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CLÍNICA MÉDICA I
SÍNDROME CORONARIANA
AGUDA
1
SUMÁRIO
4. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
4.1. Anamnese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
4.2. Exame físico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
5. Diagnóstico diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5.1. Causas cardiovasculares não isquêmicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5.2. Causas não cardíacas de dor torácica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Exames complementares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
6.1. Eletrocardiograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
6.2. Marcadores de necrose miocárdica (MNM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6.3. Outros exames . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
8. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
8.1. Oxigênio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
8.2. Analgésicos e ansiolíticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
8.3. Controle glicêmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
8.4. Terapia anti-isquêmica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
8.5. Antiplaquetários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
8.6. Anticoagulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8.7. Terapias de reperfusão precoce no IAMCSST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
8.8. Estratificação de risco na SCASSST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
8.9. Cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8.10. IECA e BRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8.11. Antagonista do receptor mineralocorticoide (ARM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8.12. Estatinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
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SÍNDROME CORONARIANA AGUDA
importância/prevalência
u A Síndrome Coronariana Aguda (SCA) pode ser dividida, após a realização do ECG, entre IAMCSST (com
supra de ST) e SCASSST (sem supra de ST), que são entidades diferentes em termos de prognóstico e
tratamento.
u A SCASSST inclui o infarto sem supra (IAMSSST) e a Angina Instável (AI), cuja diferença é a elevação dos
marcadores de necrose miocárdica.
u Lembrar os principais diagnósticos diferenciais de dor torácica.
u Existem marcadores clínicos e escores para estratificar o prognóstico cardiovascular após SCA. É impor-
tante ter ideia do que piora o prognóstico do paciente e o escore TIMI para estratificar o risco na SCASSST.
u No IAMCSST, o paciente precisa de terapia de reperfusão imediata. Se isso será feito com trombólise ou
angioplastia primária depende da disponibilidade do serviço de hemodinâmica no local do atendimento.
Atenção para os tempos!
u Em relação ao tratamento, fique atento às indicações e às contraindicações dos antitrombóticos, antian-
ginosos e outras medicações que reduzem mortalidade.
1. INTRODUÇÃO 2. EPIDEMIOLOGIA
3
Síndrome coronariana aguda Cardiologia
DICA
A mortalidade geral da SCA conti-
nua sendo alta, pois grande parte dos pa-
Evolução das alterações da parede arterial na hipótese da resposta à
cientes (cerca de 50%) morre na primeira lesão (da esquerda para direita): Acúmulo de LDL-oxidado no suben-
hora do evento, geralmente antes do su- dotélio (1). Lesão endotelial com adesão de monócitos (2). Monócitos
porte médico. se diferenciam em macrófagos (3) que fagocitam o LDL-ox (4) e se
transformam em células espumosas (6). Ocorre então liberam de
citocinas que atraem linfócitos T (5) e células musculares lisas (7)
para a íntima. Essa células musculares formam a capa fibrótica (8)
e as células espumosas forma o núcleo lipídico (9), junto com restos
celulares em necrose (10).
3. FISIOPATOLOGIA Fonte: Acervo Sanar.
3.1. ATEROSCLEROSE
BASES DA MEDICINA
BASES DA MEDICINA
As placas ateroscleróticas são constituídas de um core
lipídico e uma capa fibrótica (Figuras 2 e 3). A depender da
As síndromes coronarianas agudas fazem parte do espec- proporção entre esses elementos, costuma-se dizer que
tro da doença aterosclerótica coronariana. Deve-se enten- a placa pode ser estável (maior capa fibrótica) ou instável
der o processo aterosclerótico e atuar de forma ativa (maior core lipídico). Essa última está mais susceptível
na progressão dessa doença. Apesar de a complicação à rotura. Ao romper, há agregação plaquetária local, de
mais temida da aterosclerose ser o evento agudo (IAM), modo a formar trombo na luz arterial, gerando obstrução
essa é uma das doenças de cursos mais prolongados da ao fluxo sanguíneo intracoronário. O grau de obstrução
medicina. Sabe-se que, ao longo de décadas, ocorre a determinará o aparecimento de sintomas e o grau de
deposição de partículas lipídicas no subendotélio arterial isquemia miocárdica. Em outras palavras, o paciente pode
que induz um processo inflamatório, formando o ateroma apresentar-se sem sintomas (obstrução parcial leve) até
(Figura 1). Resumidamente, no início ocorre acúmulo de com IAMCSST (obstrução total da luz do vaso).
LDL no subendotélio, que será oxidado (LDLox). Logo em
seguida, ocorre migração de macrófagos para a região,
que fagocitam o LDLox, tornando as células espumosas.
Ocorre também migração de células da musculatura
lisa e liberação de citocinas que estimulam a migração
celular para a região. Por fim, forma-se a capa fibrótica,
que delimita o ateroma. O ateroma consiste em uma
estrutura de core lipídico recoberta por capa fibrosa na
região subendotelial da coronária.
4
Síndrome coronariana aguda
A capa fibrótica é formada por células musculares lisas, proteoglicanos, colágeno, elastina e neovascularização. Centro lipídico é formado
por restos celulares, cristais de colesterol, células espumosas e cálcio.
Fonte: Tefi/Shutterstock.com¹.
As placas vulneráveis (propensas à ruptura) se caracterizam por cápsulas fibrosas finas, grandes centros lipídicos e aumento da inflama-
ção. Já as placas estáveis têm cápsulas fibrosas densamente colagenosas e espessadas com mínima inflamação e centro ateromatoso
subjacente desprezível.
Fonte: Acervo Sanar.
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
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Síndrome coronariana aguda
Células
Macrófagos Células espumosas Capa fibrótica
musculares lisas
Placa de ateroma
Doença aterosclerótica
Instabilização
da placa
Agregação
Trombo
plaquetária
Obstrução arterial
Total Parcial
Infarto
Infarto transmural
subendocárdico
IAMCSST IAMSSST
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Observe que o endocárdio é uma região naturalmente mais suscetível a desbalanços na relação oferta-demanda.
Fonte: Alencar Neto et al.²
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Síndrome coronariana aguda
4.1. ANAMNESE
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
u Localização: o paciente geralmente indica todo (dias antes do quadro agudo), caracterizados por
o tórax, em vez de localizá-lo em uma área espe- desconforto anginoso aos mínimos esforços ou
cífica, já que a dor tende a ser um desconforto em repouso.
difuso que pode ser difícil de localizar.
Alguns pacientes podem manifestar SCA com sin-
u Tempo: normalmente é breve (de 2 a 5 minutos), tomas atípicos, como dor atípica e “equivalentes
sendo aliviada pelo repouso ou nitroglicerina. anginosos”, principalmente idosos, mulheres, dia-
Em comparação, pacientes com Síndrome Co-
ronariana Aguda (SCA) podem ter dor torácica Las
béticos e transplantados cardíacos (Quadro 3).
--
odilatador
em repouso com duração superior a 30 minutos.
Quadro 3. Equivalentes anginosos.
Angina atípica
Atende a 2 dessas características
(provável)
DIA A DIA MÉDICO
Dor torácica Atende apenas a 1 ou nenhuma das
não anginosa características
O paciente com síndrome coronariana aguda pode apre-
Fonte: Cesar et al.3 sentar o sinal de Levine: mão posicionada sobre o peito,
com mímica de aperto e fácies de dor. Esse achado,
embora não seja específico, deve chamar atenção para
Existem padrões de apresentação que favorecem a possibilidade de IAM.
o diagnóstico de SCA em detrimento da angina
estável (Quadro 2).
Figura 6. Sinal de Levine.
No IAMCSST, a dor geralmente não melhora ape- Paciente com angina leva mão ao peito demonstrando sensação
sar do repouso ou nitrato sublingual (diferente das de desconforto e aperto.
outras SCA), e em 1/3 dos casos existem pródromos Fonte: Acervo Sanar.
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Síndrome coronariana aguda
IC discreta (estertores
Killip II 8-10
nas bases, B3)
4.2. EXAME FÍSICO
Edema agudo
Killip III 20-25
de pulmão
O exame físico na SCA em geral tem poucos acha-
dos, devendo ser rápido, objetivo e direcionado a Killip IV Choque cardiogênico 45-70
procurar os principais achados sugestivos de com- Fonte: Killip et al.4
plicações e a excluir prováveis outros diagnósticos:
u Congestão pulmonar: estertores crepitantes
DIA A DIA MÉDICO
progressivos, tosse com secreção espumosa e
rosada (edema agudo de pulmão) e B4 (disfun-
O exame físico em pacientes em vigência de SCA tem
ção diastólica).
3 principais funções: afastar diagnósticos diferenciais,
u Hipoperfusão tecidual: choque cardiogênico com avaliar a gravidade e estabelecer comparativo para a
hipotensão e taquicardia (antes da hipotensão, o reavaliação nos próximos dias de internação.
paciente faz taquicardia sinusal para compensar A função inicial consiste em avaliar causas outras de dor
o baixo débito), B3 (disfunção sistólica), rebaixa- torácica que podem mimetizar uma SCA. Por exemplo,
mento do nível de consciência, enchimento capi- é mandatório avaliar a pressão arterial e o pulso nos 2
lar demorado com extremidades frias. membros (afastar dissecção aguda de aorta). A ausculta
de atrito pericárdico pode ajudar na diferenciação de um
u Complicações: sopros de insuficiência mitral quadro de pericardite. Na ausculta pulmonar, os murmú-
aguda e CIV. rios vesiculares presentes afastam a possibilidade de
u Outros diagnósticos: dissecção de aorta – dife- pneumotórax. A dor à digitopressão pode ser um indício
a mais, porém não patognomônico, de costocondrite.
rença de pulsos e sinal focal sugestivo de AVCi
(pode ocluir coronárias, subclávias ecarótidas), A segunda função do exame físico é avaliar se há sinais de
pneumotórax (ausculta abolida em um dos he- clínicos de gravidade como hipotensão, perfusão periférica
inadequada, tempo de enchimento capilar prolongado,
mitórax) e pericardite (atrito pericárdico).
congestão pulmonar, sopro cardíaco novo, entre outros.
Algumas alterações reflexas podem estar presen- Um outro item fundamental no exame físico é estabelecer
tes como bradicardia sinusal (IAM inferior devido o comparativo da evolução do paciente nos próximos dias
da internação. O aparecimento de um sopro cardíaco
ao Reflexo Bezold-Jarisch – hiperatividade vagal),
novo, por exemplo, pode ser o primeiro sinal de uma
taquicardia sinusal (choque cardiogênico incipiente), complicação mecânica do IAM.
hipertensão (aumento da atividade simpática).
Estertores pulmonares, hipotensão sistólica (PAS
< 110 mmHg) e taquicardia sinusal estão associados
ao aumento de eventos adversos nas primeiras 72
horas.
A Classificação de Killip e Kimball (Tabela 1) é
usada para avaliar o prognóstico do IAM com base
11
Síndrome coronariana aguda Cardiologia
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Síndrome coronariana aguda
linha de base do ECG é a do intervalo PR (Figura 8). Anterior extenso V1 a V6, D1 e aVL DA
VD V3R e V4R CD
Fonte: Adaptada de Pastore et al.
5
A progressão da isquemia miocárdica secundária à oclusão de uma
coronária epicárdica é previsível: se inicia no endocárdio e progride
em direção ao epicárdio. A sequência de eventos está descrita na
figura e explica a razão pela qual a primeira alteração eletrocardio- DICA
gráfica a aparecer após uma oclusão coronária é a onda T primária Como a coronária direita irriga o
(isquemia transmural). No decorrer do processo, quando a lesão já VD e as paredes inferior e posterior do VE,
progrediu por completo e é transmural, ocorre supradesnivelamento em todo infarto inferior devemos solicitar
do segmento ST. Se o fluxo sanguíneo não for reestabelecido, toda derivações complementares: V3R e V4R
a área em risco irá morrer e o tecido se tornará fibrótico (onda Q). (VD); V7, V8 e V9 (derivações posteriores
Fonte: Alencar Neto et al.² ou dorsais).
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Observação: os termos “parede posterior” e “dorsal”, u Onda T hiperaguda e simétrica em pelo menos
apesar de consagrados pelo uso, não deveriam 2 derivações contíguas.
mais ser utilizados, em vista das evidências atuais u Elevação do ponto J e o segmento ST.
de que o registro obtido por V7 a V9 refere-se à u Imagem em espelho ou recíproca: infra de ST
parede lateral.
em derivações opostas ao supra. Por exemplo:
6.1.1. Fase aguda quando há supra em parede anterior, ocorre infra
na parede inferior.
Nas primeiras horas do infarto, as alterações no
ECG são (Figura 8):
Supra de ST em V1-V4, com imagem em espelho (infra de ST em DIII e aVF) na parede inferior.
Fonte: Alencar Neto et al.²
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Síndrome coronariana aguda
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Caso a apresentação clínica não seja típica de SCA, A isoforma CK-MB é a mais específica do músculo
outras etiologias devem ser investigadas (Quadro 5). cardíaco, mas mesmo assim não são raros os fal-
so-positivos. Seu pico ocorre em até 24 horas e
Quadro 5. Outras causas de aumento começa a reduzir em torno de 48 horas.
de troponina além do IAM.
Apresenta 2 métodos de dosagem:
ICC Quimioterapia u Massa: mais sensível e rápido (3 a 6 horas do
Miocardite Trauma evento).
u Atividade: 4 a 6 horas do evento.
Endocardite Doenças infiltrativas
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Síndrome coronariana aguda
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Em pacientes admitidos no PS com dor torácica, a exames (troponina, ECG e possivelmente teste de
Diretriz Brasileira sobre IAMSST 202110 sugere apli- isquemia).
cação do escore HEART (Tabela 3), que avalia o risco
Se escore ≥7, o risco é elevado (72,7%) e, portanto,
de um evento cardíaco maior (infarto, necessidade
o paciente deve ser tratado como portador de SCA.
de revascularização ou morte) em até 6 semanas
após a apresentação inicial em pacientes atendidos
Tabela 3. Escore Heart.
com dor torácica.
Variáveis Pontuação
Se escore entre 0 e 3, o risco de eventos é baixo
(2,5%), portanto o paciente pode ter alta. 2 pontos = altamente suspeita
História 1 ponto = moderadamente suspeita
Se escore entre 4 e 6, o risco de eventos é maior
0 pontos = pouco/nada suspeito
(20%), por isso o paciente deve ser mantido em
observação no pronto-socorro e reavaliado com
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Síndrome coronariana aguda
Variáveis Pontuação
8.2. ANALGÉSICOS E ANSIOLÍTICOS
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
O nitroprussiato de sódio deve ser evitado pelo risco O AAS inibe irreversivelmente a ciclo-oxigenase-1
de roubo de fluxo coronariano. (COX-1), bloqueando a síntese do tromboxano A2
Os nitratos devem ser evitados nas seguintes situa- e a agregação plaquetária.
ções: Está indicado em todas as formas de SCA e reduz
u Hipotensão. as taxas de mortalidade e de complicações. Reco-
u Infarto do ventrículo direito. menda-se a dose de 200-300 mg no “ataque” inicial
(mastigar e engolir 2 ou 3 comprimidos), mantendo-
u Uso de inibidor da fosfodiesterase-5 (indicados
-se 100 mg/dia (1 comprimido junto às refeições)
para disfunção erétil e para hipertensão pulmo-
para o resto da vida do paciente. Se o paciente
nar) nas últimas 24 horas.
estiver com rebaixamento do nível de consciência
8.4.2. Betabloqueadores
e não puder engolir, pode ser realizado via sonda
nasogástrica.
Os Bloqueadores Beta-adrenérgicos (BB) são drogas As contraindicações são alergia grave ou intole-
que reduzem a FC e a contratilidade, diminuindo o rância, sangramento ativo e úlcera péptica ativa.
consumo miocárdico de O2 ao mesmo tempo em que
aumentam o fluxo sanguíneo na rede de colaterais 8.5.2. Clopidogrel
e no subendocárdico.
O clopidogrel é uma tienopiridina que inibe o recep-
Estão indicados para todos os pacientes que não
tor P2Y12 do ADP na superfície das plaquetas e
tenham contraindicações nas primeiras 24 horas
também contribui para reduzir a agregação plaque-
após o diagnóstico, principalmente se FEVE < 40%.
tária. O uso de dupla antiagregação atualmente é a
Não realizar uso imediato de BB (< 24 horas) em regra para o tratamento inicial do IAMCSST, sendo
pacientes com risco de evoluir para choque car- comprovadamente superior ao uso isolado de AAS.
diogênico: Killip ≥ 2, FC > 110 bpm (lembre-se que
O esquema de administração da dose de ataque varia
taquicardia pode ser sinal de choque insipiente),
de acordo com estratégia de reperfusão e idade:
idade > 70 anos e PA sistólica < 120 mmHg.
u Angioplastia (ATC) primária: 600 mg (qualquer
Reduzem a mortalidade (precoce e tardia) e a idade).
morbidade do IAMCSST (menos ruptura de parede
u Terapia fibrinolítica ≥ 75 anos: 75 mg.
livre, menor área de infarto e melhora na função
sistólica). u Terapia fibrinolítica < 75 anos: 300 mg.
A administração VO é preferencial, sendo a via Após o evento agudo, deve-se manter clopidogrel
IV reservada aos casos refratários ou com crise 75 mg 1 vez ao dia por pelo menos 1 ano.
hipertensiva ou taquiarritmia.
As contraindicações absolutas são:
Comprometimento hemodinâmico: hipotensão DICA
u O clopidogrel é o único inibidor do
com ou sem choque, Killip II a IV. receptor P2Y12 que pode ser administrado
em caso de terapia fibrinolítica. Prasugrel
u Broncoespasmo ativo (asma ou DPOC grave).
e ticagrelor estão contraindicados nesse
u Bradiarritmias. caso, pelo risco de sangramento.
20
Síndrome coronariana aguda
O ticagrelor pode causar sensação de dispneia (que O momento de introduzi-los é durante o procedi-
em geral é passageira e não leva à interrupção do mento (nem antes, nem depois).
fármaco) e bradicardia, possivelmente por aumento
dos níveis plasmáticos de adenosina.
8.6. ANTICOAGULAÇÃO
Efeitos colaterais mais comuns: taquipneia, que
costuma ser autolimitada, e bradicardia (evitar essa
A anticoagulação plena tem o objetivo de garantir
medicação em pacientes bradicárdicos).
a patência do vaso obstruído, reduzindo assim o
risco de reoclusão e reinfarto. Deve ser usada de
8.5.4. Prasugrel
acordo com características do paciente e estratégia
O prasugrel é uma nova tienopiridina também com de reperfusão.
início de ação mais rápido e maior potência que o u Na terapia fibrinolítica: droga de escolha é a eno-
clopidogrel. É superior ao clopidogrel em termos xaparina (Heparina de Baixo Peso Molecular –
de redução na mortalidade, porém às custas de HBPM). Lembrar que deve ser feita dose de ata-
um aumento na taxa de sangramentos maiores. que intravenosa de 30 mg. A dose anticoagulante
É uma pró-droga hidrolisada no trato gastrointestinal de 1 mg/kg 12/12h deve ser mantida enquanto
transformada no metabólito ativo por enzimas do durar a internação hospitalar ou por até 8 dias,
citocromo P450 hepático. o que for menor. O fondaparinux pode ser usado
(caso o fibrinolítico seja a estreptoquinase) em
A associação AAS + prasugrel também não deve
paciente de alto risco de sangramento.
ser usada em pacientes que farão reperfusão com
trombolítico. A dose de ataque é de 60 mg, com u Na angioplastia primária: droga de escolha é
manutenção de 10 mg/dia. Heparina Não Fracionada (HFN), com bolus de
60 U/kg, máximo de 4000 UI, seguido de infusão
contínua de 12 U/kg/h, máximo de 1000 U/h,
DICA ajustando-se a taxa de infusão para manter o
O prasugrel não deve ser usado em
pacientes com história de AVC ou AIT.
PTTa entre 1,5-2x o controle. A terapia anticoa-
gulante não é indicada após ICP primária, exceto
quando há indicação separada para anticoagu-
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
lação de dose plena (FA, válvulas mecânicas ou Tabela 4. Metas de Tempo na SCA.
trombo do VE).
Metas de
Intervalos
Tempo
u Sem terapia de reperfusão: preferência pela
HBPM se peso < 150 kg e clearance de creatinina Tempo máximo entre o primeiro
contato médico e a realização do ≤ 10 minutos
> 15 mL/min/1,73m2. Caso contrário, usar HNF. ECG e do diagnóstico (porta-ECG)
Pode-se considerar fondaparinux 2,5 mg SC 1
Tempo máximo entre o
vez ao dia por 8 dias ou até a alta em pacientes diagnóstico de IAMCSST e a
de alto risco de sangramento. reperfusão em pacientes que ≤ 90 minutos
se apresentam em serviços que
u Correções da dose da enoxaparina: realizam ICP (porta-balão)
22
Síndrome coronariana aguda
A recomendação da ICP primária (caso seja reali- do trombolítico, pois isso permite maior patência do
zada dentro de 120 minutos após o primeiro contato vaso acometido.
médico) frente à fibrinólise é derivada de desfechos
observados em estudos randomizados e grandes 8.7.1. Terapia fibrinolítica
estudos observacionais.
Após o diagnóstico de IAMCSST, na ausência de
Nas diretrizes europeias de 201712, algumas mudan-
angioplastia primária disponível em um tempo de
ças foram propostas com relação às metas de
até 120 minutos, deve-se avaliar as contraindicações
tempo. O tempo “porta-agulha” reduziu para 20
absolutas para o uso de trombolíticos (Quadro 6).
minutos (porta-diagnóstico 10 min + diagnóstico-
-fibrinolítico 10 min) e o tempo “porta-balão” para
70 minutos (porta-diagnóstico 10 min + diagnósti-
DICA
co-passagem da corda 60 min). Se optado pela terapia fibrinolítica,
o tempo entre diagnóstico do IAMCSST
até o início de infusão do trombolítico não
deve ultrapassar 30 minutos (tempo por-
DIA A DIA MÉDICO ta-agulha).
Absolutas
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Relativas
Hipertensão refratária (PAS > 180 mmHg e/ou PAD > 110 mmHg)
Contraindicações
Droga Tratamento inicial
específicas
Fibrinolíticos
Tratamento prévio
Estreptoquinase • 1,5 milhões de unidades por 30-60 min IV
com estreptoquinase
• 15 mg IV (bolus)
Alteplase (rTPA) • 0,75 mg/kg IV por 30 min (máximo de 50 mg)
• Depois 0,5 mg/kg IV nos próximos 60 min (máximo de 35 mg)
Antiplaquetários
Alergia grave
• Dose inicial de 165-325 mg VO, seguida de dose de manutenção
Aspirina (angioedema) ou
de 75-100 mg/dia
úlcera gástrica
Anticoagulantes
• Em menores de 75 anos:
⁃ 30 mg IV em bolus, seguida de 1 mg/kg (máx 150 mg) a cada 12
horas até a revascularização ou até a alta hospitalar por, no má-
ximo, 8 dias
Enoxaparina
• Em maiores de 75 anos:
⁃ Iniciar com 0,75 mg/kg SC (sem ataque IV)
⁃ Se TFG entre 15 a 30 mL/min/1.73m2, reduzir para 1 vez a cada
24 horas
24
Síndrome coronariana aguda
25
Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Um cateter-balão é colocado na região com placa aterosclerótica, dilatado e em seguida retirado, após a expansão do stent.
Fonte: Lightspring/Shutterstock.com13.
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Síndrome coronariana aguda
Variável Pontuação
27
Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Tabela 7. Escore GRACE. u Risco baixo: realizar teste não invasivo (teste
ergométrico, cintilografia, ecocardiograma com
Estratificação de risco – GRACE
estresse, angiotomografia coronária) pra definir
Variável Pontuação necessidade de coronariografia.
Idade (anos) 0-100
Quadro 7. Estratificação invasiva no IAMSSST e AI.
Frequência cardíaca 0-46
Como existem diversos escores, é recomendado sempre Cirurgia de ponte miocárdica prévia
que possível utilizar ambos – TIMI RISK e GRACE. Caso GRACE > 109 e < 140
haja discordância, considere aquele escore que gradua
o paciente como maior risco. Critérios de baixo risco
A seleção do momento ideal da angiografia coro- De acordo com as Diretrizes Brasileiras8, pacientes
nariana invasiva e revascularização deve ser guiada com SCA sem supra e indicação de estratificação
pela estratificação de risco (Quadro 7): invasiva precoce (< 24 horas), podemos iniciar o
u Risco muito alto: imediata (2 horas). tratamento apenas com AAS e medicações antian-
ginosas no pronto-socorro, guardando o segundo
u Risco alto: precoce (24 horas). antiagregante e a heparina para a sala de hemodi-
u Risco intermediário: adiada (máximo de 72 horas). nâmica.
28
Síndrome coronariana aguda
Isso ocorre porque não há benefício claro do pré-tra- Os BRA podem ser usados como alternativa para
tamento com o iP2Y12 nesse cenário. Além disso, os pacientes intolerantes aos IECA.
após a coronariografia diagnóstica, o paciente pode
apresentar indicação de revascularização cirúrgica, 8.11. ANTAGONISTA DO RECEPTOR
e o uso prévio de iP2Y12 atrasaria a cirurgia. MINERALOCORTICOIDE (ARM)
29
Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Salvo se sinais de
choque ou
acometimento de VD
Sublingual
Morfina Nitroglicerina
Intravenosa
Insuficiência cardíaca
Síndrome
IECA/BRA coronariana Betabloqueadores
aguda
Estatinas
Evitar se:
Maior benefício se:
Contínuo
30
Síndrome coronariana aguda
A área isquêmica é instável, podendo gerar arrit- 9.3.2. Ruptura do músculo papilar
mias fatais.
u Ocorre de 2 a 7 dias após IAM, sendo mais comum
Devem ser feitas medidas de suporte habitual, antiar-
no músculo posteromedial devido à irrigação por
rítmicos (como amiodarona e betabloqueadores)
uma única artéria (geralmente a coronária direita).
caso não exista contraindicação, revascularização
precoce caso indicado e ajuste de eletrólitos. Não
u Quadro súbito de choque cardiogênico e EAP
realizar antiarrítmicos profiláticos e nem tratar associado a um novo sopro regurgitativo mitral.
arritmias assintomáticas.
31
Síndrome coronariana aguda Cardiologia
u Realizar medidas de suporte com BIA e trata- u Os principais fatores de risco são idade avançada,
mento cirúrgico precoce. falta de reperfusão ou fibrinólise tardia.
u O selamento parcial do local da ruptura pela for-
9.3.3. Ruptura do septo interventricular mação de trombos e pelo pericárdio pode permitir
tempo para pericardiocentese, com estabiliza-
u Causam Comunicação Interventriuclar (CIV).
ção hemodinâmica seguida de cirurgia imediata.
u IC congestiva biventricular, associado a um novo
sopro panfocal.
u Realizar medida de suporte com BIA. DICA
Em resumo, você deve pensar em
u A cirurgia tardia facilita o reparo septal no tecido complicações mecânicas em todos os
cicatricial, mas traz o risco de extensão da ruptura. pacientes que evoluem com choque após
IAM. O diagnóstico é dado pelo ecocardio-
9.3.4. Ruptura da parede livre do VE grama, e o tratamento é cirúrgico.
Figura 15. Complicações mecânicas do infarto: ruptura da parede livre do ventrículo esquerdo.
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Síndrome coronariana aguda
Choque
Ecocardiograma Tamponamento
cardiogênico
Pericardiocentese Ruptura
Reparo cirúrgico
paliativa miocárdica
Rotura de De 3 a 14 dias
parede livre pós-IAM
A. Descendente A. Descendente
Insuficiência mitral aguda anterior posterior
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Escore Heart:
Baixo risco = Alta
Clínica sugestiva de SCA Intermediário = Observação
Alto risco = tratar SCA
Seguir fluxograma específico IAM sem supra de ST Troponina (Tn) Angina Instável
Estratificar risco
Estratificação Coronariana:
1. Muito alto risco
(instabilidade
hemodinâmica, elétrica,
angina refratária): Invasiva
imediata (< 2 h) Baixo Baixo
2. Alto risco ( ↑ Tn, ECG com
Alt. Dinâmica, Grace > 140):
Invasiva precoce (< 24 h)
3. Risco intermediário (DM,
IRC, Grace 109 – 140): AAS AAS
Intermediário
Invasiva (<72 h) Ataque (A): 200 a 300 mg; Estatina
4. Baixo risco (nenhum Manter (M): 100 mg/d
dos anteriores): não
Antianginosos:
invasiva (TE, ECO
estrese, cintilografia, • Isordil 5 SL 3x
angioTC coronária • Nitroglicerina EV em BIC
Clopidogrel A: 300 a 600 mg; M: 75 mg/d
Cuidados:
OU
IAM de VD, Inb. da PDE 5’. Hipotensão
Ticagrelor A: 180 mg; M: 90 mg 2xd
• Morfina 2 -4 mg EV
OU
Prasugrel* A: 60 mg; M: 10 mg/d
Risco de eventos:
TIMI
Enoxaparina: 1 mg/kg SC 12/12 hrs Braunwald
Correções: GRACE
ClCr < 30: 1 mg/kg 1xd
Risco de sangramento:
CRUSADE ROXANA
> 75 anos: 0,75 mg/kg 12/12 hrs
Opções:
Estatina: Rosuva 20 – 40 mg
/ Atorva 40 – 80 mg: HNF 60-70 U/Kg IV em bolus,
seguido 12U/Kg/h IV em BIC com
Betabloqueador se não
alvo de TTPa de 50-70s;
houver contraindicação
Fondaparinux 2,5mg SC 1x/dia
IECA/BRA se FEVE < 40%; HAS ; D
(apenas se não for realizar o CATE)
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Síndrome coronariana aguda
Escore Heart:
Baixo risco = Alta
Clínica sugestiva de SCA Intermediário = Observação
Alto risco = tratar SCA
Antianginosos:
Enoxaparina: 1 mg/kg SC 12/12 hrs
Isordil 5 SL 3x
Correções: Sim Não
Nitroglicerina EV em BIC
ClCr entre 15 a 30: 1 mg/kg 1xd
Contraindicações:
≥ 75 anos: 0,75 mg/kg 12/12 hrs
IAM de VD, Inb. da
OBS: Se Trombólise e < 75
PDE 5’. Hipotensão
anos, fazer 30 mg EV
Contraindicação Morfina 2 -4 mg EV
ao fibrinolítico**?
Trombolíticos:
Streptoquinase
1,5 milhão UI EV (30 a 60’)
Angioplastia Primária Sim Não Alteplase
15 mg (bolus) + 0,75 mg/
kg (30’) + 0,5 mg/kg (60’)
Tenecteplase
Trombólise 0,5 mg/kg EV em bôlus
* Evitar Prasugrel: AIT/AVC prévio, > 75 anos, < 60 kg.
* Indicado se paciente submetido à angioplastia.
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
11. Piegas LS, Timerman A, Feitosa GS, Nicolau JC, Mattos Shin SN, Yun KH, Ko JS, Rhee SJ, Yoo NJ, Kim NH, et al.
LAP, Andrade MD, et al. V Diretriz da Sociedade Brasileira Left ventricular thrombus associated with Takotsubo car-
de Cardiologia sobre tratamento do infarto agudo do diomyopathy: a cardioembolic cause of cerebral infarction.
miocárdio com supradesnível do segmento ST. Arq Bras J Cardiovasc Ultrasound. 2011; 19(3): 152-5.
Cardiol. 2015; 105(2): 1-105. Stouffer GA et al. Netter Cardiologia. 3 ed. Philadelphia:
Elsevier, 2018.
Thygesen K, Alpert JS, Jaffe AS, Chaitman BR, Bax JJ, Morrow
DA, et al. Fourth universal definition of myocardial infarction
(2018). J Am Coll Cardiol. 2018; 72(18): 2231-64.
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Síndrome coronariana aguda
QUESTÕES COMENTADAS
37
Síndrome coronariana aguda Cardiologia
inicial em menos de 10 minutos da admissão, que mantido bilateralmente, sem ruídos adventícios.
evidenciou supradesnivelamento de segmento ST Foi traçado o seguinte eletrocardiograma. Qual o
em derivações V1-V6 (abaixo). Feito o diagnóstico, melhor tratamento?
observou-se que o tempo necessário para se trans-
ferir o paciente para o serviço especializado de he-
modinâmica mais próximo era de 90 minutos. Com
base nesse caso hipotético, a melhor conduta será:
Questão 5
Questão 4
(HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE - RS - 2022) Paciente
(FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP - feminina, de 69 anos, procurou a Emergência por dor
2022) Paciente de 61 anos, feminina, admitida em precordial iniciada há 5 horas. Relatou história de
hospital terciário com dor epigástrica tipo aperto diabetes melito e hipertensão arterial, ambos com
de forte intensidade iniciada há quatro horas, acom- controle irregular. Ao exame físico, a pressão arterial
panhada de sudorese, náuseas e irradiada para os era de 166/72 mmHg, a frequência cardíaca de 108
membros superiores. Ao exame físico: PA: 150/80 bpm, Killip II, sem outras alterações significativas.
mmHg. Frequência cardíaca: 98 bpm. Precórdio: rit- O eletrocardiograma (ECG) realizado por ocasião
mo cardíaco irregular, bulhas normofonéticas, sem da admissão está reproduzido abaixo. O hospital
sopros. Pulmonar: murmúrio vesicular simétrico e com plantão de hemodinâmica pode ser acessado
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Síndrome coronariana aguda
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
Questão 8
Questão 10
Questão 9
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ - SP - 2014) Mulher,
68 anos, com antecedentes de HAS e dislipidemia,
(HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS - SP - 2021) Paciente do sexo teve dor precordial em queimação, com duração de
masculino, 56 anos, com antecedente de diabetes 5 minutos, irradiada para membro superior direito,
mellitus tipo 2, obesidade, tabagismo e gastrite deu durante atividades habituais, há 30 dias. No dia da
entrada no pronto-socorro com queixa de dor epi- consulta, duas horas antes, apresentou a mesma
gástrica com início às 17h, associada a sudorese, dor, em repouso, mais intensa sem ceder após uso
de analgésicos. Ao exame físico encontrava-se pá-
náuseas e vômitos. Paciente relatou que comeu
lida, com PA: 90 x 60; frequência cardíaca: 68 bpm;
churrasco na hora do almoço por volta das 13h.
estase jugular importante a 45°; bulhas rítmicas
Ao chegar no pronto-socorro às 19h, seus sinais e normofonéticas, sem sopros, com presença de
vitais eram PA: 150 × 90 mmHg, FC: 75 bpm, FR: 16 4ª bulha na ausculta do foco tricúspide, pulmões
ipm, SatO2: 98% em ar ambiente. Paciente realizou livres, dor à palpação do hipocôndrio direito, sem
o eletrocardiograma (ECG) abaixo. Diante do caso edemas. Após analisar o ECG abaixo, assinale a
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Síndrome coronariana aguda
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Síndrome coronariana aguda Cardiologia
outro serviço após trombólise sempre deve ser quadros de miocardite viral são mais comuns em
realizada. A diferença é a urgência com que isso jovens e geralmente se manifestam com dor torá-
deve ser feito: se não houver reperfusão (redução cica subaguda e normalmente são precedidos ou
do supra em 50% e melhora da dor), transferir de acompanhados por febre e infecções virais (tanto
forma imediata (terapia de resgate); se houver re- IVAS quanto GECA).
perfusão, a coronariografia deve ser realizada entre Assertiva IV: VERDADEIRA. No IAM com supra há oclu-
2 a 24 horas após a trombólise. são total da coronária, por isso a reperfusão pre-
Alternativa B: INCORRETA. No ECG há supra de ST coce é fundamental. Nesse cenário, a angioplastia
anterior extenso (derivações V1 a V6 + D1 e aVL); é superior à trombólise, desde que possa ser reali-
portanto, o diagnóstico está firmado e não se deve zada em até 120 minutos quando há necessidade
perder tempo para indicar a reperfusão (tempo é de transferência para centros com hemodinâmica.
músculo). ✔ resposta:
Alternativa C: INCORRETA. Além de não estar indicada
a trombólise, o tempo de administração da Altepla-
Questão 7 dificuldade:
se é de 90 minutos, e não 24 horas.
Alternativa D: CORRETA. Vide a dica do autor. Y Dica do professor: Na estratificação de risco em
pacientes com IAM sem supra, pacientes com
✔ resposta:
alterações de eletrocardiográficas e elevação de
troponina são considerados de alto risco; portan-
Questão 6 dificuldade: to, devem realizar coronariografia em até 24 horas.
Alternativa A: INCORRETA. Coronariografia em até
Y Dica do professor: Quadros de miocardite virais, 3 horas está indicada em pacientes de muito alto
incluindo infecção por SARS-CoV-2, podem apresen- risco, ou seja, aqueles com instabilidade hemodi-
tar padrão eletrocardiográfico semelhante ao IAM nâmica, elétrica (arritmias graves, elevação de ST
com supra de ST. Fique atento aos diagnósticos intermitente) ou clínica (dor refratária).
diferenciais de supra de ST: SVE, BRE, pericardite,
Alternativa B: INCORRETA. Paciente de alto risco deve
miocardite, Takotsubo, vasoespasmo coronário, dis-
realizar coronariografia em até 24 horas.
secção aguda de aorta (especialmente com supra
em parede inferior, que pode ocorrer em 5% dos Alternativa C: INCORRETA. Pode-se considerar em
casos por oclusão do óstio da coronária direita). até 72 horas paciente de risco intermediário (Tn e
ECG normais, mas com fatores de risco, como DM).
Assertiva I: VERDADEIRA. No ECG há supra de ST em
Além disso, não se deve administrar prasugrel antes
todas as derivações precordiais (V1 a V6) e ainda
de anatomia coronária ser conhecida.
nas derivações D1 e aVL, com imagem em espelho
na parede inferior (infra de ST em D2, D3 e aVF); Alternativa D: CORRETA. Paciente deve receber tera-
portanto, temos acometimento extenso da parede pia antiplaquetária dupla e anticoagulação.
anterior (supra anterior extenso). Alternativa E: INCORRETA. 4 dias é muito tempo para
realizar a coronariografia.
Assertiva II: FALSA. No IAM com supra de ST ante-
rior, a artéria mais comumente ocluída é a descen- ✔ resposta:
dente anterior (DA).
Assertiva III: FALSA. Como já dito, considerando Questão 8 dificuldade:
APENAS o padrão do ECG, não é possível excluir
miocardite. PORÉM, se considerarmos o quadro Y Dica do professor: Em paciente com IAM com
clínico (dor torácica aguda com irradiação para supra de ST, sempre devemos avaliar as contrain-
mandíbula após esforço físico em home, de 63 dicações absolutas, que incluem, principalmente,
anos com fatores de risco cardiovascular), podemos situações que aumentam o risco de sangramento
afirmar que se trata de IAM com supra de ST. Os intracraniano.
44
Síndrome coronariana aguda
Alternativa A: CORRETA. MAV cerebral prévia (inde- Alternativa D: INCORRETA. Mesmo raciocínio da le-
pendentemente do momento quando diagnostica- tra C.
da) aumenta o risco de sangramento. Alternativa E: CORRETA. A dupla antiagregação deve
Alternativa B: INCORRETA. Nenhuma cirurgia prévia ser feita com AAS (inibidor da COX-1) e um agente
é contraindicação absoluta à trombólise. antagonista do receptor P2Y12 do ADP. O ticagre-
Alternativa C: CORRETA. Nunca trombolise um pa- lor tem sido preferido ao clopidogrel por ser mais
ciente com dissecção aguda de aorta. Fique aten- eficiente com menor taxa de trombose de stent no
do porque as provas gostam de colocar casos de cenário de angioplastia primária. Mas fique atento:
dissecção em pacientes com dor torácica e supra em caso de trombólise, é obrigatório o uso de clo-
de ST na parede inferior. Nessas questões, geral- pidogrel. Nessa situação, o ticagrelor e o prasugrel
mente o paciente apresenta assimetria de pulso/ não devem ser utilizados.
PA, sopro de insuficiência aórtica ou imagem de ✔ resposta:
angioTC com dissecção.
Alternativa D: CORRETA. AVC isquêmico há menos
Questão 10 dificuldade:
de 3 meses é contraindicação absoluta.
✔ resposta: Y Dica do professor: Paciente apresenta dor angi-
nosa, associada a choque e turgência jugular com
pulmões limpos. Isso sugere choque relacionado
Questão 9 dificuldade: ao IAM de VD. No ECG observamos supra em pa-
Y Dica do professor: Lembre-se de que a dor angi-
rede inferior, que corrobora essa hipótese; já que o
IAM inferior está relacionado ao IAM de VD devido
nosa pode se manifestar em qualquer região entre
à irrigação da coronária direita. Quando há choque
o umbigo e a mandíbula, e não é incomum a dor
relacionado ao VD, a conduta é administrar volume
ser referida no epigástrio. Além disso, uma refeição
para melhorar a pré-carga do VD e, consequente-
copiosa, por aumentar o fluxo sanguíneo esplânc-
mente, a sua ejeção.
nico, pode induzir angina.
Ao avaliarmos o ECG, observa-se supra em território ✔ resposta:
inferior (D2, D3 e aVF) com extensão para região
lateral (V5 e V6), associada a imagem recíproca
(infra de ST) em V1, V2 e V3, típico do supra de ST
isquêmico. Estamos, portanto, diante de um IAM
com supra inferiolateral com duas horas de evolução,
sendo indicada a reperfusão precoce. Lembre-se das
condutas na SCA: antiagregantes, anticoagulantes,
antianginosos (mneumônico MONABICHE: Morfina,
O2, Nitrato, AAS, Betabloqueador, IECA, Clopidogrel
Heparina e Estatina)
Alternativa A: INCORRETA. O supra é mais proeminen-
te em parede inferior (D2, D3, aVF) com extensão
para parede lateral (V5 e V6).
Alternativa B: INCORRETA. No IAM com supra de ST,
não devemos esperar troponina para indicar a re-
perfusão precoce (seja trombolítico ou angioplastia
primária, a depender da disponibilidade do serviço).
Alternativa C: INCORRETA. O ECG indica que há IAM
com supra de ST.
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Fixe seus conhecimentos!
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