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REVALIDA

CLÍNICA MÉDICA
Endocrinologia
Thiago Bosco Mendes
Leandro Arthur Diehl
SOBRE OS AUTORES

Juliana Nesi Cardoso Migliano Porto Thiago Bosco Mendes


Especialista em Endocrinologia e em Clínica Médica pela Residência médica em Clínica Médica e em Endocrinologia
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Graduada em Medicina pela UNIRIO. Médica plantonista da (FMUSP). Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciên-
Unidade de Terapia Intensiva do Hospital AmericanCor. cias Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). Par-
ticipou do curso Teaching Assistant II, Principles and Prac-
Leandro Arthur Diehl tice of Clinical Research na Harvard School of Public Health
Doutor em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e (HSPH). Médico colaborador da disciplina de Clínica Médica
do Adolescente, linha de Ensino em Saúde, pelas Facul- Geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
dades Pequeno Príncipe. Mestre em Medicina e Ciências Botucatu (HCFMB).
da Saúde pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Especialista em Endocrinologia pela Sociedade Brasileira Atualização 2020
de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Especialista em
Thiago Bosco Mendes
Endocrinologia e em Clínica Médica pela Universidade Es-
tadual de Londrina (UEL). Graduado em Medicina pela UEL.
Médico docente da UEL, supervisor do programa de Resi-
dência Médica em Clínica Médica do Hospital Universitário
de Londrina/UEL e vice-coordenador do Núcleo de Teleme-
dicina e Telessaúde do HU/UEL.

Rodrigo Antônio Brandão Neto


Especialista em Endocrinologia, em Emergências Clínicas e
em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP),
onde é médico assistente da disciplina de Emergências Clí-
nicas. Graduado pela Faculdade de Medicina da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
APRESENTAÇÃO

Caro aluno,

É com grande satisfação que apresentamos o livro Endocrinologia, do curso


Revalida 2020.

Nós da Medcel queremos oferecer a você uma experiência única para o seu
desenvolvimento ao longo do processo de preparação para as provas de
revalidação de diploma, e esse livro é um dos formatos de conteúdo que
apoiarão você nesse caminho.

Por meio dos temas médicos explorados ao longo dos capítulos, você poderá
refletir sobre os conteúdos que mais caem nas provas, aprofundando seus
conhecimentos. Ao final da leitura, você estará preparado para resolver os
casos apresentados nos exercícios dos livros de questões e nos simulados
presentes na plataforma Medcel, com o objetivo de fixar os temas e
entender como eles são abordados em prova.

Bons estudos!
SUMÁRIO

1. Diabetes mellitus – fisiopatologia 5. Complicações crônicas do


e classificação........................................10 diabetes mellitus.................................. 72

1.1 Introdução......................................................................................... 11 5.1 Introdução ......................................................................................73

1.2 Epidemiologia................................................................................. 11 5.2 Retinopatia diabética...............................................................74

1.3 Classificação ..................................................................................12 5.3 Doença renal do diabetes.....................................................76

5.4 Neuropatia diabética...............................................................79


2. Diabetes mellitus – diagnóstico.... 18
5.5 Pé diabético.................................................................................. 82
2.1 Testes diagnósticos empregados.................................... 19 5.6 Rastreamento das complicações
microvasculares no diabetes mellitus.................................. 84
2.2 Diagnóstico de diabetes e de pré-diabetes............. 20
5.7 Aterosclerose e doença cardiovascular no
2.3 Rastreamento (screening) populacional......................21
diabetes mellitus................................................................................ 85
2.4 Pré-diabetes..................................................................................22

6. Síndrome metabólica..................... 88
3. Diabetes mellitus – tratamento.... 24
6.1 Introdução...................................................................................... 89
3.1 Introdução.......................................................................................25
6.2 Definições...................................................................................... 89
3.2 Justificativas para o tratamento intensivo ................25
6.3 Fisiopatologia...............................................................................92
3.3 Metas.................................................................................................26
6.4 Síndrome metabólica, risco cardiovascular e
3.4 Tratamento do diabetes mellitus tipo 2.......................27 diabetes mellitus ............................................................................... 93
3.5 Drogas antidiabéticas.............................................................29 6.5 Síndrome metabólica e síndrome dos ovários
3.6 Diretrizes para o tratamento farmacológico do policísticos ............................................................................................ 94
diabetes mellitus tipo 2.................................................................. 39 6.6 Síndrome metabólica e doença hepática
3.7 Insulina............................................................................................. 43 gordurosa não alcoólica................................................................ 95

6.7 Manejo da síndrome metabólica..................................... 95


3.8 Situações especiais................................................................. 48
6.8 Controvérsias.............................................................................. 95
3.9 Controle das comorbidades.............................................. 49

3.10 Acompanhamento.................................................................. 51
7. Obesidade......................................... 98
3.11 Cirurgia “metabólica”.............................................................52
7.1 Introdução....................................................................................... 99
4. Complicações agudas do 7.2 Diagnóstico.................................................................................... 99
diabetes mellitus.................................. 54 7.3 Epidemiologia ............................................................................101

4.1 Hipoglicemia no diabetes..................................................... 55 7.4 Regulação do peso corpóreo.......................................... 102

4.2 Cetoacidose diabética............................................................57 7.5 Por que há tantos obesos?...............................................104

4.3 Estado hiperosmolar hiperglicêmico........................... 65 7.6 Complicações ...........................................................................105


7.7 Tratamento não farmacológico...................................... 107 11. Nódulos e câncer de tireoide.....156
7.8 Farmacoterapia.........................................................................108
11.1 Introdução................................................................................... 157
7.9 Cirurgia bariátrica......................................................................111
11.2 Nódulos de tireoide.............................................................. 157

8. Hipotireoidismo...............................115 11.3 Neoplasias malignas de tireoide.................................. 162

11.4 Estadiamento...........................................................................164
8.1 Introdução.....................................................................................116
11.5 Tratamento................................................................................165
8.2 Definição........................................................................................118
11.6 Acompanhamento................................................................ 167
8.3 Epidemiologia.............................................................................118
11.7 Prognóstico...............................................................................168
8.4 Etiologia ........................................................................................118
8.5 Quadro clínico........................................................................... 123
12. Doenças da hipófise......................171
8.6 Diagnóstico de hipotireoidismo.................................... 125
12.1 Introdução...................................................................................172
8.7 Tratamento...................................................................................127
12.2 Hipopituitarismo.................................................................... 173
8.8 Hipotireoidismo subclínico............................................... 128
8.9 Síndrome do eutireóideo doente................................. 129 12.3 Diabetes insipidus................................................................. 176

8.10 Hipotireoidismo congênito............................................ 129 12.4 Tumores hipofisários.......................................................... 178

8.11 Estado mixedematoso.......................................................130 12.5 Hiperprolactinemia e prolactinoma.......................... 179

12.6 Acromegalia.............................................................................183
9. Tireotoxicose...................................132
12.7 Doença de Cushing..............................................................185
9.1 Definições..................................................................................... 133 12.8 Tireotrofinomas.....................................................................185
9.2 Etiologia......................................................................................... 133 12.9 Tumores clinicamente não funcionantes..............186
9.3 Fisiopatologia............................................................................ 134

9.4 Quadro clínico............................................................................ 137


13. Doenças das adrenais..................188
9.5 Avaliação diagnóstica..........................................................139 13.1 Introdução..................................................................................189
9.6 Tratamento.................................................................................140 13.2 Insuficiência adrenal...........................................................190
9.7 Hipertireoidismo subclínico.............................................. 142
13.3 Síndrome de Cushing......................................................... 197
9.8 Crise tireotóxica....................................................................... 143
13.4 Síndrome de Nelson........................................................... 203

10. Tireoidites.......................................147 13.5 Hiperplasia Adrenal Congênita – HAC................... 203

13.6 Hiperaldosteronismo......................................................... 204


10.1 Introdução..................................................................................148
13.7 Feocromocitoma.................................................................. 206
10.2 Etiologia......................................................................................148
13.8 Tumores e massas adrenais.........................................208
10.3 Epidemiologia.........................................................................148
10.4 Tireoidite aguda – supurativa, piogênica ou 14. Doenças das paratireoides.........213
séptica....................................................................................................149
10.5 Tireoidite subaguda – De Quervain, células 14.1 Introdução.................................................................................. 214
gigantes ou granulomatosa......................................................149 14.2 Metabolismo do cálcio....................................................... 214
10.6 Tireoidites autoimunes.....................................................150
14.3 Hiperparatireoidismo..........................................................217
10.7 Tireoidites medicamentosas........................................153
14.4 Hipoparatireoidismo primário.......................................223
10.8 Tireoidite de Riedel.............................................................154
10.9 Tireoidite pós-radiação....................................................154 Referências.......................................... 228
ENDOCRINOLOGIA
10 | CAPÍTULO 1 - DIABETES MELLITUS – FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO

DIABETES MELLITUS
– FISIOPATOLOGIA E
CLASSIFICAÇÃO
Leandro Arthur Diehl
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Juliana Nesi Cardoso Migliano Porto
Thiago Bosco Mendes

1
Glicemia de jejum em torno de
130 mg/dL ao longo de anos em
jovem assintomática com IMC
normal. O que é isso?

1.1 INTRODUÇÃO A insulina é um hormônio anabólico e, portanto, o diabetes,


caracterizado por menor ação insulinêmica, leva a um
O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome complexa estado de catabolismo, mais ou menos grave, a depender
da quantidade de insulina que ainda é capaz de agir.
caracterizada por hiperglicemia persistente decorrente
da deficiência na produção de insulina, na sua ação
(resistência insulínica) ou em ambos os mecanismos. 1.2 EPIDEMIOLOGIA
Além da alteração no metabolismo glicêmico, também
estão comumente presentes distúrbios do metabolismo Nas últimas décadas tem ocorrido um notável aumento
dos lipídios (dislipidemia) e das proteínas (catabolismo do número de casos de DM em todo o mundo. Em 1985,
havia 30 milhões de adultos com diabetes no mundo;
muscular). É importante frisar que o diabetes não é uma
esse número aumentou para 120 milhões em 1997,
única doença, mas sim um grupo heterogêneo de distúr-
246 milhões em 2007, e 425 milhões em 2017 – a previsão
bios metabólicos que apresenta a hiperglicemia como
é de 629 milhões por volta do ano 2045, segundo a Inter-
característica comum. national Diabetes Federation (IDF). Atualmente estima-se
Os 2 principais tipos de DM são o DM tipo 1, no passado que 80% das pessoas com a doença vivam em países
conhecido como diabetes juvenil ou diabetes insulino- de renda baixa ou média, como o Brasil. Ainda segundo
a IDF, aproximadamente 12,5 milhões de brasileiros têm
dependente, e o DM tipo 2, no passado conhecido como
diabetes, o que corresponde a 8,7% da população adulta
diabetes do adulto ou diabetes não insulinodependente.
no país.
O diabetes tipo 2 é o mais comum, correspondendo a
O aumento na prevalência de diabetes está associado ao
aproximadamente 90% dos casos, e está associado, na aumento do número de casos de diabetes tipo 2, paralelo
maioria dos casos, a outras comorbidades, como hiper- à epidemia de obesidade, bem como ao envelhecimento
tensão arterial, dislipidemia, sobrepeso, obesidade e populacional, ao sedentarismo e à urbanização. Entre-
disfunção endotelial (síndrome metabólica), acarretando tanto, além do aumento do número de casos de diabetes
um importante aumento do risco de eventos cardiovas- tipo 2, as últimas décadas têm presenciado um aumento
culares. de 3% ao ano no número de casos de diabetes tipo 1 entre
12 | CAPÍTULO 1 - DIABETES MELLITUS – FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO

pessoas com menos de 15 anos, especialmente crianças 2. DM2;


com menos de 5 anos. No Brasil, a incidência de DM1 entre
3. DM gestacional (DG);
a população com menos de 15 anos é intermediária: em
torno de 7,6 casos por 100.000 crianças/ano, segundo 4. Outros tipos específicos de DM.
dados publicados na última diretriz da Sociedade Brasi-
Para entender a fisiopatologia dos diferentes tipos
leira de Diabetes (SBD).
de diabetes, é importante conhecer algumas células
Um problema preocupante com relação ao diabetes e hormônios envolvidos na regulação da glicemia. O
tipo 2 é que 30 a 60% dos portadores da doença não pâncreas possui um papel central nesses processos,
sabem do seu diagnóstico, já que muitas vezes o DM é por ser o local de produção e liberação de alguns
oligossintomático, ou mesmo assintomático. Além disso, reguladores, como a insulina. A Figura 1.1 mostra a
boa parte dos que sabem ter a doença não fazem o trata- composição de uma ilhota pancreática, enquanto o
mento correto, por falta de informação ou de condições Quadro 1.1 correlaciona suas células com os respectivos
sociais ou econômicas que garantam o acompanhamento hormônios secretados.
médico. Com isso, aumentam vertiginosamente os riscos
de complicações agudas e crônicas do DM. Figura 1.1 - Estrutura da ilhota pancreática, responsável
pela secreção hormonal no indivíduo normal
O impacto do DM e de suas complicações na saúde
pública são evidentes e incluem:
1. Internação hospitalar: é a sexta maior causa de
internação hospitalar como diagnóstico primário e
está presente em 30 a 50% de outras causas primá-
rias de internação, como cardiopatia isquêmica,
insuficiência cardíaca, colecistopatias, acidente
vascular cerebral e hipertensão arterial;
2. Síndrome coronariana aguda: entre os internados
em unidades coronarianas, 30% são portadores de
DM.
3. Amputações de membros inferiores: é a principal
causa de amputações não traumáticas de membros
inferiores;
Fonte: adaptado de Experimental islet transplantation, 2014.
4. Cegueira: é a principal causa de cegueira adquirida
em adultos;
Quadro 1.1 - Células endócrinas da ilhota pancreática
5. Doença renal em estágio terminal: nos países Tipos celulares (% das
desenvolvidos, é a principal causa de doença renal Hormônios secretados
células da ilhota)1
em estágio terminal, respondendo por cerca de 40
a 50% dos casos. No Brasil, a nefropatia diabética Célula beta (65 a 80) Insulina e amilina
também é a principal doença renal que leva à terapia
Célula alfa (15 a 20) Glucagon
dialítica;
Célula delta (3 a 10) Somatostatina
6. Mortalidade: o diabetes é responsável por 14,5 % da
mortalidade mundial por todas as causas. A maioria Célula PP (3 a 5) Polipeptídio pancreático
das pessoas com diabetes morre de doença cardio-
vascular. Célula épsilon (< 1) Grelina

1.3 CLASSIFICAÇÃO Legenda: 1 Dados derivados do estudo de ilhotas de ratos. A


massa das ilhotas de Langerhans corresponde a cerca de 1 a
2% da massa do pâncreas; os outros 98 a 99% da massa do
A classificação do DM baseia-se, atualmente, em sua órgão são constituídos pela parte exócrina (ductos e ácinos
pancreáticos).
etiologia. Não é mais recomendado o uso dos termos DM
insulinodependente (IDDM) e DM não insulinodependente
(NIDDM). A SBD, em concordância com a última diretriz 1.3.1 Diabetes mellitus tipo 1
da American Diabetes Association, classifica a doença
em 4 grandes grupos: O DM1 é causado pela destruição autoimune das células
beta pancreáticas (responsáveis pela secreção de insu-
1. DM1:
lina), com consequente redução da capacidade secretora
a) Tipo 1A: autoimune; de insulina e deficiência grave (em geral, absoluta) desse
b) Tipo 1B: idiopático. hormônio. Responde por 5 a 10% dos casos de DM.
ENDOCRINOLOGIA | 13

1.3.1.1 Quadro clínico autoanticorpos contra antígenos das células beta, como
o antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD, ou
Os pacientes geralmente são magros, embora a presença anti-GAD65), o anti-ilhota (ICA), o antitirosina fosfatase
de obesidade não descarte a possibilidade de DM1, e (anti-IA2) e o anti-insulina, que só pode ser dosado antes
apresentam tendência a cetoacidose, cuja fisiopatologia da aplicação de insulina exógena, cujo uso pode levar a
é deficiência de insulina. A hiperglicemia costuma ter resultados falso-positivos.
início abrupto e atingir níveis elevados (> 300 mg/dL).
A presença de 1 ou mais dos autoanticorpos em níveis
A forma rapidamente progressiva, com instalação dos
aumentados em um indivíduo com diabetes define o
sintomas em poucos dias, quadro clínico exuberante e
diabetes tipo 1 autoimune, ou diabetes tipo 1A (imuno-
rápida evolução para cetoacidose, é comumente obser-
mediado). O DM1A tem forte ligação com o sistema HLA
vada em crianças e adolescentes, embora também possa
(principalmente com o gene DQB) e praticamente só
ocorrer em adultos. Em adultos, é mais frequentemente
ocorre em portadores de HLA-DR3 e/ou DR4. Alguns
observada uma forma de progressão mais lenta, em
alelos de HLA de alto risco para DM1A foram identificados,
que a instalação da hiperglicemia e o desenvolvimento como o DQA1*0301 e o DQB1*0302. Da mesma forma,
dos sintomas são mais insidiosos (algumas semanas). identificou-se o DQB1*0602 como um alelo protetor
Também é descrita, em adultos, a forma de DM1 de insta- contra o desenvolvimento de DM1A.
lação gradual, em que o paciente pode cursar com hiper-
glicemia moderada, oligossintomática, inclusive com boa Em alguns pacientes, entretanto, especialmente asiáticos
resposta a hipoglicemiantes orais por vários meses/anos e afrodescendentes, o DM1 pode ocorrer na ausência
devido à perda mais lenta da massa de células beta. Essa de autoanticorpos detectáveis (lembre-se que a lesão
forma lentamente progressiva, com quadro clínico inicial pancreática é celular e não humoral). Nessa forma, a
bastante semelhante ao do diabetes tipo 2, é conhecida história natural é de uma doença progressiva, graus vari-
como diabetes autoimune latente do adulto (LADA), entre- áveis de deficiência de insulina, tendência a cetoacidose
tanto, com o tempo, todos precisam de insulina exógena e necessidade precoce de insulina exógena. Esses indi-
para manter a normoglicemia e prevenir a cetoacidose. víduos são classificados como DM1B ou DM1 idiopático
e respondem por cerca de 10% dos casos de DM1.
1.3.1.2 Diagnóstico Quadro 1.2 - Etiologias do diabetes mellitus tipo 1

O diagnóstico de DM1 é sugerido pelo início abrupto de DM1A (autoimune) DM1B (idiopático)
hiperglicemia grave (geralmente, acima de 200 mg/dL), 90% dos casos de DM1 10% dos casos de DM1
habitualmente sintomática. Acomete, principalmente,
crianças e jovens, embora o DM1 possa atingir qualquer Mais comum em cauca- Mais comum em japoneses e
faixa etária. Cerca de 70 a 80% dos casos têm início antes sianos afrodescendentes

dos 30 anos, com pico de incidência por volta dos 12 Presença de autoanticorpos Ausência de autoanticorpos
anos. Um dado laboratorial que pode ajudar a confirmar o
diagnóstico é a presença de insulinopenia severa, indicada Forte correlação com o HLA Genética desconhecida

por valores de peptídio C < 0,7 ng/mL.


1.3.2 Diabetes mellitus tipo 2
1.3.1.3 Etiologia
O DM2 é responsável pela maioria dos casos de DM (90
O DM1 é de etiologia autoimune, com surgimento de a 95%) e tem fisiopatologia complexa e multifatorial,
resposta imune celular anormal contra antígenos das com contribuição de fatores genéticos e ambientais
células beta, infiltração de linfócitos T no pâncreas e (envelhecimento e obesidade visceral).
destruição citotóxica das células beta nas ilhotas de
Langerhans (parte endócrina do pâncreas, que corres-
1.3.2.1 Quadro clínico
ponde a 1% da massa do órgão) em indivíduos com
predisposição após um gatilho, que geralmente é atri- Pacientes com DM2 tipicamente apresentam um conjunto
buído a infecção viral. Um indício da importância da de alterações metabólicas, não restritas apenas ao meta-
autoimunidade na fisiopatologia desse tipo de diabetes bolismo dos carboidratos, mas também envolvendo o
é a alta frequência de outras doenças autoimunes nesses metabolismo das lipoproteínas, fatores inflamatórios
pacientes. As mais comuns em associação ao diabetes e regulação pressórica. O início é, em geral, insidioso
tipo 1 são as doenças tireoidianas (em até 20% dos porta- e assintomático por longos períodos. Cerca de 60 a
dores de diabetes tipo 1), a doença celíaca (em cerca de 90% apresentam obesidade ou acúmulo de gordura
10%), a doença de Addison (2%) e outras, como anemia visceral e pelo menos 80% apresentam o diagnóstico
perniciosa, artrite reumatoide, miastenia gravis e ooforite de síndrome metabólica. História familiar positiva para
autoimune. A autoimunidade específica do diabetes tipo DM é encontrada em pelo menos 50% dos pacientes
1 pode ser confirmada em laboratório pela presença de com DM2. Diabéticos tipo 2 não apresentam tendência
16 | CAPÍTULO 1 - DIABETES MELLITUS – FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO

Síndrome de Down Pancreatite crônica


Síndrome de Turner Doenças do Pancreatectomia (trauma/neoplasia)
Síndrome de Klinefelter pâncreas Pancreatite fibrocalculosa
Ataxia de Friedreich exócrino Hemocromatose
Outras Doença de Huntington Fibrose cística
síndromes
Síndrome de Laurence-Moon-Biedl
genéticas Glicocorticoides
associadas Distrofia miotônica
Ácido nicotínico
Síndrome de Prader-Willi
Beta-agonistas adrenérgicos
Síndrome de Wolfram
Tiazídicos
Mutações no fator de transcrição nuclear
Pentamidina
PPAR-gama Diabetes
mellitus Vácor (raticida)

Formas Anticorpos anti-insulina induzido por Diazóxido


incomuns Anticorpos antirreceptores de insulina (resis- drogas Fenitoína
de diabetes tência à insulina tipo B)
Alfainterferona
mellitus Síndrome “do homem rígido” (stiff-person
imunomediado Olanzapina
syndrome – anticorpos anti-GAD)
Clozapina
Síndrome de Cushing
Inibidores de protease
Feocromocitoma
Diabetes Rubéola congênita
mellitus asso- Hipertireoidismo
Citomegalovírus
ciado a outras Acromegalia
doenças endó- Infecções Coxsackie tipo B
Hiperaldosteronismo
crinas Caxumba
Glucagonoma
Adenovírus
Somatostatinoma

Glicemia de jejum em torno de 130 mg/dL ao


longo de anos em jovem assintomática com IMC
normal. O que é isso?
Jovem, com IMC normal, assintomática, que ao longo de anos apresenta alteração
discreta do metabolismo da glicose, não apresenta fisiopatologia clássica de diabetes
mellitus tipo 1 nem de diabetes mellitus tipo 2. O diagnóstico neste caso precisa ser
investigado com a história familiar e procura de mutação. Provavelmente trata-se de
MODY tipo 2, uma forma de diabetes monogênico, de herança autossômica dominante
e com curso indolente.
DIABETES MELLITUS – FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO

O DM É UMA SÍNDROME CARACTERIZADA POR


ALTERAÇÕES DO METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS,
LIPÍDIOS E PROTEÍNAS, QUE SE ASSOCIA A RISCO ELEVADO DE
COMPLICAÇÕES CRÔNICAS. SÃO ELAS:

Macrovasculares: Microvasculares:
coronariopatia, nefropatia,
acidente vascular cerebral, retinopatia,
insuficiência arterial periférica neuropatia

O DM É CLASSIFICADO
EM 4 GRANDES GRUPOS

DM1 DM2 DM gestacional Outros tipos


Doença Causado pela resistência Diagnosticado entre de diabetes:
autoimune à ação de insulina 24 e 28 semanas
caracterizada com graus variáveis de gestação. grupo miscelânea,
por grave de deficiência do Ocorre pelo grande que não se
deficiência de hormônio. É fortemente aumento de resistência
insulina, com associado com à insulina consequente
encaixa em
necessidade obesidade, ao hormônio lactogênio nenhum dos acima
de reposição exógena sedentarismo, placentário em um
HAS, dislipidemia cenário de resistência prévia
e hereditariedade à insulina indolente

Pancreatectomia Pancreatite Hemocromatose MODY – Endocrinopatias –


crônica diabetes acromegalia,
monogênico tireotoxicose

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