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1. CARDIOLOGIA ..........................................................................................................................................

6
1.1. Introdução .......................................................................................................................................... 6
1.2. Manifestações clínicas:...................................................................................................................... 6
1.3. Exame físico na doença cardiovascular: ........................................................................................... 6
1.4. Exames complementares de diagnóstico ......................................................................................... 7
1.5. Doenças mais comuns .................................................................................................................... 11
1.5.1. Valvulopatias ............................................................................................................................ 11
A. Doença da válvula aórtica ............................................................................................... 11
B. Doença da válvula mitral ................................................................................................. 13
C. Doença da válvula tricúspide ........................................................................................... 14
D. Doença da válvula pulmonar ........................................................................................... 16
1.5.2. Endocardite Infecciosa ............................................................................................................ 18
2. FISIOPATOLOGIAS MAIS COMUNS ..................................................................................................... 19
2.1. Angina de Peito ................................................................................................................................ 19
2.2. Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) ................................................................................................. 21
2.3. Insuficiência Cardíaca (IC) .............................................................................................................. 23
3. CHOQUE ................................................................................................................................................. 25
3.1. Definição e Fisiopatologia................................................................................................................ 25
3.2. Classificação Etiológica do Choque ................................................................................................ 26
3.2.1. Choque Hipovolémico .............................................................................................................. 26
3.2.2. Choque Cardiogénico .............................................................................................................. 27
3.2.3. Choque Obstrutivo ................................................................................................................... 27
3.2.4. Choque Distributivo.................................................................................................................. 27
3.3. Quadro Clínico ................................................................................................................................. 28
3.3.1. Sinais de CHOQUE: ................................................................................................................ 28
3.4. Abordagem Terapêutica Geral (para os 4 tipos de Choque) .......................................................... 29
4. HIPERTENSÃO ARTERIAL (HTA).......................................................................................................... 30
4.1. Definição .......................................................................................................................................... 30
4.2. Causas Identificáveis de HTA ......................................................................................................... 30
4.3. Classificação (OMS e JNC VII) ....................................................................................................... 31
4.4. Exames Complementares ............................................................................................................... 31
4.5. Técnicas de Medição da PA ............................................................................................................ 31
4.6. Tensão arterial e gravidez ............................................................................................................... 32
4.7. HTA Resistente ou Refractária ........................................................................................................ 32
4.8. Protocolo para seguimento de doentes com HTA .......................................................................... 32
4.9. HTA no Diabético (TA ≥130/80 mmHg)........................................................................................... 33
4.10. Dados Epidemiológicos ................................................................................................................... 34
4.11. Modificação dos Estilos de Vida ...................................................................................................... 34
4.12. Combater os Factores de Risco ...................................................................................................... 34

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5. INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA À PESSOA ADULTA E IDOSA COM
ALTERAÇÕES DE SAÚDE NO SISTEMA CARDIOVASCULAR .................................................................. 34
5.1. Patologia Vascular ........................................................................................................................... 34
5.2. Situação actual das doenças do aparelho circulatório.................................................................... 34
5.3. Intervenções necessárias e objectivos estratégicos ....................................................................... 35
5.4. História clínica em enfermagem ...................................................................................................... 35
5.4.1. Anamnese ................................................................................................................................ 35
5.4.2. Avaliação física ........................................................................................................................ 36
5.4.3. História nutricinonal ................................................................................................................. 36
5.4.4. História farmacológica ............................................................................................................. 36
5.4.5. Grupos de risco – idosos ......................................................................................................... 36
5.5. Estrutura e Função do Sistema Cardiovascular.............................................................................. 37
5.5.1. Artérias Coronárias .................................................................................................................. 37
5.5.2. Propriedades Electrofisiológicas do Coração ......................................................................... 38
5.5.3. Hemodinâmica cardíaca .......................................................................................................... 38
5.6. Meios auxiliares de diagnóstico mais comuns em cardiologia ....................................................... 38
6. PATOLOGIA CARDÍACA - DOENÇA ATEROSCLERÓTICA DAS ARTÉRIAS CORONÁRIAS (DAC) 40
6.1. Consequências: ............................................................................................................................... 40
6.2. Dados epidemiológicos .................................................................................................................... 40
6.3. Factores de risco ............................................................................................................................. 40
6.4. Manifestações clínicas ..................................................................................................................... 41
6.5. Angina de peito ................................................................................................................................ 41
6.5.1. Classificação da Angina de Peito: ........................................................................................... 41
6.5.2. Diagnóstico: ............................................................................................................................. 41
6.5.3. Cateterismo Esquerdo - Angiografia das Coronárias ............................................................. 42
6.5.4. Planeamento de intervenções em enfermagem ..................................................................... 42
7. ENFERMAGEM CARDIOVASCULAR - Prof Arminda Vieira ................................................................. 43
7.1. Enfarte agudo do miocárdio (EAM) ................................................................................................. 43
7.1.1. Classificação dos enfartes ....................................................................................................... 45
7.1.2. Principais complicações do eam ............................................................................................. 50
7.1.3. Prognóstico .............................................................................................................................. 50
7.1.4. TRATAMENTO - Reabilitação do indivíduo ............................................................................ 51
7.1.5. Protocolos de intervenção no EAM (1 as 12h - importante) ...................................................... 51
7.1.6. Prevenção de complicações: ................................................................................................... 53
7.1.7. Protocolo de reabilitação em internamento – preparação para a alta .................................... 54
7.1.8. EPS – preparação para a alta para o domicílio ...................................................................... 55
7.1.9. Áreas de atenção relevantes para enfermagem ..................................................................... 56
7.1.10. Cirurgia de Bypass Coronário ................................................................................................. 57
7.1.11. Cuidados de enfermagem ao doente com EAM - metodologia da cipe ................................. 58
7.1.12. Intervenções de Enfermagem ................................................................................................. 58

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7.2. Insuficiência cardíaca (ic) ................................................................................................................ 59
7.2.1. Conceito: .................................................................................................................................. 59
7.2.2. Fisiopatologia: .......................................................................................................................... 59
7.2.3. Epidemiologia: ......................................................................................................................... 60
7.2.4. Etiologia: .................................................................................................................................. 61
7.2.5. Exames complementares de diagnóstico ............................................................................... 61
7.2.6. Classificação da ic ................................................................................................................... 62
7.2.7. Mecanismos compensatórios .................................................................................................. 63
7.2.8. Manifestações clínicas ............................................................................................................. 64
7.2.9. Tratamento ............................................................................................................................... 65
7.2.10. Intervenções de enfermagem ao doente com insuficiência cardíaca .................................... 66
8. PATOLOGIA VASCULAR PERIFÉRICA................................................................................................. 69
8.1. Factores condicionantes da circulação ........................................................................................... 69
8.1.1. Factores de Risco .................................................................................................................... 69
8.2. Epidemiologia................................................................................................................................... 70
8.3. Patologia arterial – bloqueio arterial agudo ..................................................................................... 70
8.3.1. Diagnóstico: ............................................................................................................................. 70
8.4. Classificação dos distúrbios arteriais .............................................................................................. 70
8.4.1. Arteriosclerose obliterante ....................................................................................................... 70
8.4.2. Tromboangeíte obliterante....................................................................................................... 71
8.4.3. Fenómeno ou doença de Raynaud ......................................................................................... 72
8.4.4. Embolia arterial (aguda) .......................................................................................................... 73
8.5. Tipos de cirurgia vascular ................................................................................................................ 73
8.6. Avaliação Pré-Operatória - Cirurgia Vascular ................................................................................. 74
8.7. Intervenções de Enfermagem no Pré- Operatório da CV ............................................................... 74
8.8. Intervenções Enfermagem no pós- Operatório ............................................................................... 75
8.9. Cirurgia vascular – amputação ........................................................................................................ 75
8.9.1. Indicação da amputação.......................................................................................................... 75
8.9.2. Complicações da amputação .................................................................................................. 76
8.9.3. Características do coto para a prótese: .................................................................................. 76
8.9.4. Critérios a considerar na moldagem do coto da prótese ........................................................ 76
8.9.5. Focos de enfermagem na pessoa amputada .......................................................................... 76
8.9.6. Intervenções de Enfermagem face à pessoa amputada ........................................................ 77
a) Objectivos: ....................................................................................................................... 77
b) Pré-operatório: ................................................................................................................. 77
c) Pós-operatorio: objectivos ............................................................................................... 77
d) Pós-operatório preparação da alta .................................................................................. 78
8.10. Distúrbios venosos........................................................................................................................... 78
8.10.1. Tipos de distúrbios venosos: ................................................................................................... 78
8.10.2. Tromboflebite ........................................................................................................................... 78

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a) Etiologia: .......................................................................................................................... 79
b) Manifestações clínicas:.................................................................................................... 79
c) Tratamento: ...................................................................................................................... 79
8.10.3. Veias varicosas ........................................................................................................................ 79
a) Manifestações clínicas ..................................................................................................... 79
b) Tratamento: ...................................................................................................................... 80
c) Intervenções de Enfermagem: Promoção do autocuidado............................................. 80
d) Intervenções de enfermagem pré-operatório .................................................................. 80
e) Intervenções de enfermagem pós-operatório: ................................................................ 80
8.10.4. Úlceras venosas ...................................................................................................................... 80
a) Etiologia: .......................................................................................................................... 81
b) Sintomatologia: ................................................................................................................ 81
c) Tratamento: ...................................................................................................................... 81
8.11. Distúrbios do sistema linfático ......................................................................................................... 82
8.11.1. Linfangite .................................................................................................................................. 82
8.11.2. Linfedema ................................................................................................................................ 82
8.11.3. Elefantíase ............................................................................................................................... 82
9. HIPOCOAGULAÇÃO ............................................................................................................................... 83
9.1. Sistema de hemostase .................................................................................................................... 83
9.2. Fases do Processo de Coagulação ................................................................................................ 83
9.3. Hipocoagulação – objectivo:............................................................................................................ 83
9.4. Fármacos Hipocoagulantes ............................................................................................................. 83
9.5. Tratamento ....................................................................................................................................... 83
9.6. Efeitos adversos ao tratamento ....................................................................................................... 84
9.7. Contra-indicações aos tratamentos:................................................................................................ 84
a) Absolutas ................................................................................................................................................. 84
b) Relativas .................................................................................................................................................. 85
9.8. Intervenção de enfermagem ............................................................................................................ 85
10. O DOENTE DO FORO CIRÚRGICO – Prof. Salete Calvinho ................................................................ 85
10.1. Cirurgia: ............................................................................................................................................ 85
10.2. Avanços Tecnológicos: .................................................................................................................... 86
10.3. Objectivos da cirurgia: ..................................................................................................................... 86
10.4. Classificação da cirurgia quanto a: ................................................................................................. 87
10.4.1. Tipos de Cirurgia: ..................................................................................................................... 87
10.4.2. Localização: ............................................................................................................................. 87
10.4.3. Extensão ou Âmbito: ................................................................................................................ 87
10.4.4. Finalidade ou Propósito: .......................................................................................................... 87
10.5. Nomes dos procedimentos cirúrgicos: ............................................................................................ 88
10.6. Existem vários factores que afectam o doente cirúrgico e a própria cirurgia: ................................ 88
10.7. Efeitos no paciente: ......................................................................................................................... 89

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11. PRÉ-OPERATÓRIO: ............................................................................................................................... 90
11.1. Aspectos legais (respeitar os direitos do doente) ........................................................................... 90
11.2. Avaliação do doente ........................................................................................................................ 91
11.2.1. Conhecimento do doente (altura do internamento): ............................................................... 91
11.2.2. Situação Psicológica ................................................................................................................ 91
11.2.3. Factores de Risco .................................................................................................................... 92
11.3. Preparação pré-operatória:.............................................................................................................. 93
12. ENFERMEIRO NO BLOCO OPERATÓRIO (INTRA-OPERATÓRIO) ................................................... 99
12.1. Estrutura ........................................................................................................................................... 99
12.1.1. Salas Operatórias (SO) ......................................................................................................... 100
12.1.2. Mobiliário da Sala Operatória ................................................................................................ 101
12.1.3. Organização do Pessoal........................................................................................................ 101
12.1.4. Vestuário no Bloco Operatório .............................................................................................. 102
12.2. Algumas regras básicas de assepsia cirúrgica ............................................................................. 103
12.3. Função do enfermeiro peri-operatório ........................................................................................... 104
12.4. Medicação pré-anestésica ............................................................................................................. 107
12.5. Medicação prescrita: ...................................................................................................................... 108
12.6. Escolha da anestesia ..................................................................................................................... 108
12.6.1. Tipos de Anestesia ................................................................................................................ 109
12.7. Instrumental ................................................................................................................................... 112
12.8. Sutura ............................................................................................................................................. 113
13. PÓS-OPERATÓRIO: ............................................................................................................................. 114
13.1. Objectivo das intervenções de enfermagem: ................................................................................ 114
13.2. Competências do enfermeiro no pós-operatório: .......................................................................... 114
13.3. Avaliação do doente no bloco operatório ...................................................................................... 115
13.4. Avaliação inicial ............................................................................................................................. 115
13.5. Intervenções de enfermagem ........................................................................................................ 118

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1. CARDIOLOGIA
1.1. Introdução

A história clínica é a componente mais importante na avaliação de um doente com patologia


cardiovascular.
É fundamental não permitir que os desenvolvimentos tecnológicos na investigação de doentes,
diminuam a importância da colheita de uma boa história clínica.
A história clínica consiste no ponto de partida para a obtenção de um diagnóstico correcto.

1.2. Manifestações clínicas:


Dispneia (sintoma + comum e preocupante): pode surgir como falta de ar sem queixa respiratória
ou associada a ansiedade, stress e a uma série de processos patológicos.
Dor torácica: pode ser causada por ansiedade, patologia cardiovascular ou respiratória.
Palpitações: fenómeno subjectivo comum, definido como desagradável consciencialização dos
batimentos cardíacos (coração bate rapidamente). Pode ser precipitada por alteração na frequência/ritmo
cardíaco ou por aumento da contractilidade do miocárdio.
Fadiga: pode ser consequência directa de insuficiência cardíaca ou débito cardíaco inadequado.
Nictúria ou Poliúria: aumento do volume urinário
Edemas: (acumulação de liquido nos espaços intersticiais)
Cianose
Tosse e hemoptise: (emissão de sangue pela boca com origem respiratória)
...

 Exame físico do doente com cardiopatia não se limita às áreas do corpo em que as manifestações de
doença cardíaca são mais observadas.
 Em geral, o exame do doente começa no crânio e prossegue até aos membros inferiores.
 Exame físico compreende a inspecção, a palpação, a percussão e a auscultação.

1.3. Exame físico na doença cardiovascular:


Pulso (ausência/presença, frequência, ritmo, amplitude, qualidade e simetria)
Pressão arterial
Cianose (central – língua ou periférica)
Dedos (baqueta de tambor)
Unhas (vidro de relógio)
Edemas dos membros inferiores
Ascite (aumento de líquidos)
Hepatomegalia (aumento do fígado) e Esplenomegalia (aumento do baço)
...

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1.4. Exames complementares de diagnóstico
Electrocardiografia (12 derivações) utiliza vários locais dos eléctrodos para medir as diferenças de
potencial – despolarização e repolarização – entre uma série de pontos na superfície corporal,
representando a actividade eléctrica das aurículas e dos ventrículos)
Radiografia do tórax (determinação das dimensões gerais e configuração do coração e calcificação
no músculo, válvulas e grandes vasos cardíacos)
ECG com prova de esforço
Exames laboratoriais (estudo enzimático) – creatinina quinase, troponina I e desidrogenase láctica;
contagem sanguínea completa; estudo da coagulação sanguínea; determinação da uremia e
lipidemia; indicadores da função renal)
Ecocardiografia/Doppler
TAC/RM
Cateterismo cardíaco
Angiografia
...

NOTA: Em caso de emergência (ambulatório) faz-se um ECG seguido de exames laboratoriais.

Legenda:
AD AE

1. Válvula Aórtica 3 4 1 2

2. Vávula Mitral ou Bicúspide VD VE

3. Válvula Pulmonar
4. Válvula Tricúspide

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1.5. Doenças mais comuns
1.5.1. Valvulopatias
As válvulas são responsáveis por promoverem a passagem unidireccional do sangue através do
coração.
A estenose valvular cardíaca é o aperto do lúmen da válvula, o que impede que o sangue passe
através da válvula.
A insuficiência valvular envolve o encerramento incompleto da válvula, o que leva a regurgitação
ou refluxo retrógrado do sangue pela válvula.

A. Doença da válvula aórtica


a) Estenose aórtica
É uma obstrução do débito de saída do sangue do ventrículo esquerdo para a aorta. Ocorre
quando os folhetos da válvula aórtica ficam rígidos, fundidos ou calcificados, impedindo que o sangue flua
do ventrículo esquerdo até à aorta durante a sístole ventricular.

As causas mais frequentes são:


 congénitas
 reumáticas
 calcificantes (degenerativas)
Actualmente, a estenose aórtica calcificante nos doentes de meia idade e nos idosos, é a causa
mais frequente de lesão valvular que dá origem à substituição da válvula. A imobilização das cúspides pelo
cálcio, parece ser o factor mais importante na transformação da válvula bicúspida numa lesão estenótica.
A imobilização das cúspides pelo cálcio, parece ser o factor + importante na transformação da
válvula bicúspide numa lesão estenótica.
A válvula aórtica tem de ser reduzida para ¼ do seu tamanho normal, para que ocorram alterações
significativas na circulação (a área do orifício da válvula de um adulto é de 3 a 4 cm 2).
A obstrução do débito provoca uma sobrecarga da pressão no ventrículo esquerdo, que é
compensado através de um aumento da espessura e da massa, da parede ventricular.
A estenose aórtica acontece quando a válvula aórtica fica + estreita, obstruindo a passagem do
sangue até à aorta durante a sístole. A resistência à passagem do sangue provoca aumento da pressão
sistólica do ventrículo esquerdo, e os esforços compensatórios do ventrículo esquerdo para aumentar o
débito cardíaco, levam à hipertrofia ventricular. Ainda que o ventrículo esquerdo bombeie + para responder
às necessidades do organismo, a válvula estenosada, bloqueia qualquer aumento do fluxo sanguíneo que
sai do coração.

Manifestações clínicas:
Angina de peito (50 a 70% dos casos) ou Anger Pectoris

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Síncope (perda da consciência súbita e imediata devido à estase do fluxo sanguíneo e à
incapacidade do ventrículo esquerdo de satisfazer as necessidades, em mudança, no organismo))
Insuficiência cardíaca
Morte súbita (3 a 5% dos casos)

Achados físicos:
Pulso carotídeo fraco e com atraso
Sopro cardíaco (mau funcionamento da válvula)
Hipertrofia do ventrículo esquerdo

Diagnóstico:
História clínica e exame físico
ECG
Rx do tórax
Ecocardiografia/Doppler
Cateterismo cardíaco

Terapêutica:
Médica (profilaxia da endocardite infecciosa)
Cirúrgica (valvuloplastia vs. prótese valvular)

b) Regurgitação aórtica
É um fluxo de sangue de aorta para o ventrículo esquerdo, que ocorre durante a diástole, devido a
incompetência da válvula aórtica.

As causas mais frequentes são:


Endocardite infecciosa
Disfunção de prótese valvular

A sobrecarga do volume do ventrículo esquerdo é a alteração hemodinâmica básica. Na


regurgitação aórtica, o fluxo retrógrado do sangue através da válvula aórtica permeável (incompetente),
aumenta a volemia no ventrículo esquerdo. Esse aumento do volume de sangue, e o subsequente
aumento da pressão telediastólica do ventrículo esquerdo, servem para aumentar o volume sistólico e
manter o débito cardíaco.

Manifestações clínicas:
Dispneia de esforço
Ortopneia

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Dispneia paroxística nocturna (acorda sistematicamente com súbita falta de ar)

Achados físicos:
Hipertrofia do ventrículo esquerdo

B. Doença da válvula mitral


a) Estenose mitral
É uma obstrução do fluxo sanguíneo entre a aurícula esquerda e o ventrículo esquerdo, provocada
pelo funcionamento anormal da válvula mitral.
As causas mais frequentes são:
cardite reumática (causa infecciosa que divaga pela circulação sanguínea até ao coração – válvula
e ossos);
congénitas
endocardite infecciosa

 Cerca de 60% dos doentes com doença reumática da válvula mitral, não apresenta história de
febre reumática.
 A cardite reumática aguda é uma pancardite, porque envolve o pericárdio, o miocárdio e o
endocárdio.
 Habitualmente, existe um longo intervalo (10 a 20 anos) entre um episódio de febre reumática e
a apresentação clínica da estenose mitral sintomática.
 Na estenose mitral, os folhetos da mitral ficam espessados e fibróticos por formação de tecido
necrosado e calcificado. À medida que se tornam rígidos e unidos, o lúmen da válvula estreita-
se progressivamente e torna-se imóvel.

Manifestações clínicas:
Dispneia de esforço
Ortopneia
Dispneia paroxística nocturna
Palpitações

Achados físicos:
Hipertrofia da aurícula esquerda
Sopro cardíaco
Com a estenose mitral progressiva, as pressões da aurícula esquerda aumentam em resultado do
esvaziamento incompleto da aurícula esquerda. Uma pressão auricular esquerda, permanentemente
elevada, obriga o miocárdio a compensar isso com a dilatação da aurícula esquerda e hipertrofia.

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Diagnóstico:
História clínica e exame físico
ECG
Ecocardiografia
Cateterismo cardíaco

Terapêutica:
Médica (profilaxia da endocardite infecciosa e contra a recorrência da febre reumática)
Cirúrgica (valvuloplastia vs. prótese valvular)

b) Regurgitação Mitral:
É caracterizada por uma inversão anormal do fluxo sanguíneo do ventrículo esquerdo para a
aurícula esquerda, devido a anomalias do aparelho mitral.
Ocorre quando a válvula mitral não fecha completamente durante a sístole ventricular, pelo que
algum sangue retorna à aurícula esquerda.

As causas mais frequentes são:


Prolapso da válvula mitral
Valvulite reumática
Endocardite infecciosa

Manifestações clínicas (formas graves):


Fadiga
Dispneia ligeira (esforço)

Achados físicos:
Hipertrofia do ventrículo esquerdo
Hipertrofia da aurícula esquerda
Sopro cardíaco

Na regurgitação mitral, uma quantidade variável de sangue, vindo do ventrículo esquerdo, é enviado
para trás pela válvula mitral até à aurícula esquerda. Esse refluxo de sangue faz com que tanto a aurícula
esquerda como o ventrículo esquerdo se dilatem e fiquem hipertrofiados. Também as pressões venosa e
arterial pulmonares sobem e provocam insuficiência cardíaca do lado direito. À medida que o ventrículo
sofre hipertrofia, fica disfuncional e o débito cardíaco diminui.

C. Doença da válvula tricúspide

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a) Estenose tricúspide
É provocada pela obstrução do fluxo diastólico através da válvula, durante o enchimento do
ventrículo direito.
Corresponde a uma limitação no orifício da válvula tricúspide, que impede a passagem do sangue
da aurícula direita até ao ventrículo direito, durante a diástole ventricular direita.

As causas mais frequentes são:


Febre reumática
Endocardite infecciosa

A estenose tricúspide está habitualmente associada à estenose mitral ou da vávula aórtica concomitante.

Manifestações clínicas:
Dispneia
Fadiga
Pulsações nas veias do pescoço

Achados físicos:
Hipertrofia da aurícula direita
Sopro cardíaco

A estenose da tricúspide faz aumentar a pressão na aurícula direita, que provoca o aumento de volume
da aurícula e hipertrofia.

b) Regurgitação tricúspide
Ocorre quando a válvula tricúspide permite a entrada de sangue na aurícula direita, durante a
contracção ventricular direita.

As causas mais frequentes são:


Insuficiência ventricular esquerda
Hipertensão pulmonar
Endocardite infecciosa

Manifestações clínicas (formas graves):


Dispneia
Ortopneia
Edema periférico

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Achados físicos:
Hipertrofia do ventrículo direito
Hipertrofia da aurícula direita
Sopro cardíaco

O fluxo sanguíneo de retorno à aurícula direita, durante a sístole, serve para aumentar a carga do
ventrículo direito. Por isso, na regurgitação da tricúspide estão presentes dilatação do ventrículo direito,
hipertrofia e falência.

D. Doença da válvula pulmonar


a) Estenose pulmonar
É provocada pela obstrução do fluxo de sangue aos pulmões. A limitação no orifício da válvula
pulmonar impede que o sangue saia do ventrículo direito para a vascularização pulmonar, durante a
sístole.

As causas mais frequentes são:


congénitas
tumores

Manifestações clínicas:
Dispneias
Palpitações
Síncope

Achados físicos:
Hipertrofia do ventrículo direito
Hipertensão pulmonar
Sopro cardíaco

b) Regurgitação mitral
Ocorre habitualmente, na sequência de uma cirurgia cardíaca prévia, numa lesão congénita da
válvula pulmonar. Envolve uma válvula pulmonar incompetente que permite que o sangue retorne ao
ventrículo direito durante a diástole.

As causas mais frequentes são:


Hipertensão pulmonar
Febre reumática
Endocardite infecciosa

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Manifestações clínicas (formas graves):
Polipneia
Fadiga
Síncope
Achados físicos:
Hipertrofia do ventrículo direito
Hipertensão pulmonar
Sopro cardíaco

É uma doença causada pela infecção microbiana do revestimento endotelial do coração. A lesão
característica é uma vegetação (pequeno agregado de plaquetas juntamente com fibrina) que se
desenvolve habitualmente numa válvula cardíaca.
Uma válvula cardíaca com lesão ou um defeito no septo ventricular provocam turbulência no fluxo
sanguíneo, o que vai permitir eu as bactérias se instalem no lado da baixa pressão da válvula ou na zona
do defeito. Os microrganismos rodeiam e fixam-se na válvula cardíaca, resultando excrecências
vegetativas que podem necrosar e perfurar os folhetos. Se essas excrecências se libertarem das válvulas
e entrarem no fluxo sanguíneo, podem ocorrer êmbolos, que se entrarem em órgãos, como o baço e os
rins, podem formar abcessos.
A infecção pode ser aguda ou subaguda (crónica), dependendo da susceptibilidade do hospedeiro,
do abuso de drogas endovenosas e da virulência do microorganismo.
A endocardite infecciosa ocorre na maioria das vezes, em doentes submetidos a cirurgia cardíaca
(valvuloplastias/substituição de válvulas), nos consumidores de drogas por via endovenosa e nos doentes
submetidos a tratamento endovenoso prolongado.
A prevalência é maior nos homens (2:1). A idade média de aparecimento da doença é cerca dos 50
anos.
Os principais agentes patogénicos responsáveis pela doença são:
Estreptococos (S. viridans ou hemolíticos)
Estafilococos (S. aureus e o S. epidermidis)
Fungos (Candida albicans)

Manifestações clínicas:
Febre (geralmente baixa, embora se houver infecção por S. aureus, possa ocorrer febre elevada)
Anemia
Sopro cardíaco
Arrepios
Suores nocturnos
Cefaleias

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Mialgias
Artralgias
Fadiga
Esplenomegalia
Dedos em baqueta de tambor

Diagnóstico:
História clínica e exame físico
ECG
Rx do tórax
Hemocultura (90 a 95% dos casos) (identificação do mecanismo infeccioso e decisão da
necessidade, ou não, de antibioterapia)
Ecocardiografia (comprovação de vegetação valvular)
Cateterismo cardíaco

Prevenção:
Profilaxia antibiótica antes de procedimentos dentários (extracções ou tratamentos de cáries) ou
instrumentação genito-urinária.
Programas sociais e educacionais no âmbito da prevenção da toxicodependência

Terapêutica:
Médica (penicilina)
Cirúrgica

1.5.2. Endocardite Infecciosa


É uma doença causada pela infecção microbiana do revestimento endotelial do coração. A lesão
característica é uma vegetação que se desenvolve habitualmente numa válvula cardíaca. A infecção pode
ser aguda ou subaguda (crónica), dependendo da susceptibilidade do hospedeiro, do abuso de drogas
endovenosas e da virulência do microrganismo.
A endocardite infecciosa ocorre na maioria das vezes, em doentes submetidos a cirurgia cardíaca
(valvuloplastias / substituição de válvulas), nos consumidores de drogas por via endovenosa e nos doentes
submetidos a tratamento endovenoso prolongado.
A prevalência é maior nos homens (2 : 1). A idade média de aparecimento da doença é cerca dos
50 anos.
Os principais agentes patogénicos responsáveis pela doença são:
Estreptococos (S. viridans ou hemolíticos)
Estafilococos (S. aureus e o S. epidermidis)
Fungos (Candida albicans)

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Manifestações clínicas:
Febre
Anemia
Sopro cardíaco
Arrepios
Suores nocturnos
Cefaleias
Mialgias
Artralgias
Fadiga
Esplenomegalia
Dedos em baqueta de tambor

Diagnóstico :
História clínica e exame físico
ECG
Rx Tórax
Hemocultura (90 a 95% dos casos)
Ecocardiografia
Cateterismo cardíaco

Prevenção :
Profilaxia antibiótica antes de procedimentos dentários (extracções ou tratamentos de cáries) ou
instrumentação genito-urinária.
Programas sociais e educacionais no âmbito da prevenção da toxicodependência.

Terapêutica :
Médica
Cirúrgica

2. FISIOPATOLOGIAS MAIS COMUNS


2.1. Angina de Peito
Definição:
A Angina de Peito é uma síndrome clínica que consiste em desconforto ou dor no tórax, com
carácter recorrente, associada a isquemia miocárdica, mas sem necrose do miocárdio.
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Geralmente, é precipitada ou agravada pela actividade física, pelas emoções, pelas refeições ou
pelo frio.
NOTA: Os doentes queixam-se de aperto no peito, dor irradiada que começa no peito e vai até ao
braço, por exemplo. No entanto, o AVC e a angina, apesar de as queixas serem semelhantes, estes
acontecimentos são diferentes.
Tipicamente, o desconforto da angina pectoris é aliviado em poucos minutos, com o repouso ou
com a nitroglicerina sublingual. A dor geralmente, dura entre 10 a 15 minutos (muito raramente pode durar
até 30 minutos).
NOTA: A dor no AVC é + prolongada em termos de tempo.
A angina é classificada como estável, quando as suas características se mantêm inalteradas nos
60 dias anteriores. A presença de angina instável é predictiva de um maior risco, a curto prazo, de um
evento coronário agudo.
A angina estável é a 1ª manifestação de cardiopatia isquémica (angina de peito e EAM) em cerca
de 50% dos doentes.

a) Etiologia
Aterosclerose das coronárias (causa básica por excesso de gordura alimentar)
Anomalias congénitas das artérias coronárias
Espasmo das artérias coronárias
Tromboembolismo coronário
Vasculite coronária
Estenose aórtica
Miocardiopatia hipertrófica (aumento da espessura)

b) Fisiopatologia
A causa básica da angina pectoris consiste no desequilíbrio entre o aporte do fluxo sanguíneo
coronário (levar O2) e as necessidades metabólicas do miocárdio (em termos de O 2). Isto deve-se à
alteração do lúmen da artéria, pelo seu estreitamento, graças à deposição de placas ateroscleróticas. Este
desequilíbrio pode originar manifestações clínicas de isquemia quando as necessidades miocárdicas
excedem a capacidade das artérias coronárias fornecerem uma quantidade adequada de oxigénio.

c) Testes Diagnósticos
História Clínica é fundamental (ouvir o doente)
ECG de 12 derivações e RX Tórax
ECG em prova de esforço (pode não existir quantidade de sange necessário para o esforço físico)
Ecocardiografia
Cintigrafia de perfusão miocárdica

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Angiografia coronária

d) Tratamento
Medidas gerais (avaliação de eventuais factores de risco que podem estar presentes e têm que
ser alterados/corrigidos – lipidemias, diabetes, HTA, sedentarismo)
Agentes anti-plaquetares (Aspirina de 100 mg – apresenta um custo-benefício óptimo, de modo ao
evitar a agregação das plaquetas e, consequentemente, a abstrução)
Agentes hipolipemiantes (Estatinas) Reduzem a frequência cardíaca
Nitratos (Nitroglicerina sublingual) e a contractilidade do miocárdio,
diminuindo as necessidades do
Bloqueadores beta miocárdio em termos de O2
Antagonistas dos canais de cálcio
Inibidores da enzima de conversão da AT1(IECA)
Revascularização miocárdica (cirurgia)

2.2. Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM)

a) Definição:
O EAM consiste no desenvolvimento agudo ou súbito de uma área localizada ou circunscrita de
necrose miocárdica devida a isquemia grave (devido a um coágulo), secundária a um fluxo sanguíneo ou a
uma oxigenação inadequados.

b) Fisiopatologia
O EAM é um processo no qual um segmento do miocárdio se encontra em progressão de isquemia
para necrose efectiva e que geralmente decorre de oclusão de uma artéria coronária. A trombose
coronária é a causa da oclusão do vaso na grande maioria dos casos de EAM. A trombose ocorre devido a
alterações da íntima do endotélio da artéria, geralmente devidas a uma lesão aterosclerótica.
Os trombos geralmente formam-se no local onde uma placa aterosclerótica pré-existente rompe e
expõe o seu conteúdo (fibras de colagénio) em contacto com plaquetas, sendo o resultado final a
agregação plaquetária e a formação do coágulo.
O dano irreversível com morte celular, inicia-se cerca de 30 minutos após a oclusão da artéria
coronária.
NOTA: Na angina de peito não existe progressão nem oclusão por esta placa aterosclerótica, pois
não há rotura da placa pré-existente. Há apenas estreitamento e isquemia.

c) Factores de Risco Conhecidos (DAC)


Dislipidemia (colesterol e triglicerídeos aumentados)

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História familiar de patologia cardíaca (+ risco)
Idade (quanto + avançada, + risco)
Sexo masculino
Tabagismo
Diabetes Mellitus
HTA
Sedentarismo
Obesidade

d) Sintomas

Desconforto torácico persistente


Duração da dor superior a 15 minutos
A dor irradia com frequência, para o braço esquerdo, ombros, pescoço, mandíbula…
Dispneia, náuseas, vómitos, diaforese (transpiração excessiva)

Sintomas atípicos ou ausência de sintomas ocorrem em cerca de 25% dos casos de EAM
(principalmente idosos e diabéticos, devido a alterações na percepção sensorial).
NOTA: A Angina de Peito = EAM, na medida em que ambos são acompanhados por dor e
irradiação, e ainda acompanhados por outros sintomas. No entanto, a duração e a qualidade da dor são
diferentes.

e) Diagnóstico
História Clínica
Diagnóstico electrocardiográfico (ECG)
 Inversão da onda T
 Supradesnivelamento (elevação) do segmento ST
 Ondas Q patológicas (posteriormente)
 Bloqueio completo de ramo esquerdo (BCRE)
Enzimas cardíacas alteradas (marcadores bioquímicos muito específicos da lesão do musculo
cardíaco, que são libertadas (aumentam) quando o tecido estiver necrosado)

f) Marcadores enzimáticos no Plasma:

Creatinaquinase (CK)
+ precoces (1as 3 a 6 horas)
CK-MB (fracção da CK e específica do músculo cardíaco)
Mioglobina
Troponina I
+ tardias
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Troponina T

g) Cuidados Pré-hospitalares
Cerca de 50% das mortes por EAM ocorrem na 1ª hora, após o início dos sintomas e antes da
chegada ao hospital.
A maior parte destas mortes são atribuídas à fibrilhação ventricular (característico de paragem
respiratória – ritmo caótico incompatível com o ritmo cardíaco)
Para se obterem reduções mais significativas da mortalidade inicial, são necessários avanços nos
cuidados pré-hospitalares:
Acesso imediato ao 112
Pessoal treinado em desfibrilhação
Início da trombólise pré-hospitalar

h) Avaliação Inicial do Doente com Dor Torácica Aguda no Serviço de Urgência


Avaliação preliminar rápida (em 10 minutos) – Sinal de Manchester
Realização de um ECG de 12 derivações
Estabelecer um acesso EV
Colher sangue para níveis basais de marcadores cardíacos.
Monitorização electrocardiográfica contínua
Aspirina 300 mg, mastigada (contra-indicações?)

i) Tratamento
Administração de O2
Analgésicos (Morfina por via EV)
Nitroglicerina (melhora a isquemia, mas não alivia a dor) – anti-isquémico
Aspirina (se não houver contra-indicações)
Bloqueadores beta-adrenérgicos
Trombólise (se não houver contra-indicações)

2.3. Insuficiência Cardíaca (IC)


a) Definição:
A insuficiência cardíaca (IC) consiste numa síndrome que resulta de uma lesão miocárdica que
determina uma redução significativa da função ventricular esquerda, quer seja por sobrecarga persistente
(Hipertensão Arterial) ou por perda de miocárdio (EAM ou Miocardite).
Ocorre quando o miocárdio não consegue manter um débito cardíaco suficiente para satisfazer as
necessidades metabólicas do organismo. Esta situação resulta de disfunção sistólica ou diastólica.

b) Fisiopatologia

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Quando a lesão do ventrículo esquerdo (VE) for ligeira, ocorrem reparação e adaptações
(remodelação) incluindo a hipertrofia e dilatação VE moderada. Consequentemente, o VE conseguirá
manter um desempenho adequado às necessidades metabólicas e, neste caso, não ocorrem sintomas
relacionados com a função de bombeamento (cansaço e dispneia de esforço).
Se a lesão VE for extensa, irá determinar um compromisso significativo da capacidade de ejecção
do VE (Insuficiência Cardíaca Sistólica). A pressão de enchimento VE aumenta, causando congestão
pulmonar e diminuindo ainda mais o débito cardíaco (Insuficiência Cardíaca Diastólica).
A insuficiência cardíaca diastólica ocorre quando a parede do VE está espessada, devido a
hipertensão ou miocardiopatia hipertrófica. A elevação marcada da pressão de enchimento VE em esforço,
origina dispneia e redução do débito cardíaco e consequentemente, fadiga e intolerância ao esforço.

A IC começa com disfunção sistólica do VE, ao a menor capacidade de bombeamento do VE,


fazer com que o sangue permaneça no VE no fim da sístole. A pressão auricular esquerda (AE) aumenta
para esvaziar o seu volume para o VE. Quando a AE não consegue esvaziar totalmente o seu volume, o
sangue recua para a circulação pulmonar. O volume de sangue adicional aumenta a pressão dentro dos
capilares pulmonares, o que impele o sangue para fora dos capilares pulmonares + pequenos até ao
interstício e alvéolos, dado o aumento de pressão. Então, pressões pulmonares elevadas impedem que o
sangue vá do ventrículo direito (VD) até aos pulmões. O VD tem que fazer + força para empurrar o sangue
para o sistema pulmonar. O sangue não enviado reflui para a aurícula direita (AD) e posteriormente para a
circulação venosa periférica.
Com disfunção diastólica do VE, este está normalmente “rígido” (incompetente) durante a
diástole, e não consegue encher à pressão baixa, normal. O volume reduzido do VE resulta em diminuição
do volume sistólico. Se as pressões auriculares aumentarem para enchimento do VE, ocorre congestão
pulmonar.
Nesta altura, passados meses ou anos após a lesão miocárdica inicial, surge a fase sintomática da
síndrome designada por Insuficiência cardíaca congestiva (ICC). A ICC é o resultado final de um conjunto
de alterações na função cardíaca.
NOTA: A disfunção sistólica é a forma + comum de IC.
A disfunção diastólica é + comum em idosos.
Quase todos os doentes com disfunção sistólica vão, com o decorrer do tempo, desenvolver
disfunção diastólica em maior ou menor grau.

c) Diagnóstico e Quadro Clínico


Na fase assintomática (os sintomas podem estar ausentes durante períodos prolongados, mesmo
na presença de uma função ventricular muito reduzida), o Rx do tórax é importante (cardiomegalia) e a
Ecocardiografia é indispensável.
Os sintomas que caracterizam a ICC podem ser de 2 tipos:

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Resultantes do baixo débito, a jusante da câmara cardíaca comprometida (hipotensão, confusão
mental, isquemia intestinal, insuficiência renal e outros sintomas de perfusão tecidual deficiente) (IC
sistólica).
Resultantes de sobrecarga de volume de sangue, a montante, que inclui os sintomas congestivos
(edema pulmonar, dispneia paroxística nocturna, ortopneia, congestão hepática, ascite e edema periférico)
por acumulação de líquidos.

d) Tratamento
Na ICC aguda com Edema Pulmonar (há que actuar de forma rápida e recidiva):

O2 a 100% (máscara facial)


Furosemida iv (40 a 80 mg)
Sulfato de morfina iv (2 a 10 mg)
Nitroglicerina sublingual (1 a 2 cp)
Agentes inotrópicos EV (Dobutamina) – melhoram a contractilidade do VE e, consequentemente, do
miocárdio

Na ICC crónica:
Controlo dos factores de risco (HTA, Diabetes, Dislipidemias)
Restrições dietéticas (sal, gorduras…)
Diuréticos (Hidroclorotiazida 25 a 50 mg/dia)
Agentes inotrópicos (Digoxina 0,125 a 0,5 mg/dia)
Agentes vasodilatadores (Dinitrato de isossorbido)
Bloqueadores beta-adrenérgicos
Drogas anti-arrítmicos (Amiodarona)

3. CHOQUE

3.1. Definição e Fisiopatologia


O choque consiste numa situação de hipoperfusão tecidular, em que o aporte sanguíneo e de
oxigénio não é suficiente para nutrir convenientemente as células e remover os catabolitos. Se esta
insuficiência circulatória aguda se mantiver, vai originar isquémia tecidular, pondo em risco a vida do
doente.
Os factores condicionantes da perfusão/irrigação tecidular são:
Débito cardíaco
Resistências vasculares periféricas

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DC = VE x FC

DC = Débito cardíaco
VE = Volume de ejecção ventricular
FC = Frequência cardíaca

A capacidade de ejecção sistólica do coração depende do volume de sangue circulante que chega
ao coração durante a diástole (preload ou pré-carga), da capacidade contráctil do miocárdio (capacidade
do coração de bombear o sangue em quantidades adequadas à satisfação das necessidades do
organismo em O2 e metabolismo) e da resistência encontrada à ejecção de sangue durante a sístole
(afterload ou pós-carga).

Várias situações podem comprometer o DC:


Uma hemorragia abundante reduz a volémia circulante, comprometendo a adequada chegada de
sangue ao coração DC baixo por diminuição do preload. A tentativa de compensação levará ao
aumento da FC, procurando assegurar a perfusão periférica.

NOTA: Um indivíduo em choque apresenta taquicardia para compensar a hipotensão (DC


diminuído) e hipoperfusão.
Um EAM ou uma Miocardite grave originam uma deficiente contracção do miocárdio. Apesar de
haver uma volémia correcta, o músculo cardíaco está impossibilitado de cumprir a sua função de bomba,
comprometendo o DC.
A existência de um obstáculo à ejecção do sangue (valvulopatia, trombo, tumor intra-cavitário,
hipertensão pulmonar ou sistémica), implica um esforço suplementar para o esvaziamento ventricular,
levando a um Volume de Ejecção reduzido.

Resistências Vasculares Periféricas


A resistência encontrada pelo sangue para percorrer o sistema vascular varia, em razão directa,
com o comprimento dos vasos e com a viscosidade do próprio sangue e, em razão inversa, com o
diâmetro dos vasos.

3.2. Classificação Etiológica do Choque

3.2.1. Choque Hipovolémico

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O choque hipovolémico resulta de um inadequado volume de líquido no espaço intravascular. Esta
diminuição da volémia conduz a uma diminuição da perfusão de tecidos, dando início a uma resposta geral
de choque.
Pode dever-se a:

Hemorragias (externas e internas)


Queimaduras (de 3º grau com necrose)
Desidratação (perda de líquidos) (vómitos, diarreia …)

3.2.2. Choque Cardiogénico


O choque cardiogénico resulta da incapacidade do coração de bombear sangue em quantidade
suficiente para perfundir as células do organismo. Pode ocorrer em resultado de disfunção ventricular
direita, esquerda ou ambas. Um bombeamento inadequado do sangue conduz a uma diminuição da
perfusão tecidular, dando início a uma resposta generalizada de choque.
Pode surgir como resultado de:

EAM (necrose do musculo cardíaco por lesão da artéria coronária)


Cardiomiopatia dilatada
Regurgitação mitral
Defeito do septo ventricular
Aneurisma ventricular

3.2.3. Choque Obstrutivo


O choque obstrutivo pode ser definido como uma redução do débito cardíaco secundário a um
inadequado enchimento ventricular, pela obstrução mecânica do fluxo sanguíneo do VE.
As principais causas de choque obstrutivo são:
Tamponamento pericárdico (derrame do percárdio que leva a compressão brutal do coração e
faz uma constrição)
Pericardite constritiva
Tromboembolismo pulmonar
Hipertensão pulmonar grave
Coartação (aperto) da aorta

3.2.4. Choque Distributivo

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O choque distributivo é provocado por dilatação maciça anormal dos vasos sanguíneos, resultando
numa desproporção entre o tamanho do espaço vascular e a quantidade de sangue circulante. À medida
que os vasos se dilatam, diminui a pressão arterial e o sangue faz estase nos vasos dilatados, o que faz
com que o retorno venoso ao coração e o DC diminua.
As principais causas para este tipo de choque são:

Sepsis (como resultado de infecção microbiana)


Reacção anafilática (reacção alérgica ou hipersensibilidade a um antigénio, podendo causar
hipotensão e taquicardia)
Traumatismo vertebro-medular (interferência com o SNS e parassimpático)

3.3. Quadro Clínico

3.3.1. Sinais de CHOQUE:

Taquicardia
Hipotensão (PAS < 60 mmHg)
Pulsos periféricos finos (normal 60-100)
Extremidades frias (causa palidez)
Sudação
Taquipneia
Oligúria (volume de urina excretada menor que as necessidades para a eliminação de
catabolitos)/Anúria (diminuição de urina durante um mínimo período de 24h)
Alteração
do estado de
consciência

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3.4. Abordagem Terapêutica Geral (para os 4 tipos de Choque)
Colocar o doente em decúbito dorsal
Manter a permeabilidade das vias aéreas
Oxigénio
Parar hemorragias
Acessos venosos (canalizar 2 veias com G14)
Fluidos EV (cristalóides – ex: soro fisiológico e glicosado - ou colóides)
Monitorização de parâmetros vitais

RESUMINDO:

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4. HIPERTENSÃO ARTERIAL (HTA)

4.1. Definição
Considera-se hipertenso, todo o indivíduo cujas tensões arteriais medidas pelo menos 3 vezes em
2 ocasiões diferentes, excedam sistematicamente o valor ≥ 140/90 mmHg (OMS)

Grupos de Risco em Doentes Hipertensos:

Grupo A (hipertensos sem + nada – nenhum factor acrescentado):


 Sem factores de risco;
 Sem lesão de órgão-alvo (cérebro/coração);
 Sem doença cardiovascular (“hipertenso virgem”)

Grupo B:
 > 1 factor de risco (mas sem Diabetes Melitus (DM));
 Sem lesão de órgãos-alvo;
 Sem doença cardiovascular

Grupo C:
 DM presente;
 Com lesão de órgãos-alvo;
 Com doença cardiovascular

NOTA: Atenção aos “hipertensos de bata branca”, através de MAPA (Monitorização Ambulatória da
Pressão Arterial)
NOTA: Os diabéticos apresentam risco elevado de enfarte.
Os hipertensos apresentam risco elevado de AVC.

4.2. Causas Identificáveis de HTA


Doença renal crónica
Coartação da aorta
Feocromocitoma (tumor a nível das glândulas supra-renais)
Síndrome de Cushing (corticosteróides em excesso)
Doença tiroideia e paratiroideia
Hiperaldosteronismo primário (excesso de aldosterona excesso de Sódio HTA)
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Fármacos diuréticos (pela diminuição de potássio como consequência do aumento de sódio)

4.3. Classificação (OMS e JNC VII)


Óptimo – abaixo de 120/80 mmHg
Normal – 120 a 130/80 a 85 mmHg
Pré-hipertenso ou Normal Alto – 130 a 140/85 a 90 mmHg
Tensão Alta – 140/90 mmHg (Grau 1)
- 160/100 mmHg (Grau 2)
- 180/110 mmHg (Grau 3)

4.4. Exames Complementares

1. Hemoglobina (presença ou não de anemia – rapazes anemia se >14 e raparigas se >12) e


Hematócrito
Informam acerca da função
2. Ureia renal (se apresentam valores
3. Glicemia em jejum (açúcar – presença ou não de diabetes) elevados, os rins não estão a
4. Creatinina funcionar

5. Potássio sérico
6. Ácido úrico (Gota – depósitos de cristais nas articulações por excesso de consumo de proteínas)
7. Colesterol (total e HDL)
8. Triglicerídeos
9. Urina II
10. ECG (pode envolver o sistema cardiovascular)
11. Rx Pulmonar

NOTA: A fundoscopia (exame do fundo do olho) é parte integrante do exame clínico.

4.5. Técnicas de Medição da PA

1. Temperatura ambiente agradável

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2. Não devem ser consumidas bebidas com cafeína ou utilizado tabaco, nos 30 min, que precedem a
medicação
3. O indivíduo deve manter-se na mesma postura, durante 3 a 5 minutos
4. O bordo inferior da braçadeira deve estar colocado cerca de 2cm acima da prega do cotovelo (fossa
ante-cubital)
5. O braço deve estar colocado num ângulo de cerca de 45º com o eixo do corpo, com o indivíduo
sentado e o antebraço deve assentar comodamente na mesa de observação
6. A TA sistólica corresponde ao valor em que se começam a ouvir os sons arteriais de Korotkoff
7. A TA diastólica corresponde ao desaparecimento total dos sons

4.6. Tensão arterial e gravidez


A presença de HTA (> 140/90 mmHg) durante a gravidez, requer vigilância cuidada, face aos riscos
acrescidos para a mãe e o feto (Eclâmpsia e Pré-eclâmpsia).

NOTA: Nas 1 as semanas de gravidez a PA aumenta, sendo que a partir daí tende a baixar.

As grávidas devem determinar a TA mensalmente, nos 2 primeiros trimestres da gravidez e


quinzenalmente no último trimestre
A TA deve ser sempre determinada na posição de sentada e devem se cumpridas rigorosamente
as normas para a determinação da TA.
Os diuréticos não deverão ser utilizados nas elevações tensionais da gravidez

4.7. HTA Resistente ou Refractária

Quando a utilização correcta dos esquemas terapêuticos habitualmente eficazes, não condiciona a
redução dos níveis tensionais para os valores previamente definidos como desejáveis

NOTA: O medicamento de 1ª linha é o diurético.

Situações de falsa resistência


1. Não adesão do doente às medidas terapêuticas prescritas
2. Utilização simultânea de fármacos (anti-inflamatórios) com actividade antagónica em relação aos
anti-hipertensivos

4.8. Protocolo para seguimento de doentes com HTA

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PA Normal Alta ou Pré-HTA: em regra não há necessidade de tratamento farmacológico (anti-
hipertensivo)
 Controlo Semestral

HTA (Graus 1,2 e 3): o critério primário de seguimento é de natureza clínica

Quando é estabelecida a HTA, esta apresenta 3 fases:

 Fase 1 – Instituição de terapêutica medicamentosa (tratamento a longo prazo para proteger os


órgãos-alvo (cérebro, rins, coração, …) (verificar se surgem efeitos colaterais e se a terapêutica é ou não
eficaz)
 Controlo quinzenal

 Fase 2 – Estabilização da terapêutica


 Controlo de 2 em 2 meses (durante 6 meses ou 1 ano)

 Fase 3 – De controlo
 Controlo de 6 em 6 meses

 Revisão completa do hipertenso:


 Exame clínico completo
 Fundoscopia
 Exames complementares mínimos

 Anualmente

4.9. HTA no Diabético (TA ≥130/80 mmHg)


A prevalência da HTA é o dobro da que se verifica na população não diabética (35 a 50%).
A HTA agrava a evolução da microangiopatia diabética (lesão dos vasos capilares); a TA deve ser
medida em todas as consultas do diabético.
Não há contra-indicação formal para o uso de qualquer grupo de fármacos anti-hipertensivos no
tratamento da HTA do diabético
Devem ser tratados todos os diabéticos com valores tensionais mantidos iguais ou superiores a
130/80 mmHg (pois a partir deste valor é considerado hipertenso e tem que ser medicado).

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4.10. Dados Epidemiológicos
A HTA é o factor de risco mais importante de doença cérebro e carduovascular.
A prevalência da HTA na população em geral, é elevada (1 em cada 4 adultos é hipertenso)
Só cerca de 10% dos hipertensos estarão controlados

4.11. Modificação dos Estilos de Vida


Redução do peso (IMC – 18.5 a 24.9 Kg/m2)
Redução da ingestão de sal
Dieta rica em frutos, vegetais e leite
Dieta com baixo teor de gorduras
Actividade física (30 min/dia, 5 a 7x/semana)
Consumo moderado de álcool
Parar de fumar

4.12. Combater os Factores de Risco


Sal
Gorduras
Açúcar
Álcool
Tabaco
Sedentarismo
Stress
Obesidade / Excesso de peso

5. INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA À PESSOA ADULTA E IDOSA COM


ALTERAÇÕES DE SAÚDE NO SISTEMA CARDIOVASCULAR

5.1. Patologia Vascular


Distúrbios Arteriais: Arteriosclerose obliterante; Tromboangeite obliterante; doença de Renaud;
Embolia Arterial.
Distúrbios Venosos: Tromboflebites; Insuficiência venosa periférica.
Amputação do(s) MI

5.2. Situação actual das doenças do aparelho circulatório


Estilos de vida pouco saudáveis;

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Perfil lipídico da população em risco (cerca 68,5% apresenta risco moderado para doença
cardiovascular);
As doenças cerebrovasculares e a doença isquémica cardíaca são as principais causas de
morbilidade, morte e invalidez em Portugal;
Deficiente coordenação e cobertura pelas intervenções necessárias
Défices na transplantação cardíaca

5.3. Intervenções necessárias e objectivos estratégicos


Promover estilos de vida saudáveis;
Intervir precocemente na população com perfil lipídico de risco;
Melhorar o conhecimento sobre a morbimortalidade;
Optimizar a coordenação das intervenções necessárias;
Revitalizar a transplantação cardíaca;
Settings prioritários: família, locais de lazer, de trabalho e unidades de saúde.

5.4. História clínica em enfermagem


A análise dos dados epidemiológicos, traduz-se num imperativo de natureza ética da saúde, da
sociedade em geral e do próprio indivíduo, que deverá adoptar e assumir opções mais saudáveis dentro
do seu estilo de vida.

5.4.1. Anamnese
Identificação da pessoa;
Acolhimento da pessoa e família;
Queixa principal ou problema actual;
História da doença actual;
História anterior;
História familiar;
História pessoal e social;
Percepção do estado de saúde;
Padrões de funcionamento dos sistemas orgânicos
Observação atenta do aspecto físico;
Questionar sobre sintomas Cárdio-Vasculares (CV): Dor (características), factores precipitantes,
sintomas que acompanham o episódio dor;
Identificar perfil sociocultural do indivíduo: Nível cultural e de informação; Hábitos de vida e de
consumo;Tipo de ocupação; Recursos económicos; sistemas de apoio;
Avaliar factores de risco associados: Sexo, idade, HTA, DM,
Obesidade, Padrão de sono/ repouso;
Avaliar - história familiar: DC, EAM, HTA, AVC, DM, Dislipidémias.

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5.4.2. Avaliação física
Aparência Geral;
Temperatura corporal;
Pulsos arteriais periféricos;
Circulação vascular periférica;
Presença edemas

5.4.3. História nutricinonal


Número de refeições/ dia;
Qualidade / quantidade de alimentos ingeridos;
Tolerância alimentar;
Tipo, qualidade e quantidade de líquidos ingeridos ao longo do dia;
Peso habitual, actual, ideal (IMC).

5.4.4. História farmacológica


Digitálicos;
Vasodilatadores;
Anti-hipertensores;
Hipocoagulantes;
Diuréticos;
Analgésicos;
Anti- inflamatórios
Anti – diabéticos

5.4.5. Grupos de risco – idosos


Nível Primário - Prevenção da doença, promoção e manutenção da saúde.
 Meios - EPS, imunização, sensibilizar para hábitos de vida potenciadores de mais saúde
 Local - domicílio, serviços de saúde, instituições, grupos de idosos.
Nível Secundário -Tratar doença ou retardar a sua progressão.
 Meios - diagnóstico precoce, identificar/ actuar os factores de risco. Avaliar apoio familiar e
social.
 Local - serviços de saúde institucionais, EPS individual /grupos / população.
Nível Terciário - Reduzir as sequelas da doença.
 Meios - Rede de cuidados Gerontológicos / Geriátricos. Compreender hábitos e atitude dos
idosos, revalorizar o papel da família, ajudar o idoso e a família a readaptar-se.
 Local - Domicílio, serviços especializados de apoio aos idosos, cuidados no domicílio, famílias
de acolhimento e as redes de apoio.

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5.5. Estrutura e Função do Sistema Cardiovascular

5.5.1. Artérias Coronárias


São fundamentais no transporte do O2 ao músculo cardíaco que utiliza cerca de 70 - 80%, durante a
diástole. Têm origem na artéria aorta junto ao VE.

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Artéria Coronária Direita (ACD)- irriga: Aurícula direita; ventrículo direito;1/3 inferior do septo
interventricular; nó sinoauricular e auriculo-ventricular.
Artéria Coronária Esquerda (ACE) – divide-se em dois ramos:
Artéria interventricular anterior - irriga: VE; AE; 2/3 antero- superiores do septo interventricular
Artéria Circunflexa- irriga: face posterior do VE

5.5.2. Propriedades Electrofisiológicas do Coração


Excitabilidade
Refractrariedade
Condutividade
Automaticidade
Sistema de Condução eléctrica cardíaca:
 Nó sinusal ou sino-auricular (AS) - considerado o Pace- Maker natural (60 a 100
bat/mint). É controlado pelo SNS e SNP.
 Nó auriculo-ventricular (AV) - Tem uma freq. (40 – 60 bat/ mint)
 Feixe de His e Rede de Purkinje - conduzem os estímulosatravés do septo e da rede
ventricular

5.5.3. Hemodinâmica cardíaca


Compreende:
Ciclo Cardíaco
Débito cardíaco = Vol. Sangue ejectado/ mint. (DC = VS x Frc)
Vol. Sistólico –
 Pré-carga (força exercida no músculo ventricular antes da contracção)
 Pós–carga ( força exercida sobre a parede muscular durante a ejecção ventricular)
 Contractilidade
Frequência Cardíaca- Normal (60-100 bat./mint)
 Taquicardia Sinusal - > 100/mint
 Bradicardia Sinusal - < 60 /mint
P.Arterial (PSist; PDiast;)
Pressão Sanguínea (PS/PD);
Pressão Pulso Arterial (PS-PD); Indicador não invasivo do DC. PP < 30 mmhg ( requer vigilância)
P A Média= 1/3 PP + PD Traduz a perfusão dos órgãos e tecidos
Pressão Venosa (12 - 15 mmhg )
Pressão Capilar (25 -30 mmhg rede arterial) (10 - 12 mmhg rede venosa)

5.6. Meios auxiliares de diagnóstico mais comuns em cardiologia


Exames laboratoriais

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Estudo do sangue- Hemograma completo, estudo da coagulação, VS, fórmula leucocitária,
componente lipídica, hemoculturas e os estudos enzimáticos: troponima I, creatina quinase (CK,
MB), desidrogenase lática (LDH1).
Estudo da função renal - proteínas séricas, eritrocitos, mioglobinúria
Procedimentos não invasivos:
Exames Radiológicos
 Radiografia simples do tórax (póstero- anterior e lateral) – permite determinar a
configuração e as dimensões das câmaras cardíacas;
 Fluorscopia Cardíaca – permite observar o coração em várias posições em movimento.
Provas Especiais
 Electrocardiograma (ECG)- É a representação gráfica da actividade eléctrica cardíaca. O
ECG padrão é o de 12 derivações
 Monitorização com Holter- É utilizado par obter, um traçado gráfico contínuo ( 24h) de um
ECG, durante as AVD do indivíduo.
 Prova de Esforço (ECG durante exercício) - é realizada para avaliar a resposta cardíaca a
uma sobrecarga gradual. Pode ser combinada com o ecocardiograma, permite maior
informação sobre a dinâmica cardíaca.
Estudos com ultra sons
 Ecocardiografia - utiliza os ultra-sons para avaliar a estrutura e a mobilidade cardíaca. É
considerado muito útil no diagnóstico de diversas patologias cardíacas como seja: derrame
pericárdico; avaliar o Vol. Sistólico e o Débito Cardíaco, alterações valvulares, etc.
Geralmente o doente está em decúbito dorsal com a cabeça elevada cerca de 15 a 20º.
Pode ser realizado directamente sobre o tórax, fazendo deslizar a sonda impregnada de gel,
ou por via esofágica (Eco - transesofágica). Esta técnica permite visualizar com mais
precisão as imagens das estruturas cardíacas e dos vasos mais importantes
 Fonocardiografia – permite captar e ampliar sons cardíacos registados em gráfico. Deste
modo, pode-se avaliar as alterações da pressão ao nível do coração e dos grandes vasos.
Procedimentos invasivos:
Cateterismo cardíaco (Dtº e Esqdº)-permite estudar com precisão todas as estruturas internas do
coração ( câmaras, válvulas e artérias). Indicação – Determinação / confirmação da doença
 Avaliação pré- operatória (cirg. Cardíaca)
 Avaliação da função ventricular, após revascularização cirúrgica
O acesso é venoso, para o estudo do coração direito, e arterial, no caso do coração esquerdo. É um
procedimento invasivo que requer preparação e cuidados de enfermagem especiais ( tema a retomar na
patologia cardíaca).
Estudo electrofisiológico cardíaco – trata- se da colocação de eléctrodos dentro do coração para
registo da actividade eléctrica intra-cardíaca O acesso é feito através da veia femoral, braquial e

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basílica. É um procedimento invasivo que requer preparação e cuidados de enfermagem especiais
(tema a retomar na patologia cardíaca).

6. PATOLOGIA CARDÍACA - DOENÇA ATEROSCLERÓTICA DAS ARTÉRIAS CORONÁRIAS (DAC)


A DAC, é uma designação genérica para várias situações, que envolvem a obstrução do fluxo
sanguíneo, através das artérias coronárias.
Consiste na formação progressiva de depósitos de colesterol, substâncias gordas, restos plaquetários,
Cálcio e fibrina nas camadas íntima e média das artérias formando placas (ateromas) que diminuem o
lúmen das mesmas.
Nos vasos de maior fluxo ou pressão existe o risco de ruptura das placas podendo originar, coágulos
ou trombos que associados a reacções inflamatórias que se instalam, podem bloquear por completo o
vaso.

6.1. Consequências:
NIVEL CEREBRAL – Trombose cerebral
NIVEL INTESTINAL – Trombose do mesentério
NIVEL MEMBROS – Claudicação Intermitente
NIVEL RENAL – trombose das artérias renais
NIVEL da AORTA - aneurismas
NIVEL CARDÍACO – EAM

6.2. Dados epidemiológicos


A Aterosclerose Coronária, é considerada a 1ª causa de morte nos países industrializados.
É considerado um problema de saúde pública com génese e repercussão social.
Em Portugal, as doenças CV, (AVC, a Doença Cardíaca e a Doença Isquémica Cardíaca, são as
principais causas de morbilidade e de invalidez, e a principal causa de morte, tal como se verifica
noutros países europeus, traduzindo-se em enormes gastos pessoais e sociais.

6.3. Factores de risco


Não modificáveis Modificáveis Factores risco mais Recentemente
Identificados
Sexo Hiperlipoproteinemia Níveis elevados homocisteína
Idade HTA Proteína c reactiva e inflamação
Raça Intolerância à Glicose Níveis elevados de fibrinogénio
Hereditariedade Tabagismo
Sedentarismo

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Obesidade
Stress psicológico

6.4. Manifestações clínicas


A Aterosclerose Coronária manifesta-se por um desequilíbrio entre a oxigenação do miocárdio e as
suas necessidades de O2
A lesão da parede da artéria coronária acompanhada ou não de oclusão, causa isquémia cardíaca.
O grau de isquémia miocárdica resulta em:
1 - Angina de peito (Ângor)
2 - EAM
3 - Morte súbita cardíaca

6.5. Angina de peito


A angina de peito ou “pectoris” ou “ângor”, é o termo utilizado para descrever a dor resultante da
diminuição transitória do fluxo sanguíneo ao músculo cardíaco. Tem como principal característica estar
associada a um esforço que leva a uma vasoconstrição das artérias coronárias. Após repouso e uma
respiração adequada, a dor alivia ou desaparece naturalmente. Por vezes é necessário o recurso a
vasodilatadores ( via sl.)
A localização e a gravidade da dor varia de pessoa para pessoa, mas o padrão de dor repete - se
frequentemente. A frequência e a gravidade dos ataques aumentam ao longo do tempo, sendo cada vez
menor a tolerância do indivíduo.
Padrão típico do ângor - Esforço Físico / Dor/ Repouso / Alívio
6.5.1. Classificação da Angina de Peito:
Angina Estável - Obedece ao padrão típico
Angina Instável - Angina pré-enfarte; ângor em crescendo. Ocorre perante um pequeno
esforço ou emoção forte a qualquer momento do dia ou da noite. Tem tendência para aumentar
o nº de ataques, a duração e a intensidade.
Angina Variante ou Prinzemetel - Obedece ao padrão clássico mas com tempo de duração
maior, podendo ocorrer também em repouso.
Angina Nocturna - ocorre durante a noite associada ao sono REM.
Angina de decúbito - ocorre quando o doente se deita e alivia em pé.
Angina intratável - angina crónica, incapacitante, rebelde à intervenção terapêutica.
Angina pós - enfarte - a crise ocorre após um EAM resultante da isquémia residual.

6.5.2. Diagnóstico:
Avaliação objectiva do doente
Estudo analítico ECG
Prova de Esforço

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Cateterismo cardíaco esquerdo (Angiografia selectiva das coronária)

6.5.3. Cateterismo Esquerdo - Angiografia das Coronárias


A Angiografia com contraste ou arteriografia é uma prova invasiva utilizada na avaliação do diagnóstico da
patologia arterial.
Indicação
Identificação de êmbolos arteriais;
Traumatismo arterial;
Presença de aneurismas;
Avaliação da reperfusão arterial após intervenção ( Bypass; colocação de stent, etc.)
Procedimento- insere-se um cateter radiopaco num acesso arterial (femoral), até à raiz da aorta. É
injectado contraste nas coronárias Dtª e Esdª. Obtêm-se imagens radiológicas, das coronárias que
permitem avaliar o grau de obstrução e do local da artéria acometida. Permite ainda, avaliar a rede arterial
colateral.

6.5.3.1. Preparação do doente para Cateterismo Cardíaco


O enfermeiro deve:
Informar em que consiste o exame, a necessidade de jejum prévio e história alérgica (iodo, outros
contrastes), que não é doloroso;
Onde se realiza; tempo de realização ( 1 a 3h); descrever algumas das possíveis sensações (calor,
náuseas,tremores);
Cuidados após Cateterismo:
Avaliar P, TA (15 /15 mint – 1ª H; 30/30min nas 3hs seguintes); a cabeceira da cama não deve
estar elevada mais de 30º;
Avaliar pulsos distais do local de acesso vascular;
Avaliar presença de dor, hematoma, e sinais hemorrágicos na área de punção;
Manter o repouso no leito durante cerca de 4 h e o membro em extensão;
Vigiar dispositivos mecânicos de compressão externa, ou internos (tampões hemostáticos);
Monitorizar BH e função renal.

6.5.4. Planeamento de intervenções em enfermagem


Objectivo: Aliviar a crise e prevenir o risco de EAM
Medidas terapêuticas:
 Medidas farmacológicas
 Vasodilatadores ( Nitroglicerina SL)
 Bloqueadores β e dos canais de Ca
 Medidas de suporte
 exercício

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 dieta
 repouso
 Identificar o padrão de dor
 Monitorizar regularmente, P, TA
 Gerir as actividades diárias

Níveis de Prevenção em Gerontologia


 Nível Primário - Prevenção da doença, promoção e manutenção da saúde.
 Meios - EPS, imunização, sensibilizar para hábitos de vida potenciadores de mais saúde.
 Local - domicílio, serviços de saúde, instituições, grupos de idosos.
 Nível Secundário -Tratar doença ou retardar a sua progressão.
 Meios - diagnóstico precoce, identificar/ actuar os factores de risco. Avaliar apoio familiar e
social.
 Local - serviços de saúde institucionais, EPS individual /grupos / população.
 Nível Terciário - Reduzir as sequelas da doença.
 Meios - Rede de cuidados Gerontológicos / Geriátricos. Compreender hábitos e atitude dos
idosos, revalorizar o papel da família, ajudar o idoso e a família a readaptar-se.
 Local - Domicílio, serviços especializados de apoio aos idosos, cuidados domiciliares,
famílias e as redes de apoio.

7. ENFERMAGEM CARDIOVASCULAR - Prof Arminda Vieira

7.1. Enfarte agudo do miocárdio (EAM)

a) Conceito:
O termo Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), “Ataque Cardíaco” ou “Oclusão Coronária”, são termos
utilizados para descrever o bloqueio súbito de uma artéria coronária (AC) ou ramo arterial
(principal/secundário), que vai comprometer as funções cardíacas e hemodinâmicas.
O EAM é um processo pelo qual o tecido do miocárdio é destruído em zonas desprovidas de fluxo
sanguíneo suficiente, em virtude da redução do fluxo sanguíneo coronário. A causa dessa diminuição no
fluxo coronário é o estreitamento súbito de uma artéria coronária pela aterosclerose ou pela obstrução total
por êmbolo ou trombo. Após o enfarte verifica-se uma área de morte celular no músculo cardíaco
resultante da isquemia e anóxia, por oclusão completa e prolongada e/ou por espasmo de uma artéria
coronária
NOTA: As artérias podem encontrar-se bloqueadas devido ao lúmen obstruído, ao estádio persistente que
não permite a circulação ou a placa obstrutora do fluxo sanguíneo.

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b) Epidemiologia:
O EAM é considerado uma doença civilizacional, sendo um dos diagnósticos + comuns nos países
industrializados.
Abrange e tem uma incidência maior em adultos jovens e aparentemente saudáveis.
Tem uma mortalidade global de cerca de 50% aos 28 dias. Cerca de metade dessas mortes ocorre
nas primeiras 2 horas após início dos sintomas.
Em Portugal a maioria falece, na comunidade, sem assistência médica, ou a caminho do hospital,
(cerca de 2/3).
Em média levam 3 horas a procurar os cuidados de saúde. Mesmo no hospital há um tempo
considerável que medeia a chegada e o início do tratamento; sendo que o tempo na intervenção faz toda a
diferença.
Os factores de risco geralmente apontados não são a sua causa directa, antes um processo
aterosclerótico que se inicia lentamente e insidiosamente (os factores de risco são os mesmos que para a
DAC, o EAM é o ponto final da DAC).
A maioria dos casos ocorre, quando a deposição de cálcio ou as placas de ateroma fissuram ou
ulceram e quando condições favorecem a activação da trombogénese e um trombo formado oclue a
artéria.
Cerca de 20% não experimentam dor torácica, isto é, são “enfartes surdos” (acontecimentos
patológicos que surgem sem manifestações clínicas).

c) Etiologia:
Aterosclerose (provoca uma diminuição do lúmen dos vasos e redução do fluxo sanguíneo, com
consequente diminuição do aporte de oxigénio ao miocárdio)
Lesões congénitas ou adquiridas;
Embolia pulmonar;
Baixo débito coronário com alterações de condutividade cardíaca (bradicardias e diminuição do
volume sistólico final podem levar a deposição de placas ateromastosas)

d) Fisiopatologia:

e implicações a nível
da ejecção cardíaca

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Adriana Neves
e diminuição da glicose

Origina diminuição da quantidade de sangue Depende da localização e pode ser


libertado pela circulação sistémica e, potencialmente revertida e
consequentemente, causa choque atenuada
hipovolémico
O EAM consiste na oclusão total de uma artéria coronária através de um coágulo fibroso. A oclusão
coronária dá origem a uma série rápida de eventos fisiológicos.
O 1º deles é, de imediato, a isquémia do miocárdio distal à oclusão. Assim, há uma diminuição do
aporte de oxigénio, bem como dos nutrientes necessários ao miocárdio, conduzindo a uma diminuição da
actividade celular. Esta instabilidade diminui a contractilidade do miocárdio e o DC, predispondo o doente
para morte súbita por disritmias.
O organismo activa a fibrinólise, para fazer a lise do coágulo e restaurar o fluxo sanguíneo. No
entanto, se a lise do coágulo não proporcionar o retorno imediato do fluxo sanguíneo, a isquémia vai
continuar a progredir na região do miocárdio distal à oclusão. O tempo é, nesta situação, um factor crítico.
Uma isquemia prolongada, que dure 20 minutos ou +, produz lesões celulares irreversíveis e necrose do
músculo cardíaco

A lesão aguda evolui ao longo de várias horas. O EAM não é imediatamente total e completo; a
lesão isquémica evolui ao longo de várias horas, até uma necrose completa e enfarte.
A reabilitação da área enfartada, depende da AC atingida, do tempo de isquémia, área afectada, da
existência de circulação colateral e da intervenção médica precoce.
A tríade clássica de EAM é: a “isquémia”, “lesão” e “enfarte”; mas cada uma pode ocorrer
separadamente.

7.1.1. Classificação dos enfartes

Os enfartes do miocárdio são habitualmente classificados de acordo com a localização na superfície do


miocárdio e com as camadas musculares atingidas.

Transmurais – envolvem as 3 camadas do músculo cardíaco (endocárdio, miocárdio e epicárdio).


Ao provocar uma necrose espessa, é geralmente acompanhado de alterações da função ventricular
esquerda, deixando sequelas graves na dinâmica do VE. As alterações do ECG provocadas revelam
alterações na despolarização que se traduzem pelo aparecimento de novas ondas Q, mais profundas e
mais largas que o normal (ondas Q patológicas).

Não Transmurais – envolvem áreas locais

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específicas/localizadas. Dividem-se em sub-endocárdicos (se envolvem o endocárdio e o miocárdio) e
sub-epicárdicos (quando envolvem o miocárdio e o epicárdio). Como a necessidade de oxigénio do
endocárdio é superior à do epicárdio, os sub-endocárdicos são os +. Num enfarte sub-endocárdico não se
observam, geralmente, ondas Q anormais (ondas Q patológicas).

a) Localização
A localização e extensão de um EAM depende de:
Local e gravidade do estreitamento da artéria coronária;
Presença, localização e gravidade do espasmo da artéria coronária
Dimensão do leito vascular perfundido pelos vasos afectados
Extensão dos vasos colaterais
Necessidade de oxigénio do miocárdio pouco perfundido

Locais mais comuns de Enfarte

 Anterior - oclusão da artéria coronária descendente anterior


 Antero - Lateral - oclusão da artéria circunflexa anterior
 Postero-Inferior - oclusão da artéria coronária direita

As alterações verificadas no ECG, nas ondas T, Q e segmento ST, permitem:


Identificar a área de enfarte;
Prevenir complicações electrofisiológicas (disritmias);
Prevenir complicações mecânicas (diminuição DC).

A isquemia e o enfarte produzem alterações a nível de 2 importantes funções da célula cardíaca:


Despolarização (canais de Sódio e Potássio)
Contractilidade (condução do estimulo)

b) Áreas de Lesão – Alterações no ECG

Zona Isquémica: aporte sanguíneo reduzido. É constituída por células viáveis. Pode não existir
enfarte.

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No ECG verifica-se inversão da ONDA T (isquémia subepicárdia)

Zona de Lesão: área de tecido danificado devido à diminuição do aporte de O 2, potencialmente


viável. Lesão aguda ou recente.
No ECG verifica-se supradesnivelamento do SEGMENTO ST. Quanto mais elevado for o segmento
ST, mais recente é a lesão.

Zona de Enfarte - área do miocárdio onde ocorre necrose celular.


No ECG verifica-se a onda Q com + de 1 mm de largura e profunda, o que indica necrose do miocárdio

Onda Q patológica persistente (permanece sempre abaixo do considerado normal, pois traduz a área de
necrose do coração e diminuição da continuidade cardíaca)

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Adriana Neves
c) Diagnóstico
Quadro clínico (colheita de dados);
Alterações do traçado do ECG
Alterações naliticas/enzimáticas

Semiologia Clínica

DOR > a 30mm - pré-cordial, subesternal ou epigástrica (não cedendo a nitratos sublinguais)
 Sensação de peso
 Sensação de ardência
 Sensação de esmagamento
 Sensação de abertura do tórax
 Sensação de aperto

 15% a 20% não referem dor


 Podendo irradiar para o MSE, mandíbula ou região inter-escapular

Ansiedade (sensação de morte eminente – “medo de morrer”), agitação ou prostração;


Lipotímia (perda temporária da consciência, causada pela má irrigação do cérebro ou alterações
na actividade do SNC)
Dispneia;
Diafurese (sudurese excessiva) e desequilíbrio iónico acentuado;
Náuseas e vómitos;
Palidez acentuada ou cianose;
Extremidades frias;
Hipertensão / hipotensão;
Taquicardia / bradicardia.

Alterações Enzimáticas - Marcadores séricos cardíacos:

Características do marcador ideal:

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Janela cronológica: diagnóstico precoce 2-6 horas;
Elevada especificidade cardíaca;
Bom desempenho: sensível, rápido, de fácil execução.

Marcadores Cardíacos:
1. Mioglobina (marcador específico de toda a área muscular)
Surge nas 1-2 horas após o inicio dos sintomas;
Pico máximo entre as 4-12 horas;
Regride 24-36 horas

2. Troponima T e I
Surge nas 5-8 horas após o inicio dos sintomas;
Pico máximo entre as 24-48 horas;
Desaparece entre o 4º e 10º dia

3. Creatinafosfoquinase (CPK), apesar de ser libertada pelo músculo cardíaco não é específica
Surge nas 1as 3 a 8 horas após o inicio dos sintomas;
Pico máximo entre as 10 - 24 horas;
Valores normais entre o 3º e 4º dia.

4. Isoenzima MB da CK total (CK-MB) - A fracção MB (marcador especifico do coração, pois é a 1ª


a aparecer na circulação sanguínea) tem vantagem pois as suas concentrações não são significativas nos
tecidos extra-cardíacos.
Surge nas 1as 3 - 4 horas após o inicio dos sintomas.
Pico máximo entre as 12 - 24 horas.
Valores normais entre o 2º e 3º dia.

5. Aspartato aminotranferase ou transaminase oxalacética (AST / TGO)


Surge entre a 8 - 12 horas
Pico entre as 16 - 32 horas
Valores normais entre o 3º - 4º dia

6. Desidrogenase lactea (DHL) ou lactato desidrogenase (LD)


Surge entre a 12-18 horas.
Pico entre as 42- 72 horas.
Valores normais entre o 6 - 10 dias.

 Após o EAM o doente tem sedimentação e leucocitose aumentadas

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 Leucocitose - 48 h após (12 000 a 15 000. regride 7º-10º dia)
 VS elevada durante várias semanas

7.1.2. Principais complicações do eam

 Complicações Precoces

Alterações De Rítmo (devido a alterações da condutividade eléctrica) – arritmias: Extra sístoles


Ventriculares (superiores a 3ou 4 - pode levar a batimentos ectópicos prematuros do coração e a ausência
do período de contracção e relaxamento); Taquicardia Ventricular, Flutter V; Fibrilhação Ventricular (e
consequente paragem cardíaca)
Alterações Da Condução: Bradicardia (lesão do nódulo SA e retardamento do impulso –
espaçamento muito grande entre a sístole e a diástole), bloqueios AV
Falência Mecânica: disfunção VE ou VD (comprometimento do volume de ejecção e volume
cardíaco); enfarte recorrente; choque cardiogénico; ruptura do miocárdio, septo ou pericárdio
Hemodinâmicas (hipovolémia, tromboembolismo)

 Complicações Tardias

Edema pulmonar (situação de emergência médica pelo aumento de secreções na árvore


respiratória e estase de sangue a nível do pulmão pelo bloqueio da circulação sanguínea – lise dos
alvéolos e brônquios)
Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) (resulta do processo de envelhecimento e alteração
morfofisiológica)
Aneurismas ventriculares (só corrigidos por cirurgia antes da ruptura)

7.1.3. Prognóstico

1. TEMPO mediado entre a crise e a instauração do tratamento adequado (intervenção diferenciada


nas 1as 6horas, dado que quanto + precoce, melhor)
2. Extensão da zona enfartada
3. Dimensão e Docalização do enfarte
4. Idade (quanto + idade, + risco)
5. Patologias associadas
6. Estado geral da pessoa

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7.1.4. TRATAMENTO - Reabilitação do indivíduo

A reabilitação do EAM deve iniciar-se no momento do evento, com intervenção clínica e de enfermagem
diferenciadas logo nas 1as horas.
Este processo divide-se em 3 fases:

1. Fase Aguda – intervenção pré-hospitalar e SU. A GOLDEN HOUR faz todo o sentido, sendo o
ideal em emergência pré - hospitalar a rentabilização dos primeiros 60 min.
2. Fase Intermédia - recuperação no internamento (fase intra-hospitalar programada durante o
internamento, e em que é necessário monitorização médica e de enfermagem)
3. Fase de Convalescença - preparação para a autonomia no domicílio e alta clínica (equilíbrio em
termos de bem-estar e autonomia – padrão de qualidade de vida)

7.1.5. Protocolos de intervenção no EAM (1as 12h - importante)

Objectivos:
Aliviar sintomas (dispneia, cansaço, dor)
Preservar o músculo cardíaco e performance cardíaca
Prevenir complicações:
 Através da diminuição das necessidades de O2;
 Melhoria da oxigenação.

a) Fase Aguda - Preservar o Miocárdio

Diminuição dos factores stressores e favorecimento de condições para que, com o mínimo de
esforço, as células mantenham as suas funções
Diminuição das necessidades em Oxigénio:
Analgesia - Sulfato de morfina até controlo da dor
Sedação – Benzodiazepinas
Repouso (conservar a energia com o mínimo de esforço) – 2-3 dias no Leito
Aumento do aporte de Oxigénio:
 O2 a 2- 4l/min (perfusão de O2 de modo continuo por via nasal – inspirar pelo nariz e expirar
pela boca – ou através de cateter binasal ou sonda nasal – a mistura de ar com o O2 não é
tão intensa, sendo a concentração de O2 + elevada)
 Terapêutica trombolítica
 Anti-agregantes plaquetários (inicialmente por via EV): AAS

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 Vasodilatadores: nitratos; antagonistas do Ca
 Anti-coagulantes
 Diuréticos
 Inotrópicos (alteram a força ou a resistência das contracções musculares do coração e dos
batimentos cardíacos)
 Estabilização hemodinâmica (função renal incluída)
 Pacemaker (para regularizar o ritmo cardíaco)
 Balão Intra Aórtico (BIA) (para prevenir alterações graves DC e dop lado esquerdo do
coração)

NOTA: Quando se administrar medicação há que explicar ao doente: o que é, para que é, quais os
benefícios e a sua duração.

Terapêutica Trombolítica (activa os processos fibrinolíticos para causar a lise do coagulo eu se


formou por ruptura da placa e que está a ocluir o lúmen da artéria coronária) - preparar, administrar por via
EV e estar atento às complicações do doente

Tipos:

Estreptoquinase (avtiva a conversão do plasminog´nio em plasmina, o que provoca a degradação


da fibrina e do fibrinogénio em fragmentos):
 Alteplase (activador do plasminogénio tecidular recombinante rt-PA)
 Anistreplase (complexo activador estreptocinásico do plasminogénio anisolado – APSAC)

Qual utilizar? Depende do critério terapêutico estabelecido

Cuidados:
Administração precoce (devem ser administrados nas 1 as 6horas após o início dos sintomas, para
uma máxima eficácia no sentido de impedir a evolução do EAM e reduzir as suas complicações);
Atenção às indicações indiscutíveis, relativas e contra-indicações absolutas;
Monitorização permanente:
 TA e Pulso, traçado do ECG (despiste de arritmias de reperfusão – arritmias temporárias para
depois voltar ao funcionamento normal)
 Hemorragias
 Sinais neurológicos (nomeadamente quando há hemorragia cerebral) (avaliação/captação de
áreas de atingimento neurológico e aplicação da Escala de Coma de Glasgow)

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Complicações:
Hemorragias
Hipotensão
Reacção alérgica

Resultados: inquestionáveis (muito positivos):

Administrado após 4-5 horas, pode salvar cerca de 30% de vidas;


Nos primeiros 90 minutos pode salvar de 60-80% de vidas.
Os danos em termos de diminuição da qualidade de vida são menores;
Não causam dor nem sofrimento

7.1.6. Prevenção de complicações:


Monitorização atenta dos parâmetros vitais, SV e ritmo cardíaco (qualidades palpáveis), PAM
(Pressão Arterial Média), SO2 (Saturação de O2) e CO2, diurese, nível de consciência, dor e estado da
pele.
Gerir oxigenoterapia e prevenir toxicidade pelo O 2
Vigiar mobilidade. Repouso absoluto no leito nas 1 as 24h com exercícios adequados (movimento
activos e passivos)
Dieta líquida e mole, hipossalina, hipolipídica e pobre em resíduos (consumés, fruta cozida, cremes,
papas, … - nas 1as 24h) - equilibrada e adequada
Manter trânsito intestinal regular (terapia laxante de contacto, pois provocam movimentos intestinais
sem dor e o movimento do globo fecal). Evitar esforços na defecação – manobra de Valsalva.

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Estimulação do auto-cuidado, auto-conceito e auto-estima por si próprio. Promover a autonomia nos
seus cuidados, de modo a fazer a pessoa sentir-se bem também por si própria. Há que individualizar a
pessoa e deixá-la ser ela própria.
Apoio emocional, informação e EPS informal ao doente (dirigida directamente á pessoa e ao seu
contexto). O melhor momento para EPS é o momento dos cuidados de higiene (conhecer os hábitos e
dificuldades)
Informação, apoio e EPS à família/pessoa significativa, aconselhando e propondo não só ao doente
como ao prestador de cuidados. Não impor nem obrigar, mas propor.

7.1.7. Protocolo de reabilitação em internamento – preparação para a alta

Etapas do Plano (há que adaptá-lo às pessoas)

 FASE I
A – Repouso absoluto - 1as 12 horas
B – Exercícios no leito: flexão dos dedos, rotação dos membros à vez de 2/2h nas 1 as 12horas e nas
2as 12 horas sentar-se no leito de 6/6 horas
C – 24/48 horas
Exercício B durante 5 minutos
Exercícios da anca (rotação e flexão)
Sentar-se na cama (permite a expansão torácica e uma melhor perfusão e função circulatória),
lavar a cara e alimentar-se
Sentar-se no cadeirão 5 min de manhã e 5 min à tarde

 FASE II - 3º/5º dia:


Iniciar exercícios B e C, sentado
Levantar-se e dar voltas na cama
Pode ver TV
Iniciar caminhadas no corredor
Ensinar a respirar para permitir uma boa expansão torácica

 FASE III (início da convalescença)


Continua os exercícios da fase II (1ª etapa)
Auto-cuidado no WC

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Vigilâncias durante os Exercícios:

Monitorizar TA, FC e FR durante o exercício;


Vigiar expressões de dor, estado da pele e outras queixas;
Fazer pausas de 5 a 10 minutos entre os exercícios.

NOTA: Volta à fase inicial se, durante a fase em curso, surgirem complicações. A pessoa deve parar,
sentar e relaxar ao mínimo sinal de dor ou cansaço. Caso este não edsapareça deve fazer terapêutica
com nitrato sublingual.

 Indicações para suspender (há que atender à situação da pessoa):

Palidez, sudorese, HTA (depois de iniciar tolera-se elevação de 20 mmHg)


FC > 100/m (depois de iniciar tolera-se elevação de 20 p/m) – Taquicardia
Alterações de ritmo
Dor pré-cordial
T.ax > 38º C

7.1.8. EPS – preparação para a alta para o domicílio

Exercício: pequenas caminhadas com períodos de descanso regulares, aumentando


progressivamente
Evitar fadiga
Os extremos de temperatura são prejudiciais bem como caminhar contra o vento (as diferenças de
temperatura causam alterações do nível de vasodilatação, o que origina aumento do DC ou
vasoconstrição, em que há diminuição do DC, por diminuição do aporte de O 2)
Alternar posição de sentado de 2h/2h
Períodos de repouso depois das refeições
Viagens apenas a partir da 2/3 semana
Procurar com o doente alternativas de mudança no seu dia-a-dia (valorizar mais o lazer, passeios ao
ar livre, férias, “pequenas coisas da vida”)
Estimular o regresso à vida activa
Ajudar a encontrar outras saídas profissionais
Envolver parceira/o e pessoas significativas neste processo de reeducação e mudança
Actividade sexual (reajustamento do casal na sua vida íntima, com participação também do
companheiro):

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 Uso de posições passivas
 Não aconselhável no período da digestão
 Evitar mudança de parceiro
 Desmistificar crenças e medos;
 Compreender as expectativas (abordagem da historia sexual antes do evento cardíaco);
 Informar sobre as alterações que a doença provoca e explicar os modelos de resposta fisiológica;
 Informar sobre diferentes sugestões no âmbito a reabilitação sexual (uso de posições passivas,
não aconselhável no período de digestão, evitar mudança de parceiro)

Na actividade sexual atender aos seguintes aspectos:

 Local (calmo e familiar)


 Ambiente (confortável, temperatura adequada)
 Quando (ao acordar pode ser a melhor ocasião para um melhor desempenho)
 Respeitar um intervalo de 3 h entre as refeições e a actividade sexual
 Estratégias de compensação (carícias preliminares, posições passivas; praticas de masturbação)
 Controle da dor (toma de Nitroglicerina sL, 15 min antes e o cumprimento das restantes
prescrições farmacológicas)
 Estimular hábitos saudáveis (evitar álcool, tabaco, sedentarismo…)

Encorajar o auto-cuidado
Manutenção de eliminação intestinal regular
Dieta: baixo teor calórico, gorduras, sódio (não tem que ser alterada, apenas adequada à condição e
situação do doente)
Cafeína, bebidas alcoólicas e tabaco – iniciar um percurso de pequenas metas a atingir
Importância da vigilância periódica em saúde e manutenção do regime terapêutico
Identificação de pré-cordialgias (queixa de dor retroesternal relacionada ou não a esforço físico),
aumento da TA, alteração de FC, dispneia sudorese, surgimento de edemas
Providências a tomar (nitratos sublingual em SOS, recurso ao médico de família ou SU).

7.1.9. Áreas de atenção relevantes para enfermagem

Dor isquémica Mobilidade


Dor vascular Febre (controlar e diminuir)
Agitação Auto-cuidado
Dispneia Bem-estar físico
Ansiedade Bem-estar psicológico

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Débito cardíaco Atitude face à gestão de medicamentos
Obstipação Adesão ao regime terapêutico
Atitude face à dor Conhecimento

7.1.10. Cirurgia de Bypass Coronário


a) Indicações:
Angina de Peito intratável
Preservação da função ventricular
Estenose do tronco comum da ACE > 50% associada ou não, a estenose da ACD
Doença de 2 ou 3 vasos, podendo existir envolvimento da Artéria Coronária principal
Se ângor intratável e função ventricular deprimida, ou contra-indicação ou insucesso da
PTCA
b) Finalidades:
Melhorar a qualidade de vida (alívio da dor isquémica ao esforço ou isquemia crónica)
Aumentar a esperança de vida

c) Tipos de enxertos:
Safena
Artéria mamária interna (Dta ou Esq)
Gastro-epiplóica (recentemente)

d) Indicada nas disfunções hemodinâmicas sintomáticas e não controladas com


farmacoterapia:
Válvulas:
 Aórtica – substituição da válvula
 Mitral:
 Comissurectomia (estenose mitral)
 Anuloplastia (regorgitação mitral)
 Substituição

e) Tipos de próteses:
Mecânicas
Biológicas ou tecidulares

f) Circulação Extra-corporal
Derivação para o exterior da maior parte da circulação do coração e pulmões durante a cirurgia
cardíaca
Forma mecânica de circular e oxigenar o sangue

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O sangue venoso passa através de um oxigenador e é lançado oxigenado na aorta através de uma
cânula.
O circuito é constantemente heparinizado
É induzida hipotermia sistémica (cerca de 28ºC) reduzindo em cerca de 50% as necessidades de
O2 dos tecidos protegendo os órgãos vitais de lesões isquémicas
O sangue é reaquecido à temperatura normal antes de terminar a cirurgia.

7.1.11. Cuidados de enfermagem ao doente com EAM - metodologia da cipe

Diagnósticos de Enfermagem – Focos de Enfermagem Possíveis

Dor vascular (localização e topologia); Padrão alimentar;


Dispneia; Auto-cuidado (banho, vestir-se, despir-se,
Ansiedade; alimentar-se, …);
Mobilidade; Aceitação do estado de saúde;
Bem-estar psicológico; Socialização;
Bem-estar físico; Bem-estar;
Risco de obstipação; Hipotensão/hipertensão arterial;
Conhecimento; Perfusão dos tecidos;
Adesão ao regime terapêutico; Relação sexual;
Risco de Hemorragia; Processo de tomada de decisão.

7.1.12. Intervenções de Enfermagem

Escutar o doente e família Vigiar estado da pele e das mucosas;


Apoiar o doente e família Vigiar estado consciência (Escala Comas
Monitorizar a dor; Glasgow);
Gerir sedativos, analgésicos, laxantes; Monitorizar Balanço Hídrico;
Posicionar em semi-fowller; Supervisionar alimentação;
Dar banho no leito; Incentivar higiene oral, antes das
Assistir no auto-cuidado (higiene, refeições;
alimentação, movimentos…); Promover ingestão hídrica adequada;
Vigiar cateteres vasculares; Vigiar eliminação intestinal;
Vigiar eliminação urinária; Incentivar exercício adequado à fase de
Monitorizar e vigiar sinais/parâmetros evolução da doença;
vitais;

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Informar sobre o período de tratamento e Educar para vigilância de perdas
reabilitação; sanguíneas (gengivas, fezes, urina);
Educar sobre a importância de cumprir a Apoiar na adesão de programas de
prescrição farmacológica; reabilitação cardíaca;
Educar sobre possibilidade de Educar, instruir e treinar exercícios de
agravamento da doença e causas; reabilitação;
Informar sobre necessidade de consultas Incentivar para períodos de descanso
periódicas; alternado com actividade;
Identificar o conhecimento sobre a sua Explicar sobre importância de fraccionar a
doença e situação; dieta alimentar;
Encorajar a aceitação do estado e saúde; Motivar para uma alimentação variada
Descrever sinais e sintomas de Ângor (rica em proteínas animal/vegetal, vitaminas, sais
(Angina de peito); minerais e pobre em ácidos gordos complexos);
Explicar factores desencadeantes da dor; Motivar para repouso pós-prandial;
Educar a tomar a terapêutica específica Orientar para as consultas de vigilância
para a crise de dor; periódica;
Explicar a importância do repouso; Elogiar progressos;
Informar sobre a necessidade de andar Encorajar práticas de estilos de vida
acompanhado da terapêutica vasodilatadora saudáveis.
(Nitratos SL);
Educar sobre cuidados especiais de
conservação desta terapêutica;
Educar sobre sinais e sintomas de
toxicidade digitálica;

7.2. Insuficiência cardíaca (ic)

7.2.1. Conceito:
A Insuficiência Cardíaca (IC), também denominada de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), é
um estado fisiológico, em que o coração apresenta dificuldades em bombear para a circulação sistémica, a
quantidade de sangue necessária para suprir as necessidades metabólicas do organismo. Esta situação
resulta de disfunção sistólica ou diastólica.

7.2.2. Fisiopatologia:

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Com a diminuição da função ventricular esquerda, há uma menor capacidade de bombeamento do
ventrículo, resultando em fracções de ejecção de menos de 40 %. O sangue permanece no ventrículo
esquerdo no fim da sístole. A pressão auricular esquerda aumenta para esvaziar o seu volume para o
ventrículo esquerdo.
Quando a aurícula esquerda não consegue esvaziar totalmente o seu volume, o sangue recua para
a circulação pulmonar. O volume de sangue adicional aumenta a pressão dentro dos capilares
pulmonares. A pressão aumentada impele o sangue para fora dos capilares pulmonares mais pequenos
até ao interstício dos alvéolos. Então, pressões pulmonares elevadas impedem que o sangue vá do
ventrículo direito até aos pulmões. O ventrículo direito tem de fazer mais força para empurrar o sangue
para o sistema pulmonar. O sangue não enviado reflui para a aurícula direita e posteriormente para a
circulação venosa periférica.

Nota: A disfunção do ventrículo direito resulta, na maior parte dos casos, de disfunção do ventrículo
esquerdo.

7.2.3. Epidemiologia:
Situação clínica crónica em crescente aumento.
Progressos no conhecimento da sua fisiopatologia, na terapia médica e cirúrgica o que levou a um
maior controlo da doença e aumento da esperança e qualidade de vida.
A associação com doenças concomitantes: DM, DPCO, IRC (Insuficiencia Renal Crónica)
contribuem para uma maior morbimortalidade principalmente nos idosos.
Os insuficientes cardíacos morrem da evolução da doença ou morte súbita (50%).
A mortalidade por IC aos 5 anos é de cerca de 60% nos Homens e 40% nas Mulheres.

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A etiologia de base do IC influencia o prognóstico sendo a causa isquémica + grave do que a
miocardiopatia de dilatação.
Representam um encargo em saúde e social considerável. No RU representa 1% do orçamento
para a saúde.
Estudos apontam para que nos países evoluídos, 1,5 a 2% sofra de IC aumentado a prevalência de
6 a 10% em idades superiores a 65 anos.

7.2.4. Etiologia:
Factores Relacionados com a Diminuição da Contractilidade Cardíaca:
 DAC (Doença da Artéria Coronária) (estenose, deposição do trombo, envelhecimento celular,
ateriosclerose e aterosclerose)
 Miocardiopatias
 Doença vascular
 Factores Iatrogénicos (terapêutica) (não por causa da doença em si, mas como consequência
da medicação e prescrição médica)

Factores Relacionados com o Aumento do Trabalho Cardíaco:


 HTA
 Doença Valvular (estenose das válvulas mitral e aórtica)
 Estado Fisiológico de Alto Consumo (anemia, hiper e hipotiroidismo)

Lesões Cardíacas:
 EAM
 Miocardites
 Fibrose Miocárdio (por necrose)
 Aneurisma Ventricular

Situação Sobrecarga Ventricular:


 Pré – carga: é o volume de sangue ventricular no final da Diástole
 Pós – carga: é a força que o ventrículo tem de desenvolver para ejectar o sangue

Situações de grande Constrição Ventricular:


 Tamponamento cardíaco;
 Pericardites (causam edema extenso)

7.2.5. Exames complementares de diagnóstico

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História clínica e exame físico
Rx tórax frente e perfil
Estudos analíticos (hemograma - anemia, ionograma, função tiróide)
ECG
ECG com Holter
Prova de esforço
Cintilografia de reperfusão ou cavitária
Cateterismo cardíaco

7.2.6. Classificação da ic

Insuficiência Cardíaca Aguda: resulta de um quadro clínico súbito:


 EAM
 Choque
 Síncope cardíaca.

Insuficiência Cardíaca Crónica: desenvolve-se gradualmente. Resulta de vários processos


patológicos em que a dinâmica cardíaca é comprometida com a evolução da(s) patologia(s) e ou
tratamentos associados.

Insuficiência Cardíaca Esquerda (IVE): resulta da dificuldade do VE bombear o sangue que vem
da circulação pulmonar. A IVE é geralmente acompanhada de edema e congestão pulmonar.

Insuficiência Cardíaca Direita - o VD descompensa em função da disfunção (VE), pelo efeito de


interdependência ventricular.

IC de Alto Débito versus Baixo Débito:

 A IC de Alto Débito resulta das condições que aumentam o DC para satisfazer as necessidades
metabólicas do organismo. Pode estar relacionada com a presença de algumas patologias: hipertiroidismo,
fístula artério-venosa, anemia, gravidez

 A IC de Baixo Débito resulta da incapacidade do coração bombear sangue, capaz de perfundir


todas as células do organismo e assegurar todas as reacções metabólicas. Esta situação implica
patologias que reduzem o DC, tais como: EAM, Arteriosclerose, HTA, doença Valvular.

Classificação Funcional (New York Herart Association)

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Classe I: AVD normais - sem sintomatologia
Classe II: AVD normais - sintomas cedem com o repouso
Classe III: AVD mínimas - sintomas cedem com repouso
Classe IV: Qualquer tipo de actividade - sintomatologia mantém-se mesmo em repouso

7.2.7. Mecanismos compensatórios

Para compensar a diminuição do DC, o organismo tem determinadas reacções:

SNS (Receptores ß-cardíacos)


Melhorar o DC:

Aumento da frequência e contractilidade cardíaca, vasoconstrição vascular sistémica (rede arterial


e venosa)
O tónus vascular sistémico aumenta, provocando subida da pressão arterial sistémica
O aumento do tónus venoso provoca aumento na quantidade de sangue de retorno ao lado
direito do coração
Aumento dos valores da noradrenalina plasmática

Sistema Renal
Corrigir hipovolémia (vasoconstrição):
Aumento do mecanismo renina-angiotensina, de modo a corrigir a hipovolémia percepcionada e a
aumentar o fluxo sanguíneo renal
Aumento da noradrenalina nas extremidades nervosas cardíacas e elevação da TA

Cardíacos
Hipertrofia Ventricular: Aumento da câmara dos ventrículos:
As fibras do miocárdio actuam de acordo com a lei de Frank Starling que declara, dentro de certos
limites, a contracção das fibras do músculo cardíaco é mais eficaz quanto maior for a sua distensão antes
da contracção.
Hipertrofia do miocárdio:
O aumento do diâmetro das fibras do miocárdio leva a um espessamento das paredes cardíacas. Este
aumento provoca uma maior força contráctil e aumenta o DC. Este mecanismo compensatório torna-se
ineficaz com o tempo, dado que exige um grande consumo de O 2, resultando em hipóxia dos órgãos e
tecidos.

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Homeostáticos
Quando os mecanismos cardíacos se tornam ineficazes, o organismo activa outros mecanismos que
permitam manter as reacções fisiológicas orgânicas:

Sistema Vascular - com a diminuição do volume de sangue em circulação, o SNS estimula a


produção de catecolaminas (norepinefrina) que levam à vasoconstrição vascular.

Sistema Renal - A diminuição do DC e a vasoconstrição têm repercussões na perfusão renal. A


diminuição da PA renal reduz o processo de filtração glomerular e aumenta a reabsorção de Na + e H2O.
Este mecanismo leva à estimulação de produção de HAD que aumenta ainda mais a reabsorção de
líquidos cujo resultado final é a presença de EDEMA.

7.2.8. Manifestações clínicas

Insuficiência Cardíaca Direita:


Edema (tipo Godet) (devido a pressoes elevadas que forçam o fluido a entrar no tecido extracelular),
nos membros inferiores, sacro, hipocôndrio direito e/ou generalizado
Hepatomegália sensível à palpação (devido ao fígado ficar congestionado com liquido intravascular,
resultando no aumento de volume e sensibilidade no hipocôndrio direito)
Congestão dos órgãos abdominais
Ascite
Dispneia
Ingurgitamento das jugulares (resulta do aumento de pressão no lado direito do coração)

Insuficiência Cardíaca Esquerda


Congestão e edema pulmonar
Derrame pleural
Dispneia (quando pressões pulmonares elevadas forçam o fluido a sair dos capilares pulmonares
para os alvéolos)
Ortopneia (na posição de decúbito, a expansão torácica diminui, resultando em diminuição da
ventilação)
Dispneia Paroxística nocturna
Tosse produtiva (resulta da congestão de liquido retido, que é irritativo para a mucosa dos pulmões e
dos brônquios)
Angústia respiratória
Fadiga (resulta da perfusão inadequada dos tecidos, por diminuição do DC)
Dor

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7.2.9. Tratamento
Objectivo:

Reduzir necessidades de O2
Melhorar o débito cardíaco

Intervenções Farmacológicas:

Grupo dos Digitálicos (digoxina, dobutamina)


Grupo dos Vasodilatadores (nitratos, Hidralazina ... )
Grupo dos Diuréticos (fusosemida ...)
Oxigenoterapia

 Sinais e Sintomas de Intoxicação Digitálica:

Efeitos Cardiovascasculares:
 Bradicardia
 Taquicardia
 Bigeminismo
 Batimentos ectópicos
 Défice de pulso

Efeitos Neurológicos
 Cefaleias, fadiga
 Diplopia
 Visão desfocada ou colorida
 Entorpecimento, confusão
 Agitação, irritabilidade,

Efeitos Gastointestinais
 Anorexia, náuseas e vómitos
 Gastralgia e diarreia

Intervenções Cirúrgicas

A questão da cirurgia é uma hipótese que se coloca, quando a QV da pessoa está muito comprometida.

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Tomando em consideração a etiologia de base, a cirurgia pode ter como objectivo a intervenção ao nível:

Válvulas (Transplante das válvulas, Valvuloplastia)


Septo e Aneurísmas ventriculares (reparação de defeitos septo e / ou aneuismectomias)
Artérias Coronárias (revascularização com bypass da AC)
Coração (transplante cardíaco)

Medidas de suporte
 Dieta
 Actividade/repouso
 Hidratação/eliminação

7.2.10. Intervenções de enfermagem ao doente com insuficiência cardíaca

Diagnósticos de Enfermagem

 Fase Aguda:
Débito Cardíaco Diminuído (devido à alteração na pré-carga, na pós-carga, ou alterações
inotrópicas no coração):
 Monitorizar ECG;
 Monitorizar estado consciência (Escala Comas Glasgow);
 Optimizar acessos vasculares;
 Optimizar fluidoterapia;
 Controlar BH

Alteração das Trocas Gasosas (devido às alterações da membrana alveolar capilar):


 Monitorizar Frequência Respiratória, Pulso e Tax;
 Monitorizar Saturação O2 periférico;
 Monitorizar estado consciência (Escala Comas Glasgow)
 Posicionar em Semi-Fowller;
 Administrar O2 (a oxigenação menos eficaz do sangue, na sua passagem pelos pulmões
congestionados, reduz muito o conteúdo de oxigénio no sangue);
 Motivar respiração lenta e profunda;
 Optimizar acessos vasculares;
 Optimizar fluidoterapia;
 Controlar BH

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Limpeza das Vias aéreas Ineficaz:
 Posicionar em Fowller ou semi-Fowller;
 Monitorizar padrão respiratório;
 Auscultar sons respiratórios;
 Observar características das secreções;
 Executar aspiração de secreções;
 Executar nebulização com soro fisiológico;
 Motivar tosse eficaz;
 Motivar respiração diafragmática;

Ansiedade (devido ao estado fisiológico deteriorado):


 Optimizar ambiente;
 Promover o repouso;
 Executar massagem de relaxamento;
 Administrar O2;
 Gerir terapêutica ansiolítica ou sedativa (SOS)

Retenção de líquidos (devido ao mecanismo regulador do volume hídrico estar comprometido):


 Gerir fluidoterapia;
 Medir perímetro membros;
 Executar BH;
 Optimizar sonda vesical;
 Pesar diariamente

Intolerância à actividade (devido ao desequilíbrio entre o aporte de oxigénio e as necessidades em


oxigénio):
 Assistir nas AVD;
 Motivar exercício gradual;
 Optimizar ambiente
 Promover o repouso;

Auto-cuidado comprometido (banho, vestir-se, comer, beber):


 Optimizar ambiente;
 Dar banho no leito;
 Massajar após banho;
 Aplicar creme hidratante;
 Vestir o doente;
 Alimentar o doente;

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 Encorajar progressos;

Risco de Infecção - precaução de segurança (cateteres venosos e arteriais; cateter urinário):

 Vigiar sinais e sintomas de infecção (Tax, R, P)


 Optimizar acessos e cateteres vasculares;
 Vigiar características da pele;
 Optimizar sonda vesical;
 Vigiar características da urina

Evitar manobras de valsava;


Pesar o doente diariamente, sempre com a mesma roupa, usando a mesma balança, com a bexiga
vazia e antes de ingerir alimentos (o aumento de peso indica retenção de líquidos: 1kg de aumento,
representa 1l de líquidos retidos);
Explicar a importância de conservar energias e planear actividades que evitem fadiga;
Encorajar a actividade dentro das restrições prescritas;
Prestar cuidados à pele (especialmente em áreas edemaciadas) → aplicar creme hidratante;
Vigiar eliminação intestinal (despistar sinais de obstipação);
NOTA: Dar oportunidade ao doente e á família de falarem das suas preocupações.

 Fase Intermédia (preparação da alta hospitalar):

Conhecimento sobre regime terapêutico prescrito:


 Explicar sobre o processo patológico e sua relação com a terapêutica;
 Ensinar sobre a importância de cumprir a prescrição;
 Explicar principais efeitos de toxicidade da terapêutica;
 Avisar do perigo de agravamento da doença;
 Informar sobre necessidade de consultas periódicas;

Conhecimento sobre formas de prevenir complicações:


 Ensinar a tomar a terapêutica; (diuréticos, digitálicos, anticoagulantes)
 Ensinar sobre sinais e sintomas de toxicidade digitática;
 Motivar para vigilância de perdas sanguíneas (gengivas, fezes, urina);
 Informar sobre regime alimentar;
 Explicar sobre importância de fraccionar a dieta alimentar;
 Descrever sinais e sintomas de edema (edemas MI, tosse produtiva);
 Aconselhar peso semanal;

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Conhecimento sobre factores desencadeantes e formas de prevenir a fadiga:
 Explicar sobre as repercussões do esforço excessivo;
 Explicar a importância do repouso nocturno de boa qualidade;
 Ensinar / Instruir / Treinar exercícios respiratórios;
 Motivar para a prática regular de exercício moderado (caminhar);
 Aconselhar os períodos do dia mais favoráveis à prática de exercício;
 Ensinar sobre os benefícios do repouso intercalado;
 Ensinar sobre benefícios da hidratação oral;
 Explicar sobre importância de fraccionar a dieta alimentar;
 Ensinar a importância do repouso pós-prandial;

8. PATOLOGIA VASCULAR PERIFÉRICA


O sistema vascular é constituído por um conjunto de vasos de diferentes calibres (artérias, veias e
vasos linfáticos) cuja função é permitir a livre circulação do sangue a todos as unidades funcionais do
organismo.

8.1. Factores condicionantes da circulação


Eficiência do coração como órgão fundamental do sistema circulatório;
Integridade dos vasos;
Fluxo sanguíneo adequado;
Gradientes de pressão compatíveis com os vasos;
Ausência de sintomatologia inflamatória ou infecciosa do sistema circulatório
O fluxo sanguíneo, pode ser perturbado por uma obstrução, estenose, curva ou bifurcação do vaso
(fluxo turbulento), evidenciada pela presença de um sopro à auscultação ou por um sinal característico
(Doppler). O Fluxo sanguíneo depende:
 Viscosidade sanguínea,
 Resistência da parede do vaso,
 Resistência periférica das arteríolas e vénulas

8.1.1. Factores de Risco


Factores Risco Não Modificáveis
 Idade;
 Sexo;
 Hist. Famil. de Aterosclerose e /ou Arteriosclerose
Factores Risco Modificáveis
 HTA;
 Deslipidemias;
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 Diabetes Mellitus;
 Tabagismo;
 Obesidade; sedentarismo; álcool; stresse....

8.2. Epidemiologia
A doença oclusiva arterial crónica está fortemente associada ao envelhecimento
É mais prevalente no sexo masculino
Num estado avançado pode ser dolorosa, incapacitante e ameaçadora da vida
A Diabetes Mellitus não controlada, potencia fortemente o seu desenvolvimento
A alteração de hábitos de vida pode atrasar a sua instalação/evolução
Tende a afectar os vasos distais menores, abaixo do joelho

8.3. Patologia arterial – bloqueio arterial agudo


A placa ateromatosa pode desprender - se e provocar um Bloqueio Arterial Agudo. Os pacientes
apresentam um quadro de isquémia súbita:
Dor intensa e súbita;
Ausência de Pulso;
Parestesia;
Paralisia;
Palidez do Membro

8.3.1. Diagnóstico:
Atender às queixas do doente
Observação da área afectada
Avaliação dos pulsos periféricos (através do tacto e de ultra sons).
A angiografia pode estar indicada quando há uma evolução súbita da doença.
Auscultação dos pulsos periféricos (poplíteo, pedioso dorsal, tibial posterior)
Ecografia Doppler (frémito )
Prova de esforço
Arteriografia (determinar a localização e extensão da lesão

8.4. Classificação dos distúrbios arteriais


8.4.1. Arteriosclerose obliterante
A aterosclerose associada à arteriosclerose provoca um distúrbio que envolve uma diminuição
progressiva, degenerescência e por fim oclusão do vaso
É a causa mais comum de obstrução das extremidades, sobretudo em homens a partir dos 30
anos.

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A sua incidência é sobretudo ao nível das artérias inferiores (femural, ilíaca e poplítea). A doença
pode ser agravada em presença da DM)

(a) Manifestações clínicas


Dor claudicante que ocorre durante o exercício e regride em repouso
Cessa 1 ou 2 minutos, depois de parar o esforço
Cessa com a força da gravidade
Dor distal ao local de oclusão
Dor em repouso traduz evolução da doença. Este tipo de dor ocorre frequentemente de noite
acompanhada de sensação de frio e formigueiros nas extremidades.
A isquemia prolongada pode levar a necrose, ulceração e gangrena das zonas distais do pé.
Perda de pilosidade
Unhas espessas quebradiças e crescimento lento
Alteração da marcha
Pele brilhante, distendida, pálida, frágil, seca, fria e descamativa

(b) Tratamento
Medidas não Farmacológicas:
 Actuar sobre os factores de risco
Medidas Farmacológicas:
 Vasodilatadores
 Anticoagulantes
 Antiagregantes plaquetários
 Analgésicos
 Cirurgia

8.4.2. Tromboangeíte obliterante


A Tromboangeíte obliterante ou doença de Beurger, é um distúrbio obstrutivo ao nível das artérias,
veias e nervos terminais inferiores, relacionado com processos inflamatórios segmentados
Está fortemente relacionado com o uso do tabaco e depressão imunitária. Não surge nos não –
fumadores
A incidência é maior no sexo masculino entre os 20 e os 40 anos.

(a) Manifestações clínicas


Dor por isquémia: claudicante na planta e dorso dos pés, simétrica e bilateral
Dor nas mãos, simétrica e bilateral
Alterações da temperatura e coloração
Aumento da sensibilidade ao frio

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Tromboflebite superficial
Presença de úlceras e gangrena

(b) Tratamento
Medidas de suporte
 Ajuda no sentido de DEIXAR DE FUMAR
 Prevenir lesões
 Aconselhar o uso de roupas adequadas à estação do ano.
 Ensinar medidas de saúde que promovam a perfusão tecidular (exercícios de Beurger).
Farmacológico
 vasodilatadores,
 anti- inflamatórios
 analgésicos
 anticoagulantes
 antiagregantes plaquetárioos
Medidas cirúrgicas
 Simpatectomia (Remoção dos Gânglios Simpáticos e Tecidos Nervosos para eliminar o
Vasoespasmo)
 Amputação de dedos ulcerados/necrosados dos pés e mãos

8.4.3. Fenómeno ou doença de Raynaud


O Fenómeno de Raynaud é a expressão utilizada para indicar que se trata de um distúrbio
resultante de outros processos patológicos (doenças arteriais oclusivas, traumatismo, lesões
neurológicas…). É um distúrbio vaso-espástico, episódico, das artérias menores superficiais das
extremidades sobretudo das mãos. Quando este fenómeno ocorre sem outra lesão denomina-se doença
de Raynaud.

(a) Etiologia
A causa exacta é desconhecida, embora esteja relacionada com lúpus, artrite reumatoide, oclusão
arterial, traumatismos, stress emocional e hipersensibilidade ao frio. Afecta cerca de 10% da população
mundial; 93% são mulheres. Incidente entre os 20 e os 40 anos. Mais comum no Inverno, climas frios e
húmidos

(b) Manifestações clínicas


Principal queixa: mãos e pés sempre frios. Durante o espasmo arterial: pele fria e pálida, cianose
cutânea e dor. Após espasmo: a área envolvida fica ruborizada, presença de formigueiros latejantes.
Com a evolução da doença, surgem ulceras das extremidades.

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(c) Tratamento
Tratamento Farmacológico:
 Antagonista de cálcio
 Vasodilatadores
 Analgésicos
 Relaxantes da parede muscular dos vasos
Medidas de Suporte
 EPS sobre factores de risco associados
 Aconselhar a proteger-se da exposição ao frio
 Motivar o cumprimento do tratamento farmacológico
 Prevenir o surgimento de úlceras
Medidas cirúrgicas
 Simpatectomia (alivio de sintomas na fase inicial da isquémia avançada)
 Amputação (Ulcerações e Gangrena)

8.4.4. Embolia arterial (aguda)


A embolia arterial resulta da presença de êmbolos (pequenos coágulos ou ateromas) na circulação.
São resultantes da patologia cardíaca que se difundem na circulação sistémica e alojam-se
frequentemente na bifurcação de algumas artérias (artéria abdominal descendente, femural e na poplítea).

(a) Manifestações clínicas


Dor aguda abrupta no local da oclusão
Diminuição da força muscular na área periférica à obstrução
Pulsos distais ausentes
Pele fria e pálida

(b) Tratamento
Repouso no Leito
Fibrinolíticos (se o doente reunir critérios)
Anti - coagulantes
Cirurgia:
 Embolectomia ou Endarterectomia;
 Bypass Arterial;
 Angioplastia Percutânea Transluminal (PTCA);
 Amputação

8.5. Tipos de cirurgia vascular

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Embolectomia – consiste na extracção de um êmbolo; Mais utilizada em grandes vasos arteriais;
O êxito cirúrgico está directamente relacionado com o tempo de isquémia; A incisão cirúrgica é realizada
no vaso afectado para remoção do material tromboembólico.
Endarterectomia - consiste na remoção de um coágulo e placa de ateroma;
Bypass – é uma cirurgia de derivação arterial e reconstrutiva; Indicada quando os processos
arterioscleróticos obliterantes progridem e/ ou a claudicação intermitente é incapacitante; A derivação do
segmento obstruído é feita através de material autólogo (safena interna) ou com material protésico de
substituição. A derivação pode implicar a aorta abdominal, as artérias ilíacas ou outros vasos mais
distantes.
Aneurismectomia - procede-se à exérese cirúrgica da parede aneurismática do vaso (artéria),
prevenindo a sua ruptura e consequente hemorragia, ou à colocação de material aderente (téflon ou
dacrón), à parede da artéria conferindo-lhe maior resistência à pressão sanguínea.

8.6. Avaliação Pré-Operatória - Cirurgia Vascular


Factores de risco para a doença vascular HTA, DM
Estilos de vida : sedentarismo, obesidade, hábitos de higiene e alimentares, exposição a agentes
perigosos (tóxicos, radiações, frio,...)
Consumos: tabagismo, alcoolismo
História de patologia cardíaca (Ângor, EAM, IC, Arritmias)
Patologia pulmonar (IR, EAP, doença alérgica),
Patologia Cerebrovascular (AVC; AITs ),
Patologia Renal (I.R.A, ou crónica, lítiase renal)
Terapêutica habitual
Protocolos de colheitas de sangue (análises, estudo coagulação, grupo sangue)
Preparação cólica;
Cuidados de higiene e desinfecção corporal;
Preparação da área cirúrgica;
Cateterização para acesso venoso periférico;
Cateterismo vesical;
Fluidoterapia e / ou terapêutica profilática: antibióticos, anticoagulantes (prevenção do
tromboembolismo ou embolia pós - cirurgia)
Ensinar / instruir e treinar exercícios respiratórios;
Ensinar / instruir e treinar exercícios de mobilização no leito

8.7. Intervenções de Enfermagem no Pré- Operatório da CV


Identificar o conhecimento acerca do problema de saúde;
Identificar o estado psicológico, emocional e expectativas;
Avaliar estratégias de coping;

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Monitorizar as funções respiratória, cardíaca, vesical e intestinal,
Avaliar peso, equilíbrio e marcha;
Avaliar pulsos periféricos, presença de edemas, textura, temperatura, coloração da pele e leito
ungueal;
Avaliar qualidade sensitiva: toque, temperatura externa, dor (tipo, frequência e tolerância,
mecanismos de defesa pessoal, tipo de analgesia)

8.8. Intervenções Enfermagem no pós- Operatório


Monitorizar nível de consciência;
Monitorizar parâmetros vitais;
Monitorizar dor;
Gerir analgesia,
Monitorizar função renal,
Vigiar sinais / sintomas hemorragia;
Monitorizar pulsos periféricos, mobilidade, coloração do membro, áreas de sensibilidade, pressão
externa na área intervencionada;
Vigiar sinais inflamatórios e / ou infecciosos;
Ajudar posicionamento confortável.

8.9. Cirurgia vascular – amputação


Amputação é a separação de um membro ou parte dele, do corpo a que pertence, através de um corte.
Pode ser:
Parcial - extremidades, 1/3 do pé, 1/3 médio abaixo ou acima do joelho
Total - inclui a desarticulação do membro
 ** Último recurso para garantir a vida e a QV
 ** É uma agressividade para a imagem corporal - o corpo (in)visível;
 ** É um processo doloroso individual, familiar e social, independentemente da causa subjacente;
 ** Provoca reacções psico-emocionais complexas conforme as representações do corpo no meu “EU”
e a percepção do “OUTRO”;
 ** A agressividade da reacção é inversamente proporcional à idade

8.9.1. Indicação da amputação


Presença de doença vascular progressiva (85%)
Presença de necrose e ou gangrena dos tecidos das extremidades;
Doença oncológica: ossos, músculos e na pele;
Infecções graves: osteomielite, feridas sépticas;
Traumatismos graves: Acidentes de viação e de trabalho, queimaduras por ácidos, congelamentos,
explosões etc.

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Preservar a funcionalidade do restante membro;
Criar um coto adequado a uma prótese;
O nível de amputação depende do tipo e estadio da doença vascular e dos requisitos da prótese

8.9.2. Complicações da amputação


Hemorragia
Infecção
Rotura dos enxertos cutâneos ( isquémia, sutura sob tensão, alongamento da tíbia
Edema (má adaptação da prótese, incorrecta colocação da ligadura)
Gangrena Gasosa (necrose dos tecidos, infecção)
Contractura
Dor de Neuroma (comprometimento dos troncos nervosos)
Dor Fantasma

8.9.3. Características do coto para a prótese:


Moldado conicamente
Indolor, firme
Comprimento adequado
Cicatriz sem coloide ou aderências

8.9.4. Critérios a considerar na moldagem do coto da prótese


Boa técnica cirúrgica
Higiene cuidada
Massagem para descolar aderências
Exercícios de elevação

Objectivos da ligadura do coto:


Evitar hemorragia e edema
Reduzir e moldar conicamente o coto
Firmar os tecidos moles
Facilitar o retorno venoso
Aliviar a dor

8.9.5. Focos de enfermagem na pessoa amputada


Bem-estar físico Sofrimento Terapêutico
Auto-estima Culpa Conhecimento
Imagem corporal Ansiedade Automutilado
Raiva Adesão ao regime Função vascular

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Perfusão dos tecidos Zona de Pressão Coto de Amputação
Hemorragia (risco) Ferida cirúrgica Mobilidade
Perda Sanguínea Ferida traumática
Edema Necrose

8.9.6. Intervenções de Enfermagem face à pessoa amputada


a) Objectivos:
1 – Reconhecer / fortalecer ou restituir à pessoa a sua Dignidade Pessoal;
2 – Ajudar a pessoa e a família no processo de aceitação da perda;
3 - Promover a autonomia individual nas AVDs;
4 – Informar acerca dos direitos e deveres do cidadão deficiente
5 - Facilitar o processo de integração sócio-familiar, social e profissional da pessoa portadora de
deficiência;
6 – Informar acerca do tipo de próteses e encaminhar para profissionais habilitados

b) Pré-operatório:
O paciente necessita de tempo para organizar os seus sentimentos
A amputação pode desencadear vários tipos de reacções inesperadas que podem ir da euforia à
apatia
Informar sobre cirurgia, pós-operatório, dor fantasma
Cuidados gerais
 Tricotomia
 Enema de limpeza
 Desinfecção do campo operatório
Identificar o conhecimento que o doente e família tem acerca da situação e intervenção cirúrgica
Atender ao choque emocional do doente e familiares
Valorizar a possibilidade do uso de prótese
Valorizar os ganhos em saúde com a amputação
Exercícios de fortalecimento dos braços e MI não afectado e abdómen
Contacto com as canadianas e cadeira de rodas
Dar conta do aparecimento da dor fantasma (sensação de formigueiro, ardor, dor ou pressão ou
expressão de sentimentos…
Ensinar como fazer para reorganizar a imagem mental do novo membro

c) Pós-operatorio: objectivos
Reduzir a dor e o edema
Prevenir problemas respiratórios e circulatórios
Prevenir contracturas a nível da coxo - femural e joelho

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Manter a mobilidade de todas as articulações
Manter e melhorar a força muscular
Melhorar o equilíbrio e posturas

d) Pós-operatório preparação da alta


Cuidados gerais inerentes a uma cirurgia
Posicionar o doente evitando flexão da anca e joelho, encorajando posição ventral
Elevar o coto nas 1ªs 24h com almofada evitando rotação externa
Ensinar e treinar rotações e dorsiflexões do membro não afectado, elevação do coto e nádegas
quando em dorsal
Executar penso
Ajuda na apropriação de um novo esquema corporal valorizando o levante precoce, exercícios de
fortalecimento muscular e de aumento de equilíbrio
Estimular o auto-cuidado e higiene ao coto evitando álcool, cremes ou óleos
Ensinar a técnica de ligadura ao coto
Ensinar posicionamentos: evitar abdução e flexão

8.10. Distúrbios venosos


As perturbações venosas decorrem das alterações do transporte do sangue dos leitos capilares
venosos, por incompetência valvular e diminuição da sua drenagem, resultando a formação de trombos.
As alterações nos constituintes das veias favorecem o refluxo e a estase do sangue no leito venoso.
Aspectos relacionados com alterações dos vasos:
Tríade de Virchow
 Estase venosa
 Lesão da parede vascular
 Hipercoagulabilidade do sangue

8.10.1. Tipos de distúrbios venosos:


Agudos:
 Flebites
 Tromboflebites -Trombose Venosa
 Profunda (TVP) ou superficial
Crónicos:
 Insuficiência Venosa Periférica
 Úlceras Venosas

8.10.2. Tromboflebite

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A Tromboflebite desenvolve-se tanto em veias superficiais como profundas. As veias femural,
poplítea, safena e as pequenas veias superficiais, são frequentemente afectadas. Os trombos formam -se
nas veias por acúmulo de fibrina, plaquetas e placas de colesterol. Tendem a depositar-se na bifurcação
das grandes veias e a obstruir as de menor calibre. Podem migrar e provocar uma embolia~
a) Etiologia:
Estase venosa
Lesão da parede vascular
Hipercoaguabilidade do sangue
Contraceptivos orais
Gravidez
IC
Repouso prolongado ( cirurgia, fracturas, traumatismos...)

b) Manifestações clínicas:
Dor
Edema
Sinais inflamatórios intensos

c) Tratamento:
Tratamento farmacológico: Intervenções de Enfermagem:
Vasodilatadores Monitorizar o repouso terapêutico com MI elevado
Anticoagulantes Aplicar calor húmido (reduzir edema e mal -estar)
Anti-inflamatórios Vigiar sinais de hemorragia e inflamação
Fibrinolíticos

8.10.3. Veias varicosas


As veias varicosas resultam do enfraquecimento da parede vascular e da incompetência valvular. Este
distúrbio provoca estase vascular e diminuição do retorno venoso. São muito incidentes no sexo feminino,
resultantes de esforços, gravidez, aumento da pressão dos MI (posição ortostática e imóvel).

a) Manifestações clínicas
Inicialmente assintomáticas
Dor tipo cãimbra
Peso e pressão nos MI
Edema gravitacional
Fadiga muscular
Sensação de formigueiros

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b) Tratamento:
1 - Tratamento Farmacológico:
Anti-inflamatórios
Anti -coagulantes
Diuréticos
2 - Autocuidado de suporte
3 - Tratamento Cirúrgico: SAFENECTOMIA – corte e laqueação da grande safena da femural e stripping
da mesma e pequena safena com uma incisão a nível da virilha e face interna do joelho e do tornozelo

c) Intervenções de Enfermagem: Promoção do autocuidado


Ensinar/ Instruir / Treinar o uso de meia elástica
Orientar para medidas de promoção da saúde: caminhar bastante, elevação dos membros, evitar
posição estática prolongada (em pé ou sentada) e cruzar ou pernas pendentes, manter peso; usar
sapatos de atacadores, evitar colocar as pernas junto de fontes de calor, colocar tacos de madeira
nos pés da cama

d) Intervenções de enfermagem pré-operatório


Atender às intervenções planeadas para a Cirurgia Vascular
Ensinar /instruir/treinar a pessoa a calçar meia elástica;
Ensinar/instruir/treinar movimentos de adução e abdução
Executar ligadura elástica em espiga, do MI completo não intervencionado;
Marcação dermográfica (cirurgião) do trajecto e pontos de incisão da safena;
Motivar para a prática de exercícios respiratórios e de mobilização corporal;
Motivar para a mobilização dos dedos do MI intervencionado

e) Intervenções de enfermagem pós-operatório:


Atender aos cuidados gerais no pós – operatório da CV
Elevar os MI a 45º;
Posicionar em semi- fowller;
Vigiar temperatura, coloração, mobilidade dos dedos do MI intervencionado;
Monitorizar/Vigiar sinais / sintomas respiratórios e de hemorragia;
Supervisionar movimentos de adução e abdução do MI intervencionado
Executar penso das suturas
Assistir nos posicionamentos e 1º levante do leito com ligadura compressiva ou meia elástica

8.10.4. Úlceras venosas


Ocorrem por:
Insuficiência Crónica das Veias Profundas ou por presença de Veias Varicosas
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Outras Causas: Queimaduras, Traumatismos e Distúrbios Neurogénicos
Diabéticos- Doentes de Alto Risco (Insuficiência vascular)
Correspondem a cerca de 80% das úlceras vasculares

a) Etiologia:
Resultam da permuta inadequada de oxigénio e outros nutrientes
Surgem no 1/3 inferior da perna, com elevada incidência na região maleolar ( interna e externa)
Geralmente ocorre infecção secundária

b) Sintomatologia:
Dor
Edema e Pigmentação na região circundante
Sinais inflamatórios

c) Tratamento:
Medidas farmacológicas;
Medidas de suporte terapêutico (elevação dos membros, exercícios de pernas, dieta, higiene:
roupa, física e mental
Execução de pensos – técnica de penso oclusivo: produção e acumulação de exsudado favorece a
acção fagocitária digerindo as células mortas, ajudando a reparar a ferida
Desbridamento mecânico, químico e cirúrgico;

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8.11. Distúrbios do sistema linfático
Sistema de vasos valvulados que drenam o plasma e outros fluídos (linfa) não absorvidos, do
espaço intersticial para a rede venosa. Atravessam os nódulos linfáticos (pescoço, axilas e virilhas),
esvaziando a linfa no ducto torácico que se liga à jugular esquerda.

8.11.1. Linfangite
Inflamação aguda dos canais linfáticos – surge a partir de um foco de infecção das extremidades.
Os nódulos linfáticos (gânglios) ao longo do trajecto também ficam ingurgitados – adenopatias.

8.11.2. Linfedema
Resulta da obstrução dos vasos linfáticos ou dos seus nódulos
PRIMÁRIO: congénito – maior grupo, incidência na 2ª década de vida e mais frequente em
mulheres
SECUNDÁRIO: lesão do sistema ou obstrução por patologia (neoplasia, traumatismo, cirurgia,
radiações)
A doença maligna pode ser primária (linfoma de Hodgkin); secundária (mastectomia ou
metástases).

8.11.3. Elefantíase

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Grande aumento crónico do membro provocado por um parasita – filária - levando sintomas de
infecção e se não tratada evolui para fibrose, espessamento dos tecidos subcutâneos e hipertrofia da pele
TRATAMENTO: Não existe um tratamento curativo; Fisioterapia e exercícios específicos que
favoreçam a entrada dos líquidos para o interior dos vasos e elevação do membro são medidas a instituir.

9. HIPOCOAGULAÇÃO

9.1. Sistema de hemostase


O sistema de hemostase, é constituído por um endotélio vascular integro, e a presença na corrente
sanguínea de plaquetas e factores de coagulação. Este sistema é responsável pela manutenção do
sangue em circulação, sem o qual, pequenas lesões tornar-se--iam uma ameaça à vida pelo risco de
hemorragia.

9.2. Fases do Processo de Coagulação


Fase I - Após lesão do vaso, as plaquetas libertam factores plaquetários, forma-se o activador da
protrombina;
Fase II - Consiste na conversão da protrombina em trombina por acção da tromboplastina;
Fase III – consiste na conversão do fibrinogénio em fibrina por acção da trombina.
Fase IV – O plasminogéneo converte-se em plasmina.. A plasmina dissolve o coágulo em produtos
de degradação da fibrina.

9.3. Hipocoagulação – objectivo:


Diminuir a deposição de fibrina em trombos já estabelecidos e retardar a neogénese de novos trombos.

9.4. Fármacos Hipocoagulantes


Heparina (não fraccionada e fraccionada) administrada via parentérica – tratamento de curta
duração
Derivados Cumarínicos (varfarina) administrada por via oral – tratamento de longo prazo

9.5. Tratamento
O tratamento hipocoagulante necessita de um controle laboratorial no sentido de ajustar a dose de
fármaco de acordo com a resposta de cada paciente.
Este tratamento é ajustado à medida que se atingem os valores de INR ( Rácio internacional
Normalizado) esperados.
O valor do INR é obtido através do cálculo matemático que normaliza o tempo de protrombina (PT),
ao corrigir a variabilidade das sensibilidades dos reagentes de tromboplastina usados nos testes.
A variação terapêutica na maioria dos casos situa-se entre 2 e 3,5.
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O tratamento das alterações hematológicas, está directamente relacionado com o estudo analítico
dos vários componentes do sangue.
Estudo da Coagulação
Tempo de Tromboplastina Parcial Activado (APTT) - varia entre 30 e 40 segundos, mede o tempo
em que se forma um coágulo.
Tempo de Protrombina ( PT) e INR- varia de 10 a 12,5 segundos e avalia especificamente os
factores I, II, V, VII e X da cascata de coagulação. O TP é usado para avaliar o tratamento com Varfarina,
permite identificar défices de vitamina K e de coagulação intravascular dessiminada ( CID).
O TP pode ser expresso em segundos, de % de actividade de coagulação normal ou como INR. O
INR, reflecte a relação do TP, do paciente, relativamente a um valor normal.
O INR é o grande indicador de referência na gestão do tratamento com hipocoagulantes.
Valores INR
Terapêutica de baixo peso molecular, é de 2,5.
Terapêutica de elevado peso molecular varia entre 2,5 a 3,5.
Os valores de INR, variam de paciente, conforme o objectivo do tratamento anticoagulante.
A Hipocoagulação é utilizada nas seguintes situações:
Tratamento Profilático
a) Prevenção pré – operatória de eventos tromboembólicos;
b) Prevenção do tromboembolismo venoso ( pacientes acamados; repouso terapêutico, cirurgia,
...)
Tratamento decorrente outras patologias
a) Tromboembolismo venoso;
b) Tromboembolismo cardíaco e das coronárias;
c) Angina Instável;
d) EAM; válvulas cardíacas protésicas; cardiomiopatias congénitas; cirurgia cardíaca de bypass;
e) défice de proteína C ou S

9.6. Efeitos adversos ao tratamento


Hemorragia (gastrointestinal, urinaria, intracraniana, gengivas ..)
Hipersensibilidade
Intolerância gastrointestinal
Osteoporose
Necrose hemorrágica da pele.

9.7. Contra-indicações aos tratamentos:


a) Absolutas
Hemorragia activa ( úlcera sangrante, neoplasias ulceradas, retinopatia hemorrágiaca)
Aneurisma intracerebral,

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hemorragia intracraniana prévia ou risco de ( tumor, cirurgia)
HTA severa ( PD > 120 mmhg)

b) Relativas
Doença hepática e renal
Pericardite e endocardite bacteriana

9.8. Intervenção de enfermagem


Informar sobre tratamento (motivo da prescrição, horário da toma, rigor)
Monitorizar tratamento (controle INR)
Informar sobre:
 Dieta equilibrada fraccionada e variada
 Evitar ingestão bebidas alcoólicas
 Exercício físico (não recomendável desportos de contacto)
Informar médico (especialidade) do tratamento anticoagulante (Varfine ou Sintrom);
Evitar administrar terapêutica IM, EV (pressão local entre 5 a 10 minutos);
Evitar traumatismos (quedas, lesões da pele e outros tecidos);
Fazer-se acompanhar do diário de registo dos resultados do INR e a dose de tratamento de
anticoagulante oral (TAO);
Esclarecer dúvidas (facultar contacto telefone).

10. O DOENTE DO FORO CIRÚRGICO – Prof. Salete Calvinho


O doente do foro cirúrgico é um doente “complicado”, na medida em que sente medo, não só em
relação ao diagnóstico e prognóstico, como também por todo o processo inerente que vai passar, que é
desconhecido, e por saber que vai estar num período de inconsciência em que vai ser entregue a uma
equipa técnica, estando nas “mãos” de pessoas que nem conhece. Tudo isto é gerador de medos e
ansiedade.

10.1. Cirurgia:
 Ramo da medicina que compreende, um período constituído por várias fases:

a) Preparação pré-operatória: período que antecede o processo cirúrgico, podendo demorar horas a
meses, consoante o diagnóstico e do estado do doente. É um período que se inicia desde o
momento da decisão cirúrgica até o doente entrar no bloco. Durante este período, o doente é
informado e preparado para a cirurgia, tanto fisicamente como psicologicamente, e para a
anestesia, de modo a que tudo corra da melhor forma possível.

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b) Decisão e intervenção intra-operatória: período em que decorre a intervenção cirúrgica
propriamente dita, isto é, corresponde ao período em que o doente está no bloco operatório e
decorre a intervenção cirúrgica.

c) Cuidados no pós-operatório: é dividido em 3 períodos diferentes:

Pós-operatório imediato: desde o fim da cirurgia até 6 horas após a cirurgia


Pós-operatório mediato: das 6 horas até 72 horas após a cirurgia
Pós-operatório tardio: a partir das 72 horas após a cirurgia e até 1 mês de pós-operatório.

Ao conjunto deste período chama-se Peri-operatório

NOTA: Dependendo do período em que o utente se encontra, as necessidades e potenciais


complicações são diferentes, no sentido da vigilância e intervenção precoce.

10.2. Avanços Tecnológicos:


Equipamentos e técnicas diagnósticas + fiáveis, específicos e precoces;
Especialização técnica (melhor qualificação dos profissionais envolvidos, desenvolvimento de
técnicas de esterilização + seguras e de assepsia – diminuição das infecções);
Desenvolvimento de anestésicos + seguros e com menos riscos para o doente (anestesias cada
vez melhores e duração da intervenção cirúrgica maior e com + conforto)

Estes avanços tecnológicos levaram à evolução da cirurgia (começando-se a fazer cada vez +
cirurgias com um maior grau de complexidade, com menos complicações e + eficiência).
Menor mortalidade;
Maior especialização dos profissionais e técnicos.
Menor morbilidade
Maior facilidade na realização da cirurgia;
Maior precisão quanto a localização de problemas;
Diagnósticos mais fiáveis;
Anestesia cada vez mais segura;

10.3. Objectivos da cirurgia:


Conservar a vida;
Alterar aspecto externo;
Manter o equilíbrio dinâmico corporal;

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Submeter-se a processos diagnósticos;
Prevenir infecção e favorecer cicatrização;
Restaurar ou reconstruir uma parte/função do corpo;
Proporcionar/obter maior bem-estar.

10.4. Classificação da cirurgia quanto a:

10.4.1. Tipos de Cirurgia:


Convencional: cirurgia clássica/tradicional, em que o doente é aberto para o processo cirúrgico ser
executado. O doente pode sentir + dores no pós-operatório e ter uma recuperação + lenta.
Endoscópica: efectuada com endoscópios de fibra óptica, não requerendo as incisões tradicionais
ou extensas. Os endoscópios podem ser inseridos nas aberturas naturais do corpo ou através de incisões
feitas, que também permitem a passagem de instrumentos cirúrgicos. Pode ser realizada em ambulatório
ou com internamento hospitalar curto (o doente pode sair no prazo de 24 horas), as dores no pós-
operatório são reduzidas e é muito + conservadora e menos invasiva.

10.4.2. Localização:
Externa: acessibilidade limitada à pele e tecidos subjacentes, não havendo penetração no
organismo (ex: remoção de um sinal)

Interna: implica penetração no organismo e logo um maior risco (ex: apendicectomia) (maior risco).

10.4.3. Extensão ou Âmbito:


Cirurgia menor ou pequena cirurgia: cirurgia simples que implica risco para a vida praticamente
nulo. Não ocorre necessariamente no BO e pode não necessitar anestesia geral (apenas local) (cirurgia de
ambulatório).
Cirurgia maior ou grande cirurgia: + extensa, implica anestesia geral ou raquianestasia, sendo
tecnicamente + complexa com + risco para o doente (ex: cirurgia cardíaca e intestinal)

10.4.4. Finalidade ou Propósito:


Diagnóstica: permite determinar causa de sintomas ou a origem do problema (ex: biopsia,
laparatomia exploratória – abertura da cavidade para investigar as estruturas em desequilíbrio ou processo
patológico quando se desconhece a causa e, se necessário, imediatamente se inicia a cirurgia)
Curativa: resolve um problema de saúde ou uma situação patológica, removendo o tecido
envolvido (ex: apendicectomia, o problema deixa de existir – apendicite)

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Reparadora: restauração de função ou aspecto de tecidos, para corrigir deformidades, reparar
traumatismos ou melhorar o estado funcional do indivíduo (ex: herniorrafia, osteossíntese)
Paliativa: alívio de sintomas, sem intenção de curar, contribuindo apenas para o bem-estar do
doente. Aplicam-se a doenças oncológicas e terminais para diminuir dor, diminuir oclusão intestinal, etc.
(ex: colostomia)
Estética: melhora a aparência e aspecto externo do individuo com finalidade de cosmética (ex:
rinoplastia)

a) Pressupostos de Tempo da Cirurgia (em relação à pessoa submetida e não ao órgão):


Electiva: cirurgia programada com o doente, após a comunicação da decisão da necessidade de
cirurgia, segundo um período variável que corresponde ao período do pré-operatório de preparação do
doente para o acto cirúrgico. Representa pouco risco de vida, uma vez que é preparada atempadamente
Urgente: intervenção não planeada, que requer intervenção atempada (tem de ocorrer entre 24
horas a 48 horas no máximo, para não pôr em risco de vida o doente).
Emergente: os procedimentos têm que ser efectuados de imediato, dado que o risco de vida é
eminente; daí que a intervenção tem que ser imediata.

10.5. Nomes dos procedimentos cirúrgicos:


- ectomia: remoção de um órgão ou glândula (ex: gastrectomia - remover o estômago)
- rrafia: sutura (restituir tecidos através de pontos)
- ostomia: prática de abertura entre uma estrutura interna e o exterior do organismo
- otomia: cortar através das diferentes camadas de tecidos até atingir o órgão no qual será
executado o acto cirúrgico (expor o campo cirúrgico)
- plastia: reparação plástica ou tecidular
- scopia: visualizar através do endoscópio

NOTA: Pode ainda ser utilizada outra nomenclatura atribuída ao nome do cirurgião que
desenvolveu a técnica cirúrgica + específica (ex: gasterctomia de Bilreau)

 “Para cuidar o corpo humano, deve-se conhecer o conjunto”. (Hipócrates), isto é, a pessoa deve
ser entendida e atendida numa perspectiva holística, tendo em conta o processo patológico e todas as
outras dimensões do indivíduo.

10.6. Existem vários factores que afectam o doente cirúrgico e a própria cirurgia:

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Anestesia: factor causal de + medo e + assustador, pois é um processo que induz um estado de
inconsciência, desconhecimento e perda do controle do que se está a passar; daí a pessoa ter medo de
não acordar ou mesmo de morrer. Este modo de ver a anestesia depende de experiências anteriores e de
conhecimentos acerca do procedimento;
Tipo de cirurgia;
Gravidade da doença/prognóstico;
Idade: a idade pode ser um factor de risco pelas condições/complicações inerentes (quanto +
idade, + risco cirúrgico) e influência na forma como se vivencia a situação cirúrgica (os + idosos, têm +
medo)
Afastamento de negócios e emprego (pelo internamento);
Separação da família e amigos (pelo internamento);
Personalidade do doente;
Cultura;
Vivências anteriores (próprias ou de pessoas relativamente próximas e cujos relatos influenciam a
situação e o pós-operatório, originam complicações)
NOTA: O internamento estabelece a ruptura com o quotidiano, afecta a integridade pessoal e
pressupõe a adaptação ao local, o que deixa o doente, por vezes, sem apoio familiar, sem horários,
disponibilidade e falta de privacidade.

Quando um individuo se confronta com um processo patológico confronta-se com:


Medo (não só patológico e do diagnóstico, como também do resultado cirúrgico de todo este
processo, da alteração estética e funcionalidade do organismo)
Preocupação
Ansiedade (reacção adaptativa normal ao stress da cirurgia, que ocorre no período pré-operatório,
quando o doente está na expectativa da cirurgia, ou durante experiências do pós-operatório, como dor e
desconforto, alterações na imagem corporal, aumento da dependência, perda de controlo, questões
familiares ou possíveis alterações no estilo de vida)

Tudo isto causa influências recíprocas (origina +/- medo) na forma como o doente e família
encaram todo o estado de saúde e, perante o processo cirúrgico, há eu desmistificar certos
conceitos/pressupostos presentes.

10.7. Efeitos no paciente:


A cirurgia é sempre uma ameaça real ou potencial à integridade da pessoa. A pessoa sente a sua
integridade ser posta em causa, o que é gerador de medos e ansiedade
Pode produzir reacções de stress fisiológico (directamente relacionada com extensão da cirurgia)
ou psicológico (não directamente relacionadas com a extensão da cirurgia, mas pelo medo e ansiedade

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pelo desconhecido, adaptação ao ambiente por horários e espaços novos). Estas 2 reacções podem existir
em consonância (equilíbrio dos 2) ou predominância de um ou outro (fisiológico/psicológico)

11. PRÉ-OPERATÓRIO:

O período pré-operatório destina-se à preparação do doente para a entrada no bloco operatório


nas melhores condições possíveis (psicológicas, físicas, …). Em termos práticos começa quando o doente
é internado, sendo que quanto melhor o doente for para a cirurgia, menor o risco que corre e menor o risco
de complicações.
Isto é, pretende-se:
Melhor condição física e psicossocial possível
Iniciar esforços para eliminar ou reduzir o desconforto (medo/ansiedade) e complicações pós-
operatórias (deficiência imunológica, …).

NOTA: As necessidades espirituais são também importantes (dão sentido à vida e à morte),
devendo dar-se resposta às necessidades do doente tendo ele religião ou não.

11.1. Aspectos legais (respeitar os direitos do doente)


Um acto invasivo requer determinados aspectos legais e de responsabilidade, contudo, o direito do
doente à autodeterminação, no que respeita à intervenção cirúrgica, está protegido pelo processo do
consentimento informado. Antes da cirurgia, o doente é solicitado a assinar uma declaração em como
consente no procedimento operatório, isto é, entende e aceita, de forma informada, o acto cirúrgico. O
consentimento implica que o doente terá sido devidamente informado quanto à

Natureza do procedimento que se vai executar;


Opções disponíveis;
Riscos associados a cada opção e consequências conhecidas/possíveis

O médico é responsável legal pela obtenção do consentimento informado, uma vez que é este
quem faz o diagnostico e apresenta o procedimento a implementar). Ao enfermeiro cabe a
responsabilidade de confirmar se a decisão terá sido uma decisão informada, isto é, deve dar continuidade
à situação, esclarecendo dúvidas e encaminhando o doente/família para este esclarecimento.

NOTA: Qualquer doente que seja submetido a uma cirurgia invasiva deve assinar o consentimento
informado.

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11.2. Avaliação do doente
A avaliação do doente permite e facilita os cuidados de enfermagem ao longo de todo o processo.
Inicia-se, no período pré-operatório, pelo contacto inicial entre o doente e enfermeiro, e continua por todo
este período. O 1º contacto é muito importante, para deixar o doente à vontade (em termos de espaço,
etc.) mas também na relação de confiança enfermeiro-utente. Deve ser uma avaliação holística a reflectir
as necessidades fisiológicas, psicológicas, espirituais e sociais, do doente e da sua família ou pessoas
significativas.
A Avaliação Inicial de Enfermagem, através da História Clínica de Enfermagem (HCE), deve
incidir sobre os aspectos relativos ao indivíduo sobretudo o padrão alimentar e de eliminação, patologia
associada, medicação, antecedentes cirúrgicos, de saúde e alérgicos, conhecer a existência de próteses,
etc. Deve-se também ter em conta a resposta individual, no que diz respeito às expectativas, medos,
ansiedade, forma de lidar com a dor e stress, que é variável de caso para caso. Há que conhecer ainda as
pessoas significativas para o doente (ter registos telefónicos dessas pessoa), a sua etnia e factores
culturais.

11.2.1. Conhecimento do doente (altura do internamento):


Informação sobre a situação (o que o doente sabe acerca da situação);
Perceber quais as dúvidas do doente (qual o tipo de cirurgia, implicações, …);
Informação sobre as sensações/incómodos no pós-operatório e quais os métodos para evitar este
desconforto;
Informação acerca da participação esperada (adesão ao levante e mobilidade precoce, ensino sobre
a avaliação da dor e avaliação dos medos);
Apoio psicossocial, que ire permitir encontrar os medos e ansiedades. Quanto melhor estiver o
doente emocionalmente, melhor decorrerá o período pós-operatório e intervenção. Há também que ter em
conta as necessidades de apoio da assistente social (por condições sócio-familiares diagnosticadas no
momento, alteração corporal ou apoios fiscais/sociais atribuídos pela doença em causa);
Treino de habilidades (treino da tosse, mobilização dos membros inferiores e membros superiores),
isto é, tudo o que faz parte do processo terapêutico e adaptação da pessoa.

IMPORTANTE: Saber os conhecimentos que o doente tem antes de dizer seja o que for (o doente
pode não conhecer o diagnóstico). Se for o caso de o doente não saber qual o seu diagnóstico, a
responsabilidade de informar o doente sobre esse diagnóstico não é do enfermeiro isoladamente. É do
médico e o enfermeiro pode cooperar.

11.2.2. Situação Psicológica


Ansiedade;

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Preocupações e medos (e quais as suas causas), sendo necessário todos os esforços para os
diminuir, pois estes níveis diminuem a resposta imunológica e fisiológica que permitem a recuperação;
Diagnosticar métodos de conforto habituais que o doente tenha e estimular outros (ser criativo) (ex:
musicoterapia);
Crenças culturais e religiosas e o seu significado para o doente, pois estas podem influenciar, por
exemplo, a alimentação, devendo por isso registar essas variantes a fim de se dar ao doente a comida que
ele pode comer e de acordo com a sua religião; ou então não o doente pode não comer por não gostar da
comida e aí devemos procurar saber quais os alimentos que o doente prefere)
Identificar rede de apoio familiar ou outro e relações, e envolver a pessoa significativa no processo
terapêutico (se o utente está num lar, o lar é o responsável pelo cuidado ao doente, bem como família se
ele a tiver).

IMPORTANTE: É necessária uma postura comunicacional adequada, dando espaço e tempo à


pessoa, colocar questões de forma simples e com linguagem adequada, repetir em caso de dúvida, não
julgar, demonstrar disponibilidade, dar atenção não só à linguagem verbal como corporal do doente e
controlar a do enfermeiro, demonstrar compreensão e respeito pela individualidade do doente à luz daquilo
que ele acredita e não no que o enfermeiro pensa.

NOTA: A avaliação é tudo aquilo que o doente diz e não o que pensamos que ele tem (ele pode
estar ansioso não porque vai ser submetido a uma cirurgia mas porque deixou os filhos sozinhos).
Devemos tentar compreender o motivo dos sentimentos que o cliente apresenta, e não devemos, por isso,
fazer juízos de valor quanto aos sentimentos manifestados.

11.2.3. Factores de Risco


Idade: factor de risco pelo declínio físico (+ associado a doenças crónicas). No entanto, não é uma
contra-indicação/complicação cirúrgica, mas apenas um factor de risco que pode afectar os resultados
cirúrgicos e pós-operatórios.
Estado nutricional e equilíbrio hidro-electrólitico (o peso do doente, IMC, hidratação ou não), pois
pessoas obesas/desidratadas têm um risco aumentado e são + susceptíveis à infecção e uma menor
capacidade de cicatricial. Se houver alterações nestes níveis, estes devem ser tratados antes da cirurgia.
Antecedentes patológicos (diagnosticar todas as doenças associadas, mas sobretudo):
 Alteração do tracto respiratório, devido à utilização de anestésicos que fazem aumentar as
secreções brônquicas ou a medicação utilizada face a alterações respiratórias colaterais, de
modo a diminuir essas mesmas alterações
 Alterações cardiovasculares (HTA, angina de peito, antecedentes de EAM ou AVC – devem
ser registados)

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 Alterações da função renal (equilíbrio hidro-electrolítico, eliminação de tóxicos dos
medicamentos anestésicos) e da função hepática (metabolização dos fármacos é feita no
fígado)
 Patologia associada (diabetes, alergias – se existem e a quê, a fármacos, nomeadamente a
antibióticos, látex, adesivos, soluções de lavagem ou a alimentares, como é o caso do
marisco, que pressupõe alergia a iodo, dai ter que se ter em conta o uso de medicamentos
com iodo).
Consumo de tabaco (nº de cigarros/dia, há quantos anos é fumador – afecta a função respiratória)
Consumo de álcool (determinar a quantidade de álcool ingerida e fazer um síndrome de
abstinência, pois o álcool acarreta alteração da função renal e da função hepática que são essenciais para
a excreção de fármacos)
Consumo de drogas, pois implica uma maior necessidade e quantidade de anestésicos, no período
pré-operatório e no controlo da dor)
Fármacos em curso (saber quais os fármacos que o doente faz em domicilio, pois certos fármacos
têm que ser retirados ou substituídos antes da cirurgia, por potenciarem complicações na cirurgia, outros
podem ser mantidos)

11.3. Preparação pré-operatória:


Existem procedimentos que antecedem o acto técnico, de modo a ser preparado o organismo
consoante a cirurgia a realizar:

Dieta (consoante o tempo de preparação para a cirurgia deve fazer-se uma dieta adequada, de
modo a preparar a intervenção) e pausa alimentar (imprescindível para qualquer acto cirúrgico, pois
representa risco de aspiração). São instituídas consoante o tipo de cirurgia e a hora da intervenção, sendo
da responsabilidade do enfermeiro a informação ao doente/família e, consoante o protocolo do serviço,
para fazer planeamento da pausa alimentar
Preparação do intestino (pode ser prescrita antes da cirurgia do sistema GI ou cirurgia nas regiões
pélvica, perineal e perianal, variando de acordo com o tipo de procedimento cirúrgico a realizar. O
objectivo do enema pré-operatório é prevenir lesão no cólon, reduzir o nº de bactérias intestinais e
proporcionar uma melhor visualização da região cirúrgica. As preparações intestinais incluem laxantes
orais, dietas liquidas simples, enemas e antibióticos orais)
 Utiliza-se microlax para a preparação intestinal no dia da cirurgia (para cirurgias pequenas)
 Enemas – actualmente pouco utilizadas
 Klean – preparação ou sela (mesma coisa mas diferentes marcas), utilizadas para grandes
cirurgias e que envolvam o aparelho gastro-intestinal. Depois de preparação deste pó o
doente deve beber um copo de 15 em 15 min.

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É responsabilidade do enfermeiro vigiar a toma do líquido pelo utente, bem como a sua tolerância.
Este fármaco provoca sucessivas defecações diarreicas sem cólicas e o utente só está preparado quando
as dejecções já são só água.

Preparação da pele (tem como objectivo reduzir o risco de infecção da ferida operatória, removendo
da pele a sujidade e microrganismos, e reduzindo/inibindo o crescimento repetido e rápido de micróbios. A
preparação cutânea é constituída pela tricotomia/depilação da área operatória, que deve ser alargada, o +
próximo possível da hora de entrada no BO e com máquina eléctrica de preferência, de modo a não
provocar escoriações, pois a pele deve estar o + íntegra possível, para evitar o risco de infecção pelo nº de
bactérias presentes. No duche geral, o cabelo deve ser lavado na véspera, e deve utilizar-se um
desinfectante cutâneo adoptado pelo serviço e repetido na manha da cirurgia)
Preparação psicológica (a eminência de uma cirurgia provoca ansiedade, por estar associada a
medo do desconhecido, dor, alteração da imagem corporal, tratamentos alteração na função, perda de
controlo e morte. O enfermeiro é responsável por assistir o doente, a sua família e pessoas significativas
na identificação das fontes de ansiedade e deve tê-los em conta ao planear o suporte psicológico no pré-
operatório. O envolvimento da família no ensino pré-operatório reduz a ansiedade do doente e da família,
com o resultante aumento na satisfação com os cuidados e a maior colaboração do doente nas rotinas)
Avaliação dos Sinais Vitais (irão constituir a base de identificação de alterações significativas
durante os períodos intra e pós-operatório) e do Peso

11.3.1. Intervenções para atingir os resultados esperados:

Apoiar e Informar o cliente (explicar se pode sair do serviço ou não, se pode em que condições; de
que forma pode contactar pessoas amigas ou família, horário de visita, etc)
Explicar procedimentos/ocorrências e sucessão de acontecimentos de forma doseada, obtendo
consentimento informado
Desenvolver acções para ensinar/instruir e treinar:
 Exercícios de respiração profunda (de forma a diminuir a possibilidade de complicações e a
facilitar a cicatrização, pois a inspiração profunda facilita a oxigenação, a remoção do anestésico residual e
previne o colapso alveolar que leva a atelectasia. Se o doente for sujeito a uma cirurgia abdominal alta,
deve-se ensinar o doente a fazer uma respiração torácica profunda, de forma a evitar a acumulação de
secreções causadoras de pneumonias de estase)
 Exercícios com membros inferiores
 Tosse eficaz (pois os anestésicos produzem + secreções e tossir remove essas secreções que
podem obstruir as vias aéreas)

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NOTA: Deve-se ter em conta os hábitos/riscos do doente, daí fazê-lo precocemente. Quanto aos
fumadores, pode ser necessário fazer nebulização com soro fisiológico ou administrar fármacos
broncodilatadores.

Estimular a mobilidade (desconstruir mitos acerca do 1º levante/mobilidade, no sentido da adesão


por parte do doente e explicar os seus benefícios - aumenta a velocidade de corrente sanguínea, ajuda na
cicatrização, promove a circulação respiratória e os movimentos intestinais, … A recuperação das funções
orgânicas é + rápida e o doente torna-se + autónomo e preocupado/incentivado para a sua recuperação).

Objectivo: Prevenir complicações (dor é uma possibilidade de complicação)

Consentimento informado (preenchido, assinado e entendido pelo doente e família)


Avaliação Inicial de Enfermagem (nº de telefone de familiar próximo/pessoa significativa) (o +
completa possível de forma natural e cuidadosa)
Alerta e registo de alergias no processo
Exames complementares de diagnóstico (variam consoante a idade e o estado clínico da pessoa, e
devem acompanhar todo o processo – exames básicos: sangue, bioquímico, hematologia e estudo de
coagulação, análise sumaria da urina; Rx tórax são válidos durante um período de 3 meses. Para
pessoas com + de 40 anos, pode ser necessário ECG, com validade de 6meses e exames imagiológicos,
que são + específicos)
Preparação psicológica e da área operatória
Banho geral (duche) (noite de véspera e manhã após cirurgia com desinfectantes do serviço, banho
com lavagem do cabelo no dia da cirurgia não é banho com desinfectante)
Placa de jejum (informar família e doente que não pode comer nada nem beber água) – assinalar
na cama do doente que está em jejum, dieta nula.
Ensinos devem ser compreendidos e o doente já com capacidade para os realizar

NOTA: Quando acaba a cirurgia até as primeiras 48 h ou 72h o doente deve fazer analgésicos a
horas certas independentemente de sentir dor, depois geralmente só em SOS.

O doente sabe:
Dia e hora da intervenção, o que é e porquê;
Exercícios respiratórios e tosse;
Como mobilizar os membros inferiores (quando e como);
O que vai acontecer durante a convalescença (importância da adesão com a sua participação no
processo terapêutico);

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Previsão da alta (é sempre muito relativa, pois está dependente da existência de complicações.
Quando se conhece esta é penas geral e não definitiva, daí que se deva dar esperanças, mas não
enganando).

11.3.2. Imediatamente Antes da Intervenção:

Está reunido todo o processo (incluindo o consentimento informado, exames complementares de


diagnóstico e registos de alergias, …)
Higiene corporal e oral completa
Retiradas próteses e adornos (lentes de contacto, piercings, verniz das unhas – impede a avaliação
macroscópica de cianose), de modo a diminuir o risco de infecção
Eliminação assegurada (ex: algaliação ou micção normal, de forma a umentar o consforto e a
diminuir o risco de infecção) e preparação intestinal atempada
Avaliação de sinais vitais
Pré-medicão deve estar administrada (heparinas de baixo peso molecular – podem prevenir
acidentes tromboemolíticos; podem ser administradas medicação pré-anestésica para relaxar o doente,
controlar a ansiedade e favorecer a acção anestésica, prescrito pelo anestesista – medida de prevenção)
Acesso venoso (fluidoterapia em curso consoante a prescrição ou protocolo do serviço – soro
glicosado. Os aditivos por principio não acompanham o doente para o BO, só se o médico o determinar)
Registos

NOTA: Nesta altura o doente já deve estar preparado a nível físico (higiene geral corpo) e
psicológico para a intervenção (medos, ansiedades e preocupações que devem estar ao máximo
minimizados ou afastados)

Acompanhar o doente ao BO em cama, permitindo sempre que possível a companhia de um


familiar. Ajudar o doente na transferência para maca do BO.
O enfermeiro ou familiar deve acompanhar o doente sempre que achar necessário (ex: ansioso ou
hemodinamicamente instável), caso contrário é o maqueiro que acompanha o doente.

11.3.3. Preparativos finais antes da Cirurgia

O doente nunca deve levar para os blocos aditivos nos soros, a menos que seja prescrito pelo
médico e na prescrição tem que ser mesmo a dizer que é para levar para o bloco.
Algaliação ou entubação nasogástrica dependendo da cirurgia (actualmente as técnicas + invasivas
são feitas no bloco operatório, mas é necessário ver o protocolo da instituição). Quando não há protocolo
no serviço tem que haver negociações entre os profissionais.

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Quando há necessidade de transfusão sanguínea durante a operação o médico tem que fazer a
requisição e mandá-la para o sistema de sangue com 24h de antecedência. Esse pedido é acompanhado
por uma amostra de sangue para piloto (ADT).
É responsabilidade do enfermeiro registar a reserva de sangue (na tarde da véspera da cirurgia)
Todos os pertences do doente são identificados e guardados
O doente não deve ir com nenhum tipo de adorno (lentes de contacto; brincos; aparelhos auditivos;
ganchos; e ter em atenção as crenças religiosas, na medida em que certas crenças podem levar a
extrema importância de objectos religiosos) ou prótese para o BO, sendo necessário verificar. Se a doente
usar verniz nas unhas ou unhas artificiais, estas deverão ser retiradas e removido o verniz, para avaliação
rigorosa da perfusão capilar e da oximetria de pulso.
Após o banho o doente vai par o BO apenas com uma bata (sem nada por baixo) e acompanhado
por um cobertor (pois vem do BO muito arrefecido) para aquecê-lo rapidamente. Deve levar um resguardo
na cabeceira para o caso de possíveis vómitos.

Preparação intestinal

- Utiliza-se microlax para a preparação intestinal no dia da cirurgia (para cirurgias pequenas)
- Enemas – actualmente pouco utilizadas
- Klean – preparação ou sela (mesma coisa mas diferentes marcas), utilizadas para grandes cirurgias e
que envolvam o aparelho gastro-intestinal. Depois de preparação deste pó o doente deve beber um copo
de 15 em 15 min.

► É responsabilidade do enfermeiro vigiar a toma do líquido pelo utente, bem como a sua tolerância. Este
fármaco provoca sucessivas defecações diarreicas sem cólicas e o utente só está preparado quando as
dejecções já são só água.

 Iornoesteril G– para assegurar equilíbrio electrolítico


 Glucoesteril a 100% - o doente tem que ir puncionado para o bloco e com fluido terapia, normalmente
Glucoesteril 100%.

O doente nunca deve levar para os blocos aditivos nos soros, a menos que seja prescrito pelo médico
e na prescrição tem que ser mesmo a dizer que é para levar para o bloco.

Algaliação ou entubação nasogástrica dependendo da cirurgia (actualmente as técnicas mais invasivas


são feitas no bloco operatório, mas é necessário ver o protocolo da instituição). Quando não há protocolo
no serviço tem que haver negociações entre os profissionais.

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Quando há necessidade de transfusão sanguínea durante a operação o médico tem que fazer a
requisição e mandá-la para o sistema de sangue com 24h de antecedência. Esse pedido é acompanhado
por uma amostra de sangue para piloto (ADT).

É responsabilidade do enfermeiro registar a reserva de sangue (na tarde da véspera da cirurgia)

O doente não deve de ir com nenhum tipo de adorno (lentes de contacto; brincos; aparelhos auditivos;
ganchos; e ter em atenção as crenças religiosas, na medida em que certas crenças podem levar a
extrema importância de objectos religiosos) ou prótese para o BO, sendo necessário verificar. Também
não deve ter unhas pintadas para assim permitir a verificação da oxigenação a camada de verniz podem
interferir no oxímetro.

Vigiar o doente em termos de vestuário e adverti-lo que não vai ter frio nem calor, etc…

11.3.4. Preparação da recepção do doente (na enfermaria, enquanto este se encontra no BO):

Cama feita em barco (lençol de cima, cobertor e colcha) com roupa limpa, cobertor (uma das
complicações que podem surgir no BO é a hipotermia, nas enfermarias pode não ser necessário porque
está muito quente) e um resguardo na cabeceira (para o caso de vómitos)

NOTA: No dia que o doente vai para o bloco as auxiliares devem ser avisadas que devem colocar
roupa da cama limpa para quando este vier do BO.

Unidade o + calma possível e obscurecida (de modo a permitir o repouso do doente) com:
 Material de aspiração oro-traqueal;
 Material para oxigenoterapia (mesmo quando não está prescrito deve estar disponível para o
uso em caso de emergência);
 Termómetro;
 Suporte para sacos colectores e outros sistemas de drenagens e perfusão;
 Espátulas montadas e copo com água (para limpar e humidificar a mucosa oral, de forma a
proporcionar conforto. Deve-se avisar o doente que não pode beber água do copo, mas apenas
humidificar a boca)
 Lenços de papel ou compressas (para limpar a boca e eventuais vómitos).

Após cirurgia:
► Utilizar termómetro e esfignomanómetro consoante as necessidades.

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► Suportes de sacos de drenagem, sistemas de soros devem estar colocados na enfermaria, apostos de
serem utilizados antes do doente chegar à enfermaria.
► A sede é um desconforto do pós-operatório por espátula molhada na mucosa para refrescar.
► Quando o doente sair do bloco a enfermeira deve escurecer o quarto para ele poder repousar e
negociar com os outros utentes, caso esteja numa enfermaria (por exemplo, receber as visitavas na sala
comum se estes andarem bem).
► A oxigenoterapia e aspiração devem estar á mão para uma actuação rápida (material de emergência).
► A avaliação dos sinais vitais deve ser uma prática sistemática, regular dependendo do tipo de cirurgia,
das complicações que podem surgir etc…
► Quando o doente tem que tomar medicamentos via oral pode tomar até duas horas antes da cirurgia
com 10 ml de água.

12. ENFERMEIRO NO BLOCO OPERATÓRIO (INTRA-OPERATÓRIO)

O que é o Bloco Operatório (BO)?

É uma unidade dinâmica complexa, equipada com tecnologia avançada, que permite cirurgias com
a maior segurança possível. Deve permitir em termos arquitectónicos uma organização física adequada e
coordenação das diversas actividades, proporcionando segurança e diminuindo as infecções.
É sempre constituído por diversas salas com diferentes fins, devendo existir vários serviços e salas
de apoio ao BO (esterilizados, …). Existe sempre uma sala do bloco que está reservada para uma
urgência numa instituição.

 Local destinado à prática de intervenções cirúrgicas com o mínimo de risco possível.


 Acessível aos serviços cirúrgicos, unidade de cuidados intensivos e departamentos de serviços
complementares.

No BO existe uma série de dependências que devem permanecer isoladas.


A eficiência depende da organização física e da organização do pessoal.

12.1. Estrutura
O design da área do BO tem em conta as normas de tráfego, controlo da infecção, segurança e
eficiência. As salas são flexíveis e versáteis dispostas tendo em conta a prevenção da infecção:

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Exclusão de contaminação externa por meio de normativa de trânsito dentro do
departamento - a circulação de pessoas e objectos obedece a regras e a circuitos para evitar
contaminações. Assim, não devem entrar pessoas que não estejam relacionadas com a cirurgia, mesmo
que sejam profissionais de saúde. Há que ter em atenção as pessoas que circulam no BO, o material e o
acesso restrito a:

 Salas de operações: são terminais de uma porta, aos quais só acedem pessoas devidamente
vestidas e em caso extremamente necessário;
 Salas estéreis: acesso restrito, sendo que há critérios diferentes para os limpos e sujos;
 Salas limpas: acesso semi-restrito (roupa limpa ou na medicação).

Separação de áreas limpas (restringidas) e áreas contaminadas dentro do mesmo - nenhum


material ou pessoas esterilizadas devem ser deslocados ou deslocar-se por áreas sujas; circuito de
material esterilizado é diferente do circuito do material que já foi contaminado (ex: roupa limpa vs roupa
suja, ferros estéreis vs ferros contaminados).

Salas operatórias, de indução, de apoio, corredores de acesso, salas para pessoal, recobro,
salas de stock de material cirúrgico.

NOTA: Respeitos normativos: há áreas onde se pode entrar com máscaras e outras em que não. A
sala de operações é uma área restringida (com máscara e barrete) e sala de stock é uma área limpa (sem
máscara).

12.1.1. Salas Operatórias (SO)


São flexíveis, não são especializadas e contêm o mínimo de material possível (para facilitar a sua
limpeza e manutenção). São, portanto, versáteis, adequando-se a qualquer tipo de operação.
Superfícies laváveis e uniformes;
Isolamento sonoro e térmico;
Com ar condicionado (único possível porque não há janelas e se houvesse não poderiam ser abertas
por risco de contaminações – humidade 40 a 60 %, temperatura: 18 a 23ºC e regulável sala a sala, de
modo a proporcionar bem-estar aos profissionais e o desenvolvimento bacteriano e infecção reduzido)

Vantagens:
- Menor crescimento microbiano;
- Menor necessidade metabólica do doente a cirurgia;
- Menor cansaço dos profissionais de saúde.

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Sem fios pelo chão;
Com distribuição de gases (cada sala) – para a função respiratória dos doentes e controlo da
infecção;
Portas preferivelmente unidireccionais – usam-se portas de correr para evitar entrada/saída
Piso regular, lavável, anti-estático – chão altamente resistente ao desgaste, com superfície anti-
derrapante (para permitir segurança e prevenir traumatismo do pessoal)
Luz artificial (branca semelhante à luz do dia e deve também ser fria) – não tem janelas.

No fim da cirurgia a sala é completamente limpa e esterilizada.

12.1.2. Mobiliário da Sala Operatória

Deve ser o mínimo possível de modo a limpar e converter a sala rapidamente.


Mesa cirúrgica (possibilidade de diferentes posições, estreita com comando manual ou eléctrico,
rádio-transparente) – onde o doente se deita;
Bisturi eléctrico;
Aparelho de anestesia;
Monitores;
Aparelho de radiologia;
Rede de distribuição de gases;
Fontes de luz (focos cirúrgicos – lâmpadas scialíticas);
Diverso material (negatoscópio, mesas de instrumental).

12.1.3. Organização do Pessoal

A equipa de SO está dividida em categorias com base nas responsabilidades dos seus membros.
Na parte esterilizada em contacto directo com o doente:

Cirurgião Principal (ou que realiza a cirurgia);


Cirurgião Ajudante (ajuda nas técnicas cirúrgicas);
Enfermeiro Instrumentista.

Na parte não esterilizada fazem parte:

Médico e Enfermeiro Anestesista (que estão na cabeceira do doente);


Enfermeiro Circulante (comunica com o exterior);

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Enfermeiro Recobro (cuidados pós-anestésicos);
Pessoal técnico auxiliar (radiologista e auxiliares de limpeza e manutenção, como por exemplo,
levar sangue ao laboratório…)

Estes são responsáveis pela manutenção de uma técnica asséptica, pelo manuseamento dos
artigos e equipamentos não-esterilizados e por fornecerem à equipa artigos esterilizados.

O trabalho em equipa é fundamental para o bom desenrolar da cirurgia e o trabalho em equipa,


sendo objectivo comum o bem-estar do doente.

12.1.4. Vestuário no Bloco Operatório

O vestuário no BO cobre o indivíduo da cabeça aos pés. É constituído por;

Barrete: é colocado desde logo para evitar a contaminação da roupa esterilizada, pelo cabelo ou
pela caspa. Esta deve estar limpa, sem fiapos e cobrir por completo a cabeça, o cabelo e pêlos faciais.
Depois de cobrir o cabelo veste-se o
Blusão/Fato: deve ser de tecido em urdidura estreita, para minimizar a passagem de bactérias;
Calçado: próprio/exclusivo para a circulação no BO. Só deve ser posto no bloco operatório e
dentro das salas são utilizados protectores descartáveis de calçado (para qualquer pessoa que entre no
bloco).
Protectores de Calçado: fazem parte do equipamento de protecção pessoal e devem ser
substituídas quando se encontrem rasgados, sujos ou molhados, e retirados ao sair do BO;
Máscara: obrigatória nas zonas restritas do bloco e são necessárias para prevenir contaminação
do ambiente cirúrgico por gotículas provenientes da respiração. Esta deve cobrir totalmente o nariz e a
boca e deve ser presa para evitar ventilação dos lados.
Protecção para a cara e olhos: para diminuição do risco de salpicos de líquidos para as mucosas
da boca, do nariz e dos olhos.

NOTA: Este vestuário não pode sair e voltar a entrar no BO.

Objectivo:
 Evitar a disseminação de microrganismos para o paciente ou para os profissionais envolvidos;
 Proteger o pessoal do doente infectado.

NOTA: O pessoal dentro do BO deve ter unhas curtas e sem verniz, cabelo bem apanhado e não
utilizar adornos.

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12.2. Algumas regras básicas de assepsia cirúrgica

 Pessoal

Pessoal “esterilizado” mantém-se dentro da área esterilizada (cirurgião principal e ajudante e


enfermeiro instrumentista). Usam batas e luvas esterilizadas na que fazem de barreira à passagem de
microrganismos, das mãos e vestuário das pessoas para a ferida cirúrgica;
Reduzida ao mínimo a conservação e os movimentos na sala durante a cirurgia – prevenindo
contaminações;
Pessoas não “esterilizadas” não passam muito perto de áreas ou materiais esterilizados. Só
o pessoal esterilizado deve tocar em áreas esterilizadas e circular nelas;
Elementos “esterilizados” da equipa enfrentam-se assim como aos materiais. Geralmente as
batas estão esterilizadas só na parte da frente, é necessário ter atenção ao posicionamento, não se porem
de lado ou de costas para evitar conspurcação. As pessoas esterilizadas permanecem junto da área
esterilizada e nunca se voltam de costas, sendo que ao mudar de posição, passam costas com costas ou
cara com cara. O cirurgião, o ajudante e o instrumentista estão todos de frente uns para os outros. O
cirurgião num lado e o ajudante e instrumentista do outro. Na ortopedia a bata é toda esterilizada devido
aos vários movimentos que o cirurgião tem de fazer);
As batas da equipa cirúrgica são consideradas esterilizadas na parte da frente desde o
ombro até zona da cintura (nível do campo esterilizado) e as mangas até cerca de 5cm acima do
cotovelo.

NOTA: A equipa cirúrgica mantém-se junto do doente mas não sai.

 Equipamento

No campo esterilizado só podem existir materiais esterilizados, sendo que materiais esterilizados
só contactam com materiais esterilizados;
Mesas cobertas são consideradas esterilizadas apenas na superfície superior (pelo “campo”
espécie de toalha que cobre a mesa);
Manipulação de materiais esterilizados reduzida ao indispensável;
Sem humidade (campo deve ser mantido limpo e sem humidade).

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NOTA: Os pacotes devem ser colocados pelo enfermeiro circulante com a abertura virada para o
instrumentista.
Após ir ao doente, o material é limpo e guardado de forma a não contactar com o material que
ainda não foi ao doente.

Métodos que mantém a Assepsia

Lavagem cirúrgica das mãos - lavagem feita até ao cotovelo; torneira com pedal ou com sensor; a
mão é dividida em 4 lados, começando da ponta dos dedos e vai até 5 cm acima do cotovelo, para a água
escorrer pelo braço; unhas escovadas com uma escova estéril de uso único e depois disto toda a pele
suavemente para não provocar lesões (feita com a mesma escova das unhas). É utilizado desinfectante e
sabão. A secagem das mãos é feita com toalhetes esterilizados ou toalha estéril, no mesmo sentido dos
dedos até ao braço. Utiliza-se creme nas mãos que as lubrificam, facilitando o calçar das luvas e tem
função antibacteriana. A 1ª lavagem do dia deve demorar cerca de 10 minutos e é + rigorosa, as outras
lavagens podem demorar menos. O objectivo é eliminar o máximo possível de microrganismos.
Após a esterilização é a enfermeira circulante que disponibiliza todo o material, uma vez que já não
podem tocar em nada (bata, luvas, cremes).
Vestir bata esterilizada (a enfermeira circulante ajuda a vestir a equipa);
Calçar luvas esterilizadas (não tem talco sendo utilizada um creme para lubrificar, tem acção
bacteriostática e também ajuda a calçar mais facilmente e eliminar as bactérias);
Colocar máscara.

12.3. Função do enfermeiro peri-operatório

Identificar as necessidades físicas e psicológicas do indivíduo, pôr em prática um plano de cuidados


individualizados que coordene as acções de enfermagem, baseado no conhecimento das ciências
humanas e da natureza, a fim de restabelecer ou conservar a saúde e o bem-estar do indivíduo, antes,
durante e após a cirurgia.

Cuidar no BO:

Monitorizar o doente;
Manter um ambiente físico, emocional e psicológico seguro (prevenção da infecção, conforto e apoio
ao doente);
Avaliar a necessidade de cuidados específicos e implementá-los;
Despistar e actuar em complicações;

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Promover a saúde;
Ajudar a recuperação.

NOTA: O enfermeiro do BO deve ser calmo e ter grandes conhecimentos acerca das técnicas e
procedimentos. Deve ter uma acção rápida/eficiente.

Enfermeiro Instrumentista – trabalha na área esterilizada, com cirurgião principal e ajudante

Deve ter conhecimentos básicos de anatomia e fisiologia de interesse para o procedimento cirúrgico
e tem que ter conhecimentos sobre a intervenção em questão;
Fornece os necessários e adequados instrumentos, linhas de incisão e outros artigos ao cirurgião
principal;
Deve ter bons conhecimentos do material e técnicas e passos de cada técnica (cirúrgica e que tipo
de material deve passar mesmo antes de o cirurgião o pedir);
É responsável por preparar a mesa e material para a cirurgia na área esterilizada;
Deve manter o ambiente sereno, calmo e sem ruídos para propiciar o máximo de concentração,
integridade e segurança;
Controlo as hemorragias do doente e os líquidos perdidos;
Mantém a assepsia do campo cirúrgico e verifica se há falhas na técnica asséptica por parte dos
membros da equipa esterilizada;
Deve estar atento ao material utilizado (compressas devem ser contadas antes e depois de irem ao
doente para evitar que se percam em cavidades);
É responsável pela transferência do doente da mesa cirúrgica para a maca depois de efectuado o
penso;
É responsável pela colheita de líquido para biopsia;
É responsável por verificar a funcionalidade do material.

Enfermeiro Circulante (não esterelizado) – mantém a comunicação entre os membros da


equipa e o exterior.

Tem a responsabilidade de criar um ambiente seguro para o doente, gerindo as actividades fora da
área esterilizada e prestando cuidados de enfermagem ao doente;
Antes da administração do anestésico e depois dela, presta apoio emocional ao doente e ajuda a
equipa de anestesia durante o período de indução;
Ajuda o instrumentista na preparação do material;
Fornece o material e equipamento do exterior (produtos e material necessário) aos elementos da
equipa esterilizada;

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Assiste em tudo aquilo que foi necessário à equipa cirúrgica, sendo responsável por garantir que os
procedimentos cirúrgicos são identificados e postos em meio adequado;
Ajuda a transferência do doente para a unidade de cuidados pós-anestésicos, após a cirurgia;
Faz registos relativos à cirurgia, sendo responsável por anotar os cuidados de enfermagem intra-
operatórios;
Comunica as informações relevantes a pessoas que não os enfermeiros na sala de operações (ex:
familiares e outros trabalhadores dos cuidados de saúde).

Enfermeiro de Anestesia – colabora com o anestesista nos procedimentos de indução,


manutenção e recobro da anestesia

A actuação inicia-se junto do utente na consulta pré-anestésica em conjunto com o anestesista, que
se dá no dia antes e cujo objectivo é retirar dúvidas e medos, escolhendo a melhor técnica de anestesia;
É responsável pela recepção do doente no BO. Deve identificar-se pelo nome, sem máscara, ver
processo, verificar próteses e adornos, exames complementares e consentimento informado. Deve
tranquilizar o doente e retirar medos, esclarecendo-o sobre o percurso que vai ser feito no BO;
Verifica se o doente retirou todos os adornos;
Leva o doente para a sala de operações;
Verifica se o doente fez medicação pré-anestésica ou não;
Transporta o doente para a sala e posiciona-o de acordo com o tipo de cirurgia, tendo em conta o
conforto e o alívio de pressões;
É responsável pela preparação dos fármacos que vão ser usadas, colocando-as de forma funcional a
serem administrados sem grandes demoras;
Junto com o anestesista controla alterações ao doente através da avaliação dos sinais vitais;
Colabora na entubação e extubação do doente;
Mantém o doente aquecido;
Mantém a vigilância do doente para evitar complicações e acompanha-o à unidade de recobro.

Enfermeiro de Recobro – vigia a recuperação da consciência e mantém vigilância intensiva


despistando complicações

Monitorização dos sinais vitais;


Despiste de complicações - vigia a recuperação da consciência e mantém vigilância intensiva
(hipoventilação, apneia, obstrução respiratória, náuseas e vómitos);
Atende às necessidades humanas do doente;
Vigilância contínua e intensiva do doente, até o anestesista lhe dar alta para a enfermaria.

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12.3.1. Doente – Complicações pós-operatório

 O doente pode esquecer-se de respirar;


 Dispneia;
 Hemorragias; hipotermia;
 Alterações cardiovasculares (arritmias; hipertensão; hipotensão…)

O doente só abandona a unidade de cuidados pós-anestésicos quando o anestesista da alta de


acordo com vários critérios (consciência, respiração…)

Nesse caso o enfermeiro de recobro transfere o doente para a unidade de internamento de onde veio ou
onde vai ser internado

12.4. Medicação pré-anestésica


Prescrita na visita pré-anestésica na véspera da cirurgia pelo anestesista e enfermeiro de anestesia.

Objectivo:
Tranquilizar (diminuir a ansiedade) e sedar o doente;
Proporcionar analgesia no qual o doente tem dor presente (narcóticos) ou quando se prevê a
práticas de técnicas invasivas antes da anestesia;
Prevenir náuseas, vómitos, tosse, diminuição das secreções brônquicas.

A medicação pré-anestésica é muito útil para:

Sedar o paciente e reduzir a ansiedade – este tipo de medicação (sedativos, hipnóticos) deve ser
prescrita na visita pré-anestásica, e se isto não aconteceu, é sedado à entrada do bloco;
Analgesia – quando existe dor no pré-operatório, quando está prevista ainda com o utente
consciente ou aquando da realização de técnicas invasivas (opióides, narcóticos);
Indução mais suave;
Redução da quantidade de drogas necessárias à anestesia;
Diminuição de reflexos indesejáveis – através de fármacos que inibem as náuseas, vómitos, tosse,
secreções, espasmos… Há que considerar que quando há medicação prescrita para dar na enfermaria
devemos ter em conta que a endovenosa deve ser dada no dia e a por via per os deve ser administrada no
dia anterior à noite e na manhã (30 a 90 minutos antes e com 15 a 30 cc de água);
Diminuição das secreções no sistema respiratório e na boca (anticolinérgico);
Inibição das náuseas e vómitos

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12.5. Medicação prescrita:
Relaxantes musculares;
Benzodiazepinas (induzem alguma amnésia e relaxamento muscular);
Narcóticos;
Anti-heméticos (controlam náuseas);
Anti-muscarinicos (diminuição das secreções, previnem alterações cardíacas);
Anti-colinérgicos (previnem as secreções, hipotensão, bradicardia e arritmias)

Este tipo de medicação pode ser prescrita por via oral (deve ser administrada uma quantidade de
água entre 15 a 20 ml), intra-muscular ou intra-venosa (quando o doente está em jejum, mais utilizada no
dia da cirurgia) mas depende sempre da prescrição médica.

NOTA:

Quando a medicação é administrada com efeito sedativo e tranquilizante é no BO.


O doente deve estar completamente preparado, já não deve ter adornos, estar puncionado,
vestido…etc.
Devemos informar o doente de possíveis efeitos da medicação e não se levantar sem ajuda, pois
este tipo de medicamentos altera a consciência do doente.
É preciso ter atenção aos efeitos secundários: obstipação, náuseas e vómitos, depressão
respiratória. O antagonista dos narcóticos é a Naloxona.

 A anestesia é considerada pelos doentes como o maior medo inerente à cirurgia. As maiores
preocupações são não adormecer; não acordar e medo da falta de controlo durante a cirurgia.
A anestesia é decidida pelo anestesista e sempre que possível é negociada com o doente.

12.6. Escolha da anestesia


A escolha da anestesia é influenciada por:
Exigências particulares do cirurgião (prende-se com a destreza e capacidade técnica);
Presença de doenças coexistentes;
Condições fisiológicas do doente (risco anestésico orienta para a escolha da técnica);
Posição do doente durante a cirurgia (se o anestesia tem acesso ou não a cabeça do doente)
Opção do doente (juntamente com o anestesista)

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Condições mentais e psicológicas do doente - idade, personalidade (se pode ou não estar
consciente durante a cirurgia). De acordo com isto, o anestesista pode negociar com o utente a melhor
técnica
Tipo e duração do procedimento cirúrgico
Recuperação no pós-operatório de determinados anestésicos

12.6.1. Tipos de Anestesia

Anestesia Geral (perda de movimentos, consciência e dor);


Anestesia loco-regional (o doente está consciente, mas não sente dor, pois está anestesiado na
região cirúrgica).

NOTA: Dado que um factor que determina o tipo de anestesia é a postura e procedimentos, se o
doente está acordado devemos ter em atenção a forma como nos exprimimos.

 Anestesia Geral

 Estado de inconsciência reversível caracterizada por amnésia, analgesia, depressão dos reflexos
relaxamento muscular (não implica o relaxamento dos músculos respiratórios). Corresponde à depressão
do SNC pela administração de drogas ou agentes inalantes.
Esta pode ser:

Inalatória (AGI) – administração de uma mistura de gases anestésicos (isoflurano; ceboflurano;


protóxido de azoto; entre outros) e oxigénio, directamente aos pulmões, que produzem relaxamento
muscular e amnésia retrógrada. Os gases passam para a circulação pulmonar, são levados ao cérebro e a
outros tecidos orgânicos, e são prontamente eliminados através do sistema respiratório. Estes agentes são
administrados ao doente por máscara facial ou directamente nos pulmões por tubo endotraqueal. Os
agentes inalantes são revertidos quando o agente deixa de ser administrado e com ventilação de oxigénio
a 100%. Não provoca paragem respiratória.

Intravenosa (AGIV) – utiliza exclusivamente fármacos por via endovenosa (barbitúricos, narcóticos,
agentes bloqueadores neuromusculares - miorrelaxantes) que se encontram em perfusão contínua. Estes
conseguem um estado de anestesia seguro, reversível, + rápido e agradável. Os agentes utilizados não
são revertidos rapidamente.

Balanceada (AGB) – combinação das 2 anteriores (AGI e AGIV), para produzir hipnose, analgesia e
relaxamento muscular com um mínimo de perturbações fisiológicas. Cada um dos agentes é administrado

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para um fim específico. Os barbitúricos iv são usados para indução, os anestésicos regionais para
relaxamento muscular e analgesia, e os inalantes (halogéneos) para manutenção. É a + utilizada.

Fases da Anestesia Geral:

 Indução (estado de consciência para inconsciência): desde o início de administração de agentes


anestésico (iv ou inalatórios) até ao paciente estar pronto para a manipulação cirúrgica (posicionamento,
preparação da pele ou para a incisão)

Entubação (o doente pode apresentar tosse, vómito e agitação e dependendo das drogas pode ter
apneia) durante esta fase o doente tem que ser entubado e ventilado (tubo endotraqueal, máscara
laríngea ou em ventilação assistida – técnicas invasivas) Quando a anestesia é inalatória são entubados
nesta fase com oxigénio a 100% para assegurar a via oral dos doentes e evitar os riscos de hipoxia. É
entubado quando apresenta apneia e pára os movimentos oculares.

Vantagens tubos endotraqueais:


- Melhor ventilação;
- Previne o risco de aspiração de secreções;
- Permite um bom controlo ventilatório.

 Manutenção (a partir da entubação): O doente está inconsciente; entubado e inicia-se a cirurgia. A


partir do momento que o doente é entubado começa manutenção do estado anestésico, pelo enfermeiro e
anestesiologista, até ao fim da anestesia. Manter o estado anestésico e níveis anestésicos com agentes
de inalação e medicamentos por via iv. À medida que a cirurgia se vai aproximando do fim, vão diminuindo
medicamentos e são administrados antagónicos. O anestesista pode alterar a profundidade da anestesia
sempre que necessário.

 Emergência/Recuperação: desde que o doente começa a “emergir” da anestesia até estar pronto
para sair da SÓ. Durante este período tem lugar a extubação e o doente é estimulado a respirar
normalmente. Tem de haver um balanceamento entre a retirada do tubo e a capacidade ventilatória do
doente. São administradas drogas antagonistas das administradas inicialmente, o que faz o doente
começar a reagir. Monitorização de todos os sinais vitais (oximetria, pulsação, gasimetria – pH, CO2, O2 -,
diurese horária, pressão venosa central, temperatura rectal ou esofágica, monitorização respiratória).
Potenciais complicações, nesta fase, são os laringospasmo, o vómito, respirações espontâneas lentas, e
movimento reflexo descontrolado.
O doente vai recuperando os reflexos, retoma o tónus muscular a consciência gradualmente. O
doente é transferido para a unidade de cuidados pós-anestésicos.

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 Anestesia Loco-regional (doente acordado)

 Bloqueio de forma reversível, da produção e condução de impulsos nervosos, impedindo a


percepção de estímulos tácteis e/ou motores. Perda temporária de sensibilidade numa determinada área
do corpo, pela acção de anestésicos locais. Não provocam inconsciência.
Os tipos de anestesia loco-regional são:

Infiltração local: anestesia/infiltração numa pequena região/zona a intervir

Lidocaína 1 a 2% anestesia de 1 a 2 horas; bupivacaína a 0,5% que permite anestesia de 5 a 7


horas.

Tópica (colírios, geralmente oftalmológica)

Troncular (anestesias de nervo periféricos, a área anestesiada é maior e a anestesia é + profunda –


ex: dentista, unha encravada)
Raquidiana: é induzida com a introdução anestésica de fármacos no líquido cefalorraquidiano no
espaço subaracnóide e em que a punção é feita na zona lombar (abaixo de L2), na dura-máter. Provoca
bloqueio sensorial e motor reversível, levando à inibição da actividade motora e sensitiva. A zona
anestesiada depende da concentração e densidade do produto. O anestésico a administrar pode ser
isobórico (tem a mesma densidade do LCR), hiperbárico (+ pesado que o LCR) e hipobárico (+ leves que o
LCR). É geralmente administrada em procedimentos cirúrgicos executados no baixo abdómen, região
inguinal, períneo ou nos membros inferiores.
O posicionamento é um aspecto importante a ter em conta porque interfere na maior subida ou
descida do anestésico. Com o doente deitado de lado em posição fetal ou sentado, é injectado o
anestésico local para o líquido cefalorraquidiano no espaço subaracnóide. Depois da injecção do agente
anestésico, tem início a anestesia do local, quase de imediato.

Intravenosa: administração de agentes anestésicos locais no sistema venoso de uma extremidade


muito vascularizada. Utilizada para cirurgias em membros, no qual é diminuída ao máximo a circulação, o
membro é garrotado (30 minutos) e depois é desgarrotado lentamente. O inicio da anestesia é rápido e
tem um tempo de recobro curto.

Bloqueio do plexo: anestesia a nível do plexo nervoso, atinge maior área corporal. É utilizada para
interferir nas transmissões sensório-motoras ou do sistema simpático.

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Epidural: injecção de anestésico no espaço epidural, em que a principal indicação é a analgesia.
Não há punção da dura-máter, sendo a anestesia conseguida por contacto directo. Há disseminação
vascular pelos buracos intravertrebais mas não há contacto com o LCR. Provoca analgesia com perda
sensitiva, mas não induz perda da função motora. É utilizada em procedimentos abdominais e ortopédicos.
Este tipo de anestesia requer doses maiores de anestésicos locais, tem um início + lento e não esta
dependente da posição do doente para o nível da anestesia. O cateter só fica no máximo 72 horas, pois
ficando + tempo acarreta riscos de infecção.

Precisam de cuidados subsequentes: na epidural pode fazer-se levantes 6 horas depois; na


raquianestesia deve fazer-se repouso 48 horas com a cabeça baixa (para prevenir cefaleias). Vigia-se o
local da punção para despistar perdas de lipor; avaliam-se os sinais vitais em ambas continuamente
durante o procedimento e até fazer 1 hora após a administração.
A Morfina por epidural deve ter um valor de referência, pois se o doente é hipotenso a morfina
agrava a hipotensão. As hipotensões combatem-se com a introdução intravenosa do antagonista dos
narcóticos que é a Naloxona.
Outras complicações possíveis são a retenção urinária (estar atento à eliminação do utente
especialmente se não tiver algaliado); cefaleias (que se tratam com repouso; hidratação endovenosa ou
fármacos) e depressão respiratória (é efeito dos narcóticos; trata-se com o antagonista).

 Vantagens da Anestesia Loco-regional:


Simplicidade – custo razoável; indução fácil; menos invasiva que a anestesia geral; equipamento
mínimo requerido; menores cuidados requeridos no pós-operatório; menos efeitos sistémicos em funções
orgânicas;
São evitados os efeitos adversos da anestesia geral – diminuição náuseas e vómitos;
Pode ser usada em inúmeros doentes, em circunstâncias onde esteja contra-indicada a anestesia
geral.

 Desvantagens:
Falta de aceitação por parte do doente – medo do doente de estar acordado durante a intervenção;
Impraticabilidade de se anestesiar certas regiões do corpo;
Duração insuficiente da anestesia – medo do doente de que o anestésicos perca a sua acção,
prematuramente;
A rápida absorção do agente, na circulação, pode levar a paragem cardíaca.

12.7. Instrumental

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Material de corte (bisturi eléctrico; bisturi, com diferentes tamanhos, curvas, rectas, seleccionados
de acordo com a cirurgia …);
Material de dissecação (tesouras, pinças, …): para corte, separação e dissecação de tecidos);
Material de hemostase: apertar pontas cortadas do vaso enquanto se vão dissecando os tecidos,
para controlar a hemostase;
Material de preensão: todo o tipo de pinças que serve para segurar tecidos e é também utilizado
para segurar o campo cirúrgico – panos esterilizados que se colocam à volta do campo que vai ser
intervencionado);
Material de separação ou afastamento: afastadores que têm por objectivo afastarem tecidos
próximos (permite melhor visualização) e separar tecidos em que se vai intervir;
Material específico: existem caixas com material específico para cirurgias específicas, por
exemplo, material para cirurgia vascular é diferente do material para uma cirurgia ao nível do estômago.

NOTA: O enfermeiro instrumentista e circulante são responsáveis pela preparação do material.

12.8. Sutura

Objectivos:
Promover a reparação de tecidos;
Evitar complicações, tais como hemorragia ou infecções.

Numa Sutura são necessários:


Porta agulhas (pinça de argolas);
Agulhas;
Agrafos (colocam-se com uma máquina própria, com maior rapidez na sua colocação e mais
uniforme, têm um melhor resultado estético, pouca reacção inflamatória e menor probabilidade de
infecção, provocam menos pressão e tensão e retiram-se ao 7º dia, habitualmente retira-se no 1º dia
alternadamente e no dia seguinte ou dali a 2 dias os restantes).
Fios de sutura: normalmente têm acopladas as agulhas. Os fios podem ser:

 Absorvíveis: estão sujeitos à digestão enzimática e hidrólise. Vão ser absorvidos durante a
cicatrização e são utilizados nos tecidos internos (músculos, …). Escolhe-se de acordo com o
tecido que demores + tempo a suturar.
 Catgut plain (5 a 10 dias) ;
 Catgut crómico (até 21 dias);
 Ácido poliglicólico (2-3 semanas).

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 Não absorvíveis: são utilizados em pele ou também se podem utilizar os agrafos
 Monofilamentares (Nylon, Propilene) – retirados após o 11º dia; absorvem menos
líquido que os de seda (multifilamentares);
 Multiflamentares (sedas) – não ficam tanto tempo na pele; são retirados, tal como os
agrafos, ao 5º ou 6ºdia.

 Com agulha (lanceolada, redonda, de fígado): a utilização de agulhas depende da localização:


as agulhas lanceoladas são usadas para suturar pele – perfuram e cortam a pele; as agulhas de pontas
biseladas são, por exemplo, utilizadas para suturar o intestino ou músculos; agulhas de ponta romba ou
atraumática são utilizadas para suturar tecidos delicados ou que sangrem facilmente, como, por exemplo,
o fígado. Há diferentes tipos de agulhas para diferentes tipos de fios: agulha redonda para tecidos
delicados e agulhas de fígado que são específicas para suturar o fígado porque é muito sensível.

 Sem agulha

NOTA: Os fios medem-se em relação ao seu diâmetro em unidades USP e em zeros. Quanto +
zeros tiver, + fino ele é (sendo o zero o + grosso e quanto mais zeros + fino é o fio).
Os mais utilizados em cirurgia geral são os fios 0 e 4-0; nas cirurgias estéticas usam-se os 11-0.

13. PÓS-OPERATÓRIO:
O período pós-operatório inicia-se com a transferência do doente da sala de operações para a
unidade pós-operatória adequada e termina com a alta do doente da instituição cirúrgica ou hospital. Os
cuidados de enfermagem, no período pós-operatório, estão focalizados no retorno do doente a um nível de
funcionamento óptimo e tão rápido quanto possível.

13.1. Objectivo das intervenções de enfermagem:


Prevenir desconforto e complicações;
Desenvolver todas as intervenções que possibilitem e permitam o regresso do doente a um nível
óptimo de funcionamento, tão rápido quanto possível.

13.2. Competências do enfermeiro no pós-operatório:


Bons conhecimentos técnico-científicos;
Intervir rápida e precocemente;
Ser calmo;
Ser rápido na tomada de decisão;
Deve ser bom observador;
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Deve ser considerar o indivíduo, individualmente, mas integrado na família.

13.3. Avaliação do doente no bloco operatório


O enfermeiro que faz a transferência do doente do BO para o serviço deverá observar o utente
quanto a:
Cor de pele;
Estado de consciência e capacidade de resposta;
Movimentos respiratórios;
Diurese (que tipo de perda de fluidos);
Perfusões;
Tipos e estado de feridas/pensos (características);
Estado de conforto (fez ou não analgesia).

… e colher dados sobre:

Motivo de cirurgia;
Tipo de cirurgia mesmo conhecendo o utente (situação de urgência ou emergência);
Tipo de anestesia (determina a vigilância no pós-operatório - reacção do doente durante a operação,
como foi a recuperação anestésica, de que forma o utente recuperou dela, …);
Evolução do doente durante a cirurgia (complicações/estabilidade);
Recuperação pós anestésica (houve ou não complicações)
Complicações ocorridas durante a cirurgia e intervenções médicas e de enfermagem (forma como o
doente recuperou das complicações);
Perdas de líquidos e reposição de sangue
Hora do último analgésico
Estado do doente no período de recobro

13.4. Avaliação inicial


Falando com o doente quando sai do BO pode-se obter informações importantes acerca do
estado de consciência e do estado geral do doente (frio, sede, dor, etc.)

Estado Respiratório: estado das vias respiratórias, respiração e ruído (não só relativamente aos
ciclos mas também à qualidade da respiração).
As complicações respiratórias são aquelas que no pós-operatório têm a maior taxa de morbilidade
e de mortalidade. Por esta razão é MUITO IMPORTANTE a monitorização e a vigilância constantes.

Estado Circulatório: avaliar Sinais Vitais (P, TA, T), coloração e temperatura da pele.

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Requer a monitorização sistemática pelo menos durante as 2 primeiras horas do pós-operatório (os SV
são monitorizados de 15 em 15 min ou de 1 em 1hora, dependendo do tipo de cirurgia).

Estado Neurológico: nível de consciência, capacidade para mover as extremidades, capacidade


para se movimentar e iniciar movimentos, e assimilar regras simples (tendo em conta o tipo de anestesia a
que o doente foi submetido

Vigiar o penso operatório: Sistemas de drenagem, e características da drenagem. Há risco de


hemorragia nas 1as horas quer pela ferida quer pelos drenos, daí ser muito importante vigiar quer um quer
outro:
 Drenos: monitorizar constantemente os drenos, saber qual o tipo de dreno e se houver
drenagem hemática, instalada de um momento para o outro, notificar o médico. Deve-se fazer o registo
cuidado da quantidade e tipo de drenagem.
 Penso: é importante observar o penso, interpretando-o, para despistar precocemente
complicações.
É também importante ter em conta o tipo e localização das feridas e vigiar hemorragias da ferida
operatória. Atenção que nas feridas cirúrgicas abertas, em que há drenagem ou hemorragia, deve-se
mudar o penso, mas as 1as compressas não devem ser retiradas, pois está a formar-se um coágulo
importante para a hemostase e cicatrização. Devem ser reforçadas, fazendo um penso compressivo. Caso
não se consiga controlar desta forma a hemorragia com o penso compressivo, deve-se avisar o médico,
pois pode ser algum vaso não acessível externamente (é necessário que o médico o laqueie).

Comodidade/Conforto: dor (é responsável por muitas complicações respiratórias no pós-


operatório), náuseas, vómito (tratar estes sintomas), posição cómoda para o estado do doente, que facilite
a ventilação e com expansão torácica adequada (posição de fowler ou semi-fowler é sempre muito
confortável e permite ventilar melhor, principalmente, no caso de uma cirurgia digestiva alta).

Segurança: grades laterais almofadadas, campainha ao alcance do doente (do lado em que o
doente se movimente melhor), resguardo (porque o doente pode vomitar).

Colocar e verificar equipamento necessário à monitorização do doente e mantê-lo em


funcionamento: monitores, sistemas de fluidoterapia (e com débitos correctos), sistemas de drenagem
conectados e em funcionamento, compressas, kit de oxigénio, kit de aspiração – todo o equipamento
necessário no pós-operatório deve estar já preparado quando o doente entra na enfermaria.

NOTA: Os doentes têm muita sede no pós-operatório imediato, mas não podem beber líquidos.
Para aliviar esta sensação pode-se molhar a mucosa oral com espátulas humedecidas ou bochechar com
tantum verde. Deve fazer-se este ensino ao doente e à família.

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Dados Subjectivos (colhidos junto do doente):
Como se sente o doente;
Se apresenta dor, qual a sua localização e intensidade;
Tem frio/calor;
Se a posição em que está é confortável (permitir o maior conforto possível e promover o repouso)

Dados objectivos:

Estado respiratório – Monitorizar/vigiar:


 Ruídos – podem indiciar obstrução ou secreções (daí ser importante ensinar o utente a fazer
tosse eficaz - pode ocorrer apneia se isto não acontecer)
 Hiperventilação – devido a ansiedade, má posição, ligadura apertada ou penso demasiado
compressivo, dor, dilatação gástrica (deve ser verificado se não estiver entubado nasogastricamente ou
caso esteja verificar a sonda)
 Hipoventilação – anestésicos (se faz morfina ou outro fármaco que induzam a capacidade
respiratória; o doente pode estar em apneia)

Estado circulatório – Monitorizar sistemática e regularmente, pelo menos nas 1 as 2horas,


considerando o tipo e o local da cirurgia:
 Taquicardia (Pulso ) – choque, hemorragia, hipoventilação, dor, ansiedade;
 Bradicardia (Pulso ) – indicativa de arritmia cardíaca;
 Hipertensão (TA ) – dor, bexiga distendida, ansiedade
 Hipotensão (TA ) – manuseamento cirúrgico elevado, dor, hemorragia, choque hipovolémico e
perdas maiores de líquidos

Temperatura
 Hipertermia (T ) – reacção de stress ou foco de infecção
 Hipotermia (T ) – ambiente frio, devido à exposição do doente durante a cirurgia ou à perda de
líquidos. Deve-se aquecer o doente rapidamente, através da utilização de cobertores, aplicação de
cobertura no corpo do doente, administração de soluções iv aquecidas ou elevação da temperatura
ambiente

Nível de consciência vai sempre melhorando após a cirurgia

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 Comparar com o momento da recepção – quando o doente sai do recobro tem que já estar
consciente, por isso se houver uma diminuição do estado de consciência após, pode indicar choque,
habitualmente hemorrágico.

Ferida operatória
 Hemorragia, drenagens, exsudados, processo de cicatrização  a monitorização tem que ser
constante ao longo de todo o processo de cicatrização

Equilíbrio de líquidos e electrólitos


 Durante a intervenção cirúrgica o doente perde muitos líquidos, por isso é necessário repor o
equilíbrio hidro-electrolítico. A reposição de líquidos tem que ser contínua
 Manutenção dos débitos de perfusão, controlo de perdas, características da drenagem

Coloração da pele e das mucosas (pálido < níveis de albumina; cianose – ventilação
desadequada)

13.5. Intervenções de enfermagem


 Prevenção de complicações e intervenção rápida no sentido de impedir as complicações

 Complicações do Pós-operatório Imediato:


Complicações Respiratórias (são factores de risco da cirurgia abdominal alta, doença respiratória
pré existente – asma, DPCO -, tabagismo, obesidade, grandes cirurgias com duração de 3horas ou +, ter +
de 40 anos de idade, e anestesias em que foram dados relaxantes musculares e opiáceos que deprimem
o centro respiratório)
 Obstrução das vias aéreas – provocada pelo excesso de secreções com origem na nasofaringe
ou na mucosa traqueobrônquica (pode levar a apneia)
 Aspiração de secreções ou vómito
 Hipoventilação – a ventilação é promovida por oxigenoterapia, exercícios respiratórios e
terapêutica respiratória
 Apneia

Complicações Cardiocirculatórias
 Arritmias
 Hipotensão/hipertensão

Hemorragia
Choque

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 Complicações do Pós-operatório Mediato ou Intermédio:

Complicações Respiratórias (quanto melhor o doente respirar e tossir, menor o risco destas
complicações):
 Atlectasias
 Pneumonia
Hemorragia
Distensão gástrica
Íleo paralítico (ocorre em todo o doente operado, situação em que o intestino perde a peristáltase
devido aos anestésicos e à manipulação cirúrgica. Esta situação normalmente reverte até às 36 horas
após a saída do BO.  é importante que o doente faça um levante precoce no leito, ou caso não seja
possível faça uma mobilização no leito. Deve também ser ensinado a fazer a massagem abdominal). O
enfermeiro deve vigiar os movimentos intestinais do doente, vigiar a eliminação de gases e vigiar a 1 a
dejecção.
Retenção urinária – o doente deve urinar nas 1 as 12 horas após a cirurgia se estiver bem
hidratado, se o aporte de líquidos for feito de acordo com o prescrito e se os reflexos estiverem normais. O
enfermeiro deve vigiar a primeira micção.
Infecção da ferida operatória que surge a partir do 3ª ou 4ª dia

 Complicações do Pós-operatório Tardio

Tromboflebite (Trombose Venosa Profunda): desconfiar quando o doente refere dor nos membros
inferiores ou apresenta edema. TVP requer repouso absoluto e hipercoagulação com um menor peso
molecular (aumento da dose de heparina).
Embolia pulmonar – sempre que um doente, após algum tipo de esforço, referir dispneia deve-se
desconfiar de embolia pulmonar mesmo que não apresente sinais. Deve-se deitá-lo, oxigená-lo e chamar
imediatamente o médico.
Deiscência da sutura (sutura que abre): pode ser de novo suturada ou deixar-se que fique aberta
para cicatrizar por 2ª intenção
Evisceração – quando a sutura abrem e ficam expostas as vísceras (é uma situação de
emergência). As vísceras em protrusão são cobertas com um penso húmido em soro fisiológico, colocar o
doente em Fowler baixo e mantê-lo em repouso absoluto e notificar o médico. Neste caso procede-se ao
encerramento imediato da ferida com anestesia local ou geral.

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Eventração – quando as suturas internas se abrem mas as exteriores (cutâneas) mantém-se
fechadas. Pode exteriorizar-se uma pequena porção de víscera ou uma porção maior. Geralmente é
acompanhada por uma drenagem maciça com um líquido rosado.
Luto Disfuncional – é uma complicação que pode demorar muito tempo, por alteração da imagem
corporal e que tem repercussões significativas na auto-imagem.

Intervenções de Enfermagem:

Estimulação da respiração adequada – para manutenção da ventilação pulmonar adequada, de


modo a prevenir hipoxemia e hipercapnia.
 Ensinar a tossir e a eliminar secreções;
 Promover respiração profunda e boa expansão pulmonar;
 Estimular a deambulação e o posicionamento adequado;
 Administrar O2 e fármacos para reversão dos efeitos anestésicos.

Optimizar a função circulatória – é importante uma circulação adequada que proporcione a


devida oxigenação a todos os tecidos, especialmente ao tecido traumatizado, para ajudar no processo de
cicatrização.
 Assim que o doente demonstre capacidade para ficar em posição direita, sem alterações
ortostáticas ou sincope, vai-se avançando na actividade conforme for sendo tolerada;
 Fazer exercícios com as pernas, até o doente poder deambular adequadamente, pelo menos de
2 em 2 horas;
 Assegurar eu a dor está sob controlo, de forma a aumentar a colaboração do doente na
deambulação pós-operatória;
 Promover o levante e mobilidade precoce, e estimular o doente a caminhar/deambular, logo nos
os
1 momentos do pós-operatório, pois pode reduzir o risco e a gravidade de complicações
cardiovasculares, pulmonares, gastrointestinais e urinárias.

Manter o equilíbrio hidroelectrolítico – a quantidade exacta e o tipo d e liquido administrado


dependem do procedimento cirúrgico, da idade do doente, peso, área de superfície corporal, situação no
pré-operatório, evolução intra-operatória, reacção individual e stress.
 Deve fazer-se um controle sistemático e atento das perfusões quer pela observação do estado
da pele e das mucosas, quer pela vigilância dos drenos e das perdas;
 Fazer aporte de líquidos endovenoso adequado e conforme a prescrição, para garantir uma
reposição correcta e prevenir sobrecarga;
 Medir e controlar a eliminação, especialmente o débito urinário;

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 Dar início à administração oral de líquidos, assim que os ruídos aéreos forem positivos e
estiverem de novo presentes os reflexos de tosse e vómitos. 1º o doente deve beber em pequenos goles.

Manter comodidade, incentivar a alternar o repouso e actividade – o doente fica


completamente dependente até ao 1 o levante que é feito de acordo com o tipo de cirurgia (pode ir de 6 a
24 horas). Doentes com cirurgia abdominal têm tendência a andar corcunvados, daí dever-se ensiná-los a
não fazer demasiada pressão nas suturas. Se se diminuir a dor do levante o doente fica + receptivo.
 Dor: o controlo eficaz da dor começa com uma relação de confiança entre enfermeiro e doente,
sendo benéfico incluir o doente no planeamento de intervenções. Oferecer apoio, objectividade e calma,
ajuda no alívio da dor e aumenta a capacidade de relaxamento do doente. O método + eficaz de controlo
da dor envolve intervenções farmacológicas e não farmacológicas.
 Náuseas e vómito;
 Distensão abdominal – pode ser prevenida pelo levante precoce, pela deambulação e pela
massagem abdominal.

Manter nutrição adequada consoante o tipo de cirurgia – deve-se estar atento à tolerância do
doente à dieta. Os doentes iniciam com dieta líquida e vão progredindo até uma dieta normal.

Manter eliminação urinária e intestinal – Promover bom aporte hídrico, monitorizar diurese, vigiar
a 1a dejecção e micção.
O débito urinário é controlado atentamente depois da cirurgia até se restabelecer a normal função
urinária; sendo que o doente deve urinar nas 1 as 6horas após a cirurgia.
 O débito urinário mínimo deve ser de 30 ml/hora para a manutenção de uma função renal
adequada, sendo o valor desejável de 50 ml/hora. É usual o débito urinário ser inferior à ingestão de
líquidos nas 1as 24horas, devido aos movimentos de líquidos que ocorrem em resposta ao stress da
cirurgia. A densidade da urina também se torna + elevada;
 Quando o débito é reduzido, palpa-se a bexiga para verificar se há distensão, sinal de possível
retenção urinária.
 A micção nos 1os momentos do pós-operatório pode ser facilitada por medidas, tais como
oferecer líquidos, levantar o doente para ir ao WC, oferecer urinol, …
 Se o doente estiver algaliado verificar a quantidade de urina retida no saco colector e prestar os
cuidados necessários à algália.

A 1ª dejecção também faz parte da vigilância, sendo que os anestésicos podem parar o
peristaltismo.
 É necessário desde as 48horas após a cirurgia verificar o globo vesical, pelo aumento de gases
e desconforto, e ansiedade.

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 Estimular o movimento e massagem abdominal, como formas de promover e sua melhora +
rapidamente, pois a mobilização estimula a dejecção.
 Pode ser necessário a administração de laxante em SOS.

Assistir na satisfação das necessidades psicológicas – desenvolver todas as intervenções para


atender o doente nas suas necessidades sociais e espirituais, e promovê-las.
 Orientar o doente em relação ao lugar e tranquilizá-lo;
 Dar informação e explicações correctas sobre a intervenção à família e ao doente, mesmo
parecendo que o doente não está vigil;
 Partilhar informações positivas, usar palavras não stressantes e o toque
 Promover um ambiente tranquilo, ter um objecto que possa contemplas (santo, imagem, …) e
assumir uma posição confortável;
 Reduzir as luzes, proporcionar privacidade e pôr música suave.

Promover a cicatrização da ferida e do penso, e na manutenção de ambas (não deve estar


molhado, sujo ou descolado)

Prevenção de lesões e traumatismo – pôr grande ênfase na segurança do doente, até este estar
totalmente acordado ou ter recuperado toda a sensibilidade, depois de bloqueios regionais:
 O doente inconsciente deve ser protegido contra quedas e lesão/traumatismo em resultado de
posicionamento incorrecto e as grades almofadadas devem ser mantidas elevadas;
 O doente deve ser sujeito a frequentes alterações de decúbitos e com posicionamento do corpo
em alinhamento correcto, para prevenir lesão de nervos e evitar a tensão muscular e articular causadas
por estar em decúbito dorsal muito tempo.
 Áreas suspeitas ou ruborizadas devem ser controladas e tratadas;
 Aplicar apoios almofadados nas saliências/proeminências ósseas;
 A pele exposta a humidade, por sangue ou drenagem de líquido orgânico, deve ser limpa e seca
o + depressa possível. Os pensos devem ser reforçados para poderem absorver os produtos da drenagem

Planear alta para que nesse dia o doente e a pessoa significativa se sintam preparados:
 Ensinar o doente sobre a medicação pós-operatória (dose, frequência, técnicas de
administração, efeitos adversos)
 Explicar cuidados que o doente deve ter com a ferida cirúrgica (não deve molhar o penso);
 Ensinar o tipo de alimentação a fazer, considerando as doenças inerentes à cirurgia associada
(importante na cirurgia digestiva);
 Assegurar a eliminação intestinal/urinária, aconselhando a não ingestão de alimentos flatulentos
e a realização de caminhadas.

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 Informar sobre reinício da sua actividade profissional (depois da cirurgia geralmente há repouso
de 3-4 semanas)
 Ensinar e estimular o doente a evitar esforços durante o período de repouso (varia de 4 a 6
semanas, dependendo da cirurgia, a condução pode estar desaconselhada – principalmente em cirurgia
abdominal baixa)
 Ensinar o doente sobre as novas condições de saúde e sua adaptação, desenvolvendo ao longo
do internamento todas as intervenções que podem inferir melhoria do estado corporal (exemplo, os
doentes ostomizados após a alta já devem estar treinados).
 Ensinar e alertar o doente e a família para sinais e sintomas de eventuais complicações tardias;
 Ensino à pessoa significativa para uma eventual complicação posterior;
 Encaminhar o doente para o enfermeiro de cuidados domiciliários, programa de reabilitação,
grupos de apoio e outros profissionais de saúde, consoante as necessidades individuais do doente.

Ensino ao doente e à família: corresponde basicamente à continuação do que foi ensinado no


pré-operatório, só que as informações poderão ter que ser reforçadas e clarificadas.
 Quando se ensinar procedimentos, a demonstração da técnica poderá esclarecer mal
entendidos que o doente ou familiar possa ter;
 As explicações sobre as razoes do tratamento podem contribuir para melhorar a colaboração do
doente e para a observância das rotinas pós-operatórias

NOTA: Até 48 a 72horas, a dor no pós-operatório deve ser tratada farmacologicamente. As formas
não farmacológicas devem ser associadas e nunca substitutivas das medidas farmacológicas.

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