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HEPATITES VIRAIS
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SUMÁRIO
HEPATITES VIRAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
3. Hepatite B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.1. Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.2. Clínica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.3. Fases da hepatite B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.4. Epidemiologia e aspectos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.5. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.6. Imunossuprimidos e candidatos ao uso de imunobiológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.7. Tratamento da hepatite B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.8. Profilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
4. Hepatite C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.1. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.2. Agente etiológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.3. Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.4. Quadro clínico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.5. Diagnóstico HCV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.6. Tratamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Hepatite D/E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5.1. Hepatite D (delta) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5.2. Hepatite E. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Bibliiografia consultada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Questões comentadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
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HEPATITES VIRAIS
IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA
Alanina aminotransferase
↑ Transaminases (ALT ou TGP)
Leucograma Albumina
Diagnóstico
Marcadores virais Anti-VHA (IgG e IgM)
AgHBs; AgHBc;
Cobre AgHBe; Anti-HBs
Ceruplasmina Anti-HCV
Etiológico
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Hepatites virais Cap. 8
Nesse contexto, elas podem ser causadas por 5 e sintomas clínicos – embora alguns dados possam
principais tipos de vírus, mas a distinção entre os 5 favorecer a suspeita de um ou outro tipo.
tipos é impossível de ser feita com base nos sinais
É importante destacar que, nos últimos anos, tive- u Drogas imunobiológicas e a possibilidade de
mos avanços e mudanças epidemiológicas notó- reativação do vírus hepatite B.
rias no cenário nacional e global das hepatites, a
destacar: As hepatites virais são doenças de notificação com-
pulsória regular (em até 7 dias). Portanto, todos os
u Simplificação na terapêutica da hepatite C com o casos confirmados e surtos devem ser notificados
surgimento de drogas potentes (a partir de 2013) e registrados no Sistema de Informação de Agravos
e com altas taxas de resposta virológica (as cha- de Notificação (Sinan), utilizando-se a Ficha de
madas drogas de ação direta, DAAs). Investigação das Hepatites Virais.
u Surtos, em vários países do mundo, de hepatite Em termos mundiais, a hepatite viral A é a mais
A, com um cenário de transmissão sexual (HSH). frequente, porém, nos países desenvolvidos, são as
u Desafio de ampliar a cobertura vacinal para a hepatites virais crônicas (particularmente as hepa-
hepatite B no mundo. tites B e C) as que se revestem de maior impacto
u Introdução da vacina do vírus A no calendário em termos de morbidade e mortalidade, ao serem
nacional, em 2014. as principais causas de doença hepática crônica.
u Tratamento para todos com hepatite C crônica
no Brasil, independentemente do estágio de fi-
brose hepática.
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Hepatites virais Infectologia
BASES DA MEDICINA
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Hepatites virais Cap. 8
ademais de viajantes que se dirigem a regiões A forma ictérica tem mais de 99% de evolução
endêmicas da doença. benigna e autolimitada. As formas prolongada e
colestática são mais raras e não representam cro-
A principal faixa etária acometida é a das crianças
nificação da doença, e sim uma evolução mais pro-
(sobretudo, as menores de 2 anos) que, geralmente,
longada, podendo, o paciente, apresentar elevações
desenvolvem a forma benigna da doença (variando
transitórias nas transaminases até um ano depois
de assintomática até gastroenterite, predominante-
do quadro agudo (Quadro 2).
mente anictérica). Já os adultos, quando adquirem
o vírus, costumam desenvolver quadro ictérico febril
Quadro 2. Formas clínicas da hepatite A.
com repercussões sobre o estado geral, sendo,
assim, mais grave. Desse modo, como regra geral, Hepatite
A maioria dos casos na infância
tem-se que quanto mais jovem o paciente adquire anictérica
a infecção, menos aparente/sintomática ela é. Hepatite Autolimitada, 4-6 semanas, até
ictérica a normalização das enzimas
Consideradas as formas de transmissão, a preven-
ção está diretamente relacionada às condições Prolongada Normalização das TGP em meses
de higiene e saneamento. Por meio de políticas Icterícia intensa, gama
Colestática
públicas, ao longo dos anos, percebeu-se que houve GT elevada e prurido
melhoria das condições sanitárias. No entanto, a 0,1 a 0,2% dos casos
população suscetível passou a ser maior e a ter Hepatite
Necrose maciça/submaciça do fígado
idade mais elevada (idade em que as manifestações fulminante
Insuficiência hepática aguda
clínicas são mais preocupantes). Com isso, como a
Fonte: Ministério da Saúde².
doença gera proteção duradoura por meio de anti-
corpos, a vacinação passou a constituir importante
agente protetor.
Desde 2016, têm sido reportados surtos de hepatite DIA A DIA MÉDICO
A em 15 países da União Europeia (Espanha, Reino
Unido, Itália, Alemanha e Portugal, entre outros), com O quadro clínico das hepatites virais agudas é muito
mais de mil casos, tendo predomínio de Homens variável quanto a sua intensidade e a sua gravidade,
que fazem Sexo com Homens (HSH). podendo ser desde oligossintomático até sintomático com
icterícia febril com grande alteração das transaminases.
A transmissão sexual da hepatite A pode ocorrer Pela clínica e pelo laboratório não é possível distinguir
com a prática sexual oral-anal pelo contato da qual é o tipo, tornando difícil a identificação etiológica
mucosa da boca de uma pessoa com o ânus de sem recorrer a exames sorológicos. Assim, na maioria
outra portadora da infecção aguda da hepatite A. da vezes, mesmo suspeitando de HAV, temos de pedir
sorologia para outras hepatites e ainda pensar em outros
A prática dígito-anal-oral também pode ser uma via
diagnósticos diferenciais.
de transmissão.
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Hepatites virais Infectologia
2.2. DIAGNÓSTICO
Suspeita de hepatite A
Atenção Básica
O diagnóstico é estabelecido pela detecção de Como relação a exames inespecíficos, nas formas
anticorpos IgM anti-VHA no soro do paciente de 5 ictéricas, usualmente, encontramos aumento sig-
a 10 dias após a exposição, que pode permanecer nificativo de transaminases e bilirrubinas às cus-
detectável por 4 a 6 meses, na maioria dos pacientes, tas da fração direta. A alteração de exames como
ou por até 1 ano em casos raros (algoritmo 1). Os coagulograma e fator V são sinais de alerta para
anticorpos IgG aparecem após a primeira semana evolução da forma fulminante (das hepatites virais,
da doença e persistem, provavelmente, por toda HAV têm mais casos de fulminantes).
a vida, como marcador sorológico. Em pacientes
A hepatite fulminante leva a uma insuficiência hepá-
sem icterícia, a infecção pode ser observada com
tica no curso de uma hepatite aguda. É caracte-
o aumento do nível sérico da Alanina Aminotransfe-
rizada por comprometimento agudo da função
rase (ALT) após a infecção, normalizando antes da
hepatocelular, manifestado por diminuição dos
viremia. O vírus pode ser detectado no sangue ou
fatores da coagulação e presença de encefalopatia
nas fezes da maioria dos pacientes durante a fase
hepática no período de até 8 semanas após o início
aguda da doença pelos métodos moleculares de
da icterícia. A mortalidade é elevada (40 a 80% dos
diagnóstico (PCR) que, todavia, não são realizados
casos). Nesses casos, há indicação de transplante
na prática clínica.
hepático na urgência.
O diagnóstico diferencial da hepatite aguda deve
ser realizado com colestase reacional, leptospirose,
outras hepatites (B, C, D, E, drogas ou substâncias
tóxicas), febre amarela, malária, Síndrome de Gilbert,
processos expansivos neoplásicos ou granuloma-
tosos, colangites, entre outros.
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Hepatites virais Cap. 8
(-) (-) Ausência de contato com o vírus, indivíduo não imune (susceptível)
*anti-HAV IgM = Infecção aguda
*anti-HVA IgG = Infecção passada (imunidade permanente)
Fonte: Ministério da Saúde1.
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Hepatites virais Infectologia
Figura 3. Casos notificados de hepatite A no estado de São Paulo, por faixa etária, em 2017.
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Hepatites virais Cap. 8
Evitar álcool
Dieta branda
Repouso relativo
Tratamento ambulatorial
Tratamento
Internamento hospitalar
Encefalopatia hepática
TP muito alargado
Vômitos intensos
Hepatite fulminante
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Hepatites virais Infectologia
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Hepatites virais Cap. 8
ou cirúrgicos que não atendam às normas de biosse- como a persistência do vírus ou a presença do
gurança, entre outros) e relações sexuais desprote- HBsAg por mais de 6 meses, detectada por meio
gidas, sendo esta a via predominante. A transmissão de testes sorológicos.
vertical (materno-infantil) também é importante e
Os extremos de idade, os fatores comportamentais
ocasiona uma evolução desfavorável, com maior
e genéticos, as características demográficas, a
chance de cronificação.
concomitância de substâncias tóxicas incluindo
O HBV permanece viável durante longo período álcool e fumo, a história familiar de Carcinoma
quando fora do corpo, como, por exemplo, em uma Hepatocelular (CHC) e o contato com carcinóge-
gota de sangue, e tem maiores chances de infectar nos como aflatoxinas, por exemplo, aumentam o
um indivíduo suscetível do que os vírus da hepatite C risco de cirrose hepática e de CHC em pacientes
(HCV) e da imunodeficiência humana (HIV). Outros portadores da hepatite B crônica. A replicação viral
líquidos orgânicos, como sêmen, secreção vaginal persistente, a presença de cirrose, o genótipo C do
e leite materno, também podem conter o vírus e HBV, a mutação na região promotora do pré-core
representar fontes de infecção. Nas provas, o exa- e a coinfecção com o HIV ou HCV também são
minador costuma perguntar muito sobre assuntos fatores que aumentam a probabilidade de evolução
relacionados à transmissibilidade: acidente com para formas graves. Embora a cirrose seja fator de
material biológico com fonte HBV+, além de profilaxia risco para CHC, 30 a 50% dos casos de CHC por
da transmissão materno-infantil de mães com HBV. HBV ocorrem na ausência desta.
A infecção pelo vírus da hepatite B pode causar É importante entender o papel do sistema imune e
hepatite aguda ou crônica; habitualmente, ambas as possibilidades evolutivas com relação ao vírus
as formas são oligossintomáticas. Infecções cau- B desde a entrada do mesmo no organismo e em
sadas pelo vírus da hepatite B raramente causam alguns cenários da sua persistência.
icterícia: menos de um terço dos indivíduos infec-
tados. Aproximadamente 5% a 10% dos indivíduos 3.3.1. 1. Fase imunotolerante
infectados tornam-se portadores crônicos do HBV.
Nessa fase, há elevada replicação viral, sem evidên-
Cerca de 20% a 25% dos casos crônicos de hepatite cias de agressão hepatocelular. O sistema imune
B que apresentam replicação do vírus evoluem para “tolera” o vírus. Assim, a fase é caracterizada por
doença hepática avançada. A infecção pelo HBV positividade de HBeAg e elevados índices de HBV-
também é condicional para o desenvolvimento da -DNA, indicativos de replicação viral. Níveis pouco
hepatite delta, doença resultante da infecção pelo elevados de aminotransferases (normais ou próxi-
HDV e de grande impacto na região Amazônica. mos do normal), pouca atividade necroinflamatória
Para o acompanhamento da infecção, utilizam-se no fígado e lenta progressão de fibrose. Transmissão
marcadores séricos de imunidade (anti-HBs), ava- alta nessa fase.
liação da presença do antígeno de superfície do
HBV (HBsAg) e quantificação do vírus na corrente 3.3.2. 2. Fase imunorreativa
sanguínea (carga viral/HBV-DNA). O aparecimento
Nesta fase, a tolerância do vírus acaba devido à
do anti-HBs e o desaparecimento do HBsAg e da
incapacidade do sistema imune de eliminar o vírus.
carga viral indicam resolução da infecção pelo HBV
HBeAg reagente e menores índices de HBV-DNA
na maioria dos casos.
sérico, é indicativo de menor replicação viral. Os
Em indivíduos adultos expostos exclusivamente valores das aminotransferases podem apresen-
ao HBV, a cura espontânea se dá em cerca de 90% tar flutuações, e a atividade necroinflamatória no
dos casos. A evolução para infecção crônica, por fígado, por sua vez, pode ser moderada ou grave. A
sua vez, ocorre em menor proporção e é definida progressão da fibrose é acelerada. Essa fase pode
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Hepatites virais Infectologia
durar de várias semanas a vários anos. Encerra-se u Europa: maior taxa AgHBs em refugiados e es-
com a soroconversão para anti-HBe. trangeiros.
u Aumento do número de casos de cirrose e HCC.
3.3.3. 3. Estado de portador inativo
u DNA: pertence à família Hepadnaviridae, que in-
Este estado caracteriza-se por níveis muito bai- fecta os hepatócitos.
xos – ou até mesmo indetectáveis – de HBV-DNA u DNA do vírus com incorporação do material ge-
sérico, com normalização das aminotransferases nético = pode ocorrer reativação em imunocom-
e, costumeiramente, soroconversão anti-HBe. Há, prometidos (especialmente em oncológicos).
nessa fase, risco reduzido de cirrose e CHC. Esse u Envoltório externo contendo proteínas antigê-
processo corresponde a um bom prognóstico; o nicas denominadas antígenos de superfície do
AgHbs fica positivo, é crônico, mas raramente esse HBV (HBsAg).
estado pode se reverter em situação de imunosu- u O core (HBcAg), que contém o DNA, a enzima
pressão ou mutação. É preciso acompanhar esse
DNA-polimerase e um antígeno solúvel (HBeAg).
paciente devido à possibilidade de reativação, e
rastrear o CHC com US e alfa feto a cada 6 meses.
u Vias de aquisição: sexual, parenteral, vertical,
Não é necessário o uso de antivirais, somente se acidente com material biológico.
houver elevação da carga viral (acima de 2000 UI) u Cronificação: depende do momento do contato
com o vírus: na infância pode chegar até >90%,
3.3.4. 4. Fase de reativação e em adultos, 5 a 10%.
u Prevenção: vacina muito eficaz e, para alguns
Essa fase pode surgir no portador inativo quando
casos, imunoglobulina específica para o VHB.
ocorrerem mutações na região pré-core e/ou core
promoter do vírus, mantendo-se a replicação viral
mesmo na vigência de HBeAg não reagente. Transa-
minases são altas, assim como a carga viral. Risco
elevado para complicações. Nas provas, esse perfil é
chamado mutante pré-core. Tratamento necessário.
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Hepatites virais Cap. 8
3.5. DIAGNÓSTICO
Paciente
Repetir os exames
negativo positivo negativo positivo
em 15 dias
HBsAg – HBsAg +
Infecção crônica Infecção aguda anti-HBc IgM contato prévio
anti-Hbc total - anti-HBC total +
Encaminhar para
Falso positivo Acompanhamento
serviço de média negativo positivo
confirmado clínico
complexidade
Falso positivo
Repetir exame em Infecção aguda
Infecção passada
6 meses (janela imunológica)
Cepa mutante
Encaminhar para
Acompanhamento
serviço de média
clínico
complexidade
Repetir exame em
6 meses
O teste rápido, que dosa o antígeno viral HBsAg O diagnóstico de hepatite B é confirmado pela
em amostra de sangue por punção digital, é uma dosagem laboratorial do HBsAg, porém outros mar-
excelente forma de rastreamento da hepatite B. Se cadores são importantes para definir o tratamento.
a pessoa apresentar o teste rápido positivo, deve-se
O anti-HBc IgM é positivo somente na hepatite
confirmar o diagnóstico com a dosagem laborato-
aguda. Nos pacientes com hepatite B aguda, ocorre
rial do HBsAg (algoritmo 2) e estabelecer em que
negativação do HBsAg 4 a 6 meses após o início da
cenário da infecção se encontra, pesquisando-se
infecção, com surgimento do anticorpo anti-HBs.
todos os outros marcadores.
Persistência do HBsAg por mais de 6 meses é diag-
nóstico de hepatite B crônica (Quadro 4).
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Hepatites virais Infectologia
(+) (-) Infecção de fase aguda ou falso positivo/Repetir sorologia após 15 dias
Nas pessoas vacinadas, o único exame positivo é o Significado de outros marcadores da hepatite B
anti-HBs, com anti-Hc total não reagente (a chamada (Quadro 5):
imunidade vacinal).
u AgHBe+ = marcador de replicação viral; aparece
O exame de anti-HBc total indica contato com o
na fase aguda e na crônica replicante e desapa-
vírus e esse anticorpo está presente tanto naqueles
rece na cura.
com infecção ativa (com HBsAg positivo) quanto
nos com infecção resolvida (com HBsAg negativo).
u Anti-HBe+ = marcador de parada da replicação
viral.
Marcadores sorológicos (IMPORTANTE): para mar- u Anti-Hbs = marcador de imunidade (natural ou
car na cabeceira da cama!
vacinal).
u AgHBs+ por mais de 6 meses depois da infecção u AntiHbc IgG = marcador de contato (após con-
aguda = definição de cronificação pelo vírus B. tato inicial, ficará positivo para o resto da vida).
u AntiHbc IgM = infecção aguda pelo vírus B, de-
saparecendo após esse período.
Anti-HBc
Condição de caso HBsAg Anti-HBc HBeAg Anti-Hbe Anti-HBs
IgM
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Hepatites virais Cap. 8
Figura 5. Curso sorológico da hepatite B aguda. isolado devem ser submetidos à quantificação do
HBV-DNA.
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Hepatites virais Infectologia
As medicações para hepatite B são liberadas pelo Sistema Importante: IGHAHB e vacina contra hepatite B
Único de Saúde, baseado nas indicações dos protocolos são recomendadas como profilaxia para pessoas
nacionais. É impossível prescrever o tratamento com suscetíveis, expostas a portadores conhecidos ou
indicações fora desses consensos. potenciais do vírus da hepatite B por violência sexual.
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Hepatites virais Cap. 8
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Hepatites virais Infectologia
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Hepatites virais Cap. 8
Em geral, o diagnóstico ocorre após teste soro- extra-hepáticas da hepatite viral aguda, que são
lógico de rotina ou por doação de sangue. Esse autolimitadas, as síndromes associadas com a hepa-
fato reitera a importância da suspeição clínica por tite viral crônica contribuem significantemente para
toda a equipe multiprofissional e do aumento da a morbimortalidade da infecção viral persistente.
oferta de diagnóstico sorológico, especialmente
Alguns mecanismos são propostos para explicar
para as populações vulneráveis ao HCV.
as manifestações extra-hepáticas, maiormente de
u A hepatite crônica pelo vírus da hepatite C é uma natureza autoimune. As principais são:
doença de caráter insidioso, caracterizando-se
por um processo inflamatório persistente. Na u distúrbios da tireoide;
ausência de tratamento, ocorre cronificação em u líquen plano;
60% a 85% dos casos; em média, 20% pode evoluir
u crioglobulinemia;
para cirrose. Uma vez estabelecido o diagnósti-
co de cirrose hepática, o risco anual para o sur- u Glomerulonefrite Membranoproliferativa (GMP)
gimento de CHC é de 1% a 5% (o risco anual de e síndrome nefrótica.
descompensação hepática é de 3% a 6%. Após
um primeiro episódio de descompensação he- Manifestações reumatológicas e marcadores de
pática, o risco de óbito, nos próximos 12 meses, autoimunidade são comuns na hepatite C crônica
é de 15% a 20%). e um grande número de quadros reumatológicos
têm sido reconhecidos em conjunto com a infecção
No entanto, a taxa de progressão para cirrose é pelo HCV: polimiosite, dermatomiosite, Síndrome
variável e pode ser mais acelerada em determinados de Behçet, síndrome antifosfolípide, fibromialgia,
grupos de pacientes, como alcoolistas ou coinfec- entre outros.
tados pelo HIV. A evolução para óbito, comumente,
decorre de complicações da hepatopatia crônica,
como a insuficiência hepatocelular, hipertensão DIA A DIA MÉDICO
portal (varizes gastroesofágicas, hemorragia diges-
tiva alta, ascite), encefalopatia hepática, além de Como parte fundamental da terapêutica das manifesta-
trombocitopenia e desenvolvimento de CHC. ções extra-hepáticas, a eliminação do vírus C é primordial.
Com o objetivo de ampliar o acesso ao diagnóstico e ao A investigação da infecção pelo HCV se dá pela
tratamento da hepatite C em todo o território nacional, busca de anticorpos específicos contra o vírus (anti-
recomenda-se que os grupos populacionais menciona- -HCV), que pode ser feita em ambiente laboratorial.
dos a seguir sejam prioritariamente testados quanto à
presença do HCV: pessoas vivendo com HIV; pessoas A testagem para o anti-HCV realizada em ambiente
sexualmente ativas EM (PrEP) ao HIV (a indicação de laboratorial utiliza testes sorológicos, como os do
testagem seguirá o protocolo de PrEP); múltiplos par- tipo ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay).
ceiros sexuais ou com múltiplas infecções sexualmente Também temos disponíveis os testes por imunocro-
transmissíveis; pessoas trans; trabalhadores(as) do sexo;
matografia de fluxo, mais conhecidos como Testes
pessoas em situação de rua.
Rápidos (TR).
O anti-HCV é um marcador que indica contato pré-
4.4.3. Manifestações extra- vio com o vírus. Isoladamente, um resultado rea-
hepáticas da hepatite C gente para o anticorpo não permite diferenciar uma
infecção resolvida naturalmente de uma infecção
O espectro clínico da hepatite C inclui manifesta-
ativa. Por isso, para o diagnóstico laboratorial da
ções não hepáticas e, diferente das manifestações
infecção, um resultado anti-HCV reagente precisa
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Hepatites virais Infectologia
ser complementado utilizando-se um teste para estabelecidos por meio da aplicação dos índices
detecção direta do vírus, através de testes molecu- APRI e FIB4, assim como a realização de biópsia
lares de amplificação de material genético (PCR). hepática ou de elastografia hepática, sabendo-se
que a biópsia hepática é o exame padrão-ouro
Os testes de ácidos nucleicos (ou testes molecula-
para definição do grau de acometimento hepático
res) são utilizados para detectar o HCVRNA circu-
(Fluxograma 3).
lante no paciente. São ferramentas fundamentais
como método confirmatório da cronicidade da Elastografia hepática: novo método não invasivo.
infecção e, ainda, usados para avaliar a resposta Realizado por meio de diferentes metodologias,
ao tratamento. esse procedimento não invasivo permite a estratifi-
cação dos graus de fibrose. Uma de suas principais
Sempre que a sorologia ELISA para VHC for posi-
vantagens é a avaliação de uma área maior que a
tiva, o próximo exame será o PCR ou o de carga
pesquisada por fragmento de biópsia hepática.
viral para HCV.
Embora os testes moleculares corriqueiramente Fluxograma 3. Exames diagnósticos e estadiamento
sejam utilizados para complementar o diagnóstico da fibrose hepática na Hepatite C.
após um resultado reagente no teste para detecção
Diagnóstico Estadiamento
do anti-HCV, o RNA do HCV pode ser identificado
no soro antes da presença do anticorpo (Figura 7). ELISA -VHC Us de abdome
(fibroscan/ARF)
PCR quantitativo
Figura 7. Marcadores da infecção pelo HCV. Genotipagem VHC Scores com marcadores
Alfa feto proteína laboratoriais
Vacinar para HAV e HBV
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Hepatites virais Cap. 8
Atenção Básica
Suspeita de hepatite C
Nível I
Solicitar anti-HCV
Anti-HCV (+)
Encaminhar para Anti-HCV (-)
Serviço Especializado
Sorologia: Anti HCV+ = detecção do anticorpo (teve u Biópsia hepática por agulha guiada por USG ou
ou tem hepatite C): não define HCV crônico! elastografia hepática (fibroscan ou ARFI), menos
invasivo do que biopsia e método preferencial de
Solicitar sempre:
estadiamento.
u RNA do HVC por PCR, carga viral do HCV = RNA u Solicitar enzimas e função hepática, sorologias
por PCR quantitativo. A, B e HIV, perfil lipídico, glicemia.
u Caso o RNA por PCR seja detectável, significa u Vacinar para hepatite A e B!
que o indivíduo é portador crônico do HCV. u Orientar teste do parceiro(a).
u Estadiamento: ARF ou fibroscan (menos invasi-
vos) ou biópsia (menos realizada nos dias atuais). 4.6. TRATAMENTO
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Hepatites virais Infectologia
Os pacientes com CHC e tratados com DAA (drogas u Repetir o HCV-RNA quantitativo na quarta sema-
de ação direta) deverão ser acompanhados com na após o primeiro exame:
exames de forma mais frequente. W Caso não ocorra diminuição da carga viral de
IMPORTANTE: As normas técnicas relacionadas pelo menos 2 log10, deve-se iniciar o tratamento.
ao tratamento da hepatite C também estão em W Caso a carga viral tenha se reduzido mais que
constante alteração pela incorporação de novas 2 log10, avaliar na 12ª semana antes de indicar
medicações e evidências cientificas. No cenário o tratamento. Quando a viremia ainda for pre-
atual, desde 2018, o Ministério da Saúde está, anual- sente na 12ª semana, deve-se iniciar o trata-
mente, incorporando e modificando o tratamento; mento. Quando a carga viral do RNA-HCV for
assim, tome cuidado com as questões antigas e inferior a 12 UI na 12ª semana, o tratamento
com a possibilidade de mudanças que possam não estará indicado. Recomenda-se a monito-
ocorrer depois da edição deste material. rização da carga viral nas 24ª e 48ª semanas
de acompanhamento para confirmação da
4.6.1. Infecção aguda : como resolução espontânea da infecção.
proceder nessa situação? u O tratamento, quando iniciado, deve ser feito
u Realizar o HCV-RNA quantitativo no momento seguindo-se as mesmas recomendações tera-
da suspeita clínica de infecção aguda pelo HCV. pêuticas de pacientes com hepatite C crônica
(Fluxograma 5).
Positivo
Tratamento
4.6.2. Tratamento nas formas crônicas resultado ideal, indicado pela indetectabilidade
do HCV-RNA 24 semanas (em esquemas com
O objetivo principal do tratamento é a erradicação alfapeginterferona) ou 12 semanas (em esque-
do vírus, tendo como consequência aumentar a mas sem alfapeginterferona) após o tratamento.
expectativa e, em especial, a qualidade de vida,
Nos pacientes com cirrose hepática instalada, a
reduzir a ocorrência de complicações de doença
erradicação do HCV não remove o risco de hepa-
hepática crônica e reduzir a transmissão do HCV,
tocarcinoma ou descompensação clínica. Deve-se
assim como evitar os desfechos primários da pro-
continuar monitorando com US de abdome e alfa-
gressão da infecção crônica pelo VHC, como cirrose,
-feto proteína a cada 6 meses.
carcinoma hepatocelular e óbito.
Mesmo ocorrendo a cura (RVS), pode haver a REIN-
u A erradicação do vírus através do tratamento FECÇÃO! Estudos atuais mostram que usuários de
é constatada com resultado de HCV-RNA inde- drogas endovenosas e população HSH correm mais
tectável na 12ª ou 24ª semana de seguimento riscos de reinfecção. Por isso, é muito importante
pós-tratamento. Esta condição caracteriza a INFORMAR os pacientes sobre prevenção após a
Resposta Virológica Sustentada (RVS), que é o cura.
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Hepatites virais Cap. 8
Importante: Estão surgido, rapidamente, novas dro- terapêutica. De forma geral, essa eficácia é mensurada
gas de ação direta para o tratamento e a sua incor- pela Resposta Virológica Sustentada (RVS); é absoluta-
mente comparável entre todos os esquemas propostos,
poração é dinâmica e pode mudar, dependendo da
quando se avaliam situações clínicas semelhantes. As
disponibilidade e de acordos do Ministério da Saúde medicações são solicitadas e pode demorar alguns meses
com a indústria farmacêutica. As recomendações para que o paciente inicie o tratamento.
a seguir são sujeitas a mudanças no decorrer do
tempo. Em 2019, foram introduzidas outras drogas
para o tratamento, a saber: ledipasvir, glecaprevir,
5. HEPATITE D/E
pibrentasvir, que se adicionam ao sofosbuvir e
daclatasvir para compor os esquemas terapêuticos
para HCV. Na maior parte das vezes a combinação
5.1. HEPATITE D (DELTA)
do ledipasvir e sofosbuvir é a primeira escolha para
tratamento ( tempo de 12 semanas). Em cirróticos
Child B e C adicionamos a ribavirina no esquema e A infecção pelo HDV representa grave problema de
prolongamos o tratamento até 24 semanas. saúde pública, particularmente nos países endê-
micos para hepatite B e populações tradicionais e
4.6.2.1. Esquemas para tratamento indígenas. Estima-se que 18 milhões de pessoas
(Consenso MS 2019) vivam com o HDV no mundo.
A hepatite delta apresenta taxas de prevalência
4.6.2.2. Pontos chave no tratamento elevadas na Ásia Central e na Bacia Amazônica. O
HDV também apresenta alta prevalência em pessoas
u Brasil (2018): tratar todos, independente do grau que usam drogas injetáveis nos EUA e na Europa.
de fibrose. No Brasil, a maior parte dos casos notificados con-
u Objetivo: cura (PCR quantitativo negativo após centram-se nos estados do Amazonas e do Acre.
6º mês do término do tratamento). O vírus da hepatite delta foi relatado, pela primeira
u Drogas disponíveis: sofosbuvir/ledipasvir/velpa- vez, em meados da década de 1970, em pacientes
tasvir/ribavirina. portadores de hepatite B com instabilidade clínica.
u Era do DAAs = menor toxicidade, redução no Inicialmente identificado como um antígeno do vírus
tempo do tratamento. da hepatite B, foi temporariamente denominado
u Não cirróticos genótipo 1 = 12 semanas (sofos- “antígeno delta”.
buvir + ledipasvir) A hepatite delta foi elucidada, posteriormente, em
u Cirróticos Child B e C = tratamento por 24 sema- pesquisas desenvolvidas em chimpanzés, que
nas, geralmente associado à ribavirina. demonstraram que o “antígeno delta” (HDVAg)
u Genótipo 3: associar ribavirina mesmo em não constituía outro agente infeccioso, dependente da
cirróticos, velpatasvir/sofosbuvir + ribavirina. infecção pelo vírus da hepatite B para sua replicação,
utilizando-se de parte da estrutura do HBV.
u Tratamento = 95% cura, mas pode haver reinfec-
ção (nova exposição e nova viremia). O HDV é um vírus pequeno, esférico, de 36 nm
u Importante reinfecção por exposição sexual/ de diâmetro, de composição híbrida e defectiva.
drogas EV. Depende de proteínas do envelope do HBV para o
ciclo de vida (Figura 8).
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Hepatites virais Infectologia
Figura 8. Estrutura da partícula do vírus da Hepatite D. que na hepatite B aguda e se relaciona à expressão
sequencial dos vírus B e D.
Na maioria dos casos, o quadro clínico da coinfec-
ção HBV/HDV evolui com hepatite aguda benigna.
Excepcionalmente, a síntese mais intensa do HDV
leva a formas fulminantes e crônicas de hepatite
viral. A coinfecção HBV/HDV resulta em completa
recuperação em até 95% dos casos.
u Superinfecção:
W A superinfecção pelo HDV em portadores do
HBsAg se revela mais grave e de pior prognós-
tico. A antigenemia preexistente do HBsAg
favorece uma replicação intensa do HDV e
consequente grave dano hepático.
W O risco de desenvolvimento de infecção crônica
torna-se significativamente maior na superin-
fecção (79,9%) quando comparado à coinfecção
(3%) ou à hepatite B clássica. A evolução para
Fonte: Acervo Sanar. a doença crônica é variável entre 2 a 6 anos.
Entretanto, em crianças, a evolução ocorre
A história natural da doença não é uniforme. A apre- mais rapidamente.
sentação clínica pode ou não manifestar sintomas. W O diagnóstico sorológico da hepatite delta é
Dentre as formas graves da doença, observa-se baseado na detecção de anticorpos anti-HDV
desenvolvimento de cirrose hepática, insuficiência IgG em paciente com suspeita de exposição
hepática e/ou CHC. recente para o agente infeccioso. Pacientes
portadores de hepatite B residentes em áreas
u Coinfecção: endêmicas ou com antecedente epidemiológico
A infecção simultânea HBV/HDV causa interferência correspondente são candidatos à investigação.
viral e prejuízo da replicação do HBV. A coinfecção Caso estes apresentem exame anti-HDV IgG
apresenta-se como hepatite aguda recidivante de reagente, a confirmação da hepatite delta será
curso clínico bifásico. Essa apresentação ocorre realizada por meio do somatório das informa-
com maior frequência na coinfecção HBV/HDV do ções clínicas, epidemiológicas e demográficas
(Quadro 6 e Fluxograma 6).
Anti-HDV
Formas HBsAg Anti-HBc Anti-HBc IgM Anti-Hbs
total
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Hepatites virais Cap. 8
Paciente em região
endêmica para hepatite
delta (Amazônia ocidental)
HBsAg + HBsAg +
HBsAg -
anti-HBc total + anti-HBc total +
anti-HBc total -
anti-HBc IgM + anti-HBc IgM -
Encaminhar para o
serviço especializado
5.2. HEPATITE E
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Hepatites virais Infectologia
Anti-HEV Anti-HEV
Interpretação
total IgM Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Informe Téc-
nico da Secretaria de Saúde do Estado de SP [Internet]; 2017.
(+)/(-) (+) Infecção recente pelo HEV
[acesso em 22 nov 2022]. Disponível em: http://www.saude.
(+) (-) Exposição prévia pelo HEV sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/
areas-de-vigilancia/doencas-transmitidas-por-agua-e-alimen-
Nunca teve contato com
(-) (-) tos/doc/2017/hepatitea17_iftecnico.pdf
HEV (susceptível)
Fonte: Ministério da Saúde1.
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Hepatites virais Cap. 8
QUESTÕES COMENTADAS
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Hepatites virais Infectologia
Questão 8
Questão 6
(REVALIDA - 2021) Um homem de 23 anos de idade,
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO - RJ - 2020) Homem membro de um grupo de usuário de drogas injetá-
de 45 anos, hígido e sem antecedentes mórbidos, veis, comparece à consulta no ambulatório de clí-
queixa-se de adinamia e fraqueza. Ele nega história nica médica com relato de “olhos amarelos e urina
de febre, emagrecimento ou anemia. Os exames rea- cor de mate”. Segundo informa, seu quadro clínico
lizados mostram glicemia = 89mg/dL, creatinina = iniciou-se há cerca de 12 dias com mal-estar, febre
0,8mg/dL, TGO = 87U/dL, TGP = 110U/dL, proteína (cerca de 38°C), coriza e mialgias. Dois dias após,
total = 7,5g/dL, albumina = 3,5g/dL e TAP com INR observou disgeusia e anosmia, além de diarreia.
= 1,4. Nas sorologias realizadas, verificou-se HB- Procurou unidade de pronto atendimento, sendo
sAg = não reagente, Anti-HBs = reagente, anti- HBc agendada pesquisa para covid-19, que foi realizada
= reagente, anti-HCV = reagente e anti-HAV IgG = no 5° dia de evolução da doença, com resultado ne-
reagente. Visando à definição diagnóstica do qua- gativo. Passou a apresentar, também, dor abdomi-
dro, a melhor opção é solicitar: nal (especialmente no hipocôndrio direito) e fadiga
vespertina. Há 2 dias, observou que suas escleras
USG de fígado e vias biliares.
ficaram amareladas e sua urina assumiu aspecto
fibroscan hepático. sugestivo de colúria. Foi à mesma unidade onde
PCR para vírus C. havia sido atendido inicialmente, sendo solicitados
PCR para vírus B. exames complementares que são trazidos pelo
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Hepatites virais Cap. 8
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Hepatites virais Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
Y Dica do professor: A hepatite B é uma infecção vi- Y Dica do professor: O paciente em questão é por-
ral causada pelo vírus DNA-HBV, que produz 3 an- tador do vírus B de hepatite e encontra-se na fase
tígenos: HBsAg (superfície; permanece positivo até denominada hepatite crônica HbeAg negativo, vis-
6 semanas após a infecção aguda), HBcAg (core/ to que apresenta transaminases elevadas e carga
centro) e HBeAg (secretado – marca a replicação viral maior que 2000 UI/mL, tendo, portanto, indica-
viral). Os antígenos estimulam, respectivamente, a ção formal de iniciar tratamento com antivirais. As
formação de anticorpos no hospedeiro: Anti-HBs drogas mais utilizadas para este tratamento são o
(surge após a resolução do quadro infeccioso, no Tenofovir e o Entecavir.
período de convalescência), Anti-HBc (tanto IgM ✔ RESPOSTA:
– hepatite aguda – como IgG – hepatite antiga) e
Anti-HBe.
Na avaliação dos marcadores sorológicos, podemos Questão 3 DIFICULDADE:
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Hepatites virais Cap. 8
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Hepatites virais Infectologia
Y Dica do professor: Questão clássica de marcadores Y Dica do professor: A positividade do HbsAg indi-
sorológicos na hepatite, prestar atenção porque é ca presença do vírus no organismo do indivíduo.
o assunto mais cobrado para provas Quando associado a um anti-Hbc Total positivo e
Alternativa A: CORRETA. O HbsAg é o principal mar- IgM negativo, significa que a fração que está posi-
cador da hepatite B (aguda ou crônica). Quando tiva é o IgG, o que indica cronicidade da hepatite. O
associado ao HbeAg positivo, indica replicação HbeAg negativo e anti-Hbe positivo mostram que o
ativa e infectividade. O anti-Hbc IgM e IgG indi- paciente não está mais na fase replicativa.
cam, respectivamente, infecção aguda e crônica. ✔ RESPOSTA:
A questão não traz qual dos dois veio positivo; no
entanto, a presença de sintomas nos faz pensar
em infecção aguda.
Alternativa B: INCORRETA. Na fase de convalescência,
espera-se um anti-Hbs já detectável e o desapare-
cimento do HbeAg.
Alternativa C: INCORRETA. Na vacinação, há positivi-
dade do anti-Hbs sem o anti-Hbc.
Alternativa D: INCORRETA. O paciente apresenta-se
com sintomas e sorologias já indicativas de infec-
ção em curso, não podendo classificar o quadro
como em fase de incubação.
✔ RESPOSTA:
Questão 8 DIFICULDADE:
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