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CLÍNICA MÉDICA I
HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA
1
SUMÁRIO
1. Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
3. Fatores de risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
4. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
5. Q
uadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
6. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
6.1. Crianças e adolescentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
6.2. Hipertensão maligna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
7. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
8. E
xames complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
9. H
ipertensão secundária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
9.1. Doença parenquimatosa renal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
9.2. D oença renovascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
9.3. Síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
9.4. Hiperaldosteronismo primário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
9.5. S índrome de Cushing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
9.6. Feocromocitomas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
9.7. Coarctação da aorta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
10. Estadiamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
11. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
11.1. Tratamento não farmacológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
11.2. Tratamento farmacológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
11.3. Tratamento intervencionista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
11.4. T ratamento na criança e no adolescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2
HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA
importância/prevalência
u É importante que você conheça os critérios diagnósticos atualizados para HAS, bem como suas variantes
(HAS mascarada e HAS do avental branco).
u Pacientes que tomam pelo menos 3 classes medicamentosas para controle da pressão, mas persistem
fora da meta terapêutica (HAS resistente), devem ser investigados quanto à presença de HAS secundária.
Identifique as principais causas (HAS renovascular, feocromocitoma etc.) e como investigá-las.
u Muitos pacientes chegam ao pronto-atendimento apresentando PA extremamente elevada em relação a
seu basal associado a sintomas (crise hipertensiva). Aprenda como diferenciar emergência hipertensiva,
urgência hipertensiva e pseudocrise hipertensiva, e como deve ser a abordagem terapêutica de cada uma.
u Dominar o arsenal terapêutico de HAS, identificando as principais drogas utilizadas em monoterapia e
quando e como associá-las. Não se esqueça dos principais efeitos adversos relacionados a cada classe.
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença Nessa definição está incluído o subgrupo de pacien-
crônica caracterizada por elevação sustentada dos tes hipertensos resistentes, cuja PA é controlada
níveis de pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg com 4 ou mais medicamentos anti-hipertensivos,
e/ou PA diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg segundo a chamada de HAR controlada.
Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 20201. Hipertensão arterial refratária ocorre quando não
O termo HAS secundária é usado quando existe há controle pressórico mesmo com uso de 5 ou
uma causa de base para elevação da PA. mais classes de anti-hipertensivos, fazendo parte,
portanto, do grupo de HAR não controlada (Figura 1).
Hipertensão Arterial Resistente (HAR) é definida
quando a PA permanece acima das metas reco- Crise hipertensiva é definida como elevação da PA,
mendadas com o uso de 3 anti-hipertensivos de que leva a sintomas e pode ser dividida entre urgên-
diferentes classes de primeira linha (IECA, BRA, cia hipertensiva (sem lesão aguda de órgão-alvo) e
BCC e Tiazídico), sendo um deles preferencialmente emergência hipertensiva (com lesão aguda e pro-
gressiva de órgão-alvo e risco iminente de morte).
3
Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
BASES DA MEDICINA
2. E PIDEMIOLOGIA
3. FATORES DE RISCO
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Hipertensão arterial sistêmica
As ações da Angiotensina 2 ocorrem via receptor AT1 (AT1R), com ação sobre diversos órgãos.
Fonte: Elaborada pelo autor.
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
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Hipertensão arterial sistêmica
MRPA ≥ 130 ≥ 80
PA medida no consultório
hipertensão controlada
24 horas ≥ 130 ≥ 80
PAS: pressão arterial sistólica, PAD: pressão arterial diastólica. < 130/80 ≥ 130/80
Fonte: Barroso et al1. MRPA ou MAPA 24 horas
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
DICA DICA
Alguns estudos revelam que o ris- Para pacientes com PA ≥ 140/90 e
co CV em longo prazo da hipertensão do risco cardiovascular alto ou PA ≥ 180/110, o
avental branco é intermediário entre o da diagnóstico de HAS já é estabelecido com
HAS e o da normotensão. uma medida isolada.
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Hipertensão arterial sistêmica
Fluxograma 1. Diagnóstico
Primeira consulta
Encaminhar ao
Dianóstico de HAS
serviço de urgência
Consulta de retorno
Hipertensão
PA ≥ 140 x 90
(jaleco branco?)
Pressão no consultório
Normotensão
PA < 140 x 90
(mascarado?)
MAPA vigília
Hipertensão do
PA < 135 x 85
jaleco branco
MRPA
Hipertensão do
PA < 130 x 100
jaleco branco
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
Fisiopatologicamente, 2 processos vasculares marcam a A hipertensão maligna pode ser resultado tanto da
hipertensão maligna, com marcante acometimento renal: HAS primária (mais comum em negros) quanto da
1) lesão em casca de cebola: endarterite proliferativa em hipertensão secundária.
pequenas e grandes arteríolas, espessamento intimal,
proliferação do músculo liso e fragmentação da lâmina O termo “maligna” reflete o prognóstico ruim da
elástica interna. 2) necrose fibrinoide: alteração necro- patologia quando não tratada, principalmente rela-
sante das arteríolas, principalmente do hilo glomerular, cionado à doença renal crônica.
refazendo a parede dos vasos com material eosinofílico
granular e estreitamento do lúmen (Figura 5).
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Hipertensão arterial sistêmica
Hipertensão
≥ 140 < 90
sistólica isolada
Hipertensão
< 140 ≥ 90
diastólica isolada
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
A B
C D
Grau I (A): estreitamento arteriolar; Grau II (B): cruzamento AV patológico (seta); Grau III: exsudatos algodonosos (cot-
ton wool spots) e hemorragia retiniana (hemorrhages); Grau IV: papiledema (perda dos limites no disco óptico).
Fonte: Adaptada de Nikom nik sunsopa/Shutterstock.com5, Besenczi et al6. e Oh et al7.
Existem exames de rotina recomendados pela dire- relação albumina/creatinina em amostra isolada
triz nacional1 para todos os pacientes hipertensos. (Tabela 3 e Quadro 2).
Veja a lista com carinho porque ela é importante
para a prova e para a vida prática! Tabela 3. Lesão de órgão-alvo na
u análise de urina; avaliação do hipertenso.
u potássio sérico; Hipertrofia ventricular
u glicemia de jejum; esquerda
ECG – índice de
u creatinina para cálculo do ritmo de filtração glo- ITB < 0,9
Sokolow ou Cornell
merular (RFG); ECO – aumento índice
u colesterol, HDL e triglicérides; de massa do VE
u ácido úrico; EMI da carótida > 0,9 mm VOP carotídeo
ou placa carotídea ‑femoral > 10 m/s
u eletrocardiograma (ECG).
Albuminúria entre
Exames que podem ser solicitados/realizados 30 e 300 mg/24h ou Doença renal crônica
relação albumina/ estágio 3 (RFG: 30-60
para avaliação de LOA são ECG, ecocardiograma, creatinina urinária mL/min/1,73m2)
ultrassonografia de carótida, velocidade de onda entre 30 a 300 mg/g
de pulso (VOP), ITB, creatinina (para avaliar ritmo
ECG: eletrocardiograma, ECO: ecocardiograma, EMI: espessura
de filtração glomerular – RFG) e albuminúria ou mediointimal, VOP: velocidade da onda de pulso, ITB: índice
tornozelo-braquial, RFG: ritmo de filtração glomerular
Fonte: Barroso et al.¹
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Hipertensão arterial sistêmica
Outros exames devem ser solicitados para popu- Figura 7. Lesões em órgãos-alvo da HAS.
lações específicas.
Suspeita de comprometimento
Radiografia de tórax
cardíaco ou pulmonar
Pacientes hipertensos
Albuminúria diabéticos, com síndrome
metabólica ou 2 ou mais FR
USG Doppler renal Massas ou sopro abdominais Fonte: Elaborada pelo autor.
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
9.1. D
OENÇA PARENQUIMATOSA RENAL
DICA
Os IECA podem precipitar insufi-
Ritmo de Filtração Glomerular (RFG) < 60 mL/min, ciência renal em paciente com estenose
presença de albuminúria significativa (> 300 mg/24 renal bilateral, por seu efeito de dilatação
da arteríola eferente do glomérulo.
horas). Investigação adicional inclui ultrassom
de rins e vias urinárias e dosagem de PTH. Veja
mais detalhes sobre o diagnóstico na apostila de
Nefrologia.
9.3. SÍNDROME DA APNEIA E HIPOPNEIA
As doses dos anti-hipertensivos devem ser ajus- OBSTRUTIVA DO SONO (SAHOS)
tadas ao RFG.
A SAHOS caracteriza-se por obstruções recorrentes
de vias aéreas superiores durante o sono, promo-
DICA
As doenças do parênquima renal vendo hipóxia intermitente, fragmentação do sono
são as principais causas de hipertensão e ativação do sistema nervoso simpático. Achados
secundária. comuns: roncos durante o sono, sonolência diurna
excessiva e obesidade. A SAHOS pode levar à hiper-
tensão mesmo em pacientes não obesos.
O diagnóstico é realizado com a realização de
DIA A DIA MÉDICO polissonografia com 5 ou mais episódios de apneia
e/ou hipopneia por hora de sono (índice de apneia-
Além de a doença parenquimatosa renal ser uma causa -hipopneia – IAH), mas um IAH ≥ 15 eventos/hora
de hipertensão secundária, quando tratamos hipertensão parece ter maior impacto na hipertensão.
em pacientes em hemodiálise, podem ser necessários
cuidados adicionais. Como a volemia desses pacientes O tratamento é realizado com Pressão Positiva
sofre variações importantes, existe maior risco de hipo- Contínua (CPAP) durante o sono.
tensão em dias de diálise, em especial quando em uso
de múltiplos anti-hipertensivos (o que é muito comum).
9.4. HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO
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Hipertensão arterial sistêmica
Testes confirmatórios que avaliam a supressão são múltiplos ou bilaterais, 10% são malignos, 10%
da produção de aldosterona inibindo a produção são incidentalomas (achados de exame).
de renina geralmente são necessários (os testes
Quadro clínico: elevações paroxísticas (50% dos
da furosemida e do captopril têm maior precisão
pacientes) ou sustentadas de PA com a tríade clás-
diagnóstica que o teste da sobrecarga salina). Veja
sica de paroxismos de cefaleia, sudorese e palpi-
mais detalhes sobre o diagnóstico na apostila de
tações. Crises hipertensivas podem ser desenca-
Endocrinologia.
deadas por medicações (como betabloqueadores)
A Tomografia Computadorizada (TC) com cortes e cirurgias com manipulação abdominal. Pode
finos ou a Ressonância Nuclear Magnética (RNM) estar relacionado à Síndrome Neoplásica Endócrina
de abdome ajudam a definir a presença de adenoma Múltipla (MEN) tipo 2, quando associado ao carci-
unilateral (cujo tratamento é a excisão cirúrgica) noma medular de tireoide e ao hiperparatireoidismo
ou hiperplasia bilateral (cujo tratamento são altas primário.
doses de espironolactona, de 50 a 300 mg por dia).
DICA
9.5. SÍNDROME DE CUSHING Lembre-se da tríade do feocromo-
citoma (mnemônico DST): Dor de cabeça,
Sudorese e Taquicardia.
Síndrome ocasionada por excesso de cortisol pro-
duzido por adenoma ou carcinoma adrenal, tumor
de hipófise secretor de ACTH, tumor ectópico ou,
mais comumente, de causa iatrogênica (glicocor- Diagnóstico laboratorial pela dosagem de cateco-
ticoide exógeno). laminas e metabólitos: metanefrina urinária isolada
ou associada às catecolaminas plasmáticas. Meta-
Quadro clínico: obesidade central, estrias violáceas, nefrina plasmática livre tem maior sensibilidade e
face em lua cheia, fraqueza muscular, hirsutismo, especificidade.
Distúrbios Metabólicos (DM e HAS).
Diagnóstico laboratorial: cortisol livre em urina de
24 horas, cortisol salivar no período noturno e teste DICA
O ácido vanilmandélico é pouco
de supressão com dexametasona 1 mg. Avaliação sensível para o diagnóstico de feocormo-
de ACTH sérico. Veja mais detalhes sobre o diag- citoma, sendo indicado apenas na impos-
nóstico na apostila Endocrinologia. sibilidade dos outros exames.
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
9.7. C
OARCTAÇÃO DA AORTA ou diminuição dos pulsos em membros inferiores,
sopro sistólico interescapular e no tórax.
Redução do diâmetro da aorta torácica, distal à
Diagnóstico por exames de imagem: radiografia
artéria subclávia esquerda, de etiologia congênita, de tórax, ecocardiograma e angiotomografia de
encontrada em crianças e adultos jovens. aorta torácica.
Quadro clínico: fraqueza nas pernas aos esforços, O tratamento é sempre intervencionista, com cirurgia
sintomas de IC, dissecção de aorta, diferença de PA aberta ou procedimento endovascular.
entre membros superiores e inferiores, ausência
Questionário de Berlim,
SAHOS Roncos, obesidade, sonolência diurna
polissonografia com IAH ≥ 5
Metanefrinas plasmáticas
HAS paroxística com cefaleia,
Feocromocitoma livres, catecolaminas séricas e
sudorese e palpitações
metanefrinas urinárias. TC e RNM
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Hipertensão arterial sistêmica
Dislipidemia:
Resistência à insulina:
• CT> 190 mg/dL
• LDL > 115 mg/dL • Glicemia em jejum: 100−125 mg/dL
• HDL-colesterol < 40 mg/dL (homens) ou < 46 mg/dL (mulheres) • Teste oral de tolerância à glicose: 140−199 mg/dL
em 2 horas
e/ou
• Hemoglobina glicada (HbA1c): 5,7% – 6,4%
• Triglicerídeos > 150 mg/dL
Obesidade:
• IMC ≥ 30 kg/m²
• CA ≥ 102 cm (homens) ou ≥ 88 cm (mulheres)
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
Doença arterial obstrutiva periférica (carotídea ou em Doença renal crônica estágio 4 ou 5 (RFG < 30 mL/min/
membros inferiores) 1,73m²) ou albuminúria > 300 mg/24h
AVE: acidente vascular encefálico, AIT: acidente isquêmico transitório, IAM: infarto agudo
do miocárdio, RFG: ritmo de filtração glomerular, DM: diabetes melito
Fonte: Adaptada de Barroso et al.¹
De acordo com o número de fatores de risco, pre- estágio 2 sem fator de risco adicional (situação
sença ou ausência de LOA e de doença cardiovas- incomum na prática clínica).
cular estabelecida, é possível estratificar o risco
Pacientes com LOA, DCV estabelecida ou equi-
do paciente. Só não são considerados de alto risco
valente e HAS estágio 3 são todos de alto risco
os pacientes pré-hipertensos (PAS 130-139 ou PAD
(Quadro 5).
85-89) sem LOA nem DCV, hipertensos estágio 1
com no máximo 2 fatores de risco ou hipertensos
Sem fator de risco Sem risco adicional Risco baixo Risco moderado Risco alto
1-2 fatores de risco Risco baixo Risco moderado Risco alto Risco alto
≥ 3 fatores de risco Risco moderado Risco alto Risco alto Risco alto
Presença de LOA,
Risco alto Risco alto Risco alto Risco alto
DCV ou equivalente
O objetivo do tratamento é reduzir a PA para proteger De acordo com a Diretriz Brasileira de Hipertensão
órgãos-alvo e reduzir desfechos cardiovasculares Arterial – 20201, o tratamento não farmacológico
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Hipertensão arterial sistêmica
está indicado para todos os pacientes pré-hiper- u Em todos os hipertensos estágio 2 e 3, indepen-
tensos (PAS 130-139, PAD 85-89) e hipertensos. dentemente do risco adicional (Tabela 5).
Já o tratamento farmacológico deve ser iniciado A diretriz norte-americana4 contempla o tratamento
de imediato após o diagnóstico em (Fluxograma 2): farmacológico para pacientes considerados hiper-
tensos estágio 1 por essa diretriz (vide Tabela 2)
u Pré-hipertensos e hipertensos estágio 1 de alto
se o risco cardiovascular > 10% (estimado pela
risco CV ou com DCV estabelecida ou equiva-
calculadora ASCVD).
lente (Quadro 4).
O tratamento visa atingir a meta de controle pres- Em idosos, as metas devem levar em consideração
sórico para o perfil do paciente. Tal meta deve ser a idade cronológica, o estado funcional, a fragilidade
definida individualmente, sempre considerando e as comorbidades presentes. A redução intensiva
idade, DCV e fatores de risco. De forma geral, deve-se de PA resulta em redução de eventos cardiovascu-
reduzir a PA visando alcançar valores menores que lares, porém com aumento de incidência de efeitos
140/90 mmHg e não inferiores a 120/70 mmHg. colaterais, como quedas e insuficiência renal. Nesse
grupo, o correto é tratar metas como individuais,
considerando-se a qualidade de vida do paciente,
o risco de quedas, a fragilidade, a independência e
a presença de comorbidades (Tabela 5).
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
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Hipertensão arterial sistêmica
Um efeito colateral muito prevalente dos IECAs é a Os não di-idropiridínicos (verapamil e dialtiazem),
tosse seca, atribuível ao aumento da bradicinina. por sua vez, têm efeito bradicardizante, podem
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
deprimir a função sistólica, além de terem menor A Quadro 6 resume as principais informações sobre
efeito vasodilatador. Sendo assim, estão contrain- os fármacos de primeira linha.
dicados para pacientes com insuficiência cardíaca.
Contraindicação /
Classe Exemplos Indicação específica
efeito colateral
Fármacos de 1ª linha
Mulheres pós-menopausa
Hiponatremia, hipocalemia,
Hidroclorotiazida, (reduz excreção de
Diuréticos tiazídicos gota, podem causar
clortalidona cálcio e melhora
intolerância à glicose
densitometria óssea)
BCC: bloqueador do canal de cálcio, HSI: hipertensão sistólica isolada, ICFER: insuficiência cardíaca com fração
de ejeção reduzida, HVE: hipertrofia ventricular esquerda, RFG: ritmo de filtração glomerular, K: potássio.
Fonte: Adaptada de Barroso et al.¹
11.2.4. Fármacos de segunda linha não haver boa evidência científica sobre benefício
em desfechos CV. É importante conhecer as diversas
Como dito, existem diversas outras classes de anti- classes e indicações específicas, efeitos colaterais
-hipertensivos considerados de segunda linha, por e contraindicações (Quadro 7).
Fármacos de 2ª linha
Hipocalemia, hiponatremia,
Diuréticos de alça Furosemida RFG < 30 mL/min, IC, edema hipomagnesemia, podem
causar surdez (raro)
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Hipertensão arterial sistêmica
Fármacos de 2ª linha
ICFER: insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, RFG: ritmo de filtração glomerular
Não farmacológico +
Não farmacológico +
monoterapia - DIU,
combinação - 2 classes
iECA, BRA, BCC ou BB
diferentes em doses baixas
(casos específicos)
Sem melhora
Acrescentar outros
anti-hipertensivos
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
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Hipertensão arterial sistêmica
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
Síndrome coronariana aguda (IAM, angina instável) ↓ PA ≤ 25% na 1ª hora e ↓ PA 160/100−110 mmHg em 2−6 h
Hemorrágico PAS deve ser mantida < 220 mmHg, porém > 140 mmHg
Quadro 8. Medicamentos utilizados por via parenteral para o tratamento das emergências hipertensivas.
• Bradicardia
Dissecção aguda
Metoprolol Betabloqueador • Broncoespasmo
de aorta
• Insuficiência cardíaca
Dissecção aguda
• Bradicardia
de aorta
Esmolol Betabloqueador • Broncoespasmo
Hipertensão no
• Insuficiência cardíaca
pós-operatório
Fonte: Adaptado de Barroso et al.¹
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Hipertensão arterial sistêmica
12.2. URGÊNCIA HIPERTENSIVA (UH) No caso da cefaleia, cuidados devem ser tomados:
u Nas cefaleias com características de cefaleia pri-
São definidas pela presença de sintomas relaciona- mária (enxaqueca ou tensional), sem sintomas
dos à HAS em paciente sem lesão aguda de órgãos- neurológicos associados, o tratamento inicial
-alvo. Podem ocorrer em pacientes hipertensos deverá ser apenas analgesia.
que param de tomar as medicações, com lesões
u Quando a cefaleia for acompanhada de sinto-
crônicas (angina estável, doença renal crônica ou
mas como hemiparesia ou hemiplegia, afasia,
AVE prévio).
convulsão ou coma, podemos estar diante de
O tratamento consiste na redução da PA para o emergência hipertensiva (AVE ou encefalopatia
basal do paciente ou 140/90, o que for menor, em hipertensiva). Esses pacientes devem ter a PA
24 a 72 horas. Portanto, pode ser realizado com tratada apropriadamente e sempre necessitarão
medicações por via oral. A dose inicial deve ser de exame de imagem (TC de crânio inicialmente).
administrada no Pronto-Socorro (PS) e o ajuste dos
anti-hipertensivos de uso contínuo deve ser feito
em consulta ambulatorial precoce (em até 7 dias, DIA A DIA MÉDICO
preferencialmente).
Os anti-hipertensivos orais mais utilizados no PS Pacientes hipertensos graves descontrolados ou com
pseudocrise hipertensiva constituem a maioria dos
são captopril e clonidina, por seu início de ação mais
pacientes com hipertensão no pronto-socorro. Devem
rápido. O uso de nifedipino de liberação rápida na ser orientados adequadamente sobre os motivos da
UH está proscrito, por não ser seguro nem eficaz, pressão elevada naquele momento e quanto à importância
além de provocar reduções rápidas e acentuadas de manter seguimento regular.
da PA, o que pode resultar em isquemia tecidual.
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
Diagnóstico
PA ≥ 140x90
(2 medidas) ≥ 130x80 (24 hrs)
≥ 130x80
(1 medida se ≥ 135x85 (Vígilia)
risco CV alto)
HAS secundária
(HAS resistente ou início < 30 anos)
Doença renal
Doença renovascular HiperAldo Primário SAHOS Feocromocitoma
parenquimatosa
• Sopro abdo-
minal • Hipocalemia • Tríade DST: dor de
• ↑ U/Cr • Piora da Cr com • ↑ Aldo / ↓ Reninna • Roncos, cabeça, sudorese e
• Urina 1 com IECA/BRA • TC de abdomen: obesidade taquicardia
cilindros unilateral (adenoma/ • PSG: IAH > 5 • Metanefrinas e cateco-
• USG renal cirurgia) laminas
• ou bilateral (hiperla-
sia/espironolactona)
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Hipertensão arterial sistêmica
1. Barroso WKS, Rodrigues CS, Bortolotto LA, Gomes MM, Kaplan NM. Management of hypertensive emergencies.
Brandão AA, Feitosa ADM, et al. Diretrizes Brasileiras de Lancet. 1994; 344(8933): 1335-8.
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
QUESTÕES COMENTADAS
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Hipertensão arterial sistêmica
nova diretriz de HAS de 2020, sugeridas para iniciar ⮨ Os bloqueadores dos canais de cálcio diidropiri-
como monoterapia: dínicos podem causar taquicardia, rubor facial,
edema pré-tibial e cefaleia.
⮦ Hidroclorotiazida, enalapril e espironolactona.
⮩ Os inibidores da enzima conversora de angio-
⮧ Losartana, levanlodipino e clonidina. tensina reduzem a microalbuminúria da nefro-
⮨ Captopril, hidroclorotiazida e anlodipino. patia diabética, mas podem causar tosse seca,
⮩ Anlodipino, metildopa e atenolol. hipercalemia e angioedema.
Questão 4 Questão 6
(FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP - (UNICAMP - SP - 2022) Homem, 50a, procura atendi-
2022) Paciente de 55 anos, masculino, procura aten- mento em Unidade de Emergência por dor torácica
dimento ambulatorial por dificuldade no manejo de associada a palpitações, tremores e sudorese. Re-
seus níveis pressóricos. Reporta ser hipertenso há fere episódios prévios semelhantes.
10 anos em uso regular de clortalidona 25mg/dia, Exame físico: PA= 222x124 mmHg; FC= 122 bpm;
enalapril 20mg/dia e anlodipina 10mg/dia. Nega sudoreico; tremor de extremidades.
outros fármacos, tabagismo e comorbidades. Re- Fundo de olho: cruzamentos patológicos e papila
centemente realizou exames de US Doppler de ca- nítida. ECG: sobrecarga de ventrículo esquerdo.
rótidas, teste ergométrico e exames laboratoriais Troponina: normal. A HIPÓTESE DIAGNÓSTICA É:
sem alterações. Exame físico sem achados alte-
rados exceto por PA= 155/92 mmHg em membro ⮦ Dissecção aguda de aorta.
superior direito. Segundo o paciente, tais valores ⮧ Doença de Addison.
são semelhantes aos aferidos em domicílio. Neste
⮨ Hipertensão maligna.
caso, qual deve ser a abordagem farmacológica a
ser instituída? ⮩ Feocromocitoma.
⮦ Atenolol 50mg/dia.
Questão 7
⮧ Clonidina 0,1mg/dia.
⮨ Hidralazina 100mg/dia. (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBU-
CO - PE - 2021) Um paciente de 35 anos, obeso apre-
⮩ Espironolactona 25mg/dia.
senta níveis de pressão arterial elevados e pouco
responsivos às medicações usuais. Como sintoma,
Questão 5 ele refere, apenas, fadiga e sonolência. Sabendo
que ureia, creatinina e eletrólitos estão dentro da
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE - MG - 2021) normalidade, qual seria o diagnóstico mais prová-
Com relação ao tratamento medicamentoso da hi- vel para o caso?
pertensão arterial, assinale a alternativa incorreta.
⮦ Hipertensão renovascular.
⮦ Os diuréticos tiazídicos podem causar dislipi-
⮧ Feocromocitoma.
demia, alterações do metabolismo glicídico,
hipercalcemia, hiperuricemia e disfunção erétil. ⮨ Síndrome de Cushing.
⮧ A associação de betabloqueadores aos bloquea- ⮩ Síndrome da apneia obstrutiva do sono.
dores dos canais de cálcio não diidropiridínicos é ⮪ Hiperaldosteronismo primário.
comumente utilizada nos pacientes hipertensos
com disfunção ventricular esquerda.
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
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Hipertensão arterial sistêmica
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Hipertensão arterial sistêmica Cardiologia
entre outros). Não faz parte do tratamento de pri- e vasodilatador, sendo a preferência como 4º fár-
meira linha. maco na HAS resistente, com já dito.
Alternativa C: CORRETA. Captopril é um IECA, hidro- ✔ resposta: D
clorotiazida um diurético tiazídico e anlodipino é
um BCC diidropiridínico (prepondera o efeito va-
sodilatador). Existem também os BCC não diidro- Questão 5 dificuldade:
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Fixe seus conhecimentos!
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