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Castelo
Escola Superior de Saúde
XIV Curso de Enfermagem
2º Ano / Turma A
2013/2014
Sebenta
Sumário Moodle
1. Introdução à Neurologia. Epidemiologia das doenças neurológicas.
2. Conceitos básicos em Neuroanatomia: Sistema Nervoso Central (SNS) e Sistema
Nervoso Periférico (SNP).
3. Avaliação Neurológica:
Bibliografia aconselhada:
Phipps, W., Sands, J. e Marek, J. Enfermagem Médico-Cirúrgica (vol. I e II). Lusociência: Edições
técnicas e científicas, Lda., 2003.
Groot, J. e Chusid, J. Neuroanatomia (vol. I e II). Guanabara Koogan (21ª ed.), 1998.
Neurologia
1. Introdução
As pessoas com doenças do sistema nervoso precisam de atenção e cuidados especiais, porque estas
doenças podem afectar o que há de mais precioso no comportamento humano. As doenças do Sistema
Nervoso podem afectar:
Pensamento Linguagem Sensibilidade
Memória Emoção Movimento
A disfunção cerebral pode alterar a capacidade de reconhecer e descrever a disfunção, pode causar
acentuadas alterações comportamentais episódicas ou permanentes e ocasionar uma incapacidade
desproporcional à gravidade do processo mórbido. Os utentes e a sua família encontram-se temerosos
dessas condições ao se encontrarem com um médico ou profissional de saúde pela primeira vez,
precisando de uma ajuda hábil e empática por parte dos profissionais que os recebem.
A sociedade nem sempre compreendeu e apoiou os portadores de doenças neurológicas. Pessoas com
epilepsia e atraso mental eram, em épocas passadas, confinadas a instituições e esterilizadas, para
impedir que se reproduzissem. Outras pessoas, que não conseguissem andar, ficavam em casa devido às
barreiras arquitetónicas que os edifícios públicos e transportes ofereciam às cadeiras de rodas.
Estas atitudes quase desapareceram devido a:
1 Avanços na pesquisa biomédica proporcionaram maior conhecimento das causas e consequências das
doenças neurológicas e muitos tratamentos já estão disponíveis.
2 Um rápido aumento do número de neurologistas clínicos tornou mais fácil para mais pessoas o
acesso ao diagnóstico e atendimento especializados.
3 Houve uma notável expansão na educação e apoio à população em relação a pacientes portadores de
doenças neurológicas.
Incidência VS Prevalência
↓ ↓
Casos novos Casos novos + Antigos
Cortex cerebral
Cérebro Telencéfalo (ou massa
(hemistério cinzenta)
direito e
Encéfalo esquerdo) Glânglios de base
Tronco Substância
Cerebral Branca
Diencéfalo Subcortical
Sistema Tálamo
Nervoso
Central Mesencéfalo
Espinhal Hipotálamo
Medula
Cerebelo Ponte Epitálamo
Sistema Nervoso
Bulbo
Subtálamo
Sistema
Nervoso Equilibrio, acções involuntarias
Periférico Nervos Cranianos (12 pares)
Avaliação do Paciente
História Exame Testes Laboratoriais
Definir o Sintoma Abrangente Obtenção de imagens
Determinar o perfil temporal Sumário Eletrofisiologia
Avaliar os factores modificadores Focalizado Sangue e LCR
Fisiopatologia Localização anatómica
Sintomas Positivos: Local: Hemisfério, gânglios da base, tálamo, mesencéfalo,
Aumento da atividade neural tronco cerebral, medula espinhal, nervo, junção
Descargas axonais espontânea, perda da inibição neuromuscular, músculo, ventrículos, LCR, meninges
Sintomas negativos: Alvo: Sistema, célula, membrana, canal, sinapse, molécula.
Perda de actividade neuronal, condução axonal ou transmissão
sináptica.
Processo Patológico
Anatómicos: Genéticos, do desenvolvimento, Metabólicos: Genéticos, Fisiológicos: Convulsões, tremor,
vasculares, neoplásicos, traumáticos, infecciosos, deficiência de substrato, toxinas distonia, drogas.
imunes, degenerativos
↓
Hipótese etiológica
↓
Esquema terapêutico
No final da colheita da história neurológica, o médico deve ter chegado a hipóteses quanto há
localização da lesão, ao perfil temporal dos sintomas e ao tipo básico de processo patológico. Estas
hipóteses continuam provisórias até serem adicionalmente confirmadas durante o exame neurológico e,
se necessário, por investigação laboratorial.
O Exame Neurológico é feito com o objectivo de localizar as lesões nas estruturas neuroanatómicas (que
causam os sinais e sintomas da doença neurológica):
Exame neurológico completo – uma sequência de testes que exploram todas as funções
neurológicas, sendo raramente necessário usar todas as existentes num mesmo utente. Este
pode ser considerado como um conjunto de referências/habilidades a serem usadas
selectivamente em circunstâncias individuais.
Exame neurológico sumário – deve ser usado rápida e eficientemente como parte do exame
geral, com o propósito de assegurar-se que não existem grandes anomalias da função
neurológica. Este é um breve levantamento do desempenho da maioria das funções do sistema
nervoso.
NOTA: Durante o Exame Neurológico é necessária a interacção entre o doente e o médico/enfermeiro,
sendo necessário criar empatia e explicar o procedimento.
O Exame Neurológico começa aquando do 1º contacto com o doente. A observação indirecta é muito
importante:
Estar atento a anomalias da cognição, linguagem ou da memória;
A forma como o doente se desloca, se senta e se comporta durante a consulta;
Simetria da face e das posições corporais;
Emoções reveladas na face e na voz;
Aspectos particulares do movimento ou ausência de movimento;
Manifestações comportamentais de dor expressas na face ou na postura.
O Exame Neurológico consiste numa sequência de testes padrão que exploram todas as funções
neurológicas:
Exame do estado mental Exame motor;
Exame da estática e da marcha; Exame da sensibilidade;
Exame da coluna cervical e lombar; Exame dos reflexos
Exame dos nervos cranianos;
Limite de dígitos: contar até um nº e voltar para trás, o utente deve ser capaz de repetir 7±2
números em ordem direita e fornecer 5±1 número em ordem inversa;
Teste do “A”: ao paciente é solicitado que levante a mão cada vez que ouvir a letra A, enquanto
recebe uma série de letras aleatórias. A não execução desta ordem indica um distúrbio da
atenção;
Sete seriados: contar de 7 em 7.
b) Orientação (no tempo e no espaço)
O utente deve saber correctamente o dia, a data, a estação do ano, a localização e as circunstâncias que
cercam a consulta.
c) Linguagem:
Anormalidades na compreensão da fala (deficit de compreensão) ou na comunicação clara (afasia –
incapacidade de falar - de expressão ou disartria – dificuldade em articular as palavras)
Compreensão (mandar executar exercícios simples): Pedir ao utente para executar tarefas de
complexidade crescente, como por exemplo: levantar uma das mãos, apontar para o tecto e
depois para a porta. Ou também pedir para falar.
Observar toda a extensão das frases do utente na fala espontânea quanto à fluência, ritmo e
tonalidades da linguagem.
Nomeação de objectos: Pedir ao utente para nomear objectos simples e depois outros mais
incomuns, como por exemplo: casaco, relógio, estetoscópio.
Repetição (frases simples); Pedir ao utente para repetir frases simples. Observar se ocorrem
erros (parafasias) nas palavras ou nos sons.
Leitura (textos simples): Pedir ao utente para ler um texto simples, notando a sua fluência e
compreensão. Deve-se ter em atenção a escolaridade do utente.
d) Memória:
O teste é formulado de modo a certificar-se que o utente consegue registar, armazenar e evocar
informações novas, aceder a memória de curto prazo. A recordação de informações antigas pode ser
verificada durante a entrevista/recolha da história. Pedir ao utente para memorizar 3 itens não
relacionados, informando que é para testar a sua memória, pedir para repetir os 3 itens e 5 minutos
depois voltar a pedir para os mencionar.
e) Capacidade Cognitiva
É importante testarem-se diversas capacidades e aptidões intelectuais para se determinar se há
problemas globais das funções mentais ou dificuldades isoladas num subgrupo de funções (como
memória, linguagem ou leitura).
Cálculos simples (dizer a tabuada ou somas simples, por exemplo);
Capacidades verbais (soletrar por ordem directa ou inversa);
Orientação direita vs esquerda de partes do corpo (por exemplo as mãos e os dedos do
examinador);
Capacidades visuais-construtivas: O doente vê e depois faz, capacidade de desenhar, por
exemplo um relógio e depois desenhar a hora nele, ou por exemplo a capacidade de desenhar
um cubo ou um objecto que visualize).
Geração de palavras: Pedir para dizer palavras começadas por determinada letra, por exemplo
palavras começadas por “s” em 60 segundos (o normal são 15±5)
Sequências motoras seriadas (imitar movimentos): Pedir ao utente para repetir os movimentos
da mão do instrutor.
Sequências modificadas: O utente é solicitado para bater na mesa 1 vez quando o examinador
bate 2 vezes e para bater 2 vezes quando o examinador bate 1.
Abstracção: Pedir ao utente para interpretar provérbios simples. Por exemplo, quem tem
telhados de vidro não deve atirar pedras no telhado dos vizinhos.
A marcha cerebelar lembra o andar de um bêbado. A marcha parkinsoniana consiste em passos curtos e
arrastados com uma postura inclinada para a frente. A hemiplegia espástica evidencia um movimento
de hélice unilateral da perna e flexão do braço e do punho. A paraplegia espástica pode causar uma
marcha em tesoura. (hemi – metade, plegia – paralisia) (Espástica – quando os músculos se tornam
rígidos e fracos e o individuo tem dificuldade em se movimentar ou falar)
3. Exame da Coluna Cervical e Lombar (cervicalgias, lombalgias)
Dor e limitação dos movimentos do pescoço e região lombar são queixas comuns.
a. Com o doente de pé, testar a mobilidade da cabeça sobre a coluna em flexão,
extensão, rotação lateral e inclinação lateral
b. Testar os mesmos movimentos na anca
c. Palpação e percussão da coluna
a) Massa muscular;
Quando houver sintomas de fraqueza, a massa muscular da área comprometida deve ser inspeccionada,
palpada e comparada ao outro lado ou ao normal. Inspeccionada cuidadosamente a procura de
fasciculações.
b) Tónus muscular
Para sentir a resistência passiva, executa-se movimentos de flexão e extensão nas extremidades
superiores e inferiores. Observar se há aumento ou diminuição do tónus numa extremidade, num dos
lados, nas pernas versus braços.
c) Força
Quando há fraqueza alguns médicos acham útil atribuir um gradiente de força, usando o sistema
Britânico:
0 Nenhuma contracção 2 Movimento activo ao eliminar-se a gravidade 4 Movimento activo contra a resistência
1 Contracção débil 3 Movimento activo contra a gravidade 5 Força normal
d) Coordenação de movimentos
Cada extremidade é testada quanto à capacidade de executar movimentos rápidos, rítmicos e
alternados. Por exemplo pedir para bater com a mão na perna e ir alternando a palma e o dorso da mão.
e) Movimentos finos
Testar em cada mão, manipulando rapidamente uma moeda ou rolar um pedaço pequeno de papel
entre os dedos.
6. Exame da Sensibilidade
a) Quando não houver queixas de perda sensorial (dormência, formigueiro), é suficiente um
exame sumário; a atenção é dirigida principalmente aos dedos das mãos e dos pés;
b) Deve-se examinar cuidadosamente a região atingida, caso a perda sensorial seja uma
possibilidade.
serem mais lentos que as TC, as MRI convencionais não têm tanta utilidade clinica em situações de
emergência, em crianças, ou em utentes que não consigam ficar quietos por muito tempo. Os exames
de MRI podem custar 1,5 a 2 vezes mais que uma TC.
Electroencefalografia (EEG)
A electroencefalografia (EEG) pode detectar descargas corticais anormais em utentes cm crises
incomuns, levando a um diagnóstico de epilepsia e ao tratamento adequado.
Electromiografia (EMG)
A electromiografia (EMG) e os estudos da condução nervosa são valiosíssimos para o diagnóstico e a
classificação das anomalias dos nervos periféricos e dos músculos.
Punção lombar (PL)
As indicações para a realização de uma punção lombar como parte da avaliação de um utente
diminuíram em anos recentes, após a introdução dos exames de TC e MRI. A principal indicação é para
auxiliar no diagnóstico de meningites infecciosas, quando os utentes apresentarem febre, cefaleia,
rigidez de nuca e confusão mental. O objectivo é a obtenção de LCR para a medida de glicose e
proteínas, bem como para análise microscópica e bacteriológica. As punções lombares também são
úteis no diagnóstico de meningites carcinomatosas e linfomatosas e devem ser feitas em casos de
suspeita dessas condições, quando as imagens cerebrais forem inconclusivas.
Estudos diagnósticos do DNA
São técnicas para determinação da presença de anomalias genéticas. A analise do DNA de leucócitos,
espécimes de biopsia muscular, ou células amnióticas fetais colhidas por amniocentese durante a
gravidez, frequentemente proporciona um diagnóstico especifico. Os testes genéticos são feitos
normalmente na avaliação de casos de miopia, neuropatia periférica, suspeita de doença de Huntington
e de ataxias, e, ocasionalmente, para membros de famílias com esclerose lateral amiotrófica hereditária,
ou doenças de Alzheimer.
A história e os exames neurológicos, complementados pelos resultados de testes laboratoriais, levam,
em muitos casos, à geração de uma hipótese etiológica única. Nos casos em que não se consegue isto,
quase sempre se identifica, pelo menos, o processo patológico, assim como infeccioso ou degenerativo.
Um esquema de tratamento adequado é iniciado após comunicar-se ao utente e aos seus familiares os
resultados da avaliação.
O diagnóstico de uma doença neurológica exige uma história completa, um exame cuidadoso e
procedimentos laboratoriais adequados. Este exercício localiza a lesão, propicia a compreensão da
fisiopatologia dos sinais e sintomas e identifica a causa, em quase todos os casos. A educação dos
utentes é uma parte integrante de todas essas etapas, para assegurar a sua cooperação e obter apoio na
elaboração de um esquema de tratamento.
2ª Parte
Sumário Moodle
Localização clínica da lesão (lesões do neurónio motor superior, lesões do neurónio motor
inferior, lesões cerebelares, alterações da transmissão neuromuscular e lesões miopáticas)
2. Semiologia da sensibilidade
Tipos de sensibilidade
Anatomia funcional dos componentes sensitivos do sistema nervoso
História sensitiva (parestesia vs dormência)
Exame sensitivo (tacto superficial, dor e temperatura, pressão profunda, vibração, posição
articular, teste de Romberg e discriminação entre dois pontos)
Estudo das cefaleias (cefaleias de tensão, enxaquecas e cefaleias em salvas)
Semiologia da motilidade
Estudo dos sintomas e sinais relacionados com a postura e movimentos
Reflexologia:
1 Córtex Cerebral
↓
2 Tronco Cerebral
↓
3 Medula espinhal
↓
4 Músculos/Articulações (movimento)
1. Controlo do Movimento
1.1 Evolução do movimento
4. Cerebelo
Função: Exerce 2 funções principais:
Coordena a actividade motora voluntária;
Controla o equilíbrio e tónus muscular
Maior velocidade de
condução
Intermédias
Fibras nervosas Tipo B
Menos mielina que a A
Menos diâmetro
Não tem mielina
Menos velocidade de condução
4. DISTÚRBIOS/PROBLEMAS MOTORES
Astenia (Parésia): diminuição da força muscular (ex: “hoje o braço está + preguiçoso”)
Paralisia: perda da força muscular (não tem movimento)
Movimentos anormais
Reflexos anormais
4.1. Tipos de Paralisia (perda da função motora - não conseguir executar o movimento)
Hemiplegia: paralisia de metade do corpo e dos membros correspondentes
Monoplegia: paralisia de apenas 1 membro (totalidade do membro)
Diplegia: paralisia de 2 membros iguais (2 membros superiores ou 2 membros inferiores)
Paraplegia: paralisia simétrica dos membros inferiores
Tetraplegia: paralisia dos membros superiores e inferiores
Múltiplos persistentes
cruzadas
Reflexo médio- Ligeira flexão e adução
Sínfise Pubiana D10 a L3 Resposta simétrica dos dois lados
pubiano das coxas
Tendão do bíceps na Bíceps braquial – braquial
Reflexo bicipital C6 (C5) Polegar sobre o tendão do bíceps
prega do cotovelo anterior
Rádio acima do Supinador longo mais Antebraço meio fletido: bordo radial
Reflexo estilorradial C6 (C5-C7)
estiloide bíceps braquial anterior voltado para cima
Tendão do tríceps Braço em abdução acima do
Reflexo tricipital Tríceps braquial C7 (C6-C8)
acima do olecrânio olecrânio
Reflexo Antebraço meio fletido
Estiloide ulnar Pronação do punho C8
Cubitopronador Ligeira supinação
Reflexo Maxilar inferior Fechamento da
Protuberância
masseteriano Boa meio aberta mandibula
4.3.7. Marcha
Marcha apráxica: lesão do lobo frontal; incapacidade de executar movimentos voluntários coordenados
Marcha do “tipo tesoura”: lesão do feixe corticoespinal (andar com as pernas para dentro, isto é, trocar
as pernas para dentro)
Marcha cerebelar: lesão do cerebelo
Sem atrofia muscular (no entanto pode também existir atrofia muscular);
Astenia;
Reflexos plantares e abdominais normais;
Sem perda sensorial
6. SEMIOLOGIA DA SENSIBILIDADE
6.1 Sensibilidade
Conexões
Pressupõe ligações e junções – fibras ascendentes
A via sensitiva entre a pele (incluindo as estruturas profundas) e o córtex cerebral envolve três
neurónios com duas sinapses (desde a superfície da pele até ao córtex) que ocorrem a nível central:
1. Neurónio de 1ª Ordem: o corpo celular do 1º neurónio sensitivo do nervo espinal localiza-se no
gânglio da raiz dorsal (+ longe do córtex)
2. Neurónio de 2ª Ordem: o corpo celular deste neurónio localiza-se no interior do neuroeixo
(espinal medula ou tronco cerebral)
3. Neurónio de 3ª Ordem: o corpo celular deste neurónio localiza-se no tálamo e projecta-se para
o córtex sensorial
A localização da 1ª sinapse central depende do tipo de sensibilidade, mas geralmente ocorre na coluna
cinzenta posterior da medula ou na parte inferior do tronco cerebral.
A 2ª sinapse (entre o 2º e 3º neurónios) está localizada na parte inferior do núcleo anterolateral do
tálamo (próximo do 3º neurónio), a partir do qual existe uma radiação sensitiva ao córtex cerebral.
Na medula, as fibras nervosas que medeiam o tacto, a pressão/toque e a sensibilidade postural,
ascendem através da coluna branca posterior até ao bulbo, onde fazem sinapse nos núcleos grácil e
cuneiforme.
Destes núcleos, as fibras cruzam a linha média e ascendem ao tálamo.
Um outro conjunto de fibras nervosas que medeiam a sensibilidade térmica (frio/calor) e dolorosa
(terminações nervosas), fazem sinapse nos cornos posteriores da medula (porção dorsal).
As fibras destes neurónios cruzam a linha média e ascendem na parte anterolateral da medula, através
dos feixes espinotalâmicos anterior (tacto e pressão) e lateral (dor e temperatura) até aos núcleos de
conexão do tálamo → córtex sensorial primário.
O termo parestesia indica sensibilidade anormal (por ex.: sensação de queimadura, formigueiro ou
picadas).
O termo dormência é frequentemente usado por doentes, para descrever uma sensação de peso,
fraqueza ou falta de sensibilidade na área afectada do corpo.
1. Tacto Superficial: a apreciação do tacto superficial é avaliada com um pedaço de algodão que toca
cuidadosamente na área da pele que se pretende examinar. O doente deita-se calmamente, com os
olhos fechados e faz um sinal cada vez que sentir o estímulo.
2. Dor e Temperatura: a apreciação da dor punctiforme é testada, pedindo ao doente para indicar se a
ponta de uma agulha é pontiaguda ou romba. A temperatura é avaliada através da aplicação na pele de
tubos com água quente ou fria. A sensibilidade térmica e dolorosa dependem da integridade dos feixes
espinotalâmicos laterais.
3. Pressão Profunda: a sensibilidade à pressão profunda é avaliada pela pressão nos tendões (tendão de
Aquiles)
5. Posição Articular ou Propiocepção: o sentido de posição articular é testado, pedindo ao doente para
indicar a direcção dos movimentos passivos das articulações interfalângicas dos dedos das mãos e pés.
1. Teste de Romberg: pede-se ao doente que fique parado com os pés juntos, braços estendidos e olhos
fechados, durante alguns segundos.
O teste é positivo (anormal), se o doente demonstrar insegurança, isto é se for observada qualquer
tendência para balançar ou cair.
2. Discriminação entre 2 pontos: a capacidade para distinguir o toque simultâneo em dois pontos
vizinhos, depende da integridade dos sistemas nervoso central e periférico.
Pede-se ao doente para indicar se sente o toque em um ou dois pontos de um compasso.
7.5 Dor
As terminações nervosas livres dos nervos periféricos e cranianos são os receptores específicos para a
dor (nociceptores).
As fibras da dor dos nervos periféricos têm um diâmetro muito pequeno e por isso são facilmente
afectadas pelos anestésicos locais. O tecido lesado pode libertar prostaglandinas, que baixam o limiar
dos nociceptores periféricos aumentando a sensibilidade à dor (hiperalgesia).
A aspirina (mais usado em problemas cardíacos) e outros medicamentos anti-inflamatórios não
esteróides (AINES) inibem a acção das prostaglandinas e aliviam a dor (hipoalgesia ou analgesia).
Sistemas de dor
A via ascendente para a sensibilidade dolorosa consiste em dois sistemas:
O feixe espinotalâmico: Conduz a sensação de dor aguda, em pontada
O sistema espinorreticulotalâmico: Conduz a dor profunda pouco localizada, em queimadura
As vias são interrompidas quando o quadrante ventrolateral da medula espinal é lesado por
traumatismo ou por cirurgia realizada deliberadamente para alívio da dor.
A perda contralateral de toda a sensibilidade dolorosa ocorre debaixo da lesão.
Dor Referida
As células da coluna posterior da medula que recebem sensações nocivas de fibras aferentes da pele,
também recebem impulsos de nociceptores das vísceras.
Quando os aferentes viscerais recebem um estímulo forte, o córtex pode interpretar erradamente a
sua origem.
Por exemplo, a dor referida ao ombro produzida pela cólica biliar – os segmentos espirais que
transmitem a dor da vesícula biliar, também recebem aferentes da região escapular (Teoria da
Convergência).
7.6 Cefaleias
As cefaleias afectam cerca de 80% da população pelo menos uma vez por ano. Cerca de 30% recorre à
medicação analgésica e 2% consultam o médico. Aproximadamente 15% são encaminhadas para a
investigação laboratorial ou a um especialista.
A dor na cefaleia é transmitida ao cérebro por fibras nociceptoras do V par craniano e por raízes
cervicais superiores da medula.
A dor origina-se a partir da irritação química ou da distensão das meninges ou ainda dos grandes vasos
na base do cérebro inervados pelo trigémeo.
Como o cérebro em si não contém fibras nociceptivas, as doenças aí localizadas não causam dor,
enquanto não houver compromisso secundário das meninges ou dos grandes vasos.
a) Cefaleias de Tensão
As cefaleias de tensão são do tipo mais comum de cefaleias, afectam a maioria das pessoas e consistem
numa dor surda e constante, geralmente localizada nos músculos temporais, faciais, ou suboccipitais
bilateralmente. Podem durar horas a dias. Por vezes são identificados factores “stressantes” pessoais e
os doentes mostram-se ansiosos ou deprimidos. Não há anomalias neurológicas. O tratamento engloba
medidas gerais, analgésicos leves e relaxantes musculares.
b) Enxaquecas
As enxaquecas afectam cerca de 10% da população. É mais frequente nos adultos jovens, sobretudo
nas mulheres. A cefaleia pode ser ou não precedida de aura (sinais/sintomas que precedem o inicio da
crise).
É geralmente bilateral e dura cerca de 4 a 72 horas. Está associada a náuseas e vómitos e o doente
apresenta sensibilidade à luz (fotofobia), ao som (fonofobia) e a qualquer tipo de actividade incluindo
tarefas mentais que parecem agravar a crise. Os doentes procuram um ambiente tranquilo e escuro e
preferem ficar sozinhos.
O sono alivia as crises na maior parte dos casos, podem ocorrer recidivas várias vezes no mês. A
história familiar geralmente é positiva. Geralmente não é necessário o recurso a testes laboratoriais.
As crises agudas de enxaqueca necessitam normalmente de tratamento farmacológico para o alívio da
dor com analgésico simples e anti-eméticos. O tratamento profilático é discutível.
7.1.1 Convulsões
Uma crise convulsa consiste numa descarga excessiva anormal de neurónios, geralmente de curta
duração e que origina anomalias súbitas do comportamento.
As crises convulsivas são situações frequentes, Ao longo da vida, a probabilidade de ocorrer uma crise é
de 6%, sendo de 3% a hipótese de ter mais do que uma crise.
A incidência é mais alta nos dois extremos da curva da vida (lactentes e idosos)
7.1.2 Epilepsia
A epilepsia é um síndrome caracterizado por crises epilépticas recorrentes e é uma das causas mais
frequentes de perda episódica da consciência.
A epilepsia idiopática afecta cerca de 0.2 a 0.4% da população geral.
É uma das doenças neurológicas mais comuns e a sua incidência é mais alta em adultos jovens.
Os sintomas iniciais começam geralmente antes dos 55 anos de idade com um pico de incidência entre
os 20 e os 40 anos. Atinge mais as mulheres do que os homens (1,5:1)
O 1º surto atinge o seu pico máximo em horas a dias e a remissão ocorre em 2 a 6 semanas. Pode
originar fraqueza dos membros inferiores (40%), perdas sensitivas (20 a 30%), nevrite óptica (25%) e
sinais e sintomas do tronco cerebral (10 a 15%).
Com o evoluir da doença podem surgir sintomas mais complexos – depressão e demência (ligeira).
Cerca de 15% dos doentes têm uma evolução benigna, após o 1º episódio.
Cerca de 60% evolui com remissões e recidivas.
Muitos doentes têm uma frequência elevada de recidivas no início da doença, com um ou mais surtos
por ano.
Uma evolução mais favorável é esperada quando o início da doença ocorre antes dos 40 anos, com
poucos surtos e com recidivas e remissões nos primeiros cinco anos.
Se a doença tiver início após os 40 anos, irão predominar sisnais motores, frequência elevada de surtos
e o prognóstico é desfavorável.
Avaliação diagnóstica
Ressonância Magnética
Estudos de potenciais evocados
Análise ao LCR
Não se conhece, actualmente, nenhuma cura para esta doença. O tratamento é dirigido para a
imunossupressão e para o alívio dos sintomas incapacitantes físicos e emocionais.
É o principal exemplo dos distúrbios hipocinéticos dos movimentos e resulta de lesão dos gânglios da
base. A lentificação dos movimentos está relacionada com a perda dos níveis de dopamina no corpo
estriado. Há dificuldade em iniciar movimentos (acinésia), especialmente para se levantar de uma
cadeira ou andar, diminuição dos movimentos (hipocinésia) e lentidão dos movimentos (bradicinésia).
Caracteriza-se por:
Rigidez muscular Diminuição dos Tremor em repouso
movimentos
Etiologia:
Idiopática
Drogas (metoclopramida, haloperidol, …)
Toxinas (manganês, monóxido de carbono)
Infecções (encefalite)
Genéticas
Traumatismos
Idade avançada
História familiar
Traumatismos craneoencefálicos
O diagnóstico clínico provável, baseia-se numa deterioração progressiva da memória e das funções
cognitivas.
Na falta de um teste laboratorial específico, o diagnóstico definitivo necessita de biópsia cerebral (ou
autópsia), que revela:
Placas neuríticas senis (nº significativo)
Emaranhados neurofibrilhares
Etiologia:
Idiopática
Genética (S. Down, D. de Alzheimer familiar)
Tóxica (alumínio)
Infecciosa
Neuroquímica
Não existe actualmente, nenhum tratamento disponível para reverter a sintomatologia, nem para
impedir a progressão da doença.