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Alimentação, microbiota e função intestinal

Fisiologia Aplicada
Ciências da Nutrição

2020/2021

Discentes: Assunção Soares (114604), Filipa Vicente, (114707), Francisca Tiago, (114716)
Luísa Mariz (114389)

Docente: Professora Doutora Filipa Vicente


ÍNDICE

Introdução
• O que é a microbiota e o considerado saudável......................................................... 2
• Importância da microbiota intestinal para a saúde humana........................................ 3

Desenvolvimento
• Antibióticos e o papel da microbiota nas doenças...................................................... 3
• Quais os géneros de bactérias que existem no intestino?.…….................................. 4
• De que forma a dieta interfere na microbiota intestinal?............................................. 5

Conclusão…….................................................................................................................... 7

Referências Bibliográfica.............................................................................................. 8

1
INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo a pesquisa bibliográfica sobre a alimentação, microbiota e
função intestinal e permite realçar a importância deste tema.

O estudo do microbioma humano iniciou-se em 1683 quando Anton van Leeuwenhoek


observou “animalcules” no trato gastrointestinal no microscópio que ele próprio criou. Séculos
depois, em 1877, Louis Pasteur afirmou que "os microrganismos são necessários para uma
vida humana normal". Já em 1886 Theodor Escherich, afirmou que "a interação entre o
hospedeiro e as bactérias é muito importante" e que "a composição do microbioma intestinal
é essencial para a saúde e bem-estar do ser humano".

O que é a microbiota e o considerado saudável?


A microbiota intestinal consiste no conjunto de bactérias, leveduras, fungos e outros
microrganismos, que ao todo perfazem um total próximo de 100 mil milhões de
microrganismos com mais de 1000 diversos tipos de bactérias fundamentais para a sua
saúde, que habitam o trato digestivo do ser humano, principalmente no cólon. Diz-se que esta
flora maioritariamente bacterial se assemelha às impressões digitais, no sentido que é
exclusivo a cada ser humano. Um dos diversos fatores que condiciona altamente a sua
constituição, para além da idade, estilo de vida, fatores genéticos e também externos, que
incluem o uso de antibióticos, é a dieta diária e hábitos alimentares de cada indivíduo (que
apresentam uma influência de cerca de 56% da composição bacterial total), daí a microbiota
diferir de população para população, uma vez que os costumes alimentares variam por
cultura. (Walker AW et al., 2011)

Uma microbiota saudável está intimamente relacionada com um consumo significativo de


fruta, vegetais e fibra. Um desequilíbrio na composição dos microrganismos habitantes do
intestino pode levar à disbiose, daí a manutenção de uma flora intestinal saudável ser
fundamental. As causas da disbiose intestinal podem estar relacionadas com o uso de
antibióticos, laxantes, uso abusivo de álcool, stress, uma alimentação inadequada com
excesso de açúcar, alimentos refinados e pobres em fibras, assim como algumas doenças
intestinais. (Weiss GA et al., 2017)

Atualmente, o termo “microbiota” é preferível ao antigo termo “flora”, uma vez que este
último não engloba os muitos elementos não bacterianos habitantes do trato gastrointestinal.
Por outro lado, o termo “microbioma” compreende todo o habitat, isto é, o conjunto dos
diferentes micróbios que habitam o trato gastrointestinal com o seu material genético e as
condições ambientais envolventes. (Sebastián Domingo JJ et al., 2018)

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Importância da microbiota intestinal para a saúde humana
A microbiota ou flora intestinal vive em harmonia com o corpo humano, produzindo
vitaminas K (menaquinona) e B12 (cobalamina) e sendo responsável pela manutenção do
intestino, contribuindo para uma boa saúde deste órgão, nomeadamente na redução do risco
de contrair infeções intestinais específicas. As bactérias presentes nos intestinos têm várias
funções que são significantes na saúde do ser humano, sendo importantes as de proteção
anti-infeciosa que fornecem resistência à colonização por microrganismos patogénicos
externos, mantendo a integridade da mucosa intestinal; a modulação do sistema imunitário,
que estimula a ativação das defesas imunológicas e, por fim, a contribuição nutricional, tanto
a facilitar o nosso organismo a degradar certas moléculas para que a absorção seja facilitada
posteriormente, como glúcidos e lípidos, como também no armazenamento das gorduras e
regulação do apetite. A microbiota também é necessária para a produção de substâncias
ativas no cérebro, pois produz os mesmos neuromediadores que este, estando implicado na
comunicação cérebro-intestino. (Sartor et al., 2008)

DESENVOLVIMENTO

Antibióticos e o papel da microbiota nas doenças


O uso de antibióticos pode provocar alterações na nossa microbiota intestinal pois estes
não são seletivos apenas às bactérias patogénicas e podem ocorrer mudanças drásticas na
microbiota e dar-se uma maior suscetibilidade a outras infeções. (Claesson et al., 2011)

Através de observações epidemiológicas, foi possível estabelecer uma relação entre


doenças crónicas (como a diabetes, a asma e a rinite alérgica) e alterações da microbiota
intestinal, nomeadamente uma diminuição da diversidade desta, tendo os doentes uma
microbiota diferente dos indivíduos saudáveis. (Sartor et al., 2008)

Segundo uma investigação recente da Universidade Chinesa de Hong Kong, a composição


do microbioma também pode influenciar a gravidade do Covid-19, bem como a intensidade
da resposta do sistema imunitário à infeção. Os investigadores obtiveram amostras de fezes
e registos médicos de 100 doentes hospitalizados por Covid-19, entre fevereiro e maio de
2020, bem como de 78 pessoas saudáveis que participaram num estudo anterior à pandemia.
A análise das amostras de fezes mostrou que a composição da microbiota “diferia
significativamente” entre os doentes com e sem a doença, independentemente de terem sido
tratados com medicamentos. Os doentes com Covid-19 tinham um maior número de bactérias
Ruminococcus gnavus, Ruminococcus torques e Bacteroides dorei que as pessoas sem a
infeção e também muito menos espécies que podem influir na resposta do sistema
imunológico. (Zuo T et al., 2020)

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Quais os géneros de bactérias que existem no intestino?
Abundância relativa (%)
Filo Bebé (<1 ano) Adulto
Firmicutes 32.01 50.50
Bacteriodetes 20.08 48.00
Proteobacteria 46.14 0.60
Actinobacteria 1.28 0.20
Fusobacteria 0.06 0.08
A abundância relativa de Filos foram estimativas baseadas em sequências de microbiota intestinal infantil e adulta (Wu Y et al.,2019) Interactions Between
Food and Gut Microbiota: Impact on Human Health. Annu Rev Food Sci Technol.

A microbiota intestinal é bastante diversa e é considerada a mais complexa de todas as


existentes no corpo humano. A maioria das bactérias intestinais são anaeróbias não
esporuladas e esta flora é composta principalmente por cinco Filos microbianos, abrangendo
Firmicutes, Bacteroites, Actinobacteria, Proteobacteria e Fusobacteria. Porém, mais de 90%
das bactérias do trato intestinal adulto são Bacteroites e Firmicutes. Quando a relação
Bacteirotes / Firmicutes é baixa, existe menor fator pró-inflamatório. Foi feito um estudo em
crianças que viviam em áreas rurais de África, que consumiam uma dieta tradicional rica em
fibras e estas apresentavam proporções maiores de Bacteroites e menores de Firmicutes, em
comparação com crianças de países ocidentais cuja dieta incluía grandes quantidades de
proteínas, gordura e açúcar. com isto, concluiu-se que os Firmicutes são bactérias mais
eficazes na extração de energia dos alimentos, promovendo assim uma maior absorção de
W calorias e o subsequente ganho de peso. (Claesson, M.J., et al., 2011.)

Nem todas as espécies supracitadas apresentam as mesmas propriedades, sendo que


algumas contribuem para o reequilíbrio da flora intestinal, outras melhoram o trânsito,
favorecendo a absorção dos minerais e vitaminas, outras reforçam o sistema imunitário.
(Claesson, M.J., et al., 2011.)

Composição e concentração das espécies microbiotas dominantes presentes nas várias regiões do trato gastrointestinal - Retirado de Gastroenterology, volume 134,
Sartor et al, Microbial Influences in Inflammatory Bowel Diseases, 577-594, 2008

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De que forma a dieta interfere na microbiota intestinal?
Pesquisas demonstram, como mencionado acima, que a alimentação é um regulador da
composição da microbiota intestinal, que por sua vez impacta profundamente na saúde do
Homem, tendo-se comprovado que mudanças na dieta podem ser responsáveis por até
57% das alterações da microbiota intestinal. De modo a testar este conceito, um estudo
americano sugeriu que os níveis de vitamina D circulantes no organismo poderiam
influenciar o perfil da microbiota intestinal e, consequentemente, o risco de desenvolver
doenças cardiovasculares e metabólicas. Ao avaliar grupos com ingestões de
concentrações diferentes de vitamina D, observou-se que os participantes com maior nível
de vitamina D circulante apresentavam no sangue uma menor quantidade de
lipopolissacarídeos, moléculas que estão presentes na superfície de algumas bactérias do
trato intestinal. Deste modo, levantou-se a hipótese de que os indivíduos com maior
ingestão de vitamina D têm uma composição mais saudável da microbiota intestinal e logo,
apresentam um impacto benéfico no risco de doenças cardiovasculares. (Luthold RV et al,.
2017)

A ingestão de fibras, proteínas e gordura constitui os principais componentes que mais


modulam a microbiota intestinal, positiva ou negativamente. Deste modo, abordar-se-á,
pormenorizadamente, cada um:

- Ingestão de fibras

Os efeitos positivos da fibra alimentar estão relacionados, em parte, ao facto de que uma
parte da fermentação dos seus componentes ocorrer no intestino grosso, o que tem um
impacto na velocidade do trânsito intestinal, pH do cólon e produção de subprodutos com
importante função fisiológica. Indivíduos com elevado consumo de fibras (principalmente
fibras solúveis - prebióticos) apresentam menor risco para o desenvolvimento de doença
coronária, hipertensão, obesidade, diabetes e cancro do cólon. O maior consumo de fibras
e a ingestão de mais fibras do que a atualmente recomendada (14 g/1000 kcal) poderão
trazer maior benefício à saúde, incluindo a redução de processos inflamatórios de baixo
grau. (Holscher HD et al., 2017)

As fibras alimentares incluem a inulina, que é abundante em vários vegetais, como a


alcachofra. Vários estudos têm investigado o impacto da inulina no intestino humano, e
revelaram que uma grande parte da microbiota intestinal não é afetada pela presença deste
glicano, enquanto apenas um pequeno número aumentou em abundância, como
Bifidobacterium e Atopobium. É plausível que as bifidobactérias se alimentem de produtos
de degradação da inulina (ou seja, fruto-oligossacarídeos). As dietas que contêm fruto-
oligossacarídeos demonstraram causar um enriquecimento de microrganismos capazes de
decompor os açúcares na microbiota intestinal. (Holscher HD et al., 2017)

-Ingestão de proteínas;

A ingestão de proteínas animais correlaciona-se positivamente com a diversidade


microbiana global. As proteínas provenientes da dieta servem como principal fonte de azoto
para o crescimento microbiano e são essenciais para a assimilação de hidratos de carbono
e produção de produtos benéficos, como ácidos gordos de cadeia curta, o que contribui para
a saúde intestinal.

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Uma ingestão moderada de proteínas, especialmente de fontes animais, ricas em
aminoácidos essenciais, está relacionada com o combate à obesidade, osteoporose e
sarcopemia. Contudo, se a ingestão proteica for muito elevada, pode estar associada a outras
doenças como cancro e incidente inflamatório intestinal. (Zhao et al.,2018)

- Ingestão de gordura;

A gordura proveniente dos alimentos contribui com um valor calórico significativo para a
nossa dieta. Na dieta ocidental, os lípidos constituem 40% –55% das calorias desta. Estudos
realizados em ratos mostraram que os ácidos gordos ómega-3 podem reduzir o aumento de
peso corporal e inflamação crónica por meio da modulação da microbiota intestinal. Revelou-
se também que os lipídios saturados na banha animal afetam a composição microbiana do
intestino promovendo a obesidade e que níveis elevados de N-óxido de trimetilamina (TMAO)
estão fortemente associados à aterosclerose, por acúmulo de colesterol. Ou seja, as dietas
ricas em gorduras saturadas estão associadas a uma redução na diversidade de bactérias
intestinais, a alterações na integridade da membrana, induzindo um aumento da
permeabilidade e aumento da translocação do lipopolissacarídeo (LPS, que é uma
endotoxina) para a corrente sanguínea, o que pode propiciar a um cancro do fígado. (Murray
et al., 2012)

Estudos experimentais relevantes para o tema da obesidade, disponíveis nas seguintes bases de dados:
Lilacs, SciElo, Pubmed e ScienceDirect, biblioteca virtual de 2000 a 2012.

Prebioticos,
Objetivo Resultados
Probioticos ou outros

↑ de Bifidobacterium; ↓ peso, ↑ produção de butirato, ↓


Amido resistente
inflamação e apoptose de sulcos.

↑ da permeabilidade : ↓na expressão proteica das juções


Dieta rica em gordura
intercelulares

↑ de Bifidobacterium, Roseburia sp., Clostridium cluster


Inulina
XIVa; ↓ de Bacterioidetes e ↑ de Firmicutes
Modulação da
microbiota
Fibra dietética ↑ na quatidade total de bacterias

↑ de Bifidobacterium, Lactobacillus e Clostridium coccoides,


Oligofrutose
com ↓ da permeabilidade intestinal e inflamação

Vários prebitoticos ↓ de Firmicutes e ↑ de Bacterioidetes


(da Silva ST et al., 2013), Intestinal microbiota; relevance to obesity and modulation by prebiotics and probiotics.

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CONCLUSÃO

Compreendendo o papel da microbiota intestinal na nutrição e na saúde, bem como a sua


composição e atividade no trato gastrointestinal, conclui-se que a dieta pode ser um meio
conveniente para manipular significativamente a composição da microbiota intestinal,
contribuindo para a saúde do Intestino e do seu hospedeiro, de modo a evitar certos tipos de
doenças autoimunes e alérgicas. Dietas específicas com base na ingestão elevada de fibras,
moderada de proteína animal e com a redução do consumo de gorduras podem
potencialmente ser usadas para lidar com doenças complexas, como obesidade e diabetes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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8
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