
as medicações ou restrições de movimentos durante
o parto, e o bem-estar físico dela e do bebê no pós-
parto.

z Como é a dor no caso da cesárea?


A cesárea é sempre feita com anestesia, pois é uma
cirurgia de médio a grande porte, realizada através do
corte de várias camadas do corpo, da pele ao útero.
Durante a cesárea, a mulher sente o útero ser corta-
do, puxado e seus movimentos. Algumas mulheres
podem ter aflição ou enjôo com essa manipulação,
mas, normalmente, não sentem dor alguma.
Muitas optam pela cesárea porque acreditam que
assim não terão dor. Mas os estudos não confirmam
que a cesárea leva necessariamente a menos dor, prin-
cipalmente se consideramos a dor do parto e do pós-
parto (Enkin et al., 2000). No Brasil, pesquisas de-
monstram que a grande maioria das mulheres prefere
o parto normal, cuja principal motivação é prevenir
a dor do pós-operatório (Faúndes & Osis, 2003, Bar-
bosa et al., 2003).

22
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

No período de dilatação e de expulsão do bebê,


a dor pode ser totalmente prevenida pela cesárea, se
a cirurgia for marcada antes do trabalho de parto.
Infelizmente, essa antecipação do parto é uma das
causas mais freqüentes de problemas para os bebês no
Brasil, como veremos adiante na seção sobre segurança
(p.35). É um direito da gestante conhecer esses ris-
cos para fazer uma escolha consciente.
Em relação à dor, a desvantagem da cesárea está
exatamente no pós-parto, pois além das mudanças
fisiológicas do puerpério a mulher também estará se
recuperando de uma cirurgia. Da mesma forma, a
cesárea não previne as dores normais do pós-parto
(contração do útero para voltar a seu tamanho nor-
mal, comum em qualquer parto), consideradas intensas
por muitas mulheres.
Por ser uma cirurgia de médio a grande porte,
a cesárea implica pós-operatório mais doloroso, um
tempo de recuperação mais longo, e mais tempo de
debilidade (fraqueza, dificuldade de retomar as fun-
ções normais e cuidar do bebê). Em um estudo, um
quarto das mulheres relatou ainda sentir dor duas
semanas depois da cesárea, e mais de 15% afirmaram
ter dificuldades com as atividades normais, como le-
vantar da cama, inclinar-se e pegar o bebê, e 10% das
mulheres ainda se mantiveram assim dois meses de-
pois da cesárea (Goer’s Henci, 1999).

23
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

z Como é a dor do parto normal?


Por que o parto dói?
A dor do parto é resultado da contração mus-
cular do útero e da distensão de diversas estruturas
no canal de parto. A origem, localização, intensida-
de e irradiação da dor variam nas diversas fases do
trabalho de parto.
A dor também varia enormemente entre as mu-
lheres: para algumas é insuportável, outras juram não
sentir nada. A maioria das mulheres descreve as con-
trações uterinas no período de dilatação como cóli-
cas menstruais muito intensas. Essas contrações são
rítmicas e duram inicialmente de 45 a 50 segundos,
com intervalo de vários minutos, em que praticamente
não há dor. Com o avanço do trabalho de parto, a
dor costuma se intensificar.
Durante o final da dilatação e início da saída do
bebê do útero, há o período chamado de transição,
freqüentemente considerado o mais doloroso – ape-
sar de ser um período bem curto. Em geral é o mo-
mento mais intenso do parto, chamado por algumas
mulheres de a hora da covardia, quando a vontade é
desistir de tudo. Muitas mulheres relatam que o pe-
ríodo expulsivo dói bem menos que a transição.
Às vezes, as mulheres descrevem a dor do parto
como uma espécie de cólica, ou uma pressão no ab-
dômen e nos quadris ou sobre a parte inferior das costas
e na raiz das coxas, ou, ainda, uma combinação des-

24
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

sas várias dores. O período expulsivo, em particular


a saída da cabeça do bebê, é descrito como um anel
de fogo sobre o períneo, tal é a distensão da cabeça do
bebê sobre a vulva.
Para muitos autores, o termo dor não deveria ser
aplicado à contração uterina, pois muitas mulheres
não apresentam tal sintoma, mesmo no parto bem
avançado. O uso da palavra serviria mais para um
condicionamento cultural, em que a dor é tida como
obrigatória, uma herança cultural, religiosa, que apenas
contribui para criar expectativa negativa do parto.
Alguns propõem denominá-la apenas de contração em
vez de dor, ou tão-somente onda, pois se trata de uma
contração de um lado do útero e uma distensão de
outro.
Para conhecer numerosos e diferentes relatos de
mulheres sobre o parto e sua dor – hospitalares e domi-
ciliares, com ou sem intervenções médicas, com ou
sem anestesia, normal ou cesárea, experiências posi-
tivas e/ou negativas –, visite o site das Amigas do Parto
(ver a seção Recursos).

z Por que a experiência da dor é tão


diferente entre as mulheres, mesmo
em um parto completamente normal?
A experiência da dor, em partos normais, inclui
dois componentes: um relaciona-se às condições e
expectativas da mulher, e outro, à assistência.

25
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Quanto às expectativas, os estudos mostram que


quanto mais a mulher tem medo de perder o controle
durante o parto – seja o controle do seu próprio com-
portamento diante da dor, seja o controle do que os
outros podem fazer com ela – mais o teme, acredita
que a dor será insuportável e que precisará de anestesia
(Goodman et al., 2004).
Mesmo nos países desenvolvidos e industriali-
zados, como o Japão e a Holanda, em que a dor do
parto é considerada normal, saudável e sem maiores
conseqüências, as mulheres têm grande confiança de
que saberão lidar com ela e é pequena a demanda por
anestesia. Já nos países em que há expectativa de que
a maioria das mulheres deva receber anestesia no parto,
quanto maior a confiança delas de que lidarão bem
com todo o processo, até com a dor, menor é essa
demanda. Daí se conclui que o fator mais associado
a prescindir de anestesia é... a mulher acreditar que
não precisa (Hodnett, 2002).
Agora, vejamos as questões da assistência. O parto
é um processo físico muito intenso, com grandes con-
trações e distensões de estruturas (músculos, articu-
lações), nas quais o corpo desenvolve mecanismos para
fazer que essa revolução seja amortecida por hormônios,
os sedativos da dor. Os mais importantes deles são as
chamadas endorfinas, substâncias de efeito semelhante
ao da morfina: diminuem a sensação de dor e têm
efeito entorpecedor sobre a consciência, ajudando a

26
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

mulher a atravessar o parto com menos incômodo


físico (Odent, 2002). É por isso que muitas mulhe-
res relatam uma sensação de estarem alegres, “como
quem tomou umas duas taças de vinho”.
As endorfinas são produzidas pelo corpo em si-
tuações tais como o parto, o orgasmo, a amamentação,
o exercício físico intenso, o êxtase religioso etc. A
produção das endorfinas é incentivada pelo ambiente
acolhedor e tranqüilo, pela privacidade e liberdade de
posições. Ao contrário, é bloqueada pela falta de pri-
vacidade e presença de estranhos, pelo medo, pelos
estímulos visuais como luzes intensas, estímulos me-
cânicos (toques vaginais repetidos, intervenções, cortes,
picadas), auditivos (ordens, barulho), pela imobili-
zação na posição deitada de costas, entre outros (Goer’s
Henci, 1999).
A liberdade de posição promove, igualmente,
efeito benéfico sobre a dor do parto, que leva a mu-
lher a buscar posições e movimentos antálgicos, que
diminuem a dor. No parto, se uma mulher nota que
sua dor melhora se ela mudar de posição, ficar sen-
tada, ou de cócoras, ou deitada, ou andando, ou em
uma posição assimétrica, isso contribuirá para que o
bebê realize a chamada descida no canal de parto, vá
se acomodando a cada movimento (Gaskin, 2003).
A imagem usada para descrever essa situação de des-
cida do bebê através dos ossos da pélvis é o do movi-
mento de deslizar um anel apertado no dedo para

27
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

retirá-lo: vamos movendo para um lado e para o ou-


tro até que ele saia, em vez de simplesmente puxá-
lo. Essa é uma das finalidades da dor; e se a mulher
está imobilizada em uma posição, ou anestesiada, ela
não poderá nem aliviar a dor com uma posição an-
tálgica, nem se beneficiará da “dica” que o corpo está
dando para facilitar o nascimento de seu bebê.
Algumas apresentações (parte do bebê que sai
primeiro do corpo, por exemplo se ele aparecer com
a face virada para o púbis da mãe) mais raras, como
que o bebê está, podem causar mais dor. Isso exigirá
mais recursos para o alívio da dor, sejam farmacológicos
ou não farmacológicos, como as mudanças de posi-
ção da mulher. A posição de quatro é a ideal (evite
ficar deitada de barriga para cima, pois isso aumen-
ta muito a dor), e as massagens contra-pressão sobre
o osso sacro também são muito úteis.
Aqui é importante estabelecer uma distinção
entre a dor do parto em si, tal como descrevemos aci-
ma, e a dor provocada pelos procedimentos da assis-
tência.

z O que é a dor provocada pela assistên-


cia ao parto (dor iatrogênica)?
A dor resultante dos procedimentos (dor iatro-
gênica) é, muitas vezes, confundida com a dor do parto.
A distinção entre um e outro tipo de dor é fundamen-
tal, se quisermos fazer o parto vaginal seguro e pra-

28
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

zeroso, pois esses procedimentos devem ser evitados,


na medida do possível. No século XXI, não há ne-
nhuma justificativa científica para o uso de rotina de
métodos dolorosos.
Até a década de 1990, acreditava-se que, para
dar boa assistência ao parto, era necessário realizar
várias intervenções, em todas as mulheres, e seus partos,
para facilitar o processo, torná-lo mais normal: toques
vaginais repetidos para avaliar a progressão do par-
to; aplicação de soro com ocitocina para aumentar as
contrações; em muitos casos, uso de fórceps no pri-
meiro parto; episiotomia e episiorrafia (corte e depois
a costura da vulva e vagina); determinação da postura
deitada no leito etc.4
Essas práticas podem ser extremamente doloro-
sas. Hoje em dia, acredita-se que apenas algumas são
aceitáveis, e devem ser feitas apenas em uma mino-
ria de mulheres de 5 a 15%, quando há indicação
médica. Além do sofrimento que se provoca, são po-
tencialmente arriscadas para a mãe e o bebê. Muitas
vezes, um parto que teria dor intensa, mas perfeita-
mente suportável, é transformado em um sofrimen-
to físico excruciante por causa dos procedimentos. Isso
leva a uma grande demanda por anestesia, e, muitas

4 Em alguns lugares, durante o período expulsivo, ainda se faz a manobra de


Kristeller (pressão, altamente dolorosa sobre o fundo uterino, feito pela enfer-
meira ou pelo anestesista). Este procedimento não deve ser realizado em ne-
nhuma situação, pelos riscos que provoca.

29
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

vezes, a anestesia se justifica mais pela dor provocada


pelos procedimentos que pelo parto em si (Langer &
Villar, 2002).

z O alívio da dor no parto normal:


as opções e o que as evidências
científicas apontam
De uma forma ou de outra, a anestesia de par-
to parece ser tão antiga quanto a civilização. Papiros
egípcios do segundo milênio antes da era cristã já
mencionavam substâncias sedativas, e, na cultura grega,
a maiêutica (arte dos partos) registrava o uso do ópio.
A morfina era usada no parto também entre as ro-
manas antes da era cristã, e o culto à deusa Juno, que
presidia a maternidade, incluía a oferenda com pa-
poulas, da qual se extrai o ópio (morfina). No sécu-
lo XII, a parteira e professora Trótula, de Salerno,
receitava o uso de morfina e outras substâncias no parto
(Diniz, 1996).
O uso de sedativos no parto foi formalmente
proibido pela Igreja no século XV, passando a ser usado
na Europa apenas clandestinamente. Há vários regis-
tros de mulheres (parteiras e parturientes) presas e
mortas por usarem sedativos no parto, como descri-
to no mais famoso manual religioso de caça às bru-
xas, O martelo das feiticeiras. O uso legal da anestesia
do parto só foi retomado no século XIX, apesar da
intensa oposição da Igreja, defensora das dores do parto

30
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

como um castigo para as mulheres pelo pecado ori-


ginal, do qual elas não poderiam se furtar.
O alívio da dor do parto deve ser entendido como
um direito de todas as mulheres. As mulheres devem
conhecer os muitos recursos diferentes dele para fa-
zer uma escolha informada.
Em linhas gerais, eles podem ser divididos entre
os recursos farmacológicos (com medicamentos) e os
não-farmacológicos. Em relação ao primeiro item, em
outros países há um leque de opções maior do que no
Brasil. Por exemplo, o óxido nitroso (gás hilariante)
é muito utilizado na Europa, porém raramente en-
contrado aqui. Até alguns anos, os medicamentos de-
rivados de morfina eram muito usados no parto, mas
como acarretam demasiados efeitos colaterais, agora
são empregados excepcionalmente. Atualmente a anes-
tesia geral (que deixa a mulher inconsciente) também
é usada em casos raros, principalmente em emergências
(Enkin et al., 2000).
As técnicas de analgesia mais usadas atualmen-
te para o parto são as regionais, que atuam na região
pélvica e pernas da gestante, deixando-a consciente
durante todo o processo. As técnicas de aplicação de
analgesia regional mais utilizadas são três: a peridural
(aplicada em um espaço da coluna chamado peridural,
que envolve o canal vertebral), a raquidiana ou ráqui
(o medicamento é injetado dentro do canal vertebral),
e a combinação entre as duas anteriores.

31
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

No Brasil, os tipos de analgesia mais utilizados


para o parto normal, como em vários países indus-
trializados, são a peridural, e a combinação entre ráqui
e peridural. Às vezes esses bloqueios eliminam a dor
totalmente e são as formas mais efetivas de alívio.
Muitas mulheres têm experiências muito boas com
esses recursos, algumas nem tanto. Para saber com
detalhes como a anestesia será aplicada, leia o Ca-
pítulo 3. No site das amigas do parto (ver p.167),
você pode consultar depoimentos de mulheres que
a utilizaram.
É importante que as mulheres saibam que os
bloqueios não são isentos de efeitos colaterais. As
revisões sistemáticas mostram que os problemas mais
comuns são: coceira intensa e generalizada, queda na
pressão arterial e na freqüência cardíaca do bebê. Pode
haver complicações mais drásticas, como casos de
depressão respiratória e anestesia sem controle, atin-
gindo às vezes até a face. O uso da peridural também
pode ocasionar maior dificuldade (ou total impos-
sibilidade) de se manter ativa no parto, e maior chance
de ter parto operatório, fórceps, episiotomia e lesões
do períneo. Além disso, o período expulsivo tende a
ser mais longo, e os bebês costumam nascer menos
ativos e alertas (Goer’s Henci, 1999).
A forma combinada tem sido recebida como um
importante aperfeiçoamento da técnica de bloqueio
no parto, por preservar movimento relativo das per-

32
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

nas. Em inglês era chamada walking epidural (peridural


que permite caminhar). Porém, seus riscos são igual-
mente significativos, sendo maior o de infecções (me-
ningite), por ser mais invasiva. E, muitas vezes, quando
a mulher mantinha o movimento das pernas, o que
não ocorria sempre, ela não podia se movimentar, pois
tinha de ficar “presa” a um monitor fetal (aparelho
que controla os batimentos do feto), por causa dos
riscos da analgesia para o bebê (Goer’s Henci, 1999).
No Brasil, há uma divisão de acesso a esses re-
cursos que depende mais do tipo de financiamento
da assistência, se particular ou público, do que de
qualquer outro fator, como a real necessidade da mu-
lher. Em termos gerais, as mulheres que têm convê-
nios e/ou são atendidas por médicos particulares es-
tão sujeitas a uma taxa de cesárea de 70% ou mais,
chegando a 90% em certos serviços. Quando essas
mulheres insistem em um parto vaginal, quase sem-
pre é “incluída no pacote” uma anestesia peridural.
No caso das que usam o Sistema Único de Saúde (SUS),
geralmente o único recurso disponível é a anestesia local
no períneo para a episiotomia.
Como você verá mais adiante, no capítulo 3,
“Como planejar seu parto”, há muitas alternativas de
recursos não-farmacológicos. Várias delas foram con-
sideradas pelas mulheres, em estudos rigorosos, muito
úteis no alívio da dor: banhos de imersão ou de chu-
veiro, uso da “bola” de parto, massagem, liberdade de

33
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

posição, presença de pessoas queridas e em quem a


gestante confia, entre outras. Alguns recursos são pouco
conhecidos no Brasil, mas muito comuns em outros
países, como a estimulação transcutânea, a acupuntura
e a hipnose. A grande vantagem desses métodos é não
provocar riscos nem efeitos colaterais.

z Resumindo: o que é associado


a sentir menos dor, no parto normal
e na cesárea
No parto normal, a mulher sente menos dor se
não for submetida a restrição de movimentos, rup-
tura da bolsa das águas, uso do soro com ocitocina
(para aumentar as contrações ou “dores”), episioto-
mia de rotina e sua sutura, manobra de Kristeller, entre
outros. Ela sentirá menos dor se tiver um acompa-
nhante durante todo o trabalho de parto, seja alguém
da família, amigos, seja uma doula (saiba mais nos
capítulos a seguir), tiver recursos como banhos, bola
de parto, massagens etc. Além disso, a mulher dis-
põe do recurso aos meios farmacológicos, como a
peridural. Esse é o método mais eficaz de todos para
o alívio da dor, embora tenha efeitos colaterais que
devem ser conhecidos, para que a mulher possa fa-
zer uma escolha informada.
Na cesárea, o procedimento sempre será feito sob
anestesia (geralmente peridural), e a mulher sentirá
a dor principalmente depois da cirurgia. O controle

34
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

da dor pós-operatória por meio de analgésicos é fun-


damental para garantir à mulher conforto e interação
com o bebê (pegá-lo, amamentá-lo).

n O que é mais seguro, para a


mulher e o bebê, o parto normal
ou a cesárea?

O mais importante para mim é a segu-


rança do meu bebê, e a minha, claro. Eu
vejo todo o mundo dizer que o parto nor-
mal é mais seguro para a mãe e o bebê. No
entanto, por que a maioria das mulheres faz
cesárea?

A cesárea é um recurso maravilhoso, eficaz e


seguro para diminuir a mortalidade e a morbidade
(adoecimento) das mulheres e dos bebês, quando uma
indicação médica adequada para isso. Quando ela é
indicada por razões não-médicas, ou por razões du-
vidosas (discutiremos o assunto mais adiante), ela
aumenta o risco da mulher e o do bebê de adoecer e
de morrer, se comparado com o do parto vaginal. Por
isso, trataremos aqui apenas da cesárea por indica-
ções não-médicas, ou por indicação médica inade-
quada. Mais adiante, trataremos em detalhe o que são
indicações inadequadas.

35
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Todos os estudos rigorosos comprovam que o


parto normal é mais seguro para a mulher e seu bebê.
Mesmo os defensores da cesárea por indicações não-
médicas reconhecem essa realidade.
Em um estudo bastante amplo realizado no Reino
Unido, entre 1996 e 1998, muito citado pelos defen-
sores da cesárea por indicações não-médicas, compro-
vou-se que as chances de a mãe morrer são quase três
vezes maiores em uma cesárea eletiva (sem nenhuma
indicação médica, com a mãe e o bebê saudáveis) e
quase oito vezes maiores, quando é feita cesárea de
emergência (Hall, 1999). Outros estudos rigororsos
mostram um risco de morrer cinco a sete vezes maior
(ICAN, 2003). Isso porque comparam a cesárea com
o parto vaginal com intervenções desnecessárias, que
aumentam o risco para as mulheres e os bebês.
Um estudo brasileiro, publicado em 2003 que
pesquisou vinte anos de mortes maternas no Rio Gran-
de do Sul, demonstrou o “número expressivo de mortes
relacionadas à cesariana, principalmente os casos de
infecções puerperais, justamente em um país onde as
taxas médias de cesariana são sabidamente aumenta-
das”. O trabalho constatou um risco de morte quase
onze vezes maior para as mulheres submetidas à cesa-
riana se comparadas às que fizeram parto vaginal. Essas
mortes se deveram, principalmente, a complicações
infecciosas da cesárea e a acidentes anestésicos (Ramos,
2003). É importante que as mulheres conheçam esses

36
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

dados, pois os profissionais insistem que no caso bra-


sileiro a cesárea é tão segura quanto o parto vaginal.
Quais seriam então os riscos potenciais da cesárea
por indicações não-médicas? Eles podem ser dividi-
dos em riscos imediatos ou de curto prazo, os riscos
de longo prazo, e os riscos para gravidezes subseqüentes
(Goer’s Henci, 1999).
Os riscos no curto prazo incluem, segundo um
estudo de dez anos na Inglaterra: maior riscos de com-
plicações cirúrgicas, sendo 4,5 vezes maior o risco de
complicações graves (hemorragia severa, necessidade
de re-operação, infecção pélvica, pneumonia, septi-
cemia). Com relação a complicações menores, cerca
de um terço das mães que fez cesárea teve problemas
como febre, hematoma, infecção do trato urinário,
do útero ou da ferida cirúrgica, paralisia do intesti-
no ou da bexiga. Um estudo mostrou que as mulhe-
res que faziam cesárea tinham o dobro do risco de
serem re-hospitalizadas e, além disso, como já discu-
timos, de sofrer maior dor e debilidade no pós-par-
to, com repercussões na relação com o bebê (ICAN,
2003; Declercq et al., 2002).
As conseqüências de longo prazo, cujos riscos são
maiores na cesárea, incluem as aderências cirúrgicas,
que podem causar dor pélvica, dor na relação sexual
ou problemas de intestino, além de aumentar o ris-
co de lesões em outros órgãos em cesáreas subseqüentes
(ICAN, 2003).

37
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

As complicações que podem afetar gravidezes


futuras referem-se à queda na fertilidade (diminui-
ção das chances de engravidar e aumento do risco de
perder o bebê na próxima gravidez) e maior chance
de gravidez ectópica. A cicatriz uterina causa vários
problemas potencialmente graves, entre os quais ris-
co duas a quatro vezes maior de descolamento pre-
maturo da placenta (a placenta se desprender antes
do parto) ou a placenta prévia (cobrindo a saída do
útero). O risco da placenta prévia em um útero com
cicatriz de cesárea varia de 4,5 vezes maior com uma
cesárea e até 45 vezes maior com quatro cesáreas. Tam-
bém pode acontecer o acretismo da placenta (a pla-
centa invade o útero, ou, em casos mais graves, ou-
tros órgãos), que aumenta com o número de cesáreas,
sendo o risco onze vezes maior com três cesáreas ou
mais, do que é no primeiro parto (Ananth, 1997).
Quando se combinam problemas de placenta
resultantes da cicatriz de cesárea, pode haver casos ain-
da mais severos. Normalmente, o risco de um caso
grave de acretismo placentário é de 1 em 2.500 ca-
sos, mas um estudo brasileiro aponta que, para uma
mulher com placenta prévia e duas ou mais cesáreas,
o risco de ter acretismo é 44% (Torloni, 2001), ou seja,
o percentual inclui quase uma em cada duas mulhe-
res. Esses casos apresentam mortalidade relativamente
alta, cerca de 20%, e quase sempre a mulher perde o
útero.

38
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

No caso brasileiro, para o bebê há risco grande


de prematuridade iatrogênica (ser retirado antes de
estar totalmente maduro) e nascer com baixo peso.
Estudos mostram que por causa da cesárea nas clas-
ses mais altas, houve uma inversão da tendência his-
tórica: as chances de um bebê nascer com baixo peso
são maiores entre as mães de maior renda que entre
as mulheres mais pobres (Silva et al., 1998).
Outro estudo, comparando bebês nascidos de
cesárea por razões não-médicas com partos vaginais,
comprova que os bebês de cesárea tinham risco quase
cinco vezes maior de ser admitidos em cuidados intensi-
vos ou semi-intensivos, e cinco vezes maior de pre-
cisar de assistência respiratória. Outra investigação
mostrou que a hipertensão pulmonar persistente, uma
complicação respiratória grave, é 4,5 vezes mais freqüente
nos bebês nascidos de cesárea eletiva, em compara-
ção com os nascidos de parto vaginal (ICAN, 2003).
Além disso, nos bebês que nascem maduros, a ter-
mo, o risco de desenvolver desconforto respiratório é
cerca de sete vezes maior nas cesáreas eletivas que nos
partos vaginais. Isso se dá porque o trabalho de parto
é um processo físico e hormonal e serve para terminar
o amadurecimento do bebê, principalmente seus siste-
mas respiratório, imunológico e nervoso (Odent, 2002).
Os estudos mostram também que o risco de ter um
natimorto na gravidez seguinte é cerca de 2,5 vezes maior
quando a mulher faz cesárea (Goer’s Henci, 1999).

39
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

z Por que, no Brasil, não se informam


adequadamente os riscos da cesárea
ou dos procedimentos usados no parto?
Em nosso país, não há uma tradição de consen-
timento informado em saúde (esclarecer o paciente do
procedimento a que será submetido, antes da interven-
ção), e menos ainda da escolha informada (esclarecer
o paciente das diferentes opções de procedimento, para
participar da escolha, em parceria com o profissional),
ou da recusa informada (o paciente recusar o proce-
dimento com base na informação recebida).
No caso da assistência ao parto, existe, igualmen-
te, o problema da cultura médica. Infelizmente, quanto
à cesárea, há grande subestimação desses riscos no caso
brasileiro. Defendemos que as mulheres têm direito
de decidir sobre como querem seus partos, e, para isso,
é importante que estejam informadas dos riscos po-
tenciais da cesárea com base em estudos rigorosos, não
apenas na opinião do profissional, uma vez que esta
é, muitas vezes, enviesada, assunto já desenvolvido
anteriormente.
Um excelente exemplo desse viés é a afirmação
dos médicos de que a maioria das mulheres quer a
cesárea. Estudos de Hopkins (2000), Althabe et al.
(2002) e Barbosa et al. (2003) demonstram que, se ques-
tionadas quanto à preferência, a grande maioria das
mulheres, do setor privado ou público no Brasil, afirma
que optaria pelo parto normal. Porém, mediante nu-

40
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

merosos mecanismos – diagnósticos inadequados su-


perestimando os riscos maternos e fetais, interpretação
das manifestações de dor sempre como pedido de cesárea
etc. –, os potenciais partos vaginais são transformados
em cesáreas.
Já a permanência de procedimentos obsoletos,
dolorosos e arriscados na assistência ao parto, como
vimos, é um dos mais importantes motivos para a esco-
lha da cesárea, de acordo com o apontado em outros
estudos (Langer & Villar, 2002; Behague et al., 2002).

z Os riscos do parto vaginal: o que as


evidências demonstram
Quais os riscos do parto normal, conforme os
estudos científicos? Em curto prazo, ele implicaria dor
maior durante o trabalho de parto, como vimos. Po-
rém, só é avaliada pelas mulheres como fator negati-
vo se a dor é insuportável – o que ocorre em virtude
de não ter alívio adequado da dor (por meio de re-
cursos farmacológicos ou não-farmacológicos), ou do
excesso de procedimentos dolorosos, ou da combina-
ção de ambos fatores.
Outros argumentam como desvantagem do parto
normal a sua inconveniência e imprevisibilidade, razões
que aumentaram a ansiedade e o medo de mulheres
aflitas ou temerosas com o parto. Mas vários autores
acreditam que esse argumento não se sustenta: se as
mulheres fossem devidamente informadas, sua afli-

41
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

ção e temor seria pela cesárea, pois tal opção acarreta


mais riscos e acidentes. Assim, conclui-se que as mu-
lheres temem com base nas informações que recebem
(Klein, 2004).
Durante muito tempo, afirmou-se que a cesárea
preveniria a incontinência urinária e fecal perda in-
voluntária de urina, gazes ou fezes, e a flacidez da
musculatura pélvica, mantendo a vagina mais aper-
tada para a relação sexual. Atualmente, há compro-
vação de que a sobrecarga na musculatura pélvica é
causada pela gravidez e não pelo parto, e de que o bom
tônus vaginal depende mais de exercícios vaginais que
de intervenções cirúrgicas (Davis & Kumar, 2003).
Nem a cesárea nem a episiotomia são eficazes
para prevenir a flacidez vaginal (Chiarelli et al., 2003).
Hoje, sabe-se que a episiotomia – em si uma laceração
do períneo – aumenta muito o risco de lesões graves.
O uso dos fórceps é ainda mais danoso sobre o períneo,
aumentando em até doze vezes a chance de a mulher
ter danos graves no períneo, e deve ser prevenido
(Signorello et al., 2001). A posição de parto conven-
cional, imobilizada e de costas, por ser contrária à fi-
siologia do parto, aumenta o risco de dano perineal,
além de tornar o parto mais doloroso e desconfortável
(Enkin et al., 2000). Discutiremos esse tema a seguir.
Se você está preocupada com o estado de seus
genitais – com toda a razão –, saiba que, felizmente,
sua vagina pode ser ainda mais vigorosa e sua vida

42
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

sexual ainda melhor depois do parto, seja ele vaginal


seja cesárea (Chiarelli et al., 2003). Basta fazer exer-
cícios vaginais, cuja importância será apresentada a
seguir. Você pode também conhecer mais sobre o tema,
acessando o site Fique Amiga Dela (ver em Recursos).

n O que é melhor para minha vida


sexual: o parto normal ou a cesárea?
Meu médico disse que o parto vaginal
deixa a vagina flácida, por isso a cesárea é
melhor para preservar o períneo e a função
sexual. Também comentou que se fizer o
parto normal, é preciso cortar a vagina para
o bebê nascer, depois costurar bem aper-
tadinho, fazendo um ponto, chamado “pon-
to do marido”. Estou achando melhor cor-
tar por cima do que por baixo, porque em
baixo é uma área mais nobre!

z Qual é o efeito do parto vaginal sobre o


períneo?
Muitos argumentam que a principal vantagem
da cesárea seria proteger o períneo e a vida sexual da
mulher. Mais uma vez, é importante distinguir o que
é o parto vaginal do que é o parto vaginal com proce-
dimentos desnecessários, invasivos, arriscados e doloro-
sos, que caracterizou a assistência no século passado,

43
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

antes do surgimento da medicina baseada em evidên-


cias. Tais procedimentos no parto vaginal aumentam
os riscos de outras complicações maternas (hemorra-
gias, infecções) e do bebê, portanto devem ser em-
pregados apenas em casos estritamente indispensáveis
(Althabe et al., 1999).
De fato, os procedimentos de rotina têm impacto
muito negativo sobre o períneo – e não o parto (fisio-
lógico, normal, sem intervenções desnecessárias) em

Figura 1 Episiotomia

44
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

si. Um dos procedimentos mais danosos para o períneo


é a episiotomia (corte da vulva e da vagina no mo-
mento do parto), regularmente usada no Brasil em
rotina de assistência – embora no mundo inteiro seu
uso tenha diminuído muito. Em vários países, reco-
menda-se o uso somente em cerca de 10 a 15% dos
casos, em que o períneo não consegue dilatação su-
ficiente – muitas vezes por causa de uma episiotomia
em um parto anterior (Enkin et al., 2000).
Antes dos estudos da medicina baseada em evi-
dências, acreditava-se que a episiotomia protegeria o
períneo de lesões maiores, da incontinência urinária e
fecal, e facilitaria o parto. Assim, a vulva e a vagina
deveriam ser cortadas num corte reto, mais fácil de
suturar, para evitar que houvesse ruptura irregular do
períneo. Os estudos mostraram que isso equivalia a ter
uma ruptura (cirúrgica, mas sempre uma ruptura) em
100% dos partos, incluindo a pele e os músculos. Mas
o dever da assistência era buscar preservar o períneo
íntegro. Descobriu-se também que o uso de episioto-
mia aumentava muito o risco de lesões graves do períneo,
atingindo o ânus, por exemplo. Em alguns serviços, essas
lesões graves quase desapareceram com o uso restrito
da episiotomia. Além disso, a episiotomia provocava
perda sanguínea e risco de infecções maiores, e muito
mais desconforto no pós-parto, problemas com a ama-
mentação, e, ao contrário de melhorar, piorava a vida
sexual e a perda de urina (Maternitywise, 2004).

45
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Um dos argumentos a favor da episiotomia mais


enfatizado no Brasil é o de que o parto vaginal dei-
xaria a musculatura vaginal flácida, desqualificando
a mulher sexualmente. O apelo da episiotomia para
devolver à mulher sua condição virginal, como proposto
por alguns autores médicos na década de 1920, teve
grande eco na cultura brasileira. O discurso médico
sugere que, depois da passagem de um falo enorme
– o bebê –, o pênis do parceiro seria proporcional-
mente muito pequeno para estimular ou ser estimu-
lado pela vagina (Diniz & Chacham, 2004).
A evidência científica é clara de que a episioto-
mia piora o estado genital em vez de protegê-lo, e o
único fator que ajuda a mulher a manter uma vagi-
na forte, flexível e vigorosa são os exercícios vaginais.
Apesar disso, infelizmente, é ainda muito raro encon-
trar no Brasil um ginecologista-obstetra que não apenas
mencione, mas que, de fato, oriente suas gestantes de
forma adequada, sobre a importância desses exercí-
cios. Eles são importantes para que a mulher identi-
fique a musculatura que deve relaxar durante o período
expulsivo, e também como recuperar a capacidade de
contrair a musculatura vaginal depois do parto. Essa
musculatura ficará mais amolecida por um período
de vários meses, independente de o parto ser normal
ou cesárea, e é importante para a mulher em qualquer
idade, para que tenha vida sexual satisfatória e mante-

46
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

nha a capacidade de não perder fezes e urina até a idade


avançada (Incontinent, 2004).
Outro efeito enorme sobre o estado genital é o
uso de fórceps. Estudos recentes mostram que o uso
de fórceps aumenta em mais de doze vezes o risco de
lesões perineais, notadamente as mais graves e que po-
dem danificar o ânus (Signorello et al., 2001). Infe-
lizmente, em alguns serviços no Brasil se utiliza o fór-
ceps de rotina nos primeiros partos, com a finalidade
de ensinar os médicos residentes essa técnica. Melhor
para todos seria ensinar aos residentes o respeito à in-
tegridade corporal das mulheres, e comprar modelos
sintéticos nos quais eles pudessem treinar os fórceps,
para que esse recurso fosse usado apenas nos casos raros,
necessários.
Outros procedimentos obsoletos também con-
tribuem para provocar danos genitais. Um deles é a
posição horizontal durante o parto, principalmente
durante o período expulsivo. Essa posição, além de mais
dolorosa, atrapalha o processo de expulsão do bebê,
por impedir que a gravidade atue sobre o feto e faci-
lite sua descida, e por não permitir a melhor abertu-
ra da vulva, aumentando o risco de rupturas. Esta posi-
ção deitada é confortável apenas para quem atende o
parto, e deveria ser abolida em favor da liberdade de
posições. Vários serviços no Brasil, públicos e priva-
dos, já oferecem essa liberdade.

47
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Como o período expulsivo se torna mais longo


por causa de intervenções (manter a mulher imobili-
zada e deitada, peridural etc.), muitas vezes as pessoas
que atendem o parto, no intuito de fazer a expulsão
mais rápida, aplicam a manobra de Kristeller (pressão
sobre o fundo do útero), o que freqüentemente leva a
danos graves no períneo (Simpson & Knox, 2001). A
anestesia peridural é também associada a mais dano
genital, uma vez que as mulheres perdem a noção da
dor da distensão do períneo, fazendo força excessiva,
sem sentir a eminência da ruptura (Goer’s Henci, 1999).
Hoje em dia, cada vez mais se trabalha com a idéia
de que o períneo, assim como o colo do útero, ne-
cessita de um tempo para sua dilatação adequada, que
os provedores têm de esperar essa dilatação se processar
de maneira segura. O mais importante é estar aten-
to ao bem-estar físico e emocional da mãe e do bebê.
Se eles estiverem bem, não há por que apressar o parto.

z Por que é importante manter o períneo


íntegro no parto?
Na última década, houve uma re-interpretação
profunda da anatomia genital feminina. Atualmen-
te, entende-se que a região ao redor da abertura da
vagina é uma área nobre composta de tecido erétil,
análoga à do pênis, a qual deve ser, sempre que pos-
sível, preservada. A maioria dos profissionais de saú-
de pratica a episiotomia de rotina porque acredita estar

48
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

fazendo um benefício para a sexualidade da mulher:


foi essa a maneira aprendida. A anatomia que nos ensi-
naram dava pouca importância para a função do perí-
neo e da vulva, como um todo, na vida sexual, pois
descrevia o clitóris como órgão sexual localizado na
parte superior das estruturas da vulva, distante da área
atingida pela episiotomia (O’Connel et al., 1998).
Para entender o que a episiotomia corta, preci-
samos entender a anatomia feminina. Antigamente,
acreditava-se que o clitóris era o pontinho difícil de
achar que ficava entre os lábios menores da vulva, logo
acima da abertura da uretra, aquilo que é na verda-
de apenas a glande do clitóris. Hoje, sabe-se que o
clitóris é bem fácil de encontrar: ocupa quase toda a
vulva, a parte da frente (terço anterior) da vagina, uma
parte da uretra e do períneo (espaço entre a abertura
da vagina e a do ânus), além de ter ramificações para
a raiz das coxas. Atualmente, considera-se a existên-
cia de um sistema clitoridiano formado por dezoito es-
truturas anatômicas distintas. A parte do clitóris mais
evidente e exposta é a glande do clitóris – ainda que
bem menor que a glande do pênis, ela tem quatro vezes
mais terminações nervosas.
Da glande do clitóris surgem duas pregas de pele
– em geral, denominadas pequenos lábios – que des-
cem até a abertura da vagina. Freqüentemente, os
pequenos lábios são maiores que os grandes, causando
nas mulheres um sentimento de que seriam anormais.

49
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Por essa razão, as anatomistas feministas consideram


mais correto chamá-los, respectivamente, de lábios
internos e externos.
Por fora dessas pregas mais finas, existem os gran-
des lábios (externos): são a continuação lateral do
monte de Vênus, a parte de cima da vulva. O monte
de Vênus e os lábios externos são revestido de pele e
de pêlos, ao contrário do resto da vulva, revestida de
mucosa (aquela pele fina do lado de dentro da gen-
te, como da boca etc.). Essa pele é muito sensível e
muitas mulheres adoram ser tocadas ali, mais do que
na glande do clitóris.
Por dentro dos lábios externos ficam as chama-
das pernas do clitóris. O clitóris como um todo é
formado de um tipo de tecido erétil, parecido com o
do pênis, capaz de crescer com a excitação sexual. É
por isso que quando a mulher fica excitada, e logo
depois de gozar, a vulva cresce e endurece. Às vezes
o clitóris fica tão teso e inchado depois da transa que
é difícil urinar, pois a uretra fica imprensada pelo clitóris
aumentado.
Essas estruturas ficam dentro de músculos, prin-
cipalmente aqueles ao redor da vulva, que vão do
monte da púbis ao cóccix (pubo-coccígeo), o mús-
culo mais prejudicado na episiotomia.
No parto vaginal, quando a mulher sofre uma
episiotomia ou fórceps, isso pode prejudicar todas as
estruturas descritas acima (lábios internos e externos,

50
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

sua musculatura, tecido erétil, vasos e nervos), subs-


tituindo-lhes, e, também, o tecido erétil, por cicatriz.

z O papel dos exercícios para ter uma


vagina poderosa
A saúde dos músculos pélvicos é fundamental
para manter a integridade e o bom funcionamento
da vagina e da uretra e a posição dos órgãos da pélvis.
Os músculos pélvicos controlam o fluxo de urina, a
contração (aperto) da vagina e o bom fechamento
do ânus. Tanto a uretra quanto o ânus têm um es-
fíncter (músculos especiais que funcionam como
fechaduras) que garantem a retenção da urina e das
fezes. O assoalho pélvico é composto de várias cama-
das de músculos suspensos como uma “rede” pendu-
rada em dois pontos, na frente e atrás da pélvis. Além
dessa rede, os músculos também formam um triân-
gulo (Figura 2).
Um assoalho pélvico saudável apresenta bom
tônus (firmeza) e elasticidade. Entretanto, a idade, a
falta de exercícios em geral, e mesmo a gravidez e o
parto, seja vaginal ou cesariana, fazem com que estes
músculos fiquem mais fracos, e a rede fique arriada.
No século passado, para preservar a sexualidade
da mulher, recomendava-se a episiotomia. Nos dias de
hoje sabe-se que, na grande maioria das vezes, ela é
mais prejudicial do que benéfica e deve ser evitada. Se
você vai fazer um parto, converse com seu médico sobre

51
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Figura 2 Assoalho pélvico

prevenção da episiotomia. A maneira mais segura de


prevenir uma episiotomia é procurar um profissional
que acredite nas evidências científicas e procure tan-
to evitá-la quanto manter o períneo íntegro, indicando
exercícios vaginais no pós-parto.
Para conhecer melhor essas estruturas anatômicas
e exercícios vaginais, visite o site Fique Amiga Dela
(ver a seção Recursos).

52
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

n O que deixa a mulher mais


satisfeita: o parto normal
ou a cesárea?
A satisfação com o parto, como com qualquer ou-
tra experiência humana, depende de suas expectativas
e de seus valores. Se a experiência é compatível com o
que você acredita e espera, você tende a ficar satisfei-
ta. Abaixo, discutimos alguns estudos a respeito do tema.

z O controle sobre a experiência do parto


Para mim, tudo tem que ser planejado.
Se eu não souber tudo, o que vai aconte-
cer, não me acalmo... Acho a cesárea uma
bênção.
Eu troquei de médico duas vezes, mas
só sosseguei quando achei um em quem
confiei, que me deixou convencida de que
ele respeitava minhas vontades. Por isso, o
parto foi tão tranqüilo e bonito.

Para muitas mulheres, o fator que mais pesa na


satisfação com a experiência do parto é elas terem
controle sobre a experiência. Isso inclui dois tipos de
controle: o delas mesmas durante o parto e o que diz
respeito ao que fazem com elas. O controle pessoal
ou autocontrole é descrito como a capacidade de su-
portar o medo, a dor e a ansiedade do desafio, a ca-
pacidade de não entrar em pânico e a de se manter

53
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

em contato com as demais pessoas, assim como a


participação ativa na tomada de decisões. O contro-
le sobre o que fazem com elas está relacionado com
a confiança que têm de que vão respeitar suas prefe-
rências e necessidades, e que sempre serão ouvidas
quando for preciso tomar alguma decisão sobre o
andamento do parto (Green & Boston, 2003).
As noções de controle se aplicam de forma mais
direta. Quando as mulheres têm a expectativa de rea-
lizar partos ativos, em que elas próprias fazem os es-
forços e descobrem seus limites e suas forças, tendem
a ficar mais satisfeitas quanto mais acham que tive-
ram um papel ativo no parto. Se, ao contrário, a mulher
mantém a expectativa de que alguém fará o parto por
ela, sua satisfação dependerá do controle que tem sobre
o que fazem com ela, já que o autocontrole terá pa-
pel menos relevante (Hodnett, 2002).

z Enfrentar um desafio e vencê-lo

Primeiro, fiz um parto normal, depois


a cesárea. O nascimento do filho é sempre
uma grande alegria, mas achei a cesárea, sei
lá... sem aquela aventura, sabe?
Ele já tinha dito que eu não tinha pas-
sagem, que eu era muito estreita, eu fiquei
com medo de acontecer um problema. Tudo
que eu queria era marcar logo a cesárea.
Marquei e pronto.

54
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

Há numerosos estudos que comprovam que as


mulheres que decidem por um parto vaginal e con-
seguem vivê-lo de maneira bem-sucedida, ao lado de
pessoas que a apóiam e a encorajam, têm uma ima-
gem mais positiva de si e de sua capacidade como mãe.
Para muitas mulheres, parir pode ser uma experiên-
cia de força e potência, especialmente se o parto trans-
corre de forma tranqüila – mesmo que com dificul-
dade e dor.
Outras pesquisas demonstram que, quando as
mulheres estão cercadas de pessoas que não acredi-
tam nelas, desencorajam sua autoconfiança e desde-
nham de sua capacidade de dar à luz, as chances de
um parto bem-sucedido podem diminuir, e há aumento
da demanda por anestesia e por cesárea.
Esse pode ser um aspecto importante na deci-
são quanto à forma de parto. Por isso, a companhia
de alguém que a encoraja e reforça sua autoconfiança
– ao invés de depreciá-la – pode fazer toda a dife-
rença na qualidade de sua experiência de parto, como
veremos. Essa companhia pode ser importante na
cesárea, mas é muito mais importante no parto nor-
mal (Saisto et al., 2001).

z O papel relativo da dor na satisfação


Conversei com uma amiga que fez uma
cesárea e um parto normal. Ela me disse
que, na hora, o parto normal dói mais, mas

55
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

é melhor que a cesárea. Achei o maior ma-


soquismo!

Por que para muitas mulheres não sentir dor não


significa necessariamente maior satisfação no parto? Por
meio de estudos, mostrou-se que a maioria das mu-
lheres que quer parto normal imagina que sentirão
alguma dor e aceitam esse fato, porém o que não deseja
é que a dor seja insuportável, ou que o parto seja uma
experiência negativa no plano emocional. Os estudos
sobre satisfação com a experiência do parto, seja normal
seja cesárea, revelam que para uma alta satisfação a
dor é menos importante do que fatores como a qua-
lidade da relação com quem é atendida, de seu sen-
timento de controle sobre a situação e sobre si mes-
ma (Hodnett, 2002).
Não há dúvida de que para um parto vaginal, a
anestesia peridural é o recurso mais eficaz para blo-
quear a dor. Mas não é necessariamente o recurso que
deixa as mulheres mais satisfeitas, pois, como vimos,
é associado a problemas como maior dificuldade (ou
total impossibilidade) de se manter ativa no parto,
maior chance de o parto ser operatório, fórceps, epi-
siotomia e lesões do períneo. Além disso, o perío-
do expulsivo tende a ser mais longo, e os bebês cos-
tumam nascer menos ativos e alertas, fazendo que os
primeiros minutos tão especiais do pós-parto às ve-
zes sejam mais tensos (Goer’s Henci, 1999).

56
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

z A continuidade do cuidado

Minha médica me explicou que para ela


é difícil acompanhar todo o trabalho do
meu parto, que pode demorar muitas ho-
ras, e ela não pode desmarcar o atendimen-
to no consultório ou faltar em seu outro
emprego. Por isso, ela prefere a cesárea, pois
assim pode ter certeza de que pode dar a
cada paciente a atenção que merece. Eu
queria muito um parto normal, mas ado-
ro a minha médica. Nem imagino chegar
ao hospital e ser atendida por alguém que
nunca vi antes...

Os estudos mostram que a continuidade do cui-


dado (ser atendida desde o pré-natal até o fim do parto
pela mesma pessoa) é um dos fatores mais associados
à satisfação (Hodnett, 2002). No Brasil, este é um dos
grandes motivos para escolha da cesárea pelas pacien-
tes (Diniz & Chacham, 2004).
Para que sua experiência de parto seja positiva,
saiba que você pode escolher se quer estar acompa-
nhada, e por quem. Não há nenhum problema ou risco
por contar com esse apoio. Pelo contrário, todas as
evidências científicas apontam que estar acompanhada
no parto é excelente para a sua saúde e a de seu bebê.
Na realidade, a mulher costuma pensar que o
médico será o único conhecido presente no parto. No

57
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

entanto, o cuidado contínuo pode ser realizado por


quem estiver disposto a isso e você quiser ter como
companhia. Felizmente, hoje em dia, há muitas op-
ções de companhia.

z O acompanhante no parto
Na assistência à saúde, dispor de acompanhan-
te, seja na consulta ambulatorial seja na internação, é
um tema antigo, e muitas vezes fica a critério dos profis-
sionais e serviços definir em que situações permitir ou
mesmo estimular a presença dele. Na rede privada,
na maioria das vezes, os pacientes que pagam por esse
direito obtêm a permissão para ser acompanhados por
alguém de sua preferência. Mais recentemente, com
o Estatuto da Criança e do Adolescente, os serviços
de saúde públicos vieram a aceitar e mesmo a estimular
a presença do(a) acompanhante, em geral a mãe, du-
rante a internação de crianças e adolescentes.
Nesses casos, o que atualmente se discute é como
oferecer aos(às) acompanhantes condições dignas em
tal situação, visto que são reconhecidos como elemen-
tos muito positivos na assistência.
O acompanhamento das mulheres durante o
trabalho de parto como questão para os serviços, surge
com mais força a partir dos estudos de Hodnett &
Osborn (1989), que demonstram, entre outros acha-
dos, que uma mulher que dá à luz seu primeiro filho
em um hospital universitário poderia ser atendida por

58
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

até dezesseis pessoas diferentes e, ainda assim, ficar


sozinha durante a maior parte do tempo. A presen-
ça muitas vezes invasiva de estranhos e o isolamento
das pessoas queridas durante o trabalho de parto e o
parto estavam relacionados ao aumento do estresse,
interferindo no andamento do processo, prolongando-
o e desencadeando o que foi descrito como uma cas-
cata de intervenções (WHO, 1996).
Estudos em vários países indicam que a presença
de acompanhante no parto tem sido associada a re-
sultados muito positivos, como a menor solicitação
de alívio da dor, menor risco de cesárea ou de partos
operatórios, menor risco de Apgar abaixo de sete nos
primeiros cinco minutos, menor avaliação pela mu-
lher do parto como experiência negativa, maior sa-
tisfação com o parto, menos trauma perineal, me-
nor risco de desmame precoce e de dificuldades com
a maternagem no pós-parto, entre outros. A revisão
sistemática desses estudos, feita pela Iniciativa Cochrane,
resultou em recomendação para a incorporação de
acompanhantes no parto por parte das instituições
de assistência:

Dados os claros benefícios e a ausência


de riscos conhecidos associados ao apoio
intraparto, todo o esforço deve ser feito para
assegurar que todas as parturientes recebam
suporte, não apenas de seus familiares ou

59
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

pessoas próximas, mas também de profis-


sionais experientes. O apoio oferecido às
mulheres deve incluir a presença contínua
(quando desejado pela mãe), o contato ma-
nual como massagem e o encorajamento
verbal. (Enkin et al., 2000, p.254).

Até certo ponto, essas evidências apontam maior


economia financeira dos serviços, tanto pelo menor
uso de insumos e procedimentos quanto pela dimi-
nuição da carga sobre os profissionais, sobretudo das
enfermeiras, principalmente os serviços que estimu-
lam a presença de acompanhantes de parto, ou doulas,
especialmente treinadas. Em São Paulo, alguns hospitais
contam com o serviço de doulas para acompanhar as
parturientes que assim o desejem.5 Mas adiante, você
verá como fazer para conseguir uma acompanhante
qualificada e negociar com o hospital a companhia
que você deseja no parto.
Desde março de 1999, a Lei n. 10.241 assegura
que, nos hospitais públicos do estado de São Paulo,
o pai (ou outra pessoa da escolha da mulher) pode
estar junto da mulher e acompanhar o nascimento do
bebê. Outros estados e municípios também têm leis
sobre o direito ao acompanhante. Procure se infor-

5 Para uma lista completa desses serviços, ligue para o Serviço de Orientação à
Saúde da Mulher, (0xx11) 3034-2321.

60
O que dizem as evidências científicas N Capítulo 2

mar sobre a situação em sua cidade, por exemplo no


Conselho Municipal de Saúde.
Infelizmente, essas leis ainda não são cumpridas
pela grande maioria dos hospitais, apesar de terem sido
divulgadas em vários setores e instâncias da sociedade
civil, até mesmo por entidades como a Rede pela Hu-
manização do Parto e do Nascimento (ReHuNa) Você
pode conferir mais indicações na seção Recursos.

61
Como planejar
seu parto

Há um ponto principal a ser pensado quando


se vai ter filho: o parto é da mulher e não do médico
nem do hospital, nem da sociedade. É o corpo da
mulher, seu filho, sua vida, sua história que estão em
primeiro plano. Embora seja realmente mais cômo-
do entregar as decisões a uma equipe e simplesmen-
te achar que a responsabilidade não é sua, a verdade
é que ninguém pode assumir o papel que é das mães
e dos pais. A relação médico–paciente, parteiro(a)–
cliente, é, de fato, uma parceria com direitos e deve-
res de ambas as partes.
Entre os deveres da paciente está o de se infor-
mar e decidir conjuntamente como será o parto e o
que fazer caso um ou outro fator apareça. Essa deci-
são baseada em pesquisa e informação recebe um nome

63
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

pomposo, mas cujo significado é simples: é a escolha


informada, ou escolha consciente. Em seguida, vamos
ver como escolher, o que escolher e por que escolher.

n A escolha da via de parto


(normal ou cesárea)

Minha mãe contou que, para eu nascer,


ela passou dois dias no hospital, sofrendo
sozinha. Tudo o que ouço falar sobre par-
tos tem a ver com sofrimento e dor. Tenho
pavor do parto normal. Não é melhor fa-
zer uma cesárea e não passar pelo que ela
passou?

Dependendo das opções, é claro que sim! En-


tre o atendimento típico das últimas décadas, não há
dúvidas de que a cesárea é melhor, poupando a mu-
lher de dor e humilhação. No entanto, se você per-
guntar às suas avós sobre os partos que tiveram, pro-
vavelmente elas dirão que foram fáceis e rápidos. O
corpo da mulher teria mudado de uma geração para
a outra? Por que nossas avós tinham partos fáceis e
nossas mães foram torturadas em hospitais, com partos
demorados, complicados e difíceis? Ficamos mais es-
treitas, nossas bacias estão tortas, nossas mães torna-
ram-se sedentárias? É claro que não!

64
Como planejar seu parto N Capítulo 3

É preciso resgatar para os partos atuais o que havia


de bom nos partos do tempo das nossas avós e unir
aos benefícios das modernas evidências científicas.
Temos de eliminar o que havia de ruim no passado:
o soro de rotina, o qual provoca contrações doloro-
sas, o isolamento na sala de parto coletiva, que tira a
segurança do acompanhamento familiar e expõe a mu-
lher ao olhar de estranhos, o parto deitada de costas,
com as pernas amarradas em perneiras, pessoas pou-
co empáticas dando ordens de como e quando fazer
força, a episiotomia dolorosa, a exposição do corpo,
entre outros procedimentos.
O parto pode ser, sim, um evento de alegria, de
fortalecimento, de prazer, de amadurecimento, des-
de que as mulheres sejam respeitadas, olhadas com
carinho, reverenciadas pela capacidade espantosa de
conceber, gestar e parir.

Tenho amigas que tiveram cesárea e ado-


raram, outras tiveram parto normal e acha-
ram maravilhoso. Também já vi o contrário,
cesáreas que deram complicação e partos
normais que fizeram minhas amigas ficarem
semanas sem poder sentar. Afinal, que tipo
de parto vai me garantir mais satisfação?

Satisfação não tem a ver necessariamente com


dor, com previsibilidade, com rapidez, nem sequer com
os resultados.

65
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Várias pesquisas revelam que os maiores índi-


ces de satisfação com o parto estão associados a um
mínimo de intervenção sobre a fisiologia, a garantia
do direito à privacidade, a ter companhia escolhida
pela mulher e boa relação com o provedor de saúde,
a sentir-se respeitada e no controle da situação.
No Capítulo 2, já discorremos sobre o que faz
um parto normal ou uma cesárea serem menos ou mais
seguros, confortáveis e satisfatórios.

n A escolha do profissional de saúde


Quem deve estar no meu parto? Posso
ser atendida por apenas um médico? A idéia
de ter dez pessoas em volta de mim na hora
do parto não me agrada.

Médico obstetra: a escolha do profissional é fun-


damental para o sucesso do parto. A obstetrícia bra-
sileira, comparada com a de países com baixa taxa de
mortalidade materna e neonatal, é bastante inter-
vencionista. Muitos obstetras sequer fazem partos
normais e boa parte deles não conhece ou não utili-
za as evidências científicas ou as recomendações da
Organização Mundial da Saúde para o atendimento
ao parto.
Para piorar o que já é ruim, muitos planos de
saúde pagam entre R$300,00 e R$500,00 pelo acom-

66
Como planejar seu parto N Capítulo 3

panhamento de um parto e poucos médicos se dis-


põem a passar dez horas em um hospital por essa quantia.
Alguns cobram uma taxa extra para atender partos nor-
mais. Muitos deles, para não correr o risco de perder
a cliente, dizem que só na hora do parto é possível
saber como proceder. Assim, só tratam do assunto
quando chega o final da gravidez ou, então, o parto
aparece um impedimento que os faz recomendar uma
cesárea eletiva.
Outro fenômeno das últimas décadas é o apa-
recimento de um grupo cada vez maior de médicos
que acredita realmente que a cesárea é sempre a me-
lhor opção para mãe e bebê, a despeito das evidências
em contrário. A previsibilidade e ritualística de um
ato cirúrgico trazem muito mais segurança do que a
imprevisibilidade do parto normal e todas as nuances
de um ato fisiológico.
Obviamente, existem excelentes médicos obste-
tras, que jamais exporiam a mulher e o bebê a um risco
desnecessário, para sua própria conveniência. Mas
vamos e venhamos, para chegarem no vergonhoso
índice de 80-95% de cesáreas nas maternidades pri-
vadas, não devem ser tantos médicos conscienciosos
assim. É necessário pesquisar com cuidado (veja mais
em A escolha do médico, p.69). Não se impressione com
consultórios luxuosos, consultas de R$300,00 e cer-
tificados de congressos na parede. Exija informações
coerentes. Exija o uso das evidências científicas.

67
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Enfermeiras obstetras: são qualificadas para o aten-


dimento ao parto de baixo risco, mas os hospitais
particulares não aceitam que elas se responsabilizem
pela internação. Por isso, é preciso que no parto haja
a presença de um médico encarregado. A maioria das
enfermeiras obstetras que atende partos o faz nas Casas
de Parto, nos Hospitais Públicos com programas de
parto humanizado, ou nos Partos Domiciliares. De
modo geral, as enfermeiras intervêm menos no pro-
cesso de nascimento, respeitando mais o corpo e o
tempo de cada mulher. Mas é sempre bom discutir
cada item do planejamento de seu parto.
E lembre-se de que, como diz Marsden Wagner,
ter um obstetra acompanhando um parto de baixo risco
é o mesmo que ter um pediatra como babá de seu filho!
Neonatologistas: são médicos pediatras especiali-
zados em receber os bebês recém-nascidos, particu-
larmente nos partos hospitalares. Alguns hospitais
particulares aceitam que a família traga seu próprio
neonatologista. Isso permite que você programe um
nascimento mais suave para seu bebê, com menos pro-
cedimentos. Segundo a nossa legislação, é obrigató-
ria a presença de um neonatologista na sala de parto.
Porém, na maioria dos países de primeiro mundo essa
regra não existe e as taxas de mortalidade neonatal são
menores que as nossas.
Anestesistas: são médicos especializados em aplicar
anestesias. A presença deles em sala de parto é obri-

68
Como planejar seu parto N Capítulo 3

gatória a partir do momento em que a parturiente


solicita anestesia. Ter um anestesista de prontidão para
um parto de baixo risco é tão importante quanto ter
um médico intensivista (especializado em UTI) es-
perando o bebê. Partos normais geralmente não pre-
cisam de anestesia, se a mulher tiver opções naturais
para lidar com a dor do parto, como explicaremos mais
adiante na seção Elementos e recursos para lidar com a
dor do parto, na p.103.

z A escolha do médico

Em meu livrinho do convênio há qua-


se cinqüenta nomes de médicos. Se eu mar-
car uma consulta por semana, vou chegar
no final da gestação sem conhecer todos
eles! Como encontrar um bom profissional
de saúde para me acompanhar na gestação
e no parto?

A forma mais improvável de se encontrar um bom


médico é por tentativa e erro. Você pode mesmo passar
a gestação fazendo uma consulta com cada médico e
possivelmente vai terminar sem nenhum que satisfaça
suas exigências. O melhor é começar pedindo indica-
ção a grupos de mulheres e de profissionais que defen-
dem os interesses de gestantes e parturientes, como as
Amigas do Parto, Coletivo Feminista, ReHuNa entre
outros (ver indicação de acesso aos sites em Recursos).

69
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Como encontrar um médico

P
lantão Telefônico: muna-se de caneta, papel, paciência
e simpatia. Ligue para cada consultório de sua lista e
faça perguntas-chave. Com duas ou três perguntinhas,
você fica sabendo como é a prática de cada médico. Até a
secretária poderá responder, ou no mínimo dar retorno
depois de consultar o chefe. Sugestões:
• “Gostaria de saber se o doutor fulano faz parto de cócoras.”
Se ela não passar mal de tanto rir, provavelmente ela vai dizer
que não sabe e que vai perguntar a ele. Prepare-se para re-
ceber telefonemas de médico perguntando a qual tribo in-
dígena você pertence. Se a secretária disser que ele faz par-
tos de cócoras, você achou um tesouro. Marque consulta
e faça outras perguntas.
• “Você sabe se a maioria dos partos que ele faz é cesárea ou
parto normal? Eu ainda não me decidi, mas queria saber
no que ele tem mais prática.” A secretária, possivelmente,
vai perguntar o que é parto normal, e desses médicos você
deve fugir! Ela pode dizer que é mais ou menos a mesma
quantidade. E de repente você pode ter a sorte de achar uma
que diga: “Ele até faz cesárea de vez em quando, mas a maio-
ria é normal, mesmo. Hoje mesmo eu tive que desmarcar as
consultas porque ele está trabalhando em um parto.” Marque
consulta e faça outras perguntas.
• Não desanime. Lembre-se das estatísticas: nas principais
maternidades privadas de nosso país, as taxas de cesárea estão
em torno de 90%. Portanto, estatisticamente você vai achar
nove médicos cesaristas para cada médico vaginalista.

Você também pode pedir indicação a amigas que


conseguiram partos satisfatórios. Embora não haja
garantia, é um bom começo. Você pode perguntar às

70
Como planejar seu parto N Capítulo 3

outras clientes da sala de espera de seu médico como


foram seus partos. Se a maioria disser que foi cesárea,
o seu também será, provavelmente. Você pode ir à
maternidade onde quer ter seu bebê e pedir para falar
com a enfermeira obstétrica responsável. Ela saberá
dizer quem, entre os médicos de sua lista, costuma
esperar pelo parto normal. E acredite, as enfermei-
ras conhecem muitos médicos.

Tenho um médico que me acompanha


há anos. Tenho tentado falar com ele sobre
o parto, mas ele pigarreia, tosse, diz que é
cedo demais e que, só na hora, é possível
saber o que deve ser feito. Disse também
que, se tudo estiver bem, dá para tentar o
parto normal.

A boa comunicação entre o médico e a cliente


é fundamental. Em última instância, ele é um forne-
cedor de serviço, e as gestantes, os pais, são clientes.
Se antes de comprarmos calças jeans fazemos ques-
tão de verificar as costuras, o acabamento, o preço, a
possibilidade de troca, por que não fazer o mesmo em
relação ao prestador de serviços de saúde?
O médico-parceiro tem, entre suas obrigações,
a de informar exaustivamente tudo o que a cliente
precisa saber antes de tomar decisões. Se o médico foge
dessa responsabilidade é porque não acredita que a

71
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

cliente tenha a possibilidade/capacidade de decidir


sobre o que é melhor para ela. E, nesse caso, talvez seja
o caso de comprar os jeans, digo, ter o parto acompa-
nhado por outro médico, mais interessado nas neces-
sidades das pacientes.

Perguntei a meu médico sobre o corte


na hora do parto (episiotomia) e ele diz que
sempre se deve usar essa prática. Além do
mais, disse que só faz parto com anestesia.
Sinceramente, não gostaria que me espetas-
sem a coluna com uma agulha que daria
para perfurar um poço de petróleo. Não sei
como agir.

Inicialmente, é preciso fazer um esclarecimen-


to. Ninguém pode lhe impor nada, seja um tratamen-
to, uma cirurgia ou um procedimento simples, sem
a sua permissão. Se você não quer anestesia, cortes,
raspagem dos pêlos etc., simplesmente você pode re-
cusá-los. É um direito constitucional inalienável.
No entanto, o ideal é que você discuta esses pon-
tos com seu médico exaustivamente, em uma con-
versa em que cada um explique seu ponto de vista.
E você, como usuária, pode simplesmente dizer: “Não
quero anestesia porque não quero”. Existem recursos
na internet, fáceis de serem localizados, que indicam
dados estatísticos e pesquisas científicas que provam
por que a maioria dos procedimentos médicos ligados

72
Como planejar seu parto N Capítulo 3

ao parto é totalmente dispensável, em sua quase to-


talidade (ver mais orientações na seção Plano de parto,
p.88 e Recursos).

Estou no sétimo mês de gravidez e meu


médico disse que minha bacia é estreita (ou
meu colo do útero está muito duro, ou o
cordão do bebê está enrolado, ou o bebê
está virado de lado, ou eu sou muito peque-
na, ou meu marido é muito grande, ou eu
sou muito nova, ou minha placenta está
ficando velha, ou meu sangue está ficando
grosso). Ele acha que é melhor eu fazer uma
cesárea. Será verdade? E agora, o que faço?

É muito comum esse tipo de pressão pela cesárea


eletiva começar quando a mulher está tão vinculada
ao médico que já não tem coragem de procurar ou-
tro médico. Se ele acha a cesárea melhor, o mais pro-
vável é que ele não vá atender seu parto normal.
Por outro lado, já se comprovou que a melhor
forma de garantir um bom parto é estar acompanhada
de um profissional que acredite e respeite as preferên-
cias das pacientes.
Você descobriu que o médico não é adepto do
parto normal. Nesse caso as opções são:
1) Fingir-se de cega, surda e muda, esperar o
trabalho de parto começar e chamá-lo quando esti-
ver indo para a maternidade, com contrações a cada

73
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

três minutos. Vantagem: dificilmente o médico con-


seguirá fazer uma cesárea a essas alturas. Desvanta-
gem: ele ainda pode fazer uma cesárea, alegando que
seu bebê está em risco.
2) Tentar ensinar a seu médico os princípios da
obstetrícia, dando de presente uma edição clássica de
algum livro utilizado pelos estudantes na faculdade
de medicina. Vantagem: ele vai perceber que para você
ter gastado R$ 300,00 num livro, você deve estar que-
rendo muito um parto normal. Desvantagem: ele ainda
pode fazer uma cesárea, alegando que seu bebê está
em risco.
3) Você pode trocar de médico e procurar um
que esteja disposto e saiba acompanhar um parto
normal. Vantagem: você foge do doutor Faca e au-
menta a oportunidade de um parto de sua preferên-
cia. Desvantagem: trocar de médico nesse momento
pode ser desagradável para algumas mulheres. Boa
notícia: a maioria dos médicos que faz partos normais
está acostumada e não se importa de receber mulhe-
res no final da gestação, assustadas com o que o mé-
dico anterior disse. E mais: no oitavo mês a mulher
faz duas consultas e no nono mês faz mais quatro. São
seis consultas em dois meses, ou cinco consultas em
um mês e meio. Talvez mais do que seu obstetra an-
terior durante todo o pré-natal! Dá tempo de criar
um vínculo e de o novo médico conhecer bem os
aspectos de sua saúde e suas preferências.

74
Como planejar seu parto N Capítulo 3

4) Você pode ir para uma casa de parto (ver a


seção a seguir, A escolha do local do parto), onde a es-
pecialidade do dia, da semana e do mês é o parto nor-
mal. Vantagem: trocar o modelo médico-hospitalar
pelo modelo parteira–casa de parto é uma excelente
garantia de que você será tratada como um ser capaz.
Desvantagem: a imensa maioria das cidades de nos-
so país ainda não possui uma casa de parto.

n A escolha do local do parto


Onde ter o bebê? Como faço para esco-
lher o hospital? É verdade que ainda existe
parto em casa?

Você pode optar por um parto domiciliar, em


casa de parto, em clínica privada, ou em grande ma-
ternidade, seja pública seja privada. Há vantagens e
desvantagens em cada opção.
Parto Hospitalar Público: procure um Hospital
Amigo da Criança (isto é, que tenha cumprido os pas-
sos para o sucesso do aleitamento materno). Procu-
re ver se há em sua cidade algum hospital com pro-
grama de humanização do parto ou algum que tenha
ganhado o prêmio “Galba de Araújo”, oferecido a ma-
ternidades que se destacaram nesses programas. Tente
conversar com mulheres que já tiveram bebê nesse hos-
pital. Procure saber o que os grupos de humanização

75
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

pensam dessa maternidade. Vantagens: baixas taxas


de cesárea (20-30%), gratuito, alguns têm bons pro-
gramas de parto humanizado. Desvantagens: atendi-
mento não individualizado, risco de não ter vaga, não
aceitam plano de parto, não têm anestesia, mesmo se
for do desejo da mãe (ainda que a lei garanta, ela não
é obedecida), possibilidade de infecção hospitalar, muitos
não aceitam a presença do acompanhante.
Parto Hospitalar Particular: procure as materni-
dades disponíveis e verifique com a enfermagem o que
é permitido e o que não é. Veja se o marido pode entrar,
ou uma doula, se podem ser usadas roupas próprias,
se possuem suíte de parto etc. Leve seu plano de parto
e discuta ponto por ponto. Pergunte se o bebê fica
com a mãe em alojamento conjunto e se não ofere-
cem leite de mamadeira. Não se impressione com os
serviços especiais: perfumaria, bares, cabeleireiros, telão,
banheiras etc. Atenha-se aos protocolos, facilidades
para o parto e observância das recomendações da
Organização Mundial da Saúde. Vantagens: possibi-
lidade de o médico negociar alguns dos protocolos
hospitalares; em alguns hospitais há suítes de parto,
bom atendimento (em geral), conforto. Desvantagens:
altas taxas de cesárea (de 70 a 95%), possibilidade de
infecção hospitalar, proibição, cobrança de entrada
de acompanhantes, excesso de intervenções aumen-
tando a chance de complicação, dificuldade de ne-
gociação de protocolos hospitalares com a gestante.

76
Como planejar seu parto N Capítulo 3

Clínicas Particulares: geralmente menores que


maternidades, permitem uma série de quebras de pro-
tocolos e oferecem atendimento mais individualizado.
Podem ou não possuir sala para cirurgia. Se não dis-
põem, há um hospital conveniado para as interven-
ções necessárias. Vantagens: menor possibilidade de
contaminação, maior possibilidade de negociação.
Desvantagens: na maioria das cidades não há clíni-
cas de parto, inexistência de garantia de parto com
poucas intervenções, pois depende do que o médico
se propôs a fazer.
Casa de Parto: apenas existentes na rede públi-
ca, atendem partos de baixo risco. Se há necessidade
de intervenção médica a gestante é encaminhada ao
hospital conveniado. Quem atende os partos nas ca-
sas de parto são enfermeiras obstetras e a presença do

Foto: Valéria Grywocz


Figura 3 Casa de parto

77
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

acompanhante é incentivada. As suítes de parto são


individuais e têm uma série de recursos não-farmaco-
lógicos para o parto. Vantagens: não há infecção hos-
pitalar, baixa taxa de morbidade, seguem as recomen-
dações da OMS, o acompanhante é bem recebido.
Desvantagens: são raras e geralmente em locais afas-
tados, são públicas e isso significa que eventualmen-
te o atendimento pode ficar um pouco a desejar, já
que o parto é atendido pela enfermeira de plantão.
Parto Domiciliar: a parteira, ou enfermeira obs-
tetra, ou médico vai à casa da parturiente e atende o
parto, desde que seja de baixo risco. Vantagens: a fa-
mília manda no parto, não há infecção hospitalar, não
precisa ir a lugar algum, maior conforto e liberdade.
Desvantagens: muita gente tem preconceito e medo,
poucos profissionais atendem partos em casa, em caso
de complicação, necessita de remoção para o hospital.
No site www.amigasdoparto.com.br, você pode
encontrar mais de cinqüenta depoimentos de partos
em locais diversos, do domicílio ao mais exclusivo dos
hospitais.

n A escolha dos acompanhantes


Meu maior pavor é ficar sozinha no
parto. Posso até ter o bebê no telhado da
minha casa, mas quero meu marido junto.
Como posso garantir a presença dele?

78
Como planejar seu parto N Capítulo 3

Foto: Ana Cristina Duarte


Figura 4 Parto domiciliar com a presença do pai

79
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Estar acompanhada, do marido ou outra pessoa


da escolha da gestante, é de extrema importância para
a melhora dos resultados perinatais. Não aceite dar
à luz sem a presença de um ente querido. Alguns es-
tados já possuem leis que garantem à gestante o di-
reito ao acompanhante. Em âmbito nacional, a dis-
cussão está sendo encaminhada, e é provável que, em
breve, a proposta torne-se federal.
Obviamente, existe imenso espaço entre a lei e
o cumprimento dela. Caso o hospital onde você quer
dar à luz não permita a presença de acompanhante,
comece a fazer barulho. Se for hospital público, procure
a ouvidoria responsável pela instituição. Se for pri-
vado, procure a diretoria. Comece a escrever cartas
e procurar meios legais de garantir o cumprimento
da lei. E não tenha medo de ser maltratada. Em ge-
ral, as mulheres que lutam por seus direitos são res-
peitadas, ainda mais com uma testemunha ao lado.
Veja mais informações no Capítulo 5.

z Além do meu marido, posso levar


também outras pessoas?

As evidências científicas mostram que a presença


de parentes e amigos, desde que não tragam descon-
forto à gestante, não acarreta nehuma contra-indicação.
A presença dos filhos mais velhos também pode ser
positiva, se eles forem apropriadamente preparados

80
Como planejar seu parto N Capítulo 3

para o evento e se houver alguém encarregado de dar-


lhes suporte durante o nascimento do bebê. Médi-
cos ou instituições não deveriam restringir o acesso
dessas pessoas à sala de parto, embora a maioria o faça,
com os mais variados pretextos: atrapalha a equipe,
falta espaço, contamina o parto etc.

z Posso levar uma doula?

As evidências mostram que a presença de uma


doula ou acompanhante de parto profissional que não
esteja ligada à instituição é benéfica, e não há nenhuma
contra-indicação. A Organização Mundial da Saúde,
o Ministério da Saúde e as últimas revisões científi-
cas são unânimes: mulheres acompanhadas de doula
apresentam baixo índice de morbi-mortalidade ma-
terna e neonatal. Se quiser apoio de uma doula em
seu parto, pergunte se a instituição permite e, se for
o caso, troque de hospital.

O Doula – uma acompanhante especial

Doulas são acompanhantes de parto treinadas


para oferecer suporte físico, emocional e afetivo ao
casal durante o trabalho de parto e parto.
A Organização Mundial de Saúde, no seu guia
Assistência ao Parto Normal; um guia prático (OMS/
SRF/MSM/96.24), p.13, se refere à doula como

81
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

... uma prestadora de serviços que rece-


beu um treinamento básico sobre parto e
que está familiarizada com uma ampla va-
riedade de procedimentos de assistência.
Fornece apoio emocional, consistindo de
elogios, reafirmação, medidas para aumen-
tar o conforto materno, contato físico, ex-
plicações sobre o que está acontecendo du-
rante o trabalho de parto e uma presença
amiga constante.

O Ministério da Saúde, por meio da publicação


Parto, aborto e puerpério – assistência humanizada à
mulher (livro do Ministério da Saúde, 2001, p.64-7),
registra:

A acompanhante treinada, além do a-


poio emocional, deve fornecer informações
à parturiente sobre todo o desenrolar do
trabalho de parto e parto, intervenções e
procedimentos necessários, para que a mu-
lher possa participar de fato das decisões
acerca das condutas a serem tomadas du-
rante este período. Durante o trabalho de
parto e parto, a acompanhante: orienta a
mulher a assumir a posição que mais lhe
agrade durante as contrações; favorece a
manutenção de um ambiente tranqüilo e
acolhedor, com silêncio e privacidade; au-
xilia na utilização de técnicas respiratórias,

82
Como planejar seu parto N Capítulo 3

massagens e banhos mornos; orienta a mu-


lher sobre métodos para alívio da dor que
podem ser utilizados, se necessários; esti-
mula a participação do marido ou compa-
nheiro em todo o processo; apóia e orienta
a mulher durante todo o período expulsivo,
incluindo a possibilidade da liberdade de
escolha quanto à posição a ser adotada.

A doula não executa procedimentos médicos, não


faz exames, não cuida da saúde do recém-nascido. Ela
não pode ser encarregada de ouvir o coração do bebê,
de tirar temperatura ou pressão. Não é sua respon-
sabilidade cuidar desses exames, como também não
deve responder a nenhuma decisão tomada durante
o processo de parto.
A doula não substitui o pai nem o acompanhante
escolhido pela mulher, durante o trabalho de parto.
Na hora do parto, o marido, assim como a mulher,
está inundado por fortes emoções, dúvidas, medos e
alegrias. É comum que ele não saiba bem o que é efetivo
e o que não é em cada fase do trabalho de parto e diante
das mais variadas situações que ali ocorrem. Ele não
sabe exatamente o que está acontecendo, preocupa-
se com ela, acaba esquecendo de si próprio. Em suma,
o pai também tem suas próprias necessidades no parto,
que devem ser nutridas e respeitadas.
Entre as funções da doula, inclui-se a de cercar
a mulher de cuidados para que seu plano de parto seja

83
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

respeitado. A doula deve lembrar-se dos detalhes,


cuidar que a equipe atenda os desejos do casal, espe-
cialmente nos momentos em que ambos estão por
demais absortos no trabalho de parto.

Figura 5 Parteira e acompanhante (doula) na Idade Média

84
Como planejar seu parto N Capítulo 3

Outro ponto positivo da presença da doula é a


continuidade da assistência. O vínculo se forma na
gestação. Ela estará presente desde o início do traba-
lho de parto, ainda em casa, acompanha a ida à ma-
ternidade e permanece ao lado da mulher durante todo
o tempo, até o nascimento do seu bebê. Nenhum outro
profissional oferece esse tipo de assistência contínua
e ininterruptamente.
Por fim, o papel da doula assemelha-se ao que
a parteira do bairro representava para as mulheres
antigamente: uma presença feminina que reassegura,
inspira e oferece ombros, braços e coração para os
futuros pais.

n A escolha do curso de preparação


Alguma preparação para o parto é recomendá-
vel, especialmente para o primeiro parto normal. Co-
nhecer as fases do trabalho de parto, o que esperar,
entender a dor do parto, onde obter apoio, dicas de
respiração, massagens etc. podem aumentar a tran-
qüilidade em relação ao processo.
Os cursos oferecidos pelas maternidades parti-
culares convivem com uma realidade no qual 80 a 90%
dos nascimentos são cesáreas. Espere informações
interessantes, mas não muito apoio para trocar de
médico ou ter conversas polêmicas em torno da rea-
lidade que você enfrentará para ter um parto condi-

85
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

zente com as recomendações da Organização Mun-


dial da Saúde.
As educadoras perinatais independentes – pes-
soas especializadas na preparação para o parto – cos-
tumam fazer ótimo vínculo com as gestantes e podem
ajudar os casais a encontrar bons médicos. Geralmente,
elas incentivam o parto natural e dão boas dicas para
uma experiência de parto positiva.
Existem diferentes abordagens dos cursos inde-
pendentes, com o apoio de terapia corporal, da eutonia,
informativos condensados, entre outros. Procure con-
versar com mais de uma educadora e veja se ela atende
a suas expectativas, quais são as considerações dela
sobre o ciclo da gestação, parto e pós-parto.
Mas não se esqueça de que você pode ser uma
mestre yogue, pode ter sido preparada pelo papa, e até
mesmo ser uma educadora perinatal. Se estiver sendo
atendida pelo médico errado, acabará fazendo cesárea,
pois ele justificará a necessidade dessa prática, seja por
qualquer motivo, como o de você ter bacia estreita.

n A escolha dos exercícios físicos


Meu médico me explicou que hoje em
dia é difícil uma mulher ter parto normal
porque ela não tem mais o preparo físico de
nossas mães e avós. É verdade que isso atra-
palha o parto?

86
Como planejar seu parto N Capítulo 3

Pode até ser que não tenhamos o mesmo con-


dicionamento muscular de nossas avós. Mas daí a
concluir que, em virtude disso, nossos corpos não
servem mais para o parto normal há uma grande dis-
tância. Há casos de mulheres em coma que tiveram
partos normais, mesmo sem terem se preparado para
isso. Por que uma mulher normal, saudável, ativa, não
pode ter parto normal?
O corpo feminino já está programado para o
parto, sem a necessidade de exercícios. Os músculos
mais utilizados durante o trabalho de parto são os do
útero, e não há como treiná-los.
Os exercícios de modo geral são importantes em
termos de qualidade de vida. Se você não é uma “ma-
lhadora”, essa é uma excelente oportunidade de co-
meçar a fortalecer seus músculos, sua capacidade aeró-
bica e cardiovascular. Você pode optar por exercícios
em academias, natação, hidroginástica, ou simplesmente
caminhar diariamente de vinte a trinta minutos.
Na verdade, o grande benefício dos exercícios na
gestação é evitar os desconfortos típicos do período
gestacional e do pós-parto, como a dor nas costas, os
problemas posturais, a incontinência urinária etc.
Yoga e alongamento são excelentes para se exer-
citar com freqüência e dão especial elasticidade, que
pode ser útil, mas não essencial, no parto. Com a pre-
sença do hormônio relaxina, os ligamentos ficam mais
maleáveis e fáceis de serem trabalhados. Aproveite!

87
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Não se esqueça de que estar grávida é sinal de


saúde extra, não de cuidados redobrados! Mas você
pode ser uma triatleta olímpica, contorcionista e bai-
larina, e se for atendida pelo médico errado, ele dirá
que em seu caso há falta de dilatação.

n A escolha dos procedimentos,


os detalhes que fazem diferença
– o plano de parto
O plano de parto é uma carta onde você relacio-
na tudo o que quer, o que não quer e o que gostaria
de evitar em seu parto. Mais do que um documento
legal, o plano serve para que você pense nos diferen-
tes aspectos do processo de nascimento e discuta-os com
as pessoas envolvidas, seja o companheiro, o médico,
o hospital, a casa de parto onde você vai ter seu bebê.
Também deve-se lembrar de que não existem pro-
cedimentos médicos totalmente vantajosos e/ou to-
talmente inócuos. Em todos há potenciais efeitos inde-
sejáveis e alguns só apresentam desvantagens. O plano
de parto é uma ferramenta excelente para você se fa-
miliarizar com todos os procedimentos normalmente
relacionados ao ciclo do parto e pós-parto e fazer es-
colhas conscientes.
Depois que você estiver familiarizada com os
procedimentos, discuta um a um com seu médico,
sua parteira, a instituição escolhida para o parto. Não

88
Como planejar seu parto N Capítulo 3

espere que as pessoas decidam por você. Não espere


que os outros saibam o que é melhor para você.
Nunca se esqueça de que o corpo é seu, o parto
é seu e que a responsabilidade sobre as escolhas será
basicamente sua. Também não se esqueça de que o
parto é um evento saudável e não uma doença. Se você
tem uma gestação de baixo risco, o máximo que pre-
cisa para seu parto é uma parteira experiente e pa-
nos limpos. O resto é excesso de zelo. Cabe a você
decidir o que é desejável e o que não é. Exija partici-
par de cada decisão que envolva seu corpo, seu bebê,
seu parto.
Neste livro, alguns assuntos abordados em um
plano de parto são discutidos separadamente, dado
a sua relevância (acompanhantes, episiotomia, recursos
não-farmacológicos para a dor do parto). Outros são
tratados a seguir. No site www.amigasdoparto.com.br,
você encontra modelos e guias para completar seu
plano de parto.

z Outras escolhas
Lavagem intestinal (enema): a lavagem intestinal
é a aplicação de uma solução no intestino, para que
seu conteúdo seja eliminado em seguida. Em muitos
hospitais já não se adota tal procedimento. As evidên-
cias mostram que não há benefício em usá-los de forma
rotineira, além de ser desconfortável. No entanto, se
a mulher estiver constipada, ou se sente extremamente

89
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

embaraçada com a idéia de eliminar fezes durante o


período expulsivo, poderá desejar que lhe apliquem
essa técnica.
Tricotomia (raspagem dos pêlos pubianos): a ras-
pagem dos pêlos não diminui a incidência de infec-
ções, e o crescimento dos pêlos pode ser bastante des-
confortável. Mesmo na cesárea só há necessidade de
raspar os pêlos do osso pubiano para cima, onde será
feito o corte.
Jejum: muitos hospitais e médicos impõem o je-
jum de líquidos e sólidos durante todo o trabalho de
parto, para a eventualidade de a mulher precisar de
uma anestesia geral. A possibilidade é muito remota
e as evidências demonstram que o jejum de rotina não
só é desnecessário como potencialmente prejudicial,
podendo provocar fraqueza e desidratação. Solicite a
liberação de alimentos e bebidas conforme suas ne-
cessidades físicas.
Uso de objetos pessoais (camisola pessoal, traves-
seiro, CD, objetos simbólicos em geral): objetos fa-
miliares podem melhorar a experiência do parto ao
permitir um melhor relaxamento e mais conforto.
Dispensar a camisola hospitalar pode representar à
mulher um elemento a mais de controle sobre o seu
processo de parto.
Infusão intravenosa: alguns serviços costumam
instalar o soro fisiológico para manter a veia pega. A
infusão intravenosa restringe a mobilidade e interfe-

90
Como planejar seu parto N Capítulo 3

re no relaxamento. Os eventos emergenciais e partos


de baixo risco são muito raros para justificar a perfusão
preventiva.
Monitoramento fetal eletrônico contínuo: o monito-
ramento fetal é feito por duas cintas e receptores fi-
xados à barriga da mulher – uma capta batimentos
cardíacos do bebê e outra, as contrações. Em partu-
rientes de baixo risco, a obtenção periódica dos bati-
mentos cardíacos fetais através de um aparelho por-

Figura 6 Monitor fetal

91
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

tátil ou um estetoscópio especial demonstrou ser tão


efetiva quanto o uso do monitoramento fetal eletrô-
nico. Além disso, o aparelho restringe o movimento
e pode ser bastante incômodo. Geralmente, para o uso
do monitor, as mulheres são instruídas a deitar de
costas, posição que pode ser muito desconfortável e
ter ação negativa sobre o trabalho de parto.
Ruptura artificial da bolsa das águas: é comum
o médico querer romper a bolsa a partir de determi-
nado estágio do trabalho de parto, para acelerá-lo.
Porém, o líquido amniótico contido na bolsa das águas
tem efeito de proteção, equalizando a pressão sobre
o bebê, o que resulta em menos pressão na cabeça e
do colo do útero. O rompimento artificial da mem-
brana aumenta as chances de prolapso de cordão –
evento emergencial no parto –, de infecção e cria um
limite de tempo para o parto.
Ocitocina ou drogas de efeito similar para indução
ou aceleração do trabalho de parto: também chamadas
de sorinho, ou soro, provocam contrações mais difí-
ceis de serem suportadas do que as contrações natu-
rais, tanto para a mulher como para o bebê. Os ris-
cos do parto induzido ou acelerado por hormônios
incluem restrição do suprimento de oxigênio do bebê
e uso de mais intervenções (anestesia, por exemplo),
aumentando as chances de uma cesárea ser necessá-
ria. Na maioria dos serviços públicos, o uso de ocitocina
no parto é rotina.

92
Como planejar seu parto N Capítulo 3

Suíte de parto para o trabalho de parto e parto: evita


que a mulher seja transferida às pressas, geralmente
deitada de costas numa maca, da sala de pré-parto para
a sala de parto, durante a fase de expulsão. Muitos
hospitais já oferecem essas suítes de parto ou LDR
(Labor and Delivery Room) ou salas PPP (pré-parto,
parto e pós-parto), onde a parturiente fica durante
todo o trabalho de parto, parto e recuperação.
Posição para expulsão confortável (para a mulher)
e eficiente: atualmente, um dos grandes mitos do parto
é sobre a posição em que a mulher deve permane-
cer. Com a mulher deitada de costas, posição gine-
cológica, pernas abertas por perneiras, o médico tem
uma visão melhor e mais facilidade de efetuar pro-
cedimentos como a episiotomia, por exemplo. No
entanto, essa posição geralmente provoca mais dor,
diminui a oxigenação do bebê, prolonga o período
expulsivo e tira a participação da mulher. A posição
verticalizada (cócoras, sentada etc.) favorece a desci-
da do bebê com a ajuda da gravidade. É possível fi-
car de cócoras até em um centro cirúrgico. Basicamen-
te, é preciso que a equipe tenha boa vontade. Algumas
mulheres sentem-se melhor deitadas de lado ou na
posição de quatro.
Manobra de Kristeller: quando o anestesista ou
uma enfermeira faz força sobre a barriga da mulher,
para acelerar a saída do bebê, podendo provocar trau-
matismos, hemorragias ou até a morte de um ou dos

93
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

dois. A manobra é proscrita na obstetrícia moderna,


mas ainda é muito utilizada no Brasil.
Nascimento suave (parto Leboyer ou humanizado):
o nascimento Leboyer é uma atitude, mais que um
procedimento e consiste em oferecer um ambiente
suave de nascimento. Diminui o trauma sensorial e
físico do bebê na hora do nascimento.
Placenta expulsa espontaneamente da parede do útero
após o parto: tração ou massagem uterina podem fazer
que parte do tecido da placenta permaneça no úte-
ro, podendo provocar infecção e hemorragia pós-parto.
Não há evidências de que a tração da placenta, nos
primeiros minutos após o parto, seja necessária.
Bebê colocado imediatamente no colo da mãe (ou
sobre a barriga, ou nos braços): o contato imediato pele
com pele é benéfico e aumenta o vínculo mãe–bebê.
Se o bebê for enxugado e coberto com panos secos e
ficar em contato direto com o corpo de sua mãe, a
temperatura corpórea é mantida adequadamente.
Formação precoce e contínua do vínculo mãe-bebê:
as primeiras horas após o parto são muito importantes
no desenvolvimento da ligação afetiva entre os pais
e o bebê. Não há nenhuma evidência que justifique
separar bebês saudáveis de seus pais depois do nasci-
mento para observação no berçário.
Bebê amamentado assim que possível: a sucção do
bebê estimula a produção materna de ocitocina, que
ajuda na saída (delivramento) da placenta e reduz o

94
Como planejar seu parto N Capítulo 3

sangramento pós-parto. O reflexo de sucção do bebê


é mais forte na primeira hora após o nascimento. O
colostro age como laxativo, limpando o trato intes-
tinal do bebê do muco e do mecônio. A amamentação
precoce aumenta o vínculo mãe-bebê.
Não oferecer ao bebê água, leite em pó ou chupe-
ta: o oferecimento de bicos e mamadeiras ao bebê pode
provocar confusão, já que exigem ação diferente da
língua, comparada à da amamentação natural. Se o
bebê é alimentado no berçário entre as mamadas, não
vai sugar adequadamente para o estímulo mamário
da produção de leite.
Alojamento conjunto em tempo integral: permite
contato íntimo entre pais e bebê, favorecendo a for-
mação do vínculo. A mãe poderá amamentar sob li-
vre demanda e aprender os primeiros cuidados com
seu bebê no próprio quarto.

z Episiotomia – ponto fundamental no


plano de parto
O que me dá pânico do parto é pensar
em cortar minhas partes mimosas. Toda
mulher tem que fazer o tal pique para o
bebê nascer? Se for preciso cortar embaixo,
prefiro uma cesárea.

A episiotomia é um corte feito na abertura da


vagina para ampliar o canal de parto. Na Europa é

95
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

usada em 5 a 30% dos partos normais. Na América


Latina, faz-se episiotomia em quase todos os partos.
As justificativas mais comuns: o corte reto é melhor
do que um corte desorganizado, o parto deixa a vagi-
na larga, entre outros. No entanto, os estudos das úl-
timas décadas revelam que a episiotomia deveria ser uti-
lizada apenas em casos especiais e não como rotina.
A recuperação da episiotomia pode ser bastan-
te desconfortável, os pontos podem inflamar e infec-
cionar. A cicatriz muscular pode afetar posteriormente
o prazer sexual e provocar dor durante a penetração.
Em alguns casos, é necessária uma segunda cirurgia
para se corrigirem as seqüelas de uma episiotomia mal
costurada ou mal cicatrizada.
Para que não seja feita a episiotomia, recomen-
dam-se duas atitudes importantes: discutir a questão
com o médico ou com o serviço médico, onde a mulher
vai ter o bebê, e prevenir lacerações do períneo e da
vagina.
Ao permitir que a cabeça do bebê nasça vaga-
rosamente, apenas com a força da contração uterina,
o períneo tem maior chance de distensão, o que mi-
nimiza a possibilidade de haver laceração. Compressas
quentes no períneo quando a cabeça do bebê come-
ça a coroar fazem que a mulher se sinta mais confor-
tável e relaxe a musculatura da região.
Veja informações científicas a respeito do assunto
no Capítulo 2.

96
Como planejar seu parto N Capítulo 3

z Exemplo de plano de parto


No exemplo a seguir, há o registro do plano de
parto de um casal que quer optar por um parto hos-
pitalar.
Eu e meu marido escolhemos essa con-
ceituada instituição para dar à luz nosso
bebê. Estamos cientes de que o parto pode
tomar diferentes rumos. Abaixo, listamos
nossas preferências em relação ao nasci-
mento, caso tudo transcorra tranqüilamen-
te. Sempre que os planos não puderem ser
seguidos, gostaríamos de ser previamente
avisados e consultados a respeito das alter-
nativas.

Trabalho de parto
– Presença de meu marido e doula.
– Sem perfusão contínua de soro.
– Liberdade para: beber água e sucos enquan-
to seja tolerado; caminhar e mudar de posição;
uso ilimitado da banheira e/ou chuveiro.
– Monitoramento fetal: apenas se for essen-
cial, e não contínuo.
– Analgesia: não quero que me ofereçam anes-
tésicos nem analgésicos. Pedirei se achar ne-
cessário.
Parto (hora do nascimento)
– Prefiro cócoras e aceito sugestões, caso as po-
sições tentadas não funcionem.

97
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

– Em hipótese alguma admito que alguém


suba na minha barriga para forçar o bebê a
sair.
– Prefiro fazer força quando me der vonta-
de, em vez de ser guiada pelo processo. Gos-
taria de um ambiente especialmente calmo
nessa hora.
– Episiotomia: prefiro não ter, e gostaria que
o períneo fosse aparado na fase da expulsão,
além da aplicação de compressas quentes.
– Gostaria de ter o bebê imediatamente co-
locado em meu colo e, se houver necessidade
de succionar as vias respiratórias, prefiro que
seja feito enquanto ele está comigo.
– Depois de o cordão umbilical ter parado de
pulsar, o pai o cortará.
Após o parto
– Aguardar expulsão espontânea da placenta
com auxílio da amamentação.
– O bebê deve ficar comigo o tempo todo, mes-
mo durante a avaliação de saúde e os exames.
– Liberação rápida para o apartamento, tão
logo quanto possível.
– Alta o quanto antes.
Cuidados com o bebê
– Amamentação sob livre demanda, não ofe-
recer água glicosada ou bicos.
– Alojamento conjunto o tempo todo, eu da-
rei banhos e trocarei fraldas.

98
Como planejar seu parto N Capítulo 3

Caso a cesárea seja necessária


– Gostaria da presença de meu marido e da
doula.
– Anestesia: peridural, sem sedação.
– Gostaria de ver a hora do nascimento, com
o rebaixamento do protetor ou por um espelho.
– Após o nascimento, gostaria que colocassem
o bebê sobre meu peito e que minhas mãos es-
tivessem livres para segurá-lo.
– Também queria amamentar o bebê o quan-
to antes.
– Agradeço a compreensão da equipe e por
participarem desse momento tão importante
para a nossa família.
Local e data
Assinatura

n A escolha da melhor hora – o tempo


e o parto
Meu marido me disse que quando eu
sentir as primeiras contrações, ele vai pegar
a chave do carro, e quando terminarem, ele
já vai estar me esperando com o motor li-
gado. Quanto tempo pode demorar o tra-
balho de parto? Quando devo ir à mater-
nidade?
O primeiro parto de uma mulher pode levar de
seis a doze horas, em média, e muitas vezes chega a 24
horas. Não há por que correr para a maternidade na

99
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

primeira contração. A fase latente do trabalho de parto


pode começar e parar, depois pode progredir, pode
parar novamente e assim por diante. Não há prazo
determinado para esse treino do trabalho de parto. Al-
gumas mulheres relatam contrações que vão e vêm
durante dias, às vezes acontecem durante semanas.
Um dos motivos pelos quais houve um aumento
nas taxas de cesárea é porque as mulheres se internam
cada vez mais precocemente, ao primeiro sinal de tra-
balho de parto. Muitas vezes o parto chega a parar com-
pletamente depois da internação, até porque algumas
são internadas fora do trabalho de parto, apenas porque
têm dois centímetros de dilatação no colo do útero.
Os médicos têm cada vez menos tempo e interesse em
passar muitas horas acompanhando um trabalho de
parto. Nunca espere que seu médico possa desmarcar
todas as consultas e ficar durante horas vendo você
ter contrações normais. Não exija mais do que seu
médico é capaz de oferecer!
Você pode contratar uma doula ou uma enfer-
meira obstetra para ficar com você durante a fase inicial
do trabalho de parto, mesmo que dure muito tem-
po. Se for o caso de ir para a maternidade e não estar
em franco trabalho de parto, com uma dilatação ra-
zoável, de pelo menos 4 cm, volte para casa, espere
mais algumas horas. A internação precoce é talvez a
maior culpada das intervenções, em cascata, que passa
pelo uso de drogas, hormônios, anestésicos, fórceps,

100
Como planejar seu parto N Capítulo 3

enfim, a coleção completa de ferramentas da obste-


trícia contemporânea.
Depois de iniciado o trabalho de parto, o ideal
é esperar em casa até que as contrações ocorram em
intervalos de três ou quatro minutos. Também se pode
contar em número de contrações em uma hora. Aci-
ma de quinze contrações em uma hora, já se indica
a maternidade. As contrações devem estar durando
pelo menos 45 a 50 segundos para serem efetivas.
Chegando à maternidade, em geral, a mulher
passa pela triagem. Se for detectada uma dilatação
de menos de 4 cm, o melhor é solicitar alta e voltar
para casa. O ato da internação cria um limite de
tempo para o parto, que, ultrapassado, começam a
realizar as intervenções.
Uma dica importante: não subestime sua ansi-
edade diante da chegada do trabalho de parto. Com
o início das contrações, é comum o casal entrar em
pânico e querer sair correndo para o hospital. Cer-
quem-se de pessoas que acreditem na capacidade fe-
minina de dar à luz. Não queira fazer tudo sozinha,
ou, mesmo assim, busque ajuda de alguém, só para
contar com o apoio em caso de uma eventualidade.

n Lidando com a dor do parto


O parto acontece em razão das contrações do
útero, que vão fazendo o colo se dilatar e o bebê des-

101
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

cer pelo canal de parto. As contrações começam es-


paçadas e fracas, tornando-se mais próximas e intensas
com o andamento do trabalho de parto. No intervalo
entre as contrações, não há dor nem desconforto. No
final do trabalho de parto, geralmente as contrações
duram um minuto e os intervalos, dois minutos.
Para a maioria das mulheres a dor das contra-
ções é intensa, mas classificada como suportável. Exis-
tem também diversos recursos naturais que podem
ser utilizados para aliviar as sensações fortes das con-
trações. Além desses, existem drogas específicas para
serem usadas no parto normal. Imediatamente após
o nascimento as dores desaparecem.
Alguns fatores que fazem a dor aumentar e se
tornar insuportável: ficar em jejum, estar com medo,
estar sozinha, sentir-se observada, sentir-se expos-
ta, não ter privacidade respeitada, ficar deitada sem
poder caminhar e movimentar-se livremente, ser alvo
de procedimentos médicos dolorosos, como o soro
com hormônios, a episiotomia, a costura da episio-
tomia, a manobra de empurrar a barriga com o braço
(Kristeller), entre outros.
A primeira providência de quem quer parto nor-
mal agradável é evitar todos os procedimentos acima,
que, na maioria das vezes, não se justificam e acabam
provocando mais dor. Isso pode ser feito por meio do
diálogo franco e aberto com o médico e de um pla-
no de parto pensado e estruturado adequadamente.

102
Como planejar seu parto N Capítulo 3

A segunda é se conscientizar dos recursos naturais para


lidar com a dor. A terceira é conhecer as formas de
analgesia por drogas.
É possível ter um parto normal agradável, com
ou sem o uso de drogas e com a vantagem de recu-
peração muito fácil. A recém-mãe vai chegar em casa
pronta para cuidar de seu bebê, e não cortada, cos-
turada e de repouso, com a sensação de ter sido atro-
pelada por um caminhão, recuperando-se de uma
cirurgia de médio a grande porte.

z Elementos e recursos para lidar


com a dor do parto

Apoio: pode ser obtido de várias pessoas, entre


as quais o companheiro, a mãe, uma amiga, a doula
ou mais de uma delas. Sentir-se protegida nesse mo-
mento tão importante e intenso, ser cuidada com
massagens, carinho e informações, tudo isso pode ser
de grande ajuda na travessia do processo do parto. É
importante que a mulher confie nas pessoas que es-
tão à sua volta, que perceba a sintonia entre todas elas
e sua intenção sincera de estarem assegurando o bom
êxito do trabalho de parto. Deve haver compreensão,
paciência, competência e respeito para com os ritmos
e tempos da mulher.
Silêncio, privacidade e ambiente adequado: não
ter que falar durante as contrações, não ter que ou-

103
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

vir conversa paralela, ou sons de ambientes vizinhos,


não ver pessoas entrando e saindo o tempo todo, não
se sentir observada; esses fatores são positivos.
Iluminação: para a maioria das mulheres, um
ambiente na penumbra ou na meia luz é mais pro-
pício ao relaxamento. Podem-se fechar cortinas, usar
abajures, lâmpadas fracas etc.
Música: para algumas mulheres, a música é rela-
xante; para outras pode ser fonte de perturbação. O
importante é que cada mulher escolha: ambiente com
ou sem música, de acordo com o momento e a pre-
ferência respeitados, durante o trabalho de parto.
Velas, aromas, cores: o uso de outros elementos
ambientais podem ser igualmente muito importan-
tes. Aromas, incensos, velas, luzes de cores especiais,
enfim, todo o recurso ambiental é válido e não deve
ser desprezado, desde que seja de escolha da parturi-
ente, e que seja disponibilizado nos momentos e in-
tensidades desejados por ela. Em muitos hospitais não
se permite acender velas nem incensos.
Mobilidade durante o trabalho de parto: auxilia
na mobilidade dos ossos da bacia e diminui o tempo
de trabalho de parto. Parece óbvio, mas é comum as
mulheres terem de passar o trabalho de parto deita-
das em macas em salas de pré-parto.
Posicionamento: algumas posições servem para
corrigir apresentações inadequadas do bebê, podem
aumentar o fluxo sangüíneo do útero ou podem dar

104
Como planejar seu parto N Capítulo 3

mais conforto. Embora seja bastante óbvio que a mu-


lher deva ter liberdade dessa escolha, é comum mé-
dicos ou regras hospitalares restringirem a posição da
parturiente, exigindo que ela fique deitada de lado
durante o trabalho de parto ou de costas na hora da
expulsão.
Massagem: os impulsos nervosos gerados pela
massagem em determinadas regiões do corpo vão com-
petir com as mensagens de dor que estão sendo en-
viadas ao cérebro, reduzindo as sensações de dor. São
impulsos nervosos diferentes, competindo pelos mes-
mos receptores do cérebro. Essa massagem deve ser
aplicada nas costas, na região lombar, especialmente
durante as contrações. Massagens aplicadas nos om-
bros e pescoço são melhores entre as contrações e aju-
dam a relaxar. Já a massagem nos braços e nas per-
nas alivia a pressão nos momentos de tensão. O uso
de óleo ajuda o deslizamento e aquecimento das re-
giões massageadas.
Respiração: embora ninguém se esqueça de res-
pirar, existem técnicas que ajudam a aumentar a oxi-
genação durante as contrações e o relaxamento du-
rante os intervalos. Basicamente, entre as contrações
a respiração deve ser calma e profunda, propiciando
maior relaxamento. Embora essas sejam dicas úteis para
o parto, a adaptação varia de mulher para mulher e
ao longo do trabalho de parto. Não existem regras fixas,
mas muitas mulheres se sentem bem ao receber es-

105
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

sas dicas das pessoas que a estão acompanhando. Ou-


tras mantêm intuitivamente ótimo ritmo respirató-
rio, sem necessidade de auxílio.
Uso da água: um recurso importante, em suas
variadas formas. Uma ducha morna sobre as costas
é relaxante e diminui a sensação de dor. Não há li-
mite de tempo para a mulher permanecer no banho.
A água muito quente pode, eventualmente, causar
queda de pressão. As banheiras comuns ou de parto
também são relaxantes, podem fazer diminuir o in-
chaço, e diminuem a sensação de dor. O ideal é que
a imersão seja feita quando a dilatação já atingiu 5
ou 6 cm, para que não haja desaceleração do traba-
lho de parto.
Relaxamento: a importância do relaxamento está
em não permitir que a mulher lute contra a dilata-
ção ou contra as dores por ela provocadas. Essa luta
provoca tensão, e mais dor, que acaba gerando medo.
É assim que o relaxamento permite que seu útero faça
o trabalho. Entre outras coisas, relaxar significa desco-
nectar-se dos pensamentos ruins, das preocupações,
do mundo exterior. A prática da meditação durante
a gravidez facilita o relaxamento na hora do trabalho
de parto.
Algumas terapias classificadas como alternativas:
Homeopatia: existem vários recursos em homeo-
patia para o trabalho de parto, para auxiliar no rela-
xamento, na dilatação, na indução e aceleração.

106
107
Como planejar seu parto N Capítulo 3

Figura 7 Caminhando para o parto normal Crédito: JICA-www.humanization.org


coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Acupuntura: pode ser usada para alívio da ten-


são, indução e aceleração do parto.
Hipnose: procura distrair a mulher das sensações
mais fortes do parto, mas é pouco utilizada no Brasil.

z Analgesia e anestesia
O uso dos nomes anestesia e analgesia é um pouco
controverso até entre os profissionais da área. Comu-
mente, diz-se que analgesia é qualquer recurso usado
para diminuir a dor. A anestesia é usada para eliminar
toda a sensibilidade, e é mais utilizada em cirurgias.
Existem recursos alternativos e não-farmacológicos,
e os farmacológicos. Entre os farmacológicos, há os
mais simples, como analgésicos, a exemplo da dipirona,
e antiespasmódicos, por exemplo o brometo de n-butil
escopolamina. Em seguida, em ordem de importân-
cia médica, vêm os opiáceos, como a dolantina. Por
fim, o recurso farmacológico mais intenso para o parto
normal é a anestesia regional.
Os analgésicos e antiespasmódicos surtem efeito
apenas nos trabalhos de parto iniciados muito len-
tamente, com contrações incômodas que duram al-
guns dias, mas não produzem dilatação notável do colo
do útero. Na fase ativa do trabalho de parto, não têm
efeito algum.
Os opiáceos são um recurso para promover o
relaxamento físico quando a dor do parto está em níveis
considerados insuportáveis para a mãe e todos os outros

108
Como planejar seu parto N Capítulo 3

recursos não farmacológicos foram esgotados. Por cair


na corrente sanguínea, pode afetar o bebê e fazer que
ele nasça menos ativo. Por isso, a aplicação da droga
deve acontecer pelo menos algumas horas antes do
previsto para o nascimento. A vantagem do opiáceo
em relação à anestesia é que não afeta as contrações
uterinas nem o reflexo de fazer força. As desvantagens
são os efeitos colaterais sobre a mãe e sobre o bebê, e
a sensação de perda do controle que a parturiente pode
perceber.
Os tipos de anestesia conhecidos são: peridural,
raquidiana e combinada ou duplo bloqueio. Todas se
caracterizam por diminuir drasticamente ou acabar
com as sensações dolorosas da cintura para baixo. De-
pendendo do tipo e da dosagem do anestésico, é pos-
sível para a mulher sentir outros estímulos como pres-
são, movimentação, força etc. Durante uma cesariana,
geralmente usa-se a raquidiana ou a peridural. No
parto normal, hoje em dia, geralmente se usa a anestesia
combinada. Vantagem: elimina quase ou totalmen-
te a dor. Desvantagem: pode atrapalhar o trabalho de
parto, diminuir as contrações, aumentar as chances
de uso do fórceps e de cesárea. Pode provocar náu-
sea, queda de pressão e outros problemas mais raros
e mais graves. No Capítulo 2, explicam-se detalha-
damente os possíveis efeitos colaterais e as evidências
científicas sobre o uso de analgesia no parto. O ou-
tro inconveniente é que nunca se sabe como uma mu-

109
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

lher vai reagir a determinada quantidade de anesté-


sicos, pois não existe uma relação linear única entre
o tamanho da mulher e quantidade de drogas neces-
sária para tirar a dor, mas não a capacidade motora.
Por que empregar a analgesia? Ela pode ser usa-
da se a mulher não estiver mais suportando as dores
do parto. Mesmo assim, um encorajamento por parte
da equipe, se o parto já estiver perto do fim, é o su-
ficiente para evitar o procedimento, que pode apre-
sentar efeitos colaterais indesejáveis. Também convém
esgotar todas as possibilidades de recursos não-farma-
cológicos, como banhos, massagens, posições confortá-
veis, suporte emocional, encorajamento etc. A analgesia
é, no entanto, excelente alternativa à cesárea.
Quando? Analgesia combinada (ou duplo blo-
queio) pode, pelo menos em teoria, ser aplicada em
qualquer momento do trabalho de parto, do início
até o período expulsivo. Quem decide o melhor mo-
mento da aplicação é a gestante, ao lado do obstetra
e do anestesista. Como o uso da analgesia pode desa-
celerar o trabalho de parto, admite-se que, quanto mais
tarde a mulher for anestesiada, menores as chances
do trabalho de parto perder a força ou de o bebê ter
dificuldade de girar dentro da bacia, antes de nascer,
o que poderia acarretar uma cesárea.
Quanto? Quanto menor a quantidade de anes-
tésico, melhor para o trabalho de parto. Se for utili-
zada a quantidade mínima, é possível para a mulher

110
Como planejar seu parto N Capítulo 3

sentar, caminhar amparada e mudar de posição, o que


é benéfico para o trabalho de parto e para a oxigenação
do bebê. Cada organismo responde de uma forma aos
anestésicos, de modo que nem sempre a quantidade
ideal pode ser prevista.
Como? A mulher deve se sentar com a coluna cur-
vada para frente ou deitar-se de lado. O anestesista
aplica um anestésico local com agulha fina e depois
insere a agulha grande no espaço entre duas vértebras.
Nessa agulha grande, ele coloca um catéter (cânula
de plástico) e retira a agulha. O catéter fica preso às
costas por esparadrapo e a outra extremidade recebe
uma tampinha, por onde se aplica mais anestésico.
Quem? Praticamente, quase toda mulher pode
usar anestesia. Existem alguns efeitos colaterais, que
podem ou não ocorrer, como a queda da pressão san-
güínea, por exemplo. Por isso, existe a necessidade de
aplicar o soro fisiológico na veia durante todo o tempo
que a mulher estiver anestesiada. Alguma quantida-
de da droga pode chegar ao bebê e ele pode sofrer
queda nos batimentos cardíacos nos minutos que se
seguem à aplicação inicial. Alguns bebês nascem com
menos vitalidade por causa das drogas anestésicas, que
acabam caindo na corrente sangüínea. Esse efeito cos-
tuma passar em algumas horas.
Onde? A anestesia só pode ser aplicada por um
médico especialista, o anestesista, em um centro obs-
tétrico ou sala de parto equipada para emergências.

111
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Em casas de parto, em partos domiciliares e outros


ambientes não hospitalares não é possível dispor desse
procedimento, por causa dos riscos previstos.
Anestesia em hospital público: embora a lei bra-
sileira garanta o direito à anestesia no parto normal,
na realidade poucos hospitais públicos possuem anes-
tesista de plantão no centros obstétricos. Porém, mais
grave ainda é que em muitos desses hospitais as mu-
lheres recebem hormônios para acelerar o parto, não
podem ter acompanhantes, ficam deitadas e sem acesso
a formas naturais de alívio da dor. Portanto, a discussão
deve ser muito mais ampla: é melhor um parto cheio
de intervenções com anestesia ou um parto com con-

Figura 8 Anestesia

112
Como planejar seu parto N Capítulo 3

forto e cuidados naturais, sem procedimentos desne-


cessários? O melhor é descobrir antes quais são os
protocolos dos hospitais disponíveis (ver mais orien-
tações na seção A escolha do local do parto, p.75).

113
A cesárea

Existem duas situações em que a cesárea pode-


rá acontecer: porque o médico indicou, correta ou
incorretamente, ou porque a mulher assim o quis,
depois de ser informada sobre riscos e benefícios.
Primeiramente, vamos discutir o que seria in-
dicação adequada de cesárea. Depois, se com base na
informação recebida você optou por uma cesárea, ou
teve uma indicada por seu médico, o que você pode
fazer para transformar a sua cesárea em uma expe-
riência mais agradável e segura. Por fim, vamos tra-
tar da possibilidade de parto normal depois da cesárea.

n Quando a cesárea é necessária


Existem diversas situações para a ocorrência de
cesárea. São as indicações:

115
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Figura 9 Cesárea

• absolutas: quer dizer que sem a cesárea a mãe


ou o bebê correm risco de morrer ou de ter
sérias complicações;
• relativas: existe algum risco na insistência pelo
parto normal, mas é discutível; a mulher de-
veria decidir com o médico, já que as conse-
qüências serão assumidas por ela, no futuro.
Não existem evidências científicas claras de
que os riscos da cesárea são menores do que
os de um parto normal.
• discutíveis: quando o médico acredita, embora
não haja evidências de que a mulher ou o bebê
correm risco, ou quando faz a mulher acredi-
tar que ela ou seu bebê necessitam de cesárea,

116
A cesárea N Capítulo 4

superestimando os riscos para justificar a ci-


rurgia. Nesses casos, aplicam-se para as mu-
lheres apenas os riscos adicionais da cesárea,
com desvantagens para sua segurança.

z Indicações absolutas de cesárea


Há situações em que não é possível optar pelo
parto normal. São muito raras, especialmente no caso
de mulheres que tiveram gestações de baixo risco.
Antes do início do trabalho de parto, indica-se
a cesárea para: placenta prévia (a placenta se localiza
sobre o colo do útero); bebê em situação transversa
(não está sentado, nem de cabeça para baixo); her-
pes genital com lesão ativa no final da gestação.
Durante o trabalho de parto, indica-se a cesárea
se houver: eclâmpsia (não confundir com pressão alta);
prolapso de cordão (o cordão umbilical aparece an-
tes da cabeça do bebê); descolamento prematuro da
placenta (durante o trabalho de parto, a placenta se-
para-se da parede uterina, provocando hemorragia
intensa).

z Indicações relativas
Quando os profissionais percebem que o risco
de continuar com o trabalho de parto é maior do que
o de fazer cesárea, há uma indicação relativa. Não há
risco de morte iminente, mas ele pode aparecer mais
à frente.

117
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Infelizmente, esses motivos são freqüentemente


usados de forma equivocada ou mesmo falsa – é mais
fácil convencer uma mulher a fazer cesárea porque seu
bebê está sofrendo do que pelos compromissos que
o médico terá com o grupo de equitação!
As indicações freqüentemente utilizadas de forma
errada são: desproporção céfalo-pélvica (quando a
cabeça do bebê não passa pela bacia da mãe durante
o trabalho de parto); parada de progressão (quando
o parto não evolui); sofrimento fetal agudo (quando
o bebê está sofrendo algum estresse no útero).
Também aparecem situações em que a indica-
ção da cesárea é discutível e as evidências científicas
não são óbvias. São casos que continuam sendo dis-
cutidos, pois envolvem a expectativa da mulher e as
grandes chances de que tudo dê certo, independen-
temente do tipo de parto escolhido.
Entre as situações discutíveis, consideram-se:
• Bebê pélvico, ou seja, quando ele está de ca-
beça para cima, no útero: embora os riscos de
um parto normal sejam muito menores para
a mulher, eles são maiores para o bebê que
está sentado. Contudo, existem fatores que
podem inverter o prognóstico, como o núme-
ro de partos anteriores, o tamanho do bebê,
a experiência do parteiro e a evolução do tra-
balho de parto.

118
A cesárea N Capítulo 4

• A mulher teve duas ou mais cesáreas prévias:


apesar dos riscos de ruptura, os estudos falha-
ram em comparar partos sem intervenções e
cesáreas eletivas para mulheres que já fizeram
mais de uma cesárea prévia.
• Alteração de forma da bacia da mãe: antes do
trabalho de parto, é muito difícil afirmar que
a bacia será inadequada, por mais deficiente
que seja, uma vez que o sucesso do parto de-
pende de muitos outros fatores.
• Mãe HIV positiva: embora para o bebê haja
diminuição no risco de contaminação, os ris-
cos para a mulher são muito maiores na ce-
sárea. Além disso, existem táticas que ajudam
a diminuir o risco, como o uso do coquetel
de drogas antes do parto, a tentativa de evi-
tar a ruptura da bolsa d’água, entre outros.

z Indicações discutíveis
No Brasil, principalmente na rede privada, há
grande abuso do recurso à cesárea, com os mais di-
versos argumentos, freqüentemente superestimando
riscos de forma que deixam as mulheres vulneráveis
e assustadas:
Esta semana encontrei uma amiga e ela
disse que o médico recomendou uma ce-
sárea porque o bebê estava com o pé en-

119
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

ganchado na costela dela. Mas se o bebê


está no útero, como o pé dele estava preso
na costela? Juro que não entendi.

Eu tive HPV há um tempo e já fui em


três médicos. Cada um diz uma coisa dife-
rente. Um disse que se eu tiver parto nor-
mal, meu filho vai ter verruga na garganta.
Afinal, eu posso ou não posso ter parto nor-
mal? Se eu fizer a cesárea, então não existe
risco para o bebê?

Meu bebê vai nascer em janeiro, em


época de chuvas. Posso ficar presa em tra-
balho de parto, no trânsito ou em uma
enchente, o que pode ser perigoso para
mim e para meu bebê. Não é melhor mar-
car uma cesárea?

Eu e minha esposa, que está com 36


anos, fomos consultar um obstetra e ele ex-
plicou que pela idade dela o parto normal
representa um risco de 50%. O que ele quis
dizer com isso? Estou muito preocupado.

Circular de cordão, ou cordão enrolado: o risco de


uma complicação pela circular de cordão é muito
menor que uma complicação de cesárea para o bebê
e para a mãe.
Bolsa rota: quando a bolsa das águas se rompe,
o útero não está mais protegido por uma barreira.

120
A cesárea N Capítulo 4

A maioria das mulheres entra em trabalho de parto


até 24 horas após o rompimento da bolsa. Não há li-
mite para essa espera e as evidências apontam depois
do período de 24 horas de rompimento da bolsa sem
trabalho de parto, o ideal é induzir o parto. Outras
pesquisas mostraram que o uso de antibióticos após
12 a 18 horas de bolsa rompida ajuda a prevenir in-
fecções. Da mesma forma, é importante evitar os exa-
mes de toque, que podem aumentar o risco de infecção.
Parto prolongado, período expulsivo prolongado:
não existe parto que demorou demais. O parto está
demorando o tempo certo enquanto mãe e bebê es-
tiverem bem.
Falta de dilatação: um termo utilizado popular-
mente, mas inexiste na literatura médica! O que existe
com freqüência é o profissional não ter paciência de
aguardar o processo normal. A dilatação demora e,
às vezes, demora muito mais horas do que o profis-
sional está disposto a sacrificar.
Passou de quarenta semanas: definitivamente, isso
não quer dizer nada. A gestação humana normal vai
de 37 a 42 semanas. A partir de quarenta semanas,
poderão ser mais freqüentes a visita aos profissionais
de saúde e a solicitação de alguns exames. E no caso
de as condições não serem mais adequadas para o bebê,
a melhor opção é a indução e não a cesárea.
Pressão alta: é um dado isolado e como tal não
apresenta risco por si só. Só a presença de outros sin-

121
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

tomas poderá indicar se há hipertensão, pré-eclâmpsia,


quando a indução do parto poderá ser indicada. Cada
caso deve ser analisado individualmente.
Bacia muito estreita: outro grande mito. Não
existe diagnóstico de bacia estreita que indique cesárea
sem tentativa de parto vaginal.
Bebê muito grande: definitivamente outro grande
mito. Não existe limite para o peso, desde que a evo-
lução do parto seja boa.
Cesárea prévia: sem dúvida, é possível um par-
to normal para uma mulher que já teve cesárea pré-
via (ver no capítulo a seguir).
Primigesta/grávida senil ou idosa: termo nada
simpático, indicativo de que a mulher terá filho com
mais de 35 anos. Não há indicação de cesárea pela
idade, qualquer que seja.
Primigesta adolescente: ser jovem demais não é
indicação para cesárea, a não ser que a gestante seja
tão jovem que não tenha completado seu desenvol-
vimento ósseo mínimo, o que raramente acontece
depois dos quatorze anos. Apoio emocional mais cons-
tante deve ser dado a essas gestantes, pela vulnerabi-
lidade social e pela idade. Uma parcela dessas meni-
nas mais novas pode ter engravidado de relações sexuais
forçadas por pessoas mais velhas.
Presença de mecônio: às vezes, o bebê elimina seu
primeiro conteúdo intestinal, o mecônio, no útero.
Assim como a pressão alta, o evento do mecônio iso-

122
A cesárea N Capítulo 4

ladamente não quer dizer nada. O que vale mesmo


é a vitalidade do bebê (monitorada pelos batimentos
cardíacos dele).
Quaisquer condições ginecológicas ou clínicas: HPV,
Streptococcus, herpes genital não ativa, mioma, cisto,
varizes na vagina, paraplegia, epilepsia, miopia, hemor-
róidas, placenta madura, depressão, ansiedade etc., não
são a priori indicações de cesárea. Portanto, cada caso
deve ser analisado criticamente. Alguns médicos apro-
veitam a presença de uma condição qualquer para mar-
car a cesárea, sem que haja indicação clínica clara. Não
aceite antes de consultar uma, duas ou mais opiniões.
Pesquise, procure na internet. Hoje, a informação não
tem mais dono, nem lugar, nem custo.

z Sofrimento fetal
É um dos argumentos mais utilizados para pres-
sionar uma mulher a se submeter a uma cesárea, ou
mesmo quando o médico está inseguro e não sabe bem
como proceder.
O sofrimento fetal (tradução infeliz do termo em
inglês fetal distress) é diagnosticado pelo padrão de
batimentos cardíacos e pelo pH, e, assim, do sangue.
Geralmente, é inviável verificar o pH, o que mais se
usa é monitorar o coração do bebê. Os batimentos
normais vão de 110 a 160 batidas por minuto. Du-
rante as contrações uterinas, o coraçãozinho pode

123
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

desacelerar e com a movimentação do bebê pode ace-


lerar. Enfim, as variações são normais e desejáveis,
mostram que o bebê está ativo.
Normalmente, o sofrimento fetal não acontece
de repente. O bebê está bem e em seguida fica mui-
to mal? Isso é muito raro, porque o sofrimento fetal
começa com alguns comportamentos conhecidos dos
batimentos cardíacos, como as desacelerações durante
as contrações do útero. É comum que esses compor-
tamentos regridam com o uso de medidas simples,
como alimentar a mãe, mudá-la de posição, diminuir
as fontes de estresse ambiental aos quais ela está su-
jeita, entre outros.
Algumas vezes, esse estresse fetal pode agravar,
o que é caracterizado por outros sintomas, entre eles
a queda de batimentos cardíacos fora do tempo da
contração. Infelizmente, poucos médicos sabem utilizar
corretamente os registros de batimentos cardíacos do
bebê e acabam fazendo muitas cesáreas de emergên-
cia em bebês que estavam muito bem, obrigado.
Você tem o direito de solicitar uma segunda opi-
nião, mesmo durante o trabalho de parto.

n Escolhas para ter uma boa cesárea


De repente, a mulher se encontra em uma situa-
ção delicada: apresenta placenta prévia, ou seu bebê
está sentado e ela não encontra um único médico com

124
A cesárea N Capítulo 4

experiência no assunto. Ainda pode estar herpes geni-


tal, faltando uma semana para a data provável do parto,
a cesárea se torna opção inevitável.
Pode também acontecer de você ter preferido fazer
cesárea, apesar de saber que o parto normal é melhor
para a mãe e para o bebê. Saiba que o mais importan-
te é optar conscientemente pela solução que lhe pa-
reça mais apropriada de acordo com as condições do
momento. A isso chamamos de escolha informada.
O que você pode fazer para que esse ato repre-
sente para você e para toda a equipe não apenas mais
uma cirurgia, e sim o nascimento especial de um bebê?

• Escolher um médico, anestesista e hospital


que permitam uma cesárea centrada na famí-
lia, o que se denomina cesárea humanizada.
• Pedir a participação de um(a) acompanhan-
te de livre escolha durante a cesárea (geral-
mente o pai do bebê, mas não obrigatoria-
mente), que possa dar apoio, fotografar e
participar do nascimento do bebê de forma
afetiva e não profissional.
• Solicitar a participação de uma doula que es-
teja habituada aos procedimentos e possa dar
ao casal todas as explicações do que está acon-
tecendo e o que está para acontecer e, even-
tualmente, fotografar os momentos mais im-
portantes.

125
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

• Solicitar que a cesárea só seja feita após os pri-


meiros sinais de trabalho de parto, garantin-
do, assim, o momento adequado para o nasci-
mento (o fato de um bebê estar na 38ª semana
não significa que ele esteja pronto). Esse ato,
por si mesmo, diminui as chances de o bebê
precisar ser entubado ou ir para a UTI por
prematuridade, além de diminuir a probabi-
lidade de ocorrer hemorragia do útero.
• Pedir tricotomia parcial, ou seja, a raspagem
dos pêlos púbicos apenas na região que será
cortada, para evitar o desconforto no pós-
parto.
• Não permitir o uso de sedativos antes ou de-
pois da cesárea. Antes, pode afetar o bebê, e
depois porque esses medicamentos provocam
amnésia e atrapalham o vínculo mãe-bebê.
• Pedir para rebaixarem o protetor que fica à
frente do rosto quando o bebê estiver nascen-
do. Isso pode ajudar os pais a entender a expe-
riência como um nascimento real, diminuin-
do a sensação de ruptura entre gestação e
nascimento.
• Solicitar que coloquem o bebê no colo da mãe
por alguns minutos logo após o nascimento,
liberando também as mãos para que ela possa
acariciá-lo. O ato por si só diminui o trauma
sensorial do bebê após nascimento cirúrgico.

126
A cesárea N Capítulo 4

• Solicitar amamentação tão logo seja possível,


mesmo na mesa de cirurgia ou na sala de re-
cuperação. Isso proporciona à mãe e ao bebê
as mesmas vantagens do aleitamento preco-
ce obtido nos partos vaginais.
• Solicitar alojamento conjunto com flexibili-
dade – a mãe pode solicitar a qualquer mo-
mento a presença de seu bebê no quarto –
permite à mulher cuidar do bebê de acordo
com suas possibilidades, melhora as condi-
ções para o estabelecimento dos laços mãe-
bebê e da amamentação.
• Providenciar ajuda em casa para os primeiros
quinze a vinte dias de pós-parto, com direito
a repouso – a cesárea é uma cirurgia grande,
a qual exige cuidados.
• Sair pouco da cama nos primeiros dias, não
ter de fazer comida nem outra atividade do-
méstica, só mesmo amamentar o bebê e cui-
dar de si.

n O parto normal após cesárea


Diante dos altos índices de cesárea no Brasil, em
torno de 80 a 90%, é natural que cada vez mais mu-
lheres tenham passado por essa cirurgia e estejam se
perguntando: Depois de uma cesárea, posso ter parto
normal?

127
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

A resposta é sim. Como regra, o parto normal


sempre é mais seguro que a cesariana, uma cirurgia
em que há complicações já conhecidas. Existem ris-
cos de complicação de aproximadamente 0,6% a cada
vez que uma mulher é operada, as quais podem aumen-
tar se, após uma cesárea, a mulher é submetida à mesma
cirurgia em outros partos. Embora esse risco seja baixo,
a cesárea implica risco maior de morte e de adoeci-
mento para mulher e o bebê, como vimos nos capí-
tulos anteriores. A cada cesárea, esses riscos aumen-
tam, de forma que o parto vaginal depois de uma
cesárea é uma escolha a ser considerada com atenção.
No caso do parto normal após cesárea (PNAC),
o principal risco é o de ruptura uterina. A taxa de
ruptura uterina nos PNAC é de 0,2 a 0,5%, depen-
dendo do estudo. Caso ocorra uma ruptura, a mu-
lher deve ser imediatamente operada para que o bebê
seja retirado, e a abertura seja fechada. Lembre-se de
que a ruptura uterina também ocorre em mulheres
que nunca tiveram filhos ou foram operadas, às ve-
zes antes do início do trabalho de parto.
A questão primordial é: não existe parto sem
risco, não existe nada na vida sem risco. Viver envolve
taxa de risco, mas deixar de viver não é uma opção.
Quando uma mulher (ou um médico) opta pela cesá-
rea para evitar a ruptura, ela não está eliminando o
risco, mas assumindo outro que pode ser ainda maior
do que aquele que se pretende evitar.

128
A cesárea N Capítulo 4

Afinal, quem deve escolher se o parto


será normal ou cesárea?
Obviamente é a mulher, pois ela é quem deve-
rá assumir as conseqüências de sua escolha. O médi-
co será seu parceiro nessa opção. É quem vai estar
atento caso seja necessária uma intervenção, nas ra-
ras ocasiões que isso aconteça. Por que, então, os mé-
dicos dizem que depois de cesárea é arriscado um parto
normal?
São duas as razões principais. A primeira é que
obstetras são cirurgiões. Bons cirurgiões. Não são
necessariamente bons parteiros e a maioria deles tem
o olhar treinado para a anormalidade e não para a
normalidade, em suas mais variadas formas. A segunda
é que a maioria dos médicos privados no Brasil pre-
fere o parto cirúrgico, tanto no primeiro parto, como
nos seguintes, em qualquer idade ou situação de saúde.
Isso é facilmente constatado pelas pesquisas recentes
e pelas atuais taxas de cesárea. Normalmente, a questão
médica se reduz a como justificar a escolha da cesárea.
E se a mulher já teve cesárea prévia, já existe uma
justificativa pronta.
Então, como faço se quiser ter parto
normal?
A mulher que quer ter um parto normal depois
de cesárea na rede privada deve encontrar um médi-
co que dê preferência ao parto normal sempre – não

129
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

só no discurso, mas também na prática (ver o site


www.amigasdoparto.com.br para obter indicações).
Na rede pública, isso não é mais um problema, pois
a maioria adota a regra de tentar o parto normal an-
tes de qualquer medida. O problema maior na rede
pública é o abuso no uso do soro, ou seja, o hormônio
sintético ocitocina, como será discutido abaixo.

Toda mulher que teve cesárea pode ter


parto normal?

A imensa maioria pode, uma vez que no Brasil


a maioria das mulheres passa pela cesárea sem indi-
cações claras e precisas. Geralmente, a justificativa é
falta de dilatação, passou da hora, cordão enrolado no
pescoço, todos argumentos bastante discutíveis. É ape-
nas uma minoria que foi operada por ter problemas
reais na bacia ou, outra justificativa séria.
No entanto, alguns fatores devem ser observa-
dos. Se a operação foi feita com corte baixo, na linha
do biquíni, então os riscos são de fato muito baixos.
A operação feita de cima a baixo, o corte vertical, a
princípio traz aumento do risco de ruptura. O ou-
tro ponto é o número de cesáreas prévias. Como em
cada cirurgia o útero é cortado em um local diferen-
te, quanto mais cirurgias, mais cicatrizes uterinas. No
entanto, a literatura cita com alguma freqüência os
partos normais depois de duas, três e até quatro cesá-

130
A cesárea N Capítulo 4

reas. No serviço público, essas histórias são mais co-


muns, pois as mulheres já chegam no período expulsivo
e não dá mais tempo de operar, mesmo que os mé-
dicos julguem adequado.

Se eu sofrer uma ruptura uterina, como


saberei?

Nas raríssimas vezes em que ocorre uma ruptura,


a mulher percebe que algo está acontecendo ou o bebê
apresenta sintomas de estresse, como as desacelera-
ções dos batimentos cardíacos. A mulher pode sen-
tir que a dor aumenta muito e de repente. Geralmente
a dor da ruptura, ao contrário da dor do parto, não
pára nos intervalos das contrações. Outro sintoma é
uma dor nos ombros. Nesse caso, a equipe deverá efe-
tuar a cirurgia.
Se depois de ter feito cesárea quero par-
to normal, o que devo evitar?

O mais importante é evitar o uso dos indutores


e aceleradores de parto prostaglandina e misoprostol
(Cytotec), que aumentam muito a força das contra-
ções e, portanto, intensificam o risco de ruptura. A
ocitocina igualmente deve ser evitada, pois, embora
seja menos prejudicial que os dois primeiros medi-
camentos, aumenta a força das contrações uterinas.
O maior desafio no PNAC é encontrar um médico
que seja realmente adepto de partos normais. Aliás

131
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

esse é sempre um desafio para quem não está utili-


zando a rede pública!

É verdade que o parto normal após ce-


sárea só pode ser feito com fórceps?

Não. Essa informação é totalmente equivocada.


Muitos médicos dizem isso, e sabem que diante des-
sa ameaça a maioria das mulheres opta por cesárea
eletiva. A verdade é que o uso do fórceps só deve ocorrer
em caso de sofrimento fetal agudo, como em qual-
quer parto. É um evento muito raro. Muito mais efi-
ciente do que o uso do fórceps é permitir que a mu-
lher fique semi-sentada, com o corpo o mais ereto
possível, de preferência de cócoras, para ter força de
expulsão. Infelizmente, o fórceps tem sido muito mais
utilizado em razão da ansiedade da equipe do que pela
necessidade real.
Posso tomar anestesia em um parto nor-
mal após cesárea?

A princípio, sim. Mas como em qualquer par-


to, deve ser usada em casos restritos, visto que pode
induzir o aparecimento de efeitos indesejáveis, como
a perda da força de expulsão, a desaceleração do tra-
balho de parto, a queda da pressão arterial e acarre-
tar outros efeitos também sobre o bebê. No caso de
se optar pela analgesia, ela deve ser a mais fraca. Em
primeiro lugar, para afetar o menos possível o traba-

132
A cesárea N Capítulo 4

lho de parto e, assim, não haver necessidade de usar


ocitocina para correção do ritmo das contrações. Em
segundo, caso ocorra um raro evento de ruptura, a
mulher poderá dizer que algo aconteceu.
Vale a pena lutar por um parto normal
depois da cesárea?

Se é seu desejo, vale muito a pena! Essa é a grande


oportunidade de a mulher resgatar sua condição fe-
minina como algo positivo e forte. Muitas mulheres
contam que, com a experiência, sentiram-se novamen-
te no controle da situação depois de uma experiên-
cia frustrante de cesárea indesejada.

133
Os homens no parto

n O pai deve estar presente no parto?


Nem imagino como um pai poderia es-
tar ausente numa hora dessas... Não vou
desgrudar dela nem um segundo, já com-
binamos.
Meu Deus! De onde saiu essa idéia de
que os pais devem estar no parto? Não era
mais simples no tempo do meu pai, quan-
do tudo que ele tinha de fazer era ficar fu-
mando, à espera do nascimento? E se o ho-
mem não tem nenhuma vontade de estar
presente, como é o meu caso? Acho essa im-
posição uma violência.

A participação do parceiro não deve ser pensa-


da como um dever, uma obrigação, mas como um

135
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

direito, o qual pode ou não ser exercido. Aliás, se você


quiser estar presente no parto, provavelmente terá de
enfrentar vários obstáculos.
Novamente, não é possível apresentar nenhuma
forma certa, ou mais politicamente correta, de ser pai
de seu bebê. Para que o momento possa ser o mais
satisfatório, seguro e feliz para você e sua família, é
preciso realizar um conjunto de escolhas, com base
em seus valores e suas preferências.
Para isso, partimos do reconhecimento de que
não existe apenas a família nuclear, constituída de
papai–mamãe–filhinhos, mas um conjunto cada vez
mais amplo de arranjos familiares. Ainda que esse
modelo nuclear seja o mais comum, também enten-
demos como famílias as mulheres ou os homens sol-
teiros que têm filhos e vivem com filhos sem relação
conjugal, com a família de origem ou amigos; as mu-
lheres ou homens separados que têm filhos, às vezes
constituindo novas relações com outros filhos; os casais
de gays e lésbicas que resolvem ter filhos ou que os
trazem de outras relações, ou os adotam etc. Enfim,
à medida que os arranjos familiares vão se diversifi-
cando, várias outras personagens reivindicam a pre-
sença no parto (RNFSDR, 2002).

n A presença do pai no parto hospitalar


Até o nascimento se transformar em uma práti-
ca hospitalar, fenômeno que só atinge a maioria das mu-

136
Os homens no parto N Capítulo 5

lheres urbanas em meados do século passado, a presença


do pai como de qualquer outro acompanhante do parto
era um assunto da esfera privada, decidido pela mulher
e sua família. Com a hospitalização, esse assunto pas-
sou a ser decidido por especialistas, que, em geral, proi-
biam a presença de acompanhante (Rothman, 1993).
Durante várias décadas do século passado, o fato
de as mulheres de classe média e alta no mundo in-
dustrializado darem à luz inconscientes, sob anestesia
geral ou sono crepuscular, tornava a presença de um
acompanhante ou as questões de apoio psicológico
no parto irrelevantes (Enkin et al., 2000).
O parto sob sedação total – sono crepuscular ou
twilight sleep – começou a ser usado na Europa e nos
Estados Unidos nos anos 10, e fez muito sucesso en-
tre os médicos e parturientes das elites. Essa técnica
envolvia uma injeção de morfina no início do traba-
lho de parto e, em seguida, uma dose de um amnésico
chamado escopolamina. Assim, a mulher sentia a dor,
mas não tinha nenhuma lembrança consciente do que
havia acontecido. Muitas vezes o parto era induzido
com ocitócicos, o colo era dilatado com instrumen-
tos e o bebê retirado com fórceps. Como a escopola-
mina era também um alucinógeno, podendo provo-
car intensa agitação, as mulheres tinham de passar o
trabalho de parto amarradas na cama, pois se deba-
tiam intensamente e geralmente terminavam o par-
to cheias de hematomas (Wertz & Wertz, 1989, 1993).

137
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

A internação para o parto demorava de sete a dez dias,


para que a mulher pudesse se recuperar dessa mara-
tona.6 Não é de estranhar que ninguém quisesse tes-
temunhas no parto.
A presença ou o apoio do parceiro, como a de
qualquer outra personagem, só é requerida a partir
do movimento pelo parto natural iniciado na déca-
da de 1960, quando as mulheres podiam manter-se
conscientes durante o parto. Contudo, até a década
de 1980 era muito incomum a permissão de quais-
quer acompanhantes no parto, mesmo os pais.
Como você pode ler no Capítulo 1, o movimento
da medicina baseada em evidências demonstrou que
uma medida simples – o apoio emocional no parto
–, sem riscos nem custos, poderia melhorar muito a
experiência do parto, sendo associado com a menor
solicitação de alívio da dor, menor risco de cesárea ou
de partos por fórceps, menor risco para o bebê (Apgar
abaixo de sete nos primeiros cinco minutos); menor
avaliação pela mulher do parto como experiência ne-
gativa, maior satisfação com o parto, menor risco de
lesão do períneo, menor risco de desmame precoce
e de dificuldades com a maternagem no pós-parto,

6 Depois de ter sido usado por décadas, essa forma de parto foi abandonada
por causar muitos danos à saúde das mulheres e conseqüências mais graves
ainda para os bebês, que nasciam muito apagados pela morfina e pelos proce-
dimentos. Com o tempo, outras anestesias mais seguras foram desenvolvidas
(Rothman, 1993).

138
Os homens no parto N Capítulo 5

entre outros. A revisão sistemática desses estudos, feita


pela Iniciativa Cochrane, resultou em recomendação
para a incorporação de acompanhantes no parto por
parte das instituições de assistência (Hodnett, 2002).
Em vários países industrializados, a participação
do pai nos partos se tornou, em poucos anos na dé-
cada de 1990, de uma eventualidade permitida para
uma situação desejável. Isso se deu porque as mulheres
e casais passaram a conceber o parto “como uma ex-
periência potencialmente positiva”, portanto a exclusão
dos maridos ou parceiros sexuais, familiares e amigos
parecia incongruente (Enkin et al., 2000). Esse pro-
cesso não se deu sem resistências, e inicialmente houve
muitos serviços e profissionais que o dificultaram ou
o recusaram, ou ainda hoje dificultam ou se recusam
a admitir acompanhantes no parto. No Brasil, infe-
lizmente, essa ainda é uma realidade muito comum.
Seja em um parto vaginal ou em uma cesárea, o
assunto merece ser tratado com carinho e decidido
pelo casal, quer o parto seja planejado em serviços
particulares, quer em serviços públicos. Muitos hos-
pitais e maternidades cada vez mais aceitam a presença
de acompanhantes em geral, em especial do pai.

n A presença do pai ajuda


ou atrapalha?
Sempre penso no parto como um as-
sunto da mulher com o médico. Essa no-

139
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

vidade do pai no parto ... não sei se a pre-


sença dele não vai atrapalhar, constranger
o médico, ou mesmo a mim.

A presença do pai no parto – e a retomada des-


sa postura em nossos dias, no hospital – não é uma
invenção recente. Embora em muitas sociedades o par-
to seja um evento essencialmente feminino, em muitas
culturas, antigas ou recentes, primitivas ou industria-
lizadas, os pais assumem papel importante no ato, seja
simbólico, seja bastante concreto.
Existe até mesmo o fenômeno do couvade ou
choco, quando o homem age como se ele também
estivesse gestante. Entre algumas comunidades indí-
genas do Brasil, por exemplo, a mulher saía para pa-
rir no rio, enquanto o homem ficava na tribo sofrendo
e se debatendo com as dores do parto (Rezende, 1998).
Quando ela voltava com o bebê, ele se deitava na rede
e ficava descansando e recebendo presentes e cum-
primentos pelo nascimento da criança. Várias culturas
fazem uma transferência simbólica da dor: é o mari-
do quem sofre com o parto (Burges, 1994).
Em outras sociedades, o homem participa ativa-
mente da assistência, e um dos papéis mais importantes
é o de apoiar fisicamente a mulher na hora do nasci-
mento. Em tempos antigos, os maridos costumavam
ferver a água, chamar a parteira e cuidar para que nada
faltasse, às vezes tendo acesso livre ao quarto de parir.

140
Os homens no parto N Capítulo 5

O mais importante é o casal conversar sobre a


ajuda a ser dada à mulher na hora do parto. Combi-
nem antecipadamente o que realizar em conjunto e
percebam se se sentem à vontade com isso. Resolvi-
da essa parte, sim, há muito que ajudá-la.

n De que modo posso ajudar?

O médico disse que eu poderia assistir


ao parto, mas para ficar todo o tempo quie-
to e do lado do rosto da mulher. Ele disse
que, quando o marido vê a vagina da mu-
lher no parto, às vezes pode ficar tão im-
pressionado a ponto de nunca mais conse-
guir sentir desejo por ela.

Quando o conceito de parto é a de que o profis-


sional faz o parto e a mulher apenas fica parada, a idéia
de você ficar ao lado do rosto dela faz sentido. É o caso,
por exemplo, quando ela escolhe, ou tem de fazer uma
cesárea. Mas em um parto normal, ativo, em que ela
dá à luz, você tem muito serviço pela frente.
Não encontramos nenhum estudo sobre a rea-
ção sexual dos maridos que vislumbraram a vulva das
parceiras no parto. Na verdade, o problema é de para-
digma: apesar de imaginada como um órgão passivo
e pequeno, a vulva, como o pênis, é formada de te-
cido erétil, e cresce no sexo e durante o parto. Uma

141
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

vulva íntegra, se distendendo, pode impressionar quanto


à capacidade do corpo da mulher. Para uns pode ser
intimidante, para outros, pode aumentar o respeito
e o desejo pela mulher. Descubra seu estilo, respeite
seus limites e abra-se para novas aventuras.
Até recentemente, acreditava-se que a vulva se
partiria irreversivelmente com a passagem do bebê,
exigindo que o médico a cortasse (episiotomia) para
ampliar a saída, e depois da passagem do bebê a cos-
turasse (episiorrafia) para que voltasse ao tamanho
original. Alguns acrescentavam o ponto do marido nessa
costura, em sua homenagem, acreditando que esse
procedimento melhoraria a vida sexual do casal no
pós-parto. Como se pode ler no Capítulo 2, não há
base científica nesse procedimento, uma vez que au-
menta o risco de lesões genitais, piora a vida sexual,
e deve ser usado apenas em situações minoritárias,
jamais como rotina. Talvez a noção de que o homem
se assustaria refere-se à visão da vulva sendo cortada
e depois costurada. Hoje em dia, o objetivo da assis-
tência é o parto com o períneo íntegro. Se o obstetra
de sua mulher não está familiarizado com esse con-
ceito, leve para ele alguns artigos selecionados (ver seção
Recursos) A vida sexual de vocês só tem a ganhar.
Independentemente do local do parto, vários
estudos demonstram a influência positiva de acom-
panhantes nesse momento, seja o parceiro, seja ou-
tra pessoa. A presença é associada a muitas vantagens

142
Os homens no parto N Capítulo 5

de saúde e a maior satisfação com a experiência do


parto, de acordo com o que mencionamos no Capí-
tulo 2.
O que você pode fazer: estar presente continua-
mente. Uma das queixas mais freqüentes das mulheres
é que ficam sozinhas. Sim, você pode sair para ir ao
banheiro ou para fumar um cigarro lá fora, desde que
volte logo. Estar próximo já é de grande ajuda, mas
você ainda pode:
• Dizer palavras carinhosas e reafirmar seu
amor e admiração.
• Ajudá-la a se movimentar (ver a seção Recur-
sos).
• Apoiá-la fisicamente na hora do nascimento
do bebê.
• Fazer massagens (ver a seção Recursos).
• Encorajá-la, reforçando que ela é forte e po-
derosa.
• Garantir que ela não se desidrate, oferecen-
do líquidos.
• Fotografar, filmar (combine antes o que ela
quer e o que não quer expor).
• Cuidar de detalhes, como música e aromas
preferidos.
• Ajudá-la a expressar as necessidades dela.
• Combinarem novas formas de auxílio na hora.
Lembrem-se de que esse é um momento de

143
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

vocês. O parto, na maioria dos casos, é um


evento fisiológico, normal, social, sexual e
familiar. Façam desse momento o que for
mais adequado para terem boas lembranças.

n Lidando com a dor no parto:


como fazer o “ter filhos” mais
confortável para ela
A coisa que mais me preocupa é que ela
sinta dor. Sei lá, acho que o homem se sente
meio culpado... O filho é dos dois, mas só
a mulher sofre. O papel do homem seria
proteger, mas você, ainda que esteja lá, não
pode fazer nada. Por mim, ela fazia uma
cesárea, ou recebia anestesia logo para não
sofrer. Estou delirando?

Fundamental é ter idéia das opções disponíveis,


para decidir de maneira informada e consciente, de
acordo com as preferências, principalmente dela. Lem-
bre-se de que a mulher tem toda a prioridade nas
escolhas do parto, uma vez que é a personagem cen-
tral na aventura. Não se conformem facilmente, pes-
quisem, perguntem, não se dêem por satisfeitos até
entenderem as respostas.
É importante expandir o conceito de dor e de
desconforto físico quando se trata do parto. A respeito
da dor no parto, você pode ler no Capítulo 3 sobre

144
Os homens no parto N Capítulo 5

como contribuir para aliviá-la ou eliminá-la, e pre-


venir a dor iatrogênica no parto. Muitos estudos in-
dicam que a presença do pai colabora para que a dor
se torne mais suportável. Se você estiver presente,
valorizar os esforços dela – quaisquer que sejam os
resultados – e ajudá-la depois do parto, é provável que
ela seja eternamente grata.
A dor do parto é uma parte do desconforto físi-
co de ter filhos, a qual pode até piorar no pós-parto.
Se ela ou vocês decidirem por uma cesárea, ou tive-
rem de enfrentar essa cirurgia por algum motivo mé-
dico, ela vai precisar ainda mais e sua ajuda no pós-
operatório, visto que, nesse caso, a recuperação tende
a ser mais demorada e mais dolorosa. Isso inclui al-
gumas tarefas: auxiliá-la a se levantar, a pegar o bebê
e outras pequenas atividades fáceis para você, mas
dolorosas para ela.
Se você está mesmo disposto a ajudar, tenha em
mente que a privação de sono piora qualquer dor.
Esteja disponível para ajudar nas madrugadas, aju-
de-a a dormir à noite e a cochilar de dia. Essa atitu-
de melhorará consideravelmente o conforto físico, a
disposição e o bom-humor dela no pós-parto. Esta
tarefa não é só para mãe e sogra, lembre-se disso.
Para ser ainda mais útil nesses momentos, é im-
portante programar sua licença-paternidade, se pos-
sível e de preferência com as férias. As primeiras quatro
semanas depois do parto são especialmente cansati-

145
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

vas, e um pai dedicado e presente faz uma enorme


diferença.

n E nossa vida sexual depois do


parto? É verdade que a vagina
fica mais larga?
Estou pensando no interesse dela: se for
para ela ter problemas sexuais depois, para
mim é optar por cesárea no ato.
Conversa sem rodeios: eu e minha mu-
lher temos uma vida sexual ótima, e dizem
que, depois do parto normal, a vagina fica
frouxa. Mesmo que o parto vaginal seja
mais seguro, se essa opção vai prejudicar
nossa relação conjugal futuramente, não te-
nho dúvidas de preferir cesárea. Estou sen-
do egoísta?
Ela sempre teve muita dificuldade na
relação. Então, penso que se o parto vagi-
nal tornar a situação pior. Deus me livre!
Vou querer, logo, marcar a cesárea.

Não, não é isso que dizem as evidências científi-


cas. Como foi descrito no Capítulo 2, as evidências
apostam que são os exercícios que fazem uma vagi-
na vigorosa. Eles são importantes para todas as mu-
lheres, quer elas tenham partos vaginais, quer cesáreas.

146
Os homens no parto N Capítulo 5

Os exercícios vaginais ajudam a mulher, em qualquer


idade, a ter maior consciência de seus órgãos sexuais
e a aumentar sua potência orgástica, a controlar me-
lhor o aperto da vagina, e a prevenir a perda urinária.
Ajudam também a prevenir os danos genitais no parto
vaginal, pois a mulher tem mais controle sobre como
relaxar a musculatura da vulva.
Para manter uma boa vida sexual e preservar a
anatomia sexual feminina, também é necessário evi-
tar o uso de procedimentos no parto como a episio-
tomia e os fórceps, que provocam dano genital – es-
ses, sim, podem atrapalhar bastante depois do parto.
É importante promover um períneo íntegro, e você
pode ajudar lendo tudo que pode a respeito, tanto
neste livro como na bibliografia indicada na seção
Recursos. Conversem sobre isso com o obstetra, fa-
çam um plano de parto (ver no Capítulo 2), ou pro-
curem um serviço do SUS com baixa taxa de epi-
siotomias e fórceps. Geralmente, procure fugir dos
hospitais-escolas, procure em alguns deles se fazem
fórceps em todos os primeiros partos uma maneira
de residentes treinarem.
Como você já deve saber, o clitóris não é ape-
nas o pequeno ponto misterioso a ser acionado como
uma campainha, mas sim um conjunto complexo de
dezoito estruturas anatômicas, que podem ser danifi-
cadas na assistência ao parto. Esses procedimentos pre-
judicam a musculatura perivulvar, em particular o

147
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

músculo pubococcígeo, chamado músculo do amor,


formado de tecido erétil como o pênis.
Estudos recentes mostram que os exercícios para
a musculatura pubococcígea são também excelentes
para os homens, melhorando a potência, prevenin-
do a ejaculação precoce e melhorando a qualidade do
orgasmo. Outro estudo revelou que o resultado des-
ses exercícios sobre a potência era tão bom como o
do Viagra (Sildenafil) – e isso sem ter custo nem efeitos
colaterais. Quem sabe vocês podem fazer os exercí-
cios juntos? (ver mais orientações em Recursos).

n E se ela não quiser que eu esteja


no parto?
Quero estar no parto e ela não quer.
Não acho que ela tenha o direito de me im-
pedir. Quero presenciar de qualquer forma.
Ela disse que quer que a mãe vá, que a
amiga vá, mas não quer que eu, que sou o
pai, esteja no parto. Não acho isso justo.

Se ela não quer que você esteja, converse com


ela, tente entender seus motivos. Se esses problemas
forem superáveis, tente convencê-la, explique-lhe o
quanto estar no nascimento de seu filho será impor-
tante para você.
Mas se ela não quiser sua presença de jeito ne-
nhum, respeite a escolha dela, e não se oponha. Apro-

148
Os homens no parto N Capítulo 5

veite a grande alegria de ganhar um filho, indepen-


dentemente de estar lá na hora do nascimento.

n O medo de desmaiar
Gostaria muito de estar no parto. Aliás
ela está me cobrando isso. Mas passo mal
só de estar em um hospital. Tenho medo de
desmaiar na hora. Aconteceu isso com um
amigo meu. Não é coisa de boiola, para
outros assuntos eu sou muito macho.

Ambos devem estar à vontade na hora do par-


to: você também! Não se force, se não se sente bem.
O parto é um desafio, uma aventura, uma situa-
ção em que os limites são testados. Se você quiser estar
no parto, mesmo enfrentando o medo de desmaiar
e dar vexame, sugerimos algumas dicas testadas por
pais que passaram pela mesma situação com todo o
sucesso:
• Converse com sua mulher sobre seus receios
e suas dúvidas. É tão importante respeitar
seus limites como enfrentá-los. Se não quiser
estar presente, deixe claro sua posição e pro-
cure ficar em paz com isso.
• Se decidir estar presente, combine com ela
que vai permanecer apenas enquanto estiver
se sentindo à vontade.

149
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

• Assista a vídeos de parto, para saber como é


um parto vaginal, uma cesárea, quais as eta-
pas de cada um.
• Converse com outros pais, principalmente com
os que tiveram experiências bem-sucedidas.
• Visite a maternidade com antecedência, para
se familiarizar com o espaço, as instalações,
os cheiros. Vários hospitais privados e públi-
cos permitem e até estimulam essas visitas.

n Tenho de receber o bebê, cortar o


cordão, dar banho?
É verdade que dão o bebê para os pais
segurarem, na hora em que nasce? Não sei
se é seguro dar a criança toda melecada e
escorregadia para um pai inexperiente. E se
ele deixar nosso filho cair?

Mais uma vez: é importante que vocês decidam


como querem agir na hora. Para isso, seria muito
tranqüilizador fazer um plano de parto, com com todos
os pormenores. O plano de parto, como você viu no
Capítulo 3, é uma lista de escolhas flexíveis, que pode
ser alterada se houver imprevisto médico ou se vocês,
na hora, mudarem de opinião.
Antigamente, depois que o médico batia na bun-
da do bebê, era segurado pelos pés e depois condu-
zido para a sala de reanimação, onde era ressuscitado

150
Os homens no parto N Capítulo 5

da experiência do parto. Hoje em dia, a maioria dos


bebês nasce em condições excelentes, e quanto me-
nos intervenções, mais ativos e saudáveis vêm ao mundo.
De acordo com a evidência científica, o que deve ser
feito é se certificar de que o bebê está respirando ade-
quadamente (nem é necessário aspirar as secreções
nasais de rotina) e mantê-lo aquecido com o abraço
da mãe e/ou do pai, além de secá-lo e cobri-lo, o que
pode ser feito em seu colo ou no dela (Ministério da
Saúde, 2000).
O primeiro banho na sala de parto é um item
adicional, com finalidades mais rituais que quaisquer
outras, pois muitos pais querem os filhos limpinhos
e vestidos para aquele momento memorável. Outros
acham que o vérnix caseoso (a meleca que recobre o
bebê ao nascer) deve ser mantido até sua completa
absorção pela pele, para mantê-la hidratada, e reti-
rado apenas seu excesso.
As dicas sobre o medo de desmaiar valem tam-
bém para quem tem receio de manipular o bebê: con-
verse, reflita, aprenda, respeite seus limites. Mas pense
também no assunto que você terá depois para con-
tar a seus amigos, e mesmo a seus filhos e netos: es-
colha a história que gostaria de contar e siga em frente.

n O médico disse: No parto dele, não


Fui com ela à consulta e o médico dis-
se que, no parto feito por ele, não aceita a

151
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

presença de marido, pois eles ficam muito


nervosos, podem desmaiar, e muitas vezes
o acompanhante precisa de uma equipe só
para atendê-lo. Senti-me humilhado!...

A médica disse-lhe que o marido dela


não entende de medicina e, por isso, pode
ficar impressionado se ela enfiar aqueles
ferros enormes na vagina da mulher, e que-
rer atacar o médico. Contou que isso já
aconteceu com um amigo dela. Por essa ra-
zão, ela não quer arriscar.

Em primeiro lugar, o parto é de sua mulher e


seu, e não deles. Se fosse no parto da médica ou da
mulher do médico, eles poderiam convidar quem
quisessem, ou ninguém. Mas aqui se trata da sua expe-
riência, de sua vida.
Infelizmente, a formação médica é muito defi-
ciente no que diz respeito a ajudar os profissionais a
se comunicarem com os pacientes. Mas quando diz
respeito à comunicação com os acompanhantes, a
situação é ainda pior. O acompanhante é muitas ve-
zes visto como um problema, não como uma solu-
ção, pois os serviços freqüentemente não estão pre-
parados para recebê-lo, não têm o espaço adequado,
os profissionais se sentem intimidados e muitas ve-
zes agem de forma pouco amigável. Quando questio-
nados sobre por que os pais não deveriam estar presen-

152
Os homens no parto N Capítulo 5

tes, alguns profissionais argumentam que eles podem


ficar agressivos, que não entendem os procedimen-
tos, aumentam o risco de infecção e os custos; ou sim-
plesmente que eles atrapalham o trabalho dos profis-
sionais (Diniz, 2001).
Nenhum desses argumentos parece se justificar
valendo-se da experiência dos serviços que introdu-
ziram os acompanhantes. Há, até, evidências de que
esses acompanhantes diminuem o risco de infecções
e reduzem custos, por diminuir a demanda por in-
tervenções, além de aumentar consideravelmente a
satisfação dos usuários dos serviços (Hodnett, 1999).
Veja como tentar convencer seu médico lendo
o Capítulo 3. Se você vai ter seu filho pelo SUS, há
muitos serviços que recebem acompanhantes, e até
incentivam sua presença (ver mais orientações em
Recursos).

n O médico disse que o hospital


não deixa
Às vezes, o hospital ainda não informou se é
permitido entrar acompanhantes no parto, ou ape-
nas permite os daqueles médicos que insistem em levar
acompanhantes. Informe-se. Quem sabe você terá uma
boa surpresa para dar a seu médico.
Freqüentemente, o hospital deve ser convenci-
do de que existem leis sobre o assunto e elas devem

153
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

ser respeitadas. Informe-se sobre a legislação em seu


estado ou município.
Em todo o caso, os hospitais precisam saber que
suas clientes querem que os acompanhantes estejam
presentes no parto. Assim podem mudar suas condu-
tas, recapacitar seus profissionais e oferecer melhores
condições de atendimento. Se o hospital insistir em
desconsiderar suas necessidades e preferências, tente
procurar outro.
Veja mais sobre como interagir com o hospital
no Capítulo 3.

n No estado onde moro há uma lei


que permite o direito ao
acompanhante, mas os hospitais
a descumprem. O que devo fazer?

O médico é muito querido, disse que


até gosta que os maridos estejam. Mas é a
regra do hospital deixar entrar somente a
equipe na sala de parto. Isso é possível?
Tenho como reclamar com alguém e exigir
entrar? Depois, não seremos maltratados?

Em alguns estados e municípios há leis especí-


ficas que permitem a presença de acompanhantes.
Desde março de 1999, a Lei n. 10.241 assegura que,
nos hospitais públicos do estado de São Paulo, o pai

154
Os homens no parto N Capítulo 5

(ou outra pessoa da escolha da mulher) pode estar junto


da mulher e acompanhar o nascimento do bebê. In-
felizmente, essa lei ainda não está sendo cumprida pela
grande maioria dos hospitais deste estado, apesar de
vir sendo divulgada em vários setores e instâncias da
sociedade civil, até como parte do trabalho da ReHuNa.
Conheça abaixo parte do texto da lei:

A lei faculta aos pacientes:


XV – ser acompanhado, se assim o de-
sejar, nas consultas e internações por pes-
soa por ele indicada;
XVI – ter a presença do pai nos exames
pré-natais e no momento do parto.

A rigor, tal lei assegura a presença do pai, o que


foi reinterpretado pelo movimento social, uma vez que,
ao regulamentar os direitos dos pacientes no estado
de São Paulo, também inclui o direito de qualquer
paciente internado – o que é o caso das parturientes
– a ter acompanhante de sua escolha.
Se o hospital se recusar a respeitar seu direito,
consulte um advogado, e insista com o hospital que
você está fazendo um favor, melhorando a atendimento
e a qualidade do serviço, contribuindo para a fidelização
da clientela.
Se ainda assim o hospital desrespeitar seu direito,
considere a possibilidade de fazer um boletim de ocor-
rência. Porém, não conte com a simpatia de um ser-

155
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

viço que precisa ser acionado pela polícia para per-


mitir a você uma experiência amigável de parto. Se
houver opção, faça o boletim de ocorrência e procu-
re outro serviço.
Além de ações individuais, também podem ser
feitas ações coletivas, como um termo de ajustamento,
instrumento legal mediante o qual se exige a mudança
de práticas de certos serviços (treinar os profissionais,
adaptar instalações quando necessário etc.). Saiba mais
sobre essas possibilidades em Recursos.

156
Glossário

Acretismo da placenta: fenômeno pelo qual a placenta pene-


tra nos tecidos musculares do útero, tornando sua retirada
mais difícil e arriscada depois do parto.
Aderências cirúrgicas: complicação de algumas cirurgias, que
faz que alguns tecidos no corpo fiquem aderidos, criando
alguns desconfortos e riscos para o paciente.
Alojamento conjunto: quando mãe e bebê ficam no mesmo
quarto após o parto, sem o uso do berçário.
Analgesia: qualquer recurso medicamentoso que serve para di-
minuir a dor.
Analgesia regional: anestesia dada na coluna vertebral, que afeta
apenas parte do corpo.
Anestesia: aplicação de drogas e técnicas destinadas a tirar a sen-
sibilidade à dor.
Anestesia geral: conjunto de técnicas anestésicas utilizadas para
que o paciente se mantenha desacordado.

157
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Anestesia local: anestesia em pequenas regiões do corpo, feita


com injeção de drogas anestésicas perto do local afetado.
Anestesia ou analgesia combinada: o mesmo que duplo blo-
queio, combinação de drogas injetadas em duas partes da
coluna vertebral, o espaço raquidiano e o espaço peridural.
Utilizada em partos normais, graças à menor quantidade de
drogas utilizada na combinação, a movimentação e o con-
trole motor da mãe tendem a ser preservados.
Anestesia peridural: tipo de anestesia em que o médico introduz
uma cânula na coluna vertebral e injeta uma solução anes-
tésica a cada período de tempo, ou mesmo continuamente.
Anestesia raquidiana (ou ráqui): anestesia aplicada na coluna
vertebral, mais especificamente no espaço raquidiano.
Antálgico: contrário à dor, que diminui a dor. Uma posição
antálgica é aquela que alivia ou interrompe a dor.
Apgar: nota de avaliação da vitalidade do bebê, no primeiro mi-
nuto e no quinto minuto de vida.
Baixo risco (gestantes de, partos de): diz-se das mulheres grá-
vidas ou parturientes que não apresentam fatores de risco
(exemplos: pressão alta, diabetes, gravidez de gêmeos, pre-
maturos etc.).
Bolsa rota: rompimento da bolsa das águas onde fica o bebê, no
útero.
Canal de parto: caminho percorrido pelo bebê desde o útero até
a vulva, durante seu nascimento.
Casas de parto: locais onde se realizam partos normais com
baixo índice de intervenções, geralmente sob o comando de
enfermeiras obstétricas.
Cascata de intervenções: diz-se da seqüência de intervenções
feita em muitos partos, visto que poucas intervenções po-
dem ser utilizadas isoladamente.

158
Glossário

Centro obstétrico: no hospital, local onde se realizam os partos.


Cesárea: procedimento cirúrgico que consiste no corte de sete
camadas do corpo para que se realize a retirada do bebê pelo
abdômen da mãe.
Cesárea eletiva: cesárea decidida antes do trabalho de parto;
também denominada cesárea por eleição.
Circular de cordão: quando o cordão umbilical faz uma ou mais
voltas ao redor do pescoço do bebê.
Colo (do útero): parte inferir do útero, que o separa da vagina e
cuja dilatação deverá atingir 10 cm para o nascimento do
bebê.
Colostro: primeira secreção que sai do seio materno, antes da des-
cida do leite. É rica em proteínas, imunoglobulinas, entre
outros componentes muito importantes para a saúde do
bebê.
Consentimento informado: documento, assinado pelo pacien-
te, que prova que ele foi avisado das vantagens e desvanta-
gens de determinado procedimento, uso de droga etc., re-
comendado pelo médico.
Contrações uterinas: contrações dos músculos do útero que fa-
zem o bebê nascer.
Coroar, coroamento: quando o bebê está quase nascendo e sua
cabeça aparece na entrada da vagina.
Couvade ou choco: fenômeno no qual o homem age como se
ele também estivesse gestante.
Cytotec: o mesmo que misoprostol.
Descolamento prematuro da placenta: separação prematu-
ra da placenta em relação à parede uterina antes do nasci-
mento, a qual põe em risco a vida da mãe e do bebê.
Desproporção céfalo-pélvica: quando a cabeça do bebê é
desproporcionalmente maior do que a abertura da pélvis por
onde passa o bebê.

159
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Dilatação: processo e abertura gradual do colo do útero para o


nascimento do bebê.
Doula: acompanhante especial de parto.
Duplo bloqueio: o mesmo que anestesia combinada.
Eclâmpsia, pré-eclâmpsia: conjunto de alterações da pressão
sangüínea e de outros parâmetros fisiológicos da mãe, que
podem ocorrer na gravidez ou no parto, tornando-o mais
propenso a riscos para a mãe e o bebê.
Endorfina: hormônio secretado no corpo humano em resposta
a vários estímulos, em especial aos dolorosos, que age como
um anestésico natural.
Ensaio clínico randomizado: tipo de pesquisa em que os par-
ticipantes são sorteados para receber ou não a intervenção
(droga, tratamento etc.) com base em uma série de regras
para diminuir a chance de resultados tendenciosos e, assim,
obter mais valor científico.
Episiorrafia: costura feita para fechar a episiotomia.
Episiotomia: corte feito na entrada da vagina para facilitar ou
acelerar a saída do bebê durante o parto. Seu uso de rotina
está desaconselhado.
Escolha informada: tradução do inglês informed choice; refere-
se às escolhas médicas depois de os pacientes terem se in-
formado dos benefícios e riscos de certos procedimentos.
Estimulação transcutânea: em alguns países, aparelho de esti-
mulação elétrica utilizado para diminuir a dor do parto.
Expulsão: nascimento do bebê.
Fórceps: par de colheres metálicas empregadas por obstetras para
retirar o bebê de dentro da mãe, através da tração da cabeça.
Gravidez ectópica: gravidez fora do útero, mais comumente nas
trompas.
Iatrogênica: provocada pela assistência médica.

160
Glossário

Incontinência urinária e fecal: perda involuntária de urina,


gazes ou fezes.
Infusão intravenosa: introdução de líqüidos no corpo, através
de um acesso venoso.
Intervenção de rotina: procedimento feito sem critérios, para
todos.
Intraparto: o que ocorre durante o trabalho de parto ou do parto.
Lavagem intestinal (enema): aplicação de uma solução no in-
testino, para que seu conteúdo seja eliminado em seguida.
Livre demanda: diz-se da amamentação oferecida sempre que o
bebê quiser.
Líquido amniótico: líqüido presente no saco amniótico, no úte-
ro, que protege o bebê durante toda a gestação.
Manobra de Kristeller: manobra obstétrica obsoleta, por meio
da qual o bebê é empurrado para fora da mãe por uma pres-
são aplicada sobre o fundo uterino.
Maternagem: cuidados da mãe para com o bebê.
Mecônio: primeiro conteúdo do intestino do bebê, mas que ain-
da não são fezes, de aspecto verde escuro e denso.
Metanálise: análise estatística sobre grande número de trabalhos
científicos que preencheram determinados critérios, a qual
serve para sintetizar os achados do conjunto desses traba-
lhos.
Misoprostol: é o nome genérico do Cytotec e é utilizado para in-
duzir o trabalho de parto e o aborto. Seu uso para indução
do parto é relativamente recente.
Monitoramento fetal eletrônico: exame feito com um apare-
lho e duas cintas elásticas presas ao redor da barriga da ges-
tante: uma identifica os batimentos cardíacos do bebê e
outra, as contrações uterinas.

161
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Morbidade: quando alguém adoece. Morbidade materna: quan-


do uma mulher adoece por causa da gravidez ou do parto,
ou por complicações resultantes do processo. Morbidade
neonatal: quando um bebê fica apresenta enfermidade ou
complicações depois de nascer.
Morbi-mortalidade: morbidade (adoecimento) mais mortalidade.
Natimorto: nascido morto.
Neonatal: os primeiros 28 dias de vida do bebê depois do nasci-
mento.
Ocitocina: hormônio produzido pelo corpo humano e que pro-
voca contrações uterinas. Existe também a versão sintética
utilizada para induzir ou acelerar um parto.
Óxido nitroso (gás hilariante): gás utilizado em alguns países
para ajudar a reduzir as dores das contrações. Seus efeitos
colaterais são menos severos do que as anestesias. Não é uti-
lizado em obstetrícia no Brasil.
Parada de progressão: quando o parto pára de evoluir (con-
trações, dilatação).
Parto domiciliar: parto feito em casa.
Parto Leboyer: parto suave, com luz baixa e poucos sons, em
ambiente favorável à diminuição do trauma sensorial do
bebê no momento do nascimento.
Parto operatório: parto com fórceps ou vácuo-extrator.
Parto vaginal: parto por via baixa, parto normal.
Pélvico (bebê, parto): termo utilizado quando o bebê está sen-
tado no útero, situação comum em cerca de 3% das gesta-
ções. O contrário de pélvico é cefálico, ou seja, de cabeça
para baixo.
Perinatal: referente ao período que antecede o parto e vai até seis
dias depois do nascimento de um bebê.

162
Glossário

Períneo: espaço e conjunto de músculos e outros tecidos, locali-


zado entre a vagina e o ânus.
Períneo íntegro: diz-se do períneo que não teve lacerações es-
pontâneas nem episiotomia durante um parto.
Período de transição: período no final da dilatação do colo do
útero, no qual normalmente a mulher tem a sensação de
perda do controle.
Período expulsivo: período iniciado quando o colo do útero
atinge 10 cm de dilatação e finalizado com o nascimento
do bebê.
Placenta: órgão responsável pelo suprimento de sangue, nutri-
entes e oxigênio para o bebê. Formado durante a fase inici-
al da gestação, sai do útero depois do nascimento do bebê.
Placenta prévia: afixação da placenta na parte inferior do úte-
ro, sobre o colo.
Plano de parto: lista de escolhas que a mulher ou o casal faz a
respeito do parto e nascimento de bebê.
PNAC: parto normal após cesárea.
Ponto do marido: diz-se do último ponto dado pelo médico
quando ele está costurando a episiotomia, e que torna a
entrada da vagina mais apertada artificialmente.
Pós-parto: o mesmo que puerpério.
Prematuridade iatrogênica: prematuridade provocada pela
ação do médico, normalmente por cesáreas marcadas antes
de o bebê estar maduro o suficiente para um nascimento
sem risco.
Primigesta: gestante grávida de seu primeiro filho.
Prolapso de cordão: aparecimento do cordão umbilical antes
da cabeça do bebê, durante o parto, o que coloca a vida do
bebê em sério risco.

163
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

Prostaglandina: substância presente no corpo humano, mas


também fabricada para a indução do trabalho de parto.
Protocolos hospitalares: conjunto de regras e rotinas de deter-
minado hospital.
Puerpério: período de quarenta dias após o parto, também co-
nhecido por pós-parto.
Randomizado: aleatório, ao acaso.
Recomendações da Organização Mundial da Saúde: série
de recomendações para o parto e para o atendimento ao
recém-nascido, baseadas em evidências científicas.
Recusa informada: quando o paciente recusa um procedimen-
to, ou droga, ou recomendação médica, depois de ouvir
todos os riscos e benefícios alegados.
Relaxina: hormônio que inunda a circulação da mulher durante
a gestação e promove relaxamento dos músculos e liga-
mentos.
Revisão sistemática: análise feita por um grupo de cientistas,
de vários trabalhos publicados sobre um assunto.
Ruptura da bolsa das águas: rompimento da bolsa do líqui-
do amniótico, quer artificial, quer naturalmente.
Ruptura uterina: evento raro, quando o útero se rompe duran-
te a gravidez, mais comumente quando há cicatriz cirúrgi-
ca no útero ou se usam medicamentos que provam fortes
contrações.
Sedativos: medicamentos utilizados para sedar a consciência do
paciente.
Septicemia: infecção generalizada que pode acontecer, principal-
mente, depois de uma cirurgia onde há contaminação.
Sofrimento fetal: série de sintomas que ocorre quando o supri-
mento de oxigênio do bebê está comprometido parcial ou
totalmente, provisória ou definitivamente.

164
Glossário

Soro: líquido que serve para ser injetado na veia de uma pessoa.
Geralmente, nas maternidades, quando se fala em soro ou
sorinho, estão se referindo à infusão de soro com hormônios
sintéticos para acelerar ou induzir o parto.
Suíte de parto, LDR (labor and delivery room), salas PPP:
salas de parto onde a mulher é internada em trabalho de
parto, tem seu bebê e passa algum tempo depois do nasci-
mento.
Toque vaginal: exame que consiste na introdução de dois dedos
na vagina da mulher. Quando realizado durante o trabalho
de parto, serve para avaliar a dilatação do colo uterino ou a
posição da cabeça do bebê.
Trauma perineal: quando o períneo sofre algum machucado, seja
episiotomia seja laceração espontânea.
Tricotomia: raspagem dos pêlos pubianos, antigamente feita ro-
tineiramente, pois se acreditava que era mais higiênico.
Vérnix caseoso: substância que recobre o bebê recém-nascido
e, antes, protegia sua pele no ambiente uterino.
Viés: opinião ou inclinação preconcebida a respeito de um assun-
to; visão tendenciosa, parcial ou distorcida que se reflete em
uma pesquisa.

165
Recursos

n Recursos eletrônicos

z Em português
http://www.amigasdoparto.com.br
Artigos sobre parto natural, episiotomia, evidências cientí-
ficas na gestação, parto e pós-parto.
www.amigasdoparto.com.br/depoimen.html
Há registro de usuárias sobre suas experiências de parto e
informações em geral: inclui depoimentos de partos vaginais,
cesáreas, partos hospitalares e domiciliares, experiências po-
sitivas e negativas. Encontram-se, ainda, textos, artigos e
links sobre o tema do parto da perspectiva das mulheres (e
alguns depoimentos de homens).
http://www.xoepisio.blogger.com.br/
Dedicado à episiotomia e a seus problemas (com depoi-
mentos).

167
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

http://www.casasdeparto.com.br
Sobre casas de parto, com fotos, depoimentos e textos.
http://www.partohumanizado.blogger.com.br/
A respeito de parto humanizado.
http://www.aleitamento.org.br/
Para depois do parto: muito bem elaborado e com ricas in-
formações sobre a arte de amamentar.
www.redesaude.org.br
Sobre o movimento de mulheres pela saúde e direitos repro-
dutivos no Brasil e sua contribuição em vários temas.
http://www.redesaude.org.br/html/ct-gravidezsaudavel.html
Para obter informações sobre os direitos das grávidas.
http://www.redesaude.org.br/dossies/html/dossiehumanizacao
doparto.html
Dossiê da Humanização do Parto.
http://www.mulheres.org.br/cartilha/parto.pdf
Cartilha sobre direitos humanos e direitos reprodutivos na
gestação e no parto.
http://www4.prossiga.br/saude-reprodutiva/
Um passeio pela abundante biblioteca virtual em saúde re-
produtiva.
http://www.ufpe.br/papai/
Quem disse que ter filhos é um assunto só de mulher? Não
deixe de visitar.
http://www.rehuna.org.br
A futura página oficial da ReHuNa.
www.doulas.com.br
Páginas excelentes a respeito da presença de acompanhan-
tes no parto (doulas).
http://www.doulas.org.br/
Associação Nacional de Doulas (ANDO).

168
Recursos

www.mulheres.org.br
Grupo de mulheres que há vinte anos, trabalha pela promo-
ção dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres – até
mesmo na gravidez e no parto – e mantém um centro de
saúde feminista em São Paulo
www.mulheres.org.br/parto
Um site sobre assistência ao parto, humanização e direitos
humanos.
http://www.mulheres.org.br/fiqueamigadela/
Sobre vagina, vulva, e como cuidar de suas partes mimosas
antes, durante e depois do parto. Indicam-se também exer-
cícios para ter uma vagina vigorosa.
http://www.amigasdoparto.com.br/oms.html
Resumo das Recomendações da Organização Mundial da
Saúde para o parto.

z Em espanhol
http://www.dandoaluz.com.ar/
Um site argentino em defesa do parto respeitoso.
http://www.relacahupan.org/index.html
Site da La Red Latinoamericana y del Caribe para la Huma-
nización del Parto y el Nacimiento.

z Em inglês
http://www.birthpsychology.com/messages/index.html
Uma obra de arte representada pelo site de um trabalho da
antropóloga Robie Davis-Floyd.
http://www.sheilakitzinger.com/
Delicioso site de uma figura pioneira do movimento de hu-
manização do parto, Sheila Kitzinger.
http://www.midwiferytoday.com/bio/wagner.asp
Marsden Wagner é um escritor inspirado(r).

169
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

http://www.cochrane.org/
Assistência ao parto e evidências científicas. Para conhecer
melhor as evidências científicas a respeito do parto.
http://www.cochraneconsumer.com/
Informações sobre evidências científicas com base nas pers-
pectiva das consumidoras.
http://www.maternitywise.org/
Excelente site em defesa dos direitos e da escolha informa-
da das mulheres no parto, valendo-se das evidências.
http://www.maternitywise.org/mw/topics/cesarean/booklet.html
Publicação recente e completa sobre a cesárea, com todas
as evidências científicas.
http://www.motherfriendly.org/
Uma coalisão por serviços de saúde “amigos da mãe”.
http://www.aims.org.uk/
Associação inglesa pela melhoria da assistência materna.
Textos sobre parto domiciliar, parto na água, prática pro-
fissional das parteiras, entre outros.
http://www.birthpsychology.com/messages/intro.html
Uma associação que estuda as repercussões da violência no
parto sobre bebês e mães, analisando cada procedimento
médico.
http://www.abc.net.au/quantum/scripts98/9825/clitoris.html
Para quem quer saber mais sobre as novas interpretações da
anatomia feminina e do clitóris.
http://www.childbirth.org/
Um site feito por pessoas que tratam a gravidez e o parto
como eventos normais.
http://www.childbirth.org/articles/epis.html
Seleção de artigos sobre a episiotomia.
http://www.midwiferytoday.com/magazine/
Locais, profissionais e visões novas na assistência. Uma re-
vista ótima sobre parto, parteiras e sua arte.

170
Recursos

http://www.birthingthefuture.com/index.asp
Uma confluência entre estética, evidência e assistência ao
parto.
http://www.activebirthcenter.com/
Para quem busca parto ativo. Mantido por Janet Balaskas,
autora de vários livros sobre parto. Artigos sobre gravidez e
parto. Venda de produtos.
http://www.birthlove.com/
Uma visão radical e apaixonada do parto.
Aware Parenting
Informações de grande interesse para os pais, como formas
alternativas de lidar com os problemas mais comuns na cria-
ção dos filhos. Baseadas em pesquisas sobre o desenvolvi-
mento infantil.
http://www.birthcenters.org/
Informações sobre Casas de Parto. Textos sobre aspectos psi-
cológicos e espirituais do parto, anestesias, como preparar
as crianças para o novo bebê, orientações especiais para avós.
Histórias de parto, de parteiras e músicas (real audio). De-
finição e padrões de organização e serviços das Casas de Par-
to americanas.
www.birthchoices.org
Organização de pais e profissionais empenhados na luta por
melhores condições de opção em relação ao parto. Informa-
ções sobre preparação para o parto, doulas e parteiras. Es-
tatísticas sobre parteiras e partos domiciliares.
www.birthdiaries.com/diary
Uma coleção incrível de fotos de partos normais e cesáreos,
das mais discretas às mais fortes.
www.birthinternational.com
Site da educadora Andrea Robertson com artigos, produ-
tos e uma visão crítica e completa da realidade obstétrica
australiana.

171
coleção saúde e cidadania N parto normal ou cesárea?

www.pregnancy.about.com
Talvez o mais completo portal sobre gravidez e parto. Dispo-
nibiliza artigos próprios e links para artigos e outros sites so-
bre uma quantidade bem abrangente de temas relacionados.
www.parentsplace.com
Um site completo sobre gestação, parto e cuidados com
bebês e crianças. Muitos artigos de boa qualidade.

n Livros:
z Imprescindíveis
Parto ativo: guia prático para o parto natural. Janet Balaskas. São
Paulo, Ground, 1993.
Quando o corpo consente. Marie Bertherat, Thérèse Bertherat e
Paula Brune. São Paulo, Martins Fontes, 1997.
O renascimento do parto. Michel Odent. Saint Germain.

z Complementares:
A agenda da gravidez. A. Christine Harris. São Paulo, Marco Zero,
2003.
A cientificação do amor. Michel Odent. São Paulo, Terceira Mar-
gem, 2000.
A doula no parto. Fadynha. São Paulo, Ground, 2003.
Dar à luz. Renascer. Gravidez e parto. Lívia Penna F. Rodrigues, São
Paulo, Agora, 1997.
Do ventre ao berço em casa. Ana Vieira Pereira. Antroposófica.
Lobas e grávidas: guia prático de preparação para o parto da mulher
selvagem. Lívia Penna Firme Rodrigues. Agora, 1999.
Meditações para gestantes: O guia para uma gravidez saudável, ple-
na e feliz. Fadynha, Rio de Janeiro, Sextante, 1999.
Memórias de um homem de vidro. Ricardo H. Jones. Idéias a Gra-
nel, 2004.

172
Recursos

Nascer sorrindo. Frédérick Leboyer. São Paulo, Brasiliense, 1996.


O que esperar quando você está esperando. Arlene Eisenberg, Ha-
thaway, S. E, Murkoff, H. Rio de Janeiro, Record, 2004.
Saúde natural para mulheres grávidas. Elizabeth Burch, N. D. e
Judith Sachs. São Paulo, Madras, 1999.
Se me contassem o parto. Frédérick Leboyer e Ivone Castilho Be-
nedetti. São Paulo, Ground, 1998.

n Vídeos:
Dia de Nascimento, de Naolí Vinaver. Mostra o parto dessa parteira
mexicana, no meio de muito verde e da família.
Nascendo no Brasil. Cara Biasucci – Um documentário que mos-
tra por que no Brasil as taxas de cesárea nos serviços priva-
dos chegam a 90%.
Parir e Nascer. Um vídeo didático que mostra o parto normal, pela
experiência de cinco casais, através de animações tridimen-
sionais.
Sagrado. Paulo Batistuta. Documentário sensível sobre o parto
natural de duas mulheres em um hospital de Vitória (ES)
orienta sobre o atendimento baseado nas recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Onde encontrar livros e vídeos:
http://www.maternidadeativa.com.br

173
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primiparous women in Latin America: hospital based descriptive
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A CIMS Fact Sheet. Disponível em: <http://www.motherfri-
endly.org/Downloads/csec-fact-sheet.pdf>.
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Amiga Dela. Saúde Sexual para Mulheres. Disponível em:
<www.mulheres. org.br/fiqueamigadela>.
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framework for collaborative patient-centred care. J. Adv. Nurs.
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Mothers: Report of the First National U.S. Survey of Women’s
Childbearing Experiences. New York: Maternity Center Asso-
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practice in maternal care would keep the knife away. BMJ 324,
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MARTERNITYWISE. Helping women make informed decisions
in childbirth. Disponível em: <http://www.maternitywise.org/
home.html>. acesso em 2004.
MINISTÉRIO DA SAÚDE – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA SAÚDE. Unidade Maternidade Segura, Reprodutiva e da
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clitoris. J. Urol. 159(6), p.1892-7, June 1998.
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mal Birth: A Practical Guide. Maternal and Newborn Health/
Safe Motherhood Unit. Geneva: WHO, 1996.

179
SOBRE O LIVRO

Formato: 11 x 18 cm
Mancha: 19 x 38,6 paicas
Tipologia: Garamond 11,5/14,9
Papel: Pólen soft 80 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)
1a edição: 2004

EQUIPE DE REALIZAÇÃO

Coordenador Geral
Sidnei Simonelli
Produção Gráfica
Anderson Nobara
Edição de Texto
Eloísa Aragão (Preparação de original)
Viviane Oshima
e Mônica Reis (Revisão)
Editoração Eletrônica
Lourdes Guacira da Silva Simonelli (Supervisão)
José Vicente Pimenta (Diagramação)
Ilustrações
Soares
O século XX trouxe im-
portantes avanços na assistên-
cia médica à parturiente, tais
como o uso seguro de anestésicos
e a cesárea, possibilitando, assim, um impacto
enorme na segurança e sobrevivência de mães e
bebês. O uso abusivo da tecnologia pode, po-
rém, em muitos casos, aumentar os riscos e o
sofrimento da mulher e, portanto, não ser be-
néfico para as necessidades biológicas, emocio-
nais e sociais da parturiente.
Este livro mostra como é possível um parto
humanizado, que alie segurança com satisfação.
Valoriza as dimensões saudáveis, positivas, emo-
cionantes e belas da experiência do parto, para
que não seja vivido como uma tortura imposta
às mulheres pelo pecado original ou pela natu-
reza, mas, sim, como uma experiência emocio-
nal, social e corporal saudável, uma aventura
humana que pode ser vivida com segurança gra-
ças às técnicas disponíveis.

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