Você está na página 1de 75

Medicina Legal

UFPR – 2023.2
Sumário
1. Perícias e Peritos ...................................................................................................... 6
1.1 Resumo do conteúdo.......................................................................................... 6
1.1.1 Perícia ......................................................................................................... 6
1.1.2 Perito ........................................................................................................... 7
1.1.3 Condução da Perícia .................................................................................. 9
1.1.4 Falso Testemunho ou Falsa Perícia......................................................... 10
1.2 Questões de Prova ........................................................................................... 11
2. Documentos Médicos .............................................................................................. 14
2.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 14
2.1.1 Introdução ................................................................................................. 14
2.1.2 Atestado médico ....................................................................................... 14
2.1.3 Prontuário .................................................................................................. 14
2.1.4 Receita ...................................................................................................... 15
2.1.5 Laudo/parecer médico .............................................................................. 15
2.1.6 Declaração de óbito .................................................................................. 15
2.1.7 Outros documentos................................................................................... 16
2.1.7.1 Relatório médico................................................................................ 16
2.1.7.2 Notificação ......................................................................................... 16
2.1.7.3 Boletim médico .................................................................................. 16
2.1.7.4 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) .................... 17
2.1.8 Médico como testemunha......................................................................... 17
2.2 Questões de Prova ........................................................................................... 18
3. Sexologia Forense .................................................................................................. 21
3.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 21
3.1.1 Crimes sexuais .......................................................................................... 21
3.1.1.1 Introdução .......................................................................................... 21
3.1.1.2 Estupro .............................................................................................. 21
3.1.1.3 Importunação sexual ......................................................................... 21
3.1.1.4 Assédio sexual .................................................................................. 21
3.1.1.5 Violência sexual mediante fraude ..................................................... 22
3.1.2 Parafilias e Transtornos Parafílicos .......................................................... 22
3.1.2.1 Transtorno Voyeurista ....................................................................... 22
3.1.2.2 Transtorno exibicionista .................................................................... 22
3.1.2.3 Transtorno Frotteurista ...................................................................... 23
3.1.2.4 Transtorno do Masoquismo Sexual .................................................. 23
3.1.2.5 Transtorno do Sadismo Sexual......................................................... 23
3.1.2.6 Asfixiofilia autoerótica........................................................................ 24
3.1.2.7 Transtorno Pedofílico ........................................................................ 24
3.1.2.8 Transtorno Fetichista......................................................................... 24
3.1.2.9 Transtorno transvéstico..................................................................... 24
3.1.2.10 Outros transtornos parafílicos ......................................................... 24
3.1.3 Tratamento de parafilias ........................................................................... 24
3.2 Questões de Prova ........................................................................................... 25
4. Tocoginecologia Forense ........................................................................................ 28
4.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 28
4.1.1 Aborto legal ............................................................................................... 28
4.1.2 Infanticídio e neonaticídio ......................................................................... 29
4.2 Questões de Prova ........................................................................................... 30
5. Energias Físicas ...................................................................................................... 33
5.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 33
5.1.1 Temperatura .............................................................................................. 33
5.1.2 Pressão ..................................................................................................... 34
5.1.3 Eletricidade................................................................................................ 34
5.1.4 Veneno ...................................................................................................... 34
5.1.5 Outras energias físicas ............................................................................. 35
5.1.5.1 Som.................................................................................................... 35
5.1.5.2 Radiação............................................................................................ 35
5.2 Questões de Prova ........................................................................................... 36
6. Asfixias Mecânicas .................................................................................................. 38
6.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 38
6.1.1 Enforcamento ............................................................................................ 38
6.1.2 Estrangulamento ....................................................................................... 39
6.1.3 Esganadura ............................................................................................... 39
6.1.4 Afogamento ............................................................................................... 39
6.2 Questões de Prova ........................................................................................... 41
7. Instrumentos Mecânicos ......................................................................................... 46
7.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 46
7.1.1 Instrumentos perfurantes .......................................................................... 46
7.1.2 Instrumentos cortantes ............................................................................. 46
7.1.3 Instrumentos contundentes ...................................................................... 47
7.1.4 Instrumentos perfurocortantes .................................................................. 47
7.1.5 Instrumentos corto-contundentes ............................................................. 48
7.2 Questões de Prova ........................................................................................... 48
8. Psiquiatria Forense Criminal ................................................................................... 51
8.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 51
8.1.1 Introdução ................................................................................................. 51
8.1.2 Imputabilidade ........................................................................................... 51
8.1.3 Exemplos................................................................................................... 52
8.2 Questões de Prova ........................................................................................... 54
9. Lesões Produzidas por Arma de Fogo ................................................................... 56
9.1 Resumo do conteúdo........................................................................................ 56
9.1.1 Armas de Fogo .......................................................................................... 56
9.1.2 Balística interna......................................................................................... 57
9.1.3 Balística externa........................................................................................ 57
9.1.3.1 Tiro encostado ................................................................................... 57
9.1.3.2 Tiro à curta distância ......................................................................... 58
9.1.3.3 Tiro à distância .................................................................................. 58
9.2 Questões de Prova ........................................................................................... 59
10. Tanatologia forense............................................................................................... 61
10.1 Resumo do conteúdo ..................................................................................... 61
10.1.1 Fenômenos cadavéricos......................................................................... 61
10.1.1.1 Fenômenos abióticos imediatos ..................................................... 61
10.1.1.2 Fenômenos abióticos consecutivos ................................................ 61
10.1.1.3 Fenômenos transformativos destrutivos......................................... 63
10.1.1.4 Fenômenos transformativos conservadores .................................. 63
10.1.2 Cronotanatognose .................................................................................. 64
10.2 Questões de Prova ......................................................................................... 64
11. Lesões Corporais .................................................................................................. 67
11.1 Resumo do conteúdo ..................................................................................... 67
11.1.1 Laudo médico-legal................................................................................. 67
11.1.2 Lesões corporais leves ........................................................................... 67
11.1.3 Lesões corporais graves......................................................................... 67
11.1.4 Lesões corporais gravíssimas ................................................................ 68
11.1.5 Lesão corporal seguida de morte ........................................................... 68
11.1.6 Lesão corporal culposa ........................................................................... 68
11.1.7 Fatores que alteram a pena.................................................................... 68
11.2 Questões de Prova ......................................................................................... 69
12. Toxicologia Forense .............................................................................................. 72
12.1 Resumo do conteúdo ..................................................................................... 72
12.1.1 Avaliação de performance humana........................................................ 72
12.1.2 Investigação toxicológica post-mortem .................................................. 72
12.1.3 Adições e Psiquiatria Forense ................................................................ 73
12.1.4 Antropologia forense ............................................................................... 74
12.1.4.1 Identidade ........................................................................................ 74
12.1.4.2 Identificação .................................................................................... 74
12.2 Questões de Prova ......................................................................................... 75
1. Perícias e Peritos

1.1 Resumo do conteúdo

1.1.1 Perícia
A perícia é um exame detalhado realizado por alguém com conhecimentos
técnicos quanto a um assunto específico, com a finalidade de comprovar, ou não,
fatos de interesse da justiça. A perícia é realizada — necessariamente — por um
perito (profissional apontado por autoridade, médico ou não), tendo fé pública e
tratando-se da prova científica de uma situação.
A perícia médico-legal é toda aquela realizada utilizando-se de conhecimento
médico para apurar o fato de interesse jurídico. Conceito: Todo procedimento médico
promovido por autoridade policial ou judiciária, praticado por profissional da medicina,
visando prestar esclarecimentos à justiça.
As autoridades competentes capacidades a solicitar perícias são, apenas, o
juiz ou o delegado de polícia (salvo exceções em caso de inquéritos militares, em que
um oficial encarregado pode solicitar a perícia), ou seja, o Ministério Público atua
como uma parte no processo, não podendo solicitar perícias, devendo solicitar ao juiz
caso necessário.
Quanto à perícia criminal, deve-se entender o fluxo de abertura de um
processo judicial. O inquérito policial é uma questão administrativa, de modo que não
é necessário presença de advogados ou outro tipo de assessoria para o depoimento.
Trata-se de um formulário a ser preenchido, seguindo modelos predefinidos. A partir
do momento que se abre um processo, trata-se de uma questão judicial, em que é
necessária uma estrutura diferente e as partes são estabelecidas. Pode ser produzido
um laudo durante o inquérito (delegado solicita) por um médico legista, da mesma
forma que um perito pode produzir outro laudo durante o processo judicial (juiz
solicita), refutando ou não o laudo anterior.

Classificação das perícias:


1. Criminal: Prevista no Código de Processo Penal. Deve ser realizada sempre
que o crime deixar vestígios (exame de corpo de delito).
a. Artigo 158 CPP – Quando a infração deixar vestígios, será indispensável
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.
i. Ninguém pode ser preso se não houver indícios de que foi o autor
do crime e provas de que o crime existiu (confissão não é
suficiente)
2. Civil: Objetiva reparar danos, relacionada ao Direito Civil (conjunto de regras
da vida em sociedade)
3. Administrativa (previdenciária): Objetiva subsidiar a autoridade judiciária
acerca de diagnósticos relacionados a ações previdenciárias ou assistenciais
(INSS).
4. Trabalhista

1.1.2 Perito
Perito é o profissional a quem cabe a realização de exame técnico de sua área
de formação para esclarecimentos de fato de interesse da justiça. Ele deve apontar
nos laudos apenas questões técnicas, pautadas nas normas jurídicas e científicas da
área abordada, sendo vedada a formação de juízo de valor. Os laudos devem ser
suficientemente esclarecedores, visando dar base ao convencimento do juiz e motivar
suas decisões.
Classificação dos peritos:
1. Oficial: Concursado. Exerce funções pertinentes ao cargo público que ocupa.
a. Perito de carreira de médico-legista
b. Perito servidor do Estado à disposição do IML
c. Perito servidor municipal à disposição do IML
2. Nomeado: Não é servidor público. Exerce transitoriamente a função, na
ausência de perito oficial e em casos de perícia civil. Este profissional, via de
regra, deve possuir diploma de curso superior e inscrição no órgão de classe,
tendo por obrigação prestar compromisso perante a autoridade requisitória.
a. Perito designado esporadicamente por autoridade
Por outro lado, o assistente técnico é aquele que deve defender o interesse da
parte que o contratou, para que o processo ocorra da forma mais favorável possível,
dentro dos limites da legalidade e da razoabilidade. Sua função é acompanhar o
desenrolar da prova pericial, apresentar sugestões, criticar o laudo do perito nomeado
e apresentar as hipóteses possíveis, desde que técnica e juridicamente sustentáveis.
O parecer (documento produzido pelo assistente técnico) tem menor peso que o laudo
pericial, uma vez que o assistente tem um lado no julgamento, o perito não.
Artigo 159 CPP, lei n. 11.690/2008 - Exame de corpo de delito e outras perícias serão
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
1. Na falta de perito, o exame será realizado por duas pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do
exame.
2. Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo
a. A partir do momento que alguém é nomeado, ele responde como
funcionário público e sofre suas consequências
3. Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao
ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de
assistente técnico.
4. O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após conclusão
dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes
intimadas desta decisão
a. Juiz pergunta se as partes querem solicitar um assistente técnico, que
vai avaliar o laudo do perito oficial (nomeado pelo juiz)
5. Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:
a. Requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para
responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os
quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com
antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as
respostas em laudo complementar.
i. Ou seja, as partes podem questionar o perito quanto ao laudo,
desde que submetam as perguntas com antecedência
b. Indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em
prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência
i. Perito faz laudo, assistente técnico faz parecer. Pareceres não
têm fé pública
6. Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à
perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre
a sua guarda, e na presença de perito oficial, para exames pelos assistentes,
salvo se for impossível a sua conservação.
7. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma área de
conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um
perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.
Peritos nomeados pela autoridade são obrigados a aceitar o encargo, sob pena
de multa, salvo motivo escusável (Artigo 277 do CPP). Os motivos escusáveis são:
casos semelhantes às testemunhas, não se encontrar tecnicamente apto, motivos de
força maior, matéria em que não se encontre habilidade, fato sigiloso ou interesse
pessoal no caso. Motivo de força maior se refere a qualquer evento que acontece
imprevisivelmente de forma inevitável (deve ser inevitável e o perito deve ser ausente
de culpa). De acordo com o CRM, perícias criminais são de responsabilidade do
Estado, devendo o juiz nomear peritos apenas em caso de perícia civil, de forma que
o perito fica submetido ao código de processo civil (médicos-legistas que fazem
perícias criminais estão submetidas ao código de processo penal).
Impedimento e suspeição
1. Suspeição – Receio de atuar sem imparcialidade
a. Amigo íntimo ou inimigo capital
b. Se tiver aconselhado qualquer das partes
c. Motivo íntimo
d. Interesse em favor de uma das partes
2. Impedimento – Vedado de exercer suas funções no processo
a. Cônjuge ou parente até terceiro grau atuando como qualquer das partes
do processo
b. Atuou como qualquer outra função no processo, ou como testemunha
c. Algum interesse externo no processo
1.1.3 Condução da Perícia
O perito tem autonomia para definir algumas variáveis, desde que vise à
verdade: definir local do exame, definir dia e hora da perícia, definir urgências, solicitar
exames, requisitar pessoal auxiliar, avaliar as condições técnicas para produção da
prova.
O perito deve ter condições técnicas, não permitir interferências internas e
externas, deve possuir livre condução do exame, acesso à bibliografia, acesso à
legislação, acesso à exames complementares, acesso à avaliação de especialistas,
liberdade nas conclusões, remuneração adequada e apoio auxiliar.
É vedado ao médico:
1. Assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-legal quando não
tenha realizado pessoalmente o exame;
2. Ser perito ou auditor do próprio paciente, de sua família ou de qualquer outra
pessoa com a qual tenha relação capaz de influir em seu trabalho;
3. Intervir nos atos profissionais de outro médico ou fazer qualquer apreciação
em presença de examinado. Deve reservar suas observações para o relatório.
4. Realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres humanos no
interior de prédios ou de dependências de delegacias de polícia, unidades
militares, casas de detenção e presídios.
O inquérito tem como finalidade definir a autoria e a materialidade do ato.
Dessa forma, cabe ao perito conhecer o motivo da perícia requisitada. A solicitação
da perícia deve ser precoce e seu resultado poderá definir os rumos da investigação.
Deve-se conhecer alguns termos importantes quanto à apuração das provas:
1. Valor da prova: Prova é o elemento que demonstra autenticidade e/ou
veracidade de um fato.
a. Seu objetivo é convencer o julgador.
b. Artigo 182 CPP: O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo
ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
2. Objetos da prova pericial: Podem ser pessoas, cadáveres, parte de cadáveres
ou objetos.
3. Erros na requisição: Solicitação de exames ou de perícia incompleta ou
impossível
4. Laudo pericial: Fonte de prova e retrato escrito da perícia. Deve ser prova fiel,
independente e sem vício na elaboração. Tem como etapas preâmbulo,
histórico, exame e descrição, discussão, conclusão e resposta aos quesitos.
5. Dificuldade de análise pela autoridade: Ocorre por ausência de curso teórico
de medicina legal na formação jurídica, inabilidade de compreender os
significados periciais e ausência de noções de criminalística.
6. Suspeição: Dúvida quanto à imparcialidade e independência. Ocorre em casos
de receio de atuar sem imparcialidade, amigo íntimo ou inimigo capital, se tiver
aconselhado qualquer das partes, consanguíneo até terceiro grau, motivo
íntimo ou interesse em favor de uma das partes.
1.1.4 Falso Testemunho ou Falsa Perícia
Art. 342 CPP – Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como
testemunha, perito, contator, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral: pena - reclusão, de um a três
anos e multa.
1. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado
mediante suborno ou cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penas, ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública direta ou indireta
2. O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu
o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
1.2 Questões de Prova
01

Resposta B
I - V -> Segundo o Artigo 158 do CPP
II - V -> Artigo 277 do CPP
III - V -> Artigo 145 do CPC

02

Resposta C
- Cível - Perito nomeado + assistentes técnicos de cada parte
- Criminal/penal - Perito do IML (legista concursado)
- Previdenciária - Perito concursado
03

Resposta C

a) O juiz desconsidera os quesitos impertinentes ao julgamento


b) Cabe às partes o pagamento da perícia, normalmente a parte que perde paga,
mas isso pode variar
c) Cabe às partes envolvidas no processo formular os quesitos a serem
esclarecidos pelo perito
d) Cada parte contrata o seu assistente técnico e banca seus honorários
e) Geralmente o juiz define para o perito entregar o laudo 20 dias antes do
julgamento

04

Resposta B
I - F -> Se fez lesão corporal, é lesão corporal
II - F -> As autoridades que solicitam perito são o juiz ou o delegado de polícia
III - V -> O perito pode solicitar mais tempo de avaliação caso julgue necessário,
desde que por motivo justificável
IV - F -> Por essa resolução, é vedado ao médico realizar exames médico-
periciais de corpo de delito em seres humanos no interior de prédios ou de
dependências de delegacias de polícia, unidades militares, casas de detenção e
presídios. Em hospital pode.
V - F -> O prazo é definido de acordo com a complexidade do caso, mas 24h é
muito pouco de qualquer maneira
05

Resposta B
a) Definição antiga, hoje é realizado apenas por 1 perito
b) Definição de corpo de delito
c) A perícia pode ser realizada em outros lugares, fora o IML (vide item IV da
questão anterior)
d) Há suspeição em alguns casos, como amigo íntimo ou inimigo capital, se o
perito tiver aconselhado qualquer das partes, motivo íntimo, ou interesse em favor
de uma das partes
e) Os quesitos a serem abordados no laudo de lesão corporal são definidos de
acordo com o que for apresentado pelas partes
2. Documentos Médicos

2.1 Resumo do conteúdo

2.1.1 Introdução
Documentos médicos são qualquer informação descrita por um médico, com
interesse jurídico. É uma importante fonte de segurança para o médico e para o
paciente, tratando-se de responsabilidade exclusiva do médico. Tem finalidade
terapêutica, mantendo o histórico de saúde do paciente, além de finalidade jurídica
por ter valor legal. Os documentos, para serem considerados legítimos, devem conter
o nome do médico, registro do CRM e RQE, local de trabalho (endereço), além da
identificação do paciente. Importante lembrar de manter o sigilo médico na confecção
desses documentos, revelando informações sensíveis apenas em casos que seja
necessário, e com consentimento do paciente.

2.1.2 Atestado médico


Trata-se de uma afirmação simples de um fato médico e suas consequências,
podendo incluir dias de repouso (afastamento) à juízo do médico, ato médico
realizado, diagnóstico (CID-11) se tiver expressa concordância do paciente (por
escrito, pois trata-se de quebra de sigilo). Emitir atestado médico falso é crime,
devendo haver descrição em prontuário da consulta e da razão de emissão do
atestado (detenção de um mês a um ano, caso haja lucro; também se aplica multa).
O médico também não pode cobrar valor adicional para a emissão do documento.
O atestado também pode ser emitido para fins periciais, contendo o
diagnóstico, resultado de exames complementares, prognóstico, condutas
terapêuticas tomadas, consequências à saúde do paciente e funcionalidade, provável
tempo de recuperação, assinatura e identificação o médico, além de assinatura do
paciente ou de seu responsável legal (consentimento com a quebra de sigilo).
Atestado máximo que pode ser emitido é de 15 dias.
Há um diferente peso jurídico entre atestado médico e declaração médica,
sendo importante usar a terminologia correta para não prejudicar o paciente que
realmente necessita ser afastado do trabalho (“atesto” e não “declaro”). O CID listado
no documento pode ser de consulta médica, a fim de não causar quebra de sigilo.

2.1.3 Prontuário
Trata-se do registro do histórico dos pacientes, sendo de guarda do médico ou
da instituição em que ocorreu a consulta. Deve ser registrado para qualquer consulta
ou procedimento, contendo informações, imagens e resultados de exames. As
informações devem ser organizadas em ordem cronológica, criando um novo registro
a cada interação, além de que cada registro deve informar data, hora, CRM e
assinatura do médico. É uma importante forma de comunicação com outros membros
da equipe assistencial.
Esse registro deve ser mantido no mínimo por 20 anos caso seja feito
manualmente com papel e caneta, porém deve ser mantido indefinidamente se feito
de maneira digital, sendo conservado em softwares da instituição ou do contratado,
sem prazo de validade.

2.1.4 Receita
Trata-se da prescrição de medicamentos ou cuidados para um paciente feita
pelo médico. Deve conter informações de maneira clara e precisa, com a identificação
do paciente, nome do medicamento, concentração, dosagem, forma terapêutica,
quantidade, posologia, duração do tratamento, além de data, hora e local da
prescrição, e identificação do médico prescritor.
Existem vários tipos de receitas, sendo elas listadas abaixo:
1. Receituário médico branco simples – 1 via
2. Receituário médico branco especial – Uso controlado
a. Antibióticos, TARV, psicofármacos, imunossupressor
b. 2 vias (uma fica na farmácia), validade de 30 dias
3. Receituário médico azul - Psicofármacos de maior controle
a. Apenas um medicamento por receita
b. Validade de 30 dias
4. Receituário médico amarelo
a. Medicamentos extremamente controlados
b. Risco de abuso
c. 1 medicamento por receita, validade de 30 dias

2.1.5 Laudo/parecer médico


Documento emitido por um árbitro, perito ou assistente técnico. Contém fatos
a serem analisados pela justiça que necessitam de averiguação técnica científica.
Este documento é de natureza jurídica opinativa, respondendo de forma positiva ou
negativa os quesitos levantados pelas partes de um processo. Difere de um auto por
ser redigido pessoalmente pelo próprio perito, ao invés de ditar os achados a um
escrivão. Para sua redação, faz-se necessária a análise de outros documentos
médicos, além de entrevistas e exames específicos.

2.1.6 Declaração de óbito


Documento feito pelo médico assistente em três vias (família, cartório e serviço
em que a DO foi emitida). É obrigação do médico assistente emitir a declaração de
óbito, exceto em caso de morte suspeita ou violenta.
A primeira informação a ser considerada é o tipo de morte, podendo ser natural
(por doença ou antecedentes patológicos) ou violenta (por ação traumática de
acidente, homicídio ou suicídio - overdose entra como suicídio). No caso de mortes
violentas, ou suspeitas destas, a autópsia e o encaminhamento para o IML são
compulsórios. A consequência final de uma cadeia de eventos que começou de forma
violenta também deve ir para a autópsia (o médico assistente não pode emitir a DO).
A morte de um recém-nascido, nem que seja de poucos minutos de vida, deve
ser atestada. Enquanto a morte fetal depende da situação: É obrigatório atestar
quando a gestação passou de 20 semanas, quando o feto tem mais de 500g, quando
o feto mede mais de 35 cm e quanto a família solicitar, mesmo não entrando nos
critérios.
Exemplo de situações de emissão de DO:
1. Paciente morre na ambulância
a. Morte natural – Médico que está acompanhando emite a DO
b. Morte violenta – IML
2. Paciente morre em trânsito ao hospital, sem médico acompanhando (mesmo
para paciente que morre em casa)
a. Sem sinais de violência - Médico plantonista emite DO
b. Paciente tinha histórico de estado terminal - Médico plantonista emite
DO
c. Apresenta sinais de violência - IML
d. Faltam informações (morte suspeita) - SVO
Quanto ao preenchimento da declaração de óbito, é importante ressaltar que
a causa de morte imediata ou terminal é a doença ou estado mórbido que causou
diretamente a morte; as causas intermediárias são causas antecedentes e estados
mórbidos que existiram e produziram a causa imediata; e, por fim, a causa básica de
morte é o evento ou estado que deu origem à cascata que levou à morte. Também
há espaço para citar outras condições significativas que contribuíram para a morte e
que não entram diretamente na cadeia.

2.1.7 Outros documentos


2.1.7.1 Relatório médico
Feito pelo médico assistente, contendo um resumo do caso e descrevendo os
fatos ocorridos que levaram a determinado desfecho. Não tem natureza opinativa,
mas sim jurídica declarativa. Pode ser um resumo de alta, encaminhamento para
outro profissional, ou qualquer outro contexto. Quando solicitado, é obrigação do
médico fornecer.
2.1.7.2 Notificação
Feito pelo médico assistente, profissionais de saúde ou gestores, sendo uma
comunicação compulsória feita às autoridades correspondentes quanto a algum fato
médico (infecções, ISTs, doenças do trabalho, ...). Não comunicar é um delito
(“omissão de notificação), havendo punição de detenção de 6 meses a 2 anos e multa.
2.1.7.3 Boletim médico
Comunicação oficial do hospital, geralmente direcionada à imprensa, relatando
o estado de saúde do paciente, os médicos responsáveis pelo tratamento e a
superintendência do hospital. É emitido em caso de pacientes famosos e importantes,
desde que haja autorização pelo paciente e seus familiares.
2.1.7.4 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
É dever do médico informar o paciente sobre seu estado de saúde antes de
procedimentos que possam prejudicá-lo. Além disso, pode ser realizado em contexto
de pesquisa. Trata-se de um documento escrito, assinado pelo paciente, contendo
esclarecimento e definindo o consentimento em uma linguagem acessível.

2.1.8 Médico como testemunha


Caso seja intimado em juízo, a testemunha narra fatos de acordo com a sua
percepção acerca do que presenciou. Caso seja um processo judicial envolvendo um
paciente, é necessário manter o sigilo profissional, evitando causar prejuízo ao
paciente. Evitam-se prejuízos na relação médico-paciente, principalmente em caso
de desfechos negativos no processo judicial. Dessa forma, o médico deve
comparecer em juízo e declarar o impedimento, podendo fazer declarações que
julgue necessárias se consentimento por escrito do paciente e responsáveis. Caso
haja quebra de sigilo, o médico pode responder civil e criminalmente.
2.2 Questões de Prova
01

Resposta B
I - Isso é um parecer, o laudo é a descrição de uma perícia médica, feita por um
perito. Perito faz laudo, assistente técnico faz parecer
II – Certo
III - É infração ética e penal
IV – Certo
V - Se um juiz discordar das conclusões de um laudo de perícia, ele pode
questionar o perito durante audiências, solicitar esclarecimentos adicionais ou
recusá-lo

02

Resposta D
A causa básica de morte foi violenta, de modo que se faz necessária a realização
de necrópsia e a avaliação de um médico-legista do IML
03

Resposta A
Parada cardiorrespiratória e falência múltipla de órgãos nunca é a causa imediata
de morte (acontece com todo cadáver), portanto B, C e D estão erradas. Achei
que o item A está supondo muita coisa, mas condiz com o caso.

04

Resposta E
I - Descrição correta
II - Para descrever lesões ovaladas, deve-se fornecer 2 medidas (maior e menor
eixo), além de que não existe objeto tráumato-cortante
III - Não é vítima, é periciando ou examinando
05

Resposta C
I – Correto
II - Em localidades sem IML, a autoridade judicial ou policial designará qualquer
médico da localidade, na função de perito legista eventual (ad hoc).
III - Mesma explicação que o item acima
3. Sexologia Forense

3.1 Resumo do conteúdo

3.1.1 Crimes sexuais


3.1.1.1 Introdução
Crimes de ação pública condicionada, ou seja, é necessário que haja denúncia
da vítima, exceto se a vítima for menor de 18 anos, portadora de deficiência mental
ou portadora de doença que afete seu discernimento.
No ponto de vista médico-legal, é importante diferenciar atos libidinosos de
conjunção carnal. Ato libidinoso é o termo geral para atos que produzem prazer
sexual, podendo ou não se tratar da conjunção carnal propriamente dita, definida pela
introdução do membro viril em ereção no interior da cavidade vaginal (após o hímen),
com ou sem ejaculação.
3.1.1.2 Estupro
Definido como constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
A pena é maior se houver lesão corporal grave, vítima entre 14 e 18 anos, vítima
menos de 14 anos (estupro de vulnerável), ou associação com morte. Trata-se de um
crime que deixa muitos vestígios, portanto é possível comprovar a conjunção carnal
ou outro ato libidinoso por meio da perícia. Também é feito um exame subjetivo,
realizando uma avaliação psíquica do periciando para avaliar transtornos, sequelas
da violência e outros agravantes. É importante averiguar sinais de violência ou luta
corporal, além de sinais de gravidez e ISTs.
Para a identificação do autor, é realizada coleta de material biológico
(geralmente sêmen) para realização de exame de DNA. Esse material pode ser
localizado na roupa da vítima, em seu corpo, ou no local do delito.
Caracteriza-se estupro de vulnerável aquele realizado contra menores de 14
anos, pessoas com psicopatologias significativas (psicose, transtorno bipolar em
episódio de mania, deficiência intelectual), e pessoas intoxicadas por álcool ou outras
substâncias ("Boa noite, Cinderela”).
3.1.1.3 Importunação sexual
Trata-se de um crime contra a liberdade sexual, caracterizado pela prática de
ato libidinoso contra alguém, sem a sua anuência, com o objetivo de satisfazer a
própria lascívia (Tzão) ou a de terceiro. Tem pena de 1 a 5 anos de reclusão, se o ato
não envolver um crime mais grave.

3.1.1.4 Assédio sexual


Trata-se de um crime contra a liberdade sexual, caracterizado pelo
constrangimento de alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício do emprego, cargo ou função. Ou seja, para ser caracterizado
o assédio sexual, o praticante deve ter alguma vantagem sobre a vítima, geralmente
seu superior em um contexto empregatício.
3.1.1.5 Violência sexual mediante fraude
Decorre da conjunção carnal, ou prática de outro ato libidinoso, com alguém
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima. Ou seja, o praticante engana a vítima para que ocorra a conjunção
carnal ou outro ato libidinoso, são exemplos clássicos líderes espirituais com
promessas de cura. É punido com reclusão de 2 a 6 anos.

3.1.2 Parafilias e Transtornos Parafílicos


Trata-se da excitação sexual atípica, não consensual, direcionada à objetos ou
situações. É diferente de fantasias sexuais, mas podem conter fetiches. O DSM-5
define transtorno parafílico como uma parafilia somada a algum sofrimento ou
prejuízo, havendo necessariamente alguma diferença quanto ao contexto normal da
cultura local, como a questão da maturidade física (pedofilia) ou o não consentimento
ao ato libidinoso, sendo ainda discutida a necessidade de tratamento em pacientes
que apresentam parafilia, mas não transtorno.
Existem mais de 500 parafilias catalogadas, sendo elas relacionadas a 60%
dos delitos sexuais, apresentando implicações forenses significativas. Geralmente
iniciam na adolescência, predominando em homens, principalmente em contexto de
cuidadores negligentes e violentos, QI mais baixo, déficits de memória, etc. A pedofilia
é mais estudada, sendo relacionada com TCE. Hoje sabe-se da possibilidade de
reduzir os interesses pedofílicos com tempo e tratamento.
3.1.2.1 Transtorno Voyeurista
É descrito como o ato de observar, de forma não consentida, outros indivíduos
desnudos, tirando as roupas ou praticando ato sexual. O diagnóstico é feito em
pacientes maiores de 18 anos, devido à excitação sexual recorrente e intenso ao
observar uma pessoa que ignora (ou não sabe) que está sendo observada nua,
despindo-se ou em meio à atividade sexual, por no mínimo 6 meses. O transtorno é
definido por um indivíduo que colocou em prática esses impulsos com uma pessoa
que não consentiu, ou tem sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional
devido a esse desejo.
A prevalência é de 12% em homens e 4% em mulheres, tendo alta
comorbidade com exibicionismo (60%) e relacionado a fatores como
hipersexualidade, transtorno por uso de substância e abuso sexual na infância. As
evidências baseando o tratamento são limitadas.

3.1.2.2 Transtorno exibicionista


É definido pela excitação sexual e intensa decorrente da exposição dos
próprios genitais a uma pessoa que não espera o fato. No transtorno, o indivíduo
coloca em prática esses impulsos sexuais com uma pessoa que não consente, ou
tem prejuízo e/ou sofrimento devido a essa condição. Existem 3 subtipos, variando
conforme o público-alvo da fantasia do paciente: crianças pré-púberes, indivíduos
fisicamente maduros, ou ambos.
A prevalência é de 2 a 4%, sendo muito mais comum em homens. Há elevada
reincidência dos delitos sexuais, sendo os adolescentes relacionados a 10% das
ofensas. Existe uma relação com a escalada para importunação sexual e estupro,
sendo fatores de risco o abuso de substâncias, transtornos de personalidade do
cluster B, outras parafilias, violência sexual e negligência emocional.
3.1.2.3 Transtorno Frotteurista
Envolve comportamentos ou compulsões sexuais que envolver tocar e
esfregar-se em uma pessoa que não consentiu. Esses comportamentos comumente
ocorrem em locais públicos lotados, como transporte público, de modo que pode ser
difícil identificar o autor. 30% da população pode ter cometido atos “frotteuristas".
Geralmente, o distúrbio tem início na adolescência, tendo seu pico de incidência entre
a idade de 15 e 25 anos, e relação íntima com crimes sexuais em sua evolução. Deve-
se fazer diagnóstico diferencial com transtorno por uso de substâncias, transtorno de
conduta, mania, demência, etc.
3.1.2.4 Transtorno do Masoquismo Sexual
Trata-se de excitação sexual recorrente e intensa resultante do ato de ser
humilhado, espancado, amarrado ou vítima de qualquer outro tipo de sofrimento,
conforme manifestado por fantasias, impulsos ou comportamentos. A investigação da
prevalência é de difícil investigação, uma vez que pode haver prática do BDSM sem
representar parafilias, mas estima-se uma prevalência de 2,2% em homens e 1,3%
em mulheres. Há um risco de a prática escalonar durante a relação, gerando ameaça
à vida do paciente, além de relação com suicidalidade, asfixiofilia e morte. Geralmente
o distúrbio tem início na adolescência e se reduz com a progressão da idade.
Conceito de sub-space: Combinação de dor e prazer em que há um estado de
alteração de consciência, comparado a um transe hipnótico, onde a pessoa se separa
“mentalmente” do ambiente, sendo que, em alguns casos, a pessoa perde total
consciência de seus atos, experiências daquele momento e, ambientes onde possam
estar.
3.1.2.5 Transtorno do Sadismo Sexual
Há excitação sexual recorrente e intensa resultante de sofrimento físico ou
psicológico de outra pessoa, conforme manifestado por fantasias, impulsos ou
comportamentos. Aqui há o risco de o paciente colocar em prática esses impulsos
com pessoa que não consentiu. A prevalência é de difícil estimativa pelo mesmo
motivo que o masoquismo, mas aproxima-se de 2-3%, predominando em homens.
Há uma relação com o transtorno de personalidade antissocial, ocorrendo
reincidência e múltiplas vítimas. A violência e agressão tendem a piorar ao longo do
tempo, sendo associadas a serial killers e homicídios sexuais (75% dos casos).
3.1.2.6 Asfixiofilia autoerótica
Restrição intencional do fluxo de oxigênio para o cérebro, com o objetivo de se
excitar sexualmente. Alta relação com morte acidental autoerótica, sendo relacionada
a 250 a 1000 mortes por ano nos Estados Unidos. Geralmente o indivíduo realiza a
prática em si mesmo a fim de causar alucinações que ocorrem na hipóxia cerebral.
Maioria dos casos são homens entre 20-30 anos, comum entre celebridades.
3.1.2.7 Transtorno Pedofílico
Trata-se de fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais intensos e
recorrentes envolvendo atividade sexual com criança ou crianças pré-púberes por
pelo menos 6 meses (geralmente menores de 13 anos). O indivíduo deve ter, no
mínimo, 16 anos de idade e ser pelo menos 5 anos mais velho que a criança.
A prevalência em homens é de 3 a 5%, sendo muito menor em mulheres.
Geralmente, a parafilia inicia na infância, sendo estável ao longo da vida e altamente
relacionado a delitos criminosos, principalmente no ambiente familiar. É importante
fazer o diagnóstico diferencial com TOC em pacientes que tem pensamentos
intrusivos sobre esse assunto, mas tem consciência de que é algo errado. Pode ser
uma parafilia adquirida após lesão neurológica, como TCE, demência frontotemporal,
neurocirurgia, tumores e esclerose múltipla.
3.1.2.8 Transtorno Fetichista
Excitação sexual recorrente e intensa resultante do uso de objetos inanimados
ou do foco altamente específico em uma ou mais de uma parte não genital do corpo
(pé), conforme manifestado por fantasias, impulsos ou comportamentos, por no
mínimo 6 meses
3.1.2.9 Transtorno transvéstico
Pelo menos 6 meses de excitação sexual recorrente e intensa resultante de
vestir-se como o sexo oposto (cross-dressing), conforme manifestado por fantasias,
impulsos ou comportamentos
3.1.2.10 Outros transtornos parafílicos
1. Escatologia por telefone: Sexo por telefone
2. Necrofilia: Cadáveres
3. Zoofilia: Animais
4. Coprofilia: Fezes
5. Urofilia: Urina
6. Outras sem especificação

3.1.3 Tratamento de parafilias


O tratamento é feito, principalmente, por psicoterapia cognitivo-
comportamental e inibidores seletivos do receptor da serotonina, a fim de modular a
libido, a fantasia, a ruminação e a compulsividade. Também podem ser utilizado
medicamentos que reduzem a testosterona aos níveis pré-puberais (antiandrogênios
e agonistas do GnRH), apresentando efeitos reversíveis de eliminação do desejo
sexual.
O tratamento é compulsório em ofensas criminais, podendo ser realizada a
castração química se o paciente assim desejar (voluntária). Outras opções de
tratamento são os antipsicóticos, o lítio, os anticonvulsivantes e a naltrexona, além da
limitação do acesso à pornografia.

3.2 Questões de Prova


01

Resposta A
I – Correto
II – Correto
III – Incorreto, há valorização da vítima
02

Resposta A
I – Incorreto, conjunção carnal é definida como introdução do membro viril em
ereção no interior da cavidade vaginal (após o hímen), com ou sem ejaculação
II – Incorreto, qualquer ato libidinoso realizado contra a vontade da vítima a partir
do uso de violência ou grave ameaça caracteriza estupro
III – Incorreto, presume-se violência em vítimas menores de 14 anos (e outras
incluídas na definição de estupro de vulnerável)

03

Resposta C
Definição de vulnerabilidade no contexto de crimes sexuais
04

Resposta D
Caso clássico de Voyeurismo

05

Resposta A
Clismafilia: Excitação e obtenção de prazer em injetar líquidos no ânus ou vagina
4. Tocoginecologia Forense

4.1 Resumo do conteúdo


Tocoginecologia forense aborda questões ginecológicas relacionadas ao
direito e ao serviço da lei, envolvendo temas como violência sexual, crimes sexuais,
aborto legal e criminoso, neonaticídio e infanticídio, além de direitos reprodutivos.

4.1.1 Aborto legal


Aborto é o processo de interrupção da gestação de fetos de até 20 ou 22
semanas, com peso previsto de até 500 gramas, sendo a interrupção da gestação
após esse período chamada antecipação do parto. Ele pode ser espontâneo ou
induzido, e quando é induzido nos casos previsto em lei, é conhecido como aborto
legal. O aborto é permitido no Brasil apenas em três casos: Gravidez de risco à vida
da gestante; Gravidez resultante de violência sexual; Anencefalia fetal.
A pena para provocar aborto em si mesma ou consentir que outro o provoque
é de detenção de um a três anos; caso o aborto seja provocado por terceiro, deve-se
caracterizar se a gestante consentiu ou não ao ato. Caso provoque aborto sem o
consentimento da gestante, a pena é de reclusão de três a dez anos, caso o aborto
seja provocado com o consentimento da gestante, a pena é reclusão de um a quatro
anos (o consentimento deve ser obtido de maneira legítima e a gestante deve estar
orientada, em perfeitas condições cognitivas). Caso a gestante sofra lesão corporal
grave durante a indução do aborto, a pena aumenta em 1/3, e caso a gestante morra,
a pena dobra.
Não é necessário apresentação de autorização judicial ou boletim de
ocorrência para o aborto legal, e o médico não é punido caso se comprove fraude por
parte da gestante (valorização da vítima). Caso o hospital não seja habilitado ou o
médico não queira realizar o procedimento, a paciente pode ser encaminhada.
Quando há risco de vida à gestante, é importante deixar claro que, por mais
que a indução do aborto seja uma decisão médica, é necessário que a gestante
consinta com o procedimento. Não existe idade gestacional máxima nesse caso, mas
quanto mais cedo, menor o risco de vida à gestante. Como se trata de uma decisão
médica, são necessários alguns documentos que comprovem a legalidade do aborto,
dentre eles: um laudo com opinião de 2 médicos, incluindo especialista na
área/doença que coloca a vida da gestante em risco (se possível); uma descrição
detalhada do quadro clínico e impacto na saúde da mulher; evidências científicas do
aborto solucionar/melhorar essa condição.
Em caso de gravidez resultante de estupro ou outra forma de violência sexual,
o aborto pode ser realizado até a vigésima semana gestacional, ou vigésima segunda
se o feto tiver menos de 500g. É importante garantir de forma documental que a
mulher se responsabiliza pelo seu relato e opta pelo aborto, além de registrar em
prontuário que há compatibilidade da idade gestacional com a data da violência
relatada pela gestante. Nesses casos, em especial, é muito importante a abordagem
multidisciplinar, com apoio de psicólogos, sendo a decisão pelo aborto feita após
entrevistas e confirmada por pelo menos 3 pessoas da equipe de saúde.
A anencefalia fetal é uma malformação incompatível com a vida extrauterina,
de modo que a maioria dos fetos morre ainda no útero. O diagnóstico é possível a
partir de 12 semanas de gestação, mas não há idade gestacional máxima para
realização do aborto nesse caso. É importante registrar o laudo de ultrassom que
confirma o diagnóstico de anencefalia, de preferência assinado por dois médicos,
além dos documentos com consentimento da gestante. Nesse caso é importante
ressaltar que existem outros diagnósticos fetais incompatíveis com a vida, porém
apenas a anencefalia está prevista em lei, devendo ser judicializados individualmente
os outros casos em que o feto é incompatível e a saúde da gestante não está
comprometida.
Algumas informações importantes a serem destacadas incluem:
1. O consentimento da gestante (ou de seu representante legal) deve ser
adquirido por escrito e anexado ao prontuário médico
2. Em caso de gestantes adolescentes, é necessário autorização de um dos pais
ou responsável (exceto em situações de urgência por risco de vida). Caso a
família se negue, a vontade da adolescente pode ser respeitada por meio de
ação judicial
3. A idade gestacional deve ser sempre confirmada, seja pela data da última
menstruação, ultrassom ou exame clínico
4. O médico tem direito a objeção de consciência, deixando de realizar o
procedimento de interrupção da gestação e encaminhando a outro profissional
ou serviço. Isso não se aplica caso seja o único profissional ou se for uma
situação de urgência.
5. O profissional não pode tentar convencer a mulher, respeitando sua
autonomia, liberdade e autoridade
a. A paciente tem direito a acompanhante e a apoio em saúde mental
6. Em caso de violência sexual, o material genético do feto é coletado para
investigação policial

4.1.2 Infanticídio e neonaticídio


Neonaticídio é definido como o assassinato de um neonato nas primeiras 24h
de vida. Geralmente as agressoras são as mães (jovens, solteiras, primíparas, vivem
com os pais, ...) e a gestação não era desejada nem planejada. Não fazem pré-natal,
o parto ocorre fora do ambiente hospitalar e, geralmente, o assassinato ocorre logo
após o parto, seja por sufocamento, estrangulamento, esganadura, TCE, afogamento
ou negligência. Trata-se de um “aborto tardio”, muitas vezes as mães tinham desejo
de praticar o aborto, mas não tiveram acesso ou sucesso. As motivações do crime
envolvem falta de condições de criar a criança, não querer a criança, medo de perder
emprego, punição moral e/ou familiar, gravidez extraconjugal, estigma social e falta
de acesso ao aborto; de modo que, em geral, essas mulheres não possuem
diagnóstico psiquiátrico, ou possuem apenas transtornos mentais comuns. Muitas
vezes, as mulheres alegam amnésia com relação aos eventos, por mais que
premeditem seus atos durante a gestação. As alterações hormonais periparto (estado
puerperal) podem causar algum adoecimento psiquiátrico que leva a esse crime
(depressão pós-parto).
Infanticídio é o assassinato do filho por um dos genitores nos primeiros 12
meses de vida, enquanto filicídio é a mesma coisa, mas em qualquer momento da
vida após 24h. O filicídio pode ser classificado em R. Pode ser seguido de suicídio
pelo genitor.
Existem outros tipos de homicídio familiar, como o familicídio (assassinato de
múltiplos membros de uma mesma família), fratricídio (assassinato do irmão),
parricídio e matricídio (pai ou mãe), uxoricídio (assassinato da mulher cometido pelo
marido/companheiro). Vale ressaltar que a vítima do sexo masculino não é englobada
pela Lei Maria da Penha, as medidas de assistência previstas nessa lei são garantidas
apenas para mulheres, uma vez que essas são tem sua vulnerabilidade e fragilidade
presumida.

4.2 Questões de Prova


01

Resposta E
A e C estão corretas (aborto eugênico = aborto legal)
02

Resposta E
Vale relembrar que, quanto a malformações, a única prevista em lei é a
anencefalia, por mais que existam outras malformações incompatíveis com a vida
03

Resposta A
Resnick: Psicótico, altruísta (por sofrimento real ou imaginado), criança
indesejada, acidental (maus tratos), vingativo contra o cônjuge
5. Energias Físicas

5.1 Resumo do conteúdo

5.1.1 Temperatura
Agentes físicos de temperatura elevada produzem lesões (queimaduras) por
contato direto ou exposição difusa, seja pela chama, pelo calor irradiante, por gases
superaquecidos, por líquidos escaldantes, por sólidos quentes ou por raios solares,
sendo que estes últimos geram danos por insolação, causando desidratação e
choque. As queimaduras podem ser classificadas de acordo com o grau do
comprometimento que causam no tecido afetado: queimaduras de primeiro grau
(eritemas) afetam apenas a epiderme, deixando-a em uma coloração vermelho-vivo,
devido a uma simples congestão do tecido; queimaduras de segundo grau (flictenas)
são caracterizadas pela formação de vesículas, constituídas por líquido amarelo-claro
ou transparente, que suspendem a epiderme; queimaduras de terceiro grau (escaras)
são desorganizações completas da epiderme, além de formarem manchas de cor
castanha, ou cinza-amarelada, indicativas de morte da derme, deixando cicatrizes
proeminentes; por fim, a classificação utilizada pela medicina legal (Hoffmann)
considera um quarto grau de queimaduras, a carbonização, que é caracterizado pela
carbonização do plano ósseo, podendo ser total ou parcial, ocorrendo redução do
volume do cadáver e, muitas vezes, adotando a posição de lutador devido à retração
muscular. A gravidade das queimaduras, em relação à sobrevivência da vítima, é
avaliada em função de sua extensão e intensidade.
Para a perícia, é importante avaliar se houve inalação de gases quentes,
podendo atuar como um mecanismo de morte. Isto é feito observando se há fuligem
nas vias respiratórias (sinal de Montalti), se há hiperemia e edema da faringe, da
laringe ou da parte superior do esôfago, ou se há aumento acentuado do muco
traqueobrônquico. Também é importante definir se a morte foi imediata, causada pela
exsudação plasmática aguda (com diminuição do volume circulatório e desintegração
das albuminas), ou se a morte foi tardia por qualquer outro mecanismo, como infecção
(sepse), broncopneumonia, hemorragia intestinal, processos hepatotóxicos,
insuficiência renal aguda, etc.
Quanto à irradiação solar, o dano térmico pode ocorrer por insolação, sendo
causado por ação do calor ambiental em locais abertos (praia), ou por intermação,
sendo causado por excesso de calor ambiental em ambientes mal arejados, quase
sempre confinados ou pouco abertos, surgindo de forma acidental (esquece a criança
no carro). A morte nesses casos ocorre por diversos mecanismos, dentre eles a ação
do calor sobre a miosina cardíaca, que causa sua coagulação, a destruição de
elementos figurados do sangue, levando a trombose, o bloqueio da perspiração
cutânea e da sudorese, aumentando a temperatura corporal e causando
desnaturação de proteínas, a desidratação e o choque.
Por mais que mais raras no contexto de medicina legal, as temperaturas baixas
também podem causar danos, seja por contato direto (necroses periféricas imediatas
ou tardias) ou exposição difusa (hipotermia e choque). Também há uma classificação
dos graus de “geladuras” (Calissen), caracterizando o primeiro grau como eritemas,
o segundo como flictenas e o terceiro como necrose ou gangrena.

5.1.2 Pressão
As baropatias são os principais fenômenos resultantes das alterações de
pressão. Baropatias causadas pela diminuição da pressão (rarefação do ar em
altitude) cursam com dispneia, náuseas, taquicardia, obnubilação e perda de
consciência, de modo que a hipóxia pode levar a uma maior resistência vascular
periférica, a fim de desviar o fluxo sanguíneo para os órgãos vitais, causando
gangrena de extremidades. Por outro lado, as baropatias causadas por aumento de
pressão ocorrem principalmente com mergulhadores, que sofrem de embolia gasosa
ao subir rapidamente para a superfície.

5.1.3 Eletricidade
A eletricidade pode ser dividida em natural e artificial. A ação letal da
eletricidade natural sobre o homem é chamada de fulminação, enquanto a ação que
causa apenas lesões corporais, ou seja, não leva à morte, é chamada de fulguração.
O local de entrada da eletricidade natural no corpo humano deixa uma lesão de
formato arboriforme, sendo chamada de sinal de Lichtenberg. A lesão não é
permanente e tende a desaparecer com o tempo.
Da mesma forma, a eletricidade artificial também recebe sua própria terminologia.
Caso a ação de causar dano elétrico tenha ocorrido de maneira proposital, ela é
chamada de eletrocussão (eletrocutar um condenado), porém, caso tenha ocorrido
de forma acidental, é chamada de eletroplessão. A eletricidade artificial produz lesões
chamadas de marcas de Jellineck nos locais de entrada e saída da corrente elétrica,
sendo mais graves de acordo com a intensidade de corrente envolvida no choque e
aparecendo geralmente nas plantas dos pés ou nas palmas das mãos.
A morte por descarga elétrica pode ocorrer por alguns mecanismos:
1. Morte Pulmonar: Achados compatíveis com asfixia, ocorrendo em razão da
tetanização dos músculos respiratórios (edema pulmonar, congestão
polivisceral, manchas de Tardieu).
2. Morte Cardíaca: Corrente elétrica causa contração fibrilar do ventrículo.
3. Morte Cerebral: Ocorre em caso de choque por altíssimas voltagens (> 1200
V), havendo hemorragia meníngea, hiperemia dos centros nervosos e
hemorragia intraparenquimatosa.

5.1.4 Veneno
Trata-se de um composto químico, não energia física, mas estava na mesma
aula. Definido como toda substância que lesa a integridade corporal ou a saúde do
indivíduo ou lhe produz a morte, mesmo em quantidades relativamente pequenas.
Uma substância pode ser concomitantemente medicamento e veneno, dependendo
da dose administrada (conceito vinculado à dose e à concentração).
O ciclo toxicológico do veneno no corpo segue a ordem de penetração e
absorção, distribuição, fixação (depende do tropismo da substância), transformação
(metabolização renal ou hepática) e eliminação. As doses tóxica e mortal de cada
substância depende tanto de características do próprio veneno (pureza), quanto da
via de administração e de características do envenenado (tolerância), sendo
importante, no contexto de perícia, não apenas identificar a presença de uma
substância tóxica no corpo da vítima, mas também verificar se a concentração seria
suficiente para causar a morte.
Para o diagnóstico de envenenamento, é necessário que a vítima feche
critérios clínicos, com sintomas característicos de cada substância, critérios
anatomopatológicos, com exames específicos para cada substância, além de passar
por exame macroscópico e exame necroscópico.
Informações perdidas na aula:
1. Cianureto de potássio ou ácido cianídrico fazem com que o cadáver exale odor
de amêndoas amargas
a. Além disso, o cadáver apresenta-se com livores violáceos na pele, além
de rigidez precoce e intensa
2. Saturnismo se refere ao envenenamento por chumbo
3. Hidrargirismo se refere à intoxicação por Mercúrio

5.1.5 Outras energias físicas


5.1.5.1 Som
Importante no contexto de medicina do trabalho, sendo o limite de exposição
definido por 6h ao dia até 85dB. Na medicina legal, vale ressaltar que um disparo feito
em proximidade à orelha pode causar surdez transitória ou permanente. Pouco
frequente
5.1.5.2 Radiação
Importante para profissionais da saúde, podendo ser produzida por rádio, raio
x ou energia nuclear. Fazem lesões a curto prazo (radiodermite ou queimadura por
rádio) e a longo prazo (neoplasias por raio x ou malformações congênitas por energia
nuclear). Extremamente raro.
5.2 Questões de Prova
01

Resposta A
Lichtenberg é a marca deixada pela passagem de eletricidade natural pelo corpo.
Como houve morte, o evento que ocorreu foi a fulminação.

02

Resposta C
Substâncias cáusticas possuem caráter ácido ou básico, tratando-se de
elementos químicos causadores de dano.

03

Resposta E
As alternativas A e C estão corretas. Caso seja um contato letal, trata-se de
fulminação, senão trata-se de fulguração.
04

Resposta D
Lembre-se que a medicina legal utiliza a classificação de Hoffmann.
Primeiro grau: Rubefação; Segundo grau: Vesicação (flictena com exsudato);
Terceiro grau: Escarificação e necrose; Quarto grau: Carbonização

05

Resposta E
O professor não usou esse termo em aula, mas está certo, achei a questão
interessante por causa dos outros itens:
A) Geladuras são classificadas em 3 graus pela classificação de Calissen
(eritema, vesicação e gangrena)
B) Intermação é o excesso de calor ambiental em locais fechados, mal
arejados. Em locais abertos chamamos de insolação
C) A medicina legal não classifica as queimaduras quanto à área, apenas
quanto ao efeito sobre o tecido
D) Quando a pressão atmosférica diminui, a rarefação causa alteração na
concentração dos gases dissolvidos no sangue, o que culmina em hipóxia
cerebral, com rebaixamento do nível de consciência e aumento da pressão
vascular periférica (necrose de extremidades)
E) Certa (é sinônimo de Lichtenberg)
6. Asfixias Mecânicas

6.1 Resumo do conteúdo


As asfixias podem ocorrer por três principais mecanismos: modificações físicas
do ambiente; obstáculos mecânicos no aparelho respiratório; ou supressão da função
da caixa torácica. Quanto às modificações físicas do ambiente, elas envolvem
modificações quantitativas dos componentes do ar (confinamento), como diminuição
de oxigênio, aumento de gás carbônico, aumento da temperatura, excesso de
umidade; e, também, modificações qualitativas do ambiente, de modo que caso o
meio gasoso seja substituído por sólido, chama-se sufocamento, e caso seja
substituído por líquido chamamos de afogamento.
As asfixias mecânicas envolvem a obstrução das vias aéreas, seja diretamente
por obstáculos mecânicos no aparelho respiratório, ou por pressão exercida sobre a
caixa torácica, impedindo seu movimento (sufocação indireta). Caso o objeto esteja
localizado nas aberturas aéreas (narinas e boca, ou glote), chamamos o fenômeno
de sufocação direta. A asfixia também pode ocorrer à nível celular, especialmente no
caso de intoxicação por monóxido de carbono, uma vez que essa molécula tem
afinidade 250 a 400x maior pelo sítio onde o oxigênio se liga, impedindo a oxigenação
das hemácias.
Quanto aos obstáculos mecânicos que obstruem o aparelho respiratório, é
importante diferenciar a constrição do pescoço em enforcamento, estrangulamento e
esganadura. De maneira simplificada, o enforcamento envolve um laço acionado pelo
próprio peso da vítima (suspenção total ou parcial); o estrangulamento envolve um
laço acionado por força muscular ou mecanismo equivalente, podendo ser realizado
pela própria vítima ou por terceiro; já no caso de esganadura, a constrição do pescoço
ocorre com o uso das mãos (ou outra parte do corpo: cotovelo, joelho). A morte
nesses casos ocorre por fenômenos circulatórios, respiratórios e nervosos, sendo os
danos diretamente proporcionais à força aplicada. Uma força de 2 Kg (20 N) é capaz
de ocluir as veias jugulares, causando estase sanguínea na cabeça; uma força de 5
Kg oclui as artérias carótidas, dificultando muito a oxigenação cerebral; uma força de
15 Kg oclui a traqueia, impedindo a ventilação e, consequentemente, a respiração; e
uma força de 30 Kg é capaz de ocluir, além de todos esses elementos, as artérias
vertebrais, suspendendo a irrigação de toda a região da cabeça, tanto pelo sistema
anterior (carotídeo), quanto pelo posterior.

6.1.1 Enforcamento
Como explicado anteriormente, trata-se da constrição do pescoço por um laço
acionado pelo peso da vítima, havendo suspenção total ou parcial do corpo. O laço
pode ser duro ou mole, sendo posicionado anterior, posterior ou lateralmente.
Quanto aos sinais externos de sufocamento, o sulco deixado pelo laço é
geralmente ascendente, projetando-se conforme a inserção da cabeça no pescoço;
além disso, a face fica inchada (vultosa), adotando coloração cianótica ou pálida;
também há protrusão e cianose da língua. Da mesma forma, podemos caracterizar
os sinais internos presentes nesse tipo de asfixia, sendo divididos entre locais e
gerais. Quanto aos sinais internos locais, destacam-se as sufusões hemorrágicas no
pescoço (petéquias); o sinal de Friedberg, caracterizado por fratura da túnica externa
da artéria carótida; e o sinal de Amussat, caracterizado por fratura da túnica íntima da
artéria carótida, necessitando de uma energia maior de trauma para estar presente,
quando comparado ao sinal de Friedberg. Já quanto aos sinais internos gerais, é
possível perceber escurecimento na coloração do sangue, congestão visceral e
aparecimento de manchas de Tardieu (petéquias em órgãos devido ao aumento da
pressão capilar - específico de asfixia).
Do ponto de vista pericial, é importante diferenciar a causa jurídica de morte
entre suicídio, acidente ou homicídio, averiguando — também — se a suspensão do
corpo no laço aconteceu em vida, ou após a morte. Para isso, ressalta-se que a
cianose e as petéquias acima do laço são reações vitais, assim como o aumento do
volume da língua e o edema de pálpebra (não ocorrem após a morte). Outros
exemplos desse tipo de reação são hemorragias no osso hióide, ou na cartilagem
tireóide, além de equimose retrofaríngea (de Brouardel) e de edema e bolhas na pele
caso o laço seja duplo.

6.1.2 Estrangulamento
Da mesma forma, o estrangulamento é caracterizado por constrição do
pescoço utilizando um laço, mas dessa vez acionado por força externa, seja muscular
ou de mecanismo equivalente. Assim, os sinais externos e internos dessa obstrução
são muito similares aos do enforcamento, mas o sulco do laço tipicamente se
apresenta transverso (devido ao mecanismo do trauma geralmente envolver tração
na horizontal) e o sinal de Amussat raramente está presente, uma vez que geralmente
trata-se de força menor, mas por um tempo prolongado. Podendo, também, ocorrer
em situações de homicídio, suicídio e acidente (geralmente com maquinaria).

6.1.3 Esganadura
Nesse caso, a constrição do pescoço se faz pelo emprego das mãos, havendo
sinais externos de equimoses, escoriações semilunares (marca de unhas), além dos
sinais gerais de asfixia (face vultosa cianótica ou pálida, protrusão da língua e
cianose). Quanto aos sinais internos, são os mesmos das outras causas de asfixia,
porém raramente há sinal de Friedberg, e muito menos sinal de Amussat. Para a
esganadura, o suicídio é impossível e o acidente é debatível, prevalecendo a causa
jurídica de homicídio.

6.1.4 Afogamento
Caracterizado pela presença de líquido em vias respiratórias. É classificado
em dois tipos: o afogado azul, que fica cianótico, aspira meio líquido e morre por essa
causa (também chamado de afogado verdadeiro); e o afogado branco, que fica pálido,
pois morre no líquido, mas não por causa dele (geralmente choque térmico,
hipotermia). O afogamento verdadeiro é dividido em fases, começando pela fase de
luta, onde há deglutição do líquido, submersão e alto gasto energético para tentar se
salvar; seguida pela fase de apneia voluntária, quando a vítima do afogamento tenta
se acalmar, segurando a respiração, mas acaba acumulando gás carbônico; e, por
fim, a fase de aspiração, quando a vítima aspira o meio líquido (água doce faz
hemodiluição e água salgada hemoconcentração, tendo efeitos fisiológicos
diferentes).
Quanto aos sinais externos de afogamento, é possível observar enrugamento
da pele, havendo aumento de volume da camada córnea da epiderme; cogumelo de
espuma nas vias respiratórias, onde ocorre mistura de ar, surfactante, muco e água
(pode ser rósea se houver rompimento de tecido pulmonar); livores róseos causados
por hemólise e diluição sanguínea; lesões nas extremidades e corpos estranhos
subungueais por choque contra objetos submersos; lesões de partes moles causadas
por animais aquáticos; putrefação diferente, devido à posição que o corpo assume
quando boia, iniciando-se pela cabeça (mancha verde na cabeça antes do abdome);
e, por fim, o agigantamento do cadáver devido ao processo de putrefação, geralmente
após 24h.
Já no caso dos sinais internos, há diluição do sangue, congestão polivisceral
e equimoses de Tardieu, além de presença de líquidos nas vias respiratórias e
digestivas, assim como presença de corpos estranhos e enfisema aquoso nos
pulmões (ficam distendidos, com impressão dos arcos costais e toque com sensação
de esponja). Um sinal específico de afogados é a presença de manchas de Paltauf,
causadas por ruptura das paredes alveolares (manchas vermelho-claras que não
devem ser confundidas com as equimoses de Tardieu, que são causadas por ruptura
capilar).
No contexto de perícia médico-legal, é difícil de avaliar o tempo que o cadáver
permaneceu dentro da água, pois a temperatura da água altera o tempo de putrefação
(quanto mais alta, mais rápida a putrefação). Porém, algumas estimativas podem ser
feitas, sabendo que o corpo inicialmente afunda, após 1 a 5 dias do afogamento,
tende a flutuar devido aos gases produzidos pela deterioração bacteriana, e depois
afunda novamente.
6.2 Questões de Prova
01

Resposta C
Trata-se de estrangulamento, uma vez que o sulco se apresenta contínuo,
horizontalizado e uniforme.
02

Resposta E
I - Trata-se de Estrangulamento. Enforcamento teria que ser causado pelo próprio
peso do corpo.
II - O sinal de Amussat é a lesão da túnica íntima, que ocorre frequentemente no
enforcamento (alta energia), mas nem sempre no estrangulamento,
especialmente raro no contexto do enunciado.
III - Congestão facial ocorre quando impede o retorno venoso da face, vulgo
qualquer asfixia mecânica do pescoço.
03

Resposta C
I - Quem faz a necrópsia é a polícia científica, não precisa de consentimento da
família.
II – Correto: Manchas por rompimento capilar, presentes no pulmão, no pericárdio,
nos músculos do pescoço, e qualquer outra víscera que sofreu pelo aumento de
pressão capilar causado pela congestão.
III - Primeiro oblitera as jugulares, que precisam de menor força para serem
ocluídas (2 Kg).

04

Resposta E
Pele não cianótica, não pálida, com Manchas de Tardieu (asfixia), sem sinais
externos, deve-se levantar a hipótese de intoxicação por CO.
05

Resposta C
- Sulco transversal = Estrangulamento.
- Retirado da água = Tentativa de ocultar o corpo (homicídio).

06

Resposta A
I - Correta.
II - Correta, Friedberg é comum, Amussat é raro no estrangulamento.
III - Falsa, sinal de Amussat é mais relacionado com morte por enforcamento,
causado por maior força, mas também pode estar presente em casos de
estrangulamento por alta energia (raro).

07

Resposta C
As escoriações apontam onde a força foi aplicada (boca e narinas = sufocação).
08

Resposta E
Sufocação indireta é a supressão dos movimentos do tórax.

09

Resposta B
Friedberg pode ter tanto em enforcamento, quanto em estrangulamento, mas
Amussat é muito raro no estrangulamento (menor energia).

10

Resposta A
Paltauf é um sinal específico do afogado, trata-se de manchas róseas causadas
pelo rompimento dos alvéolos.
7. Instrumentos Mecânicos

7.1 Resumo do conteúdo


Energia mecânica é toda aquela capaz de modificar o estado de repouso ou
movimento de um corpo, sendo a energia que mais causa danos corporais e morte.
Do ponto de vista pericial, é importante definir como o dano foi causado, se a vítima
estava parada e recebeu impacto de agente lesivo em movimento (vítima de
instrumento mecânico), ou se a vítima estava se projetando em direção ao agente
causador do dano, que poderia estar parado ou em movimento (vítima de ação
contundente). Isso pode ocorrer por auxílio de terceiro ou por vontade própria da
vítima. Os instrumentos mecânicos são os agentes lesivos mais frequentes de lesão
corporal e morte, podendo ter sidos criados com essa intenção (arma, punhal, ...) ou
não (martela, foice, machado, pedra, ...), também podem ser partes do corpo ou
máquinas. Estes instrumentos podem ser classificados pela natureza, pelo modo de
ação e pelo resultado que produzes, de modo que são distribuídos em seis categorias:
perfurantes, cortantes, contundentes, perfurocortantes, corto-contundentes e perfuro-
contundentes.

7.1.1 Instrumentos perfurantes


São objetos cilíndricos ou cônicos, de pequeno diâmetro, mais ou menos
alongados, que dispõem de uma ponta que causa o dano. Exemplos são agulhas,
alfinetes e pregos. São pouco usados na produção de dano intencional. Esses
instrumentos agem por pressão e distensão dos tecidos, sendo obrigatório que a
ponta vibre contra o tecido do indivíduo. A ferida produzida é punctória, que vai ser
mais ou menos profunda dependendo da força aplicada, sendo observado um
pequeno ponto escuro na pele. Geralmente o dano causado é de natureza leve,
evoluindo para cura em poucos dias (raramente causam morte).

7.1.2 Instrumentos cortantes


São objetos que dispõem de lâmina de corte, agindo por linha. Exemplos são
faca, bisturi, canivete e lâmina de barbear. Esses instrumentos agem por pressão e
deslizamento, gerando lesões mais extensas que profundas (feridas incisas). A ferida
geralmente tem bordas regulares (exceto se a lâmina for denteada) e afastadas. O
início da lesão tende a ter pressão maior que o final, formando uma cauda de entrada
(abrupta e curta) e uma cauda de saída (superficial e alongada), o que é importante
para definir o sentido da lesão. No pescoço, essas lesões geralmente são letais, tendo
denominação própria: na região anterolateral é chamada de esgorja, e na região
posterior é chamada de degola; caso haja separação total da cabeça e o pescoço, é
denominada decapitação.
As lesões corporais podem ser leves quando são simples e não afetam regiões
nobres, mas podem levar a morte caso envolvam vasos importantes, ou paralisia se
afetam nervos importantes. Lesões no pescoço geralmente levam a morte,
dependendo da profundidade da lesão.

7.1.3 Instrumentos contundentes


São todos os instrumentos que agem por plano, causando lesões por ação
contundente. São a forma mais frequente de lesão mecânica, agindo por pressão e
compressão dos tecidos. As lesões causadas são muito variadas, podendo ser
superficiais ou profundas.
Dentre as lesões superficiais que mantêm a integridade da pele, equimoses
são manchas na pele em razão do extravasamento de sangue devido ao rompimento
de vasos pela ação contundente. Nem sempre representam o local em que o trauma
ocorreu (TCE, lesão por contragolpe). É possível estimar o tempo de evolução das
equimoses pela coloração da lesão: nas primeiras 24h tem cor vermelha; depois fica
48h arroxeada, esclarecendo de fora para dentro; fica com um tom azulado por 2 dias,
esverdeado por mais 2 dias e termina sua evolução com um tom amarelado ou
alaranjado até desaparecer (após a morte o espectro de cor não ocorre). O hematoma
difere da equimose por possuir volume, sendo chamado de bossa sanguínea quando
presente em tábuas ósseas (como o crânio). Petéquias são pequenos pontos
hemorrágicos, geralmente feitos por aumento de pressão. Víbices são equimoses
(roxas e avermelhadas) em estria por pressão do tecido, sendo muito comum em
gestantes. Quando a área afetada por essas lesões que mantém a integridade da
pele é muito grande, é chamada de sufusão hemorrágica. As lesões superficiais que
não mantêm a integridade da pele são as escoriações (perda da epiderme, expondo
a derme) e as feridas contusas, que são lesões que ultrapassam a derme, geralmente
com bordas irregulares.
Caso a energia aplicada seja maior, também podem ocorrer lesões profundas.
A luxação é uma lesão profunda em que há perda da relação de continuidade
articular, mas sem comprometer o tecido ósseo. Por outro lado, fraturas são soluções
de continuidade óssea, podendo ser abertas ou fechadas. A fratura também pode ser
simples (um traço e dois fragmentos), duplas (dois traços e três fragmentos) e
cominutivas (vários traços e fragmentos). Também podem ocorrer roturas viscerais,
sendo a mais frequente em acidentes de trânsito a rotura de baço.

7.1.4 Instrumentos perfurocortantes


São objetos com ponta e pelo menos uma lâmina de corte, que agem por
pressão e secção dos tecidos. A ferida pode ser incisa ou perfuro-incisa, dependendo
de como o instrumento foi utilizado, sendo chamada de ferida penetrante ou cavitária
se atingir uma cavidade natural do organismo. Geralmente são lesões fatais, uma vez
que a maioria desses instrumentos foram criados para essa finalidade, envolvendo
múltiplos golpes.
7.1.5 Instrumentos corto-contundentes
São instrumentos com uma lâmina para cortar e um peso para contundir, sendo
exemplos foice, machado, dente (escoriação, equimose ou ferida corto-contusa) e
garrafa quebrada. Esses instrumentos agem por pressão e secção dos tecidos,
gerando uma ferida corto-contusa. Os danos geralmente são fatais ou causam lesão
corporal gravíssima (déficit ou deformidade).

7.2 Questões de Prova


01

Resposta C
I - Correta, não houve mais reações vitais nas lesões depois desse fato
II - Degola é o corte na região posterior do pescoço
III - “Esfaquear” indica um instrumento perfurocortante (pense no mecanismo do
trauma)
02

Resposta D
Age em linha (a e d), por pressão e deslizamento (d)

03

Resposta B
a - Machado é corto-contundente
b - Certa
c - Ferida punctória
d - Nem sempre representam a sede da lesão traumática, podendo ocorrer em
locais diferentes (TCE)
e - Feridas cortantes normalmente apresentam bordas lisas e regulares
04

Resposta C
Elementos de lesão contusa, sem sinal de corte.

05

Resposta D
Descrição de uma lesão incisa
8. Psiquiatria Forense Criminal

8.1 Resumo do conteúdo

8.1.1 Introdução
A psiquiatria forense é uma subespecialidade da psiquiatria, que faz a conexão
entre a medicina e o direito, aplicando os conhecimentos em psiquiatria para a
resolução de problemas jurídicos. Em sua formação, um psiquiatra forense deve
fazer, além da residência em psiquiatria, mais um ano de residência médica, ou
cursos de especialização. Esse profissional atua em áreas de direito de família, direito
previdenciário, direito civil, direito trabalhista, direita administrativo, direito criminal,
interconsulta hospitalar/ambulatorial (consultoria) e pesquisa, tendo um amplo campo
em que pode atuar.
Para o Direito Penal brasileiro, um crime é toda ação ou omissão, típica,
antijurídica e culpável. Ou seja, é qualquer ação ou omissão de um indivíduo que
provoca danos ao outro, desde que essa ação ou omissão esteja caracterizada no
código penal de 1940 e seja antijurídica (legítima defesa, por exemplo, é jurídica), de
modo que o indivíduo seja culpável diante do delito.

8.1.2 Imputabilidade
A imputabilidade se refere à responsabilidade pela ação ou omissão delituosa.
O autor do crime pode ser inimputável por critério cronológico (< 18 anos) ou por
critério biopsicológico (transtornos psiquiátricos), desde que seja comprovado
transtorno mental que cause prejuízo, de forma parcial ou total, à capacidade de
entender e/ou se autodeterminar diante do delito, estando esses sintomas presentes
à época dos fatos. No código penal, o autor é isento de pena caso fosse inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento, e a pena é reduzida de um ou dois terços, se o autor não era
inteiramente capaz de entender ou determinar-se. Menores de 18 anos são sujeitos
a normas estabelecidas em legislação especial para menores infratores.
Nesse contexto, é importante que seja realizada uma avaliação retrospectiva
detalhada do estado mental do infrator no momento do delito, o que envolve
anamnese com o periciando e informantes qualificados, exame físico e exame
neurológico, além de avaliação complementar: aplicação de escalas, mini-mental,
neuroimagem, exames laboratoriais, avaliação de documentos, etc. O periciando
deve ser caracterizado quanto ao seu estado mental antes e depois do delito,
investigando que impacto esse crime causou em sua vida. Caso haja incidência de
sintomas psiquiátricos significativos após a prática do delito (superveniência de
doença mental), o réu não é avaliado quanto à sua imputabilidade, mas pode haver
suspensão do processo durante o tratamento do réu (instituição de custódia) ou, após
sua condenação, este é encaminhado ao tratamento psiquiátrico e retornará ao
sistema prisional em outro momento.
Existem alguns termos legais para delimitar algumas categorias de transtornos
psiquiátricos: Nos casos em que o indivíduo possui um adoecimento psiquiátrico mais
grave, chama-se Doença Mental (esquizofrenia, transtornos psicóticos, transtornos
neurocognitivos); são categorizados como portador de Perturbação da Saúde Mental
os periciandos com transtornos de personalidade e transtornos parafílicos; o termo
Desenvolvimento Mental Retardado se refere aos indivíduos com deficiência
intelectual, que pode tornar os indivíduos inimputáveis se for de caráter moderado a
grave ou semi-imputáveis dependendo do grau de comprometimento leve;
Desenvolvimento Mental Incompleto não é mais utilizado, mas se referia a indivíduos
indígenas de determinadas tribos isoladas, considerados na época (1940) ainda não
“evoluídos” culturalmente.
Caso o periciando seja definido como inimputável ou semi-imputável, a pena é
transformada em "medida de segurança”, com tratamento compulsório da saúde
mental (1 a 3 anos), que pode ser renovada enquanto a avaliação pericial não definir
a cessação de periculosidade. Delitos mais leves são tratados ambulatorialmente,
enquanto delitos mais graves envolvem internamento em complexo médico-penal.
A avaliação de responsabilidade penal pode ser solicitada pelo juiz, pelos
familiares do réu, pelo advogado de defesa ou pelo advogado de acusação. Em
resumo, para caracterizar a inimputabilidade, deve existir um transtorno mental, esse
transtorno deve ter nexo causal com o delito, e esse transtorno deve causar redução
ou abolição da capacidade de entendimento ou da capacidade de autodeterminação.

8.1.3 Exemplos
1. Paciente masculino, de 22 anos, é investigado pela Polícia Civil em um caso
de homicídio. A vítima, sua mãe, que à época do crime, tinha 48 anos, foi morta
a facadas na região do abdome (múltiplas lesões). Durante a investigação
policial, o agressor repetidamente disse que sua mãe era uma impostora (“um
robô altamente avançado, que foi programado pela CIA e pela Polícia Federal,
para me matar, por eu ser um hacker contra o sistema”). Após a denúncia do
Ministério Público, o juiz determinou que fosse realizada uma avaliação de
responsabilidade penal para o réu em questão. (Inimputável)
a. Existia transtorno mental à época do delito?
i. Sim, esquizofrenia.
b. Nexo causal com o delito?
i. Sim, “Durante a investigação policial, o agressor repetidamente
disse que sua mãe era uma impostora, ...”
c. Abolição da capacidade de entendimento?
i. Sim.
d. Abolição da capacidade de autodeterminação?
i. Sim.
2. Paciente masculino, de 25 anos, é investigado em um caso de importunação
sexual. Segundo a vítima, mulher de 19 anos, o agressor teria passado a mão
em suas partes íntimas em uma “balada sertaneja”. Durante o andamento do
processo, o advogado do réu anexou diversos atestados que obteve com o
psiquiatra assistente (médico assistente), que relatavam sobre a evolução de
um quadro de transtorno bipolar tipo 1, com diversas internações psiquiátricas
prévias, e com estabilidade de sintomas com o tratamento farmacológico
(Olanzapina 20 mg/dia + Carbonato de Lítio 1200 mg/dia). Neste sentido, após
solicitação do advogado de defesa, é instaurado o “incidente de insanidade
mental” para avaliação da responsabilidade penal do acusado. (Imputável)
a. Existia transtorno mental à época do delito?
i. Sim, transtorno bipolar do tipo 1.
b. Nexo causal com o delito?
i. Não, “..., e com estabilidade de sintomas com o tratamento
farmacológico, ...”
c. Abolição da capacidade de entendimento?
i. Não
d. Abolição da capacidade de autodeterminação?
i. Não
3. Paciente masculino, de 29 anos, é investigado por homicídio seguido de
ocultação de cadáver, de uma mulher de 19 anos, que era sua vizinha. Na
investigação, existem provas de o crime ter sido premeditado (a ponto do
cadáver ser encontrado após três semanas após o homicídio), após recusas
da vítima em se relacionar sexualmente com o réu. Durante o inquérito policial,
o agressor falou diversas vezes que ouvia vozes de comando que lhe falaram
para matar a vítima. Durante o andamento do processo, o advogado de defesa
solicitou perante o juiz a “avaliação da sanidade mental do acusado”.
(Imputável)
a. Existia transtorno mental à época do delito?
i. Sim, transtorno de personalidade antissocial (psicopatia).
b. Nexo causal com o delito?
i. Sim, antissociais apresentam predisposição ao comportamento
criminal.
c. Abolição da capacidade de entendimento?
i. Não, "..., existem provas de o crime ter sido premeditado, após
recusas da vítima em se relacionar sexualmente com o réu.”
d. Abolição da capacidade de autodeterminação?
i. Não, o crime foi premeditado.
8.1.4 Terminologia
1. Capacidade civil: Capacidade legal de uma pessoa para exercer direitos e
assumir responsabilidades em sua vida pessoal e jurídica.
a. Para os totalmente incapazes há os institutos da representação (pais,
tutores e curadores)
2. Imputabilidade: Capacidade de uma pessoa ser responsabilizada legalmente
por suas ações criminosas.
3. Responsabilidade: Obrigação de indivíduos, empresas ou organizações de
arcar com as consequências legais de suas ações ou omissões.
8.2 Questões de Prova
01

Resposta E
I – Correta, definição do código penal.
II – Incorreta, estados emocionais não são motivos de inimputabilidade.
III – Correta, não foi abordado na aula do Dr. Thiago, mas caso o réu estivesse
em estado de embriaguez completa por não saber o que estava ingerindo ou por
ser forçado a ingerir a substância, e isso tem nexo causal com o crime, sendo
incapaz de entender o caráter ilícito ou determinar-se de acordo com esse
entendimento, o indivíduo é inimputável.
02

Resposta C
I – Incorreta, são inimputáveis, mas ficam sujeitos a legislação especial.
II – Incorreta, embriaguez por vontade própria não é fator excludente de
culpabilidade
III – Incorreta, no caso de embriaguez, tem que perder completamente a
capacidade de entender ou determinar-se (devia estar escrito “inteiramente
incapaz”).

03

Resposta D
Simulação é simular sintomas que não tem, dissimulação é ocultar sintomas que
tem.
9. Lesões Produzidas por Arma de Fogo

9.1 Resumo do conteúdo


Instrumentos perfuro-contundentes são aqueles que possuem uma ponta para
perfurar e um peso para contundir, agindo por afastamento das fibras dos tecidos (ex:
projéteis, chave philips, ponta de guarda-chuva). O principal objeto de estudo nessa
área são as armas de fogo, tendo sua própria subdivisão da medicina legal, a balística
forense. Do ponto de vista médico-legal, é importante determinar a causa da morte,
ajudar a melhorar equipamentos de proteção policial e prevenir danos causados por
armas de fogo.

9.1.1 Armas de Fogo


Podem ser classificadas por vários critérios, sendo o foco aqui dado para a
classificação quanto à característica do cano da arma (alma). Armas de alma raiada
utilizam cartuchos de munição com projéteis unitários, podendo ser curtas
(revólveres, pistolas, ...) ou longas (carabinas, fuzis, ...). Já as armas de alma lisa,
são as que utilizam cartuchos de munição com projéteis múltiplos e são geralmente
usadas para caça ou tiro esportivo. Exemplos: espingardas são armas de fogo longas,
com cano de alma lisa, podendo ter um ou dois canos; escopetas são armas de alma
lisa de cano curto e grosso calibre; fuzis são armas de fogo longas, portáteis,
automáticas, com alma raiada (maior precisão), calibre potente, e normalmente, de
uso militar. As armas de fogo podem ser carregadas pela frente (antecarga) ou por
trás (retrocarga).
O mecanismo do disparo ocorre por força expansiva dos gases devido à
combustão de determinada quantidade de pólvora, emitindo o(s) projétil(eis), gases,
chama, fumaça e grânulos de pólvora incombusta. A munição é composta,
basicamente, por estojo, espoleta (local que é percutido), pólvora e projétil. O estojo
(cápsula/cartucho) é um recipiente metálico de forma cilíndrica aberto em uma
extremidade e fechado em outra, podendo variar no material de sua fabricação. A
espoleta é o material inflamável localizado centralmente na base da munição. A
pólvora é o material inflamável localizado dentro da cápsula. A bucha é um material
que separa a pólvora do projétil (nem sempre está presente). E, por fim, o projétil é o
elemento cilíndrico-cônico feito de chumbo ou outros metais, que é o verdadeiro
instrumento perfuro-contundente, pode ser único (em formato de ogiva) ou múltiplo,
com diversos projéteis.
As armas podem ser medidas quanto ao seu calibre, que pode se referir ao
diâmetro da luz do cano (em armas de projétil único) ou a quantos projéteis são
necessários para somar uma libra de peso (em caso de projéteis múltiplos). No caso
de calibre real, que é medido nas armas de alma raiada, o valor do diâmetro interno
do cano pode ser medido em alguns diferentes sistemas: no sistema norte-americano
utilizam-se polegadas, enquanto no sistema métrico utilizam-se milímetros (ex: calibre
22 = 5.6 mm; calibre 32 = 7,65 mm; calibre 38 ~ 9 mm). A energia do disparo é
quantificada de acordo com a velocidade que o projétil atinge na saída do cano e a
massa do projétil. Disparos de baixa energia compreendem aqueles em que a
velocidade de saída do cano fica entre 100 e 500 m/s, enquanto disparos de alta
energia podem chegar a 1200 m/s.

9.1.2 Balística interna


A balística interior é a área que estuda os movimentos do projétil dentro da
arma, avaliando a vibração das moléculas, a propulsão, a rotação pelas raias, entre
outros assuntos. Quando o gatilho é puxado, ele aciona um mecanismo em que o
percutor atinge a espoleta, que estoura e produz uma pequena faísca, a qual inflama
a pólvora e leva à combustão. Essa combustão gera pressão suficiente para empurrar
o projétil. O raiamento presente em armas de alma raiada são entalhes ao longo do
cano que conferem rotação ao projétil, deixando-o mais preciso. As diferenças no
raiamento fino (imperfeições do cano) são o que é chamado de “impressão digital”,
uma vez que deixam marcas no projétil que podem ser utilizadas para identificar qual
arma executou o disparo por meio de um microscópio balístico (importante não
manipular o projétil com instrumentos metálicos para não deformar e dificultar a
identificação).

9.1.3 Balística externa


A balística externa estuda o percurso do projétil desde a saída do cano até o
alvo, e seus efeitos sobre o alvo. No corpo humano é importante observar o orifício
de entrada, o trajeto que o projétil tomou e o orifício de saída, se presente. O orifício
de entrada varia conforme a distância de tiro: tiro encostado, tiro a curta distância e
tiro a distância, mas é geralmente menor que o orifício de saída (cone de Bonnet =
diferença entre a ferida de entrada e de saída em um plano ósseo). A distância do
disparo pode ser inferida pelas zonas de contorno, que são produzidas quando os
elementos que saem da boca da arma e atingem a pele.
O trajeto do disparo nem sempre é reto, pois pode bater em uma superfície
dura e desviar ou até se partir em pedaços e fazer múltiplos trajetos. Em casos de
dificuldade de achar o projétil pode usar o raio x, contando o número de projéteis e
analisando quais são os orifícios de entrada e de saída. O orifício de saída nem
sempre está presente, mas é importante diferenciá-lo do orifício de entrada, pois pode
qualificar um crime (tiro pelas costas indica emboscada, traição): as bordas do orifício
de entrada tendem a ser invertidas, enquanto as de saída evertidas; o orifício de
entrada é menor; não há orla de contusão e orla de enxugo no orifício de saída.
Também é importante definir o sentido do tiro, entre oblíquo, perpendicular e
tangencial. Em disparos perpendiculares, as zonas de contorno se dispões de forma
mais homogênea, enquanto em disparos oblíquos, as zonas formas aspecto de meia
lua. Disparos tangenciais se referem aqueles que geram ferida contusa, que atingem
a pele “de raspão”, podendo fazer ferida larga e comprida, ou apenas uma escoriação.
9.1.3.1 Tiro encostado
A boca da arma fica encostada na pele indicando suicídio, mas pode ser
execução ou homicídio comum. Como os elementos não tem para onde se difundir
ocorre como uma explosão embaixo da pele, principalmente por normalmente haver
algum anteparo (estrutura óssea) em proximidade, formando um buraco de até 2-3
cm (geralmente não-circular) e formação de alguns sinais. São sinais de disparo
encostado: a câmara de mina de Hoffmann, uma cavidade formada abaixo do orifício
irregular pela entrada de gás, é internamente queimada e cheia de pólvora; o sinal de
Benassi, que acontece quando o tiro é dado sobre uma superfície óssea, de modo
que a fumaça penetra e se impregna na tábua óssea, formando um halo fuliginoso; e
o sinal de Werkgartner (alça de mira), é a queimadura da boca da arma na pele
próximo ao orifício de entrada. No tiro encostado geralmente não há zona de
tatuagem nem esfumaçamento na pele, pois os elementos da carga penetram todos
pelo orifício
9.1.3.2 Tiro à curta distância
No tiro à curta distância (também chamado de queima-roupa), o disparo foi
realizado não encostado, em até +/- meio metro de distância. Existem efeitos
primários do disparo, causados pela penetração, e efeitos secundários devido aos
resíduos de combustão ou semicombustão, ocorrendo chamuscamento, queimadura
(fumaça e pólvora) e inversão das bordas. O orifício de entrada pode ser circular ou
elíptico de acordo com a maneira com a qual o tiro entrou em contato com a pele,
formando diferentes zonas de contorno nesse orifício, importantes para definir a
distância e o ângulo de disparo: a orla de contusão é a zona de contorno gerada pelo
impacto do disparo com a epiderme, geralmente escoriações; a orla de enxugo é a
região onde impurezas ficam impregnadas em torno do orifício (área mais escura); a
aréola equimótica se refere a um pequeno extravasamento de sangue que ocorre,
formando um halo equimótico; a zona de tatuagem é causada pelos grânulos de
pólvora que se impregnam internamente na pele, causando uma mancha escura
(dificulta a visualização da orla de contusão e da orla de enxugo); a zona de
esfumaçamento forma uma mancha mais superficial na pele, a qual é removível com
limpeza (diferente da tatuagem); e a zona de queimadura se refere à lesão causada
pela chama e pelos gases aquecidos, para que esteja presente o tiro deve ser
disparado em uma distância de no máximo 10 cm.
9.1.3.3 Tiro à distância
Não há uma distância certa, mas geralmente é maior de 40-50 cm, e indica
homicídio. Quando não se sabe o local de onde foi feito o disparo, considera-se um
tiro a distância quando só tem zonas de contorno produzidas pelo projétil (zona de
contusão, zona equimótica, zona de enxugo), pois os outros elementos se dispersam
e não atingem a pele.
9.2 Questões de Prova
01

Resposta C
Sinal de tiro encostado, explosão abaixo da pele.

02

Resposta E
I – Correto, pistolas são carregadas por pente, não pelo cano (que seria
antecarga).
II – Correto, tinha que saber o que é chaira (a parada q usa pra amolar faca)
III – Incorreto, revólver tem projétil único (cano de alma raiada).
03

Resposta E
I – Correto, em armas de cano liso (múltiplos projéteis) o calibre se dá por quantos
projéteis são necessários para completar 1 libra de peso.
II – Correto, a orla de enxugo se refere às impurezas deixadas pelo projétil
III – Incorreto, calibre 38 significa 0,38 polegadas de diâmetro

04

Resposta C
I – Correto, cone de Bonnet é a diferença entre um orifício de entrada e de saída
em um plano ósseo.
II – Correto, aparece devido ao sangramento.
III – Incorreto, a ferida de entrada tem diâmetro menor.

05

Resposta C
A tatuagem é a internalização de grânulos de pólvora na pele, que são
fagocitados pelos macrófagos como a tinta das tatuagens. Não sai com limpeza.
10. Tanatologia forense

10.1 Resumo do conteúdo


A morte não é um instante, mas um processo, sendo importante diferenciar a
morte tissular da morte funcional: o tecido muscular aguenta ficar muito mais tempo
em anóxia, quando comparado ao tecido cerebral, que morre em alguns instantes
quando sem oxigênio. Existem diversas situações que mimetizam a morte, sendo
importante avaliar e registrar os falsos positivos: hipotermia, choque, intoxicação por
drogas (barbitúricos, benzodiazepínicos), distúrbios metabólicos (encefalopatia
hepática, coma osmolar, hipoglicemia, uremia). Quanto à hipotermia, é necessário
restaurar a normotermia antes de declarar a morte. Da mesma forma, o choque
diminui o fluxo cerebral, podendo levar a uma suspensão transitória da atividade
elétrica cerebral, de modo que se deve tentar manter a PA antes de dar o diagnóstico
de morte encefálica. A definição de morte encefálica é o comprometimento irreversível
da vida de relação e da coordenação de vida vegetativa, sendo diferente de morte
cortical, quando o tronco ainda comanda a respiração e a circulação. A morte
encefálica deve ser avaliada por dois exames clínicos que confirmem coma não
perceptivo e ausência de função do tronco encefálico, teste de apneia que confirme
ausência de movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros
respiratórios, e exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica.
Importante lembrar que resposta nervosa infraespinal (reflexos osteotendinosos,
cutâneo plantar, etc) não descarta morte encefálica.

10.1.1 Fenômenos cadavéricos


Esses eventos acontecem simultaneamente, mas se apresentam de maneira
perceptível em momentos diferentes. Os fenômenos cadavéricos podem ser
classificados de acordo com seu mecanismo (classificação de Hygino Hércules), em
fenômenos de mecanismo físico (desidratação, resfriamento, livores), ou de
mecanismo químico (autólise, rigidez, putrefação, maceração, saponificação,
mumificação). Porém, a classificação mais utilizada é a de Borri, que divide os
fenômenos em abióticos, que são subdivididos em imediatos e consecutivos, e
transformativos, que podem se destrutivos (putrefação, maceração, autólise) ou
conservadores (saponificação, mumificação).
10.1.1.1 Fenômenos abióticos imediatos
São fenômenos indicativos de morte, mas não significam necessariamente que
ela ocorreu. Envolve perda de consciência, perda da motilidade muscula, perda do
tônus, parada respiratória e parada cardíaca. É importante verificar esses fenômenos
com exames específicos, sejam clínicos (estímulo doloroso, ausculta, pulsos) ou
envolvendo maquinário específico (EEG, ECG, ...).
10.1.1.2 Fenômenos abióticos consecutivos
Estes fenômenos dão certeza da morte, incluem desidratação ou evaporação
tegumentar, resfriamento do corpo, rigidez cadavérica, hipóstases e livores
cadavéricos. No caso da desidratação (evaporação de líquido pelo tegumento), trata-
se de um fenômeno de ordem física, caracterizado pela perda de peso, o
apergaminhamento da pele, dessecação de mucosas (perdem sua coloração e
tornam-se mais pardas) e fenômenos oculares. A perda de peso é contínua, mas
depende da proporção de água no corpo, na umidade do ar, na temperatura elevada
e na boa ventilação do ambiente. A pele apergaminhada é caracterizada pelo
endurecimento, pela secura e pela característica que lembra um pergaminho; isso é
especialmente percebido em locais de pele fina, perdendo sua vitalidade. Dentre os
fenômenos oculares, é possível perceber o desaparecimento do brilho da córnea pela
falta de lágrima, há perda do tônus do globo ocular, a córnea torna-se opacificada
(fundo de olho impossível em 12h), e aparece uma mancha negra na esclera (sinal
de Sommer e Larcher), que começa na metade temporal (amarelada, depois
enegrecida), e avança em direção à metade nasal. Aparece entre 1 e 3h da morte,
tornando-se negra em 6h.
O esfriamento é outro fenômeno de ordem física, uma vez que com a morte o
corpo tende a atingir o equilíbrio térmico com o ambiente. Inicialmente a circulação
cutânea cessa, mas as reações internas continuam, de modo que os órgãos internos
podem permanecer aquecidos até 24h após a morte. O cálculo de tempo de morte a
partir da temperatura é muito impreciso (11% de acerto), não sendo utilizado para
esse fim, mas estima-se que o corpo resfrie 0,5 °C por hora nas primeiras 3h e 1 °C
por hora a seguir, até atingir a temperatura ambiente. O esfriamento depende de
fatores intrínsecos da vítima que podem acelerar o processo, como idade mais
avançada ou crianças, constituição magra ou estado nutricional precário, morte com
hipotermia, anemias agudas ou hipotireoidismo; sendo mais lento em obesos, em
vítimas de insolação, intermação, envenenamento e doenças infecciosas agudas.
Dentre os fatores extrínsecos que afetam o esfriamento temos a temperatura média
do ambiente, o arejamento e as correntes de ar e as vestes do sujeito no momento
da morte.
As hipóstases são manchas que aparecem no corpo devido à migração do
sangue para regiões em declive, de modo que a localização depende da posição do
cadáver. A coloração das manchas é conferida pela própria hemoglobina, mas
diferem das equimoses por se tratar de sangue líquido, não coagulado. Essas
manchas aparecem isoladamente, mas possuem tendência de confluir com o passar
das horas (2-3h), se fixando entre 8 e 12h e persistindo até a putrefação.
A rigidez cadavérica é um fenômeno de ordem química, definido pela variante
da contração muscular pela escassez de oxigênio nos tecidos, variando em
intensidade e tempo de aparecimento de acordo com o teor de ATP que o sujeito
tinha na hora do óbito (menor teor de ATP = maior intensidade de rigidez). Após a
morte ocorre um relaxamento muscular generalizado, hipóxia celular (não forma mais
ATP) e há alteração da permeabilidade das membranas celulares. Dessa forma, há
progressiva queda de glicogênio no músculo que é convertido em ácido láctico no
metabolismo anaeróbio, causando acúmulo desse metabólito e rigidez. Assim, se
houver mais ATP reservado antes da morte, a rigidez demora mais para ocorrer, como
no caso de pessoas mais robustas, situações que conservam a hidratação
(afogamento) e doenças que mantêm o corpo em repouso (câncer). O processo
também pode ser acelerado caso haja elevada temperatura externa, ou a causa
mortis envolva processos de hipóxia, como asfixias e anemias agudas. Esse
fenômeno tende a ocorrer no sentido cefalocaudal (começa pela mandíbula e termina
nos membros inferiores), e depois se resolve no mesmo sentido (Lei de Nysten: ¾
dos casos a rigidez é descendente). A rigidez segue uma série de fases: A fase
invasiva é a progressão da rigidez, que começa pela mandíbula e nuca 1-2h após a
morte, descendo para tronco, MMSS, abdômen e MMII; em torno de 5-8h atinge fase
culminante, que é quando a rigidez atingiu todo o corpo de forma intensa,
permanecendo nessa fase por 24-48h; a fase de resolução é quando a rigidez começa
a desaparecer, ocorrendo na mesma sequência que a fase invasiva.
10.1.1.3 Fenômenos transformativos destrutivos
A autólise é a destruição celular por acidificação do meio, muito confundido
com a putrefação, que é quando as bactérias presentes no organismo destroem os
tecidos, quanto mais bactérias mais rapidamente o processo ocorre (intestino é o
primeiro). O processo de putrefação é variável por condições pessoais (sepse, uso
de antibiótico) e ambientais (temperatura: não ocorre abaixo de 0 °C). A primeira fase
da putrefação é a fase cromática (das manchas), quando a pele vai adquirindo uma
coloração mais esverdeada, geralmente ocorrendo cerca de 24h após a morte na da
fossa ilíaca direita (ceco é mais próximo da pele) e depois se espalhando pelo resto
do abdome, essa alteração de cor progride por todo o corpo, durando cerca de 7 dias
(as manchas escurecem com o passar do tempo). A segunda fase é a gasosa
(enfisematosa), que dura em média 7-21 dias e ocorre a formação de gases, de modo
que o cadáver começa a ficar maior, formando bolhas que se rompem liberando
exsudato de odor fétido. A circulação fica aparente na pele nessa fase pela pressão
dos gases, sendo chamada de circulação póstuma de Brouardel. Em seguida, a fase
coliquativa envolve a destruição de tecidos, soltando-se dos ossos pouco a pouco,
podendo se prolongar por 2 a 3 anos. Por fim, a fase de esqueletização leva em torno
de 2-3 anos, mas tecidos mais resistentes levam aproximadamente 5 anos, sobrando
apenas ossos e cabelos.
A maceração ocorre quando o sujeito morre em meio líquido ou trata-se de
óbito fetal (líquido amniótico). A pele fica enrugada, com a epiderme se soltando da
derme. A putrefação começa quando o corpo é retirado do meio líquido, momento no
qual podem ser identificadas lesões pela fauna aquática caso o corpo estivesse em
ambiente marítimo.
10.1.1.4 Fenômenos transformativos conservadores
A mumificação ocorre quando o cadáver fica em solo arenoso, altas
temperaturas, bastante ventilação e ar seco. Há uma desidratação muito rápida e as
bactérias não conseguem agir. A pele fica dura e áspera (como um couro), firmemente
aderida aos ossos, os órgãos desaparecem ou ficam retorcidos e o cadáver passa a
pesar 10-15 Kg. Esse processo pode ser feito artificialmente (antigo Egito).
A saponificação ocorre quando o cadáver fica em local úmido, com pouca
ventilação e mais frio. Há inibição da destruição bacteriana e transformação dos
ácidos graxos em uma massa chamada adipocera (sabão), de modo que o corpo fica
com aparência de boneco de cera.
10.1.2 Cronotanatognose
Trata-se da estimativa do tempo de morte. Aqui é importante destacar que é
impossível fazer uma definição precisa do tempo exato de morte, os peritos utilizam
do conhecimento sobre o tempo de apresentação de cada fenômeno cadavérico para
estimar, da maneira mais próxima possível, quando o ocorreu a morte. Ou seja, é
possível definir se um corpo morreu 1 hora atrás ou 20 horas, mas não é possível
diferenciar uma morte de 18h de uma de 20h.

10.2 Questões de Prova


01

Resposta E
02

Resposta C
As hipóstases são formadas por sangue (líquido), enquanto equimoses são
formadas por coágulos. Além disso, no caso das hipóstases, o sangue está
contido dentro dos vasos, só está acumulado devido à ausência de fluxo
sanguíneo, enquanto nas equimoses, os vasos foram rompidos e o sangue está
coagulado e infiltrado nas malhas tissulares.

03

Resposta C
I – Incorreto, essa circulação ocorre na fase gasosa de putrefação devido à
proximidade dos vasos com a pele
II – Incorreto, 1 grau por hora nas primeiras 3 horas, 0,5 depois
III – Incorreto, quanto menos ATP, maior a rigidez
04

Resposta D
a) Errada, foi encontrado em decúbito dorsal, com hipóstases na região anterior
do corpo
b) Errada, faltam informações
c) Errada, o corpo ainda está com rigidez generalizada (dura 24-48h)
d) Correta, a rigidez está por todo o corpo e as hipóstases estão fixas (não
mudaram com a alteração de decúbito)
e) Errada, impossível dizer com certeza

05

Resposta A
11. Lesões Corporais

11.1 Resumo do conteúdo

11.1.1 Laudo médico-legal


O laudo médico no âmbito penal, seja para lesões corporais ou não, deve ser
formatado de acordo com o padrão definido pelas autoridades, contendo preâmbulo,
histórico (no caso do exame de corpo de delito deve conter descrição de todas as
lesões), exame e descrição, discussão, conclusão e respostas aos quesitos. No laudo
deve ser caracterizado como determinado instrumento foi utilizado para causar danos,
não apenas listar o instrumento e o dano que foi causado. Nesse sentido, lesões
corporais devem ser listadas no laudo, definindo como foram causadas, por meio de
qual instrumento, e qual o seu impacto na vida habitual da vítima, sendo classificadas
como leves, graves e gravíssimas. Os elementos envolvem o objetivo (as lesões) e o
subjetivo (dolo, vontade).

11.1.2 Lesões corporais leves


As lesões corporais são lesões pessoais, causadas por alguma ação ou
omissão, sendo definidas como todo dano praticado, com ou sem a intenção de lesar,
e que compromete a pessoa em sua integridade (incolumidade) sômato-psíquica.
Caso as lesões sejam levíssimas, aplica-se a teoria da insignificância. As lesões
corporais de natureza leve não estão definidas no código penal, apenas lista-se
“ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”, sendo a sua definição feita a
caráter de exclusão (não é nem grave, nem gravíssima). Dessa forma, lesões
corporais leves são aquelas que comprometem as ocupações habituais da vítima por
menos de 30 dias, com pouca repercussão orgânica e fácil recuperação individual
(escoriação, equimose, ...).
Pena: Reclusão de 3 meses a 1 ano.

11.1.3 Lesões corporais graves


São as lesões que resultam em incapacidade para as ocupações habituais por
mais de 30 dias, causam perigo de vida, geram debilidade permanente de membro,
sentido ou função, ou causam aceleração de parto. No caso de incapacidade para as
ocupações por mais de 30 dias, é importante saber que não há relação direta com o
trabalho, mas qualquer atividade que o sujeito costuma fazer, e não consegue mais.
O prazo de trinta dia é um prazo clínico para que o indivíduo possa razoavelmente
voltar a integrar-se com o seu meio e com as suas necessidades, trata-se de um
critério de cura funcional, não cura física. Perigo de vida é uma situação de iminência
de morte, onde há dano efetivo, concreto e evidente (asfixia, choque, queimadura
grave). Ou seja, o perigo tem que ser sério, atual e efetivo, não remoto ou presumido
(risco de vida é prognóstico, perigo de vida é diagnóstico). A questão de debilidade
permanente, se refere a um enfraquecimento (diminuição) da capacidade funcional
ou de uso por pelo menos 1 ano, a perda de um olho, por exemplo, gera debilidade.
A aceleração do parto é a expulsão precoce do produto da concepção, mas em estado
de maturidade que pode continuar a viver fora do útero materno, de modo que
compete ao legista estabelecer o nexo causal. Tem como requisitos o feto vivo, antes
do termo normal, motivado pela agressão e com capacidade de sobreviver.
Pena: Reclusão de 1 a 5 anos.

11.1.4 Lesões corporais gravíssimas


São lesões que resultam em incapacidade permanente do trabalho,
enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro, sentido ou função,
deformidade permanente ou aborto. A incapacidade permanente se refere a uma
completa invalidez para o trabalho, qualquer que seja ele (não necessariamente o
trabalho previamente executado pela vítima), sendo permanente, não perpétua. Na
incapacidade permanente, o ofendido deve ficar privado da possibilidade física,
psíquica ou intelectual de aplicar-se a qualquer atividade lucrativa. A enfermidade
incurável deve causar um déficit funcional acompanhado de sequela evidente, sendo
impossível retornar ao estado anterior à lesão (incurável). Se o processo de cura é
demorado, ou incompatível com os recursos da vítima, ou ainda com os meios
médicos disponíveis em nossa realidade, a enfermidade deve ser considerada
incurável. Quanto à deformidade, são fatores de consenso atual na análise da
deformidade a sede da lesão, a extensão da lesão, a aparência, a permanência, o
aspecto e a irreparabilidade. A deformidade deve ser tal que causa uma impressão,
senão de repugnância ou de mal-estar, pelo menos de desgosto, de desagrado.
Pena: Reclusão de 2 a 8 anos.

11.1.5 Lesão corporal seguida de morte


Refere-se a uma situação em que a lesão resulta em morte, mas as
circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco
de produzi-lo. Muitos tentam desqualificar homicídio como uma lesão corporal
seguida de morte.
Pena: Reclusão de 4 a 12 anos.

11.1.6 Lesão corporal culposa


Lesão sem intenção de machucar.
Pena: Detenção de 2 meses a 1 ano.

11.1.7 Fatores que alteram a pena


1. Meio cruel: Agrava a pena. Trata-se de meio que cause sofrimento
desnecessário para a vítima (tortura, lesões que extrapolam o objetivo,
veneno).
2. Diminuição da pena: Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injustiça provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um
sexto a um terço.
3. Substituição da pena: O juiz, não sendo grave as lesões, pode ainda substituir
a pena de detenção pela de multa.

11.2 Questões de Prova


01

Resposta A
I – Correto
II – Correto
III – Incorreto, nesse caso seria lesão corporal grave
02

Resposta C
Entra no critério de deformidade permanente.

03

Resposta E
Seria lesão corporal grave se o feto continuasse vivo e o parto tivesse sido
acelerado, mas como morreu devido à imaturidade, considera-se aborto

04

Resposta B
05

Resposta D
I – Correto
II – Correto, tem outro rim
III – Correto, não se enquadra como lesão grave nem gravíssima
12. Toxicologia Forense

12.1 Resumo do conteúdo


A toxicologia forense é a área que vai detectar substâncias importantes para
definição de processos judiciais e avaliar qual a relação desses agentes com a morte
(suicídio ou homicídio em um envenenamento), além de confirmar evidência de
doenças ocupacionais. Um conceito importante para esse campo é o de xenobióticos,
que são todos os compostos químicos não pertencentes ao organismo, incluindo
drogas, poluentes, pesticidas, aditivos alimentícios, etc.

12.1.1 Avaliação de performance humana


Um teste toxicológico comum para avaliar a performance de indivíduos quanto
a direção de veículos é o teste do bafômetro (quantitativo), que é previsto no código
de trânsito como parâmetro para infrações: até 0,04 mg/L o condutor é liberado devido
à margem de erro; entre 0,05 e 0,33 é uma infração gravíssima (multa x10); e valores
iguais ou superiores a 0,34 mg/L caracterizam um crime de trânsito. Para categorias
profissionais (motoristas, pilotos de avião, etc) é feito o teste toxicológico do cabelo
que tem margem de detecção de 90 dias, exceto para LSD (6 meses).
Outra maneira de detectar o uso de drogas por indivíduos é o teste toxicológico
de urina, que possui um tempo específico para a detecção de cada substância:
anfetaminas são detectadas na urina por 48h após o uso; benzodiazepínicos de ação
curta são detectados por 3 dias, enquanto os de ação longa por 30 dias; cocaína é
detectada por 2-4 dias; maconha é detectada por 5-7 dias se for um uso moderado,
mas em usuários crônicos ela pode ser detectada por 10-30 dias ou mais; opioides
(codeína/heroína) são detectados por 48h; fenciclidina (pó de anjo) é detectada por 8
dias.

12.1.2 Investigação toxicológica post-mortem


Em casos em que há suspeita de morte relacionada ou induzida por
substâncias, é importante identificar a rota de administração (diferenciar overdose de
tentativa de suicídio), qual foi a dose administrada (cocaína: 1g = intoxicação grave;
5g = morte), qual a concentração necessária para morte (cocaína = morte súbita
cardiovascular), para lesão, ou para alteração comportamental que levou a
morte/lesão, sendo que a dose e a concentração para que isso ocorra variam de
acordo com a via de administração. Para isso, a coleta de informações para a história
deve ser a mais detalhada possível, contendo a cena do crime, o relato das
testemunhas, as características da vítima (idade, sexo, altura, peso, medicamentos
em uso, histórico médico - principalmente psiquiátrico) e o intervalo de tempo entre o
uso da substância e a morte. Também é importante coletar materiais para realização
de exames complementares, sabendo que diferentes substâncias têm afinidade com
diferentes tecidos (tecido adiposo, ossos, cabelo, fluidos corporais), sendo importante
definir o método analítico correto de acordo com as características da substância e
da vítima.
No laudo pericial devem ser descritos detalhes da vítima, as condições do
corpo e a data da morte (incluindo horário aproximado), e no caso da investigação
toxicológica, a data e as especificações das análises toxicológicas: quais amostras
foram coletadas, qual foi o resultado de cada teste e a interpretação geral do perito.

12.1.3 Adições e Psiquiatria Forense


As dependências têm impacto na saúde individual e coletiva, caracterizando
um problema de segurança pública (crimes aquisitivos), seguridade social e saúde
pública, além de envolver questões de trabalho, educação e economia. Muitas
substâncias psicoativas são relacionadas com atitudes violentas, especialmente o
álcool e a cocaína/crack, isto devido ao desenvolvimento de dependência, além das
características psicológicas, dos problemas sociais relacionados e das questões
neurobiológicas (lobo frontal). Os crimes geralmente ocorrem por impulsividade,
geralmente com pouco ou nenhum planejamento, geralmente com a finalidade de
obtenção da substância (importante diferenciar do crime paralelo ao uso de
substância).
Na lei: é isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o
efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação
ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse
entendimento. A pena pode ser reduzida de um terço a dois terços nesse contexto.
Ou seja, há inimputabilidade ou semi-imputabilidade em casos de crimes cometidos
devido a dependência, caso fortuito (ingestão acidental, efeito colateral não previsto)
ou força maior (imposição de terceiros), mas o álcool não é uma substância prevista
nessa lei. Dessa forma, os preceitos são os mesmos que na avaliação de
responsabilidade penal, sendo necessário avaliar a presença de dependência e da
intoxicação em decorrência da dependência (perda de livre arbítrio), havendo
abolição (ou prejuízo) da capacidade de entendimento/autodeterminação.
Adendo: “Actio libera in causa” se refere a uma pessoa que se coloca em uma
situação de inimputabilidade propositalmente, sendo julgado e culpabilizado como se
essa situação não tivesse ocorrido. O principal exemplo é a embriaguez, de forma
que caso haja embriaguez completa por caso fortuito ou força maior, o sujeito pode
ser isento de pena (inteiramente incapaz de entender/determinar-se) ou ter sua pena
reduzida (não possuía plena capacidade de entender/determinar-se), mas isso não
se aplica caso a embriaguez tenha ocorrido de forma livre e deliberada, pois assume-
se o conhecimento da possibilidade de alteração da consciência com o uso de
substância. Da mesma forma, não se exclui a imputabilidade penal devido a emoção
ou paixão.
12.1.4 Antropologia forense
Trata-se da aplicação de conhecimentos de antropologia geral e arqueologia
para questões médico-legais, estudando a identidade e a identificação. É um
processo técnico-científico de individualização a partir de dados de idade, sexo,
padrão étnico, estatura, entre outros.
12.1.4.1 Identidade
Conjunto de caracteres que individualiza uma pessoa, ou seja, a faz distinta
das demais. Envolve um elenco de atributos que torna uma pessoa única, como
sinais, marcas, caracteres positivos e negativos. Os dados ou sinais utilizados na
antropologia forense para definir a identidade são julgados de acordo com alguns
quesitos técnicos: unicidade e imutabilidade. Essa caracterização é importante em
diversos contextos: em pessoas vivas, é importante para localizar desaparecido, em
pessoas com amnésia, em menores de idade e em casos de recusa de identidade;
em mortos, é importante para identificar cadáveres, restos cadavéricos, e também em
caso de corpos em estado avançado de decomposição, ou mutilados.
12.1.4.2 Identificação
A identificação de um cadáver pode ser feita em um espécime inteiro, em
esquartejados, em pedaços e quando sobram apenas ossos. Examina-se a espécie
(diferenciar de restos animais que podem estar junto), a etnia, o sexo, a estatura, a
idade (dentes e ossos ajudam muito aqui), as cicatrizes, as malformações, as
tatuagens, os nevos, os sinais profissionais ou de hábito e o biotipo. Cicatrizes,
tatuagens, nevos e malformações podem ser agrupados como sinais individuais.
12.2 Questões de Prova
01

Resposta D
Thiago não entrou nos tipos de embriaguez, mas em resumo: a acidental é por
caso fortuito ou força maior; a culposa é aquela em que o agente não faz ingestão
querendo se embriagar, mas por descuido; a voluntária é quando o sujeito bebe a
fim de se embriagar; e a dolosa/preordenada é quando faz ingestão a fim de se
embriagar e cometer crime (actio libera in causa)

02

Resposta C (já explicado)

03

Resposta B ou E?
A – Funções sensoriais está errado
C – Mímica facial está errado
D – Voz está errado

Você também pode gostar