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Instituto Superior Politécnico de Viana

do Castelo
Escola Superior de Saúde
XIV Curso de Enfermagem

2º Ano / Turma A

2013/2014

Sebenta

ESAI I
Docente: Humberto Faria
Sumário Moodle

1. Introdução à Neurologia. Epidemiologia das doenças neurológicas.


2. Conceitos básicos em Neuroanatomia: Sistema Nervoso Central (SNS) e Sistema
Nervoso Periférico (SNP).
3. Avaliação Neurológica:

3.1 História neurológica: Como fazer um diagnóstico neurológico. Tarefas importantes na


colheita de uma história neurológica.

3.2 Exame neurológico:

o Exame do estado mental (atenção e concentração; orientação; linguagem; memória,


capacidades cognitivas).
o Exame da estática e da marcha
o Exame da coluna cervical e lombar
o Exame dos nervos craneanos
o Exame motor
o Exame da sensibilidade
o Exame dos reflexos

4. Investigação laboratorial (EAD)

Bibliografia aconselhada:

Phipps, W., Sands, J. e Marek, J. Enfermagem Médico-Cirúrgica (vol. I e II). Lusociência: Edições
técnicas e científicas, Lda., 2003.

Groot, J. e Chusid, J. Neuroanatomia (vol. I e II). Guanabara Koogan (21ª ed.), 1998.

Doenças neurológicas mais comuns:


- Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)
- Traumatismos Cranianos (TCE)
- Convulsões e Epilepsias
- Esclerose em placas
- Doença de Parkinson
- Doença de Alzheimer
ESAII – Humberto Faria

Neurologia
1. Introdução
As pessoas com doenças do sistema nervoso precisam de atenção e cuidados especiais, porque estas
doenças podem afectar o que há de mais precioso no comportamento humano. As doenças do Sistema
Nervoso podem afectar:
Pensamento Linguagem Sensibilidade
Memória Emoção Movimento
A disfunção cerebral pode alterar a capacidade de reconhecer e descrever a disfunção, pode causar
acentuadas alterações comportamentais episódicas ou permanentes e ocasionar uma incapacidade
desproporcional à gravidade do processo mórbido. Os utentes e a sua família encontram-se temerosos
dessas condições ao se encontrarem com um médico ou profissional de saúde pela primeira vez,
precisando de uma ajuda hábil e empática por parte dos profissionais que os recebem.

A sociedade nem sempre compreendeu e apoiou os portadores de doenças neurológicas. Pessoas com
epilepsia e atraso mental eram, em épocas passadas, confinadas a instituições e esterilizadas, para
impedir que se reproduzissem. Outras pessoas, que não conseguissem andar, ficavam em casa devido às
barreiras arquitetónicas que os edifícios públicos e transportes ofereciam às cadeiras de rodas.
Estas atitudes quase desapareceram devido a:
1 Avanços na pesquisa biomédica proporcionaram maior conhecimento das causas e consequências das
doenças neurológicas e muitos tratamentos já estão disponíveis.
2 Um rápido aumento do número de neurologistas clínicos tornou mais fácil para mais pessoas o
acesso ao diagnóstico e atendimento especializados.
3 Houve uma notável expansão na educação e apoio à população em relação a pacientes portadores de
doenças neurológicas.

1.1. Epidemiologia das doenças neurológicas

1.1.1. Incidência vs. Prevalência


As condições clinicas que afetam o sistema nervoso e as doenças neurológicas primárias estão entre as
causas mais comuns de morbilidade nos EUA. A determinação da sua incidência exacta (casos novos por
100.000 habitantes por ano), ou prevalência pontual (casos existentes num determinado momento no
tempo), é problemática.

Incidência VS Prevalência
↓ ↓
Casos novos Casos novos + Antigos

n. º casos novos n. º casos novos + Antigos


Tx Incidência = × 102 Tx Prevalência = × 102
Pop. em risco Pop. em risco

As determinações dependem das classificações diagnósticas em uso no momento, da habilidade dos


médicos, da precisão dos testes laboratoriais e da facilidade de acesso aos registos médicos → Taxas
efectivas de morbilidade subestimadas (não correspondem à realidade), pelo facto dos pacientes não
procurarem atendimento médico para condições comuns e os médicos não diagnosticarem ou
relatarem correctamente certas doenças pouco frequentes.

Quadro 1.1 Epidemiologia de condições comuns que afetam o sistema nervoso


Distribuição aproximada dos casos
Condições Clinicas Comuns Incidência por 100.000 hab. Especialistas Generalistas
Traumatismo Craniano 1.800 10-20% 80-90%
Cefaleia 4.000 10-20% 80-90%
Síndromes dolorosas da coluna lombossacra 1.650 10-20% 80-90%
Síndromes dolorosas da coluna cervical 215 10-20% 80-90%
Os estudos epidemiológicos também indicam que a incidência elevada de doenças neurológicas
primárias reflete em parte manifestações de doenças comuns.

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Quadro 1.2 Epidemiologia das Doenças neurológicas


Doença ou afecção Neurológica Incidência Prevalência Custo (bilhões de
dólares/ano)
Doenças vasculares cerebrais 200 650 18
Convulsões e epilepsia 120 650 3
Neuropatias periféricas 100
Demências 50 250 113
Parkinsonismo 20 200 2,5
Tumores primários 15 65
Distúrbios da medula espinhal 13 90 22,5
Nevralgia do trigémeo 4 40
Esclerose Múltipla 3 60 4
Doenças do neurónio motor 2 6 0,3
Distrofias musculares 1 8
Doenças degenerativas 1 20
hereditárias
Polimiosite 0,4 6
Doenças de Huntington 0,4 5
Miastenia grave 0,4 4

O envelhecimento é um fator de risco para muitas doenças. Apróximadamente 1% da população com


mais de 65 anos contrairá doença de Parkinson e talvez até 40% daqueles acima de 80 anos terão
doença de Alzheimer.
A grande duração das doenças também causam custos elevados à sociedade, considerando os custos
directos do atendimento médico, assim como os custos indirectos relacionados com os salários
perdidos, quer pelo utente quer pelos cuidadores.

1.1.2. Perspectivas Futuras da Neurologia


Até à década de 70, os diagnósticos eram feitos a “olho”.
A prática da neurologia começou a mudar significativamente na década de 70 com a introdução de
novas tecnologias de geração de imagens. Hoje em dia o uso de exame radiográfico TC, da MRI, estudos
PET e SPECT possibilita o exame relativamente fácil, não invasivo e de alta resolução da base anatómica
e funcional de doenças neurológicas.
Estas técnicas são usadas principalmente para testarem as hipóteses de diagnóstico geradas pela
história clinica e pelo exame físico, para documentar alterações no utente e avaliar os resultados do
tratamento. Usados correctamente estes testes podem proporcionar à avaliação neurológica um maior
grau de objectividade e quantificação.
Avanços na biologia molecular (genética molecular) terão impacto significativo na neurologia clinica,
devido à descoberta que mais de metade de todos os genes humanos se expressa no cérebro. A
pesquisa genética molecular está a proporcionar novas formas de classificar as doenças neurológicas. Os
genes da doença de Charcot-Marie-Tooth situam-se nos cromossomas X, 1 e 17.

Quadro 1.3 Avanços na obtenção de neuroimagens


Técnicas de Geração de Imagens Princípios Básicos Aplicação Clinica
TC (Tomografia Axial
Atenuação de raios X pelo tecido Traumatismos agudos e hemorragias cerebrais
Computadorizada)
MRI (geração de imagens por Comportamento diferenciado dos protões Alta resolução da estrutura cerebral. Localização e
ressonância magnética) dos tecidos em campos magnéticos. elucidação de processos patológicos.
MRA (angiografia por ressonância Sequência de pulsos especiais para a Visualização de vasos sanguíneos quanto a anomalias
magnética) corrente sanguínea ou lesões.
Imagens ultra-rápidas da oxigenação Alteração do fluxo sanguíneo local, durante a activação
MRI funcional (MRIf)
sanguínea. funcional, pesquisa no mapeamento cerebral.
MRS (espectroscopia por ressonância Comportamento dos protões em Alterações regionais de metabolitos cerebrais durante
magnética) diferentes compostos químicos processos mórbidos.
PET (tomografia por emissão Localização de radionuclídeos emissores de Cirurgia de epilepsia, demências, doenças
positronica) positrões. degenerativas, pesquisa no mapeamento cerebral.
Localização de alterações no fluxo sanguíneo em casos
SPECT (tomografia computadorizada Localização de radionuclídeos emissores de
de demência, epilepsia, doenças degenerativas e
por emissão de fotões individuais) raios gama.
doenças vasculares cerebrais

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2. Neuroanatomia – Conceitos Básicos


2.1. Do ponto de vista Anatómico:
Cortex cerebral
Cérebro Telencéfalo (ou massa
(hemistério cinzenta)
direito e
Encéfalo esquerdo) Glânglios de base

Tronco Substância
Cerebral Branca
Diencéfalo Subcortical

Sistema Tálamo
Nervoso
Central Mesencéfalo
Espinhal Hipotálamo
Medula
Cerebelo Ponte Epitálamo
Sistema Nervoso
Bulbo
Subtálamo

Sistema
Nervoso Equilibrio, acções involuntarias
Periférico Nervos Cranianos (12 pares)

Nervos Espinhais (31 pares)

2.2. Do ponto de vista Fisiológico


a) Sistema Nervoso Somático (SNS) – responsável pela enervação de estruturas da parede do
corpo (mucosas, pele, …)
b) Sistema Nervoso Autónomo ou Visceral (SNA) – responsável pela enervação dos órgãos
internos do corpo (vísceras)

2.3. Avaliação neurológica


 Perspectiva geral;  Exame neurológico sumário;
 História neurológica  Investigação laboratorial.
 Exame neurológico;

2.3.1. Como fazer um Diagnóstico Neurológico


Sem o conhecimento destas 3 áreas não se faz diagnósticos
 Anatomia
 Fisiologia
 Patologia

2.3.11. Fazer um diagnóstico neurológico:


Como fazer um diagnóstico neurológico:
1 – Localizar anatomicamente os sinais e sintomas do paciente
2 – Interpretar as características temporais em termos de eventos fisiopatológicos
3 – Explorar essas ideias durante o exame físico e a investigação laboratorial, para descobrir os
processos patológicos.

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Estas etapas levam à formulação de uma hipótese etiológica. A hipótese é testada pela história e
exames adicionais e ocasionalmente por uma investigação laboratorial. Uma vez que se tenha uma
etiologia provável, pode-se formular um plano de tratamento.
Implica saber essencialmente:
 Onde está a lesão? (que localização anatómica estará comprometida para explicar a
disfunção e a que área o doente se refere)
o Há quatro tipos de lesões:
▪ Focais – quando uma única lesão explica todos os sintomas
▪ Multifocais – diferentes lesões para explicar diferentes sintomas.
▪ Difusas – processos difusos afetam o cérebro de forma generalizada e
produzem sintomas em muitas categorias, desorganizando o
funcionamento integrado.
▪ Sistémicas – Há diversos processos patológicos que afectam vias
especificas.
 Qual a base fisiopatológica dos sintomas e sinais?
 Qual é o processo patológico?
A História Neurológica é a componente mais importante da realização de um diagnóstico:
 Informações vitais (conteúdo)
 Comportamento do doente e seus familiares
Existem 3 tarefas importantes na colheita de uma História Neurológica:
 Definir os sintomas (esclarecer a natureza exacta do problema)
 Determinar o perfil temporal (saber quando e como começou e quanto tempo durou)
 Avaliar os factores modificados (pesquisar os vários factores que podem influenciar as
doenças ou condições neurológicas)
Quadro Resumo

Avaliação do Paciente
História Exame Testes Laboratoriais
Definir o Sintoma Abrangente Obtenção de imagens
Determinar o perfil temporal Sumário Eletrofisiologia
Avaliar os factores modificadores Focalizado Sangue e LCR
 
Fisiopatologia Localização anatómica
Sintomas Positivos: Local: Hemisfério, gânglios da base, tálamo, mesencéfalo,
Aumento da atividade neural tronco cerebral, medula espinhal, nervo, junção
Descargas axonais espontânea, perda da inibição neuromuscular, músculo, ventrículos, LCR, meninges
Sintomas negativos: Alvo: Sistema, célula, membrana, canal, sinapse, molécula.
Perda de actividade neuronal, condução axonal ou transmissão
sináptica.
 
Processo Patológico
Anatómicos: Genéticos, do desenvolvimento, Metabólicos: Genéticos, Fisiológicos: Convulsões, tremor,
vasculares, neoplásicos, traumáticos, infecciosos, deficiência de substrato, toxinas distonia, drogas.
imunes, degenerativos

Hipótese etiológica

Esquema terapêutico

No final da colheita da história neurológica, o médico deve ter chegado a hipóteses quanto há
localização da lesão, ao perfil temporal dos sintomas e ao tipo básico de processo patológico. Estas
hipóteses continuam provisórias até serem adicionalmente confirmadas durante o exame neurológico e,
se necessário, por investigação laboratorial.

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O Exame Neurológico é feito com o objectivo de localizar as lesões nas estruturas neuroanatómicas (que
causam os sinais e sintomas da doença neurológica):
 Exame neurológico completo – uma sequência de testes que exploram todas as funções
neurológicas, sendo raramente necessário usar todas as existentes num mesmo utente. Este
pode ser considerado como um conjunto de referências/habilidades a serem usadas
selectivamente em circunstâncias individuais.
 Exame neurológico sumário – deve ser usado rápida e eficientemente como parte do exame
geral, com o propósito de assegurar-se que não existem grandes anomalias da função
neurológica. Este é um breve levantamento do desempenho da maioria das funções do sistema
nervoso.
NOTA: Durante o Exame Neurológico é necessária a interacção entre o doente e o médico/enfermeiro,
sendo necessário criar empatia e explicar o procedimento.

O Exame Neurológico começa aquando do 1º contacto com o doente. A observação indirecta é muito
importante:
 Estar atento a anomalias da cognição, linguagem ou da memória;
 A forma como o doente se desloca, se senta e se comporta durante a consulta;
 Simetria da face e das posições corporais;
 Emoções reveladas na face e na voz;
 Aspectos particulares do movimento ou ausência de movimento;
 Manifestações comportamentais de dor expressas na face ou na postura.
O Exame Neurológico consiste numa sequência de testes padrão que exploram todas as funções
neurológicas:
 Exame do estado mental  Exame motor;
 Exame da estática e da marcha;  Exame da sensibilidade;
 Exame da coluna cervical e lombar;  Exame dos reflexos
 Exame dos nervos cranianos;

1. Exame do Estado Mental (é importante ter em consideração a escolaridade da pessoa em análise)


a) Atenção e concentração:
Um distúrbio dos mecanismos da atenção pode obscurecer todos os outros aspectos do exame do
estado mental. Por isso é importante testá-lo primeiro. Pode o utente responder a perguntas com
rapidez e precisão? Em caso negativo, teste uma ou mais destas funções.
 Limite de dígitos: contar até um nº e voltar para trás, o utente deve ser capaz de repetir 7±2
números em ordem direita e fornecer 5±1 número em ordem inversa;
 Teste do “A”: ao paciente é solicitado que levante a mão cada vez que ouvir a letra A,
enquanto recebe uma série de letras aleatórias. A não execução desta ordem indica um
distúrbio da atenção;
 Sete seriados: contar de 7 em 7.
b) Orientação (no tempo e no espaço)
O utente deve saber correctamente o dia, a data, a estação do ano, a localização e as circunstâncias que
cercam a consulta.
c) Linguagem:
Anormalidades na compreensão da fala (deficit de compreensão) ou na comunicação clara (afasia –
incapacidade de falar - de expressão ou disartria – dificuldade em articular as palavras)
 Compreensão (mandar executar exercícios simples): Pedir ao utente para executar tarefas de
complexidade crescente, como por exemplo: levantar uma das mãos, apontar para o tecto e
depois para a porta. Ou também pedir para falar.
 Observar toda a extensão das frases do utente na fala espontânea quanto à fluência, ritmo e
tonalidades da linguagem.
 Nomeação de objectos: Pedir ao utente para nomear objectos simples e depois outros mais
incomuns, como por exemplo: casaco, relógio, estetoscópio.
 Repetição (frases simples); Pedir ao utente para repetir frases simples. Observar se ocorrem
erros (parafasias) nas palavras ou nos sons.
 Leitura (textos simples): Pedir ao utente para ler um texto simples, notando a sua fluência e
compreensão. Deve-se ter em atenção a escolaridade do utente.

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d) Memória:
O teste é formulado de modo a certificar-se que o utente consegue registar, armazenar e evocar
informações novas, aceder a memória de curto prazo. A recordação de informações antigas pode ser
verificada durante a entrevista/recolha da história. Pedir ao utente para memorizar 3 itens não
relacionados, informando que é para testar a sua memória, pedir para repetir os 3 itens e 5 minutos
depois voltar a pedir para os mencionar.
e) Capacidade Cognitiva
É importante testarem-se diversas capacidades e aptidões intelectuais para se determinar se há
problemas globais das funções mentais ou dificuldades isoladas num subgrupo de funções (como
memória, linguagem ou leitura).
 Cálculos simples (dizer a tabuada ou somas simples, por exemplo);
 Capacidades verbais (soletrar por ordem directa ou inversa);
 Orientação direita vs esquerda de partes do corpo (por exemplo as mãos e os dedos do
examinador);
 Capacidades visuais-construtivas: O doente vê e depois faz, capacidade de desenhar, por
exemplo um relógio e depois desenhar a hora nele, ou por exemplo a capacidade de desenhar
um cubo ou um objecto que visualize).
 Geração de palavras: Pedir para dizer palavras começadas por determinada letra, por exemplo
palavras começadas por “s” em 60 segundos (o normal são 15±5)
 Sequências motoras seriadas (imitar movimentos): Pedir ao utente para repetir os movimentos
da mão do instrutor.
 Sequências modificadas: O utente é solicitado para bater na mesa 1 vez quando o examinador
bate 2 vezes e para bater 2 vezes quando o examinador bate 1.
 Abstracção: Pedir ao utente para interpretar provérbios simples. Por exemplo, quem tem
telhados de vidro não deve atirar pedras no telhado dos vizinhos.

2. Exame da Estática e da Marcha


a) Observar cuidadosamente o doente ao levantar-se da cadeira na sala de espera,
entrar no gabinete de consulta e sentar-se;
b) Estática
O utente pode ficar de pé com calcanhares e dedos juntos, olhos fechados, sem cambalear? O utente
perde o equilíbrio se for empurrado ao de leve?
c) Examinar o padrão de marcha do doente.
A marcha cerebelar lembra o andar de um bêbado. A marcha parkinsoniana consiste em passos curtos e
arrastados com uma postura inclinada para a frente. A hemiplegia espástica evidencia um movimento
de hélice unilateral da perna e flexão do braço e do punho. A paraplegia espástica pode causar uma
marcha em tesoura. (hemi – metade, plegia – paralisia) (Espástica – quando os músculos se tornam
rígidos e fracos e o individuo tem dificuldade em se movimentar ou falar)
3. Exame da Coluna Cervical e Lombar (cervicalgias, lombalgias)
Dor e limitação dos movimentos do pescoço e região lombar são queixas comuns.
a. Com o doente de pé, testar a mobilidade da cabeça sobre a coluna em flexão,
extensão, rotação lateral e inclinação lateral
b. Testar os mesmos movimentos na anca
c. Palpação e percussão da coluna

4. Exame dos Nervos Cranianos


a) Examinar os 12 pares cranianos:
Nervo olfactivo (I), nervo óptico (II), nervos oculomotores (III, IV e VI), nervo trigémeo (V), nervo facial (VII), nervo
vestibulo-coclear (VIII), nervo glossofaríngeo (IX), nervo vago (X), nervo acessório (XI), nervo hipoglosso (XII)
5. Exame Motor
Sistema motor é testado bilateralmente quanto à massa muscular, tónus e força contra resistência. Os
movimentos são testados quanto à coordenação e à capacidade de executar movimentos finos.

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a) Massa muscular;
Quando houver sintomas de fraqueza, a massa muscular da área comprometida deve ser inspeccionada,
palpada e comparada ao outro lado ou ao normal. Inspeccionada cuidadosamente a procura de
fasciculações.
b) Tónus muscular
Para sentir a resistência passiva, executa-se movimentos de flexão e extensão nas extremidades
superiores e inferiores. Observar se há aumento ou diminuição do tónus numa extremidade, num dos
lados, nas pernas versus braços.
c) Força
Quando há fraqueza alguns médicos acham útil atribuir um gradiente de força, usando o sistema
Britânico:
0 Nenhuma contracção 2 Movimento activo ao eliminar-se a gravidade 4 Movimento activo contra a resistência
1 Contracção débil 3 Movimento activo contra a gravidade 5 Força normal
d) Coordenação de movimentos
Cada extremidade é testada quanto à capacidade de executar movimentos rápidos, rítmicos e
alternados. Por exemplo pedir para bater com a mão na perna e ir alternando a palma e o dorso da mão.
e) Movimentos finos
Testar em cada mão, manipulando rapidamente uma moeda ou rolar um pedaço pequeno de papel
entre os dedos.

6. Exame da Sensibilidade
a) Quando não houver queixas de perda sensorial (dormência, formigueiro), é suficiente um
exame sumário; a atenção é dirigida principalmente aos dedos das mãos e dos pés;
b) Deve-se examinar cuidadosamente a região atingida, caso a perda sensorial seja uma
possibilidade.

7. Exame dos Reflexos


a) Reflexos extensores musculares (com martelo de reflexos);
b) Reflexos superficiais (abdómen);
c) Reflexo cremastérico (só nos homens – face interna da coxa):
d) Reflexo anal;
e) Reflexo plantar (Babinsky = reflexo plantar anormal).

Reflexos segmentares Resposta Graduada


Reflexo mandibular (V) 0 = Nenhuma resposta (abolido)
Braquirradial (C5-C6) 1 = Normal diminuído
Bíceps (C5-C6) 3 = Reflexos vivos, não necessariamente anormais,
Tríceps (C6-C7) a não ser quando assimétricos
Flexores dos dedos (C7-C8) 4 = Hiperativos e patológicos, frequentemente
Reflexo patelar (L2-L4) associados ao clónus (série de contrações
musculares involuntárias devido a um estiramento
Reflexo Aquileu (S1-S2)
súbito).

2.3.2. Sumário e formulação


O sumário deve ser breve, preciso e eficiente.
a) No final do exame neurológico, redige-se uma observação resumindo de forma sucinta a
história, quanto à queixa principal e sua evolução no tempo;
b) Deve-se registar as anomalias encontradas no exame neurológico, para indicar uma
localização anatómica da lesão → hipóteses etiológicas → diagnóstico → tratamento

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Boxe 2.1 O exame Neurológico Sumário Normal


1 – O utente fornece uma história coerente e responde às perguntas com rapidez e precisão, sem evidências claras
de dificuldades de linguagem, memória ou cognição, apresentando uma gama apropriada de expressões
emocionais.
2 – Estática, marcha e caminhar em fila indiana estão normais.
3 – A face, a língua e o palato mostram-se simétricos, em repouso e durante o movimento. A visão está normal
bilateralmente. A audição está normal bilateralmente. Os movimentos extra-oculares estão íntegros, sem nistagmo
(oscilações repetidas e involuntária, rítmicas, de um ou ambos os olhos).
4 – O sistema motor está normal quanto à massa, tónus, força e movimentos finos e rápidos das extremidades
superiores e inferiores.
5 – O sistema sensitivo está normal quanto à apreciação da picada de alfinete e o sentido posicional dos dedos das
mãos e dos pés.
6 – Os reflexos estão normais no bíceps, tríceps, joelhos e tornozelos. Não há reflexos patológicos.

2.3.3. Investigação laboratorial


Ao terminar a história e o exame neurológico, o médico determina quais os testes laboratoriais que vão
ajudar no diagnóstico ou no tratamento da doença neurológica. São factores críticos a decisão de
realizar um teste, a sua escolha e a rapidez na execução da avaliação. Em caso de traumatismo grave, ou
de suspeita de hemorragia intracraniana, deve-se realizar com urgência os testes de obtenção de
neuroimagens, muitas vezes deixando-se por completar a história e o exame clínico, se o utente for mais
bem atendido com a transferência rápida para a sala de operações. Condições clinicas comuns como
cefaleias, dor no pescoço ou na região lombar, raramente exigem uma avaliação laboratorial. O
julgamento clínico deve incluir o custo dos exames, o possível desconforto e a inconveniência para o
paciente, bem com o valor dos resultados no controlo e tratamento do utente.
Os testes laboratoriais disponíveis para os médicos estudarem as doenças do sistema nervoso são
alguns dos mais sofisticados na medicina. Os estudos de obtenção de neuroimagens podem detectar
anomalias ao nível de resolução de milímetros.
Tomografia Computorizada (TAC - Tomografia Axial computorizada) do cérebro
A TC é útil na avaliação de emergência de traumatismos e de suspeita de sangramentos intracranianos,
por ser rápida e porque permite observar plenamente o utente durante o exame. É também útil no
diagnóstico e acompanhamento de lesões hemisféricas, como tumores primários e metastáticos
Ressonância magnética (RM)
Durante o MRI (imagens por ressonância magnética o utente deita-se de costas num potente campo
magnético. Os exames de MRI são úteis na avaliação de quase todas as condições neurológicas. Por
serem mais lentos que as TC, as MRI convencionais não têm tanta utilidade clinica em situações de
emergência, em crianças, ou em utentes que não consigam ficar quietos por muito tempo. Os exames
de MRI podem custar 1,5 a 2 vezes mais que uma TC.
Electroencefalografia (EEG)
A electroencefalografia (EEG) pode detectar descargas corticais anormais em utentes cm crises
incomuns, levando a um diagnóstico de epilepsia e ao tratamento adequado.
Electromiografia (EMG)
A electromiografia (EMG) e os estudos da condução nervosa são valiosíssimos para o diagnóstico e a
classificação das anomalias dos nervos periféricos e dos músculos.
Punção lombar (PL)
As indicações para a realização de uma punção lombar como parte da avaliação de um utente
diminuíram em anos recentes, após a introdução dos exames de TC e MRI. A principal indicação é para
auxiliar no diagnóstico de meningites infecciosas, quando os utentes apresentarem febre, cefaleia,
rigidez de nuca e confusão mental. O objectivo é a obtenção de LCR para a medida de glicose e
proteínas, bem como para análise microscópica e bacteriológica. As punções lombares também são
úteis no diagnóstico de meningites carcinomatosas e linfomatosas e devem ser feitas em casos de
suspeita dessas condições, quando as imagens cerebrais forem inconclusivas.
Estudos diagnósticos do DNA
São técnicas para determinação da presença de anomalias genéticas. A analise do DNA de leucócitos,
espécimes de biopsia muscular, ou células amnióticas fetais colhidas por amniocentese durante a
gravidez, frequentemente proporciona um diagnóstico especifico. Os testes genéticos são feitos
normalmente na avaliação de casos de miopia, neuropatia periférica, suspeita de doença de Huntington
e de ataxias, e, ocasionalmente, para membros de famílias com esclerose lateral amiotrófica hereditária,
ou doenças de Alzheimer.

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A história e os exames neurológicos, complementados pelos resultados de testes laboratoriais, levam,


em muitos casos, à geração de uma hipótese etiológica única. Nos casos em que não se consegue isto,
quase sempre se identifica, pelo menos, o processo patológico, assim como infeccioso ou degenerativo.
Um esquema de tratamento adequado é iniciado após comunicar-se ao utente e aos seus familiares os
resultados da avaliação.

O diagnóstico de uma doença neurológica exige uma história completa, um exame cuidadoso e
procedimentos laboratoriais adequados. Este exercício localiza a lesão, propicia a compreensão da
fisiopatologia dos sinais e sintomas e identifica a causa, em quase todos os casos. A educação dos
utentes é uma parte integrante de todas essas etapas, para assegurar a sua cooperação e obter apoio na
elaboração de um esquema de tratamento.

2ª Parte

Sumário Moodle

1. Semiologia da motilidade. Reflexologia.


 Controlo do movimento
 Sistemas motores principais
 Distúrbios motores
 Tipos principais de paralisia (hemiplegia, monoplegia, diplegia, paraplegia e tetraplegia)
 Tipos de movimentos anormais (tremor, coreia, atetose/distonia, hemibalismo, mioclonia
e tiques)
 Exame do sistema motor (massa muscular, tónus muscular, força muscular, coordenação
dos movimentos, reflexos tendinosos, reflexos superficiais e marcha)
 Localização clínica da lesão (lesões do neurónio motor superior, lesões do neurónio motor
inferior, lesões cerebelares, alterações da transmissão neuromuscular e lesões miopáticas)
2. Semiologia da sensibilidade
 Tipos de sensibilidade
 Anatomia funcional dos componentes sensitivos do sistema nervoso
 História sensitiva (parestesia vs dormência)
 Exame sensitivo (tacto superficial, dor e temperatura, pressão profunda, vibração, posição
articular, teste de Romberg e discriminação entre dois pontos)
 Estudo das cefaleias (cefaleias de tensão, enxaquecas e cefaleias em salvas)

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Semiologia da motilidade
Estudo dos sintomas e sinais relacionados com a postura e movimentos
Reflexologia:
1 Córtex Cerebral

2 Tronco Cerebral

3 Medula espinhal

4 Músculos/Articulações (movimento)

1. Controlo do Movimento
1.1 Evolução do movimento

Movimento: propriedade fundamental da vida animal


 Animais simples unicelulares: contractilidade do protoplasma e acção dos flagelos, cílios.
 Animais multicelulares: mecanismos neuromusculares
 Seres humanos: transmissão de impulsos através dos neurónios e células ganglionares para o
músculo.

O movimento é organizado em níveis hierárquicos progressivamente complexos.


Movimentos repetitivos estereotipados – redes neuronais que incluem a medula espinal, o tronco
cerebral e o cerebelo
Movimentos específicos direccionados – início ao nível do córtex cerebral (escrita, toque de
instrumentos musicais) -> uma pessoa normal não tem problema.

Controlo do Movimento é executado por interconexões funcionais entre os principais componentes


motores do Sistema Nervoso. Estas interconexões correspondem às sinapses entre os neurónios –
axónios – fibras nervosas – feixes nervosos

2. SISTEMAS MOTORES PRINCIPAIS:

1. Feixes cortico-espinal e cortico-bulbar (via sistema piramidal)


Origem: córtex sensoriomotor
Função: dar início ao movimento e direccioná-lo
NOTA: Na Via Piramidal o feixe vem do lado direito/esquerdo e ao passar nas paredes bulbares cruza
para um dos lados opostos (esquerdo/direito). Isto é, ocorre cussação (cruzamento) no bulbo.

2. Gânglios basais (Via extrapiramidal)


Origem: estruturas subcorticais profundas da substância cinzenta - núcleo caudado, putâmen (corpo
estriado = caudado + putâmen), globo pálido, núcleo subtalâmico e substância negra
Função: colaboram no início do movimento e também direccionam. Operam/adjuvam com o córtex
sensoriomotor na função dos feixes 1.

3. Sistemas descendentes subcorticais (desce do tronco cerebral)


Origem: núcleo vermelho, tecto do mesencéfalo, formação reticular e núcleos vestibulares do tronco
cerebral
Função: controlam os movimentos da mão e dos dedos.

4. Cerebelo
Função: Exerce 2 funções principais:
 Coordena a actividade motora voluntária;
 Controla o equilíbrio e tónus muscular

Feixe: conjunto de fibras nervosas / Fibra nervosa: grupo de neurónios

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Tem mais mielina

Tipo A Maior diâmetro Melhor em tudo

Maior velocidade de
condução
Intermédias
Fibras nervosas Tipo B
Menos mielina que a A

Menos diâmetro
Não tem mielina
Menos velocidade de condução

fibras à periferia da pele


Tipo C

Muito menos diâmetro

Muita menos Velocidade

4. DISTÚRBIOS/PROBLEMAS MOTORES

Astenia (Parésia): diminuição da força muscular (ex: “hoje o braço está + preguiçoso”)
Paralisia: perda da força muscular (não tem movimento)
Movimentos anormais
Reflexos anormais

NOTA: Parésia ≠ Paralisia


A Parésia é uma forma de paralisia ligeira ou incompleta que se traduz na diminuição da força muscular
e na dificuldade em executar movimentos.
A Paralisia corresponde à perda temporária ou definitiva da função motora de um músculo isolado,
grupo muscular ou parte do corpo devido a uma lesão do SNC ou SNP.

4.1. Tipos de Paralisia (perda da função motora - não conseguir executar o movimento)
Hemiplegia: paralisia de metade do corpo e dos membros correspondentes
Monoplegia: paralisia de apenas 1 membro (totalidade do membro)
Diplegia: paralisia de 2 membros iguais (2 membros superiores ou 2 membros inferiores)
Paraplegia: paralisia simétrica dos membros inferiores
Tetraplegia: paralisia dos membros superiores e inferiores

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4.2. Tipos de Movimentos Anormais


Tremor: movimento oscilatório rítmico, caracterizado pela sua relação com a actividade motora
voluntária.
▪ Tremor em repouso ou estático: surge com o membro em repouso (está parado e não
consegue parar de tremer) (ex: doença de Parkinson);
▪ Tremor postural: surge quando se tenta manter uma determinada postura);
▪ Tremor de intenção: surge durante um determinado movimento, podendo existir lesão no
tronco cerebral ou no cerebelo.
Coreia: movimentos rápidos, repetitivos (constantes) e involuntários dos músculos distais dos membros,
da face e da língua (semelhante a caretas). Está frequentemente associada a lesões do corpo estriado.
▪ Hereditária;
▪ Toxicidade (drogas);
▪ Doenças cerebrovasculares
Balismo (forma de Coreia): movimentos amplos em chicotada, com envolvimento de um ou mais
membros.
▪ Lesão do núcleo sub-talámico
Atetose/Distonia: movimentos anormais lentos e contorcidos da musculatura dos membros e do
pescoço; quando os movimentos forem tão sustentados que são considerados como posturas anormais
– Distonia. Na Atetose os movimentos menos rápidos que a Coreia.
▪ Anóxia Perinatal: ausência de oxigénio na cabeça do bebé
▪ Traumatismos perinatais
▪ Kernicterus (síndrome neurológico que afecta o recém-nascido e que consiste no excesso
de bilirrubina não conjugada nos tecidos cerebrais/neuronais)
Mioclonia: contracções súbitas e rápidas
▪ Generalizada
▪ Segmentar ou focal
Tiques: movimentos anormais súbitos, recorrentes, rápidos e coordenados, que podem ser imitados
sem dificuldade
▪ Simples transitórios (inicia-se na infância e desaparece);
▪ Simples crónicos (desaparece por volta da adolescência);
▪ Múltiplos transitórios;
▪ Múltiplos persistentes

4.3. Exame do sistema motor


4.3.1. Massa muscular
Atrofia: lesão dos neurónios motores inferiores ou do músculo;
Pseudo-hipertrofia: miopatia (musculo fraco e flácido – atrofia do próprio músculo);
Fasciculações: lesão dos neurónios motores inferiores; contracções irregulares visíveis na superfície do
músculo afectado, isto é, espasmos musculares involuntários à superfície dos músculos
Espasmos Flexores ou Extensores: contracções musculares involuntárias de grupos musculares em
consequência de lesão do neurónio motor superior.

4.3.2. Tónus muscular:


Resistência que o músculo oferece aos movimentos passivos de uma articulação executados pelo
examinador. Corresponde à Normotonia, isto é, ao tónus muscular normal.
Hipertonia: espasticidade (afecta só os extensores) / rigidez (afecta flexores e extensores);
Hipotonia: flacidez (tónus muscular diminuído);
Paratonia: situação que se verifica quando o doente é incapaz de relaxar e move/mexe constantemente
o membro a ser examinado

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4.3.3. Força muscular:


Pedimos ao doente para resistir à força do examinador.
Ausência de força muscular/Perda da força muscular
Monoplegia / Monoparésia;
Hemiplegia / Hemiparésia;
Paraplegia / Paraparésia;
Tetraplegia / Tetraparésia

4.3.4. Coordenação dos movimentos:


Examinar irregularidades em relação à frequência, amplitude, ritmo e precisão dos movimentos
Prova dedo - nariz
Prova calcanhar - joelho

4.3.5. Reflexos tendinosos:


O número de reflexos cujos dispositivos são integrados ao nível da medula e do encéfalo, é ilimitado
Arreflexia: abolição do reflexo – estádio agudo de lesão do neurónio motor superior;
Hiperreflexia: lesões do neurónio motor superior;
Assimetria de reflexos

4.3.6. Reflexos superficiais


Reflexos cutâneo-abdominais;
Reflexos cremastéricos;
Reflexos cutâneo-plantar (sinal de Babinski)

Principais Reflexos Tendinosos


Estimulo Resposta Nível segmentar Observações
Reflexo Aquileu Tendão de Aquiles Tríceps sural SI (S2) Facilidade em posição ajoelhada
No leito: joelho mais fletido
Reflexo Rotuliano Tendão Rotuliano Quadríceps L4 (L3-L5) Sentado: pernas pendentes ou
cruzadas
Reflexo médio- Ligeira flexão e adução
Sínfise Pubiana D10 a L3 Resposta simétrica dos dois lados
pubiano das coxas
Tendão do bíceps na Bíceps braquial – braquial
Reflexo bicipital C6 (C5) Polegar sobre o tendão do bíceps
prega do cotovelo anterior
Rádio acima do Supinador longo mais Antebraço meio fletido: bordo radial
Reflexo estilorradial C6 (C5-C7)
estiloide bíceps braquial anterior voltado para cima
Tendão do tríceps Braço em abdução acima do
Reflexo tricipital Tríceps braquial C7 (C6-C8)
acima do olecrânio olecrânio
Reflexo Antebraço meio fletido
Estiloide ulnar Pronação do punho C8
Cubitopronador Ligeira supinação
Reflexo Maxilar inferior Fechamento da
Protuberância
masseteriano Boa meio aberta mandibula

4.3.7. Marcha
Marcha apráxica: lesão do lobo frontal; incapacidade de executar movimentos voluntários coordenados
Marcha do “tipo tesoura”: lesão do feixe corticoespinal (andar com as pernas para dentro, isto é, trocar
as pernas para dentro)
Marcha cerebelar: lesão do cerebelo

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5. LOCALIZAÇÃO CLÍNICA DA LESÃO

5.1. Lesões do Neurónio Motor Superior


Astenia (Parésia) /Paralisia;
Espasticidade (forma de hipertonia);
Aumento dos reflexos tendinosos;
Sinal de Babinski positivo;
Perda dos reflexos cutâneo-abdominais;
Atrofia muscular

5.2. Lesões do Neurónio Motor Inferior


Astenia (Parésia) /Paralisia;
Hipotonia;
Reflexos abdominais e plantares normais;
Fasciculações sobre os músculos afectados;
Perda de reflexos tendinosos;
Atrofia dos músculos envolvidos

5.3. Lesões Cerebelares (ou do cerebelo)


Ataxia: descoordenação dos movimentos;
Hipotonia;
Reflexos tendinosos deprimidos;
Disartria: dificuldade na articulação das palavras (doentes com AVC);
Alterações da marcha;
Alterações do movimento ocular

5.4. Alterações da Transmissão Neuromuscular


Tónus muscular normal ou reduzido;
Astenia (parésia);
Reflexos tendinosos normais ou reduzidos;
Sem alterações sensoriais

5.5. Lesões Miopáticas


Sem atrofia muscular (no entanto pode também existir atrofia muscular);
Astenia;
Reflexos plantares e abdominais normais;
Sem perda sensorial

6. SEMIOLOGIA DA SENSIBILIDADE
6.1 Sensibilidade

A sensibilidade pode ser dividida em 4 tipos:


 Sensibilidade Superficial: tacto, dor, temperatura e discriminação entre dois pontos;
 Sensibilidade Profunda: sentido de posição (propriocepção) muscular e articular, dor muscular
profunda e sentido de vibração;
 Sensibilidade Visceral: fome, náuseas e dor visceral
 Sentidos Especiais: visão, audição, olfacto, paladar e equilíbrio

Conexões
Pressupõe ligações e junções – fibras ascendentes
A via sensitiva entre a pele (incluindo as estruturas profundas) e o córtex cerebral envolve três
neurónios com duas sinapses (desde a superfície da pele até ao córtex) que ocorrem a nível central:
1. Neurónio de 1ª Ordem: o corpo celular do 1º neurónio sensitivo do nervo espinal localiza-se no
gânglio da raiz dorsal (+ longe do córtex)

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2. Neurónio de 2ª Ordem: o corpo celular deste neurónio localiza-se no interior do neuroeixo


(espinal medula ou tronco cerebral)
3. Neurónio de 3ª Ordem: o corpo celular deste neurónio localiza-se no tálamo e projecta-se para
o córtex sensorial
A localização da 1ª sinapse central depende do tipo de sensibilidade, mas geralmente ocorre na coluna
cinzenta posterior da medula ou na parte inferior do tronco cerebral.
A 2ª sinapse (entre o 2º e 3º neurónios) está localizada na parte inferior do núcleo anterolateral do
tálamo (próximo do 3º neurónio), a partir do qual existe uma radiação sensitiva ao córtex cerebral.
Na medula, as fibras nervosas que medeiam o tacto, a pressão/toque e a sensibilidade postural,
ascendem através da coluna branca posterior até ao bulbo, onde fazem sinapse nos núcleos grácil e
cuneiforme.
Destes núcleos, as fibras cruzam a linha média e ascendem ao tálamo.
Um outro conjunto de fibras nervosas que medeiam a sensibilidade térmica (frio/calor) e dolorosa
(terminações nervosas), fazem sinapse nos cornos posteriores da medula (porção dorsal).
As fibras destes neurónios cruzam a linha média e ascendem na parte anterolateral da medula, através
dos feixes espinotalâmicos anterior (tacto e pressão) e lateral (dor e temperatura) até aos núcleos de
conexão do tálamo → córtex sensorial primário.

6.2. Principais Componentes Sensitivos do Sistema Nervoso


1. Feixe espinotalâmico (único que cruza)
2. Feixe espinocerebral
3. Feixe espinorreticular
4. Feixes da coluna dorsal (da medula à parte inferior do tronco cerebral)

6.3. História (anamnese)


Os distúrbios sensitivos podem ser:
 Sensibilidades anormais;
 Perda da sensibilidade;
 Dor

O termo parestesia indica sensibilidade anormal (por ex.: sensação de queimadura, formigueiro ou
picadas).
O termo dormência é frequentemente usado por doentes, para descrever uma sensação de peso,
fraqueza ou falta de sensibilidade na área afectada do corpo.

O 1º passo na análise da perda da sensibilidade é determinar a sua localização.


Por exemplo, alterações sensitivas que envolvam todos os membros, sugerem neuropatia periférica,
uma lesão medular cervical ou do tronco cerebral.
A perda da sensibilidade abaixo de um determinado nível do corpo, é característica de lesão medular.
Se a disfunção sensitiva estiver localizada em todo o membro ou hemicorpo, provavelmente a lesão
será do tálamo ou do córtex cerebral.
A compressão de um nervo periférico produz alterações características de perda por dermátomos,
diferente da compressão de raízes nervosas.

O 2º passo é determinar o tipo de perda sensitiva:


 Sistema de “tacto-pressão” da coluna dorsal;
 Sistema de “dor-temperatura” anterolateral
A evolução das queixas sensitivas também constitui uma orientação importante para a sua provável
etiologia.

6.4. Exame sensitivo


Anestesia – perda completa da apreciação do toque
Hipostesia – perda parcial da apreciação do toque
Hiperestesia – sensibilidade aumentada

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6.4.1. Modalidades Sensitivas Primárias

1. Tacto Superficial: a apreciação do tacto superficial é avaliada com um pedaço de algodão que toca
cuidadosamente na área da pele que se pretende examinar. O doente deita-se calmamente, com os
olhos fechados e faz um sinal cada vez que sentir o estímulo.

2. Dor e Temperatura: a apreciação da dor punctiforme é testada, pedindo ao doente para indicar se a
ponta de uma agulha é pontiaguda ou romba. A temperatura é avaliada através da aplicação na pele de
tubos com água quente ou fria. A sensibilidade térmica e dolorosa dependem da integridade dos feixes
espinotalâmicos laterais.

3. Pressão Profunda: a sensibilidade à pressão profunda é avaliada pela pressão nos tendões (tendão de
Aquiles)

4. Vibração: a vibração é avaliada com auxílio de um diapasão.

5. Posição Articular ou Propiocepção: o sentido de posição articular é testado, pedindo ao doente para
indicar a direcção dos movimentos passivos das articulações interfalângicas dos dedos das mãos e pés.

6.3.2. Funções sensorais complexas

1. Teste de Romberg: pede-se ao doente que fique parado com os pés juntos, braços estendidos e olhos
fechados, durante alguns segundos.
O teste é positivo (anormal), se o doente demonstrar insegurança, isto é se for observada qualquer
tendência para balançar ou cair.

2. Discriminação entre 2 pontos: a capacidade para distinguir o toque simultâneo em dois pontos
vizinhos, depende da integridade dos sistemas nervoso central e periférico.
Pede-se ao doente para indicar se sente o toque em um ou dois pontos de um compasso.

3. Agrafestesia, Asteognosia e Abarognosia


A dificuldade em identificar números ou letras desenhadas na palma da mão (agrafestesia), em
distinguir texturas e identificar objectos pequenos e familiares colocados na sua mão, enquanto
mantém os olhos fechados (astereognosia), ou a incapacidade em distinguir entre pesos diferentes
(abarognosia), indicam lesão com envolvimento do lobo parietal contralateral.

7.5 Dor
As terminações nervosas livres dos nervos periféricos e cranianos são os receptores específicos para a
dor (nociceptores).
As fibras da dor dos nervos periféricos têm um diâmetro muito pequeno e por isso são facilmente
afectadas pelos anestésicos locais. O tecido lesado pode libertar prostaglandinas, que baixam o limiar
dos nociceptores periféricos aumentando a sensibilidade à dor (hiperalgesia).
A aspirina (mais usado em problemas cardíacos) e outros medicamentos anti-inflamatórios não
esteróides (AINES) inibem a acção das prostaglandinas e aliviam a dor (hipoalgesia ou analgesia).

Sistemas de dor
A via ascendente para a sensibilidade dolorosa consiste em dois sistemas:
 O feixe espinotalâmico: Conduz a sensação de dor aguda, em pontada
 O sistema espinorreticulotalâmico: Conduz a dor profunda pouco localizada, em queimadura
As vias são interrompidas quando o quadrante ventrolateral da medula espinal é lesado por
traumatismo ou por cirurgia realizada deliberadamente para alívio da dor.
A perda contralateral de toda a sensibilidade dolorosa ocorre debaixo da lesão.

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Dor Referida
As células da coluna posterior da medula que recebem sensações nocivas de fibras aferentes da pele,
também recebem impulsos de nociceptores das vísceras.
Quando os aferentes viscerais recebem um estímulo forte, o córtex pode interpretar erradamente a
sua origem.
Por exemplo, a dor referida ao ombro produzida pela cólica biliar – os segmentos espirais que
transmitem a dor da vesícula biliar, também recebem aferentes da região escapular (Teoria da
Convergência).

7.6 Cefaleias
As cefaleias afectam cerca de 80% da população pelo menos uma vez por ano. Cerca de 30% recorre à
medicação analgésica e 2% consultam o médico. Aproximadamente 15% são encaminhadas para a
investigação laboratorial ou a um especialista.
A dor na cefaleia é transmitida ao cérebro por fibras nociceptoras do V par craniano e por raízes
cervicais superiores da medula.
A dor origina-se a partir da irritação química ou da distensão das meninges ou ainda dos grandes vasos
na base do cérebro inervados pelo trigémeo.
Como o cérebro em si não contém fibras nociceptivas, as doenças aí localizadas não causam dor,
enquanto não houver compromisso secundário das meninges ou dos grandes vasos.

Classificação das cefaleias


 Cefaleias de tensão
 Enxaquecas
 Cefaleias em salvas (pulsáteis)

a) Cefaleias de Tensão

As cefaleias de tensão são do tipo mais comum de cefaleias, afectam a maioria das pessoas e
consistem numa dor surda e constante, geralmente localizada nos músculos temporais, faciais, ou
suboccipitais bilateralmente. Podem durar horas a dias. Por vezes são identificados factores
“stressantes” pessoais e os doentes mostram-se ansiosos ou deprimidos. Não há anomalias
neurológicas. O tratamento engloba medidas gerais, analgésicos leves e relaxantes musculares.

b) Enxaquecas

As enxaquecas afectam cerca de 10% da população. É mais frequente nos adultos jovens, sobretudo
nas mulheres. A cefaleia pode ser ou não precedida de aura (sinais/sintomas que precedem o inicio da
crise).
É geralmente bilateral e dura cerca de 4 a 72 horas. Está associada a náuseas e vómitos e o doente
apresenta sensibilidade à luz (fotofobia), ao som (fonofobia) e a qualquer tipo de actividade incluindo
tarefas mentais que parecem agravar a crise. Os doentes procuram um ambiente tranquilo e escuro e
preferem ficar sozinhos.
O sono alivia as crises na maior parte dos casos, podem ocorrer recidivas várias vezes no mês. A
história familiar geralmente é positiva. Geralmente não é necessário o recurso a testes laboratoriais.
As crises agudas de enxaqueca necessitam normalmente de tratamento farmacológico para o alívio da
dor com analgésico simples e anti-eméticos. O tratamento profilático é discutível.

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7. Doenças Neurológicas mais Comuns


 Convulsões e Epilepsias
 Esclerose Múltipla
 Doença de Parkinson
 Doença de Alzheimer

7.1 Convulsões e Epilepsias

7.1.1 Convulsões
Uma crise convulsa consiste numa descarga excessiva anormal de neurónios, geralmente de curta
duração e que origina anomalias súbitas do comportamento.

Clinicamente, as crises são classificadas em:


 Parciais
 Simples – não há alteração do estado de consciência
 Complexas – há alteração do estado de consciência
 Generalizadas

As crises convulsivas são situações frequentes, Ao longo da vida, a probabilidade de ocorrer uma crise é
de 6%, sendo de 3% a hipótese de ter mais do que uma crise.
A incidência é mais alta nos dois extremos da curva da vida (lactentes e idosos)

Causas comuns de convulsões:


 Crises febris benignas
 Epilépsia idiopática
 Traumatismos craneanos
 AVC (Acidentes Vasculares Cerebrais)
 Tumores cerebrais
 Meningite / Encefalite
 Hipoglicémia (glicose)
 Hiponatrémia (sódio)
 Hipoclacémia (cálcio)
 Abstinência de drogas

7.1.2 Epilepsia
A epilepsia é um síndrome caracterizado por crises epilépticas recorrentes e é uma das causas mais
frequentes de perda episódica da consciência.
A epilepsia idiopática afecta cerca de 0.2 a 0.4% da população geral.

7.1.2.1 Classificação das epilepsias


 Epilepsia generalizada
 Epilepsia parcial

7.1.2.1.1 Epilepsia Generalizada

a) Convulsões túnico-clónicas (“Grande mal”)


A crise tem um início extremamente brusco marcado por um grito, uma queda responsável por
contusões e perda da consciência total e imediata.
Desenrola-se em três fases, durando ao todo cerca de 5 a 10 minutos.
A fase túnica é marcada por uma contracção intensa e generalizada dos músculos dos membros, da
coluna vertebral, do tórax e da face originando com frequência apneia, cianose e mordeduras da língua.
A fase clónica, caracteriza-se pelo aparecimento de abalos musculares bruscos, generalizados e
síncrones.
A fase resolutiva, corresponde ao coma profundo com relaxamento muscular generalizado, respiração
ruidosa, espuma sanguinolenta nos lábios e emissão de urina, que indica o fim da crise. Um estado
confusional pós-crítico pode suceder ao coma.

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b) Ausências (“Pequeno mal”)


São crises geneticamente transmitidas e que têm início na infância (entre os 4 e os 6 anos) e que
raramente persistem na vida adulta.
São caracterizadas por perda breve da consciência (5 a 10 segundos), com interrupção da actividade,
olhar fixo e ausência de resposta. Não existe queda nem perda do tónus muscular.
c) Crises mioclónicas
Iniciam-se geralmente durante a adolescência, entre os 13 e 20 anos e caracterizam-se por espasmos
musculares bilaterais e síncrones. Ocorrem habitualmente durante a manhã, pouco tempo depois do
acordar. Uma história familiar é encontrada na maioria dos casos.
d) Estado de mal epiléptico
É uma emergência médica que pode levar a uma lesão cerebral permanente, se não for tratada de
imediato em regime de internamento.
As convulsões não param espontaneamente ou recidivam com muita frequência, de tal modo que a
consciência completa não chega a ser restaurada, entre os episódios sucessivos.

7.2 Esclerose Múltipla

É uma das doenças neurológicas mais comuns e a sua incidência é mais alta em adultos jovens.
Os sintomas iniciais começam geralmente antes dos 55 anos de idade com um pico de incidência entre
os 20 e os 40 anos. Atinge mais as mulheres do que os homens (1,5:1)

É caracterizada pelo desenvolvimento de áreas focais de desmielização ao nível da substância branca do


sistema nervoso central.
Pode dar origem a paralisia, perdas sensitivas e alterações do humor e das capacidades mentais.
Embora a causa seja desconhecida, as evidências indicam que factores genéticos e ambientais
interagem com o sistema imune, levando à desmielinização.

O 1º surto atinge o seu pico máximo em horas a dias e a remissão ocorre em 2 a 6 semanas. Pode
originar fraqueza dos membros inferiores (40%), perdas sensitivas (20 a 30%), nevrite óptica (25%) e
sinais e sintomas do tronco cerebral (10 a 15%).
Com o evoluir da doença podem surgir sintomas mais complexos – depressão e demência (ligeira).
Cerca de 15% dos doentes têm uma evolução benigna, após o 1º episódio.
Cerca de 60% evolui com remissões e recidivas.
Muitos doentes têm uma frequência elevada de recidivas no início da doença, com um ou mais surtos
por ano.
Uma evolução mais favorável é esperada quando o início da doença ocorre antes dos 40 anos, com
poucos surtos e com recidivas e remissões nos primeiros cinco anos.
Se a doença tiver início após os 40 anos, irão predominar sisnais motores, frequência elevada de surtos
e o prognóstico é desfavorável.

Avaliação diagnóstica
 Ressonância Magnética
 Estudos de potenciais evocados
 Análise ao LCR
Não se conhece, actualmente, nenhuma cura para esta doença. O tratamento é dirigido para a
imunossupressão e para o alívio dos sintomas incapacitantes físicos e emocionais.

7.3 Doença de Parkinson

É o principal exemplo dos distúrbios hipocinéticos dos movimentos e resulta de lesão dos gânglios da
base. A lentificação dos movimentos está relacionada com a perda dos níveis de dopamina no corpo
estriado. Há dificuldade em iniciar movimentos (acinésia), especialmente para se levantar de uma
cadeira ou andar, diminuição dos movimentos (hipocinésia) e lentidão dos movimentos (bradicinésia).

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Caracteriza-se por:
 Rigidez muscular  Diminuição dos  Tremor em repouso
movimentos

Os sintomas iniciam-se entre os 40 e os 70 anos de idade e evoluem por um período de 10 a 20 anos.


Atinge igualmente os dois sexos.
A prevalência é de 1 a 2 casos/ 1000 pessoas (E.U.A. e Europa Ocidental)
Os reflexos tendinosos são normais e não há reflexos patológicos associados à rigidez.
O controlo voluntário dos movimentos e a força muscular estão preservados, mas tornam-se muito
lentos.
Há diminuição da expressão facial, da potência da voz, da rapidez de mastigação e deglutição e dos
movimentos associados (por exemplo: balançar os braços ao caminhar).
A marcha caracteriza-se por passos lentos, curtos e arrastados. Os mecanismos posturais estão
alterados.
Aparece gradualmente uma postura encurvada anormal, com flexão do pescoço, tronco e braços
(postura simiesca).
A demência ocorre em cerca de 40% dos doentes.
Grande parte dos sintomas podem ser revertidos, através da administração de medicação à base de
Levodopa.
O diagnóstico assenta essencialmente na clínica (sintomatologia típica e resposta ao tratamento com
levodopa).

Etiologia:
 Idiopática
 Drogas (metoclopramida, haloperidol, …)
 Toxinas (manganês, monóxido de carbono)
 Infecções (encefalite)
 Genéticas
 Traumatismos

7.4 Doença de Alzheimer


É de longe a causa mais comum de demência (50 a 70% do total de casos). Cerca de 1/3 das pessoas
com mais de 85 anos sofre desta doença.
É a 4ª causa de morte nos E.U.A.. Tem uma incidência igual em ambos os sexos. Torna-se
progressivamente mais comum com o avançar da idade.
O risco ao longo da vida, de desenvolver esta patologia, na população em geral, é de 15 a 25%. Torna-se
muito mais elevado nos indivíduos com factores de risco presente.

Os principais factores de risco que contribuem para o desenvolvimento da doença são:


 Idade avançada
 História familiar
 Traumatismos craneoencefálicos

O diagnóstico clínico provável, baseia-se numa deterioração progressiva da memória e das funções
cognitivas.
Na falta de um teste laboratorial específico, o diagnóstico definitivo necessita de biópsia cerebral (ou
autópsia), que revela:
 Placas neuríticas senis (nº significativo)
 Emaranhados neurofibrilhares

Na maioria dos casos, a 1ª manifestação clínica é a tendência ao esquecimento (memória recente). Os


doentes têm dificuldades em recordar nomes próprios pouco utilizados ou palavras menos frequentes.
Posteriormente, tornam-se desorientados em relação ao espaço e ao tempo.
Durante a fase inicial da doença, a personalidade do doente mantém-se intacta com preservação das
suas capacidades sociais.

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ESAII – Humberto Faria

As manifestações clínicas tardias são caracterizadas por:


 Perda das capacidades sociais
 Sintomas psiquiátricos (psicose, …)
 Convulsões
 Rigidez e bradicinésia

Etiologia:
 Idiopática
 Genética (S. Down, D. de Alzheimer familiar)
 Tóxica (alumínio)
 Infecciosa
 Neuroquímica

Não existe actualmente, nenhum tratamento disponível para reverter a sintomatologia, nem para
impedir a progressão da doença.

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