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Bolet im do PET  nº 12  Junho/2010 p.

BO L E T IM do PET
Caros Leitores,
Esse primeiro semestre de 2010 foi bastante movimentado: seleções do PIBIC, PIBID e PET; concursos para Prática de Ensino e
Sistemática de Fanerógamas; chegada de novos professores e a despedida de nosso querido Prof. Oliver. Assim, o PET gostaria de
parabenizar e dar às boas vindas aos novos professores: Mariana Guellero do Valle e Eduardo Bezerra de Almeida Junior; agradecer a
disponibilidade, as contribuições e o carinho do Prof.Oliver com todos nós do PET e desejar sucesso em seu retorno à terra natal;
parabenizar e desejar sucesso aos novos bolsistas PIBIC, PIBIDI e PET. E para fechar com chave de ouro esse semestre, gostaríamos de
desejar a profa. Silma um excelente mandato à frente da nossa coordenação. Então para brindar esse final de semestre, é com alegria
que entregamos a vocês a décima segunda edição do nosso Boletim, que inaugura a seção “Escreva você também”, onde alunos e
professores podem pu blicar seus artigos e resenhas, além de outros assuntos de interesse. Assim gostaríamos de agradecer a re senha da
nossa querida aluna Priscila S á Rivas, que inaugurou esse espaço. Esperamos contar com a colaboração de todos na manutenção desse
cantinho. O PET deseja Boas vindas aos Calouros do segundo semestre de 2010 e boas Férias a todos vocês !
Gisele Garcia Azevedo – Tutora do PET BIOLOGIA

Junho-2010 nº. 12

ARTIGO
Microbiota endógena humana e a importância do
Projeto Microbioma Humano
Por: Monique Santos do Carmo
Ao falarmos em biodiversidade, mu itas desertos”. Partindo dessa linha de raciocínio,
vezes recordamos da exuberante variedade de plantas e podemos afirmar que somos um verdadeiro bio ma,
animais que habitam os mais variados ecossistemas do nosso constituídos por ricas comunidades microbianas que mantêm
planeta, sejam eles terrestres ou aquáticos. Aos poucos, vamos relações indispensáveis com o nosso organismo, sendo muito
pensando também nas fantásticas adaptações desses importante para a garantia de nossa sobrevivência.
organismos, que estão associadas com as mais distintas É importante ressaltar que, além da microbiota residente, o
condições impostas pelo ambiente em que vivem. nosso corpo está constantemente sujeito a adquirir outros
Porém, mu itas vezes esquecemos que o mundo e o nosso microorganis mos (à medida que nos alimentamos e
corpo, em part icular, estão literalmente colonizados por uma deslocamos para os mais diversos lugares), constituindo a
rica e co mplexa d iversidade de microorganismos, que, a cada chamada microbiota transiente. Esta microbiota normalmente
dia, tem surpreendido os estudiosos com suas elevadas taxas reside em caráter temporário no interior ou exterior do corpo.
de mutações, e, consequentemente, de adaptação e resistência Porém, em alguns casos pode chegar a desenvolver patologias
às mais variadas condições ou, no caso dos microorganis mos (quando a microbiota residente não está em condições de
patogênicos, aos mais potentes antibióticos existentes. competir co m eles) (BURTON & KIRK, 2005).
Segundo Burton & Kirk (2005), o nosso corpo apresenta Além da competição, existem outros mecanismos que
aproximadamente 10 trilhões de células e cerca de dez vezes inibem ou dificultam a mult iplicação da microbiota residente
mais microorganismos, habitando a superfície e o interior do em nosso corpo, tais como: a produção de excreções ou
nosso organismo. Ao conjunto desses microorganismos, que secreções corpóreas (urina, fezes, suor e lágrimas), o caráter
incluem as bactérias, fungos, vírus e protozoários ácido ou alcalino de determinadas regiões do corpo e até
denominamos microbiota endógena humana, chamada mes mo o banho, que pode remover determinados
antigamente de “flora normal”, que é composta de 500 a mil microorganis mos, dependendo do grau de proliferação
espécies diferentes. (BURTON & KIRK, 2005).
A microbiota endógena humana, também denominada Aquisição da microbiota endógena
residente, varia muito nas mais diversas regiões do nosso Um feto não apresenta microbiota endógena, de modo que,
corpo, dependendo de várias condições, tais como, umidade, o primeiro contato com os microorganismos ocorre no parto.
pH, temperatura e nutrientes disponíveis (BURTON & KIRK, Quando a criança nasce de um parto normal, a microbiota dela
2005). Segundo um estudo desenvolvido pelos é inicialmente constituída pelas bactérias da flora fecal
Institutos Nacionais de Saúde dos Estados materna, que contamina o canal do parto. Porém,
Unidos (NIH), que tinha como objetivo fazer quando a criança nasce de um parto cesariano, de
uma análise genética dos microorganismos início, não há participação da flora fecal da
coletados em várias regiões da superfície mãe, de modo que o aparecimento de
do corpo de pessoas saudáveis, as áreas enterobactérias e anaeróbios (bactérias da
secas e úmidas da pele tem u ma flora intestinal) é mais tardio. Vale lembrar
diversidade maior de micróbios do que as que, em ambos os casos, a flora da criança é
oleosas. constituída também a partir do contato com
Os pesquisadores desse estudo bactérias do ar e dos alimentos. Sendo assim, é
afirmaram que “axilas ú midas e co m pêlos, mu ito importante que os hospitais tenham um
por exemp lo, ficam a u ma curta distância de bom padrão no que diz respeito às condições
antebraços lisos e secos, mas, esses dois locais são tão sanitárias, visto que, como as crianças estão em processo
ecologicamente diferentes quanto florestas tropicais e de composição da flora, elas não apresentam uma microbiota
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endógena suficientemente estabelecida para co mpetir co m microorganis mos, enquanto que o trato respiratório inferior é
possíveis microorganismos patogênicos (TRABULSI & geralmente livre dos mesmos (BURTON & KIRK, 2005).
ALTERTHUM , 2008). Microbi ota do trato digestório
Outro fator de grande importância na constituição da flora O sistema d igestório desempenha uma série de funções no
endógena, diz respeito à alimentação. Crianças que são nosso organismo, que se estende desde a quebra dos alimentos
amamentadas no seio materno, quando comparadas àquelas em partículas menores, absorção dos nutrientes até a
alimentadas com mamadeira, apresentam u ma menor eliminação do que não é útil. Desse modo, é fundamental a
freqüência de amostras de Escherichia coli portadoras do participação dos microorganismos, que entram em cena
antígeno KI, que geralmente causa bacteremias e meningite no garantindo uma melhor eficiência nesses processos.
recém nascido (TRA BULSI & ALTERTHUM, 2008). O trato digestório compreende a boca (com a língua, dentes
É importante ressaltar que, mesmo depois de adultos, e glândulas salivares), faringe, esôfago, estômago, intes tino
existem determinados locais do nosso corpo que permanecem delgado, intestino grosso e ânus. O formato anatômico da
estéreis, tais como o sangue, a linfa, líquido cefalo rraquidiano boca, a presença de resíduos de alimentos e de células
e a maioria dos tecidos e órgãos internos (BURTON & KIRK, epiteliais mo rtas, favorece o abrigo de muitos
2005). microorganis mos, tais como bactérias anaeróbias (presentes
Para melhor conhecimento da diversidade microbiana e da nas margens da gengiva, no suco gengival, entre outros
adaptação dos microorganis mos com as mais diferentes locais), aeróbias, e, até mes mo de leveduras, protozoários e
condições do nosso organismo, iremos falar sobre a vírus (BURTON & KIRK, 2005).
composição microbiana das diferentes regiões do nosso Estima-se que 1 ml de saliva contêm cerca de 108 bactérias.
organismo. Os principais gêneros encontrados na cavidade oral e faringe
Microbi ota da pele são: Staphylococcus, Streptococcus, Neisseria, Bacteroides,
Segundo Burton & Kirk (2005), a microbiota da pele é Actinomyces, Treponema e Mycoplasma (TRABULSI &
constituída principalmente por bactérias e fungos. Nas regiões ALTERTHUM , 2008).
mais úmidas e quentes (como as axilas), encontram-se uma Normalmente, a diversidade microbiana no estômago não é
maior concentração de microorganis mos (em torno de 10 6 tão grande. Segundo Burton & Kirk (2005), isso se deve à
bactérias por cm2 ), enquanto que, nas regiões mais presença de enzimas gástricas e do pH ácido, que acaba
secas, existe uma quantidade menor (em torno de destruindo os microorganis mos transientes ou
104 bactérias por cm2 ) (TRABULSI & alóctones, ou seja, aqueles provenientes do
ALTERTHUM , 2008). meio exterio r, que são ingeridos
Além da grande distribuição bacteriana juntamente co m os alimentos e bebidas.
na região mais superficial da pele e na Segundo Ladeira et al (2003), cerca de
parte posterior dos folículos pilosos, existe 50% dos indivíduos em todo o mundo
uma quantidade significat iva destas nas apresentam uma bactéria no estômago
camadas mais profundas, sendo muito denominada Helicobacter pylori, que está
importantes para a re-colonização, quando os associada a gastrite crônica, úlcera péptica e
microorganis mos mais superficiais são câncer gástrico.
removidos. Basicamente, os gêneros Já se tratando do intestino, temos não
predominantes são Staphylococcus, somente uma grande quantidade, mas também
Corynebacterjum e Propjoniobacterium. A espécie uma elevada diversidade bacteriana. Apresentamos
Staphylococcus epidermidis é encontrada em 90 % 1014 bactérias para 1013 células, ou seja, o número de
das pessoas. Já a espécie Propionibacterium acnes, que, bactérias intestinais é dez vezes maior que o nú mero de
como o próprio nome sugere é responsável pela acne, está células que constituem os nossos órgãos e tecidos. Além
associada diretamente co m as secreções das glândulas disso, essas bactérias pertencem a 500 espécies distintas
sebáceas (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008). (TRA BULSI & ALTERTHUM, 2008).
Microbi ota dos ouvi dos e olhos A microbiota intestinal apresenta uma distribuição muito
Geralmente, o ouvido méd io e interno são estéreis, heterogênea, tanto vertical quanto horizontalmente. Co mo o
enquanto que, o ouvido externo e o canal auditivo apresentam intestino delgado proximal está situado próximo ao estômago
basicamente a mes ma microbiota das regiões úmidas da pele (sofrendo ação dos fatores limitantes ao cres cimento
(boca e nariz). Quando um indiv íduo faz o esforço para bacteriano), o mesmo não apresenta grande diversidade
espirrar, tossir ou eliminar secreções das narinas, esses bacteriana, predominando os estafilococos, estreptococos e
microorganis mos mais superficiais podem atingir a tro mp a de lactobacilos. Dificilmente são encontradas bactérias
Eustáquio e ouvido médio, causando infecção (BURTON & anaeróbias (TRABULSI & A LTERTHUM , 2008).
KIRK, 2005). Seguindo o trajeto intestinal, temos o íleo, que apresenta um
No que diz respeito aos olhos, a microbiota é bem mais baixo potencial de o xirredução (possibilitando o crescimento
reduzida por causa da produção das lágrimas e da enzima de anaeróbios) e uma maior diversidade de bactérias. Já no
lisozima, que atuam como antimicrob ianos. De um modo intestino grosso, os anaeróbios superam os aeróbios, com a
geral, são encontrados os gêneros Staphylococcus, predominância de bacteróides, bifidobactérias, fusobactérias,
Streptococcus e Corynebacterium (BURTON & KIRK, 2005). lactobacilos, estreptococos, clostrídeos e enterobactérias. Esse
Microbi ota do trato respiratório percurso constitui a chamada distribuição vertical, que se
O nosso trato respiratório é dividido em superior e inferior. configura pelo aumento gradativo na quantidade e diversidade
O primeiro abriga as fossas nasais e faringe, e o segundo bacteriana (TRABULSI & A LTERTHUM, 2008).
abrange a laringe, traquéia, brônquios, bronquíolos e pulmões. A distribuição horizontal está relacionada à presença de
Co mo as fossas nasais e faringe são úmidas e quentes, pelo menos três hábitats, sendo eles: lu z intestinal, camada de
fornecem condições ideais para o crescimento de muitos muco e superfície ep itelial, de modo que, as diferentes
bactérias se distribuem de acordo com aquilo que seja mais
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adequado para sua sobrevivência (TRABULSI & mu itos microorganismos muitas vezes depende de um
ALTERTHUM , 2008). microamb iente específico que nem sempre pode ser
Microbi ota do trato geniturinári o reproduzido experimentalmente.
Co mo o nome sugere, o trato geniturinário é constituído Mesmo para as espécies normalmente cultivadas in vitro,
pelos órgãos do sistema urinário (rins, ureteres, bexiga e mu ito se tem a desvendar sobre as relações entre os
uretra) e do sistema reprodutor masculino e feminino. microorganis mos e interações micrób io-hospedeiro. Embora
Estando os rins, ureteres e bexiga saudáveis, apresentam-se algumas técnicas tradicionais da genética tenham auxiliado a
estéreis. Porém, a região da uretra mais distante da bexiga elucidar determinadas questões, investindo no seqüenciamento
(denominada uretra distal) e a abertura externa da mes ma do genoma de cepas bacterianas cultivadas em laboratório,
contêm uma diversidade muito grande de microorganismos, existe um ramo mu ito interessante denominado
tais como bactérias (espécies não patogênicas de Neisseria, metagenômica, que permite analisar o material genético
estafilococos, estreptococos, enterococos, difteróides, derivado de completas comunidades microbianas colhid as
micobactérias, micoplas mas, bastonetes entéricos gram- diretamente do seu ambiente natural.
negativos e alguns anaeróbios), leveduras e vírus (BURTON Dessa forma, a metagenômica apresenta-se como u ma
& KIRK, 2005). ferramenta muito interessante, que, aliada às tradicionais
Co mo a urina ácida passa continuamente pela uretra, esses técnicas já existentes na genética, propicia uma análise de
microorganis mos não chegam até a bexiga. Porém, quando cepas bacterianas conhecidas, providenciando informações
ocorre algu m t ipo de obstrução ou estreitamento da uretra, sobre a complexidade das comunidades microbianas humanas,
esses microorganismos se multip licam, podendo chegar até a um dos objetivos do Projeto Microbio ma Hu mano (HMP).
bexiga e causar infecções (BURTON & KIRK, 2005). Esse projeto, lançado no ano de 2008, co m p revisão de
Excetuando-se a vagina, o sistema reprodutor mas culino e extensão até 2013 tem co mo principal objetivo fazer u ma
femin ino normalmente são estéreis . A microbiota da vagina caracterização mais precisa da microbiota humana (seja de
varia de acordo co m o estágio de desenvolvimento sexual, de microorganis mos cultiváveis ou não) e analisar seu papel na
modo que, durante a puberdade e depois da menopausa as saúde e nas patologias.
secreções são alcalinas, possibilitando o crescimento de As amostras estão sendo coletadas de cinco áreas do corpo:
bactérias como difteró ides, estreptococos e E. coli (BURTON do trato digestivo, da boca, da pele, das narinas e da vagina.
& KIRK, 2005). Os pesquisadores encontraram alguns resultados interessantes,
Durante o período fértil, as secreções vaginais são mais como a descoberta de proteínas produzidas por algumas
ácidas (com pH entre 4 e 5) , permit indo assim o crescimento bactérias que vivem no estômago que pode causar ulceração
de bactérias (lactobacilos, alguns estreptococos alfa gástrica, descoberta de algumas proteínas associadas com o
hemolíticos, estafilococos, difteróides) e leveduras. De u m metabolismo de açúcares e aminoácidos e a descoberta de
modo especial, os lactobacilos são muito importantes para a 14.064 novas proteínas que estão disponíveis no banco de
manutenção de um bom estado da vagina, uma vez que eles dados do projeto.
produzem o ácido lático, que impede o crescimento de outras Durante este ano e no próximo, o HM P estará financiando
bactérias associadas à vaginose (BURTON & KIRK, 2005). projetos que amostrem o microbio ma de voluntários saudáveis
Agressão por patógenos oportunistas e com doenças específicas, permitindo que os pesquisadores
Diante da grande diversidade e complexidade das estudem mudanças no microbio ma de partes específicas do
interações dos microorganismos com o nosso corpo, é corpo de indivíduos saudáveis que são usados como controle,
fundamental que a microbiota endógena esteja em equilíbrio. comparando-os com pacientes afetados por algum problema
Qualquer alteração nessa homeostase pode gerar uma série de de saúde. Além das regiões já citadas, as amostras estão sendo
problemas para o nosso organismo. coletadas do sangue e da uretra masculina.
Vários fatores estão associados com esse desequilíbrio, Dessa forma, o Pro jeto Microbio ma Hu mano apresenta um
sendo que, segundo Finegold & Wexler (1988 apud Souza & papel chave, que, com as descobertas realizadas até agora e os
Scarcelli 2000), u m dos principais diz respeito ao uso futuros experimentos, estarão auxiliando na melhor
indiscriminado de drogas antimicrobianas, principalmente dos compreensão da microbiota endógena humana, no sentido de
antibióticos. Esses medicamentos podem destruir uma boa melhor elucidar suas relações com o hospedeiro.
parcela da microbiota residente, facilitando assim o Referências Bibliográficas
crescimento excessivo de microorganismos que normalmente BURTON, G.R.W & KIRK, P.G.E. Microbiologia para as Ciências
fazem parte da nossa microbiota, mas, em pequeno número. da Saúde. 7ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2005.
Dessa forma, a mu ltiplicação desenfreada desses FERNANDES, T. As bactérias da sua pele. Dispomível em: <
microorganis mos denominados de patógenos oportunistas, http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/microbiologia/as-bacterias-da-
causa o que se convencionou chamar de superinfecção. sua-pele/> Acesso em: 09 mai. 2010.
Um bo m exemplo disso diz respeito à levedura Candida LADEIRA, M.S.P. ; SALVADORI, D.M.F. ; RODRIGUES, M.A.M.
albicans, que geralmente está presente em pouco número nas (2002) Biopatologia do Helicobacter pylori. J. Bras. Patol. Med. Lab,
aberturas do nosso corpo, porém, quando por qualquer motivo Rio de Janeiro, v.39, n.4, 335- 342, 2003.
a nossa microbiota residente é reduzida a u m pequeno número, SCIENCE NEWS. Human Microbiome Project: Diversity of Human
esse microorganis mo cresce intensamente na boca, vagina ou Microbes Greater Than Previously Predicted. Disponível em: <
intestino grosso, causando a patogenia chamada de Candidíase http://www.sciencedaily.com/releases/2010/05/100520141214.htm >
(BURTON & KIRK, 2005). Acesso em: 22 mai. 2010.
Projeto Microbi oma Humano SOUZA, C.A.I & SCARCELLI, E. Agressão por microrganismos da
A microbio logia tradicional tem direcionado seu foco para microbiota endógena. Arq.Inst. Biol. São Paulo, v.67, n.2, 275-281,
o estudo das espécies como unidades isoladas, que, com seus jul/dez., 2000.
devidos méritos permitiu a descoberta e descrição de muitos TRABULSI, L.R. & ALTERTHUM, F. Microbiologia. 5ª edição.
microorganis mos. Porém, nem semp re é possível isolar Editora Atheneu, 2008.
espécimes viáveis para análise, porque o crescimento de
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RESEN HAS
Última fronteira na dinâmica de populações
Por: Lana Gabriela Mendes
Populações naturais são formadas pelo conjunto de indivíduos de uma mes ma espécie, que ocupa determinado tempo em certa
área. Essas populações estão em constante mudança, devido às taxas de mortalidade, natalidade, migração e emigração, mantendo ,
no entanto, o equilíbrio. O estudo a cerca das variações anteriormente citadas, que ocorrem nas populações de seres vivos , chama-se
de dinâmica de popul ações.
Recentemente, uma nova área dentro da dinâmica de populações tem sido expandida e tem contribuído grandemente para a
compreensão de fenômenos como controle de doenças e epidemias: a eco logia do movimento.
Os pesquisadores Paulo Almeida, Diogo Loretto, Marcus Vieira (UFRJ) e Marcelo Ba rros (Laboratório Nacional de Co mputação
Científica – RJ) trazem na revista Ciência Hoje do ano corrente um artigo intitulado “O movimento dos animais”, que lança uma
interessante teoria sobre a movimentação de populações. Os autores tentam exp licar o movimento realizado pelas populações através
da Teoria dos fractais. Esta teoria permite a quantificação da “tortuosidade do itinerário de u ma espécie animal em seu amb iente”,
por meio de relações matemát icas simp les.
Estudos como este são importante em diversas situações ecológicas, como no caso dos gambás –de–orelha–preta. Estes animais
mudam seus padrões de movimentação entre jovens e adultos, nas fases reprodutivas e não reprodutivas, quando machos; e de
acordo com as estações, no caso das fêmeas. A análise fractal destes animais mostrou também que o tamanho da população
influencia no seu padrão de movimentação, evidenciando movimentos mais tortuosos e concentrados, quando em alta densidade, e
movimentos mais amplos e menos tortuosos quanto menor for a densidade populacional.
Ou seja, mu ito além de avaliar a densidade e abundância de populações através do tempo, pesquisas como esta permitirão
também a compreensão de como a densidade populacional pode influenciar no movimento dos próprios indivíduos , avalian do sua
dinâmica no espaço. Este estudo permit iu, co mo dizem os autores, transpor a última fronteira na dinâmica de populações,
possibilitando a ligação entres as dinâmicas espacial e temporal.
É sabido por todos que grande parte das explicações da dinâmica de populações parte de modelos matemáticos, e mais uma vez,
as relações numéricas garantem à ecologia respostas mais fáceis de exp licar, entender e co mbinar as mú ltip las variantes dos
ecossistemas existentes.
Fonte: Ciência Ho je vol. 45/2010: O mov imento dos Animais
Paulo Almeida, Diogo Loretto, Marcus Vieira (UFRJ) e Marcelo Barros (Laboratório Nacional de Co mputação Científica – RJ)
Impacto dos microorganismos no clima terrestre: variados tamanhos que se localizam na coluna d`água e de
isso é possível? extrema importância para a cadeia alimentar. Este aglomerado de
Por: Hay lla Cristina Saraiva Ribeiro substâncias orgânicas é colonizada por micoorganismos que
quebram, através de enzimas, as macro moléculas transformando -
Quase todos os dias, os mais variados meios de os em compostos menores. Ainda segundo a autora, alguns
comunicação nos apresentam problemas referentes às alterações modelos de ciclagem de nutrientes consideram que metade da
climáticas e ao efeito estufa. Além deste tema já tão debatido, demanda bacteriana por carbono é satisfeita através da interação
fala-se constantemente no grande vilão do meio amb iente e dos micoorganismos com esta Neve.
causador de tais alterações: o homem. Po rém, além de causador, É válido destacar ainda que a ação antrópica é modificadora
ao homem também é dado o papel de salvador do planeta Terra. da biosfera como um todo e, obviamente, os seres microscópicos
Quando a questão gira em torno do clima, muitas vezes é não estão isentos de tais influências. Desta forma, pode-se dizer
levado em consideração apenas os macro- organis mos, que o homem afeta duplamente (direta e
quer sejam os grandes animais ou as plantas, como indiretamente) o clima da Terra, u ma vez que o
agentes causadores e solucionadores deste impacto gerado por ele poderá ter efeito
problema. Neste artigo, no entanto, a autora imprevisível para essas comunidades.
apresenta outros organismos que podem dar Além d isso, é importante frisar que as
contribuições significativas no que tange ao clima relações existentes entre os microorganismos e o
na Terra. De uma forma dinâmica, os meio em que vivem não estão totalmente
microorganis mos, especialmente as bactérias e esclarecidas pelos cientistas. Vivemos em u m
archeaes, são lançados à luz da questão e características planeta riquíssimo em d iversidade de espécies e,
que vão além da sua importância na base de sustentação da vida consequentemente, em interações ecológicas; no entanto, nos
parecem ter u m efeito benéfico nos diferentes ecossistemas, uma detemos quase sempre a enaltecer a capacidade que o homem tem
vez que seu metabolismo libera gases necessários à dinâmica do em influenciar o meio ambiente, de forma positiva ou não.
controle climático. Acostumamo -nos também a pensar que as grandes mudanças
Dentre os exemp los já conhecidos, como o seqüestro de Gás somente são causadas pelos macroorganismos. Desta forma,
Carbônico, é destacado o ciclo do En xo fre, produto das esforços conjuntos na atual crise climática devem ser executados
atividades metabólicas dos procariotos marinhos. Segundo a e estudos sobre todos os organismos devem ser realizados, sem
autora, há também u m importante produto das atividades desconsiderar o menor dos organismos, pois indubitavelmente
metabólicas, o composto volátil dimetil-sulfeto (DMS), que ao estamos longe de entender o complexo emaranhado de relações
ser liberado no meio, age co mo condensador de nuvens, que estes possuem e qual a influência das suas atividad es no
importante elemento refletor de raios solares e dispersor de nosso planeta.
chuvas.
Outra condição interessante citada pela autora refere-se à Fonte: RIBEIRO, C. G. A música do microcosmo.
Neve Marinha, que é um agregado de compostos orgânicos de Revista Ciênci a Hoje , vol 45, p. 41-45, nov 2009.
Pombos Bo letim do PET  nº 12  Junho/2010 p. 5
urbanos,
Uma dieta dife rente de larvas de mosquito, mosquitos
o„‟caos‟‟ das Por: Itaynara Lobato Dutra adultos, protozoários e bactérias,
para digerir seu alimento.
cidades A ideia de que as plantas são organismos Experimentos mostraram que
autotróficos consiste em u m fato plantas que se alimentam de
Por: Carlos Celso Frazão
incontestável. No entanto, a natureza é animais ficam maiores. Mas, ao
Saraiva Júnior realmente surpreendente: quando pensamos contrário dos animais carnívoros,
que seus mistérios foram desvendados, algo que usam o carbono das
Os pombos urbanos (Columbia livia proteínas e das gorduras de sua
domestica), descendentes do pombo-da- novo e intrigante surge. A exemplo disso
temos as plantas carnívoras, que se desviam dieta para construir músculos e
rocha (Columbia livia livia) e originários do armazenar energia, as plantas
dessa “regra” ao incrementarem sua dieta
leste europeu e da África do Norte, foram carnívoras aproveitam o
trazidos ao Brasil em meados do século XVI com suprimento de origem an imal. O
motivo que leva essas plantas a desenvolver hidrogênio, fósforo e outros
por colonos europeus e obtiveram u m grande nutrientes fundamentais de suas
esse comportamento e os mecanismos
sucesso no processo de sinurbização, devido presas para produzir en zimas que
a abundância de alimentos nas cidades e pela utilizados por elas
são questões que ajudam na captura da lu z. As
grande disponibilidade de lugares que plantas carnívoras possuem uma
os pesquisadores
serviam de abrigo aos mesmos. Os pombos, deficiência na fotossíntese
em registros históricos, representavam vários procuram há muito
tempo resolver. devido ao fato de grande
tipos de simbologias, co mo paz, fert ilidade, quantidade de energia ser
Um art igo escrito
esperança e libertação, diferente do que são desviada para a captura de
considerados atualmente. Apelidados de por Carl Zimmer,
intitulado “Atração animais. Entretanto, em
„‟ratos com asas‟‟, esses animais vêm condições especiais, como solo
Fatal” e publicado na National Geografic
ocasionando vários problemas aos pobre que oferece pouco
patrimônios públicos e saúde social. traz mu itas informações interessantes acerca
desse estranho e fascinante fenômeno. nitrogênio e fósforo, esse custo
Pesquisas recentes, realizadas no estado pode ser entendido pela
de São Paulo, mostraram que os pombos das A dionéia, por exemp lo, é considerada
por Alexander Volkov, fisiologista de vantagem que traz as plantas
cidades podem ser considerados grandes carnívoras em relação às outras
veiculadores de parasitos que podem afetar a plantas na Universidade Oakwood no
Alabama (EUA), co mo u ma “planta plantas locais. Além disso, os
saúde humana. Foi relatado que patógenos,
elétrica". Um inseto, ao tocar em um pêlo da locais de
como a giárd ia, Entamoeba histolytica, ocorrência
Ascaris lumbricóides e Ancylostoma folha de uma dioneia, dispara uma
minúscula carga elétrica, que se acumula no dessas
duodenale, que são sérios causadores de
tecido da folha, mas não é suficiente para plantas são
doenças, estão presentes em grande parte das mu ito
amostras de fezes coletadas em regiões de estimular o seu fechamento, mecan ismo que
evita reações diante de alarmes falsos como ensolarados,
mu ita circu lação humana e movimentos de
gotas de chuva. Porém, u m inseto em de modo que
alimentos. Além dos casos já citados, há até mesmo u ma planta carnívora
também as penugens e as fezes secas dos constante movimento dentro da folha
encosta-se em mais pêlos induzindo a ineficiente consegue fazer
mes mos que são causadoras de alergias e
produção de carga suficiente para fazer a fotossíntese suficiente para
irritações respiratórias. Problemas como a sobreviver.
contaminação de depósitos de alimentos e folha fechar. Essa carga elétrica viaja por
túneis cheios de fluídos na folha, abrindo Assim, as plantas carnívoras
reservatórios de água com dejetos e resíduos
poros nas membranas celulares e representam uma das evidências
dessas aves, também podem ser bastante mais fascinante da complexidade
relevantes para a questão social e possibilitando o transporte da água para fora
dessas folhas, o que muda a conformação da da natureza. Adaptações como as
econômica.
planta, de convexa para côncava, fazendo supracitadas só tendem a reafirmar
Contudo, para amenizar o número de o caráter dinâmico e criativo da
pombos nas cidades, é necessário que sejam com que as folhas se fechem aprisionando o
inseto. evolução, a qual nos proporciona
aplicados vários métodos de controle, como
A utriculária, por sua vez, através da mu itos enigmas que sempre
tintas repelentes, repelentes sonoros, estamos empenhados a desvendar.
injeções de infert ilidade, ret irada dos ninhos ejeção de água para fora de bexigas, cria
de locais importunos, diminuição da amb ientes de baixa pressão. Quando o
animal esbarra em u m pêlo-gatilho de Fonte: ZIMM ER, C. Atração
disponibilidade de alimentos; e que mais Fatal. National Geographic, ed.
estudos sejam realizados sobre o assunto, bexiga, esta se abre e a baixa pressão suga a
água e o animal para dentro. Já as plantas do 120, mar 2010. Disponível em:
pois muito pouco é encontrado na literatura,
gênero Sarracenia e as nepentácias utilizam- <http://viajeaqui.abril.co m.br/natio
principalmente nos casos dos ectoparasitas nal-geographic/edicao-120/plantas-
(carrapatos, pulgas, ácaros, moscas), que se de folhas em forma de tubo comprido
para aprisionar insetos e, dependendo do carnivoras-armadilhas-
também são potenciais causadores de
tamanho, podem até consumir animais 535476.shtml>
doenças para os humanos e os animais.
maiores co mo sapos ou ratazanas. As
Fonte: SHULLER, M. Po mbos urbanos, plantas carnívoras geralmente possuem
um caso de saúde pública. Sociedade glândulas que secretam enzimas para digerir
Brasileira de Controle de Contaminação. os insetos. No entanto, a sarracenia purpúrea
Artigo técnico. dispõe da ajuda de outros organismos, como
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Sexo e tamanho amp los, o sistema nervoso desses animais tendem a ser mais
Por: Milena Jansen Cutrim Cardoso desenvolvido, como nos vertebrados, em que o padrão
protogínico (fêmea primeiro) é comu m. Exemp los disso são
Stephen Jay Gould foi u m dos maiores divulgadores da os peixes, co mo os da espécie Anthias squamipinis, que
ciência do século XX, pela sua habilidade e facilidade em tratar vivem e m grupos de oito fêmeas e um macho. A competição
de assuntos biológicos. Paleontólogo professor de Harvard, ele entre machos para manter o harém é intensa e a sua remoção
manteve uma coluna mensal na revista Natural induz a mudança de sexo de uma das fêmeas do grupo, que
History de 1973 a 2001, escrevendo mais desenvolve coloração mais vistosa, espinhos maiores nas
de 300 ensaios sobre história natural. nadadeiras, flâmu las mais elaboradas da nadadeira caudal,
Em u m desses artigos, chamado “Sexo além, é claro, do tamanho corpóreo maior.
e tamanho”, publicado também em Mais um exemp lo de protandria, co mo nos invertebrados,
seu livro “O sorriso do Flamingo”, ele ocorre com as plantas da espécie Arisaema triphyllum, um
desmistifica a história de que, na tipo de nabo selvagem. Essa é uma espécie díclina, ou seja, o
natureza, os machos são sempre androceu e o gineceu ocorrem em flores diferentes.
maiores que as fêmeas. Policansky, estudando plantas dessa espécie em
Seu texto co meça falando sobre Massachussets nos Estados Unidos, registrou 2038
pequenos moluscos com conchas, os crepidópodes da espécie indivíduos, nos quais 1224 tinham flores masculinas com
Crepidula fornicata, organismos que vivem uns sobre os outros méd ia de altura de 336 mm, enquanto que 814 eram fêmeas
em amontoados, no qual os indivíduos menores do topo são med indo em méd ia 411 mm. Esse cientista constatou que a
todos machos, enquanto que os organismos maiores situados na altura de 380 mm era determinante para definir o sexo de
base são fêmeas. Essa espécie na verdade é monóica, sendo que suas flores. Abaixo dessa altura a maioria dos indivíduos era
os pequenos jovens desenvolvem-se em machos e, conforme macho e acima, a maioria era fêmea. As plantas masculinas
vão crescendo em tamanho, passam a tendiam a se transformar em fêmeas conforme crescessem e
desenvolver órgão reprodutor as femin inas, por razões que levavam a planta a diminuir seu
femin ino. Esse é um padrão de tamanho (herbivoria, atrofia por causa da quantidade
desenvolvimento de organismos insuficiente de luz ou desvio de reservas energéticas na
hermafroditas chamado de produção exagerada de sementes) passavam
protandria, no qual se atinge a a produzir flores com
maturidade sexual primeiro estruturas masculinas.
como macho e é bastante Utilizando-se de um
comu m em invertebrados, grupo organismo que pode
mais numeroso em nú mero de mudar de sexo em
espécies que o dos vertebrados, qualquer direção
táxon ao qual fazemos parte. como conseqüência
Para a fêmea é importante ter um corpo maior, já que é ela a direta do tamanho do
responsável por produzir os óvulos, células maiores por indivíduo, co mo
conterem e transportarem organelas citoplasmáticas e explicado no último
substâncias nutricionais para o embrião, ao contrário do exemplo, Gou ld mostrou que a natureza operaria
espermatozóide que é uma célula pequena responsável por preferencialmente co m organis mos protândricos e que a
carregar somente o DNA. A lém disso, a fêmea geralmente protoginia apresentada pelos vertebrados seria u ma exceção a
realiza o cuidado parental básico de carregar consigo os ovos, essa regra. Muitas vezes toma mos como padrão
protegendo-os. Logo, uma fêmea maior pode produzir maior características que são comuns na nossa espécie ou nas mais
quantidade e qualidade de óvulos e filhotes. próximas filogeneticamente de nós. Dessa vez, Gould nos
No entanto, em alguns animais hermafroditas , os machos mostrou que o homem não é a med ida para todas as coisas .
são os indivíduos maiores. Isso ocorreria porque machos mais
competitivos (maiores e mais fortes) são os que conseguem Fonte: Gould, Stephen Jay. O sorriso do fl amingo:
passar seus genes em maior quantidade para as próximas reflexões sobre história natural. 2 ed. São Paulo : Mart ins
gerações, já que são os que ganham o acesso às fêmeas. Co mo Fontes, 2004. cap. 3: Sexo e tamanho, p. 45-51.
a competição exige padrões de comportamento mais flexíveis e

SAIB A MAIS:
Stephen Jay Gould nasceu em 1941, na cidade de Nova Iorque. Era paleontólogo, professor das
Universidades de Harvard e Nova Iorque, curador do Museu de Zoologia Co mparada de Harvard, além
de um dos mais importantes escritores científicos de sua geração. Também é conhecido por desenvolver,
junto com o também paleontólogo Niles Eld redg, a teoria do equilíbrio pontuado, teoria que provocou
grande polêmica no meio acadêmico por contrapor o princípio do gradualismo usado por Darwin para
explicar a especiação dos organismos.
Escreveu durante 27 anos uma coluna na rev ista Natural History, colecionando mais de 300 ensaios
sobre História Natural e Evolução. Muitos destes textos foram publicados nos seus inúmeros livros,
como O polegar do panda, Dedo mindinho e seus vizinhos, O sorriso do flamingo, A falsa medida do
homem, Darwin e os enigmas da vida, dentre outros. Alguns destes títulos podem ser encontrados na
biblioteca do PET.
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Evolução Humana é a mais perfeita? Soluços e


hérnias mostram que não A paradoxal atitude humana
Por: Fab íola Garreto de Sousa Por: Rafael Cabral Borges

Soluços, hérnias e outras características que perturbam humanos têm origem Quantos de nós, integrantes da sociedade
no nosso parentesco evolutivo com peixes e anfíbios, e do compartilhamento de humana, já nos questionamos sobre nossa
certos caracteres com os mesmos. Um exemplo claro disso é o longo e atitude paradoxal em relação à natureza? Por
dispendioso caminho do cordão espermát ico, que mu itas vezes culmina, após que, mesmo cientes das conseqüências
algum tempo, em u ma maior suscetibilidade e fragilidade a diversos tipos de potencialmente irreversíveis dos nossos atos,
hérnias nos homens. Além disso, os nervos herdados dos peixes no seu trajeto nós continuamos a destruí-la? Essa é a questão
do pescoço em direção ao diafrag ma podem desencadear soluços, processo levantada pelo pesquisador Franklin Ru mjanek
desencadeado pelo fechamento da passagem da traquéia, herdado dos anfíbios . (UFRJ) em seu artigo: Homo sapiens
No caso do cordão espermát ico, as gônadas humanas têm o início do „kamikazis‟ (Ciência Ho je, Março – 2010).
desenvolvimento semelhante às dos tubarões, peixes e outros animais O autor inicia sua discussão fazendo uma
vertebrados. Assim sendo, nos primeiros as gônadas se formam nu ma cavidade comparação entre ho mens e cavalos, que a
abdominal alta do corpo, p ró xima ao fígado e permanecem ali, sendo o esperma primeira vista pode ser considerada de mau
provavelmente produzido nessa região. Nos mamíferos, o desenvolvimento se gosto e inconcebível, mas que quando
diferencia dos animais aquáticos, pois na formação do feto masculino as analisada, torna-se uma verdade na qual a
gônadas descem, no caso dos machos até o saco escrotal localizado fora do maioria dos homens não quer acreditar ou
corpo, caracterizando uma enorme importância na qualidade do esperma. E é aí aceitar. Os cavalos são conhecidos como
que mora o perigo: para que os testículos desçam até o saco escrotal, acabam suicidas, pois podem cavalgar até a morte, se
forçando o cordão espermático a u ma virada em forma de laço , que nos homens esse for o desejo de seu cavaleiro, portanto,
provoca uma fraqueza na parede abdominal, podendo ocasionar diversos tipos eles abdicam da própria vida em favor do
de hérnias quando uma alça do intestino sai desse ponto fraco. desejo de seu cavaleiro. O autor usa uma
O exemplo dos soluços mostra a existência de duas vertentes de nossa citação de William Fau kner para mostrar o
história: u ma co mpart ilhada co m os peixes e outra com anfíb ios . Dos peixes desprezo que inúmeras pessoas sentem por
herdamos os principais nervos da respiração, um desses denominado nervo essa atitude.
frênico, que estende-se da base do crânio ao tórax e ao diafrag ma, e qualquer Porém, apesar de desprezarmos tal atitude,
coisa que bloqueie o trajeto nesses nervos pode interferir diretamente na a sociedade humana percorre, já há algu m
respiração. Uma solução evolutiva mais racional seria colocar o in ício desses tempo, u ma trajetória consciente de
nervos em u m local mais pró ximo ao d iafrag ma, o que in felizmente não autodestruição, comparável à do cavalo. A
aconteceu. O soluço, então, pode ser fruto do passado em co mu m que temos natureza hoje passou a ser temida, a tecnologia
com anfíbios, os quais possuem u m padrão característico de músculos e nervos passou a ser nossa principal ferramenta de
na produção do soluço. Nesse caso, quando os girinos usam a respiração destruição e as grandes metrópoles são o
branquial, precisam bombear água para a boca e garganta sem deixar que ela melhor abrigo para nos proteger da natureza e
entre nos pulmões, o que eles conseguem através do fechamento da glote, todos os seus “perigos”.
impedindo a descida da água pelas vias respiratórias, u ma forma de soluço Se pararmos para analisar, a grande maioria
estendido. das nossas crianças já não tem e não querem
Sendo assim, vemos que grande parte da nossa história aconteceu em ter contato com a natureza por possuírem u m
oceanos, córregos e savanas, diferentemente dos locais onde nos encontramos medo intrínseco de algo que elas nunca
hoje. Nossos ossos dos joelhos, costas e pulsos surgiram em criaturas aquáticas tiveram contato. Atualmente, o conhecimento
há centenas de milhares de anos. Talvez esteja aí à exp licação do ro mp imento das crianças sobre a natureza se restringe aos
de nossas cartilagens e dores nas costas ao andarmos sobre duas pernas, assim animais capazes de lhes causar danos, já que,
como o porquê do desenvolvimento de síndromes e lesões por movimentos para elas, o mundo “selvagem”, natural, é uma
repetitivos quando digitamos, escrevemos ou tocamos piano , por exemp lo. ameaça, que pode se tornar real através de uma
Nossos ancestrais não faziam nada disso, o projeto inicial de u m peixe foi tão mord ida, picada ou mesmo u m terremoto ou
modificado para andar ereto, falar, pensar, e ter capacidade motora que resultou tsunami, pois são essas as imagens da natureza
em u m desastre com alto preço a ser pago pela transformação. divulgadas na maioria dos programas de
A partir disso vemos como nossa própria evolução nos levou a um beco sem televisão.
saída e como a própria tecnologia que criamos nos trouxe, apesar dos inúmeros É de grande importância que os biólogos
e indiscutíveis avanços, problemas fisiológicos, anatômicos e motores, possam trabalhar em conjunto com os grupos
mostrando que ainda não estamos tão adaptados como costumamos pensar, e já existentes de pessoas que acreditam que as
que nossa adaptação também fo i para nós uma via de mão única, onde tanto crianças possam estar sofrendo de um déficit
ganhamos quanto perdemos. Em u m mundo sem essa história herdada, não de natureza, como fala Richard Louv (autor do
teríamos complicações como soluços e hérnias, no entanto também não liv ro: A últ ima criança da floresta: salvando
seríamos tão eficientes e com tantas habilidades únicas. nossas crianças do déficit de natureza).
Fonte: Shubin, N. H. A ascensão do homem. Precisamos fazer parte da divulgação de toda a
Revista Scientific American, edição especial, n. 37 beleza e vida das interações biológicas. E, o
mais importante, precisamos que as novas
gerações compreendam que a natureza precisa
ser preservada se nós quisermos continuar
sssssssssss vivos.
aaaaaaa Fonte: Rumjanek, F. Homo sapiens
qqqqqq „kamikazis‟. Ciência Hoje, vol.
AAAAAA 45, n. 268, p. 21, mar. 2010.
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E S C R E V A V O C Ê T AM B ÉM
Por: Priscila Marlys Sá Rivas
Nos últimos anos, muitas pesquisas têm focado no entendimento dos mecanis mos mo leculares envolvidos no controle da síntese e
degradação de proteínas, uma vez que muitas doenças que acometem os seres humanos são resultado do desequilíbrio do turnorver
protéico. A desnutrição, anorexia, caquexia (perda excessiva de massa muscular em indivíduos co m câncer ou contaminados com
HIV), a sarcopenia (perda natural de massa muscular devido à idade), as distrofias musculares, alterações metabólicas e endócrinas
acarretam em u m au mento da taxa de degradação protéica.
O músculo esquelético é o principal reservatório de proteína corporal e é o tecido que fornece essa macro molécula em estados de
deficiência protéica nos organismos. Para isso, as células musculares esqueléticas devem requisitar u ma série de enzimas que atuam
degradando polipeptídeos. A via de proteólise não-lisossomal é realizada pelo sistema ubiquitina-proteossomo. Este sistema envolve o
complexo proteossomo, conhecido como 26S (constituído por 2 subunidades regulatórias, 11S e 19S, e por uma subunidade catalít ica,
20S) e pelas enzimas da família ubiquit ina. Este complexo não só degrada proteínas miofib rilares durante o catabolismo, mas também
proteínas intracelulares.
O processo de degradação protéica inicia-se pela a marcação da proteína alvo por uma série de enzimas – as ubiquitinas E1, E2 e
E3 – que adicionam monô meros de ubiquitina à cadeia das proteínas (poliubiquit inadas), alterando a estrutura das mesmas, que passa m
a estar desenroladas para melhor ação do sistema proteossomo . A segunda etapa constitui no reconhecimento da cadeia poli-Ub pela
subunidade 19S. Co m energia fornecida por ATP-ases, o substrato é reconhecido, desdobrado e desubiquitinado. Os canais do
proteossomo 20S (subunidade catalítica) são abertos e a cadeia polipeptídica é degradada por hidró lise. As cadeias polipeptídicas
geradas são degradadas por exopeptidases. Estas possuem peso e tamanho variáveis e o mecanismo b ioquímico que gera estas
diferenças ainda não está bem elucidado.

Ubiquitinação da proteína-alvo e degradação pelo complexo proteossomo. Fonte: M ich & Goldberg, 1996.
O sistema ubiquit ina-proteossomo é regulado pela oferta de aminoácidos. Hamel e co laboradores (2003) demonstraram que os
aminoácidos isoleucina, leucina, tirosina, fenilalanina, triptofano, lisina, e arginina influenciam negativ amente a atividade do
proteossomo em células da musculatura esquelética. Quanto maior a quantidade de aminoácidos em nossa dieta, menores são as ta xas
de proteólise muscular. Esse processo de downregulation reflete as complexas interações que ocorrem em nosso organismo, que é uma
verdadeira máquina de controle das respostas celulares.
Fonte: BECHET, D. et al. Regulat ion of Skeletal Mus cle proteolysis by Amino Acids. Journal of Renal Nutrition, vo l 15 (1), p. 18-
22, 2005b.; CIENCHA NOVER, A. Early work on the ubiquitin proteasome system, an interview with Aaron Ciechanover. Cell Death
Differ. vol. 12 (9), p. 1167– 77, 2000; GORBEA, C. et al. Assembly of the regulatory co mplex of the 26S p roteasome. Mol Biol Rep.
vol. 26 (1-2), p. 15– 19, 1999; MITCH, W.E., GOLDBERG, A.L. Mechanisms of muscle wasting New England Journal of Medicine,
Boston, v.335, n.25, p.1897-1905, 1996.

EVEN TOS
II CURSO DE CAMPO EM XV ENAPET – ENCO NTRO NACIONAL 25TH INTERNATIO NAL
ORNITO LOGIA DOS GRUPOS PET ORNITHO LOGICAL CONGRESS
Data: 30 de Junho a 09 de Julho de 2010 Data: 25 a 30 de Julho de 2010 Data: 22 a 28 de Agosto de 2010
Local: São Luís – MA Local: Natal – RN Local: Campos do Jordão - SP
Site: http://ejmutual.com.br/empresa/page/ii- Site: http://www.ena.pet.ufrn.br/ Site: http://www.acquaviva.com.br/ioc2010/
curso-de-campo-em-ornitologia
XXXI ENEB - ENCONTRO NACIO NAL 61º CONGRESSO NACIONAL DE
CURSO DE FÉRIAS EM GENÉTICA E DOS ESTUDANTES DE BIO LOGIA BO TÂNICA
MELHO RAMENTO DE PLANTAS, Data: 08 a 14 de Agosto de 2010 Data: 05 a 10 de Setembro de 2010
LGN/ESALQ/USP Local: Feira de Santana – BA Local: Manaus – AM
Data: 12 a 16 de Julho de 2010 Site: http://www.enebio.org/eneb2010/ Site: http://www.61cnbot.com.br/
Local: Piracicaba – SP
Site:http://www.genetica.esalq.usp.br/cursogmp XIII INTERNATIO NAL CONGRESS O F 56º CONGRESSO BRASILEIRO DE
ACAROLOGY GENÉTICA
62ª REUNIÃO ANUAL DA SPBC Data: 23 a 27 de Agosto de 2010 Data: 14 a 17 de Setembro de 2010
Data: 25 a 30 de Julho de 2010 Local: Recife – PE Local: Guarujá – SP
Local: Natal – RN Site: http://www.cenargen.embrapa.br/ica13/ Site: http://www.sbg.org.br/site/index.html
Site: http://www.sbpcnet.org.br/natal
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M O N O G R A F IA S
Sazonali dade e os efeitos da luz, da pós -maturação e do Aluno: Genilson Rodrigues Ferreira Lima
nitrato na germinação de sementes de três pl antas Orientador: Dr. Oliver Kuppinger
invasoras, ocorrentes em S ão Luís, MA, Brasil. Relator: Dra. Emygdia Rosa Mesquita
Aluno: Ariana Brelaz de Sousa Determinação da taxa de infecção de Lutzomyia
Orientador: Dr. Paulo Sérgio de Figueiredo
longipalpis por Leishmani a em Imperatriz, estado do
Relator: Dra. Emilia Girnos
Maranhão, Brasil: foco urbano de transmissão cal azar.
Avaliação da Di versidade e Terópodes da Formação Aluno: Bruno Rafael Rabelo Costa
Alcântara, com base nos Dentes da Coleção de Fósseis da Orientador: Dr. José Manuel Macário Rebelo
UFMA E CHAPADINHA. Relator: Dr. Oliver Kuppinger
Aluno: Emanuel Brandão Passos
Diagnóstico molecular da taxa de infecção natural de
Orientador: Dr. Manuel Alfredo Araújo Medeiros Lutzomyia longipalpis por Leishmania no municí pio de
Relator: Dr. Carlos Ruiz Martinez
Barreirinhas.
Es tudo de mutações do Gene Presenilinal em indi ví duos Aluno: Matheus Silva A lves
com quadro sugestivo da Doença de Alzhei mer no Es tado Orientador: Dr. José Manuel Macário Rebelo
do Maranhão. Relator: Oliver Kuppinger
Aluno: Carolina Malcher A mo rim de Carvalho Silva
Simulação do Ciclo de Vi da de Mos quitos Aedes
Orientador: Dra. Emygdia Rosa Leal Mesquita
(Dí ptera:Cilicidae) sob condições control adas de
Relator: Dr. Oliver Kuppinger
Temperatura.
Di versidade de Herpetofauna Terrestre em Frag mentos Aluno: Valéria Ferreira Cardoso
de Mata Amazônica circundados por ecossistemas Orientador: Msc. Richardson Go mes
costeiros e antropizados na Ilha do Maranhão. Relator: Dr. José Manuel Macário Rebelo
Aluno: Bruna Rafaela Pinheiro Mart ins
Avaliação dos potenciais impactos gerados pela compra
Orientador: Dra. Gilda Vasconcellos de Andrade
compulsiva de aparelhos celulares.
Relator: Dr. Carlos Martinez
Aluno: Caio Henrique Ribeiro Garcia de Mederiros
Identi ficação de Cianobactérias e microcistina Orientador: Msc. Richardson Go mes Lima da Silva
encontradas em águas portuárias de São Luís, Ma, Brasil. Relator: Dr. Murilo Dru mmond

L I N H A D E P E S Q U IS A
Por: Agostinho Cardoso Nascimento Pereira
Nesta edição, a linha de pesquisa do Boletim Informativo subtribo Meliponina). Atualmente um novo gestor para o
do PET divulga os projetos de caráter extensionista projeto esta sendo selecionado. Tal gestor deverá possuir
desenvolvidos pelo Prof. Dr. Murilo Serg io Dru mmond, bastante conhecimento técnico, capacidade de relacionamento
vinculado à UFMA em 1986, co mo bolsista de e maturidade administrativa para gerir u m projeto que é
desenvolvimento científico regional CNPq. mu ltiinstitucional, u ma vez que diferentes instituições atuam
Os projetos de extensão começaram a ser idealizados em apoiando financeiramente ou em suas ações específicas. Por
1990, devido à preocupação com a devastação da Reserva exemplo, a AMAVIDA atua na mobilização co munitária, a
Florestal do Sacavém, que na época servia como laboratório UFMA e a UEMA atuam em pesquisas que visam solucionar
natural para pesquisas e aulas práticas do Departamento de as demandas emergentes das comunidades, o Instituto Abelhas
Biologia (DEBIO). Nesse contexto alguns professores e Nativas (IAN) atua na capacitação técnica, certificação e
estudantes do DEBIO-UFMA fundaram a Associação normatização do projeto, a Meliponina, uma emp resa privada,
Maranhense Para a Conservação da Natureza (AMAVIDA). encarrega-se de comercializar os produtos do projeto, a Rede
A partir daí, o DEBIO realizou algu mas ações por meio da de Pesquisa Abelhas Nativas com Fins Sociais (REPANS)
AMAVIDA, como a instalação da Base de Pesquisa do estabelece uma ligação entre as comunidades rurais e as
Cajual e projetos como, por exemp lo, o Projeto Verde instituições de pesquisa permit indo assim u ma transferência de
Vinhais, de ordenamento dos espaços públicos. Mas foi após tecnologia da forma mais adequada para a melhoria do sistema
o retorno do doutorado no ano 2000, que as ações de produtivo das comunidades. Por fim a associação dos
extensão foram intensificadas por meio de uma ação mais produtores atua disponibilizando para o mercado os produtos
direta nas comunidades rurais. Essas ações extensionistas das abelhas nativas das suas regiões. O projeto conta ou
foram unificadas no Pro jeto Abelhas Nativas (PAN), que na contou com o apoio da ALUMAR, da Su zano Papel e
verdade trata-se de um programa, que engloba atividades de Celulose, da Fundação Banco do Brasil e do Programa das
ensino, pesquisa e extensão. Dessas atividades surgiram Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este projeto
parcerias com órgãos públicos, empresas privadas, além de possui grande reconhecimento, o que é refletido nos prêmios
ONGs e fundações. nacionais com os quais foi contemplado.
O professor Murilo é coordenador do Projeto Abelhas Atualmente, há u ma parceria co m o PET-Biologia no
Nativas desde sua criação há 10 anos, este programa visa a desenvolvimento de u m manual de orientação para professores
sustentabilidade de comunidades rurais através da das escolas públicas rurais e um caderno de atividades para
meliponicultura (criação de Abelhas Nativas sem Ferrão, crianças que serão trabalhados com o segundo volume de uma
Bo letim do PET  nº 12  Junho/2010 p. 10

série de 4 volumes da Cart ilha do Projeto Abelhas Nativas. diretamente em ações de capacitação, e mesmo se sentir
Este trabalho faz parte de u ma meta de disseminar a cu ltura estimulado para desenvolver alguma pesquisa de interesse
da conservação das nossas abelhas nativas, no meio rural por específico ao Projeto. Algu mas, inclusive se tornam base para
meio da escola formal. uma monografia de conclusão de curso. Atualmente,
Além do PET existem ainda alunos apoiando algumas vinculado ao PAN, está sendo montada uma base de dados
outras atividades. Normalmente os estudantes começam georeferenciada (GEOPAM) para apoiar d iversas pesquisas
realizando alguma at ividade de apoio de extensão ou de em ecologia e genética na área de atuação do projeto. A base
pesquisa, no laboratório na UFMA. Posteriormente tem a de dados Já possui amostras de aproximadamente 1. 000
etapa de viagens para as áreas de atuação no interior do colônias de 22 espécies de abelhas nativas, que tem
Maranhão (nordeste), onde ele tem o contato mais direto com estimulado parcerias com diversas universidades do Brasil.
as comunidades. A partir daí, dependendo muito mais da
iniciativa dos estudantes, eles podem começar a atuar mais

E N T R E V IS T A
Nesse boletim, entrevistamos a Bióloga Laís de Morais Rego Silva, graduada em Licenciatura e Bacharelado em
Ciências Biológicas pela UFMA, Mestre em Biodiversidade e Conservação pela UFMA e Pós -Graduanda em Auditoria e Perícia
Ambiental. Ela atualmente é Analista A mbiental do Departamento de Preservação e Conservação Ambiental (SEMA -Secretária de
Estado de Meio Amb iente e Recursos Naturais do Maranhão) responsável pela gestão das Unidades de Conservação do Maranhão.
No cargo desde 2007. Aproveite!

PET-B IO: Quais as uni dades de conservação estaduais do Baixada Maranhense com 1,7 milhões de hectares e a APA
Maranhão? Upaon Açu – Mirit iba que tem mais de 1 milhão de hectares.
Laís Silva: Existem 12 unidades estaduais, onde 4 são de Há apenas 5 analistas ambientais no departamento, em
contraste com as nossas doze unidades. Tal fato se explica
proteção integral e 8 são de uso sustentável (Áreas de Proteção
pelos poucos concursos públicos e pequenos números de vagas
Ambiental – APA‟s). As primeiras são: Parque Estadual do oferecidas e, como em todo Brasil, pelo destino de pequenos
Mirador, Parque Estadual do Bacanga, Parque Marinho Parcel de recursos à Secretaria de Meio A mb iente, que é o menor de
Manoel Lu ís e Estação Ecológica do Rangedor. As APA‟s da todos os oferecidos a secretarias.
Baixada Maranhense, da Foz do rio Preguiças - Pequenos
PET-B IO: Quais trabalhos estão sendo realizados para
Lençóis – Região Lagunar Adjacente, das Reentrâncias promover o uso sustentável e preservação da
Maranhenses, do Itapiracó, do Maracanã, do Upaon-Açu – bi odi versidade nessas áreas? As comuni dades têm se
Miritiba – A lto do Rio Preguiças, dos Morros Garapenses (criado mostrado partici pati vas?
em 2008) e da Reserva de Recursos Naturais da Nascente do Rio Laís Silva: O trabalho de fiscalização é realizado através do
Balsas (que futuramente será re-,categorizada como APA) contato tanto com o poder público quanto com a comunidade.
Do ano passado pra cá, nós temos ido até as unidades em
compõem o segundo grupo.
alguns municípios e pedido ao poder público, sindicatos,
PET-B IO: Qual o papel da S EMA ante tais uni dades? cooperativas e associações as demandas de crimes ambientais
Laís Silva: A SEMA faz a gestão completa destas unidades: e, a partir destes, realizamos as fiscalizações e autuações, com
mu ltas ou não, dependendo da situação. Em seguida levamos
criação, mon itoramento, fiscalização e educação amb iental.
os casos para o min istério público do município para que o
PET-B IO: Quais os princi pais problemas enfrentados mes mo possa ter uma ação mais direta naquela região. Só que
pel as nossas Uni dades nos últi mos anos? nós não conseguimos alcançar todos os municípios. Tamb ém
existem algu mas parcerias que estão sendo feitas com o
Laís Silva: Um dos maiores problemas de todas as nossas
Ministério do Meio Ambiente e projetos estão sendo
unidades estaduais é a falta dos instrumentos de gestão,
elaborados para as APA‟s das Reentrâncias, Baixada e Parcel
principalmente em relação ao p lano de manejo e conselho
de Manoel Luís. Estas três áreas, além de serem unidades de
consultivo. As únicas unidades que têm plano de manejo são o
conservação, são Sítios Ramsar, que são áreas que possuem um
Parque Estadual do Bacanga e a APA do Itapiracó. Neste
selo muito importante por conter áreas internacionalmente
mo mento, estamos elaborando o do Parque Estadual do Mirador.
reconhecidas como zonas úmidas. Do Brasil, só o Maranhão
A APA dos Morros Garapenses é a primeira a ter u m conselho
possui três Sítios Ramsar e projetos têm sido elaborados em
consultivo e este foi recentemente criado. Então, em relação à
parceria co m o Ministério do Meio Amb iente para serem
elaboração de um instru mento de gestão ainda estamos
enviados para fundos internacionais.
caminhando, e sem ele fica difícil conduzir normas dentro das
PET-B IO: Como é feito o moni toramento nessas áreas de
unidades. No caso das APA‟s, por serem mais permissivas diante
modo que se possa acompanhar a quali dade ambiental das
a lei, o plano de manejo é essencial para definir quais são as
mesmas?
regras a serem respeitadas nas mesmas. Outro problema é em
Laís Silva: Ele é realizado junto às atividades de fiscalização e
relação aos trabalhos de fiscalização feitos dentro das unidades.
é a que nós menos efetuamos. O que mais realizamos são as
Há um contraste entre nosso pequeno contingente e as APA‟s
fiscalizações, e junto destas verificamos quais os
que são gigantescas, como por exemplos, a APA das
empreendimentos que estão com as licenças em d ia. A parte de
Reentrâncias Maranhenses com 2 milhões de hectares, a APA da
Bo letim do PET  nº 12  Junho/2010 p. 11

monitoramento feita por nós é basicamente esta de acompanhar São Luís e representa um desafio por ser uma área de proteção
as licenças dos empreendimentos. No mo mento a Secretaria não integral dentro de um ambiente urbano.
tem programas de monitoramento amb iental e qualidade de água
PET-B IO: Não poderíamos deixar de perguntar sobre o
dentro das unidades. Na APA das Reentrâncias Maranhenses
nosso parque na Estação Ecológica do Rangedor. Como se
existe um trabalho federal de monitoramento de aves migratórias
explicaria o fato de nossa nova Assembléia Legislativa ter
e caranguejos feito pela SEMAF e o SETEM E (ó rgãos federais
sido construí do em meio a uma uni dade de conservação?
ligados ao IBAMA). Monitorar não é competência exclusiva do
Laís Silva: Em linhas gerais, na verdade o que aconteceu foi
órgão ambiental. Ele também é co mpetência das Universidades
que antes da Estação Ecológica ter sido criada a Assembléia
que podem realizar pesquisas, de ONG‟s que trabalham com
Legislat iva tinha pleiteado a área para construção da sua sede.
meio amb iente, e muitos destes não o fazem. O órgão ambiental
Co mo já se sabia que o solo daquela área é muito poroso e
nunca vai ter “mãos e pés ” pra fazer todo o serviço necessário e
consistia numa área de recarga de aqüíferos, estabeleceu-se um
este, por sua vez, não é competência exclusiva dele. Todos têm
acordo de que a área seria concedida para a Assembléia e em
que fazer sua parte. Não se observa conectividade entre as
troca se criaria u ma unidade de conservação de proteção
Universidades e a Secretaria. Apesar de professores realizarem
integral das mais restrit ivas, no caso, ou uma Estação
pesquisas dentro das unidades de conservação não há o envio de
Ecológica ou uma Reserva Biológica, sendo a primeira mais
informações obtidas nas mesmas para órgão ambiental. Já
adequada devido à pequena quantidade de fauna na área. Então,
realizamos pedidos, mas não houve respostas. E isto resulta
criou-se em 2005 a Estação Ecológica do Rangedor sem ser
numa falta de dados na SEMA para embasar nossos pareceres.
incluída nela a área onde seria criada a sede da Assembléia. O
As Universidades acabam produzindo conhecimento p ra elas
que aconteceu de errado foi a instalação do portal de entrada
próprias, congressos e seminários, e não fazem a extensão deste
que deveria ter sido construído, conforme o acordo, pela
para as comunidades e a realização da gestão. Elas produzem
entrada do SEBRAE e não pela Av. Jerônimo de Albuquerque.
conhecimento para a criação e reconhecimento da importância de
A Assembléia mudou de idéia e pediu uma licença de desmate
reservas, mas não para a sua gestão. O órgão ambiental não te m
que foi concedida pela SEMA sem passar pelo nosso
como fazer esta parte do monitoramento. Ele tem que ser feito
departamento, e isto resultou num desmate que ainda foi maior
pelos órgãos de pesquisa como a EM BRAPA, FAPEMA e
do que o que estava previsto na licença. Então, nem a licença
Universidades. E a falta de conectividade entre tais órgãos e a
deveria ter sido concedida, nem a Assembléia deveria ter
Secretaria é u ma falha grave e real não apenas no Maranhão, mas
desmatado além do previsto pela licença concedida. Houve erro
também em outros estados. Culpar a SEMA, o IBAMA e o
das duas partes. A Assembléia foi multada por isso, mas não
ICM BIO é mu ito mais fácil.
tenho informações sobre o pagamento ou não da mesma.
PET-B IO: Quais os nossos parques “ati vos” e quais
PET-B IO: Há disponí vel dados sobre a biodi versidade
ati vi dades estão sendo desenvol vi das em cada um deles?
nestas uni dades de conservação?
Laís Silva: Um grande exemp lo de unidade de conservação que
Laís Silva: Não. Existem apenas diagnósticos iniciais. A falta
temos é a do Parque Estadual do Mirador que tem 435 mil
de conectividade com as Universidades dificu lta tal trabalho.
hectares e é uma área super conservada. Lá nós temos 22 guarda-
parques que trabalham para uma cooperativa conveniada à PET-B IO: Quais as futuras pers pecti vas para a gestão das
Secretaria, e estes fazem os trabalhos de fiscalização e nossas uni dades de conservação?
monitoramento em carros e motos, sendo que existem nove Laís Silva: Uma boa perspectiva que temos é a recente
postos de fiscalização dentro do parque onde os guarda-parques elaboração do Sistema Estadual de Unidades de Conservação
moram co m suas famílias e tem toda u ma estrutura apropriada (SEUC) que é um passo muito importante para a elaboração da
para o trabalho. O plano de manejo está sendo elaborado agora política estadual das unidades. Fizemos u ma proposta que está
por uma equipe da UFMA. O Parque Marinho Parcel de Manoel sob consulta pública pra poder passar por todo tramite
Lu ís é uma área que não temos acesso por ser muito distante. No burocrático de votação na Assembléia e posterior geração de
Parque Estadual do Bacanga, que tem u ma realidade bem lei. Assim poderemos traçar mais normas e restrições dentro
complexa por se situar no ambiente urbano e ser circundado por das nossas unidades. E sempre ficamos na expectativa da
uma área de invasão, são realizadas algumas fiscalizações e está elaboração dos instrumentos de gestão para as mesmas. Já
por ser iniciada a mobilização da comunidade local para a criamos o Conselho Consultivo da APA dos Morros
elaboração de um conselho consultivo. A instalação de um Garapenses, e estamos nos mobilizando para a elaboração do
hospital dentro do Parque foi impedida pelo parecer negativo Conselho Consultivo do Parque Estadual do Bacanga, do
dado tanto pela SEMA quanto pela CA EMA. Este parque tem Mirador e do Itapiracó para este ano. Tais realizações já
uma importância muito grande pela quantidade de nascentes que representarão grandes avanços.
contém e pela Represa do Batatã que abastece mais de 10% de

PR O CE SS O S EL ET I V O P E T 2 0 10 . 2
Es tá aberto mais um EDITAL DE S ELEÇÃO do PET!

Período de i nscrição: 23/06 a 05/07/2010 na sala do PET/Bio logia no Departamento de Biologia/ UFMA
06/ 07 das 13:00 às 14:00: Palestra sobre “O PET e a indissociabilidade entre ensino, pes quisa e extensão” – Grupo PET
( DEBIO/UFMA)
07/ 07 das 16:00 às 18:00: Prova de Redação (DEBIO/UFMA)
08/ 07 das 16:00 às 18:00: Prova de Inglês (DEBIO/UFMA)
12/ 07 a partir das 17:30: Apresentação das propostas de projetos (DEBIO/ UFMA)
Para download do edi tal completo acesse: http://pet.ufma.br/b iologia/
Bo letim do PET  nº 12  Junho/2010 p. 12
Pet
NOTÍC IA
Por: Carlos Celso Frazão Saraiva Junior

Telhados verdes vivos


Temperaturas mais amenas no verão e no inverno, isolamento acústico, economia de energia, redução das ilhas de calor nos
centros urbanos, diminuição da quantidade de água escorrendo pelas ruas em dias de chuva forte, ar menos poluído. Essas são as
vantagens de instalar, no alto de casas e prédios, os chamados telhados verdes – que são canteiros produzidos especialmente para
essa área da edificação. A ideia não é nova, afinal já no século XIX eram co muns as cabanas feitas com teto coberto de gramín eas
nos Estados Unidos. Desde a década de 1960, a Eu ropa também adotou a moda. Mas há poucos anos ela começou a se espalhar de
verdade e ganhar terreno nas grandes cidades, locais que mais lucram co m essa iniciativa.
É importante lembrar, sempre, que não basta pegar um monte de terra e u mas sementes e jogar no telhado. O primeiro passo
para construir um telhado verde em sua casa é contratar um engenheiro que avalie a estrutura da obra, para saber se ela co mpo rta o
peso que será acrescentado lá em cima. Por esse motivo é mais difícil u ma casa já construída obter um telhado verde do que uma
casa que ainda será construída. Porém para atender à demanda de quem já tem sua casa construída, algumas opções interessantes
têm surgido. Um dos exemp los é o telhado verde alveolar patenteado pela empresa Ecotelhado, de Porto Alegre (RS), que chega a
ser quase dez vezes mais leve que os tradicionais. O segredo para a leveza? Eles não usam terra e sim u m sistema co m todas as
características que a terra tem e que são fundamentais para a planta: lugar de fixação, aeração, acúmu lo de água e nutrientes, mas
sem seu peso.
O esquema é mu ito parecido com o tradicional, em linhas gerais: primeiro há uma membrana anti-raízes. Logo depois, uma
memb rana para retenção de água, feita de material PET reciclado. Acima, u ma membrana filtrante, que não permite a passagem de
sujeira para baixo. Os preços para a imp lantação desse tipo de telhado é de cerca de R$ 90 por m².
Atualmente, um grande exemplo da aplicação do telhado verde, é en contrado na cidade de São Paulo, na cobertura do edifício
da prefeitura de SP, considerada uma das maiores biocoberturas da cidade.

Fonte: www.oeco.com.b r

Noticia orig inal escrita por Lucia Nascimento.

FR ASE
"S e r u m b ió lo g o n ã o s ig n i f ic a t e r u m e mp r e g o ; s i g n i f ic a e s c o l h e r u m
e s t i lo d e v id a . "
Er n s t M a y r
( “ I st o é b i o l o gi a ” e d. Co m p a n h i a da s L e t r a s, 1 9 9 7 )
Bo letim do PET  nº 12  Junho/2010 p. 13

C HA R GE

C o r p o e di t o r i a l :

S u pe r vi s o r a Ge r a l : P r o f a . D r a . Gi s e l e Ga r c i a A z e v e d o
R e vi s o r e s d a s R e s e n h a s : F a b í o l a Ga r r e t o d e So u s a , J a i r F r a n c is c o M e n d e s J ú n i o r e
M ile n a Ja ns en Cu t r im Ca r d os o
R e vi s o r a do A r t i g o : P r o f a . D r a . P a t r í c i a d e M a r i a S i l v a F ig u e i r e d o ( U n i C E U M A )
E d i t o r e s : A n d ré i a d e Q u e i r o z d o s S a n t o s A b re u F ig u e i r e d o e It a y n a r a L o b a t o Du t ra
E n t r e vi s t a : Ge i s y a n e F r a n c o d a L u z
E ve n t o s : J a i r F r a n c is c o M e n d e s J ú n io r
L i n h a de P e s qu i s a : A g o s t i n h o C a rd o s o N a s c i me n t o P e r e i r a
N o t í c i a : C a r l o s C e ls o F r a z ã o Sa r a i v a J u n i o r e Ge i s y a n e F r a n c o d a L u z
Fr as e : And r é ia d e Que iro z dos S ant os Ab reu F igu e ired o
Char g e : Ra fa e l A nt on io Bran dão

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